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06/09/2011 165 XIX 2ª Edição * Arquivamentos em massa, homicídios impunes no país - p. 04 * A importância do CNJ - p. 16

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06/09/2011165XIX

2ª Edição

* Arquivamentos em massa, homicídios impunes no país - p. 04

* A importância do CNJ - p. 16

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Pablo Pereira

A empregada doméstica Maria da Glória de Lima, o pedreiro Valter Tunes, o industrial Emilio Conti, o ex-médico Roger Abdelmassih e o advogado Mizael Bispo dos Santos têm pelo menos duas coisas em comum em São Paulo: são acusados de cometer crime no Estado e estão na lista de foragidos da Justiça. A empregada e o pedreiro têm ainda outra característica que os aproxi-ma: os dois fazem parte de uma lista de 2.755 pessoas procuradas que já morreram.

Hélvio Romero/AEMorto. No ossário da Igreja Nossa Senhora de Fátima, em Sapopemba, zona les-te, a urna com os restos de Valter Tunes indica que ele morreu há 27 anos, mas polícia continua a procurá-lo

Eles foram localizados nos últimos meses quando a polícia cruzou informações de arquivos físicos com as fichas eletrônicas do estoque de cerca de 115 mil ordens de prisão a cumprir. A faxina é parte de traba-lho iniciado neste ano para se adequar ao banco nacio-nal de mandados de prisão, que deve funcionar a partir de janeiro por ordem do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Um dos casos mais intrigantes é o do industrial Emilio Conti. Ele é procurado em São Paulo, mas nem a polícia sabe oficialmente se morreu ou continua vivo - a ordem de prisão dorme nas pastas da Divisão de Capturas desde 1923.

E, mesmo quando consta nas fichas a informação de “falecimento”, é preciso cautela - geralmente ela é dada pela família do sentenciado.

“Se estivesse vivo, ele teria 105 anos”, diz o delega-do Waldomiro Milanesi, chefe da Divisão de Capturas da polícia paulista, referindo-se ao caso do industrial procurado pela Justiça há quase 90 anos. Conti nasceu em 1906. Processado pelo crime de “falência”, nunca foi preso.

“Essa localização dos casos é produto de uma revi-são, uma auditoria”, explica o delegado sobre o traba-lho nas pastas azuis da Capturas.

No levantamento, agentes pesquisaram mandados de prisão para homicídios, estupros e casos da Lei Ma-ria da Penha. Diante do emaranhado de fichas crimi-nais, tentam sair do campo das estimativas - seriam 85 mil mandados no interior, 30 mil na capital e 500 novas ordens de prisão por dia no Estado - para obter uma es-

tatística real. “Nos próximos meses, teremos ideia mais aproximada do problema e poderemos trabalhar para evitar erros de prisão ou soltura”, diz Milanesi.VencIdos

As primeiras investidas nas caixas mostram outro buraco: há 10 mil mandados anteriores a 1997, que se-rão devolvidos à Justiça porque podem estar com prazo de validade vencido. Checando documentos contra in-fratores da Lei Maria da Penha, que protege mulheres de agressões de maridos, a polícia descobriu que, dos 33 casos estudados até maio, 13 criminosos já estavam na cadeia. Nas prisões determinadas por estupro, das 213 ordens judiciais de prisão, 48 foram esmiuçadas: 6 dos acusados já estão atrás das grades e um consta como morto.

“A intenção, nessa parceria da Segurança Pública com o Judiciário, é justamente chegar a um número real dos mandados de prisão”, justifica o delegado.

Prazo. O juiz auxiliar do CNJ Márcio Keppler Fra-ga lembra que Estados e tribunais federais têm prazo de seis meses para se adaptar. “A partir de janeiro, cada tribunal, estadual ou federal, terá de informar ao ban-co nacional cada mandado de prisão expedido.” O CNJ vai cobrar a atualização online do banco. Identificado o tamanho do problema, será preciso eliminar o estoque de mandados. “Há 15 anos, a informatização não estava nos tribunais. Há mandados de duas, três décadas nunca cumpridos ou, se foram, não se deu baixa no arquivo.”

PROCURADOSMaria da Glória de Lima, empregada domésticaData do inquérito: 1992Situação no cadastro: falecida em 1996Valter Tunes, pedreiroData do inquérito: 1976Situação no cadastro: falecido em 1984Emilio Conti, industrialData do inquérito: 1923Situação no cadastro: sem informaçãoMizael Bispo dos Santos, advogadoData do inquérito: 2010Situação no cadastro: sem informaçãoRoger Abdelmassih (foto)Data do inquérito: 2009Situação no cadastro: sem informação

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Polícia de SP tem mandados de prisão contra 2.755 pessoas que já morreram

Além de mortos, também estão na lista de procurados foragidos famosos, como Roger Abdelmassih; 10 mil casos podem estar vencidos

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Habituada a mandar prender, a juíza Kenarik Boujikian, da 16.ª Vara Criminal de São Paulo, diz que o sistema brasi-leiro é falho. “Se mandados não são cumpridos, há falha do Estado”, diz ela, que condenou o ex-médico Roger Abdel-massih a 278 anos de cadeia.

O juiz tem como saber se o mandado de prisão é cum-prido?

O Judiciário não tem dados consolidados. O CNJ vai consolidar isso. Quem tem controle é o Executivo. Após a sentença, não tenho o que fazer, a não ser aguardar o cum-primento da ordem, pela polícia.

Há possibilidade de o Judiciário controlar essas execu-ções? Não vejo problema na sistemática atual. É correta. O Judiciário faz sua função, o Executivo a dele. O problema é que temos falha no sistema de cumprimento dos mandados de prisão.

O Judiciário não poderia ajudar a aperfeiçoar o sistema? Não vejo qual seria a mudança. Mandados de prisão existem e têm de ser cumpridos.

A lei brasileira prende muito? Há análises que indicam essa conclusão e há Estados em que 70% da população car-cerária é de presos provisórios. Outro problema é a quanti-

dade elevada de penas no Brasil.A redução de penas seria produtiva? A Justiça seria mais

eficaz. Não há necessidade de penas tão longas para punir uma pessoa. É claro que deve haver equilíbrio entre tipos de crime e bens protegidos. Mas é preciso revisão para maior eficácia e cumprimento da punição.

A senhora aplicou pena grande no caso Roger Abdel-massih, de 278 anos. Não comento casos em que atuei. Mas, se o senhor olhar minha sentença, vai ver que falo lá que considero desrazoável a pena prevista na lei. Porque a lei iguala condutas e há diferentes tipos de atentado ao pudor. Hoje a lei coloca as condutas como estupro. Mas elas são diferenciadas. Conjunção carnal é uma coisa; beijar é outra; passar a mão no corpo, outra. Mas nossa lei iguala tudo no patamar mínimo da pena.

E, na hora de somar, dá esse volume. Exatamente. No caso, dei as penas no mínimo. Deu esse volume pelo número grande de pessoas.

Num caso genérico, um condenado a 60 anos cumpre quanto?

A lei prevê máximo de cumprimento de pena em 30 anos. Mas há divergências sobre benefícios cabíveis.

entReVIstaKenarik Boujikian, juíza que condenou Roger Abdelmassih a 278 anos de prisão

‘Se mandados não são cumpridos, há falha do Estado’

Em tempos de alto fluxo de informações por meio dos sistemas de informática, o Brasil ainda engatinha na troca de informações sobre cidadãos.

“Por que ainda não temos um banco de DNA?”, per-gunta o delegado-chefe da Divisão de Capturas da polícia de São Paulo, Waldomiro Milanesi. “Se com o teste do pezinho (de bebês) nós já começarmos a colher informação para um banco de DNA, daqui a 15 anos, quando tivermos esse jo-vem na faixa de eventual vítima ou até infrator, já vamos ter um banco de dados. E não precisaremos fazer um banco de dados retroativo.”

Milanesi esclarece que nem toda a população teria de estar no banco de DNA - apenas a faixa mais comumente associada à criminalidade. E diz que, em relação a outros Estados brasileiros, São Paulo está adiantado na confecção do banco de dados com informações civis e criminais.

Segundo ele, muitos Estados já usam o banco paulista para divulgar informações sobre procurados. Mas há pelo menos um Estado mais avançado que São Paulo. “O araná já tem mandado de prisão online. Está na nossa frente”, afirma ele.

Delegado defende criação de um banco de DNAcont... o estado de sP - P. c1 - 04.09.2011

BrasíliaO presidente do Supremo Tribunal

Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Cezar Peluso, dis-se ontem que, no Brasil, sete em cada dez presos que deixam o sistema penitenciário voltam ao crime, uma das maiores taxas de reincidência do mundo. Segundo ele, atual-mente cerca de 500 mil pessoas cumprem pena privativa de liberdade no País.

A declaração do ministro foi feita du-rante a assinatura de renovação de parceria entre o CNJ e a Federação das Indústrias

do Estado de São Paulo (Fiesp) dentro do programa Começar de Novo, que prevê a criação de vagas para detentos e ex-deten-tos no mercado de trabalho e em cursos profissionalizantes. De acordo com o CNJ, o público atendido pelo programa exerce atividades nas próprias unidades prisionais, em órgãos públicos, empresas privadas e entidades da sociedade civil. Em setembro, 300 presos do Maranhão deverão ser em-pregados na construção de três mil casas do Programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal.

o temPo - P. 14 - 06.09.2111 Reincidência

Ex-detentos voltam ao crime em 70% dos casos

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Em SP, maioria dos crimes sem autoria definida fica sem apuraçãoEstado mostra que de 344 mil boletins de ocorrência só 6% viraram inquéritos

Coordenadora da Meta 2 defende a medida e diz que denúncias dobraramJuíza admite, porém, que há um elevado número de arquivamentos

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Ação de 1959 enfim deve entrar na pauta do STF

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Um desrespeito institucional à magistratura. Foi assim que a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) classificou o Projeto de Lei Orçamentária Anu-al de 2012, que não contemplou o reajuste de 14,79% nos salários de ministros, juízes e demais servidores do Poder Judiciário, nem o Plano de Cargos e Salários, previstos na proposta enviada pelo Supremo Tribunal Federal ao Executivo.

Além de despertar reações negativas no próprio Supremo Tribunal Federal, quando o presidente da cor-te, Cezar Peluso, declarou que algum equívoco parecia ter ocorrido, entidades de classes de juízes também re-clamaram da atitude. De acordo com a Ajufe, “não há registros na história da República de outra ocasião em que valores destinados à recomposição dos vencimen-tos de magistrados tenham sido cortados da proposta orçamentária enviada pelo Judiciário e consolidada pelo Poder Executivo”.

A entidade argumentou, em nota divulgada nesta sexta-feira (2/9), que a medida viola a independência dos Poderes e o artigo 37, inciso X, da Constituição Federal, “uma vez que procura claramente inviabilizar a reposição inflacionária do teto constitucional respon-sável pela revisão do valor do subsídio dos Ministros do STF ferindo o princípio da irredutibilidade de ven-cimentos garantida à magistratura”.

Outra entidade de classe, a Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público da União (Fren-tas), se posicionou, nesta sexta, sobre o ocorrido. “Os Membros do Poder Judiciário e do Ministério Públi-co reafirmam o propósito de não ceder na defesa de suas prerrogativas constitucionais, as quais, acima de tudo, são garantias da sociedade brasileira, pugnando para que o Presidente do Supremo Tribunal Federal e o Procurador-Geral da República não esmoreçam no cumprimento de suas funções e responsabilidades”, diz o comunicado.

A Frentas é formada pela Ajufe, Associação Na-cional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, As-sociação dos Magistrados da Justiça Militar Federal, Associação dos Magistrados do Distrito Federal e Territórios, Associação Nacional dos Procuradores da República, Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho, Associação Nacional do Ministério Público Militar e Associação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, em articulação com a Associação dos Magistrados Brasileiros e a Associação Nacional dos Membros do Ministério Público. Com informações da Assessoria de Comunicação da Ajufe e da Frentas.

Leia a nota da ajufe:A Ajufe, entidade de representação dos magistra-

dos federais brasileiros, abordando o orçamento do Po-der Judiciário e a política remuneratória dos Juízes, e também levando em conta a nova proposta de reajuste de 4,8% enviada pelo Presidente do STF ao Congresso Nacional [PL 2197/2011], vem manifestar sua indigna-ção com a clara violação ao princípio da independência dos Poderes [art.2] e autonomia financeira do Judiciá-rio por parte do Poder Executivo. Não há registros na história da República de outra ocasião em que valores destinados à recomposição dos vencimentos de magis-trados tenham sido cortados da proposta orçamentária enviada pelo Judiciário e consolidada pelo Poder Exe-cutivo, como ocorreu na proposta deste ano ainda que sob a alegação de “pequeno equívoco”.

A medida proposta pelo Poder Executivo viola, ainda, o artigo 37, X da Constituição Federal, uma vez que procura claramente inviabilizar a reposição infla-cionária do teto constitucional responsável pela revisão do valor do subsídio dos Ministros do STF ferindo o princípio da irredutibilidade de vencimentos garantida à magistratura previsto no artigo 95 da Carta Magna.

Os juízes federais brasileiros realizaram paralisa-ção no último dia 27 de abril reivindicando mais segu-rança, igualdade de direitos com o ministério público, reposição inflacionária no seu subsídio e não vão re-troceder na defesa de suas prerrogativas constitucio-nais que os Poderes Executivos e Legislativos insistem em ignorar como se estivessem de costas para a ma-gistratura. Esperam os juízes federais brasileiros que o Presidente do STF não apenas envie nova proposta de reposição das perdas inflacionárias ao Congresso – me-dida insuficiente - mas, para além deste procedimento meramente formal, negocie como interlocutor da ma-gistratura brasileira, de forma efetiva e prioritária, com os demais Chefes de Poder, a inclusão dos valores de-vidos aos juízes na LOA e a votação imediata dos PLs 7749/2010 e 2197/2011 que revisam os subsídios da magistratura.

Em face deste flagrante desrespeito institucional à magistratura, os juízes federais brasileiros exigem respeito à Constituição Federal e informam que, jun-tamente com as demais entidades nacionais de repre-sentação de classe do Judiciário e Ministério Público, realizarão em Brasília, no dia 21 de setembro próximo, ato de protesto no Congresso, STF e Praça dos Três Poderes, para o qual estão convidadas a imprensa na-cional e internacional, denominado “Dia Nacional pela

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Orçamento ameça independência dos Poderes, diz Ajufe

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Valorização da Magistratura e do Ministério Público” não estando descartada por parte dos magistrados federais realização de nova paralisação ou greve até o final do ano.

Brasília, 2 de setembro de 2011.Gabriel Wedy

Presidente da Associação dos Juízes

Federais do BrasilLeia a nota da Frentas:A Frente Associativa da Magistratura

e do Ministério Público da União – FREN-TAS, integrada pela AJUFE - Associação dos Juízes Federais do Brasil, ANAMATRA - Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, AMAJUM – Associa-ção dos Magistrados da Justiça Militar Fe-deral, AMAGIS/DF - Associação dos Ma-gistrados do Distrito Federal e Territórios, ANPR - Associação Nacional dos Procu-radores da República, ANPT - Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho, ANMPM - Associação Nacional do Minis-tério Público Militar e AMPDFT - Associa-ção do Ministério Público do Distrito Fede-ral e Territórios, em articulação com a Asso-ciação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e a Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), tendo em vis-ta matérias divulgadas na imprensa nacio-nal tratando da política remuneratória dos Membros do Poder Judiciário e do Ministé-rio Público, bem como tendo em conta que o Presidente do Supremo Tribunal Federal e o Procurador-Geral da República enviaram novas proposições legislativas ao Congres-so Nacional relativas ao tema, vem a públi-co nos seguintes termos:

1. É inaceitável que a proposta orça-mentária de 2012, consolidada pelo Poder Executivo, tenha expurgado valores desti-nados à recomposição dos vencimentos de Membros do Poder Judiciário e do Ministé-rio Público, em clara violação ao artigo 2º. da Constituição Federal, que comanda no sentido de serem os Poderes da República independentes e harmônicos entre si.

2. A medida proposta pelo Poder Exe-cutivo viola, ainda, o artigo 37, X da Cons-tituição Federal, uma vez que procura clara-mente inviabilizar a revisão geral anual do valor do subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal e do Procurador-Geral da República e, por conseqüência, a irredutibi-lidade de subsídio prevista nos artigos 95 e 128 da Carta Magna, respectivamente.

3. Os Membros do Poder Judiciário e do Ministério Público reafirmam o propósito de não ceder na defesa de suas prerrogativas constitucionais, as quais, acima de tudo, são garantias da sociedade brasileira, pugnando para que o Presidente do Supremo Tribunal Federal e o Procurador-Geral da República não esmoreçam no cumprimento de suas funções e responsabilidades.

Feitos tais esclarecimentos, os Mem-bros do Poder Judiciário e do Ministério Pú-blico aguardam solução que resguarde a or-dem constitucional e informam a sociedade sobre a realização, em Brasília, no dia 21 de setembro próximo, de ato público denomi-nado “Dia de Mobilização pela Valorização da Magistratura e do Ministério Público”.

Brasília-DF, 1º de setembro de 2011.Sebastião Vieira CaixetaPresidente da ANPT - Coordenador da

FrentasRenato Henry Sant’annaPresidente da ANAMATRAGilmar Tadeu SorianoPresidente da AMAGIS/DFMarcelo Weitzel Rabello de SouzaPresidente da ANMPMCésar Bechara Nader Mattar JúniorPresidente da ConampGabriel de Jesus Tedesco WedyPresidente da AJUFEJosé Barroso FilhoPresidente da AMAJUMAlexandre Camanho de AssisPresidente da ANPRAntonio Marcos DezanPresidente da AMPDFTHenrique Nelson CalandraPresidente da AMBRevista Consultor Jurídico, 2 de setem-

bro de 2011

cont... consuLtoR JuRídIco - sP - conamP - 05.09.2011

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Quando da discussão da emenda constitucional nº 45/ 2004, antes da formulação do anteprojeto e durante a sua tramitação no Congresso, combati o denominado controle externo da magistra-tura, em artigos, inclusive para a Folha, e em audiência pública para a qual fui convidado pelo então presidente da Comissão de Constituição e Justiça, senador Bernardo Cabral (PFL-AM).

A emenda constitucional nº 45/ 2004, todavia, não estabe-leceu um controle externo da magistratura, mas sim um controle interno mais eficiente (com nove magistrados e com a colabora-ção de quatro membros da OAB e Ministério Público, e apenas dois representantes do Congresso Nacional.

À evidência, a solução foi inteligente, tendo me colocado, de imediato, a defender tal poder correcional, que poderia agir originária, concorrente e simultaneamente às corregedorias ou conselhos de cada tribunal.

Aliás, o artigo 103-B, parágrafo 4º, inciso III da Constitui-ção declara que a sociedade pode reclamar diretamente ao CNJ “contra membros ou órgãos do Poder Judiciário”, neles incluídos serviços auxiliares, e o inciso V, que cabe ao CNJ “rever de ofício ou mediante provocação os processos disciplinares de juízes e membros dos tribunais julgados há mais de um ano”.

A experiência dos primeiros anos, sob a presidência dos mi-nistros Nelson Jobim, Ellen Gracie e Gilmar Mendes, foi exce-lente, agindo o CNJ rigorosamente de acordo com a interpretação que dou aos dois incisos.

Ocorreu, portanto, nos cinco primeiros anos de sua atuação, um desventrar de realidades que o povo desconhecia, demons-trando o CNJ que se, como disse a ministra Ellen Gracie em re-

cente entrevista, o Poder Judiciário é o menos corrupto dos três Poderes, a corrupção também nele existe, com inúmeras conde-nações, aposentadorias compulsórias e afastamento de magis-trados.Sem saudosismos, estou convencido de que a imagem do Poder Judiciário de hoje não se aproxima àquela do período em que comecei a advogar, quando os magistrados falavam exclusi-vamente nos autos e eram raros os casos de corrupção.

Mesmo assim, concordo com a ministra Ellen Gracie que é o menos corrupto dos poderes, para isto tendo concorrido o CNJ, nas questões mencionadas, por exercer um trabalho purificador, destacando-se nele, atualmente, a figura severa, mas justa, da mi-nistra Eliana Calmon, corregedora do conselho.

Há em curso, todavia, um movimento para enfraquecer as funções do CNJ, entendendo que o órgão deveria examinar o comportamento ético dos magistrados apenas após pronuncia-mento de órgãos disciplinadores dos tribunais, o que, de certa forma, desfiguraria a instituição, pois ficaria à mercê dos tribu-nais locais, exatamente contra cuja inércia foi criado o CNJ. Em outras palavras, a emenda constitucional nº 45/2004 perderia todo o seu significado.

Ou pode o CNJ originária e/ou concorrentemente examinar processos de condutas dos magistrados, ou a sua manutenção perderia sentido.

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, 76, advogado, pro-fessor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Coman-do e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra, é presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio.

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A importância do CNJ O atual movimento que se engendra para enfraquecer as funções do

Conselho Nacional de Justiça pode deixá-lo à mercê dos tribunais locais

Caio Boson - Advogado e sócio da Boson & AssociadosAssunto que finalmente ganha destaque na mídia são as cra-

colândias. Emergem o choque visual dos maltrapilhos, entregues ao frenesi do consumo e depressão em ruas cobertas de sujeira e dejetos, e o debate acerca do que se convencionou chamar de inter-nação compulsória: agentes públicos adentrariam nesse gueto dos desesperados e os conduziriam, à força, a tratamento. Segundo es-tudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), estado onde se concentra o maior número desses guetos, 30% dos dependentes de crack morrem antes de completarem cinco anos de uso.

No Relatório Mundial sobre Drogas 2011, lançado pela Or-ganização das Nações Unidas (ONU), o Brasil foi o campeão das Américas em 2008, na apreensão do crack, com 354 kg intercep-tados pela Polícia Federal. O documento não abrange os dois úl-timos anos. No entanto, o Ministério da Justiça informou que, em 2009, foram apreendidas 4,5 toneladas da droga, mais de 10 vezes a quantidade interceptada no ano anterior.

Estados como Rio de Janeiro e São Paulo já decidiram pela internação compulsória de menores de idade. No Rio, em dois me-ses de ação foram recolhidas mais de 150 crianças e adolescentes das ruas. Mas não são apenas eles os dependentes.

Nem haveria sentido voltarmos as costas para os adultos, mesmo porque são igualmente relevantes nessa tragédia, especial-mente quando se tem em mente um dos piores subprodutos do

vício: o abandono familiar.Acerca do assunto da internação compulsória dos adultos

duas correntes se contrapõem. Para quem é contra, há que se im-por a liberdade de consciência, direito fundamental previsto na Constituição e que, por isso, vedaria a imposição do tratamento, o qual, naturalmente, viria acompanhado de restrição à liberdade de ir e vir. A conclusão é que eles haveriam de ser deixados à própria sorte: eles e os jovens viciados que não se curarem até a idade adulta. Para os a favor, acumulam-se considerações de ordem hu-manitária – é preciso fazer alguma coisa para ajudar essas pessoas – e mesmo de defesa social: o ambiente das cracolândias é gerador de violência, que se espalha no espaço urbano.

O que se pode dizer é que o direito possui arsenal suficiente para lidar com a questão, sem ofender princípio constitucional que seja: é a declaração judicial de incapacidade civil.

Desde há muito a lei admite que certos indivíduos necessitam de proteção especial por parte, ou por intermédio, do Estado, eis que se revelam incapazes de lidar com as imposições da vida. Sem adentrar em cientificismos, aqui desnecessários, parece elementar que, com base em pedido do Ministério Público, o juíz de direi-to pode declarar determinada pessoa juridicamente incapaz – por causa da gravidade e de sua dependência – e conceder ainda que temporariamente sua tutela a alguém tecnicamente capacitado, de-terminando sua internação compulsória.

Crack e a liberdade O juiz pode declarar o dependente incapaz e determinar a internação

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