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PESQUISA E INTERDISCIPLINARIDADE I

06-PesquisaeInterdisciplinaridadeI

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disciplina pesquisa interdisciplinaridada nas organizaçoes

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PESQUISA E

INTERDISCIPLINARIDADE I

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PESQUISA E

INTERDISCIPLINARIDADE I

1ª Edição - 2008

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IMESInstituto Mantenedor de Ensino Superior Metropolitano S/C Ltda.

William OliveiraPresidente

Samuel SoaresSuperintendente Administrativo e Financeiro

Germano TabacofSuperintendente de Ensino, Pesquisa e Extensão

Pedro Daltro Gusmão da SilvaSuperintendente de Desenvolvimento e Planejamento Acadêmico

André PortnoiDiretor Administrativo e Financeiro

FTC - EADFaculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância

Reinaldo de Oliveira BorbaDiretor Geral

Marcelo NeryDiretor Acadêmico

Roberto Frederico MerhyDiretor de Desenvolvimento e Inovações

Mário FragaDiretor Comercial

Jean Carlo NeroneDiretor de Tecnologia

Ronaldo CostaGerente de Desenvolvimento e Inovações

Jane FreireGerente de Ensino

Luis Carlos Nogueira AbbehusenGerente de Suporte Tecnológico

Osmane ChavesCoord. de Telecomunicações e Hardware

João JacomelCoord. de Produção de Material Didático

EquipeAndré Pimenta, Antonio França Filho, Amanda Rodrigues, Bruno Benn, Cefas Gomes, Cláuder Frederico, Francisco França Júnior, Herminio Filho, Israel Dantas, Ives Araújo,

John Casais, Márcio Serafim, Mariucha Silveira Ponte, e Ruberval da FonsecaImagens

Corbis/Image100/Imagemsource

Produção AcadêmicaJane Freire

Gerente de Ensino

Jean Carlo Bacelar, Leonardo Santos Suzart,Wanderley Costa dos Santos e Fábio Viana Sales

Supervisão

Matos MoreiraCoordenação de Curso

Marcos SoaresAutoria

Produção TécnicaJoão JacomelCoordenação

Carlos Magno Brito Almeida Santos eMárcio Magno Ribeiro de MeloRevisão de Texto

Antonio França de S. FilhoEditoração

Antonio França de S. FilhoIlustrações

copyright © FTC EADTodos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98.

É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia, por escrito, da FTC EAD - Faculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância.

www.ead.ftc.br

MATERIAL DIDÁTICOMATERIAL DIDÁTICO

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SUMÁRIO

PESQUISA E INTERDISCIPLINARIDADE _________________________ 7

CONHECIMENTO, INTERDISCIPLINARIDADE E PESQUISA _____________ 7

CIÊNCIA E CONHECIMENTO __________________________________________________ 7

DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA INTERDISCIPLINARIDADE _______________________14

PESQUISA, PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO E PROBLEMAS SOCIAIS __________________19

PESQUISA E ÉTICA __________________________________________________________21

ATIVIDADE COMPLEMENTAR _________________________________________________22

AS CIÊNCIAS SOCIAIS, A FORMAÇÃO DO HOMEM INTEGRAL E SUAS INFLUÊNCIAS NO MUNDO DO TRABALHO _________________________23

PESQUISA E PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO SÉCULO XXI_______________________23

AS CIÊNCIAS SOCIAIS E SEU PAPEL PARA FORMAÇÃO DO HOMEM INTEGRAL ___________24

CONCEPÇÃO HOLÍSTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO _________________________26

O DESAFIO DO NOVO PARADIGMA DO CONHECIMENTO ___________________________28

ATIVIDADE COMPLEMENTAR _________________________________________________31

GLOSSÁRIO _____________________________________________________________32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________________33

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Querido (a) aluno (a),

Na disciplina Pesquisa e Interdisciplinaridade I estaremos enfatizando, como parte da sua formação, a importância da produção do conhecimento, com destaque para a pesquisa como ferramenta indispensável a esta em-preitada imbuídos do objetivo de empreender em possibilidades de saídas exeqüíveis, para os problemas organizacionais e sociais. Para tanto, dare-mos destaque ao entendimento do processo de consolidação da ciência no Ocidente, visto que a opção por esta via de conhecimento, em detrimento das outras, nos obriga a melhor compreendê-la.

A discussão da interdisciplinaridade também será tratada aqui com vistas a estabelecer a devida relação entre as várias áreas do conhecimento ten-tando entendê-lo. E assim possibilitar um “novo” olhar sobre o diálogo entre as várias disciplinas que compõem o seu curso, mostrando como cada uma delas pode ajudá-lo a perceber a dinâmica social e a sua inserção enquanto indíviduo neste processo. Portanto, conhecimento e vida se confundem.

Ainda nesta oportunidade, visto que a necessidade demanda e a razão justifica, trataremos de discutir as concepções de homem integral, pois fa-zem parte da discussão, no mundo mais atual, sobre as questões inerentes à formação profissional, onde discutir educação e produção de conhecimen-to, sem sabermos qual o fim da utilização do mesmo e onde se quer chegar com este, não daria sentido à nossa busca.

Sabemos que a nossa tarefa não é fácil, mas o prazer de podermos acessar novos conhecimentos é impagável. Na certeza de que você não irá resistir a este fascinante desafio, fica o convite. Um grande abraço.

Prof. Marcos Soares

Apresentação da DisciplinaApresentação da Disciplina

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Pesquisa e Interdisciplinaridade I 7

PESQUISA E INTERDISCIPLINARIDADE

CONHECIMENTO, INTERDISCIPLINARIDADE E PESQUISA

CIÊNCIA E CONHECIMENTO

Qual o signifi cado de Ciência?

Do latim — scientia, saber que se adquire pela leitura e pela meditação, conjunto organizado de conhecimentos adquiridos pela observação e análise de um método próprio; ciente, conhecimento, saber, informação.

E de Conhecimento?

Ato de conhecimento; idéia, informação, notícia, discernimento, conhecimento da própria existência.

Dicionário Aurélio

Ciência e sua história

Descobrir a gota ocasional da verdade no meio de um grande oceano de confusão e mistifi ca-ção requer vigilância, dedicação e coragem. Mas, se não praticamos esses hábitos rigorosos de pen-sar, não podemos ter a esperança de solucionar os problemas verdadeiramente sérios com que nos defrontamos — e nos arriscamos a nos tornar uma nação de patetas, um mundo de patetas, prontos para sermos passados para trás pelo primeiro charlatão que cruzar o nosso caminho. SAGAN

Dicionário Melhoramentos

Só se consegue entender, explicar e modifi car aquilo de que se conhecem as características e a his-tória. Por esta razão, trilhar o caminho dos antepassados pode representar, para o ser humano do século XXI, uma forma efi caz de entender o presente e de se preparar para o futuro.

Aqui, inicialmente, serão mencionados fatos e acontecimentos que modifi caram a evolução da his-tória da ciência (DAMPIER, 1961), intencionalmente organizados de forma a correlacionar o progresso à vida do homem. Conhecer esses marcos poderá contribuir para a formação de uma visão sistêmica da história, assim como permitirá destacar a importância do desenvolvimento e do cultivo do espírito crítico e do comportamento científi co e investigativo para a melhoria das condições de vida.

Há divergências entre autores sobre a caracterização do período que sucedeu à metade do século XX como Era Pós-Moderna. Não se questiona o fato de que o avanço da tecnologia, a globalização e as mudanças nas formas de comunicação entre os povos, entre outros fatores, mudaram o cenário da Era

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Industrial. É fato que os fatores que caracterizaram a Era Industrial já não se fazem mais presentes; há inequívocos sintomas de que há uma época nova surgindo.

As questões que se colocam estão, inicialmente, na limitação do termo pós. Como denominar o que virá após a era PÓS? Além disso, denomina um período da história ainda em transição, em mudanças. O registro histórico pressupõe um distanciamento temporal, para permitir a visão sistêmica do “antes” e do “depois” e suas implicações.

Antigüidade Clássica

Os povos antigos, egípcios, gregos, babilônios, chineses, hebreus e outros, deixaram inestimável le-gado de conhecimento e cultura para a humanidade em todas as áreas. Para os propósitos desta discussão, limitar-se-á a pontuar aspectos da cultura grega e romana.

Os gregos — a Grécia, no século V a.C., foi o berço de importante fase da história da humanidade. Sinônimo de democracia, fi losofi a, arte, teatro, esportes e poesia, a Grécia foi, também, precursora de uma idéia moderna e importante: a rede, a network, como chamada hoje em dia.

A Antigüidade Clássica, cujos limites se aproximam de 600 a.C. ao século III d.C., consta de inicia-tivas tais como a autonomia do pensar e a formação de conceitos, a exemplo da maiêutica socrática, bem como da atenção aos aspectos políticos.

Nesse período, a dedicação para estudo e refl exão da vida esteve evidente, tendo destaque pensado-res que, por merecimento, são considerados grandes fi lósofos da humanidade. Dos gregos, a humanidade herdou signifi cativas contribuições para o avanço das ciências e da fi losofi a.

Desse modo, é possível afi rmar que ainda sob outros títulos, como exercício da maiêutica (para Só-crates), superação do mundo sensível (para Platão), busca da Felicidade (para Aristóteles), o olhar sobre o desenvolvimento humano se fez presente por prezar por valores e idéias favoráveis à conquista da au-tonomia, bem como do posicionamento individual e social cada vez mais consciente dos próprios atos.

Os romanos — Eram povos mais práticos, organizados e preocupados com o bem-estar e com a vida material. Destacaram-se como advogados, soldados e administradores. A arte, a ciência e a medicina da Roma antiga eram tomadas de empréstimo dos gregos, quando necessitavam. Os romanos não culti-vavam o espírito investigativo, a refl exão, nem a busca do conhecimento por amor à ciência.

As atividades práticas de todas as naturezas, contudo, fl oresceram em Roma, assim como a pre-ocupação com a qualidade de vida terrena. Efi cientes administradores, legisladores e soldados criaram obras de fundamental importância para o conforto e a proteção à saúde pública, como aterros sanitários, aquedutos para transportar água potável, aparelhos sanitários, hospitais e um serviço médico público, engenharia civil e militar. O gênio prático, capacidade de organização e competência administrativa dos romanos deixaram exemplos até hoje imbatíveis na história da humanidade, como as leis do direito roma-no, presente na regulamentação das leis em todas as nações do mundo. De certa maneira, pode-se com-preender que no contrato, mediante lei, para melhor convivência entre as pessoas encontra-se iniciativa em prol do ser humano e de seu desenvolvimento enquanto pessoa e comunidade.

Idade Média

Em torno do século III d.C. o apego às coisas do espírito, a preocupação em discutir e explicar a razão de ser do homem, sua natureza e fi nalidade, abrem caminho para o domínio da religião. Cresce a força da Igreja, de suas leis e dogmas; o sofrimento terreno passa a ser condição para o acesso ao reino dos céus; nasce e toma força a idéia do pecado, da culpa, da salvação e da danação, transformando as pessoas em rebanho submisso e escravo dos dogmas religiosos.

O acesso a todo o conhecimento, principalmente grego, foi proibido ao homem comum e guarda-do em bibliotecas pertencentes ao clero, que passou a ocupar todos os cargos e postos de poder religioso e político. As pessoas só tinham acesso às verdades declaradas e impostas pela Igreja, que, doutrinaria-mente, as mantinha presas aos preceitos e ensinamentos religiosos. Em termos de descobertas e inven-

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ções científi cas, esse período de dominação da Igreja e imposição da ignorância ao cidadão foi conhecido como “obscurantismo”, vindo subjugar o brilhante espírito grego e a alegria e criatividade romana na família e no Estado.

Os dogmas eram instrumentos efi cazes da Igreja para coibir a curiosidade e os eventuais interesses pela ciência, pela investigação e por questionamentos de toda ordem. Parte do mundo cristão passou a odiar e rejeitar o ensinamento pagão. A história registra tristes exemplos de obediência e passividade que tomaram conta do povo, como a destruição de uma seção da Biblioteca de Alexandria pelo Bispo Teófi lo, cerca do ano 390, e o assassinato de Hipácio, o último matemático de Alexandria, em 415 d.C., com requintes de crueldade, por uma multidão de cristãos, que se supõe ter sido instigada pelo Patriarca Cinilo.

O sofrimento terreno era visto como necessário para a salvação da alma, que já nascia em pecado; uma vida de privações e dor na terra dava às pessoas créditos para subir aos céus, quando morressem. O próprio termo “trabalho” encontra ressonância, no contexto medieval, no termo “tripallium”, ou seja, instrumento de tortura. Sob esta signifi cação, o trabalho era também uma via de salvação; entretanto, ten-do por parâmetro as perspectivas contemporâneas do ato de trabalhar, afi rma-se seguramente que, sob o título de tortura, não promovia o desenvolvimento humano; ao contrário, garantia a submissão.

A medida da fé de uma pessoa era a medida do sofrimento terreno que ela era capaz de suportar. O pecado, que, em síntese, signifi cava desobedecer aos ensinamentos religiosos, levava à perdição da alma; o sofrimento e a penitência eram necessários para purifi car a alma, salvando-a do fogo do inferno. Com tudo isso, a Igreja tinha um propósito: coibir o cultivo da lógica, do uso da razão, do questionamento e da dúvida, essência do conhecimento científi co, para não correr o risco de perder a fi delidade cega, a submissão e obediência das pessoas. Por mais de mil anos, entre os séculos III e XVI, aproximadamente, a ciência pouco ou nada progrediu na Europa.

É interessante notar que nos séculos XIII e XIV, quando já renasciam o gosto e a prática pelo co-nhecimento de toda espécie (época em que deve ter começado a nascer a ciência experimental moderna), a Idade Média passou por um dos momentos mais radicais da história, marcado pelo recrudescimento de suas crenças e práticas de punição e conversão de fi éis e o uso da antiga magia sob a forma de feitiçaria. Alguns autores atribuem esse agravamento dos métodos de punição e controle sobre o homem a uma reação natural da religião, que começa a ver seu poder de manipulação e controle sobre as pessoas amea-çado pelo avanço da liberdade de pensar, investigar e fazer ciência.

Nesse período, o Demônio torna-se um Lúcifer deserdado, objeto de crença, que devia ser opri-mido. Forjou-se, assim, uma nova arma para combater os hereges (aqueles que ousavam duvidar e ques-tionar os ensinamentos divinos): estes podiam ser declarados feiticeiros e contra eles levantada a força das multidões. Após a Reforma Protestante, a injunção bíblica: “Não toleras a presença de feiticeiro!” foi levada às máximas conseqüências.

Renascimento

A história da humanidade é cíclica e mostra que não existem realidades, situações, valores imortais ou eternos. A partir de meados do século XV a religião começou a dar sinais de ser incapaz de deter o impulso natural do homem pela curiosidade, pela sede do saber, e de criar e explicar o mundo. A história é testemunha de que o conhecimento e a ciência, porque cuidam de explicar racionalmente a vida, fazem com que as pessoas abandonem, gradualmente, os mitos e os medos, libertando-se de crenças limitado-ras. O Renascimento, como o próprio nome diz, caracteriza-se por ser a volta, o retorno ao direito do ser humano de pensar racionalmente, de fazer ciência livre e adquirir conhecimentos.

Retornam o direito e a preocupação com a qualidade de vida terrena. Inverte-se a fi losofi a de Aris-tóteles, para quem tudo aquilo que servia ao bem-estar material já tinha sido descoberto, e inicia-se uma época utilitarista. Bacon, no século XVI, refl ete claramente esse momento: “Chega de fi losofi a e poesia, é hora de dedicar-se ao progresso da vida cotidiana.”

Leonardo da Vinci, considerado a maior personalidade do Renascimento, foi pintor, escultor, en-

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genheiro, arquiteto, físico, biólogo e fi lósofo, revelando-se supremo em todos esses assuntos. Para ele, as coisas precisavam ser explicadas, comprovadas, e o único método verdadeiro de se obter conhecimento e fazer ciência era a observação e a experimentação. Apreendeu o princípio da “inércia”, deduziu a lei da alavanca corno fonte de energia, realizou estudos em hidrostática e hidrodinâmica, propagação de ondas na superfície da água e no ar, as leis do som, entre outras contribuições para a ciência.

Muitos fatos impulsionaram o movimento renascentista. A navegação foi facilitada pela bússola magnética, já usada pelos chineses no século XI e levada para a Europa Ocidental um século depois. Ini-ciou-se uma nova fase de descobertas e de invenções, como a pólvora, a redescoberta do moinho d’água, o uso da bússola e a modernização dos arreios dos cavalos. Foram inventados os óculos, a imprensa, o re-lógio. No início do século XV, os navegadores portugueses iniciaram grande período de exploração, des-cobrindo os Açores, em 1419, e, mais tarde, seguindo a costa ocidental da África. Foi, fi nalmente, aceita a teoria de a Terra ser quase esférica e, assim, os navios puderam partir da Europa, atingir a Ásia, a Índia, a China e voltar à Europa. Essas descobertas alargaram o mundo conhecido e o espírito da humanidade. O aumento da circulação monetária, o ouro e a prata, elevando os preços e estimulando a indústria e o comércio, aumentaram a riqueza e deram oportunidade ao lazer, ao estudo e à invenção.

A revolução da ciência, caracterizada pela criação do método científi co de fazer pesquisa, hoje pos-to em questão pela concepção contemporânea de ciência, data dos séculos XVI e XVII, com Copérnico, Bacon, Galileu, Descartes e outros. Não surgiu, porém, do acaso. A descoberta ocasional e empírica de técnicas e de conhecimentos referentes ao universo, à natureza e ao homem, desde os antigos babilônios e egípcios, a contribuição do espírito criador grego, sintetizado e ampliado por Aristóteles, e as invenções feitas na época das conquistas, tudo isso veio preparar o mundo para o surgimento do método científi co e para o desenvolvimento do espírito crítico e objetivo, que veio caracterizar a ciência a partir do século XVI, no início de forma vacilante e, agora, de modo mais vigoroso. Aos poucos, o método experimental foi-se aperfeiçoando e estendendo-se a outras áreas. Desenvolveu-se o estudo da química e da biologia, surgindo um conhecimento mais objetivo da estrutura e das funções dos organismos vivos no século XVIII.

Idade Moderna

Em meados do século XVIII nasceu um novo movimento, o racionalismo, que confi ava na razão humana para a solução dos problemas, em contraposição às soluções que pregavam a emoção, a solução pela religião ou a explicação pela fatalidade. A vida prática do homem do século XVIII não foi muito dife-rente da dos seus antepassados, dos tempos de Júlio César ou de Hamurábi. Este, também, tinha medo de raios e trovões, pestes e eventos que lhe pareciam de ordem sobrenatural, para os quais não possuía uma explicação que não fosse de caráter religioso ou fatalista. Porém, insinuam-se, pela primeira vez, a dúvida e a esperança de que a razão pudesse compreender os eventos, para depois administrá-los e dominá-los. Voltaire, um grande representante dessa época, dizia:

Talvez virá o dia em que o homem saberá, com antecedência, se choverá ou se virá um tempo de seca, e saberá, além disso, como conter um raio. Para chegar a tal ponto, é necessário estudar racionalmente, é necessário nutrir nossa mente, é neces-sário cultivar o nosso jardim.

Assim, da mistura do cientifi cismo com o racionalismo, a ironia e a auto-ironia, nasceu o “iluminis-mo”, que fez do século XVIII o “século das luzes”. O século XVIII foi, também, o século das grandes descobertas do mundo moderno. As Revoluções Industriais, com a invenção da máquina a vapor (1760) e da eletricidade (1860), da locomotiva e do pára-raios, abrem espaço para o surgimento de um novo ser humano, racional, consciente de que é capaz de domar a natureza até nas suas manifestações mais terríveis e caprichosas. Ocorrem progressos em quase todos os campos científi cos — na física, na fi loso-fi a, na biologia —, enquanto a literatura, a arte e a poesia não dão grandes passos além dos já dados no Renascimento.

No século XIX verifi cou-se uma modifi cação geral nas atividades intelectuais e industriais. Surgi-

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ram novos conhecimentos sobre a evolução das espécies, átomo, luz, eletricidade, magnetismo, energia. No século XX, a ciência, utilizando métodos objetivos e exatos, promove o desenvolvimento de pesqui-sas em todas as áreas do mundo físico e humano, atingindo um grau de precisão surpreendente, não só nas navegações espaciais como também nos mais variados setores da realidade.

Essa evolução das ciências tem, sem dúvida, como mola propulsora os métodos e os instrumentos de investigação, advindos do desenvolvimento tecnológico da época, aliados ao espírito científi co, perspi-caz, rigoroso e objetivo. Esse espírito, que foi preparado ao longo da história, impõe-se agora, de maneira inexorável, a todos quantos pretendam conservar o legado científi co do passado, ou, ainda, se propõem a ampliar suas fronteiras.

Ciência — características e modalidades

Etimologicamente ciência é sinônimo de conhecimento. Esta defi nição refere-se a um tipo de co-nhecimento que se propõe a revelar a verdade através do levantamento e análises de suas causas, poden-do, por isso, ser explicado. Pode-se concluir que ciência é um corpo de conhecimentos que trabalha com técnicas especializadas de verifi cação, interpretação e inferência da realidade. Fazer ciência signifi ca bus-car o controle prático da natureza, na qual se produzem, sedimentam e se consolidam, incessantemente, novos meios de dominar a natureza. A ciência se propõe a atingir conhecimento sistemático e seguro, de forma que seus resultados possam ser tomados como conclusões certas, sob condições mais ou menos amplas e uniformes, quando ocorrem os vários tipos de acontecimentos. Assim, a ciência busca preservar os fenômenos e tornar inteligível o mundo.

Para que serve a investigação científi ca?!

A investigação científi ca objetiva contribuir para a evolução do conhecimento humano em todas as áreas e setores da sociedade. Uma pesquisa é considerada científi ca se sua realização for objeto de investigação planejada, desenvolvida e dirigida conforme normas metodológicas aceitas pela ciência. Os trabalhos acadêmicos de graduação e pós-graduação, para serem considerados científi cos, devem produzir ciência ou dela derivar.

Características da Ciência

• Distinção entre essência e aparência

O espírito científi co parte do princípio de que nada se revela na aparência; tudo, para ser explicado, deve ser investigado, criticado, analisado. Essa capacidade de permitir a distinção entre essência e aparên-cia signifi ca que a ciência fornece, através da metodologia, um conjunto de procedimentos racionais, rígi-dos e lógicos, que permitem penetrar na essência dos fenômenos perceptíveis pela inteligência humana, chegando à sua verdade, portanto.

O uso de um método científi co para praticar ciência a diferencia das outras formas de conhecimen-to humano. E uma de suas particularidades é não aceitar nada como verdadeiro se não for comprovado e, mesmo que comprovado, não será para sempre uma verdade, pois, na medida em que tudo pode ser explicado, conclui-se que tudo pode ser melhorado, revisto, reinterpretado.

• Compromisso com a verdade

Ciência não é poesia nem especulação. Tendo como objetivo o conhecimento científi co, a ciência exige respostas que expliquem lógica e racionalmente suas questões: por quê? para quê? como? Para que uma investigação seja considerada centífi ca as hipóteses levantadas e suas conseqüências lógicas, assim como outras explicações do mundo e das coisas, devem ser submetidas a rigorosos testes de equivalência com as coisas observáveis, ou seja, com a realidade, e com outras hipóteses sugeridas.

• Compromisso com a teoria, a análise e a política

O compromisso da ciência com a teoria está no fato de que ela se caracteriza por ser um conjunto de

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princípios, ou conjunto de tentativas de explicação de um número limitado de fenômenos. Cuida de reunir bagagem de conceitos e princípios, racionalmente comprovados para serem utilizados em pesquisas.

Quanto ao seu compromisso com a análise, a ciência se ocupa da explicação, da análise e da aplica-ção dos princípios teóricos encontrados. Procura interpretar fatos, fazer precisões, buscar comprovações. E, com a política, ela tem o compromisso ético de orientar como as coisas devem ou não ser feitas, bali-zando seus resultados para o bem da humanidade. Ela se responsabiliza pela transição entre o que é para o como deve ser. Esta é uma postura ligada ao comprometimento social, à ética.

O Conhecimento

A expressão ERA DO CONHECIMENTO tem sido utilizada para caracterizar o modo de viver da sociedade pós-industrial, ou seja, após a metade do século XX. Seria o caso de se concluir que o co-nhecimento é um produto da Era Industrial surgido apenas nas últimas cinco, seis décadas? Poder-se-ia, portanto, concluir que a Era Industrial, a Clássica, e mesmo a Idade Média, não teriam produzido conhe-cimento? Obviamente que não. O homem sempre conheceu.

A origem da palavra conhecimento é connaissance (palavra francesa que signifi ca naissance = nascer com). O homem, ao contrário do animal, não está no mundo apenas vivendo-o; ele vive e modifi ca o mundo à sua volta. Tenta conhecê-lo (faz ciência) e age sobre ele para transformá-lo (com o uso da técnica, do instrumento).

Refl exão

O conhecimento é uma forma de estar no mundo.

Reflita!

O conhecimento pressupõe um sentido mais profundo que o de informação. É a informação mais valiosa, pois alguém deu a ela um contexto, signifi cado, interpretação. É uma abstração interior, pessoal, de alguma coisa ou objeto que foi experimentado, vivenciado por alguém. São sínteses, cruzamentos, in-ferências, tratamentos e interpretações. simulações, aplicações de informações que permitem a criação de entidades novas ou uma nova visão das já existentes, acumuladas ou modifi cadas, ramifi cações, extensões das já conhecidas. Integra-se ao conhecimento pessoal anterior. Assim, pode-se afi rmar que:

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Conhecer é o processo de compreender e internalizar as informações recebidas do ambiente, possivelmente combinando-os de forma a gerar mais conhecimento.

Tipologia do conhecimento

Uma das formas de se classifi car o conhecimento pode ser: pessoal, particular (tácito) ou compar-tilhado (explícito) com grupos de interesse.

• Conhecimento tácito

O homem conhece quando é capaz de reunir experiências, percepções sensoriais próprias e lembran-ças, idéias formando novos conceitos. Nesse processo, ele está conferindo sentido à realidade que o cerca, criando teorias, métodos, sentimentos, valores e habilidades que utilizará em sua vida. Conhecimento tácito, portanto, pode ser defi nido como a forma pessoal, individual com que cada pessoa interpreta a realidade que a cerca. Como é formado dentro de um contexto social e individual, conclui-se que o conhecimento tácito representa uma realidade externamente provocada, mas internamente determinada. Esse tipo de co-nhecimento é gerado pela pessoa em seu processo do viver do ser. Exemplos de conhecimento tácito são as habilidades, como nadar, andar de bicicleta, etc., que são incorporadas ao ser. São conhecimentos difíceis de serem externalizados, mas passíveis de serem comunicados, ensinados através da troca de informações sobre ele. Pode-se concluir que as habilidades, competências, artes que envolvem prática — física e mental —, adquiridas pelo treinamento, pertencem ao campo do conhecimento tácito.

• Conhecimento explícito

Embora gerado no indivíduo, de forma pessoal, o conhecimento pode ser construído, também, de forma social, grupal. As pessoas mudam ou adaptam os conceitos através de suas experiências e utilizam a lin-guagem para expressá-los, compartilhá-los, comunicá-los. Assim, a expressão acervo social do conhecimento, conhecimento explícito ou conhecimento compartilhado signifi ca que a experiência do indivíduo, tanto histó-rica como biográfi ca, pode ser objetivada, conservada e acumulada, através do veículo da informação.

Tal processo de acumulação é transmitido de uma geração para outra e utilizado pelo indivíduo na vida cotidiana e na convivência com seus pares. O conhecimento explícito é, pois, o conhecimento do individuo, que foi exposto, explicitado, entendido, compartilhado com pessoas do mesmo grupo social, através do pro-cesso de transmissão da informação. Exemplos: conhecimento organizacional, científi co, cultural, profi ssional etc. A experiência, adquirida através da troca de informações, da refl exão, os julgamentos de valor e as relações do indivíduo com a sua rede social pertencem ao campo do conhecimento explícito, compartilhado.

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DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA INTERDISCIPLINARIDADE

O que é Interdisciplinaridade?

Interdisciplinaridade é a integração de dois ou mais componentes curriculares na constru-ção do conhecimento. A interdisciplinaridade surge como uma das respostas à necessidade de uma reconciliação epistemológica, processo necessário devido à fragmentação dos conhecimentos ocorrido com a Revolução Industrial e a necessidade de mão-de-obra especializada. A interdisci-plinaridade buscou conciliar os conceitos pertencentes às diversas áreas do conhecimento a fi m de promover avanços, como a produção de novos conhecimentos ou mesmo novas sub-áreas.

E sua aplicação na produção do conhecimento?

Com o processo de especialização do saber a interdisciplinaridade mostrou-se como uma das respostas para os problemas provocados pela excessiva compartimentalização do conhecimento. No fi nal do séc. XX surge a necessidade de mudanças nos métodos de ensino, buscando viabilizar práticas interdisciplinares.

A não escolar difere da científi ca em termos de fi nalidades, objetos de estudo, resultados, dentre outros.Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Interdisciplinaridade

Interdisciplinaridade e suas caracteristicas

A questão da interdisciplinaridade vem inquietando, estimulando o estudo mais profundo do tema e sugerindo propostas no nível do ensino graduado e pós-graduado, no nível da pesquisa e da extensão.

O que nos tem impulsionado em direção à interdisciplinaridade como proposta alternativa é o fato de reconhecermos a falência do modelo de organização curricular por matérias isoladas, pautado na ra-cionalidade científi ca de cunho neopositivista.

De forma contraditória, este mesmo modelo tem servido, com pequenos arranjos, a projetos pedagó-gicos pretensamente comprometidos com a transformação social. Atribui-se, então, a virtude de “mudança” ao conteúdo programático de determinadas disciplinas sem a necessária revisão nas bases epistemológicas da formação profi ssional. Com isto, os currículos acabam evidenciando mecanismos de manutenção de estrutu-ras educativas funcionalistas e trabalhando espaços muito reduzidos para a sua superação.

A dimensão da contradição e da totalidade, tão necessária ao processo educativo, se esvazia no momento em que a fragmentação do saber vai, por conseqüência, permitindo uma aproximação estru-turalista da realidade, numa análise unilateral. A somatória de referências ao contexto social não é au-tomaticamente representativa deste contexto e não estabelece, por si só, relações entre os conteúdos. A

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repercussão destas distorções toma-se evidente no ensino, na pesquisa, na extensão e, por conseguinte, na ação profi ssional.

Há que se construir um novo modelo de organização curricular que privilegie a unidade e a organi-cidade do saber, que procure articular as aproximações com o real de forma sistemática, que permita uma relação entre sujeito e objeto de forma constituinte e não constituída.

A tarefa é extremamente árdua, num momento histórico dominado pela lógica do processo cien-tífi co. A especialização e a tecnocracia penetram, enquanto ideologia de fundo, nas consciências e nas estruturas sociais, gerando força legitimadora.

Você sabia...

Além de ser um empreendimento de ordem fi losófi ca, científi ca e educativa, a busca da interdisciplinaridade corresponde a um desafi o, por se constituir num ato político de extrema re-levância para a consecução do atual projeto de formação do profi ssional contemporâneo. Este ato implica um redimensionamento da função educativa e da relação escola-comunidade e docentes profi ssionais-grupos das classes populares.

Você sabia?

Para melhor compreender o conteúdo leia o texto a seguir:

Refl exão sobre a importância da Interdisciplinaridade

A busca de uma atitude interdisciplinar, quer na esfera da pesquisa, da prática social ou do ensino, deve ser precedida de uma reavaliação do “papel da Ciência e do Saber em suas relações com o poder”. Não se trata de criar uma superciência, mas de buscar a concorrência solidária das várias disciplinas na construção da totalidade humana.

Reflita!

Para melhor compreender o conteúdo leia o texto a seguir:

SUBSÍDIOS PARA UMA REFLEXÃO SOBRE NOVOS CAMINHOS DA INTERDISCIPLINARIDADE

Antônio Joaquim Severino

A conceituação de interdisciplinaridade é, sem dúvida, uma tarefa inacabada: até hoje não conse-guimos defi nir com precisão o que vem a ser essa “vinculação, essa reciprocidade, essa interação, essa comunidade de sentido ou essa complementaridade entre as várias disciplinas”. É que a situação de inter-disciplinaridade é uma situação da qual não tivemos ainda uma experiência vivida e explicitada, sua prática concreta sendo ainda processo tateante na elaboração do saber, na atividade de ensino e de pesquisa e na ação social. Ela é antes algo pressentido, desejado e buscado, mas ainda não atingido. Por isso, todo investimento que pensadores, pesquisadores, educadores, profi ssionais e especialistas de todos os campos de pensamento e ação fazem, no sentido de uma prática concreta da interdisciplinaridade, representa um esforço signifi cativo rumo à constituição do interdisciplinar.

O projeto positivista e o comprometimento da interdisciplinaridade

Os iniciadores da Ciência não perderam de vista essa ambição do Saber. Perseguiu-os a idéia da

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unidade “cósmica” da Natureza, que incluía até mesmo o homem, dela parte integrante e contínua. To-davia, a imposição e a predominância hegemônica de uma metodologia positivista levaram os cientistas a uma fragmentação do Saber e ao sacrifício da unidade do real. Escravizando-se demais ao protocolo da experiência, o Saber da Ciência positivista leva necessariamente à autonomizaçao dos vários aspectos de manifestação do real. Assim, as intenções manifestas do Positivismo comtiano acabam perdendo terreno para suas implicações latentes: a afi rmação das especialidades prevalece sobre a busca do sistema do uni-verso, convertendo-se antes na afi rmação da sistematicidade do método.

O Positivismo torna-se, portanto, no limiar da contemporaneidade, o maior responsável pela frag-mentação do Saber e o maior obstáculo à própria interdisciplinaridade. E com toda razão, dado que ele se apresenta fundamentalmente como uma Filosofi a da Ciência, tematizando de modo especifi co a questão da natureza, do processo e do alcance e validade do Saber científi co, tendo, portanto, muita autoridade. Mar-cou profundamente as feições da cultura contemporânea, de modo particular no aspecto epistemológico. Consagra a proposta das especializações, que, se não chegaram a comprometer o esforço de unifi cação no âmbito das Ciências Naturais, comprometeram-no, de forma inevitável, no âmbito das Ciências Humanas.

Por isso, buscar hoje caminhos de interdisciplinaridade é tarefa que inclui um necessário acerto de contas com o Positivismo, bem como uma reavaliação de sua herança. É bom entender, no entanto, que esta busca não signifi ca a defesa de um saber genérico, enciclopédico, eclético ou sincrético. Não se trata de substituir as especialidades por generalidades, nem o seu saber por um saber geral, sem especifi cações e delimitações. Assim, já se esclarece um pouco mais o que vem a ser a unidade no interdisciplinar: o que se busca é a substituição de uma Ciência fragmentada por uma Ciência unifi cada, ou melhor, pleiteia-se por uma concepção unitária contra uma concepção fragmentária do Saber científi co, o que repercutirá de igual modo nas concepções de ensino, da pesquisa e da extensão.

Se, de um lado, é de se creditar ao projeto iluminista/positivista uma valiosa contribuição ao denun-ciar e superar a generalidade da construção do Saber metafísico, livrando-nos, assim, do medo do mundo da naturalidade, impõe-se hoje, de outro, debitar-lhe o ônus da fragmentação do Saber, o que exige igual-mente a prática de uma denúncia e o esforço de superação dessa etapa da evolução do Saber. E isso não só por motivos exclusivamente epistemológicos, mas, também, por motivos políticos. A concepção frag-mentária da Ciência, tal qual foi consolidada pelo Positivismo no contexto do mundo contemporâneo, re-laciona-se de forma íntima com um processo de divisão técnica do trabalho humano, que arrasta consigo uma correspondente divisão social do trabalho, diluído no taylorismo da ação técnico-profi ssional. Isso tem graves conseqüências na estruturação da sociedade e na alocação do poder político entre as classes sociais. Além de base epistemológica do desenvolvimento científi co e técnico, o Positivismo passou a ser também o sustentáculo ideológico, extremamente consistente e resistente, do sistema de poder social e político reinante nas sociedades modernas, sistema de poder este que se tem manifestado de modo fun-damental como sistema de opressão, pelo que contradiz radicalmente as intenções declaradas do projeto iluminista de fazer da Ciêrncia um instrumento de libertação dos homens.

É por isso que se pode afi rmar com toda segurança que nenhuma revisão do Positivismo se fará de forma válida num plano puramente epistemológico, sem uma crítica também radical de suas alianças e compromissos ideológicos. Não basta torná-lo tecnicamente mais rigoroso, como pretende o empirismo lógico, nem suplantá-lo no terreno das relações epistêmicas entre sujeito e objeto, como o faz, o mais das vezes, a Fenomenologia. Não existe, isento de implicações ideológicas, um positivismo superior. Na realidade, a crítica epistemológica ao Positi-vismo não tem a ver apenas com critérios técnicos e éticos: ela é necessariamente política.

Em busca de uma atitude interdisciplinar

É nessa linha de considerações que o problema do interdisciplinar se redimensiona. Não se trata tanto de contrapor Epistemologia à Epistemologia, mas de reavaliar o papel da Ciência e do Saber em suas relações com o poder. Daí, se uma visão interdisciplinar, unifi cada e convergente, se faz necessária no âmbito da teoria, ela será exigida igualmente no âmbito da prática, seja esta a prática da intervenção social, a prática pedagógica ou a prática da pesquisa.

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Assim, a questão da interdisciplinaridade se aguça no campo das Ciências Humanas, campo em que o Positivismo, para além do mérito de ter ousado tomar o homem como objeto da abordagem científi ca, pouco pode avançar no conhecimento do mesmo. Sua insistência nessa empreitada só tem acarretado o surgimento de novos grilhões de dominação e opressão. O homem é uma unidade que só pode ser apre-endida numa abordagem sintentizadora e nunca mediante uma acumulação de visões parciais. De nada adianta proceder por decomposição, análise e recomposição de aspectos: esta soma não dará a totalidade humana. É preciso, pois, no âmbito dos esforços com vistas ao conhecimento da realidade humana, pra-ticar, intencional e sistematicamente, uma dialética entre as partes e o todo, o conhecimento das partes fornecendo elementos para a construção de um sentido total, enquanto o conhecimento da totalidade elucidará o próprio sentido que as partes, autonomamente, poderiam ter.

Isto nos chama a atenção para uma série de conseqüências, que dizem respeito à interdisciplinari-dade, relativas à nossa atuação nos vários campos ligados ao Saber.

A dissolução das fronteiras entre as disciplinas

Em primeiro lugar, as fronteiras entre as várias áreas e Ciências relativas ao homem fi cam radical-mente diluídas. A compartimentalização do Saber é um resíduo da conformação positivista. A autono-mia, a identidade própria de cada especialidade científi ca, não pode ser levada ao extremo, sob pena de isolar, de forma inadequada, uma parte, um aspecto da realidade humana, isolamento este que tende a uma objetivação, que comprometerá a condição viva de sujeito de que o homem não pode se privar sem deixar de ser homem.

Resgatando a idéia da fi nalidade pragmática de todo conhecimento, cabe dizer que as Ciências Humanas, ao buscarem elaborar uma imagem científi ca do ser do homem, estão buscando construir um sentido para sua existência, estão buscando atingir uma compreensão. Contudo, para além da descoberta das estruturas objetivas da existência natural dos homens e da abertura de espaços para a intervenção técnica sobre elas — fi ns imediatos de caráter pragmático —, existe presente, nas Ciências Humanas, uma tentativa de fornecer aos homens uma imagem da totalidade de sua própria existência, com o objetivo de lhes possibilitar o domínio de elementos que contribuam para torná-la cada vez mais adequada, no plano de sua expansão especifi camente humana. Ora, esse objetivo reúne o que o Positivismo separou. Não há dúvida de que há uma convergência de todas as Ciências Humanas para uma visão sintetizante do homem, da sociedade e da Humanidade. Nessa espécie de “antropologia geral”, as fronteiras das especia-lidades se diluem, a interdisciplinaridade pode se efetivar e a Ciência reencontra a Filosofi a.

A interdisciplinaridade na pesquisa

Em segundo lugar, e em conseqüência da afi rmação anterior, a produção da Ciência, de modo par-ticular na área das Ciências Humanas, exige um esforço de interdisciplinaridade. Assim, também na esfera da pesquisa, a exigência da interdisciplinaridade se faz presente. Isto não quer dizer a submissão das várias Ciências do Homem a uma metodologia única, mas a sensibilidade de cada uma às contribuições, enfo-ques e perspectivas das outras. Trata-se, sem dúvida, de uma atitude de predisposição à intersubjetividade, a uma comunidade construtiva de sentido. Toda conclusão obtida numa área fi ca como que incompleta, aberta, com “encaixes” preparados para receber complementação de outra área.

Conseqüência para a prática social

Em terceiro lugar, chega-se à conclusão de que, no concernente às práticas de intervenção social, também se faz presente a necessidade de uma postura interdisciplinar. Se o trabalho prático visando tor-nar as condições concretas de existência dos homens mais adequadas, sob todos os pontos de vista, está fundamentado numa concepção articulada, construída mediante a contribuição de conhecimentos empí-ricos e teóricos, não se reduzindo a puro ativismo espontaneísta, então é óbvio que esse trabalho tem de levar em conta a complementaridade de todos os elementos envolvidos. Toda ação social atravessada pela análise científi ca e pela refl exão fi losófi ca é uma práxis e, portanto, integra as exigências de efi cácia do agir tanto quanto aquelas de elucidação do pensar. Por isso mesmo ela necessita da contribuição múltipla e

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complementar dos subsídios fornecidos pelas várias Ciências. A intervenção práxica é o correspondente social e concreto da “antropologia geral” de que se falou acima. Pressupõe, de forma necessária, uma convergente colaboração dos especialistas das várias áreas das Ciências Humanas, evitando-se assim uma hipertrofi a, seja de uma fundamentação unidimensional, seja de uma intervenção puramente técnico-profi ssional.

Ação pedagógica e interdisciplinaridade

Em quarto lugar, cabe destacar a extrema relevância da prática da interdisciplinaridade na esfera do ensino. A questão aqui se torna crucial, dado o efeito multiplicador da ação pedagógica. A Educação é, aliás, o exemplo, dos mais evidentes, da necessidade de uma abordagem interdisciplinar, seja como objeto de conhecimento e de pesquisa, seja como espaço de intervenção sociocultural.

De modo geral, porém, como formar o profi ssional e o cientista a não ser sob um enfoque inter-disciplinar? À luz do que já explicitei a respeito da natureza da Ciência e da produção do conhecimento, é inevitável concluir que a autêntica iniciação à Ciência e à prática da pesquisa passa, de forma necessária, por uma metodologia vazada na interdisciplinaridade. Lamentavelmente, os currículos plenos dos vários cursos, na maioria dos casos, não garantem, com sistematicidade, essa exigência, que é pertinente também aos cursos profi ssionalizantes.

Conclusão

Uma concepção unitária do Saber, tal qual visualizada numa perspectiva de interdisciplinaridade, não signifi ca que deva ser constituída uma espécie de superciência única, nem que o real seja algo intrin-secamente homogêneo e indiferenciado. As diversas disciplinas continuam como válidas perspectivas de abordagem dos diferentes aspectos do real. Para se constituir, a perspectiva interdisciplinar não opera uma eliminação das diferenças: tanto quanto na vida em geral, reconhece as diferenças e as especifi cida-des e convive com elas, sabendo, contudo, que elas se reencontram e se complementam, contraditória e dialeticamente. O que de fato está em questão na postura de interdisciplinaridade, fundando-a, é o pres-suposto epistemológico de acordo com o qual a verdade completa não ocorre numa Ciência isolada, mas ela só se constitui num processo de concorrência solidária de várias disciplinas.

Além disso, a interdisciplinaridade implica, no plano prático-operacional, que se estabeleçam me-canismos e estratégias de efetivação desse diálogo solidário no trabalho científi co, tanto na prática da pesquisa como naquela do ensino e da prestação de serviços. Não basta, por exemplo, uma estrutura curricular com justaposição de disciplinas, se não houver em ação um processo vivifi cador de discussão que explicite as correlações e reciprocidades de signifi cação.

Finalmente gostaria de observar que a atitude interdisciplinar exige ainda a superação da preconceituosa afi rmação de incompatibilidade entre a Ciência e a Filosofi a. O Saber humano vive hoje uma grande época, tanto para a Ciência como para a Filosofi a, que parecem ter encontrado o segredo de uma coexistência pacífi ca. Essa convivência, porém, não é aquela que decorreria da dissolução de uma na outra ou do predomínio de uma sobre a outra, ou ainda da pressuposição da homogeneidade de seus objetos ou de seus métodos; ao contrário, é aquela da autonomia bem defi nida de cada uma, da segurança da própria identidade assumida e cultivada. Estão defi niti-vamente superados tanto um metafi sicismo dogmático como um cientifi cismo exacerbado. Hoje, as Ciências dedicam-se, com a abrangência que seu método lhes pemtite, ao desvendamento de todas as relações que tecem a realidade fenomenal, enquanto a Filosofi a se expande em todas as direções, com toda a liberdade de investigação que a razão natural lhe assegura, procurando constituir o sentido, a signifi cação dessa realidade. Enfi m, consagra-se o reconhecimento da mul-tiplicidade dos olhares do espírito sobre uma realidade multiforme. Todavia, ao mesmo tempo consolida-se a convicção de que essa multiplicidade constitui uma rede única a testemunhar que, na origem de tudo, está um espírito único a olhar para um único mundo.

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PESQUISA, PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO E PROBLEMAS SOCIAIS

Finalidade das Ciências Sociais

As pesquisas realizadas nos campos de economia política, sociologia, antropologia, psicologia so-cial e outras disciplinas permitiram estruturar sistemas teóricos, criar melhores métodos e aprimorar técnicas para a análise dos problemas.

Todavia as ciências que estudam a sociedade – assim como outras vertentes do conhecimento hu-mano – têm sido utilizadas por vezes, para servir a interesses minoritários ou para indagar aspectos pouco transcendentes do ponto de vista do conjunto social.

Muitas pesquisas ressentem-se da falta de uma autêntica projeção social por estarem norteadas pelo utilitarismo econômico, componente básico da sociedade de consumo; outras voltam sua atenção para problemas irrelevantes ou são efetuadas com abordagens parciais que impedem a formulação de políticas e estratégias de ação e o enriquecimento do acervo de conhecimentos científi cos na esfera social.

Diante dos grandes problemas sociais que afetam os países subdesenvolvidos e da manutenção de estrutura e instituições socioeconômicas e políticas obsoletas é preciso que se faça uma refl exão profunda sobre a fi nalidade das ciências sociais.

E indubitável que o surgimento e a persistência dos problemas próprios do subdesenvolvimento resultam do irracional e injusto sistema de produção, distribuição e consumo de bens e serviços.

É preciso, portanto, que as políticas, estratégias e ações que sejam aplicadas com o intuito de resol-ver esses problemas estejam baseadas em diretrizes e critérios derivados do estudo científi co da proble-mática social. Assim, será possível abordar os problemas a partir de uma perspectiva global, considerando a sociedade como um todo, conforme a dinâmica e os veiculos internos e externos que ela adquire no seu devir histórico.

Deve-se ter presente que os produtos da tarefa científi ca elaborados são dominantes e que, para superar esta limitação, é preciso, acima de tudo, que haja uma autêntica consciência social.

A produção do conhecimento como via de solução dos problemas sociais

Tendo feito estas considerações podemos dizer que, no atual contexto socioeconômico e político, as

alternativas que se apresentam aos cientistas sociais consiste em fazer um dos seguintes tipos de pesquisa:

a) comprometida com os grupos sociais mais necessitados de mudanças estruturais no sistema socioeconômico;

b) colocada a serviço das organizações privadas que controlam boa parte da produção e distribui-ção de bens e serviços;

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c) realizada em função de objetivos econômicos individuais: ingressar ou continuar em algum sis-tema de estímulo à produtividade acadêmica.

Longe de ser patrimônio exclusivo de uma disciplina, a pesquisa dos fenômenos sociais necessi-ta do concurso de diversas profi ssões que permitam, com suas respectivas abordagens e ferramentas teórico-metodológicas, uma análise mais completa e congruente dos problemas. Isto é muito importante porque o grau de complexidade dos processos sociais exige uma pesquisa integral de todos e cada um de seus aspectos, uma pesquisa que proporcione um conhecimento mais profundo e objetivo da problemá-tica em que se desenvolve a sociedade.

A análise dos fenômenos será mais objetiva e precisa se os pesquisadores procurarem apoio nas abordagens de outras disciplinas sociais ou que estão relacionadas com elas.

A adoção desta postura é necessária, uma vez que o objeto e o sujeito da pesquisa social é o homem, a família e os grupos sociais em contínua interação, do que resulta a criação de complexas redes de relações sociais e a participação dos diversos atores sociais, de diferentes maneiras, no devir histórico da sociedade em que vivem.

Assim, a composição de equipes com pessoas de diferente formação profi ssional é imprescindível no mundo atual da pesquisa, pois somente o esforço conjunto poderá resultar na realização de objetivos de maior envergadura e em mais curtos prazos.

A soma das contribuições de todas as especialidades que podem convergir em uma equipe de tra-balho facilitará a elaboração de uma proposta metodológica mais consistente, em termos teóricos, para interpretar os fenômenos sociais.

Isso certamente vai abrir novas perspectivas para o trabalho científi co no âmbito social, além de reduzir as probabilidades de erros de avaliação e interpretação, tão freqüentes quando se lida com informação.

A integração de grupos de trabalho interdisciplinares tem especial importância em virtude da riqueza e da variedade de subsídios que eles podem trazer para a solução dos problemas. Uma equipe dessa natureza não se traduz apenas na ação de profi ssionais numa organização ou na sim-ples divisão do trabalho, mas representa uma plena coordenação de esforços norteados por uma estratégia bem defi nida: a concretização de objetivos e metas em prazos menores, sem prejuízo das aspirações individuais nem, menos ainda, da liberdade de discordar.

As equipes interdisciplinares devem ser formadas com pessoas que estejam cientes de perseguirem objetivos comuns, que serão alcançados por meio da fi xação de diretrizes e critérios de trabalho, sem que isto limite de modo algum a discussão franca e criativa.

Finalmente, cumpre frisar que uma equipe de trabalho comprometida com os setores sociais mais neces-sitados não considerará a pesquisa concluída simplesmente ao oferecer sugestões para resolver os problemas, pois deverá buscar o modo de levar a efeito uma pesquisa-ação, envolvendo-se no projeto e na realizaçáo dos programas de ação que surgirem nas repartições ou organismos em decorrência da pesquisa.

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PESQUISA E ÉTICA

A ética é a parte da fi losofi a que estuda os valores morais da conduta humana, estabelecendo um conjunto de princípios para os conceitos do bem e do mal, válido para um grupo social determinado, profi ssional, político ou cultural, em determinada época.

A ciência experimental não pode, por uma exigência epistemológica intrínseca, fi car sem a expe-rimentação: é exatamente nessa fronteira da experimentação, que se distinguem ciências empíricas e ci-ências não empíricas. A história da ciência experimental viu crescer, dos tempos de Galileu até hoje, não apenas o aprimoramento do método experimental, mas, igualmente, sua extensão e seu potencial.

A experimentação é necessária para o progresso da ciência em geral. Dentro da ciência e da pesqui-sa científi ca, a dimensão cognitiva (conhecimento) e a dimensão utilitarista (uso do conhecimento) estão presentes e são interdependentes. É óbvio, porém, que a tendência de dominação permeia uma e outra, a ponto de perverter seus fi ns, seus métodos e meios.

Todo conhecimento leva a uma saída para o bem ou para o mal; todo domínio do mundo poderá estar sujeito ao homem ou sujeitar o homem, de acordo com a ética que se insere nos processos e nos fi ns da ciência e do poder do homem. De tudo o que mencionamos conclui-se, mais uma vez, que a ética é essencial como dimensão de equilíbrio entre a natureza e a pessoa, entre a ciência e a tecnologia e a vida humana.

Ética pessoal ou da convicção x ética do grupo social ou da responsabilidade

• Ética da convicção ou ética pessoal

Código de valores, conjunto heurístico de normas e regras que regem a vida e a conduta pessoal de cada pessoa. Esses valores fazem parte do caráter, da personalidade de cada um, e são elementos que estruturam a sua moral; é a sua orientação social e humana. Ex.: uma pessoa que arrisca o seu emprego, se recusando a participar de um processo de corrupção que poderá trazer grandes retornos fi nanceiros, mesmo que esta seja uma prática sem riscos e comum no ambiente, pelo fato de que tal condição não faz parte do seu código de valores pessoais.

• Ética do grupo social ou da responsabilidade

Código de valores determinados pela cultura de um povo, um grupo social, uma organização e orien-tados para os objetivos e fi ns do grupo. Estão relacionados com os interesses do grupo ou organização, em torno dos quais os indivíduos pertencentes a esse grupo se orientam e se comportam. Não necessariamente esses valores coincidem com os valores pessoais, com a ética pessoal de cada um, mas devem ser praticados, pois é condição para a permanência no grupo. Ex.: um funcionário, ao atender um cliente, é desrespeitado por ele, se sente agredido em seus princípios morais, mas aceita o tratamento indelicado porque a norma da empresa, na qual trabalha e da qual precisa para sobreviver, é que o cliente tem sempre razão.

Fundada na “Nova Ética” ou “Ética do Homem Integral,” que visa recobrar a dignidade do ser humano através do seu desenvolvimento integral, ou seja, o desenvolvimento de suas potencialidades em todas as dimensões humanas.

Deste modo, a qualidade está nas pessoas, que devem ser íntegras, integradas e integralmente desenvolvidas.

Nesse contexto, o homem é levado a retomar o seu papel de sujeito da ação de trabalhar, como fonte digna de sua realização, desenvolvimento, contemplação e satisfação.

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Por que a produção de conhecimento científi co tem levado a humanidade tanto à evolução 1. quanto à sua destruição?

Visto que a produção de conhecimento não pára, aonde a ciência levará o homem?2.

A experiência tem demonstrado que o conhecimento científi co tem levado o homem a especia-3. lizar-se cada vez mais. Neste contexto, qual o papel da interdisciplinaridade na formação profi ssional?

É notável o avanço que a ciência atingiu nos últimos dois séculos, principalmente no que diz 4. respeito à produção de bens materiais. Que relação se pode fazer entre esta mesma evolução cientifi ca e o agravamento dos problemas sociais no mundo?

Que análise podemos fazer da produção do conhecimento científi co em questões polêmicas? 5. Será que o homem tem brincado de ser Deus?

Atividade Complementar

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AS CIÊNCIAS SOCIAIS, A FORMAÇÃO DO HOMEM INTEGRAL E SUAS INFLUÊNCIAS NO MUNDO DO TRABALHO

PESQUISA E PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO SÉCULO XXI

Na Virada do Milênio

No encerramento deste século XX há uma difusa sensação de urgência tangível em muitos níveis, como se realmente se aproximasse o fi m de mais um éon (etimologicamente uma idade, uma vida ou um período de tempo). É um momento de intensa expectativa, de luta, de esperanças e incertezas. Muitos têm a impressão de que a grande força que determina a nossa realidade é o misterioso processo dialético de construção da história, que neste século pareceu arremessar-se para uma grande desintegração de todas as estruturas e fundamentações, como um triunfo do fl uxo heracliteano (Heráclito de Éfeso acre-ditava no contínuo devir). Perto do fi nal de sua vida, Toynbee escreveu:

O Homem do presente há pouco tempo tornou-se consciente de que a História está se acelerando – e a um ritmo veloz. A geração atual tem consciência desse aumento da aceleração no período de sua própria vida; o avanço do conhecimento que o Homem tem de seu passado revelou, retrospectivamente, que a aceleração começou a cerca de 30.000 anos...e que deu “grandes saltos” sucessivos com a invenção da agricultura, com a aurora da civilização e com o progressivo domínio — especialmente nos últimos dois séculos – das forças titânicas da Natureza. A aproximação do climax intuitivamente previsto pelos profetas está sendo sentida, e temida, como um evento futuro. Hoje sua iminência não é um artigo de fé: é um dado da observação e da experiência.

O que fi zemos quando soltamos esta Terra de seu Sol? Para onde vai ela agora? Para onde estamos indo? Para longe de todos os sóis? Não estamos permanentemente mergulhando? Para trás, para os la-dos, para a frente, em todas as direções? Existirá ainda um em cima ou um embaixo? Não estaremos nos desgarrando como se num infi nito vazio? Não sentimos o hálito do espaço vazio? Ele não se tornou mais frio? Não está a noite se fechando sobre nós?

Da mesma forma, o grande sociólogo Max Weber, que viu as inevitáveis conseqüências do desencan-tamento do mundo do espírito moderno, viu também o escancarado vazio do relativismo deixado com a dissolução da modernidade das visões de mundo tradicionais e percebeu que a Razão moderna, em que o Iluminismo colocara todas as suas esperanças de liberdade e progresso humano, ainda que não pudesse em seus próprios termos justifi car valores universais para orientar a vida humana, de fato criara uma gaiola de ferro de racionalidade burocrática que permeava todos os aspectos da existência moderna:

Ninguém sabe quem viverá nesta gaiola no futuro, ou se ao fi nal desse extraordinário progresso surgirão profetas inteiramente novos, se haverá um grande renascimento das velhas idéias e dos velhos ideais, ou nada disso, talvez a petrifi cação mecanizada, enfeitada com uma espécie de empáfi a desordena-da. Poder-se-ia muito bem dizer do último estágio desse progresso cultural: “Especialistas sem espírito, sensualistas sem coração; esta nulidade imagina ter atingido um grau de civilização jamais obtido.”

“Somente um deus pode nos salvar’, disse Heidegger no fi nal de sua vida. Jung, no fi m da sua, ao comparar nossa era ao início da Era Cristã há dois milênios, escreveu:

Um clima de destruição e renovação universal colocou sua marca em nossa era. Este clima se faz sentir por toda parte, política, social e fi losofi camente. Vivemos no que os gregos chamavam de kairos - o momento certo - para uma “metamorfose dos deuses”, dos princípios e símbolo fundamentais. Essa

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peculiaridade de nosso tempo, que certamente não foi uma escolha nossa, é a expressão do Homem in-consciente dentro de nós que está mudando. As gerações futuras terão de levar em conta esta importante transformação, para que a Humanidade não se destrua por meio de sua própria tecnologia e ciência. Portanto, o Desenvolvimento Humano consiste essencialmente em, além de proporcionar um elevado crescimento das técnicas de produção e outras mais, ter seu escopo fundamental no favorecimento do aprimoramento das potencialidades idiossincráticas que nos fazem ser tal qual somos, pessoas.

Nosso momento na História é realmente cheio de promessas. Como civilização e como espécie, chegamos ao momento da verdade; o futuro da mente humana e o futuro do Planeta estão na balança. Se alguma vez foram necessárias coragem, profundidade e clareza de visão, entre outras qualidades, é agora. Contudo, essa mesma necessidade talvez possa chamar a coragem e a criatividade de que agora precisa-mos. Deixemos as últimas palavras desse épico interminado para o Zaratustra de Nietzsche:

E como poderia eu agüentar ser um homem, se o Homem não fosse também poeta e leitor de enigmas e... um caminho para novos inícios.

AS CIÊNCIAS SOCIAIS E SEU PAPEL PARA FORMAÇÃO DO HOMEM INTEGRAL

Após a compreensão dos novos conceitos e desafi os do novo milênio, podemos perguntar: Que fatos ocorreram ao longo do processo histórico que favoreceram o desenvolvimento humano e de que forma estes mesmos fatos interferiram na construção deste novo perfi l de homem e/ou profi ssional do século. XXI?

A Formação do Homem Integral

O processo de Desenvolvimento Humano fez com que o indivíduo se tornasse essencialmente constituído por três faculdades irredutíveis entre si: a faculdade de pensar, a de sentir e a de querer. As expressões pensar, sentir e querer serão empregadas para designar essas três faculdades. Ordinariamente, a referência a essas três faculdades é feita utilizando as expressões razão, sentimento e vontade.

O pensar e o querer são as faculdades ativas do homem integral, o sentir é a faculdade passiva. Nesse sentido, podemos dizer que o pensar e o querer partem do homem, o sentir acontece nele. A passividade da faculdade de sentir é uma decorrência do fato de que o homem simplesmente se percebe “sentindo”, o sentir surge nele. Por outro lado, o pensar e o querer surgem dele. Podemos caracterizar a atividade e a passividade dessas faculdades pelas expressões “exercer uma ação” e “receber uma ação”. Quando o homem pensa ou quer, exerce uma ação; quando sente, recebe uma ação.

Pelo pensar, o homem raciocina, argumenta, representa, imagina, idealiza, calcula, julga, etc. A ci-ência, a matemática e a fi losofi a são seus frutos mais importantes.

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Pelo querer, o homem age, decide, realiza, executa uma ação, etc., transformando o mundo e a so-ciedade continuamente. Nesse reino da vontade, o homem encontra o dever. O dever é a obrigação moral do homem para consigo mesmo e para com o seu semelhante. Com ele nos deparamos nas mais diversas situações da vida, desde as mais ínfi mas aos atos mais elevados. Estabelecer como o homem deve agir nas mais variadas situações da vida é um dos atributos do querer. Como suas mais importantes realizações, temos a ética, a moral, o direito e a política.

Com o sentir, o homem percebe e recebe as impressões do mundo à sua volta e as do seu próprio mundo interior. As sensações físicas ou psicológicas, as emoções ou sentimentos são algumas das formas de ser dessa faculdade notável. Dela nascem as artes e a estética, a música e a poesia.

Associados a essas três faculdades temos importantes valores da cultura humana: a verdade, a be-leza e a bondade.

As ciências e a fi losofi a investigam a verdade. A estética e as artes cultuam a beleza. A ética e a política visam ao bem.

A história da nossa cultura refl ete uma incansável busca desses valores. Reunidas num todo e eleva-das ao mais alto grau de desenvolvimento, essas três faculdades caracterizam o homem integral.

A utilização da expressão “integral” tem o propósito de realçar o fato de que todos os aspectos fundamentais do homem foram considerados nessas três faculdades, mesmo se utilizarmos o dualismo clássico de divisão do homem em mente e corpo. Sendo assim, nos cabe neste momento refl etir acerca da intensidade destas implicações, ou seja, de que forma estas três faculdades constituintes na formação do individuo interferem em sua ação no mundo do trabalho?

O desenvolvimento do sentir exige a valorização de todos os aspectos essenciais para a saúde e o bem-estar físico. A boa alimentação, a prática de exercícios físicos, o cuidado com o meio ambiente devem ser preocupações do homem integral. As instituições que adotarem este novo modelo de profi ssional inte-gral devem incluir em suas práticas laborais também suas preocupações referentes não só as relativas à saúde do corpo, mas, inclusive, as do meio ambiente, visto que o individuo é parte integrante deste sistema.

O Desenvolvimento Humano no Mundo do Trabalho constitui um ideal a ser buscado e posto em prática. As novas difi culdades geram desafi os, por conseguinte realizações serão alcançadas. Assim, compreen-demos que as adversidades existentes ao longo do processo histórico fi zeram e fazem com que nós, indivíduos comuns, desenvolvamos nossas potencialidades, caracterizando, desta forma, o próprio método dialético.

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CONCEPÇÃO HOLÍSTICA E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Defi nição e Características do Processo Dialético de Desenvolvimento Humano

Compreendendo o processo dialético como movimento de opostos que gera uma síntese, que, por sua vez, é uma tese que irá se opor a uma outra denominada antítese, confi gura-se, então, não um movi-mento circular, mas, sim, em espiral. Pois existe um salto qualitativo ao “término” de cada ação.

O Desenvolvimento Humano é um processo contínuo semelhante ao dialético. Haja vista que, através das diversas adversidades que a Humanidade enfrentou ao longo de sua história, fez com que nos tornássemos hoje tais quais somos. Entretanto, é sabido também que não somos um “produto acabado”, continuamos em movimento, ansiando diariamente por novas conquistas e realizações.

Atualmente, diante das adversidades de nossa contemporaneidade, alguns intelectuais apontam como o ponto de partida para análise da existência de uma fragmentação de todas as esferas da vida hu-mana. J. Miller (1996) dizia que, desde a Revolução Industrial, a humanidade estimulou a compartimenta-lização e a padronização, cujo resultado foi a fragmentação da vida. Essa fragmentação afeta tudo:

• Vida econômica: a fragmentação na economia teve como resultado a devastação ecológica. O ar que respiramos e a água que bebemos estão normalmente imundos. Parece que envenenamos tudo, incluindo as vastas extensões e oceanos, pois nos vemos como separados do processo orgânico que nos rodeia.

• Vida social: a maioria das pessoas nas sociedades industrializadas vive em grandes cidades, onde se sentem inseguras e separadas das demais. A violência da vida urbana se tornou de interesse predomi-nante. Essa fragmentação se traduz também em diferentes formas de abuso das quais somos testemunhas hoje em dia. Nós mesmos abusamos do fumo, do álcool e das drogas. Abusamos também dos demais, incluindo os mais velhos, as esposas e as crianças. Acredito que esse abuso vem de pessoas que se sentem desconectadas das outras e separadas de formas consideradas válidas na comunidade.

• Vida pessoal: outra forma de fragmentação acontece dentro de nós mesmos. A principal razão da falta de unidade do mundo é a falta de unidade na pessoa. Estamos desconectados de nosso próprio corpo e de nosso coração. A educação fez muito para cortar a relação entre a cabeça e o coração. Tudo que se distancia do discurso acadêmico é rotulado de piegas. Como resultado, na sociedade industrializada vivemos centrados somente em nossas cabeças. Nossa visão materialista da vida nos estimula a nos centrarmos em bens materiais. No entanto muitas pessoas que adquiriram bens materiais não se sentem completas. Elas notam que estão perdendo “algo”, que, na falta de outra palavra melhor, podemos chamar de espiritualidade.

• Vida cultural: a fragmentação em nossa cultura é percebida por uma falta de sentido compar-tilhado de signifi cado ou de mitologia. Essa falta de consenso chega a ser patente quando procuramos abordar temas de interesse social e humano. O único que compartilhamos é a visão materialista da vida, que sugere que a realidade é só física e que somente podemos controlá-la com o método científi co. Es-

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tritamente relacionado está o consumismo, que nos estimula a guardar tantos bens materiais quanto for possível. Quanto mais tivermos, maior felicidade acreditamos alcançar.

Essa fragmentação ultrapassa os muros das escolas e exige delas sua reprodução. Devido a isso, nossas escolas transpiram fragmentação por todos os poros: organização (tempos, espaços) comparti-mentada e hierarquizada, profi ssionais especializados e desconectados, conhecimento fragmentado em disciplinas, unidades e lições isoladas, sem possibilidade de ver a relação dentre e entre elas, e entre estas e a realidade que os alunos vivem. Tudo isso prepara e educa para a fragmentação.

É precisamente dentro dessa fragmentação que a educação holística pretende restabelecer as co-nexões em todas as esferas da vida. Por isso, J. Miller (1996) indica que o centro de atenção da educação holística está em todos os tipos de relações.

Precisamente dentro dessa fragmentação é necessário restabelecer as conexões em todas as es-feras da vida. A esse respeito, cabe mencionar a proposta de J. Miller (1996) ao indicar, neste caso no âmbito da educação e, perfeitamente aplicável às refl exões sobre o desenvolvimento humano no mundo do trabalho, por se tratar de relações imbricadas na formação humana; a necessidade de uma visão não fragmentada, em todos os tipos de relações:

a)Relações entre pensamento linear e intuição. Uma formação humana não fragmentária que visa o restabelecimento de um equilíbrio entre o pensamento linear e a intuição. Várias técnicas, tais como a metáfora e a visualização, podem ser integradas com pensamentos mais tradicionais, de forma que se consiga uma síntese entre a análise e a intuição.

b)Relações entre mente e corpo. A relação entre a mente e o corpo consiste em fazer com que o individuo sinta-se em sintonia, visto que ambos são atributos essenciais de um único e mesmo ser. A relação pode se dar através do movimento, pela dança, pela dramatização e pelos exercícios de concen-tração e de relaxamento.

c)Relações entre domínios de conhecimento. Existem muitas formas diferentes para unir as disciplinas acadêmicas. Por exemplo, as abordagens interdisciplinares do pensamento e as centradas no tema, na linguagem global, etc., podem unir várias disciplinas. Portanto, uma vez unidas e de posse do indivíduo, as alternativas de atuação em seu ambiente laboral são inúmeras, uma vez que este mesmo ser poderá, através de suas tomadas de atitudes diantes dos eventos, determinar a forma com a qual irá superrar os desafi os oriundos de sua atividade.

d)Relações entre o eu e a comunidade. A relação do ser trabalhador com a comunidade ocorre tanto quanto entre vizinhos de uma mesma localidade ou entre cidades, e porque não também entre as nações que compõem este planeta. Pois acreditamos que o produto construído por um indivíduo é sua própria extensão. Assim sendo, parte de seu criador entra em contato direto com diversas outras pessoas das mais diversas comunidades, sobretudo hoje quando assistimos à consolidação de um evento único, pelo menos nestas proporções, que é a globalização. Concluímos, então, que esta comunidade na verdade é a propria extensão globalizada e o eu somos todos nós que diariamente construimos nossas relações fundamentadas em diversos saberes, observando a interacidade dos eventos, principalmente no que con-cerne ao desenvolvimento humano e suas aplicações no âmbito profi ssional.

e)Relações entre o eu e o Eu. É um convite a um voltar-se para si mesmo, no qual esta ação nos possibilitará fazer uma conexão com a parte mais profunda de nós mesmos, a qual chamamos Eu (eu superior, superconsciente, etc.). Um veículo é a arte (dança, música, poesia, pintura e o drama) ou as mitologias, que abordam os interesses universais dos seres humanos.

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O DESAFIO DO NOVO PARADIGMA DO CONHECIMENTO

O que é paradigma?

Lembremos que um paradigma é um conjunto de regras que defi ne qual deve ser o compor-tamento e a maneira de resolver problemas dentro de alguns limites defi nidos para que possa ter êxito. Um paradigma condiciona nossa “visão do mundo”, a perspectiva com a qual abordamos os temas e nos relacionamos com o exterior. Segundo Kuhn, quando um paradigma não pode resolver os problemas que surgem, a necessidade de uma mudança vai aumentando.

A vida de um paradigma passa por três fases, que vão desde uma etapa inicial de incorporação lenta, uma fase intermediária de ritmo rápido e produtivo, e uma fase de declínio, quando começa a deixar de ser útil. Mudando o paradigma, mudam-se as regras e, mudando as regras, mudam-se todas as outras coisas.

É difícil afi rmar se estamos ou não diante de um processo de mudança de paradigma, mas o que po-demos constatar é a existência de uma forte representação de refl exões a partir dos mais diversos âmbitos da cultura que nos mostra as defi ciências do paradigma vigente (Yus Ramos, 1997). Diante dessas defi ciências foram dadas respostas contraculturais diversas, algumas delas possivelmente transitórias até que se fi xe um novo paradigma. Dentro desse conjunto de respostas encontram-se as propostas de uma visão holística do mundo que, na área da educação, levaria a propostas como as descritas anteriormente.

Capra (1994) afi rma que estamos diante de um processo de mudança de paradigma, diante de uma evidente “crise de percepção” segundo a qual o paradigma que vem dominando o mundo ocidental desde a Ilustração, o paradigma mecanicista (também conhecido como analítico), não só está deixando de ser útil para as metas atuais como está provocando danos consideráveis em todas as escalas (devido à onipresença de todo paradigma).

Novos Paradigmas

Diante dessa defasagem vai surgindo de maneira progressiva um novo paradigma, chamado sistêmi-co ou holístico, que começa a dar algumas respostas mais acertadas para os problemas que temos na atua-lidade em todos os terrenos da atividade humana e planetária. Em linhas gerais, o paradigma mecanicista nos proporcionou uma ferramenta poderosa para o avanço científi co e tecnológico, mas isso às custas de uma visão distorcida da natureza (sua dimensão material), de incentivar uma visão compartimentada do mundo, separando o homem do resto da natureza, a mente ou a alma do corpo e, conseqüentemente, exigindo uma especialização precoce no âmbito educativo, esquecendo daquelas dimensões humanas que são essenciais para uma formação integral.

O paradigma sistêmico, com sua concepção holística, pretende recompor muitas das rupturas gera-das pelo paradigma mecanicista, buscando essa conexão homem/natureza e mente/corpo que havíamos perdido, para que com isso possamos reconectar-nos com o todo do qual fazemos parte e, assim, come-çar um novo tipo de relação com nossos semelhantes e com a natureza em geral.

Alguns autores, como R. Mifl er (1997), estão convencidos de que o holismo se situa dentro das correntes contraculturais da pós-modernidade. Sem dúvida a pós-modernidade foi uma reação cultural contra a precariedade e os excessos da modernidade, embora, segundo outros autores, continue sendo insufi ciente para dar resposta aos problemas enfrentados pela humanidade. Por isso é que somos mais partidários de situar o holismo no terreno de um paradigma novo, embora possamos considerar a reação pós-moderna como sintoma desse processo de mudança.

Realmente um número crescente de pensadores competentes (fi lósofos, cientistas, teólogos, soci-ólogos, historiadores, ensaístas e teóricos educativos) tem articulado uma visão pós-moderna da cultura, arraigada na sabedoria espiritual e ecológica, na comunidade democrática e em um profundo apreço pelos

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aspectos orgânicos e de desenvolvimento da existência humana. O fi lósofo David Ray Griffi n explica por que não basta simplifi car a reforma das instituições e das práticas dentro da sociedade moderna que supere seu individualismo, antropocentrismo, patriarcalismo, mecanização, economicismo, consumismo, nacionalismo e militarismo. A crítica pós-moderna se estende ao núcleo dos temas culturais, às fontes de signifi cado, que defi nem como uma sociedade vê o mundo. Muitos pensadores consideram hoje essa crí-tica como uma “revolução intelectual e conceitual do pensamento ocidental”. Assim, o pós-modernismo inclui visões desconstrutivas, enquanto que o holismo pretende uma visão mais construtiva, pois, embora não renuncie em desfazer as amarras mecanicistas da modernidade, a ênfase não está em separar os in-divíduos e os grupos humanos, mas na busca do signifi cado transcendente e do propósito evolutivo da consciência humana dentro de um contexto ecológico.

Como exemplo indicamos a refl exão de Marshak (1998), que revela que no fi nal do século XX en-contramos nossas vidas presas em um paradoxo: nunca antes a capacidade humana havia sido tão pode-rosa, tão produtiva e tão diversa; mas nunca antes havia sido tão perigosa, nem havia feito tanto barulho pela saúde da biosfera. Nunca antes milhões de pessoas que vivem em culturas industriais “avançadas” desfrutaram de tão alto nível de abundância material, pois nunca antes bilhões de pessoas viveram em tal extremo de pobreza e em constante vulnerabilidade para a catástrofe. E nunca antes houve nações com tanta riqueza, que poderiam dedicar mais de um bilhão de dólares ao ano para preparar e fazer a guerra, mesmo sem inimigos ofi ciais na maior parte das situações.

A intensidade do paradoxo que vivemos é elevada devido à riqueza e à complexidade crescente de nossos meios eletrônicos. Nunca antes as pessoas pelo planeta, tanto o pobre quanto o rico, estiveram conectadas umas com as outras pela poderosa rede de meios de comunicação. Na “aldeia global” do oni-presente rádio, da televisão e da explosiva internet podemos guardar cada vez menos segredos sobre as crises e as contradições de nossos tempos.

Marshak prossegue assinalando que nos esforçamos por encontrar sentido para essas contradições e, quando muito, a maioria de nós fracassou enormemente ao fazê-lo porque não identifi cou o padrão que marca e conecta tudo: a condição paradoxal de nossa evolução como espécie. Aqueles que vivencia-ram a cultura tecnológica desenvolveram-na muito mais do que a sabedoria e a compaixão, identifi cando-se muito mais com a separação entre as pessoas, com o seu habitat e com seu espírito do que com suas conexões com pessoas, com a Terra e com aqueles que vivem como “Deus”.

De acordo com o raciocínio de Marshak, para captar efetivamente nossa condição paradoxal e sobre-viver em nossa morada natural, de maneira que seja permitida a sobrevivência de muitas outras formas de vida neste planeta, desejamos continuar evoluindo, principalmente em nossas dimensões morais e espiritu-ais. Isso coloca nosso pensamento em uma mudaça drástica de orientação, uma mudança de paradigma.

Sob essa perspectiva a questão do desenvolvimento humano abraça todas as interrelações e con-vida ao bem cuidar do ser, das relações que estabelece e de todo o ambiente, compreendendo, portanto, o ser humano como “natureza consciente de si” e não como elemento isolado da Natureza. Qual seria, então, o papel ou a função do desenvolvimento humano no mundo do trabalho? O ato de refl etir sobre as implicações dos avanços tecnológicos tanto sobre as atividades profi ssionais quanto sobre o ambiente é já um excelente ponto de partida!

A forma como construimos a cada um de nós e a nossa comunidade é o meio poderoso que temos para escolher, conscientemente, entre evoluir com e além de nossa crise atual. Podemos aprender a nutrir e a educar nosso ser de uma maneira completamente diferente das normas da cultura “moderna”. Quanto mais nos desenvolvermos como seres completos, melhor nos tornamos transformadores e empreendere-mos ações em prol da humanidade, levando essa nossa formação também para o âmbito da nossa atuação profi ssional, uma vez que, para além do saber técnico e operacional, conquistaremos continuamente as principais habilidades propriamente humanas.

R. Miller (1997) assinala que nosso conhecimento técnico tornou o mundo perigoso para a vida. Hoje vivemos sob a permanente ameaça de bombas nucleares, químicas e biológicas, de envenenamento

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gradual da água, do solo e do ar da Terra por venenos químicos e radiação, de eliminação de milhares de espécies de plantas e animais, assim como a maioria das áreas silvestres que restam na Terra, além da pos-sibilidade de que a atmosfera já não possa mais nos proteger do aquecimento global ou da radiação can-cerígena do espaço. Uma orientação humanizadora exige que voltemos a ter uma relação mais orgânica com o mundo natural. E um reconhecimento de que, para a razão utilitária, falta a sabedoria de manipular a natureza com poder auto-assegurador, sem conseqüências catastrófícas. Uma relação orgânica com a natureza começa com a afi rmação de que não existe riqueza, mas vida; embora possamos fi car deslum-brados e iludidos com nossa habilidade tecnológica, em última instância, estamos esgotando a fonte de tudo o que mantém e enriquece a vida. A existência humana está sendo delicadamente embalada no útero da natureza e, fi nalmente, depende das conexões intrincadas, muitas vezes inconscientes e não-racionais, com o mundo natural no alimento físico, psicológico e espiritual.

Conclusão para refl exão

Se o mundo natural é, de fato, mais complexo e interconectado do que nosso positivismo grosseiro pode perceber, então simplesmente não percebemos que efeitos nossa manipulação do mundo natural pode ter a longo prazo e, do mesmo modo, difi cilmente conheceremos os efeitos que produzirá nos processos profi ssionais uma ênfase excessiva na aplicação não responsável dos avanços tecnológicos para fi ns puramente utilitários e não necessariamente humanizadores.

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Frente à diversidade e quantidade de conhecimento produzido chegamos a um momento (sécu-1. lo XXI) no qual a ciência deve priorizar alguma área ou tipo especifi co para atender a alguma necessidade particular, mais urgente, quanto ao desenvolvimento humano?

Considerando uma época em constante modifi cação, qual o perfi l do profi ssional contemporâneo?2.

Diante da crise paradigmática, quais critérios e valores norteariam a questão do desenvolvimen-3. to humano no mundo do trabalho?

O século XXI aponta para uma nova era para a humanidade. Em que medida a nossa formação 4. profi ssional tem dado conta desta nova perspectiva?

Em todos os sentidos vivemos um momento de transformações, em particular da área do co-5. nhecimento. Sendo assim, qual tem sido e qual deve ser a nossa postura enquanto profi ssionais e parte deste processo de transformação?

Atividade Complementar

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ANALOGIA – Equivalente à proporção de igualdade de relações. ▄▄ANTROPOCENTRISMO – Que considera o homem como o centro ou a medida do Universo, ▄▄sendo-lhe por isso destinadas todas as coisas.

DIALÉTICO – É o processo em que há uma tese a ser refutada e que supõe, portanto, duas teses ▄▄em confl ito proporcionando um salto qualitativo, que é a síntese.

ÉTICA – Ciência do fi m para o qual a conduta dos homens deve ser orientada. ▄▄EXEQÜÍVEIS – Executáveis. ▄▄HOLISMO – Teoria segundo a qual o homem é um todo indivisível e que não pode ser explicado ▄▄pelos seus distintos componentes (físico, psicológico ou psíquico), considerados separadamente; holística.

IDIOSSINCRÁTICAS – Características natas do indivíduo que o fazem ser tal qual é. ▄▄INEXORÁVEL – implacável; austero; infl exível. ▄▄INTEGRAL – Estado em que o indivíduo encontra-se formado e unifi cado. ▄▄PARADIGMA – Modelo; padrão. ▄▄RELATIVISMO – Doutrina que afi rma a relatividade do conhecimento, visão do sujeito sobre o ▄▄objeto, ação recíproca sujeito-objeto.

Glossário

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ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofi a. Ed. Martins Fontes. São Paulo. 2000.

FAZENDA, Ivani C. Arantes. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 8 ed. Campinas, SP: Papirus, 1994.

JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia: Guia prático da linguagem sociológica; tradução, Ruy Jungmann; consultoria, Renato Lessa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.

SILVA, Antonio Carlos Ribeiro da. Metodologia da Pesquisa Aplicada à Contabilidade: Orientações de estudos, projetos, artigos, relatórios, monografi as, dissertação, teses. São Paulo: Atlas, 2003.

SORIANO, Raúl Rojas. Manuel de pesquisa social. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

TARNAS, Richard. A epopéia do pensamento oriental: para compreender as idéias que moldaram nossa visão de mundo; tradução de Beatriz Sidou. 4 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

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SITES

http://pt.wikipedia.org/wiki/Interdisciplinaridade

http://www.educacional.com.br/articulistas/outrosEducacao_artigo.asp?artigo=cosme0001

http://www.priberam.pt/dlpo/

Referências Bibliográficas

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ANOTAÇÕESANOTAÇÕES

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Faculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância

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