04. Beijing

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regras de beijing simplificado

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  • REGRAS MNIMAS DAS NAES UNIDAS PARA A ADMINISTRAO DA JUSTIA DE MENORES

    Regras de Beijing Adotadas pela Assemblia Geral das Naes Unidas na sua resoluo 40/33, de 29 de Novembro de 1985.

    A Assemblia Geral,

    Tendo presentes a Declarao Universal dos Direitos do Homem(1) , a Conveno Internacional sobre os Direitos Civis e Polticos e a Conveno Internacional sobre os Direitos Econmicos, Sociais e Culturais(2) bem como outros instrumentos internacionais sobre os Direitos do Homem relativos aos Direitos dos jovens,

    Tendo igualmente presente que 1985 foi designado como o Ano Internacional da Juventude: Participao, Desenvolvimento, Paz, e que a comunidade internacional deu grande importncia proteo e promoo dos Direitos dos jovens, como o testemunha o significado atribudo Declarao dos Direitos da Criana(3),

    Lembrando a Resoluo 4 aprovada pelo Sexto Congresso das Naes Unidas sobre a Preveno do Crime e o Tratamento dos Delinqentes(4), que pedia a elaborao de um conjunto de regras mnimas relativas administrao da Justia de menores e proteo dos jovens, que pudesse servir de modelo aos Estados membros,

    Lembrando tambm a Deciso 1984/153, de 25 de Maio de 1984, do Conselho Econmico e Social, pela qual o projeto de regras foi transmitido ao Stimo Congresso por intermdio da Reunio Inter-regional de Peritos sobre os Jovens, a Criminalidade e a Justia, realizada em Beijing de 14 a 18 de Maio de 1984(5),

    Reconhecendo que os jovens, por se encontrarem ainda numa etapa inicial do desenvolvimento humano, requerem uma ateno e uma assistncia especiais, com vista ao seu desenvolvimento fsico, mental e social, e uma proteo legal em condies de paz, liberdade, dignidade e segurana,

    Considerando que a legislao, as polticas e as prticas nacionais vigentes podem precisar de ser revistas e modificadas de acordo com as normas contidas nestas regras,

    Considerando alm disso que, embora estas normas possam parecer difceis de aplicar, nas atuais condies sociais, econmicas, culturais, polticas e jurdicas so, contudo, consideradas como devendo constituir os objetivos mnimos da poltica relativa Justia de menores,

  • 1. Nota com satisfao o trabalho realizado pelo Comit para a Preveno do Crime e a Luta contra a Delinqncia, pelo Secretrio-Geral, pelo Instituto das Naes Unidas para a sia e o Extremo Oriente e por outros institutos das Naes Unidas, na elaborao das Regras Mnimas para a Administrao da Justia de Menores;

    2. Nota tambm com satisfao o Relatrio do Secretrio-Geral sobre o projeto do conjunto de Regras Mnimas para a Administrao da Justia de Menores(6) ; 3. Felicita a Reunio Preparatria Inter-regional de Beijing por ter elaborado a verso definitiva do texto das Regras Mnimas apresentado ao Stimo Congresso para a Preveno do Crime e o Trata-mento dos Delinqentes, para exame e deciso final;

    4. Adota as Regras Mnimas para a Administrao da Justia de Menores recomendadas pelo Stimo Congresso das Naes Unidas, tal como figuram no anexo da presente resoluo, e aprova a recomendao do Stimo Congresso no sentido de que estas regras sejam tambm designadas por "Regras de Beijing"; 5. Convida os Estados membros a adaptarem, quando necessrio, as suas legislaes, polticas e prticas nacionais, em especial no campo de formao do pessoal da Justia de menores, s Regras de Beijing, assim como a d-las a conhecer s autoridades competentes e ao pblico em geral;

    6. Exorta o Comit para a Preveno do Crime e a Luta contra a Delinqncia a formular medidas que permitam a aplicao efetiva das Regras de Beijing, com o auxlio dos institutos das Naes Unidas para a preveno do crime e o tratamento dos Delinqentes;

    7. Convida os Estados membros a informarem o Secretrio-Geral sobre a aplicao das Regras de Beijing e a comunicarem regularmente ao Comit para a Preveno do Crime e a Luta contra a Delinqncia os resultados obtidos;

    8. Pede aos Estados membros e ao Secretrio-Geral que empreendam estudos e organizem uma base de dados sobre as polticas e prticas eficazes em matria de administrao da Justia de menores;

    9. Pede ao Secretrio-Geral que assegure a maior difuso possvel do texto das Regras de Beijing em todas as lnguas oficiais da ONU, e que intensifique a informao no campo da Justia de menores, e convida os Estados membros a fazerem o mesmo;

    10. Pede ao Secretrio-Geral que fomente projetos-pilotos sobre a aplicao das Regras de Beijing;

  • 11. Pede ao Secretrio-Geral e aos Estados membros que proporcionem os recursos necessrios para assegurar a aplicao efetiva das Regras de Beijing em especial nas reas de recrutamento, formao e intercmbio de pessoal, da investigao e da avaliao, assim como da elaborao de novas alternativas deteno;

    12. Pede ao Oitavo Congresso das Naes Unidas sobre a Preveno do Crime e o Tratamento dos Delinqentes que, sob um ttulo separado da sua ordem do dia relativa Justia de Menores, examine os progressos efectuados no campo da aplicao das Regras de Beijing, assim como das recomendaes constantes da presente resoluo;

    13. Incita todos os organismos competentes do sistema das Naes Unidas em especial as comisses regionais e organismos especializados, os institutos das Naes Unidas ligados a questes de preveno do crime e de tratamento dos Delinqentes, assim como as organizaes intergovernamentais e no governamentais, a colaborarem com o Secretariado e a tomarem as medidas necessrias, dentro do domnio das respectivas competncias tcnicas, para conseguir assegurar um esforo concertado e contnuo, com vista aplicao dos princpios enunciados nas Regras de Beijing. ANEXO

    Regras Mnimas das Naes Unidas para a Administrao da Justia de Menores

    PRIMEIRA PARTE - PRINCPIOS GERAIS 1. Orientaes fundamentais

    1.1. Os Estados membros procuraro, em conformidade com os seus interesses gerais, promover o bem-estar do menor e da sua famlia.

    1.2. Os Estados membros esforar-se-o por criar condies que assegurem ao menor uma vida til na comunidade fomentando, durante o perodo de vida em que o menor se encontre mais exposto a um comportamento desviante, um processo de desenvolvimento pessoal e de educao afastado tanto quanto possvel de qualquer contato com a criminalidade e a delinqncia.

    1.3. necessrio tomar medidas positivas que assegurem a mobilizao completa de todos os recursos existentes incluindo a famlia, os voluntrios e os outros grupos comunitrios, assim como as escolas e outras instituies comunitrias, com o fim de promover o bem-estar do menor e reduzir a necessidade de interveno da lei e tratar de forma eficaz, equitativa e humanitria o jovem em conflito com a lei.

  • 1.4. A Justia de menores deve ser concebida como parte integrante do processo de desenvolvimento nacional de cada pas, no quadro geral da justia social para todos os jovens, contribuindo assim, ao mesmo tempo, para a proteo dos jovens e a manuteno da paz e da ordem na sociedade.

    1.5. A aplicao destas regras deve ser feita dentro do contexto das condies econmicas, sociais e culturais existentes em cada Estado membro.

    1.6. Os servios de Justia de menores devem ser sistematicamente desenvolvidos e coordenados tendo em vista aperfeioar e apoiar a capacidade dos funcionrios que trabalham nestes servios, em especial os seus mtodos, modos de atuao e atitudes.

    Comentrio:

    Estas orientaes bsicas de carter geral referem-se poltica social no seu conjunto e visam promover ao mximo a proteo social dos jovens, para evitar a necessidade de interveno do sistema de Justia de menores e o prejuzo muitas vezes causado por essa interveno. Estas medidas de proteo social dos jovens, antes da passagem delinqncia, so absolutamente indispensveis para evitar a necessidade de aplicao das presentes regras.

    As regras 1.1. a 1.3. sublinham o papel importante que uma poltica social construtiva em benefcio dos jovens pode desempenhar, designadamente na preveno do crime e da delinqncia juvenis. A regra 1.4. define a Justia de menores como parte integrante da Justia social para os jovens, enquanto a regra 1.6. se refere necessidade de se aperfeioar constantemente a Justia de menores, para que esta no se afaste da evoluo de uma poltica social progressista elaborada em benefcio dos jovens em geral e tendo em mente a necessidade de melhorar constantemente a qualidade dos servios competentes.

    A regra 1.5. procura ter em considerao as condies existentes nos Estados membros o que poderia fazer com que a forma de aplicao de determinadas regras num desses Estados fosse necessariamente diferente da forma adotada noutros.

    2. Campo de aplicao das regras e definies utilizadas

    2.1. As Regras Mnimas a seguir enunciadas sero aplicadas imparcialmente aos jovens Delinqentes, sem qualquer distino, designadamente de raa, cor, sexo, lngua, religio, de opinies polticas ou outras, de origem nacional ou social, de condio econmica, nascimento ou outra condio.

    2.2. Para os fins das presentes Regras, as definies a seguir enunciadas sero aplicadas pelos Estados membros de modo compatvel com os seus respectivos sistemas e conceitos jurdicos:

  • a) Menor qualquer criana ou jovem que, em relao ao sistema jurdico considerado, pode ser punido por um delito, de forma diferente da de um adulto; b) Delito qualquer comportamento (ato ou omisso) punvel por lei em virtude do sistema jurdico considerado; c) Delinqente juvenil qualquer criana ou jovem acusado de ter cometido um delito ou considerado culpado de ter cometido um delito.

    2.3. Em cada pas, procurar-se- promulgar um conjunto de leis, normas e disposies especialmente aplicveis aos Delinqentes juvenis e s instituies e organismos encarregados da administrao da Justia de menores e destinado:

    a) A responder s necessidades especficas dos Delinqentes juvenis, protegendo ao mesmo tempo os seus direitos fundamentais; b) A responder s necessidades da sociedade; c) A aplicar efetiva e equitativamente as regras a seguir enunciadas.

    Comentrio:

    As Regras Mnimas esto deliberadamente formuladas de forma a serem aplicadas em sistemas jurdicos diferentes e, ao mesmo tempo, a fixarem normas mnimas para o tratamento dos Delinqentes juvenis, qualquer que seja a definio de jovem e qualquer que seja o sistema que lhes aplicado. Estas Regras devem ser sempre aplicadas imparcial-mente e sem qualquer espcie de distino.

    A regra 2.1. sublinha a importncia das regras serem aplicadas imparcialmente e sem qualquer espcie de distino. Segue a formulao do princpio 2 da Declarao dos Direitos da Criana(7). A regra 2.2. define os termos "menor" e "delito" como componentes da noo de "Delinqente juvenil", que constitui o objeto principal das presentes Regras Mnimas (contudo, ver tambm as regras 3 e 4). Note-se que os limites de idade dependem expressamente de cada sistema jurdico, respeitando assim totalmente os sistemas Econmicos, sociais, polticos e culturais dos Estados membros. Isto faz com que a noo de menor se aplique a jovens de idades muito diferentes, que vo dos 7 aos 18 anos ou mais. Esta disparidade inevitvel, dada a diversidade dos sistemas jurdicos nacionais e no diminui em nada o impato destas Regras Mnimas.

    A regra 2.3. prev a necessidade de legislao nacional especfica, destinada a assegurar a melhor aplicao possvel destas Regras Mnimas, tanto no plano jurdico como prtico.

  • 3. Extenso das Regras

    3.1. As disposies pertinentes das presentes Regras sero aplicadas no s aos Delinqentes juvenis, mas tambm aos menores que possam ser processados por qualquer comportamento especfico, que no seria punido se fosse cometido por um adulto.

    3.2. Procurar-se- alargar os princpios contidos nas presentes Regras a todos os menores a quem se apliquem medidas de proteo e assistncia social.

    3.3. Procurar-se- tambm alargar os princpios incorporados nas presentes Regras aos jovens adultos Delinqentes. Comentrio:

    A regra 3 alarga a proteo concedida pelas Regras Mnimas para a Administrao da Justia de Menores:

    a) Aos chamados "delitos de status", previstos em vrios sistemas jurdicos nacionais onde a gama de comportamentos considerados como delitos maior para os jovens do que para os adultos (p. ex., absentismo escolar, indisciplina escolar e familiar, embriaguez pblica, etc.) (regra 3.1.); b) s medidas de proteo e auxlio social em favor dos jovens (regra 3.2.); c) Ao tratamento dos jovens adultos Delinqentes, segundo o limite de idade fixado em cada caso (regra 3.3.). O alargamento das regras a estes trs domnios parece justificar-se. A regra 3.1. prev garantias mnimas nestes domnios e a regra 3.2. considerada como um passo desejvel no sentido de uma Justia penal mais justa, mais equitativa e mais humana para todos os menores que entram em conflito com a lei.

    4. Idade da responsabilidade penal

    4.1. Nos sistemas jurdicos que reconhecem a noo de responsabilidade penal em relao aos menores, esta no deve ser fixada a um nvel demasiado baixo, tendo em conta os problemas de maturidade afectiva, psicolgica e intelectual.

    Comentrio:

    A idade mnima e os efeitos de responsabilidade penal variam muito segundo as pocas e as culturas. A atitude moderna consiste em perguntar se uma criana pode suportar as consequncias morais e psicolgicas da responsabilidade penal; isto , se uma criana, dada a sua capacidade de discernimento e de compreenso, pode ser conside-rada responsvel por um comportamento essencialmente anti-social. Se a idade da responsabilidade penal for fixada a nvel

  • demasiado baixo ou se no existir um limite mnimo, a noo de responsabilidade deixar de ter qualquer sentido. Em geral, existe uma estreita ligao entre a noo de responsabilidade por um comportamento delituoso ou criminal e outros direitos e responsabilidades sociais (tais como o estado de casado, a maioridade civil, etc.). Ser, pois, necessrio encontrar um limite de idade razovel, que seja internacionalmente aplicvel.

    5. Objetivos da Justia de menores 5.1. O sistema da Justia de menores deve dar a maior importncia ao bem-estar destes e assegurar que qualquer deciso em relao aos Delinqentes juvenis seja sempre proporcional s circunstncias especiais tanto dos Delinqentes como do delito.

    Comentrio:

    A regra 5 diz respeito a dois dos objetivos mais importantes da Justia de menores. O primeiro a promoo do bem-estar do menor. Este o principal objectivo dos sistemas jurdicos onde os casos dos Delinqentes juvenis so examinados pelos tribunais de famlia ou pelas autoridades administrativas, mas tambm os sistemas jurdicos que seguem o modelo do tribunal penal devero promover o bem-estar dos menores, contribuindo assim para evitar sanes meramente punitivas (ver, igualmente, a regra 14.). O segundo objectivo o "princpio da proporcionalidade". Este princpio bem conhecido como um instrumento que serve para moderar as sanes punitivas, relacionando-as geralmente com a gravidade do crime. Em relao aos Delinqentes juvenis deve ter-se em conta no s a gravidade da infrao, mas tambm as circunstncias pessoais. As circunstncias individuais do Delinqente (tais como a condio social, a situao familiar, o dano causado pela infrao ou outros fatores em que intervenham circunstncias pessoais) devem influenciar a proporcionalidade da deciso (por exemplo, tendo em conta o esforo do Delinqente para indemnizar a vtima ou o seu desejo de encetar uma vida s e til). Do mesmo modo, as decises que visam assegurar a proteo do Delinqente juvenil podem ir mais longe do que o necessrio e infringir assim os seus direitos fundamentais, como aconteceu em alguns sistemas de Justia de menores. Tambm aqui necessrio salvaguardar a proporcionalidade da deciso em relao s circunstncias especficas do Delinqente, da infrao, assim como da vtima.

  • Essencialmente a regra 5 pede apenas uma deciso justa em todos os casos de delinqncia e de criminalidade juvenis. Os dois aspectos encarados na regra podem permitir a realizao de novos progressos a dois nveis: to desejvel aplicar medidas de um tipo novo e original como conseguir evitar o aumento excessivo da rede de controlo social sobre os menores.

    6. Alcance do poder discricionrio

    6.1. Dadas as diferentes necessidades especficas dos menores e a diversidade de medidas possveis, deve ser previsto um poder discricionrio suficiente em todas as fases do processo e a diferentes nveis da administrao da Justia de menores, designadamente nas fases de instruo, de acusao, de julgamento e de aplicao e seguimento das medidas tomadas.

    6.2. Contudo, devem ser feitos esforos no sentido de assegurar que este poder discricionrio seja exercido de um modo responsvel, em todas as fases do processo e a todos os nveis.

    6.3. As pessoas que o exercem devem ser especialmente qualificadas ou formadas para o exercer judiciosamente e de acordo com as suas funes e mandatos respectivos.

    Comentrio:

    As regras 6.1., 6.2. e 6.3. tratam de vrios aspectos importantes para a administrao de uma justia de menores eficaz, justa e humana: a necessidade, de se permitir o exerccio do poder discricionrio em todas as fases importantes do processo para que as pessoas que tomam decises possam adotar as medidas consideradas mais apropriadas em cada caso; e a necessidade de prever medidas de controlo e equilbrios que limitem o abuso do poder discricionrio e protejam os direitos do jovem Delinqente. A responsabilidade e o profissionalismo so considerados como as qualidades mais necessrias para moderar um poder discricionrio demasiado amplo. Assim, as qualificaes profissionais e a formao especializada so aqui apresentadas como meios de assegurar o exerccio judicioso do poder discricionrio nos assuntos relativos aos jovens Delinqentes (ver tambm as regras 1.6. e 2.2.). A formulao de directrizes especficas sobre o exerccio do poder discricionrio e a criao de um sistema de reviso, de recurso, etc. que permitam o exame das decises e que assegurem que aqueles que as tomam tm o sentido da sua responsabilidade, so sublinhadas neste contexto. Tais mecanismos no so aqui especificados, uma vez que no se prestam facilmente incluso num conjunto de Regras Mnimas internacionais, que no pode, obviamente, abranger todas as diferenas que existem nos sistemas de Justia.

    7. Direitos dos menores

  • 7.1. As garantias fundamentais do processo, tais como a presuno de inocncia, o direito de ser notificado das acusaes, o direito de no responder, o direito assistncia judiciria, o direito presena dos pais ou tutor, o direito de interrogar e confrontar as testemunhas e o direito ao recurso sero asseguradas em todas as fases do processo.

    Comentrio:

    A regra 7.1. sublinha alguns pontos importantes que apresentam os elementos essenciais de um julgamento equitativo e que so internacionalmente reconhecidos nos instrumentos existentes dos direitos do homem (ver tambm a regra 14.). A presuno de inocncia, por exemplo, figura igualmente no artigo 11 da Declarao Universal dos Direitos do Homem(8) e no artigo 14.2. do Pato Internacional sobre Direitos Civis e Polticos(9).

    As regras 14. e seguintes das presentes Regras Mnimas especificam os elementos importantes nos processos que envolvam menores em particular, enquanto a regra 7.1. afirma, de um modo geral, as garantias processuais mais importantes.

    8. Proteo da vida privada

    8.1. O direito do menor proteo da sua vida privada deve ser respeitado em todas as fases a fim de se evitar que seja prejudicado por uma publicidade intil ou pelo processo de estigmatizao.

    8.2. Em princpio, no deve ser publicada nenhuma informao que possa conduzir identificao de um Delinqente juvenil.

    Comentrio:

    A regra 8. sublinha a importncia da proteo do direito do menor vida privada. Os jovens so particularmente sensveis estigmatizao. As investigaes criminolgicas neste domnio mostraram os efeitos perniciosos (de toda a espcie) resultantes do fato de os jovens serem qualificados, de uma vez por todas, como "Delinqentes" ou "criminosos".

    A regra 8. mostra que necessrio proteger os jovens dos efeitos nocivos da publicidade, nos meios de comunicao, de informaes sobre o seu caso (por exemplo, o nome dos jovens Delinqentes, acusados ou condenados). preciso proteger e respeitar, pelo menos em princpio, o interesse do indivduo. (O contedo geral da regra 8. especificado, frente, na regra 21.).

  • 9. Clusula de proteo

    9.1. Nenhuma disposio das presentes Regras poder ser interpretada como excluindo a aplicao das Regras Mnimas das Naes Unidas para o Tratamento de Reclusos(10) e dos outros instrumentos e regras reconhecidos pela comunidade internacional e relativos ao tratamento e proteo dos jovens. Comentrio:

    A regra 9. visa evitar qualquer confuso na interpretao e aplicao das presentes Regras em conformidade com outras normas e instrumentos internacionais dos direitos do homem, existentes ou em elaborao tais como a Declarao Universal dos Direitos do Homem, o Pato Internacional sobre os Direitos Econmicos, Sociais e Culturais e o Pato Internacional sobre os Direitos Civis e Polticos e a Declarao dos Direitos da Criana1 e o projeto de Conveno sobre os Direitos da Criana(11) . Entende-se que a aplicao das presentes Regras no prejudica nenhum outro instrumento internacional que contenha disposies de aplicao mais lata 10 (veja-se igualmente a regra 27.). SEGUNDA PARTE: - INVESTIGAO E PROCEDIMENTO 10. Primeiro contato

    10.1. Sempre que um menor detido, os pais ou o tutor devem ser imediatamente notificados ou, se isso no for possvel, devero v-lo no mais curto prazo de tempo.

    10.2. O Juiz ou qualquer outro funcionrio ou organismo competente dever examinar imediatamente a possibilidade de libertar o menor.

    10.3. Os contatos entre os organismos encarregados de fazer cumprir a lei e o jovem Delinqente devero ser estabelecidos de forma a respeitar o estatuto jurdico do menor, a favorecer o seu bem-estar e a evitar prejudic-lo, tendo em conta as circunstncias do caso.

    Comentrio:

    A regra 10. est contida, em princpio, na regra 92. das Regras Mnimas para o Tratamento de Reclusos(12).

    A questo da libertao (regra 10.2.) deve ser examinada sem delongas pelo juiz ou qualquer outro funcionrio competente. Este ltimo termo refere-se a qualquer pessoa ou instituio, no sentido mais lato do termo, incluindo os conselhos comunitrios ou autoridades policiais com competncia para libertarem as

  • pessoas detidas (ver tambm o pargrafo 3 do artigo 9 do Pato Internacional sobre os Direitos Civis e Polticos). A regra 10.3. trata de aspectos fundamentais relativos aos processos e ao comportamento dos polcias ou outros agentes dos organismos encarregados de fazer cumprir a lei nos casos de delinqncia juvenil. A expresso "evitar prejudic-lo" , sem dvida, vaga e cobre muitos aspectos possveis de interao (palavras, violncia fsica, riscos devidos ao meio). Como o prprio envolvimento num processo de Justia de menores pode em si ser "nocivo" para os jovens, a expresso "evitar prejudic-lo" deve ser compreendida como significando, antes de mais, a reduo ao mnimo do dano infligido aos menores e o evitar qualquer prejuzo suplementar ou indevido. Isto especialmente importante no primeiro contato com os organismos encarregados de fazer cumprir a lei, porque esse contato pode influenciar profundamente a atitude do menor em relao ao Estado e sociedade. Alm disso, o sucesso de qualquer outra interveno depende destes primeiros contatos. A benevolncia e a firmeza so essenciais em tais situaes.

    11. Recurso a meios extrajudiciais 11.1. Sempre que possvel tentar-se- tratar o caso dos Delinqentes juvenis evitando o recurso a um processo judicial perante a autoridade competente referida na regra 14.1. infra.

    11.2. A polcia, o Ministrio Pblico e os outros organismos que se ocupem de casos de delinqncia juvenil podero lidar com eles discricionariamente, evitando o recurso ao formalismo processual penal estabelecido, antes faseando-se em critrios fixados para esse efeito nos seus sistemas jurdicos e nas presentes regras.

    11.3. Qualquer recurso a meios extrajudiciais que implique o encaminhamento para servios comunitrios ou outros servios competentes exige o consentimento do interessado, dos seus pais ou do seu tutor; contudo, a deciso relativa remessa do caso ser sujeita a exame por uma autoridade competente, se isso for solicitado.

    11.4. A fim de facilitar a abordagem discricionria dos casos de delinqncia juvenil, procurar organizar-se programas comunitrios, designadamente de vigilncia e de orientao temporrias e assegurar a restituio dos bens e a indenizao das vtimas.

    Comentrio:

    O recurso a meios extrajudiciais, que permite evitar um processo penal e implica, muitas vezes, o encaminhamento para os servios comunitrios comummente aplicado, de forma oficial e oficiosa, em sistemas jurdicos. Esta prtica permite

  • evitar as consequncias negativas de um processo normal na administrao da Justia de menores (por exemplo, o estigma de uma condenao e de um julgamento). Em muitos casos, a no interveno seria a melhor soluo. Assim, o recurso a meios extrajudiciais desde o comeo, sem encaminhamento para servios (sociais) alternativos, pode constituir a melhor resposta. , assim, sobretudo quando o delito no de natureza grave e quando a famlia, a escola ou outras instituies de controlo social informal j reagiram, ou esto em vias de reagir, de modo adequado e construtivo.

    Tal como apontado na regra 11.2., o recurso a meios extrajudiciais pode dar-se em qualquer fase da tomada de deciso - pela polcia, pelo Ministrio Pblico ou outras instituies, tais como tribunais, comisses ou conselhos. Pode ser exercido por uma ou vrias destas instncias ou por todas, segundo as regras e polticas nos diferentes sistemas e de acordo com o esprito das presentes regras. O recurso a meios extrajudiciais um instrumento importante, que no deve ser necessariamente limitado a casos de menor gravidade.

    A regra 11.3. sublinha a necessidade de se assegurar o consentimento do Delinqente juvenil (ou dos seus pais ou tutor) s medidas extrajudiciais recomendadas. (O recurso a servios comunitrios sem este consentimento violaria a Conveno sobre a Abolio dos Trabalhos Forados)(13). Contudo, esse consentimento no deve ser irreversvel, porque muitas vezes, pode ser dado pelo menor, em desespero de causa. A regra sublinha a necessidade de se minimizarem as possibilidades de coao e de intimidao a todos os nveis do processo de recurso a meios extrajudiciais. Os menores no se devem sentir pressionados (por exemplo, para evitarem comparecer perante o tribunal) ou coagidos a dar o seu consentimento. Assim, recomenda-se a tomada de medidas que permitam uma avaliao objectiva da convenincia da interveno, em relao aos jovens Delinqentes, de uma "autoridade competente, se isso for solicitado". (A autoridade competente pode ser diferente da referida na regra 14.). A regra 11.4. recomenda que se prevejam alternativas viveis para substituir o processo normal da Justia de menores, na forma de programas de tipo comunitrio; recomenda-se, em especial, os que prevem a restituio de bens s vtimas ou que permitem evitar que os menores entrem, de futuro, em conflito com a lei, graas a uma vigilncia e orientao temporrias. So as circunstncias especiais de cada caso que justificam o recurso a meios extrajudiciais, mesmo quando foram cometidas infraes mais graves (primeira infrao, ato cometido sob presso de companheiros do menor, etc.)

    12. Especializao nos servios de polcia

    12.1. Para melhor cumprir as suas funes, os polcias que se ocupam frequentemente, ou exclusivamente, de menores ou que se dedicam essencialmente preveno da delinqncia juvenil devem receber uma instruo

  • e uma formao especiais. Com este fim deveriam ser criados nas grandes cidades servios especiais de polcia.

    Comentrio:

    A regra 12. chama a ateno para a necessidade de uma formao especializada para todos os funcionrios responsveis pela aplicao da lei que participam na administrao da Justia de menores. Como a polcia sempre o primeiro ponto de contato com o sistema de Justia de menores, importante que actue de maneira informada e adequada.

    Embora a relao entre a urbanizao e a criminalidade seja muito complexa, associa-se, muitas vezes, o aumento de delinqncia juvenil com o desenvolvimento das grandes cidades, sobretudo quando este rpido e anrquico. Seriam, pois, indispensveis servios de polcia especializados, no s para aplicar os princpios enunciados nas presentes Regras (por exemplo, na regra 1.6.) mas ainda, de modo mais geral, para melhorar a eficcia da preveno e da represso da delinqncia juvenil e do tratamento dos jovens Delinqentes. 13. Priso preventiva

    13.1. A priso preventiva constitui uma medida de ltimo recurso e a sua durao deve ser o mais curta possvel.

    13.2. Sempre que for possvel, a priso preventiva deve ser substituda por outras medidas, tais como uma vigilncia apertada, uma assistncia muito atenta ou a colocao em famlia, em estabelecimentos ou em lar educativo.

    13.3. Os menores em priso preventiva devem beneficiar de todos os direitos e garantias previstos nas Regras Mnimas das Naes Unidas para o Tratamento de Reclusos.

    13.4. Os menores em priso preventiva devem estar separados dos adultos e ser detidos em estabelecimentos diferentes ou numa parte separada de um estabelecimento em que tambm se encontram detidos adultos.

    13.5. Durante a sua priso preventiva, os menores devem receber cuidados, proteo e toda a assistncia individual - no plano social, educativo, profissional, psicolgico, mdico e fsico - de que necessitem, tendo em conta a sua idade, sexo e personalidade.

    Comentrio:

    O perigo de "contaminao criminal" para os jovens presos preventivamente no deve ser subestimado. , pois, importante sublinhar a necessidade de medidas

  • alternativas. Ao faz-lo, a regra 13.1. encoraja a elaborao de medidas novas e inovadoras destinadas a evitar a priso preventiva no interesse do bem-estar do menor.

    Os menores em priso preventiva beneficiam de todos os direitos e garantias previstos nas Regras Mnimas para o Tratamento de Reclusos assim como no Pato Internacional sobre os Direitos Civis e Polticos 9 em especial no artigo 9., alnea b), do pargrafo 2. e no pargrafo 3. do artigo 10.

    A regra 13.4. no impede os Estados de tomarem outras medidas de proteo contra a influncia nefasta dos Delinqentes adultos, que sejam pelo menos to eficazes como as que a so mencionadas.

    Foram enumeradas diversas formas de assistncia que podem ser necessrias para chamar a ateno para a larga gama de necessidades especiais dos jovens detidos (por exemplo, consoante se trate de homens ou mulheres, de toxicmanos, de alcolicos, de jovens doentes mentais ou de jovens traumatizados, designadamente aps a sua deteno, etc.).

    As diversas caractersticas fsicas e psicolgicas dos jovens detidos podem justificar medidas que permitam separ-los dos outros quando esto detidos preventivamente, e que contribuam para evitar que se tornem vtimas de outros reclusos e que possam beneficiar da assistncia mais apropriada ao seu caso.

    O Sexto Congresso das Naes Unidas para a Preveno do Crime e o Tratamento dos Delinqentes, na sua Resoluo 4(14) , sobre a elaborao de Regras Mnimas para a Administrao da Justia de Menores especificou que as regras deveriam, entre outros aspectos, refletir o princpio de base segundo o qual a priso preventiva s deve ser utilizada em ltimo recurso, que nenhum menor deve ser detido num estabelecimento onde esteja sujeito a sofrer a influncia negativa de adultos Delinqentes e que necessrio ter sempre em considerao as necessidades prprias do seu estado de desenvolvimento.

    TERCEIRA PARTE: - JULGAMENTO E DECISO

    14. Autoridade competente para julgar

    14.1. Se o caso de um jovem Delinqente no foi objeto de um processo extrajudicial (previsto na regra 11.), examinado pela autoridade competente (tribunal, comisso, conselho, etc.) de acordo com os princpios de um processo justo e equitativo. 14.2. O processo favorecer os interesses do menor e ser conduzido numa atmosfera de compreenso, que permita ao jovem participar e expressar-se livremente.

  • Comentrio:

    difcil dar uma definio do organismo ou de pessoa competente que descreva de modo universalmente aceitvel a autoridade jurisdicional. A expresso "autoridade competente" deve compreender as pessoas que presidem aos tribunais (compostos por um ou vrios membros), incluindo magistrados profissionais e no profissionais, assim como as comisses administrativas (sistema escocs e escandinavo, por exemplo) ou outros organismos comunitrios de carter mais informal, especializados na resoluo de conflitos e de carter jurisdicional.

    O processo seguido para julgar os jovens Delinqentes deve, de qualquer modo, conformar-se com as normas mnimas, asseguradas quase universalmente a qualquer acusado, expressas pelo respeito das frmulas legais. Nestas frmulas, um processo "justo e equitativo" compreende garantias fundamentais, tais como a presuno de inocncia, a apresentao e exame de testemunhas, meios comuns de defesa, o direito de no responder, o direito final de rplica, o direito de recurso, etc. (ver igualmente a regra 7.1.).

    15. Assistncia judiciria e direitos dos pais e tutores

    15.1. Ao longo de todo o processo, o menor tem o direito de ser representado pelo seu advogado ou pedir a designao de um advogado oficioso, quando existam no pas disposies legais que prevejam essa assistncia.

    15.2. Os pais ou o tutor podem participar no processo e a autoridade competente pode, no interesse do menor, requerer que o faam. Esta pode, contudo, recusar essa participao se existirem razes para supor que essa excluso necessria no interesse do menor.

    Comentrio:

    A regra 15.1. utiliza uma terminologia paralela do artigo 93 das Regras Mnimas para o Tratamento de Reclusos10. Enquanto a assistncia de um advogado ou assistncia judiciria gratuita necessria para assegurar a assistncia judiciria do menor, o direito participao dos pais ou tutor, tal como enunciado na regra 15.2., deve ser considerado como uma assistncia geral ao menor de carter psicolgico e afectivo, funo que persiste ao longo de todo o processo.

    A procura de uma soluo adequada pela autoridade competente pode ser facilitada, designadamente, pela cooperao dos representantes legais do menor (ou de outra pessoa, em quem o menor possa ter ou tenha efetivamente confiana). Mas j no assim se a presena dos pais ou do tutor desempenha um papel negativo na audincia; por exemplo, se eles manifestam uma atitude

  • hostil em relao ao menor; donde as disposies relativas possibilidade da sua excluso.

    16. Relatrios de inqurito social

    16.1. Para facilitar o julgamento do caso pela autoridade competente e a menos que se trate de infraes leves, antes da autoridade competente tomar a deciso final, os antecedentes do menor, as condies em que vive e as circunstncias em que o delito foi cometido so objeto de um inqurito profundo. Comentrio:

    Os relatrios de inqurito social (relatrios sociais ou relatrios pr-sentenciais) so uma ajuda indispensvel na maior parte dos casos referentes a processos judiciais contra jovens Delinqentes. A autoridade competente deve ser informada sobre fatos importantes referentes ao menor, tais como os seus antecedentes sociais e familiares, a sua escolaridade, as suas experincias em matria de educao, etc. Certas jurisdies recorrem, com este fim, a servios sociais especializados ou a pessoal dependente dos tribunais ou das comisses. Existem outras pessoas, designadamente os agentes dos servios de prova, que podem desempenhar a mesma funo. A regra exige, pois, que servios sociais adequados estejam encarregados de elaborar relatrios de inqurito social apropriados.

    17. Princpios relativos ao julgamento e deciso 17.1. A deciso de qualquer autoridade competente deve basear-se nos seguintes princpios:

    a) A deciso deve ser sempre proporcional no s s circunstncias e gravidade da infrao, mas tambm s circunstncias e necessidades do jovem Delinqente, assim como s necessidades da sociedade; b) As restries liberdade pessoal do menor so impostas somente depois de um estudo cuidadoso e limitadas ao mnimo possvel; c) A privao da liberdade individual s imposta se o menor for considerado culpado de um fato grave que implique violncia contra outra pessoa ou de reincidncia noutros crimes graves e se no existir outra soluo adequada; d) O bem-estar do menor deve ser o elemento condutor no exame do caso. 17.2. A pena de morte no aplicvel aos crimes cometidos por menores.

    17.3. Os menores no esto sujeitos a castigos corporais.

  • 17.4. A autoridade competente pode suspender o processo em todo e qualquer momento.

    Comentrio:

    A principal dificuldade na formulao de princpios orientadores do julgamento de menores resulta do fato de existirem ainda conflitos no resolvidos, de natureza filosfica, tais como os seguintes:

    a) Reinsero social ou sano merecida; b) Assistncia ou represso e castigo; c) Reao adaptada s caractersticas de um caso individual ou Reao inspirada na proteo da sociedade em geral; d) Dissuaso geral ou proteo individual. O conflito entre estas solues mais grave no caso dos menores do que no dos adultos. Perante a grande diversidade das causas e das reaes que caracterizam os casos referentes a menores, todas estas alternativas se encontram estritamente ligadas. A funo das Regras Mnimas para a administrao da Justia de menores no prescrever a soluo a seguir, mas definir a que esteja mais de acordo com os princpios universalmente aceites. por isso que os princpios enunciados na regra 17.1. e, em especial, nas alneas a) e c), devem ser considerados como linhas de orientao prticas, que permitam assegurar um ponto de partida comum; se as autoridades os tiverem em conta (ver igualmente a regra 5.), estes princpios podero contribuir consideravelmente para assegurar a proteo dos direitos fundamentais dos jovens, designadamente em matria de desenvolvimento pessoal e de educao.

    A alnea b) da regra 17.1. afirma que no so convenientes solues puramente punitivas. Quando se trata de adultos e talvez tambm em casos de infraes graves cometidas por jovens, as noes de pena merecida e de sanes adaptadas gravidade da infrao podem ser relativamente justificadas, mas nos casos referentes a menores o interesse e o futuro do menor deve sempre sobrepor-se a consideraes deste gnero.

    De acordo com a resoluo 8. do Sexto Congresso das Naes Unidas 14, esta regra encoraja o recurso, sempre que possvel a alternativas medida de colocao institucional, tendo em mente a preocupao de responder s necessidades especficas dos jovens. Assim, dever-se- fazer pleno uso de toda a gama de sanes alternativas existentes e criar novos tipos de sanes, tendo sempre presente a noo da segurana pblica. O regime de prova deve ser aplicado sempre que possvel atravs da suspenso da sentena, de sentenas condicionais, decises de comisses e outro tipo de disposies.

    A alnea c) da regra 17.1. corresponde a um dos princpios orientadores que figuram na resoluo 4 do Sexto Congresso, que visa evitar a priso dos jovens

  • Delinqentes, a menos que no exista outro meio adequado de garantir a segurana pblica.

    A disposio contra a pena de morte, includa na regra 17.2., est de acordo com o pargrafo 5. do artigo 6. do Pato Internacional sobre os Direitos Civis e Polticos 9.

    A disposio contra os castigos corporais corresponde ao artigo 7. do Pato Internacional sobre os Direitos Civis e Polticos(9) e Declarao sobre a Proteo de Todas as Pessoas contra a Tortura e outras Penas ou Tratamentos Cruis, Desumanos ou Degradantes(15), assim como ao projeto de Conveno sobre a Tortura e outras Penas ou Tratamentos Cruis, Desumanos ou Degradantes(16) e ao projeto de Conveno sobre os Direitos da Criana(11) . O poder de suspender o processo a qualquer momento (regra 17.4.) uma caracterstica inerente ao tratamento dado aos jovens Delinqentes por oposio aos adultos. Em qualquer momento, podem chegar ao conhecimento da autoridade competente circunstncias que paream aconselhar a suspenso definitiva do processo.

    18. Vrias medidas aplicveis

    18.1. A autoridade competente pode assegurar a execuo do julgamento sob formas muito diversas, usando de uma grande maleabilidade a fim de evitar, tanto quanto possvel, o internamento numa instituio. Tais medidas, algumas das quais podem ser aplicadas cumulativamente, incluem:

    a) Medidas de proteo, orientao e vigilncia; b) Regime de prova; c) Medidas de prestao de servios comunidade; d) Multas, indenizao e restituio; e) Tratamento intermdio e outras medidas de tratamento; f) Participao em grupos de "counselling" e outras atividades semelhantes; g) Colocao em famlia idnea, em centro comunitrio ou outro estabelecimento; h) Outras medidas relevantes. 18.2. Nenhum menor ser subtrado vigilncia dos pais, quer parcial quer totalmente, a no ser que as circunstncias do caso faam com que isso seja necessrio.

    Comentrio:

    A regra 18.1. tenta enumerar algumas decises e sanes importantes que at aqui foram adotadas com sucesso em diferentes sistemas jurdicos. Representam, no conjunto, opes interessantes que merecem ser seguidas e aperfeioadas. A

  • regra no alude s necessidades de pessoal dada a possvel penria de pessoal competente em certas regies; nestas regies poder-se- tentar ou procurar medidas que exijam menos pessoal.

    Os exemplos citados na regra 18.1. tm sobretudo um elemento comum, o de que a comunidade desempenha um papel importante na aplicao de medidas alternativas. A reeducao baseada na ao comunitria uma medida clssica que reveste hoje muitos aspectos. Assim, as autoridades competentes deveriam ser encorajadas a oferecer servios deste tipo.

    A regra 18.2. sublinha a importncia da famlia que, segundo o pargrafo I do artigo 10. do Pato internacional relativo aos Direitos Econmicos, Sociais e Culturais 9 o "elemento natural e fundamental da sociedade". No interior da famlia, os pais tm no s o direito, mas tambm o dever de sustentar e educar os filhos. A regra 18.2. exige, portanto, que os filhos no sejam separados dos pais seno em ltimo recurso. S se deve recorrer a esta medida quando os fatos justifiquem plenamente esta grave deciso (por exemplo, em caso de maus tratos infligidos aos filhos). 19. Recurso mnimo colocao em instituio

    19.1. A colocao de um menor em instituio, sempre uma medida de ltimo recurso e a sua durao deve ser to breve quanto possvel.

    Comentrio:

    A criminologia mais avanada recomenda o tratamento em meio aberto de preferncia colocao em instituio. Em termos de sucesso, pouca ou nenhuma diferena foi encontrada entre estes dois mtodos. As numerosas influncias negativas que se exercem sobre o indivduo e que parecem inevitveis em meio institucional no podem, evidente-mente, ser contrabalanadas por reforos no domnio do tratamento. Isto aplica-se especial-mente aos jovens Delinqentes, cuja vulnerabilidade maior. Para mais, as influncias negativas resultantes no s da falta de liberdade, mas tambm da separao do meio social habitual, so certamente mais graves nos menores, dada a sua falta de maturidade.

    A regra 19. visa restringir a colocao em instituio em dois aspectos: freqncia ("medida de ltimo recurso") e durao ("to breve quanto possvel"). Retoma um dos princpios fundamentais da Resoluo 4 do Sexto Congresso das Naes Unidas: um jovem Delinqente no deve ser preso num estabelecimento penitencirio, a menos que no exista outro meio apropriado. A regra apela, pois, para que, em caso de necessidade de deteno de um jovem Delinqente, a privao de liberdade seja o mais limitada possvel, que sejam previstas condies especiais na instituio para a sua deteno e que se tenham em considerao os diversos tipos de Delinqentes, de infraes e de instituies. De fato, seria necessrio dar prioridade s instituies "abertas" sobre as instituies

  • "fechadas". Alm disso, todos os estabelecimentos deveriam ser de tipo corretivo ou educativo em vez de tipo prisional.

    20. Preveno de demoras desnecessrias

    20.1. Qualquer caso deve ser tratado de forma expedita, desde o princpio, sem atrasos evitveis.

    Comentrio:

    A celeridade dos processos nos assuntos referentes aos jovens Delinqentes da maior importncia, caso contrrio ficar comprometida qualquer soluo satisfatria que o processo e o julgamento poderiam permitir. Quanto mais tempo passar, mais difcil ser ao menor, seno mesmo impossvel, fazer a ligao entre o processo e o julgamento por um lado, e por outro, a infrao, tanto do ponto de vista intelectual como psicolgico.

    21. Registros

    21.1. Os Registros referentes aos jovens Delinqentes devem ser considerados estritamente confidenciais e incomunicveis a terceiros. O acesso a estes registros deve ser limitado s pessoas diretamente envolvidas no julgamento do processo em causa ou a outras pessoas devidamente autorizadas.

    21.2. Os Registros de jovens Delinqentes no sero utilizados em processos subsequentes de adultos em que esteja implicado o mesmo Delinqente. Comentrio:

    A regra visa estabelecer um compromisso entre interesses contraditrios em matria de Registros ou processos: por um lado, os da polcia, do Ministrio Pblico e de outras autoridades interessadas em melhorar o controlo, e por outro, os interesses do Delinqente (ver tambm a regra 8.). A expresso "outras pessoas devidamente autorizadas" pode aplicar-se, por exemplo, aos investigadores.

    22. Necessidade de profissionalizao e de formao

    22.1. A formao profissional, a formao permanente, os cursos de reciclagem e outros tipos de formao apropriados, serviro para proporcionar a aquisio e manuteno da competncia profissional necessria a todas as pessoas encarregadas de assuntos referentes a menores.

  • 22.2. Os funcionrios da Justia de menores devem refletir a diversidade dos jovens que entram em contato com o sistema de Justia de menores. Tentar-?se- assegurar uma representao equitativa de mulheres e de minorias nos rgos da Justia de menores.

    Comentrio:

    As autoridades competentes para tomar uma deciso podem ter uma formao muito diferente (magistrados no Reino Unido da Gr-Bretanha e Irlanda do Norte e nas regies que se inspiram no sistema de common law, juzes com formao jurdica nos pases de tradio romanstica e nas regies que nela se inspiram; e, noutros stios, juristas ou no juristas, eleitos ou nomeados, membros de comisses comunitrias, etc.). Todas estas autoridades precisam de ter um conhecimento mnimo do direito, da sociologia, da psicologia, da criminologia e das cincias do comportamento, considerado to importante como a especializao ou a independncia da autoridade competente.

    Para os trabalhadores sociais e os agentes dos servios de prova, pode no ser possvel insistir sobre a especializao profissional como condio prvia para o desempenho de funes junto dos jovens Delinqentes. Assim, a habilitao mnima indispensvel, poderia obter-se com uma formao profissional permanente.

    As habilitaes profissionais constituem um elemento essencial para assegurar uma administrao imparcial e eficaz da Justia de menores. Por conseguinte, preciso melhorar o recrutamento, as perspectivas de promoo e a formao do pessoal e dar-lhe meios para desempenhar corretamente as suas funes.

    Para assegurar a imparcialidade na administrao da Justia de menores necessrio evitar qualquer discriminao de ordem poltica, social, sexual, religiosa, cultural ou outra, na seleo, nomeao e promoo profissional dos funcionrios encarregados da administrao da Justia de menores. Isto foi recomendado pelo Sexto Congresso. Alm disso, o mesmo Congresso pediu aos Estados membros que assegurassem um tratamento justo e equitativo s mulheres, enquanto parte do pessoal encarregado de administrar a Justia penal e recomendou que tomassem medidas especiais para recrutar, formar e facilitar a promoo profissional do pessoal feminino na administrao da Justia de menores 14 .

    QUARTA PARTE: - TRATAMENTO EM MEIO ABERTO

    23. Meios de execuo do julgamento 23.1. A fim de assegurar a execuo das decises da autoridade competente, referida na regra 14.1., essa mesma autoridade ou uma outra, se as circunstncias o exigirem, tomar as medidas necessrias.

  • 23.2. Com esse fim, a autoridade pode, se o julgar necessrio, modificar as decises, com a condio dessa modificao ser conforme aos princpios que figuram nas presentes regras.

    Comentrio:

    Tratando-se de menores Delinqentes, a execuo do julgamento pode, mais ainda do que para os adultos, ter uma longa incidncia sobre a vida do interessado. Assim, importante que a autoridade competente ou um rgo independente (comisso competente para conceder a liberdade condicional ou vigiada, servio de prova, instituio encarregada da proteo da juventude, etc.), dotado de competncia igual da autoridade que inicialmente pronunciou o julgamento, vigie a sua execuo. Em alguns pases, foi designado para esse efeito um juiz de execuo das penas. A composio, os poderes e as funes da autoridade tm de ser flexveis; a descrio que deles dada na regra 23. propositadamente geral, a fim de assegurar a sua ampla aceitao.

    24. Assistncia aos menores

    24.1 Procurar-se- assegurar aos menores, em todas as fases do processo, assistncia em matria de alojamento, de educao, de formao profissional, de emprego ou outra forma de assistncia prtica e til, com vista a facilitar a sua reinsero.

    Comentrio:

    A promoo do bem-estar do menor um elemento extremamente importante. Assim, a regra 24. sublinha a necessidade de se preverem as instalaes, os servios e todas as outras formas de assistncia necessrias para melhor servir os interesses do menor durante todo o processo de reinsero.

    25. Mobilizao de voluntrios e outros servios comunitrios

    25.1. Solicitar-se- a voluntrios, a organizaes de voluntrios, s instituies locais e a outros servios comunitrios, que contribuam eficazmente para a reinsero do menor num quadro comunitrio e, tanto quanto possvel, no interior da clula familiar.

    Comentrio:

  • Esta regra mostra que preciso orientar todas as atividades referentes aos Delinqentes juvenis para a reinsero. A cooperao com a comunidade indispensvel se se quiser aplicar de forma eficaz as diretrizes da autoridade competente. Os voluntrios e os servios de voluntariado, em especial, revelaram-se recursos valiosos, de que at aqui no se tirou o partido suficiente. Em alguns casos, a cooperao de antigos Delinqentes (designadamente de ex-toxicmanos) pode ser extremamente til. A regra 25. deriva dos princpios expostos nas regras 1.1. a 1.6. e segue as disposies do Pato Internacional sobre os Direitos Civis e Polticos.

    QUINTA PARTE: - TRATAMENTO EM INSTITUIO

    26. Objetivos do tratamento em instituio

    26.1. A formao e o tratamento dos menores colocados em instituio tm por objetivo assegurar-lhes assistncia, proteo, educao e formao profissional, a fim de os ajudar a desempenhar um papel construtivo e produtivo na sociedade.

    26.2. Os jovens colocados em instituio recebero a ajuda, proteo e assistncia - no plano social, educativo, profissional, psicolgico, mdico e fsico - de que possam necessitar, em funo da sua idade, sexo e personalidade e no interesse do seu desenvolvimento harmonioso.

    26.3. Os menores colocados em instituio devem estar separados dos adultos e detidos em estabelecimento distinto ou numa parte separada de um estabelecimento em que tambm se encontrem adultos.

    26.4. As jovens Delinqentes colocadas em instituio devem beneficiar de uma ateno especial no que diz respeito s suas necessidades e problemas prprios. A ajuda, proteo, assistncia, tratamento e formao de que beneficiam, no deve, em nenhum caso, ser inferior quelas de que beneficiam os jovens Delinqentes. Deve ser-lhes assegurado um tratamento justo. 26.5. No interesse e para o bem-estar do menor colocado em instituio, os pais ou o tutor gozaro de direito de visita.

    26.6. Favorecer-se- a cooperao interministerial e interdepartamental, com o fim de assegurar aos menores internados uma formao escolar apropriada ou, se se justificar, uma formao profissional adequada, para que, ao deixar a instituio, no se encontrem prejudicados nos seus estudos. Comentrio:

  • Os objetivos do tratamento em instituio, tal como se encontram enunciados nas regras 26.1. e 26.2., deveriam ser aceitveis por todos os sistemas e por todas as culturas. Contudo, no foram ainda atingidos em toda a parte e h muito a fazer neste domnio.

    A assistncia mdica e psicolgica, em especial, so extremamente importantes para os jovens toxicmanos violentos ou deficientes mentais, colocados em instituio.

    A preocupao de evitar as influncias negativas dos Delinqentes adultos, e de garantir o bem-estar dos menores colocados em instituio, enunciada na regra 26.3., est em conformidade com um dos princpios bsicos das regras fixadas pelo Sexto Congresso na sua resoluo 414. A regra no impede os Estados de adotarem outras medidas contra a influncia negativa dos Delinqentes adultos, que sejam pelo menos to eficazes como as medidas mencionadas nesta regra (ver tambm a regra 13.4.). A regra 26.4. diz respeito ao fato de as Delinqentes no beneficiarem geralmente da mesma ateno que os Delinqentes, como foi observado pelo Sexto Congresso. Em especial, a resoluo 9 do Sexto Congresso 14 pede que seja assegurado s Delinqentes um tratamento justo em todas as fases do processo penal e que se d uma ateno especial aos seus problemas e s suas necessidades, enquanto se encontram detidas. Alm disso, preciso ver esta regra luz da Declarao de Caracas do Sexto Congresso na qual se pede, entre outras coisas, a igualdade de tratamento na administrao da Justia Penal(17) e no contexto da Declarao sobre a Eliminao da Discriminao contra as Mulheres(18) e da Conveno sobre a Eliminao de todas as Formas de Discriminao contra as Mulheres(19) . O direito de visita (regra 26.5.) decorre das disposies das regras 7.1., 10.1., 15.2. e 18.2.. A cooperao interministerial e interdepartamental (regra 26.6.) tem uma importncia especial para melhorar, em geral, a qualidade do tratamento e da formao nas instituies.

    27. Aplicao das Regras Mnimas das Naes Unidas para o Tratamento de Reclusos

    27.1. As Regras Mnimas das Naes Unidas para o Tratamento de Reclusos e Recomendaes conexas sero aplicveis no que diz respeito ao tratamento dos jovens Delinqentes colocados em instituio, inclusive queles que se encontram em deteno preventiva.

    27.2. Na medida do possvel, procurar-se- aplicar os princpios pertinentes enunciados nas Regras Mnimas para o Tratamento de Reclusos, com o fim de responder s diversas necessidades dos menores, prprias da sua idade, sexo e personalidade.

  • Comentrio:

    As Regras Mnimas para o Tratamento de Reclusos e Recomendaes conexas encontram-se entre as primeiras disposies promulgadas pelas Naes Unidas. Reconhece-se que estes textos tiveram repercusso escala mundial. Embora existam ainda pases onde a sua aplicao constituiu mais uma aspirao do que uma realidade, o certo que as Regras Mnimas continuam a exercer uma influncia importante sobre a administrao humanitria e justa dos estabelecimentos penitencirios.

    Alguns dos princpios bsicos relativos aos jovens Delinqentes colocados em instituio esto contidos nas Regras Mnimas para o Tratamento de Reclusos (locais de deteno, arquitetura, roupa de cama, vesturio, queixas e pedidos dos detidos, contato com o mundo exterior, alimentao, servios mdicos, servios religiosos, separao segundo as idades, pessoal, trabalho, etc.), assim como disposies referentes aos castigos, disciplina e a meios de coao aplicveis a Delinqentes perigosos. No seria oportuno modificar essas Regras Mnimas para o Tratamento de Reclusos em funo das caractersticas especficas que os estabelecimentos para jovens Delinqentes devem ter dentro do quadro das presentes Regras Mnimas para Administrao da Justia de Menores.

    A regra 27. diz respeito s condies exigidas para os jovens colocados em instituio (regra 27.1.), assim como s diversas necessidades prprias da sua idade, sexo e personalidade (27.2.). Assim, os objetivos e o contedo desta regra esto em relao direta com as disposies pertinentes das Regras Mnimas para o Tratamento de Reclusos.

    28. Aplicao freqente e rpida do regime de liberdade condicional

    28.1. A autoridade apropriada recorrer liberdade condicional tantas vezes quanto possvel e to cedo quanto possvel.

    28.2. Os menores colocados em liberdade condicional sero assistidos e supervisionados por uma autoridade apropriada e recebero todo o apoio da comunidade.

    Comentrio:

    O poder de decretar a liberdade condicional pode ser conferido autoridade competente, como est previsto na regra 14.1., ou a uma outra autoridade. Por isso que convm empregar o termo autoridade "apropriada" e no autoridade "competente".

    Na medida em que as circunstncias o permitam, dar-se- preferncia liberdade condicional, em lugar de deixar o jovem Delinqente cumprir a totalidade da pena.

  • Quando existam provas de um processo satisfatrio de reabilitao, mesmo os Delinqentes que parecem perigosos no momento da sua colocao em instituio podem ser condicionalmente libertados. Tal como o regime de prova, a liberdade condicional pode ser concedida sob reserva do cumprimento satisfatrio de condies especificadas pelas autoridades pertinentes durante um perodo de prova previsto na deciso: por exemplo, o "bom comportamento" do Delinqente, a sua participao em programas comunitrios, a sua residncia em estabelecimentos de transio, etc.

    Quando os Delinqentes colocados em instituio so libertados condicionalmente, dever ser designado um agente dos servios de prova ou um outro funcionrio (designadamente nas situaes em que o regime de prova ainda no tenha sido adotado) para supervisionar o seu comportamento e prestar-lhes assistncia e encorajar a comunidade a apoi-los.

    29. Regimes de semi-deteno

    29.1. Procurar-se- estabelecer sistemas de semi-deteno tais como estabelecimentos de transio, lares educativos, centros diurnos de formao profissional e outros estabelecimentos apropriados, destinados a favorecer a reinsero social dos menores.

    Comentrio:

    A importncia do enquadramento sada de uma instituio evidente. Esta regra faz ressaltar a necessidade da criao de diversas modalidades de regimes de semi-deteno.

    Esta regra sublinha igualmente a necessidade de organizao de toda uma gama de meios e servios destinados a satisfazer as necessidades dos jovens Delinqentes que reingressam na comunidade e a fornecer-lhes orientao e instituies de apoio que contribuam para o sucesso da sua reinsero social.

    SEXTA PARTE: - INVESTIGAO, PLANIFICAO, FORMULAO DE POLTICAS E AVALIAO

    30. A investigao, base da planificao, da formulao de polticas de avaliao

    30.1. Procurar-se- organizar e fomentar a investigao necessria formulao de planos e de polticas eficazes.

  • 30.2. Procurar-se- rever e avaliar periodicamente as tendncias, os problemas e as causas da delinqncia e da criminalidade juvenis, assim como as necessidades especficas dos menores detidos.

    30.3. Procurar-se- estabelecer com carter regular um dispositivo permanente de investigao e de avaliao, integrado no sistema de administrao da Justia de menores, bem como compilar e analisar os dados e informaes pertinentes necessrios a uma avaliao apropriada e a um aperfeioamento ulterior do referido sistema.

    30.4. Na administrao da Justia de menores, a prestao de servios deve ser sistematicamente planificada e implementada e fazer parte integrante do esforo de desenvolvimento nacional.

    Comentrio:

    A utilizao da investigao como base de uma poltica bem informada da Justia de menores reconhecida como um mecanismo importante para garantir que a prtica siga os progressos ocorridos no domnio dos conhecimentos e para favorecer o aperfeioamento constante do sistema da Justia de menores. A simbiose entre a investigao e as polticas reveste uma importncia especial em matria de Justia de menores.

    Dadas as modificaes rpidas e por vezes radicais dos estilos de vida dos jovens e das formas e dimenses da criminalidade juvenil, as reaes da sociedade e da Justia criminalidade e delinqncia juvenis esto, muitas vezes, ultrapassadas e inadequadas.

    A regra 30. fixa normas que permitem integrar a investigao no processo de formulao e aplicao de polticas na administrao da Justia de menores. Chama em especial a ateno para a necessidade de rever e avaliar os programas e as medidas existentes e de planificar a Justia de menores no contexto mais amplo, dos objetivos do desenvolvimento global.

    Uma avaliao constante das necessidades do menor, assim como das tendncias e problemas da delinqncia, condio indispensvel para melhorar a formulao de polticas apropriadas e conceber intervenes satisfatrias, tanto de carter formal como informal. Neste contexto, os organismos responsveis devem facilitar a investigao levada a cabo por pessoas e organismos independentes. Poder ser til solicitar e ter em conta a opinio dos prprios jovens, e no apenas daqueles que entrem em contato com o sistema.

    O processo de planificao deve, em particular, colocar um acento tnico num mais efetivo e justo sistema de fornecimento dos servios necessrios. Para este efeito deve efetuar-se uma avaliao detalhada e regular da vasta gama de necessidades e problemas particulares do menor e uma identificao clara das prioridades. Neste contexto, dever tambm coordenar-se a utilizao dos

  • recursos existentes, nomeadamente das medidas alternativas e de apoio da comunidade, de forma a permitir a elaborao de mecanismos de aplicao e de controlo dos programas adotados.

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    * A presente traduo seguiu de perto uma anterior verso em lngua portuguesa, elaborada no mbito dos Servios Tutelares de Menores e publicada na revista Infncia e Juventude.

    (1)Resoluo 217 A(III). (2) Ver Resoluo 2200 A(XXI). (3) Resoluo 1386 (XIV). (4) Ver Sixime Congrs des Nations Unies pour la prvention du crime et le traitement des dlinquants, Caracas, 25 de Agosto-5 de Setembro de 1980: Rapport tabli par le Secrtariat (publicao das Naes Unidas, nmero de venda F.81.IV.4), cap. I, sec. B. (5) Ver "Rapport de la Runion prparatoire interrgionale du Septime Congrs des Nations Unies pour la prvention du crime et le traitement des dlinquants sur le sujet IV: Les jeunes, la criminalit et la justice" (A/CONF. 121/IPM/1). (6) A/CONF. 121/14 e Corr. 1. (7) Resoluo 1386 (XIV). Ver tambm a Conveno sobre a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao Contra as Mulheres (Resoluo 34/180 da Assembleia Geral); a Declarao da Conferncia Mundial da Luta contra o Racismo e a Discriminao Racial (Relatrio da Conferncia Mundial da Luta contra o Racismo e a Discriminao Racial) Genebra, 14-25 de Agosto de 1978 (Publicao das Naes Unidas, nmero de venda E. 79. XIV.2, cap II). A Declarao sobre todas as Formas de Intolerncia e de Discriminao baseadas na Religio ou Convico (Resoluo 36/55 da Assemblia Geral); Regras Mnimas para o Tratamento de Reclusos (A/conf. 6/1 "Publicao das Naes Unidas, nmero de venda E. 56. IV, 4", anexo I, sec. A.); Declarao de Caracas (Resoluo 35/171, da Assemblia Geral, anexo); e a regra 9 das presentes Regras. (8) Ver Resoluo 217 A (III). (9) Ver Resoluo 2200 A (XXI), anexo. (10) Ver Human Rights: A compilation of International Instruments (Publicao das Naes Unidas, nmero de venda E E. 83.XIV.1). (11) Ver Resoluo 1985/42 do Conselho Econmico e Social. (12)As Regras Mnimas para o Tratamento de Reclusos e Recomendaes a estes referentes foram adotadas em 1955 pelo Primeiro Congresso das Naes Unidas sobre a Preveno do Crime e o Tratamento dos Delinqentes: Relatrio apresentado pelo Secretariado (publicao das Naes Unidas, nmero de venda: E. 1956.IV. 4). Na sua Resoluo 663 C(XXIV), de 31 de Julho de 1957, o Conselho Econmico e Social aprovou as Regras Mnimas e fez, entre outras, as recomendaes relativas ao recrutamento e formao do pessoal penitencirio e aos estabelecimentos prisionais e correcionais abertos. O Conselho recomendou que os Governos considerassem favoravelmente a adoo e a aplicao de

  • Regras Mnimas e que tivessem em conta, na medida do possvel, os outros dois grupos de recomendaes na administrao dos seus estabelecimentos prisionais e correcionais. A incluso de uma regra, a regra 95., foi autorizada pelo Conselho Econmico e Social na sua Resoluo 2076 (LXII), de 13 de Maio de 1977. O texto completo das Regras Mnimas para o Tratamento de Reclusos e das Recomendaes a eles referentes est contido no documento Human Rights: A Compilation of International Instruments. (13) Conveno n. 105, adotada em 25 de Junho de 1957, pela Conferncia Geral da Organizao Internacional do Trabalho, na sua quadragsima sesso. No que se refere ao texto da Conveno, ver a nota (10). (14) Ver Sixime Congrs des Nations Unies pour la prvention du crime et le traitement des dlinquants, Caracas 25 de Agosto a 5 de Setembro 1980; rapport tabli par le Secrtariat (publicao das Naes Unidas, nmero de venda, F.81 IV.4), cap. I, sec. B. (15) Resoluo 3452 (XXX), anexo. (16) Resoluo 39/46, anexo. (17) Ver Resoluo 35/171, anexo, par. 1.6. (18) Resoluo 2263 (XXII). (19) Resoluo 34/180, anexo.