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índice

1. Palavra do Sindiveg

2. O Colmeia Viva®

3. Bandeira 1 Relação mais produtiva entre agricultura e apicultura

4. Bandeira 2 A abelha no âmbito da agricultura, do defensivo agrícola e da biodiversidade

5. Bandeira 3 Complementaridade entre os defensivos agrícolas e a polinização realizada pelas abelhas

6. Bandeira 4 Conscientização da cadeia de distribuição sobre a importância da integração agricultura-apicultura

7. Bandeira 5 Transparência e proatividade na relação com o governo em prol do uso correto de defensivos agrícolas e da proteção das abelhas

8. Conclusão, Plano de Metas e Iniciativas

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63

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Esta publicação é fruto da iniciativa Diálogos do Colmeia Viva®, com base nas transcrições das gravações realizadas durante os eventos nos últimos quatro anos (2013-2016), além de pesquisa na literatura nacional e internacional.

Versão digital disponível para download:www.colmeiaviva.com.br

Realização: Sindiveg (coordenação - Paula Arigoni, gerente da Área de Uso Correto e Seguro)

Projeto e Organização: Facto Estratégia e Comunicação (Daniela Reis, Cynthia Dalvia, Rodrigo Massagardi, Graziela Mota)

Fotos: Sindiveg/Divulgação/ShutterStock/Freepik

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1. PALAVRA

DO SINDIVEG

Incentivar o diálogo entre agricultores, criadores de abelhas, acadêmicos, governo e especialistas tem marcado o propósito do Colmeia Viva®, desde o seu lançamento

em 2013, ao reconhecer seu papel na construção de uma relação mais produtiva entre agricultura-apicultura e na proteção das abelhas. Nossa missão é promover o uso correto de defensivos agrícolas na agricultura brasileira para proteger os cultivos e contribuir na garantia do direito básico de alimentação das pessoas, respeitando a apicultura, protegendo as abelhas e o meio ambiente.

Nessa jornada, temos promovido ambientes de discussão relativa ao tema para estimular reflexões relevantes sobre aspectos sensíveis e críticos, incluindo pontos de convergência entre todos os atores desse processo. Nos Diálogos promovidos pelo Colmeia Viva®, contamos com o apoio a e participação ativa de órgãos reguladores – a exemplo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Em 2015, lançamos nosso Manifesto em prol da integração agricultura-apicultura, que resulta este ano na assinatura de um documento público, o Compromisso 2020, com a intenção de chancelar o cumprimento do plano de metas do Colmeia Viva® até o ano de 2020.

Composto por princípios e bandeiras de prioridades, além das atribuições do Sindiveg na governança do projeto junto com os signatários, esse compromisso é firmado pelas empresas: Arysta Lifescience do Brasil, Basf, Bayer CropSciences, CCAB Agro, Dow AgroSciences Industrial, DuPont do Brasil, FMC Química do Brasil, Helm do Brasil Mercantil, Mitsui Chemicals do Brasil, Ourofino Química, Rotam do Brasil Agroquímica e Produtos Agrícolas, Sumitomo Chemical do Brasil, Syngenta Proteção de Cultivos e UPL do Brasil. Essa manifestação retrata os esforços de um grupo de trabalho multidisciplinar do Sindiveg e das associadas signatárias,

por meio de suas áreas técnicas de Stewardship, Regulatório, Relações Institucionais e de Comunicação, continuamente dedicadas ao tema com o propósito único de realizar uma série de iniciativas que ganham mais força a partir de agora.

Por meio do Colmeia Viva®, o Sindiveg reafirma seu papel incentivador de uma relação mais produtiva entre agricultura e apicultura pelo uso correto dos defensivos, pela proteção das abelhas e pelo diálogo e entendimento entre todos os envolvidos nessa interação. Esta publicação traz um resumo executivo de todos os Diálogos promovidos até o momento, além de pesquisas aprofundadas. Seu objetivo é contribuir com o compartilhamento de conhecimento, proporcionando melhor compreensão do tema pelo fortalecimento da interação entre o uso dos defensivos agrícolas e a polinização realizada pelas abelhas.

Espero que apreciem a leitura.

Silvia FagnaniDiretora Executiva do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg)

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2. O COLMEIA VIVA®

Pautado no diálogo pela colaboração entre os setores de agricultura, apicultura, defensivos agrícolas, governo e academia, o Colmeia Viva® surge para incentivar a

construção de uma relação mais produtiva entre agricultura e apicultura, com potencial de convergir na proteção das abelhas e do meio ambiente, visto que o defensivo agrícola é um produto que deve ser usado para proteger as culturas. O uso incorreto de defensivos agrícolas deve ser combatido porque configura um risco não só às abelhas, mas à segurança das pessoas e do meio ambiente.

Este movimento do setor de defensivos agrícolas foi criado para estimular a valorização da proteção racional dos cultivos, do serviço de polinização realizado pelas abelhas, da proteção das abelhas, do meio ambiente e do respeito à apicultura.

Nossa missão é promover o uso correto de defensivos agrícolas na agricultura brasileira, para proteger os cultivos e contribuir na garantia do direito básico de alimentação das pessoas, respeitando a apicultura, protegendo as abelhas e o meio ambiente. Assim, o Colmeia Viva® se fixa em integrar interesses, mediar conflitos, desconstruir estereótipos e apontar um caminho coerente com responsabilidade e respeito.

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Tratamos aqui de colaboração, o que nos remete à ideia de uma atividade realizada de forma cooperativa entre dois ou mais indivíduos; em nosso caso: setores. A ideia é explorar a sabedoria coletiva desses grupos, sua pluralidade de perspectivas, promovendo um trabalho integrado e sinérgico e a responsabilização conjunta pela produção de alimentos, proteção do meio ambiente e das abelhas.

Manter o equilíbrio deste diálogo, integrando agricultura e apicultura, é a chave para garantir a produção sustentável de alimentos e a proteção das abelhas e do meio ambiente:

Agricultura

Defensivos Agrícolas

Protege as culturas, minimiza perdas e possibilita consumo em larga escala

Favorece a origem, o desenvolvimento e a qualidade dos

cultivos

AbelhasApicultura e

Meliponicultura

Desenvolvimento Agrícola

+Manutenção da Biodiversidade

Neste sentido, o foco dos diálogos promovidos pelo Colmeia Viva® tem sido nos temas voltados à interação entre defensivos agrícolas e sua importância na agricultura e a relação com abelhas e a apicultura. O setor de defensivos agrícolas acredita na complementaridade entre os defensivos agrícolas e a polinização realizada pelas abelhas para garantir a qualidade do fruto e o beneficiamento da produtividade agrícola. É possível conciliar desenvolvimento agrícola com preservação da biodiversidade. Para o setor, é preciso promover a evolução para um novo modelo de cooperação, compatível com os bilhões de habitantes de um planeta que está superando seus limites naturais. Eis a importância do Colmeia Viva®.

A disseminação de conhecimento sobre o tema viabilizará a criação de alternativas adequadas e viáveis ao estímulo do potencial agrícola do Brasil, como “um dos principais players mundiais na produção de alimento”, como bem lembrou Augusto Luís Billi, representante do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em nossa iniciativa em 2015.

Tratamos aqui da preservação da riqueza biológica do “País mais megabiodiverso do mundo”, conforme ressaltou durante um dos diálogos Karina Cham, especialista do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), também em 2015.

Nesse contexto, a correta utilização dos defensivos agrícolas tem a função de proteger os cultivos, sem deixar de preservar as abelhas, considerando seu papel nos serviços de polinização tanto na agricultura quanto na biodiversidade. Esta conciliação é fundamental para a relação mais produtiva entre os setores.

Os defensivos são seguros e complementam todo o trabalho do agricultor. Para isso, bulas, rotulagens e regras de boa utilização dos produtos químicos devem ter atenção especial devido à relevância de suas recomendações, que são fruto de avaliações realizadas dos pontos de vista agronômico, ambiental e toxicológico, garantindo o melhor uso e a otimização de seus benefícios.

Júlio Britto, coordenador geral de defensivos agrícolas e afins do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) (gestão 2013 a 2017), acredita na expansão da rede de relacionamento entre agricultores e apicultores como o melhor caminho a ser trilhado. “Essa comunicação é importante no sentido de definir os horários de aplicação de defensivos agrícolas e locais de colocação das colmeias, como também no diálogo entre outros atores diretos e indiretos desse processo”.

Assim, as soluções delineadas pelo Colmeia Viva® passam fundamentalmente por um entendimento dos ecossistemas e da paisagem dentro do contexto agrícola, da convivência de diferentes alternativas e possibilidades de produção - tanto agrícola quanto apícola -, e pela conscientização sobre os polinizadores e sobre o uso racional e estruturado das tecnologias de produção, como os defensivos agrícolas.

Essa relação de interdependência entre a agricultura e a apicultura foi bem lembrada em 2016 pelo professor Lucas Alejandro Garibaldi, da Universidad Rio Negro (Argentina). “A

biodiversidade é muito importante no campo e tem um papel funcional sobre a produção de alimentos. Da mesma forma, a biodiversidade de abelhas e de insetos polinizadores também depende da biodiversidade de plantas”.

Na prática, isso significa que, quanto mais consciência sobre a clara relação de interdependência entre os setores da agricultura e apicultura, mais importância será conferida à polinização para muitas das atividades do agronegócio.

Ainda durante o evento, José Aragão, presidente da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA), enfatizou a necessidade de união de forças entre os setores.

“Se nós

temos um

propósito

de chegar a

uma condição

favorável de produtividade,

precisamos nos unir para buscar

os resultados compatíveis dentro

da realidade”.

José Aragão, Confederação Brasileira de Apicultura (CBA).

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O trabalho das abelhas na agricultura assegura mais produtividade e qualidade para o fruto, beneficiando diversos tipos de cultivos, conforme explica José Maria Reckziegel, presidente da Associação Gaúcha de Produtores de Maçã (gestão 2014 a 2016). “É sabido que a polinização confere, além de um tamanho maior e um formato melhor ao fruto, melhores propriedades nutricionais, devido à ação de hormônios que são produzidos na semente, o que resulta na maior fixação do cálcio”.

As abelhas são

polinizadores

profissionais.

Desta forma, o Colmeia Viva® reconhece a necessidade de se buscar soluções para manter os polinizadores nas propriedades rurais e seus arredores, por meio de um ambiente aprazível, de uma paisagem amigável, que forneça um local para nidificar (construir ninhos), além de alimento. A principal fonte de alimento das abelhas é a própria florada, chamada de pasto apícola, que pode ser tanto um cultivo agrícola (como área de produção de citrus), como a florada dos fragmentos florestais, que dá origem ao conhecido mel silvestre.

Nas épocas de baixa florada, uma das formas de suplementar a alimentação das abelhas é aumentar a disponibilidade de plantas melíferas nos fragmentos de mata e nos corredores do entorno das culturas. Esse tipo de plantio beneficia tanto as abelhas criadas para fins comerciais quanto as abelhas silvestres, trazendo ganhos ao cultivo e à conservação do ecossistema local. O cuidado está na escolha das plantas, para que não haja concorrência com o período de visitação de abelhas na época de floradas das culturas agrícolas.

Essa relação produtiva entre a agricultura e a apicultura está na essência do Colmeia Viva®, cujo propósito é proteger as abelhas, da mesma forma que os defensivos agrícolas protegem as culturas.

PRInCíPIOAcreditamos na complementaridade entre os defensivos agrícolas e a polinização realizada pelas abelhas, para garantir a qualidade do fruto e o beneficiamento da produtividade agrícola. É possível conciliar desenvolvimento agrícola com preservação da biodiversidade.

PRInCíPIODefendemos o uso racional, correto e responsável dos defensivos agrícolas de modo a garantir a eficácia dos nossos produtos na proteção das culturas agrícolas sem causar a perda de abelhas e colmeias. O uso incorreto de defensivos agrícolas deve ser combatido, porque configura um risco não só às abelhas, mas também à segurança das pessoas e do meio ambiente.

PRInCíPIOAcreditamos que a voz única do setor se dá nas ações combinadas entre o Sindiveg e as ações individuais de suas associadas.

PRInCíPIOAcreditamos que podemos servir de estímulo em toda a cadeia de distribuição, envolvendo distribuidores, revendas e cooperativas, de modo que cada um também reconheça a importância de suas ações no propósito de proteger as culturas agrícolas sem causar prejuízos às abelhas.

PRInCíPIOAcreditamos que as ações melhor sucedidas, tanto de conscientização, quanto de diálogo, devem sempre aliar o território comum entre defensivos agrícolas, agricultura, apicultura e abelhas, bem como teoria e prática, porque assim são mais críveis e úteis, trazendo ganhos reais para todas as partes envolvidas.

MANIFESTO EM 2015

Após os primeiros anos de discussão em torno do tema, o setor de defensivos agrícolas lançou um Manifesto em 2015 que norteou nossas ações, dando origem ao Compromisso 2020, divulgado em 2017.

A demanda pela produção e disseminação de conhecimento aplicado à realidade das abelhas e a sua relação com defensivos agrícolas também motivou a criação do Colmeia Viva®, cujos esforços, decisões e ações são norteados por 5 princípios básicos, que balizam nossa conduta e legitimam nossas intenções.

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O QUE É POLINIzAçãO

É o processo de transferência do pólen de uma planta para a outra.

O agente polinizador, que pode ser um inseto, uma ave ou até mesmo o vento, carrega os grãos de pólen das anteras de uma flor para o estigma de outra flor. É só assim que o gameta masculino consegue chegar até o gameta feminino, realizando a fecundação. Sendo assim, a polinização é também denominada processo reprodutivo.

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Tais princípios compõem o Manifesto, uma declaração pública de intenções que norteia todo o conjunto de iniciativas da entidade dentro do Colmeia Viva®, com vistas a liderar uma atitude proativa por parte de agricultores, apicultores, indústria de defensivos agrícolas, governo e academia. Sua proposta é registrar e disseminar a importância do bom relacionamento entre os setores sob a ótica dos fabricantes de defensivos agrícolas.

Entre os diversos tipos de gênero textual, o Manifesto é essencialmente argumentativo, com o papel de convencer os interlocutores sobre um posicionamento firmado, neste caso, sobre a importância de um relacionamento genuíno de cooperação entre os setores agrícola e apícola, com vistas à proteção das abelhas.

Fundamentado num conjunto de argumentos norteadores das prioridades para a questão, o Manifesto se estabeleceu como um compromisso genuíno do Sindiveg e suas associadas signatárias com a proteção das abelhas e o equilíbrio ecológico, do qual depende a capacidade de perpetuação dos cultivos, gerando novos ciclos produtivos.

No que tange às regras e tecnologias de aplicação e à gestão eficiente de riscos, como formas de promover a evolução de todo o processo, esta declaração pública resulta em soluções para os desafios atualmente existentes entre a polinização e o controle de pragas. Por isso, é preciso investir cada vez mais no aumento do nível de formação educacional de pessoas envolvidas nas práticas agrícolas e apícolas, promovendo a profissionalização dos setores para o uso dos defensivos a serviço da produtividade e do respeito pelo meio ambiente.

BANDEIRA

3BANDEIRA

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4BANDEIRA

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RELAçãO MAIS PRODUTIVA ENTRE AGRICULTURA E APICULTURA

Objetivo: Consolidar a importância da agricultura para a apicultura e vice-versa, por meio da construção de uma relação ganha-ganha entre agricultor e apicultor, valorizando a polinização realizada por abelhas e os serviços comerciais de polinização.

TRANSPARêNCIA E PROATIVIDADE NA RELAçãO COM O GOVERNO EM PROL DO USO CORRETO DE DEFENSIVOS

AGRíCOLAS E DA PROTEçãO DAS ABELHAS

Objetivo: Colaborar na criação de mecanismos de regulamentação para a proteção e segurança das pessoas, do meio ambiente e das abelhas.

CONSCIENTIzAçãO DA CADEIA DEDISTRIBUIçãO SOBRE A IMPORTâNCIA DA INTEGRAçãO

AGRICULTURA-APICULTURA

Objetivo: Engajar a cadeia de distribuição (envolvendo equipes de marketing e vendas, distribuidores, revenda e cooperativas) para garantir a orientação para a aplicação correta, minimizando danos à polinização e às abelhas.

A ABELHA NO âMBITO DA AGRICULTURA, DO DEFENSIVO AGRíCOLA E DA BIODIVERSIDADE

Objetivo: Desenvolver e disseminar conhecimento profundo sobre a interação entre as abelhas, a agricultura e o uso de defensivos agrícolas.

Em conjunto, essas bandeiras resumem

o propósito do Colmeia Viva®, que sabe exatamente

aonde quer chegar e dispõe da energia necessária para enfrentar

todo e qualquer obstáculo desse caminho, contando com suas associadas

signatárias e com todos os setores envolvidos nesta desafiadora jornada rumo à colaboração pela proteção das abelhas.

COMPLEMENTARIDADE ENTRE OS DEFENSIVOS AGRíCOLAS E A POLINIzAçãO

REALIzADA PELAS ABELHAS

Objetivo: Criar mecanismos customizados de proteção das abelhas, de acordo com a taxa de dependência de polinização das culturas agrícolas.

Acompanhe a seguir o detalhamento das cinco

bandeiras, com seus respectivos objetivos.

BANDEIRA

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Para alcançar o propósito de construir uma relação mais produtiva entre agricultura e apicultura e de proteger as abelhas, incentivando o diálogo sobre o tema, o Manifesto estabelece cinco bandeiras de prioridades para as ações do Colmeia Viva®

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Relação mais produtiva entre Agricultura e Apicultura

3. BANDEIRA

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Objetivo: Consolidar a importância da agricultura para a apicultura e vice-versa, por meio da construção de uma relação ganha-ganha entre agricultor e apicultor, valorizando a polinização realizada por abelhas e os serviços comerciais de polinização.

Conceitualmente, a relação produtiva define a forma como os profissionais trocam sua capacidade de produzir riqueza, fruto do desenvolvimento de seus

recursos e meios de trabalho. Na prática, quando se trata de dois segmentos econômicos como a agricultura e a apicultura, essa interação entre os setores é fundamental para uma relação ganha-ganha. Em uma palavra, protagonismo. Sim, o trabalhador – do campo e do apiário – é o sujeito dessa relação, que mira no compromisso com a vida das abelhas.

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O SETOR AGRíCOLA NO BRASIL

Representado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o setor agrícola conta com 1,5 milhão de produtores filiados no sistema nas 27 federações e 2.200 sindicatos. Trata-se de um setor presente no mundo há aproximadamente 10 mil anos, possibilitando a organização social e a sobrevivência das pessoas. Mas, como toda atividade humana, gera impactos no ecossistema. Sua importância, porém, nos convida a enxergá-la sob um novo ponto de vista, mais amigável e como parte integrante do sistema atual, ou seja, mais um componente de nossa biodiversidade.

Estudos apontam para o fato de que, em 2050, chegaremos a 9 bilhões de pessoas no planeta, o que cria um desafio demográfico ao desenvolvimento sustentável. Na nossa sociedade atual, que vem imprimindo uma expectativa de vida cada vez mais longa para as pessoas, a expansão demográfica e a limitação dos recursos já definem a desigualdade em muitos pontos do planeta.

“Estima-se que até 2030 o mundo precise de 40% mais alimento, enquanto a gente olha no globo terrestre não existe outro país com essa condição de solo, de clima, de pessoas, de tecnologia para suprir essa necessidade de alimento”,

destaca Augusto Luís Billi, representante do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Os dados trazidos pelo Mapa mostram a vocação do País para a agricultura e a evolução da produção em função do uso de novas tecnologias e otimização das áreas. Nos últimos 55 anos, houve o aumento de 12 vezes na produção. O crescimento na produtividade foi acima de 360%, utilizando a produção de grãos como referência.

Segundo Billi, “temos a maior extensão de florestas utilizadas de modo sustentável – oito milhões de hectares”. Essa extensão também é promovida pela agricultura, por meio das áreas de preservação mantidas nas propriedades.

Cristiano Menezes, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental (Belém-PA), lembra que tais áreas também atraem os polinizadores e que essa oferta de um bom habitat pode ser muito simples. “Uma abelha silvestre precisa de um lugar para morar, algo para comer e sobreviver. Precisamos conciliar esses três pontos. Posso plantar árvores que proporcionam locais para essas abelhas viverem, que podem atraí-las. São estratégias muitas vezes simples e baratas, que vão resolver o problema”.

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“A produtividade

evitou que

avançássemos

para a produção

atual em mais

de 500 milhões de hectares de área.

Isso significa que, hoje, o Brasil

usa apenas 30% do seu território

para toda a produção e pode ainda

aumentar essa produção com a

mesma área”.

Rodrigo Brito, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

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INTERAçãO ENTRE OS SETORES

O fato é que a agricultura também se beneficia da biodiversidade, a exemplo do serviço realizado pelas abelhas. “As áreas cultivadas próximas às áreas naturais têm um aumento significativo na sua produção. Devemos melhorar a nossa paisagem agrícola para beneficiar os polinizadores e aumentar a produtividade sem ter que aumentar as áreas cultivadas. Isso é possível”, afirma a professora Claudia Inês da Silva, da Universidade de São Paulo (USP).

Nem sempre, entretanto, tais serviços da biodiversidade importantes à agricultura são comunicados adequadamente. “Se o cultivo é beneficiado pela abelha, é preciso fazer o agricultor entender [essas vantagens]. Alguns cultivos são óbvios e outros nem tanto”, completa David De Jong, professor da USP - Ribeirão Preto.

O professor conta que nos Estados Unidos, seu país de origem, o cultivo que mais usa abelhas é o da amêndoa, na região da Califórnia. A florada é em fevereiro e são usadas em torno de dois milhões de colmeias da Apis mellifera1. O curioso é que, no país inteiro, há um total de 2,5 milhões de colmeias, o que mostra a otimização que fazem do serviço. Ao sair dos Estados Unidos, em 1980, 80% da renda do apicultor provinha do mel e hoje 70% dessa renda vem da polinização.

No Brasil, não há cultivo de amêndoas e o serviço comercial de polinização por meio de aluguel de colmeias entre agricultores e apicultores ocorre prioritariamente em culturas agrícolas de frutas, que dependem da visitação da abelha para a polinização do fruto, como nos casos da maçã, na Região Sul do Brasil, e do melão, na Região Nordeste do País.

O SETOR APíCOLA NO BRASIL

O segmento apícola tem o seu desenvolvimento focado principalmente no pequeno produtor. É representado por cerca de 350 mil apicultores, envolvendo um milhão de pessoas, sendo 16 mil empregos na indústria e um mercado avaliado em R$ 796 milhões, com expressivo crescimento nos últimos anos (dados da apresentação da CBA realizada no Diálogos 2015).

“Em 1995 nós tínhamos uma produção de 18 mil toneladas de mel, chegando, nos últimos dados de 2013, a 35 mil, mas já estamos na faixa de 45 mil toneladas”, afirma José Aragão, presidente da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA). Porém, ainda há o desafio de aumentar

a produtividade das colmeias, especialmente a partir da adoção de novas tecnologias e formação do apicultor. “Nós temos uma produtividade baixíssima, em torno de 16 quilos de colmeia por ano, podemos atingir perfeitamente no mínimo 40 quilos”, reforçou Aragão.

“Na apicultura, tudo está por fazer. O maior patrimônio sendo destruído, baixos índices de formalização, faixa etária avançada, baixos índices nos processos sucessórios, parque tecnológico reduzido, tecnologia rudimentar”, definiu Lídia Barreto, da Comissão Técnico Científica da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA) e professora da Universidade de Taubaté.

Os criadores de abelhas são os profissionais mais indicados para oferecer essa atividade ao produtor agrícola. No entanto, o Brasil ainda carece de criadores de abelhas especializados em serviço comercial de polinização. O foco ainda é a atividade apícola e seus produtos como mel, cera e própolis.

Estimam-se cerca de 350 mil apicultores no Brasil, mas nem todos dominam a prática polinizadora. “Quantos são capacitados para fazer polinização agrícola? Para criar abelhas muitos são, mas criar abelha é uma coisa, botá-la na polinização é outra totalmente diferente”, indaga Breno Freitas, da Universidade Federal do Ceará. Com isso, ele enfatiza o incentivo da presença da abelha na cultura agrícola, por meio das informações sobre a relevância do seu papel no setor.

“Se o cultivo

é beneficiado

pela abelha, é

preciso fazer

o agricultor

entender [essas vantagens]. Alguns

cultivos são óbvios e outros nem tanto”.

David De Jong, USP - Ribeirão Preto.

1 Leia mais sobre a Apis mell i fera no capítulo 3. Bandeira 2.

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RECURSOS DO SEBRAE

O Sebrae, embora tenha uma estrutura muito boa de logística, recurso humano e outros fatores a conceituá-lo de forma positiva, precisa de uma contrapartida dos agricultores e apicultores, contou Fabio Braz Brass, representante da entidade. “Precisamos que vocês nos solicitem e acessem os nossos recursos. Toda a vez que a indústria nos procurou, nós cuidamos do problema e conseguimos avançar significativamente. Para quem quiser, as nossas portas estão abertas. Nós temos uma atuação muito forte no agronegócio e queremos que movimentos como esse se expandam, cresçam e se consolidem em ações e soluções de problemas, de fato”.

“A gente

precisa,

primeiro, ter a

tranquilidade

de saber que

as coisas demoram, não sendo

intolerantes e nem ansiosos. Vemos

que isso obrigatoriamente nós

vamos ter de mudar.”

Ane Veronez, Coordenadoria da Defesa

de Agropecuária do Estado de São Paulo.

“A polinização não é fórmula de bolo. Não adianta pensar que se fizer determinada coisa de um jeito, vai aumentar tantos por cento a produção em qualquer lugar e de qualquer jeito. Vocês viram [nos diálogos anteriores], tudo vai depender dos níveis de polinização natural, da cultura, da variedade de planta, flor, cor, tamanho da flor, conteúdo de néctar secretado, concentração de açúcar naquele néctar. Ou seja, uma coisa é diferente da outra. A abelha pode visitar uma variedade e não visitar outra”. Freitas conclui que todos esses fatores devem ser considerados, portanto, capacitar o pessoal é prioridade para disseminar as mensagens a contento.

Segundo o professor David De Jong – que também é consultor das Organizações Internacionais, incluindo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) – o produtor também não foi convencido ainda da importância da polinização. “Temos de juntar esses dados, investigar e fazer essa informação chegar ao produtor de modo que tenhamos um convívio mais saudável [com as abelhas]”. Para as áreas agrícolas, onde o polinizador aparentemente não é importante, os esforços devem ser focados em conscientizar os envolvidos sobre os impactos ambientais, a biodiversidade e a necessidade do inseto para as outras culturas.

O pesquisador Marcos Botton, da Embrapa – Uva e Vinho, reforça a importância do diálogo e acredita no êxito do relacionamento entre apiários e paisagem agrícola, particularmente no cultivo de frutos. Ele assume, no entanto, que a conscientização é uma necessidade premente, inclusive nas culturas em que aparentemente o polinizador não tenha papel-chave. “Sabemos que a videira é autopolinizável, mas se tiver um serviço de polinizador lá,

será que não pode ter algum ganho de qualidade? Dados recentes da soja - cultura na qual todo mundo falava que a polinização não era importante -, mostram o aumento de produção, além de mais qualidade de frutos”.

Na concepção de Botton, os polinizadores têm um valor e um serviço muito maior além da produção de mel e o agronegócio não está conseguindo mensurar esse ganho. De acordo com ele, um dos caminhos para alcançar um patamar mais alto em polinização é dar mais condições ao pequeno trabalhador do campo, criando leis para permitir a

formalização das atividades e gestão de forma propícia, além da revisão da legislação atual.

Segundo a diretora-substituta da Coordenadoria da Defesa de Agropecuária do Estado de São Paulo, Ane Veronez, o agricultor tem a desconfiança de abrir a sua propriedade e o apicultor de dizer quantas caixas de abelhas ele tem. “Então, a gente precisa, primeiro, ter a tranquilidade de saber que as coisas demoram, não sendo intolerantes e nem ansiosos. Vemos que isso obrigatoriamente nós vamos ter de mudar. O trabalho é difícil e obrigatório”.

Fomentar o empreendedorismo na área de polinização é também uma boa ideia para o cientista Mauricio Rodríguez, da CropLife Latin America – entidade internacional que reúne fabricantes de defensivos agrícolas, com foco na América Latina. Segundo ele, a maioria dos países da América Latina não conta com apoios dos governos para a apicultura e nem para o ofício de polinização na agricultura como um empreendimento econômico empresarial sério e relevante. Porém, ele aposta ser esse um dos caminhos já iniciados na região. “Pouco a pouco, apicultores estão se organizando mais. Eles estão comunicando muito melhor o valor de seus serviços de polinização para os agricultores. Creio existir um esforço nessa direção, no Brasil”.

Além do fomento da polinização na agricultura como serviço e empreendimento, o cientista da CropLife enfatizou a necessidade de adequar as práticas do campo para potencializar o uso correto dos defensivos agrícolas. Ele lembrou o quanto a polinização na agricultura contribui positivamente para o agronegócio, variando entre países e culturas agrícolas.

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A SAúDE DAS ABELHAS

A perda das abelhas tem sido, em todo o mundo, motivo de preocupação para entidades, governos, universidades e empresas que realizam estudos para ampliar o conhecimento sobre os diversos fatores que interferem na saúde dos principais polinizadores do meio ambiente.

Uma série de fatores contribui para o problema, a exemplo das doenças originadas por parasitas como a Varroa e o fungo Nosema; a suscetibilidade das espécies; o melhoramento genético; as falhas na nutrição; os problemas sanitários da prática da apicultura; o desmatamento; as espécies invasoras; as condições climáticas; além do uso incorreto de defensivos nas práticas agrícolas.

O uso incorreto de defensivos agrícolas deve ser combatido porque configura um risco não somente às abelhas, como também à segurança das pessoas e do meio ambiente. Os erros mais comuns na aplicação de defensivos agrícolas relacionados à perda de abelhas estão, muitas vezes, associados às questões estruturais da agricultura e da apicultura como: regulagem de equipamentos; qualificação de mão de obra e informalidade do pasto apícola. A formalização da atividade apícola evita a implantação de colmeias não identificadas nas plantações.

Cumprindo um papel importante dentro do conjunto de insumos necessários ao sistema de produção, os defensivos devem ser utilizados de forma criteriosa e adequada. Trabalhar esses produtos implica em obediência a um conjunto de leis, normas e técnicas que visam garantir a segurança do trabalhador, a saúde do consumidor e o

“O Colmeia

Viva® tem

buscado

diminuir a

distância

entre os apicultores e os que usam os

agroquímicos, que são absolutamente

necessários para nossas culturas.

No nosso entender, essa é mais uma

demonstração de que essa convivência

é possível e indispensável”.

Arnaldo Jardim, Secretário de

Agricultura do Estado de São Paulo.

Para uma relação mais produtiva entre agricultura e apicultura, o primeiro passo é entender os fatores que contribuem para a perda de colmeias. Por isso, o Colmeia Viva® investiu numa iniciativa de pesquisa com a participação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Trata-se do Mapeamento de Abelhas Participativo (MAP) para o levantamento de dados sobre a mortalidade de abelhas, com um mapeamento inédito dos fatores que contribuem para a perda de colmeias e abelhas no Estado de São Paulo. Por meio do número 0800 771 8000, agricultores, apicultores e suas associações têm um canal de comunicação exclusivo para sinalizar os casos de perda de colmeias em sua região.

Os agricultores participam ao encontrar colmeias não identificadas em suas propriedades, em caso de dúvida na ocorrência de um incidente por aplicação de defensivo agrícola ou se precisarem de orientações sobre boas práticas na relação com os agricultores.

Os apicultores participam ao verificar perdas de colmeias e abelhas em seus apiários, se necessitarem suporte no entendimento sobre as causas de perda de colmeias, sobre o que fazer em caso de possível incidente com as abelhas, além da busca de informações sobre as boas práticas entre as atividades agrícola e apícola.

A iniciativa de pesquisa conta com as informações obtidas no canal 0800, a visita ao campo com ou sem coleta de abelhas e ainda a análise de laboratório, que traz um olhar bem mais focado na interação entre defensivos agrícolas e a relação agricultura-apicultura. Essas análises passam pela avaliação da equipe técnica de pesquisa formada tanto por professores

da área de toxicologia de abelhas da Unesp e UFSCar, quanto por profissionais técnicos das associadas do Sindiveg, signatárias do Colmeia Viva®.

A coleta das abelhas para análise se dá no momento em que as abelhas estejam morrendo ou ainda que tenham morrido dentro das últimas 24 horas, num contexto em que mais de 20% das colmeias tenham perdido abelhas, uma vez que esse percentual é considerado um processo natural e não compromete a sobrevivência da colônia. Desta forma, a coleta fornece uma avaliação mais direta sobre a aplicação de defensivos agrícolas nesse contexto, que pode levar até 60 dias.

Na prática, entretanto, há algumas questões críticas para o cumprimento dessas premissas para a realização da iniciativa de pesquisa, conforme aponta o professor Osmar Malaspina, da Unesp, campus Rio Claro, à frente do MAP desde o início do projeto, juntamente com a professora Roberta Nocelli, da UFSCar. “O apicultor não vai todo dia ao seu apiário, que às vezes está a 60, 80, 100 km de distância. Quando ele chega lá, às vezes, as abelhas já morreram e aí já passou o tempo. Às vezes choveu, lavou o material”. Isso traz impacto ao estudo que, idealmente, demanda a coleta em situações de abelhas morrendo ou que tenham morrido há 24 horas.

Independente, o laboratório escolhido para as análises após a coleta é especializado em identificar resíduos de diversos tipos de defensivos agrícolas em uma mesma avaliação. Por isso, é reconhecido pelo Inmetro em razão dos Princípios das Boas Práticas de Laboratório – BPL da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, que determina os requisitos gerais para a competência de laboratórios de ensaio e calibração em todo o mundo”.

MAPEAMENTO DE ABELHAS PARTICIPATIVO

equilíbrio do meio ambiente. Daí a importância do movimento do setor de defensivos agrícolas em prol das abelhas para promover o relacionamento entre os dois principais atores desse processo: o agricultor e o apicultor.

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BANCO DE DADOSEssas informações passam a fazer parte de um banco de dados, responsável por agrupar todos os fatores que podem contribuir para a perda das abelhas.

CONHEçA OS CUIDADOS NA VISITA EM CAMPO E NA COLETA DE ABELHAS

CONFIABILIDADE Equipamentos adequados para a coleta e congelamento rápido das amostras garantem a preservação do material, reduzem o risco de contaminação e garantem a confiabilidade dos resultados.

UNIFORMIDADEA amostragem feita pela equipe de campo garante a uniformidade das amostras para todos os atendimentos.

INGREDIENTES ATIVOSO laboratório utiliza uma lista de ingredientes ativos, distribuídos em grupos químicos para análise. São defensivos agrícolas disponíveis no método e mais estudados no mundo na relação entre a agricultura e as abelhas.

ANÁLISEFeita por uma equipe técnica composta por professores de toxicologia de abelhas da Unesp e UFSCar, além de profissionais técnicos das indústrias signatárias, munidos das informações obtidas no canal de atendimento 0800, na visita de campo e na análise laboratorial.

VEJA COMO FUNCIONA O MAPEAMENTO DE ABELHAS PARTICIPATIVO

O PROJETO É

REALIzADO NO

ESTADO DE SãO PAULO.

Conheça o relatório de 3 anos da iniciativa de pesquisa no site www.colmeiaviva.com.br

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Um plano de prevenção de mortalidade de abelhas e de mitigação de incidentes, baseado na disseminação de boas práticas de uso de defensivos e na formalização do pasto apícola entre agricultores e apicultores. Tem origem no entendimento dos fatores que contribuem para a mortalidade de abelhas, levantados na iniciativa de pesquisa com a participação da Unesp e UFSCar.

COLMEIA VIVA® App

Planejado para estreitar a relação entre agricultores e criadores de abelhas por meio da tecnologia, o Colmeia Viva® App é uma ferramenta prática, que abrange todo o Brasil, como uma das ações do Plano Nacional. Intuitivo, gratuito, voluntário e inclusivo, o aplicativo proporcionará a troca de informações entre os usuários, convidando ao diálogo por meio de chat em plataforma digital propícia para esse encontro. Seu principal desafio será a adesão no campo por agricultores e criadores de abelhas. As funcionalidades do App são licenciadas pela CropLife Austrália, entidade internacional que reúne fabricantes de defensivos agrícolas na Austrália.

Em sua funcionalidade básica, a ferramenta leva em consideração que os produtores rurais deverão notificar a aplicação de defensivos agrícolas nas suas propriedades aos apicultores localizados em um raio de 6 km das propriedades onde os produtos serão aplicados, com antecedência mínima de 48 horas para defensivos à base de Imidacloprido, Tiametoxan, Clotianidina e Fipronil, conforme Instrução Normativa (IN 01 de 2012). O aplicativo não é um instrumento de cumprimento da IN, mas sim um ambiente facilitador da comunicação e incentivador do contato. O recurso está sendo criado para oferecer autonomia aos

usuários, estreitando suas relações, criando aproximação e confiança. Agricultores mapeiam a área em que haverá pulverização de defensivos agrícolas e criadores de abelhas informam a área dos apiários. O encontro se dá quando agricultores e criadores de abelhas estiverem - prévia e voluntariamente - cadastrados na ferramenta e em área de sobreposição, por meio de uma notificação e abertura de um chat. Assim, o recurso será particularmente útil para a retirada ou proteção das colmeias e os cuidados necessários nas áreas e períodos de aplicação dos produtos. Está prevista a inclusão dos aplicadores de defensivos nesse diálogo pelo aplicativo.

A atualização contínua e as múltiplas funcionalidades da ferramenta facilitarão a comunicação entre agricultores e criadores de abelhas. O App será regido por uma política de uso e contará com mecanismos como criptografia para a troca confidencial de mensagens. O Colmeia Viva® é apenas o idealizador e divulgador da iniciativa, cujo sucesso dependerá da adesão e estreitamento da relação mais produtiva agricultura-apicultura.

Para uma relação mais produtiva agricultura-apicultura, a atuação do Colmeia Viva® no âmbito nacional está mais direcionada para a contribuição do setor de defensivos agrícolas a partir do conhecimento gerado nos últimos quatro anos, a partir da aproximação e interação entre governo, acadêmicos, especialistas em abelhas, especialistas em agricultura tropical, especialistas em aplicação de defensivos agrícolas, além do setor produtivo da agricultura e da apicultura.

Neste sentido, a iniciativa de pesquisa traz um direcionamento para o foco do trabalho e também para as ações de âmbito nacional, numa abordagem mais proativa para a solução do problema, por meio de diálogos.

Implantar um Plano Nacional, via plataforma digital, que possibilite o diálogo, firmando parceria com pelo menos uma entidade representativa da agricultura, apicultura e de aplicação de defensivos, nas seguintes áreas-foco:

Até o final de 2018: Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul; Até o final de 2019: Estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Bahia e Goiás.

META ATÉ

2020

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Cultuadas ao longo da história por diversas civilizações como símbolo de riqueza, trabalho ou perseverança pela forma como defendem seu território, as abelhas surgiram muito

antes do homem, há mais de 100 milhões de anos1. Pertencem à ordem Hymenoptera e à superfamília dos Apoidea (grupo Apiformes), dividindo-se em cerca de 20 mil espécies, sendo cerca de 3 mil no Brasil, entre nativas e exóticas.

A maior parte das espécies tem hábitos solitários, não vive em colônias e não produz mel. Com diferentes morfologias e tamanhos, têm em comum a visita às flores, para ali obterem seu alimento: o néctar como fonte açucarada e o pólen como fonte proteica2.

Sem as abelhas, as perdas iriam além do mel aos produtos apícolas, incluindo seu papel na polinização na biodiversidade e na agricultura. Comparadas com outros polinizadores, as abelhas estão no topo do ranking em produtividade (73%), seguidas pelas moscas (19%), morcegos (6,5%), vespas (5%), besouros (5%), pássaros (4%), além de borboletas e mariposas

A abelha no âmbito da agricultura, do defensivo agrícola e da biodiversidade

4. BANDEIRA

2

Objetivo: Desenvolver e disseminar conhecimento profundo sobre a interação entre as abelhas, a agricultura e o uso de defensivos agrícolas.

1 http://abelha.org.br/especies/ - Acesso em 14/08/2017.

2 Agricultura e Pol inizadores, publ icação da Associação Brasileira de

Estudos das Abelhas/ 2015 – pg 07.

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(4%)3. Em ambientes naturais da biodiversidade, a polinização realizada pelas abelhas garante a conservação da diversidade de plantas e animais silvestres, pois contribui com a reprodução das espécies vegetais que, por sua vez, sustentam a fauna local.

Na agricultura, embora não seja a única condição necessária, a polinização representa uma etapa importante no processo de formação de frutos de várias plantas. Além do incremento na quantidade produzida, resulta na melhoria da qualidade dos frutos e promove um amadurecimento mais uniforme, maior vigor das plantas que germinam, aumento no número de sementes produzidas e no teor de óleos e outras substâncias extraídas de algumas espécies vegetais.

Por isso, as abelhas têm sido alvo de atenção e estudos por todo o mundo. O mais famoso polinizador é assim conhecido por voar mais rápido, em ziguezague e, após um tempo com a colônia instalada em certo local, conseguir saber qual o melhor horário para coletar pólen. As abelhas observam a flora próxima à colmeia e associam com a intensidade da luz do dia.

3 Manual de Boas Práticas Fundecitrus – Fundo de Defesa da Citricultura – Unesp.

4 Leia mais sobre as abelhas na v isão do Colmeia Viva ® na página 39.

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BIODIVERSIDADE E AS ABELHAS

Como ponto de partida nesta jornada, podemos considerar a adequada compreensão sobre a biodiversidade, segundo a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB)5: “variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas”.

O funcionamento dos ecossistemas, portanto, é sustentado pela diversidade biológica, contribuindo para a atividade

agrícola, um tema fundamental não somente no âmbito nacional, mas também globalmente. As abelhas fazem parte da biodiversidade, assim como outras espécies da flora e da fauna, e possuem uma relação simbiótica com as flores, onde encontram o néctar e o pólen. Este adere ao seu corpo e é transportado para fecundar uma nova flor.

É nessa visita de flor em flor para a coleta de alimento que as abelhas executam a polinização (fertilização), um serviço importante tanto para os ecossistemas, quanto para a agricultura, um dos principais mecanismos de manutenção e promoção da biodiversidade. As abelhas, portanto, são polinizadoras profissionais, assim consideradas pela visita diária a um grande número de flores, para satisfazerem suas necessidades alimentares individuais, de suas crias ou de suas colônias.5 Tratado da Organização das Nações Unidas - ECO-92.

As maiores polinizadoras da natureza podem ser organizadas de diversas formas4. Para o Colmeia Viva®, devem ser compreendidas a partir da sua função na agricultura e de sua interação com o uso de defensivos agrícolas.

Esta visão foi inspirada nos conhecimentos acumulados ao longo da estruturação, contando com especialistas, acadêmicos, pesquisadores, representantes governamentais e dos setores agrícola e apícola. Está em permanente processo de melhoria e aperfeiçoamento. Trata-se de uma busca do diálogo produtivo entre os setores.

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Compreender as abelhas no âmbito de sua função polinizadora na agricultura e de sua convivência com os defensivos tem permitido o desenvolvimento de ações que propiciem a proteção racional dos cultivos, a valorização do serviço de polinização, a proteção das abelhas e do meio ambiente e o respeito à apicultura.

As abelhas silvestres são nativas da mata brasileira, não introduzidas no habitat pelo homem e responsáveis pela polinização de áreas naturais e também de agroecossistemas. Abelhas com função comercial são exóticas, introduzidas pelo homem no território brasileiro. Há também as silvestres criadas, que são abelhas nativas da mata local, porém domesticadas para uma função comercial.

Na natureza, as abelhas vivem em colmeias, ou seja, enxames que podem estar localizados dentro de ocos de árvores, pendurados em galhos, em buracos no chão ou em pedras, cupinzeiros ou ainda instalados nos telhados de residências. Na criação comercial, os enxames são capturados e alojados em caixas apropriadas.

As abelhas comerciais destinam-se a uma série de funções, com ênfase à produção de mel, cera, geleia real, própolis, entre outros produtos, bem como ao serviço comercial de polinização na agricultura. Esta função agrícola se dá por meio do aluguel de colmeias e de sítios de nidificação, que são as áreas para criação de ninhos.

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A RAINHA DO MEL

As abelhas da espécie Apis mellifera foram introduzidas no Brasil em 1840, oriundas da Espanha e Portugal. Naquele período, a maior parte dos apicultores criava as abelhas silvestres, originárias da mata brasileira, de forma bastante rudimentar, somente para atender suas próprias necessidades de consumo.

Em meados de 1950, a apicultura sofreu um grande impacto em função do surgimento de doenças e pragas que dizimaram 80% das colmeias do País e diminuíram a produção apícola drasticamente. Assim, em 1956, o professor Warwick Estevan Kerr, com apoio do Ministério da Agricultura, selecionou e trouxe para o Brasil abelhas rainhas africanas muito produtivas e resistentes a doenças. A intenção era realizar pesquisas e recomendar uma espécie mais apropriada às condições locais.

A introdução dessas abelhas extremamente agressivas no território nacional levou muitos produtores a abandonarem a atividade. Aqueles que permaneceram tiveram que se adaptar às novas técnicas de manejo, profissionalizando-se cada vez mais para controlar a agressividade das abelhas.

Na tentativa de amenizar a situação, a solução foi cruzar rainhas italianas com zangões africanos. O resultado foi uma prole exótica, ou seja, uma abelha introduzida pelo homem no território brasileiro, muito mais produtiva, mais resistente e menos agressiva.

As abelhas exóticas que conhecemos hoje também são conhecidas como abelhas africanizadas e sua espécie é

a Apis mellifera. Essas abelhas são o foco da apicultura brasileira na atualidade.

Entretanto, apenas duas culturas economicamente expressivas recorrem ao emprego em larga escala de abelhas melíferas para a polinização: a maçã, na Região Sul, e o melão, na Região Nordeste. Afinal, são culturas dependentes da polinização para a existência do fruto. Há também a presença de abelhas nas culturas de citrus e café, que aumentam a produtividade da cultura agrícola.

De maneira geral, o conhecimento ainda é escasso sobre outras espécies, como explica a professora Claudia Inês da Silva, da Universidade de São Paulo, que vem estudando há dez anos as interações entre abelhas e plantas e o efeito delas na qualidade do entorno de áreas de cultivo.

UM POUCO MAIS SOBRE AS ABELHAS

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O professor Breno Magalhães Freitas, da Universidade Federal do Ceará (UFC), considera uma deficiência a ausência de conteúdos teóricos e práticos sobre polinização agrícola na universidade, já que o tema não faz parte de maneira expressiva do curso superior de

agronomia. “Estudam-se as culturas, a escolha da muda, da semente, o preparo, os tratos culturais etc. e parece que se for feito tudo isso a polinização vem como prêmio, o que não é verdade”, lembra ele.

Freitas destaca o fato de agrônomos brasileiros não conhecerem a importância da polinização agrícola por falta de acesso aos seus detalhes. Como exemplo, ele conta que uma revista do setor de agronegócio publicou uma reportagem sobre o maracujá e, ao final da entrevista, um pesquisador dessa cultura no Brasil disse ser a vespa o polinizador desse tipo de cultivo. “Quem poliniza maracujá é uma abelha chamada Mamangava. Imagina quando um pesquisador da área chama o polinizador - que é uma abelha – de vespa. Então, a gente vê o nível de desinformação que existe”.

O especialista salientou a importância de os polinizadores serem tratados na área educacional. “Essa reunião [Diálogos 2016] me deixa muito satisfeito, porque esse é um dos poucos eventos que reúne praticamente toda a cadeia produtiva agrícola. Há os representantes dos agricultores, dos apicultores, da indústria de defensivos, dos pesquisadores etc. debatendo esses assuntos, mas nada adianta se não abordarmos a educação. Nós não precisamos mudar o currículo, só precisamos convencer os professores de agronomia a incluir a polinização, ao falarem dos sistemas de produções da soja, acerola, manga, caju, algodão, por exemplo.”

Abre-se, então, um campo vasto para pesquisa e conhecimento de novas espécies que podem ser manejadas e criadas também para a polinização no Brasil.

“A Apis é

a única

espécie

manejada

em grande

escala, somos completamente

dependentes dela. Pouco se sabe

ainda sobre as espécies nativas

– onde elas vivem, o que elas

comem, o papel funcional delas

e o efeito direto e indireto na

população humana”.

Claudia Inês da Silva, Universidade de São Paulo.

ABELHAS SILVESTRES

Além dos criadores de abelhas Apis mellifera, um movimento crescente no Brasil, já regulamentado em alguns estados brasileiros, é a criação de abelhas silvestres para fins comerciais, como a produção de mel e cera, atividade conhecida como meliponicultura. Essas abelhas também têm sido empregadas na polinização de alguns cultivos como morango, berinjela, maracujá e tomate.

Ações de proteção às abelhasEntre as ações de proteção a essas abelhas está o cumprimento da Legislação Florestal Brasileira, que obriga a recomposição de áreas de proteção permanente (APPs), como matas ciliares e várzeas, e as áreas de reserva legal (RL) para introduzir nesses locais plantas nativas que sejam úteis para os polinizadores, recompondo o habitat favorável6.

O presidente da Comissão Nacional do Meio Ambiente e da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rodrigo Justus de Brito, lembra que o Brasil é um dos poucos países com uma legislação sobre a conservação da vegetação nativa. “Nós temos uma legislação florestal, o Código Florestal, que estabelece ao produtor a obrigação de conservar as matas ciliares, as regiões de nascente, e as áreas com morros e montanhas”. O produtor, segundo ele, também tem de manter a Reserva Legal, um percentual de sua propriedade, com remanescentes de vegetação nativa.

Na região da Mata Atlântica, salvo algumas exceções previstas no Código Florestal para pequenas propriedades, 20% do imóvel deve estar conservado, em razão da

6 Agricultura e Pol inizadores, publ icação da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas/ 2015 – pg 57.

7 Agricultura e Pol inizadores, publ icação da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas/ 2015 – pg 55.

diversidade existente, englobando os polinizadores silvestres, como abelhas, vespas, borboletas e pássaros. “Nós temos a legislação, os instrumentos atuais georreferenciados e o cadastramento rural. A implementação dessa legislação está em andamento, o que significa que os produtores têm de fazer a adequação do seu imóvel rural”, acrescenta.

Especificamente no âmbito da agricultura, a biodiversidade de plantas dentro de campos de cultivo é desejável, porém a diversidade da flora ao seu redor é essencial, já que fornece habitat para as abelhas domésticas e selvagens e para outros insetos benéficos, melhorando o serviço de polinização em agroecossistemas7.

“Não se trata somente da quantidade de abelhas que está no campo, mas da saúde dessas abelhas. O que vai manter a qualidade e a saúde dessa abelha é o que ela come, é a diversidade de alimentos que compõem a dieta dessa abelha. Por isso é tão importante falarmos em biodiversidade das plantas no entorno dos cultivos”, enfatiza Claudia Inês, da USP.

A professora lembra que nem sempre a Apis desempenha um papel na polinização, mas ela se alimenta de recursos de flores que foram polinizadas e que se mantiveram no ambiente por outras abelhas, que são as nativas. Daí a importância das abelhas silvestres.

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As abelhas têm seu papel muito definido como polinizadoras na biodiversidade e na agricultura. No Brasil, são mais de 3.000 espécies de abelhas cumprindo seu papel no ambiente, uma polinização natural realizada pelas abelhas solitárias (maioria das silvestres, que não vivem em colmeias) sem auxílio da aquisição do serviço contratado de polinização por meio do aluguel de colmeias. Já na agricultura, as abelhas têm uma função comercial ligada à produtividade e qualidade dos frutos.

O professor Breno Magalhães Freitas, da UFC, lembra que mesmo as culturas polinizadas pela Apis mellifera, quando sentem uma diversidade de visitação de outras abelhas, experimentam um aumento de produtividade porque as abelhas têm funções específicas. No que tange à polinização, a Apis não é a mais eficiente para todas as culturas agrícolas, podendo até causar danos em algumas culturas. “Daí a importância de consorciar as espécies nativas com a Apis mellifera”, reforça a professora Claudia Inês, da USP. Cerca de 85% de todas as espécies de abelhas que existem no mundo são solitárias – classificadas assim porque as fêmeas não têm contato com suas crias, construindo seus ninhos sozinhas em edificações, cavidades preexistentes no solo e barrancos. “Embora elas não construam colônias numerosas e não sejam tão conhecidas, elas têm um papel fundamental na manutenção de áreas naturais e de áreas cultivadas”, explicou Claudia Inês. Lucas Alejandro Garibaldi, professor da Universidad Nacional de Rio Negro, lembra os cuidados necessários no manejo dos polinizadores. “Quando queremos criar uma diversidade de abelhas e insetos polinizadores, em geral, não podemos colocar trinta espécies de insetos em uma caixa e manejá-las como

manejamos a abelha que produz mel”. Segundo Garibaldi, é preciso manejar o habitat para prover comida – basicamente o pólen e o néctar –, e casa, onde elas possam ter como ninho tronco de árvores ou solo. Além dessas medidas, o especialista aconselha reduzir a fonte de mortalidade direta por inseticidas adotando práticas dentro e fora do cultivo. “O problema nos cultivos é que demandam muitos recursos em pouco tempo. As abelhas e os insetos necessitam de um tempo mais longo do que o da floração da cultura. Aliás, eles necessitam aninhar e dentro das plantações, muitas vezes, não é fácil por causa das máquinas e inseticidas. A prática fora do cultivo vai prover diversidade e abundância de flores durante o ano”.

ABELHAS E SEU PAPEL NA POLINIzAçãO, NA BIODIVERSIDADE E NA AGRICULTURA

“Quando

queremos

criar uma

diversidade

de abelhas e

insetos polinizadores, não podemos

colocar trinta espécies de insetos

em uma caixa e manejá-las como

manejamos a abelha que produz mel”.

Lucas Alejandro Garibaldi, Universidad Nacional de Rio Negro.

COMPARAçõES EQUIVOCADAS

O valor da polinização vem gerando comparações equivocadas, especialmente na Internet. A possível perda no valor de 15 bilhões de dólares por ano na agricultura dos Estados Unidos e a estimativa do potencial dos valores de polinização no Brasil até 12 bilhões de dólares por ano não são comparáveis essencialmente por duas razões.

A primeira é que os dados norte-americanos refletem a prática que já ocorre nos Estados Unidos da contratação de aluguel de colmeias, que é um serviço comercial de polinização na agricultura onde as abelhas são intencionalmente levadas às plantações. No Brasil, os dados teóricos são atribuídos em potencial de polinização na biodiversidade, gerando uma confusão em torno do papel das abelhas na polinização.

Nos Estados Unidos, as perdas são reais na agricultura. Aqui no Brasil, os valores servem de orientação para o potencial atribuído às abelhas em torno do serviço prestado na polinização de plantas na biodiversidade. Fala-se inclusive em perdas entre 4,8 e 14,5 bilhões de dólares por ano no Brasil, que representariam uma redução de 6,4% a 19,3% da contribuição no PIB brasileiro. Trata-se, no entanto, de um conjunto de dados teóricos, que não refletem ainda a prática na agricultura brasileira, cujo aluguel de colmeias ainda é restrito a algumas regiões e culturas dependentes da polinização.

Maurício Rodríguez, cientista da CropLife Latin, e sua equipe estão muito interessados em saber mais sobre a interação entre a agricultura e os polinizadores silvestres, principalmente na América Latina, região rica em biodiversidade. “Estamos nos esforçando para que em diferentes países, sob diferentes governos, seja aceito o apoio do setor de defensivos agrícolas, nos permitindo oferecer os melhores pesquisadores

acadêmicos para que se avance o conhecimento”.

Segundo ele, muito se sabe sobre as interações entre espécies na Europa e nos Estados Unidos, mas mesmo diante dos avanços nesse aspecto, Brasil e Argentina ainda demandam entendimento sobre o tema. “De fato, é a oportunidade de aumentar esse conhecimento, permitindo à indústria [de defensivos agrícolas] oferecer inovações para que as culturas agrícolas sejam cada vez mais compatíveis com os ecossistemas e as abelhas”.

Diversidade de Abelhas Muitas dúvidas ainda cercam o tema da diversidade de abelhas, se as melíferas são ou não suficientes do ponto de vista da polinização e se podem, de fato, substituir o fluxo dos insetos selvagens. Dúvidas à parte, o professor Garibaldi defende a proteção do espaço da vida nativa. “Por meio de um estudo envolvendo 600 diferentes lugares ao redor do mundo, consideramos que as abelhas melíferas cumprem um papel importante na polinização. Porém, para se obter a máxima produção e a máxima polinização, ambas espécies são necessárias e desempenham funções complementares”.

Segundo ele, as práticas que promovem a biodiversidade, envolvendo os insetos silvestres, são as mesmas que promovem a atividade apícola. (...) ”Há um benefício mútuo na promoção de práticas para a diversidade de flores, a manutenção de habitats naturais. Essas práticas também beneficiam a apicultura como uma atividade muito importante para o desenvolvimento local”, diz ele, também diretor do Instituto de Investigaciones en Recursos Naturales, Agroecología y Desarrollo Rural (IRNAD).

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As abelhas especialistas visitam determinadas flores ou famílias botânicas, coletando com a máxima eficiência e operando como polinizadoras especializadas, o que gera interdependência entre as espécies. Em comparação à Apis mellifera, que é uma abelha generalista, possuem efetividade superior de polinização, mas têm baixa produtividade de mel.

As abelhas generalistas visitam as flores de muitas espécies botânicas e utilizam diferenciadas fontes de alimento. Comparadas às abelhas silvestres criadas, que são especialistas, possuem baixa efetividade de polinização e alta produtividade de mel.

O professor e pesquisador Osmar Malaspina, da Unesp Rio Claro, considera importante salvaguardar todas as espécies, tanto para a produtividade nos setores agrícola e apícola, quanto no sentido de proteger e dar

manutenção à biodiversidade. “Nós também temos que defender as outras abelhas que estão nesse processo. Não estou falando só de culturas, estou falando da manutenção da biodiversidade. Numa área de proteção, quando chegamos de manhã para fazer o levantamento dessas abelhas [especialistas], vemos que as plantas em geral estão cheias dessas abelhas, ou de Jataí ou das Melíponas ou das Trigonas e assim por diante. Então elas são extremamente importantes para manter essa biodiversidade e, infelizmente, conhecemos pouco essa relação”.

O QUE SãO AS ABELHAS GENERALISTAS E ESPECIALISTAS8?

8 Saiba mais sobre abelhas generalistas e

especialistas no www.colmeiaviva.com.br

Originárias de cruzamento entre espécies africanas e europeias

Generalista: Baixa efetividade de polinização

Alta produtividade de mel

Abelhas com ferrão

Exploração regulamentada no Brasil

Serviço de polinização: Comumente implantada em lavouras de maçã e melão

Espécie em que o CCD é relatado em outros países. No Brasil não há casos de CCD cientificamente comprovados

Mais conhecimento científico e prático

2

Origem brasileira

Abelhas sem ferrão

Especialista: Efetividade superior de polinização

Baixa produtividade em mel

A maioria das abelhas silvestres são solitárias, não vivem em colmeias

Mais importância na polinização de áreas naturais e biodiversidade em comparação às abelhas comerciais (criadas)

Exploração regulamentada em alguns estados brasileiros

Menos conhecimento científico

Vivem em colmeias (sociais)

Melipona sp: Serviço de polinização para lavoura de tomate

Tetragonisca sp: Serviço de polinização para lavoura de morango

Bombus sp: Serviço de polinização para lavouras de berinjela e maracujá

Apis mellifera

Em comparação às silvestres criadas:

Silvestres criadas

Em comparação à Apis mellifera

Exemplos de silvestres criadas para serviço de polinização

Abelhas silvestres

COMERCIAIS (Criadas) SILVESTRES

Ex: Meliponídeos

Aluguel decolmeia

Ex: Melipona sp Ex: Bombus sp e Xylocopa sp

Criação deninhos

Produtos:Mel e cera

Produtos:Mel, cera, própolis, pólen, geleia real,

apiterapia

Serviço de Polinizaçãona Agricultura

Serviço de Polinizaçãona Agricultura

Ex: Apis mellifera

SILVESTRES EXÓTICASPrincipal função:Polinização de

áreas naturais e agroecossistemas

+3000espéciesno Brasil

4

2

3

1

*

AS ABELHAS NA VISãO DO COLMEIA VIVA®

GENERALISTAS

Baixa efetividade de polinização

Alta produtividade de mel

ESPECIALISTAS

Efetividade superior de polinização

Baixa produtividade de mel

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MelO mel é um alimento natural de grande valor. Contém açúcares, água, sais minerais, pequenas quantidades de vitaminas e outros nutrientes. É produzido pelas abelhas que colhem e transformam o néctar, um líquido açucarado encontrado nas flores. Esse líquido, após algumas transformações, é depositado nos alvéolos dos favos, onde o mel amadurece, ou seja, fica pronto para o consumo. Nesse ponto, as abelhas tampam os alvéolos com uma fina camada de cera para que o mel fique protegido até que seja usado como alimento. A cor, o sabor, o aroma e a consistência do mel variam com as floradas e com o clima, além de outros fatores. Sua manipulação pelo apicultor também pode alterar suas características.

CeraA cera produzida pelas abelhas é usada na construção dos favos e no fechamento dos alvéolos. As indústrias de produtos de beleza, de medicamentos e de velas são as principais consumidoras de cera, que também é usada nas tecelagens.

PrópolisA própolis é produzida quando as abelhas misturam a cera com a resina das plantas, que é retirada dos botões de flores, das gemas e dos cortes nas cascas. Sua função é manter a colmeia livre de doenças, além de fechar as frestas e a entrada do ninho, evitando correntes de ar frio durante o inverno. Atualmente, a própolis é usada principalmente pelas indústrias de produtos de beleza e medicamentos. Possui efeitos cicatrizantes e é considerada um antibiótico natural.

Pólen apícolaO pólen apícola é retirado das flores e manipulado pelas abelhas, sendo então depositado nos alvéolos e utilizado para alimentar as larvas e abelhas adultas com até 18 dias de idade. Graças a seu alto valor nutritivo, é usado como alimento. É vendido seco, misturado com mel, em cápsulas ou tabletes.

Geleia realA geleia real é produzida pelas abelhas operárias mais novas (até 15 dias de idade) e utilizada como alimento das crias e da rainha nas colmeias. É rica em proteínas, água, açúcares, gorduras e vitaminas. Possui cor branco-leitosa e sabor ácido forte. É produzida por alguns apicultores para comercialização em estado natural, misturada com mel ou mesmo seca e em tabletes. As indústrias de produtos de beleza e de medicamentos também utilizam a geleia real.

ApitoxinaCom o uso de técnicas apropriadas, é possível extrair o veneno das abelhas (apitoxina) para fins comerciais. A apitoxina é utilizada como medicamento no tratamento de doenças reumáticas, mas só pode ser comercializada por farmácias e drogarias.

PRODUTOS DAS ATIVIDADES APíCOLAS9

Além do precioso serviço de polinização, as abelhas também produzem a base da sobrevivência do apicultor no Brasil: mel, cera, própolis, pólen apícola, geleia real e apitoxina.

9 ABC da Agricultura Famil iar – Criação de Abelhas Apicultura (Embrapa).

MORTALIDADE x DESAPARECIMENTO

Dentre os vários fatores responsáveis pelo fenômeno da mortalidade das abelhas, como as doenças, a fragmentação de habitats, o mau uso do solo e a aplicação indevida dos defensivos estão entre os mais alarmantes. O uso incorreto dos defensivos agrícolas tem sido apontado como responsável pelo desaparecimento massivo das abelhas melíferas. Entretanto, há poucos estudos científicos que corroborem esta hipótese e menos ainda que indiquem as verdadeiras causas da redução drástica das abelhas. O mais provável é que haja um sinergismo entre os fatores e, por isso, não se deve trabalhar com fatos isolados .

Além disso, existe uma confusão entre mortalidade e sumiço em torno das abelhas Apis mellifera. No Brasil, pesquisadores afirmam que não há casos de Síndrome do Desaparecimento das Abelhas (CCD) até agora. Aqui, os casos registrados são de mortalidade de abelhas criadas por apicultores para fins comerciais. Esse registro de mortalidade, inclusive, é alvo de estudo do Mapeamento de Abelhas Participativo - MAP , com a participação da Unesp e UFSCar, num mapeamento inédito dos fatores que contribuem para a perda de colmeias no Estado de São Paulo. O mapeamento dá origem a um Plano de Ação Nacional voltado às boas práticas de aplicação dos defensivos agrícolas para uma relação mais produtiva entre apicultura e agricultura.

Uma das etapas da iniciativa de pesquisa é a análise de resíduos de defensivos agrícolas em abelhas. Os resultados desta etapa apontam até o momento para o uso incorreto de defensivos tanto na área agrícola, quanto para outras aplicações fora do ambiente agrícola. No entanto, os sintomas registrados na pesquisa não são os característicos do desaparecimento, como desorganização, sujeira e abandono

nas colmeias; ou ainda declínio da população de abelhas, porém sem a presença de abelhas mortas, inviabilizando a sobrevivência da colmeia. De qualquer forma, o uso incorreto de defensivos agrícolas deve ser combatido e estamos direcionando nossos esforços e ações para incentivar o diálogo para uma relação mais produtiva entre a agricultura e a apicultura, visto que o setor de defensivos agrícolas introduz no campo um produto destinado a proteger as culturas.

“Temos um compromisso com a sociedade e somente o diálogo vai minimizar esses impactos. Precisamos da aplicação correta e racional dos agrotóxicos”, lembra Nésio Fernandes de Medeiros, presidente da Câmara Setorial Federal do Mel e Produtos das Abelhas no Mapa (gestão 2014 a 2017), vice-presidente da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA) e presidente da Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa Catarina.

“O Brasil não tem

como produzir

alimentos em

larga escala sem

o agrotóxico, mas

também precisa das abelhas.”

Nésio Fernandes de Medeiros,

Confederação Brasileira de Apicultura (CBA).

10 Agricultura e Pol inizadores, publ icação da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas/ 2015 – pg 20.

11 Leia mais sobre o MAP no capítulo 2. Bandeira 1.

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Traduzido como Síndrome do Desaparecimento das Abelhas, o CCD (Colony Colapse Disorder) está entre os maiores problemas da apicultura mundial. Trata-se de um fenômeno registrado há mais de 150 anos, muito anterior ao advento dos defensivos agrícolas, utilizados há 80 anos.

O CCD corresponde ao desaparecimento repentino das abelhas ou a redução, em poucas semanas ou dias, do tamanho da colônia, mesmo na presença de crias, pólen e mel, porém sem deixar vestígios de morte. Há relatos de que o CCD vem causando sérias baixas no número de colônias de Apis mellifera nos Estados Unidos, Canadá, Japão e índia, bem como em alguns países da Europa e da América do Sul.

Não existe até o momento uma causa única detectada como o principal agente causador do CCD, fruto de uma complexa relação entre vários fatores, que incluem doenças originadas por parasitas como a Varroa, fungo Nosema, infecções bacterianas, suscetibilidade das espécies, melhoramento genético, falhas na nutrição, problemas sanitários das práticas apícolas, desmatamento, espécies invasoras, condições climáticas, além de uso incorreto de defensivos agrícolas, entre outros fatores.

De acordo com o professor Breno Magalhães de Freitas, a opinião pública faz uma confusão sobre o desaparecimento de abelhas. O CCD é um problema específico de Apis. Não existe CCD em abelha solitária, não existe CCD em meliponíneo, não que se saiba até o momento. O desaparecimento das abelhas é global. “São as abelhas de

uma maneira geral que estão reduzindo, por uma série de fatores, não especificamente um ou outro em particular”.

O professor Breno explica que ainda há muito desconhecimento e mal-entendido sobre o fenômeno CCD. “Eu sou agrônomo. Fiz meu PhD no Reino Unido há 24 anos, com John Frie, que era o maior especialista na época e referência mundial em polinização agrícola, e desde então, o desafio nesses 20 anos tem sido integrar as abelhas junto com a agricultura, envolvendo indústria, setor apícola e diversos segmentos da sociedade”.

SíNDROME DO DESAPARECIMENTO DAS ABELHAS (CCD)

“São as

abelhas

de uma

maneira geral

que estão

reduzindo, por uma série de fatores,

não especificamente um ou outro

em particular”.

Breno Freitas, Universidade Federal do Ceará.

12 Agricultura e Pol inizadores, publ icação da Associação Brasileira

de Estudos das Abelhas/2015 – pg 19.

O Brasil é um país com ampla diversidade de abelhas, que demanda correto manejo para incrementar a produção agrícola. A espécie de abelha mais utilizada é a Apis mellifera. As abelhas nativas são boas alternativas à Apis, a exemplo dos Meliponíneos, das Mamangavas e diversas outras espécies solitárias. Tais abelhas são polinizadoras mais eficientes do que as exóticas para grande parte das culturas agrícolas.

Nem sempre, contudo, as abelhas nativas estão disponíveis na natureza em número suficiente para fornecer o serviço de polinização tão precioso à produção de alimentos. Neste cenário, a utilização racional de abelhas para a polinização e a preservação de áreas com vegetação nativa no entorno dos cultivos têm se mostrado um meio de fornecer o serviço de polinização adequado12. Nos Diálogos promovidos pelo Colmeia Viva® desde 2013, foi possível compartilhar conhecimento em torno do déficit de polinização, que pode afetar a qualidade de frutos como morango ou framboesa.

Alternativas frente ao déficit de polinizaçãoSegundo Marcelo Aizen, da Universidad Nacional del Comahue, a população de Apis mellifera vem passando por um declínio nos últimos 50 anos nos Estados Unidos. Lá, essas abelhas são amplamente usadas para serviços de polinização na agricultura. “O declínio pode ter mais a ver com fatores econômicos do que biológicos”, explica. Marcelo ainda complementa que a produtividade de mel por colmeia ao longo do tempo aumentou em torno de 50% nos últimos 50 anos. Esse aumento não é compatível com um cenário de declínio. O continente europeu possui as colmeias mais produtivas do mundo e fala-se muito sobre o declínio das colmeias. “Outros fatores de ordem econômica contribuem para que seja mais barato importar mel da Argentina ou China do que fomentar a atividade apícola na Europa”.

POLINIzAçãO ASSISTIDA E MANUAL

A engenharia genética tem sido uma alternativa para lidar com o déficit de polinização. Um exemplo é a parceria da Embrapa com a Promip, empresa de controle biológico, para o desenvolvimento pela primeira vez no Brasil de um sistema de criação de abelha sem ferrão, visando a polinização agrícola assistida na agricultura. “Ao longo dos últimos doze anos, tenho estudado a biologia dessas abelhas sem ferrão, mas também venho desenvolvendo técnicas de manejo para poder usá-las comercialmente”, explica Cristiano Menezes, da Embrapa. Entre os principais avanços mencionados pelo especialista, o primeiro desafio foi a criação de rainhas em laboratório, com cerca de 90% de sobrevivência e em quantidades grandes o suficiente para atender a demanda. Alimentos artificiais para as abelhas estão sendo desenvolvidos para substituir o pólen e o mel. “A partir do momento em que não se precisa do pólen natural, pode-se criar essas abelhas numa escala maior”. Grande parte da polinização assistida, entretanto, ainda é baseada na Apis mellifera, faltando incluir todas as espécies de abelhas em todas as discussões. Deve-se levar em consideração também que a atividade manual da polinização para aumento da produção de algumas frutas também é uma alternativa comum em países desenvolvidos como a China.

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Para a professora Claudia Inês, é preciso compreender a diversidade de tipos e a contribuição específica de cada um para a agricultura (a abelha certa para a cultura certa) e para a biodiversidade. Segundo ela, é fundamental avançarmos no desenho de alternativas e investirmos na formação de profissionais da agricultura e na aplicação desses conhecimentos. “Produzimos muito conhecimento, mas muito do conhecimento que produzimos não chega a ser aplicado, então a gente precisa pensar numa nova forma também de transcrever todo esse conhecimento que é produzido para uma linguagem mais acessível para que ela chegue a quem está aplicando no campo”, comenta. Rodrigo Brito, da CNA, lembra que é fundamental “melhorar e reciclar nossos profissionais, a assistência técnica para que eles deem orientação adequada ao produtor”. Para ele, é preciso investir na pesquisa, com a participação conjunta de todos para o fortalecimento da assistência técnica e reciclagem dos profissionais. “Nossas soluções dependem de diagnósticos precisos e experimentação em campo, pesquisa aplicada para todas as culturas”.

Professor e pesquisador, Osmar Malaspina considera um sistema efetivo para a manutenção da biodiversidade. “Se conseguirmos criar um sistema de proteção das abelhas no Brasil e no mundo, vamos usar as abelhas como modelo para ajudar outras espécies polinizadoras. Assim, teremos um sistema efetivo para a manutenção dos complexos sistemas da biodiversidade”.

A reflexão influencia diretamente os agroecossistemas. “No momento em que a gente consegue equalizar o uso das abelhas na agricultura, aumentando a produtividade

“Se

conseguirmos

criar um

sistema de

proteção das

abelhas no Brasil e no mundo,

vamos usar as abelhas como

modelo para ajudar outras espécies

polinizadoras. Assim, teremos um

sistema efetivo para a manutenção

dos complexos sistemas da

biodiversidade”.

Osmar Malaspina, Unesp Rio Claro.

A geração de conhecimento e a disseminação das informações estão entre as prioridades do Colmeia Viva®, seja para contribuir com novas pesquisas voltadas às abelhas e sua interação com a agricultura e o uso de defensivo, seja em sua relação com o impacto na biodiversidade ou ainda na divulgação de informações numa linguagem mais simples, que chegue efetivamente ao campo.

Participação no fomento

à informação, pesquisa e

desenvolvimento de serviços

comerciais de polinização,

biodiversidade e agricultura.

META ATÉ

2020

agrícola, a gente segue aumentando a produção de alimentos sem causar mais impactos”, conclui o professor Breno Magalhães Freitas.

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Embora as abelhas já tenham se revelado as maiores polinizadoras da natureza, é preciso contar com uma variação do nível de dependência da agricultura em

relação aos polinizadores – especificamente das abelhas –, conforme sua função em cada cultura. Algumas se mostram realmente dependentes, viáveis somente se houver o polinizador, enquanto outras culturas não são dependentes, mas se beneficiam dos polinizadores, mesmo os manejados (criados), tornando o sistema mais amigável inclusive para a atração de outros polinizadores nativos, que vêm das redondezas.

De vocação agrícola, o Brasil tem na agricultura uma das principais – senão a principal – atividades econômicas. Atualmente, a agropecuária é responsável pela maior parcela do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Nesse contexto, a aplicação de defensivos agrícolas cumpre seu papel de proteger os cultivos das pragas. Ao mesmo tempo, os polinizadores – além do seu papel fundamental na biodiversidade – contribuem para o aumento da produtividade de muitas culturas agrícolas.

Complementaridade entre os defensivos agrícolas e a polinização realizada pelas abelhas

Objetivo: Criar mecanismos customizados de proteção das abelhas, de acordo com a taxa de dependência e polinização das culturas agrícolas.

5. BANDEIRA

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Culturas dependentes da polinização animal (incluindo as abelhas) contribuem com 35% do volume de produção mundial de alimentos, representando 5% a 8% em valor da produção mundial. Esse dado faz parte do relatório de avaliação divulgado em 2016 pela Plataforma Intergovernamental de Serviços Ecossistêmicos e Biodiversidade (IPBES), um organismo independente aberto a todos os países membros das Nações Unidas para avaliar o estado da biodiversidade do planeta, seus ecossistemas e os serviços essenciais que prestam à sociedade - sobre Polinizadores, Polinização e Produção de Alimentos.

Além da conhecida contribuição para o aumento da produtividade agrícola de culturas reconhecidamente dependentes de polinização exploradas no Brasil, como maçã, melão, melancia, maracujá e caju, os polinizadores também são importantes na produção de outros cultivos, nos quais seus papeis são menos conhecidos, como a soja, os feijões, o dendê e o mamão.

Daí a necessidade da difusão dos conhecimentos que já existem sobre como conciliar essa agricultura de alta produção com uma polinização sustentável, seja por polinizadores nativos, seja por polinizadores manejados (criados). O desafio de cada produtor consiste em buscar a melhor solução para o processo, dentro da sua realidade, da sua escala de produção, do seu sistema e do ecossistema onde está inserido.

É fato que a tão almejada relação ganha-ganha entre agricultura e apicultura, na conjuntura atual, está vinculada ao tipo de cultivo. “Em Santa Catarina, nós temos em torno de 30 mil colmeias dirigidas à produção de maçã e no Rio Grande

“Nós vivemos

uma relação de

dependência

pura e simples,

devido à

grande importância da polinização

para a nossa atividade”.

José Maria Reckziegel, Associação Gaúcha de Produtores de Maçã.

também [existe polinização]”, exemplifica Nésio Fernandes de Medeiros, presidente da Câmara Setorial Federal do Mel e Produtos das Abelhas, no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) (gestão 2014 a 2017) e vice-presidente da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA).

Para o equilíbrio entre os setores agrícola e apícola, é fundamental a conscientização sobre os benefícios da polinização, mesmo em culturas que teoricamente não necessitam do serviço. Breno Magalhães Freitas, da UFC, lembra que se houver o número adequado de polinizadores, haverá visitação às flores, com a transferência do pólen e aumento da capacidade de vingar da planta.

Entre os exemplos de benefícios estão a qualidade do produto, como o aumento da concentração de óleos em sementes de girassol, canola e mamona, bem como a diminuição de custos de colheita, por exemplo, pelo encurtamento do ciclo da cultura de melão e melancia ou pela uniformidade na altura das plantas, por exemplo, soja e gergelim, que proporcionam melhor uso da colheita mecanizada e diminuição de perdas.

“Não se trata necessariamente de um impacto na base da alimentação da população, já que cereais, como arroz, milho, aveia, trigo, de uma maneira geral, são polinizados pelo vento e não por abelhas”, como explica o professor Breno. Mas é preciso incluir a variedade de alimentos para uma dieta balanceada. Ainda há bastante confusão entre a ideia de uma cultura ter sua existência comprometida e o conceito de redução do potencial produtivo de frutos e sementes em função da falta de polinização realizada por abelhas, que poderiam maximizar a produção de frutos e sementes.

Essa confusão se dá em parte porque a dependência está atrelada, na maioria das vezes, ao quanto uma cultura agrícola poderá deixar de produzir, de ser produtiva, se não houver a polinização como no caso da maçã, do melão. No entanto, culturas como citrus, morango, tomate e até a soja podem aumentar a sua produtividade com a presença de abelhas.

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TAxA DE DEPENDêNCIA DE POLINIzAçãO NAS CULTURAS AGRíCOLASCom objetivo de facilitar esse entendimento, três categorias de culturas foram definidas na visão do Colmeia Viva® com base em seu grau de dependência em relação à polinização das abelhas: Culturas Dependentes, Culturas Beneficiadas e Culturas Não Dependentes.

CULTURAS DEPENDENTES

São as culturas que dependem totalmente da polinização das abelhas. Culturas com alto valor nutricional (como frutas e legumes) são mais dependentes de polinizadores. Entre os exemplos mais emblemáticos de culturas dependentes das abelhas estão os cultivos da maçã, melão, maracujá e melancia.

A maçãPresidente da Associação Gaúcha de Produtores de

Maçã (gestão 2014 a 2016), o engenheiro agrônomo José Maria Reckziegel reforça a importância dos polinizadores no cultivo do fruto. “Nós vivemos uma relação de dependência pura e simples, devido à grande importância da polinização para a nossa atividade”. Na cultura da maçã pratica-se o aluguel de colmeias, por meio da comercialização de caixas de abelhas para a produção do fruto. “Normalmente, o apicultor aluga suas colmeias e nós as deixamos no pomar por cerca de uma semana antes de serem abertos pelo menos 30% dos botões das flores existentes durante o cultivo”.

Além da abelha Apis mellifera, o especialista lembra a importância de contar também com as abelhas silvestres na Região Sul do Brasil. Apesar de competirem pelas mesmas flores do pomar, as abelhas silvestres também trabalham durante as temperaturas mais baixas, complementando a

atuação entre as espécies, uma vez que a Apis comumente fica “em casa” nessas condições climáticas. “A região em que atuo é a mais fria do Brasil, atingindo entre 12 e 10 graus durante o dia. Mesmo assim, podemos ver a movimentação das abelhas Mamangavas, das Mirins, daquelas abelhas silvestres que saem para trabalhar”.

O melãoO melão também é integrante da categoria das

culturas dependentes da abelha para a sua polinização. No Nordeste brasileiro, o fruto é um caso de sucesso para o Colmeia Viva®, em razão da gestão de um dos grandes produtores de melão do país, Tom Prado. Para ele, a relação produtiva entre os setores de agricultura e apicultura é possível, com benefícios mútuos na produção de alimentos, para a biodiversidade e também na produção de mel. “Se não tiver abelha, não tem melão”, enfatiza Tom, que também é apicultor.

Estudos apontam que, para ser comercialmente aceito, o fruto precisa ser visitado por abelhas entre 10 a 15 vezes, do nascimento à maturação. “Quanto mais visitas, melhor será o melão no que se refere a tamanho, sabor e viscosidade”, explica. A rotação de produção ao longo do ano está entre as iniciativas tomadas em sua gestão, levando-se em conta

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as estações chuvosas. O cultivo do melão conta tanto com abelhas da florada natural, quanto de colmeias criadas.

Proprietário de uma empresa que produz nove mil hectares de melão e melancia, com gotejamento no semiárido brasileiro, na região da Chapada do Apodi, entre o Ceará e o Rio Grande do Norte, Luiz Roberto Maldonado Barcelos (Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados - Abrafrutas) salienta a indispensabilidade da abelha em suas culturas. “Eu chego a ter mais de 1.200 hectares na fase de floração, o que me

dá uma necessidade de 3 mil colmeias praticamente o ano inteiro e não vendemos um quilo de mel, sequer”.

O maracujáA produção do maracujá sofre grandes flutuações

principalmente por causa dos custos com manejo e insumos. “E a polinização influencia diretamente esses custos de produção”, afirma a professora Cláudia Inês da Silva, da USP.

Os produtores rurais em geral desconhecem os insetos que visitam as flores do maracujazeiro, a biologia e o sistema reprodutivo dessas plantas, que dependem exclusivamente da polinização por abelhas. “No caso do maracujá, nem todas as abelhas são benéficas”, explica. Algumas, como a Apis mellifera, são pequenas em relação ao tamanho das flores e apenas pilham o néctar e o pólen sem conseguir polinizá-las. “É preciso entender as necessidades de cada cultura e preservar o polinizador mais adequado”, lembra Cláudia1.

Logo, a presença de Apis mellifera prejudica a polinização do maracujazeiro, declinando a produtividade. Muito famoso por sua belíssima flor, o maracujá é polinizado pelas abelhas de grande porte, entre elas a Centris, Bombus e xylocopa, conhecidas respectivamente como Abelhas de Óleo, Mamangavas e Carpinteiras.

Na época

da chuva,

as abelhas

produzem

o mel da

caatinga, nós retiramos esse mel

e na época da seca, um período

muito mais longo, devolvemos o

mel, senão elas não conseguem

sobreviver.”

Luiz Roberto Maldonado Barcelos, Associação Brasileira dos

Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas)

1 Leia mais sobre a taxa de dependência de polinização no www.colmeiaviva.com.br

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CULTURAS BENEFICIADAS

Embora não diretamente dependentes, as culturas beneficiadas são aquelas que tiram bom proveito do serviço de polinização realizado pelas abelhas.

Os citrusOs citrus (laranjas, tangerinas, limas, limões e

pomelos) são as frutas mais produzidas no mundo e têm como característica a autopolinização. No entanto, seu perfume e a abundância de néctar de suas flores são muito atrativos aos insetos, sendo 80% das visitas feitas por abelhas, de acordo com Manual de Boas Práticas Fundecitrus – Fundo de Defesa da Citricultura – Unesp. Como consequência, a cultura é uma das mais importantes para o setor apícola e o mel de laranjeira tem mais aceitação devido ao seu tom claro e sabor suave.

A polinização realizada pelas abelhas contribui com o aumento de até 35% na produção das laranjeiras, 22% no peso dos frutos, 33% na quantidade de suco e 36% no aumento do número de sementes. Nos pomares de citrus, o vento é um agente polinizador de mínima importância, uma vez que o pólen é viscoso, aderente e bastante pesado. Pode ser transportado por correntes de vento acima de 40Km/h, mas dificilmente alcança distâncias maiores do que 15 m2.

Para complementar o papel do polinizador, o setor de defensivos agrícolas contribui para que os produtores de citrus no Brasil enfrentem um dos desafios de combater o

inseto que transmite a doença greening causada por uma bactéria. Essa doença detectada em 2004 traz enormes prejuízos ao cultivo de citrus no Brasil que já é hoje o maior exportador de suco de laranja do mundo, especialmente no Estado de São Paulo que concentra 80% desta produção.

O engenheiro agrônomo Marcelo Pedreira Miranda, do Fundecitrus, enfatiza a importância do diálogo entre os setores. “Nada mais que o correto é que os dois setores conversem e tentem encontrar um ponto em comum, cada um consiga desenvolver suas atividades, e, por consequência disso, as abelhas nativas também serão beneficiadas”.

O morangoEntre as culturas beneficiadas está o morango,

uma vez que a falta de polinização leva às infrutescências malformadas e redução de produtividade da ordem de 40%. No Brasil, são cerca de três mil hectares de morango, o que significa um potencial para mercado de 50 a 60 mil colmeias de Jataí, conforme explica Cristiano Menezes, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental. “Quando há falta de abelhas nessas lavouras, o fruto fica deformado. Nas culturas de morango, cerca de 20% dos frutos produzidos pelos agricultores são deformados. Um fruto cresceria em média 43% em peso se ele fosse bem polinizado, ou seja, o produtor está perdendo dinheiro por falta de abelha na agricultura”.

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2 Agricultura e Pol inizadores, publ icação da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas/ 2015 – pg 21.

A canola e a sojaPesquisas recentes mostraram que mesmo culturas

como a canola, polinizada pelo vento, e a soja, cujas flores são fertilizadas por seu próprio pólen, produzem de 20% a 40% mais grãos por hectare quando há colônias de abelhas Apis mellifera por perto ou quando a plantação é feita ao lado de remanescentes de vegetação nativa.

No caso específico da soja, foi demonstrado que a introdução de abelhas melíferas nas plantações de soja Glycine max - uma espécie que se autopoliniza -, favoreceu a polinização e contribuiu para melhorar significativamente o rendimento da produção2. O professor Breno enfatiza um trabalho desenvolvido na cultura de soja com a introdução de polinizadores. “O aumento na produtividade foi de 18%”.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) lançou recentemente a publicação Soja e Abelhas, com o apoio da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.). De autoria do pesquisador Décio Luiz Gazzoni, da Embrapa Soja, a publicação reúne uma ampla revisão bibliográfica envolvendo a informação científica disponível sobre as relações entre a cultura da soja e as várias espécies de abelhas. “Traz uma contribuição à agricultura ao detalhar a viabilidade em conciliar os sistemas de produção de soja com o serviço ecossistêmico de polinização, servindo como um indicador da preocupação do agronegócio brasileiro com a sua sustentabilidade”, destaca Gazzoni.

O tomateOutra cultura que se beneficia da polinização por

abelhas em ambientes protegidos é a do tomate, que conta com abelhas que fazem as flores vibrar, como as Mamangavas do gênero Bombus ou as abelhas Tiúba ou Mandaçaia (gênero Melípona), para serem fertilizadas4. Cristiano Menezes lembra o caso europeu. “Na Europa, no início da década de 80, quando descobriram que (as abelhas) Bombus e Mamangavas eram importantes para a produção de tomate, os próprios produtores saíram correndo atrás de abelhas para melhorar a produtividade. Quatro anos depois disso ser descoberto, 100% dos produtores de tomate da Holanda já usavam abelhas na produção. Quem não usava abelhas, sequer conseguia vender o seu tomate por causa da diferença de produtividade e da qualidade do fruto que tinha em relação a um fruto bem polinizado”.

“Quando

há falta de

abelhas

nessas

lavouras [de

morango], o fruto fica deformado.”

Cristiano Menezes, Embrapa Amazônia Oriental.

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CULTURAS NãO DEPENDENTES

Algumas culturas agrícolas não dependem em nenhum nível da presença das abelhas, como por exemplo a cana-de-açúcar, que tem no Brasil seu maior produtor mundial.

A cana-de-açúcarO cultivo da cana se dá sem a utilização de

polinizadores. Para esse tipo de cultivo, uma cana adulta é cortada em pequenos colmos ou toletes, nos quais se encontra a chamada “gema”, que representa um conjunto de células capazes de gerar uma nova unidade de cana. Cada um desses colmos representa uma muda que dará origem a uma nova planta geneticamente idêntica à que foi cortada3.

É preciso considerar, no entanto, que os canaviais estão inseridos no ecossistema, que – por sua vez – depende de agentes naturais como os polinizadores. No âmbito da agricultura, a biodiversidade de plantas dentro dos campos de cultivo é desejável, porém a diversidade da flora ao seu redor é essencial4.

Em áreas de cultura intensiva, as bordas de campos, margens de caminhos, cercas vivas e outras áreas não cultivadas – como os cordões das curvas em nível para contenção da erosão – podem se constituir em refúgios importantes para muitos polinizadores5.

Sobre a cultura da cana-de-açúcar, o professor Osmar Malaspina da Unesp Rio Claro lembra que as abelhas não têm interesse nas flores e, sim, em seu colmo açucarado. “Quando se podia queimar a cana, isso era um problema

no Brasil, porque a liberação dos açúcares era maior e as abelhas procuravam mais. Agora, essa frequência é menor, mas as abelhas continuam indo lá.”.

Entretanto, as abelhas no Estado de São Paulo, segundo o professor, estão nos fragmentos do entorno da cana, o que mostra uma relação não de dependência, mas de convivência entre a cultura e as abelhas. “Nós estamos fazendo alguns projetos nessa direção de convivência, de coexistência, principalmente com as fazendas”, comenta.

A RELAçãO COM A POLINIzAçãO

Em razão da utilização como pasto apícola, as culturas de citrus e eucalipto são as mais relevantes na relação agricultura-apicultura para o Estado de São Paulo. Diferentemente da cana-de-açúcar, que é pouco atrativa às abelhas, a citricultura se beneficia de sua visitação, com ganhos de produtividade.

A polinização, portanto, é um serviço valioso ao ecossistema como um todo, reforçando o compromisso de uma relação mais produtiva entre os setores agrícola e apícola. O pesquisador da Embrapa Décio Gazzoni lembra os avanços já obtidos nessa jornada. “Devagarzinho fomos construindo, aparando arestas, buscando objetivos comuns, num processo de agregar valor para ambos os lados. O caminho é visível, está iluminado. É possível construir uma relação melhor, com pequenas medidas, com diálogo, treinamento, capacitação, construindo possibilidades, buscando novas fórmulas”.

55

“O caminho

é visível, está

iluminado.

É possível

construir

uma relação melhor, com pequenas

medidas, com diálogo, treinamento,

capacitação, construindo possibilidades,

buscando novas fórmulas”.

Décio Gazzoni, Embrapa.

3 http://abelha.org.br/existe-um-imenso-potencial-para-ampliar-o-papel-da-cana-no-combate-as-alteracoes-cl imaticas/

4 Agricultura e Pol inizadores, publ icação da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas/ 2015 – pg 55.

5 Agricultura e Pol inizadores, publ icação da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas/2015 – pg 56.

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Para saber mais sobre a taxa de dependência de

polinização em mais de 80 culturas agrícolas, consulte a

tabela completa no site www.colmeiaviva.com.br

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DEFENSIVOS AGRíCOLAS

São produtos químicos ou biológicos utilizados para combater pragas e doenças que atacam as lavouras, impactando a produção e a produtividade da lavoura. Inseticidas, fungicidas, herbicidas e acaricidas são alguns dos produtos mais utilizados para proteger as plantações. Assim como os medicamentos, os defensivos agrícolas também são produzidos a partir de princípios ativos.

É muito comum a atribuição da morte das abelhas aos princípios ativos do grupo químico dos Neonicotinóides e ao Pirazol (Fipronil), que são princípios ativos de inseticidas. No entanto, estudos demonstram que as abelhas estão ameaçadas em muitas áreas do mundo, incluindo áreas distantes do uso desses produtos por uma série de outros fatores como doenças originadas por parasitas como a Varroa, fungo Nosema, infecções bacterianas, suscetibilidade das espécies, melhoramento genético, falhas na nutrição, problemas sanitários das práticas apícolas, desmatamento, espécies invasoras, condições climáticas, além de uso incorreto de defensivos agrícolas, entre outros fatores.

A relação dos defensivos agrícolas com a mortalidade das abelhas motivou o Ibama a desenvolver um trabalho de reavaliação ambiental dos produtos disponíveis no mercado, baseado nos indícios de mortalidade de abelhas, que passaram a ocorrer no Brasil6. Atualmente, Instruções Normativas Conjuntas do Ministério da Agricultura e do Ibama n° 01/2012, 30/2013 e 01/2014 determinam restrições para a aplicação de defensivos à base de Imidacloprido, Tiametoxam, Clotianidina e Fipronil7.

Neste sentido, o setor de defensivos agrícolas tem investido em iniciativas de pesquisas, a exemplo do MAP no Estado de São Paulo, que também avalia o fator diretamente relacionado ao defensivo e os resultados até agora apontam para o uso incorreto dos defensivos agrícolas, dentro e fora do ambiente agrícola, como um fator de atenção. Se aplicados corretamente, na quantidade e frequência indicadas nos rótulos, bulas e materiais informativos obrigatórios por lei, os defensivos agrícolas são seguros para pessoas e para o meio ambiente e eficazes no objetivo de proteger culturas visando produtividade no campo e qualidade de consumo dos frutos.

Técnica de aplicação de defensivos agrícolasEstaria a solução – pelo menos em 50% dos casos – na tecnologia de aplicação? Para o professor Hamilton Humberto Ramos, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), sim. “Vemos que o Brasil, assim como alguns países do mundo, acordou muito tarde para a tecnologia de aplicação. Até a década de 1990, todos sabiam aplicar [os defensivos agrícolas] e o importante era o produto funcionar. Mas, a ferrugem da soja começou a mostrar quem aplicava e quem jogava água na cultura”. Dessa forma, apareceu a necessidade de se rever a prática. “A indústria [de defensivos agrícolas] tem reduzido muito a toxicidade dos produtos, mas ainda existe um caminho muito grande nesse trabalho, englobando os níveis de exposição dos polinizadores aos defensivos agrícolas e isso depende diretamente de tecnologia de aplicação”.

As peculiaridades de cada cultura contam, segundo o professor, para o adequado uso dos produtos em

6 Leia mais sobre a Reaval iação Ambiental do IBAMA no capítulo 7. Bandeira 5.

7 Leia mais sobre a Legislação para Apl icação de Defensivos Agrícolas no capítulo 7. Bandeira 5.

FORMALIzAçãO DO PASTO APíCOLA

A formalização do pasto apícola é medida fundamental para todo o processo de interação entre os setores, por conta da necessidade de comunicação. O apicultor deve contatar o proprietário ou responsável pela área para saber onde é permitido colocar as caixas de abelhas e entender se o local é seguro para manter as colmeias. Além disso, informar a retirada ou a mudança de local das colmeias ao proprietário da área também pode contribuir para evitar possíveis acidentes em períodos de pulverização de defensivos agrícolas.

Sem formalização, não há comunicação entre o apicultor e o agricultor, tampouco avanços no processo de complementaridade. “Defendemos que o produtor deve sempre agir dentro da legalidade, utilizando todas as normas técnicas e toda a legislação pertinente no que se refere às boas práticas agrícolas e todas aquelas que tenham relação com a proteção do meio ambiente, tendo em vista que somos dependentes do equilíbrio ecológico para que tenhamos sucesso nas nossas atividades”, reforça Rodrigo Brito,

presidente da Comissão de Meio Ambiente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Por isso, a localização dos apiários está entre as prioridades desse diálogo. O apicultor deve contatar o proprietário ou responsável pela área (incluindo o órgão público encarregado, se necessário) para saber onde é permitido colocar as caixas de abelhas e, assim, entender se o local é seguro para manter as colmeias. Além disso, informar a retirada ou a mudança de localidade das colmeias ao proprietário da área também pode contribuir no processo.

Com o pasto apícola devidamente formalizado, agricultores podem avisar quando houver a necessidade de aplicação de defensivo agrícola. O uso correto e responsável de defensivos agrícolas garante a eficácia dos produtos na proteção das culturas agrícolas, sem causar perda de abelhas e colmeias, seja das abelhas silvestres (nativas), seja das abelhas criadas para fins comerciais de apicultura.

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“As pessoas

precisam ter

uma visão da

importância

de todas

essas coisas da diversidade e

não só das abelhas, da nossa

mega biodiversidade e também

da questão da agricultura, que

às vezes não é bem entendida

também pela população”.

Roberta Nocelli, UFSCar.

diferentes tipos de condições e fenômenos climáticos. Horário de aplicação, tipos de pragas, tamanho de gotas, luminosidade, classificação da intensidade de ventos, espaçamento de plantas, tipos de aplicação e cultivo são fatores importantes para a aplicação dos defensivos. “Para cada tamanho de gota tem um determinado tipo de vento. Como o agricultor vai entender o que é vento forte, por exemplo? Adequar tamanho de gota está escrito na bula, mas como o produtor faz essa adequação? Qual é a gota mais adequada? Se nós não tivermos uma preparação do trabalhador para saber como tirar proveito dessas informações, vamos continuar tendo problemas”.

O professor Ulisses Antuniassi, da Unesp Botucatu, lembra a importância da abordagem da deriva. “O grande questionamento é a deriva, que vai desde discussões acadêmicas até programas de televisão. O enfoque da certificação (Certificação Aeroagrícola Sustentável8) é abordar de maneira correta, justa e séria essa questão”. Estima-se que dois milhões de trabalhadores no Brasil exercem a função de aplicadores de defensivos agrícolas, o que torna premente a necessidade de formação, garantindo uma aplicação amigável não somente às abelhas, mas também aos trabalhadores e ao meio ambiente. Concluímos assim que os erros de aplicação relacionados à perda de abelhas estão principalmente associados a algumas questões estruturais da agricultura e da apicultura, como qualificação de mão de obra, regulagem de equipamentos, falta de conhecimento para a implantação de pasto apícola, além da informalidade desse pasto com colmeias não identificadas nas plantações. Daí o trabalho intensivo do Colmeia Viva® no sentido de incentivar o diálogo entre agricultores e criadores de abelhas, para a busca de

caminhos em conjunto para uma relação que valorize a proteção racional dos cultivos, o serviço de polinização, a proteção das abelhas e do meio ambiente.

“É importante a conscientização do setor produtivo, que tem a responsabilidade de conhecer a forma de aplicar os defensivos, saber selecionar quais defensivos serão utilizados, o horário de aplicação, para preservar a abelha, mesmo que a abelha não seja importante para a sua cadeia de produção”, reforça Luiz Roberto Maldonado Barcelos, representante da Abrafrutas e produtor de melão e melancia.

Hamilton Ramos , do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), acrescenta que existem técnicas para permitir o uso favorável dos produtos químicos na agricultura.

“A boa aplicação

é aquela que usa

a tecnologia para

colocar o produto

no alvo, em

quantidade necessária, de forma

econômica e com o mínimo de

contaminação.

Hamilton Ramos, Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

8 Leia mais sobre o CAS no capítulo 6. Bandeira 4.

O professor trabalha com treinamento de agricultores e técnicos há mais de 20 anos e usa esse dado para sustentar uma quebra de paradigma sobre o agricultor não ser avesso a novas tecnologias. “Dizem que o agricultor usa defensivos agrícolas demais. Mas eu pergunto: quem paga por eles? Quem é o principal prejudicado por comprar um produto e fazer aplicação sem necessidade? Se ele vai vender [o seu produto] a preço de mercado e conhece uma tecnologia que permite produzir mais barato, o lucro dele vai aumentar. Se ele está adequadamente convencido de que num investimento de quatro anos vai ter o retorno e ver isso [favorável] financeiramente, não será contra ganhar dinheiro”.

Trata-se, portanto, de um trabalho forte de disseminação de informações aos principais setores envolvidos no processo sobre os defensivos agrícolas e também sobre outros fatores que influenciam na mortalidade das abelhas. Tom Prado, o principal produtor de melão do Brasil, lembra de outras questões influenciadoras, como a oferta de água e a disponibilidade de alimento. “A resposta mais fácil para dar quando tem um problema na colmeia é que foi o inseticida, sai fácil da boca: foi o inseticida”. Mas, segundo ele, há outras causas possíveis. “Foi a falta de água, a seca ou o alimento”.

A pesquisadora, bióloga e professora do Centro de Ciências Agrárias da UFSCar, Roberta Nocelli, enfatiza que o uso de defensivos agrícolas é uma importante tecnologia de produção aplicada à agricultura e por isso deve ser utilizada com racionalidade e consciência para obter os melhores resultados de sua aplicação e proteger a biodiversidade, entendida tanto de maneira mais ampla, quanto nas diferentes espécies de abelhas. “As pessoas

precisam ter uma visão da importância de todas essas coisas da diversidade e não só das abelhas, da nossa mega biodiversidade e também da questão da agricultura, que às vezes não é bem entendida também pela população”.

A questão, portanto, dentro da perspectiva de proteção a polinizadores, é gerenciar o risco ambiental representado por essas tecnologias.

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RECOMENDAçõES9

Tom Prado enfatiza que o manejo integrado envolvendo a cultura e as abelhas é absolutamente necessário para proteger a cultura agrícola e os polinizadores. A observância de horário tem garantido excelentes resultados, “com a aplicação de defensivos agrícolas somente no período noturno/madrugada, até o limite de 04h00, uma vez que o horário de abertura das flores é registrado por volta das 05h00”.

Se todos seguirem recomendações como esta, cada qual correspondente às características de seu cultivo, Flávia Viana Silva, do Ibama, aponta para a quase não exposição das abelhas aos defensivos agrícolas. Uma medida aconselhada por ela é o apicultor avisar ao produtor sobre a existência de colmeias na região de sua cultura, mesmo não pertencendo a ele. “Às vezes tem consórcio e elas são colocadas sem que o dono da cultura saiba”, explica.

O tamanho do desafio pode ser medido pelas dimensões continentais de nosso país. O Brasil vai de 33 graus de latitude Sul a seis graus de latitude Norte, do Chuí ao Oiapoque, além das extensões Leste-Oeste, contando com diferentes biomas. “Nós temos matas tropical e atlântica, caatinga, pantanal, pampa, com diferentes explorações, e tudo se produz nesse País, frutas tropicais e temperadas, hortaliças, grãos, com uma diferença étnica, social, agrária e de clima muito grande. Então, são diversas camadas que compõem esse desafio”, recorda Décio Gazzoni, pesquisador da Embrapa desde 1974.

Sua experiência, no entanto, mostra ser possível a relação produtiva entre os setores. “Eu trabalho especificamente numa comunidade em Ortigueira, perto de Londrina, onde tem grande produtor de mel do País e essa convivência é muito harmoniosa. Na região, é possível ter colmeias dentro de lavouras. Cada um cedeu uma parte e ficou todo mundo contente, alegre e feliz com pequenas medidas”.

A criação de mecanismos customizados de proteção às abelhas, portanto, é um tema essencial a ser aprofundado em diversos aspectos do agronegócio, respeitando as características de cada cultura e a biodiversidade. “A tecnologia de aplicação tem de ser vista como uma ferramenta e não como uma única ferramenta. Ela precisa entrar num conceito de manejo integrado, ecológico”, finaliza Hamilton Ramos, do IAC.

9 Leia mais sobre recomendações e prát icas para agricultores e apicultores no capítulo 6. Bandeira 4.

“Quanto mais

visitas [de

abelhas], melhor

será o melão no

que se refere a

tamanho, sabor e viscosidade.”

Tom Prado, produtor de melão e apicultor.

61

O desenvolvimento e a disseminação de práticas de aplicação amigáveis às abelhas e viáveis para o agricultor, levando em consideração os diferentes níveis de dependência de polinização das culturas e consequente nível de envolvimento do agricultor com o tema, estão entre as prioridades do setor de defensivos agrícolas para contribuir com a complementaridade no campo.

Identificar técnicas amigáveis às

abelhas, relacionadas à aplicação

de defensivos, customizadas para

culturas dependentes, beneficiadas

e não dependentes de polinização

realizada pelas abelhas.

META ATÉ

2020

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Como já mencionado anteriormente, as abelhas têm papel crucial no meio ambiente, sendo excelentes exemplos de como a natureza atua, de formas por

vezes sutis, na manutenção das sociedades humanas. Além do seu papel relevante na biodiversidade, as abelhas também têm um papel na polinização na agricultura, seja para garantir a produção de algumas frutas, como melão e maçã, seja para aumentar a produtividade de culturas agrícolas que podem ser beneficiadas com a presença de abelhas como alface, morango e soja. Complementar ao trabalho das abelhas é a aplicação correta dos defensivos agrícolas, que existem para proteger os cultivos das pragas e garantir que o alimento chegue à mesa.

Por isso, está entre os principais desafios do Colmeia Viva® o envolvimento de toda a cadeia de distribuição dos defensivos agrícolas, composta não somente por equipes de vendas e marketing das empresas associadas signatárias, como também por distribuidores, revendas e cooperativas de defensivos agrícolas. Afinal, são dois milhões de

Conscientização da cadeia de distribuição sobre a importância da integração agricultura-apicultura

Objetivo: Engajar a cadeia de distribuição (envolvendo equipes de marketing e vendas, distribuidores, revenda e cooperativas) para garantir a orientação para a aplicação correta, minimizando danos à polinização e às abelhas.

6. BANDEIRA

4

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trabalhadores aplicando defensivos agrícolas no Brasil, conforme revela o especialista Hamilton Ramos, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

Para contribuir com a chegada da informação ao campo, o grupo de trabalho do Colmeia Viva® fez um levantamento de toda a literatura disponível sobre o tema, entrevistou mais de 20 especialistas em abelhas (tanto para a polinização, quanto para a produção de mel e outros produtos) e em aplicação de defensivos agrícolas, reuniu as conclusões do MAP1 (Mapeamento de Abelhas Participativo) em suas visitas a campo e ainda os resultados de todos os eventos da iniciativa ‘Diálogos’ realizados pelo Colmeia Viva® até o momento, criando a primeira versão do Manual de Boas Práticas para a Relação mais Produtiva Agricultura-Apicultura.

O documento trata de temas como técnicas de manejo amigáveis às abelhas, incentivo à visitação de abelhas nas culturas agrícolas, localização segura para instalação de apiários, medidas de proteção de apiários, manejo apícola e fontes de alimentação, além de práticas para melhorar a comunicação entre agricultores e criadores de abelhas. Sua missão é construir pontes entre o conhecimento e a prática, servindo de estímulo à cadeia de distribuição, por meio de práticas úteis e informações relevantes para cada integrante do processo.

O exercício foi reunir todo o conhecimento disponível e focar na prática dessa interação entre agricultores e apicultores, conforme explica Paula Arigoni, coordenadora do Colmeia Viva® no Sindiveg. “O Manual é resultado de um trabalho de grande profundidade, para trazer à aplicabilidade no campo toda a informação disponível sobre o tema através de dicas

práticas. A ideia é manter esse material vivo, por meio de constantes atualizações de acordo com as especificidades de cada público de interesse”.

Um dos objetivos do Manual é contribuir com boas práticas e exemplos de sucesso já em vigor para a melhor integração entre agricultura e apicultura, com benefícios para as comunidades locais. A expertise do grupo de trabalho no tema contribuiu para a produção do material, com destaque para os resultados do MAP. Apesar de não ser uma iniciativa voltada às causas de mortalidade de abelhas já presentes na literatura – como doenças e práticas inadequadas – o MAP direcionou visitas de campo, que contribuíram com muitos insights para a produção do Manual.

“O Manual é

resultado de

um trabalho

de grande

profundidade,

para trazer à aplicabilidade no campo

toda a informação disponível sobre o

tema através de dicas práticas.”

Paula Arigoni, Colmeia Viva® Sindiveg.

1 Leia mais sobre o MAP no capítulo 2. Bandeira 1.

65

CURIOSIDADE

Pouco se divulga sobre a preferência das abelhas por determinados tipos de flores, o que significa que nem toda flor disponível na biodiversidade ou nas lavouras é atrativa para as abelhas e nem todas as culturas oferecem os recursos florais necessários para uma dieta saudável. Além disso, a dieta monofloral não é indicada para as abelhas, pois, muitas vezes, um único tipo de flor não é capaz de suprir todas as suas necessidades. O desafio do grupo de trabalho do Colmeia Viva® é aprofundar o conhecimento sobre a atratividade das abelhas, levando-se em consideração a taxa de dependência de polinização.

Com o endosso dos pesquisadores da Unesp e UFSCar, o Manual servirá também de base para a implementação do Plano Nacional de Boas Práticas da Relação Mais Produtiva Agricultura-Apicultura (Bandeira 1), voltado à prevenção de mortalidade de abelhas e mitigação de incidentes, baseado na disseminação de boas práticas de uso dos defensivos e na formalização do pasto apícola entre agricultores e apicultores. Servirá de base também para a Bandeira 3, com as técnicas das culturas dependentes, beneficiadas e não dependentes , e para a Bandeira 4 na conscientização da cadeia de distribuição.

A premissa está nas práticas de manejo agrícola e apícola sob medida, de acordo com as características de cada cultivo e incluindo a sua taxa de dependência do serviço de polinização realizado pelas abelhas: culturas dependentes, beneficiadas ou não dependentes de polinização2.

2 Leia mais sobre o grau de dependência das culturas no

capítulo 5. Bandeira 3 e no site www.colmeiaviva.com.br

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Compreender corretamente esse grau de dependência por cultivo contribuirá em todo o processo, guiando o tipo de atitude a ser tomada por agricultores e criadores de abelhas. Adquiridos os conhecimentos necessários, o agricultor poderá usufruir do valor da polinização no aumento da produtividade de sua cultura – no caso das dependentes e beneficiadas pela polinização – ou definir se as medidas de manejo agrícola têm como objetivo proteger as abelhas, especialmente nas culturas classificadas como não dependentes.

Já o criador de abelhas conseguirá definir melhor onde deve instalar seus apiários, por saber que nas culturas classificadas como não dependentes os recursos florais são de menor qualidade e menos atrativos para as abelhas, além de o manejo agrícola não ser focado na atração de abelhas para a plantação, o que demanda alimentação suplementar.

Desta forma, as abelhas podem usufruir de uma dieta saudável, aumentando a produtividade e a qualidade dos produtos do apiário.

O agricultor pode preparar a lavoura

para receber de forma correta

a visitação das abelhas, o que

beneficiará sua produção agrícola

e a biodiversidade.

CULTIVOS DEPENDENTES E BENEFICIADOS

As culturas agrícolas classificadas como dependentes da polinização são geralmente frutas, itens importantes na diversificação da alimentação humana e naturalmente muito atrativas para as abelhas. Em tais culturas, a polinização é incentivada pelos produtores e criadores de abelhas ao mesmo tempo ou ainda por produtores que alugam colmeias de criadores de abelhas para o serviço comercial de polinização na agricultura.

Trata-se, portanto, de um insumo agrícola básico, assim como as sementes ou mudas, os fertilizantes, os produtos para a proteção de cultivos – entre eles os defensivos agrícolas - e a irrigação. Afinal, a perda de produção para essas culturas, quando não polinizadas por abelhas, pode variar entre 40% e 100%.

Já nas culturas beneficiadas, a visitação de abelhas não é essencial, mas pode fazer toda a diferença na produtividade. Para essas culturas, a presença de abelhas pode representar uma grande vantagem competitiva, já que o incremento de produção é de no mínimo 10%, podendo alcançar 40%. A polinização traz benefícios como o aumento da capacidade germinativa, de produção de sementes, da qualidade do fruto – tamanho, uniformidade, textura e sabor – além do aumento da qualidade e quantidade de óleos e fibras, redução da queda do fruto durante o crescimento e aumento de sua vida útil.

O desafio é fazer valer a complementaridade entre a polinização realizada por abelhas e o uso de defensivos agrícolas, já que ambos contribuem para a produtividade no campo e a qualidade dos frutos. Se, por um lado, a polinização favorece a origem e o desenvolvimento dos frutos, por outro, os defensivos agrícolas possibilitam a produção em larga escala, visto que protegem as culturas de pragas, fungos, ervas daninhas e outros predadores de culturas. “Por isso, dizemos que os trabalhos de abelhas e defensivos agrícolas são complementares”, justifica Paula Arigoni, do Sindiveg.

Para que a complementaridade entre a polinização realizada por abelhas e o emprego de defensivos agrícolas aconteça, é fundamental que o uso de defensivos agrícolas seja feito de maneira correta, seguindo boas práticas de aplicação e uso, implementando o Manejo Integrado de Pragas (MIP) e práticas de favorecimento à polinização, como a aplicação dos defensivos agrícolas fora dos períodos de florada, quando assim regulamentado e, se possível, em horários em que não haja a visitação das abelhas, de acordo com as orientações de rótulo e bula e receita agronômica.

3 Apicultura- RELATÓRIO DE INTELIGêNCIA DEzEMBRO 2015:

Polinização Oportunidade ao criador de abelhas/Sebrae.

ENTENDA AS COLMEIAS PARA POLINIzAçãO3

As colmeias para polinização precisam ser de abelhas rainhas jovens, que devem receber alimentos para a postura dos ovos. Quando as colmeias possuem muitas larvas abertas e crias, surge a necessidade da saída para a busca do pólen, intensificando-se os processos de polinização. As abelhas africanas são as mais viáveis para o aluguel de colmeias, por serem predominantes. No entanto, também é possível utilizar as abelhas melíponas no aluguel. A atividade consiste em levar as abelhas para as plantações no período da florada de cada cultura. As colmeias são armazenadas em caixas e transportadas para as propriedades dos produtores, com preço variando entre R$ 60,00 e R$ 80,00 no Sul do Brasil.

CULTIVOS NãO DEPENDENTES

No caso das culturas não dependentes de polinização realizada por abelhas – a exemplo de alimentos básicos de nossa alimentação como milho, trigo, arroz, aveia, feijão, batata, cana-de-açúcar – as culturas são visitadas somente quando não há outras opções florais nas proximidades da lavoura ou ainda quando tais cultivos são utilizados como pasto apícola pelos criadores de abelhas.

Daí a importância dos fragmentos de mata para as abelhas, fontes de recursos florais fundamentais para sua alimentação. No caso das abelhas silvestres solitárias, que não vivem em colmeias, estes fragmentos são também áreas de nidificação, ou seja, para criação de ninhos. Na falta desses “respiros verdes” ao longo da área agrícola, as abelhas acabam forrageando as flores dos cultivos.

Assim, as áreas de cultivos classificados como não dependentes de polinização não são recomendadas para a instalação de apiários porque:

1. Não dependem nem se favorecem de polinização2. Não produzem flores naturalmente atrativas para as abelhas3. Os recursos florais são de baixa qualidade para

as abelhas4. O manejo agrícola não é focado na atração

de abelhas para a plantação

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4 Conheça detalhes da legislação sobre apl icação aérea no

capítulo 7. Bandeira 5.

APLICAçãO AÉREA4

A aplicação aérea de defensivos agrícolas ocorre em 24% da área plantada no País, totalizando oito culturas nacionalmente, quase todas pouco atrativas para as abelhas, por serem cultivos não dependentes de polinização. Trata-se de um meio eficiente e seguro para os trabalhadores da agricultura e para o meio ambiente, uma vez que a atividade é regulamentada. O setor de defensivos agrícolas trabalha constantemente incentivando agricultores a contratarem empresas certificadas pelo CAS – Certificação Aeroagrícola Sustentável –, já que a falta de cumprimento de protocolos e recomendações técnicas e a utilização de equipamentos obsoletos ou incapazes de garantir uma pulverização eficiente e segura são fatores importantes na perda de colmeias e abelhas.

Os registros de mortalidade de abelhas no Brasil não ocorrem em culturas agrícolas dependentes da polinização, como melão, melancia, maracujá e maçã, que utilizam os serviços comerciais de polinização por meio de aluguel de colmeias. Sem as abelhas, os produtores agrícolas dessas culturas sabem que não conseguiriam produzir ou produziriam alimentos de menor qualidade. Nessas culturas é usada a aplicação terrestre como forma de evitar as pragas.

A necessidade de aplicação aérea de defensivos agrícolas para proteger de forma efetiva os cultivos das pragas ocorre em culturas beneficiadas pela polinização, tais como cereais, a exemplo do arroz, milho, aveia, trigo, que de maneira geral são polinizadas com a ajuda do vento. Ou ainda em culturas agrícolas não dependentes da polinização, a exemplo da cana-de-açúcar.

MAIS DIÁLOGO

Aqui no Brasil, o desafio está no diálogo entre agricultores e criadores de abelhas para evitar exposição das abelhas que são colocadas nos cultivos ou próximos a eles, porém sem vínculo formal ou contratual entre ambos .

A Certificação Aeroagrícola Sustentável é um programa de boas práticas na aviação agrícola, que difunde as técnicas de controle dos fatores que levem a uma aplicação eficaz e segura de defensivos agrícolas. Considerando a responsabilidade ambiental como um pilar, o CAS representa um passo importante para a evolução da aviação agrícola e, consequentemente, da agricultura brasileira.

O produtor rural conta com tranquilidade para focar no sucesso da sua produção, enquanto as empresas aeroagrícolas mantém suas equipes preparadas para atuar com produtividade e responsabilidade.

Optar pelo CAS significa:• Ter controle fitossanitário das lavouras• Garantir longevidade da aplicação aérea• Proteger o meio ambiente• Ser um operador com diferencial no mercado• Praticar a aplicação aérea responsável• Mitigar riscos para lavoura, operadores e meio ambiente

A certificação é concedida ao operador aeroagrícola com base na regularidade da sua documentação, incluindo aeronaves e pilotos, e em auditorias de boas práticas. Os procedimentos são válidos tanto para empresas prestadoras de serviços como operadoras privadas.

O CAS dispõe de 2 categorias:• Participante: etapa de entrada do operador aeroagrícola

no programa CAS. Para obter o status de “Participante”, a empresa deverá atender a alguns requisitos, como documentação, operacionalização do processo etc.

• Certificada: etapa em que a empresa se habilita a comprovar técnica e operacionalmente que está apta a operar dentro do conceito de boas práticas aeroagrícolas.

Saiba mais sobre o CAS em: www.cas-online.org.br

CERTIFICAçãO AEROAGRíCOLA SUSTENTÁVEL

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MIP

O uso correto e responsável de defensivos agrícolas garante a eficácia dos produtos na proteção das culturas agrícolas, sem causar perda de abelhas e colmeias. O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma ferramenta importante nesse processo, que coloca o uso dos defensivos agrícolas na agricultura entre outras práticas de controle. Trata-se da utilização de diversos métodos e medidas de manejo que visam manter as pragas sempre abaixo do nível em que causam danos ambientais, sociais e econômicos. O MIP incentiva o uso adequado de defensivos agrícolas, combinando o controle químico e/ou biológico, quando possível, tendo como objetivo uma agricultura mais sustentável.

As várias técnicas de manejo incluem rotação de culturas, destruição de restos naturais da cultura contaminada por pragas, alteração da época de plantio ou colheita, poda ou desbaste, destruição de hospedeiros alternativos, uso de armadilhas, entre outros. Se mesmo com o uso de todas essas técnicas o manejo indicar a necessidade, o defensivo – químico ou biológico - deve ser aplicado conforme instruções de uso do receituário agronômico, da bula e do rótulo do produto, bem como recomendações de boas práticas específicas da atividade.

Outro instrumento a ser utilizado pelo agricultor é a análise da relação – Cultivo-Abelha-Praga-Defensivo (CAPD) –, para a escolha da melhor estratégia a ser utilizada considerando o tipo de cultivo e seu grau de dependência da polinização, condições de florada, tipo de abelha visitante da cultura, pragas que ameaçam o plantio, alternativas de defensivos e condições de aplicação. Essa análise contribui para uma gestão de uso de defensivos agrícolas mais customizada e amigável às abelhas.

De posse desse conjunto de informações, agricultores e criadores de abelhas estarão preparados para um manejo sustentável e seguro para as abelhas. Para isso, essas informações precisam ser compartilhadas nos canais de distribuição dos defensivos agrícolas.

Conheça a seguir algumas práticas fundamentais tanto para agricultores, quanto para criadores de abelhas.

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MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

O Manual de Boas Práticas Colmeia Viva® reúne as principais práticas desenvolvidas por acadêmicos, produtores rurais, criadores de abelhas, órgãos reguladores, fabricantes, associações, entre outros especialistas e indica as principais ações que devem ser adotadas no campo por agricultores e criadores de abelhas para uma relação mais produtiva entre a Agricultura e a Apicultura. São mais de 70 práticas divididas por temas:

Técnicas amigáveis às abelhas: Conjunto de práticas e de regras de aplicação de defensivo agrícola que buscam incentivar a aplicação correta e segura para as abelhas, bem como valorizar o manejo integrado de pragas.

Incentivo à visitação de abelhas nas culturas agrícolas: Práticas que podem ajudar a incrementar a quantidade e a diversidade de polinizadores nas lavouras e, assim, beneficiar as culturas agrícolas pela polinização.

Localização segura para instalação de apiários: Os locais mais indicados e o que deve ser levado em consideração na instalação de apiários, especialmente na relação com defensivos agrícolas.

Medidas de proteção de apiários: Práticas para tornar as colônias mais seguras em áreas próximas de aplicação de defensivos agrícolas.

Manejo apícola e fontes de alimentação: Práticas de manejo para fortalecer a saúde dos apiários e a nutrição de abelhas, que interferem na perda de abelhas sem relação com a aplicação de defensivos.

Comunicação: Práticas importantes para melhorar a comunicação entre agricultores e criadores de abelhas.

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PRÁTICAS AGRíCOLAS PRÁTICAS APíCOLAS

A deriva é a gota que não atingiu o alvo na aplicação aérea. A deriva pode ser prejudicial para as abelhas.

Empregue técnicas para reduzir a deriva:1. Observe as recomendações de segurança na aplicação

(altura de voo* e faixas de segurança - área de bordadura ou buffer zone** - permitidas em zona urbana e rural)

2. Observe as condições climáticas adequadas (vento, temperatura e umidade)

3. Utilize as pontas de pulverização corretas. Empregue o volume de calda e o tamanho de gotas adequado às condições meteorológicas descritas na bula do produto.

**Área de bordadura ou buffer zone:500 metros: distância mínima que a aplicação aérea de defensivos agrícolas, em uma plantação, deve manter da zona urbana (povoações, cidades, vilas, bairros) e de mananciais de captação de água para abastecimento de população

250 metros: distância mínima que a aplicação aérea de defensivos agrícolas, em uma plantação, deve manter de mananciais de água, moradias isoladas e agrupamentos de animais

Nos casos de instalação de apiários em área agrícola, é necessário avaliar o risco de exposição das abelhas à

aplicação de defensivos agrícolas.

• Em culturas não dependentes de polinização e/ou com intensa frequência de pulverização de defensivo agrícola, deve-se evitar colocar as caixas de abelhas na lavoura ou mesmo em áreas próximas, mantendo uma distância mínima de 50 metros fora das plantações. Consulte o agricultor responsável pela área antes de instalar as caixas do seu apiário.

• Em culturas dependentes e beneficiadas pela polinização, é necessário movimentar ou cobrir as caixas para proteger as abelhas da exposição aos defensivos.

Consulte a taxa de polinização das culturas no site www.colmeiaviva.com.br

Escolha locais seguros para a instalação de caixas de abelhas. Coloque as caixas, no mínimo, a 300

metros de residências, estradas, lavouras, movimento de pessoas e escolas. Para instalação de um apiário em áreas de mata, o ideal é de 50 metros e, no mínimo, 20 metros para dentro da mata.

* 3 a 5 metros: é a altura recomendada que os aviões agrícolas podem sobrevoar a cultura para fazer a aplicação de forma segura e compatível com o controle de pragas. Voar na altura correta reduz os riscos de deriva e contaminação dos apiários em áreas de mata.

Saiba mais como empregar as técnicas para reduzir a deriva, acessando o manual completo no site www.colmeiaviva.com.br.

Observe as recomendações de horário de aplicação e temperatura indicadas nas bulas dos defensivos

agrícolas. A atividade das abelhas nas flores costuma ser maior no período da manhã. Evite, se possível, a aplicação de defensivos neste período.

Se sua cultura é dependente ou beneficiada por polinização, cultive no entorno plantas de floração

atrativas às abelhas sem competir com as floradas das culturas, horário de polinização e recurso produzido (pólen, néctar, óleo ou resina). Assim, as culturas podem ser polinizadas e, após a colheita, as espécies atrativas proverão alimento às abelhas.

Se sua cultura não é dependente de polinização, cultive no entorno plantas de floração atrativas às

abelhas de preferência que floresçam durante todo o ano. Assim, as culturas deixarão de ser opção de fonte de alimento às abelhas.

As áreas de mata são importantes fontes de recursos florais para as abelhas e quanto mais próximos de

outros fragmentos, mais facilmente a abelha consegue se deslocar e suprir suas necessidades, evitando a presença na cultura agrícola. Ao recomendar áreas para instalação de apiários a apicultores, considere áreas próximas, em média 2 km, e não ilhas isoladas. Manter a biodiversidade também aumenta a quantidade de inimigos naturais às pragas, propiciando um controle biológico natural.

Para formalizar o pasto apícola é preciso ter a autorização do agricultor, quando for em área privada.

Para realizar a atividade da apicultura em áreas de mata, pode ser necessário solicitar também autorização do órgão ambiental do estado ou do município. Isso vai depender do nível de proteção que está atribuído à área. O cartório de registro de imóveis e os órgãos de agricultura do município são alguns locais onde se podem encontrar informações sobre áreas protegidas. Mas ter essas regularizações de instalação não desobriga as exigências legais para produção de mel.

Ao ser notificado sobre a aplicação de defensivos na área, realize medidas de proteção, como transferência

de local ou fechamento das caixas, evitando os riscos de exposição das abelhas aos produtos. Confirme com o produtor agrícola o intervalo de segurança do defensivo – esse será o tempo de confinamento.

Recomenda-se visitar as colônias pelo menos uma vez por semana para realizar as atividades

de manejo. Durante a visita, o criador de abelhas deve avaliar a disponibilidade de alimento e a necessidade de suplementação, o estado de saúde da colônia e se sofreu ataque de pragas e doenças, o comportamento higiênico da colônia, a taxa de postura (colocação de ovos), o nível de mortalidade e se houve ataque de outros animais. Verifique também a disponibilidade de água. Ao instalar caixas de abelhas, observe o potencial apícola da região, ou seja, se existem floradas regulares ao longo de todo o ano que vão fornecer alimentos e outros recursos florais para as abelhas e ajudar no rendimento do mel.

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Estas são algumas práticas que podem ser consultadas no manual completo no site www.colmeiaviva.com.br

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A forma de aplicação segue como grande chave para a proteção das abelhas e do meio ambiente, conforme explica Leonardo Minaré Braúna, representante da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil).

“Estudamos

a pressão, o

tipo de gota a

ser aplicada

e a deriva em

vários estados, tentando achar uma

aplicação mais perfeita possível para

evitar dano tanto para o apicultor

como para o agricultor”.

Leonardo Minaré Braúna, Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil).

Hamilton Humberto Ramos, do (IAC), lembra dos avanços tecnológicos na produção dos defensivos. “No sistema de produção, a tecnologia de aplicação tem de ser usada como um bisturi e não como uma foice. Por isso, os produtos estão cada vez mais específicos, pois dessa forma exercerão a sua melhor função na planta. Então, precisa analisar o produto, a tecnologia, o controlador, ou seja, o conjunto”.

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O ExEMPLO DE BOA PRÁTICA DO EUCALIPTO

O Programa Colmeias é o resultado de uma parceria entre a Fibria Celulose e as comunidades dos Estados da Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e São Paulo. Sua missão é contribuir para o aperfeiçoamento da atividade apícola nas unidades florestais da Fibria, implantar novas tecnologias com apicultores, produtores rurais e da agricultura familiar, além de organizar de forma sustentável a cadeia produtiva do mel, a partir do fortalecimento de associações e cooperativas de apicultores. Como resultado, melhoria na geração de renda e da qualidade de vida nessas comunidades .

De base florestal, a empresa possui um milhão de hectares de floresta distribuído em seis estados brasileiros, com grande demanda de apicultores para utilizar a área como pasto apícola, em razão do potencial da floração do eucalipto. O programa atende a essa demanda das comunidades locais de forma sustentável e como meio de promover o fomento ao desenvolvimento econômico local pelo uso racional e múltiplo da floresta.

Os maiores beneficiados são os apicultores, seja por meio de associações, seja por meio de cooperativas. Todos os participantes têm acompanhamento gratuito de desenvolvimento e profissionalização de suas atividades, além de acesso às políticas públicas, como o Programa para Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

As associações são capacitadas em gestão e comercialização. Para cada colmeia instalada dentro da área da empresa, dois quilos de mel são destinados à associação de apicultores, criando dessa forma um fundo de reserva que serve para subsidiar o crescimento da entidade.

Para o apicultor, entre os benefícios está a exploração desses territórios para a criação da espécie Apis mellifera destinada à produção de mel e seus subprodutos. Já no caso da empresa, que investe em treinamentos intensivos aos apicultores e adoção de medidas amigáveis, a relação sustentável com as comunidades locais teve como benefício adicional passar a contar com profissionais treinados em combate ao fogo, primeiros socorros e uma série de metodologias e procedimentos aplicados nessa extensão florestal. Entre os resultados mencionados está a ausência de problemas de incêndio florestal ao longo desses 12 anos de convivência com os apicultores.

O analista de sustentabilidade da Fibria Celulose, Israel Batista Gabriel, lembra que em um primeiro momento, há mais de uma década, esse tipo de integração era impensável, uma vez que permitir a apicultura na floresta

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“Temos

conseguido

mensurar e

começado

a valorar

quanto a empresa desembolsaria

para pagar uma vigilância

patrimonial para percorrer toda

essa área que hoje os apicultores

estão rodando. Quando a gente

começa a colocar no lápis e mostra

[os ganhos] para a diretoria, o

benefício é percebido”.

Israel Batista Gabriel, Fibria Celulose.

de eucalipto significava risco de fogo – o maior do negócio florestal – para dentro da cultura. A plantação de eucalipto é reconhecida por sua densidade e concentração de biomassa, o que a torna, além de incendiária, propícia ao rápido alastramento das chamas.

Não bastasse essa realidade, o negócio vivia em conflito com a apicultura, porque era muito comum a empresa fazer uma operação florestal e encontrar colmeias entre as árvores de eucalipto. “Ninguém sabia de quem era aquele apiário, o que trazia um transtorno muito grande para a empresa. Tínhamos de parar toda a operação e tentar identificar o apicultor. Geralmente, ele não aparecia, pois não tinha autorização e temia alguma represália, preferindo perder a colmeia a se apresentar”, comenta.

Outra situação problemática era o ataque por enxame a funcionários. Diante dessa conjuntura, a empresa providenciava a remoção dos apiários, que depois de algum tempo eram reinstalados em locais diferentes dos anteriores. Era premente a demanda por regularizar essa situação. Ao mesmo tempo, havia uma necessidade muito grande de relacionamento com os apicultores, atrelada à licença social para operar. Era preciso construir uma relação com os moradores locais, com vistas a gerar oportunidades para a aproximação e transformação dos conflitos em benefícios para ambas as partes.

Da adequada gestão de todos esses fatores nasceu o Programa Colmeias de geração de trabalho e renda. “Num primeiro momento do programa, a relação ganha-ganha era o apicultor realmente produzir mel e gerar renda com aquela produção, enquanto para a empresa era criar trabalho e contribuir com o desenvolvimento da região,

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são muito animadores. “Nesse um milhão de hectares de florestas, contamos com 800 apicultores, de 29 associações. Cada um deles atua como se fosse vigilante patrimonial dentro das nossas áreas”, comemora.

A Fibria Celulose está realizando um trabalho de mensuração para verificar as ocorrências ligadas a incêndios florestais, feitas por apicultores por meio de um número 0800. “Temos conseguido mensurar e começado a valorar quanto a empresa desembolsaria para pagar uma vigilância patrimonial para percorrer toda essa área que hoje os apicultores estão rodando. Quando a gente começa a colocar no lápis e mostra [os ganhos] para a diretoria, o benefício é percebido”, explica Gabriel.

Segundo ele, 2015 foi um ano muito atípico para a área florestal, em razão da ocorrência de muitos casos de enxameação natural. Todas as vezes em que o fenômeno ocorre as operações são suspensas. “O pessoal da segurança isola a área, mas mesmo assim, tivemos casos de incidentes com picadas de abelhas. Em um deles, o colaborador era alérgico”. E para a surpresa das lideranças da empresa, a solução desse problema partiu justamente dos apicultores, que fizeram um controle de enxameação, através de caixas de capturas e caixas iscas. Um projeto paralelo com esses apicultores então foi feito em toda a área operacional, com movimentação de pessoas, equipamentos, viveiro, produção de mudas, instalações e uma série de caixas iscas. “Já com certa metodologia, estamos preparados para capturar enxames, que eventualmente, passem por um local”.

Essa ação dos apicultores resultou na redução de quase 100% de casos de incidentes com abelhas provocados por enxameação, de acordo com Gabriel. Assim, a operação

florestal tornou-se totalmente integrada ao manejo da apicultura, de maneira que uma atividade acontece independente da outra, sem causar nenhum prejuízo ou transtorno aos envolvidos.

A Fibria não registrou nenhum

acontecimento de perda de colônia em

decorrência de produtos químicos.

A floresta de eucalipto tem um ciclo de vida de sete anos, desde a muda até a colheita, e 80% de seu manejo ocorre nos dois primeiros anos. O restante acontece nos cinco anos seguintes, de forma gradual. Embora não na mesma escala da cultura agrícola, nas plantações de eucalipto há também a aplicação de defensivos agrícolas. No entanto, a Fibria não registrou nenhum acontecimento de perda de colônia em decorrência de produtos químicos. “Nunca houve nenhum caso, porque temos uma metodologia muito voltada para o diálogo. Se a comunicação falha entre uma das partes, vai ter alguma consequência lá na frente, então a gente previne isso através de um plano de comunicação entre apicultor e operação da empresa muito forte”, contou Gabriel.

Sendo assim, todo o espaço com apiário passa por uma varredura georreferenciada, pelo sistema de GPS, antes e depois da instalação de colmeias. Atualmente há muitos apicultores espalhados pelas áreas florestais da Fibria, o que resulta no fato de estarem, às vezes, bem próximos das áreas de aplicação de algum defensivo agrícola. Mas

promovendo o relacionamento e, consequentemente, a licença social para operar”, acrescenta Gabriel.

Com o passar do tempo, o programa ganhou corpo, proporcionando novos vínculos e a expansão dessa relação ganha-ganha, até então despercebida. Os resultados

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Conhecer a relação das culturas com a taxa de polinização é passo fundamental para uma gestão integrada e a adoção de boas práticas o grande caminho para a relação ganha-ganha entre agricultura e apicultura. Por isso, o Colmeia Viva® reafirma seu compromisso com a complementaridade entre os setores e disponibiliza o Manual de Boas Práticas para a Relação mais Produtiva Agricultura-Apicultura. Para baixá-lo, acesse www.colmeiaviva.com.br

MOBILIzAçãO

Para Ulisses Antuniassi, professor da Unesp Botucatu, a mobilização já existe e representa um grande avanço. “Já passamos da fase em que buscávamos culpados únicos para a interação dos problemas que temos de enfrentar e caminhos para avançar no assunto. Todos os elos da cadeia estão devidamente mobilizados para o passo seguinte. Provavelmente esse passo envolve a adoção de boas práticas em todos os segmentos, o incentivo por parte das cadeias produtivas, das organizações de consumidores, do governo na forma de normas e legislação, do setor privado na questão do retorno econômico.

“Estamos num

momento muito

importante,

de maturidade

dessa discussão”.

Ulisses Antuniassi, Unesp Botucatu.

como há um planejamento focado em prevenir ação nociva contra as abelhas, o setor responsável gera informação sobre o fato, que chega rapidamente aos apicultores.

Havendo a necessidade, eles retiram as colônias do ponto que sofrerá a interferência do produto até finalizar o período de carência da aplicação, prevenindo, dessa forma, qualquer risco. “Se não é possível retirar aquele apiário porque está num período de produção e, por isso, vai causar impacto negativo, a gente aciona a assistência técnica que trabalha junto com o apicultor. A equipe orienta como proteger as colmeias e minimizar possíveis danos”. De acordo com Gabriel, a empresa desenvolveu ao longo de dez anos diversas práticas, visando resguardar as colmeias. “O mais forte realmente é a comunicação. A gente preza muito pela comunicação entre o apicultor e a empresa”.

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A adoção de boas práticas é premissa para o uso correto dos defensivos agrícolas, cujas orientações estão previstas em rótulo e bula. No entanto, o setor de defensivos agrícolas reconhece que a força da disseminação da aplicação correta está focada na área de vendas e marketing das associadas signatárias e de toda a cadeia de distribuição espalhada pelo País.

Neste sentido, as informações reunidas na primeira versão do Manual de Boas Práticas Agricultura-Apicultura cumprem seu papel de contribuir para a chegada de informação de qualidade ao campo, com vistas as facilitar a adoção de boas práticas.

META ATÉ

2020

Capacitar 100% das equipes de vendas

das empresas signatárias até 2018 e

impactar 70% da sua rede de distribuição

de produtos nas áreas-foco, representadas

pelos Estados de São Paulo, Rio Grande do

Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais,

Bahia e Goiás até 2020.

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A criação de um espaço de diálogo aberto sobre agricultura, apicultura, abelhas e defensivos agrícolas é o grande propósito que tem permeado

os encontros promovidos pela iniciativa Colmeia Viva® - Diálogos, em seu papel de estimular uma relação mais produtiva entre agricultura-apicultura e a proteção das abelhas. Essa troca e geração de conhecimento colaboram com a própria regulamentação do setor de defensivos agrícolas no tema que envolve as abelhas. Nesse sentido, o foco das discussões se dá na interação da aplicação de defensivos agrícolas e as abelhas.

Desde 1989, quando foi sancionada a Lei dos Agrotóxicos 7.802, determinando que o registro de produtos fosse avaliado também pelo prisma ambiental, coube ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a responsabilidade de realizar a avaliação no meio ambiente. Ainda assim, cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a avaliação na saúde e ao Ministério da Agricultura e Pecuária e Abastecimento (Mapa) a agronômica.

Objetivo: Colaborar na criação de mecanismos de regulamentação para a proteção e segurança das pessoas, do meio ambiente e das abelhas.

7. BANDEIRA

5Transparência e proatividade na relação com o governo em prol do uso correto de defensivos agrícolas e da proteção das abelhas.

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83C O L M E I A V I V A ® 2 0 1 7

A concessão do registro federal tem validade indeterminada e a observação de efeitos indesejáveis que não foram previstos na avaliação deve levar à abertura de um processo de reavaliação. A reavaliação ambiental em produtos, com indícios de risco ao meio ambiente, é feita com fundamento na Lei dos Agrotóxicos nº 7.802/1989, regulamentada pelo decreto nº 4.074/2002 e a Instrução Normativa Conjunta n° 2/2006. Além desses instrumentos, a Instrução Normativa 17/2009 instituiu os procedimentos administrativos no âmbito do Ibama, para a reavaliação ambiental dos defensivos agrícolas, seus componentes e afins.

No caso das discussões em torno das abelhas e o uso de defensivos, ocupa lugar de destaque a reavaliação ambiental dos defensivos agrícolas, realizada pelo Ibama, nos Neonicotinóides (Imidacloprido, Tiametoxam

e Clotianidina) e no Pirazol (Fipronil). Reavaliações ambientais deste âmbito também ocorrem na Europa, Canadá e Estados Unidos.

O Ibama trata também da avaliação de risco dos agrotóxicos para abelhas com a recente publicação da Instrução Normativa (IN) 02/2017, sobre os procedimentos para uma avaliação de risco ambiental, baseada nas abelhas.

“Cada país tem suas particularidades e é razoável supor que encontre soluções diferentes em função de suas características ambientais e realidade agrícola”, afirma Vera Lúcia Imperatriz Fonseca, da Universidade de São Paulo, uma das mais renomadas autoridades acadêmicas especializadas em abelhas, que faz parte do IPBES.

Segundo Marcio Freitas, representante do Ibama que esteve presente no início da discussão e nos diálogos promovidos em sua gestão no período de 2013-2016, a realidade brasileira é totalmente diferente da realidade de outros países, tanto do ponto de vista ambiental, quanto das práticas de manejo adotadas. Assim sendo, uma decisão tomada com base unicamente em dados de outros países seria certamente questionável.

O processo de reavaliação ambiental de forma sistematizada começou, de fato, no momento em que as primeiras verificações indicaram alto risco de contaminação para alguns produtos específicos, como os Neonicotinóides e o Fipronil, além dos relatos sobre eventos de mortalidade de abelhas em outros países. Por esses motivos, os registros desses produtos começaram a ser reavaliados do ponto de vista ambiental.

“Esse processo trouxe a mobilização dos atores envolvidos. Motivou eventos, discussões e provocou pesquisadores, tanto das universidades quanto da Embrapa e de uma série de outras entidades de governo, para que o Ibama esclarecesse e trouxesse à luz o que tinha por trás dos fenômenos que estavam acontecendo. Isso deu alguma visibilidade internacional e passamos a ser chamados em vários eventos internacionais que discutem esse tema”, refletiu Marcio Freitas.

Para melhor compreensão sobre o tema, o primeiro passo é conhecer as definições dos principais aspectos do processo, a exemplo da conceituação de ‘risco’. Na definição utilizada pelo Ibama, o ‘risco’ consiste na probabilidade de efeito adverso, resultante da exposição de um organismo vivo a uma única ou mais substâncias tóxicas. A segurança é um conceito oposto ao risco, descrita como a certeza calculada de que aquela exposição não irá decorrer de nenhum efeito adverso.

“Já o efeito adverso é a mudança na fisiologia, morfologia, crescimento, desenvolvimento, reprodução ou tempo de vida de um organismo, sistema ou população, resultando em uma incapacidade funcional, ou incapacidade em compensar o estresse adicional, ou um aumento na suscetibilidade a outras influências”, explica Flávia Viana Silva, analista ambiental do Ibama.

A avaliação de risco ambiental consiste no processo de verificar a probabilidade de um efeito ecológico adverso que possa ocorrer ou esteja ocorrendo, como resultado da exposição de um organismo a um ou mais defensivos agrícolas ou a outros produtos.

“Mesmo

que acuse

risco nesse

momento

inicial,

não significa que o risco exista

de fato, porque é uma exposição

superestimada. Pode ser que

ainda com refinamento chegue-se

à conclusão de que o produto não

contém substâncias nocivas”.

Flávia Viana Silva, Ibama.

Ao ter como base os conceitos sobre risco, avaliação de risco e efeito adverso, é possível aprofundar o entendimento sobre a metodologia aplicada pelo Ibama nos processos de reavaliação ambiental dos defensivos agrícolas em relação às abelhas, que são os organismos indicadores de insetos polinizadores.

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Fonte: Apresentação do Ibama – Diálogos 2016.

Conduzida pelo Ibama, a reavaliação ambiental é um processo técnico, envolvendo uma série de estudos analíticos e incluindo a avaliação de toxicidade para organismos não-alvo dos produtos. Trata-se de estudar os efeitos crônicos e subletais, além dos resíduos, fundamentalmente em néctar

e pólen, que levam à identificação do grau de risco a que os organismos não-alvo estão sendo expostos. A metodologia padronizada de reavaliação ambiental dos defensivos agrícolas se apresenta em quatro fases minuciosas e integradas. Porém, não é preciso finalizar uma etapa para seguir adiante.

• Cenários (solo + cultivo + clima) • Fontes, distribuição e concentrações

esperadas no ambiente• Vias de exposição• Estudos dos registrantes• Uso de modelos preditivos• Dados de monitoramento• Dados de literatura

• Hipótese de risco• Todas as informações disponíveis• Diagramas conceituais• Objetivos de proteção• Rótulo / bula• Recomendações de uso propostas

Gerenciamento de Risco

Pla

neja

men

to Se necessário: obter mais

daados, processo iterativo,m

onitorar resultados

Caracterização do Risco

AVALIAçãO DE

RISCO ECOLÓGICO

Caracterização da Exposição

Formulação do Problema

Caracterização dos Efeitos

A fase de formulação do problema gera a base inicial da avaliação de risco ambiental, criando a hipótese de risco. Logo, todas as informações disponíveis são levantadas, construindo, assim, os diagramas conceituais e os objetivos de proteção. Essas informações, no caso considerando os defensivos agrícolas, vão compor os rótulos, as bulas e as recomendações de uso dos produtos avaliados pelos técnicos da equipe, entre outras medidas.

A Fase 1 é o nível mais básico da avaliação de risco ambiental, funcionando como uma ferramenta de triagem. Nesse momento, são aplicados pressupostos conservadores em relação à exposição e utilizadas as estimativas mais sensíveis de toxicidade, provenientes de estudos em laboratório com cada abelha selecionada. Tais pressupostos compõem o chamado cenário de pior caso.

Nessa etapa, a exposição geralmente é superestimada, ou seja, toma-se por base a dose máxima aplicada e considera-se o fato de a substância não sofrer a influência dos fatores ambientais. “Por esse motivo, se a Fase 1 não indicar risco, considera-se que o risco é baixo ou aceitável, não significando, necessariamente, que ele não exista. Esse estágio apenas aponta para um potencial risco. Da mesma forma, não se pode afirmar que há risco, pois vários fatores que influenciarão o comportamento da substância foram propositalmente desconsiderados”, esclarece Flávia.

Nas etapas mais complexas, muda-se o foco da avaliação dos efeitos, saindo do nível individual para o coletivo [a colônia]. Já o foco da avaliação da exposição é redirecionado para chegar a valores medidos em condições de campo. Se o risco se confirma nesse contexto mais realista, pode-se afirmar a sua real existência. Se essa fase indicar a necessidade de refinamento da avaliação, outros estudos serão necessários,

dependendo do potencial de risco indicado. Sendo assim, a partir da Fase 2, a necessidade de estudos passa a ser definida conforme cada caso.

Nessa fase da avaliação, segundo a especialista do Ibama, são requeridos estudos englobando temas envolvendo a toxicidade por contato aguda (abelhas adultas), a toxicidade oral aguda (abelhas adultas e larvas), toxicidade crônica (abelhas adultas), toxicidade oral crônica (larvas) e toxicidade dos resíduos na folhagem (abelhas adultas).

A metodologia integra, ainda na Fase 1, objetivos de proteção gerais e específicos focados na preservação das abelhas. Os gerais buscam proteger os insetos polinizadores e sua biodiversidade e garantem os serviços ecossistêmicos e de polinização, além da produção de mel, própolis, cera etc. e a provisão de recursos genéticos. Já os específicos são mais precisos em termos de qualificação do material a ser protegido e mais diretamente ligados aos procedimentos de avaliação de risco.

REAVALIAçãO AMBIENTAL E A AVALIAçãO DE RISCO

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Representação esquemática da hipótese de risco criada pela equipe de avaliação de risco. Fonte: Apresentação Ibama – Diálogos 2016.

Translocação foliar

Translocação via xilema

AGROTóxICOS SISTêMICOS: APLICAçãO NO TRATAMENTO DE SEMENTESESTRESSOR

FONTE

MODO DE ExPOSIçãO

RECEPTORES

ATRIBUTO MODIFICADO

Cap

tura

dér

mic

a &

inal

ação

Abelhas forrageadoras (trabalhadoras)

Ninho

Rainha***

Resíduos nas sementes

plantadas

Resíduos em pólen, néctar,

exudatos e honeydew*

Tamanho da população e estabilidade das colônias• Redução da força e sobrevivência da colônia• Redução da fecundidade da rainha e

sucesso do ninho• Redução da sobrevivência do indivíduo e

alterações comportamentais

Quantidade e qualidade dos produtos da colmeiaRedução da produção de mel, cera e própolis

Contribuição para biodiversidade de polinizadoresRedução da riqueza e abundância de espécies

*Solução açucarada excretada por afídeos.

**O ninho se alimenta de geleia do ninho e geleia real, mais tarde, no período de desenvolvimento, ele consome pólen e mel processados, enquanto a rainha se sustenta apenas de geleia real.

***A interceptação com partículas de poeira é uma rota de exposição potencial durante voos de orientação e acasalamento.

Deposição nos solos, plantas e água superficial

Alimentação do ninho**

Cera, Própolis

Geleia Real

Processamento do pólen e néctar

Ingestão, produção do favo de mel

Ingestão

Cap

tura

dér

mic

a

inge

stão

Translocação via semente

Um objetivo de proteção específico pode conter, por exemplo, a definição de impacto significativo e de risco aceitável ou inaceitável. Sua definição envolveu a participação de um grupo técnico de trabalho, formado desde 2015 e composto por profissionais do Ibama, da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) e professores da academia.

A Fase 2 é a caracterização da exposição ao produto químico, buscando pré-determinar como os organismos vão ser expostos a certas substâncias, considerando cenários, que são representados pelo conjunto das condições daqueles organismos, que sofrerão as influências. Nela, admite-se também o solo, os tipos de cultivos, o clima, as fontes, as rotas de exposição, o tipo de contato, o determinado defensivo agrícola e as possíveis concentrações do produto.

“Se for detectado o risco, passamos para uma análise nas colônias, a fim de averiguar a sua possibilidade real. Por outro lado, se não for acusado risco [Fase 1], com certeza o defensivo agrícola é seguro. Além disso, mesmo que acuse risco nesse momento inicial, não significa que o risco exista de fato, porque é uma exposição superestimada. Pode ser que ainda com refinamento chegue-se à conclusão de que o produto não contém substâncias nocivas”, esclarece Flávia. Nesta etapa, primeiramente devem ser determinados os resíduos

em matrizes relevantes para abelhas em condições reais de aplicação em campo, considerando o pior caso, novamente.

A Fase 3 são os efeitos do produto avaliado no campo. Com as colmeias presentes no cultivo, depois de utilizados os defensivos agrícolas da forma recomendada, são observados como acontecem ou podem acontecer os tipos de exposições. “Após certo tempo verificamos os itens: danos, mortalidade, força da colmeia e assim por diante”. Por isso, é preciso realizar todas as etapas, sendo a última, a Fase 4, a mais complexa em que acontece o monitoramento para se chegar a dados mais precisos.

Considerando o cenário da área tratada e fora dela, as abelhas podem ser expostas, em decorrência do contato direto com a nuvem da pulverização. Elas estão forrageando e entram em contato com alguma gotícula restante da aplicação ou devido ao consumo direto do néctar e pólen contaminados, ou ainda, pela translocação, no caso de produtos sistêmicos.

De acordo com Flavia Silva, são considerados elementos a colaborar para a reavaliação ambiental: estressor, fontes, modos de exposição, receptores e efeitos em potencial. “Por exemplo, o estressor pode ser um defensivo agrícola sistêmico. As fontes são os variados tipos de deriva. Os modos de exposição podem ser as diversas formas de contato. Os receptores são as abelhas forrageadoras, as abelhas das colmeias e o ninho. Por último, temos o atributo modificado, que pode ser o conjunto de efeitos causados”, explica.

Abelhas da colmeia

(enfermeiras, trabalhadoras,

zangões)

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Deriva doatrito da semente

tratada

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Em um dos diálogos promovidos pelo Colmeia Viva®, Márcio Freitas explicou que “o papel do Ibama é regular para evitar que o uso de substâncias usadas na agricultura traga problemas aos organismos não-alvo ou as ocorrências não intencionais ao meio ambiente do uso de agrotóxico, como contaminação do solo, contaminação da água e perda de biodiversidade”.

Segundo ele, a avaliação de risco foi a ferramenta utilizada para embasar boa parte das decisões tomadas no processo de reavaliação ambiental. “É uma ferramenta fundamental para incorporar no processo de regulação de agrotóxico justamente pela possibilidade de gerenciar o risco e não ficar só no perigo intrínseco da substância”, avaliou.

“Temos uma série de testes em organismos que vão definir o grau de toxicidade do uso do produto. Trabalhávamos com avaliação de perigo dos produtos e classificávamos os produtos em função dessa periculosidade. Hoje já estamos ampliando um pouco para incluir a avaliação de risco”, explicou.

Em parceira com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), foram realizados diversos trabalhos e estudos. Surgiram Instruções Normativas (INCs) conjuntas do Ministério da Agricultura e do IBAMA, como as INCs 01/2012, 30/2013 e 01/2014, que dispõem sobre a aplicação dos ingredientes ativos Imidacloprido, Clotianidina, Tiametoxam e Fipronil.

Durante o procedimento de reavaliação ambiental, algumas medidas de cautela já foram tomadas. Entre elas, um comunicado com regra para ser obedecida pelas empresas fabricantes de todos ou alguns dos produtos em questão. Trata-se da advertência a ser impressa nas bulas e nos rótulos: Esse produto é tóxico para abelhas, a aplicação aérea não é permitida. Não aplique esse produto em época de floração e nem imediatamente antes do florescimento ou quando for observada a visitação de abelhas na cultura. Seu descumprimento constitui crime ambiental.

MEDIDAS CAUTELARES - REAVALIAçãO AMBIENTAL

Como medida de mitigação para estes ativos em reavaliação ambiental, o órgão ambiental indica também que os produtores rurais notifiquem os apicultores, com colmeias localizadas a um raio de 6Km de suas propriedades, sobre possíveis aplicações dos produtos em reavaliação ambiental, com no mínimo 48 horas de antecedência. Além disso, utilizar técnicas para diminuir a deriva - como ajustes de equipamentos e do tamanho da gota - e evitar aplicação sob ventos fortes são outras recomendações, visando a redução do risco.

Ao final do processo de reavaliação ambiental, serão definidas as medidas a serem tomadas para cada produto. Entre elas:

1. Permanecer com o registro sem alterações2. Manter o registro, mediante a necessária adequação3. Propor a mudança da formulação, dose ou método de

aplicação4. Restringir a comercialização5. Proibir, suspender ou restringir a produção ou importação6. Proibir, suspender ou restringir o uso7. Cancelar ou suspender o registro

A reavaliação ambiental tem funcionado como motivação para uma série de discussões sobre novas práticas agrícolas, formas de aplicação, alternativas de manejo, de certificação de aplicadores, medidas de monitoramento de sistemas de alerta, medidas de mitigação de risco aos polinizadores e mais conhecimento.

No último evento Diálogos, o Ibama informou o status da reavaliação ambiental dos Neonicotinóides (Imidacloprido, Tiametoxam e Clotianidina) e Pirazol (Fipronil), que começou em julho de 2012 e conta com uma força-tarefa, unindo aproximadamente 30 empresas que geram os estudos sobre resíduos para oito culturas (cana-de-açúcar, citrus, milho, soja, café, algodão, melancia e melão). Foi solicitado também o RT25 (pesquisa sobre toxicidade residual foliar). Os relatórios finais das investigações sobre resíduos já foram entregues e o Ibama está em fase de finalização.

As análises do Tiametoxam, iniciadas em abril de 2014, estão em andamento no órgão ambiental. Para esse ativo, foram solicitados estudos de resíduos em 13 culturas (cana-de-açúcar, cebola, algodão, café, citrus, feijão, girassol, melancia, melão, soja, tomate, morango e pepino), além de roiba, RT25 e deriva, de acordo com a representante do Ibama, em 2016.

A reavaliação ambiental do Clotianidina teve início também em abril de 2014, quando foram requisitados o RT25, o roiba e estudos sobre deriva e resíduos para seis culturas (algodão, feijão, melão, pepino, soja e tomate).

Já a reavaliação ambiental do Fipronil ainda não teve início. Estima-se que o procedimento tenha início até o final do ano de 2017.

GRUPO DE TRABALHO DE AVALIAçãO DE RISCO AMBIENTAL

Para entender o cenário de forma mais ampla no Brasil, o Ibama lidera uma frente de trabalho responsável pela avaliação de risco ambiental dos defensivos agrícolas nas abelhas. “Até 2010, os produtos eram apenas classificados quanto a sua toxicidade para o meio ambiente”, conta Karina Cham, especialista do Ibama.

O grupo trabalha na questão da aplicação dos procedimentos e critérios de avaliação de risco (incluindo não só toxicidade, mas exposição) para fins de registro de defensivos agrícolas no Brasil. “A questão de proteção de polinizadores e proteção de abelhas é muito mais ampla e não envolve apenas agrotóxicos”, lembra Karina, justificando o foco do grupo no estudo dos defensivos agrícolas em função da competência legal da sua coordenação. Os estudos iniciais conduzidos pelo grupo no Ibama levaram à elaboração de um diagrama conceitual que evidencia as hipóteses de exposição da abelha na aplicação do defensivo nas produções agrícolas1.

No exemplo dado pela especialista, no caso de uma pulverização terrestre, a abelha forrageadora - que está no campo e que leva o pólen e/ou néctar para dentro da colônia -, pode ter uma exposição por contato no momento da aplicação ou exposição oral pelo consumo de néctar contaminado, expondo também as abelhas da colônia no seu retorno. A partir desse quadro de hipóteses, o grupo trabalha na solicitação de informações, testes e estudos para averiguá-las.

1 Saiba mais na página 90.

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Para detectar a possibilidade de contaminação, são realizadas algumas perguntas interrelacionadas:• O produto é aplicado na floração? • A cultura é visitada por abelhas? • Há exposição delas dentro da área?• O produto é sistêmico? • Pode haver exposição por translocação?

A partir das respostas e cruzamento de informações, o próximo passo é a classificação sobre o fato de haver ou não a possibilidade de contato e, consequentemente, o risco. Caso seja confirmada a exposição, é realizado um cálculo para atribuição de um valor, a fim de se descobrir o nível de Concentração Ambiental Estimada (CAE), por meio de modelos matemáticos.

Essa valoração é utilizada na Fase 1 do processo, podendo, então, oferecer mais clareza para indicar a existência ou não do risco. Definido esse dado, compara-se com os valores de toxicidade. Se for constatado o risco, os estudos passam para uma próxima etapa, de acordo com a melhor indicação naquele momento. Caso não haja risco, encerra-se a avaliação.

Após esses estágios, passa-se para a descoberta e análise dos possíveis efeitos, partindo para a sua caracterização. “Assim, vamos descobrir a magnitude dos tipos de efeitos e qual a relação do defensivo agrícola com a resposta, ocorrências, acidentes e estudos. Também selecionamos os endpoints (resposta mensurável a um estressor), que vão ser responsivos às hipóteses de risco. Conseguimos esses dados através de literatura e, quando há ocorrência de acidentes, buscamos

descobrir detalhes sobre a ingestão para tentar calcular os efeitos possíveis”, explica Flavia.

Os técnicos então começam a caracterizar o risco, que representa a interação da exposição com os efeitos. A partir dessa etapa, definem-se as incertezas, os pontos fortes, as fraquezas e as limitações das análises realizadas. “Atualmente a avaliação de risco que fazemos é determinística. Nós usamos as estimativas pontuais, para fazermos o seu gerenciamento, definindo a tomada de decisão regulatória, utilizando, às vezes, medidas de mitigação para diminuir esse risco constatado. O estudo de avaliação do risco ambiental é só um dos fatores. Há muitos outros que influenciam na decisão a ser tomada, como legais, sociais, econômicos, políticos”.

Após todas essas verificações, é feita a reavaliação ambiental de risco. Estão em reavaliação ambiental atualmente três produtos do grupo químico dos Neonicotinóides e o Fipronil. Em 19 de julho de 2012 foi publicado, no Diário Oficial da União, um comunicado que marcou o início formal do processo de reavaliação ambiental de defensivos agrícolas, relacionados a efeitos nocivos às abelhas.

“O Neonicotinóide corresponde [entre outros] a três ingredientes ativos: Imidacloprido, Tiametoxam e Clotianidina, selecionados devido a indícios de danos em abelhas. Eles apresentam alta toxicidade aguda, são sistêmicos e, por isso, também têm translocação. Estamos fazendo um levantamento, que compõe informações veiculadas na mídia, artigos científicos e denúncias. Nós não fazemos nenhum estudo para checar a presença de algum ingrediente ativo e nem vamos a campo. Então, por isso também a importância da iniciativa de pesquisa do Colmeia Viva® com o Mapeamento de Abelhas Participativo (MAP), porque os grupos de trabalho vão ao local e fazem as análises, diretamente”, pontua Flavia.

HIPÓTESES DE ExPOSIçãO DA ABELHA NA APLICAçãO DE DEFENSIVO NAS PRODUçõES AGRíCOLAS

InGREDIEnTE ATIVO APLICADO POR PuLVERIzAçãO TERRESTRE (FASE 1) - ÁREA TRATADA

ALTERAçõES DE COMPORTAMENTO

REDUçãO DA SOBREVIVêNCIA

REDUçãO DA SOBREVIVêNCIA

TAMANHO DA POPULAçãO E

ESTABILIDADE DA COLôNIA

RESíDUOS NA SUPERFíCIE DAS

PLANTAS

RESíDUOSSOBRE/EM PÓLEN

E NÉCTAR

RESíDUOSNO SOLO

RESíDUOSEM ÁGUA

SUPERFICIAL

TRATAMEnTO DE SEMEnTES

ABELHAS FORRAGEADORAS

REDUçãO DA SOBREVIVêNCIA, CRESCIMENTO E

REPRODUçãO

ABELHAS DA COLôNIA

NINHADA

RAINHA

ESTRESSOR

FONTE/ROTA MEIO DE ExPOSIçãO

RECEPTORES

EFEITOSDIRETOS

EFEITOSINDIRETOS

DEPOSIçãO SOBRE AS ABELhAS

DEPOSIçãOSOBRE AS PLAnTAS

Deposiçãono solo

Deposição na superfície da água

FONTE/ROTA TRANSPORTE

ingestão/contato pelo processamento

translocação translocação

poeira

cont

ato

contato

ingestão

ingestão/contato (cera, própolis, geleia real)

1

12 3

5

6

7 7

4 4

TESTES NECESSÁRIOS PARA

AVALIAR CADA ExPOSIçãO:

1. Teste de toxicidade para

contato (DL50) do produto

formulado (PF)

2. Teste de resíduo em folhas

3. Testes de toxicidade

oral (DL50) do produto

formulado (PF) para avaliar

exposição direta e do

produto técnico (PT) para

avaliar exposição pela via

sistêmica

4. Testes de resíduos

(realizados com o produto

formulado (PF), em

condição de campo, na

maior dose indicada)

5. Testes de toxicidade crônica

(produto formulado — PF)

6. Testes com larvas (com o

produto técnico — PT)

Fonte: Apresentação Ibama - Diálogos 2015.

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A LEGISLAçãO EM VIGOR

A aplicação aeroagrícola, de acordo com a Instrução Normativa do Ministério daAgricultura nº 02/2008, tornou-se restrita à área a ser tratada, observando, dentre outras, as seguintes regras:I. Não é permitida a aplicação aérea de agrotóxicos em áreas

situadas a uma distância mínima de: a) 500 (quinhentos) metros de povoações, cidades, vilas, bairros, de mananciais de captação de água para abastecimento de população; b) 250 (duzentos e cinquenta) metros de mananciais de água, moradias isoladas e agrupamentos de animais; e

II. As aeronaves agrícolas que contenham produtos químicos ficam proibidas de sobrevoar as áreas povoadas, moradias e os agrupamentos humanos, ressalvados os casos de controle de vetores, observadas as normas legais pertinentes.

As Instruções Normativas Conjuntas do Ministério da Agricultura e do IBAMA nº 01/2012, 30/2013 e 01/2014 trouxeram novas restrições para aplicação de defensivos a base de Imidacloprido, Tiametoxam, Clotianidina e Fipronil. Entre elas:I. Estão proibidas, temporariamente, as aplicações de

agrotóxicos a base desses ativos durante a floração das culturas independentemente da tecnologia empregada;

II. Está autorizada a aplicação terrestre de defensivos com esses ativos, conforme os usos indicados constantes dos rótulos e bulas dos produtos;

III. Está autorizada a aplicação aérea dos agrotóxicos a base de Imidaclopido, Tiametoxam ou Clotianidina para as culturas de algodão, soja, cana-de açúcar, arroz e trigo, cujos registros indiquem esse modo de aplicação e uso nessas culturas, quando outras alternativas não se encontrarem disponíveis ou viáveis, conforme anotação a constar no respectivo receituário agronômico;

IV. Os produtores rurais e as empresas de aplicação de

defensivos devem utilizar técnicas que visem reduzir a deriva, tais como ajustar o equipamento para que não sejam produzidas, em percentual elevado, gotas muito finas e não realizar a aplicação com ventos fortes;

V. Nas aplicações aéreas devem ser observadas as distâncias mínimas em relação às áreas de risco, conforme estabelecidas em regulamento específico; o tamanho da gota e a distância de recuo da borda da cultura a ser observada nas aplicações por aeronaves agrícolas, conforme detalhado na norma; e

VI. Os produtores rurais deverão notificar os apicultores localizados em um raio de 6 km das propriedades onde os produtos serão aplicados, com antecedência mínima de 48 horas.

Existe extensa normatização sobre os procedimentos que devem ser adotados para uma aplicação correta e segura de defensivos, de modo a prevenir os seus efeitos sobre as abelhas. Dentre elas, destacam-se:•Lei7.802/89,quedispõesobreapesquisa,aexperimentação,a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências:• Decreto 4.074/02, que regulamenta a Lei 7.802/89.• Instrução Normativa do Ministério da Agricultura nº

02/2008, que aprova as normas de trabalho da aviação agrícola.

• Instruções Normativas Conjuntas do Ministério da Agricultura e do IBAMA nº 01/2012, 30/2013 e 01/2014, que dispõem sobre a aplicação dos ingredientes ativos Imidacloprido, Clotianidina, Tiametoxam e Fipronil.

• De acordo com a Lei 7.802/89 e o Decreto 4.074/02, um defensivo agrícola só pode ser produzido, exportado, importado, comercializado e utilizado no Brasil, se estiver devidamente registrado no órgão federal competente, de acordo com as diretrizes e exigências dos órgãos federais responsáveis pelos setores da saúde, do meio ambiente e da agricultura.

• Os processos de importação, experimentação, produção, comercialização e utilização desses produtos devem ser realizados nos termos estabelecidos por essas normas, sob pena de acarretar em severas responsabilidades administrativas, civis e criminais para os fabricantes, comerciantes e/ou para os próprios agricultores.

• O procedimento de registro de produtos no Brasil impõe a submissão dos respectivos produtos à avaliação agronômica, ambiental e toxicológica nos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Meio Ambiente (MMA), por meio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e Saúde (MMS), por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Seus técnicos se dedicam ao longo de vários anos à análise dos estudos exigidos pela legislação brasileira. Além da análise pelas autoridades federais, os produtos ainda necessitam de cadastro em todos os Estados da federação para viabilizar sua comercialização.

• De igual forma, o uso de defensivos também foi amplamente disciplinado nessa legislação, estabelecendo-se que o uso somente é autorizado se prescrito em receituário agronômico, de acordo com as recomendações contidas em rótulos e bulas.

• O rigor nesse extenso processo de registro garante a eficácia e segurança dos produtos.

A NOVA INSTRUçãO NORMATIVA 2017

Com o intuito de estabelecer diretrizes, requisitos e procedimentos voltados à avaliação de risco ambiental de defensivos agrícolas para abelhas, foi elaborada uma proposta de Instrução Normativa, submetida à consulta pública. A publicação da IN 02/2017 apresenta conceitos relacionados à avaliação de risco dos agrotóxicos para abelhas e divulga novos procedimentos de avaliação dessas substâncias. Trata-se da primeira IN a delinear os procedimentos para uma avaliação de risco ambiental, baseada nas abelhas.

Durante seminário realizado pelo Ibama para apresentação da IN 02/2017, a diretora de Qualidade Ambiental do Instituto, Jacimara Machado, lançou o Manual de Avaliação de Risco de Agrotóxicos para Abelhas, que detalha a aplicação da norma. O Ibama exige dos registrantes de defensivos agrícolas estudos que embasem a avaliação de perigo (toxicidade) e exposição (formas pelas quais o produto pode entrar em contato com organismos), para estimar a probabilidade de risco e estudar formas de controle. A partir dessas informações, são estabelecidas recomendações de uso com a finalidade de reduzir impactos negativos sobre abelhas.

O Ibama publicou também neste ano uma nota técnica com a contribuição do grupo técnico de trabalho formado por integrantes do órgão ambiental, do setor de defensivos agrícolas e acadêmicos especializados em abelhas para a Avaliação de Risco de Agrotóxicos para Insetos Polinizadores. A nota traz um histórico do desenvolvimento da avaliação de risco de agrotóxicos para polinizadores no Ibama e lacunas de conhecimento que necessitam ser preenchidas para a continuação dos trabalhos no órgão ambiental.

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“As medidas

de manejo

permitem

que sigamos

competitivos

em nossa vocação agrícola no

Brasil, ao mesmo tempo tratando

a nossa biodiversidade com todo o

respeito que ela merece. Iniciativas

como o Colmeia Viva® são

exemplos da busca dos melhores

caminhos, com bases técnicas

e com potencial para aplicação

prática, no campo”.

Luis Rangel, Secretário de Defesa Agropecuária no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

A VISãO DO MAPA

Presença constante nas discussões acerca do tema, o Mapa tem participado da construção coletiva de conhecimento, em busca de uma relação mais produtiva entre agricultura e apicultura. Luis Eduardo Pacifici Rangel, Secretário de Defesa Agropecuária no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, é um dos incentivadores do trabalho desde a primeira edição dos Diálogos, firme no propósito de encontrar caminhos viáveis para a produção de alimentos e a proteção da biodiversidade, por meio da complementaridade entre o uso correto dos defensivos agrícolas e o serviço de polinização realizado pelas abelhas.

Para Rangel, a contribuição dos defensivos agrícolas na garantia da agricultura tropical é essencial para a obtenção de culturas de qualidade, em razão das condições climáticas propensas à propagação de pragas e insetos. “Dentro da perspectiva de proteção a polinizadores, é preciso gerenciar a aplicação dos defensivos, integrando o conhecimento agronômico no processo”.

A flexibilidade desse conjunto de medidas - que parecem restrições para uns e permissões para outros - garante o adequado tratamento desse tema complexo, com todas as suas peculiaridades. “As medidas de manejo permitem que sigamos competitivos em nossa vocação agrícola no Brasil, ao mesmo tempo tratando a nossa biodiversidade com todo o respeito que ela merece. Iniciativas como o Colmeia Viva® são exemplos da busca dos melhores caminhos, com bases técnicas e com potencial para aplicação prática, no campo”, conclui Rangel.

A principal motivação da iniciativa Diálogos foi propiciar um ambiente de discussão e troca de conhecimento entre governo, academia e setores produtivos da agricultura e da apicultura, incluindo o setor de defensivos agrícolas no seu papel de proteger os cultivos das pragas sem causar a mortalidade de abelhas.

Desde o início das discussões em 2013, os participantes foram instigados a construir uma visão de futuro sobre como conciliar as tecnologias correntemente usadas em programas de manejo integrado de pragas e a proteção a agentes polinizadores.

Para o Ibama, que lidera o processo de avaliação de risco ambiental e a reavaliação ambiental de Neonicotinóides e Fipronil, os inputs recebidos nestes eventos são valiosos para o processo de reavaliação ambiental. Em todos os anos, os representantes do Ibama e do Mapa estiveram nas discussões.

Para os próximos anos, a iniciativa Diálogos deve seguir com novas edições em 2018 e 2020, com a intenção de manter um espaço para a troca de informações e conhecimentos entre os envolvidos no tema. “Nosso próximo evento ocorrerá em 2018 e será uma ótima oportunidade para a divulgação dos resultados das nossas ações rumo ao cumprimento do Compromisso 2020 do Colmeia Viva®”, celebra Paula Arigoni, coordenadora do Colmeia Viva®.

META ATÉ

2020

Reportar com transparência os

resultados do Colmeia Viva®,

fornecendo subsídios aos

mecanismos de regulamentação

no tema.

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8. CONCLUSãO,

PLANO DE METAS E

INICIATIVAS

Ao longo dos últimos quatro anos, os Diálogos promovidos pelo Colmeia Viva® e o aprofundamento teórico de nosso grupo de trabalho nos conduziram

a conhecer em detalhes a complexidade dessa relação de complementaridade entre os defensivos agrícolas e o serviço de polinização realizado pelas abelhas, além da interação com a agricultura, a biodiversidade e as abelhas.

Esse trabalho nos mostrou diferentes visões e nos apresentou temas-chave para a compreensão do processo, a exemplo da relação mais produtiva agricultura-apicultura, da biodiversidade e agricultura, do papel dos defensivos nessa ligação entre agricultura e apicultura, além da interação das culturas com a polinização realizada pelas abelhas.

Acompanhe nos mapas gráficos a seguir uma síntese das discussões e estudos realizados até o momento. O resultado de todo esse processo serviu de base para a consolidação do Plano de Metas até 2020 do Colmeia Viva®.

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Importância da qualidade dos entornos

com focoem abelhas manejadas

e silvestres

Formalização dos apicultores

Qualificação de apicultores

Manejo da polinização

Manejo de paisagem de entorno

Manejo de colônias

Adequação do manejo agrícola e apícola a

culturas beneficiadas ou dependentes

Conhecimento teórico aplicado

Diversificação no uso de abelhas

em serviço de polinização

•Corredores verdes•Plantas melíferas •Estradas e vias marginais•Código Florestal e APPs

•Consorciamento:Desenvolvimento de conhecimento sobre espécies e aplicabilidade às culturas

Polinização como fator de produção agrícola

Valorização das abelhas e polinização nas práticas agrícolas

e uso dedefensivos

Aplicação: tecnologias de controle e capacitação

Complementaridadedo defensivo e da

polinização

Melhoria contínua em produto

Equiparação entre composição

do produto, cultura, ambiente

e abelhas

Educação e conscientização

RELAçãO MAIS PRODUTIVA AGRICULTURA-APICULTURAComplexidade e Interações

RELAçãO MAIS PRODUTIVA

AGRICULTURA-APICULTURA

MECANISMOS DE REGULAMENTAçãO

MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS (MIP)

INCLUSãO DA APICULTURA NA CADEIA

DE VALOR AGRíCOLA

USO RACIONALDE DEFENSIVOS

VERSUS CONDIçõES E NECESSIDADES LOCAIS

DIFUSãO DE CONHECIMENTO SOBRE

POLINIzAçãO E ABELHAS

VISãO SISTêMICA DE BIODIVERSIDADE

PROFISSIONALIzAçãODO MANEJO DE POLINIzADORES

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Compreensão do conceito de Biodiversidade

Visão decomplementaridade

defensivo-polinização-abelhas

Defensivos agrícolas Polinização

•Funcionamento dos ecossistemas•Serviços ecossistêmicos•Visão sistêmica

Difere em: clima, solo, condições biológicas

• Ampliar conhecimemento no manejo adequado

• Avaliação de risco ambiental de defensivos para abelhas, incluindo rotas de exposição

• Falta conhecimento sobre a diversidade de abelhas• Desafios de regulamentação de nativas• Benefícios / maior produtividade agrícola e otimização de áreas

cultivadas• Serviço de polinização na agricultura / falta conhecimento prático

Produção de pesquisae conhecimento com aplicação prática e

acessível

Extensão rural

Perfil: pequenos produtores

Produção em crescimento

Espécies invasoras

Preocupação com manejo de defensivosBaixa produtividade:

demanda de tecnologias, formação e reciclagem profissional

Informações atuais baseadas em EUA e

União Europeia

• Assistênciatécnica

• Extensãorural• Boaspráticas

• Apiséamaisconhecidaporémgeneralistanapolinização

• Silvestres:85%dasabelhaseasmaisimportantesparamanutençãodeáreasnaturaisecultivadas

•Substituem as nativas•Competição por alimentos•Impacto negativo na

biodiversidade•Transmissão de doenças

MMA/Ibama: Avaliação de Risco Ambiental para

polinizadores

Convenções e Tratados: ECO92,

Nagoya 2010, COP 2015

MAPACertificação de

Produção Integrada em

desenvolvimento

Problemas estruturais na

agriculturaVocação para a

agricultura

• RelevânciaparaoPIB:crescimentodasexportaçõesedoconsumointerno

• Conhecimentotécnico:mecanização,múltiplassafras,irrigação,rotaçãodeculturas,defensivos

• Altaprodutividadeeotimizaçãodeáreasplantadas

• Atributosnaturais

•Impacto na população de abelhas: dieta alimentar, desacoplamento, metabolismo e imunidade•Manutenção da paisagem,

recuperação de áreas degradadas e habitat fragmentado•Diversidade e qualidade das

áreas de entorno•Impacto em: cobertura

vegetal, florescimento, ciclo água-chuva, ciclo biogeoquímico, fenologia das plantas

Ecossistemas naturais x

agrossistemas

Abelhas silvestres:importante

instrumento na manutenção da biodiversidade

MMA incentiva integração dos sistemas

agroflorestais

Grande extensão de florestas utilizadas de

forma sustentável na

agricultura

Investimento em formação e reciclagem de profissionais

Fortalecimento da assistência técnica

IPBESPlataforma

Intergovernamentalde Serviços

Ecossistêmicos e Biodiversidade

• Reserva legal: prática exclusiva no Brasil

• Atributos naturais• Conhecimento técnico• Alta produtividade• Otimização de áreas

cultivadas

BIODIVERSIDADE E AGRICULTURAComplexidade e Interações

BIODIVERSIDADE E AGRICULTURA

ASPECTOSREGULATÓRIOS

MEGABIODIVERSIDADE DO BRASIL

CONHECIMENTO E EDUCAçãO

PRODUçãO APíCOLA

USO DE TECNOLOGIA

BRASIL E A PRODUçãO DE ALIMENTOS

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Necessidade de formalização e

profissionalização

Mortalidade: saber identificar diferentes

causas e prevenir

Baixa tecnologia e envelhecimento do

segmento

Valorização e estruturação do serviço

de polinização

Adequação de tecnologias à realidade

nacional

Avaliação de risco ambiental (inclui

exposição)

Motivação: status da polinização, efeitos em abelhas e declínio em outros

países

Desafio: alteração das condições regulatórias de produtos

Foco:efeitos nas

abelhas e resíduos de produtos

Influência da Apicultura nas abelhas silvestres

•CCD e mortalidade não são focos de análise

•Novas tecnologias mais seguras ambientalmente•Manejo e práticas agrícolas alternativas•Aplicação defensivos: novas formas,

certificação e monitoramento•Medidas de mitigação•Certificação de produção integrada (Mapa)

DEFENSIVOS E A RELAçãO COM A AGRICULTURA E APICULTURAComplexidade e Interações

MIP:repensar e usar

efetivamente

Melhoria contínua e

inovação em produtos

Fiscalização, regulação e políticas públicas

Expansão da fronteira agrícola Faltam informações

sobre Apicultura (identificação nexo

causal da mortalidade)

Visão sistêmica e aplicabilidade

Uso racional de defensivos

Polinização como fator de produção

agrícola

Boas práticas na aplicação e uso de

defensivos

•Manejo e consumo de:- Falsificados- Vencidos- Contrabandeados- Sem receituário- Uso não autorizado

•Defensivos naturais/biológicos•Moléculas mais seletivas

•Hierarquia de técnicas•Recomendação em rótulos•Campanhas e treinamentos

•Produção pelo viés da polinização (beneficiadas e/ou dependentes)•Nivelar níveis de conhecimento•Como aplicar na prática

•Sem defensivos: redução de 50% da produção agrícola•Controle de pragas exóticas•Demanda: aumento na produção de alimentos

DEFENSIVOS E A RELAçãO COM A AGRICULTURA E

APICULTURA

CONSCIENTIzAçãOAPICULTORES

INTEGRAçãO

CONSCIENTIzAçãO: PEQUENOS E GRANDES

PRODUTORESREAVALIAçãO

AMBIENTAL IBAMA

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Otimização no uso de área agrícola

Impacto na diversidade de sistemas naturais

Valorização do serviço de polinização em sistemas naturais e agrossistemas

Cultivos dependentes de polinização x cultivos

beneficiados pela polinização

Desafio: manutenção da variedade

de alimento

Os alimentos não vão acabar

Cultivos agrícolas beneficiados pela

polinização

•Mais qualidade•Maior concentração de óleos

(oleaginosas)•Menores custos de colheita•Mais resistentes às pragas•Maior capacidade de vingar•Maior produtividade

•Abelhas são os principais polinizadores

INTERAçãO DAS CULTURAS E DA POLINIzAçãO POR ABELHASComplexidade e Interações

Conservação de matas nativas,

atendimento a reservas legais e

plantio de plantas melíferas

Causas multifatoriais

Consorciamento:diversificação

no uso de abelhas em serviço da polinização

CCD x mortalidade Falta entendimento

Falta de dados sobre população

Boas práticas no uso de defensivosComplementaridade

Defensivo e Polinização

Polinização como tecnologia

e fator de produção agrícola •Controle biológico

•Conhecimento e educação aplicada: comportamento e biologia das abelhas, linguagem acessível, capilaridade via associações•Valorização da polinização na

formação de agrônomos•Compatibilidade no uso

de defensivos versus especificidades de abelhas•Minor Crops: investimento e

incentivo a novos registros

•A diversificação traz maior efetividade em polinização•A Apis é generalista: não é ideal para qualquer cultura•Embrapa-PROMIP: criação de abelhas sem ferrão

para polinização agrícola•Necessidade de planejamento para garantir

sobrevivência das abelhas

•Não há dados oficiais sobre declínio das populações silvestres, somente de manejadas (Apis)

•Clima, falta de alimento, manejo incorreto, uso incorreto de defensivos, pragas, doenças, seca

Afinidade: para cada cultura

um tipo específico de abelha

(manejadas ou silvestres)

INTERAçãO DAS CULTURAS E DA

POLINIzAçãO POR ABELHAS

DIVERSIDADE DE ABELHAS

DECLíNIO DE ABELHAS

POLINIzAçãO

PRODUçãO DE ALIMENTOS PRÁTICAS MAIS

PRODUTIVAS

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RELAçãO MAIS PRODUTIVA ENTRE AGRICULTURA E

APICULTURA

Objetivo: Consolidar a importância da agricultura para a apicultura e vice-versa, por meio da construção de uma relação “ganha-ganha” entre agricultor e apicultor, valorizando a polinização realizada por abelhas e os serviços comerciais de polinização.

Meta até 2020: Implantar um Plano Nacional, via plataforma digital, que possibilite o diálogo, firmando parceria com pelo menos uma entidade representativa da agricultura, apicultura e de aplicação de defensivos, nas seguintes áreas-foco:• Até o final de 2018: Estados

de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul;

• Até o final de 2019: Estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Bahia e Goiás.

A ABELHA NO âMBITO DA AGRICULTURA, DO

DEFENSIVO AGRíCOLA E DA BIODIVERSIDADE

Objetivo: Desenvolver e disseminar conhecimento profundo sobre a interação entre as abelhas, a agricultura e o uso de defensivos agrícolas.

Meta até 2020: Participação no fomento à informação, pesquisa e desenvolvimento de serviços comerciais de polinização, biodiversidade e agricultura.

BANDEIRAS,

OBJETIVOS E METAS

107107

TRANSPARêNCIA E PROATIVIDADE NA RELAçãO

COM O GOVERNO EM PROL DO USO CORRETO DE DEFENSIVOS

AGRíCOLAS E DE PROTEçãO DAS ABELHAS

Objetivo: Colaborar na criação de mecanismos de regulamentação para a proteção e segurança das pessoas, do meio ambiente e das abelhas.

Meta até 2020: Reportar com transparência os resultados do Colmeia Viva®, fornecendo subsídios aos mecanismos de regulamentação no tema.

CONSCIENTIzAçãO DA CADEIA DE DISTRIBUIçãO SOBRE A

IMPORTâNCIA DA INTEGRAçãO AGRICULTURA-APICULTURA

Objetivo: Engajar a cadeia de distribuição (envolvendo equipes de marketing, vendas, distribuidores, revendas e cooperativas) para garantir a orientação para a aplicação correta, minimizando danos à polinização e às abelhas.

Meta até 2020: Capacitar 100% das equipes de vendas das empresas signatárias até 2018 e impactar 70% da sua rede de distribuição de produtos nas áreas-foco, representadas pelos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Bahia e Goiás até 2020.

COMPLEMENTARIDADE ENTRE OS DEFENSIVOS

AGRíCOLAS E A POLINIzAçãO REALIzADA PELAS ABELHAS

Objetivo: Criar mecanismos customizados de proteção das abelhas, de acordo com a taxa de dependência de polinização das culturas agrícolas.

Meta até 2020: Identificar técnicas amigáveis às abelhas, relacionadas à aplicação de defensivos, customizadas para culturas dependentes, beneficiadas e não dependentes de polinização realizada pelas abelhas. As culturas-foco serão definidas em 2018, considerando os resultados preliminares das áreas-foco relativas às Bandeiras 1 e 4.

BANDEIRA

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Colmeia Viva® EAD: Plataforma digital de ensino à distância que centraliza todo o conteúdo sobre a interação Defensivos-Agricultura-Apicultura-Abelhas, permitindo mais abrangência, mobilidade e agilidade na chegada da informação ao campo.

Colmeia Viva® Plano nacional de Boas Práticas: Um plano de prevenção da mortalidade de abelhas e mitigação de incidentes, baseado na disseminação de boas práticas de uso de defensivos e na formalização do pasto apícola entre agricultores e apicultores. Essa iniciativa foi originada no entendimento dos fatores que contribuem para a mortalidade de abelhas levantados na iniciativa de pesquisa com a participação da Unesp e UFSCar.

Colmeia Viva® App: Ambiente digital para facilitar o diálogo entre agricultores e criadores de abelhas. Agricultores podem identificar as áreas de sobreposição de atividades agrícolas e apícolas e avisar quando vão ocorrer as pulverizações (aplicadores em uma segunda etapa). Criadores de abelhas podem receber os comunicados de aplicações e saber quais medidas de proteção devem tomar.

Para colocar em práti-ca esse Plano de Metas

2020, o Colmeia Viva® conta com algumas iniciativas.

CONHEçA CADA UMA DELAS:

Colmeia Viva® MAP (Mapeamento de Abelhas Participativo): Iniciativa de pesquisa com a participação da Unesp e UFSCar para o levantamento de dados sobre a mortalidade de abelhas com um mapeamento inédito dos fatores que contribuem para a perda de colmeias e abelhas no Estado de São Paulo, servindo de base para o plano nacional de boas práticas agricultura-apicultura.

Colmeia Viva® Infolab: Iniciativa de desenvolvimento e compartilhamento de conhecimentos voltados às abelhas e sua interação com a agricultura e o uso de defensivo e/ou que envolva as abelhas na relação com a agricultura e a biodiversidade.

Colmeia Viva® Abelhas em Campo: Desenvolvimento e disseminação de técnicas amigáveis às abelhas relacionadas à aplicação de defensivos agrícolas viáveis ao agricultor, levando em consideração os diferentes níveis de dependência de polinização das culturas e consequente nível de envolvimento do agricultor com o tema.

Colmeia Viva® Multiplica: Capacitação das equipes de vendas e marketing das indústrias de defensivos signatárias como multiplicadores do Colmeia Viva® na cadeia de distribuição e desenvolvimento de conteúdo customizado e prático, para orientação de distribuidores, cooperativas e revendas de defensivos quanto ao uso correto de defensivos e sua interação com as abelhas.

Colmeia Viva® Diálogos: A criação de um espaço de diálogo aberto, para ampliar a compreensão das diferentes realidades, necessidades e desejos dos agentes envolvidos no tema – apicultores, agricultores, acadêmicos, produtores de defensivos agrícolas e governo – de forma a encontrar soluções convergentes e viáveis.

Colmeia Viva® Boas Práticas: Linha de treinamentos em campo e à distância sobre boas práticas para uma relação mais produtiva entre a Agricultura e a Apicultura, exclusivos para agricultores e criadores de abelhas, que podem ser realizados preventivamente ou na mitigação após constatação de incidentes com abelhas.

Acompanhe nossas iniciativas no www.colmeiaviva.com.br

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signatários

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realizacão: