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A OBSTINADA INCREDULIDADE DE ISRAEL Judas, a fim de bem demonstrar o perigo de se seguir os falsos mestres que atormentam a Igreja, faz a primeira ilustração: o Êxemplo da incredulidade da geração israelita do êxodo. INTRODUÇÃO - A geração israelita do êxodo foi, de todas as gerações do povo de Israel, a que mais maravilhas testemunhou, mas, paradoxalmente, foi a geração que passou para a história como a que mais fracassou na história deste povo. Qual o motivo de triste fim ? A continuada incredulidade, a falta de fé. Não pensemos que sejamos diferentes daqueles homens e mulheres, principalmente nós, os crentes dos últimos dias, que estamos a testemunhar a operação sem igual do poder de Deus nas nossas vidas. I - O RELATÓRIO DOS INCRÉDULOS - Moisés determinou que doze líderes, um de cada tribo, fossem espiar a Terra Prometida para trazer-lhe um relatório(Nm.13:3). Bem se vê que Moisés escolheu pessoas com reputação e credibilidade no meio do povo para fazer o relatório, o que aumentava sobremaneira a responsabilidade destes homens. Os nomes dos doze espias: Samua, Safate, Calebe, Igal, Oséias(Josué), Palti, Gadiel, Gadi, Amiel, Setur, Nabi, Geuel. - A missão dada por Moisés: ver a terra, se era fértil ou não, se nela havia árvores ou não; seu povo, se era fraco ou forte, pouco ou muito, se habitava em cidades ou arraiais, se tinham fortalezas (Nm.13:18-20) - O relatório apresentado não se limitou a cumprir a ordem de Moisés, mas emitiu uma opinião pessoal de 10 dos 12 espias, a saber, Samua, Safate, Igal, Palti, Gadiel, Gadi, Amiel, Setur, Nabi e Geuel. OBS : Eis o que R.N. Champlin fala sobre este relatório: "... Conteúdo do relatório negativo: 1. Se a Terra Prometida era fértil, pelo menos em certas áreas, seus habitantes eram inconquistáveis (ver os vss.28,31-33). 2. A terra devorava seus habitantes. Essa sentença é obscura, pelo que há várias Explicações a respeito: (a) Embora fértil em alguns lugares, também era um lugar de desertos ermos. Havia trechos estéreis que não podiam sustentar uma população numerosa. (b) Aquela terra viva em reboliço constante, entre tribos hostis, e os filhos de Israel sempre estariam sujeitos a conflitos e tentativas de destruição, se tomassem conta da terra; (c) Alguns eruditos supõem que esteja em pauta o canibalismo, o que significaria que os habitantes originais eram Extremamente malignos, que nenhum povo de bom juízo gostaria de ter como vizinhos. (d) Alguns críticos pensam que há uma contradição que cerca a declaração de fertilidade da terra(...) (e) Ainda outros estudiosos imaginam que a alusão é a enfermidades e pragas. A Terra Prometida tinha a fama de ser um lugar onde muitas pessoas estavam morrendo devido a enfermidades. O lugar não seria saudável. 3. Um povo temível habitava ali, pessoas de mui elevada estatura. Não era um lugar comum, pois ali residiam gigantes selvagens e aguerridos. Qualquer pessoa de bom senso haveria de querer evitar aquele lugar. É de presumir-se que aqueles gigantes também estivessem armados, mostrando-se ferozes na batalha, sem misericórdia, entrincheirados por trás de grossas muralhas. Como ousaria enfrentá- los ? ..." (O Antigo Testamento Interpretado, v.1, p.652-3). " A incredulidade dos dez espias tinha duas dimensões: (1) a fidelidade que Deus sempre demonstrara ao Seu povo não levou esses dez homens a um relacionamento de lealdade para com Ele e (2) não

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A OBSTINADA INCREDULIDADE DE ISRAEL

Judas, a fim de bem demonstrar o perigo de se seguir os falsos mestres que atormentam a Igreja, faz a primeira ilustração: o Êxemplo da incredulidade da geração israelita do êxodo.

INTRODUÇÃO

- A geração israelita do êxodo foi, de todas as gerações do povo de Israel, a que mais maravilhas testemunhou, mas, paradoxalmente, foi a geração que passou para a história como a que mais fracassou na história deste povo. Qual o motivo de triste fim ? A continuada incredulidade, a falta de fé. Não pensemos que sejamos diferentes daqueles homens e mulheres, principalmente nós, os crentes dos últimos dias, que estamos a testemunhar a operação sem igual do poder de Deus nas nossas vidas.

I - O RELATÓRIO DOS INCRÉDULOS

- Moisés determinou que doze líderes, um de cada tribo, fossem espiar a Terra Prometida para trazer-lhe um relatório(Nm.13:3). Bem se vê que Moisés escolheu pessoas com reputação e credibilidade no meio do povo para fazer o relatório, o que aumentava sobremaneira a responsabilidade destes homens. Os nomes dos doze espias: Samua, Safate, Calebe, Igal, Oséias(Josué), Palti, Gadiel, Gadi, Amiel, Setur, Nabi, Geuel.- A missão dada por Moisés: ver a terra, se era fértil ou não, se nela havia árvores ou não; seu povo, se era fraco ou forte, pouco ou muito, se habitava em cidades ou arraiais, se tinham fortalezas (Nm.13:18-20)- O relatório apresentado não se limitou a cumprir a ordem de Moisés, mas emitiu uma opinião pessoal de 10 dos 12 espias, a saber, Samua, Safate, Igal, Palti, Gadiel, Gadi, Amiel, Setur, Nabi e Geuel. OBS : Eis o que R.N. Champlin fala sobre este relatório: "... Conteúdo do relatório negativo: 1. Se a Terra Prometida era fértil, pelo menos em certas áreas, seus habitantes eram inconquistáveis (ver os vss.28,31-33). 2. A terra devorava seus habitantes. Essa sentença é obscura, pelo que há várias Explicações a respeito: (a) Embora fértil em alguns lugares, também era um lugar de desertos ermos. Havia trechos estéreis que não podiam sustentar uma população numerosa. (b) Aquela terra viva em reboliço constante, entre tribos hostis, e os filhos de Israel sempre estariam sujeitos a conflitos e tentativas de destruição, se tomassem conta da terra; (c) Alguns eruditos supõem que esteja em pauta o canibalismo, o que significaria que os habitantes originais eram Extremamente malignos, que nenhum povo de bom juízo gostaria de ter como vizinhos. (d) Alguns críticos pensam que há uma contradição que cerca a declaração de fertilidade da terra(...) (e) Ainda outros estudiosos imaginam que a alusão é a enfermidades e pragas. A Terra Prometida tinha a fama de ser um lugar onde muitas pessoas estavam morrendo devido a enfermidades. O lugar não seria saudável. 3. Um povo temível habitava ali, pessoas de mui elevada estatura. Não era um lugar comum, pois ali residiam gigantes selvagens e aguerridos. Qualquer pessoa de bom senso haveria de querer evitar aquele lugar. É de presumir-se que aqueles gigantes também estivessem armados, mostrando-se ferozes na batalha, sem misericórdia, entrincheirados por trás de grossas muralhas. Como ousaria enfrentá-los ? ..." (O Antigo Testamento Interpretado, v.1, p.652-3)." A incredulidade dos dez espias tinha duas dimensões: (1) a fidelidade que Deus sempre demonstrara ao Seu povo não levou esses dez homens a um relacionamento de lealdade para com Ele e (2) não confiavam em Deus, nem nas Suas promessas a respeito do Seu futuro (cf. gn. 15:18; 17:8; Ex.33:2); Sua falta de fé contrastava nitidamente com a fé que Calebe e Josué manifestavam..." (Bíblia de Estudo Pentecostal, nota a Nm.13:32, p.254).- O relatório foi contestado por dois espias, Josué e Calebe, que, entretanto, não conseguiram convencer o povo que, ao revés, decidiu apedrejá-los e o teriam feito se Deus não tivesse intervindo para evitar a matança de Seus fiéis servos - Nm. 13:30; 14:6-10.OBS: "... Tendo como base do seu relatório um firme compromisso com Deus e a plena confiança nas Suas promessas a Israel, recusaram admitir a decisão, por maioria esmagadora, do povo de Deus _ mesmo arriscando suas próprias vidas com essa recusa..." (Bíblia de Estudo Pentecostal, nota a Nm.14:6, p.254).- Este fato demonstra que, ao contrário do que diziam os romanos, "a voz do povo não é a voz de Deus", bem assim, a maioria nem sempre está com a razão. A regra da maioria não é a que deve ser observada no governo do povo de Deus.OBS: "... Esse evento crucial, na viagem de Israel no deserto, ensina-nos que não devemos admitir que a opinião da maioria, até mesmo da igreja, esteja sempre certa. Os crentes fiéis devem estar dispostos a ficar firmes à base da Palavra de Deus, mesmo se a maioria estiver contra eles..." (Bíblia de Estudo Pentecostal, nota a Nm.14:6, p.254).- O crente fiel não vê as circunstâncias, ou seja, aquilo que está em volta dos fatos, mas olha única e Exclusivamente para Seu Senhor e Salvador, de onde nos vem o socorro. Esta é a diferença entre a visão do crente e a do homem natural, que não conhece a Deus - Sl.121:1,2; II Co.5:7; Hb.12:1,2; Lc.21:28.

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II - AS EVIDÊNCIAS DA INCREDULIDADE

- O relatório dos espias encontrou terreno fértil no coração do povo de Israel porque já havia incredulidade, falta de fé por parte dos israelitas, apesar de toda a demonstração do poder de Deus desde o retorno de Moisés ao Egito -Hb.3:7-19.OBS: " ... a palavra "apeitheia", juntamente com apeitheo e apeithes, 'denota invariavelmente a desobediência, a rebelião e a contumácia'. Assim sendo, Paulo ensina que os gentios alcançaram misericórdia por causa da rebelião dos judeus(Rm.11:30)(...) Essa desobediência se origina da apistia, 'falta de fé e confiança'. A apistia é um estado da mente, enquanto que a apeitheia é a sua Expressão. A incredulidade acerca do Filho de Deus foi o pecado primário de que, no ensino de Cristo, o Espírito Santo convenceria o mundo (Jo.16:9)..." (O Novo Dicionário da Bíblia, edição em um só volume, p.744).- A murmuração é uma demonstração da falta de fé, da revolta contra Deus. Ela sempre esteve presente em todas as manifestações de incredulidade do povo de Israel no deserto, a saber: no mar de junco (Ex.14:11,12), em Mara (Ex.15:25), no deserto de Zim (Ex.16:2), em Refidim (Ex.17:1), em Horebe (Ex.32:1-35), em Taberá (Nm.11:1), no túmulo da luxúria (Nm.11:4), em Cades (Nm.14:1-45).OBS: "...Houve muitas ocasiões em que os israelitas rebeldes viram os prodígios de Yahweh, a começar pelo Egito, e, mais tarde, no deserto. Não obstante tentaram a Yahweh pondo em dúvida Seu poder e sua graça, e ignorando as lições que os milagres divinos supostamente lhes ensinavam. As tentações a Deus, envolvendo vários graus de rebeldia, foram reiteradas por dez vezes. Alguns intérpretes pensam que esse número significa apenas 'muitas vezes'. Outros pensam que o autor tinha em mente dez vezes literais; e alguns chegam a tentar identificá-las com precisão. Ellicott mostra-nos como essa 'precisão' geralmente atua. Ele lista oito casos de murmuração e então adiciona dois tipos de transgressão que eram comuns em Israel (...) a guarda do maná até o dia seguinte, contra a determinação divina (Ex.16:24) e a saída para recolher o maná em dia de sábado (Ex.16:27)..." (R. N. CHAMPLIN, O Antigo Testamento Interpretado, v.1, p.656).- A murmuração começou sutilmente no meio do povo, através da mistura, do denominado "vulgo", pessoas que se infiltraram e passaram a andar com Israel, embora não fosse alvo de suas promessas - Ex.13:38, Nm.11:4.OBS: Foi feliz, portanto, o poeta quando assim se Expressou no hino 302 da Harpa Cristã, em trecho que vale a pena transcrever: " No mundo murmura-se tanto, entre os que cristãos dizem ser. Em vez de louvores, há pranto; fraqueza, em lugar de poder." (aliás, será coincidência este hino ser tão pouco entoado em nossas reuniões ?...)- Assim também, a murmuração no meio do povo de Deus começa diante da ação destes falsos mestres, que, a Exemplo do vulgo, entram furtivamente no meio do povo de Deus, não sendo alvo das mesmas promessas de Deus, já que não se converteram verdadeiramente ao Senhor Jesus - Jd.4.OBS: Somente quando da vinda do Senhor para arrebatar a Sua igreja é que teremos a separação do povo fiel deste "vulgo" que está no meio do povo de Deus : "...por ocasião do arrebatamento, a igreja se destacará em dois grupos: a dos crentes preparados espiritualmente para a translação, que nesta obra é denominada de 'igreja fiel', e os que vivem descuidados e ficarão, que aqui é apelidada de 'igreja paralela'. Paralela porque seus membros participam da liturgia dos cultos, mas não se convertem, não passaram pelo novo nascimento e vivem descuidados espiritualmente..."( Osmar José da SILVA, ReflExões filosóficas de eternidade a eternidade, v.7, p.162).- A murmuração consiste numa queixa, numa reclamação, numa revolta contra Deus, pois na essência da murmuração está o não reconhecimento da soberania de Deus sobre todas as coisas. Assim, ao invés de nos submetermos à vontade de Deus, queremos fazer-lhe as vezes. É querer ser Deus - Gn.3:4; Ez.28:2.- Deus não se comove com a murmuração ou o reclamo com espírito de rebeldia. Ver os Exemplos de Esaú (Hb.12:17, as lágrimas não indicavam arrependimento, mas remorso e revolta) e de Agar (Gn.21:16 - observe que o choro não comoveu a Deus, mas a voz de Ismael, cf. Gn.21:17).- A apostasia é outra evidência da incredulidade. Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6). Quem não crê em Deus, afasta-se dEle paulatinamente e acaba apostatando da fé (aliás, apostasia é afastamento, etimologicamente falando).- Hb.2:1-4; 4:1-13.- A desobediência é a prática da incredulidade - Hb.4:2,11; Rm.5:19; I Pe.2:6-8.OBS: " O verbo hebraico traduzido como 'obedecer' é shâma' b, literalmente, 'dar ouvidos a'. O verbo empregado na Septuaginta e no novo Testamento é hypakouo (...), uma forma composta de akouo, que significa 'ouvir'. Hypakouo significa literalmente 'ouvir debaixo'. O Novo Testamento também emprega o verbo eisakouo (I Co.14:21), literalmente 'ouvir dentro'; peithomai e peitharcheo (Tt. 3:1).Esses dois últimos vocábulos Expressam, respectivamente, as idéias de ceder à persuasão e de submeter-se à autoridade. A idéia de obediência sugerida por esse vocabulário é a de um

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ouvir que tem lugar debaixo da autoridade ou influência de quem fala, o que conduz à aquiescência com seus requerimentos ou ordens(...) A desobediência é descrita como não dar ouvidos à voz de Deus quando Ele fala (Dl.81:11; Jr.7:24-28) (...) A obediência cristã significa imitar a Deus na Sua santidade ( I Pe.1:15 e s) e a Cristo na sua humildade e no Seu amor (Jo.13:14 e s.; Fp.2:5 e s.; Ef.4:32, 5:2). Origina-se na gratidão pela graça recebida (Rm.12:1 e s.), e não do desejo de obter merecimento e de justificar-se aos olhos de Deus. De fato, a observância da lei motivada por este último motivo não é obediência a Deus, mas é justamente o oposto (Rm.9:31 -10:3)...."(Novo Dicionário da Bíblia, edição em um só volume, p.1134).- A rebeldia manifesta e declarada é outra evidência da incredulidade. Apenas se rebela contra Deus e sua Palavra aqueles que não crêem no Senhor. Não foi o que aconteceram com os nossos primeiros pais ? - Rm.5:19

III - AS CONSEQÜÊNCIAS DA INCREDULIDADE

- A incredulidade traz grandes conseqüências para quem a pratica, conseqüências que perduram mesmo com o perdão dos pecados, diante da lei da semeadura - Gl.6:7,8.- Deus perdoou o pecado de incredulidade do povo de Israel mas não permitiu que aquela geração adentrasse na Terra Prometida - Nm.14:20-24.- A incredulidade impede a atuação do Senhor e, enquanto murmuramos, Deus não opera em favor dos murmuradores. Foi o que aconteceu com a geração do êxodo, que, enquanto esteve no meio do povo, não permitiu que Israel adentrasse na Terra Prometida; o que aconteceu com Agar, que, pelo seu lamento, não teria sido abençoada, se não fosse a voz de seu filho Ismael; o que impediu a operação de milagres em Nazaré (cf. M.13:57,58; Mc.6:5,6).- Se Deus não atua em favor dos incrédulos, atuará contra eles (cf. Mt.12:30), porque Deus coopera apenas com aqueles que seguem a Sua voz, que confiam em Suas palavras (cf. Mc.16:20).- Quem não anda segundo a vontade de Deus, é filho da ira (cf. Ef.2:2,3), é do diabo (cf. I Jo.3:8), é o joio no meio do trigo (cf.Mt.13:38). Sejamos, pois, crentes, ou seja, creiamos na Palavra de Deus - Jo.20:27,29.