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06 Rio Mar livro Tapajós

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    A presente obra, 6 fase do Projeto-Aventura Desafiando o Rio-Mar - Navegando o Tapajs, presta um justo tributo ao patrono dos engenheiros militares brasileiros. Os leitores, ao folhear os captulos sobre a vida e a obra do Coronel Ricardo Franco de Almeida Serra, entendero a homenagem que a ele ofereo humilde e respeitosamente nesta obra. A conduta irrepreensvel de Ricardo Franco como cidado e soldado foi muito bem caracterizada pelo Capito-General, Joo Carlos de Oyenhausen e Grevenburg ao comunicar a morte do heri do Forte Coimbra: O zelo, inteligncia e conhecimentos que o distinguiram, os servios feitos a S.A.R. e, finalmente, os sentimentos de piedade que acompanharam a sua agonia e a particular amizade com que eu estimava este honrado oficial, so outros tantos ttulos que justificam a mgoa com que fao esta comunicao a V. Exa.

    Convido-os a participar da malograda Expedio Langsdorff pela Bacia do Tapajs que, apesar do infortnio que se abateu sobre seu lder, reconhecida como uma das mais importantes do sculo XIX. Graas a ela pudemos tomar conhecimento dos costumes e da lngua dos Mundurucu, Apiac e Guan.

    Vamos conhecer a vida de Sir Henry Alexander Wickham, responsvel pelo furto de sementes da seringueira (Hevea brasiliensis) de seu habitat amaznico provocando um total colapso no ciclo da borracha e um gradual esvaziamento econmico da regio amaznica.

    Acompanhemos a desdita de Henry Ford nas regies de Fordlndia e Belterra. Um empreendimento faranico no qual ficou patente a m gesto e a falta de compreenso das coisas e das gentes da Amaznia.

    Descortinemos as maquinaes da Revolta de Jacar-Acanga, redescubramos o Bero da Humanidade e desvendemos os mistrios da Cermica Tapajoara dentre outros tantos segredos perdidos no longnquo pretrito tapajnico.

    Coronel Hiram Reis e Silva (Pesquisador Militar)

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    Prefcio

    General Tibrio Kimmel de Macedo

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    Os Lusadas (Lus Vaz de Cames)

    Canto I 19

    J no largo Oceano navegavam, As inquietas ondas apartando;

    Os ventos brandamente respiravam, Das naus as velas cncavas inchando;

    Da branca escuma os mares se mostravam Cobertos, onde as proas vo cortando As martimas guas consagradas,

    Que do gado de Prteu so cortadas, 20

    Quando os Deuses no Olimpo luminoso, Onde o governo est da humana gente,

    Se ajuntam em conslio glorioso, Sobre as cousas futuras do Oriente. Pisando o cristalino Cu fermoso, Vm pela Via Lctea juntamente, Convocados, da parte de Tonante, Pelo neto gentil do velho Atlante.

    21

    Deixam dos sete Cus o regimento, Que do poder mais alto lhe foi dado, Alto poder, que s co pensamento

    Governa o Cu, a Terra e o Mar irado. Ali se acharam juntos num momento Os que habitam o Arcturo congelado

    E os que o Austro tem e as partes onde A Aurora nasce e o claro Sol se esconde.

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    Agradecimentos

    A Vanessa, Danielle e Joo Paulo, meus filhos queridos que, mesmo diante de todas as dificuldades pelas quais estamos passando com o problema de sade de minha esposa invlida e consequentes dificuldades financeiras, sempre me apoiaram e incentivaram;

    Ao Grupo Fluvial do 8 BECnst, em especial o cabo Eng Mrio Elder Guimares Marinho e Maral Washington Barbosa Santos, dois grandes amigos e irmos que deixamos na Prola do Tapajs;

    Ao meus irmos, Luiz Carlos Reis e Silva e Carlos Henrique Reis e Silva, amigos de todas as horas, o apoio irrestrito e oportuno minha famlia;

    Ao querido amigo e Ir Coronel Leonardo Roberto Carvalho de Arajo, esteio fundamental na divulgao do Projeto e conselheiro, criterioso, nas minhas entrevistas e artigos;

    Ao Professor Srgio Pedrinho Minscoli, do Colgio Militar de Porto Alegre (CMPA), que realizou uma extremamente criteriosa reviso deste livro. minha querida parceira Rosngela Maria de Vargas Schardosim, de Bag, artfice do Blog desafiandooriomar.blogspot.com, que incansavelmente contribuiu nas pesquisas, sugestes, divulgao de artigos relativos ao Projetoaventura e a questes amaznicas em diversos peridicos nacionais, alm de assessorar no planejamento e coordenao da captao de recursos;

    Aos professores e alunos do Colgio Militar de Porto Alegre (CMPA) pelo incentivo e apoio integral ao nosso Projeto;

    E a todos os que, de uma forma ou de outra me apoiaram antes, durante ou mesmo depois da execuo do empreendimento. Estejam certos de que vossa contribuio foi um patritico investimento.

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    O Navio Negreiro (Castro Alves)

    II

    Que importa do nauta o bero, Donde filho, qual seu lar? Ama a cadncia do verso

    Que lhe ensina o velho mar! Cantai! que a morte divina! Resvala o brigue bolina Como golfinho veloz.

    Presa ao mastro da mezena Saudosa bandeira acena As vagas que deixa aps.

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    Amigos Investidores

    Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos.

    Nem to longe e nem to perto. Na medida mais precisa que eu puder.

    Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida, Da maneira mais discreta que eu souber.

    Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar. Sem forar tua vontade.

    Sem falar, quando for hora de calar. E sem calar, quando for hora de falar.

    Nem ausente, nem presente por demais. Simplesmente, calmamente, ser-te paz.

    bonito ser amigo, mas confesso: to difcil aprender! E por isso eu te suplico pacincia.

    Vou encher este teu rosto de lembranas, D-me tempo de acertar nossas distncias...

    (Fernando Pessoa Poema Do Amigo Aprendiz)

    Quero, aqui, deixar gravado o nome de cada um dos amigos que, ao contribuir com recursos financeiros, passagens e equipamentos, permitiramnos cumprir mais esta etapa do Projeto Aventura Desafiando o Riomar Navegando no Rio Tapajs. No fosse a colaborao voluntria de cada uma das senhoras e dos senhores, jamais teramos conseguido dar continuidade ao nosso Projeto de Soberania.

    Investidores: A.D.T., Ado Maciel, Ademir Bisotto, Aderbal D. Tortato, Adriano Pires Ribas, AHIMTB, Alberto Moreira, Alberto Mota Porto Alegre, Altino Berthier Brasil, lvaro Nereu Klaus Calazans, Alvorcem, Aman Tu 75, Amarcy de Castro e Araujo, Amrico Adnauer Heckert, Ana Elizabeth Noll Prudente, Andr Luiz Oliveira Conceio, Andr Tiago S., Antnio de Pdua Sousa Lopes, Antnio Fernando Rosa Dini, Arnalberto Jacques Nunes Seixas, Batalho de Engenheiros - Provncia de So Pedro, Cacinaldo Gomes Kobayashi, Carlos Alberto Da Cs, Carlos H. Furlan, Carlos Henrique Reis e Silva, Carlos Humberto Furlan, Carlos Vilmar, Centro de Estudos Themas, Cesar Eduardo Pintos Trindade, Ccero Novo Fornari, Crculo Militar de Campinas, Clayton Barroso Colvello, Cristian Mairesse Cavalheiro, Daniel Lus Costa Scherer, David Daniel C. Prado, David Waisman, Dcio Jos Dias, Deoclcio Jos de Souza, Edison Bittencourt, Edmir Mrmora Jr., Eduardo de Moura Gomes, Eduno Carlos Barboza, Elieser Giro Monteiro Filho, Eneida Aparecida Mader, Eneida Mader, Enzo Pi, Ernesto Jorge, Everton Marc, Flix Maier, Floriano Gonalves Filho, Francisco B. C., Gelio Augusto Barbosa Fregapani, Geraldo de Souza Romano, Gerson Batistella (Rotary Barril), Getulio de Souza Neiva, Gilberto Machado da Rosa, Gisele Pandolfo Braga, Glaucir Lopes, Helio M. Mello, Hiram de Freitas Cmara, Humberto R. Sodr, Joo Batista Carneiro Borges, Jorge Alberto Forrer Garcia, Jorge Luiz Ribeiro Morales, Jorge Mello, Jos de Araujo Madeiro, Jos Luiz Dalla Vechia, Jos Luiz Poncio Tristo, Leandro Enor Danelus, Leonardo Roberto Carvalho de Arajo, Luciano Martins Tavares, Luciano S. Campos, Lcio Batista Guaraldi Ebling, Lus Andreoli, Luiz A. Oliveira, Luiz Carlos Bado Bittencourt, Luiz C. N. Bueno, Luiz Caramur Xavier, Luiz Carlos Nunes Bueno, Luiz Ernani

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    Caminha Giorgis, Luiz Roberto Dias Nunes, Luiz Roberto J., Mes da AACV (CMPA), Magnus Bertoglio, Manoel Soriano Neto, Marco A. Dias P., Marco Antnio Andrs Pascual, Marcos Coimbra, Marcus Balbi, Maria de Vargas Schardosim, Maria Helena Gravina, Milton B. Viana, Moacir Barbosa, Olavo Montauri Silva Severo Jr., Osmarino Borges, Patrcia Buche, Paulo Augusto Lacaz, Paulo Emlio Silva, Paulo Ricardo Chies, Pedro da Veiga, Pedro Eduardo Paes de Almeida, Pedro Fernando Malta, Petrnio Maia Vieira do Nascimento e S, R.S.F., Renato Dias da Costa Aita, Renato Dutra de Oliveira, Rogrio Amaro, Rogrio Joo Baggio, Rogrio Oliveira da Cunha, Roner Guerra Fabris, Rosngela Maria de Vargas Schardosim, Srgio Tavares Ventura, Sidney Charles Day, Stelson Santos Ponce de Azevedo, Turma 82 (Eng-AMAN), Turma C Infor Nr 3 (atual 1 CTA), Tullio Perozzi, Uirass Litwinski Gonalves, Valmir Fonseca Azevedo Pereira, Venesiano de Brito Almeida, Virglio Ribeiro Muxfeldt, Vitor Mrio Scipioni Chiesa.

    Meu muito obrigado a cada um de vocs, amigos investidores e que o Grande Arquiteto do Universo os abenoe, ilumine e guarde.

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    Mensagens

    Cel Eng Paulo Roberto Viana Rabelo

    Prezado Cel Hiram,

    A sua capacidade de superar os obstculos e persistir nas jornadas castrenses so exemplos vivos para todos ns.

    Isso no novidade pra quem o conheceu nas primeiras remadas nas plagas pantaneiras, l pelas barrancas do Aquidauana, Piraputanga e tantos outros do nosso Pantanal. Lembro, perfeitamente, a primeira instruo do ento Cap Hiram, naquele auditrio de piso de madeira do Carlos Camiso, sobre a informtica como meio para clculo de material de pontes, algo impensvel naquela quadra. Lembro da pacata vila do 9 BECmb, a jibia, a vida familiar simples, as caas do Lo, momentos ricos de amizade, coeso e camaradagem.

    Em anexo, uma pequena contribuio para a realizao desse belo trabalho, de um sonho grandioso que se completa a cada remada, apesar da extrema adversidade. A cada expedio, o senhor avana o LAT na imensido amaznica.

    Sucesso, sade e paz de esprito. Que Deus o abenoe junto aos familiares.

    Um forte abrao,

    Cel Eng Viana, Ex-Cmt do 5 BECnst

    Gen Tibrio Kimmel de Macedo

    Cel Hiram, meu caro amigo e valoroso camarada. Boa tarde.

    Ontem, logo aps teu telefonema, chegou o texto. Dei uma passada dolhos a voo de pssaro, e impressionei-me. Trabalho magnfico, meu caro amigo, marupiara gapuiad.

    O texto est muito bem formatado, lindo de se ver e agradvel de se ler. No sei como consegues formatar, assim, com pginas em dois quadros sucessivas e, ainda, com aquela seta indicativa de virar a pgina. Um dia, quem sabe, dominarei este tcnica, em que pese minha senectude...

    Mas, meu caro amigo, trabalho de cientista e de explorador, que supera os Relatrios de viagem , desde os da entrada de Palheta , Expedio Filosfica do doutor conimbrense, Alexandre Rodrigues Ferreira, e mais os que se seguiram, at o segundo imprio. Alinhando-se, todos, no h um te sirva de parelha.

    J te disse, no antes, que te estavas ombreando com Palheta e Rondon e, acrescento agora, com menos apoio que aqueles tiveram.

    , precisamente estas concluses que me fazem temeroso da tarefa que me quer incumbir.

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    Distingue-me e honra-me sobremodo. Temo, no entanto, ser areia demais para a minha basculante.

    Mas, honrado e distinguido, como j te disse acima, aceito a assustadora incumbncia.

    No humilde convite, como dizes, chamamento de um intemerato explorador, de um intrpido bandeirante dos dias que vazam.

    Sua atividade neste campo, sempre por adustas paragens e com incansada persistncia, exemplo para todas as geraes que, nos dias de hoje, desatentas de to importantes valores quais os que a tua obra revela, alegres vivem neste continente de Santa Cruz.

    Temo que meu caro amigo esteja enganado, quanto imagem que faz deste batedor de mato e amassador de pasto de picada. Sei que me olhas com o prisma da amizade e, por ser prisma, distorce e refrata a luz, fazendo-te ver tons que este cavalo velho, realmente, os no tem.

    Mas, Soldado de Selva, honrado, repito, aceito o desafio.

    uma peregrina homenagem, para este velho, que a sente aquecendo-lhe o peito octogenrio.

    Parabns, pelo excelente trabalho. Continuado sucesso. Obrigado pelo exemplo que proporcionas a todos os que tem a satisfao e a bno de conhecer-te.

    Obrigado, outra vez, pelo teu convite e pela gentileza de lembrar-te deste vio mateiro.

    Abraos. Sade. Abenoados dias.

    SELVA !!!

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    Sumrio

    Prefcio ............................................................................................... 3 Agradecimentos ................................................................................... 5 Amigos Investidores ............................................................................. 7 Mensagem ........................................................................................... 9 Sumrio ............................................................................................ 11 Rio Tapajs ........................................................................................ 15 Complexo Hidreltrico do Tapajs ......................................................... 29 Ricardo Franco de Almeida Serra (R.F.A.S.) ........................................... 39 Fronteiras Setentrionais (R. F. A. S.) ..................................................... 83 Navegao do Rio Tapajs (R.F.A.S.) .................................................... 89 Descrio Geogrfica da Provncia do MT (R.F.A.S.) ................................ 97 Histrico das Navegaes pela Bacia do Tapajs ................................... 101 Abertura da Comunicao Comercial ................................................... 107 Baro Gregori Ivanovitch Langsdorff ................................................... 131 As Fronteiras de Henri Coudreau ........................................................ 233 O Histrico Imperialismo Mato-Grossense ............................................ 247 Fordlndia ....................................................................................... 257 O Sequestro da Hevea Braziliensis ...................................................... 271 Os Mundurucu - Senhores da Guerra................................................... 283 Revolta de Jacar-Acanga .................................................................. 303 Os Tapaj ........................................................................................ 315 Cermica, Cultura na Ponta dos Dedos ................................................ 329 Cermica Santarena ......................................................................... 337 O Muiraquit e as Contas dos Tapaj .................................................. 359 Simbolismo da Cermica Santarena .................................................... 375 Rumo ao Tapajs .............................................................................. 393 Navigare necesse; vivere non est necesse ........................................... 397 Santarm/Enseada da Pedra Branca ................................................... 401 Enseada da Pedra Branca/Itaituba ...................................................... 407 Itaituba, PA ..................................................................................... 411 Itaituba/Aveiros ............................................................................... 415 Aveiro ............................................................................................. 419 Boim, PA ......................................................................................... 425 Aveiro/Santarm .............................................................................. 429 Redescobrindo o Bero da Humanidade ............................................... 437 Bibliografia ...................................................................................... 447

    Imagens

    Imagem 01 Com. Fluvial SP/Cuiab Varadouro de Camapu ............... 81 Imagem 02 Regio dos Parecis, 1794 (Ricardo Franco) ......................... 81 Imagem 03 Rio Guapor e Afluentes, 1795 (Ricardo Franco) ................. 82 Imagem 04 Caribana Mapa do Mundo, 1595 (J. Hondius) ................... 82 Imagem 05 Arredores de Diamantino (Hercule Florence) .................... 207 Imagem 06 Carga das canoas (Hercule Florence)............................... 207 Imagem 07 Maloca dos Apiac, Rio Arinos (Hercule Florence) .............. 208 Imagem 08 Mulher e criana Mundurucu (Hercule Florence) ................ 208

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    Imagem 09 Salto Augusto, parte alm da Ilha (Hercule Florence) ........ 209 Imagem 10 Batelo feito em migalhas (Hercule Florence) ................... 209 Imagem 11 Derrubada de um Tucuri (Hercule Florence) ..................... 210 Imagem 12 Confeco da canoa (Hercule Florence) ........................... 210 Imagem 13 Navegando o Baixo Tapajs, PA ..................................... 403 Imagem 14 Boim, Santarm, PA ...................................................... 404 Imagem 15 Boim, Santarm, PA ...................................................... 404 Imagem 16 Igreja de Incio de Loyola, Boim, Santarm, PA ............... 405 Imagem 17 Ponta do Escrivo, PA ................................................... 405 Imagem 18 Cabo Eng Mrio, Ponta de Precassu, PA ........................... 406 Imagem 19 Balsa do Grupo Fluvial do 8 D Sup, Rio Tapajs, PA ......... 406 Imagem 20 Fordlndia, PA .............................................................. 409 Imagem 21 Tabuleiro Monte Cristo, Aveiro, PA .................................. 409 Imagem 22 Barreiras, Itaituba, PA ................................................... 410 Imagem 23 Itaituba, PA ................................................................. 410 Imagem 24 Lar da Tartaruga, Aveiro, PA .......................................... 413 Imagem 25 Braslia Legal, Aveiro, PA ............................................... 413 Imagem 26 Aveiro, PA ................................................................... 414 Imagem 27 Stio dos Sonhos, Aveiro, PA .......................................... 414 Imagem 28 Barreiras Vermelhas, Aveiro, PA ..................................... 423 Imagem 29 Barreiras Vermelhas, Aveiro, PA ..................................... 423 Imagem 30 Preparando o almojanta, Aveiro, PA ................................ 424 Imagem 31 Barco Hospital Avar ..................................................... 424 Imagem 32 Ribeirinhos no Rio Tapajs, PA ....................................... 435 Imagem 33 Praia da Moa, Alter do Cho, PA .................................... 435 Imagem 34 Praia da Moa, Alter do Cho, PA .................................... 436 Imagem 35 Praia da Moa, Alter do Cho, PA .................................... 436 Imagem 36 Ponta do Cururu, Alter do Cho, PA ................................ 443 Imagem 37 Enseada das Pedras, Alter do Cho, PA ........................... 443 Imagem 38 Bero da Humanidade (02.02.2011 e 04.11.2013) ............ 444 Imagem 39 Rio Cupari, Bero da Humanidade, Itaituba, PA ................ 444 Imagem 40 Bero da Humanidade, Itaituba, PA ................................. 445 Imagem 41 Bero da Humanidade, Itaituba, PA ................................. 445 Imagem 42 Bero da Humanidade, Itaituba, PA ................................. 446 Imagem 43 Bero da Humanidade, Itaituba, PA ................................. 446

    Poesias

    Os Lusadas ......................................................................................... 4 O Navio Negreiro .................................................................................. 6 Da Noite do Rio ......................................... Erro! Indicador no definido. Rio Smbolo ....................................................................................... 14 Amazonas Moreno ............................................................................ 106 Pranto Geral dos ndios Parte I ........................................................ 246 Pranto Geral dos ndios Parte II ...................................................... 256 Salexistncia ................................................................................... 301 Destino ........................................................................................... 302 Os Lusadas Canto I, 19 - 20 ........................................................... 328 Flor de Aguap ................................................................................. 336

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    Versos... Versos... Versos... ............................................................... 392 Hospitalidade ................................................................................... 393 O Pedido ......................................................................................... 395 Cuieiras ........................................................................................... 396 Navegar Preciso ............................................................................. 397 O Pescador do Rio Tapajs ................................................................. 401 Rio Tapajs ...................................................................................... 407 Tarde Santarena ............................................................................... 415 Longe de Ti ...................................................................................... 422 Poltica ............................................................................................ 422 Terra dos Tupinambs ....................................................................... 425 Estudos ........................................................................................... 428

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    Rio Smbolo (Felisbelo Jaguar Sussuarana)

    Soberbo flmen (1), Tapajs altivo, de longe vens nesse lutar sem trguas, vivo, vencendo lguas e mais lguas,

    ora a espraiar-te em flgidos lenis, ora a estreitar-te

    em veios de oiro (2) cheios,

    fertilizando as terras por onde erras, altivo Tapajs.

    Vens de longe correndo,

    vens vencendo saltos

    e cachoeiras altaneiras,

    beijando praias e barrancos altos, dando vida e valor,

    dando alegria ubertosa (3) regio de que s senhor.

    A marcha a te deter quem ousaria, rico e belo flmen brasileiro?

    E vens vindo, vens vindo, prazenteiro,

    atrs deixando tudo nesse rudo

    marchar glorioso, rpido, nervoso, e nada te detm...

    E aps tanto lutar e tanta glria, vens, alcanando rtila (4) vitria, morrer aos ps da linda Santarm!

    Assim do poeta os surtos criadores,

    belo Tapajs dos meus amores:

    de mundos luminosos e distantes partem, soberbos, fartos de esplendores,

    chispando sis e fluidos cintilantes,

    e descem, descem, cleres, radiantes, para deter-se, alfim, nessa arrancada, vencidos, juntos da Mulher Amada!

    (1) flmen: o mesmo que Rio. (2) oiro: de cor amarela e brilhante. (3) ubertosa: fecunda. (4) rtila: brilhante, resplandecente.

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    Rio Tapajs

    Tapajs

    O Rio Tapajs nasce no estado de Mato Grosso. Recebe seu nome aps a confluncia dos Rios Juruena e Teles Pires. Faz divisa entre o Estado do Par e o Sudeste do Amazonas, banha parte do Estado do Par e desgua no Rio Amazonas na altura da Cidade de Santarm.

    Expedies ao Tapajs

    Antes mesmo da Expedio de Pedro Teixeira, a bacia do Baixo Tapajs j era conhecida pelos portugueses. O escritor Manuel Rodrigues, o Maraon, relata que os ingleses, em busca de ouro, haviam empreendido duas expedies mal sucedidas, no Tapajs, onde grande parte dos expedicionrios tinha perdido a vida.

    A navegao do Tapajs, desde o princpio, foi realizada, simultaneamente, a partir do Sul e do Norte. Foram os prprios habitantes do Mato Grosso que descobriram que ele se origina da confluncia do Juruena com o Arinos.

    Os missionrios Jesutas fundaram seis misses desde a Foz, no Amazonas, at as cataratas, por volta de 1735.

    Joo de Souza Azevedo, em 1745, desceu pelo Rio Sumidor at suas cachoeiras.

    Em 1747, Pascoal Arruda desce o Tapajs a partir das Minas de Santa Isabel nas nascentes do Arinos.

    Em 1805, Joo Viegas desceu o Rio e, em 1812, Antnio Tom de Frana comandou a primeira Expedio mercante at a Cidade do Par (Belm) e, no ano seguinte, retornou com suas canoas carregadas, pelo mesmo caminho.

    A partir de ento, as viagens pelo Tapajs se tornaram mais comuns e a mais importante, sem dvida, foi a realizada pelo francs Henri Coudreau a servio do governo paraense com a finalidade de definir a localizao exata das fronteiras do Estado com o Mato Grosso.

    Relatos Pretritos Tapajs

    Cristbal de Acua (1639)

    LXXIV Rio e Nao dos Tapajs

    A 40 lguas (264 km) deste estreito desemboca, pela margem Sul, o grande e vistoso Rio dos Tapajs, que toma o nome da nao e Provncia de nativos que vivem em suas margens, que so muito bem povoadas por brbaros, com boas terras e abundantes mantimentos. (ACUA)

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    Bernardo Pereira de Berredo e Castro (1718)

    Livro 7

    568. Conhecia bem Manoel de Souza os interesses da Capitania; e no duvidando de que os mais importantes eram os dos resgates de escravos Tapuias, para o servio dela, encarregou esta diligncia ao Capito Pedro Teixeira, que assistido do Padre Frei Christovo de So Joseph, Religioso Capucho de Santo Antnio, saiu da Cidade de Belm com vinte e seis Soldados, e copioso nmero de ndios; mas como chegando Aldeia dos Tapuyusus teve as informaes de que no Tapajs comerciavam eles com uma Nao muito populosa, que tomava o nome deste mesmo Rio, deixando logo o das Amazonas, por onde navegava, entrou por aquelas doze lguas (79,2 km) at uma enseada de cristalinas guas, a que servia de docel um belo arvoredo; aprazvel stio, em que descobriu os novos Tapuias, avisados j desta visita pelos seus amigos Tapuyusus, generosamente subornados do mesmo Comandante. Porm ele, que entre as lisonjas da fortuna se lembrava sempre da sua inconstncia, desembarcando muito nas vizinhanas da Povoao, se fortificou com toda a boa ordem da disciplina militar; at que satisfeito da fidelidade destes ndios, os comunicou com mais confiana; e achando neles um trato menos brbaro, indagou tambm as provveis notcias de o haverem devido ao comrcio das ndias Castelhanas, de que se tinham separado. Aqui se deteve alguns dias com amigvel correspondncia; e depois do resgate de galantes esteiras, e outras curiosidades, se recolheu ao Par, justissimamente gostoso deste descobrimento, mas com poucos escravos; porque os Tapajs os estimam de sorte, que raras vezes chegam a consentir nesta qualidade de permutaes. (...)

    Livro 10

    733. Navegando mais quarenta lguas (264 km), parte do Sul, entrou Pedro Teixeira na grande Boca do Tapajs, Rio to aprazvel, como caudaloso, que toma o nome da principal Nao dos seus habitadores que, alm de serem todos muito guerreiros, usam tambm de flechas ervadas (envenenadas) e aportando uma das suas Povoaes achou nela, pelos resgates ordinrios, abundante refresco de carnes do mato, aves, peixes, frutas e farinhas, com um sumo agrado daqueles brbaros Tapuias, que tratou alguns dias. A sua entrada defendida de uma Fortaleza, que conservamos h muitos anos; mas ainda que vrias vezes se tem intentado o seu descobrimento, s pode conseguir-se at os primeiros rochedos, embaraado sempre da oposio forte daquele gentilismo. Tem dilatadas matas de pau cravo; e na eminncia das suas montanhas, se presumem nelas umas pedras muito pesadas, que sendo de metal de to baixa qualidade, que se exala todo a sua fundio. (BERREDO)

    Charles-Marie de La Condamine (1735)

    XI

    Em menos de dezesseis horas de caminhada, fomos de Pauxis Fortaleza de Tapajs, na entrada do Rio do mesmo nome. Este tambm um Rio de primeira ordem. Deflui das minas do Brasil, atravessando pases desconhecidos, onde habitam naes selvagens e guerreiras, que os missionrios jesutas trabalham em amansar.

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    Dos restos do aldeamento de Tupinambara, situado outrora numa grande Ilha, na Foz do Rio da Madeira, formou-se o de Tapajs, e seus habitantes so quase que tudo o que resta da valente nao dos tupinambs, dominante h dois sculos no Brasil, onde deixaram a lngua. Pode-se-lhe ver a histria e a longa peregrinao na Relao do Padre dAcua.

    entre os Tapajs que se acham hoje, mais facilmente, dessas pedras verdes, conhecidas pelo nome de pedras das amazonas, cuja origem se ignora, e que foram to procuradas outrora, por causa da virtude que se lhes atribua, para curar a pedra a clica nefrtica, e a epilepsia. Houve um tratado impresso sob a denominao de Pedra Divina. A verdade que elas no diferem, nem na cor nem na dureza, do jade oriental: resistem lima, e ningum imagina por qual artifcio os antigos americanos a talhavam, e lhes davam diversas configuraes de animais. Foi, sem dvida, o que deu lugar a uma fbula digna de refutar-se. Acreditou-se muito a srio que tal pedra no era mais que o limo do Rio, ao qual se dava a forma requerida, petrificando-o quando era tirado ainda fresco, e que adquiria ao ar esta dureza extrema. Quando se concordasse gratuitamente com semelhante maravilha, de que alguns crdulos no se desenganaram seno depois de ter experimentado inutilmente um processo to simples, restaria outro problema da mesma espcie a propor aos lapidrios. So as esmeraldas arredondadas, polidas e furadas por dois buracos cnicos, diametralmente opostos num eixo comum, tais como ainda hoje se encontram no Peru, nas margens do Rio de Santiago, na Provncia das Esmeraldas, a quarenta lguas (264 km) de Quito, com diversos outros monumentos da indstria de seus antigos habitantes. Quanto s pedras verdes, elas se tornam cada vez mais raras, j porque os ndios, que lhes do grande importncia, delas se no desfazem de boa vontade, j porque grande nmero delas foi enviado Europa. (CONDAMINE)

    Joo Daniel (1741-1757)

    (...) o Rio Tapajs na verdade um dos mais avultados, que, da banda do Sul, recebe o Amazonas. Tem este Rio as suas cabeceiras muito perto das minas de Cuiab, que tomam o nome do Rio Cuiab, que tomam o seu curso para o Sul, e se vai meter no Rio da Prata; e talvez que pelo Rio Cuiab, ou algum outro tenha o Rio Tapajs comunicao com o Rio da Prata; pois consta que na verdade h a tal comunicao, posto que ainda no se sabe de certo por qual Rio: se pelo Tapajs, ou pelo Madeira, de que falamos supra. E quando no seja por este Rio Cuiab, ao menos se afirma estarem vizinhas as cabeceiras de um e outro Rio. Recolhe o Rio Tapajs de uma e outra banda muitas e grandes ribeiras, e alguns Rios de nome, especialmente da banda de nascente. (...)

    o Rio Tapajs navegvel at suas cabeceiras; porm com alguma dificuldade nas suas catadupas, e da para cima, onde corre muito violento, por no atender ao grande princpio, que nas cachoeiras o espera, bem como os pescadores, que no atendendo grande queda, que os espera no fim da vida, para o inferno correm sem freios nos seus vcios, nullus est qui recogitet (ningum h que reflita). Contudo no so as cachoeiras do Tapajs to medonhas, como as do Rio Madeira porque se podem navegar para cima facilmente no tempo da enchente, e ainda na vazante em embarcaes pequenas.

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    Quase na sua Foz forma grandes Baas, onde recolhe o Rio Cumane, que nele desgua da banda de Oeste; de poucos dias de viagem. Desgua o Rio Tapajs no Amazonas com tanto mpeto que, por um grande espao, se conhecem divididas por uma corda as guas de um e outro; ou porque quer mostrar que ainda vista do Amazonas Rio grande ou que Rio de distino. J para cima da sua Foz, cousa de duas lguas (13,2 km), tem furo para o Amazonas, bem pelo meio de uma lngua de terra, capaz de grandes embarcaes em todas as estaes do ano, exceto na Boca que, nas secas do vero, quase fica em seco. Nesta Boca do Tapajs est uma Fortaleza, que a primeira Rio abaixo da banda do Sul. (...)

    Junto catadupa do Rio Tapajs, acima da sua Foz pouco mais de cinco dias de viagem, est uma fbrica, a que os portugueses chamam convento, por ter o feitio dele. Consiste este em um comprido corredor com seus cubculos por banda, e com suas janelas conventuais em cada ponta do corredor. fbrica, segundo me parece das poucas notcias que do os ndios brutais em cujas terras esto, de pedra e cal, e conforme a sua muita antiguidade, mostra ser feito por mos de bons mestres. todo de abbada, e muito proporcionado nas suas medidas, e no feito, ou cavado em rochedo por modo de lapa, ou concavidade, como so os templos supra, mas obra levantada sobre a terra. Alguns duvidam se toda a fbrica consta de uma s pedra, porque no se lhe vem as junturas: famoso calhau se assim e, na verdade, s sendo um inteiro calhau parece podia durar tanto, pois segundo o ditame da razo se infere que ou obra antes do universal dilvio, ou ao menos dos primeiros povoadores da Amrica que, por to antigos, ainda se no sabe decerto donde foram, e donde procedem. A tradio, ou fbula, que de pais a filhos corre nos ndios, que ali moraram, e viveram nossos primeiros pais, de quem todos descendem, brancos e ndios; porm que os ndios descendem dos que se serviam pela porta, que corresponde s suas Aldeias, e que por isso saram diferentes na cor aos brancos, que descendem dos que tinham sado pela porta correspondente Foz, ou Boca do Rio; ser talvez a principal e ordinria serventia do palcio, e a outra uma como porta travessa; outros dizem que naquele convento moraram os primeiros povoadores da Amrica e que, repartindo a seus filhos e descendentes aquelas terras, eles bulharam (discutiram irracionalmente) entre si sobre quem havia de ficar senhor da casa, e que finalmente s se acomodaram desamparando a todos. Eu no discuto agora sobre estas tradies, cuja ponderao deixo discrio dos leitores, s digo que o palcio, ou convento bem merece venerao por velho e gozar dos privilgios dos mais antigos. Algum autor houve que discorria ser a Amrica o Paraso Terreal, onde Deus pusera Ado, apontava para isso vrias razes, fundadas j na sua grande fertilidade, e j nos seus grandes Rios; e outros que no aponto por me parecerem quimricos, alm de assentarem os maiores escriturrios, que o lugar do paraso era, e na sia, encoberto, e oculto aos homens; e tambm pode ser na Amrica do que prescindo; s digo que os que o pem na Amrica tm neste Convento e tradio dos ndios grande fundamento. A verdade que os ndios lhe tm tal respeito e venerao, que se no atrevem a morar nele, no obstante o viverem em suas fracas choupanas quanto basta a encobrir os raios do sol, e incomodidade da chuva; nem tm instrumentos para maiores fbricas, por no terem uso do ferro; e tendo ali casas feitas, e bem acomodadas, as deixam estar solitrias, servindo de covis aos bichos do mato, e de palcio aos grandes morcegos, e aves noturnas que ali vivem e moram muito contentes e sossegadas, enquanto os tapuias no lhes do

  • 19

    caa com as suas flechas, para deles fazerem bons assados, e melhores bocados para os seus. Ao sair pela sua porta os ndios, e por isso saram tisnados tisnados (enegrecidos), e vermelhos; e quem sabe se por causa deste fogo, e fumo, no habitam o convento? (...)

    Mais curiosos foram os que mediram outra semelhante no Rio Tapajs, que com grande cabedal (caudal) desgua acima do Rio Coroa. Entre os mais Rios e Ribeiras que recolhe o Tapajs um o Rio Cupari, a pouca mais distncia de trs dias e meio de viagem da banda de Leste no alegre stio chamado Santa Cruz; clebre este Rio, mais que pelas suas riquezas, de muito cravo, por uma grande lapa feita, e talhada por modo de uma grande Igreja, ou Templo, que bem mostra foi obra de arte, ou prodgio da natureza.

    grande de cento e tantos palmos no comprimento; e todas as mais medidas de largura e altura so proporcionadas segundo as regras da arte, como informou um missionrio jesuta, dos que missionavam no Rio Tapajs, que teve a curiosidade de lhe mandar tomar bem as medidas. Tem seu portal, corpo de Igreja, Capela-mor com seu arco; e de cada parte do arco, uma grande pedra por modo de dois Altares colaterais, como hoje se costuma em muitas Igrejas; dentro do arco e Capela-mor, tem uma porta para um lado, para serventia da sacristia. O missionrio que a quiser fundar misso j tem bom adjutrio (auxlio) na Igreja, e no o desmerece o lugar, que muito alegre. Bem pode ser que nos mais Rios e Distritos do Amazonas, e seus colaterais, haja algumas outras Igrejas, ou Capelas; nestes trs Rios Tapajs, Coroa e Xingu se descobriram estas, por serem mais frequentados. (DANIEL)

    Jos Monteiro de Noronha (1768)

    Da Viagem da Cidade do Par at as ltimas Colnias dos Domnios Portugueses em os Rios Amazonas e Negro

    54. O Rio Tapajs tem as suas fontes junto cordilheira das Gerais. Desce do Sul ao Norte paralelo aos Rios Xingu e Madeira, e desgua na margem austral do Amazonas em 225 ao mesmo Polo do Sul. Unem-se-lhe vrios Rios; um dos quais o das Trs Barras que lhe Oriental, aonde o Sargento-Mor (Major) Joo de Souza de Azevedo achou ouro no ano de 1746 e o Rio Arinos, aonde no mesmo ano foram descobertas as minas de Santa Isabel por Pascoal Arruda, passando por terra do Mato Grosso ao Rio Arinos, cuja jornada se faz em quinze dias, e em menos de Cuiab.

    55. H neste Rio grandes Saltos, chamados vulgarmente cachoeiras, cravo e leo de copaba. As suas terras ainda so povoadas de muitas naes de ndios infiis das quais as mais conhecidas so: Tapakur, Carary, Mau, Jacaretapiya, Sapop, Yauain, Uarup, Suarirana, Piriquita, Uarapiranga. Os ndios das naes Jacaretapiya e Sapop so antropfagos. Os da nao Yauain tm por sinal distintivo um listo largo e preto no rosto, principiando do alto da testa at a barba. Os das naes Uarup, Suarirana, e Piriquita tm as faces matizadas com sinais pretos, que lhe fazem os pais na sua infncia com pontas de espinhos, e tinta negra aplicadas nas picaduras dos mesmos espinhos. Nos seus ritos, costumes e armas, so como os demais, sem especialidade notvel.

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    56. Na Barra do Rio Tapajs, parte Oriental dele est a Vila de Santarm, defendida por uma Fortaleza. Pelo Rio acima, h mais quatro povoaes, a saber: a Vila de Alter do Cho (antiga Borary ou Iburari), na margem Oriental e superior a Santarm 8 lguas (52,8 km); a Vila Franca (antiga Cumaru ou Arapiuns) na margem Ocidental fronteira a Alter do Cho com a mediao de uma Baa de mais de quatro lguas e pouco acima da Barra do Rio Arapiuns. A Vila Boim (antiga Santo Incio ou Tupinambaranas) distante da Vila Franca dez lguas na mesma margem. A Vila de Pinhel (antiga Maitapus) tambm Ocidental, e acima da Vila Boim quatro lguas e meia. Os ndios, que habitam nestas Vilas e em todas as demais povoaes, que ficam do Tapajs para baixo se chamam vulgarmente entre eles Canicaruz; em distino dos que assistem nas povoaes de cima, aos quais apelidam por Yapyruara, e vale o mesmo que gente do serto, ou parte superior do Rio. (NORONHA)

    Manoel Ayres de Cazal (1817)

    Tapajnia

    Os navegadores do Tapajs observaram numerosas colinas, e alguns montes, estando ainda muito distantes do Amazonas, em cujas vizinhanas as terras so baixas, e nenhum Rio considervel sai deste pas para o primeiro, que assaz largo e cheio de Ilhas de todas as grandezas povoadas de matos. No nos atrevemos a dizer se a parte do Sudoeste regada pelo caudaloso e cristalino Rio das Trs Barras por ainda no estar acertada a Latitude das suas Bocas. Mas ou estejam dentro ou fora dos limites, que assinamos (firmamos) Comarca, e que por hora s servem para clareza da descrio empreendida, provvel que, quando com o tempo a povoao crescer nestas paragens, venha ele a ser em parte a diviso comum com a Provncia dos Arinos. Pela sua grandeza se supe ser navegvel por largussimo espao, com grande vantagem dos futuros povoadores de uma e outra Comarca, facilitando-lhes a conduo das suas produes ao Tapajs.

    Santarm: Vila grande, e florescente situada pouco dentro da embocadura do Rio Tapajs escala das canoas, que navegam para Mato Grosso e Alto Amazonas, e o depsito de grande quantidade de cacau, cujas rvores tm sido cuidadosamente cultivadas no seu territrio, que lhes particularmente apropriado. Seu princpio foi uma Aldeia com o nome do Rio, que a banha, fundada pelos jesutas para habitao de uma horda Indiana. povoao abastada de pescado. Tem uma Igreja Paroquial dedicada a Nossa Senhora da Conceio, e muitas casas de sobrado. No Fortim, que a princpio a defendia contra os brbaros, h hoje um Destacamento para registrar as canoas que sobem e descem por um e outro Rio. Seus habitantes, em grande parte Brancos, criam ainda pouco gado vacum. (CAZAL)

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    Johann Baptist Von Spix e Carl Friedrich P. Von Martius (1819)

    Ao sair do camarote, notamos uma grande mudana na gua; no tinha mais o tom amarelo-sujo da do Amazonas, mas era verde-escura e mesmo mais clara que a do Xingu; achvamo-nos, portanto na Foz do Tapajs. Em breve, subamos, por esse Rio cuja largura no nos pareceu muito maior que a do Xingu em Porto de Moz. (SPIX e MARTIUS)

    Antnio Ladislau Monteiro Baena (1839)

    Nota

    O Rio Tapajs com o Juruena, que o constitui, tem as cabeceiras nas Serras dos Parecis, ao Ocidente das do Rio Guapor, situadas no terreno mais excelso do Brasil; destas Serras ele rola para o Setentrio paralelamente ao Xingu. As suas correntes so escuras, mas em fundo de duas braas deixam divisar as reas e os seixinhos da margem.

    A situao geogrfica da sua Foz o paralelo austral 229 cruzado pelo meridiano 32315 e a largura de 2.998 braas craveiras (6,6 km uma braa craveira = 2,20 metros).

    Este Rio extrai o nome dos silvcolas denominados Tapajs que antigamente desceram das possesses castelhanas no alto Peru e tomaram assento na parte contiguamente superior ao stio que hoje ocupa a Vila de Alter do Cho. Estes silvcolas eram menos broncos e menos bravos e infestadores que os outros indgenas; entre os quais muito abalizavam os Muturicus na valentia. As ltimas hostilidades que eles praticaram nos povos do Tapajs, ajudados das suas mulheres, foram em 1773, em cujo tempo tambm combateram o Comandante da Fortaleza da Foz do Rio sem pavor do fogo que ele lhes fez por um largo espao de tempo.

    penhascoso o Tapajs. Cinco dias de navegao para cima das suas faces o estorva grande nmero de catadupas e muito difceis de montar. Na proximidade delas ou as guas ou os ares causam doenas segundo dizem os que ali vo apanhar cravo e outros gneros da espessura.

    As terras que este Rio retalha apresentam logo da Foz do mesmo Rio para cima de grandes Lagos, campos, colinas e montes.

    Os sobreditos campos dos Parecis, terminados na fralda da serrania que corre da altura de 14 para o Norte e para o poente, assumem este nome de uma cabilda de silvcolas assim chamados, que foi desbaratada e extirpada do solo ptrio com bastante feridade (brutalidade) por frequentes tropas sadas do Cuiab a explorar ouro.

    Em 1626, entrou o Capito Pedro Teixeira neste Rio a fazer resgates de escravos indgenas bravos em companhia de um religioso capucho e testa de 28 soldados e avultado nmero de ndios.

    Comearam em 1668 os padres da companhia a plantar Aldeias neste Rio e chegaram a administrar cinco.

  • 22

    Em 1747, Joo de Sousa de Azevedo desceu das terras Setentrionais de Mato Grosso pelo Sumidouro ao Arinos, no qual havia embocado (acertado) com Pascoal Arruda a cata de ouro e voltando este seu companheiro para a capital da sua Capitania, intentou ver se deparava com o mesmo metal em outra paragem e com este pressuposto seguiu a undao (corrente) do Arinos e entrou no Tapajs, do qual se dirigiu Cidade do Par (Belm) em 1749, com o ouro achado.

    O aparecimento deste homem provocou a curiosidade do Governador do Par, Francisco Pedro de Mendona Gurjo, para exigir dele notcias topogrficas de Mato Grosso: e a este fim foi chamado ao Colgio Jesutico, onde disse tudo quanto sabia da matria e referiu que a descoberta das Minas de Mato Grosso fora praticada pelo Sargento-Mor (Major) Antnio Fernandes de Abreu no que se no mostrou cabalmente noticiado porque o verdadeiro descobridor de Mato Grosso foi em 1734 o sorocabano Fernando Paes de Barros, com o seu irmo Arthur Paes; e o dito Sargento-Mor s viu o descoberto pas em companhia do mencionado Fernando Paes em consequncia de ser mandado pelo Brigadeiro Antnio de Almeida Lara, Regente de Cuiab, a examinar o novo pas.

    Este mesmo Azevedo escreveu, a 16 de janeiro de 1752, uma Memria sobre o Tratado de Limites de 1750 entre as duas Coroas do ltimo Ocidente da Europa e deu-a ao Governador do Par, Francisco Xavier de Mendona Furtado, o qual enviou para a Corte. (BAENA, 2004)

    Paul Marcoy (1847)

    Depois de uma srie de bordejadas (navegar, aproveitando os ventos, mudando frequentemente o rumo) entre o Nordeste e o Sudeste, chegamos embocadura do Rio e lanamos a ncora a meia milha da Cidade de Santarm, localizada na margem direita. A confluncia do Tapajs com o Amazonas forma uma Baa mais ampla do que qualquer outra que eu j tinha visto. Tanto na direo do grande Rio como na do seu afluente, a margem de terra firme recuava tanto que a vista tinha dificuldade de acompanhar as sinuosidades.

    A juno do Ucayali com o Maranho, que me havia surpreendido, parecia agora medocre em comparao com a enorme extenso de gua nossa frente. Uma dupla linha de morros, baixos e pelados, rodeava a margem direita do Tapajs, Rio que se forma no interior pela unio de muitos riachos que nascem na chapada dos Parecis. A cor de sua gua um verde puxado para o cinza; ela se move to imperceptivelmente que chega a parecer gua parada.

    Na ponta formada pela juno dos dois Rios, sobre o topo achatado de uma longa colina, esto os muros de barro de uma Fortificao outrora destinada a proteger as possesses portuguesas do Amazonas e do Tapajs contra as incurses dos ndios e os ataques dos piratas da Guiana Holandesa. Ao p da colina e sombra da Fortificao, espalham-se as casas de Santarm, que se estende para alm das duas torres quadradas de uma igreja. Algumas escunas, chalupas, igarits e canoas ancoradas defronte Cidade davam um toque de alegre animao Capital do Tapajs, que conta uma centena de casas. A primeira explorao do Rio Tapajs data de 1626.

  • 23

    Foi feita por Pedro Teixeira, que subiu o seu curso por doze lguas em companhia de um Frade capuchinho chamado Cristvo (Frei Cristbal de Acua), um comissrio da inquisio, 26 soldados e uma leva de ndios Tapuias nutridos no seio da igreja romana e que j haviam recebido o duplo batismo de gua e de sangue. Ningum ignorava o objetivo da viagem e no ser preciso agora fazer mistrio dele. Pedro Teixeira, em nome do primeiro governador da Provncia do Par, Francisco Coelho de Carvalho, foi buscar um acordo com os ndios. Havia necessidade de braos para o trabalho na Cidade e nos campos, e as naes Tupinamb, Tapuia e Tucuju, que at ento haviam suprido a demanda, no eram mais suficientes para repor os ndios que durante onze anos, haviam perecido nas mos dos portugueses em seus novos domnios. (MARCOY)

    Alfred Russel Wallace (1848)

    Finalmente, aps 28 dias de viagem, na Barra do Tapajs, cujas guas azuladas e transparentes formavam um curiosssimo contraste com a turva correnteza amaznica. (WALLACE)

    Henry Walter Bates (1849)

    A Baa de Mapiri marcava o limite de minhas expedies pelo Rio, a Oeste de Santarm. Contudo, na estao da seca possvel viajar por terra, como fazem comumente os ndios, podendo-se percorrer oitenta ou noventa quilmetros ao longo das vastas praias do Tapajs, com suas alvas areias. Os nicos obstculos so os Riachos, a maioria dos quais vadevel quando as guas baixam. Para Leste, minhas andanas me levavam at a Barra do Maiac, que entra no Amazonas cerca de quatro quilmetros e meio abaixo de Santarm, onde a lmpida corrente do Tapajs comea a ser manchada pelas guas do Rio principal. (BATES)

    Richard Spruce (1851)

    Em Santarm, o nome local do Tapajs Rio Preto, mas a verdadeira colorao das guas azul-escura. Quando o avistei pela primeira vez, na estao seca, a gua azul se estendia Rio abaixo por diversas milhas, at ser absorvido pela vastido barrenta do Amazonas.

    Junto Cidade havia uma ampla praia de areia branca, que se estendia por cerca de uma lgua (6,6 km) para jusante, enquanto que, a montante, o Rio seguia sinuosamente por cerca de 5 milhas (1 milha = 1,85 km - 9,25 km). Contudo, quando chega a estao chuvosa e o nvel do Amazonas sobe, suas guas represam as do Tapajs, e nenhuma gota de gua azul ou nesga de praia arenosa pode ser vista da confluncia. (SPRUCE)

    Robert Christian Barthold AvLallemant (1859)

    Essa a chamada gua preta do caudaloso Tapajs, em cuja margem direita se ergue Santarm. O Tapajs o segundo Rio, em tamanho, que corre do Sul para o Amazonas. Nasce tambm no corao do Brasil. Sua nascente mais distante poder encontrar-se quase sob 15 de Latitude Sul. Da sua embocadura para cima, correndo quase paralelamente com o Xingu e o Tocantins, navegvel perto de 60 milhas, at Itaituba; ento os rpidos e cachoeiras interrompem a navegao de barcos maiores.

  • 24

    curioso que todos esses trs Rios, Tocantins com o Araguaia, Xingu e Tapajs procedam de regies de igual formao e quase do mesmo grau de Latitude, corram regularmente ao lado um do outro, formem quase na mesma Latitude suas cachoeiras inferiores e desguem quase na mesma proximidade equatorial no Amazonas e no Gro-Par, comparao em que naturalmente no entra clculo matemtico exato. Trs Rios fluindo para o Sul, Paraguai, Paran e Uruguai, este ltimo, verdade, mais sinuoso, oferecem algo semelhante.

    Antes de se afastar inteiramente da margem esquerda do Amazonas, goza-se, diante da desembocadura do Tapajs, belssima vista. As guas dos grandes Rios correndo do Nordeste para Sul, e as superfcies de seus afluentes, quando se contemplam, so realmente infindas; em trs direes v-se o horizonte encostar na gua Mare na non? desejaramos exclamar diante dessa perspectiva.

    O continente parece na verdade um arquiplago. A gua do Tapajs cristalina e perfeitamente limpa, sobretudo comparada com a gua turva, pardacenta, do Amazonas. A profundidade, porm, faze-lhe parecer preta. Essa gua preta interrompe pela embocadura, assinalada direita por uma ilhota, e esquerda, do lado de Santarm, por uma colina, e corre ento ao lado do Amazonas, no leito deste, fenmeno, como j disse, muito surpreendente. (LALLEMANT)

    Luiz Agassiz (1865)

    Deixando o Porto, vimos as guas negras do Tapajs se reunirem s amareladas do Amazonas e os dois correrem juntos durante algum tempo, como os Rios Arve e Rdano na Sua, unidos, porm no confundidos. (...)

    Volta da Expedio Enviada ao Tapajs

    9 de setembro Acabamos de passar alguns dias to calmos que no encontro nenhum incidente para narrar. Trabalhouse como de costume; todas as colees feitas desde o Par foram embaladas e esto prontas para serem enviadas para esse porto. Reuniramse a ns, de volta de sua excurso ao Tapajs, os nossos companheiros para isso destacados, e trazem desse Rio importantes colees.

    Parecem encantados com a viagem que fizeram e declaram que aquele curso dgua em nada cede ao prprio Amazonas em extenso e grandeza. Sobre as suas margens se estendem largas praias arenosas nas quais, quando o vento est forte, rolam ondas como nas praias do mar. Agassiz no se preocupou em colecionar animais da localidade; limitou-se a obter os peixes que se podem pescar nas redondezas; deixou para a volta a explorao do Rio Negro. (AGASSIZ)

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    Rufino Luiz Tavares (1875)

    Hidrografia

    O Rio Tapajs, cujo nome tomou dos indgenas assim denominados, que habitaram por muito tempo suas margens nas proximidades da Foz, um dos maiores e dos mais notveis confluentes do Rio Amazonas. Desgua aos 061250 de Longitude ao Oeste de Belm, Capital da Provncia do Par, e aos 022450 de Latitude Sul, na distncia de 950 quilmetros daquela cidade, pelas voltas do Rio. formado pelo Rio Juruena, ou antes seu prprio prolongamento. Tem as nascentes no extenso plateau de Mato Grosso, seguindo proximamente de Sul para o Norte, percorrendo um leito obstrudo em parte por perigosas cachoeiras, todas, com mais ou menos dificuldades, acessveis em determinada poca do ano, com exceo de uma s o Salto Augusto.

    No ponto onde suas guas se repartem em dois ramos, recebe a denominao por que conhecido na embocadura, cuja largura regula 1.700 metros, tomada da margem direita Ponta Negra. Ainda no foi explorado convenientemente, pelo menos a torn-lo conhecido cientificamente de Itaituba para cima. O que porm se sabe do curso e direo das suas guas, deve-se to somente ao acaso da sua descoberta, em 1746, pelo Sargento-Mor Joo de Souza Azevedo. Descendo o Sumidouro at a sua juno com o Rio Arinos, navegou por este e o Tapajs at Santarm, deste ponto pelo Amazonas abaixo at Belm. Mais de meio sculo depois, no ano de 1812, outra explorao foi empreendida, mas tomado o Rio Preto como ponto de partida o qual, como o Sumidouro se lana no Arinos. Com 75 dias de viagem guas abaixo alcanou Santarm, com 110, guas acima, o porto extremo, porm partindo de Uxituba. (...)

    Em 1828, foi ao Tapajs uma Comisso ordenada por Nicolau I (Czar Alexandre), sob a direo do Conselheiro Langsdorf, e o resultado que obteve foi por muito tempo ignorado. O ano prximo findo, viajando em minha companhia o geogrfico russo Alexandre Woeikof com quem entretive as mais agradveis relaes, deu-me alguns esclarecimentos a respeito. Asseverou-me que infelizmente a dita Comisso no correspondera expectativa do seu governo, que seus trabalhos sobre o Tapajs no gozaram da menor importncia cientfica porquanto no passam de uma mera descrio de viagem. Quisera tambm alguma cousa me referir relativamente de 1871, determinada pelo governo da Provncia do Par, composta dos engenheiros Tocantins e Julio; constando-me porm que no seguiram alm da Cachoeira Bubur, pouco acima do tributrio Joanchim, 33 milhas (antiga medida itinerria terrestre brasileira 1 milha = 2.200m 72,6 km) ao Sul de Itaituba, limito-me a registr-la aqui. O Rio Juruena recebe pela sua margem direita o Arinos, que tambm constitui o Tapajs. Nasce das Serras dos Parecis na Provncia de Mato Grosso, engrossa suas guas com as de muitos afluentes, dos quais os mais notveis so, o Rio Preto com a Foz na margem esquerda, o Sumidouro, o dos Peixes, o dos Patos, Tapanhu-au e Tapanhu-mirim, na direita. Em seguida cachoeira Todos os Santos se lana pela margem esquerda ao Rio So Manoel, de curso bastante extenso, regular largura, alimentadas suas guas com as de muitos mananciais de pequena importncia e na maior parte desconhecidos. (...)

  • 26

    Contiguo ao lugar onde est situada Vila Franca, na margem esquerda do Tapajs, desgua em uma Bacia o Rio Arapium, tributrio de grande curso com cachoeiras, as cabeceiras para o centro das terras firmes que pela parte do Sul limita o Lago Grande de Vila Franca, cujo desaguadouro acha-se na margem direita do Amazonas, acima da costa de Paricatuba, 56 quilmetros de Santarm. Nas vizinhanas do porto desta cidade, nenhum outro Rio existe mais importante, no s pela abundncia de riquezas naturais que possui, como tambm porque est habitado e facilita de alguma forma as comunicaes entre o referido Lago e a Vila, atravs da margem esquerda. Tambm se comunica o Tapajs com o Rio Amazonas pelos estreitos ou Canais denominados Arapixuna e Igarap-au, este accessvel a vapores, encurtando assim a viagem geralmente feita pela Ponta Negra. O primeiro dos referidos Canais demora a Este, fica defronte da Foz do Arapium e s d passagem durante a enchente pelo Furo Cararyac. habitado, possui muitos stios e plantaes de cacau e caf, o segundo acha-se NS com a ponta Sal, na distncia de 1.850 metros. Presentemente tem a Boca de comunicao com o Amazonas obstruda com plantas aquticas, que mui facilmente pode-se remover. Estes Canais pelos quais o Tapajs recebe guas do Amazonas, deram causa a asseverar algum que aquele tributrio se lanava no segundo por trs Bocas, o que no passa de um erro palmar (evidente) em hidrografia.

    A regio encachoeirada do Rio Tapajs compreende uma faixa de mais de 400 quilmetros. Estes obstculos naturais, a partir das nascentes, so conhecidos sob os nomes seguintes: corredeiras Meia-Carga, Pequena Cachoeira do Espinho; grandes cachoeiras Rebojo, Joo da Barra e So Carlos; paredo Salto Augusto, de todas a mais terrvel e a nica inacessvel (...)

    As guas do Rio Tapajs so escuras, mas to transparentes que pequena profundidade permite distinguir perfeitamente os materiais de seu leito, tais como areia grossa, vasa (argila), seixos rolados, pedregulho e cabeas de que est semeado. A correnteza das guas varia segundo o estado do Rio, pois no comeo da enchente que sua velocidade torna-se maior, da Foz at Boim quase nula, de 2 quilmetros por hora at Aveiros, de 5,5 em Itaituba, no ms de fevereiro. A largura entre margens de 1.700 metros na Foz, de 12.964 da ponta de Tapary Vila Franca, de 14.816 em Alter do Cho, de 7.408 em Boim, de 11.100 em Pinhel, de 4.630 em Santa Cruz, de 3.204 em Aveiros, de 6.232 em Cury, finalmente de 3.204 em Itaituba. (TAVARES)

    Henri Anatole Coudreau (1895)

    No igarap do Igap Au, fronteira casa principal de Pedro Pinto, e a curta distncia para o interior, que se ergue a maloca Mundurucu mais Setentrional do Tapajs. Constituem-na umas trinta pessoas, homens, mulheres e crianas, trabalhando com Pedro Pinto.

    Este famoso Igap Au, que d nome a todo o Distrito, na realidade, no existe! Em toda a faixa onde de ordinrio o localizam, no se veem seno alguns pequenos igaps ou charcos, de extenso limitada. Sem dvida formavam um s e grande charco no tempo em que o nome foi escolhido. Fenmenos como este no so raros nestas bandas.

  • 27

    Das Ilhas do Igap Au aos rochedos de Cuatacuara, a regio da antiga Misso de Bacabal.

    No intuito meu fazer nestas linhas o histrico desta Misso, hoje completamente extinta, mas de Memria bem viva na Memria local. Permito-me referir, no entanto, que o fundador e diretor dessa obra, Frei Pelino de Castro Valva, conseguiu reunir uns seiscentos ndios, na maioria Mundurucu, recrutados ao longo do Tapajs, at as vizinhanas do Chacoro e do Air. Eram ndios j civilizados, que j tinham trabalhado ou trabalhavam com patres. No havia ningum das Campinas, nem para a viajou o Frade. Sucedeu, infelizmente, que pela maior parte os ndios morreram. Quando Frei Pelino deixou a Misso, dos seiscentos silvcolas, sobravam no mximo cinquenta; o resto havia morrido.

    Frei Pelino foi inquietado por haver sido mais feliz nos seus negcios que na sua obra de caridade. E fizeram um inqurito, que nada apurou.

    Foi isto vinte anos atrs. Se Frei Pelino voltasse de Roma, onde, parece, soube preparar para si uma doce existncia, reveria seu pobre Bacabal to deserto como no dia em que o abordou para a sua obra crist. No lugar da Misso um instante florescente, depararia to s intil e triste runa da mata virgem abatida: a melanclca capoeira.

    Bacabal virou deserto. Contudo, neste ponto como em outros, onde a organizao malogra, triunfa a iniciativa privada. Apenas pelo esforo individual, o Tapajs povoa-se. Sem o concurso de empresas subvencionadas de colonizao e de civilizao. Povoa-se, e no futuro se povoar cada vez mais rapidamente. Bastam para tal, a este Rio, seu clima e suas belezas naturais.

    Onde encontrar algo mais belo que os rochedos de Cuatacuara?

    Imagine-se uma muralha a pique, uma grande muralha de 100 a 150 metros de altura estendendo-se ao longo do Rio por cerca de trs quilmetros. Rochedos abruptos que lembram frontes de edifcios, obeliscos, catedrais disformes mas gigantescas; rochedos com aparncia de uma ciclpica Fortaleza, e na rocha desnuda, com sees perpendiculares cortando nitidamente as estratificaes, formas que parecem pilares meio murados na enorme massa, gigantescos capitis, janelas!

    Sempre e sempre a rocha despida, salvo na cpula da monstruosa obra, onde magros arbustos se estiolam.

    Aqui e alm, ameaas de desmoronamentos sobre as canoas que passam em baixo. Mais longe, cmoros pelados, com uma outra mancha de hera (erva) avermelhada, tentando inutilmente cobrir a nudez triste da pedra.

    , s vezes, lgubre, mas a cada instante supinamente grandioso, sobretudo quando o sol derrama a abundncia da sua luz, do seu calor e da sua alegria, sobre os aspectos envelhecidos da Errante Morada do homem. (COUDREAU)

  • 28

    Amlcar A. Botelho de Magalhes (1928)

    Nota 14

    O notvel gegrafo Pimenta Bueno, sem uma razo plausvel e com evidente menosprezo pelas de ordem antropogeogrfica, quando organizou o mapa de Mato Grosso de que foi autor, considerou como Rio Tapajs o trecho desse curso dgua desde sua foz no grandioso Rio Amazonas, at a confluncia dos Rios Juruena e Arinos; desta forma o Tapajs ficava sendo o produto da confluncia destes dois Rios e o So Manoel ou das Trs Barras, modernamente Rio Teles Pires, deveria ser considerado como afluente da margem direita do Tapajs. Esta caprichosa imposio aberrava das tradies guardadas pelos habitantes ribeirinhos, para os quais:

    1) o Rio Tapajs era formado pela juno do Juruena e do So Manoel;

    2) o trecho do Rio entre a Boca do So Manoel e a do Arinos, era ainda o Rio Juruena.

    Rondon, estudando minuciosamente o assunto, entendeu, muito judiciosamente, restabelecer as primitivas inscries cartogrficas, anteriores a Pimenta Bueno, porque o estudo das plantas levantadas pela Comisso Rondon, tanto do Juruena como do Arinos, revelaram claramente que o Arinos devia ser considerado como afluente do Juruena o que corroborava a hiptese de se continuar a chamar Juruena o trecho do curso dgua compreendido entre as fozes dos Rios Arinos e So Manoel ou Teles Pires. (...)

    Eis como se exprimiu a propsito o Gal. Rondon (Conferncias 1915):

    Os gegrafos modernos, porm, aceitaram a lio de Pimenta Bueno, publicada no seu mapa de Mato Grosso, que consiste em fazer o nome Juruena morrer na barra do Arinos, figurando pois, o Tapajs como resultado do concurso das guas que descem reunidas desde essa foz at o Amazonas. Semelhante modificao, que contraria a tradio histrica constante das crnicas dos dois sculos passados, e as indicaes da populao ribeirinha, e de todos os navegantes antigos e modernos, no tem a ampar-la nenhuma razo de ordem superior a esses elementos.

    No ponto em que o Juruena vai receber o Arinos, verificou o Capito Pinheiro (oficial da Comisso Rondon que fez a explorao e o levantamento do Rio Juruena) ser a sua descarga de 1975 metros cbicos, e ter o seu leito a largura de 1.080 metros. A medio no deu para a descarga do Arinos mais do que 1.283 metros cbicos, e para a largura, 734 metros. Comparando-se estes elementos, v-se que no h razo para os dois Rios serem considerados equivalentes; o poder de um, no se apresenta em condies de ser neutralizado pelo do outro, de modo a dar lugar ao aparecimento de nova entidade geogrfica, exigindo designao tambm nova. A direo que o Juruena trazia, continua-se da para baixo; o seu volume bastante superior ao do Arinos; portanto, perfeitamente cabvel considerar-se este como tributrio daquele cujo nome deve ser conservado e prolongado, pelo menos at a foz do Teles Pires.

    O Tapajs forma-se, pois, da reunio das guas do antigo So Manoel (hoje Teles Pires), com as do Juruena; o 1 contribui, em cada segundo, para esta formao, com o volume de 1.747 metros cbicos e o outro com o de 2.480 metros cbicos. (MAGALHES)

  • 29

    Complexo Hidreltrico do Tapajs

    A concluso, bvia, que a Amaznia precisa ser internacionalizada para evitar que utilizemos os cursos dgua daquela Bacia Hidrogrfica para produzir energia e proporcionar o desenvolvimento daquela regio em nosso benefcio exclusivo. Ento, para comear, urgente impedir a construo das hidreltricas, enviando

    seguidas delegaes de notveis que se prestem a fazer o ridculo papel de defensores de etnias das quais mal conhecem a designao correta e certamente

    desconhecem a localizao das aldeias (alguns acreditam que se trata de remanescentes de tribos astecas). (Antonio Delfim Neto)

    As inmeras manifestaes de personalidades tanto estrangeiras como nacionais e de alienados artistas globais sobre a construo da Hidreltrica de Belo Monte fizeram minha mente madrugar no passado. No longnquo pretrito, o escritor Gasto Cruls dissertava sobre a rea sem nunca t-la conhecido pessoalmente baseando-se apenas em relatos e vivncias de outros cronistas. Seu romance A Amaznia Misteriosa e a Hilia Amaznica tinham como cenrio a Regio Norte do pas, ainda desconhecida pessoalmente por ele. Em 1928, porm, Cruls resolveu conhec-la acompanhando a Expedio do General Rondon, que subiu o Rio Cumin at os campos do Tumucumaque, nos idos de 1928 e 1929, e que resultou no pico A Amaznia que eu vi. Os relatos, em forma de dirio, so ricos e encantadores, trazendo baila o conhecimento nativo e mostrando a beleza da Hileia captada pela atenta retina de Cruls. O escritor retrata fielmente, atravs de sua inspirada e impecvel escrita, como nenhum pesquisador ou naturalista estrangeiro teve a capacidade de fazer antes dele. Gasto precisou v-la in loco para captar e entender sua essncia, sua magia, suas carncias, seus mistrios e suas riquezas.

    A Regio Amaznica precisa de energia limpa, renovvel, com menor custo para a sociedade para empreender sua jornada definitiva na senda do desenvolvimento sustentvel. Os projetos atuais dos Complexos Hidreltricos dos Rios Madeira, Xingu e Tapajs so, sem dvida, as melhores opes para a ampliao do parque energtico brasileiro pois, alm de serem capazes de produzir grande quantidade de energia, permitiro a integrao ao Sistema Interligado Nacional (SIN) reforando a transferncia de energia entre as vrias regies, aumentando a oferta e segurana do sistema eltrico. Os linhes que esto sendo construdos para levar energia de Tucuru at Manaus sero aproveitados por Belo Monte, possibilitando que a bauxita extrada no Porto Trombetas e Juriti seja processada, transformando-nos, de meros vendedores terceiro-mundistas de matria-prima, em exportadores de alumnio. A energia propiciar mais conforto aos ribeirinhos, mais eficincia aos hospitais e escolas, mais segurana, mas isso no interessa aos talibzinhos verdes que usam roupas de grife e so pagos por Organizaes que costumam rasgar ou desrespeitar nosso sagrado pavilho verde-amarelo. Aqueles que condenam a construo das hidreltricas deixam-se arrastar pelas cantilenas das ONGs e missionrios estrangeiros a quem no interessa que suas ovelhas tenham acesso modernidade, a oportunidade de melhorar de vida e de livrar-se de seu jugo.

  • 30

    Apages e Racionamentos Vista

    O consumo nacional de energia eltrica vem registrando uma expanso mdia de 7,0% ao ano, liderado, fundamentalmente, pelo consumo industrial. Para que o Brasil possa continuar sua marcha para o desenvolvimento sustentvel, atendendo s demandas crescentes, sem enfrentar problemas com o fornecimento de energia, necessrio que se acelere a liberao das licenas ambientais e que nossos governantes enfrentem corajosamente as questes sociais que afligem os atingidos pelas barragens.

    A Empresa de Pesquisa Energtica (EPE) defende a necessidade de serem construdas 34 novas usinas at 2021, sendo 15 delas na Amaznia Legal. Caso isto no se concretize vir, o apago e o caos se instalar.

    Eletronorte e os Programas Indgenas http://www.youtube.com/watch?v=a7thskORns8&feature=youtu.be

    O governo tem uma carta na manga que no est sendo devidamente apresentada sociedade nacional e s lideranas indgenas atingidas pelas barragens que so dois Programas Indgenas modelares desenvolvidos em parceria com a Eletronorte.

    Programa Waimiri Atroari www.waimiriatroari.org.br

    Em maio de 2011, a populao dos ndios Waimiri Atroari era de 1.469 pessoas, com uma taxa de crescimento de 6% ao ano. Esse ndice somente foi possvel com as aes mitigadoras empreendidas pela Eletrobras Eletronorte devido aos impactos provocados pela construo da Usina Hidreltrica Balbina em suas terras.

    A situao dos ndios Waimiri Atroari antes do incio do Programa, em 1988, era totalmente diferente. A populao contava com 374 pessoas. A reduo populacional chegava a 20% ao ano. Na produo havia pequenas roas e dependncia alimentar externa. A cultura estava em processo de perda dos seus valores, no se realizando mais as principais manifestaes de seu patrimnio cultural e os Waimiri Atroari se encontravam em fase de desmoralizao como etnia.

    Na educao, as escolas no existiam e eles desconheciam a escrita. No campo da sade, o quadro era de epidemias de sarampo, malria e gripe, subnutrio, diarrias crnicas, falta de atendimento odontolgico e de vacinao. A terra no estava delimitada nem demarcada e havia processo de invaso em andamento, alm da situao fundiria totalmente irregular.

    Hoje totalmente diferente. Na produo observam-se grandes roas, estoque de animais para abate (peixes e gado) e total independncia alimentar. Houve o resgate de todas as prticas culturais e de sua dignidade como povo indgena. Na educao, so 21 escolas com 60 professores indgenas, 63,4% dos Waimiri Atroari so alfabetizados e o restante em processo de alfabetizao.

  • 31

    Na sade, nenhuma doena imunoprevenvel nos ltimos 15 anos, com controle total de doenas respiratrias, da malria e de outras doenas endmicas, boa nutrio e vacinao de 100% da populao. O controle da sade dos ndios informatizado . A terra est demarcada, homologada, sem nenhum invasor e com fiscalizao sistemtica dos seus limites e dos transeuntes das estradas existentes dentro dos territrios Waimiri Atroari. A situao fundiria est totalmente regularizada, com registro em cartrio de imveis e servio de patrimnio da Unio. (www.eln.gov.br)

    Programa Parakan www.parakana.org.br

    Em maio de 2011, a populao dos ndios Parakan era de 883 pessoas, resultado da taxa de crescimento de 5,1% ao ano. Esse ndice somente foi possvel com as aes mitigadoras empreendidas pela Eletrobras Eletronorte devido aos impactos provocados pela construo da Usina Hidreltrica Tucuru nas terras dos Parakan.

    A situao do povo Parakan antes do incio do Programa, em 1986, era totalmente diferente. A populao contabilizava 247 pessoas. Na produo havia dependncia total dos alimentos fornecidos pela Funai. A cultura encontrava-se em processo de perda dos seus valores culturais e manifestaes como festas tradicionais, pinturas corporais e ritos de passagem e morte. A lngua estava sendo perdida gradativamente, bem como os conhecimentos dos mais velhos sobre a natureza, seus mitos, sua medicina e tecnologia. Enfim, sua histria.

    As escolas no existiam e desconheciam a escrita. No campo da sade, o quadro era grave: epidemias de sarampo, malria e gripe, hepatite B, subnutrio, diarrias crnicas, nenhum atendimento odontolgico, falta de vacinao e de qualquer controle sobre a sade. A terra era demarcada, mas com pendncias de registros e regularizao.

    Hoje, alm do aumento populacional, grandes roas tm produo de excedentes; foi resgatada a prtica do extrativismo e da coleta de frutos para comercializao, como aa, cupuau, castanha, entre outros, o que resultou em total independncia alimentar. Tambm houve o resgate de todas as prticas culturais. Na educao, so doze escolas com 57,86% da populao Parakan alfabetizada na lngua materna e em Portugus, alm de grande parte da populao em processo de alfabetizao.

    Na sade, no se observou nenhuma doena imunoprevenvel nos ltimos 12 anos. H controle total das doenas respiratrias, malria, hepatite B e de outras doenas endmicas, alm de boa nutrio, vacinao de 100% da populao, controle informatizado da sade dos ndios e um programa de sade bucal preventivo, curativo e corretivo.

    A terra est demarcada, homologada e sem nenhum invasor, com fiscalizao sistemtica dos seus limites e dos transeuntes da rodovia Transamaznica, que faz limite com as terras indgenas Parakan. A situao fundiria est totalmente regularizada, com registro em cartrio de imveis e no servio de patrimnio da Unio. (www.eln.gov.br)

  • 32

    Hidreltricas a Fio Dgua

    Nas novas usinas, denominadas hidreltricas a fio dgua, a produo de energia proporcional vazo natural do Rio. Nelas, como o caso das hidreltricas de Santo Antnio e Jirau, em Rondnia e Dardanelos, no Mato Grosso, no necessria a construo de grandes barramentos para acumular gua. Estas hidreltricas dependem, fundamentalmente, do volume e da velocidade dos cursos dgua. No caso de Santo Antnio, por exemplo, a barragem de 13,9 metros de altura com um reservatrio de 271 km, sendo que deste total 164 km so de reas que o Rio inunda, normalmente, no perodo das cheias.

    Quebram-se Ovos para se Fazer uma Omeleta

    Felizmente o governo abandonou sua surrada cartilha ambientalista e est construindo as to necessrias Hidreltricas no Xingu, Madeira e planejando as do Tapajs. Deixando de lado estes projetos, o governo estaria mergulhando o pas na estagnao. A falta de investimentos de toda ordem gerariam, sem dvida, a curto prazo o desemprego, e a recesso se instalaria. preciso conhecer a realidade da Amaznia e do Brasil para no se deixar levar por movimentos hipcritas dos que no se interessam pelo futuro de nossa gente e de nossa nao. Aos abutres estrangeiros interessa o engessamento da regio para que, em caso de necessidade, no futuro, dela se sirvam como lhes aprouver, sem resistncia nem luta.

    Mitigao dos Impactos e Compensao Ambiental

    O Setor Eltrico vem cumprindo fielmente as obrigaes de mitigao dos impactos e de compensao ambiental. Tucuru, por exemplo, j recuperou praticamente 100% das reas degradadas com espcies nativas oriundas do Banco de Germoplasma (um dos projetos ambientais desenvolvidos pela Eletrobras/Eletronorte), onde permanecem armazenadas as espcies florestais coletadas na poca do enchimento do reservatrio. O Projeto Banco de Germoplasma conta com mais de 400 espcies de rvores produtoras de sementes e mudas de alta qualidade.

    Talibs Verdes

    Os meios de comunicao, contrapondo-se construo de hidreltricas, apresentam, sistematicamente, fontes alternativas de energia, carregadas de lirismo e totalmente desvinculadas da realidade.

    Complexo Hidreltrico do Rio Tapajs

    Foi publicado, no dia 25 de maio de 2009, no Dirio Oficial da Unio, o Estudo de Inventrio Hidreltrico do Rio Tapajs (Par), que identifica 14,2 mil megawatts de capacidade instalada no Rio. Isso significa que podero ser construdas at sete pequenas hidreltricas no Tapajs. O prximo passo para a implantao das hidreltricas a elaborao dos estudos de viabilidade dos sete aproveitamentos indicados no inventrio, que tambm devero ser aprovados pela Agncia Nacional de Energia Eltrica (Aneel).

  • 33

    Dirio Oficial da Unio N 97, segundafeira, 25 de maio de 2009

    Superintendncia de Gesto e Estudos Hidroenergticos Despachos do Superintendente

    Em 22 de maio 2009 .................................................

    N 1.887 O Superintendente de Gesto e Estudos Hidroenergticos da Agncia Nacional de Energia Eltrica ANEEL, no uso das atribuies estabelecidas (...) resolve:

    I Aprovar os Estudos de Inventrio Hidreltrico do Rio Tapajs, no trecho entre a confluncia de seus formadores Juruena e Teles Pires e sua Foz, no Rio Amazonas, com uma rea de drenagem total de 492.481km, incluindo tambm seu afluente pela margem direita, Rio Jamanxim, com rea de drenagem de 58.633 km, localizados na sub-bacia 17, bacia hidrogrfica do Rio Amazonas, nos Estados do Par e Amazonas, apresentados pelas empresas Centrais Eltricas do Norte do Brasil S.A. Eletronorte e Construes Camargo Corra S.A., inscritas no CNPJ sob os nos 00.357.038/000116 e 01.098.905/000109;

    II Estes estudos identificaram um potencial total de 14.245MW, distribudos em 3 aproveitamentos no Rio Tapajs e 4 no Rio Jamanxim, conforme referncias do quadro abaixo:

    INFORMAES DE REFERNCIA

    Coordenadas

    Geogrficas

    Dist. da Foz (km)

    rea de Drenag. (km)

    N.A de montante

    (m)

    N.A de jusante (m)

    Potncia

    (MW)

    rea do Reservatrio

    (km)

    TAPAJS

    S. Luiz do Tapajs

    043410 S 564706 O 321 452.783 50,0 14,2 6.133 722,25

    Jatob 051148 S 565511 O 456 386.711 66,0 50,0 2.338 646,30

    Chacoro 063008 S 581853 O

    699 346.861 96,0 71,9 3.336 616,23

    Subtotal 1.186.355 11.807 1984,78

    JAMANXIM

    Cachoeira do Ca

    050505 S 562805 O

    44 56.661 85,0 50,5 802 420,00

    Jamanxim 053848 S 555238 O

    171 39.888 143,0 85,5 881 74,45

    Cachoeira dos Patos

    055459 S 554536 O

    212 38.758 176,0 143,0 528 116,50

    Jardim do Ouro

    061549 S 554553 O 259 37.456 190,0 176,0 227 426,06

    Subotal 172.763 2.438 1037,01

    III As recomendaes contidas na Nota Tcnica que subsidiou a aprovao do inventrio hidreltrico em tela devem obrigatoriamente ser atendidas na etapa subsequente de estudo.

    IV A presente aprovao no exime os autores dos estudos de suas responsabilidades tcnicas e correspondente registro perante o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia CREA, bem como no assegura qualquer direito quanto obteno da concesso ou autorizao do aproveitamento dos potenciais hidrulicos identificados, devendo as mesmas atenderem s disposies da legislao vigente.

  • 34

    Hidreletricidade

    O Brasil utiliza, preferencialmente, a fonte hidreltrica para gerao de energia. Aproximadamente, 70% de nossa matriz energtica provm dessas fontes. Alm de possuirmos bacias passveis de serem aproveitadas, de se tratar de um recurso renovvel, o parque industrial nacional capaz de atender com mais de 90% a necessidade de bens e servios para a construo de complexos hidreltricos. O pas detentor de uma das mais exigentes legislaes ambientais do mundo e capaz fazer com que as hidreltricas sejam construdas atendendo aos ditames do desenvolvimento sustentvel.

    Evidentemente todo tipo de empreendimento domstico, industrial, ou de qualquer gnero causar impacto ao meio ambiente. O que as legislaes vigentes pretendem minimiz-los j que o aproveitamento destes recursos inevitvel frente ao desenvolvimento e ao crescimento populacional. Volta e meia surgem ecologistas estrangeiros apresentando solues mgicas, menos impactantes, como alternativas para a Amaznia baseadas em energia nuclear. Logicamente os pases de origem destes mercenrios ecologistas teriam muito a lucrar considerando a venda de produtos e tecnologia para implantao deste tipo de usina, sem considerar os riscos que as mesmas podem trazer, alm da insolucionvel questo do transporte e depsito de seus rejeitos nucleares.

    Recursos Hidreltricos

    O Plano Nacional de Energia Eltrica 1987/2010 avaliou que nosso Potencial Hidreltrico era de 213 mil MW. O inventrio hidreltrico brasileiro evoluiu consideravelmente, no somente do ponto de vista da identificao do potencial, mas tambm no que diz respeito metodologia de trabalho, graas a uma nova gerao de engenheiros que tem como meta aproveitar esse patrimnio da melhor forma e com o menor impacto possvel. A maior parte dos grandes aproveitamentos de potencial hidreltrico esto na Amaznia. Os aproveitamentos hidrolgicos localizados na Bacia Amaznia tm um Potencial Hidreltrico avaliado em 104 mil MW. Este potencial hdrico se encontra, fundamentalmente, nas sub-bacias dos Rios Madeira, Tapajs e Xingu.

    As Usinas Verdes de Zimmermann

    O Rio Tapajs tem um aproveitamento hidreltrico muito bom, mas a regio ainda de mata virgem, de difcil acesso, e a inteno de erguer usinas l gera

    forte resistncia dos ambientalistas. Agora, com o conceito de usinaplataforma, os impactos logsticos causados por uma obra deste tamanho no existiro. O

    projeto prev a abertura do canteiro de obras em meio mata e a concentrao dos trabalhos apenas naquele local especfico. (Joo Carlos Mello)

    O engenheiro eletricista Mrcio Zimmermann assumiu o Ministrio das Minas e Energia dia 31 de maro de 2010 e logo enfrentou o polmico leilo da Hidreltrica de Belo Monte, no Xingu.

  • 35

    Zimmermann, frente de uma das mais poderosas pastas do governo, que envolve energia eltrica, petrleo e gs, dedica ateno especial tanto s aes de curto prazo, quanto aos investimentos para as prximas trs dcadas. Zimmermann dever adotar, para novas hidreltricas da regio amaznica, um conceito que ele prprio criou, o de usina plataforma. Segundo o Ministro, o Brasil precisa continuar investindo em hidreltricas e na Amaznia, onde est o seu grande potencial, e afirma que:

    a regio no precisa de grandes reservatrios, podemos usar usinas mais de fluxo, a fio dgua. E para evitar que nasam cidades onde so feitas as usinas, eu desenvolvi o modelo plataforma. Quando esto prontas, elas funcionam como uma plataforma de petrleo. Hoje as usinas tm tele-controle e, depois de implantadas, preciso pouca gente para operar. Ento, possvel ter trocas de turno, como se faz nas plataformas. Terminada a implantao da usina, voc no deixou nascer uma Cidade, transforma tudo aquilo em reserva florestal. Vamos usar esse conceito em Tapajs. De uma rea que vamos inundar, cerca de 2 mil quilmetros quadrados, vo ficar protegidos em torno de 100 mil quilmetros quadrados.

    Os benefcios ambientais gerados pelo novo conceito aumentaro, substancialmente, o preo de obra das usinas. A polmica usina de Belo Monte, que ter potncia de 11 mil megawatts, semelhante ao do Complexo Energtico do Tapajs, ir custar, segundo estimativas do governo federal, R$ 16 bilhes.

    Hidreltricas do Bem Fonte: www.complexotapajos.com.br

    O conceito das usinasplataforma harmoniza a construo e a operao de hidreltricas com a conservao do meio ambiente. Na implantao das usinas-plataforma, a populao do entorno 2/3 menor que a de uma hidreltrica comum. Principais etapas desse projeto:

    1. Desmatamento Cirrgico: a preparao da obra comea com a interveno mnima na natureza, restrita rea da usina. No haver grandes canteiros de obras associados s vilas residenciais para os trabalhadores, como no mtodo tradicional.

    2. Trabalhos por Turnos: ao longo da construo, as equipes de funcionrios se revezaro em turnos longos, a exemplo das plataformas de petrleo. O pessoal que estiver no turno ficar acomodado em alojamentos temporrios no local da obra.

    3. Recomposio do local: na concluso da hidreltrica, o canteiro de obras ser totalmente desmontado. Todos os equipamentos, construes e trabalhadores que no forem essenciais e indispensveis operao da usina sero retirados do local.

    4. Reflorestamento Radical: paralelamente, ser iniciada a recuperao do ambiente. A rea ser reflorestada, voltando quase a ser como era antes. Na operao da usina, o trabalho por turnos continua, com o transporte do pessoal feito, prioritariamente, por helicptero.

  • 36

    Nova Fronteira Energtica Fonte: www.complexotapajos.com.br

    O Complexo do Tapajs ter 10.682 MW de potncia instalada e ir produzir 50,9 milhes de MW/ano, valor superior ao da energia pertencente ao Brasil gerada pela Usina de Itaipu. A Bacia do Tapajs est localizada, predominantemente, no estado do Par e formada pelos Rios Tapajs e Jamanxim. Os Lagos das usinas do Complexo tm uma relao rea alagada/capacidade instalada de 0,18 km/MW instalado, ante uma mdia nacional de 0,56 km/MW instalado. As cinco usinas do Complexo do Tapajs sero equipadas com turbinas de diferentes modelos e potncias. A explicao para isso simples: a escolha do equipamento depende de vrios fatores, sendo o principal deles a eficincia da turbina com a combinao s variveis queda-dgua e vazo do Rio. As turbinas que sero empregadas no Complexo Tapajs so:

    1. Bulbo: operam em quedas abaixo de 20 m. Possui a turbina similar a uma turbina Kaplan horizontal, porm devido baixa queda, o gerador hidrulico encontra-se em um bulbo por onde a gua flui ao seu redor antes de chegar s ps da Turbina.

    2. Kaplan: adequadas para operar entre quedas de 20 m at 50 m. A nica diferena entre as turbinas Kaplan e a Francis o rotor. Este assemelha-se a um propulsor de navio (similar a uma hlice) com duas a seis ps mveis. Um sistema de embolo e manivelas montado dentro do cubo do rotor responsvel pela variao do ngulo de inclinao das ps. O leo injetado por um sistema de bombeamento localizado fora da turbina, e conduzido at o rotor por um conjunto de tubulaes rotativas que passam por dentro do eixo. O acionamento das ps acoplado ao das palhetas do distribuidor, de modo que, para uma determinada abertura do distribuidor, corresponde um determinado valor de inclinao das ps do rotor.

    3. Francis: adequadas para operar entre quedas de 40 m at 400 m. A Usina hidreltrica de Itaipu, assim como a Usina hidreltrica de Tucuru, Furnas e outras no Brasil funcionam com turbinas tipo Francis, com cerca de 100 m de queda dgua.

    Cuidado com a Natureza Fonte: www.complexotapajos.com.br

    um conceito tcnico que visa mitigar os impactos socioambientais. (Nivalde de Castro)

    O Complexo Tapajs est inserido em 200.480 km de reas de preservao ambiental, comparados a apenas 1.979 km de interveno, 0,99% da rea total. Juntas, as reas conservadas correspondem aos estados de Pernambuco, Paraba, Alagoas e Sergipe e incluem terras indgenas e 22 unidades de preservao. Outra preocupao ecolgica do projeto com os peixes que sobem o Rio para se alimentar ou reproduzir no perodo da piracema. Por isso, canais artificiais sero construdos junto s hidreltricas do complexo, ligando o reservatrio ao leito do Rio e, assim, permitindo a migrao dos peixes. A energia gerada pelo Complexo suficiente para abastecer 2 cidades como So Paulo ou 3 como o Rio de Janeiro, substituir a queima de 30,5 milhes de barris de petrleo por ano e economizar R$9 bilhes de reais por ano com a compra de petrleo.

  • 37

    Rio Tapajs Fonte: www.complexotapajos.com.br

    Usina Hidreltrica So Luiz do Tapajs

    A Usina Hidreltrica So Luiz do Tapajs ter capacidade instalada de 6.138 MW, quando concluda, sendo a maior do Complexo do Tapajs. A licitao est programada para ser realizada no ano de 2011 e a primeira unidade de gerao entrar em funcionamento em 2016. O Lago ter rea de 722,25 km. A queda ser de 35,9 metros, gerando 6.133 MW atravs de 31 turbinas Kaplan de 198 MW e 2 de 109,2 MW. Produzir 29.548,8 GW/ano.

    Usina Hidreltrica Jatob

    A Usina Hidreltrica Jatob ter capacidade instalada de 2.338 MW, quando concluda, sendo a segunda maior do Complexo do Tapajs. A licitao est programada para ser realizada no ano de 2011 e a primeira unidade de gerao entrar em funcionamento em 2017. O Lago ter rea de 646,3 km. A queda ser de 16 metros, gerando 2.338 MW atravs de 40 turbinas bulbo de 59,7 MW cada. Produzir 11.264 GW/ano.

    Rio Jamanxim Fonte: www.complexotapajos.com.br

    Usina Hidreltrica Cachoeira do Ca

    A Usina Hidreltrica Cachoeira do Ca ter capacidade instalada de 802 MW, quando concluda, sendo a segunda menor do Complexo do Tapajs. A licitao est programada para ser realizada no ano de 2011 e a primeira unidade de gerao entrar em funcionamento em 2017. O Lago ter rea de 420 km. A queda ser de 34,6 metros, gerando 802 MW atravs de 5 turbinas Kaplan de 163,37 MW cada. Produzir 3.864 GW/ano.

    Usina Hidreltrica Jamanxim

    A Usina Hidreltrica Jamanxim ter capacidade instalada de 881 MW, quando concluda, sendo a irm do meio no Complexo do Tapajs. A licitao est programada para ser realizada no ano de 2011 e a primeira unidade de gerao entrar em funcionamento em 2017. O Lago ter rea de 74,45 km. A queda ser de 57,6 metros, gerando 881 MW atravs de 3 turbinas Francis de 293,7 MW cada. Produzir 4.244,7 GW/ano.

    Usina Hidreltrica Cachoeira dos Patos

    A Usina Hidreltrica Cachoeira dos Patos ter capacidade instalada de 528 MW, quando concluda, sendo a menor usina do Complexo do Tapajs. A licitao est programada para ser realizada no ano de 2011 e a primeira unidade de gerao entrar em funcionamento em 2017. O Lago ter rea de 116,5 km. A queda ser de 33 metros, gerando 528 MW atravs de 3 turbinas Kaplan de 179,6 MW cada. Produzir 2.544 GW/ano.

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    O Grito dos Mundurucu Contra as Barragens no Rio Tapajs

    Infelizmente, as populaes afetadas ainda no foram devidamnete esclarecidas, propiciando que talibs verdes (inocentes teis ou a soldo de interesses estrangeiros) tentem fazer prevalecer sua viso distorcida sem levar em conta as reais necessidades do pas. A questo no se a construo necessria ou no e sim de procurar minimizar os impactos ao meio ambiente e s populaes ribeirinhas. A discusso tem um vis importante que o sustentvel, todos os empreendimentos que montem na Amaznia o seu canteiro de obras vo gerar, sem dvida, polmica dos bem intencionados ambientalistas e mercenrios aptridas. Temos que reconhecer que nossa engenharia hidreltrica e nossa legislao ambiental so as melhores do mundo, atendendo s normas vigentes e, utilizando nossa tecnologia estaremos, certamente, evitando que o pas enfrente o caos ener