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Geografia da Indústria, Comércio e Serviços

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GEOGRAFIA DA INDÚSTRIA: CONCEITOS, ESTRUTURAORGANIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DAS INDÚSTRIAS

INDÚSTRIA, TECNOLOGIA EDESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

Introdução à Geografia da Indústria

A industrialização e suas repercussões

Classificação das indústrias

Fatores locacionais e teorias de localização

Atividade complementar

EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS INDÚSTRIAS E DO SETORTERCIÁRIO NO CONTEXTO DA ENCONOMIA GLOBAL

Evolução tecnológica da indústria e as relações de trabalho

Transição do capitalismo industrial para o capitalismo financeiro e informacional

A fragmentação do processo produtivo

A expansão do setor terciário

Atividade complementar

INDÚSTRIA, ORGANIZAÇÃO ESPACIAL,SOCIEDADE E AMBIENTE

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Atividade Orientada

Glossário

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INDÚSTRIA E ORGANIZAÇÃO ESPACIAL

Organização e distribuição da indústria no mundo

Estrutura industrial brasileira

Distribuição espacial da indústria brasileira

A industrialização na Bahia

Atividade complementar

INDÚSTRIA, QUALIDADE DE VIDA, AMBIENTE E EDUCAÇÃO ○ ○ ○ ○

Problemas ambientais impulsionados pelaindustrialização

Qualidade de vida e evolução técnico-industrial

Sociedade, ambiente e temas educacionais

Sociedade e ambiente: o papel transformador da escola

Atividade complementar 76○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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Prezado aluno!

Esta disciplina tem como objetivo conduzi-lo à construção de basesteóricas referentes ao processo de industrialização nas mais diversas escalase suas repercussões sócio-espaciais, assim como demonstrar a importânciada Geografia como instrumento de investigação desse fenômeno quereestruturou a organização do espaço e da sociedade como um todo.

A análise de conceitos e teorias, pertinentes à Geografia da Indústria,bem como a compreensão dos fatores de localização industrial, da estruturado espaço industrial e da relação com os recursos naturais, permitirá entenderporque a Geografia da Indústria está intimamente relacionada com o estudodos comportamentos do consumo. Por fim, a discussão será conduzida apartir da interface dos conteúdos abordados até então e a prática pedagógicaque propõe a análise e o entendimento dos diferentes impactos (sociais,econômicos, ambientais e/ou culturais) resultantes do fenômeno industrial.

Bons estudos!

Camila Xavier Nunes

Apresentação da Disciplina

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INDÚSTRIA, TECNOLOGIA EDESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

O primeiro bloco busca apresentar a Geografia da Indústria a partir de algunsconceitos e do processo de desenvolvimento do fenômeno industrial, nas diversas escalas,da mundial à local. As diferentes fases da industrialização que acentuaram as disparidadesregionais, a indústria como setor importante na economia, mesmo em tempos de aceleraçãodo capitalismo financeiro, serão temáticas também discutidas.

GEOGRAFIA DA INDÚSTRIA: CONCEITOS, ESTRUTURA,ORGANIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DAS INDÚSTRIAS

Nesse primeiro tema você estará em contato com informações introdutórias acercada Geografia da Indústria a partir de alguns conceitos e fatores explicativos sobre odesenvolvimento do processo de industrialização, bem como suas repercussões sócio-espaciais e a classificação e localização do fenômeno industrial.

Introdução à Geografia da Indústria

A disciplina de Geografia da Indústria está muito associada a diversas outrasdisciplinas, como Geografia Econômica, Geografia Política e Geografia da População,devido o fenômeno industrial ter reestruturado não somente a economia mundial, mas tambémtoda uma configuração espacial. A maneira que essa disciplina se organiza tem como objetivotornar o conteúdo melhor assimilado e compreendido no que tange às especificidades dofenômeno industrial e das repercussões sociais e espaciais nas mais diversas escalas;todavia, sem perder a noção do todo.

A indústria pode ser conceituada como o conjunto de atividades produtivas que secaracteriza pela transformação de matérias primas de modo manual ou com auxílio de má-quinas e ferramentas para a fabricação de mercadorias. A indústria moderna surgiu com aRevolução Industrial (séculos XVIII-XIX) como resultado de um longo processo que inicioucom o artesanato medieval; passando pela produção manufatureira (primeiro momento daorganização fabril) e posteriormente, pela inserção de novas tecnologias.

A indústria contemporânea caracteriza-se pela produção em massa nas fábricas,pela intensa mecanização e automação do processo produtivo e a denominada racio-nalização do trabalho (produtividade ao máximo). A atividade industrial pode se materializarem diferentes espaços, desde uma empresa de pequeno porte, até uma fábrica de qualquertamanho inserida num parque industrial, que trabalhe com atividade de transformação, queusem maquinários, que tenham como objetivo criar um terceiro produto, pode ser consideradaindústria. Interessante salientar que a indústria não está somente na cidade, ultimamente aindústria também está no campo, através das denominadas agroindústrias.

A humanidade, historicamente, necessita transformar os elementos da natureza parapoder utilizá-los e a indústria é o setor da economia que congrega esse processo de trans-formação dos recursos em matéria-prima e em vários tipos de bens. A atividade industrialcontinua sendo o motor da economia apesar de todo o desenvolvimento dos outros setores.

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A Industrialização e suas Repercussões

O processo de industrialização foi responsável por grandes transformações no espaçoda cidade. Se essas transformações caracterizavam-se por suas atividades comerciais, aatividade industrial inseria-se com grande velocidade e intensidade que gerava mudançassignificativas na organização e estruturação das cidades, sendo o fator que mais acelerouo processo de urbanização. Pode-se afirmar que um fator está intrinsecamente associadoao outro. A mecanização da agricultura e a elevação da produtividade agrícola provocaramo êxodo rural e novos hábitos de consumo, produziram também uma nova relação sociedade/natureza e criou novas profissões no mercado de trabalho.

A produção industrial cria novos produtos e acaba atingindo também, os hábitos, ospadrões culturais e de consumo, criando sucessivamente, novas necessidades de consumo.Isso viria mudar radicalmente a organização social, onde consumir não é apenas umaatividade necessária de sobrevivência, mas sim também de status social, muito se discuteacerca de estarmos vivendo na denominada sociedade do consumo (assunto que aindaserá abordado mais detalhadamente).

A produção industrial está altamente associada à multiplicação de diversos ramos deserviços que caracterizam a denominada cidade moderna e diretamente associada aodesenvolvimento tecnológico dos meios de transporte e comunicação, que, nas mais diversasescalas interligam as regiões, por isso as repercussões do fenômeno industrial são tão amplasque não atingem somente o lugar onde se localizam, pois estão presentes em todos os pro-cessos produtivos e nos produtos consumidos pela população nas mais diversas escalas.

Por isso, não é exagero afirmar que a industrialização foi responsável porprofundas transformações espaciais em extensas áreas do planeta.

A indústria deve ser entendida como atividade integrante da cultura dohomem e que esta última é tão antiga quanto o surgimento do homo sapiens.O modo de vida atual é, direta ou indiretamente, fruto das transformaçõestrazidas pela tecnologia industrial.

A Revolução Industrial

As origens da Revolução Industrial podem ser encontradas nos séculos XVI e XVII,com a política de incentivo ao comércio, política essa utilizada pelos países absolutistas.Assim, a acumulação de capitais nas mãos dos comerciantes burgueses e a abertura dosmercados (devido a expansão marítima) incitaram o crescimento da produção - maiorprodutividade e preços mais baixos.

Gradativamente, passou-se do artesanato disperso para a produção em oficinas edestas para a produção mecanizada nas fábricas. A mecanização da produção criou oproletariado rural e urbano, composto de homens, mulheres e crianças, submetidos a um

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trabalho diário exaustivo, no campo ou nas fábricas. Importante lembrar que com a RevoluçãoIndustrial, consolidou-se o sistema capitalista, baseado no capital e no trabalho assalariado.O desenvolvimento da Revolução Industrial está dividido em três grandes fases:

Revolução Industrial: novas relações de trabalho

• A primeira fase da Revolução Industrial(1760-1860)

Essa fase acontece na Inglaterra, o pioneirismo se deve avários fatores, como o acúmulo de capitais e grandes reservas decarvão. O país com seu poderio naval abre mercados na África,Índia e nas Américas para exportar produtos industrializados eimportar matérias-primas.

• A segunda fase da Revolução(de 1860 a 1900)

Ocorre a difusão dos princípios de industrialização na França, Alemanha, Itália,Bélgica, Holanda, Estados Unidos e Japão. Do mesmo modo cresce a concorrência e a in-dústria de bens de produção. Nessa fase as principais mudanças no processo produtivosão a utilização de novas formas de energia (elétrica e derivada de petróleo), o aparecimentode novos produtos químicos e a substituição do ferro pelo aço.

• A terceira fase da Revolução Industrial(de 1900 até os dias atuais)

Caracteriza-se pelo surgimento de grandes complexos industriais e empresas multi-nacionais e pela automação da produção. Desenvolvem-se a indústria química e a eletrônica.Os avanços da robótica e da engenharia genética também são incorporados ao processoprodutivo, que depende cada vez menos de mão-de-obra e mais de alta tecnologia. Nospaíses de economia mais desenvolvida surge o desemprego estrutural, o mercado se globa-liza apoiado na expansão dos meios de comunicação e de transporte, o que Santos (2002)denomina de período técnico-científico-informacional.

Classificação das Indústrias

As indústrias podem ser classificadas com bases em vários critérios, sendo que o maisutilizado é o que leva em consideração o tipo e destino do bem produzido:

Indústrias de base: são aquelas que trabalham com matéria-prima bruta, transfor-mando-a em matéria-prima para outros tipos de indústria, tem-se como exemplo a indústriasiderúrgica e a indústria petroquímica. A siderurgia dedica-se à fabricação e ao tratamentodo aço, importante destacar que a metalurgia é o conjunto de técnicas que o homem adquiriucom o decorrer do tempo que lhe permitiu extrair e manipular metais e gerar ligas metálicas.

Já a indústria petroquímica é a fonte da maior parte dos artigos de consumo dispo-níveis no mundo moderno: como o plástico, em todas as suas variações, os tecidos e fibrassintéticas, como a microfibra, são produzidos com matérias-primas petroquímicas. A químicafina, base para medicamentos e insumos agrícolas, também vem da petroquímica, porsubstituir matérias-primas de origem animal (couro, lã, marfim). A indústria petroquímicapossibilita maior acesso a bens de consumo ao baixar o valor dos produtos, antes cons-tituídos por vidro, madeira, algodão, celulose e metais.

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A indústria petroquímica brasileira tem suasorigens no Governo Militar, quando foramconstruídos no país o Pólo Petroquímico de SãoPaulo em 1972, posteriormente o Pólo deIndustrial de Camaçari (BA) em 1978 e logo emseguida, já na década de 80, foi construído o PóloPetroquímico do Sul (Triunfo - RS) em 1982.

• Indústrias de bens de capital ou intermediárias: produzem equipamentosnecessários para o funcionamento de outras indústrias, como as de máquinas;

• Indústrias de bens de consumo: são aquelas que produzem produtos voltadosao grande mercado consumidor (população em geral). Como, por exemplo, a indústria têxtil,que tem como objetivo a transformação de fibras em fios, e de fios em tecidos para abasteceras confecções (vestuário em geral). EX: Fábricas de lãs, tecidos, etc. A indústria alimentíciatambém faz parte desse tipo de indústria, que preparam ingredientes ou alimentos paraserem comercializados e consumidos. Os bens variam tanto de alimentos frescos comocarnes (abatedouros) e vegetais, conservas, temperos para outros alimentos a aquelesprontos para o consumo (pizzas, lasanhas, tortas).

Subdividem-se em:• Bens duráveis: as que produzem bens para consumo a longo prazo, como

automóveis;• Bens não duráveis: as que produzem bens para consumo em geral imediato,

como as de alimentos.

Todavia, outros critérios podem ser levados em consideração, como:

Maneira de produzir:• Indústrias extrativas;• Indústrias de processamento ou beneficiamento;• Indústrias de construção;• Indústrias de transformação ou manufatureira.

Quantidade de matérias-primas e energias utilizadas:• Indústrias leves;• Indústrias pesadas.

Tecnologia empregada:• Indústrias tradicionais;• Indústrias dinâmicas.

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Setores da Indústria:

• Setor primário: compõe atividades econômicas que produzem matérias-primas,geralmente na transformação de recursos naturais em produtos primários para transformá-lo em produtos industrializados. O setor é composto de seis atividades econômicas: agri-cultura; pecuária; extrativismo vegetal; caça; pesca e mineração.

• Setor secundário: transforma produtos naturais produzidos pelo setor primárioem produtos de consumo ou então, em maquinário. Nesse setor, a matéria-prima é trans-formada em um produto manufaturado;

• Setor terciário: constitui a comerciali-zação de produtos em geral, e o oferecimento deserviços comerciais, pessoais ou comunitários,a terceiros. É o setor que mais cresce, quase quedesordenadamente. É a principal fonte de rendados países desenvolvidos. Atualmente, o setorterciário encontra-se extremamente diversificadodevido à intensa industrialização que vemocorrendo, praticamente no mundo inteiro, nosúltimos dois séculos.

Fatores Locacionais e Teorias de Localização

Uma série de fatores pode favorecer o desenvolvimento industrial de uma região, tais como:• Capital;• Energia;• Mão-de-obra;• Matéria-prima;• Mercado consumidor;• Meios de transportes.

A análise da disponibilidade e estrutura de cada um desses fatores é que orienta ainstalação das indústrias em determinados lugares e outros não. Atualmente, além dos fatoresjá citados acima, o incentivos fiscais oferecidos por alguns governos também são grandesatrativos para a instalação de indústrias em regiões economicamente frágeis.

Teorias de Localização Industrial

Dentre as bases teóricas comumente utilizadas na Geografia e na Economia paradeterminar fatores locacionais, destacam-se as seguintes teorias de localização industrial:

• Teoria Clássica da Localização Industrial, de Alfred Weber (1909);• Teoria das Localidades Centrais, de Walter Cristaller (1930);• Teoria do Equilíbrio Espacial Geral, de August Lösch (1940);• Teoria de Pólos de Desenvolvimento e Crescimento, de François Perroux (1955).

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A Teoria Clássica da Localização Industrialde Alfred Weber

Esta teoria define fatores locacionais imprescindíveis para a localizaçãode indústrias. Para Weber é primordial saber onde se situa um determinadoempreendimento, dando ênfase à relação entre os custos de transporte, fontesde matérias-primas, a distância aos insumos e ao mercado. O autor divideesses fatores em específicos e gerais, os específicos dizem respeito a econo-

mias de custos que podem ser alcançadas por um número pequeno de indústrias, já osgerais podem ser alcançados por qualquer indústria e podem ser subdivididos em regionais(que influenciam a escolha de uma região) e aglomerativos ou desaglomerativos (provocamconcentração ou dispersão em uma região). Weber destaca entre os fatores locacionais: otransporte (regional), a mão-de-obra (regional) e as ofertas de serviços (como energia elétricae água, por exemplo).

Fatores que refletem o desenvolvimento urbano e social de uma determinada regiãotambém devem ser levados em consideração. Deve-se atentar para o aumento do valoragregado industrial, a elevação do nível de emprego e redistribuição da população (dimi-nuindo, dessa forma, as diferenças entre regiões), na utilização dos recursos locais, nacriação de uma estrutura industrial diversificada e com capacidade de crescimento auto-sustentado e, por fim, visar o aumento da competitividade e da quantidade de exportaçõesda empresa e da região, impulsionando ainda mais o desenvolvimento local.

A Teoria das Localidades Centraisde Walter Cristaller

Trata especificamente do nível de hierarquização das cidades, que varia em funçãodo tipo de serviço oferecido e do grau de importância econômica das mesmas. Dessemodo, pode-se tornar extremamente vantajosa e lucrativa a instalação da empresa emdeterminado lugar. A teoria foi desenvolvida por Cristaller e mais especificada por Lösch.Baseia-se numa extensão simples da análise de áreas de mercado, essas que variam deuma indústria para a outra, dependendo de economias de escala e demanda per capita.

Desse modo, cada indústria tem um padrão de localização diferente. A teoria daslocalidades centrais mostra como esses padrões de localização de diferentes indústriassurgem para formar um sistema regional de cidades.

A Teoria do Equilíbrio Espacial Geralde August Lösch

Acerca de referências sobre a localização industrial pode-se incluir August Lösch,um nome de destaque na literatura sobre o tema. A teoria de Lösch apresenta grande impor-tância por considerar a hierarquia das cidades, as barreiras alfandegárias, os efeitos dospreços e sua variação em função da localização das fontes de matérias-primas e das áreasde mercado. A sua principal preocupação era desenvolver um modelo de equilíbrio geral doespaço que servisse tanto para a análise de projetos empresariais como públicos. Seuprimeiro instrumento de análise para problemas de localização industrial foi desenvolvidona Itália, no começo da década de 70, com o objetivo de enquadrar, num mesmo cenário,as necessidades dos investidores, que procuravam a localização ideal para seus empreen-dimentos e dos administradores públicos, que visavam obter um melhor aproveitamento doterritório administrativo e desenvolver uma política industrial que refletisse o que as regiõespudessem oferecer.

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A Teoria de Pólos de Crescimento e Pólos de Desenvolvimentode François Perroux

Através de sua teoria Perroux procurou distinguir as várias noções de espaços e suasimplicações. Segundo suas idéias, as atividades econômicas não são localizáveis comprecisão, por isso o espaço não podia ter um sentido meramente físico, também não poderiaser definido como um território delimitado pelos acidentes geográficos ou pelo livre arbítrio dohomem, ao contrário, considerava as divisões vulgares e sem valor analítico para a economia.

Perroux defendia a idéia que os espaços são conjuntos abstratos, constituídos derelações econômicas realizadas por agentes econômicos, conceitua o espaço econômicoem duas perspectivas: inicialmente, examinando e descrevendo o relacionamento e a distri-buição das atividades econômicas no espaço geográfico, atividades que podem serlocalizadas através de suas coordenadas ou mapeamento; posteriormente, analisando oespaço econômico que corresponde as relações conceituais mais amplas – por exemplo,uma empresa, uma indústria, ou um grupo delas, pode localizar sua produção em umadeterminada área, porém seu mercado de insumos, ou de produto, pode estar localizadadentro ou fora do mesmo espaço geográfico.

O autor parte do pressuposto que o crescimento não surge em todos os lugares aomesmo tempo, manifestando-se com intensidades variáveis, em pontos ou pólos de cres-cimento (pontos ou áreas que exercem influência sobre uma região).

Revisando...Revisando...Revisando...Revisando...Revisando...Os fatores locacionais devem ser entendidos como as vantagens que um determinado

local pode oferecer para a instalação de uma indústria, dentre esses destacam-se:

• Matéria prima abundante e barata;• Mão de obra abundante e barata;• Energia abundante e barata;• Mercados consumidores;• Infra-estrutura;• Vias de transporte e comunicações;• Incentivos fiscais;• Legislações fiscais, tributárias e ambientais amenas.

Os modelos de localização industrial atuais aproveitam-se do desen-volvimento tecnológico avançado e utilizam ferramentas de geoprocessa-mento para obter informações das mais variadas sobre um determinado local.A utilização destes sistemas produz informações que permitem tomar de-cisões para colocar em pratica ações, os mesmos se aplicam a qualquer temaque manipule dados ou informações vinculadas a um determinado lugar noespaço, e cujos elementos possam ser representados em um mapa, comocasas, escolas, hospitais, etc.

CONTINUA

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Levantadas as características do território em estudo, deve-se realizar também um estudo do empreendimento a ser lançado,levando-se em consideração características como a identificaçãodas atividades realizadas naquele determinado local, informaçõesquanto a planta, produtos, processos, matéria-prima e insumos,equipamentos, recursos humanos, tecnologia e escala de produ-ção e uma seleção dos fatores de localização que serão determi-nantes no processo de escolha, como infra-estrutura básica, trans-portes, serviços e insumos; características físico-geográficas;aspectos sócio-econômicos; restrições ambientais e legais e diretri-zes e políticas de incentivo implantadas em determinadas regiões.

CONTINUAÇÃO

1..... Afirma-se que estamos vivendo uma Terceira Revolução Industrial. Manifeste suaopinião acerca desta questão.

AtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividadesComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares

2..... Alguns fatores são imprescindíveis para a instalação de uma indústria, aponte quaissão esses fatores e faça uma hierarquização dos mesmos, começando pelo qual vocêconsidera mais importante.

3..... O critério mais utilizado para a classificação das indústrias é em relação ao tipo deproduto produzido, porém, quais outros tipos de classificação podem ser empregados?

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Este tema aborda as constantes mutações que o processo produtivo sofreu ao longoda história, principalmente, por meio do desenvolvimento tecnológico que possibilitoutransformações significativas no modo-de-produção e nos produtos desenvolvidos, devidoa transição do capitalismo industrial para o capitalismo financeiro, num período denominadode tecnico- científico-informacional, em que as mudanças são tão voláteis quanto o consumoda produção e a conseqüente fragmentação do processo produtivo.

Evolução Tecnológica da Indústria e as Relações de Trabalho

Revolução Industrial e as Mudanças Tecnológicas

A evolução progressiva do homem como ser social mostra que, quanto mais eleevolui tecnicamente, menos se submete às imposições da natureza, desse modo, se, porum lado, o homem como animal é parte integrante da natureza e necessita dela para continuarsobrevivendo, por outro, como ser social, cada dia mais sofistica os mecanismos de extrairda natureza recursos que, ao serem aproveitados, podem alterar de modo profundo osambientes naturais.

Ao passar de simples coletor de frutos e caçador para agricultor, criador de rebanhose construtor de abrigos e de equipamentos cada vez mais complexos, o ser humano passoua alterar o equilíbrio e a funcionalidade dos ambientes naturais, privilegiando a expansãode um pequeno número de espécies animais e vegetais e eliminando uma grande quantidadede outras, que não eram de interesse imediato para satisfazer às suas necessidades.

4..... No que se baseia a Teoria das Localidades Centrais de Walter Cristaller?

5..... François Perroux defendia a idéia que os espaços são conjuntos abstratos, constituídosde relações econômicas realizadas por agentes econômicos e conceitua o espaçoeconômico em duas perspectivas, quais são elas? Justifique-as.

EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS INDUSTRIAS E DO SETORTERCIÁRIO NO CONTEXTO DA ENCONOMIA GLOBAL

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A mudança de simples agricultores e criadores de subsistência paraum estágio de agricultores-criadores com finalidades comerciais implementouuma significativa alteração de comportamento das sociedades humanas narelação com a natureza. A partir do momento em que os animais criados, oscereais cultivados e os vegetais coletados no campo ou nas florestas sãoexplorados para a comercialização, deixam de ser simplesmente alimentospara se transformarem em mercadorias que levam à riqueza de alguns e àpobreza de outros.

As necessidades de sobrevivência e a grande criatividade humana têm possibilitadoaos homens aproveitar cada vez mais os recursos disponíveis na natureza. A intensificaçãocomercial, com o acúmulo de reservas monetárias, fez surgir a ideologia do capital, ou seja,da concentração de riquezas através do ganho pela troca de mercadorias e moedas entrediferentes sociedades humanas.

O Desenvolvimento Técnico

A Revolução Industrial ao desenvolver novas tecnologias revolucionou o modo produtivoe as relações de trabalho. A invenção mais considerável do começo da revolução foi obra dooperário inglês James Watt. Em 1768 ele criou a primeira máquina a vapor realmente eficaz(não criou a máquina a vapor e sim a aprimorou). A idéia básica era colocar o carvão embrasa pra aquecer a água até que ela produzisse muito vapor, a máquina girava por causa daexpansão e da contração do vapor posto dentro de um cilindro de metal.

As primeiras máquinas a vapor foram construídas na Inglaterra durante o século XVIIIe, graças a essas máquinas a produção de mercadorias aumentou muito, a Inglaterra setornou a maior exportadora mundial de tecidos. Os lucros dos burgueses donos de fábricascresceram na mesma proporção, por isso, os empresários ingleses começaram a investirna instalação de indústrias. As fábricas se espalharam rapidamente pela Inglaterra eprovocaram mudanças muito profundas no modo de vida de milhões de pessoas.

Nas primeiras décadas do século XIX, as máquinas a vapor equiparam navios elocomotivas; países como a Inglaterra, a França, a Alemanha e os EUA instalaram milharesde quilômetros de ferrovias e desenvolveram espetacularmente as indústrias de ferro e demáquinas. Assim sendo, a evolução dos meios de transporte está diretamente associadoao desenvolvimento da industrialização e vice-versa.

Principais Avanços da Maquinofatura

• 1733 – John Kay inventa a lançadeira volante;• 1740 – Benjamin Huntsman desenvolve o processo de produzir aço tipo “crucible”;• 1767 – James Hargreaves inventa a spinning jenny, que permitia a um só artesão fiar 80

fios de uma única vez;• 1768 – James Watt inventa a máquina a vapor;• 1769 – Richard Arkwright inventa a water frame;• 1779 – Samuel Crompton inventa a mule, uma combinação da water frame com a spinning

jenny” com fios finos e resistentes;• 1785 – Edmond Cartwright inventa o tear mecânico.

O Motor a Explosão e o Uso do Petróleo

A máquina a vapor mostra-se limitada quanto ao uso, potência e, principalmente, aorendimento. A descoberta do motor a explosão (a energia é liberada pela combustão dagasolina - ou álcool, diesel, querosene, gás, etc.) e da eletricidade fizeram ampliar a capa-

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CONTINUA

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cidade dos maquinários e novas fontes de energias puderam ser utilizadas na produçãoindustrial, a exemplo do petróleo, que gradativamente foi substituindo o carvão mineral.Embora fosse conhecido desde a Antiguidade, o petróleo só foi obtido pela primeira vezatravés de perfuração de poços em 1859. É hoje um dos responsáveis pela movimentaçãode motores de explosão devido às características de seus derivados. O petróleo, no séculoXX, passou a alimentar o sistema industrial e alguns modos de transporte, entretanto, porconstituir-se de energia fóssil não renovável (assim como o gás natural e o carvão mineral),as limitações começaram a surgir.

Conflitos de caráter político, econômico e social marcaram países em que o petróleoera importante elemento econômico, algumas guerras foram travadas, a exemplo da Guerrado Golfo (1991).

Fontes de Energia Utilizadas na Indústria

• O carvão mineralO carvão mineral foi fundamental para a primeira Revolução Industrial, ocorrida na

Grã-Bretanha no século XVIII, representando a fonte de energia básica para o desenvol-vimento de dois setores industriais importantes: o siderúrgico e o têxtil.

De todos os combustíveis fósseis, o carvão é, sem dúvida, o com maior reserva nomundo. Se o nível de exploração mundial continuar como atualmente, as reservas são sufi-cientes para durar aproximadamente 250 anos.

É importante ressaltar que o carvão já foi usado como forma de energia duranteanos, o mesmo não só forneceu a energia que abasteceu toda a Revolução Industrial noséculo XIX como também impulsionou toda a era da eletricidade no século XX. Atualmenteaproximadamente 40% da eletricidade gerada mundialmente é produzida através do carvão.Alguns desses países que dependem da energia elétrica gerada pelo carvão são: Dinamarca,China, Grécia, Alemanha e Estados Unidos. A indústria de ferro e aço mundial também éfortemente dependente do uso do carvão.

• Gás naturalO gás natural é freqüentemente encontrado associado ao petróleo, pois forma-se do

mesmo modo e acumula-se no mesmo tipo de terreno. O gás natural oferece algumasvantagens em relação ao petróleo: é menos poluente, as reservas conhecidas podem durarcerca de 60 anos e estão distribuídas em diversos continentes. Apesar de existência deconsideráveis reservas de gás natural, o Brasil importa gás da Bolívia.

A idéia de construir um gasoduto entre Bolívia e Brasil tem sido objetode discussão por quase meio século; contudo, por várias razões, os diversosprojetos não se apresentaram viáveis no passado. Por isso, durante esteperíodo de negociações, a Bolívia passou a exportar gás para a Argentina.

Mas, no final dos anos 70, a Argentina tornou-se auto-suficiente em gás,podendo prescindir do gás boliviano. A partir daí as negociações entre Brasile Bolívia começaram a tomar novo rumo com o final do contrato de importaçãode gás boliviano por parte da Argentina em 1992. A Bolívia é fortementedependente da exportação de gás natural e o Brasil aparece, naturalmente,como o principal mercado consumidor para o gás boliviano.

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Na indústria são utilizadas técnicas de verificação da qualidade de equipamentos,esterilização de materiais médicos e cirúrgicos; técnicas nucleares são utilizadas tambémpara monitorar poluentes e identificar recursos aqüíferos. No entanto, problemas decorrentesdessa fonte de “energia do futuro”, como proliferação de armas, problemas ambientais, aquestão do lixo atômico e os riscos de acidentes.

• A energia nuclear: urânio

O beneficiamento do urânio passa a ser difundido após o final da SegundaGuerra Mundial, pretensamente como substituto às fontes não-renováveis.

O urânio tem amplas aplicações no campo da medicina, agricultura,proteção ao meio ambiente e indústria em geral. Na medicina ele propiciautilização de técnicas avançadas de diagnóstico e de tratamento de inúmerasdoenças; já na agricultura ela é utilizada na irradiação de alimentos, permitindoque os mesmos durem por mais tempo.

Para refletir!Para refletir!Para refletir!Para refletir!Para refletir!A região de Angra dos Reis, no sul Rio de

Janeiro, foi escolhida para a ins-talação do complexonuclear brasileiro (Angra 1 e 2) pela proximidade dosgrandes centros consumidores, a Usina fica (em linhareta) a 220km de São Paulo, 130 km do Rio e 350 kmde Belo Horizonte, que são grandes consumidores deenergia elétrica. A implantação da Usina é mais umresultado da confusa e contraditória política nuclearbrasileira, que se inicia na década de 1940. Nessapolítica, misturam-se os mais diversos interesses demilitares, políticos, grandes potências, empresários ecientistas. Na maior parte das vezes as razõesenergéticas foram meras justificativas para esconderestratégias militares ou interesses econômicos.

Intensificação das Diferenças Regionais

Nesse processo acelerado de tec-nificação das sociedades humanas,algumas regiões do planeta foram palco demaiores alterações. Para produzir merca-dorias e equipamento foi necessário instalarextensos complexos industriais e, paraalimentá-los, foi exigida a extração dematérias-primas e a exploração de fontesenergéticas do mundo todo.

A evolução das técnicas na indústriasignificou novas formas de relações entre oshomens e destes com o território. A batalhapelo domínio da técnica e sua apropriação

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pelas empresas e Estados, em alguns momentos com interesses convergentes, em outrosdivergentes, acabou gerando sérios conflitos tanto em nível nacional quanto internacional.

A luta pelo controle da energia nuclear, do carvão e do petróleo está na origem da maioriadas grandes guerras e de toda dominação externa. Podendo-se afirmar que o desenvolvimentodas técnicas e as mudanças na conjuntura econômica internacional intensificaram as formasde apropriação dos recursos naturais dentro e fora dos territórios nacionais.

A posição de alguns países desenvolvidos - mesmo possuindo abundância derecursos em seus territórios - foi a de explorá-los em regiões do mundo subdesenvolvido. Oavanço técnico e científico e o crescente processo de industrialização, seja nos países ricosou nos pobres, nos capitalistas ou nos socialistas, vêm progressivamente interferindo,agredindo e alterando a natureza, em benefício dos interesses imediatos dos homens.

Profundas Transformações Sociais

O principal desdobramento da Revolução Industrial, na esfera social, foi a transfor-mação das condições de vida nos países industriais em relação aos outros países da época,havendo, pois, uma mudança progressiva das necessidades de consumo da populaçãoconforme novas mercadorias foram sendo produzidas.

As condições de vida do trabalhador braçal foram fortemente modificadas provo-cando inicialmente um intenso deslocamento da população rural para as cidades1. Duranteo início da Revolução Industrial os operários viviam em condições muito ruins - se com-paradas às condições dos trabalhadores do século seguinte – trabalhavam muitas horaspor semana2, o salário era medíocre e tanto mulheres como crianças também recebiamum salário ainda menor.

Dentre esses movimentos, podemos destacar como os mais significativos:

Movimento Catequista (1811-12)Reclamações contras as máquinas inventadas após a revolução para poupar a mão-

de-obra já eram normais. Mas foi em 1811 que o estopim estourou e surgiu o movimentotambém conhecido como ludita3. Chamaram muita atenção pelos seus atos e sua forma mais

1 Londres, por exemplo, cresceu de 800 000 habitantes em 1780 para mais de 5 milhões em 1880.2 Os trabalhadores adultos da indústria têxtil trabalharam cerca de 80 horas por semana em 1870, 67

horas em 1820 e 53 horas em 1860.3 O nome do movimento deriva de Ned Ludd, um dos líderes. Os denominados luditas

A produção em larga escala e dividida emetapas iria distanciar cada vez mais o trabalhadordo produto final - já que cada grupo de trabalhadorespassava a dominar apenas uma etapa da produção- entretanto, sua produtividade ficava maior.

Algumas melhorias só vieram à medida queos trabalhadores pressionaram os seus patrõespara tal, ou seja, se o salário e as condições de vidamelhoraram com o tempo, foi por meio dos movi-mentos organizados pelos trabalhadores.

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radical de protesto (ficaram lembrados como “os quebradores de máquinas”).Os manifestantes sofreram uma violenta repressão, foram condenados à prisão,à deportação e até à forca. Posteriormente, operários ingleses mais experientesadotaram métodos mais eficientes de luta, como a greve.

Movimento Cartista (1837-1848)Considerado o primeiro movimento independente da classe trabalha-

dora britânica, exerceu forte influência sobre o pensamento político - o nome do movimentoteve origem na Carta do Povo, principal documento de reivindicação dos operários. Essemovimento se destacou por sua organização, e por sua forma de atuação, pela via política,chegando a conquistar diversos direitos políticos para os trabalhadores. A estratégia utilizadapelos cartistas girava em torno, principalmente, da coleta de assinaturas, realizadas nasoficinas, nas fábricas e em reuniões públicas, através de uma série de Petições Nacionaisenviadas à Câmara dos Comuns, que reivindicavam:

• Limitação de 10 horas (diárias) da jornada de trabalho;• Regulamentação do trabalho feminino;• Extinção do trabalho infantil;• Folga semanal;• Salário mínimo.

As Trade-Unions

Na segunda metade do século XIX, as Trade Unions evoluíram para os sindicatos,forma de organização dos trabalhadores com um considerável nível de ideologização eorganização e obtiveram conquistas, embora lentas, de suas reivindicações. O século XIXfoi uma época bastante promissora para a luta da classe operária, seja para obtenção deconquistas na relação com o capitalismo, seja na organização de movimentos revolucionários.

As Conseqüências da Revolução Industrial

A Revolução Industrial alterou completamente a maneira de viver das populaçõesdos países que se industrializaram. As cidades atraíram os camponeses e artesãos, e setornaram cada vez maiores e mais importantes. Na Inglaterra, por volta de 1850, pela primeiravez em um grande país, havia mais pessoas vivendo em cidades do que no campo.

Nas cidades, as pessoas mais pobres se aglomeravam em subúrbios de casas velhase desconfortáveis, se comparadas com as habitações dos países industrializados hoje emdia. Conviviam com a falta de água encanada, com os ratos, o esgoto formando riachos nasruas esburacadas.

O trabalho do operário era muito diferente do trabalho do camponês: tarefas monó-tonas e repetitivas. A vida na cidade moderna significava mudanças incessantes, a cadainstante. Surgiam novas máquinas, novos produtos, novos gostos, novas modas; surge adenominada sociedade do consumo.

A ciência, no estágio atual, está estreitamente ligada à atividade industrial e àsoutras atividades econômicas: agricultura, pecuária, serviços. É um componentefundamental, pois, para as empresas, o desenvolvimento científico e tecnológico é revertidoem novos produtos e em redução de custos, permitindo a elas maior capacidade decompetição num mercado cada vez mais disputado. As grandes multinacionais possuemseus próprios centros de pesquisa e o investimento científico, em relação ao conjunto daatividade produtiva, tem sido crescente.

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O Capitalismo

A inserção do sistema capitalista na economia mundial por meio do intensivo processode industrialização faz com que se definam as relações assalariadas de produção, trazendoa nítida separação entre os detentores dos meios de produção e do capital e os que sópossuem a força de trabalho. Averiguar como o capitalismo inseriu-se na economia mundiale quais as mudanças decorrentes desse processo, bem como as mudanças socais etecnológicas também ocorridas faz-se necessário nesse contexto. De sua origem até osdias atuais o capitalismo apresentou-se de diferentes formas: o investimento em atividadesde comércio deu vida ao Capitalismo Comercial, a Revolução Industrial impôs o CapitalismoIndustrial e por fim, o Capitalismo Financeiro se insere através do comércio de ações e daglobalização econômica.

Podemos decompor o capitalismo nas seguintes fases:

•Pré-capitalismo: período caracterizado pela economia mercantil, onde a produção sedestina as trocas e não apenas a uso imediato. Não se generalizou o trabalho assalariado;trabalhadores independentes que vendiam o produto de seu trabalho, ou seja, os artesãoseram donos de suas oficias, ferramentas e matéria-prima;

•Capitalismo Comercial: apesar de predominar o produtor independente (artesão), gene-raliza-se o trabalho assalariado. A maior parte do lucro concentrava-se na mão dos co-merciantes, intermediários, não nas mãos dos produtores. Lucrava mais quem compravae vendia a mercadoria, não quem produzia;

•Capitalismo Industrial: O trabalho assalariado se instala, em prejuízo dos artesãos, sepa-rando claramente os possuidores de meios de produção e o exército de trabalhadores;

•Capitalismo Financeiro ou Monopolista: contexto atual, onde sistema bancário e grandescorporações financeiras tornam-se dominantes e passam a controlar as demais atividades.

Origem do pré-capitalismo

A emergência do capitalismo relaciona-se à crise do Feudalismo, que deu sinais deesgotamento, basicamente, do descompasso entre as necessidades crescentes da nobrezafeudal e a estrutura de produção, assentada no trabalho servil. O impacto sobre o feudalismofoi fulminante, já que o sistema tinha potencialidade mercantil, isto é, a possibilidade dedesenvolvimento do comércio em seus limites. As feiras medievais ganharam novo dina-mismo, foram perdendo o caráter temporário, estabilizaram-se, transformaram-se em centrospermanentes, as cidades mercantis.

Surge, a partir das primeiras fortunas entre os burgueses de Idade Média, um novosistema econômico e social baseado na iniciativa particular, na propriedade privada dosmeios de produção, e gosto pelo investimento de capitais com fins lucrativos.

Transição do Capitalismo Industrial Para o CapitalismoFinanceiro e Informacional

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O Capitalismo Comercial

O projeto de alcançar uma passagem para o Índico que possibilitasse ocontrole das riquezas existentes nas costa oeste/leste da África, passou a serum problema geral dos países europeus. Com isso, inicia-se a chamadaRevolução Comercial; Espanha e Portugal tiveram amplo e imediato proveitodo pacto colonial sujeitando as populações coloniais aos preços e as condiçõesde negócios que lhes eram impostos. Os países ibéricos ao lado da riqueza

obtida com a venda de vários produtos, (a exemplo do açúcar brasileiro) passaram a terposse de enormes quantidades de metais preciosos (prata e ouro) acumulados pelas culturasindígenas do novo mundo (incas, maias e ascetas que foram exterminados). Já a França, aInglaterra e a Holanda forçam sua aceitação nas matas atlânticas, buscando oportunidadepara fendas coloniais inclusive atacando-as e promovendo piratarias.

O Capitalismo Industrial

A constante expansão dos negócios mantém em crescimento a procura de produtosindustrializados e, com ela, o progresso das atividades industriais e desenvolvimentostécnico. Observa-se radical transformação na indústria graças ao rápido incremento damecanização alicerçado pelo uso generalizado do ferro, carvão e força de expansão dovapor. A Inglaterra na metade do século XVIII contava com um poderoso capital a disposiçãoe controlavam o amplo mercado representado pelo seu imenso domínio colonial. Instaura-se nessa nação um regime de acentuada liberdade econômica. O sucesso financeiro dasprimeiras atividades industriais mecanizadas e as facilidades surgidas pela fabricação e aoperação de máquinas levaram a mecanização de diversos ramos da indústria, gerando adenominada Revolução Industrial.

O Capitalismo Financeiro ou Monopolista

O desenvolvimento do capitalismo industrial aumenta significativamente o númerode bancos comerciais e surgem os bancos de investimento voltado para o financiamentoda produção. A sociedade anônima além de facilitar a obtenção de capitais e, a ampliaçãodos investimentos, possibilita o jogo financeiro puro através do comércio de ações. A procurade sempre maiores lucros e a da crença na livre concorrência levou a formação gruposmonopolistas, através de trustes que controlam todas as etapas da produção desde aretirada da matéria-prima da natureza passando pela transformação em produtos, até adistribuição das mercadorias. Também se criam os cartéis, resultantes de livre associaçãode concorrentes, que fazem acordo entre si, estabelecendo preços comuns, dividindo osmercados, mas sem perda da autonomia particular.

Neoliberalismo

Os neoliberais acreditam que o Estado cresceu muito e que, portanto, deve diminuirsua participação na economia. As diretrizes básicas que orientam os caminhos dasprivatizações e da desregulamentação econômica. Privatizar, naturalmente, significa venderas empresas estatais como siderúrgicas, hidrelétricas, companhias de transporte, minas ecompanhias telefônicas, e passá-las ao controle de empresas particulares. Além disso, oneoliberalismo prevê a diminuição de impostos, para que os empresários tenham maisrecursos para investir, a liberação das importações e a abertura ao capital estrangeiro.

Às associações econômicas regionais com diminuição ou eliminação dos pro-tecionismos e atração de investimentos internacionais, acrescentou-se a limitação dos gastos

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governamentais, com a prevalência da economia de mercado e a busca de um “Estadomínimo”, redirecionando sua atuação e tamanho, especialmente com as privatizações. Sepor um lado o neoliberalismo modernizou a economia, também é verdade que ele ampliouproblemas sociais como a fome, o desemprego e a pobreza. Aliados a esses fatores,percebe-se um conseqüente aumento no mercado informal e na criminalidade.

A tão propalada globalização econômica e a Nova Ordem Mundial (a queda dobloco socialista e ampliação da integração entre as economias anteriormente isoladas domundo ocidental) são difusoras dos interesses da única potência existente, e, sem dúvida,aceleraram esse processo de implantação das teorias neoliberais, impulsionadas peladerrubada do obstáculo socialista, estimularam a formação de blocos econômicos,associações regionais de livre mercado que derrubaram antigas barreiras protecionistas.

A Fragmentação Do Processo Produtivo

É de extrema importância analisar também as técnicas do processo produtivo. Atual-mente, os computadores são capazes de orientar e avaliar a qualidade dos produtos no interiordas linhas de produção, assim como em alguns setores, os robôs estão substituindo a forçade trabalho dos homens. Tendências na evolução das técnicas associadas à cultura do consu-mo tornam-se importantes fatores na análise do processo de distribuição espacial de indústriapelo mundo, na produção de bens de consumo duráveis (eletrodomésticos, automóveis, etc.).

O artesão além de possuir os meios de produção, participava de todo o processo produtivo,assim como os trabalhadores manufatureiros (apesar de não possuírem os meios de produção,mas somente sua força de trabalho). Contudo, mudanças profundas na divisão e nas relações detrabalho ocorrem com o surgimento do taylorismo, fordismo e toyotismo (just-in-time).

Taylorismo

No início do século XX, o engenheiro industrial norte-americano Frederick WinslowTaylor desenvolveu um sistema para aumentar a produtividade, instituindo uma maior divisãode tarefas no interior das fábricas, os trabalhadores deixaram de confeccionar o produtointeiro e cada operário passou a exercer apenas algumas tarefas específicas.

Taylor acreditava que oferecendo instruções sistemáticas e adequadas aos traba-lhadores, haveria possibilidade de fazê-los produzir mais e com melhor qualidade, que achavaque todo e qualquer trabalho necessita, preliminarmente, de um estudo para que seja deter-minada uma metodologia própria visando sempre o seu máximo desenvolvimento, cujoresultado refletiria em menores custos, salários mais elevados e, principalmente, em aumentosde níveis de produtividade.

Com o objetivo de que o trabalho fosse executado de acordo com uma seqüência eum tempo pré-programados, de modo a não haver desperdício operacional, inseriu a super-visão funcional, estabelecendo que todas as fases de um trabalho deviam ser acompanhadasde modo a verificar se as operações estão sendo desenvolvidas em conformidades comas instruções programadas. Finalmente, apontou que estas instruções programadas devem,sistematicamente, ser transmitidas a todos os empregados.

Fordismo

Henry Ford, outro engenheiro industrial dos Estados Unidos, aplicou uma nova maneirade organizar o trabalho na sua fábrica de automóveis, criou a denominada linha de montagem:em vez dos trabalhadores se deslocarem pela fábrica, cada um realizava uma única tarefarepetidas vezes: um encaixava o motor, outro parafusava o motor na carroceria, outro encai-

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xava os bancos, e assim por diante. As mudanças implantadas permitiramreduzir o esforço humano na montagem, aumentar a produtividade e diminuiros custos proporcionalmente à elevação do volume produzido e facilidade deoperação e manutenção. O conceito-chave da produção em massa não é aidéia de linha contínua, mas sim a completa e consistente comunicação departes e a simplicidade de montagem.

Esta combinação de vantagens competitivas elevou a Ford à condiçãode maior indústria automobilística do mundo e virtualmente sepultou a produção

manual. Entretanto, o contraste com o que ocorria no sistema de produção manual, otrabalhador da linha de montagem tinha apenas uma tarefa, o mesmo não comandavacomponentes, não preparava ou reparava equipamentos, nem inspecionava a qualidade,nem mesmo entendia o que o seu vizinho fazia. Com o fordismo, o trabalho se tornou repetitivoe monótono e os operários perderam o controle sobre o ritmo e os resultados de seu trabalho.

O Toyotismo (just-in-time)

É um modo de organização da produção capitalista que se desenvolveu a partir daglobalização do capitalismo na década de 19804, também conhecido como modelo japonês.O país foi o berço da automação flexível, pois, apresentava um cenário diferente, possuíaum pequeno mercado consumidor, capital e matéria-prima escassos, e grande dispo-nibilidade de mão-de-obra não-especializada. A solução veio por meio da fabricação depequenas quantidades de numerosos modelos de produtos, voltados para o mercado externo,de modo a gerar divisas tanto para a obtenção de matérias-primas e alimentos, quantopara importar os equipamentos e bens de capital necessários para a sua reconstruçãopós-guerra e para o desenvolvimento da própria industrialização. Esse sistema pode serteoricamente caracterizado por quatro aspectos:

• mecanização flexível;• processo de multifuncionalização de sua mão-de-obra;• Implantação de sistemas de controle de qualidade total;• Sistema just in time (menores estoques e maior diversidade produtos).

A partir de meados da década de 1970, as empresas toyotistas assumiriam a supre-macia produtiva e econômica, principalmente pela sua sistemática produtiva que consistiaem produzir bens pequenos, que consumissem pouca energia e matéria-prima, ao contráriodo padrão norte-americano. Com o choque do petróleo e a consequente queda no padrão deconsumo, os países passaram a demandar uma série de produtos que não tinham capacidade,e, a princípio, nem interesse em produzir, o que favoreceu o cenário para as empresas ja-ponesas toyotistas. A razão para esse fato é que devido à crise, o aumento da produtividade,embora continuasse importante, perdeu espaço para fatores tais como a qualidade e a di-versidade de produtos para melhor atendimento dos consumidores.

4 Surgiu no Japão após a II Guerra Mundial, porém, só a partir da crise capitalista da década de 1970ele foi amplamente aplicado.

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A Automatização da Produção

A automação dos processos produtivos na indústria e nos serviços é uma mudançadefinitiva na forma de produzir bens e prestar serviços das sociedades modernas. Entende-se por automação industrial o conjunto de tecnologias relacionadas com a aplicação deequipamentos (sejam eles mecânicos, eletrônicos ou informacionais) em sistemas industriaisde produção visando o aumento da produtividade e menores custos de produção, o que namaioria das vezes significa redução de custos de pessoal.

A automatização permite um melhor planejamento e controle da produção, todavia,além de exigir um quadro reduzido de trabalhadores, torna também necessário a demandade mão-de-obra especializada, produzindo o que chamamos de desemprego estrutural.Esse tipo de desemprego acontece em função de mudanças definitivas na própria estruturada sociedade tornando necessário a constante requalificação do trabalhador para poderestar inserido no mercado de trabalho. Se até então, a luta era pelo aumento dos salários,hoje a grande reivindicação dos trabalhadores passou a ser um emprego.

A Expansão Do Setor Terciário

Eliminação de Empregos nos Setores Primário e Secundário

A crescente automatização do processo produtivo, redução dos custos de mão-de-obra e a flexibilização da economia acarretou o aumento do desemprego no setor secun-dário. O setor terciário procura absorver parte desse contingente de desempregados. Osetor secundário, que foi talvez o grande empregador de mão-de-obra durante a maiorparte do século XX, encontra-se atualmente num processo de eliminação de força de trabalhohumana, num ritmo até mesmo mais acelerado que o setor primário.

Todo país bastante industrializado possui, ou chegou a possuir, um mínimo de 30%de sua população economicamente ativa no setor secundário. Todavia, a maior parte daseconomias já industrializadas — especialmente os líderes da Terceira Revolução Industrial:Estados Unidos, Japão, Alemanha e outros — vem apresentando, desde os anos 1970,uma rápida diminuição do número de operários. O único setor em que atualmente há umsensível crescimento de empregos e de novas atividades é o terciário, que, estima-se, seráo grande empregador, pois os outros dois setores irão ocupar juntos, no máximo, 20% daforça de trabalho nos países industrializados. Em virtude da mecanização do campo e daurbanização, a percentagem da população ocupada no setor primário tende a diminuir nomundo inteiro, até atingir uma média de 5% a 6% da população ativa.

Algumas características permeiam a automação industrial:

• A redução de custos de pessoal;• Redução de custos do estoque(intermédios e terminais);• Aumento da qualidade dos produtos;• Maior disponibilidade dos produtos;• Ágil desenvolvimento tecnológico;• Aumento da flexibilidade da produção:

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Atenção Atenção Atenção Atenção Atenção !!!!!

O setor terciário é muito amplo e diversificado, de maneira que alguns autores atépropõem dividi-lo: o comércio em geral seria o setor terciário e os serviços passariam aconstituir um novo setor, o quaternário. Mas, por enquanto, essa nova classificação aindanão é utilizada pela imensa maioria dos institutos de pesquisas e estatísticas e, dessaforma, continuamos a colocar o comércio e os serviços juntos no setor terciário.

Novos Empregos e o Desemprego no Setor Terciário

A Diversificação do Setor Terciário

O fato de agregar uma gama muito ampla de atividades, muitas delasderivadas do setor produtivo, faz com que a característica predominante dosetor de serviços seja a heterogeneidade. Tal característica transcende oaspecto relativo ao número e variação das atividades, aplicando-se tambémao modo como elas surgem e interagem com as atividades pertinentes aosdemais setores; não só do ponto de vista econômico, mas também do pontode vista social e cultural.

Pelo fato de muitas de suas atividades exigirem apti-dões típicas dos seres humanos e difíceis de serem mecani-zadas -tais como criatividade, liderança, iniciativa, resoluçãode situações imprevistas, inteligência emocional, etc. -, umaparte significativa do setor terciário não tende a esvaziar-secom a automação e robotização, tal como vem ocorrendo comos ou-]tros dois setores. Pelo contrário, graças aos avançosrecentes na globalização e na revolução técnico-científica, umasérie de novas atividades ou empregos está surgindo no setorterciário: novos tipos de comércio, expansão do turismo, dainformática, das telecomunicações, das pesquisas científicase tecnológicas, etc.

Esse crescimento, no entanto, não ocorre em todas as atividades do setor terciário,mas somente em algumas delas, pois, existem inúmeros empregos desse setor que tambémestão sendo esvaziados pela automatização das tarefas: uma parte dos bancários,funcionários de escritório, datilógrafos, arquivistas, recepcionistas, etc.

Pode-se perceber que dos três setores de atividades e no transcorrer das duasúltimas décadas, o terciário é o setor que mais vem crescendo. Nos países mais in-dustrializados e urbanizados, ele cresce bem mais, porém, até mesmo nas sociedadespredominantemente agrárias e pouco urbanizadas ele também vem se expandindo, mesmoque, às vezes, a um ritmo ainda lento.

Nota-se que é muito importante estabelecer uma distinção entre umsetor terciário mais avançado ou moderno, formado por serviços espe-cializados - seguros, assessorias, educação e pesquisa, firmas quedesenvolvem softwares para computadores, bancos, comércio mais bemequipado, etc. -, e um setor terciário tradicional - camelôs ou comércioambulante, serviços domésticos ou de consertos, oficinas de fundo de quintal,guardadores de carros nas ruas, etc. —, que predomina nos países e regiõesmenos desenvolvidos.

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Para refletir!Para refletir!Para refletir!Para refletir!Para refletir!

O Mercado Informal e Subemprego no Setor Terciário

A OIT (Organização Internacional do Trabalho) considera trabalhadoresinformais aqueles que exercem atividades econômicas à margem da lei e desprovidasde proteção ou regulamentação pública, e cuja produção acontece em pequena escala.

O aumento do setor terciário e dos serviços nos países subdesenvolvidos intensificouo que se denomina de mercado informal. Em países, como o Brasil, a informalidade crescedevido ao alto índice de desemprego, a miséria e a desigualdade social.

Para a OIT - Organização Internacional do Trabalho - o trabalho informal também secaracteriza pela ausência das relações contratuais. Essa crescente categoria de traba-lhadores constitui uma rede de pessoas envolvidas, composta por fornecedores, inter-mediários, distribuidores, fiscais da prefeitura, vigia de rua, etc.

A constante reorganização do mercado de trabalho faz com que novas formas dedivisão do trabalho apareçam. Se anteriormente, o trabalhador desenvolvia sua tarefa deforma reduzida em uma empresa, ao se inserir, por exemplo, no comércio ambulante teráde planejar sua atividade, quanto à escolha dos produtos que irá oferecer, como negociarácom os fornecedores, como irá atrair uma clientela que garantirá o seu negócio.

Aparentemente a distância entre o planejamento e execução do trabalho, provenienteda divisão do trabalho é acirrada pelos modelos de organização de Taylor e Ford é reduzidaquando o trabalhador atua como camelô podendo desconhecer completamente todo oprocesso produtivo pelo qual passou o produto e qual sua origem.

Os trabalhadores informais dividem-se entre aqueles que trabalham por conta própriae estão empregados, porém sem carteira assinada; empregam até cinco pessoas ou trabalhamsem remuneração. Aí está o problema da excessiva terceirização das atividades, a falta deperspectiva de emprego formal, a baixa remuneração e as péssimas condições de trabalho.

A educação está sendo vista como uma importante atividade terciária,através dos seus mais variados níveis: fundamental, médio, superior, técnicoou profissionalizante e o de reciclagem ou atualização profissional, transfor-mando-se em negócio lucrativo e de grande procura face ao sucateamentoe o descaso com que o ensino é tratado pelo poder público.

Qual sua opinião acerca disso?

1..... O processo produtivo passou por mudanças significativas desde o século XIX. Quaisas principais características do fordismo e quais as “herdadas” do taylorismo?

AtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividadesComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares

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3..... Quais as principais características da automatização industrial e as repercussõesnas relações de trabalho?

2..... O capitalismo pode ser dividido basicamente em três fases; comenteas características mais marcantes de cada uma delas.

4..... O setor terciário é o que mais cresce na economia; quais as principais causas dessahipertrofia? Quais as consequências disso nos países subdesenvolvidos?

5..... A Bolívia é fortemente dependente da exportação de gás natural, e o Brasil aparece,naturalmente, como o principal mercado consumidor para o gás boliviano. Dê sua opiniãoacerca dos últimos acontecimentos envolvendo as negociações do gás natural com a Bolívia.

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INDÚSTRIA, ORGANIZAÇÃO ESPACIAL,SOCIEDADE E AMBIENTE

Este bloco aborda as conseqüências sócio-espaciais do fenômeno industrial nosmais diversos aspectos: urbanização, qualidade de vida, impactos ambientais e papelintegrador da educação.

A dispersão da indústria no mundo, as grandes mudanças na organização espacial,a intensificação do processo de urbanização, assim como a estrutura industrial brasileira ea industrialização e suas repercussões no Estado da Bahia, constituem-se em temáticas aserem estudadas nesse tema.

Organização e Distribuição da Indústria no Mundo

A Industrialização do Espaço Mundial

As origens do processo de industrialização remontam ao século XVlll, quando nasua segunda metade, emergem na Inglaterra, grande potência daquele período, uma sériede transformações de ordem econômica, política, social e técnica, que convencionou-sechamar de Revolução Industrial.

A Industrialização na Europa:

A industrialização começou no continente europeu por volta de 1815. A Inglaterra até1850, continuou dominando o primeiro lugar entre os países industrializados. Outros paísesjá contavam com suas fábricas e equipamentos modernos, porém, esses eram consideradosuma “miniatura de Inglaterra”, a exemplo, os vales de Ruhr e Wupper na Alemanha, queeram bem desenvolvidos, porém não possuíam a tecnologia das fábricas inglesas.

Na Europa, os maiores centros de desenvolvimento industrial, na época, eram asregiões mineradoras de carvão, lugares como o norte da França, nos vales do Rio Sambree Meuse, na Alemanha, no vale de Ruhr, e também em algumas regiões da Bélgica.

A Expansão da Industrialização pelo Mundo

Após 1850, a produção industrial se descentralizou da Inglaterra e se expandiurapidamente pelo mundo, principalmente para o noroeste europeu, e para o leste dos EstadosUnidos. Porém, cada país se desenvolveu em um ritmo diferente baseado nas condiçõeseconômicas, sociais e culturais de cada lugar. A seguir, os exemplos mais significativos:

• Alemanha – como resultado da Guerra Franco-prussiana, em 1870, houve aUnificação Alemã, que, liderada por Bismarck, impulsionou a Revolução Industrial no paísque já estava ocorrendo desde 1815 (foi a partir dessa época que a produção de ferrofundido começou a aumentar de forma exponencial).

INDÚSTRIA E ORGANIZAÇÃO ESPACIAL

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• Itália – a unificação política realizada em 1870, à semelhança do que ocor-reu na Alemanha, impulsionou, mesmo que atrasada, a industrialização do país.Essa que só atingiu ao norte da Itália, pois o sul continuou basicamente agrário.

• Rússia – começou o processo de industrialização muito mais tarde,nas últimas décadas do século XIX. Os principais fatores para que ela aconte-cesse foi a grande disponibilidade de mão-de-obra, intervenção governamentalna economia através de subsídios e investimentos estrangeiros à indústria.

• EUA – a industrialização relativamente tardia em relação a Inglaterra pode serexplicada pelo fato de que nos EUA existia muita terra per capita e assim, uma vantagemcomparativa na agricultura em relação a Inglaterra e em virtude disso, demorou bastantetempo para que a indústria ficasse mais importante que a agricultura. Outro fator é que osEstados do Sul eram escravagistas, o que retardava a acumulação de capital, como tinhammuita terra, eram essencialmente agrários, impedindo a total industrialização do país queaté a segunda metade do século XIX era constituído só pelos Estados da faixa leste doatual Estados Unidos.

• Japão – a modernização data do início da era Meiji, em 1867, quando a super-ação do feudalismo unificou o país. A propriedade privada foi estabelecida, a autoridadepolítica foi centralizada, possibilitando a intervenção estatal do governo central na economia,o que resultou no subsídio à indústria. E como a mão-de-obra ficou livre dos senhores feudais,ocorreu assimilação da tecnologia ocidental e o Japão passou de um dos países maisatrasados do mundo a um país industrializado.

A Industrialização nos Países Subdesenvolvidos

A partir do século XX, especialmente após a 2ª Guerra Mundial, países subdesen-volvidos - também chamados de países em desenvolvimento - passaram por processos deindustrialização. Nesses países foi muito marcante a presença do Estado nacional noprocesso de industrialização, e das empresas multinacionais (empresas estrangeiras), queimpulsionaram esse processo, e fizeram com que alguns países da periferia do mundo hojefossem potências industriais.

De maneira avessa a ocorrida nos países do mundo desenvolvido, a industrializaçãonão resultou necessariamente na melhoria de vida das populações, ou no desenvolvimentodo país, pelo contrário; esse processo nos países subdesenvolvidos se deu de formadependente de capitais internacionais, o que gerou um aprofundamento da dependênciaexterna, perpetuando essa relação até a atualidade.

As indústrias que se instalaramnesses países já vieram com suaestrutura praticamente organizadanão gerando o número de empregosneces-sários para absorver a mão deobra cada vez mais numerosa quevinha do campo para as cidades,provocando um processo de urba-nização desordenado, sem a devidainfra-estrutura e oferta de empregosnecessária para absorver essa mão-de-obra.

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Estrutura Industrial Brasileira

Após analisar como a industrialização se expandiu pelo mundo, agora é o momentode nos determos, mais especificamente, na industrialização brasileira. Primeiramente, antesde adentrar pela estrutura da indústria brasileira, é importante conhecer a industrializaçãoem nosso país, a partir das seguintes fases:

1a fase: 1822 a 1930

Esse período caracteriza-se por uma reduzida atividade industrial, devido acaracterística agrário-exportadora do país. Nessa fase, no entanto, ocorrem dois fatos quefacilitam a industrialização futura: a Abolição da Escravatura e a entrada de imigrantes, quevão servir e mão-de-obra.

2a fase: 1830 a 1956

Muitos autores consideram o ano de 1930 como o ano da “Revolução Industrial” noBrasil, ele marca o início do processo de industrialização no país. A crise do café determinadapor uma crise maior, a Crise de 1929, fez com que na região Sudeste o capital fossetransferido para a indústria e se concentrasse mais especificamente em São Paulo. Nessafase, existiu quase a exclusividade de indústrias de bens de consumo não duráveis(denominado período de “Substituição de importações”), todavia, o Governo de GetúlioVargas investiu na criação de empresas estatais do setor de base como a CSN - Companhiade Siderurgia Nacional - siderurgia, PETROBRÁS (extração e refino de petróleo e a CVRD– Companhia Vale do Rio Doce - mineração.

3a fase: 1956 a 1989

Constitui o período de maior crescimento industrial do país em todos os tipos deindústria, tendo como base a aliança entre o capital estatal e o capital estrangeiro. O governoJuscelino Kubitschek dá início a chamada “Internacionalização da Economia”, com a entradade empresas transnacionais, notadamente do setor automotivo. O processo iniciado porJ.K. teve continuidade durante a Ditadura Militar (1964 a 1985), destacando-se o GovernoMédici, período do “Milagre Brasileiro”, que determinou crescimento econômico, mastambém aumento da dívida externa e concentração de renda.

4a fase: 1989 à atualidade

Fase iniciada no Governo Collor com continuidade até o Governo atual, marca oavanço do Neoliberalismo no país, com sérias repercussões no setor secundário daeconomia, devido a grande flexibilização da mesma. O modelo econômico adotadodeterminou a privatização de quase todas as empresas estatais, tanto no setor produtivo,como as siderúrgicas e a CVRD, quanto no setor da infra-estrutura e serviços, como o casodo sistema Telebrás.

Além disso, os últimos anos marcaram a abertura do mercado brasileiro, comexpressivas reduções na alíquota de importação. Por outro lado, houve brutal aumento dodesemprego, devido a falência de empresas e as inovações tecnológicas adotadas, com autilização de máquinas e equipamentos industriais de última geração, necessários paraaumentar a competitividade e resistir à concorrência internacional.

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A partir do século XIX em meio à política econômica predominantemente agrária(sobressaindo-se a agricultura do café) e após a revogação da lei que proibia a implantaçãode manufaturas no país, a implantação da Tarifa Alves Branco (ano de 1844), a tentativa deimplantação de um desenvolvimento industrial através de uma política protecionista, queestabelecia mediante o aumento das tarifas alfandegárias, foi favorecida.

As iniciativas do Barão de Mauá

Foi o caso das tentativas de implantação de uma infra-estrutura para o desenvolvimentoda indústria realizada por Irineu Evangelista de Souza, mais conhecido como Barão deMauá: este foi o responsável pela fundação do segundo Banco do Brasil (a falência doprimeiro Banco do Brasil ocorreu no ano de 1829) além do Banco Mauá. O Barão de Mauátambém construiu estradas de ferro (Mauá construiu a primeira ferrovia do Brasil,estabelecendo comunicação viária entre as cidades do Rio de Janeiro e Petrópolis) eimplantou a iluminação urbana a gás também na cidade do Rio.

No ano de 1846, Mauá instalou o Estaleiro da Ponta da Areia, inaugurando assim aindústria naval brasileira. Porém, suas tentativas falharam justamente ao serem bloqueadaspela própria orientação econômica do país naquele período, pois Mauá não recebeu apoiodas elites agrárias, e ainda pela grande concorrência com as empresas estrangeiras.

Os empreendimentos de Mauá foram à total falência, porém as atividades industriaisno Segundo Reinado tiveram assim seu primeiro impulso: os bens de consumo no paíseram predominantemente importados, porém a incipiente indústria no Brasil se orientavainicialmente para a tentativa de substituição de alguns produtos importados pelos similaresnacionais. A concorrência entre os produtos nacionais e importados foi amenizada com oestabelecimento da Tarifa Alves Branco, porém a indústria de bens de produção praticamenteinexistia no Brasil deste período, sendo que todos os insumos e maquinarias industriaisainda eram importados.

Compreendendo a industrialização brasileira

A industrialização no Brasil, inicialmente, esbarrava no caráter essenci-almente agrário da economia e da política adotada no país. A economia eradominada pela antiga classe de latifundiários, assim como toda a política dopaís se via sob forte controle desta classe. Deste modo, todas as leis apro-vadas sempre terminavam por favorecer a ampliação e perpetuação da classede latifundiários no poder e a predominância das atividades agrárias enquantoprincipal eixo econômico.

Governo Getúlio Vargas e a Implantação da Indústria de Base

Damos agora um grande salto no tempo chegando ao governo de Getúlio Vargas, poiso mesmo foi imprescindível para a implantação de uma indústria de base nacional que pas-sou a ser empreendida a partir da grande crise mundial de 1929 e após a Revolução de 30.

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Vargas avançou no controle estatal das atividades ligadas ao petróleo e ao com-bustível por meio da criação do Conselho Nacional do Petróleo, em 1938, criando a Petrobras- Petróleo Brasileiro S/A (1953). Estimulou a indústria de base com a fundação da CompanhiaSiderúrgica Nacional (CSN) de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, em 1941, e obtevefinanciamento norte-americano para instalação da Fábrica Nacional de Motores, no Rio deJaneiro, em 1943.

Inaugurou, também, a Companhia do Vale do Rio Doce, com o fito de explorarminérios. A fim de contribuir com a formação de mão-de-obra especializada para o setorindustrial, instalou o Serviço Nacional da Indústria (Senai), em 1942, e o Serviço Social daIndústria (Sesi), em 1943.

Com o intuito de fiscalizar o sindicalismooperário, foram ampliados os serviços estatais deaposentadoria, criados em 1940, o imposto sindicale o salário mínimo, e posta em vigor a Consoli-dação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943. Aolado dessa política de concessões aos trabalha-dores - auxílio-natalidade, salário-família, licençapara gestante, estabilidade no emprego (após 10anos), descanso semanal remunerado - extinguiu-se o direito de greve e a independência dos sindi-catos, os quais passaram a ser dirigidos por “pele-gos”, falsos líderes sindicais ancorados no governo.

O Governo Juscelino Kubitschek: “Cinqüenta anos em cinco”

A administração de Juscelino Kubischek foi marcada por um cunho modernizador edesenvolvimentista, apoiado no famoso slogan “Cinqüenta anos em cinco”. Implantou o PlanoNacional de Desenvolvimento (conhecido como “Plano de Metas”) estimulou o crescimentoe a diversificação da economia e abrangia vários setores de atuação:

• Energia;• Transporte;• Alimentação;• Educação;• Implantação de indústria automobilística;• Incentivos à industrialização.

O governo passou a investir na indústria de base, na agricultura, nos transportes e nofornecimento de energia. Através do planejamento estatal instalou empresas nas áreasautomobilísticas, eletrodomésticas e siderúrgicas. Como resultado, a produção industrialaumentou em 80% e no final do seu mandato como Presidente, o Brasil apresentava pelaprimeira vez um PIB (Produto Interno Bruto) industrial maior do que o PIB agrícola. Em seuperíodo presidencial, o Brasil viveu um forte crescimento econômico, mas também umsignificativo aumento da dívida pública, interna e externa.

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Governo Militar e o “Milagre Econômico”

Durante o Governo Militar, o Brasil entra numa fase de grandecrescimento em todos os setores econômicos, ao lado da grande concentraçãode bens nas mãos de uma classe privilegiada. Esse período é chamado de“milagre econômico” por muitos historiadores e economistas, compreendeos anos de 1967-1973, em que as taxas do PNB (Produto Nacional Bruto)cresceram vertiginosamente. Grande quantidade de capital estrangeiro era

aplicada no país, ao passo que as exportações brasileiras, ao serem grandementeamplificadas, possibilitaram a entrada de capitais para o investimento em máquinas. Noentanto, as desigualdades sociais também foram acentuadas a partir deste período e,passados estes anos do “Milagre”, o Brasil entraria em uma de suas mais graves crises desua história. Na década de oitenta a crise traduziu-se nas mais altas inflações da história dopaís, gerando grande estagnação no setor industrial. Este período de estagnação temconseqüências até os dias de hoje, sendo que a indústria brasileira não apresentoucrescimento significativo.

Política Neoliberal e o Contexto Atual

Torna-se importante compreender a posição do Brasil nessa nova ordem, suasimplicações com as distorções verificadas na estruturação do seu território, ou seja, seusdesequilíbrios regionais assim como suas mudanças consoante ao meio cultural.

Torna-se importante buscar, ao mesmo tempo, a compreensão de como ocorreu aassociação entre a tecnologia estrangeira e a nacional, apesar da defasagem entre o Brasile os países estrangeiros no tocante às técnicas. Deve-se salientar que os últimos nãotrouxeram todas as técnicas para o Brasil, pois, ao penetrarem no mercado brasileiro, elesacabaram apropriando-se do desenvolvimento que, a duras penas, a tecnologia nacionalvinha produzindo.

A Concentração Industrial no Sudeste

No processo de desenvolvimento da indústria brasileira antes da chegada dasmultinacionais, aquelas pequenas indústrias, já vinham experimentando um significativodesenvolvimento técnico, como ocorria com as indústrias de reposição de peças paraautomóveis importados e com uma importante indústria têxtil. A preferência foi pelo Sudestebrasileiro, tendo em vista suas condições mais avançadas em relação às demais regiõesbrasileiras. Tal fato pode ser considerado uma “nova colonização”.

Essa seletividade em relação ao território parte do princípio de que as empresas,para se desenvolver, necessitam das chamadas economias externas. Estas podem serassim explicadas: não tendo condições ou interesse econômico para produzir tudo o quenecessita para funcionar, uma empresa procura no mercado bens e serviços para viabilizarsua produção. Entre estes podemos colocar os seguintes: energia, insumos, transportes,serviços bancários e de comunicação, mão-de-obra, assim como reparos e manutençãode equipamentos.

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O Contexto Atual da Indústria no Brasil

A atividade industrial no Brasil é responsável por cerca de 25% do PIB, sendo que ossetores - responsáveis por mais de 80% do produto industrial do país - predominantes são:

• Siderurgia/ metalurgia/ mecânica;• Elétrico;• Químico e petroquímico;• Automobilístico;• Alimentício e bebidas,• Têxtil;• Confecção;• Calçadista;• Papel e celulose.

Porém, observa-se um crescimento no investimento em indústrias ligadas às novastecnologias, como robótica, aeronáutica, eletrônica, telecomunicações, mecânica deprecisão e biotecnologia.

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A economia brasileira sempre esteve fortemente atrelada à exportaçãode seus produtos, tanto em virtude de sua forte característica agrária quantodas políticas econômicas adotadas. Entre os aspectos positivos da dinâmicaatual da indústria brasileira, pode-se salientar o grande potencial de expansãono mercado interno, o aumento no volume absoluto e relativo nas exportaçõesde produtos industrializados, o aumento na produtividade, a melhora daqualidade dos produtos e uma maior dispersão espacial dos estabelecimentosindustriais em regiões historic-amente marginalizadas.

A indústria ainda enfrenta vários problemas que aumentam os custos e dificultamuma maior participação no mercado externo:

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Atenção Atenção Atenção Atenção Atenção !!!!!

Em função de fatores históricos e de novos investimentos em infra-estrutura de energiae transportes, entre outros, o parque industrial brasileiro vem se desconcentrando, comoestudaremos a seguir.

A industrialização no país tem sua origem no capital obtido pela cultura do café, quese desenvolveu na região Sudeste – ciclo do café. Até então, a organização das atividadeseconômicas se configurava de maneira dispersa, embora desde o início do século XX, oeixo São Paulo/ Rio de Janeiro fosse responsável por mais de metade do valor da produçãoindustrial brasileira.

A crise do café culminou com o início da industrialização, assim, a oligarquia agráriado setor cafeeiro deslocou investimentos para o setor industrial, implantando, principalmenteem São Paulo, fábricas modernas para os padrões da época.

A Procedência da Atividade Industrial Brasileira

As atividades econômicas regionais progrediam de forma quase totalmenteautônoma, as indústrias de bens de consumo - a maioria ligada aos setores alimentício etêxtil - escoavam a maior parte da sua produção apenas em escala regional. Apenas umpequeno volume era destinado a outras regiões, não havendo significativa competição entreas indústrias instaladas nas diferentes regiões do país.

O presidente Getúlio Vargas promoveu transformações significativas durante seugoverno, como a instalação de um sistema de transportes integrando os as economiasregionais. Além de terem se iniciado com mais força no Sudeste, as atividades industriaistenderam a concentrar-se nessa região por causa de dois fatores básicos: a comple-mentaridade industrial — as indústrias de autopeças tendem a se localizar próximo àsautomobilísticas, as petroquímicas, próximo às refinarias etc. — e a concentração deinvestimentos públicos no setor de infra-estrutura industrial — pressionados pelos detentoresdo poder econômico, os governantes costumam atender às suas reivindicações.

Abertura da economia brasileira nos anos 90 – pela inserção dapolítica neoliberal - facilitou a entrada de muitos produtos importados,forçando as empresas nacionais a se modernizarem e a incorporarem novastecnologias ao processo produtivo para concorrerem com as empresasestrangeiras.

• Deficiências e altos preços nos transportes;• Baixos investimentos públicos e privados em desenvolvimento tecnológico;• Baixa qualificação da força de trabalho;• Barreiras tarifárias e não-tarifárias impostas por outros países à importação de produtos

brasileiros

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Atenção Atenção Atenção Atenção Atenção !!!!!

Essa concentração das atividades econômicas permaneceu até o final da décadade 1970 e início da década de 1980, quando começou a ser inauguradas as primeirasusinas hidrelétricas nas regiões Norte e Nordeste — Tucuruí, no Rio Tocantins; Sobradinho,no Rio São Francisco; Boa Esperança, no Rio Parnaíba.

Passa-se a perceber a necessidade de atender ao menos parte das necessidadesde infra-estrutura das regiões historicamente marginalizadas - como as regiões norte enordeste - um processo de dispersão do parque industrial pelo território começa em escalaregional e nacional.

Além da alocação de infra-estrutura, ao longo da década de 1990, as indústriaspassaram a se dispersar em busca de mão-de-obra barata e politicamente desorganizada,provocando a intensificação da guerra fiscal entre estados e municípios que reduzemimpostos e oferecem outras vantagens, como doação de terrenos, para atrair as empresas.Essa temática será melhor analisada no conteúdo a seguir, quando trataremos da distribuiçãoespacial da indústria no Brasil.

Distribuição Espacial Da Indústria Brasileira

O Pólo da Industrialização Brasileira: Sudeste

Vimos que a industrialização no Brasil começa no Sudeste, mais especificamente,no Estado de São Paulo, por meio de capital gerado pelos produtores cafeeiros. Aaceleração do processo de substituição das importações, verificada no Brasil a partir daSegunda Guerra Mundial, revelou que as economias externas do Sudeste já apresentavamcondições para produzir aqui um grande número de bens de consumo duráveis que atéentão eram importados, tais como automóveis e eletrodomésticos.

Importante lembrar...Ocorre uma verdadeira invasão de produtos industriais do Sudeste

nas demais regiões do país, ocasionando a falência, principalmente, defábricas nordestinas. Isso a partir da justificativa que o governo gastariamenos concentrando investimentos em determinada região em vez deespalhá-los pelo território nacional, sobretudo no início do processo deindustrialização, quando os recursos eram mais escassos.

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Você Você Você Você Você SabiaSabiaSabiaSabiaSabia?????A Industrialização por Substituição de Importações (ISI) é quando

ocorre um crescimento da produção industrial com expansão da demandainterna, simultaneamente a uma redução das importações da indústria.No caso brasileiro, a ISI dinamizou o crescimento da produção interna,principalmente, no início da década de 1930 e no final da década de 1970.

Assim, a expressão indústria de substituição de importações designa o processoque se vinha desenvolvendo no interior da sociedade agro-exportadora e que se aceleroude forma mais contínua. O crescimento resultou também das dificuldades nas importaçõespor motivos internacionais, financeiros ou políticos, como a desvalorização da moeda nacionale também as guerras. Esses fatos criaram estímulos para investimentos nas atividadesindustriais em nosso país.

Durante a grande crise nas exportações do café, ligada ao colapso do sistemafinanceiro internacional em 1929, verificou-se uma forte tendência a desviar os investimentosdesse produto para outros, permitindo a diversificação da produção agrícola e atraindocapitais para os setores industriais.

Esse período pode ser considerado o grande momento histórico do Sudeste, sobre-tudo, para São Paulo, pois nele se pode perceber a vitalidade da região para reverter asituação de crise da produção agrária, promovendo a intensificação da indústria desubstituição de importações.

A Criação das Primeiras Indústrias de Base

Uma importante indústria no Sudeste foi criada no ano de 1941: a CompanhiaSiderúrgica Nacional em Volta Redonda (RJ) com financiamento do Estado brasileiro. Suacriação fez parte de uma estratégia de dotar o Brasil de uma importante indústria de base,pois sem ela seria difícil a industrialização de outros bens de consumo duráveis. A políticanacionalista da época estimulou também a criação da Fábrica Nacional de Motores5, daCompanhia Vale do Rio Doce (fundada em 1942 pelo Governo Federal e privatizada em1997) e da Companhia de Álcalis (Fundada em 1943 e privatizada em 1992); assim tambémtiveram crescimento as indústrias de laminados, cimento, papel, tecidos e pneumáticos.

Entre 1933 e 1939, a produção nacional da indústria cresceu na base de 7,2% ao ano.Quando comparamos esse dado com o do período do “milagre brasileiro”, no final dos anos60 e início dos anos 70, em torno de 11%, pode-se avaliar a importância daquela fase dadécada de 30 para a economia nacional.

Durante os quinze anos que marcaram a política nacionalista de Getúlio Vargas,(1930/1945), o país viveu um momento em que o aparelho político do Estado ampliou suasbases para estimular a industrialização, criando vários órgãos públicos, como o(s):

5 A Fábrica Nacional de Motores nasceu dos acordos firmados entre o Brasil e os Estados Unidos,segundo os quais o Brasil permitia a instalação de bases militares norte-americanas no Nordeste em trocade créditos e assistência técnica para a implantação da Companhia Siderúrgica Nacional e de outras indústrias

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A política industrial brasileira deparava-se com um impasse com a deposição deGetúlio Vargas: de um lado estavam aqueles que desejavam uma facilitação das importaçõesde bens de consumo, do outro aqueles que defendiam o protecionismo dos mercados.

Durante o período de 1945 e os primeiros anos do segundo governo de GetúlioVargas a classe média brasileira passa a pressionar, como também o Congresso brasileiroe os representantes das oligarquias rurais. A maior parte das divisas cambiais obtidasdurante os anos de guerra foi gasta com importações desses bens, entre os quais osautomóveis tiveram grande peso. Do outro lado estavam os políticos nacionalistas e partesignificativa de empresários nacionais6, bem como os operários que defendiam a continuaindustrialização brasileira com a presença do protecionismo do Estado brasileiro.

Nesse impasse, prevaleceu uma política de industrialização associada ao capitalestrangeiro: o governo protegia a indústria nacional aumentando as taxas de importação debens de consumo duráveis e facilitava a entrada de máquinas e equipamentos.

A centralização do dinamismo industrial no Sudeste e o gradativo crescimento dosmercados internos brasileiros, com o aumento e a diversificação na produção de matérias-primas e com a urbanização, resultaram na criação de alguns novos pólos, com atransferência de capitais e de indústrias desta para outras regiões do país.

O Estado brasileiro exerceu uma grande influência no alargamentodos mercados nacionais, que, aos poucos, foram-se tornando cativos dopoder hegemônico de São Paulo e do Sudeste, surgindo o denominadoA,B,C,D paulista, que de acordo com Wikipédia , Enciclopédia Livre é:

É uma região industrial formada por sete municípios da RegiãoMetropo-litana de São Paulo: Santo André (A); São Bernardo do Campo (B);São Caetano do Sul (C); Diadema (D); Mauá ; Ribeirão Pires e Rio Grande daSerra. Sendo que em Santo André estão localizados os distritos de: Utinga eParanapiacaba, em São Bernardo do Campo os distritos de: Riacho Grandee Rudge Ramos, em Diadema: Piraporinha, em Ribeirão Pires: Ouro FinoPaulista e Santa Luzia.

São Caetano do Sul é o município com menor área territorial doGrande ABC, possui cerca de 20 km². São Bernardo do Campo possui amaior população residente e maior área. Santo André possui a maior

• Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (1931);• Ministério da Educação (1933);• Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (1938);• Institutos do Álcool, Café, Mate, Sal, Pinho, Cacau, etc. (entre 1932 e 1941).

6 Entre os trabalhadores brasileiros e os empresários nacionais existiam aqueles que defendiam essaindustrialização associada ao capital e empresas estrangeiras, com o intuito de usufruir dos privilégios nomercado internacional e garantir o aumento da oferta de empregos.

Assim, podemos afirmar que o crescimento do processo de substituiçãode importações esteve, na época, sob uma forte presença do Estado e que a obtenção deprodutos primários, também resultou de sua intervenção, ao menos em partes.

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http://pt.wikipedia.org/wiki/regi%C3%A3o_do_Grande_ABChttp://pt.wikipedia.org/wiki/regi%C3%A3o_do_Grande_ABChttp://pt.wikipedia.org/wiki/regi%C3%A3o_do_Grande_ABChttp://pt.wikipedia.org/wiki/regi%C3%A3o_do_Grande_ABChttp://pt.wikipedia.org/wiki/regi%C3%A3o_do_Grande_ABC

população rotativa, cerca de três milhões de pessoas circulam na cidadetodos os dias.

O acesso a essa região é feito principalmente pelas rodovias Anchietae Imigrantes, pelas avenidas Cupecê, dos Bandeirantes, do Estado e MariaMaluf, pelos corredores de Trólebus e pelos trens da CPTM.

O ABC é marcado historicamente por ser o centro da indústria automo-bilística nacional. Sedes de diversas montadoras, como Mercedes-Benz, Ford,Volkswagen e General Motors, entre outras, estão sediadas lá. A presença deindústrias desse porte fez com que a região fosse o berço do movimentosindical no Brasil. As greves dos operários foram fortes na década de 80 edaí que nasceu o então líder sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, hojepresidente da República.

Retirado de:

Pode-se assegurar quese criou um verdadeiro “colonia-lismo interno” no Brasil, com aconquista pelas multinacionaisde uma base territorial nadinâmica região Sudeste. Istolembra muito a antiga relaçãometrópole-colônia, com o Su-deste fazendo as vezes de me-trópole e as regiões onde aindaprevalecem formas de socieda-des agro-exportadoras desem-penhando o papel de colônia.

A Desaceleração da Economia Brasileira

Desde o governo de Getúlio Vargas (criação da indústria de base), principalmentena sua retomada ao poder, o governo de Juscelino Kubitschek (crescimento econômico apartir de capital estrangeiro) até o governo militar (“milagre econômico”) o país passou porgrande crescimento da economia.

Todavia, os anos 80 significaram para o Brasil um acentuado processo de desa-celeração no crescimento da sua economia, fato que vem se prolongando pelos anos 90 eo contexto atual distanciando-se bastante da época do “milagre” verificado entre 1968 e1978, quando o país presenciou um crescimento médio ao redor de 10,9% ao ano. Nosdois primeiros anos da década de 90 o crescimento apresentou-se negativo.

A industrialização brasileira, ocorrida logo após os anos 50 e mais fortemente no períododo “milagre”, deu-se em função da entrada de muito capital e de tecnologia provenientes dasgrandes empresas multinacionais. Os anos 80 e o início da década de 90, como apontadoanteriormente, foram e continuaram sendo marcados por uma situação muito difícil. Duranteesse período, a dívida externa vem representando uma média de 30% do PIB brasileiro, oque compromete a possibilidade de o país voltar a crescer .

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A “Década Perdida”

Os anos 80 ficaram conhecidos como a década perdida, não só emescala nacional, mas também mundial. A nova ordem mundial, com a quedado muro de Berlim e do socialismo e de algumas políticas ditatoriais provocoumudanças bruscas na economia: grande abertura ao capital estrangeiro,disseminação da produção flexível, mudanças nas relações de trabalho(desemprego estrutural), automação do processo produtivo. Naqueles anos o

Brasil se depararia com uma crescente inflação, fazendo com que os índices econômicospositivos conquistados nas épocas anteriores ficassem estacionários.

No começo dos anos 80, o parque industrial estava finalmente instalado. Contudo, es-gotara-se o processo de substituição de importações como fonte de dinamismo para a eco-nomia. Foi nesse contexto que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico - BNDE setornava Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES que adotou aprática de planejamento estratégico, com elaboração de cenários prospectivos da economia.

Você Você Você Você Você SabiaSabiaSabiaSabiaSabia?????O BNDES foi pioneiro no aproveitamento da técnica de cenários no

processo de planejamento estratégico devido as grandes incertezas queassolavam a economia brasileira no início dos anos 80. O Banco introduziu ummecanismo para especular de que forma essas incertezas poderiam influirsobre os rumos do país e, também, seu papel como banco de desenvolvimento.

A retração dos empréstimos por parte dos grandes bancos mundiais, a elevação dastaxas de juros sobre a dívida externa e a primeira crise do petróleo verificada em 1973 levarama essa situação difícil para a economia brasileira. Vale lembrar que a política desenfreada emfavor da indústria automobilística havia repercutido bastante no aumento das importações depetróleo e matéria-prima para as indústrias petroquímicas no período do “milagre”.

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Para refletir!Para refletir!Para refletir!Para refletir!Para refletir!

Maiores detalhes sobre a Adene e o Plano de Desenvolvimento doNordeste podem ser encontrados nos sítios:

A situação criada pela dívida externa forçou a implantação de uma política ostensivade incremento das exportações e de redução das importações. Tal política visava tanto obterdivisas para o pagamento da dívida como resolver o problema do estreitamento do mercadointerno brasileiro, em conseqüência da crise econômica que se acentuou. Foi quando o Brasilpassou a estimular suas exportações de bens de consumo duráveis para o exterior, essapolítica de exportação elevou bastante a exploração dos nossos recursos naturais.

O Processo Gradativo de Desconcentração da Indústria Brasileira

Analisando numa perspectiva regional a evolução da economia brasileira, os anos70 e 80 foram marcados por um processo de descentralização espacial da industrialização.Tudo indica que ainda hoje essa tendência vem ocorrendo, dada a necessidade que o paístem de fortalecer sua economia interna como uma das saídas para resolver o problema dadependência em relação aos mercados internacionais.

A região Sudeste, em 1970 , representava 80,7% da produção industrial nacional,desde então, houve um significativo investimento em outras regiões. A Superintendência doDesenvolvimento do Nordeste - Sudene7 criou atrativos para que tais investimentosocorressem em direção ao Nordeste; em 2001 a Sudene passar a ser substituída pelaAgência de Desenvolvimento do Nordeste – Adene.

Além do estímulo para investimentos no Nordeste, houve a expansão de empresas na-cionais e multinacionais para a Amazônia, através de atividades extrativas e da implantação degrandes usinas hidrelétricas, como as de Balbina, no Estado do Amazonas, e Tucuruí, no Pará.

A Superintendência da Zona Franca de Manaus - Suframa, autarquia, foi criada em1967, e vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, com sedena cidade de Manaus. A Suframa atua como agência promotora de investimentos, com oobjetivo de identificar alternativas econômicas e atrair empreendimentos para a região, garantira geração de emprego e renda e a melhoria da qualidade de vida das populações locais.

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Examinando o contexto do Norte, especialmente do Estado do Amazo-nas, pode-se perguntar até que ponto a implantação de um parque indus-trial de bens de consumo duráveis (aparelhos eletroeletrônicos) é compatívelcom a natureza econômica de uma região que ainda vive numa economiacaracteristicamente extrativista?

7 Órgão brasileiro criado com o objetivo de combater a seca da região. Criada pela Lei 3.692 de 1959.

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A ação da política descentralizadora levada a efeito pelo Estado brasi-leiro foi, sem dúvida, motivada por uma preocupação estratégica de contera excessiva centralização geográfica do crescimento econômico, causadorados movimentos migratórios para os grandes centros industriais e do aumen-to das tensões sociais nesses centros.

O crescimento da industrialização do Centro-Oeste está tambémrelacionado com a expansão das empresas sediadas no Sudeste (essaexpansão resultou de formas ordenadas da exploração do cerrado). Essadesconcentração verifica-se não somente no plano inter-regional, mas tambémno intra-regional; estados considerados industrializados cedem lugar a outrosno interior das suas regiões, como é o caso de São Paulo e Rio de Janeiroem relação a Minas Gerais. Assim, também acontece com o Rio Grande doSul, que perde para espaço para Santa Catarina e Paraná.

Todavia, a crescente queda do crescimento industrial nesses denominadostradicionais centros brasileiros não significa, a perda de sua importância no comando daindustrialização brasileira, por isso muitos pesquisadores insistem em afirmar que o queestá ocorrendo no país é uma desconcentração da indústria e não uma descentralização,porque nesses grandes centros ainda estão sediadas as maiores concentrações de bensde capitais e é onde se produzem mais intensamente as tecnologias nacionais.

Para que essa desconcentração ocorresse o Estado teve que intervir, entre 1974 e1978 foram criados importantes órgãos governamentais, como o Conselho deDesenvolvimento Econômico (CDE), com programas de industrialização para o Nordeste,e outros, também voltados para o desenvolvimento regional que assim declara:

Entretanto, devido a estrutura da economia brasileira, isso significa manter essaslegiões ligadas a indústrias de beneficiamento de produtos naturais e com isso alimentandoa tradicional produção de produtos primários para os mercados exportadores, isto é, atradicional divisão internacional que caracterizou toda a história da economia brasileira,porque o modo como se deu a ampliação do mercado interno não foi o suficiente para asuperação das disparidades espaciais na distribuição da renda. As estruturas sociais dopaís evidenciam a sobrevivência de uma sociedade agro-exportadora, com renda altamenteconcentrada e, regiões agro-exportadoras dividem espaço com um Brasil já industrializado.

A Industrialização Na Bahia

Após a análise da industrialização no país e como se desenvolveu diferentementeem cada região, nesse tópico nos deteremos, mais especificamente, a indústria na Bahia.

A Evolução Recente da Indústria Baiana

A industrialização no Estado da Bahia, começa efetivamente, na década de 1950.Anteriormente haviam ocorrido algumas tentativas, mas nada muito significativo; o intuito

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era ultrapassar o modelo agrário-exportador do qual o Estado fazia parte, principalmente,pela cultura do cacau; o desenvolvimento industrial no Estado ocorreu mais precisamenteentre os anos de 1950 e 1980 e foi resultado de uma dinâmica externa e quase queinvoluntária. A industrialização do Estado foi fortemente apoiada em intervenções federaisplanejadas e na vinda de capitais externos e por investimentos concentrados no tempo.

O desenvolvimento da indústria foi marcado pelo que pode ser denominado de blocosde investimentos:

• O primeiro: data os anos 50 e começa com a implantação da Petrobrás na ins-talação da refinaria Landulfo Alves-RLAM, após a descoberta de óleo e gás nos campos dorecôncavo baiano. Tal iniciativa, associada às demandas da indústria petrolífera, foi seguidana década seguinte pela política de desenvolvimento implementada pelo regime militar, emcujo núcleo os incentivos fiscais passaram a ocupar um lugar relevante;

• O segundo: derivou da criação do CIA – Centro Industrial de Aratu, implantandona Bahia um parque metal-mecânico constituído por fornecedores de equipamentos e poralguns produtores de bens leves de consumo, por meio da política federal de descon-centração industrial na década de 60;

• O terceiro: constitui-se da criação do Complexo Petroquímico de Camaçarí -COPEC no âmbito do II Plano Nacional de Desenvolvimento – II PND.

No que se refere às últimas décadas, avaliando o comportamento do PIB, Menezes(2006) argumenta que a evolução recente da economia baiana apresenta três fases distintas:

A primeira fase compreende a segunda metade da década de 1980 caracterizou-seuma por uma perda de participação da economia do Estado na economia nacional. Adesaceleração e a perda de participação da Bahia na economia brasileira foram motivadastanto pelo desmonte das políticas de desenvolvimento regional do Governo Federal comotambém pela estagnação do setor industrial do Estado, devido à maturação dos investimentosdo pólo petroquímico de Camaçari e pelo início da crise nos segmentos tradicionais daagricultura baiana, especialmente cacau, sisal, fumo, mamona, algodão e café.

Na segunda fase que abrange a primeira metade dos anos 90, a economia do Estadotambém perdeu participação na economia brasileira. Nesse período, além dos problemasque o Estado já vinha enfrentando na década anterior, no plano externo, os movimentos daglobalização, da abertura da economia brasileira e da constituição do Mercosul criaramdificuldades adicionais, mas também algumas oportunidades para a economia do Estado.Vale ainda ressaltar que, nos primeiros anos da década de 90, devido à elevada concentraçãode sua economia em commodities petroquímicas8, a Bahia sentiu mais fortemente os efeitosdas transformações estruturais da economia brasileira daquele período.

Entretanto, cabe destacar que, segundo Uderman e Menezes (2006), nos primeirosanos da década de 90, durante o terceiro governo de Antônio Carlos Magalhães (1991-1994), foram gerados alguns fatores que viriam a cumprir papel importante no início darecuperação da economia do Estado na segunda metade dessa década.

8 Pode dizer que Commodities são produtos “in natura”, cultivados ou de extração mineral, que podemser estocados por certo tempo sem perda sensível de suas qualidade, como suco de laranja congelado, soja,trigo, bauxita, prata ou ouro. As Commodities são uma forma de investimento, uma opção entre as tantasopções de investimento no mercado, como poupança ou Fundos de Investimento (www.economiabr.net).

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No entanto, para muitos estudiosos essa recuperação recente não se deve apenasas políticas adotadas em escala nacional, mas também pela atuação agressiva do governobaiano travando uma verdadeira “guerra fiscal”, ou seja, quando um ente tributante (nessecaso o Estado) concede benefícios e vantagens de natureza fiscais no intuito de atrairempresas que se encontrem estabelecidas no território de outro estado.

Em um primeiro momento, a guerra fiscal funcionou como mecanismo de diminuiçãodas desigualdades regionais, visto que, por ter sido inicialmente adotada apenas por Estadosmenos desenvolvidos, teve por conseqüência produzir uma descentralização industrial nopaís, com conseqüência direta de criação de empregos, demanda e oferta de mão-de-obraespecializada, bem como aumento de renda per capita nos Estados que a adotaram.

Todavia, em um segundo momento, os Estados mais desenvolvidos, tendo porprincipal objetivo não a atração de novas empresas, mas simplesmente a manutenção, emseu território, do parque industrial nele instalado, também aderiram à guerra fiscal e osefeitos da desconcentração industrial começaram a arrefecer.

A Instalação da Ford na Bahia

Ao conjunto de investimentos destaca-se a instalação da fábrica da montadoraamericana Ford Motor Company, resultado de uma “guerra fiscal” travada com o Estado doRio Grande do Sul.

As negociações entre o Estado do Rio Grande do Sul e a Ford do Brasil ocorreramem 1999, mas devido às dificuldades financeiras do Estado, várias propostas foramapresentadas no que concerne à infra-estrutura que seria oferecida, assim como os incentivosfiscais. A Ford retirou-se das negociações sem apresentar uma contraproposta e começoua cogitar a transferência para o Estado da Bahia:

A Ford divulgou, então, seu projeto para a Bahia:• Investimento total de 1,3 bilhões de dólares;• Produção de 250 mil carros por ano;• Geração de cinco mil empregos diretos e 50 mil indiretos;

Inicia-se, por um lado, um processo de modernização do aparelhoestatal e o pagamento das finanças públicas e por outro lado, retomam-se osinvestimentos em infra-estrutura através de um estímulo à competitividade daindústria instalada.

Após períodos de grande instabilidade econômica, na década de 1980e início dos anos 90, ocorre certa estabilização da economia e o controle dainflação no País, a partir da implantação do Plano Real e a retomada deinvestimentos privados na economia brasileira, a economia baiana começa ainverter o movimento de declínio dos anos anteriores.

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A contrapartida do Governo Federal para que as empresas optassem pela implantaçãode indústrias automotivas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, eram as seguintes:

• Isenção do Imposto de Importação na compra de máquinas e equipamentos;• Redução de 90% do Imposto de Importação de matérias-primas, peças,

componentes e pneus;• Redução de até 50% do Imposto de Importação de veículos;• Isenção do Imposto sobre Produtos industrializados (IPI) na compra de máquinas

e equipamentos;• Redução de 45% do IPI sobre a compra de matérias-primas;• Isenção do adicional ao frete para a renovação da Marinha Mercante;• Isenção do Imposto sobre Operações financeiras (IOF) nas operações de câmbio

para pagamento de bens importados;• Isenção do Imposto de Renda sobre lucro do empreendimento.

O Estado da Bahia oferecia os seguintes incentivos:

• Terreno a preço simbólico;• Adiamento de pagamento do ICMS para o ato de venda do produto e crédito

presumido de 75% do valor do imposto, no momento da venda do produto;• Financiamento de até 75% do ICMS devido, durante dez anos, com carência de

cinco anos para pagamento.

Prefeitura de Camaçari - município escolhido para a instalação da montadora -oferecia isenção por dez anos do (a):

• Imposto sobre Serviços (ISS);• Imposto Territorial Urbano (IPTU),• Imposto inter vivos9 e das taxas municipais, em geral.

Analisando o caso da Ford, verifica-se nitidamente que o processo de globalizaçãoda economia facilita a instalação de multinacionais nos países subdesenvolvidos, atravésda guerra fiscal travada entre os Estados, cada qual oferecendo mais vantagens e incentivospara a instalação da fábrica em seu território. Sabe-se que apesar fragilidade das economiasdesses países (como o crescente desemprego), os governos não poupam esforços paracobrir qualquer proposta para a instalação dessas empresas, oferecendo, muitas vezes,vantagens que podem desestruturar a economia do poder público ou ainda, aumentar asdesigualdades e a concentração de renda.

9 Imposto de transmissão inter vivos é que é cobrado pelos Municípios e Distrito Federal sobre vendasde imóveis.

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10 O investimento compunha o grupo de projetos inseridos no II PND.

Para refletir!Para refletir!Para refletir!Para refletir!Para refletir!

A Ford não pode ser vista como um caso isolado, de fato, a política de atração deindústrias do Estado evoluiu e se aprimorou com o aprendizado ocorrido ao longo de suaimplementação nos anos 90. Para tentar compreender melhor a evolução da política industrialda Bahia do início da década de 90 até os dias de hoje, faz-se necessário que sejamconsideradas também algumas peculiaridades do cenário político da Bahia das últimasdécadas, bem como seu papel na formação das elites burocráticas da administração públicaestadual.

Nosso país possui 15 centros indústrias, isto é, cidades ou regiões onde seconcentram várias indústrias de um mesmo segmento e, até mesmo, de setores diferentes,esses centros são chamados de Aglomerações Espaciais Industriais – AIES. O Nordestepossui quatro AIEs: Salvador, Fortaleza, Recife e Natal, com apenas 6% do produto industrialdas firmas do país (enquanto a Região Norte não possui qualquer AIE, mesmo com a presençada Zona Franca de Manaus).

A aglomeração de Salvador é a mais relevante tanto em termos do fator escala quantode sua distribuição espacial. A segunda maior aglomeração é a de Fortaleza, com umaescala industrial e extensão geográfica bem inferior a Salvador.

Evolução Industrial na Bahia entre 1960 e 1990

A política de desenvolvimento nacional conduzida a partir de meados da década de1960 tinha como finalidade o aprofundamento da integração do mercado interno do país,objetivando uma nova divisão nacional do trabalho e, simultaneamente, a constituição deuma determinada desconcentração industrial. A criação do primeiro distrito industrial, o CentroIndustrial de Aratu - CIA, localizado em Simões Filho o (município da Região Metropolitanade Salvador - RMS), representava a criação do primeiro distrito industrial das atividades daindústria metal-mecânica.

Com a instalação da indústria petroquímica, a partir dos anos 70, é introduzido ooutro grande pilar da industrialização baiana, a criação do Complexo Petroquímico deCamaçari - COPEC10, também na RMS.

As inversões industriais na Bahia, durante aquele período, concentraram-se no setormetalúrgico e químico, e, geograficamente, na área de abrangência da capital do estado emfunção de determinadas vantagens comparativas presentes naquela amplitude espacial. Alémda concentração espacial e setorial da produção industrial causada pela forte vinculação dasatividades aos centros industriais do país assumindo o papel de fornecedora de insumos

• O próprio BNDES (FSP, 03 dez. 2000, B.9), mostra que osetor de montadoras é o 38º colocado, em ranking formado por41 empresas, no quesito potencial de geração de empregos.

• Os operários da Ford de São Paulo recebiam em marçode 2003 um salário equivalente as R$1.200,00, enquanto que osoperários da Ford baiana R$ 530,00, esse desnível salarialprovocou uma greve na fábrica de Camaçari, no mesmo ano.Sendo que em 2004, houve outra paralisação desta vez visandoa redução da jornada de trabalho de 40 para 36 horas.

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para a indústria de bens do Centro-Sul, a ausência de uma dinâmica econômica endógenatornou o estado dependente dos fluxos de investimentos externos (o fim do Modelo deSubstituição de Importações diminuiu as fontes de financiamento externo na década de 1980).

A dívida externa aumentou com o crescimento vertiginoso dos compromissos com opagamento de juros, reduziu em muito a importância das políticas regionais, o que acaboucontribuindo para a redução das taxas de crescimento do PIB naquela década. Entretanto,na primeira metade da década de 1980 a indústria baiana manteve suas taxas de crescimentosuperiores ao resto do país, em boa medida pelo desempenho da indústria química (devidoà crise na indústria paulista) que consegue direcionar parte da sua produção para o exterior,pois, ainda desfrutava de investimentos no COPEC ainda referentes ao II PND.

No ambiente perverso dos anos 80 há que se destacar também a aceleraçãoinflacionária. Este foi um fator que contribuiu bastante para a inibição dos investimentosprivados quando o Estado desenvolvimentista iniciou seu processo de retirada, perfil quese acentuaria a partir dos anos 1990, com a implantação das políticas neoliberais.

A Nova Orientação Industrial Baiana

No final dos anos 80, as denominadas reformas começaram a ser introduzidas(embora tardiamente) no Brasil. Entre as mudanças econômicas mais significativas temos:

• Abertura comercial;• Liberalização financeira;• Privatização de empresas estatais;• Desregulamentação dos mercados.

A abertura induziu as empresas a se modernizarem e a buscarem ganhos de eficiênciano comércio internacional, ou seja, as exigências de modernização e automatização industrialaumentaram, provocando uma queda abrupta do emprego industrial e, apesar do PlanoReal, a economia brasileira mostra instabilidade.

O papel do governo federal muda, suas ações passam a voltar-se para a admi-nistração de crises recorrentes na busca de uma almejada estabilidade.

Os anos 1990 põem fim ao processo de desconcentração industrial que forapresenciado entre as regiões brasileiras no período 1975-1985, o qual favoreceu o avançoda industrialização das regiões mais atrasadas, em particular o Nordeste. Deste modo,outros segmentos perseguem critérios espaciais de modalidades distintas, como, porexemplo, mão-de-obra mais barata, incentivos fiscais, proximidade do mercado consumidore fontes de matéria-prima, estes são aqueles que apresentavam uma tendência de migraçãopara as regiões Norte e Nordeste. Uma nova territorialidade industrial brasileira surge ditadapela concorrência globalizada, mas sujeita às particularidades de cada setor.

Ao seguir as orientações das agências internacionais e adotar o modelo de “Estado-mínimo” (fim da política protecionista e do Estado de bem estar social), buscou-se o equilíbriofiscal e realizaram-se investimentos em infra-estrutura. O Estado da Bahia consegue umlugar de relativo destaque na chamada guerra fiscal. As prioridades foram dirigidas para ainteriorização da indústria e a diversificação produtiva - principalmente através daimplantação de indústrias de bens de consumo, e o adensamento das cadeias produtivasdo estado, estimulando uma dinâmica econômica endógena, menos suscetível às crises dedemanda de outras regiões.

Por outro lado, quando se observa mais detidamente a distribuição dos empreen-dimentos aprovados para a Região Metropolitana de Salvador, verifica-se uma concentraçãoda atividade industrial na mesma.

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Por mais contraditória que pareça esse direcionamento, a convergênciados investimentos naquela direção é proveniente de vantagens comparativasprévias, pois os principais municípios da RMS dispunham de uma baseconstituída de indústrias, serviços e infra-estrutura montada durante asdécadas de 60 e 70, fator que acaba pesando decisivamente na alocaçãodos investimentos e neutralizando, até certo ponto, a decisão oficial anunciada.

Criado em 1991, o Programa de Promoção de Desenvolvimento daBahia – PROBAHIA, destina ao financiamento, principalmente, com os recursos do ICMSpela empresa, de empreendimentos de implantação e ampliação de indústrias,agroindústrias, mineração, turismo e geração de energia elétrica. Em 1998, o ProgramaEstratégico de Desenvolvimento Industrial do estado da Bahia veio a confirmar os objetivostraçados no PROBAHIA, principalmente no que tange à desconcentração industrial e aoadensamento de cadeias produtivas. Além disso, destaca-se a iniciativa do governo deestimular a criação de indústrias de bens finais, entre as quais os segmentos calçadista etêxtil, beneficiados por um tratamento especial do governo e pela expansão do mercadoconsumidor local.

Nesse tópico, pode-se perceber como a política industrial baiana está fortementearraigada às políticas adotadas em escala federal, que por sua fragilidade necessita deintervenção estatal, mesmo quando esta intervenção está direcionada para uma maiorliberalização da economia.

1..... O Governo de Getúlio Vargas estimulou a instalação da indústria de base no país ecriou a CLT com o intuito de fiscalizar o sindicalismo operário. Explique a frase anterior.

AtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividadesComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares

2..... Quais fatores foram responsáveis para a concentração industrial no Sudeste do país?

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3..... Muitos afirmam que houve um processo de desconcentração e não de descentra-lização da indústria brasileira, em virtude da Região Sudeste ainda ser um importante póloindustrial e as indústrias do Nordeste ter papel de fornecedoras de matéria-prima para amesma.Comente o parágrafo acima.

4..... Mencione vantagens e desvantagens decorrentes da instalação da Ford na Bahia.

5..... Apesar da tentativa de desconcentração industrial em escala regional percebe-seque houve uma concentração da indústria baiana na Região Metropolitana de Salvador.Quais fatores contribuíram para essa situação?

Esse tema trabalha os aspectos mais sócio-ambientais da industrialização atravésdos impactos ambientais advindos desse processo, das novas tecnologias e dos novospadrões de consumo, bem como do papel da educação nesse contexto, formadora decidadãos críticos e participantes da realidade que os cerca.

Problemas Ambientais Impulsionados Pela Industrialização

A evolução tecnológica e o crescente processo de industrialização, seja nos paísesdesenvolvidos ou subdesenvolvidos, vêm de maneira progressiva, alterando e impactandoo ambiente natural. De acordo com Ross (2003) a crescente industrialização que seconcentrou nas cidades, a mecanização da agricultura em sistemas de monocultura, aintensa exploração das fontes de energia, como o carvão mineral e o petróleo, a extração

INDÚSTRIA, QUALIDADE DE VIDA, AMBIENTE E EDUCAÇÃO

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de recursos minerais e inúmeras outras atividades alteraram de modobastante significativo a terra, o ar e a água do planeta, chegando algumasdegradações ser consideradas irreversíveis.

Pode-se afirmar que a sociedade industrial interferiu profundamente nanatureza. Para produzir mercadorias e equipamentos foi indispensável insta-lar extensos complexos industriais e para mantê-los foi necessária à extraçãode matérias-primas e a exploração de fontes energéticas do mundo todo.

Venham nos Poluir!?

Durante o Governo Militar, quando o investimento do capital externo dinamizava aeconomia nacional, houve uma espécie de campanha para a instalação intensiva tanto quenos anos 70 chegaram a colocar anúncios em publicações estrangeiras com o convite bemsugestivo: Venham nos poluir! Visavam atrair indústrias dos países desenvolvidos queemitissem diferentes poluentes.

Vários são os casos de poluição e acidentes que acarretaram graves impactosambientais e conseqüências na saúde da população. O que mais despertou críticas foi acontaminação do Distrito Industrial de Cubatão (SP).

O Caso Cubatão

A inexistência de uma legislação específica, o desconhecimento do impacto dosresíduos industriais sobre o meio ambiente, a falta de tecnologia no que diz respeito aocontrole de fontes de poluição foram alguns fatores que levaram Cubatão a uma situaçãocrítica em meados dos anos 70.

O país despertou para as necessidades ambientais e o Estado de São Paulo criou aCetesb - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - e essa situação complexacomeçou a mudar. Com o apoio das indústrias do pólo de Cubatão foi feito um inventáriodas fontes poluidoras e na década de 1980, os técnicos da Cetesb já dispunham de umdiagnóstico confiável sobre Cubatão. Em 1982 foi lançado o Programa Ambiental deCubatão. O BIRD – Banco Interamericano de Desenvolvimento – financiou as 25 indústriasdo pólo no controle de suas 320 fontes primárias de poluição. Hoje, Cubatão é consideradaum exemplo mundial no controle de poluição; quase a totalidade das fontes primárias dasindústrias está controlada.

O município é, permanentemente, diagnosticado e monitorado; é hoje o pioneiro emsistemas de prevenção de acidentes maiores. As indústrias do pólo realizam, periodicamen-te, simulações de riscos; os programas de reciclagem do lixo industrial também avançam epadrões ambientais mais restritivos vêm sendo introduzidos, conciliando as possibilidadestecnológicas e econômicas com a renovação da licença de funcionamento das indústrias.

www.apec.gov.br

De todos, o que despertou críticas maisexaltadas foi a prolongada contaminação doentorno do distrito industrial de Cubatão (SP).Nos anos 80, foram constatadas 320 fontes deemissão (relacionadas a 116 unidadesindustriais) e as conseqüências para a saúdehumana foram dramáticas, foram registrados osmais altos índices de anencefalia (criançasnascidas sem cérebro) do hemisfério (um casopara cada 250 nascimentos).

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Necessidade do Controle da Poluição

Uma das conseqüências desse relativo descaso com a questão ambiental é a ausên-cia de estatísticas sobre emissões de poluentes, o que dificulta uma análise mais sistemáticado desempenho ambiental da indústria. Contudo, pode-se ao menos medir a expansão dossetores de maior potencial de emissão em relação ao restante da indústria, como fazemindicadores especialmente construídos pelo Departamento de Indústria do IBGE. Essesindicadores mostram que o crescimento das indústrias de alto potencial poluidor no período1981-99 foi nitidamente superior ao da média geral da indústria, sugerindo uma especia-lização relativa em atividades potencialmente “sujas”.

Uma série de razões pode ser apontada para explicar a intensificação das atividadespoluentes na composição setorial do produto industrial. Em primeiro lugar, o atraso noestabelecimento de normas ambientais e agências especializadas no controle da poluiçãoindustrial demonstram que, de fato, a questão ambiental não configurava entre asprioridades de política pública – apenas na segunda metade dos anos setenta foi criadoo primeiro órgão especificamente para esse fim (Fundação Estadual de Engenharia doMeio Ambiente - FEEMA/RJ).

Em segundo lugar, a estratégia de crescimento associada à industrialização porsubstituição de importações (ISI) no Brasil privilegiou setores intensivos em emissão.

Pautava-se que o crescimento de uma economia periférica não poderia ser apenassustentada em produtos diretamente baseados em recursos naturais (extração mineral,agricultura, ou outras formas de aproveitamento de vantagens comparativas absolutasdefinidas a partir da dotação de recursos naturais). Embora o Brasil tenha avançado naconsolidação de uma base industrial diversificada, esse avanço esteve calcado no usoindireto de recursos naturais (energia e matérias primas baratas), ao invés de expandir-seatravés do incremento na capacidade de gerar ou absorver progresso técnico.

A concentração em atividades intensivas em emissão aumentou ainda mais a partirda consolidação dos investimentos do II PND, expandindo o campo indústrias de grandepotencial poluidor – especialmente dos complexos metalúrgico e químico/petroquímico –sem o devido acompanhamento de tratamento dessas emissões, agravados pelo ideáriode que o controle ambiental é uma barreira ao desenvolvimento industrial, ignorando-se seupotencial para a geração de progresso técnico.

Um outro fator que contribuiu para o incremento de atividades industriais poluidorasfoi a tendência de especialização do setor exportador em atividades potencialmentepoluentes. Essa tendência foi acentuada a partir da década de oitenta, com a já referidaexpansão da capacidade produtiva ligada aos investimentos do II PND, mas não foi alteradacom a liberalização comercial da primeira metade dos anos noventa.

Por exemplo, as significativas diferenças entre os valores dos parâmetros comunsàs indústrias indicam existir grande discrepância entre os padrões de emissão da indústriados EUA em 1987 e a indústria paulista em 1996 (com exceção de SO2 - Dióxido deEnxofre), o desempenho norte-americano é sempre melhor, com menor emissão porunidade de produção).

Usando a terminologia desenvolvida pela Comissão Econômica para a América Latinae o Caribe - CEPAL (1990), a expansão de atividades industriais nesses países não seriaconseqüência dos esforços de transformação produtiva e competitividade “autêntica” desuas empresas, mas sim uma nova forma de países periféricos serem incluídos na divisãointernacional do trabalho a partir de vantagens competitivas desiguais.

Os países do centro especializam-se na produção em mercados dinâmicos (altovalor agregado, tecnologia de ponta, grande diferenciação de produto), onde o fluxo contínuode inovações permite a permanente apreciação dos preços dos produtos de ponta (geral-mente produtos “limpos”), enquanto a periferia passa a produzir, além das commodities

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tradicionais (matérias-primas de origem natural), produtos industrializados demercados maduros, onde a capacidade de inovação (e, consequentemente,a possibilidade de “fazer preços”) é bastante limitada, e que se caracterizampor alta intensidade no consumo de energia e outros recursos naturais.

RIO-92 (ECO)

A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desen-volvimento de 1992 (RIO- 92) aconteceu na cidade do Rio de Janeiro e foi a maior reuniãojá realizada em todo o mundo para discutir a questão ambiental: reuniu mais de 120 Chefesde Estado e representantes no total de mais de 170 países.

Na RIO-92 foram elaborados cinco documentos, assinados pelos chefes de estadoe representantes:

• Declaração do Rio;• Agenda 21;• Convenção sobre diversidade biológica;• Convenção sobre mudança do clima;• Declaração de princípios da floresta.

Agenda 21

É um programa de ações para o qual contribuíram governos e instituições da so-ciedade civil de 179 países, que procura promover, em escala planetária, um novo padrãode desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiên-cia econômica.

A Agenda 21 aprovada pelos países tem a função de servir como base para quecada um desses países elabore e programe sua própria Agenda 21 Nacional, compromissoassumido por todos os signatários durante a ECO-92.

RIO-02

Após dez anos da RIO-92 promove-se a Conferência Internacional sobreMudanças Climáticas e Fontes Renováveis - RIO 02, também na cidade do Rio deJaneiro). A Conferência RIO 02 reuniu especialistas de 20 países com o objetivo de avaliara situação ambiental do planeta e apresentar propostas para a próxima Conferência Mundialsobre Mudanças Climáticas.

As delegações internacionais participantes do RIO 02, após 4 dias de debatesacordaram sobre os seguintes pontos:

• Que as nações e seus governantes adotem políticas de produção, distribuição efinanciamento energético, nos próximos 50 anos, e que encorajem a completa migraçãodaquelas oriundas de combustíveis fósseis para renováveis, fontes não-poluentes, espe-cialmente eólica, solar e biomassa.

• Que os governos estabeleçam ações políticas que assegurem que todas as novasinstalações e veículos sejam adaptados para o uso de combustíveis renováveis e equipa-mentos de redução avançada de poluição; e que a legislação e regulamentação adequadassejam providenciadas dentro de um prazo máximo de três anos.

Durante a conferência, os participantes conheceram exemplos de políticas governa-mentais exitosas que promoveram o uso de energia renovável na Europa em condiçõestécnica e economicamente viáveis.

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Para refletir!Para refletir!Para refletir!Para refletir!Para refletir!

Todos os participantes concordaram que políticas similares podem ser adotadaspelo mundo afora. Os benefícios sociais, econômicos e ambientais da adoção de fontesrenováveis de energia são tão evidentes e amplos que os participantes da Conferênciaacreditam que a evolução deste tipo de geração de energia deve se transformar na maiordas prioridades para grande parte das nações e seus governantes.

Fonte: Revista ECO-21 http://www.eco21.com.br/textos/textos.asp?ID=239

Desde a convenção de Kyoto11, verifica-se que as preocupaçõescomo o meio ambiente tornaram-se econômicas. O valor econômico daproteção ao meio ambiente surgiu quando os países se comprometeram acortar, em média, 5,2% de emissões de dióxido de carbono sobre os valoresregistrados em 1990, com prazo até o ano passado (2005). A tributação foia primeira idéia para a formalização do controle econômico sobre a poluição,mas isto afetaria a relação do custo/benefício no setor de produção ou ele-varia o custo final ao consumidor. Assim, para que fossem alcançados osparâmetros globais de poluição, surgiu outro conceito, ou seja, os paísespoderiam negociar direitos de poluição entre si. Um país com altos níveisde emissão de gases na atmosfera poderia pagar a outro país que estivessecom os níveis de poluição abaixo do limite comprometido.

A transferência de capitais poderia levar a uma redistribuição da renda mundial emfavor daqueles que estivessem dispostos a poluir mais em troca de maior crescimentoeconômico no curto prazo, levando a que cada país “exercesse melhor suas preferências”.Desse modo a migração de indústrias poluentes para o Terceiro Mundo aumentaria o bem-estar mundial, pois os países desenvolvidos aceitariam perdas econômicas para obter ummeio ambiente mais saudável.

É interessante notar que tal raciocínio supõe implicitamente a qualidade ambientalcomo um “bem de luxo”, por isso os mais afetados por danos ambientais são justamente asclasses e regiões mais desfavorecidas, que têm menor poder político e econômico depressão e, portanto, menor chance de exigir uma vida mais saudável.

Meio Ambiente e Competitividade

As questões relacionadas à competitividade e meio ambiente ganharam importânciacrescente no final dos anos 80. Com a intensificação do processo de globalização daeconomia mundial e o conseqüente aumento dos fluxos de comércio internacional, asbarreiras tarifárias foram paulatinamente substituídas por barreiras não-tarifárias. Os paísesdesenvolvidos passam a impor barreiras não-tarifárias ambientais – “barreiras verdes” –,alegando que os países em desenvolvimento possuem leis ambientais menos rigorosasque as suas; o que resultaria em custos mais baixos – também chamados de dumpingecológico – e, conseqüentemente, menores preços praticados no mercado internacional.

11 Constitui-se no protocolo de um tratado internacional com compromissos mais rígidos para a reduçãoda emissão dos gases que provocam o efeito estufa, considerados, de acordo com a maioria das investigaçõescientíficas, como causa do aquecimento global. Fonte: www.wikipedia.org

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Você Você Você Você Você SabiaSabiaSabiaSabiaSabia?????

Por isso, a relação entre competitividade e preservação do meio ambiente passou aser objeto de intenso debate, que se polarizou em duas vertentes de análise: a primeiraacredita na existência dos benefícios sociais relativos a uma maior preservação ambiental,resultante de padrões e regulamentações mais rígidos; de outro lado, tais regulamentaçõeslevariam a um aumento dos custos privados do setor industrial, elevando preços e reduzindoa competitividade das empresas. As regulamentações são necessárias para melhorar aqualidade ambiental, mas são igualmente responsáveis pela elevação de custos e perdade competitividade da indústria.

Todavia existem pesquisadores que afirmam que quando as empresas são capazesde ver as regulamentações ambientais como um desafio, passam a desenvolver soluçõesinovadoras e, portanto, melhoram a sua competitividade. Ou seja, além das melhoriasambientais, as regulamentações ambientais também reforçariam as condições decompetitividade iniciais das empresas ou setores industriais. Assim, a preservação ambientalestá associada ao aumento da produtividade dos recursos utilizados na produção e,consequentemente, ao aumento da competitividade da empresa.

O aumento da produtividade dos recursos é possível porque a poluição é, muitasvezes, um desperdício econômico: resíduos industriais sejam sólidos, líquidos ou gasosos,podem ser reaproveitados em diversos casos, utilizando-os para a co-geração de energia,extraindo substâncias que serão reutilizadas e reciclando materiais. Ao analisar o ciclo devida do produto, há também outros desperdícios, como o excesso de embalagens e odescarte de produtos que requerem uma disposição final de alto custo. Tanto o desperdíciodos resíduos industriais quanto os desperdícios ao longo da vida do produto estão embutidosnos preços dos produtos, fazendo com que os consumidores paguem, sem perceber, pelamá utilização dos recursos.

A maneira pela qual a imposição de normas ambientais afeta acompetitividade das empresas e setores industriais é percebida de formadistinta. Por um lado, a imposição de normas ambientais restritivas pelospaíses desenvolvidos pode ser uma forma camuflada de protecionismo dedeterminados setores industriais nacionais, que concorrem diretamente comas exportações dos países em desenvolvimento. Por outro lado, essasmesmas normas estariam prejudicando a competitividade das empresasnacionais, pois implicariam em custos adicionais ao processo produtivo,elevando os preços dos produtos e resultando na possível perda decompetitividade no mercado internacional.

Selo VerdeO Selo Verde é um rótulo colocado em produtos comerciais, que indica

que sua produção foi feita atendendo a um conjunto de normas pré-estabelecidas pela instituição que emitiu o selo. Atesta, por meio de umamarca colocada voluntariamente pelo fabricante, que determinadosprodutos são adequados ao uso e apresentam menor impacto ambientalem relação a outros similares. A diferença de rotulagem ambiental para aCertificação de Sistema de Gestão Ambiental (ISO 14000) é que o que estásendo certificado é o produto, e não o seu processo produtivo.

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Uso de Tecnologias Limpas

A adoção de tecnologias mais limpas, melhoria na eficiência produtiva através degestão inovadora, redução da geração de resíduos e reciclagem de subprodutos do processoprodutivo que eram considerados resíduos, são algumas soluções para diminuir o caráterpoluidor de alguns tipos de indústria. A necessidade de mudanças nas tecnologias adotadase nas formas de gestão empresarial, sendo soluções mais definitivas, que reduzemefetivamente a quantidade de emissões e resíduos, aumentando a produtividade dosrecursos – ocorre simultaneamente uma redução do impacto ambiental e uma melhoria doproduto e/ou processo produtivo.

A influência das regulamentações governamentais para a expansão do mercado detecnologias ambientais é bastante significativa.

Como observado, devido ao alto potencial poluidor da produção industrial brasileira,as exportações brasileiras são passíveis de restrições comerciais de caráter ambiental. Osefeitos de tais medidas sobre a competitividade têm dois aspectos. O primeiro, de curtoprazo, torna a competitividade sensível ao aumento de custos. Na medida em que umpercentual significativo da pauta de exportações é composto de commodities. Osexportadores são tomadores de preço e um aumento de custos devido às imposições depadrões ambientais mais rígidos pode representar redução nos lucros dos exportadores,pois a possibilidade para competição via diferenciação de produtos é bastante reduzida.

Entretanto, numa perspectiva dinâmica e de longo prazo, as medidas comerciaiscom finalidade de preservação ambiental podem aumentar a competitividade das empresas,isto é, empresas passam a eliminar desperdícios, viabilizam economicamente um subprodutoconsiderado rejeito industrial e ficam mais sensíveis às inovações, aumentando aprodutividade, reduzindo custos, melhorando seus produtos e tornando-se mais competitivas.

É Possível uma Indústria mais “Limpa”?

A questão ambiental começou, portanto, a fazer parte da gestão empresarial,principalmente das empresas de inserção internacional – seja por meio de exportações, departicipação acionária estrangeira, de filiais de multinacionais ou da dependência definanciamentos de bancos internacionais, que condicionam os empréstimos a relatórios deimpacto ambiental (RIMA).

As empresas que estão mais expostas à concorrência internacional, passaram deuma posição respeitosa às normas somente em virtude da fiscalização para umposicionamento mais “ecologicamente correto”.

As empresas com controle parcial ou total do capital estrangeiro foram as que maisinvestiram em mudança de processo (40,8%) quando comparadas com as empresasnacionais (18,2%). Confirma-se, portanto, a hipótese de que as empresas com participaçãodo capital estrangeiro são as que mais adotam inovações ambientais, apesar das empresasnacionais também considerarem o meio ambiente como um fator indutor de inovações. Aoconsiderar as médias de exportação das empresas que investiram, ou não, na mudança deprocesso produtivo com fins de reduzir os problemas ambientais, percebe-se que as querealizaram investimentos por motivos ambientais são de maior média de exportação.

Uma hipótese levantada pela literatura é que as firmas inovadoras seriam as queinvestem mais em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), ou seja, as firmas que realizamatividades de P&D estariam mais capacitadas para gerarem e adotarem inovações, inclusiveas ambientais.

Percebe-se que as empresas brasileiras, principalmente as de inserção internacional,estão tomando consciência da importância da variável ambiental sobre sua competitividade.Há outros motivos para as empresas adotarem uma postura mais ecológica em relação ao

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meio ambiente, como a melhoria da imagem da empresa perante os seusclientes e a comunidade, a adaptação às exigências dos importadores, aredução de conflitos com órgãos de fiscalização ambiental e a diferenciaçãoem relação aos concorrentes.

Começam a surgir evidências da importância da variável ambiental pa-ra reforçar a competitividade das empresas reconhecidamente competitivas.

Em 1999, disputando as encomendas da Crossair, subsidiária regio-nal da Swissair, a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) venceu acanadense Bombardier e a alemã Fairchild-Dornier - esta última uma forne-cedora tradicional.

Um dos critérios decisivos na escolha dos jatinhos da Embraer foide caráter ambiental: os modelos brasileiros apresentaram níveis depoluição e barulho correspondentes à metade do nível mínimo exigido pelasleis européias (Gazeta Mercantil, 15/06/99 e Jornal do Brasil, 16/06/99).

A certificação voluntária das empresas brasileiras, através das normas da sérieISO 1400016, é outro indicador de que elas estão mais atentas para as questõesambientais, seja por pressões do mercado externo ou pela legislação ambiental, apesarda quantidade de empresas certificadas ser muito menor que nos países desenvolvidos.O Estado que mais possui certificações é São Paulo, seguido de Minas Gerais, Rio Grandedo Sul e Rio de Janeiro.

A Natura, conhecida empresa de cosméticos demonstra o seguinte posicionamentoe reconhece os impactos ambientais relativos ao seu processo produtivo:

Ao assumir a política de meio ambiente como uma das três vertentes deseu compromisso com a sustentabilidade, a Natura visa também a ecoeficiênciaao longo de sua cadeia de geração de valor; e, ao buscar a ecoeficiência,favorece a valorização da biodiversidade e de sua responsabilidade social.

As diretrizes para o meio ambiente da Natura contemplam:

••••• A responsabilidade para com as gerações futuras;••••• A educação ambiental;••••• O gerenciamento do impacto do meio ambiente e do ciclo de vida de produtos

e serviços;••••• A minimização de entradas e saídas de materiais.

fonte: fonte: fonte: fonte: fonte: www2.natura.netwww2.natura.netwww2.natura.netwww2.natura.netwww2.natura.net

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Por outro lado, quando se analisa o comportamento de parte das empresas brasileirasem termos de seu comportamento ambiental, verifica-se que as mais preocupadas com aquestão ambiental e que têm investido em processos produtivos mais eficientes ambien-talmente são também as de maior inserção internacional. Confirma-se, portanto, a hipótesede que a abertura ao exterior, tanto de fluxos de comércio quanto de capital, traz consigoelementos que favorecem a adoção de práticas e produtos ambientalmente mais adequados.

Os dados apresentados parecem confirmar que as empresas que realizam atividadesde P&D estariam mais capacitadas para gerarem e adotarem inovações, inclusive asambientais. Tanto as inovações de processo para reduzir danos ambientais, quanto aestratégia de preservação do meio ambiente como fator indutor da inovação, estão maisclaramente presentes nas empresas que atribuem um grau importante ou superior ao seudepartamento interno de P&D.

Apesar do comportamento ambiental das empresas paulistas – responsáveis porcerca de 60% do PIB brasileiro – ser um bom indicativo do comportamento das empresasbrasileiras, certamente existem diferenças regionais importantes, além do viés que todapesquisa de campo pode apresentar. Muitas questões permanecem em aberto: se atecnologia limpa é a mais desejável tanto para a empresa quanto para a comunidade, porque ela não é adotada em larga escala? Quais as políticas públicas que favorecem suageração e difusão?

Deve-se ter claro essa limitação: nem sempre a melhoria da qualidade ambientalpoderá ser redutora de custos. O papel do formulador de política (tanto do governo quantodas associações industriais) será exatamente identificar tais situações onde a perda decompetitividade é potencial, a fim de apresentar medidas compensatórias. O estudo dacompetitividade sob uma perspectiva de preservação ambiental pode contribuir para aconstrução de uma política industrial compatível com normas internacionais de proteção aomeio ambiente, ajudando na elaboração de uma política ambiental. Tal estudo pode, também,estimular a adoção voluntária, por parte das empresas, de processos e produtosecologicamente corretos, isto é, incentivá-las a tornarem-se pró-ativas, adotando a estratégiade ganho, onde convergem eficiência econômica e consciência ecológica.

O Discurso do Desenvolvimento Sustentável

Desenvolvimento sustentável é também definido no Relatório Brundtland12 como“aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de asgerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”, visando promover uma relaçãomais harmônica entre sociedade e ambiente, a partir da discussão de dois pontos: oconceito de necessidade e as limitações que a tecnologia e a organização social impuseramao meio ambiente.

As referências mais explícitas à noção de desenvolvimento sustentável estãosistematizadas nos trabalhos do economista Ignacy Sachs, que desenvolveu a noção deecodesenvolvimento, e nas propostas da Comissão Brundtland que projetaram mun-dialmente o termo “desenvolvimento sustentável” e o conteúdo da nova estratégia oficialde desenvolvimento.

De outra perspectiva, pode-se observar que o discurso da sustentabilidade surgiucomo um substituto ao discurso do desenvolvimento econômico, produzido e difundido pelospaíses centrais do capitalismo – sobretudo os Estados Unidos – para o resto do mundo nocontexto da Guerra Fria. A partir dos anos 70 do século passado, o discurso desenvol-

12 O Relatório Brundtland (1987) foi elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desen-volvimento, criada pelas Nações Unidas e presidida pela então Primeira-Ministra da Noruega, Gro HarlenBrundtland – faz parte de uma série de iniciativas, anteriores à Agenda 21

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Qualidade de Vida e Evolução Técnico-Industrial

As cidades são áreas onde vive a grande maioria dos homens nos países ou regiõesque se industrializaram e mecanizaram as atividades agrícolas. A existência de cidadesremonta aos primórdios da civilização, entretanto a intensificação da urbanização veio coma revolução técnico-científico-industrial, mais significativa a partir do século XIX e, sobretudono século XX.

O desenvolvimento permanente dos meios de produção industrial, os avançostecnológicos, a ampliação da sociedade de consumo, os atrativos do conforto e do lazer, aelevação do nível de renda que as cidades em geral oferecem e a liberação de mão-de-obra rural, tudo isso fez com que nos países industrializados mais de 80% da população setornasse urbana.

vimentista revelou seus limites através de uma crise, que embora tivesse maiorvisibilidade econômica, era também social, ambiental e ético-cultural.

Nesse sentido, a questão ambiental introduziu um ingrediente novo queampliava a crítica social na direção de uma revisão mais abrangente do modelode civilização ocidental e da necessidade de incorporar ao debate os múltiplosaspectos que constituem as relações entre a sociedade e seu ambiente.

Vale também lembrar que toda essa reorientação da idéia de de-senvolvimento se deu no contexto de crise do próprio capitalismo e deconsolidação de uma hegemonia do pensamento e de políticas neoliberais,postas em prática a partir dos anos 80, como parte da estratégia global dereestruturação sistêmica.

Nos países de economia mais desenvolvida e de crescimento industrial maisharmônico, acompanhado de acentuada redução do crescimento demográfico e elevaçãodo nível cultural e de renda, como os Estados Unidos, o Japão e grande parte da Europa, osproblemas ambientais urbanos existem, porém são menos agressivos.

Nas regiões que, em curto espaço de tempo, se transformaram em áreasindustrializadas através da importação de tecnologias e capital e a instalação maciça deempresas transnacionais, como ocorreu na América Latina, na Ásia e na África, os problemasambientais urbanos são mais sérios e agravados pelos problemas sociais. Essatransferência intensa para as cidades foi fruto de uma política desenvolvimentistaimplementada a partir da década de 1950.

A entrada de tecnologia e capital estrangeiro imprimiu um novo ritmo à economiabrasileira, e progressivamente a população foi-se transferindo para as cidades. O setoragrário da economia, sobretudo a partir da década de 70, mecanizou-se, liberou mão-de-obra e as cidades sofreram um crescimento demográfico repentino.

Como as atividades tradicionalmente urbanas (indústria, comércio, serviços) nãotiveram meios de absorver grande parte dos migrantes rurais, despreparados para asfunções das cidades, gerou-se uma massa de desempregados e subempregados crônicos,formando populações marginalizadas social e economicamente. Famílias analfabetas ou

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semi-analfabetas, geralmente com grande número de filhos, sem nenhuma formaçãoprofissional para os serviços urbanos, aumentaram a classe social de baixa renda e vivemhoje em barracos de favelas, cortiços e habitações precárias nas periferias das cidades.

O Meio Ambiente na Saúde Pública

Os impactos da Revolução Industrial sobre as condições de vida e saúde das popu-lações, entre meados e o final do século XIX são bastante intensos, principalmente nospaíses europeus, onde houve maior desenvolvimento nas relações industriais de produção(Inglaterra, França e Alemanha). Ocorreu também uma maior organização das classestrabalhadoras, com o aumento da sua participação política. Os temas relativos à saúde sãoincorporados na pauta das reivindicações dos movimentos sociais e surgem propostas decompreensão da crise sanitária como fundamentalmente um processo político e social,recebendo a denominação de medicina social. Ao contrário do higienismo para o qual oambiente era um objeto medicalizável através de um conjunto de normatizações e preceitosa serem seguidos e aplicados no âmbito individual, a participação política é concebidacomo principal estratégia de transformação da realidade de saúde (Paim & Almeida Filho,1998). Desbaratado no plano político, o movimento da medicina social estrutura-se daseguinte forma.

No que se refere aos problemas ambientais, o saneamento e o controle de vetoresconstituíram a principal estratégia desse movimento, direcionada para o controle de doençasrelacionadas às precárias condições sanitárias (Gochefeld & Goldstein, 1999). O adventodo paradigma microbiano nas ciências básicas da saúde representou um grande reforço aeste movimento que, tornado hegemônico e batizado de saúde pública, reorienta as diretrizesdos discursos e das práticas ocidentais no campo da saúde social (Paim & Almeida Filho,1998). Com o paradigma microbiano, o ambiente de foco dos discursos e das práticas dasaúde pública é o doméstico, que deve ser purificado, limpo e areado, sendo entãoconsiderado vital para a saúde dos seus habitantes, particularmente as crianças (Petersen& Lupton, 1996).

A ampliação da compreensão dos problemas ambientais como não somente restritosaos aspectos de saneamento e controle de vetores, bem como a recuperação da dimensãopolítica e social dos mesmos pode, em grande parte, ser atribuída às questões que passarama ser colocadas pelo movimento ambientalista, que, definido como tal, tem sua existênciaidentificada desde os anos 50, passando a ganhar força somente nos anos 60 e 70. Asameaças e os perigos ambientais para a saúde pública, provocadas principalmente pelapoluição química e radioativa, são compreendidas como de maior escala, tendo semultiplicado e estendido no espaço – indo além dos ambientes locais da casa, da vila ou dacidade – e no tempo – com o alcance dos efeitos futuros sobre a saúde e a vida no planeta.

A partir do último quartel do século 20, a preocupação com os problemas ambientaistornou-se proeminente em muitos países e resultou em duas grandes conferências mundiaissobre o tema, organizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), a de Estocolmoem 1972 e a do Rio em 1992. Em paralelo, emerge uma Nova Saúde Pública (NSP) quetem como estratégia mudar o foco das práticas centradas principalmente nos aspectosbiomédicos da atenção para uma compreensão preventiva do estado de saúde, passandoa direcionar muito de sua atenção para as dimensões ambientais da saúde (Petersen &Lupton, 1996). Emblemáticos deste processo são: Relatório Lalonde em 1974, que defineas bases para o movimento de Promoção da Saúde e em que são incorporadas questõescomo a criação de ambientes favoráveis à saúde; o Projeto Cidades Saudáveis lançadoem 1986 pela Organização Mundial da Saúde; a definição na Agenda 21 da saúde ambientalcomo prioridade social para a promoção da saúde.

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• Poluição AtmosféricaAo nível da saúde humana a poluição atmosférica pode afetar o sistema respiratório

podendo agravar ou mesmo provocar diversas doenças crônicas tais como asma, bronquitecrônica, infecções nos pulmões, enfisema pulmonar, doenças do coração e cancro do pulmão.

A Poluição e a Vida Contemporânea

O conceito de poluição tem variado no tempo assim como as tecno-logias criadas e empregadas pela sociedade. Substâncias tidas, até poucotempo atrás, como inofensivas são hoje reconhecidas como causadoras decâncer. Cabe salientar que o problema do controle da poluição não é apenasde caráter técnico, mas também de ordem sócio-cultural e política.

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• Poluição da ÁguaA poluição das águas é gerada por:

Efluentes domésticos(poluentes orgânicos biodegradáveis,nutrientes e bactérias);

Efluentes industriais(poluentes orgânicos e inorgânicos,dependendo da atividade industrial);

Carga difusa urbana e agrícola(poluentes advindos da drenagemdestas áreas: fertilizantes, defensivosagrícolas, fezes de animais e materialem suspensão).

Algumas doenças causadas pela poluição da água :Amebíase ou desinteria amebiana, ascaradíase ou lombriga, ancilostomose, cólera,

desinteria bacilar, esquistossomose, febre amarela, febre paratifóide, febre tifóide, hepatiteA, malária, peste bubônica, poliomelite, salmonelose, teníase ou solitária. Todas essasdoenças são causadas pela falta de saneamento básico.

A poluição de águas nos países ricos é resultado da maneira como a sociedadeconsumista está organizada para produzir e desfrutar de sua riqueza, do progresso material,em busca do bem-estar. Já nos países pobres, a poluição é resultado da pobreza e daausência de educação de seus habitantes, que, assim, não têm base para exigir os seusdireitos de cidadãos, o que só tende a prejudicá-los, pois esta omissão na reivindicação deseus direitos leva à impunidade às indústrias, que poluem cada vez mais, e aos governantesque fecham os olhos para a questão, como se tal poluição não atingisse também a eles.

• Poluição do SoloO solo é um corpo vivo, de grande complexidade e dinâmica. Tem como componentes

principais a fase sólida (matéria mineral e matéria orgânica) e, a água e o ar na designadacomponente “não sólida”. O solo deve ser encarado como uma interface entre o ar e a água(entre a atmosfera e a hidrosfera), sendo imprescindível à produção de biomassa. Por isso,o solo não é inerte, sempre que lhe adicionamos qualquer substância estranha, estamos apoluir o solo e, direta ou indiretamente, a água e o ar.

Geralmente, sob a denomina-ção de resíduos industriais se enqua-dram sólidos, lamas e materiais pasto-sos oriundos do processo industrial eque não guardam interesse imediatopelo gerador que deseja, de algumaforma, se desfazer deles. A contami-nação do solo tem-se tornado uma daspreocupações ambientais, uma vezque, geralmente, a contaminaçãointerfere no ambiente global da áreaafetada (solo, águas superficiais esubterrâneas, ar, fauna e vegetação),podendo mesmo estar na origem deproblemas de saúde pública.

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Atenção Atenção Atenção Atenção Atenção !!!!!

Os ruídos são mensurados por uma medida chamada decibelO som muito alto em walkman ou discman também prejudica a audição. Esses

equipamentos sempre trazem um aviso quanto o volume, mas nem todos fazem o certo.

• Poluição Sonora

Esse tipo de poluição não tem muito destaque, porém pode causarmuitos danos ao organismo, porque nós não nos preocupamos com ela. Oscausadores da poluição sonora são:

• os veículos que fazem ruídos e a sua buzina;• as indústrias;• as construções que utilizam máquinas barulhentas;• casas noturnas que deixam o volume do som muito alto.

Com relação aos ruídos das cidades, poderiam ser adotadas as seguintes medidas:• redução no uso das buzinas de veículos;• multas contra lojas que fazem propagandas barulhentas;• recolhimento de veículos sem silenciadores;• redução de publicidade por auto falantes.

• Poluição Vsual

Paredes pichadas, ruas cheias de placas de pro-paganda, “camadas” de cartazes, umas por cima dasoutras, faixas nos postes, tudo isso é responsável pelapoluição visual. Um tipo particular de poluição visual é aluminosa. À primeira vista não parece, mas ela existe e,em excesso, causa diversos prejuízos.

A iluminação dos grandes centros urbanos é feitade qualquer maneira e com desperdício de energia.Esse tipo de iluminação diminui a transparência daatmosfera, prejudicando a visão do céu noturno.

As pessoas podem ficar surdas a partir do momento em que ouvi-rem algum som acima de 115 decibéis durante 7 minutos seguidos.

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Sociedade, Ambiente e Temas Educacionais

A relação sociedade e ambiente tornou-se tão complexa ao ponto de afirmarmosque uma nova natureza foi criada. A primeira natureza aquela intocada, a natureza pura,“natural”, não existe. Santos (2002) afirma que existe a segunda natureza, essa que édeterminada socialmente, ou seja, as sociedades humanas produziram uma segundanatureza por meio das transformações ambientais oriundas do processo de trabalho. Oconceito de meio ambiente, do ponto de vista ecológico, envolve o espaço de reproduçãodas espécies e a fonte de recursos para essa reprodução.

O ideário da inesgotabilidade dos recursos naturais é forjado pelo sistema econômicocapitalista, que tem como premissa básica a capacidade infinita da tecnologia de transformaros bens da natureza em recursos, e a da ciência de resolver os problemas que possamsurgir dessa apropriação. Tais recursos passam a representar uma terceira natureza,denominada de “natureza” tecnológica, que difere da natureza propriamente dita e da“natureza” humana.

Enquanto metodologia cabe à Educação Ambiental buscar identificar as visões demundo inerentes e constituintes dos valores, das representações e dos comportamentos nomundo vivido. Os indivíduos, enquanto agentes sociais são definidores e construtores deações e de realidades novas. Assim cabe a educação desamarrar-se da idéia defragmentação do saber e destituir o dualismo – primeira característica - que faz evoluir opensamento a partir da formação de campos de oposição fechados, estáticos e inertes.

A segunda característica a ser desconstruída é o humanismo individualista que geraprocedimentos “egoístas e autoritários”. O terceiro sintoma é o tecnicismo, isto é a ciênciadirigida para a invenção de meios instrumentais para o aumento da produção; a quartaseria o economicismo, ou seja, a predominância e autonomia do campo econômico emdetrimento e sobre o social e o político. A quinta característica determinante é o patriarcalismoe suas práticas autoritárias e dependentes, incapazes de instituir a liberdade, a criatividadee a autonomia dos indivíduos e dos grupos sociais.

Recomendação de vídeo educativo

» Curta: ILHA DAS FLORES, 1989. Direção de Jorge Furtado

Importante retrato da mecânica da sociedade de consumo acompanhaa trajetória de um simples tomate, desde a plantação até ser jogado fora. Ocurta-metragem retrata de maneira crítica o processo de geração de riqueza eas desigualdades que surgem no meio do caminho.

» Disciplinas/Temas transversais: Biologia, Ciências, Ciências Sociais,Geografia, Ética, Filosofia, Língua Portuguesa, Meio ambiente

» Faixa Etária: Todas as idades» Nível de Ensino: Ensino Fundamental e Ensino Médio

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Práticas Ambientais: Legislação e Educação Ambiental

• A Legislação Ambiental e seu Caráter Punitivo

Embora os grandes encontros internacionais promovidos pela ONU,em 1972 a “I Conferência das Nações Unidas sobre o Meio AmbienteHumano”, e em 1997 em Tbilisi, a “Conferência Intergovernamental deEducação Ambiental”, terem indicado como pressupostos fundamentais para

a implantação de programas de Educação Ambiental, a complexidade dos meios biofísicose socioculturais, o governo brasileiro editou em 31 de agosto de 1981 a lei 6.938(www.planalto.gov.br/CCIVIL/leis/L6938.htm) que estabeleceu a “Política Nacional do MeioAmbiente”, na qual define o meio ambiente como “o conjunto de condições, leis,influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga erege a vida em todas as suas formas” (Art. 3, inciso I).

Demonstrando assim, que o entendimento privilegiado que o Meio Ambiente é a ordemfísica, química e biológica, despreza a constituição, a organização, a concepção de mundo eos métodos que os grupos sociais aplicam nos procedimentos eco-nômicos e políticos.

Através da interpretação de que somente as normas positivas expressas é que geramatitudes, o poder do governo brasileiro, formalizou a capacidade institucional jurídicacoercitiva e punitiva através da lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 (www.pr.gov.br/meioambiente/pdf/lei_9605_1998.pdf) que sanciona a “Lei de Crimes Ambientais”. Namesma há uma nítida separação entre o mundo da cultura e o biológico, reproduzindo umdualismo que há muito tempo se procura superar. Isto é, existe uma objetiva dificuldade dosprincípios e pressupostos do meio ambiente serem transpostos e traduzidos em açõesgovernamentais e em programas públicos que manifestam e traduzam a interação entre adimensão cultural e a biológica.

• Educação Conscientizadora

Os princípios lançados para efetivação da Educação Ambiental, reconhecem atotalidade constituinte do meio ambiente, em seus aspectos naturais (físicos, biológicos equímicos) e fenômenos culturais (políticos, econômicos, éticos, estéticos e sociais), trazemà discussão o caráter abrangente, transformador, integrador e participativo das característicasconstituidoras da Educação Ambiental.

Neste sentido, a questão ambiental, é um orientador que conduz a perceber e aconceber as contradições históricas construídas pelos homens no modo de produçãoexcludente identificados no modelo capitalista.

Em 1998, a Coordenação de Educação Ambiental do Ministério da Educação e doDesporto, lança o livro: “A Implantação da Educação Ambiental no Brasil”, que possui comocaracterística importante a construção de um referencial que enquadra os princípiosfundadores da Educação Ambiental, além de sugestionar práticas educativas paraprocedimentos ativos, participativos e prospectivos da Educação Ambiental. A obra salientaa necessidade de uma educação que possibilitaria a conscientização dos homens e dasmulheres para o exercício da cidadania nos espaços das estruturas e das dinâmicassociais e naturais constituídas e constituintes.

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais- PCN, o meio ambiente é abordado,enquanto princípio metodológico, como tema transversal, caracterizando-se pelasua relevância, enquanto questão social. Fonte de reflexão e de ações pedagógicase políticas, que tenha como horizonte a possibilidade da geração, através de relaçõesde ensino-aprendizagem, de novos conhecimentos e atitudes que rompam com as

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percepções dicotômicas, inaugurando um saber-fazer que se embasa em relaçõeséticas participativas, prospectivas e em valores que construam a solidariedade e aequidade social.

• Transversalidade, Transdiciplinariedade, Interdisciplinaridade

A transversalidade se propõe a superar as especialidades das disciplinas, tornando-se desta forma o Meio Ambiente, uma questão sem fronteiras explícitas na área do co-nhecimento. Neste sentido vai ao encontro com a transdiciplinariedade e a interdisci-plinariedade. A transversalidade e interdisciplinariedade possuem pontos semelhantes epontos diferenciadores. Ambas apontam a complexidade do real e a necessidade de seconsiderar a teia de relações entre os seus diferentes e contraditórios aspectos, mas diferemuma da outra no sentido conceitual uma vez que a interdisciplinariedade refere-se a umaabordagem epistemológica dos objetos de conhecimento, enquanto a transversalidade dizrespeito principalmente à dimensão didática.

O grande desafio é ultrapassar referenciais que continuem a reproduzir esse modelodicotomizador sociedade/ambiente, mostrando que um está contido no outro. Produzir assim,referenciais teóricos e práticos da compreensão da multiplicidade do meio ambiente e dadiversidade humana.

No desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem é fundamental a consideraçãodessa tríade dimensional: as dimensões humanas, técnica e político-social. Nestaperspectiva de uma multidimensionalidade que articula organicamente as diferentesdimensões do processo ensino-aprendizagem. A transdisciplinaridade é uma das grandesbuscas do conhecimento em nossa atualidade, ao ponto de ser discutida internacionalmente.

Carta de Transdisciplinaridade(adotada no Primeiro Congresso Mundial da Transdisciplinaridade,Convento de Arrábida, Portugal, 2-6 novembro 1994)

PreâmbuloConsiderando que a proliferação atual das disciplinas acadêmicas

conduz a um crescimento exponencial do saber que torna impossível qual-quer olhar global do ser humano;

Considerando que somente uma inteligência que se dá conta dadimensão planetária dos conflitos atuais poderá fazer frente à complexidadede nosso mundo e ao desafio contemporâneo de autodestruição material eespiritual de nossa espécie;

Considerando que a vida está fortemente ameaçada por uma tec-nociência triunfante que obedece apenas à lógica assustadora da eficáciapela eficácia;

Considerando que a ruptura contemporânea entre um saber cada vezmais acumulativo e um ser interior cada vez mais empobrecido leva à as-censão de um novo obscurantismo, cujas conseqüências sobre o planoindividual e social são incalculáveis;

Considerando que o crescimento do saber, sem precedentes na his-tória, aumenta a desigualdade entre seus detentores e os que são despr-ovidos dele, engendrando assim desigualdades crescentes no seio dospovos e entre as nações do planeta;

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fundamentais da comunidade de espíritos transdisciplinares, constituindo umcontrato moral que todo signatário deste Protocolo faz consigo mesmo, semqualquer pressão jurídica e institucional.

Artigo 1: Qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma mera definiçãoe de dissolvê-lo nas estruturas formais, sejam elas quais forem, é incompatívelcom a visão transdisciplinar.

Artigo 2: O reconhecimento da existência de diferentes níveis derealidade, regidos por lógicas diferentes é inerente à atitude transdisciplinar.Qualquer tentativa de reduzir a realidade a um único nível regido por uma únicalógica não se situa no campo da transdisciplinaridade.

Artigo 3: A transdisciplinaridade é complementar à aproximaçãodisciplinar: faz emergir da confrontação das disciplinas dados novos que asarticulam entre si; oferece-nos uma nova visão da natureza e da realidade. Atransdisciplinaridade não procura o domínio sobre as várias outras disciplinas,mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as ultrapassa.

Artigo 4: O ponto de sustentação da transdisciplinaridade reside naunificação semântica e operativa das acepções através e além das disciplinas.Ela pressupõe uma racionalidade aberta por um novo olhar, sobre a relatividadedefinição e das noções de “”definição”e “objetividade”. O formalismoexcessivo, a rigidez das definições e o absolutismo da objetividadecomportando a exclusão do sujeito levam ao empobrecimento”.

Artigo 5: A visão transdisciplinar está resolutamente aberta na medidaem que ela ultrapassa o domínio das ciências exatas por seu diálogo e suareconciliação não somente com as ciências humanas mas também com a arte,a literatura, a poesia e a experiência espiritual.

Artigo 6: Com relação à interdisciplinaridade e à multidisciplinaridade, atransdisciplinaridade é multidimensional. Levando em conta as concepçõesdo tempo e da história, a transdisciplinaridade não exclui a existência de umhorizonte trans-histórico.

Artigo 7: A transdisciplinaridade não constitui uma nova religião, umanova filosofia, uma nova metafísica ou uma ciência das ciências.

Artigo 8: A dignidade do ser humano é também de ordem cósmica eplanetária. O surgimento do ser humano sobre a Terra é uma das etapas dahistória do Universo. O reconhecimento da Terra como pátria é um dosimperativos da transdisciplinaridade. Todo ser humano tem direito a umanacionalidade, mas, a título de habitante da Terra, é ao mesmo tempo um sertransnacional. O reconhecimento pelo direito internacional de um pertencerduplo - a uma nação e à Terra - constitui uma das metas da pesquisatransdisciplinar.

Considerando simultaneamente que todos os desafiosenunciados possuem sua contrapartida de esperança e que ocrescimento extraordinário do saber pode conduzir a uma mutaçãocomparável à evolução dos humanóides à espécie humana;

Considerando o que precede, os participantes do PrimeiroCongresso Mundial de Transdisciplinaridade (Convento deArrábida, Portugal 2 - 7 de novembro de 1994) adotaram opresente Protocolo entendido como um conjunto de princípios

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Artigo 9: A transdisciplinaridade conduz a uma atitude aberta comrespeito aos mitos, às religiões e àqueles que os respeitam em um espíritotransdisciplinar.

Artigo 10: Não existe um lugar cultural privilegiado de onde se possamjulgar as outras culturas. O movimento transdisciplinar é em si transcultural.

Artigo 11: Uma educação autêntica não pode privilegiar a abstração noconhecimento. Deve ensinar a contextualizar, concretizar e globalizar. Aeducação transdisciplinar reavalia o papel da intuição, da imaginação, dasensibilidade e do corpo na transmissão dos conhecimentos.

Artigo 12: A elaboração de uma economia transdisciplinar é fundadasobre o postulado de que a economia deve estar a serviço do ser humano enão o inverso.

Artigo 13: A ética transdisciplinar recusa toda atitude que recusa odiálogo e a discussão, seja qual for sua origem - de ordem ideológica,científica, religiosa, econômica, política ou filosófica. O saber compartilhadodeverá conduzir a uma compreensão compartilhada baseada no respeitoabsoluto das diferenças entre os seres, unidos pela vida comum sobre umaúnica e mesma Terra.

Artigo 14: Rigor, abertura e tolerância são características fundamentaisda atitude e da visão transdisciplinar. O rigor na argumentação, que leva emconta todos os dados, é a barreira às possíveis distorções. A abertura comportaa aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível. A tolerância éo reconhecimento do direito às idéias e verdades contrárias às nossas.

Artigo final: A presente Carta Transdisciplinar foi adotada pelosparticipantes do Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, quevisam apenas à autoridade de seu trabalho e de sua atividade.

Segundo os processos a serem definidos de acordo com os espíritostransdisciplinares de todos os países, o Protocolo permanecerá aberto àassinatura de todo ser humano interessado em medidas progressistas deordem nacional, internacional para aplicação de seus artigos na vida.

Convento de Arrábida, 6 de novembro de 1994.Comitê de Redação Lima de Freitas, Edgar Morin e Basarab Nicolescu.

Fonte: Educação e Transdisciplinaridade. V. II São Paulo: Triom, 2002Retirado do site: www.suigeneris.pro.br/edvariedade_cartrans.htmwww.suigeneris.pro.br/edvariedade_cartrans.htmwww.suigeneris.pro.br/edvariedade_cartrans.htmwww.suigeneris.pro.br/edvariedade_cartrans.htmwww.suigeneris.pro.br/edvariedade_cartrans.htm

• Multiplicidade e Diversidade Humana

A dimensão humana é a compreensão dos valores éticos, das crenças religiosas,da afetividade, da racionalidade. O humano é compreendido como um ser complexo que éconfigurado por múltiplos fenômenos, um ser cultural, que se expressa e que está localizadoem espaços e tempos históricos.

A dimensão político-social é o espaço da organização, da mobilização, daparticipação e da configuração do poder, é o lugar do público, das vontades coletivizadas.A dimensão técnica se dá por meio das habilidades, dos princípios e dos conhecimentos

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Para refletir!Para refletir!Para refletir!Para refletir!Para refletir!

desenvolvidos. Contudo, essas dimensões não podem ser pensadasisoladamente, o ser humano é uno e ao mesmo tempo múltiplo, há unidade nomúltiplo e multiplicidade no uno, por isso é preciso estabelecer a integração ea comunicação entre as dimensões, formalizando a constituição de umatotalidade múltipla para a concretização de um modelo educacional queabarque as multiplicidades.

Se as linguagens centrais do universo social são os cenários de morte(guerra, fome, violência, desflorestamento, poluição), os sujeitos sociais se

marcarão psicologicamente e socialmente pelos signos fundadores das relaçõescatastróficas e mortíferas. Ao contrário deve ocorrer, constituindo o meio social e históricode manifestações comportamentos em promoção e defesa da vida, da solidariedade e daequidade social. Internalizando, assim, idéias positivas e de liberdade de pensamento pararomper com idéias puramente economicistas que permeiam a sociedade em sua atualidade.

Desta orientação metodológica podemos apreender que os agentes sociais, ouindivíduos em ação, ao estarem localizados num contexto histórico e social, estãoembricados dos significados formadores do contexto, isto é, reestruturadores da realidadevivida. Os alunos não devem ser vistos enquanto agentes que não recebem e neminternalizam de forma passiva e estática seu cotidiano e seu contato com o conhecimento,pois estabelecem uma relação interativa com os aspectos culturais e naturais, inventandolinguagens e instrumentos, isto é, o direcionamento do pensamento e da ação para situaçõese contextos históricos e sociais reinventados.

A multiplicidade de vozes estabelece relações de liberdade e de criticidade para aapreensão da totalidade. O dialogismo13 é condição necessária para a desconstrução e asuperação da linearidade histórica inerentes nos pensamentos dualistas, economicistas,constituintes do pensamento moderno. O diálogo é a manifestação do demonstrativodas relações complexas formadoras das consciências, das representações, daslinguagens, das visões de mundo, das práticas e dos valores dos agentes e dosgrupos sociais.

Tudo se reduz ao diálogo, à contraposição dialógica enquanto centro.Tudo é meio, o diálogo é o fim. Uma só voz nada termina, nada resolve.Duas vozes são o mínimo de vida”. (Mikhail Bakhtin)

Neste sentido, a Educação Ambiental passa a se constituir como um processo transfor-mador dos reducionismos do pensamento moderno, porém, com a necessidade de incorpora-ção de metodologias, teorias e práticas que estejam estruturados a partir de organizações e derelações da totalidade das interações entre conjuntos dos fenômenos naturais e culturais.

Pode-se concluir que a Educação Ambiental representa, dessa maneira, uma novacondução do pensamento, da linguagem e do comportamento para a implantação práticas quesuperem as idéias simplistas e reducionistas caminhando em direção de um referencialestruturante do contexto histórico, incorporadores das complexidades relacionais das totalida-des construídas histórica e socialmente, através da análise das relações sociedade/ambiente.

13 Segundo Mikhail Bakhtin o dialogismo é o princípio constitutivo da linguagem, o que quer dizer quetoda a vida da linguagem, em qualquer campo, está impregnada de relações dialógicas. A concepção dialógicacontém a idéia de relatividade da autoria individual e conseqüentemente o destaque do caráter coletivo,social da produção de idéias e textos.

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• A Percepção e a Educação Ambiental no Processo de Gestão Ambiental

Para que problemas ambientais possam ser minimizados e para que ocorra umamelhoria na qualidade ambiental e de vida, importante, se não fundamental, é a mudançade comportamento dos indivíduos e da sociedade como um todo, tanto em suas atividadescomo em todos os aspectos de suas vidas. É, essencialmente, uma questão que implicaem um processo educativo e de conscientização ambiental.

Para reconhecer qual é o conhecimento e o que condiciona os comportamentos deum indivíduo ou um grupo em relação ao meio ambiente, é fundamental o estudo dapercepção ambiental.

A percepção ambiental é o entendimento os seres humanos possuem do meio emque vivem, por meio da influência dos fatores sociais e culturais. De acordo com Tuan (1983),não são simples sensações, mas que são significados atribuídos ao ato de perceber.

Segundo o Programa MAB (UNESCO, 1973), um dos objetivos importantes daspesquisas baseadas na percepção ambiental consiste em obter uma compreensãosistemática e científica do ponto de vista obtido a partir do indivíduo ou do grupo, com vistasa completar a pesquisa científica tradicional, abordada no exterior do ser humano.

O ponto de vista interior é caracterizado pelo hábito e por uma longa experiência(conhecimento popular) associados frequentemente a um estranhamento no que se relacionaas intensas transformações do mundo contemporâneo; é algo bastante subjetivo. Do con-trário, o ponto de vista exterior é associado ao desenvolvimento, à ação, e à objetividade,face à tradição interior e à resistência à mudança.

O comportamento ambiental e as respostas ao meio ambiente variam de acordocom as escalas de percepção e de valor. O aspecto mais importante não é a sua percepçãoou o seu significado, mas sim, a sua tomada de consciência, considerando-se a tomadade consciência não como uma simples informação dada pela percepção, mas essencial-mente uma conceituação. Esta tomada de consciência ocorre quando o indivíduo procuradecompor a situação ou o acontecimento em níveis conceituais, ao invés de meramenteregistrarem-se modificações.

Portanto, pode-se afirmar que é preciso que as pessoas desenvolvam um conheci-mento sobre o assunto. Na gestão ambiental a participação de todos os indivíduos é primor-dial; ela que assegurará as profundas transformações que se estão gerenciando. Contudo,essa participação não se dá de forma totalmente espontânea, ela é aprendida, e ai que aeducação entra em cena: é necessário que um programa de educação ambiental acompanhetodo o processo de implantação e execução do sistema, visando inclusive a sua continuidade,com respeito ao meio ambiente e a utilização racional dos recursos.

São objetivos fundamentais da educação ambiental:• Despertar a consciência e sensibilizar frente às questões pertinentes à relação sociedade-

meio ambiente;• Conhecimentos sobre as questões ambientais;• Estimular a mudança de comportamentos e explicitar as maneiras como isso pode ser

realizado;• Desenvolver habilidades através da apresentação de programas de educação ambiental.

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• Fundamentos da Educação Ambiental

Há uma grande dificuldade em se definir indicadores para ações denatureza tão qualitativa e subjetiva quanto as ações educativas. Não é possívelaplicar “testes de conhecimentos”, aferindo-se então notas ou conceitos. Paraverificar se as ações educativas estão atingindo seus objetivos, torna-senecessário avaliar especialmente as mudanças de opinião e as mudançasde comportamento, que podem ser medidas em termos de resultados

quantitativos, por exemplo, no consumo de energia e água, na diminuição de dejetos gerados,no aumento de resíduos recicláveis e no aumento da reutilização de materiais (esse exercíciopode ser feito com os alunos do ensino fundamental e médio).

Os indicadores de desempenho das ações14 de educação ambiental devem,fundamentalmente, ter como parâmetros os fundamentos gerais da educação ambiental,que também devem orientar a definição das próprias ações educativas.

Estes fundamentos são:Sensibilização/conscientização; Conhecimento/compreensão; Habilidades;

Participação/ação; Mudança de valores e comportamentos.

1. Sensibilização e Conscientização: Trata-se, em grande parte, da divulgaçãodos programas e das atividades, bem como dos conceitos ambientais. É uma ação deenvolvimento e motivação dos alunos. Estes conhecimentos visam despertar o interesse daspessoas, levando-as a se sensibilizarem pelos programas ambientais e a se conscientizaremda necessidade de mudarem seus comportamentos e valores.

2. Conhecimento e Compreensão: entende-se como conhecimento específico,ge-ralmente para um público-alvo ou para um aspecto ambiental especial. Estesconhecimentos são elaborados por técnicos das áreas específicas abordadas.

3. Habilidades: entendem-se como as aptidões específicas adquiridas através dasaulas, necessariamente, iguais para todos os alunos.

4. Participação e Ação: aqui se compreende o engajamento das pessoas nos pro-gramas e nas ações educativas. Pode-se dizer que o objetivo educativo será atingido defato se os alunos participarem espontaneamente. Porém, o fato deles participarem de qual-quer forma, às vezes até por pressão, poderá trazer resultados positivos, pois a repetiçãoconstante de um ato acaba gerando adaptação, e esta poderá levar a uma mudança cons-ciente de valores e comportamentos. Sem contar, é claro, que toda ação positiva geraresultados também positivos.

5. Mudança de Valores e Comportamentos: este é o conjunto de indicadores maissubjetivos de todos, pois dificilmente poderá ser medido numericamente – a não ser pelosresultados obtidos nos programas implantados. Além disto, não se refere apenas aquelasações que objetivem resultados positivos para a instituição, mas sim, refere-se à mudançaconsciente de cada indivíduo, passando a ter um comportamento diferente na sua relaçãoindivíduo-meio ambiente e sociedade-meio ambiente. É aqui que realmente se pode atingiruma mudança na qualidade de vida das pessoas.

14 Conteúdo extraído das sugestões adotadas pelo Sistema de Gestão Ambiental - SGA da FURB(Universidade Regional de Blumenau-SC) pela Resolução Nº195/99 do Conselho de Ensino, Pesquisa eExtensão, de 17/12/1999, através criado por meio da Política Ambiental da Universidade.

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Sociedade e Ambiente: O Papel Transformador da Escola

A Necessidade de Reinventar a Escola

Sem negar a tradição fundadora de qualquer instituição social, é preciso que nosquestionemos profundamente acerca do sentido da escola para as novas gerações de nossasociedade. Segundo Moll (2006), estamos diante de problemas que ganham novos matizesdiante das novas exigências e dos novos desafios do presente:

• Problemas relacionados à distância que existe entre a escola e a família;• Problemas relacionados à indisciplina;• Problemas não-aprendizagens;• Problemas em relação ao uso da coerção, da repressão que impede a livre expres-

são de idéias, comprometendo o futuro da própria democracia e, portanto, a possibilidadede avanço nas formas de convivência social.

Há quem pense – e proponha – que novos métodos de ensino ou novos processosavaliativos ou novas disciplinas no currículo escolar ou novos materiais pedagógicos ou aintrodução de novas tecnologias de comunicação e informação podem resolver ou, pelomenos, minimizar o mal-estar vivido pela escola.

A perspectiva filosófica de Edgar Morin, que propõe a leitura do mundo sob a formado holograma, ou seja, buscando na parte o todo e no todo a parte, os problemas que aescola vive, de certo modo, refletem os problemas da contemporaneidade. Sendo ainstituição escolar constituída e constituidora do modo moderno de vida, coletânea dosprocessos de industrialização e urbanização, que mudaram a face do mundo ocidental pósséculo XVIII, pode-se afirmar que a crise da escola é a própria crise da modernidadee vice-versa.

Por esse motivo, qualquer perspectiva de modificação real da escola passa pelasua revisão como instituição social. Sem negar a tradição fundadora de qualquer instituiçãosocial, é preciso que nos questionemos profundamente a cerca do sentido da escola paraas novas gerações de nossa sociedade, assim como nos questionemos acerca de outroscânones instituidores das formas de ser e de estar no nosso tempo, como a família e asinstituições democráticas.

Nessa perspectiva, surgem diferentes iniciativas que buscam redesenhar contornosinstitucionais da escola, rompendo com a rigidez organizativa de tempos, espaços, camposde conhecimento e com o isolamento que a tem caracterizado desde sua gênese. Taismovimentos, dos quais podem ser emblemáticos a escola nova e a escola construtivista,respectivamente nas primeiras e últimas décadas do século XX, buscaram reformular aspráticas pedagógicas desde o interior da escola.

Sem desconsiderar a importância de tais processos, é preciso focalizar movimentosmais amplos que buscam transformar as formas de ser e de atuar da instituição escolar,convertendo a escola em “comunidades de aprendizagem”, ou movimentos que tentamconectar a escola às redes sociais e aos itinerários educativos que estão no seu entorno noespaço urbano da construção da “cidade educadora”.

Escola e a Comunidade Aprendendo Juntas

Tendo origem em experiências norte-americanas e espanholas, na década de 80 doséculo XX, a proposta de comunidade de aprendizagem implica sair da perspectiva isoladaque caracteriza a escola para a construção de uma comunidade na qual, além dosprofessores e especialistas, os próprios alunos, os pais e os demais membros da comunidade

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tomem parte ativa nas decisões e nos projetos que definem, planejam, avaliam,acompanham as trajetórias educativas que os alunos percorrem em seus anosde vida escolar.

De forma bastante ampliada, a idéia da cidade educadora, que nascea partir de uma rede de cidades convertida em associação internacional(Associação Internacional de Cidades Educadoras – AICE) em um congressona cidade de Barcelona, em 1990, firma-se no pressuposto de que a cidadeadmita e exerça funções pedagógicas para além de suas tarefas econômicas,

sociais e políticas tradicionais.Nessa perspectiva, a escola compõe uma “rede” de possibilidades educativas, exercendo

sua especificidade e recolocando-se na relação com os outros espaços de educação na cidade.Nesse sentido, tanto o conceito de comunidade de aprendizagem permite reinventar

a escola no mesmo movimento que busca reinventar a cidade e nela a comunidade comolugares de convivência, de diálogo, de aprendizagens permanentes na perspectiva doaprofundamento da democracia e da afirmação das liberdades.

Em primeiro lugar, coloca-se a necessidade de ver a educação para além da escolatambém na escola, mas não só como responsabilidade de professores e especialistas. Aeducação das novas gerações é responsabilidade de todos os que coabitam no mesmoespaço, mas também, em escala planetária. A partir dessa visão local e global, é necessário,para não dizer urgente, que comecemos o diálogo, para além das instituições escolares,sobre nosso(s) projeto(s) educativo(s). Que olhares os diferentes atores sociais (associaçõesde bairros, grupos ecológicos, empresariado, clubes de serviço, sindicatos, partidos políticos,etc.) dirigem às crianças, aos adolescentes e aos jovens em nossa sociedade?

Nesse aspecto, certamente reside uma dificuldade fundamental: não estamoshabituados ao diálogo e à aproximação com outros atores da cena social. A AICE propõecomo agente mediador desse diálogo o poder público municipal. As linhas estratégicaspropostas coletivamente no Projeto Educativo de Cidade, realizado na cidade espanholade Barcelona são as seguintes:

• Dimensão Social: aprofundar a dimensão social e comunitária da educação,promovendo um compromisso estável dos agentes sociais em distritos e bairros.

• Igualdade de Oportunidades: desenvolver as ações adequadas para melhorar aigualdade de oportunidades diante das mudanças tecnológicas, econômicas,sociais, culturais e institucionais.

• Formação Profissional: adequar as diversas possibilidades de formaçãoprofissional às necessidades do entorno produtivo da região metropolitana.

• Cidadania Ativa: promover uma cidadania ativa, crítica, responsável e aberta àdiversidade.

• Sustentabilidade e Qualidade de Vida: formar a cidadania no uso sustentáveldos recursos e promover um ecossistema urbano integrado que melhore a qualidadede vida das pessoas.

• Inovação e Conhecimento: capacitar as pessoas para a inovação e a gestãoconhecimento em todos os campos da ciência, da cultura e das tecnologias.

• Qualificação e Sistema Educativo: aproveitar as oportunidades que oferece apara melhorar a gestão, o planejamento e a qualificação do sistema educativo.

Essas linhas estratégicas acima mencionadas - firmadas por representantes do poderpúblico, dos sindicatos, das associações de estudantes, da câmara de comércio, de gruposde ecologistas, entre outros - pensam a cidade em seu conjunto, com ações que envolvemo cruzamento de diferentes instituições, o uso dos espaços urbanos, a disponibilização de

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Atenção Atenção Atenção Atenção Atenção !!!!!

tempo para as novas gerações, bem como a afirmação de novos horizontes e compromissospor parte da comunidade especificamente escolar. Assim, todos os que vivem na cidadeconvertem-se em educadores.

Contudo, para pensar-se a cidade educadora, é necessário – diria até mesmoimprescindível – construir a interlocução mais local, a interlocução com a comunidade,considerando-se que a escola pode ser o agente mediador e desencadeador desse diálogo.

Escola: Espaço Acolhedor e Crítico

De acordo com Moll (2006) é preciso perguntar-se se a escola está inscrita sim-bolicamente como espaço de acolhida e de pertencimento na vida da comunidade, cons-tituindo-se como um agente legítimo para desencadear esse diálogo.

É preciso perguntar-se também em que medida a escola ainda desempenha – edeve desempenhar – a função de socializar os saberes, as experiências, os modos de vidaproduzidos pela humanidade ao longo de sua história, função que a diferencia de outrasinstituições sociais.

Tais indagações podem introduzir-nos em itinerários de reinvenção da escola e deconstrução tanto da comunidade de aprendizagem quanto da cidade educadora comoespaços nos quais, o diálogo, a participação e a cooperação aconteçam em suas plenitudes.

Recolocar a escola na cena urbana, tirá-la de um certo lugar de invisibi-lidade, construir condições para que as novas (e também velhas) gerações(re)aprendam a cidade, na cidade e da cidade e (re)aprendam a conviver colo-cam-se como possibilidade histórica de nos reinventarmos como sociedade.Colocar a escola em rede com a comunidade e a cidade, não significa despí-lade uma tarefa que é eminentemente sua em relação às novas gerações.

Tem sido atribuído àeducação escolar funções epapéis complementares nacons-trução da sociedade, quedela garimpam sua essência ea transformam em um instru-mento de múltiplas funções,impedindo-a de compor suatarefa principal: preparar o serhumano para o exercício dacidadania, na modernidade.

Isso significa formar ho-mens capazes de convivernuma sociedade em que se cru-zam vários caminhos e inúme-ras influências mundiais dacultura, da política, da econo-mia, das ciências e da técnica.

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2.....O conceito de desenvolvimento sustentável é um dos mais debatidos na atualidade.Justifique a importância dessa discussão no contexto mundial.

1.....Na convenção de Kyoto foi estabelecida uma meta de cortar 5,2% de emissões dedióxido de carbono sobre os valores registrados em 1990, com prazo até o ano passado.Assim, para que fossem alcançados os parâmetros globais de poluição, surgiu a seguinteproposta: os países poderiam negociar direitos de poluição, ou seja, um país com altosníveis de emissão de gases na atmosfera poderia pagar a outro país que estivesse com osníveis de poluição abaixo do limite comprometido. O que você pensa acerca disso?

AtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividadesComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares

A escola, portanto, tem como tarefa urgente preparar o homem para viver na sociedadeatual, e não para viver nostalgicamente, na sociedade do passado, ou buscar de maneirasôfrega e desordenada a sociedade do futuro.

Repassa-se para o espaço escolar todas as questões: a fome, a crise social, odesemprego, a falta de segurança, etc.

A rapidez, ou melhor, a velocidade com que todas estas questões e outros temasigualmente variados, chegam até a escola é de impressionar, fascinar, abismar e deprincipalmente assustar. É um processo contraditório que se passa dentro dela mesma, elaé influenciada e influencia a realidade social, sofre as influências das variadas concepçõesde cultura, de homem e de cidadania, presentes na sociedade.

O futuro chegou, pela porta da frente da escola, trouxe na bagagem, entre outrasambigüidades a serem vivenciadas, experimentadas e superadas, o poder da transformação.

De acordo com Souza (2006), hoje não se vive mais a cultura de aldeia,o mundo é ma-is largo e vasto que o centro do nosso próprio umbigo, apesarda brava resistência de poucos.

Estamos vivendo numa sociedade em que as relações culturais,políticas, econômicas, científicas e técnicas são universais, rompendo asfrágeis fronteiras dos limites individuais e locais. Somos uma sociedade quecaminha rumo à globalização.

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3.....Três pensamentos existem acerca da produção industrial e o meio ambiente: o primeiroacredita na existência dos benefícios sociais relativos a uma maior preservação ambiental,resultante de padrões e regulamentações mais rígidos; o segundo, que tais regulamentaçõeslevariam a um aumento dos custos privados do setor industrial, elevando preços e reduzindoa competitividade das empresas, e um terceiro pensamento que acredita que no momentoque as empresas são capazes de ver as regulamentações ambientais como um desafio,passam a desenvolver soluções inovadoras e, portanto, melhoram a sua competitividade.Qual desses posicionamentos você considera mais benéfico na construção de um desen-volvimento sustentável? Justifique.

4.....Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) o Meio Ambiente aparece como tematransversal. Justifique essa afirmativa apontando seu caráter trans/interdiciplinar.

5.....Como a escola pode reinventar-se ao ponto de conseguir integrar-se à comunidadee à cidade, tornando-se um espaço acolhedor e crítico?

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AtividadeOrientada

Prezado aluno, prezada aluna!

A atividade orientada abaixo descrita será realizada em três etapas. Estas deverãoser desenvolvidas em trio; no entanto, a última etapa, deverá, também, ser realizadaindividualmente. Leia cada enunciado atenciosamente, de forma a contribuir para a execuçãocorreta do que se pede.

Bom trabalho!

Catalogando e Mapeando a Distribuição Industrial no Brasil

As atividades industriais desempenham na sociedade moderna um papel crucial naorganização do espaço geográfico. A partir da Revolução Industrial o mundo se transformae ao longo do século XX, finalmente, torna-se urbano.

Neste contexto urbano-industrial, observamos áreas que se destacam pela suadensidade de sistemas técnicos promovendo uma maior fluidez, em detrimento de áreasdesprovidas destas mesmas características.

Desta forma, propomos analisar as repercussões e especificidades espaciais dadistribuição industrial brasileira, objetivando, um melhor entendimento da dinâmica sócio-econômica entre as unidades da federação.

Destaco, do mesmo modo, a importância desta atividade para a formação do pro-fessor de Geografia que futuramente deve trabalhar a pesquisa como forma de ensino,preparando seus alunos para uma maior autonomia e cidadania.

Dessa forma, delineando as competências e habilidades desse período, assim como,lançando mão dos conhecimentos adquiridos ao longo das outras disciplinas do curso,grupos de no máximo 03 ALUNOS deverão coletar, tratar e mapear os dados referentes aconcentração industrial no Brasil.

Procedimentos para a execução desta etapa:

•Coleta de Dados e Tratamento estatístico:

1. Você deverá acessar o site do IBGE (os links necessários estão indicados abaixo)e buscar informações sobre o CADASTRO DE EMPRESAS POR UNIDADE DAFEDERAÇÃO;

Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa 1

Download Estatística 2004 Economia_Cadastro_de_Empresas Unidades.zip

Acesse o site:http://www.ibge.com.br/

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa 2Artigo: A Distribuição da Indústria no Brasil

Na etapa 1 da atividade orientada você construiu um mapa a partir de uma base dedados com informações geográficas, neste caso a concentração industrial no Brasil. Assim,para a formação do professor crítico e reflexivo é necessário não somente a descrição,mas, principalmente a análise dos processos sociais que configuram o espaço geográfico.

Em posse do mapa construído, leia atentamente os trechos de dois textosapresentados abaixo:

2. Organizar os dados visando uma leitura e análise mais detalhada;

3. Classificação dos dados.

•Elaboração do Mapa

A partir da classificação feita anteriormente e utilizando o mapa base disponibilizado,produzir um mapa aplicando uma técnica que represente a espacialização dos dados coletados.

ObserObserObserObserObser vvvvvaçãoaçãoaçãoaçãoação

A base para a confecção do mapa será disponibilizada em anexo.

A concentração espacial

“[...] A concentração industrial é uma tendência em nosso sistema econômico,que torna difícil a manutenção de estruturas de mercado que favoreçam aconcorrência. O fato de que a livre concorrência é um dos princípios norteadoresda ordem econômica no Estado brasileiro, se contrapõe à constatação de que aconcorrência pura é praticamente inexistente, predominando na economia estruturasde mercado bastante concentradas.”

“[...] A distribuição espacial da indústria brasileira, com acentuada concentraçãoem São Paulo, foi determinada pelo processo histórico, já que no momento do inícioda efetiva industrialização, o Estado tinha, devido à cafeicultura, os principais fatorespara a instalação das industriais, a saber: capital, mercado consumidor, mão-de-obrae transportes”.

Fonte: MOREIRA, Rui. Indústrias no Brasil. Ática: São Paulo, 2001.

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Indústria e Meio Ambiente

“[...] a organização do meio ambiente acompanha a evoluçãoda indústria. A intervenção da indústria por intermédio da sua escalade tecnologia é uma remodeladora do entorno ambiental, reordenando-o espacialmente sob diferentes formas. Por longo tempo na história, aindústria seguia os traços gerais desse entorno, remodelando-o semalterá-lo fortemente. Nos últimos séculos, entretanto, desde a revoluçãoindustrial, esta relação se torna desfavorável para o meio ambiente, aindústria alterando-o e mesmo destruindo-o drasticamente.”

Acesse o site:http://www.sescsp.org.br/sesc/images/

upload/conferencias/185.rtf○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Saiba mais!

Os textos acima versam sobre duasabordagens pertinentes ao estudo da Geografia daIndústria: a CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL e aINDÚSTRIA E O MEIO AMBIENTE. A partir daleitura desses fragmentos e da leitura do MaterialImpresso desta disciplina, utilize o mapa construídona etapa 1 para analisar como estão distribuídas asindustriais no território brasileiro e, a partir daíCONSTRUA UM TEXTO DISSERTATIVO.

Esse texto deverá ser construídoINDIVIDUALMENTE apresentando as análises inferidasdo mapa no tocante à distribuição espacial atual daindústria no Brasil.

É importante lembrar que esse TEXTO deverá estar amparado nas normas daABNT, portanto, mesmo que de forma breve deverá conter uma Introdução, Metodologia,Discussão e Conclusão.

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Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa 3Debate

Na construção do mapa sobre a distribuição espacial da indústria no Brasil, vocêpercebeu se há ou não uma concentração em determinadas regiões geográficas.

O trabalho, como é visto hoje é reflexo direto das atividades industriais. A indústria eo seu advento na Revolução Industrial trouxe conseqüências positivas e negativas, sejapara a sociedade, seja para o meio ambiente.

Após a leitura reflexiva dos materiais propostos, a turma deverá se reunir em equipesde no máximo 04 PESSOAS. Cada equipe deverá escolher dois aspectos positivos e doisaspectos negativos da atividade industrial. Após a discussão em grupo, a turma deverá sereunir e proceder da seguinte forma:

• A primeira equipe vai elencar um aspecto positivo da indústria;

• A seguir, a equipe que tiver um argumento diretamente contrário à primeira deverárequerer a voz e argumentar;

• Por sua vez, a equipe que argumentou sobre os aspectos negativos deveráagora,anunciar um aspecto positivo. Outra equipe que tenha um argumento contráriosolicitará a voz e contra-argumentará.

• Esta dinâmica deverá ser continuada até todas as equipes lerem e discutirem osseus argumentos positivos e negativos da atividade industrial.

Já que estamos propondo que vocês trabalhem e relacionem o conteúdo de Geografiada Indústria com Cartografia e Teoria da Geografia. Aproveitamos como sugestão que osargumentos escolhidos por cada equipe sejam trabalhados e utilizados como sub-temaspara a disciplina PPP IV. Estes argumentos, sejam positivos ou negativos deverão sertransversais aos temas:

−−−−− Cidadania;

− Meio Ambiente.

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GlossárioGlossárioGlossárioGlossárioGlossário

Automação – evolução tecnológica do processo produtivo industrial ao ponto depoder dispensar mão-de-obra dos trabalhadores.

Barreiras protecionistas – trata-se de uma série de barreiras erguidas pelos paísespara que seus produtores locais não sejam afetados pela concorrência estrangeira. As maiscomuns são os embargos sanitários e os subsídios.

Conjuntura – contexto atual da economia nos mais diversos aspectos.

Desemprego estrutural – que não é motivado por nenhuma crise determinada daeconomia, resulta das mudanças da estrutura da economia. Estas provocam desajus-tamentos no emprego da mão-de-obra, assim como alterações na composição da economiaassociada ao desenvolvimento.

Estado-Mínimo – como muitos chamam, é a política de abertura dos mercados pa-ra o sistema capitalista neoliberal, onde o Estado intervém muito pouco na economia.

Flexibilização – mudanças no processo produtivo e nas condições de trabalho deacordo com os ditames das mutações econômicas e sociais.

Globalização – é um dos processos de aprofundamento da integração econômica,social, cultural e espacial e barateamento dos meios de transporte e comunicação dospaíses do mundo no final do século XX.

Incentivos fiscais – os incentivos fiscais são estímulos criados pelo Estado paraimpulsionar, por meio de parcerias com a iniciativa privada, determinados setores eatividades de relevância para a política econômica de um país.

Livre mercado – um mercado idealizado onde todas as ações econômicas e açõesindividuais respeitantes a transferência de dinheiro, bens e serviços são “voluntárias” - ocumprimento de contratos voluntários é, contudo, obrigatório. A propriedade privada éprotegida pela lei e ninguém pode ser forçado a trabalhar para terceiros.

Mão-de-obra especializada – o termo usado para referir-se a um conjunto depessoas ou a uma população que possui habilidades específicas exigidas pelo mercadode trabalho.

Matéria-prima – é o nome dado a um material que sirva de entrada para um sistemade produção qualquer.

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Maquinofatura – estágio produtivo iniciado com a Revolução Industrial, caracterizadopelo emprego maciço de máquinas e fontes de energia modernas, produção em larga escala,grande divisão e especialização do trabalho e, atualmente, pela automação industrial.

Mecanização – é o uso de máquinas para substituir o trabalho manual ou animal, etambém pode-se referir ao uso delas para auxiliar uma operação humana.

Modo-de-produção – é a forma de organização sócio-econômica associada a umadeterminada etapa de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção.Reúne as características do trabalho preconizado, seja ele artesanal, manufaturado ouindustrial.

Multinacionais – é uma empresa que opera / fabrica em dois ou mais países diferentes.

Neoliberalismo – é o termo ao qual se referem políticas liberais adotadas porgovernos nacionais desde fins do século XX, inspiradas no liberalismo clássico.

Planejamento estratégico – é um processo gerencial que permite que se estabeleçaum direcionamento a ser seguido pela empresa, com o objetivo de se obter uma melhorrelação entre a empresa e seu ambiente, sendo também utilizado pela gestão pública.

Privatizações – processo de venda das Empresas Estatais por partes dos Governoscom o objetivo de gerar recursos e diminuir despesas.

Trustes – é uma forma de oligopólio na qual as empresas envolvidas abrem mão desua independência legal para constituir uma única organização, com o intuito de dominardeterminada oferta de produtos e/ou serviços. Pode-se definir truste também como umaorganização empresarial de grande poder de pressão no mercado.

Transgressão marinha – avanço dos mares por sobre as terras emersas, gerandouma conseqüente elevação do nível do mar. Pode ser causado por fatores diversos, comopor exemplo, o abatimento de algumas regiões ou pelo derretimento de grandes extensõesda calota polar. É o contrário de regressão marinha.

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