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MÉTODO PARA A DETERMINAÇÃO DO ÂNGULO DE INCLINAÇÃO DA TREMONHA EM SILOS Rafael Antunes de Andrade Projeto de Graduação apresentado ao Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Engenheiro Mecânico Orientador: Daniel Onofre de Almeida Cruz Rio de Janeiro Março de 2016

0e72'2 3$5$ $ '(7(50,1$d2 '2 Æ1*8/2 '( ,1&/,1$d2 '$monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10017385.pdfAos professores do Departamento de Engenharia Mecânica por todo o conhecimento

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MÉTODO PARA A DETERMINAÇÃO DO ÂNGULO DE INCLINAÇÃO DA TREMONHA EM SILOS

Rafael Antunes de Andrade

Projeto de Graduação apresentado ao

Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Engenheiro Mecânico Orientador: Daniel Onofre de Almeida Cruz

Rio de Janeiro Março de 2016

iii

Andrade, Rafael Antunes de

Método para a determinação do ângulo de inclinação da

tremonha em silos/ Rafael Antunes de Andrade. – Rio de

Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2016.

vi, 43 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Daniel Onofre de Almeida Cruz

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/

Departamento de Engenharia Mecânica, 2016.

Referências Bibliográficas: p. 36-37.

1. Cálculo do ângulo de inclinação da tremonha. I. Cruz,

Daniel Onofre de Almeida. II. Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Escola Politécnica, Departamento de Engenharia

Mecânica. III. Título

iv

Agradecimentos

Gostaria de agradecer à Deus, por ter me ajudado a superar mais uma etapa.

À minha família, por me proporcionar uma boa educação e suporte ao longo de toda a

vida.

Aos amigos da Engenharia Mecânica, que estudaram comigo ao longo do curso.

Aos professores do Departamento de Engenharia Mecânica por todo o conhecimento

transmitido.

E ao professor Daniel Cruz, pela orientação e disponibilidade na elaboração deste

trabalho.

v

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte

dos requisitos necessários para o obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.

MÉTODO PARA A DETERMINAÇÃO DO ÂNGULO DE INCLINAÇÃO DA

TREMONHA EM SILOS

Rafael Antunes de Andrade

Março/2016

Orientador: Daniel Onofre de Almeida Cruz

Curso: Engenharia Mecânica

Silos são recipientes largamente utilizados na indústria, portos e fazendas com o

objetivo de armazenar e conservar diferentes tipos de produtos. Apesar de sua grande

importância, os modelos existentes ainda enfrentam dificuldades para operar de forma

eficiente, devido à grande dificuldade de se prever corretamente os fenômenos

envolvidos no processo.

Como a maioria dos trabalhos existentes estão interessados em armazenamento de

produtos granulares como soja e milho, esse trabalho foi pensado para silos que serão

utilizados para armazenar fluidos pastosos como os rejeitos de lama de perfuração.

Assim, foi desenvolvido um modelo com o objetivo de prever uma geometria para o

silo, que possibilite que o material contido em seu interior consiga iniciar o escoamento

sem formar uma obstrução.

Os resultados obtidos foram avaliados a partir dos gráficos que mostram o

comportamento do ângulo de inclinação da tremonha e também pela comparação com

modelos pré-existentes.

vi

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Mechanical Engineer

METHOD FOR DETERMINATION OF THE HOPPER INCLINATION ANGLE IN

SILOS

Rafael Antunes de Andrade

March/2016

Advisor: Daniel Onofre de Almeida Cruz

Course: Mechanical Engineering

Silos are containers widely used in industries, ports and farms in order to store and

preserve various types of products. Despite its great importance, existing models are

still struggling to operate efficiently due to the great difficulties of correctly predict the

phenomena involved in the process.

Since most existing works are interested in storing granular products as soybean and

corn, the present work has been designed to silos that will be used to store viscous fluids

such as drilling mud wastes. Thus, a model was developed to predict the silo geometry,

which allows the material contained inside starts de flow without forming an

obstruction.

The obtained results were evaluated from de graphics showing the hopper inclination

angle behavior and also by comparison with pre-existing models.

vii

Sumário

Lista de Figuras ............................................................................................................. viii

Lista de Tabelas ............................................................................................................... ix

Lista de Símbolos ............................................................................................................. x

1 Introdução ...................................................................................................................... 1

1.1 Silos de armazenamento ......................................................................................... 1

1.2 Motivação ............................................................................................................... 1

2 História .......................................................................................................................... 2

3 Revisão bibliográfica ..................................................................................................... 3

4 Fluidos de Perfuração .................................................................................................... 6

4.1 Reologia .................................................................................................................. 7

4.1.1 Plástico de Bingham ......................................................................................... 7

4.2 Tipos de fluidos de perfuração ................................................................................ 8

4.3 Processo de separação do fluido ........................................................................... 10

5 Problemas de Fluxo ..................................................................................................... 13

5.1 Obstrução de tubo ................................................................................................. 13

5.2 Arqueamento ......................................................................................................... 14

5.3 Descarga incompleta ............................................................................................. 15

6 Tipos de Fluxo ............................................................................................................. 15

6.1 Fluxo de Massa ..................................................................................................... 15

6.2 Fluxo de Funil ....................................................................................................... 16

7 Modelos Existentes ...................................................................................................... 17

7.1 Teste de Cisalhamento de Jenike .......................................................................... 17

7.2 Modelo de Jenike .................................................................................................. 21

7.3 Modelo de Walters ................................................................................................ 22

7.4 Modelo de McLean ............................................................................................... 22

8 Modelo Proposto ......................................................................................................... 23

9 Comparação com os Modelos Existentes .................................................................... 31

10 Conclusão .................................................................................................................. 34

Referências Bibliográficas .............................................................................................. 36

APÊNDICE .................................................................................................................... 38

viii

Lista de Figuras

4.1 Atuação do Fluido de Perfuração [7] ............................................................... 10

4.2 Peneira Vibratória ............................................................................................ 11

4.3 Degasser ........................................................................................................... 11

4.4 Desander .......................................................................................................... 12

4.5 Desilter ............................................................................................................. 13

5.1 Obstrução de Tubo [4] ..................................................................................... 14

5.2 Arqueamento [3] .............................................................................................. 14

5.3 Descarga incompleta [4] .................................................................................. 15

6.1 Fluxo de Massa [4] .......................................................................................... 16

6.2 Fluxo de Funil [4] ............................................................................................ 17

7.1 Teste de Cisalhamento de Jenike [3] ............................................................... 18

7.2 Curvas resultantes do teste de cisalhamento .................................................... 18

7.3 Gráfico x [3] .............................................................................................. 19

7.4 Circulo de Mohr [3] ......................................................................................... 20

7.5 Limites entre o Fluxo de Massa e o Fluxo de Funil [3] ................................... 21

8.1 Equacionamento ............................................................................................... 23

8.2 Cálculo de h ..................................................................................................... 24

8.3 Tremonha do silo ............................................................................................. 25

8.4 Cálculo de e .............................................................................................. 25

8.5 Gráficos x variando ............................................................................. 28

8.6 Gráficos x variando .............................................................................. 30

ix

Lista de Tabelas

9.1 Propriedade de Fluxo dos Produtos [4] ............................................................. 32

9.2 Valores médios ................................................................................................. 33

9.3 Resultados encontrados ..................................................................................... 33

x

Lista de Símbolos

Área da superfície da tremonha

Geratriz do cone maior da tremonha

Geratriz do cone menor da tremonha

H Altura total do silo

h Altura da tremonha

Altura do cone maior da tremonha

Altura do cone menor da tremonha

P Pressão aplicada na parte superior do silo

R Raio da parte superior do silo

r Raio da seção de descarga

V Volume da tremonha

Peso específico do material contido no silo

Tensão de cedência do material

Altura admensional

Pressão admensional

Raio admensional

Tensão de cedência admensional

Efetivo ângulo de atrito interno

Ângulo de atrito com a parede

1

1 Introdução

1.1 Silos de armazenamento

Silos são recipientes utilizados para o armazenamento de diversos produtos, o seu

uso é de extrema importância para o armazenamento nas mais diversas indústrias, como

por exemplo no setor de óleo e gás e na agroindústria. Uma de suas principais vantagens

é a economia de espaço, uma vez que em sua maioria são constituídos de formatos

cilíndricos altos e esbeltos.

O dimensionamento de silos é assunto de estudo de vários trabalhos, entretanto a

grande maioria está interessada em silos para armazenamento de sólidos granulares, em

grande parte baseados na teoria desenvolvida por JENIKE [1]. Assim, ainda existe a

necessidade de desenvolver um modelos específico para ser utilizado em casos de

fluidos com dificuldade de escoamento. No Brasil essa, necessidade vêm do fato de que

é esperado um crescimento considerável na utilização de silos com o objetivo de atender

a crescente demanda da indústria de óleo e gás e também no armazenamento de

produtos agrícolas.

1.2 Motivação

Atualmente os silos utilizados possuem dificuldade para permitir o escoamento

dos produtos, em especial os muito viscosos, como no caso da indústria de petróleo.

Seus projetos ainda são complexos e possuem muitas incertezas uma vez que existem

diversas variáveis envolvidas no processo. O estudo do escoamento se torna difícil

porque não é fácil a sua observação, já que os silos são feitos de materiais opacos que

não permitem a vizualização do escoamento. Assim, o objetivo desse trabalho é a

criação de um modelo matemático capaz de otimizar os projetos de silos para o

armazenamento dos resíduos que são retirados da lama de perfuração, afim de evitar que

2

o formato escolhido na hora do projeto crie dificuldades para o escoamento do produto

armazenado.

Quando parte do material permanece preso dentro do silo após o esvaziamento,

com o passar do tempo pode ocorrer deterioração do material, um problema muito

grave, principalmente quando se trata de produtos alimentícios. Além disso, o material

acumulado reduz a capacidade de armazenamento, aumentando os custos de

armazenagem.

2 História

Silos são utilizados pela humanidade há milhares de anos com o objetivo de

armazenar alimentos em grãos, os alimentos eram armazenados em épocas em que a

produção era grande para serem utilizados em momentos em que a safra não era

suficiente para abastecer toda a população.

Descobertas arqueológicas mostram que os silos começaram a ser utilizados na

Grécia Antiga no século VII A.C. e no século V A.C. na região de Israel. O povo

egípcio construiu silos de alvenaria acima da superfície e em formato cônico, onde os

grãos eram depositados por uma abertura no topo e saiam por uma porta na base [2].

Na Roma Antiga já se construiam grandes silos escavados no solo, forrados com

argila que posteriormente era queimada para endurece-lá. Essa estrutura permitia

conservar os grãos por longos períodos.

Os silos modernos, verticais e feitos de madeira, foram primeiramente construídos

nos Estados Unidos, no ano de 1873.

3

3 Revisão bibliográfica

Um dos problemas frequentes enfrentados pela indústria é o não esvaziamento

total do silo, o que é comum para produtos que possuem viscosidade elevada e que em

caso de produtos perecíveis podem causar prejuízos financeiros. Ao longo das últimas

décadas muitos trabalhos foram publicados com o objetivo de criar um modelo

matemático eficiente para o dimensionamento dos silos.

De acordo com PALMA [3], a maioria dos silos existentes no mundo não estão

operando sobre condições ideais, isso ocorre porque o projeto é complexo já que

existem diversas variáveis que podem afetá-lo. PALMA [3] também afirma que Roberts

(1884) estabeleceu a primeira teoria sobre silos onde foi demonstrado que a pressão na

base do silo para produtos sólidos é diferente para produtos líquidos. No caso de sólidos

uma parte da pressão é perdida nas paredes do reservatório por atrito, dessa forma a

pressão na parte inferior do reservatório é menor no armazenamento de sólidos do que

no de líquidos.

Um dos primeiros trabalhos desenvolvidos com o objetivo de resolver esses

problemas foi apresentado por JENIKE [1], nele foram definidos dois tipos de fluxo que

podem ocorrer: o fluxo de funil e o de massa. O fluxo de massa é caracterizado pelo fato

de todo o material entrar em movimento simultâneamente, diferentemente do fluxo de

funil onde apenas uma parte do produto entra em movimento. Esse mesmo trabalho

também apresenta os tipos de obstrução que podem ocorrer na saída durante o

escoamento do material armazenado.

JENIKE [1] mostra que os fluxos ocorrem de forma diferentes para líquidos e

para sólidos. No caso de produtos sólidos a pressão aplicada pode consolidar o material

causando uma resistência ao escoamento, esse fenômeno não ocorre no caso dos

líquidos.

Também diz que é necessário diferenciar a área da descarga da área efetiva de

descarga, durante o escoamento a área de interesse é a área efetiva. Muitas vezes a área

4

efetiva pode ser significativamente menor do que a área real, podendo causar graves

problemas durante o escoamento.

MEDEIROS [4] diz que segundo as normas internacionais, o tipo de fluxo pode

ser definido a partir da inclinação da tremonha e do coeficiente de atrito do produto com

a parede. Também diz que além do fluxo de funil e do fluxo de massa existe um tipo

intermediário denominado fluxo misto, que é caracterizado pela movimentação de todas

as partículas de massa em uma parte do silo enquanto em outra parte ocorre a formação

de um tubo. Além disso, afirma que ocorre um fenômeno chamado Efeito Tubo,

principalmente no fluxo de funil, onde a massa adjacente ao canal de fluxo fica

estagnada ao longo de toda a altura do silo. Esse efeito pode causar poblemas na

estrutura do silo se a massa estagnada começar a se mover no sentido axial, pois as

primeiras camadas movidas causarão uma sucção de ar nas camadas superiores levando

a uma expulsão abrupta do ar contido no tubo pela abertura de descarga. Isso pode

causar problemas nas paredes, na união entre a tremonha e o corpo do silo, no orifício

de descarga e nos dispositivos de descarga.

No caso de fluxo de massa, as flutuações na vazão de descarga são muito

pequenas, devido ao perfil de fluxo bem definido e a não ocorrência de zonas

estagnadas.

MEDEIROS [4] também diz que Jenike mostra que a mudança de densidade com

a pressão de consolidação é desprezível durante o fluxo.

FILHO [5], em sua tese de mestrado, define os seguintes tipos de silos:

Em relação ao solo:

Silos elevados ou aéreos: são construídos acima do nível do solo.

Silos subterrâneos: são construídos abaixo do nível so solo. São mais simples

que os silos elevados, podem ocorrer infiltrações e tem descarga mais lenta.

Silos semi-subterrâneo: tipo intermediário entre os dois primeiros

Em relação ao material de contrução:

5

Silos de madeira: possuem pouca capacidade de armazenamento e pouca

durabilidade. Indicado para locais onde a madeira tem muita disponibilidade e

baixo preço.

Silo de alvenaria: contruídos com tijolos ou blocos de concreto.

Silos de concreto: podem ser de concreto armado ou concreto protendido.

Destinados ao armazenamento de grandes volumes, normalmente possuem

grandes alturas.

Silos metálicos: normalmente são pré-fabricados e possuem capacidades

pequena e média. Quando são constituídos de várias células podem alcançar

grandes volumes.

Em relação à categoria:

Silos agrícolas:

Destinados a estocagem de grãos alimentícios, são sub-divididos

Silos de granjas:

São utilizados para facilitar a manipluação dos grãos e diminuir os

custos com sacarias.

Silos coletores regionais

Ficam localizados nas zonas de produção, usados para armazenar e

beneficiar a produção de grãos.

Silos intermediários

Ficam localizados em vias de transporte e servem para escalonar os

fluxos em direção aos terminais portuários.

Silos portuários

Ficam localizados em portos, são de grande porte

Silos industriais: destinados ao armazenamento de produtos industriais

6

Em relação a entrada de ar:

Silos herméticos: não permite troca de ar com o exterior

Silos não herméticos: permite a troca de ar com o exterior

Em relação a capacidade estática:

Podem ser classificados como pequeno, médio e grande porte. Os pequenos

normalmente possuem apenas uma célula e são utilizados em pequenas fazendas. Os de

médio porte são utilizados em grandes fazendas. Os de grande porte são encontrados em

portos.

Em relação ao sentido da maior dimensão

Silos horizontais: quando uma das dimensões do fundo prevalece em

relação à altura, são normalmente alongados

Silos verticais: quando a altura prevalece em relação as dimensões da

base

4 Fluidos de Perfuração

Fluidos de perfuração, também conhecidos como lamas de perfuração, são fluidos

utilizados para auxiliar a perfuração de poços. São muito utilizados para perfuração de

poços de petróleo e gás mas também são usados em outras situações como por exemplo

para perfuração de poços de água. Esses fluidos tem um papel muito importante na

perfuração, muitas pesquisas são feitas com o objetivo de criar fluidos com

desempenhos cada vez melhores.

No momento da perfuração do poço, o fluido é injetado pela coluna de perfuração

e sai por orifícios existentes na broca, fazendo com que os fragmentos de rocha presos

na broca se soltem. Após a utilização, o fluido sobe para a superfície e é separado dos

fragmentos que são armazenados em silos para depois receberem um tratamento. Depois

de separado dos fragmentos, o fluido é injetado novamente na coluna de perfuração para

continuar o processo. Entretanto, como uma parte do fluido sempre se perde dentro de

7

rochas permeáveis é necessário adicionar lama extra para manter a pressão necessária

dentro do poço.

4.1 Reologia

A reologia é responsável por estudar como a matéria se deforma ou escoa, sendo

assim é muito importante para descrever o comportamentos dos fluidos de perfuração

durante a sua utilização. As propriedades reológicas do fluido influenciam no processo

de perfuração pois são responsáveis pela remoção dos cascalhos e na determinação da

taxa de perfuração do poço.

De acordo com MELO [6], os fluidos de perfuração são tixotrópicos, isto é,

quando são deixados em repouso adquirem um estado semi-rígido e quando estão em

movimento apresentam fluidez. Essa característica é conhecida como força gel, ela é um

parâmetro reológico que indica o grau de gelificação devido à interação elétrica entre as

partículas dispersas. A força gel inicial mede a resistência inicial para colocar o fluido

em movimento e a força gel final mede a resistência do fluido para reiniciar o fluxo

quando este fica um tempo em repouso. A diferença entre elas indica o grau de

tixotropia do fluido.

As dispersões aquosas de bentonita, que são utilizadas na perfuração de poços, são

um exemplo deste tipo de fluido. Estas aumentam a tensão cisalhante quando são

deixadas em repouso, dando lugar à formação de um gel. Porém, elas recuperam a sua

fluidez quando sob condições dinâmicas, caracterizando a tixotropia como um

fenômeno reversível.

4.1.1 Plástico de Bingham

Plásticos de Bingham são materiais que se comportam como um corpo rígido em

baixas tensões de cisalhamento, mas a partir de uma certa tensão de cisalhamento se

comportam como um fluido, sendo muito comum a utilização desse modelo para a

descrição do escoamento de lamas de perfuração. Alguns produtos presentes no nosso

dia a dia também apresentam esse comportamento, como por exemplo a maionese e a

8

pasta de dente. Esta última só sai do tubo após uma certa pressão ser aplicada, a partir

desse momento começa a escoar como um fluido.

As dispersões aquosas de bentonitas, mencionadas na seção anterior, que são

utilizadas como fluidos de perfuração, são também do tipo Plástico de Bingham. Esses

tipos de fluidos tem como característica [6] o fato de só iniciarem o escoamento após

sofrer uma tensão de cisalhamento mínima, conhecida como Yield Point, e após o início

do escoamento, a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação apresentam uma

relação linear expressa pela seguinte equação:

( 4.1 )

Onde a constante de proporcionalidade, , é denominada viscosidade plástica.

4.2 Tipos de fluidos de perfuração

Os fluidos de perfuração podem ser de três tipos, de base água, base óleo ou

sintéticos

Base água

Convencionais: são constituidos basicamente de água, bentonita (argila

ativada), controladores de pH e adensantes. São fluidos muito baratos,

por isso são muito utilizados nas etapas iniciais da perfuração. Como

possui baixa toxidade pode ser descartado no mar durante a perfuração

offfshore.

Poliméricos: constituidos principalmente de água, polímeros e

adensantes.

Base Óleo

São fluidos a base de derivados de petróleo como o diesel, o querosene ou

n-parafinas. Suas vantagens são proporcionar boa lubrificação, maior capacidade

9

de limpeza com menor viscosidade, além de possuir melhor estailidade a altas

temperaturas.

Base sintética

São fluidos baseados em óleos sintéticos, possuem propriedades aos fluidos

de base óleo com a vantagem de possuir um menor grau de toxidade. É o tipo de

fluido mais utilizado em perfurações offshore.

Suas principais funções são [7]:

Resfriar e lubrificar a broca

Quando a broca está em movimento, cortando a rocha, o atrito e o

superaquecimento se tornam um problema importante. Os fluidos de perfuração

tem a função de lubrificar e resfriar, aumentando a vida útil da broca e reduzindo

o torque necessário para manter a broca girando. O fluido também lubrifica o

contato entre a coluna de perfuração e o poço.

Criar pressão dentro do poço

A lama precisa ter uma pressão no interior do poço suficiente para

contrabalancear a pressão natural da rocha mas não pode ser elevada demais

para não causar nenhum dano ao poço.

Outra função importante é criar uma pressão no fluido de perfuração superior a

pressão do fluido existente nos poros da rocha. Também é necessário evitar que

a lama de perfuração penetre na rocha, isso pode ser reduzido colocando-se

aditivos na lama.

Remoção do cascalho

Cascalhos são fragmentos de pedra gerados pela ação da broca contra a

superfície rochosa do poço, a sua remoção é necessária para que o trabalho de

perfuração possa continuar sem que a broca sofra mais esforços mecânicos que o

necessário. O fluido de perfuração segue pelo interior da coluna de perfuração

até sair pela broca, nesse momento ele retira o cascalho e o leva até a superfície.

10

Uma característica importante do fluido é que ele deve ser capaz de fazer com

que o cascalho flutue para que seja possivel levá-lo até a superfície. Na figura

abaixo pode-se ver uma ilustração mostrando a atuação do fluido de perfuração.

Fig. 4.1: Atuação do Fluido de Perfuração [7]

Prevenção de Blowout

Os fluidos de perfuração ainda tem mais uma função importante, a

prevenção de blowout. Esse fenômeno ocorre quando os fluidos da formação

rochosa tem uma pressão maior que a pressão do poço, fazendo com que eles

entrem no poço e subam até a superfície, podendo causar uma produção

descontrolada.

Além das características principais citadas acima outras também são desejáveis

para facilitar a operação, como por exemplo não causar corrosão nos equipamentos e

serem facilmente bombeáveis.

4.3 Processo de separação do fluido

Depois de voltar à superfície, a lama que está misturada com cascalhos, areia,

gases e outros, passa por um processo de separação antes de ser utilizada novamente.

Durante o processo, a lamas passa pelos seguintes equipamentos [8]:

11

Peneira vibratória (Shale Shaker): resposável por retirar os cascalhos mais

grosseiros. É considerado o equipamento mais importante do processo pois a

performance dos próximos equipamentos está relacionada com o nível de

limpeza da lama que sai desta etapa.

As rochas separadas são analisadas em laboratórios para descobrir que tipos

de rochas existem a cada determinada profundidade.

Fig. 4.2: Peneira Vibratória.

Fonte: http://www.gnsolidscontrol.com/shale-shaker

Desareador (Degasser): retira os gases que estão contidos na lama.

Podem ser de dois tipos, a vácuo ou atmosférico. Os a vácuo retiram o gás

da lama a partir da pressão negativa, enquanto o desareador atmosférico retira o

gás bombeando a lama em uma fina camada, fazendo com que o gás saia por si

mesmo.

Fig. 4.3: Degasser

Fonte: http://www.gnsolidscontrol.com/vacuum-degasser

12

Removedor de areia (Desander):

É um sistema de hidrociclone utilizado para retirar as partículas de areia.

A lama é bombeada para a parte superior do hidrociclone e depois desce fazendo

um movimento circular dentro do cone, dessa forma a areia é separada pela ação

da força centrífuga.

Fig. 4.4: Desander

Fonte: http://www.gnsolidscontrol.com/desander

Removedor de Silte (Desilter):

Utilizado para remover as partículas mais finas de areia e argila.

É muito parecido com o Desander, a diferença é que o Desilter possui um grande

número de pequenos cones. Essa característica permite que ele remova

partículas menores do que no Desander.

13

Fig. 4.5: Desilter

Fonte: http://www.gnsolidscontrol.com/desilter

No final, a lama passa por centrífugas para completar a operação. Após a

centrífuga, a lama passa pelo misturador de lama (mud mixing) que é responsável por

adicionar aditivos para que a lama volte a ter as propriedades necessárias para a

operação de perfuração.

5 Problemas de Fluxo

Quando o produto armazenado está consolidado, ele pode adquirir resistência

suficiente para suportar seu própio peso, quando isso ocorre uma obstrução ao fluxo

pode se formar. Exitem dois tipos principais de obstrução: a de tubo e o arqueamento.

5.1 Obstrução de tubo

Obstrução normalmente associada ao fluxo de funil. Se a consolidação do produto

aumenta com o tempo de armazenagem, as chances de formação da obstrução também

aumentam.

Essa obstrução pode abalar a estrutura do silo se o material estagnado começar a

se mover no sentido axial. Isso ocorre porque as partes inferiores que se moverem

14

primeiro causarão uma sucção na parte superior do silo, resultando em uma expulsão

abrupta do ar contido no tubo pela saída.

Fig. 5.1: Obstrução de Tubo [4]

5.2 Arqueamento

Um arco se forma acima da saída do silo, interrompendo o fluxo de descarga. No

caso de produtos finos e coesivos o arco é causado pela força de adesão entre as

partículas. No caso de grãos maiores a causa é o entrosamento entre as partículas.

Além de causar problemas na descarga o arqueamento pode trazer riscos

estruturais para o silo, já que no momento do desprendimento do arco pode ocorrer uma

sucção do ar na parte superior do silo e um aumento abrupto de pressão nas partes

inferiores à obstrução.

Fig. 5.2: Arqueamento [3]

15

5.3 Descarga incompleta

Se uma parte do material continuar dentro do silo preso nas paredes após o

término do esvaziamento, além de causar uma redução na capacidade de

armazenamento também pode causar a deterioração do produto. Isso é um problema

muito importante no caso de produtos alimentícios.

Fig. 5.3: Descarga incompleta [4]

6 Tipos de Fluxo

6.1 Fluxo de Massa

Esse é o tipo de fluxo considerado ideal, os projetos são feitos tendo como

objetivo esse tipo de fluxo. A sua característica é o fato de todas as partículas se

movimentarem simultaneamente durante a descarga, isso impede a formação de zonas

estagnadas.

Esse tipo de fluxo é uniforme e por isso pode ser facilmente controlado, evitando-

se a formação de obstruções.

Ele também permite que o silo possa ser completamente esvaziado por gravidade,

evitando o uso de pressurizadores e vibradores. A possibilidade de esvaziamento

completo permite que todo o espaço de armazenamento seja aproveitado.

16

Para esse tipo de fluxo as variações de vazão são muito pequenas devido ao fluxo

ser bem definido e a ausência de zonas estagnadas. Normalmente apenas produtos

granulares de baixa coesão e baixo atrito interno conseguem ter o fluxo de massa.

Em situações que ocorrem o fluxo de massa, o silo sofre mais esforços estruturais

uma vez que todo o produto armazenado se movimenta ao mesmo tempo transmitindo

elevadas pressões as paredes e ao fundo do silo.

Fig. 6.1: Fluxo de Massa [4]

6.2 Fluxo de Funil

É o tipo de fluxo onde uma camada de material fica estagnada em volta do canal

de fluxo, no caso de produtos muito coesivos pode acarretar na interrupção da descarga.

As zonas estagnadas fazem com que a capacidade de armazenamento seja

reduzida, entretando elas reduzem as pressões nas paredes. Apesar dos esforços

menores nas paredes, o fluxo de funil não é desejável porque o arqueamento e o efeito

tubo podem causar problemas estruturais no momento de sua ruptura.

Diferentemente do fluxo de massa, o fluxo de funil possui um controle de vazão

muito dificil já que o fluxo não é uniforme.

17

Fig. 6.2: Fluxo de Funil [4]

7 Modelos Existentes

Os modelos existentes para projetos de silos se baseiam em materiais granulares

ou em forma de pó, em sua maioria, fazem uso de um aparelho desenvolvido para medir

tensões cisalhantes conhecido como Jenike Shear Test, ou simplesmente máquina de

cisalhamento. Este aparelho foi desenvolvido por JENIKE [1] e tem como objetivo

descobrir alguns parâmetros do material durante a execução de um teste de

cisalhamento.

7.1 Teste de Cisalhamento de Jenike

Este teste é composto por uma célula de cisalhamento de formato cilíndrico que é

colocada sobre a base da máquina, juntamente com pesos utilizados para a aplicação de

uma carga vertical, por gravidade, e um suporte de carga com acionamento eletro-

mecânico que proporciona um movimento horizontal a uma velocidade de 3mm/s,

responsável por gerar o cisalhamento.

18

Fig. 7.1: Teste de Cisalhamento de Jenike [3]

No início do movimento, a tensão de cisalhamento e a densididade do produto vão

aumentando com o tempo até atingir um valor constante. Quando esse valor é alcançado

atinge-se uma condição conhecida como fluxo estável. Quando o fluxo estável é

atingido, significa que a amostra está consolidade criticamente.

Depois de atingida a consolidação, a amostra é cisalhada novamente sob uma

tensão normal menor. Nessas circunstâncias, a força necessária para o cisalhamento

aumenta muito rapidamente e depois diminui, o ponto máximo dessa curva representa o

momento em que o deslizamento inicia.

.

Fig. 7.2: Curvas resultantes do teste de cisalhamento

Fonte: jenike.com/bulkmaterialtesting/tester-supply/

19

Para o cálculo do ângulo de inclinação são necessários dois parâmetros

provenientes do ensaio mostrado acima, o ângulo de atrito interno com a parede ( ) e

o efetivo ângulo de atrito interno ( ).

Ângulo de atrito com a parede, :

Para o cálculo do ângulo de atrito com a parede ( ), é necessário substituir a

base da célula de cisalhamento pelo mesmo material que é feita a parede do silo. A

partir dessa nova configuração são medidas as tensões de cisalhamento ( ) que são

necessárias para mover a célula para vários valores de tensões normais ( ).

Os pares de tensões ( ) são então plotados em um gráfico e o ângulo é a

inclinação da reta, essa reta representa o lugar geométrico do deslizamento.

= arctan(

⁄ ) ( 7.1 )

Fig. 7.3: Gráfico x [3]

20

Efetivo ângulo de atrito interno, :

Para uma dada condição de consolidação, o lugar geométrico de deslizamento de

produtos granulares de fluxo livre, sobre si mesmo, é encontrada fazendo o

cisalhamento na amostra sobre várias tensões normais. A partir das tensões principais

e que atuam na amostra é construído o círculo de Mohr. A reta tangente a todos os

círculos é conhecida como lugar geométrico de deslizamento do produto (YL). O

ângulo de inclinação dessa reta é o ângulo de atrito interno . Quando o material é de

fluxo livre essa reta passa pela origem.

A reta tangente ao maior círculo de Mohr e que passa pela origem é denominada

efetivo lugar geométrico de deslizamento, e sua inclinação com o eixo das tensões é

chamado de efetivo ângulo de atrito interno .

Fig. 7.4: Circulo de Mohr [3]

21

7.2 Modelo de Jenike

JENIKE [1], a partir da solução das suas equações, construiu um gráfico onde é

possível observar os limites entre o fluxo de massa e o fluxo de funil para diferentes

ângulos de atrito com a parede ( ).

Fig. 7.5: Limites entre o Fluxo de Massa e o Fluxo de Funil [3]

PALMA [3] afirma que apesar de JENIKE [1] considerar que os gráficos

publicados em seu trabalho predizem muito bem a inclinação da tremonha para o fluxo

de massa, os resultados experimentais indicam que esses valores são muito

conservadores. E no caso de fluxo de funil, o valores do ângulo previstos nos gráficos

não estão corretos.

22

7.3 Modelo de Walters

Walters (1973) desenvolveu essa teoria para ser utilizada em silos que operam

com fluxo de massa, o ângulo deve ser escolhido seguindo o menor dos seguintes

intervalos [3]:

(

) ( 7.2 )

(

) ( 7.3 )

7.4 Modelo de McLean

McLean (1986) também determinou uma equação para o cálculo do ângulo de

inclinação, a vantagem desse modelo para a comparação nesse trabalho é que ele utiliza

os mesmos parâmetros de Walters. O ângulo pode ser calculado pela seguinte equação

[3]:

(

) (

)

( 7.4 )

23

8 Modelo Proposto

Para desenvolver o modelo, nesse trabalho foi considerado que o material esta

inicialmente em repouso e possui uma tensão inicial que impede o início do escoamento

( . Dessa forma pode-se considerar que o fluido inicialmente se comporta como um

sólido e o objetivo é calcular o ângulo mínimo para o inicio do escoamento.

Foi considerado um silo cilíndrico hermético onde uma pressão no topo é aplicada

por um compressor com o objetivo de facilitar o escoamento, além disso leva-se em

consideração o atrito do material com a parede que resiste ao inicio do escoamento. Foi

considerado que a massa presente na parte central do silo não causa influência no resto

do material, já que ela possui facilidade de escoar por estar logo acima da abertura de

descarga. Dessa forma não foi incluída nos cálculos. Além disso, foi considerado que

uma parte do peso do material no interior do silo é compensado pelo atrito desse

material com a parede, sendo essa a grande diferença em relação aos líquidos onde a

pressão no fundo do reservatório não tem relação com o atrito nas paredes.

É importante ressaltar que o ângulo ( ) utilizado nos cálculos a seguir é diferente

do ângulo ( ) que foi utilizado nos trabalhos mencionados anteriormente. Observa-se

que esses ângulos são complementares ( + = 90º).

Equilíbrio na direção do escoamento:

Fig. 8.1: Equacionamento

24

( 8.1 )

Onde,

= peso específico do material contido no silo

V = volume da tremonha

= tensão de cedência do material

= área da tremonha

= força exercida pela pressão interna

= peso da parte de cima

= força de atrito nas paredes do silo

= peso da parte de baixo

= atrito do material com a parede da tremonha

Cálculo dos parâmetros geométricos utilizados na equação acima:

Fig. 8.2: Cálculo de h

( 8.2 )

( 8.3 )

25

Cálculo de e :

Fig. 8.3: Tremonha do silo

Fig. 8.4: Cálculo de e

( 8.4)

( 8.5 )

( 8.6 )

Substituindo na expressão do volume da tremonha:

( 8.7 )

( 8.8 )

Área do tronco de cone - :

( 8.9 ) = ( 8.12 )

( 8.10 ) =

( 8.13 )

( 8.11 ) =

( 8.14 )

26

Substituindo tudo na primeira equação e desenvolvendo o cálculo encontra-se:

[ (

)]

[

}

( 8.15 )

Admensionalizando:

(8.16)

[

(

)]

{

(

)

[ (

)] (

)

[ (

)]}

(

)

( 8.17 )

Usaremos os seguintes parâmetros admensionais:

,

,

,

,

Chega-se ao seguinte resultado:

27

[

]

{

[ (

)]

[ (

)]}

( 8.18 )

Para resolver essa equação e encontrar o valor de sen( ) utilizou-se o software

Mathematica, onde foram encontradas duas soluções com sen( ) positivo e duas com

sen( ) negativo. Os valores negativos foram descartados pois deseja-se utilizar ângulos

no intervalo ]0,

[. Os códigos para a solução se encontram no apêndice.

Assim, chegamos as seguintes equações que determinam o valor do ângulo (em

graus):

( 8.19 )

( 8.20 )

Onde,

( )

( )

( 8.21 )

[ ( ) ] ( )

[ ( ) ]

( 8.22 )

( ) [ ( ) ]

( 8.23 )

A partir dessas equações foram feitos gráficos com o objetivo de visualizar o

comportamento do ângulo em relação aos demais parâmetros previstos nas equações

28

Análise do comportamento dos gráficos em relação à com a variação de :

Considerando = 0.5, = 0.1, = 0.1

Considerando = 0.5, = 0.4, = 0.1

Considerando = 0.5, = 0.6, = 0.1

Fig. 8.5: Gráficos x variando

1

2

1

2

1

2

29

A partir dos gráficos mostrados acima, podemos observar o comportamento do

ângulo de inclinação da tremonha em relação à variação da tensão de cedência e da

altura adimensional. Pode-se ver facilmente que o aumento da tensão de cedência

desloca a curva para a direita, indicando que quanto maior a tensão de cedência maior

será a altura de material dentro do silo necessária para que escoamento se inicie. Esse

resultado se mostra realista devido ao fato de que com o aumento da tensão que impede

o movimento, se torna necessária a aplicação de uma força maior para o inicio do

escoamento. Essa força vêm do aumento do peso do material resultante do aumento da

altura.

Um outro resultado observado nesses gráficos é o fato de que só é possível obter

um esvaziamento total do silo quando as curvas do gráfico tocam o eixo vertical, pois

dessa forma teremos uma altura igual a zero dentro do silo, o que só ocorre para

condições específicas.

30

Análise do comportamento dos gráficos em relação à com a variação de :

Considerando = 0.5, = 0.2, = 2

Considerando = 0.5, = 0.4, = 2

Considerando = 0.5, = 0.6, = 2

Fig. 8.6: Gráficos x variando

1

2

1

2

1

2

31

Agora, observando o comportamento das curvas em relação a com a variação de

pode-se observar mais um fenômeno importante. Os gráficos mostram que existe

uma região (região branca) onde não é possível iniciar o escoamento, e essa região

aumenta com o aumento de . Esse resultado também se mostra realista porque o

aumento da tensão irá tornar o escoamento cada vez mais difícil, fazendo com que o

escoamento só ocorra para situações cada vez mais específicas.

Esse fenômeno mostra a importância do estudo dos silos. Se durante a fase de

projeto a geometria do silo não for definida de maneira correta corre-se o risco de

contruir um silo que se encontre em uma região do gráfico onde o escoamento não é

possível, o que irá enviabilizar a sua utilização, causando perdas financeiras e atrasos na

execução do projeto.

9 Comparação com os Modelos Existentes

Nesta seção faremos uma comparação entre os resultados obtidos e o modelo [3]

de McLean e o de Walters .

Para encontrar um valor de para ser usado nas equações desenvolvidas iremos

imaginar que o silo possui uma determinada quantidade de material em seu interior que

alcança uma determinada altura. Dessa forma diremos que a pressão no fundo do silo,

próximo a abertura de descarga, equivale ao produto do peso específico e da altura de

material ( ). É importante ressaltar que esse valor para a pressão na verdade é uma

aproximação, como foi dito anteriormente o valor real seria uma pressão menor devido

ao atrito nas paredes do silo que atua como uma sustentação que reduz o peso do

material sobre o fundo do recipiente.

A partir de agora seguiremos o mesmo princípio utilizado no aparelho de

cisalhamento de Jenike quando o ensaio é feito utilizando como base o material da

parede do silo. Vamos considerar que a projeção normal da pressão será a origem da

tensão normal ( ) que comprime o material contra a parede da tremonha. O ângulo de

32

atrito interno com a parede ( ) será retirado da tabela. Então será utilizada a seguinte

equação para a determinação da tensão.

(

)

( 9.1 )

( 9.2 )

Tabela 9.1: Propriedade de Fluxo dos Produtos [4]

Utilizando a tabela anterior, pôde-se calcular o valor do ângulo previsto no

modelo de McLean e de Walters e fazer uma comparação com os valores obtidos com o

modelo proposto. Para o cálculo dos ângulos foi utilizado o valor médio de cada

propriedade mostrada na tabela anterior.

É importante lembrar que o ângulo utilizado nos modelos existentes é diferente

do ângulo utilizado nesse trabalho. Esses ângulos são complementares ( ).

Todos os resultados encontrados foram colocados nas tabelas abaixo com o

objetico de facilitar a comparação.

33

Tabela 9.2: Valores médios

(N/ )

(º)

(º)

Milho

em grãos

7400,30 24,45 14,50

Feijão

em grãos

7400,25 27,60 15,25

Milho

triturado

7539,75 36,55 23,45

Farelo de

soja

6602,15 34,80 24,20

Para os cálculos na Tabela 9.3 foram considerados os seguintes valores: R = 3m, r

= 0.3m, H = 5m. Para o milho em grãos e para o feijão em grãos foi considerado P = 0,

para o milho triturado e o farelo de soja foi usada uma pressão manométrica de 10000

N/ 0.1 atm.

Tabela 9.3: Resultados encontrados

(º)

McLean

(º)

Walters

(º)

Esperado

(McLean)

(º)

Esperado

(Walters)

Resultado

do Modelo

Proposto (º)

Milho

em grãos

41,68 48,32

Feijão

em grãos

37,78 52,22

Milho

triturado

22,24 67,76

Farelo

de soja

20.51 69,49

34

10 Conclusão

Este trabalho apresentou um método que tem como objetivo calcular o ângulo de

inclinação da tremonha em silos. O cálculo desse ângulo durante a fase de projeto é

importante porque dependendo da geometria do silo e das características do fluido em

seu interior, corre-se o risco de se projetar uma geometria que não possibilite o

escoamento.

Apesar dos modelos de McLean e de Walters terem sido desenvolvidos para silos

de armazenamento de grãos, eles foram utilizados para comparação pelo fato de não

existir nenhum modelo conhecido desenvolvido especificamente para fluidos com

características viscosas. Dessa forma não pode ser esperada uma concordância total dos

resultados.

O primeiro fato a ser observado é que os modelos de McLean e de Walters

apresentam valores diferentes em algumas situações, o que mostra que os modelos

existentes nem sempre conseguem produzir resultados satisfatórios.

Entretanto, pode-se observar que os modelos produziram resultados próximos.

Soma-se a isso o fato de que a Ref.[3], de onde foram retirado os modelos existentes,

afirma que eles se mostram um pouco conservadores. A experiência sugere [3] que o

ângulo para o Modelo de McLean deveria ser tomado pelo menos 3º menor, o que

consequentemente faria o ângulo esperado aumentar em pelo menos 3º.

Dessa forma, os resultados esperados se aproximam da média dos valores

encontrados no modelo proposto. Assim sendo, mesmo que os modelos tenham sido

feitos com objetivos diferentes eles se mostraram próximos.

Uma vantagem importante do modelo proposto é que ele é capaz de prever a

altura mínima necessária de material dentro do silo para que o escoamento ocorra. Nos

modelos existentes não é possível saber essa informação, uma vez que eles se baseiam

apenas nos valores de e para o cálculo do ângulo. Uma outra grande vantagem é

que apesar de sua simplicidade ele é capaz de produzir resultados satisfatórios.

35

A partir da observação dos resultados numéricos e os gráficos obtidos e já

interpretados na seção 8, é possível considerar que este modelo possui viabilidade

teórica. Assim, esse código pode ser utilizado como uma importante ferramenta de

projeto para auxiliar na determinação da geometria de silos.

36

Referências Bibliográficas

[1] Jenike, A. W., Storage and Flow of Solids. Bulletin of the University of Utah, Salt

Lake City, Utah, 1970

[2] Carrier, L., “The History of Silo”, Agronomy Journal, pp. 175, May 1920.

Disponível em:

<https://dl.sciencesocieties.org/publications/aj/abstracts/12/5/AJ0120050175?access=0

&view=pdf >. Acessado dia 09/02/2016.

[3] Palma, G., Pressões e Fluxo em Silos Esbeltos (h/d>1,5). Tese de M.Sc., Escola de

Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, São Carlos, SP, Brasil, 2005.

Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18134/tde-09082005-

141400/en.php >. Acessado dia 08/09/2015.

[4] Medeiros, I. F., Características de Fluxo e Vazão de Descarga em Silos Verticais.

Tese de M.Sc., Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, PB, Brasil,

2012. Disponível em:

<http://www.deag.ufcg.edu.br/copeag/DISSERTACOES_E_TESES_PPGEA/DISSERT

A%C7%C3O/CONSTRU%C7%D5ES/2012/IVANILDO.pdf >. Acessado em

13/08/2015.

[5] Filho, J. F., Uma Introdução ao Estudo de Silos. Tese de M.Sc., Escola de

Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, São Carlos, SP, Brasil, 1985.

Disponível em:

<http://web.set.eesc.usp.br/static/data/producao/1985ME_JorgeFortesFilho.pdf >.

Acessado em 26/09/2015.

[6] Melo, K. C., Avaliação e Modelagem Reológica de Fluidos de Perfuração Base

Água. Tese de M.Sc. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil,

2008. Disponível em < ftp://ftp.ufrn.br/pub/biblioteca/ext/bdtd/klismeryaneCM.pdf> .

Acessado em 10/03/2016.

37

[7] Carvalho, A. L., Processamento de Lamas de Perfuração (Lamas a Base de Água e

Lamas a Base de Óleo). Projeto de Iniciação Científica. Universidade Federal de

Itajubá, Itajubá, MG, Brasil, 2005. Disponível em <

http://www.anp.gov.br/CapitalHumano/Arquivos/PRH16/Alexandra-Lima-de-

Carvalho_PRH16_UNIFEI_G.pdf >. Acessado em 28/12/2015.

[8] Schlumberger Oilfield Glossary. Disponível em <

http://www.glossary.oilfield.slb.com/ >. Acessado em 16/01/2016.

38

APÊNDICE CÓDIGOS NO MATHEMATICA

FullSimplifySolvex2 * 13 * H - r3

3 * H - r2H + r3

H +

x * 1 - x2 * P * 1 - r2 + 1 - x1 - x2

* 1H - r

H * 1 - r2 -

2 * τ * 1 - x1 - x2

* 1H - r

H - τH * 1 - r2 0, x

x - 32

2 (-1 + r)2 (1 + r) τ -2 + r + r2 + 6 τ + 3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 -3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 4 (-1 + r)3 (1 + r)

(2 + r - 3 τ) τ + 3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 (-1 + r)2 -2 + r + r2 + 6 τ2 + 9 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2,

x 32 2 (-1 + r)2 (1 + r) τ -2 + r + r2 + 6 τ +

3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 -3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 4 (-1 + r)3 (1 + r)

(2 + r - 3 τ) τ + 3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 (-1 + r)2 -2 + r + r2 + 6 τ2 + 9 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2,

x - 32 2 (-1 + r)2 (1 + r) τ -2 + r + r2 + 6 τ +3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 +3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 4 (-1 + r)3 (1 + r)

(2 + r - 3 τ) τ + 3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 (-1 + r)2 -2 + r + r2 + 6 τ2 + 9 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2,

x 32 2 (-1 + r)2 (1 + r) τ -2 + r + r2 + 6 τ +

3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 +3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 4 (-1 + r)3 (1 + r)

(2 + r - 3 τ) τ + 3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 (-1 + r)2 -2 + r + r2 + 6 τ2 + 9 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2

39

θ1 = 180Pi * ArcSin 3

22 -1 + r2 1 + r τ -2 + r + r2 + 6 τ + 3 H 1 + P -1 + r2 + 2 H τ2 -

3 H 1 + P -1 + r2 + 2 H τ2 4 -1 + r3 1 + r2 + r - 3 τ τ + 3 H 1 + P -1 + r2 + 2 H τ2

-1 + r2 -2 + r + r2 + 6 τ2 + 9 H 1 + P -1 + r2 + 2 H τ2

θ2 = 180Pi * ArcSin 3

22 -1 + r2 1 + r τ -2 + r + r2 + 6 τ +

3 H 1 + P -1 + r2 + 2 H τ2 +3 H 1 + P -1 + r2 + 2 H τ2 4 -1 + r3 1 + r

2 + r - 3 τ τ + 3 H 1 + P -1 + r2 + 2 H τ2 -1 + r2 -2 + r + r2 + 6 τ2 + 9 H 1 + P -1 + r2 + 2 H τ2

1π 180 ArcSin

32

2 (-1 + r)2 (1 + r) τ -2 + r + r2 + 6 τ + 3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 -3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 4 (-1 + r)3 (1 + r)

(2 + r - 3 τ) τ + 3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 (-1 + r)2 -2 + r + r2 + 6 τ2 + 9 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2

1π 180 ArcSin

32

2 (-1 + r)2 (1 + r) τ -2 + r + r2 + 6 τ + 3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 +3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 4 (-1 + r)3 (1 + r)

(2 + r - 3 τ) τ + 3 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2 (-1 + r)2 -2 + r + r2 + 6 τ2 + 9 H (1 + P) -1 + r2 + 2 H τ2

40

Clear[H, P, τ, r]P = 1.5;τ = 0.5;r = 0.1;Plot{θ1, θ2}, {H, 0, 10},AxesLabel H, θ, PlotLegends "Expressions",PlotRange {{0, 10}, {0, 90}}, Filling Top

θ1θ2

Clear[H, P, τ, r]P = 1;τ = 0.5;H = 2;Plot{θ1, θ2}, {r, 0, 1},AxesLabel r, θ, PlotLegends "Expressions",PlotRange {{0, 1}, {0, 90}}, Filling Top

θ1θ2

41

Clear[H, P, τ, r]P = 1.5;H = 5;r = 0.01;Plot{θ1, θ2}, {τ, 0, 1},AxesLabel τ, θ, PlotLegends "Expressions",PlotRange {{0, 1}, {0, 90}}, Filling Top

θ1θ2

Clear[H, P, τ, r]τ = 0.5;H = 5;r = 0.01;Plot{θ1, θ2}, {P, 0, 1.5},AxesLabel P, θ, PlotLegends "Expressions",PlotRange {{0, 1.5}, {0, 90}}, Filling Top

θ1θ2

42

R = 3;r = 0.3;H = 5;ϕw = 23.45;γ = 7539.75;P = 10 000;Solveγ * Sin[θ]2 * R3

3 - r33 - r2 * (R - r) +

Sin[θ] * Cos[θ] * P * R2 - r2 + γ * (H - Tan[θ] * (R - r)) * R2 - r2 -Tan[ϕw Degree] * γ * H * Cos[θ] * 2 * R (H - Tan[θ] * (R - r)) ==

Tan[ϕw Degree] * γ * H * Cos[θ] * R2 - r2, θ

Solve::ifun : Inverse functions are being used by Solve, so somesolutions may not be found; use Reduce for complete solution information.

{{θ -1.82573}, {θ -0.601875 - 0.52264 }, {θ -0.601875 + 0.52264 },{θ 0.909941}, {θ 1.28045}, {θ 2.99041}}

43