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j\r ANNO
ía
DOMINGO, 7 DE FEVEREIRO DE 1904 N.° i '34
S E M A N A R I O N O T I C I O S O , L I T T E R A R I O E A G R I C O L A
A ssigua lt ira I]A n n o , 1S000 réis; sem estre, 5oo r é i s . Pagamento adeantado. f j Para o B razil, anno, 2$5oo réis (moeda fortej. KA v u ls o , no dia da publicação, 20 réis. ><
EDITOR — José Augusto Saloio 19, i.° — RUA DIREITA — 19, i.°A L U E G A L L K G A
[í l»ail>Iicações 5 ,í l A n n u n cio s— i . a publicação, 40 réis a linha, nas seguintes,
20 réis. A nnuncios na 4-a pagina, contracto especial. Os auto- >f graphos não se restituem quer sejam ou não publicados.
f j P R O P R I E T Á R I O — José Augusto Saloioe x p e d i e n t e
R ogam os aos bbossos estim áveis asslgiaantes a fiucza de mos p a rt ic ip a resn qaaalqaaer falta asa re messa alo jo risn l, fiara tEe prompto p r o v id e n c ia r mos.
A cceitam-se cosia g r a t i dão «gaaaes«paer aaoticias qase sejam «le in te re s s e paiMico.
1 1 E l i l t O J U D I C I Á R I O
Mais uma vez a justiça, faílivel como todos os actos dos homens, praticou uma arbitrariedade.
Ha perto de quatorze annos foi preso como auctor de um homicídio praticado no Funchal, Victor Alberto de Freitas Valle, a quem todos indicaram como sendo o verdadeiro criminoso. Depois de soffrer alli prisão preventiva de trez annos, veio para Lisboa e d;u ent ada na Penitenciaria, onde esteve perto de dez annos; e não sahiria de lá se não encontrasse um patrono que, conscio da innocencia do pobre preso, empregou todos os seus esforços para lhe conseguir plena e completa rehabili tação.
Esse patrono foi o brilhante advogado di'. Alexandre Braga, que consagrou todo o seu talento, toda a sua tenacidade, toda a sua vontade inque- brantavel, na defeza do homem injustamente accusado.
Freitas Valle fôra condemnado em dez annos de prisão maior cellular, seguida de degredo por vinte annos, com dois annos de prisão no logar do degredo, e chegou a cumprir niais de duas terças partes da sentença.
Mer ece justos louvores o 0 dr. Alexandre Braga pela sua esforçada obra de humanidade e de justiça. A advocacia é um sacer- docio e o iilustre advoga
do soube honestamente cumprir a sua missão.
Mas quem condemna agora os que tão injustamente sentenciaram o pobre Freitas Valle ?
Ninguém. A justiça proferiu o seu veredictum e o pobre condemnado lá foi jazer numa prisão condemnado por um crime que não commetteu.
Quem compensa esse homem das toi turas enormes que soffreu? Quem lhe paga os longos dias de horrores, de amarguras, de supplicios, as noites de insomnia, na tristeza medonha do captiveiro? Deve ser estrondosa a reha- bilitação, porque a punição tambem foi esmagadora.
Dê-se ao innocente uma compensação condigna;que todos os homens de bem lhe apertem a mão, que todos os corações bons e generosos lhe enviem af- fectuosas palavras de conforto, que os que foram injustos para com elle ajoelhem deante do martyr e lhe peçam perdão do erro que commetteram!
JOAQUIM DOS ANJOS.
A G R I C U L T U R AOs raataíacaalos
Segundo uns, os ranun- culos, cujo nome vem do latim rana, rã, em virtude, sem duvida, da planta des- envolver-se no seu paiz natal nos charcos, entre as rãs, foram trazidos para a Europa por o visir Kara- Mustapha quando cercou Vienna com um formidável exercito turco. O sultão Mahomet IV, descobrindo em uma caçada uns pés de ranunculos floridos, apaixonou-se por aquella flor, e ó seu valido, o visir Kara-Mustapha, enviou logo mensageiros a todos os
ichás do império pedindo-lhe raizes e sementes das mais lindas variedades de ranunculos que podes- sem obter, recebendo de toda a parte collecções de formosas variedades com que se opulentaram os jardins de Constantinopla.
A paixão do sultão por a interessante flor passou ao seu visir, de modo que. este, ao vir cercai- Vienna, trouxe as suas flores predilectas que breve, devido a elle, irradiaram a Europa toda.
Dizem outros, porém, que não fòram os turcos, mas sim S. Luiz, quando regressou.do Oriente, que trouxe para* França as primeiras raizes de ranunculos, os quaes de prompto: se espalharam pela Europa.
Seja c.omo fôr, o caso é que a cultura dos ranunculos é antiquíssima e, em logar de, como acóntece com a de muitas outras plantas, tender a diminuir em virtude dos caprichos da moda, augmenta pelo contrario de anno para anno.
O genero ranunculos divide-se em várias especies, das quaes, as principaessão os ranunculos asia ticos, comprehendendo os ranunculos dos floristas, os ranunculos do Oriente e da Pérsia ou borboletas e os ranunculos africanos abrangendo os ranunculos peonias e os turcos ou de turbante.
Os ranunculos asiaticos possuem uma raiz composta de muitas garras compridas e delgadas, similhan- do, na disposição, os dedos de uma mão juntos a todo o comprimento. Destas raizes ou garras brotam hastes erectas de 20 a 3o centímetros de alto, produzindo cada haste uma flor, que, no estado selvagem, é singela e, na cultura, dobrada e de coloridos bastante variados.
Os ranunculos africanos têm garras eguaes na fórma, mas maiores em tamanho aos asiaticos; as hastes são mais vigorosas e ramificadas, as folhas mais largas e as flores muito maiores.
Para os ranunculos serem considerados pelos floristas como plantas de primeira escolha, carecem de ter a folhagem vigorosa e recortada, a haste floral mais alta que a folhagem, a flor plena, bem feita,
sem orgãos reproduetores, pétalas um pouco côncavas, inteiras e diminuindo de tamanho da circumfe- rencia para o centro.
Os ranuncu'os necessitam, para bem se desenvolverem e bem florescerem, de uma terra adubada, leve, muito cuidadosamente.cavada, sem pedras,, e um pouco humid i, e uma boa exposição desafogada.
Preferem antes um logar exposto a todo o sol, do que proximo de muros e sob a sombra de qualquer arvore. A’ sombra as flores são pequenas e em resumido numero, emquanto que, em plena luz e em pleno sol, são muito abundantes, formosas e perfeitas.
Convém ter sempre a terra livre de hervas nocivas e applicar-lhe, uma ou duas vezes, uma leve rega com excremento de boi, gallinha ou pomba, dissolvido em agua.
Para cultura em vaso enchem-se estes, depois de muito bem drenados com ampla camada de cacos, com um composto de terra vegetal, terriço e estrume de boi bem pôdre e areia.
Os ranunculos plantam- se nos mezes de outubro e dezembro e, mesmo, na primeira quinzena de janeiro. Se o solo fôr frio, leve ou secco, planta-se a garra mais funda do que nos terrenos quentes, fortes e bem drenados.
Florescem nos mezes de março e mesmo em abril. Logo que depois das plantas terem produzido flor, as hastes começarem a amarellecer e a seccar, arrancam-se as plantas, corta-se as hastes junto ás raizes, as quaes se sacodem da terra, e se põem a seccar dispostas em tabolei- ros, á sombra e em sitio secco. Depois de bem seccas guardam-se para serem plantadas no anno seguinte.
Ha quem costume deixar ficar na terra as raizes dos ranunculos annos seguidos. Este processo tem, porém, o inconveniente de
assim os ranunculos se modificarem com facilidade e, no segundo, é sobretudo, no terceiro anno, as flores degenerarem sendo maiso tpequenas e mais singelas do que as variedades de typo.
Os hollandezes, que são cultores eximios desta planta, dizem que para ella não degenerar é indispensável deixar ficar as garras um anno fóra da terra sem serem plantadas. Os ranunculos reproduzem-se de sementeira e por divisão das garras. A divisão das garras faz-se quando se tiram as plantas da teri a, separando as pequenas raizes das da planta mãe, deixando-as seccar em separado para, no tempo proprio, serem plantadas no solo em terreno muito bem adubado e de fórma que as garras fiquem bastante próximas umas das outras.
As sementes obtem-se de flores singelas ou semi- dobradas, produzidas por hastes fortes e vigorosas. Colhidas as sementes logo que estiverem maduras, seccam-se e, depois, semeiam-se na ultima quinzena de outubro, em sitio abrigado, que tenha muita luz e não gele, uma a uma, a alguns millimetrosde distancia umas das outras, em terra muito substancial. Cobrem-se levemente com tres a quatro millimetros de terra e regam-se levemente com agua projectada por meio do regador.
As pequeninas plantas começam a apparecer no fim de seis a sete semanas; tem-se então o cuidado de ter o solo livre de hervas más, e rega-se a sementeira sempre que ella d’isso carecer. No anno seguinte transplantam-se para o logar onde tem de ficar.
Os ranunculos de sementeira, quando bem cuidados, produzem flores no fim do segundo anno. Só no terceiro anno é que a flor mostra se tem valor tal que a raiz mereça ser aproveitada, ou se deve ser inutilisada.
As sementes dos ranun-
O D OM INGO
culós, dizem que consér- vam a faculdade germina- tiva tres a quatro annos, e que as sementes velhas sáo melhores que as novas.
Os ranunculos, para serem considerados plantas de collecção, carecem de ter uma folhagem recortada, haste floral forte, erecta e mais alta que a folhagem, flor plena, com um diâmetro de 5o a 6o milli- metros., sem orgãos repro- ductores, de fórma arredondada, pétalas em fórma de colher, encostadas umas ás outras, um pouco erectas e diminuindo em tamanho da circumferencia para o centro, disco plano, frequentemente lenticular, de côr diversa da do resto da flor, e, em geral, negro ou verde. O colorido das flores dos ranunculos não influe na qualidade, mas somente a amplidão e perfeição da flor.
E D U A R D O S E Q U E IR A .
(Da Gaveta das Aldeias).
Auafiivcrsarios
Completou no dia 5 o seu 19.0 anniversario natalicio a menina Maria Ade- lina Ferreira, sympathica filha do nosso amigo, sr. Antonio Maria Ferreira, honrado industrial de Leiria.
D aqui lhe enviámos sinceras felicitações.
— Tambem no dia 5 o menino Accacio, filho do nosso amigo, sr. Edmundo José Rodrigues completou mais um anniversario natalicio.
Parabéns.— Completou no dia 6
do corrente o seu 3 i.° anniversario natalicio, o nosso bom amigo, sr. José dos Santos Oliveira, intelligen- te tenente de infanteria.
Os nossos cordiaes parabéns.
portante armazém de moveis bem digno da visita do publico, pois que está realmente bem montado. Ao seu proprietário e nosso amigo, sr. José Ramos C ardeira não regateamos elogios pelo excepcional arrojo que patenteou, dotando a nossa terra com mais um melhoramento, cuja falt^ ha muito era sentida.
Vidè annuncio na seccão>competente.
SoirèesTem logar nas noites de
14 e 16 do corrente no vasto salão da sociedade phylarmonica «i.° de Dezembro» duas soirèes promovidas pela direcção da referida sociedade.
Armazém de moveisAbre hoje ao publico na
rua do Conde, 48, um im
<lsiei\as
Laureano Pereira Rato, pescador,natural e residente nesta villa queixou-se na administração do concelho no dia 1 do corrente de que pela uma hora da noite de 3 i de janeiro ultimo, na rua do Caes, fôra ag- gredido com sôccos e bofetadas por Rodrigo Daniel Cordeiro 0 Fadinho, tambem pescador e natural e residente nesta villa, do que resultou ficar ferido no nariz.
— Queixou-se no dia 1 na administração do concelho Rodrigo Daniel Cordeiro, pescador, natural e residente nesta villa, de que na noite de 3 i de janeiro findo, pela uma hora e na rua do Caes fôra aggredi- do com dentadas por Laureano Pereira Rato, pescador, natural e residente nesta villa, de que resultou ficai' ferido no rosto e nas mãos.
P r o p o s ta s de fsizenda
O «Diario do Governo» de 2 do corrente publica a representação da camara municipal deste concelho, contra as propostas de fazenda.
GOFRE F l l O L â S
ATão vivo e fulgurante E teu formoso olhar,Que o rútilo diamante Não pode mais brilhar.
De estranha seducção,Feito de lw{ e treva,Tem um fatal condão Que prende, altrahe, enleva.
Qual canto de sereia,A beira do abysmo,Como elle nos enleia Em doce magnetismo!
Como nos vae prender Com mágicos grilhões!Um só do seu volver Capliva os corações!
Quando essa lu\ rebrilha Em teu olhar sereno,E como a mancenilha Que tem letal veneno.
E a morte é tão suave A lu\ d ’um doce olhar!O cysne— a nivea ave— Tambem morre a cantar.
JO A Q U IM DO S A N JO S.
P E N S A M E N T O S
Ha historias, tidas por verdadeiras, que, se a verdade pudesse falar, não passariam de meros contos.— A imaginação é como uma torrente impetuosa que causa graves estragos ao homem se a ra^ão lhe não oppÕe um dique.
— *:ls pessoas instruídas, que ordinariamente se occu- pam de cousas sérias, são em geral destituídas de curiosidade. 0 que aprenderam torna-as indifferentes deante do que ignoram, por conhecerem a futilidade e o ridículo da maior parle das cousas com que certos espíritos se enlreteem. — Fénelon.
A N E Ç D O T A S
Uma senhora que f o i visitar uma amiga perguntr a um pequenito da casa:
— A que horas se janta cd?— mamã disse que só se janta depois da senhora
sahir.__l-HWISU»__
k l I l K l h l t t l
Um sujeito vae um domingo jantar a cas duma familia conhecida e dão-lhe uma gallinha dura como pedra.
— Não come mais gallinha?pergunta a dona da casa.— Não, minha senhora, eu não trabalho ao domingo,
Na rua:— Porque está o menino a chorar?— Porque 0 papá perdeu-me, e sq vae para casa
sem mim a mamã bate-lhe!
_ _ L IT T E R A T U R AU111 ftatafl em fitraga
(Continuado do n.° 133-;
Tinha somno e fomel Um a enxerga, sobre o sólo' abria-se em rasgões qUg mostrava a palha velha, já cortida onde se emmaranha vam dois retalhos de manta, uns pannos que deveriam ser brancos, eni fórma de lençoes, e uns sóccos de mulher. A se. guir, como se a esconder- se, abrigando-se do frio è do vento que entrava pela porta, estava tambem no chão uma outra cama em que se enroscava de frio, uma pobre velha, descarnada, de olhos encovados, queixada esbugada, como um esqueleto que sáe debaixo da terra.
Porém, a moça como pregada ao sólo, extorcen- do os dedos quedava-se ainda, de louca no limiar daquelle miserável quadro! O vento, ás lufadas, entrando pela casa, atacava o lar, sacudia o rapazoté e a velha, que accorda- vam de spasmo deante daquelle galvanismo de figura humana, onde todos depois se confundiram e appareceram, numa mesma dôr, num a mesma magoa, envolvidos tambem n’um só mesmo sudário de misérias!. . . Daquelle pa- thetico lance, mudo como o sepulchro, movia-se a triste com esforços na sórdida enxerga; e de cabeça desgrenhada mostrava-se de esguelha horripilante, a aprumar os braços como paus, rouquejando da sua caverna mortuaria em paroxismos de gastrorrhéa.
E falou assim:Fi lha! , . . M argarida...
trazes. . . para a consoada!Margarida, teve como
resposta correntes de lagrimas que se desencadeavam, como pérolas, dos seus grandes olhos azues, que se rasgavam na sua fronte de cera, do feitio de amêndoas, — bellos, sedu- ctores, de uma luz vivissi-
65 FO LHETIM
T ra d u cção de J. DO S A N JO S
D E P O I S Dj T p E C C A D OU v r o S egundo
i
«Estou perdido, escrevia o marquez d ’A n e lle s ; só a senhora me podia salvar, ligando-se ao meu destino, mas, uma vez que me falta, falta me tudo e só me resta m orrer. Se os meus cálculos forem exactos, já haverá doze horas que eu terei encontrado o descanço na morte, quando esta carta lhe fòr entregue. E lla lhe levará o meu suprem o adeus e a prova de que o meu ultim o pensamento foi para si.
«Leonel»
— Sou uma creatura maldita e fatal! exclam ou a Magdalena. F u i eu a causa desta desgraça!
E am arrotando a carta nas mãos, arrastou-se até á cama, onde cahiu, anniquilada por um desespero que os cuidados da s r.a Telem aco não conseguiram acalmar.
Estava assim havia algumas horas quando a s r .a Telem aco voltou.
— Que me querem mais? perguntou a Magdalena, soerguendo-se.
— Desculpa me, minha querida, res- p ndeu a s r .a Telem aco no seu tom mais b rando; é o sr. Maurieio Vivian que te quer falar.
— Não estou em casa para ninguém ! exclam ou a Magdalena; nem para elle nem para outros.
— E ’ que elle diz que é uma co sa u rg e n te .. .
— Conheço essa coisa urgent?. res
pondeu a Magdalena com amargura. Que entre visto que insiste, accrescentou de repente; ao menos não me poderá accusar de ter favorecido as suas esperanças; que entre.
A s r.a Telem aco desappareceu e o M aurieio V iv ia n entrou. E ra um rapaz symp. thico, espirituoso e meigo. 0 seu talento de p in to r creára-lhe rapidamente uma g:ande reputação; era um dos amigos do marquez d’A neles e fòra até no seu «atelier» que a Magdalena encontrara o general pela prim eira vez. Depois elle p ro p rio tivera a infelicidade de se apaixonar por aquelia creatura caprichosa quando lhe pintara o ret-ato e, embora não se atrevesse a falar-lhe n’isso, el!a não igno ra1, a aquella paixão, porque a s r.a Telem aco fòra confidente do Maurieio. A Magd lena recebeu-o de pé no m:-io do quarto,
pallida, meio vestida com os cabellos cahidos pelos hombros.
— Vem já buscar a successão do Leonel? perguntou ella asperamente, e. com o pretexto de me trazer consolações, falar-me no seu amor? P re vino o de que a occasião é mal escolhida.
— Juro-lhe que não se trata d'isso. minha senhora, balbuciou o M aurieio, gelado po r aquelle acolhim ento. Tem -
me em rouca estima, porque me ju lga bastante miserável para lhe v ir falar nos meus sentim entos pessoaes n ’um dia d'estes!
A tristeza d'estas palavras commo- veu a rapariga. Espontaneamente, estendeu a mão ao pintor.
-D e s c u lp e -m e , disse ella, estou muito inquieta. Sabe o quesuccedeu?
— Infelizm ente, sei; e foi atq para
lhe falar n ’esse trágico acontecimento que vim a sua casa.
— E ’ verdade, o senhor e r a amigo do L e on el, disse a rapariga, sentando-se e indicando uma poltrona ao Maurieio. Entáo que tem a dizer-me? Sabe alguma coisa mais do que o que vem n'este jornal?
— Nada mais, e as coisas passaram- se exactamente com o ahi se contara. Só de manhã fui sabedor do caso. No meio do seu info rtúnio, a marqueza d’Ane)les pensou em m im ; mandou- me logo chamar.
— A h ! falou-lhe? perguntou a Magdalena anciosamente.
— Sahi agora mesmo de casa d'ella, disse o M aurício, porque me mandou aqni.
(ContinuaJ.
O DOMINGOpa, como a do sol relampejando, a côar-se atravez de u m céo d’anil transparente, sem mancha, dum <fesses dias em que a gente sáe a gosar os perfumes ás flpres.
Margarida sentina as lagrimas? Sentia-as e eram bem do fundo da sua alma; não por ella — que lhe importava, pois!! — mas pelo pobre irmão pequenino, pela sua mãe, velha, de todo acabadinha, e tão doente, que nem para si podia ganhar o pão.
E ella chorava. Chorava nos seus desaseis annos — tão nova ainda!—-a desgraça que a apertava, que a cingia sem dó, lançando-a por um começo tão desolador, tão triste, forçada pela abnegação senti- mentalissima de filha e irmã, em um abysmo onde se perderia para sempre!... Talvez que um dia, se qui- zesse, a sua alma não teria jámais forças para se erguer d’essa demencia gan- grenosa, que arruina, que mata, ora em gargalhadas de doida que nada dizem, ora em lagrimas adormecidas num torpor de corrupção que nada sentem.
Posta alli, nos primeiros degraus, ella debatia-se já havia longas horas, em mil angustias e receios, ás portas da miséria, onde, logo por má sorte, a collo- cára o dia commemorati- vo do nascimento de Christo, o Natal de todos, em que tambem todos se banqueteiam de rostos animados e olhos satisfeitos, em toalha alva, por pequenina ou arremendada que ella seja.
Ensaiara-se, como vimos— como fazem as outras — mettendo-se á cara d um e doutro; mas não era tarde para transpor os últimos dos seus degraus, a arrastar-se pela lama.
Resolvida, por fim, de um intimo combinar de pensamenios, olhou para o irmãosinho com aquella bondade de creança ainda, foi a elle e levan- tou-o, pegando suavemente pela mão, com mimo.
— Anda commigo Anas- tacio!
Os sinos repicavam a toda a força! E muita gente começava a encher a Sé. Uns, que surgiam das suas casas próximas, num frémito bater de portas que se abriam e fechavam; outros, que appareciam a distancia, dando com os tamancos por as calçadas, como matracos em Semana Santa.
Todos se mechiam com o mesmo proposito dum sentimento religioso:
Ouvir a missa.
Comtudo despontavam das Carvalheiras, a passos surdos, de pés descalços, mulheres, como um bando de pardaes, entoando — não «á desgarrada» como em outros dias; nem a «Mulher Ingrata» ou o «Rebo- la-a-Bola»— mas um cântico solemne, lunebre, inspirado por algum anjo, escapava-se-lhes daquellas boccas pervertidas, como um sonho!
E’, costume, sempre assim; ouvil-as cantar pelas ruas e recantos mais desertos, como de chamariz. Por isso a maior parte dos olhares, caiam-lhes n’um indifferentismo de pasmaceira, que occasionava entorpecimento de piedade.
Atraz, de maneira, vagarosa vinha já Margarida seguindo-as, com Anasta- cio, num ensaio de avesi- nha desplumada.
Foram de romaria por o «Campo dos Toiros,» «Campo da Vinha,» e ahi se dispersaram como cabras, marrando com vultos de homens que as procuravam, passando depois ao «Campo da Feira».
Margarida foi arrumar o irmão a um kiosque, alli mesmo no largo, e tambem desappareceu!
Já era muito tarde, quando Margarida e Anas- tacio voltavam para casa, porque nem viv’alma se encontrava.
Chegou, empurrou com ancia a porta, e um pouco de vento incendiara uns restos de madeira incandescente.
Minha mãe, aqui tem!E mostrava uma moeda
em prata, de dois tostões.A pobre velha apenas
moveu os olhos, esbugalhando-os nas orbitas arro- xiadas, não articulou palavra, mas ainda poude contemplar o vil preço de que foi comprada a sua desgraçada filha.
A luz apagou-se, e com ella tambem se foi a vida daquella mãe de desventuras.
Morreu!Eram passados dias, e
já se achava Margarida recolhida no «Asylo das Regeneradas», trabalhando em um tear, e Anasta- cio no «Collegio dos Or- phãos.»
Como poderam salvar- se a tempo! Pobres crean- cas!
B R A Z M A C H A D O .
(C o nclu e ].
------------------------<C*— - §-< 3S 55= 3— - fc»-------------------------
Foi prorogado o praso até i 5 do corrente, para pagamento das contribui- cões.*
A. M.O que me dizes na tua
ultima missiva, é desolador, minha querida! O meu coração é tão certo pertencer-te como são certos os relogios Avelino Marques com o balão do Arsenal ou com o tiro na Escola Poly- technica. Nunca falham!
C irco iniitdoEstão agradando cada
vez mais os espectáculos no Circo Amacio. Hoje ha um primoroso espectáculo todo cheio de novidades.
AGRADECIMENTOArthur Alfredo Coelho
agradece penhoradissimo a todas as pessoas que se dignaram acompanhar á sua ultima morada os restos mortaes de sua estremo- sa esposa Joaquina Izabel Guerreiro Coelho, e bem assim a todas as pessoas que se interessaram durante a sua terrivel doença, indo ou mandando saber do seu estado. Não póde esquecer os ex.mos srs. drs. Cesar Fernandes Ventura e Manuel Avillez Caroço, médicos distinctissimos, pelo desvelo, assiduidade e carinho com que sempre tra- traram a extincta, não se poupando a sacrifícios e empregando todos os esforços da sciencia para a salvar.
A todos, pois, a expressão intima de um sincero agradecimento.
Aldegallega do Ribatejo, 6 de fevereiro de 1904.
A N N U N C I O S
A Camara Municipal do concelho de Aldegallega do Ribatejo, manda avisar todos os proprietários de vehiculos de qualquer especie, que foi prorogado o praso de licenças de vehiculos, até ao dia i 5 do corrente.
Findo o dito praso se procederá a varejo geral, para serem applicadas as penas da lei a todos aquelles que não tiverem as mencionadas licenças.
E para devido conhecimento se affixou o presente edital e outros idênticos nos logares mais públicos d’este concelho.
Aldegallega do Ribatejo,3 de fevereiro de 1904.
O Secretario da Camara
Antonio Tavares da Silva.
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já bem conhecida casa commercial pela seriedade de transacções e já tambem pela modicidade de preços porque são vendidos todos os artigos, vem de novo recommendar ao publico em geral que nesta casa se encontra um esplendido sortido de fazendas tanto em fanqueiro como em modas, retrozeiro, mercador, chapelaria, sapataria, rouparia, etc., etc., prompto a satisfazer os mais exigentes e
AO A L C A N C E D E T O D A S A S B O L S A S
Devido á sahida do antigo socio d’esta casa, o ill.m0 sr. João Bento Maria, motivada pelo cansaço das lides commerciaes, os actuaes proprietários resolveram am- plear mais o actual commercio da casa dotando-a com uns melhoramentos que se tornam indispensáveis a melhorar e a augmentar as várias secções que já existem. Tomam, pois, a liberdade de convidar os seus estimáveis freguezes e amigos, a que, quando qualquer compra tenham de fazer, se inteirem primeiro das qualidades, sortido e preços porque são vendidos os artigos, porque decerto acharão vantagosos.
.,4 divisa d'esta casa é sempre ganhar pouco para vender muito e vender a. todos pelos mesmos preços, pois que todos os preços são fixos.
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N U N E S DE C A R V A L H O & SILVARua Direita, 88 e go — — Rua do Conde, 2 a 6
Aklegallega do R ib a te jo
ESTEVÃO JO SE DOS REIS— * C O M * —
OFFICINA DE C A LDEI RE IRO DE COBRE11111111 i M I ! I ! 11i1111111i111i S11i1111! i I i 1 111iI
Encarrega-se de todos os trabalhos concernentes á sua arte.
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R U A D E JO SÉ M A R L i DOS SA N TO S ALDEGALLEGA
M L Ô M Ã t l à . í x A l . Ã M I— D E —
/Ê U M M AMUES 0 QUTUAW ESm
Vende e concerta toda a qualidade de relogios por preços módicos. Tambem concerta caixas de musica, objectos de ouro, prata e tudo que pertença d arte de gravador e g,a.vanisador.
G A R A N T E M - S E OS CON CERT OS
1, R n » «lo Poço .142
MERCEARIA RELOGIOiS U C C E S S O R E S I
Franco & Figueira»cx>oc=-------
Os proprietários d’este novo estabelecimento participam aos seus amigos e ao publico em geral, que teem á venda um bom e variado sortido de artigos de mercearia, especialidade em chá e café, confeitaria, papelaria, louças pó de pedra. Encarregam-se de mandar vir serviços completos de louça das principaes fabricas do paiz, para o que teem á disposição do publico um bom mostruário. Leíroleo, sabão e perfumarias.
Unicos depositários dos afamados Licores da Fabrica Seculo X X , variado sortido em vinhos do Porto das melhores marcas, conservas de peixe e de fruetas, massas, bacalhau de differentes qualidades, arroz nacional e extrangeiro, bolachas, chocolates, etc., etc.
P R A Ç A S E R P A P I J N T T O — ALDEGALLEGA
G R A N D E A R M A Z É M- * D E * -
& Comp.a
Farinha, semea, arroz nacional, alimpadura, fava, milho, cevada, aveia, sul- phato e enxofre.
Todos estes generos se vendem por preços, muito em conta tanto para o consumidor como para o revendedor. 152
R u a «lo Caes — ALDEGALLEGA
CA 15VÃO D E KOKEDas Companhias Reuni
das Gaz e Electricidade, de Lisboa, a •500 réis cada sacca de q5 kilos
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OS D R A M A S D A C O R T E
IC hronica do reinado de L u iz X V )
Romance historico porE. LADOUCETTE
Os amores trágicos de Manon L e i raut com o celebre cavallèiro de G rieux. formam o entrecho d'este rom am e, rigorosam ente h storico, a que Ladoucette im prim iu um cunho de onginaiidade devéras encantador.
A enrte de L u iz x v , com todos os seus esplendores e misérias, é escri- pta magistralmente pelo auctor d '0 Bastardo da Rainha nas paginas do seu novo liv ro , destinado sem d u vida a alcançar entre nós e \ito egual aquelle com que foi receb do em Pa ris, onde se contaram p o r milhares os exem plares vendidos.
A edição portugueza do popular e com m ovente rom ance, será feita em fasciculos semanaes de 16 paginas, .ie grande form ato, illustrados com soberbas gravuras de pagina, e, con;- tará apenas de 2 volumes.
gíí» réis ss fases1 © 0 r é i s o t o m o
2 valiosos brindes a todos os assignantes
Pedidos á Bibliotheca Popular, E m presa. Ed itora, 162, Rua da Rosa, 162
Lisboa.
D E
& Ã J R M & m mm h w ®Neste estabelecimento encontra o publico, sempre
que queira, a excellente carne de porco fresca e salgada, assim como:
CHISPE, CABEÇA E T O U C IN H O Aceeio e sm e ra d o ! — Pr e ç os limitados!
5 /-B, Largo da Praça Serpa Pinlo, 5 7-B
« ALDEGALLEGA »
JO S E D A R O C H A B A R B O S ACom officina «le C o r re e iro e S e lle fro
18, R U A DO F O R N O , 18A B, 15 IS « 1 0. 8, 12 « A
PENacionaes e exoíicos
ÍIIlANALTOliiS A B S O L U T IH E X T E CI.4RANTID.4i
Guano n.° azote phosp.5.04 o[o 7,470 o [o3,54 °|ò 4.04 0|05 .6o '[o 12,24 °[o o,585 ° |05,1-4 °[o 12,56 °|o 0 ,5o °[0
potassa preço por kilo0,47 °[o 26 réis0,49 °[o 20 réis
34 réis 34 réis
S U L P I Í A T O B E P O T A S S I U MCom 5o °[0 de potassa a 80 réis o kilo
—<«»—
Estes guanos podem ser mais ou menos potassados conforme a requisição dos lavradores.
Estão em elaboração outros guanos que depois de moídos e analysados serão annunciados
Recebem-se-as saccas em bom estado
F a b r ic a e deposttos . «la S o v a K m preza de Adubos A rtif ic iaes em A ldegallega «So R ib a te jo 110 a lto «Ia I fa r ro sa .
E S C R IP T O R IO S : em Lisboa, Largo de S. Paulo, 72, i.°; em Aldegallega, Rua Conde Paço Vieira, 24.
UliiLIOTIlECA 00 D I A R I O D E N O T I C I A SA GUERRA ANGLO-BOER
Impressões do Transvaal
Interessantíssim a narração das luetas entre inglezes e boers, «illústrada» com numerosas zinco-gravuras .de «hom ens celebres» do T r a n s v a a l e do Orange. incidentes notáveis, «cercos e batalhas mais cruentas da
G U E R R A A N G LO -B O ER Por um funccionario da Cruz Vermelha ao serviço
do Transvaal.Fasciculos semanaes de 16 paginas.............. 3 o réisTomo de 5 fasciculos............................ i 5o »
A G U E R R A A N G L O B O E R é a obra de mais palpitante actualidade.N'ella são descriptas, «por uma testemunha presencial», a s differentes
phases e acontecim entos emocionantes da terrivel guerra q u e tem espantado o mundo inteiro.
A G U E R R A A N G L O -! O E R faz passar ante os olhos do leitor todas as «grandes bat: lhas, combates» e «escaramuças» d'esta prolongada e acérrima lueta entre inglezes, tra svaalianos e oranginos, verdadeiros prodigios de heroísm o e tenacidade, em que sáo egualmente aJm iraveis a coragem e dedicação p trio tic íi de vencidos e vencedores.
Os incidentes variaJissim os d ’esta contenda e tre a poderosa Inglater ra e as duas pequ nas republicas sul-africanas, decorrem atravez de verdadeiras peripec ias, p o r tal maneira ram ticas e pittorescas, que dáo á G U ER RA A N G L O B O E R . conjunctamente com o irresistivel attractivo d’uma narrativa h storica dos nossos d a s , o encanto da leitura romantisada.
A Bibliotheca do DIARIO DE NOTICIASapresen ando ao p u blico e -ta obra em «esmerada edição,» e p o r um p ’ eço dim inuto. julga prestar um serviço aos num erosos leitores que ao mesmo tempo desejam deleitar-se e ad q u irir perfeito conhecim ento dos successos que mais interessam o mundo culto na actualidade.
Pedidos d Ewipreza do DIARLO D E N O T IC IA SR,ua do Diario de Noticias, 110 — LISBOA
1 gente em Aldegallega-—A. Mendes Pinheiro Junior.