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04/07/2019 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SERGIPE www.tjse.jus.br/tjnet/jurisprudencia/relatorio.wsp?tmp.numprocesso=201800111901&tmp.numacordao=201818567 1/24 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SERGIPE ACÓRDÃO: 201818567 RECURSO: Mandado de Segurança Cível PROCESSO: 201800111901 RELATOR: IOLANDA SANTOS GUIMARÃES IMPETRANTE GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA Advogado: EDUARDO BASTOS FURTADO DE MENDONÇA IMPETRANTE GOOGLE LLC Advogado: EDUARDO BASTOS FURTADO DE MENDONÇA IMPETRADO JUIZO DE DIREITO DA COMARCA DE PORTO DA FOLHA EMENTA Constitucional e Processo Penal Mandado de Segurança Inquérito policial – Investigação do homicídio do Comandante da Companhia Independente de Operações Policiais Especiais em área de Caatinga (CIOPAC) Decisão que determina a quebra de sigilo telemático Pleito de anulação Invocação da proteção da privacidade e do sigilo das comunicações prevista no art. 5º, incisos X e XII, da Constituição Federal – Leis n os 9.296/96 (interceptação de comunicações telefônicas) e 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) que regulamentam os dispositivos constitucionais Diferença na tutela dada pela legislação ao conteúdo das comunicações mantidas entre indivíduos e às informações de conexão e de acesso a aplicações de internet – Menor proteção do sistema jurídico às informações de conexão e de acesso a aplicações de internet Requerimento

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TRIBUNALDEJUSTIÇADOESTADODESERGIPE ACÓRDÃO: 201818567RECURSO: MandadodeSegurançaCívelPROCESSO: 201800111901RELATOR: IOLANDASANTOSGUIMARÃESIMPETRANTE GOOGLEBRASILINTERNETLTDA Advogado:EDUARDOBASTOSFURTADODE

MENDONÇA

IMPETRANTE GOOGLELLC Advogado:EDUARDOBASTOSFURTADODEMENDONÇA

IMPETRADO JUIZODEDIREITODACOMARCADEPORTODAFOLHA

EMENTAConstitucional e ProcessoPenal – Mandado deSegurança – Inquéritopolicial – Investigação dohomicídio do Comandanteda CompanhiaIndependente deOperações PoliciaisEspeciais em área deCaatinga (CIOPAC) –Decisão que determina aquebra de sigilotelemático – Pleito deanulação – Invocação daproteção da privacidade edo sigilo dascomunicações prevista noart.5º,incisosXeXII,daConstituiçãoFederal–Leisnos 9.296/96(interceptação decomunicações telefônicas)e 12.965/2014 (MarcoCivil da Internet) queregulamentam osdispositivosconstitucionais –Diferença na tutela dadapela legislação aoconteúdo dascomunicações mantidasentre indivíduos e àsinformações de conexão ede acesso a aplicações deinternet –Menorproteçãodo sistema jurídico àsinformações de conexão ede acesso a aplicações deinternet – Requerimento

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da Autoridade Policiallimitadaàsinformaçõesdeconexão e de acesso aaplicações de internet(contas, nomes deusuário, números de IPque foram usadosassociados a smartphonescom sistema Android,número de IMEI e e-mailassociados aos aparelhoseusuáriosquerecorreramaos serviços dosImpetrantes) em umdeterminado período detempo e numa áreadelimitada – Inexistênciade pedido de quebra dosigilo do conteúdo decomunicaçõeseventualmentetransmitidaspelaspessoasa serem atingidas pelamedida excepcional –Observância do dispostono art. 22 do Marco CivildaInternet–Existênciadeilícito criminal (art. 22,inciso I, do Marco Civil),necessidade da medidapara o prosseguimentodasinvestigações(art.22,incisoII,doMarcoCivil)elimitação das áreas e dosperíodos de tempo dosregistros (art. 22, incisoIII, do Marco Civil) –Registros limitados a umperíodo de 15 (quinze)minutos, em horárionoturno, em rodoviaestadual poucomovimentada–Segurançadenegada.

I – Cuida-se demandado desegurança que objetivaanular a decisão proferidapelo Juízo Impetrado que,acolhendo requerimento daAutoridadePolicial,quebrouosigilo telemático de pessoasnão identificadas, medidaadotada nos autos doInquérito Policial que

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investiga o homicídio quevitimou o Capitão da PolíciaMilitar do Estado de SergipeManoel Alves de OliveiraSantos, então Comandanteda Companhia Independentede Operações PoliciaisEspeciais em área deCaatinga (CIOPAC), no dia04/04/2018, por volta das20h,naRodoviaEstadualSE-200,noMunicípiodePortodaFolha/SE;

II – A Constituição Federalprotege, nos incisos X e XIIdo seu art. 5º, a privacidadee o sigilo das comunicações,garantias essasregulamentadas pela Lei nº9.296/96 (interceptação decomunicações telefônicas) epela Lei nº 12.965/2014(MarcoCivildaInternet);

III – A leitura dos citadosdiplomas legais revela que osistema jurídico diferencia atutela dada ao conteúdo dascomunicaçõesmantidasentreindivíduos e às informaçõesde conexão e de acesso aaplicações de internet,garantindo uma maiorproteção ao primeiro eflexibilizando a proteção dasegunda;

IV – No caso dos autos, amedida combatida se limitoua atender requerimento que,por sua vez, restringiu-se àquebra do sigilo dasinformaçõesdeconexãoedeacesso a aplicações deinternet (contas, nomes deusuário, números de IP queforam usados associados asmartphones com sistemaAndroid,númerodeIMEIee-mailassociadosaosaparelhose usuários que recorreramaosserviçosdosImpetrantes)em um determinado períodode tempo e numa áreadelimitada, tudo issonobojo

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de investigação de umhomicídio;

V – Não houve qualquerrequerimento por parte daAutoridade Policial quanto àquebra do sigilo do conteúdodas comunicaçõeseventualmente transmitidaspelas pessoas a serematingidas pela medidaexcepcional;

VI – Nesse quadro, osrequisitosdoart.22doMarcoCivil da Internet para amanutenção da medida semostram presentes: há umilícito, inclusive de naturezacriminal (inciso I); aAutoridade Policial explicitouser imprescindível a medidapara a continuidade dasinvestigações, com aidentificação dos suspeitos(inciso II); e o requerimentofoi delimitado não só notempo, mas na área a seratingida(incisoIII);

VII – Vale destacar, dasinformações prestadas peloJuízo Impetrado, queo lapsotemporal éentre “(...)04deabril de2018às22h40mine04 de abril de 2018 às22h55m,ouseja,sãoapenas15 minutos” de dados em“(...) local ermo, estrada dedifícil acesso, de restritacirculação de pessoas,especialmente no horárioindicado (...)”, indicando queum número mínimo depessoas eventualmente seráatingida pela quebra dosigilo;

VIII–Segurançadenegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam osintegrantesdoTribunaldeJustiçadoEstadodeSergipe,emsuacomposiçãoplenária,pormaioria,conhecerdowritparadenegarasegurançapleiteada,emconformidade

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comorelatórioevotoconstantesdosautos,queficamfazendoparte integrantedopresentejulgado.

Aracaju/SE,22deAgostode2018.

DESA.IOLANDASANTOSGUIMARÃESRELATOR

RELATÓRIO

DesembargadoraIolandaSantosGuimarães(Relatora):–Trata-sedeMandadodeSegurança impetradopeloGoogleBrasil InternetLtda. eGoogleLLC. contra ato do Juízo de Direito da Comarca de Porto da Filha, o qual teriaproferido decisão autorizando a quebra do sigilo telemático de um conjunto depessoasnãoidentificadasnosautosdeInquéritoPolicial.

Em síntese, os Impetrantes sustentam, inicialmente, o cabimento domandamuscombasenodispostonoart.5º,incisoII,daLeinº12.016/2009(LeidoMandado de Segurança), que prevê ser cabível a sua impetração para impugnardecisõesjudiciaisirrecorríveis.

Prosseguindo, defendem ser inconstitucional e ilegal a medidadeterminadopelaAutoridadeImpetrada,invocandooteordoart.5º,incisosXeXII,daConstituição Federal, queprotegemodireito à privacidadeedas comunicações,destacando,ainda,odispostonoart.93,incisoIX,daCF/88paraapontaraausênciadefundamentaçãoespecíficanadecisãoquestionada.

Aduz, a esse respeito, que “(...) a quebra do sigilo é medidaexcepcionale,por issomesmo,sópoderiaser justificadapelaexistênciade indíciosconcretos de atividade ilícita por parte do alvo, a seremdemonstrados emdecisãojudicial fundamentada (...)” (sic), o que teria sido positivado no art. 2º da Lei nº9.296/96.

DestacatambémqueoConselhoNacionaldeJustiçaeditouaResoluçãonº59/2008paratratardainterceptaçãotelefônicaetelemática,“(...)explicitandoanecessidade de indicação: (i) dos indícios razoáveis de autoria ou participação dosalvosnoscrimesinvestigados;(ii)dasdiligênciasanteriormenterealizadas;e(iii)dosmotivosqueembasamaconclusãodequeseria impossívelobteraprovaporoutravia.AResoluçãoveda,ainda,“ainterceptaçãodeoutrosnúmerosnãodiscriminadosnadecisão”,dentreoutrasrestrições(...)”(sic–destaquenooriginal).

Invoca,outrossim,asdisposiçõescontidasnosarts.3º,7º,8ºe22daLeinº12.965/2014(MarcoCivildaInternet),aduzindoqueexigem,paraaquebradosigiloderegistrosdeconexão,aexistênciadeindíciosdeatoilícito.

Discorrendosobrea importânciadaproteçãododireitoàprivacidade,argumenta que, “Do ponto de vista teórico, argumentar com uma possívelexcepcionalidade do caso seria o mesmo que admitir uma inconstitucionalidade eilegalidade útil. Do ponto de vista prático, não demoraria para a exceção serbanalizada–aindamaisemcontextosdeintensacriminalidade”(sic).

Faz considerações a respeito do risco de concessão de medidasgenéricasdequebradesigilos,inclusivequantoàrepercussãodacompetênciaparaoexamedetaisrequerimentosquandoeventualmenteenvolverempessoasocupantesdecargoscomprerrogativadeforo.

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Defende, por derradeiro, que a medida não atende ao Princípio daProporcionalidade em todas as suas 03 (três) vertentes, quais sejam, adequação,necessidadeeproporcionalidadeemsentidoestrito.

Postula, em sede liminar, que sejam suspeitos os efeitos do atoimpugnado, impedindo, inclusive,aaplicaçãodassançõesfixadasnadecisãoobjetodesteimpetração.

Aliminarfoiindeferidaemdecisãoproferidaem11/05/2018.

O Impetrado prestou as informações juntadas aos autos em21/05/2018.

Os Impetrantes interpuseram o Agravo Regimental (Interno) nº201800111901 em 30/05/2018, repetindo as razões já lançadas na petição inicialdestemandamus,estandoorecursoaindapendentedejulgamento.

Devidamentenotificado,oórgãoderepresentaçãojudicialdoEstadodeSergipenãosemanifestounosautos,ateordoAtoOrdinatóriolançadonosautosem08/06/2018.

O Procurador-Geral de Justiça José Rony Silva Almeida lançoumanifestação nos autos em 20/06/2018 no sentido de aguardar o julgamento doAgravoRegimentalinterpostonestesautosparasemanifestar.

Em21/06/2018proferidespachodeterminandooretornodosautosaoParquet para emissão de parecer diante da inexistência de efeito suspensivo noAgravo Regimental e de qualquer outro impeditivo para o prosseguimento dopresentewrit.

Após o decurso do prazo de 10 (dez) dias para manifestação doProcurador-Geral de Justiça, proferi despacho em 14/07/2018 determinando ainclusãodoprocessoempautaparajulgamento.

O Procurador-Geral de Justiça em exercício Eduardo Barreto d´ÁvilaFontes lançouparecerem16/07/2018opinandopeladenegaçãodaordem,entendopelonãocabimentodomandamuspornãorevelarmanifestailegalidadeouabusodeautoridadee,nomérito,pelainexistênciadodireitolíquidoecertoalegado.

ÉoRelatório.VOTO

DesembargadoraIolandaSantosGuimarães(Relatora):–Trata-sedeMandadodeSegurança impetradopeloGoogleBrasil InternetLtda. eGoogleLLC. contra ato do Juízo de Direito da Comarca de Porto da Filha, o qual teriaproferido decisão autorizando a quebra do sigilo telemático de um conjunto depessoasnãoidentificadasnosautosdeInquéritoPolicial.

OpresentemandadodesegurançaobjetivaanularadecisãoqueimpôsaosImpetrantesofornecimento,noprazode72h(setentaeduashoras),dedadostelemáticos(contas,nomesdeusuário,númerosdeIPqueforamusadosassociadosa smartphones com sistema Android, número de IMEI e e-mail associados aosaparelhoseusuáriosquerecorreramaosserviçosdosImpetrantes)daspessoasquepassaram por locais determinados em intervalos de tempo definidos, sob pena deprática do crime de desobediência e incidência de multa diária de R$ 50.000,00(cinquentamilreais).

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OsImpetrantesfundamentamseupedidosobofundamentodetersidodeferidaeminobservânciasadisposiçõesconstitucionaiselegais.

Nessesentido,invocam,inicialmente,odispostonoart.5º,incisosXeXII, da Constituição Federal, que tutelam o direito à privacidade e ao sigilo dascomunicações:

Art.5ºTodossão iguaisperantea lei,semdistinçãodequalquernatureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeirosresidentesnoPaísainviolabilidadedodireitoàvida,àliberdade,àigualdade,àsegurançaeàpropriedade,nostermosseguintes:

(...)

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e aimagemdaspessoas,asseguradoodireitoaindenizaçãopelodanomaterialoumoraldecorrentedesuaviolação;

(...)

XII-é inviolávelosigilodacorrespondênciaedascomunicaçõestelegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, noúltimocaso,porordemjudicial,nashipótesesenaformaquealeiestabelecer para fins de investigação criminal ou instruçãoprocessualpenal;

(...)

De fato, a simples leitura dos dispositivo constitucionais transcritosrevelaqueaCartaPolíticavigentepreviu,comodireitofundamentação,aproteçãoàprivacidadeque,areboque,trazconsigoodireitoaosigilodascomunicações.

Especificamente quanto às comunicações, a Lei nº 9.296/96regulamentaapartefinaldoincisoXIIanteriormentecitado,prevendoapossibilidadedeserem interceptadasascomunicaçõestelefônicas,conformeprevisãodoseuart.1º,possibilidadeessaampliadaparaossistemasdeinformáticaetelemáticanoseuparágrafoúnico:

Art.1ºA interceptaçãodecomunicações telefônicas,dequalquernatureza, para prova em investigação criminal e em instruçãoprocessual penal, observaráodispostonesta Lei edependerádeordem do juiz competente da ação principal, sob segredo dejustiça.

Parágrafoúnico.OdispostonestaLeiaplica-seàinterceptaçãodofluxodecomunicaçõesemsistemasdeinformáticaetelemática.

Especificamente sobre os dados que transitam pela rede mundial decomputadores(Internet),aLeinº12.965/2014(marcoCivildaInternet)estabeleceuosprincípios,garantias,direitosedeveres.

Daleituradeambososdiplomaslegais,pode-seperceberqueháumadiferenciaçãonaproteçãodadapelalegislaçãoquantoaoconteúdodascomunicações

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mantidas entre indivíduos e quanto às informações de conexão e de acesso aaplicaçõesdeinternet.

Emrelaçãoaoconteúdodascomunicaçõesmantidasentre indivíduos,ambososdiplomas–Leisnos9.296/96e12.965/2014–restringemapossibilidadede quebra do sigilo. Exigem, para tanto, que haja decisão judicial, precedida derequerimento de autoridades específicas e em hipóteses limitadas, definidas emambososdiplomas.

Leia-se,apropósito,odispostonosarts.2ºa5ºe9ºa10daLeinº9.296/96:

Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicaçõestelefônicasquandoocorrerqualquerdasseguinteshipóteses:

I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação eminfraçãopenal;

II-aprovapuderserfeitaporoutrosmeiosdisponíveis;

III - o fato investigado constituir infração penal punida, nomáximo,compenadedetenção.

Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita comclareza a situação objeto da investigação, inclusive com aindicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidademanifesta,devidamentejustificada.

Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas poderá serdeterminadapelojuiz,deofícioouarequerimento:

I-daautoridadepolicial,nainvestigaçãocriminal;

II - do representante do Ministério Público, na investigaçãocriminalenainstruçãoprocessualpenal.

Art. 4° O pedido de interceptação de comunicação telefônicaconterá a demonstração de que a sua realização é necessária àapuração de infração penal, com indicação dos meios a seremempregados.

§ 1° Excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido sejaformulado verbalmente, desde que estejam presentes ospressupostos que autorizem a interceptação, caso em que aconcessãoserácondicionadaàsuareduçãoatermo.

§ 2° O juiz, no prazomáximo de vinte e quatro horas, decidirásobreopedido.

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Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade,indicando também a forma de execução da diligência, que nãopoderáexcederoprazodequinzedias,renovávelporigualtempoumavezcomprovadaaindispensabilidadedomeiodeprova.

(...)

Art.9°Agravaçãoquenãointeressaràprovaseráinutilizadapordecisão judicial, durante o inquérito, a instrução processual ouapósesta,emvirtudederequerimentodoMinistérioPúblicooudaparteinteressada.

Parágrafo único. O incidente de inutilização será assistido peloMinistério Público, sendo facultada a presença do acusado ou deseurepresentantelegal.

Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicaçõestelefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar segredo daJustiça,semautorizaçãojudicialoucomobjetivosnãoautorizadosemlei.

Pena:reclusão,dedoisaquatroanos,emulta.

Nomesmosentido,asprevisõesdosarts.7º,incisosI,II,III,VII,VIII,IX,10,§2º,e12daLeinº12.965/2014:

Art.7ºOacessoàinternetéessencialaoexercíciodacidadania,eaousuáriosãoasseguradososseguintesdireitos:

I-inviolabilidadedaintimidadeedavidaprivada,suaproteçãoeindenização pelo dano material ou moral decorrente de suaviolação;

II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pelainternet,salvoporordemjudicial,naformadalei;

III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadasarmazenadas,salvoporordemjudicial;

(...)

VII - não fornecimento a terceiros de seus dados pessoais,inclusive registros de conexão, e de acesso a aplicações deinternet, salvo mediante consentimento livre, expresso einformadoounashipótesesprevistasemlei;

VIII - informações claras e completas sobre coleta, uso,armazenamento, tratamento e proteção de seus dados pessoais,quesomentepoderãoserutilizadosparafinalidadesque:

a)justifiquemsuacoleta;

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b)nãosejamvedadaspelalegislação;e

c)estejamespecificadasnoscontratosdeprestaçãodeserviçosouemtermosdeusodeaplicaçõesdeinternet;

IX-consentimentoexpressosobrecoleta,uso,armazenamentoetratamento de dados pessoais, que deverá ocorrer de formadestacadadasdemaiscláusulascontratuais;

(...)

Art.10.AguardaeadisponibilizaçãodosregistrosdeconexãoedeacessoaaplicaçõesdeinternetdequetrataestaLei,bemcomode dados pessoais e do conteúdo de comunicações privadas,devematenderàpreservaçãoda intimidade,davidaprivada,dahonraedaimagemdaspartesdiretaouindiretamenteenvolvidas.

(...)

§2ºOconteúdodas comunicaçõesprivadassomentepoderáserdisponibilizadomedianteordemjudicial,nashipótesesenaformaquealeiestabelecer,respeitadoodispostonosincisosIIeIIIdoart.7º.

(...)

Art. 12. Sem prejuízo das demais sanções cíveis, criminais ouadministrativas,asinfraçõesàsnormasprevistasnosarts.10e11ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções, aplicadasdeformaisoladaoucumulativa:

I -advertência, com indicaçãodeprazoparaadoçãodemedidascorretivas;

II -multadeaté10%(dezpor cento)do faturamentodogrupoeconômiconoBrasilnoseuúltimoexercício,excluídosostributos,considerados a condição econômica do infrator e o princípio daproporcionalidade entre a gravidade da falta e a intensidade dasanção;

III - suspensão temporária das atividades que envolvamos atosprevistosnoart.11;ou

IV - proibição de exercício das atividades que envolvam os atosprevistosnoart.11.

Parágrafo único. Tratando-se de empresa estrangeira, respondesolidariamentepelopagamentodamultadequetrataocaputsuafilial,sucursal,escritórioouestabelecimentosituadonoPaís.

Por outro lado, ao tratar das informações de conexão e de acesso aaplicaçõesdeinternet,aLeinº9.296/96silencia,prevendoaLeinº12.965/2014,aseuturno,aprescindibilidadededecisãojudicialemhipótesesespecíficas.Confira-se,

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apropósito,redaçãodeseusarts.10,§§1º,3ºe4º,e22,parágrafoúnico,doMarcoCivildaInternet:

Art.10.AguardaeadisponibilizaçãodosregistrosdeconexãoedeacessoaaplicaçõesdeinternetdequetrataestaLei,bemcomode dados pessoais e do conteúdo de comunicações privadas,devematenderàpreservaçãoda intimidade,davidaprivada,dahonraedaimagemdaspartesdiretaouindiretamenteenvolvidas.

§1ºOprovedorresponsávelpelaguardasomenteseráobrigadoadisponibilizar os registros mencionados no caput, de formaautônomaouassociadosadadospessoaisouaoutrasinformaçõesque possam contribuir para a identificação do usuário ou doterminal,medianteordemjudicial,naformadodispostonaSeçãoIVdesteCapítulo,respeitadoodispostonoart.7º.

(...)

§ 3ºO disposto no caput não impede o acesso aos dadoscadastrais que informem qualificação pessoal, filiação eendereço, na forma da lei, pelas autoridadesadministrativasquedetenhamcompetêncialegalparaasuarequisição.

§ 4º As medidas e os procedimentos de segurança e de sigilodevemser informadospeloresponsávelpelaprovisãodeserviçosde forma clara e atender a padrões definidos em regulamento,respeitado seu direito de confidencialidade quanto a segredosempresariais.

(...)

Art. 22. A parte interessada poderá, com o propósito de formarconjuntoprobatórioemprocessojudicialcíveloupenal,emcaráterincidental ou autônomo, requerer ao juiz que ordene aoresponsável pela guarda o fornecimento de registros de conexãoouderegistrosdeacessoaaplicaçõesdeinternet.

Parágrafo único. Sem prejuízo dos demais requisitos legais, orequerimentodeveráconter,sobpenadeinadmissibilidade:

I-fundadosindíciosdaocorrênciadoilícito;

II-justificativamotivadadautilidadedosregistrossolicitadosparafinsdeinvestigaçãoouinstruçãoprobatória;e

III-períodoaoqualsereferemosregistros.

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A jurisprudência dos Tribunais Superiores já se manifestou nessesentido. Confira-se, inicialmente, o seguinte precedente do Supremo TribunalFederal:

HABEAS CORPUS. NULIDADES: (1) INÉPCIA DA DENÚNCIA; (2)ILICITUDE DA PROVA PRODUZIDA DURANTE O INQUÉRITOPOLICIAL;VIOLAÇÃODEREGISTROSTELEFÔNICOSDOCORRÉU,EXECUTOR DO CRIME, SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL; (3)ILICITUDE DA PROVA DAS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS DECONVERSAS DOS ACUSADOS COM ADVOGADOS, PORQUANTOESSASGRAVAÇÕESOFENDERIAMODISPOSTONOART.7º,II,DALEI 8.906/96, QUE GARANTE O SIGILO DESSAS CONVERSAS.VÍCIOSNÃOCARACTERIZADOS.ORDEMDENEGADA.

(...)

2. Ilicitude da prova produzida durante o inquérito policial -violaçãoderegistrostelefônicosdecorréu,executordocrime,semautorizaçãojudicial.

2.1Suposta ilegalidadedecorrentedofatodeospoliciais,apósaprisão em flagrante do corréu, terem realizado a análise dosúltimos registros telefônicos dos dois aparelhos celularesapreendidos.Nãoocorrência.

2.2 Não se confundem comunicação telefônica e registrostelefônicos,querecebem,inclusive,proteçãojurídicadistinta.Nãosepodeinterpretaracláusuladoartigo5º,XII,daCF,nosentidode proteção aos dados enquanto registro, depósito registral. Aproteção constitucional é da comunicação de dados e não dosdados.(...)

(...)

4.Ordemdenegada.

(HC 91867, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma,julgadoem24/04/2012,ACÓRDÃOELETRÔNICODJe-185DIVULG19-09-2012PUBLIC20-09-2012)

Doseuinteiroteor,épertinentedestacaraseguintepassagem,verbis:

“Primeiramente, sobreleva destacar que não se confundemcomunicação telefônica e os registros telefônicos, recebendo,inclusive,proteçãojurídicadistinta.

E,comojáenfatizeiemoutrasoportunidades,entendoquenãosepodeinterpretaracláusuladoartigo5º,XII,daCF,nosentidodeproteção aos dados enquanto registro, depósito registral. Aproteção constitucional é da comunicação ‘de dados’ e não os‘dados’.

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O tema foi objeto de percuciente análise em estudo singulardesenvolvido por Tércio Sampaio Ferraz. Em síntese, são asseguintesassuasreflexões:

Osigilo,noincisoXIIdoart.5º,estáreferidoàcomunicação,nointeressedadefesadaprivacidade.Istoéfeito,notexto,emdoisblocos: a Constituição fala em sigilo ‘da correspondência e dascomunicações telegráficas, de dados e das comunicaçõestelefônicas’. Note-se, para a caracterização dos blocos, que aconjunção e une correspondência com telegrafia, segue-se umavírgula e, depois, a conjunção de dados com comunicaçõestelefônicas.Háumasimetrianosdoisblocos.Obviamenteoqueseregula é comunicação por correspondência e telegrafia,comunicação de dados e telefônica. O que fere a liberdade deomitirpensamentoé,pois,entrarnacomunicaçãoalheia,fazendocom que o que devia ficar entre sujeitos que se comunicamprivadamentepasseilegitimamenteaodomíniodeumterceiro.Sealguém elabora para si um cadastro sobre certas pessoas, cominformaçõesmarcadasporavaliaçõesnegativas,eotornapúblico,poderá estar cometendo difamação, mas não quebra sigilo dedados. Se estes dados, armazenados eletronicamente, sãotransmitidos, privadamente, a um parceiro, em relaçõesmercadológicas, para defesa do mercado, também não estáhavendoquebradesigilo.Mas,sealguémentranestatransmissãocomoumterceiroquenadatemavercomarelaçãocomunicativa,ou por ato próprio ou porque uma das partes lhe cede o acessoindevidamente, estará violado o sigilo de dados. A distinção édecisiva: o objeto protegido no direito à inviolabilidade do sigilonão são os dados em si, mas a sua comunicação restringida(liberdade de negação). A troca de informações (comunicação)privativa é que não pode ser violada por sujeito estranho àcomunicação.(Sigilodedados:odireitoàprivacidadeeoslimitesà função fiscalizadora do Estado, Cadernos de DireitoConstitucionaleCiênciaPolítica,SãoPaulo,RevistadosTribunais,n. 1, p. 77-82, 1992; e Revista da Faculdade de Direito daUniversidadedeSãoPaulo,v.88,p.447,1993)”.(sic–destaquesnooriginal)

OSuperiorTribunaldeJustiçasegueamesmalinhadeentendimento:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. QUADRILHA.DENÚNCIAS ANÔNIMAS IMPUTANDO A PRÁTICA DE ILÍCITOS.REALIZAÇÃODEDILIGÊNCIASPRELIMINARESPARAAAPURAÇÃODA VERACIDADE DAS INFORMAÇÕES. CONSTRANGIMENTOINEXISTENTE.

(...)

NULIDADE DA DECISÃO QUE PERMITIU O ACESSO AOS DADOSCADASTRAIS, HISTÓRICO E EXTRATOS DE CHAMADATELEFÔNICOS. INAPLICABILIDADE DA LEI 9.296/1996.PROVIMENTO JUDICIAL FUNDAMENTADO. MÁCULA NÃOCONFIGURADA.

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1. De acordo com a jurisprudência pacífica desta CorteSuperiordeJustiça,aquebradosigilodedadostelefônicos,consistentesnohistóricodechamadas,dadoscadastraiseextratos de ligações, não se submete à disciplina da Lei9.296/1996, que trata da interceptação das comunicaçõestelefônicas.

(...)

3.Recursodesprovido.

(RHC 53.541/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,julgadoem12/09/2017,DJe20/09/2017)

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO MAJORADO. (1)IMPETRAÇÃOCOMOSUCEDÂNEORECURSAL.IMPROPRIEDADEDAVIAELEITA. (2)QUEBRADOSIGILOTELEFÔNICO.PROVIDÊNCIAQUE NÃO SE CONFUNDE COM A INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA.MOTIVAÇÃODAMEDIDA.OCORRÊNCIA.

ILEGALIDADADE.NÃORECONHECIMENTO.

(...)

2. Não se confundem as medidas de quebra de sigilotelefônico coma interceptação de comunicação telefônica,estaúltimaalbergada,ademais,pelacláusuladereservadejurisdição.Daí,nãosãoexigíveis,nocontextodaquebradesigilo de dados, todas as cautelas insertas na Lei9.296/1996. In casu, o magistrado, em cumprimento doincisoIXdoartigo93daConstituiçãodaRepública,motivouaquebradosigilodedados,combasenaintensautilizaçãodecertoterminaltelefônico,havendoafrancapossibilidadede se desvendar, com base em dados cadastrais oriundosdas registros de companhia telefônica, a autoria de umquartoagentenoconcertodelitivo.

3.Ordemnãoconhecida.

(HC237.006/DF,Rel.MinistraMARIATHEREZADEASSISMOURA,SEXTATURMA,julgadoem27/06/2014,DJe04/08/2014)

No presente caso, conforme fora bem destacado pela AutoridadePolicialemseurequerimento,asolicitaçãodirecionadaaosImpetrantesselimitouàsinformações de conexão e de acesso a aplicações de internet (contas, nomes deusuário, números de IP que foram usados associados a smartphones com sistemaAndroid, número de IMEI e e-mail associados aos aparelhos e usuários querecorreramaosserviçosdosImpetrantes).

Não há qualquer pedido de quebra do sigilo do conteúdo dascomunicações eventualmente transmitidas pelos indivíduos a serematingidospelamedidaexcepcional.

Como já explicado anteriormente, não se tratando de conteúdo deconversasououtrasformasdecomunicaçãotelefônicasoutelemáticas,ashipóteses

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quea legislaçãoautorizaaquebradosigilosãomaisamplas,estandoprevistasnoart.22doMarcoCivildaInternet.

Partindo-sedessapremissa,verifica-sequeos requisitoscontidosnos03(três)incisosdodispositivolegalcitadoseachampresentes.

Comefeito,trata-sedeInquéritoPolicialemqueseinvestigaobrutalhomicídioperpetradocontraoCapitãodaPolíciaMilitardoEstadodeSergipeManoelAlves de Oliveira Santos, então Comandante da Companhia Independente deOperaçõesPoliciaisEspeciaisemáreadeCaatinga(CIOPAC),nodia04/04/2018,porvoltadas20h,naRodoviaEstadualSE-200,noMunicípiodePortodaFolha/SE.

A existência de ilícito, inclusive de natureza criminal, éevidente,restandopreenchidaaexigênciadoart.22,incisoI,doMarcoCivildaInternet.

Em relação ao inciso II do art. 22 daquele diploma legal, arepresentação formulada pela Autoridade Policial reportou exaustivamente anecessidade damedida para o prosseguimento das investigações, especialmente afimdeserpossívelaidentificaçãodosindivíduosquecometeramocrimehediondo.

Finalmente, a Autoridade Policial limitou as áreas e os períodos detempodosregistrosdosdadosnecessáriosàsinvestigações.

A esse respeito, é preciso destacar e reforçar que, não obstante amedidarealmentepossaatingirpessoasquenãopossuemqualquerpertinênciacomos fatos investigados,a intimidadedelasnãoseráfragilizadaemrazãodeosdadosrequeridosselimitaremàidentificaçãodosequipamentoseletrônicoseventualmenteutilizadosnaquelasregiõesenaqueles intervalosdetempo,não se adentrando no conteúdo de possíveis comunicações que partiramdaquelaslocalidades.

Em relação a este aspecto em específico, vale citar também asinformaçõesprestadaspelaAutoridadeImpetrada,inverbis:

“Ressalta-se que na forma declinada na decisão datada de27/04/2018, a decisão não atinge o número indeterminados deusuários,masapenasaquelesqueutilizaram-sedosserviços,nascoordenadasgeográficasenotempoindicado,ouseja,abrangidoentre04deabrilde2018às22h40mine04deabrilde2018às22h55m,ouseja,sãoapenas15minutos.

Por fim,o localdascoordenadasgeográficas indicadasnãoéumcentrourbano,ondedefato,haveriaumnúmeroindeterminadodepessoas circulando. Muito pelo contrário, o local indicado nascoordenadas, trata-sede localermo,estradadedifícilacesso,derestritacirculaçãodepessoas,especialmentenohorário indicado,motivo pelo qual a alegação das impetrantes de violação desupostaanúmeroindiscriminadodepessoas,nãoseaplicaaocasoem tela, ressalvando-se não existe direito individual absoluto,considerando a própria autorização constitucional (art. 5º incisoXII da CF), e não cabem as partes impetrantes, eventualmente,emnomeprópriodefenderinteressealheio”.(sic)

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Valedizertambém,porderradeiro,queasrazõesrecursaislançadasnoAgravo Regimental interposto pelos Impetrantes não trazem nenhum argumentonovo,passíveldealterarasconsideraçõesjáfeitasquandodaapreciaçãodaliminaroumesmo de alterar o entendimento ora exposto no julgamento domérito destewrit.

Por todo o exposto, conheço do mandado de segurança, mas paradenegaraordempleiteada.

CustaspelosImpetrantes,observando-seaisençãodoônusreferenteahonoráriosadvocatícios,nostermosdaSúmula512doSTF.

Écomovoto.

Aracaju/SE,22deAgostode2018.

DESA.IOLANDASANTOSGUIMARÃES

RELATORVOTOVENCIDO

NaSessãododia22.08.2018,resteivencidoporacompanharovotodoDesembargadorRicardoMúcioSantanadeAbreuLima,cujasrazõesforamassimlançadas:

“Entendoqueaquebradosigiloémedidaexcepcionalquesópodeserdeflagradacomaexistênciadeindíciosconcretosdeatividadeilícitaporpartedoalvo,aserdemonstradosemdecisãojudicialfundamentada.

OConselhoNacionaldeJustiçaeditouaResoluçãonº59/2008eregulouainterceptaçãotelefônicaetelemáticaexigindorequisitosdentreosquaisseinsereanecessidadedeindicação,osindíciosrazoáveisdaautoriaouparticipação em infração criminal apenada com reclusão; as diligênciasanteriormenterealizadaseosmotivosqueembasamaconclusãodequeseriaimpossívelobteraprovaporoutravia.

Nocasodosautos,entendoque tais requisitosnão foramcumpridose,principalmente, expresso meu raciocínio no sentido de que ainterceptação telemática foi genérica e ofenderá a todos osmunícipes,sem discriminação. A interceptação requerida seria realizada em umarodovia,semindicarnomesoupessoas.

Ofatoéqueainterceptaçãosópodeserrealizadaquandoelaéaliadaapresençadeindíciosdeautoriaequandojáforamexauridosoutrosmeioscomunsdeprova.

‘PROCESSUAL PENAL - HABEAS CORPUS - OPERAÇÃO DILÚVIO DAPOLÍCIAFEDERAL-DESCAMINHO-FALSIDADEIDEOLÓGICA-LAVAGEMDEDINHEIRO-INTERCEPTAÇÃOTELEMÁTICADEDADOS-INDÍCIOSDEAUTORIA - IMPOSSIBILIDADE DE PROVAR POR OUTROS MEIOS -ELEMENTOS DE PROVA OBTIDOS POR MEIO LÍCITO - AUSÊNCIA DECONSTRANGIMENTOILEGAL-ORDEMDENEGADA.

1.Ainterceptaçãotelemáticaanterioraquesequestiona,realizadacomautorização judicial em relação a co-réu, constitui elemento idôneo acaracterizar os indícios de autoria necessários à quebra do sigilotelemáticodeoutrapessoasuspeita,nocursodainvestigaçãopolicial.

2. Inexiste ilegalidade na interceptação telemática realizadaquandoelaé, aliadaapresençade indíciosdeautoria,devidoapeculiaridadedomodusoperandidodelito,oúnicomeiodeprovaaesclarecerosfatos.

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3. É idônea a fundamentação da decisão que esclarece a existência deindíciosdeautoriaapossibilitaraquebradosigilotelemático,aindaqueafundamentaçãosejasucinta.

4.Ordemdenegada.

(STJ - HC: 101165 PR 2008/0045469-8, Relator: Ministra JANE SILVA(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), Data de Julgamento:01/04/2008,T6-SEXTATURMA,DatadePublicação:DJe22/04/2008)’

Adecisão, comoproferida, ferea liberdadeea intimidadedaspessoasque por ali transitam e serão abrangidas pela investigação, violando aConstituiçãoFederal.

Emcasosimilar,oSTJafirmouque‘éexigidanãosóparaadecisãoque defere a interceptação telefônica, como também para assucessivas prorrogações, a concreta indicação dos requisitoslegais de justa causa e imprescindibilidade da prova, que poroutrosmeiosnãopudesseserfeita.’

‘(...)

1. É exigida não só para a decisão que defere a interceptaçãotelefônica, como também para as sucessivas prorrogações, aconcreta indicação dos requisitos legais de justa causa eimprescindibilidadedaprova,queporoutrosmeiosnãopudesseserfeita.

........

3.Recursoespecialprovidoparadeclararnulaadecisãoinicialdequebrado sigilo telefônico e as sucessivas prorrogações e, bem assim, dasprovas consequentes, a serem aferidas pelo magistrado na origem,devendoomaterial respectivo ser extraído dos autos, procedendo-se àprolação de nova sentença com base nas provas remanescentes,estendido seus efeitos aos demais corréus, ficando prejudicadas asdemaisquestõesarguidasnosagravoserecursosespeciais.

(REsp1670637/SP,Rel.MinistroNEFICORDEIRO,SEXTATURMA,julgadoem13/03/2018,DJe03/04/2018)’

Comessesfundamentos,VOTOpelaCONCESSÃOdasegurança.

Écomovoto.”

Portanto,tendoemvistahaveracompanhadointegralmenteasargumentaçõesdoeminentecolega,ficamestasexpressandoomeuvoto.

Écomovoto.

Aracaju/SE,22deAgostode2018.

DES.RUYPINHEIRODASILVA

VOTOVENCIDO

Trata-se demandado de segurança impetrado pela GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA e GOOGLE LLCcontraatodoJuízodeDireitodaComarcadePortodaFolhaquedeferiuoPedidodeQuebradeSigilodeDados e/ou telefônico nº 0000555-28.2018.8.25.0062, inquérito policial formalizado no âmbito de

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investigação conduzida pela Divisão de Inteligência e Planejamento Policial (DIPOL) do Centro deOperaçõesPoliciaisEspeciais(COPE)dapolíciacivildeSergipe,queapuraumcrimedehomicídio.

NaúltimasessãodoPlenododia08/08/2018,apósa sustentaçãooraldoadvogadodos impetrantes,houvemanifestaçãodealgunsdosEminentescolegas,comdiscussõessobre interceptaçãotelefônicaededadostelemáticos,suasdiferenças,abrindoadivergênciaoDesembargadorRicardoMúcio,comfortesargumentosquemeinstigaramapedirvistadosautosparamelhorexamedamatéria.

Adecisãoimpugnadapelopresentewritfoiexaradanoprocessodenº201880000590,disponibilizadano diário eletrônico deste Tribunal no dia 06/04/2018, cuja parte dispositiva está redigida nosseguintestermos:

“Comessasrazões,acolhoopedidoformuladopelaautoridadepolicial,e,comesteionoart.5º,inc.XII,daConstituiçãoFederal,bemassimemfacedoart.1ºc/carts.3º,inc.Ie5º,ambosdaLeinº9.296/96DEFIROopedidodeQuebradoSigilodeDadosTelefônicoseInterceptaçãoTelefônicanostermosrequeridos.Fixoàsoperadorasdetelefoniaoprazode05(cinco)diasparaoiníciodocumprimentodestadecisão, sob pena da prática do crime de desobediência pelos encarregados. Encaminhem-se asinformaçõesacimadeterminadasàDivisãodeInteligênciaePlanejamentoPolicial–DIPOL,emnomedoAgentePo l ic ia l ind icado.Expeçam-seoscompetentesAlvarás,entregando-osàautoridadepolicialoupessoasobseuscuidados,mediantecertidãonosautos.”

Oeminentemagistradoassinoualvarádequebradesigilodedadostelemáticoscomodetalhamentodasuadeterminação,demodoaexigirquefosseminformadasascontasenomesdeusuário(username)e todos os números de IP (registro de conexão), além do número do IMEI e email associados aosaparelhos e usuários que recorreram aos serviços da companhia, em um raio de 500 metros dascoordenadasgeográficasaliespecificadas,noperíodoabrangidoentreàs22h40mine22h55mindodia04/04/2018.

Aqui reside o ponto central de questionamento das impetrantes, qual seja, na determinação daquebra do sigilo telemático de um conjunto não identificado de pessoas, unidas tão somente pelacircunstânciaaleatóriadeteremtransitadopordeterminadascoordenadasgeográficas,emcertolapsodetempo.

Aleinº9.296/96,indicadanadecisão,temporobjetoaregulamentaçãodoincisoXII,partefinal,doart.5º da Constituição Federal, consoante dispõe sua ementa. O referido dispositivo constitucional estáredigidonosseguintestermos:

“XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e dascomunicaçõestelefônicas,salvo,noúltimocaso,porordemjudicial,nashipótesesenaformaquealeiestabelecerparafinsdeinvestigaçãocriminalouinstruçãoprocessualpenal.”

Na delimitação do legislador constituinte, sendo inviolável o sigilo de dados e das comunicaçõestelefônicas, a quebra desta regra é medida excepcional, submetida à reserva de jurisdição, sob adisciplinadalei.

Alei9.296/96possibilitaainterceptaçãodecomunicaçõestelefônicasdequalquernatureza,comobemlecionaoaclamadoprocessualistaRENATOBRASILEIRO:

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“Considerando o fantástico desenvolvimento da informática na atualidade, a expressão comunicaçãotelefônicanãodeveserestringiràscomunicaçõesportelefone.Porforçadeinterpretaçãoprogressiva,aexpressão comunicação telefônica deve também abranger a transmissão, emissão ou recepção desímbolos,caracteres,sinais,escritos,imagens,sonsouinformaçõesdequalquernatureza,pormeiodetelefonia, estática, ou móvel (celular). Por conseguinte, é possível a interceptação de qualquercomunicaçãovia telefone, conjugadaounão coma informática, oque compreendeaquelas realizadasdireta(fax,modens)eindiretamente(internet,e-mail,correioseletrônicos).

Daídisporocaputdoart.1ºdaLeinº9.296/96serpossívelainterceptaçãodecomunicaçõestelefônicasdequalquernatureza, acrescentando o parágrafo único do mesmo artigo que o disposto nesta Leiaplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática. Portelemática compreende-se a ciência que cuida da comunicação (transmissão,manipulação) de dados,sinais,imagens,escritoseinformaçõespormeiodousocombinadodainformática(docomputador)comasvárisformasdetelecomunicação,ouseja,telemáticaéatelecomunicaçãoassociadaàinformática.

[...] a nosso juízo, quando a Constituição Federal autoriza a interceptação das comunicaçõestelefônicas, refere-se não só as comunicações telefônicas propriamente ditas como também àcomunicaçãodedados,imagensesinaisatravésdatelemática.”(inManualdeProcessoPenal.Volumeúnico.2ªedição.2014.Salvador.EditoraJuspodivm.Pg701/702.)

Exatamente o caso em exame, onde a autoridade impetrada, ao acolher pedido formulado pelaautoridadepolicial,deferiuaquebradesigilodedadostelemáticos

Contudo,hádeseressaltarque, independentementedamodalidadede interceptaçãoautorizadacomomedida cautelar, a Lei 9.296/96 impõe rígidos requisitos e proibições demodo a não vulnerar direitofundamentalàintimidadeprivada(incisoX,doart.5ºdaCR/88).

Merecedestaqueoseguintedispositivo:

“Art. 2º Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer dasseguinteshipóteses:

I–nãohouverindíciosrazoáveisdaautoriaouparticipaçãoeminfraçãopenal;

II–aprovapuderserfeitaporoutrosmeiosdisponíveis;

III–ofatoinvestigadoconstituirinfraçãopenalpunida,nomáximo,compenadedetenção.

Parágrafoúnico.Emqualquerhipótesedeveserdescritacomclarezaasituaçãoobjetodainvestigação,inclusivecomaindicaçãoequalificaçãodosinvestigados,salvoimpossibilidademanifesta,devidamentejustificada.”Grifa-se.

Quantoaorequisitodeindíciosrazoáveisdaautoria,ressaltaoprofessorRENATOBRASILEIRO:

“Sealeidemandaapresençadeindíciosrazoáveisdeautoriaouparticipaçãoeminfraçãopenal(Leinº9.296/96, art. 2º, I), uma simples manifestação policial ou ministerial, por si sós, não autorizam adecretação da interceptação telefônica. É necessário que a representação da autoridade policial ou orequerimentodoMinistérioPúblicoestejamacompanhadosdemaisdados,deelementosinformativosoudeprovasjáobtidas,quepossibilitemaojuizformarsuaconvicção.

Complementandooquantoprevistonoart.2º,incisoI,daLeinº9.296/96,oparágrafoúnicodomesmodispositivo prevê que, em qualquer hipótese, deve ser descrita com clareza a situação objeto da

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investigação,inclusivecomaindicaçãoequalificaçãodosinvestigados,salvoimpossibilidademanifesta,devidamenteinjustificada.

Oparágrafoúnicodoart.2ºdaLeinº9.296/96permiteconcluirque,casoaPolíciatenhaconhecimentoda prática de determinado delito, mas ainda não possua um suspeito, será possível a decretação deinterceptação telefônica sobre pessoa indeterminada, objetivando descobrir-se o provável autor oupartícipe do fato delituoso, hipótese em que a diligência deverá recair sobre uma determinada linhatelefônica,aserindividualizadanopedido.”(ob.Cit.Pg.713).”

Portanto,EminentesColegas,adoutrinaorienta,aointerpretarateleologiadaregralegaldequebradedados, a necessidade de individualização de quem será investigado, fundada em razoáveis indícios deautoria. A partir desta perspectiva, ressoa irrazoável a interceptação difusa de pessoas, sem declinarnomeseosrespectivosmotivosdeestaremcomoobjetodeinvestigação,semdemonstraçãodequalquervínculoindiciárioconcretoentreosinvestigados.

Oordenamentojurídicobrasileiroexigesejademonstrado,nafundamentaçãodadecisãodequebradedados telemáticos, um liame mínimo, razoável, entre o fato criminoso e um ou alguns sujeitosdeterminados,demodoalegitimarasujeiçãodosmesmoscomoalvosdeinvestigação.Autilizaçãodocritério exclusivamente geográfico/temporal, recaindo difusamente sobre pessoas indeterminadas, deformagenérica,nãoestáalbergadapelalegislaçãopátria.

O STF já examinou casos similares onde rechaçou pedidos de quebra com base em coordenadasgeográficas,alcançandopessoasquenãoseriampartesdoprocesso.Destaque-seoseguintetrechodadecisãodalavradaMinistraCarmenLúcianoHC131538:

“Por fim, o requerimento da quebra de sigilo telefônico de algumas Estações Rádio Bases (ERB's) noperíodocompreendidoentreas08:OOhsdodia01/07/2012e24:00hsdodia05/07/2012,igualmente,mostra-sedesarrazoado.

Conformeasseverouomagistradosingular,alémdaprovidênciapleiteadaalcançarumainfinidadedeusuários sem nenhuma ligação com o processo, na quebra do sigilo telefônico dos processadosencontram-seasrespectivasERB'sreferentesaosnúmerosporelesutilizadosduranteodia05/07/2012,datadodelito.”

Na mesma linha, o entendimento do STJ, ao deferir o pedido de tutela provisória interposto peloGOOGLEBRASILINTERNETLTDAeGOOGLEINC.,noRMS54.133/SP,contraacórdãodoTribunaldeJustiçadoEstadodeSãoPaulo,tendooMinistroAntonioSaldanhaPalheiroressaltadooseguinte:

“Nada obstante, a GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA. e GOOGLE INC. se insurgiram contra o citadoacórdão,medianteainterposiçãoderecursoordinárioemmandadodesegurança,cujacópiaencontra-seacostadaàse-STJfls.54/88,emquealertaramaexistênciadepatentepericuluminmora,poismantidaa ordem judicial determinando a quebra do sigilo de dados telemáticos, com possível submissão apenalidades, além da presença do fumus boni iuris, derivado do acervo probatório colacionado nestaTutelaProvisória,quedenotariaopossívelriscodeviolaçãoàesferaprivadadosusuáriosdaplataformaAndroidquetenhamtransitadopeloreferidoespaçogeográfico.

Assim,gizadasascircunstânciasquerevolvemocasoemapreço,tenhoporcaracterizadaapresençadaprobabilidadedodireito,considerando,ainda,quehouveinterposiçãodorecursoordinárioemmandadodesegurança(RMS54.133/SP).

Operigodademoradecorredoprópriocomandojudicial,vistoqueamanutençãododescumprimentodareferidaordemsubmeteasrequerentesàssançõescabíveis.”Grifa-se.

Como se não bastassem todos estes argumentos, o CONSELHONACIONALDE JUSTIÇA (CNJ), editourecentementeaResolução217,de16/02/2016,alterandoeacrescentandodispositivosàResoluçãonº 59, de 09/09/2008, que disciplina e uniformiza as rotinas visando ao aperfeiçoamento do

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procedimentodeinterceptaçãodecomunicaçõestelefônicasedesistemadeinformáticaetelemáticanosórgãosjurisdicionaisdoPoderJudiciário,aqueserefereaLei9.296,de24/07/1996.

Assim,vejamosaatualredaçãodanormatizaçãodoCNJsobreasmedidascautelareseminterceptações:

“DODEFERIMENTODAMEDIDACAUTELARDEINTERCEPTAÇÃO

Art. 10. Atendidos os requisitos legalmente previstos para deferimento damedida, o Magistrado faráconstarexpressamenteemsuadecisão:

I-aautoridaderequerente;

II-orelatóriocircunstanciadodaautoridaderequerente;

III-osindíciosrazoáveisdaautoriaouparticipaçãoeminfraçãocriminalapenadacomreclusão;

IV - as diligências preparatórias realizadas, com destaque para os trabalhosmínimos de campo, comexceçãodecasosurgentes,devidamentejustificados,emqueasmedidasiniciaisdeinvestigaçãosejaminviáveis;

V-osmotivospelosquaisnãoseriapossívelobteraprovaporoutrosmeiosdisponíveis;

VI - os números dos telefones ou o nome de usuário, e-mail ou outro identificador no caso deinterceptaçãodedados;

VII-oprazodainterceptação,consoanteodispostonoart.5ºdaLei9.296/1996;

VIII - a imediata indicaçãodos titularesdos referidosnúmerosou, excepcionalmente,noprazode48(quarentaeoito)horas;

IX-aexpressavedaçãodeinterceptaçãodeoutrosnúmerosnãodiscriminadosnadecisão;

X-osnomesdeautoridadespoliciaisedemembrosdoMinistérioPúblicoresponsáveispelainvestigação,queterãoacessoàsinformações;

XI - os nomes dos servidores do cartório ou da secretaria, bem assim, se for o caso, de peritos,tradutoresedemaistécnicosresponsáveispelatramitaçãodamedidaeexpediçãodosrespectivosofícios,noPoderJudiciário,naPolíciaJudiciáriaenoMinistérioPúblico,podendoreportar-seàportariadojuízoquedisciplinearotinacartorária.

§1ºNoscasosde formulaçãodepedidoverbalde interceptação(art.4º,§1º,daLei9.296/1996),oservidor autorizado pelo magistrado deverá reduzir a termo os pressupostos que autorizem ainterceptação,taiscomoexpostospelaautoridadepolicialoupelorepresentantedoMinistérioPúblico.

§2ºAdecisãojudicialserásempreescritaefundamentada.

§3ºFicavedadaautilizaçãodedadosouinformaçõesquenãotenhamsidolegitimamentegravadosoutranscritos.”

Portanto,EminentesColegas,chamoaatençãoparaa intensificaçãodorigorquerecaisobreoexamedos requisitos para o deferimento das interceptações, como medida cautelar, de modo a evitarexatamenteosexcessosquepossam invadiraesferaprivadade terceiros,alheiosaos fatosobjetodeinvestigação.

Ajustificativaapresentadapelaautoridadeimpetrada,cujotrechofoidestacadopelaEminenteRelatora,em nada justifica ou demonstra a identificação dos investigados à luz da legislação vigente, pois sóreitera a suficiência da delimitação geográfico-temporal como critério delimitador legítimo para ainvestigação.

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Aorevés,suasjustificativasnãosemostramaptasaelidirosvíciosalegadospelosimpetrantesrelativosa inconstitucionalidadee ilegalidadedadeterminaçãodequebradedadostelemáticosde formadifusa,semespecificaçãodosinvestigados,comoexigeoordenamentojurídico,demodoaevitaroriscodequeterceirossejamalcançados,evioladosemsuaintimidadeprivada,mesmosemqualquerrelaçãocomofatocriminoso.

Assim,efirmeemtaisfundamentos,acompanhoadivergênciaevotopelaconcessãodasegurança.

Écomovoto.

Aracaju/SE,22deAgostode2018.

DES.ALBERTOROMEUGOUVEIALEITE

Trata-sedeMandadodeSegurançaimpetradopeloGoogleBrasilInternetLtda.eGoogleLLC.contraatodoJuízodeDireitodaComarcadePortodaFilha,oqualteriaproferidodecisãoautorizandoaquebradosigilotelemáticodeumconjuntodepessoasnãoidentificadasnosautosdeInquéritoPolicial.

OsImpetrantesdefendemserinconstitucionaleilegalamedidadeterminadapelaAutoridadeImpetrada,invocandooteordoart.5º,incisosXeXII,daConstituiçãoFederal,queprotegemodireitoàprivacidadee das comunicações, destacando, ainda, o disposto no art. 93, inciso IX, da CF/88 para apontar aausênciadefundamentaçãoespecíficanadecisãoquestionada.

ÉoRelatório.

Entendoqueaquebradosigiloémedidaexcepcionalquesópodeserdeflagradacomaexistênciadeindícios concretos de atividade ilícita por parte do alvo, a ser demonstrados em decisão judicialfundamentada.

OConselhoNacional de Justiça editou aResolução nº 59/2008 e regulou a interceptação telefônica etelemáticaexigindorequisitosdentreosquaisseinsereanecessidadedeindicação,osindíciosrazoáveisda autoria ou participação em infração criminal apenada com reclusão; as diligências anteriormenterealizadaseosmotivosqueembasamaconclusãodequeseriaimpossívelobteraprovaporoutravia.

Nocasodosautos,entendoque tais requisitosnão foramcumpridose,principalmente,expressomeuraciocínionosentidodequeainterceptaçãotelemáticafoigenéricaeofenderáatodososmunícipes,semdiscriminação.Ainterceptaçãorequeridaseriarealizadaemumarodovia,semindicarnomesoupessoas.

Ofatoéqueainterceptaçãosópodeserrealizadaquandoelaéaliadaapresençadeindíciosdeautoriaequandojáforamexauridosoutrosmeioscomunsdeprova.

‘PROCESSUALPENAL-HABEASCORPUS-OPERAÇÃODILÚVIODAPOLÍCIAFEDERAL-DESCAMINHO-FALSIDADE IDEOLÓGICA - LAVAGEM DE DINHEIRO - INTERCEPTAÇÃO TELEMÁTICA DE DADOS -

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INDÍCIOSDEAUTORIA-IMPOSSIBILIDADEDEPROVARPOROUTROSMEIOS-ELEMENTOSDEPROVAOBTIDOSPORMEIOLÍCITO-AUSÊNCIADECONSTRANGIMENTOILEGAL-ORDEMDENEGADA.

1.Ainterceptaçãotelemáticaanterioraquesequestiona,realizadacomautorizaçãojudicialemrelaçãoaco-réu, constitui elemento idôneo a caracterizar os indícios de autoria necessários à quebra do sigilotelemáticodeoutrapessoasuspeita,nocursodainvestigaçãopolicial.

2.Inexisteilegalidadenainterceptaçãotelemáticarealizadaquandoelaé,aliadaapresençade indíciosdeautoria,devidoapeculiaridadedomodusoperandidodelito,oúnicomeiodeprovaaesclarecerosfatos.

3.Éidôneaafundamentaçãodadecisãoqueesclareceaexistênciadeindíciosdeautoriaapossibilitaraquebradosigilotelemático,aindaqueafundamentaçãosejasucinta.

4.Ordemdenegada.

(STJ-HC:101165PR2008/0045469-8,Relator:MinistraJANESILVA(DESEMBARGADORACONVOCADADOTJ/MG),DatadeJulgamento:01/04/2008,T6-SEXTATURMA,DatadePublicação:DJe22/04/2008)’

A decisão, como proferida, fere a liberdade e a intimidade das pessoas que por ali transitam e serãoabrangidaspelainvestigação,violandoaConstituiçãoFederal.

Emcasosimilar,oSTJafirmouque ‘éexigidanãosóparaadecisãoquedeferea interceptaçãotelefônica,comotambémparaassucessivasprorrogações,aconcretaindicaçãodosrequisitoslegaisde justacausae imprescindibilidadedaprova,queporoutrosmeiosnãopudesseserfeita.’

‘(...)

1.Éexigidanãosóparaadecisãoquedefereainterceptaçãotelefônica,comotambémparaassucessivas prorrogações, a concreta indicação dos requisitos legais de justa causa eimprescindibilidadedaprova,queporoutrosmeiosnãopudesseserfeita.

........

3. Recurso especial provido para declarar nula a decisão inicial de quebra do sigilo telefônico e assucessivasprorrogaçõese,bemassim,dasprovasconsequentes,aseremaferidaspelomagistradonaorigem, devendo o material respectivo ser extraído dos autos, procedendo-se à prolação de novasentença com base nas provas remanescentes, estendido seus efeitos aos demais corréus, ficandoprejudicadasasdemaisquestõesarguidasnosagravoserecursosespeciais.

(REsp 1670637/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 13/03/2018, DJe03/04/2018)’

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Comessesfundamentos,VOTOpelaCONCESSÃOdasegurança.

Écomovoto.

Aracaju/SE,22deAgostode2018.

DES.RICARDOMÚCIOSANTANADEA.LIMA