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17
1. INTRODUÇÃO
O homem consagra ao sono
mais de um terço da sua existência.
Talvez esteja aí uma condição sine qua
non do valor do investimento da parte
activa dos outros dois terços.
Pierre Magnin
Estudos recentes revelam que cerca de um terço da população geral
sofre de uma qualquer forma de distúrbio do sono 1. Os distúrbios do sono mais
comuns a nível dos cuidados de saúde primários compreendem insónia,
hipersónia, narcolepsia, distúrbios respiratórios relacionados com o sono, e
distúrbios do ritmo circadiário (que incluem os distúrbios provocados pelo
trabalho por turnos). Destes a insónia é a perturbação mais frequente a nível
mundial 1, sendo a mais prevalente também em Portugal 2.
Os hábitos de sono sofreram uma mudança drástica com o aparecimento
da luz eléctrica e com a sua generalização aos quatro cantos do planeta. São
irrefutáveis as metamorfoses comportamentais e sociais sofridas desde então.
No último século assistimos a uma substituição das horas de sono por
actividades laborais, sociais ou de lazer, comum a todas as faixas etárias. É nas
crianças e nos adolescentes que este facto assume uma maior gravidade, pois
verifica-se que as crianças dormem em média hoje menos 1,5 horas do que no
inicio do século XX 3.
18
A sociedade portuguesa alterou os seus hábitos de vida e
consequentemente os seus hábitos de sono. Paiva (2006) 4, refere que os
portugueses são os piores do mundo no que diz respeito às horas de deitar,
mais de 70 % vão para a cama depois da meia-noite.
Não podemos negar a dimensão que este problema assume à escala
mundial e nacional, quer se deva ao ritmo de vida frenético adquirido em função
das transformações sociais e económicas exigidas à sociedade contemporânea,
quer se deva a uma patologia, a insónia, e a marca que a privação de sono irá
deixar na sociedade actual e nas gerações vindouras.
De facto, Paiva (2007) 5, refere que dormir é tão ou mais importante do
que comer nas crianças. Esta autora esclarece que é durante o sono que
ocorrem fenómenos indispensáveis ao desenvolvimento infantil, quer em termos
de renovação celular, como de regulação dos processos de memória e cognição.
Uma das consequências da privação de sono nas crianças é a alteração do
pensamento abstracto, fundamental para a área matemática. Verifica-se que são
os próprios pais a impor a privação de sono aos seus filhos. As idas nocturnas
aos Centros Comerciais são já um ritual implementado no nosso país.
Seja nas crianças ou nos adultos, por determinantes sociais ou
patológicas, a insónia crónica constitui um problema mundialmente prevalente e
grave, de custos significativos, quer para a saúde pública quer economicamente.
Segundo um estudo realizado pela Universidade de Stanford, nos
Estados Unidos, constatou-se que indivíduos que permanecem acordados por
mais de 19 horas, quando submetidos a testes de atenção, não conseguem
concentrar-se e apresentam mais erros do que pessoas com 0,8 g de álcool no
sangue (quantidade equivalente a três doses de whisky) 6.
A cada ano, unicamente nos Estados Unidos, têm lugar mais de 100 000
acidentes de viação devido ao adormecimento dos condutores ao volante 1. A
privação de sono que resulta de uma insónia não tratada conduz frequentemente
a sonolência diurna aumentada que potencia a ocorrência de acidentes de
viação e acidentes de trabalho, aumentando também a sua gravidade.
19
Catástrofes mundiais como o embate do petroleiro Exxon Valdez, os
acidentes nucleares de Tchernobyl ou de Three Mile Island, e o desastre da
nave espacial Challenger, foram relacionados com a privação de sono 3.
A insónia provoca a redução das capacidades mentais, cognitivas e
físicas, constituindo uma importante causa de abstenção laboral 7, de trabalho
pouco eficiente 7 e de diminuição do rendimento escolar.
Segundo cientistas norte-americanos da Escola Médica de Harvard e da
Universidade da Califórnia, num estudo publicado em 2007, ficou provado que a
privação de sono interfere no controlo das emoções geridas pelo lóbulo pré-
frontal, provocando reacções exageradas a experiências negativas 8.
Aproximadamente 10 % a 15 % da população geral apresenta queixas de
insónia crónica 9. Estima-se que a prevalência anual de insónia atinja entre 30 %
a 40 % dos adultos 1.
O impacto da insónia na qualidade de vida dos doentes é significativo, e
reflecte-se também numa maior utilização por parte destes doentes dos serviços
de saúde 1, 10.
Independentemente da etiologia, a insónia é uma situação persistente
que necessita de acompanhamento médico prolongado. A associação entre
insónia e doenças médicas, nomeadamente obesidade, artrite, doença
cardiovascular, diabetes ou afecções dolorosas (lombalgia, por exemplo), e
doenças do foro psiquiátrico, como a síndrome depressiva ou perturbações
ansiosas, tem sido frequentemente demonstrada 2, 7, 9, 10, 11. O sintoma de insónia
aguda inicial pode representar uma premonição para o aparecimento de uma
condição crónica futura 9.
A vida está cheia de eventos que podem causar episódios ocasionais de
insónia em indivíduos que habitualmente dormem bem. Contudo, para muitas
pessoas, esta situação ocorre repetidas vezes (todas as noites, todas as
semanas), ao longo de um prolongado período que pode ir de meses a vários
anos 10.
20
O conceito de insónia modificou-se ao longo das últimas décadas, de
forma a reflectir a evolução do nosso conhecimento acerca da mesma. Esta
mudança teve um impacto significativo no diagnóstico e nas medidas
terapêuticas adoptadas para o tratamento das queixas.
O Instituto Americano de Medicina, em 1979, começou por defini-la como
“sono insatisfatório”. Em 1990, a Classificação Internacional dos Distúrbios do
sono definiu-a como: “queixa quase diária de sono insatisfatório ou não
reparador após um período de sono habitual” 10
A sensação de sono não reparador é considerada sintoma de insónia,
quando é relatada pelo menos três noites por semana, apesar de o indivíduo ter
obtido de um número de horas de sono normal, atendendo ao género e à idade.
Podendo ocorrer simultaneamente sensação de cansaço ao acordar (ligeiro a
severo) ou dificuldade matinal quase diária de desempenhar tarefas.
.
A insónia pode ser definida como uma incapacidade temporária ou
permanente de iniciar ou manter o sono, por interrupção do mesmo ou despertar
precoce. Assim sendo, os sintomas de insónia mais referidos são dificuldade em
iniciar o sono, dificuldade em mantê-lo, sensação de sono não restaurador e
privação de sono inerente à situação.
Relativamente à dificuldade em iniciar o sono, considera-se que é um
sintoma de insónia quando se manifesta quase todas as noites (ou pelo menos
três noites por semana). Esta queixa está relacionada com o receio, no mínimo
ligeiro, de ir dormir e com a insatisfação, no mínimo moderada, com a latência do
sono.
Quanto à dificuldade em manter o sono, considera-se sintoma de insónia
a queixa de sono interrompido (pelo menos três noites por semana) ou quando
ocorre acordar precoce (pelo menos três noites por semana). A esta queixa pode
associar-se, pelo menos uma das seguintes situações: dificuldade em retomar o
sono, sensação de sono não reparador (pelo menos três noites por semana) e
estado de hiper-alerta.
21
A determinação do número de horas de sono abaixo do qual se considera
insónia é subjectiva, uma vez que varia de indivíduo para indivíduo, entende-se
no entanto que um número de horas de sono abaixo de cinco é, em geral,
patológico.
A privação de sono é definida como sendo a percepção de sono
insuficiente ou uma duração do sono mais curta do que o habitual, atendendo ao
género e a idade. Admite-se existir privação significativa de sono, em indivíduos
com menos de vinte e cinco anos, quando o número de horas de sono é inferior
a seis, em indivíduos entre os vinte e cinco e os sessenta e quatro anos, quando
o número de horas de sono é inferior a cinco, e em indivíduos de mais de
sessenta e cinco anos quando o número de horas de sono é inferior a quatro
horas e meia 11.
O Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 3th Editon
(DSM-III), Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 4th Edition
(DSM-IV) e a Classificação Internacional dos Distúrbios do sono, baseiam-se em
momentos temporais diferentes: sintomas ocorrendo no presente, no último mês,
no último ano ou ao longo da vida. O DSM-IV, por exemplo, define como critérios
de insónia, a dificuldade em iniciar ou manter o sono, e a sensação de sono não
reparador, por pelo menos um mês. Estes critérios são vagos e difíceis de
aplicar em estudos epidemiológicos, uma vez que não definem qual é a queixa
predominante, com que frequência os sintomas ocorrem e em que factos nos
apoiar para concluir acerca da presença de insónia 11
Mais recentemente, a insónia é definida pelo International Classification
of Sleep Disorders, version 2 (ICSD-2), como sendo uma alteração do sono, na
sua duração, consolidação ou qualidade, que acontece apesar de as condições
para a sua ocorrência serem as ideais, e que se traduz em alterações diárias do
bem-estar. Esta definição difere das anteriores, pois introduz um novo conceito,
o das consequências diurnas da insónia. Pressupõe-se, com este conceito, que
a insónia não é uma situação limitada apenas ao período em que se presume
ocorrer o sono (geralmente durante a noite), mas generalizada às vinte e quatro
horas do dia. Ainda segundo a mesma definição, a dificuldade em iniciar ou
.
22
manter o sono é uma queixa habitual de insónia, o que implica longos períodos
de vigília nocturna e, consequentemente, reduzida quantidade de sono nocturno.
A má percepção do sono ou sensação de que o sono não é reparador,
apesar de a quantidade e qualidade dos episódios de sono serem considerados
satisfatórios, constituem queixas ocasionais de insónia. Ohayon e Paiva (2005) 12, referiram que metade dos portugueses revelaram estar insatisfeitos com o
seu sono por acreditarem não dormir o suficiente, o que sugere que lidam melhor
com queixas de dificuldade em iniciar o sono ou sono fragmentado se sentirem
que obtêm uma quantidade suficiente de sono.
A distinção entre sintomas de insónia apenas, insónia com
consequências diurnas e insatisfação relativamente a quantidade ou qualidade
do sono, deve ser feita por rotina nos estudos epidemiológicos. Quando esta
distinção é realizada, sujeitos com sintomas de insónia, acompanhados de
consequências diurnas e sujeitos insatisfeitos com a quantidade ou qualidade do
seu sono, parecem ser maiores consumidores de cuidados de saúde e
apresentam com maior frequência distúrbios mentais e doenças orgânicas 10.
Resumidamente, a insónia é uma queixa subjectiva de quantidade e/ou
qualidade de sono insuficiente, podendo ou não ser objectivamente verificada a
ausência de sono, com repercussões nas actividades de vida diárias.
O DSM-IV e o International Classification of Sleep Disorders (ICSD)
distinguem, fundamentalmente, entre insónia sob forma de distúrbio
independente ou primário e insónia como sintoma que surge associado a outras
condições ou secundária 9. A insónia primária resulta de factores etiológicos
intrínsecos e extrínsecos que não são secundários a nenhuma patologia 13,
podendo e ser psicofisiológica, subjectiva ou idiopática 14, 15. A insónia
secundária traduz-se numa manifestação de uma doença médica (distúrbios
respiratórios), psiquiátrica, resultando de um outro distúrbio do sono
(perturbações do ritmo circadiário, parassónias) ou do abuso de substâncias
(dependência de álcool ou drogas) 13, 14, 15
.
23
Classicamente considera-se que a insónia pode ser aguda se a sua
duração for inferior a um mês e é normalmente atribuída a uma causa
conhecida, como por exemplo jet lag, medicação ou factores ambientais ou
sociais desfavoráveis à ocorrência de sono. A insónia sub-aguda tem uma
duração média de um a seis meses. A insónia crónica dura regra geral mais de
seis meses e pode ser recorrente, arrastando-se ao longo de vários anos.
A insónia pode dividir-se em inicial, intermédia e terminal. A insónia é
inicial se as queixas se relacionam com dificuldade em adormecer. Diz-se que a
insónia é intermédia quando se trata de uma situação de sono interrompido por
um longo período ou espaço de tempo, com dificuldade em retomar o sono. A
insónia é terminal quando ocorre um despertar precoce, sem que se consiga
retomar o sono.
Segundo Franco (1998) 15, “O resultado de uma noite de sono perturbado
é o comprometimento da sensação de bem-estar durante o dia. A perda da
função restauradora do sono leva ao comprometimento do desempenho durante
o dia e afecta as funções vitais”.
A severidade da insónia está relacionada com a sua interferência na
realização das actividades de vida diárias e o mal-estar a que está associada. A
insónia resulta da interacção de vários factores ambientais, biológicos e
fisiológicos, que se designam de predisponentes, precipitantes e perpetuantes 16
Os factores predisponentes e precipitantes incluem características
demográficas variadas, a ocorrência de doença psiquiátrica, além de outros
eventos stressantes. Os factores perpetuantes, responsáveis pela instalação da
cronicidade das queixas de insónia, envolvem muitas vezes um estado de hiper-
alerta de 24 horas e um ciclo vicioso de sonolência, ambos responsáveis pelo
receio de não conseguir adormecer, o que no final conduz a um aumento do
estado de alerta e dificuldade em adormecer crescente. As características
psicológicas individuais, nomeadamente o uso excessivo da negação e da
repressão, bem como uma forte propensão para interiorizar as emoções, estão
igualmente entre os factores que contribuem para a activação psicofisiológica e
acordares frequentes entre os doentes com insónia
.
16.
24
A associação entre insónia e existência de distúrbios mentais foi
estabelecida por Ohayon e Roth (2001) 11. Estes investigadores relacionaram
dois dos principais sintomas de insónia com o aparecimento de distúrbios do
sono e distúrbios mentais. O estado de hiper-alerta constituiu um sintoma
presente em 95,3 % dos sujeitos com diagnóstico de distúrbios do sono e
diagnóstico de distúrbios mentais, enquanto que na população geral a sua
prevalência ronda os 3 %. A insatisfação com a qualidade ou quantidade do
sono está igualmente presente em 76,5 % dos sujeitos com diagnóstico de
distúrbio do sono ou diagnóstico de distúrbio mental.
Acredita-se existir relação entre factores genéticos e o aparecimento de
insónia na infância. A insónia primária é frequentemente relatada no âmbito
familiar. Nos casos de insónia na infância ou insónia do tipo inicial, sugere-se a
existência de predisponentes genéticos17. Em doentes com história familiar de
insónia psicofisiológica, idiopática, psiquiátrica ou provocada por abuso de
substâncias ou álcool, verifica-se uma maior probabilidade, embora não muito
significativa, de vir a desenvolver-se insónia, o que sugere, neste contexto,
existir uma vulnerabilidade para a insónia 10.
Existem alguns estudos que caracterizam os distúrbios do sono,
nomeadamente a insónia, em todo o mundo. Mais de cinquenta estudos
epidemiológicos foram já publicados acerca da insónia 10. Relativamente a
Portugal, apenas um estudo epidemiológico foi desenvolvido exclusivamente
com o estudo da população portuguesa 12
Ancoli-Israel e Roth (1991)
. Outros estudos pretenderam obter
resultados à escala mundial, investigaram vários países, incluindo Portugal.
18 caracterizaram a insónia na população dos
Estados Unidos. Para este efeito, realizaram mil entrevistas telefónicas,
seleccionadas de forma randomizada, obtendo uma amostra de setecentos
indivíduos com queixas de insónia e trezentos sem queixas de insónia. Dos
sujeitos do estudo, a maior parte estava entre os 25 e os 54 anos. Aos sujeitos
foi pedido para quantificar o seu nível de satisfação com o seu sono e descrever
se tinham dificuldade em adormecer. Aqueles que responderam ter dificuldade
em adormecer foram depois inquiridos acerca da natureza dos seus problemas
25
de sono, a duração dos mesmos, quantas noites por mês tinham tido dificuldade
em adormecer e há quantos anos durava o problema.
Os sujeitos foram depois agrupados em três grupos, a saber: sem
queixas de insónia, com queixas ocasionais de insónia e com queixas crónicas
de insónia.
Este estudo encontrou 36 % de prevalência de insónia nos Estados
Unidos, sendo 27 % de insónia ocasional e 9 % de insónia crónica. O evento que
mais frequentemente foi relacionado com o aparecimento de insónia, nos
sujeitos com queixas de insónia ocasional, foi o stress relacionado com a
actividade profissional. Já nos sujeitos com queixas de insónia crónica, o stress
relacionado com as relações familiares, foi mais relatado.
Relativamente à preocupação com os problemas de sono, este estudo
concluiu que 78 % dos sujeitos com queixas ocasionais de insónia e 48 % dos
sujeitos com insónia crónica estavam pouco ou nada preocupados. Dos sujeitos
inquiridos, 74 % referiu que o seu distúrbio de sono é um problema pouco ou
nada grave na sua vida. Apesar disso, dos sujeitos com queixas de insónia, 23
% referiu tomar medicação que não necessita de prescrição médica para dormir,
e 28 % referiu ter ingerido bebidas alcoólicas para adormecer. Apenas 46 % dos
sujeitos com queixas de insónia crónica e 25 % dos sujeitos com queixas de
insónia ocasional admitiram ter discutido o seu problema com um médico, sendo
que só 5 % dos sujeitos com queixas de insónia crónica foram à consulta com
esse propósito. A maioria, 69% do total de sujeitos (55 % dos sujeitos com
queixas de insónia ocasional e 34 % dos sujeitos com queixas de insónia
crónica), nunca falaram com um médico acerca do seu problema, porque
simplesmente não o consideram um problema ou porque o consideram um
problema demasiado trivial (23 % dos sujeitos com queixas de insónia ocasional
e 25 % dos sujeitos com queixas de insónia crónica). Dos sujeitos que admitiram
ter recorrido à ajuda médica, 46 % foi ao médico de família.
Foi demonstrado por este estudo que cerca de um terço dos americanos
adultos sofrem de insónia, e que apesar de não ter sido considerada a variável
género, que tem um peso determinante e bem demonstrado sobre a prevalência
de insónia, este resultado é consistente com os obtidos por outros da mesma
área.
26
Ohayon e Roth (2001) 11 efectuaram um estudo a nível europeu que
pretendeu estabelecer os sintomas contribuintes para a insónia na população em
geral.
Este estudo decorreu de 1993 até 1999, envolvendo seis países
europeus, nomeadamente França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Portugal e
Espanha. A população total abrangida foi de 24.600 sujeitos, com mais de
quinze anos de idade. A metodologia usada foi a mesma em todos os países. A
amostra foi escolhida por localização geográfica e de acordo com os últimos
censos. Após selecção dos números de telefone, foi escolhido um membro de
cada agregado familiar. Os participantes foram entrevistados telefonicamente.
Foi avaliada a qualidade e quantidade do sono e as queixas diurnas
relacionadas.
Estes autores referem que, em sujeitos insatisfeitos com o seu sono, é
vinte e duas vezes mais provável ocorrer um diagnóstico relacionado com
distúrbio do sono ou de distúrbio mental. A variável menos associada com o
diagnóstico de distúrbios do sono ou de distúrbios mentais foi a latência do sono
quando maior ou igual a 30 minutos.
Estes autores encontraram quatro sintomas (dificuldade em iniciar o
sono, dificuldade em manter o sono, sono não restaurador e privação voluntária
ou involuntária de sono) e a combinação entre eles que, aumentando a
especificidade da insónia, favorece o aparecimento de diagnóstico de distúrbios
do sono ou de distúrbios mentais. Sujeitos com dificuldade em iniciar o sono,
dificuldade em manter o sono e sono não reparador eram oitenta vezes mais
susceptíveis de apresentar diagnóstico de distúrbios do sono ou de distúrbios
mentais, quando comparados com sujeitos com privação de sono ou sem
qualquer sintoma de insónia.
Ohayon e Roth (2001) 11
Os mesmos autores, constataram igualmente que a dificuldade em iniciar
o sono e a dificuldade em manter o sono era mais frequentes em sujeitos mais
, demonstraram o impacto sócio-demográfico da
insónia e descrevendo a prevalência de insónia com base em vários aspectos
populacionais. Relativamente ao género, foi mais frequente o relato de
dificuldade em iniciar o sono, dificuldade em manter o sono e sensação de sono
não reparador no género feminino quando comparado com o género masculino,
tal não acontecendo no entanto quanto à privação de sono.
27
velhos (a partir dos quarenta e cinco anos de idade), enquanto que a sensação
de sono não reparador era mais comum no grupo etário entre os vinte e cinco e
os quarenta e quatro anos de idade. Por outro lado, os viúvos quando
comparados com casados e solteiros, apresentaram maior dificuldade em iniciar
e manter o sono. Sujeitos separados ou divorciados apresentaram mais
frequentemente dificuldade em iniciar e manter o sono, e sono não reparador,
quando comparados com sujeitos solteiros ou casados.
Quanto a situação profissional, estes autores verificaram que a
dificuldade em iniciar o sono era mais comum em sujeitos desempregados,
domésticas, e reformados. Do mesmo modo, trabalhadores nocturnos e
trabalhadores por turnos apresentaram dificuldade em manter o sono de forma
mais assídua, quando comparados com trabalhadores diurnos ou estudantes.
Por outro lado, os reformados foram os que apresentaram a maior taxa de
frequência de dificuldade em iniciar o sono. A sensação de sono não reparador
teve pouca oscilação perante a situação profissional, com excepção do trabalho
por turnos ou nocturno, em que a sua frequência foi mais elevada. A privação de
sono não apresentou grandes disparidades em função da idade ou o estado civil,
mas teve maior predomínio nos trabalhadores por turnos e nocturnos.
Ohayon e Paiva (2005) 12 conduziram um estudo epidemiológico na
população geral portuguesa acerca dos distúrbios do sono. Estes investigadores
avaliaram a insatisfação relativamente ao sono, para abordar a severidade da
insónia.
Foram entrevistados telefonicamente 1.858 participantes, com mais de 18
anos, de Junho a Setembro de 1998. Os inquiridos foram escolhidos de forma
aleatória de entre cinco regiões de Portugal, nomeadamente Norte, Centro,
Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve.
O questionário visou recolher dados acerca de hábitos de sono, sintomas
relacionados com o sono e saúde mental. Do total de inquiridos, 47,5 % eram do
sexo masculino, a faixa etária mais representativa era a dos 25 aos 44 anos
(34,6 % dos inquiridos) e a menos representativa era a dos de mais com 75 anos
(5,6 %). Dos participantes, 61,5% eram casados, face a 25,5 % solteiros, 3,8 %
divorciados e 9,2 % viúvos.
28
A escolaridade mínima obrigatória (9ºano) foi concluída por 47,9 %. A
maior parte eram trabalhadores diurnos (43,9 %). Estudantes (6,5 %) e
trabalhadores por turnos (11,2 %) eram minoritários. A maioria (44,5 %) era
residente em grandes áreas urbanas.
Os sintomas de insónia foram abordados segundo três perspectivas.
Dificuldade em iniciar ou manter o sono, por pelo menos três noites por semana
(com latência do sono, em condições propícias à sua ocorrência, de pelo menos
30 minutos). Sono fragmentado ou acordares precoces, e sono não reparador
(pelo menos três noites por semana, após noite de sono habitual). Finalmente,
sintoma de fadiga matinal com dificuldade no desempenho de tarefas.
A insónia, enquanto sintoma ocorrendo pelo menos três noites por
semana, era referida por 28,1 % dos sujeitos e a insatisfação relativamente ao
sono por 10,1 %. A dificuldade em manter o sono era o sintoma mais prevalente,
sendo mencionado em 21,0 % dos entrevistados. A insatisfação relativamente ao
sono estava presente em 29,4 % dos casos com sintomas de insónia.
As consequências diurnas, a frequência de consultas médicas devido a
alterações do sono e o consumo de medicação relacionada com o sono, eram
cerca de duas vezes mais frequentes nos sujeitos com sintomas de insónia, e
com insatisfação relativamente ao seu sono, quando comparados com sujeitos
com sintomas de insónia mas sem insatisfação relativamente ao seu sono. Os
diagnósticos de insónia eram igualmente mais frequentes no grupo que
evidenciou insatisfação relativamente ao seu sono.
Este estudo demonstrou que o stress de vida diário contribuiu de forma
independente para a insatisfação global com o sono, enquanto que a ansiedade
e os distúrbios depressivos, tinham múltiplas interacções com outros sintomas,
sendo por isso menos específicos.
Outro dado importante a depreender deste estudo é que a insónia não
era frequentemente referida sob forma de queixa específica. De facto, apenas 25
% dos inquiridos mencionaram ter dificuldade em iniciar o sono, e 12 % referiram
sono fragmentado, a sua insatisfação foi mais frequentemente associada à
crença que não dormiam tempo suficiente.
Soldatos et al (2005) 19 pretenderam estudar a forma como os indivíduos
dormiam em todo o mundo, através de um questionário aplicado num único dia
29
em dez países. Este estudo descreve as diferenças entre os diferentes países
quanto à prevalência e tipo de distúrbios do sono mais frequentes e fornece
informação acerca de como a privação de sono afecta o funcionamento diário
dos indivíduos.
A população estudada era oriunda de dez países, nomeadamente
Áustria, Bélgica, Brasil, China, Alemanha, Japão, Eslováquia, África do Sul,
Espanha e Portugal, com significativas diferenças culturais e consequentemente
de estilo de vida.
Dos 35.327 inquiridos, 784 eram portugueses. Do total, 49,8 % eram do
sexo masculino e a média de idades era de 39 anos, sendo 64,1 % população
activa.
Dos portugueses inquiridos, 48,2 % eram do sexo masculino, a média de
idades era de 44,5 anos e apenas 33,1 % estavam no activo.
Relativamente aos hábitos de sono durante a semana, Portugal e
Espanha foram os países que reportaram horários de deitar mais tardios (24
horas), face à média geral (23 horas).
Quanto à duração média do sono, Portugal é sem dúvida o país que
evidenciou a média mais elevada (504 minutos) e o Japão a menor média (413
minutos), sendo a média total de 454 minutos. Quanto à duração média do sono
em horas, Portugal, uma vez mais, teve uma maior duração, 8 horas e 20
minutos, face às 7 horas e 30 minutos da média geral (31,4 % dormia 7 a 8
horas por noite e 25,7 % dormia 6 a 7 horas por noite).
No Japão apenas 12 % e em Portugal 13,4 % dos inquiridos realizaram
sesta regularmente, face aos 42,4 % no Brasil e aos 32,6 % na China.
Uma das escalas utilizadas foi a Escala de Sonolência de Epworth ou
Epworth Sleepiness Scale (ESS). No geral este estudo verificou que
relativamente aos resultados da ESS, 11,6 % dos sujeitos estavam “muito
sonolentos” ou “perigosamente sonolentos” durante o dia.
Em Portugal, referiram estar “muito sonolentos” 16,6 % e “perigosamente
sonolentos” 1,7 %.
Este estudo demonstrou que um em cada quatro indivíduos em todo o
mundo sente que não dorme bem, mas apesar disto, os distúrbios do sono são
desvalorizados, não sendo considerados susceptíveis de colocar em risco a
saúde, o que contribui para o seu sub diagnóstico na população geral.
30
Os dados obtidos por Soldatos et al (2005) 19 contrariam os resultados
obtidos pelo estudo desenvolvido por Ohayon e Paiva (2005) 12, apesar de
ambos serem de 2005. Este facto pode estar relacionado com a população
abrangida no estudo de Soldatos et al (2005) 19, pois relativamente à população
portuguesa, a maior parte dos inquiridos encontrava-se numa situação não
activa, o que provavelmente teve influência nos dados relativos aos hábitos de
sono e à elevada duração média do sono apresentada. De facto, no estudo de
Soldatos et al· (2005) 19, apenas 33,1 % estavam no activo, face a 55,1 % de
(43,9 % de trabalhadores diurnos e 11,2 % de trabalhadores por turnos) no
estudo de Ohayon e Paiva (2005) 12.
Segundo a revista PROTESTE n.º525 20, de Novembro de 2004, baseada
num artigo da TESTE SAÚDE nº 51 21
Segundo a mesma fonte, 47 % dos portugueses dormiam mal, mas
apenas 19 % tinham consciência disso; 56 % sofriam de sonolência no dia-a-dia,
o que afectava a sua qualidade de vida; 21 % referiram que seria possível
adormecer ao volante, correndo o risco de pôr em causa a sua segurança e a
dos outros; 75 % dos portugueses com problemas de sono não procuraram
ajuda especializada e dos que procuraram ajuda médica, 60 % recorreu ao
médico de família. Tomavam medicamentos para dormir 16 %. Destes, um em
cada dez faziam-no por sua iniciativa ou a conselho de amigos ou familiares,
sendo os mais consumidos os tranquilizantes, sedativos e hipnóticos.
, do mesmo ano, metade dos portugueses
não dormia bem e, apesar de isso ter consequências para a sua saúde, apenas
um quarto procurava ajuda especializada.
Não se tratando de um estudo epidemiológico de valor científico, os
dados obtidos não diferiram muito da maioria dos resultados apresentados por
outros estudos validados e publicados.
O inquérito (dirigido à população adulta) foi aplicado no nosso país,
Espanha, Itália e Bélgica, num total de 12.706 respostas (3.598 recolhidas em
Portugal), entre Janeiro e Março de 2004.
Este artigo refere terem sido utilizados questionários validados para
investigação na área do sono, não especificando no entanto quais, de forma a
avaliar a quantidade e a qualidade do sono bem como a sua interferência no
bem-estar e na qualidade de vida.
31
Os números obtidos, no que se refere à prevalência de insónia,
divergiram sensivelmente do estudo de Ohayon e Paiva (2005) 12, que
demonstraram que metade dos inquiridos no seu estudo revelou estar insatisfeito
com o seu sono, por acreditar não dormir o suficiente. Não é claro se o
agravamento das queixas resulta da obtenção dos dados em anos diferentes, ou
se é consequência de diferenças metodológicas. No entanto, no que se refere
aos dados relativos à procura de ajuda médica 1, 2, 7, 18, ou ao consumo de
medicação específica 7, 18 a concordância com outros estudos foi consistente.
Apesar de bem conhecida a importância do sono na prática clínica, a
relação entre insónia e cuidados de saúde primários é ainda muito ténue, quer a
nível mundial como a nível nacional. Todavia, vários estudos já comprovaram
existir uma relação entre insónia e um estado de saúde mais deficitário e,
consequentemente, maior consumo de cuidados médicos (primários e
diferenciados), medicamentos, meios auxiliares de diagnóstico e hospitalizações
mais frequentes, com as consequências económicas que daí advêm. Tudo isto
se repercute na actividade social e laboral, e em larga escala, na economia
nacional.
Lèger et al (2002) 7
No ano anterior, 16 % dos sujeitos com queixas de insónia severa
recorreram ao seu médico de família, e 2 % a um especialista devido à sua
efectuaram um estudo, com o objectivo de perceber
qual o impacto médico, social e profissional da insónia na população francesa. A
amostra foi seleccionada de forma a ser o mais representativa possível, tendo
sido aplicado um questionário inicial que permitiu estabelecer dois grandes
grupos de unidades de observação, um com queixas de insónia severa e outro
sem queixas a nível do sono. Após a utilização de outro questionário, que
permitiu excluir os sujeitos com distúrbios psiquiátricos (segundo a definição do
DSM-IV), a amostra apurada foi de 240 sujeitos com queixas de insónia severa e
391 sujeitos sem queixas de insónia.
Estes autores, no que respeita às consequências médicas directas da
insónia na população, verificaram que 53 % dos sujeitos com queixas de insónia
severa recorreram a ajuda médica face a apenas 4 % dos sujeitos sem queixas
de insónia.
32
insónia. Os sujeitos sem queixas de insónia não recorreram nem ao médico de
família nem ao especialista nesse período de tempo. Ocorreram 0,34 consultas
médicas por sujeito com queixas de insónia severa e 0 % de consultas médicas
por sujeito sem queixas de insónia. Na mesma perspectiva, 47 % dos sujeitos
com queixas de insónia severa e 0 % de sujeitos sem queixas de insónia
abordaram a sua insónia no âmbito de consulta médica com outra finalidade.
Ainda quanto a este aspecto, 28 % dos sujeitos com queixas de insónia e 0 %
dos sujeitos sem queixas de insónia, referiram consumir ocasionalmente ou
regularmente medicação para dormir.
Os mesmos autores estudaram ainda as consequências médicas
indirectas relacionadas com a insónia. No geral, verificaram que os sujeitos com
queixas de insónia severa tinham sido maiores consumidores de cuidados de
saúde. Especificamente, os sujeitos com queixas de insónia severa recorreram
mais a consultas de rotina do que aqueles sem queixas de insónia (67 % e 44 %
respectivamente).
Os sujeitos com queixas de insónia severa foram igualmente os que
apresentaram um maior consumo de medicamentos no geral (principalmente
medicação com campo de acção cardiovascular, do sistema nervoso central,
urogenital e gastrointestinal). Estes sujeitos apresentaram maiores consumos de
meios auxiliares de diagnóstico, nomeadamente controlos analíticos e
radiológicos.
A taxa de hospitalização, bem como a duração dos internamentos, foi
analogamente superior no grupo com queixas de insónia severa, sendo a
patologia gastrointestinal a principal causa de admissão.
Em relação às consequências da insónia na actividade profissional, estes
autores relataram que no grupo dos sujeitos com queixas de insónia severa se
verificou uma maior taxa de absentismo por motivo de doença. Neste grupo
ainda, os erros cometidos no decorrer da actividade profissional foram mais
frequentes (15 % face a 6% no grupo dos sujeitos sem insónia). Foram 12 % os
sujeitos com queixas de insónia severa, e 6 % os sujeitos sem queixas de
insónia, que referiram chegar atrasados. Da mesma forma, os sujeitos com
queixas de insónia severa foram os que mais relataram sentir uma menor
eficiência no trabalho, além de uma maior dificuldade na concretização de
33
tarefas complicadas. Os acidentes industriais também se revelaram mais
habituais neste grupo.
Do ponto de vista da interacção familiar, estes autores descreveram que
16 % dos sujeitos com queixas de insónia severa, e 3 % dos sujeitos sem
queixas de insónia, não gostavam de ajudar os seus filhos nos trabalhos de
casa. Similarmente, 33 % dos sujeitos com queixas de insónia severa, face a 19
% de sujeitos sem queixas de insónia, referiram sentir-se cansados ou irritados
com os seus filhos.
Este estudo, devido à exclusão dos sujeitos com distúrbios mentais (pela
elevada correlação existente com a insónia), pode ter subestimado o impacto
indirecto da insónia a nível social, profissional e até económico. Só no grupo dos
sujeitos com queixas de insónia severa, foram excluídos da amostra 55,4 %
sujeitos com suspeita de depressão ou ansiedade. Esta é também a opinião dos
autores, que afirmam ainda que estes resultados não definem se a insónia é
causa ou consequência de uma saúde mais deficitária, mas apenas que existe
uma relação entre insónia e um estado de saúde mais deficitário, bem como um
pior desempenho profissional e social.
Por sua vez Doghramji (2004) 1
No follow-up o doente poderia apresentar sonolência diurna associada à
patologia crónica de que padecia (asma, refluxo gastroesofágico, dor crónica e
outras situações perturbadoras do sono), o que muitas vezes dificultava o
, acerca da importância de reconhecer os
distúrbios do sono nos Cuidados de Saúde Primários, referiu que é provável que
um em cada três doentes que recorreram aos serviços de saúde fossem doentes
com insónia com consequências diurnas, mas era provável que estes o fizessem
por causa deste problema específico.
Este autor apresentou três razões fundamentais para os doentes que
recorreram à consulta em cuidados de saúde primários, a saber: uma visita por
situação de doença aguda específica; um follow-up (acompanhamento médico)
de uma situação de doença crónica; ou um check-up (visita ocasional de rotina).
No follow-up o doente com patologia do sono, além das queixas
específicas inerentes à situação que o traz a consulta, referia cansaço, fadiga,
falta de energia, mas raramente referia que sentir-se sonolento durante o dia ou
privado de sono.
34
diagnóstico diferencial com patologias primárias (distúrbios do ritmo circadiário,
síndrome das pernas inquietas, narcolepsia, parassónias, apneia obstrutiva do
sono ou movimentos periódicos do sono).
O check-up pressupunha que o médico de família aproveitasse a
oportunidade da consulta para averiguar os hábitos de sono do doente. O que
sugere que seria importante, independentemente da causa apresentada para a
consulta médica, efectuar o despiste de existência de insónia, o que por vezes
implicaria apenas uma conversa informal (acerca dos hábitos de sono ou da
higiene do sono) ou a aplicação de um questionário no decorrer da consulta.
Mateus (2006) 2 fornece uma óptica mais próxima da realidade dos
cuidados de saúde primários em Portugal, abordando os distúrbios do sono sob
a perspectiva da medicina geral e familiar. Referindo que os distúrbios do sono
se situam entre as dez causas mais frequentes de recurso à consulta de clínica
geral ou de medicina geral e familiar. No entanto, estima-se que apenas 10 a 15
% dos doentes com insónia procuraram ajuda junto do seu médico de família
devido a insónia, sendo que a maior parte não o faz de forma directa.
Ainda segundo a autora, a pouca formação pré e pós-graduada na área
do sono, a dificuldade diagnóstica e a parca valorização dada pelo médico e pelo
próprio doente aos problemas de sono, têm representado dificuldades na
intervenção dos médicos de família nesta área.
Os próprios clínicos fazem parte da estatística da insónia. De facto,
segundo um estudo desenvolvido por Marques et al (2005) 22
Santos (2006)
, são 25 % os
médicos de família que sofrem de insónia.
3, a propósito de um artigo acerca da abordagem do
doente com patologia do sono, referiu que o doente recorre à consulta de
patologia do sono por três causas fundamentais, em simultâneo ou
isoladamente. Este autor indica como primeira causa a dificuldade em iniciar ou
manter o sono e queixas de quantidade ou qualidade de sono insuficiente. Como
segunda causa refere sonolência diurna excessiva, em situações e locais
inapropriados. Finalmente, como terceira causa, comportamentos anormais
durante o sono, que são geralmente relatados pelo companheiro(a) de leito.
35
O facto de a insónia ser uma situação que não é frequentemente
diagnosticada, por todos os motivos que foram focados, contribuiu de forma
indiscutível para uma pior saúde individual e pública, fraco rendimento pessoal e
profissional e, fundamentalmente, para o não tratamento da insónia ou
tratamento errado, o que gera um ciclo vicioso de agravamento progressivo e
exponencial de toda a situação.
O tratamento da insónia passa essencialmente por medidas não
farmacológicas e farmacológicas. O seu uso depende do tipo e gravidade da
insónia. Não são frequentemente utilizadas em simultâneo, apesar de esta ser a
forma mais eficaz de tratamento. A medida farmacológica é, de longe, a mais
utilizada.
As medidas não farmacológicas, nomeadamente a terapia cognitivo-
comportamental, compreendem várias técnicas de controlo de estímulo, restrição
de sono, relaxamento, terapia cognitiva e higiene do sono. Podem ser utilizadas
na insónia primária, e o seu uso tem por objectivo alterar ou anular os factores
perpetuantes da insónia através do controlo da actividade psicológica, cognitiva,
e emocional, contendo o estado de hiper-alerta, responsável pelo acordar
nocturno. Todas estas medidas possibilitam igualmente que o indivíduo se
adapte da melhor forma à situação, quando a resolução do seu problema tarda
ou não é viável. É também importante considerar que a insónia não é só
geradora de comportamentos, sendo muitas vezes ela própria originada por
comportamentos. A modificação dos hábitos de sono é fundamental visto que os
indivíduos com insónia crónica tendem a adquirir horários de sono irregulares e
desadequados, e hábitos de sono erróneos.
Segundo Morin (2004) 14, o uso das medidas farmacológicas é deveras
mais efectivo na promoção do sono, mas a sua eficácia a longo prazo é
questionável. Este autor refere que a comparação clínica acerca da eficácia dos
dois métodos aponta para que, apesar de equivalentes, o uso das medidas não
farmacológicas é mais consistente a longo prazo.
36
Numa perspectiva nacional, Clemente (2006) 23, refere que a terapia
cognitivo-comportamental constitui uma importante e eficaz opção terapêutica na
insónia primária crónica, mas o seu uso continua a ser negligenciado em termos
médicos, apesar de o próprio doente admitir o seu benefício. A sua utilização
concomitante com o tratamento farmacológico é defendida pela autora.
O tratamento farmacológico depende muito do tipo de insónia, da sua
duração e da sua severidade. Os fármacos mais utilizados são as
benzodiazepinas, as quais têm eficácia comprovada na redução da ansiedade,
na indução do sono e no controlo dos sintomas de pânico, sendo por isso o
princípio activo mais comum à maior parte dos tranquilizantes, hipnóticos e
sedativos.
Serra (2006) 24, acerca da terapêutica farmacológica da insónia, refere
que os benzodiazepínicos são efectivos no tratamento da insónia a curto prazo,
mas o sono produzido é diferente do normal.
De acordo com os dados fornecidos pelas Estatísticas do Medicamento
2000, o subgrupo Sedativos, Hipnóticos e tranquilizantes constava entre os
quinze primeiros, relativamente à distribuição das vendas de medicamentos no
Sistema Nacional de Saúde (SNS), em termos de preço de venda ao público
(PVP) e encargos do SNS, tendo sido o segundo subgrupo mais vendido em
termos de número de embalagens 25.
Na última década, Portugal tornou-se o terceiro consumidor europeu de
benzodiazepinas (BZ). A prevalência de prescrição deste fármaco no nosso país
no ano de 2001 foi de 14,8 %, sendo o sexo feminino maior consumidor face ao
sexo masculino (consumo duas vezes superiores) 26
A Direcção Geral da saúde (DGS), com base em dados referentes a
2002, divulgou que o consumo de medicamentos foi de 288,04 euros per capita,
representando cerca de 2,2 % do Produto Interno Bruto (PIB), e 23,9 % do
orçamento da saúde. Do grupo mais representativo, ansiolíticos, hipnóticos,
.
37
sedativos e anti-depressivos, os mais consumidos foram as BZ (segundo dados
de 2001).
Segundo o estudo de 2002, acerca da evolução do consumo de
benzodiazepinas em Portugal de 1995 a 2001 25, o consumo de benzodiazepinas
por sub-regiões de saúde não é homogéneo. O consumo da sub-região de
saúde (SRS) de Leiria em 2001 foi de 91.601 Dose Diária
Definida/1000habitantes/dia (DDD/1000hab/dia), sendo o valor máximo
verificado, em 2001, de 108,436 DDD/1000hab/dia (correspondente à SRS de
Portalegre) e o valor mínimo, em 2001, de 61,729 DDD/1000hab/dia
(correspondente à SRS de Bragança). Relativamente aos dados de 2001,
apenas as SRS de Portalegre, Évora, Santarém, Porto, Coimbra e Lisboa,
apresentaram valores superiores aos apresentados pela SRS de Leiria.
O crescimento inter-anual 1995-2001 verificado para esta SRS foi de
27,56 %. Este estudo
Dados de 2006, fornecidos pelo INFARMED
refere ainda que as prescrições médicas são o principal
meio de obter as benzodiazepinas, e o seu uso crónico deve-se em regra ao
desconhecimento por parte dos médicos da razão risco/benefício destes
tratamentos.
Os diagnósticos indecisos e a estrutura do sistema de saúde, tal como a
medicalização do sofrimento humano, os problemas sociais e a recorrência de
distúrbios da ansiedade, são causas apontadas por este estudo para o elevado
consumo de benzodiazepinas.
Só em Lisboa, estima-se que 23 % da população adulta consome este
tipo de fármacos. Em Portugal, existe uma maior prescrição, ao contrário do que
seria de esperar, nas zonas rurais do que nas às zonas urbanas. 27, apontam para um
consumo de benzodiazepinas em Portugal de 45.610.428 euros, o que
representa um encargo para o SNS de 20.365.239 euros e 11.445.712
embalagens vendidas. Só na SRS de Leiria, segundo a mesma fonte, foram
consumidos 2.332.706 euros de Benzodiazepinas, o que significa 5,114 % do
total nacional. Os encargos do SNS com o consumo de Benzodiazepinas nesta
SRS representaram 5,136 % do total Nacional e 4,825 % do total nacional de
embalagens vendidas.
38
No entanto, os utilizadores crónicos de hipnóticos e ansiolíticos tendem a
demonstrar poucas ou nenhumas diferenças quando comparados com sujeitos
com insónia não tratada 10.
Apesar de claramente demonstrada a importância que a insónia, e as
suas consequências assumem, não só a nível mundial como nacional na saúde
pública, na sociedade e na economia, no panorama actual, o sono ainda não
tem o seu “lugar” nos cuidados de saúde primários. É necessário que ele seja
criado. Para isso é fundamental termos uma perspectiva realista da dimensão do
problema da insónia, e das suas consequências, custos e repercussões na
qualidade de vida, bem como no domínio dos cuidados de saúde primários.
O Centro de Saúde de Figueiró dos Vinhos (CSFV) pertence à SRS de
Leiria, Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro, e serve uma
população total de 7 303 utentes, distribuídos por cinco extensões de saúde e
sede. Os inscritos na sede correspondem a 4462 utentes (61,1 %).
Localiza-se na pequena vila de Figueiró dos Vinhos, com características
predominantemente rurais e com índice de qualidade de vida de três numa
escala que varia de um a sete, sendo que o valor um corresponde a um índice
“muito favorável”, e o sete corresponde a um índice “muito desfavorável”.
segundo os resultados de um estudo efectuado pelo Instituto de Ciências Sociais
de Lisboa 28
Espera-se que nos meios urbanos, pelas suas características específicas,
se verifique uma prevalência de insónia mais elevada. No entanto o tema
reveste-se, salvo melhor opinião, de particular interesse no CSFV, uma vez que
, em 2004. O concelho de Figueiró dos Vinhos, com 7352 habitantes
(informação dos censos de 2001), e cinco freguesias, pertence ao Norte do
Distrito de Leiria, à região do Pinhal Interior Norte.
Não existem estudos epidemiológicos que determinem a prevalência de
insónia a nível da população de Figueiró dos Vinhos, e muito menos na
população que recorre ao CSFV.
39
se verifica ao nível da SRS de Leiria um consumo elevado de medicação
direccionada para o tratamento da insónia 25
O instrumento utilizado foi um questionário, que integrava um
questionário de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI), a Escala de
severidade da Insónia ou Insomnia Severity Índex (ISS), Escala de Sonolência
.
Embora Figueiró dos Vinhos seja uma vila de dimensões relativamente
pequenas, onde o trânsito e a azáfama dos transportes públicos não se fazem
sentir, o emprego precário, o desemprego e a desocupação, não podem deixar
de ser considerados como factores de stress.
É comum os utentes/doentes do centro de saúde, quando trivialmente
interrogados acerca dos seus hábitos de sono, referirem dificuldade em
adormecer, despertar a meio da noite com dificuldade em voltar a iniciar o sono,
acordares precoces ou até sonolência diurna aumentada. Estas situações não
são, por norma, referidas pelo doente ao médico no decorrer da consulta clínica,
uma vez que é o próprio doente a desvalorizar a sua insónia. Apenas o faz
quando questionado, na sequência de queixas nesse âmbito. Muitos doentes
são medicados com BZ e indutores do sono de outra natureza, não sendo
acompanhados em consulta médica para monitorização do tratamento. Estes
doentes nem sempre possuem um diagnóstico de insónia.
Este estudo pretende caracterizar a prevalência das queixas de insónia
nos doentes seguidos em consulta de clínica geral (CG) no CSFV, de forma a
caracterizar a relação entre a existência de queixas de insónia e a qualidade de
vida dos doentes e, por último, determinar se a qualidade de vida, inerente ao
estado de saúde, é pior nos doentes que referem insónias, do que naqueles que
referem dormir satisfatoriamente.
A amostragem foi aleatória, tendo decorrido de 20 de Junho até 31
Dezembro de 2006, num total de 292 indivíduos, entre os 20 e os 60 anos, que
recorreram às consultas de clínica Geral do Centro de Saúde de Figueiró dos
Vinhos.
40
de Epworth ou Epworth Sleepiness Scale (ESS) e o questionário que permite
avaliar a qualidade de vida associada ao estado de saúde, o SF-36.
Em simultâneo com a aplicação dos referidos questionários, foi efectuada
uma colheita de dados demográficos e de medicação dos doentes que aceitaram
fazer parte do estudo através do consentimento informado.
Depois de determinada a amostra total, numa primeira fase, a aplicação
do PSQI permitiu dividir a amostra em grupo com queixas de insónia (com
PSQI> 5) e em grupo sem queixas de insónia (com PSQI <5). Por outro lado, a
aplicação da Escala de Severidade da Insónia e da Escala de Sonolência de
Epworth permitiu quantificar a insónia.
Numa segunda fase, a aplicação do SF-36 possibilitou caracterizar o
estado de saúde, e a qualidade de vida associada, nos doentes com queixas de
insónia e nos doentes sem queixas de insónia.
Os dados obtidos destinaram-se a fazer um estudo descritivo das
variáveis dos diferentes questionários. A análise dos dados visou determinar a
prevalência da insónia na população estudada, comparar o estado de saúde dos
doentes com e sem queixas de insónia por análise univaridada e estabelecer a
correlação estatística entre as sub escalas dos questionários dos dois grupos.
41
2. MATERIAL E MÉTODOS
Neste capítulo, especificou-se de que forma foi estruturado o estudo em
questão, que objectivos e hipótese foram traçados.
Caracterizou-se a população e estabeleceram-se, ainda, os critérios para
a realização da amostragem.
Reproduziram-se os meios pelos quais foram obtidos os dados e que
regras éticas foram tidas em consideração.
Finalmente, explicaram-se as técnicas estatísticas utilizadas no
tratamento dos dados.
2.1. DESENHO DO ESTUDO
De forma a determinar a prevalência das queixas de insónia nos doentes
que recorrem às consultas de Clínica Geral no Centro de saúde de Figueiró dos
Vinhos e a sua relação com a Qualidade de vida, foi feito um estudo descritivo
das variáveis dos diferentes questionários, de forma a caracterizar a insónia e a
sua relação com o estado de saúde (e a qualidade de vida), nos indivíduos entre
os 20 e os 60 anos, que recorreram às consultas de clínica geral (CG), no
período de 20 de Junho a 31 de Dezembro de 2006.
A aplicação do questionário da Qualidade do sono de Pittsbourgh ou
PSQI permitiu dividir a amostra em dois grupos:
Grupo com alteração da qualidade do sono (PSQI> 5), nomeadamente,
queixas de insónia;
42
Grupo sem alteração da qualidade do sono (PSQI <5), nomeadamente,
sem queixas de insónia.
Por outro lado, utilizou-se a Escala de Severidade da Insónia (ISI) que
permitiu quantificar a insónia, estabelecendo o grau de gravidade ou severidade
da mesma.
A avaliação das consequências diurnas, em termos de sonolência diurna,
foi conseguida pelo uso da Escala de Sonolência de Epworth (ESS).
Pela aplicação do SF-36 caracterizou-se o estado de saúde, e a
qualidade de vida associada, nos doentes com insónia e nos doentes sem
insónia, e determinou-se a existência de alterações do estado de saúde, e da
qualidade de vida, em função da existência de queixas de insónia. Ao longo
deste trabalho, será feita referência a “estado de saúde” e “qualidade de vida”,
utilizando-os frequentemente como se fossem sinónimos, uma vez que a
qualidade de vida que se tem em vista está relacionada com a saúde.
Em simultâneo com a aplicação dos vários questionários, efectuou-se
uma colheita de dados demográficos, e de medicação habitual, dos doentes que
concordaram, através do consentimento informado, fazer parte do estudo.
2.2. OBJECTIVOS
Enquadram-se como principais objectivos do estudo:
Caracterizar a prevalência das queixas de insónia nos doentes seguidos
em consulta de clínica geral no Centro de Saúde de Figueiró dos Vinhos (CSFV);
Quantificar a severidade da insónia e a sonolência diurna nos doentes,
e perceber a sua relação com a insónia;
43
Caracterizar a relação entre a (in) existência de queixas de insónia e o
estado de saúde (e a qualidade de vida inerente) dos doentes, nas suas
diferentes dimensões;
Determinar se o estado de saúde (e a qualidade de vida inerente) é pior
nos doentes que referem queixas de insónia;
Analisar a influência de variáveis sócio demográficas, como a idade, o
sexo, o estado civil, a companhia, o emprego/ ocupação ou o trabalho por
turnos; bem como variáveis clínicas, nomeadamente a medicação efectuada
pelo sujeito; ou hábitos de sono, como a hora de deitar, a latência do sono, a
hora de levantar e a avaliação subjectiva da duração do sono, com a prevalência
de queixas de insónia, a severidade das mesmas, a sonolência diurna e a
variação do estado de saúde (e da qualidade de vida inerente) em todas as suas
dimensões;
Comparar as pontuações médias obtidas nas diferentes dimensões do
estado de saúde (e a qualidade de vida inerente), com os valores normativos
médios das diferentes dimensões validados para a população portuguesa.
2.3. HIPÓTESES DO ESTUDO
Tendo por base a revisão de literatura, realizaram-se as seguintes
predições:
As queixas de insónia serão uma situação prevalente nos doentes que
recorrem às consultas de clínica geral do CSFV;
A prevalência de queixas de insónia, bem como a sua gravidade,
crescerá com o aumento da idade;
Nos indivíduos com queixas de insónia, predominará a insónia de
severidade moderada, com repercussões diurnas;
44
A população feminina apresentará uma maior prevalência de queixas de
insónia e uma gravidade mais significativa;
Indivíduos separados, divorciados ou sem companhia, obterão uma
maior prevalência de insónia;
Uma maior latência do sono estará associada a uma maior prevalência
de queixas de insónia;
Doentes com queixas de insónia, com severidade de insónia moderada
ou sonolência diurna excessiva, apresentarão menores pontuações em todas as
dimensões do questionário SF-36;
Os valores de SF-36 obtidos junto da população em estudo serão
superiores aos valores normativos para a população portuguesa.
2.4. DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO
2.4.1. População do Concelho de Figueiró dos Vinhos
Figueiró dos Vinhos é um dos concelhos do Norte do Distrito de Leiria
(figura 1), inserindo-se na região do Pinhal Interior Norte. Tem cinco freguesias,
nomeadamente Figueiró dos Vinhos, Aguda, Arega, Bairradas e Campelo
(figura2). Os dados dos censos do Instituto Nacional de Estatística (INE) de
2001, foram utilizados para efectuar uma caracterização sumária dos aspectos
populacionais mais significativos para o estudo.
45
A população residente é equilibrada relativamente ao género. De facto,
do total de residentes 3486 são homens (47,4 %). No grupo etário dos 20 aos 64
anos, o número de residentes ronda os 4082, o que representa 55,52 % do total
de residentes no concelho.
Figura 1: Distrito de Leiria Figura 2: Concelho de Figueiró dos Vinhos
A taxa de analfabetismo é de 14,6 %. O Primeiro Ciclo do Ensino Básico
foi concluído por 45 %, o Ensino Secundário foi concluído por 10 % e apenas
5,35 % obtiveram habilitação Superior.
Dados de 2005 da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento
Regional do Centro (CCDRC) 29, indicam que o principal sector de actividade
económica no concelho é o terciário com 51,3 %, face aos 37,8 % do sector
secundário, e os 10,9 % do sector primário. Embora a população tenha
características essencialmente rurais, essas diferenças têm vindo a ser
atenuadas pelas tecnologias de comunicação e pelo desenvolvimento
tecnológico verificado ao longo dos últimos anos.
46
Figura 3: Vila de Figueiró dos Vinhos
A população que melhor importa caracterizar é a população da freguesia
de Figueiró dos Vinhos, uma vez que estes indivíduos representam os inscritos
no CSFV sede.
Os residentes na freguesia de Figueiró dos Vinhos em 2001 são, no total,
3835 (52,2 % do total do concelho), sendo 47,3 % homens.
Relativamente a faixa etária dos 20 aos 64 anos, do total de 2229
residentes (que representam 54,6 % dos residentes no concelho para a mesma
faixa etária), 1076 são homens (48,27 %). A população da freguesia de Figueiró
dos Vinhos, à semelhança com o que acontece com a população do concelho, é
uma população envelhecida, com 23,10 % de idosos face a 13,30 % de jovens,
sendo o índice de envelhecimento de 173,70. No que diz respeito ao estado civil,
56,5 % são casados, 31,4 % são solteiros, 9,57 % são viúvos e 2,47 % são
separados ou divorciados. No que se refere ao principal meio de vida, verifica-se
que a maioria (40,4 %) auferem rendimentos provenientes do seu trabalho, face
a 28 % que auferem de rendimentos provenientes de reforma. Quanto à situação
profissional, na freguesia de Figueiró dos Vinhos a população empregada
representa 40,78 % do total e destes 56 % são homens. Os desempregados
totalizam 2,29 %, dos quais 51 % são homens. Este número sofreu naturalmente
um incremento significativo desde 2001. De facto em 2005, segundo dados da
CCDRC 29, o número de desempregados ascendia já aos 5 % no concelho.
47
2.4.2. População do Centro de Saúde de Figueiró dos Vinhos
O Centro de Saúde de Figueiró dos Vinhos (CSFV) pertence à Sub-
região de Saúde de Leiria (SRSL), Administração Regional de Saúde do Centro
(ARS Centro).
O CSFV divide-se em sede e suas Extensões de Saúde, nomeadamente
Extensão de Saúde de Aguda, Extensão de Saúde de Arega, Extensão de
Saúde de Bairradas, Extensão de Saúde de Campelo e Extensão de Saúde de
Vilas de Pedro.
Com base nos dados obtidos através do programa informático SINUS
(Sistema de Informação para Unidades de Saúde), actualmente utilizado no
CSFV, os utentes com inscrição no CSFV e suas extensões de saúde são no
total 7303, os utentes da sede representam 57,35 % do total. Não estão
contabilizados neste número os utentes considerados esporádicos, ou seja,
migrantes ou emigrantes, que não pertencendo à área abrangida pelo CSFV,
recorrem ocasionalmente por este motivo de doença aguda.
Ainda segundo a mesma fonte, no CSFV o total de inscrições em
consultas de clínica geral ou consulta de adultos (maiores de dezanove anos),
no ano de 2006 (período de 1 de Janeiro de 2006 até 31 de Dezembro de 2006),
incluindo extensões de saúde, foi de 14282.
Na sede do CSFV decorreram 11660 consultas. Do total de consultas de
clínica geral, 7122 eram mulheres (61,1 %) e 4838 homens (41,5 %). Um dos
critérios de exclusão, para integrar a amostra, era ser repetente na consulta de
clínica geral (de forma a evitar a duplicação de dados). A população considerada
foi aquela que recorreu à sede do CSFV, para realização de primeira consulta de
clínica geral. Foram efectuadas na sede do CSFV 2690 primeiras consultas de
clínica geral (23,07 % do total de consultas de clínica geral realizadas). Destas,
58,2 % eram mulheres, face à 41,78 % de homens.
De forma a obter uma caracterização mais próxima da população
estudada, foi feita uma categorização por grupo etário, de acordo com a divisão
etária realizada pelo SINUS referente aos dados de consultas.
48
O grupo etário dos 19 aos 64 anos, foi o mais próximo do estudado (20
aos 60 anos). Assim sendo, do número total de consultas de clínica geral, 5575
foram referentes a este grupo etário (47,8 % do total de consultas). As primeiras
consultas para o grupo etário em questão (19 aos 64 anos), ascenderam a 1474
(54,8 % do total de primeiras consultas), e destas 54,4 % corresponderam a
utentes do sexo feminino. Obteve-se uma média de 122,8 primeiras consultas
(no grupo etário referido) por mês. Se considerarmos que o estudo decorreu em
cerca de seis meses (de 20 de Junho a 31 de Dezembro de 2006), a população
foi de cerca de 736 utentes (400 mulheres).
No CSFV exerciam então funções sete médicos, um dos quais
acumulava o cargo de director e de delegado de saúde, três exerciam funções
exclusivamente na sede, um acumulava a sede e uma extensão de saúde e dois
trabalhavam exclusivamente nas extensões de saúde. Na sede, encontravam-se
quatro médicos em alternância de horário, diariamente, das 9h às 18h.
2.5. CRITÉRIOS E ETAPAS DE SELECÇÃO DA AMOSTRA
2.5.1. Critérios de inclusão
Foram incluídos no estudo todos os indivíduos que preenchiam os
seguintes requisitos:
Idade compreendida entre os 20 anos e os 60 anos de idade;
Utentes inscritos no Centro de Saúde de Figueiró dos Vinhos;
Utentes que recorreram às consultas de Clínica Geral do Centro de
Saúde de Figueiró dos Vinhos (sede).
49
2.5.2. Critérios de exclusão
Constituíram critérios de exclusão seguintes os factores:
Repetentes nas consultas de clínica geral;
Utentes que apresentassem situação de gravidez.
2.5.3. Consentimento
A participação no estudo foi sujeita à obtenção prévia do consentimento
informado, através da assinatura de um documento onde constava toda a
informação relevante para este mesmo consentimento, nomeadamente uma
breve síntese sobre a temática, objectivos gerais e finalidade do estudo. Dessa
informação constava ainda o esclarecimento do carácter voluntário e anónimo da
participação no estudo, bem como a não existência de contrapartidas
económicas.
Este estudo foi autorizado pela Comissão de Ética da Faculdade de
Medicina de Lisboa (vide 2.7.).
2.5.4. Selecção das unidades de observação
Este estudo incidiu sobre os utentes que recorreram às consultas de
clínica geral (CG) na sede do Centro de Saúde de Figueiró dos Vinhos (CSFV).
O limite máximo de unidades de estudo fixado foi de 500 participantes.
O cronograma inicial propunha que se efectuasse a selecção das
unidades de observação no prazo de três meses (de 20 de Junho até 20
Setembro), mas no sentido de obter uma amostra mais significativa, e devido à
ocorrência de imponderáveis, o período de recolha dos dados foi alargado, tendo
decorrido no prazo de seis meses (20 de Junho até 31 de Dezembro de 2006).
Contribuiu para este facto a ausência de três médicos, dois dos quais realizavam
50
consulta de clínica geral na sede (por motivo de aposentação) e de uma médica
que assegurava três das extensões de saúde (atestado médico por doença
prolongada).
No período ao qual se reporta o estudo, o volume habitual de consultas
de clínica geral foi comprometido, por um lado, pela efectiva escassez de
recursos humanos na área médica, não só pelo factor anteriormente
mencionado, como por ter abrangido a época de férias dos clínicos, e por outro,
pela deslocação habitual da população residente para os locais de veraneio.
Apesar de, em contrapartida, se verificar um aumento do afluxo de utentes
esporádicos ao CSFV, estes não foram considerados por não estarem inscritos
neste CS.
Nem todos os doentes foram abrangidos no estudo, por imposições
relacionadas com cumprimento de horário e funcionalidade do serviço. Por outro
lado, grande parte dos doentes não aceitaram proceder ao preenchimento do
questionário no local, e nem todos os questionários foram devolvidos.
Por estes motivos, o tempo previsto para efectuar a amostragem teve de
ser ampliado, de forma a obter uma amostra satisfatória.
A colheita de dados não decorreu nas extensões de saúde porque não se
efectuam consultas de CG diariamente e o horário não é tão abrangente. Além
disso, a população utilizadora das extensões de saúde é, regra geral mais idosa
e recorrente. A título de exemplo, as extensões de saúde de Campelo e Vilas de
Pedro apresentam, respectivamente, 62,7 % e 73 % de utentes nesse grupo
etário.
A amostra foi composta pelos indivíduos aos quais foram aplicados os
questionários no período de 20 de Junho até 31 de Dezembro de 2006, no
decorrer das consultas de CG na sede do CSFV, num total de 292 unidades de
observação.
Os 292 indivíduos que compõem a amostra representam 2,5 % do total
de indivíduos que recorreram à consulta de CG no período de 1 de Janeiro de
2006 até 31 de Dezembro de 2006. Representam 10,85 % do total de primeiras
consultas, e 19,78 % do total de primeiras consultas entre os 19 e os 64 anos.
A média de primeiras consultas de CG no grupo etário dos 19 aos 64
anos foi de 123 por mês. Para os cerca de seis meses em que decorreu o
estudo, a média de primeiras consultas de CG para o grupo etário em questão
51
foi de cerca de 750 consultas. O que significa, que a amostra obtida representa
cerca de 39 % da população que recorreu a sede do CSFV, no período de 20 de
Junho até 31 de Dezembro de 2006, para primeira consulta de CG, no grupo
etário dos 19 aos 64 anos.
Após determinação da amostra total, os doentes foram divididos em
doentes com queixas de insónia e doentes sem queixas de insónia.
2.6. MÉTODOS DE MEDIDA
Os questionários do sono são, no geral, as ferramentas mais utilizadas
pelos laboratórios do sono para ajudar no diagnóstico e monitorizar o tratamento
dos distúrbios do sono. Permitem colher informação subjectiva detalhada acerca
do sono de um individuo, tal como, hora de despertar, número de acordares
nocturnos, ingestão de drogas, bem como informação qualitativa relativa à
qualidade do sono, dívida de sono e dificuldade em despertar. Alguns
questionários permitem avaliar a severidade e a frequência dos distúrbios do
sono. Em termos de investigação, a sua utilização é de certa forma limitada pela
escassez de dados que validem os resultados obtidos, quando comparados com
os existentes para medidas objectivas, como por exemplo a polissonografia
(PSG). Além disso, podem ocorrer diferenças significativas entre dados
subjectivos e objectivos, em doentes com má percepção do sono 9.
Por outro lado, apesar de a PSG ser considerada um dos melhores
instrumentos para o estudo de doentes com distúrbios do sono, não se
recomenda para a avaliação de rotina na insónia 30
O questionário foi precedido de uma informação e de um pedido de
consentimento (já referido em 2.5.3), onde se pretendeu apresentar o estudo aos
sujeitos participantes, introduzi-los no tema de forma muito superficial, dar-lhes a
conhecer o estudo, o porquê da sua realização, a sua finalidade e a
.
52
investigadora, como forma de integrar os sujeitos no mesmo. Tal documento foi
denominado “Folha de Informação e Consentimento Informado”. (vide anexo 2)
O questionário foi elaborado com o objectivo de proceder a colheita dos
dados. Pretendeu-se que este fosse o mais simples e conciso possível,
atendendo ao tipo de população alvo. No entanto, de forma a obter a informação
pretendida, tornou-se necessário recorrer à utilização de vários questionários,
condensados no mesmo documento, o qual se denominou “Questionário”, e
especificamente: Questionário de Características Demográficas, Questionário de
Medicação, Questionário de Qualidade do Sono de Pittsburg (PSQI), Escala da
Severidade da Insónia (ISI), Escala de Sonolência de Epworth (ESS) e
Questionário MOS SF-36 (Medical Outcomes Study short- form Health Survey
36-item), que de forma a simplificar, será referido apenas como SF-36. Ao longo
do texto o SF-36 será habitualmente referenciado como questionário de “estado
de saúde”.(vide anexo 3)
O questionário visava ser auto-administrado, com tempo médio de
preenchimento calculado em cerca de 15 minutos.
2.6.1. Características Demográficas
A insónia é uma desordem multi-factorial, influenciada por variados
factores de risco e co-morbilidades 9
O género é, sem dúvida, a variável com maior peso epidemiológico. As
mulheres são mais susceptíveis do que os homens em apresentar sintomas de
insónia, consequências diurnas ou manifestar insatisfação com o seu sono,
.
As determinantes sócio-demográficas de maior expressão para a
ocorrência de insónia são o género e a idade. No entanto, o estado civil e a
situação profissional não devem ser desprezados.
Sexo
53
sendo as mais diagnosticadas com insónia. Relativamente à existência de
sintomas de insónia, o rácio mulher/homem é de 1,4. Esta diferença acentua-se
com a idade, cerca de 1,7 depois dos 45 anos 10.
Idade
Quase todos os estudos epidemiológicos relataram um aumento da
prevalência dos sintomas de insónia com a idade, atingindo perto de 50% nos
sujeitos idosos (65 anos). Contudo a prevalência do diagnóstico de insónia é
estável entre os 15 e os 44 anos, aumentando a partir dos 45 anos e mantendo-
se em indivíduos mais idosos, e sendo mais evidente no género feminino. O
aumento da prevalência de sintomas de insónia no idoso saudável não existe ou
é muito ténue. Os idosos saudáveis dormem tão bem como os sujeitos mais
jovens 10.
Indissociável da idade é o aparecimento de inúmeras doenças médicas e
mentais, que conduzem invariavelmente a alterações do sono.
Estado Civil
Os indivíduos separados, divorciados ou viúvos 11 apresentam maior
prevalência de sintoma de insónia. Novamente, esta associação é mais
susceptível de ser encontrada no género feminino 10
Indivíduos sem ocupação, não trabalhadores, são mais susceptíveis de
manifestar sintomas de insónia do que indivíduos trabalhadores. Reformados e
.
Companhia
Esta variável aparece na literatura intimamente relacionada com o estado
civil, estando frequentemente a solidão associada a um aumento da frequência
das queixas de insónia, uma vez que a sua presença aparece mais
frequentemente em indivíduos separados, divorciados ou viúvos.
Emprego/Ocupação e Trabalho por Turnos
54
domésticas apresentam maior risco de insónia. No entanto, os estudantes não
sofrem risco significativo. Como tal, a relação poderá ser apenas uma
consequência da idade e do género. Em contrapartida os indivíduos que
trabalham por turnos apresentam maior risco de insónia do que os trabalhadores
diurnos 10.
A prevalência de insónia é maior em indivíduos com rendimentos
económicos e nível académico mais baixos. Contudo, esta associação não está
totalmente provada, uma vez que estudos que utilizaram análises multi-factoriais
não identificaram o baixo rendimento económico e o baixo nível académico como
factores de risco independentes para o aparecimento de sintomas de insónia, o
que sugere a existência de outros factores, tal como a idade, que explicam
melhor esta associação 10
Conteúdo dos itens
.
Com base nestes dados, os rendimentos económicos e o grau académico
de cada indivíduo em particular não foram considerados na elaboração do
questionário.
No quadro 1, estão representados os conteúdos que constituem a
colheita de dados demográficos do questionário.
Quadro 1: Características Demográficas
Item Opções de Preenchimento
Sexo 1 Masculino Feminino
Idade 2 Anos
Estado Civil 3
Solteiro Casado Separado Viúvo
Vive com outras pessoas 4 Sim Não
Emprego/ ocupação 5
Tempo inteiro Tempo parcial Estudante Desempregado Reformado
Trabalha por Turnos 6 Sim (regular/irregular) Não
55
2.6.2. Hábitos de medicação
O uso de substâncias medicamentosas ou dependência de substâncias
são factores que influenciam positivamente o aparecimento de insónia10.
Foi comprovado que 20 % dos utilizadores de drogas anti-hipertensivas
(excluindo os ß-bloqueantes) referiram sintomas colaterais, sendo a insónia um
deles10
Questão
. Outros medicamentos como os inibidores da recaptação da serotonina,
alguns neurolépticos, anti-parkinsónicos e anfetaminas podem causar insónia.
Os hipnóticos e os ansióliticos podem igualmente ser causadores de insónia
caso exista uma situação de tolerância, habituação ou quebra abrupta do seu
consumo.
No quadro 2, estão representados os conteúdos que constituem a
colheita de dados acerca da medicação efectuada pelos sujeitos.
Quadro 2: Colheita de dados acerca da medicação efectuada pelos sujeitos
Conteúdo dos itens Modo de Preenchimento
Faz medicação habitualmente para:
Asma
Assinale o quadrado (□) correspondente à medicação que efectua
HTA Diabetes
Dores Circulação Ansiedade Depressão
Dormir Acido úrico Dislipidémia Reumatismo
2.6.3. Questionário de Qualidade do Sono de Pittsburgh
O PSQI visa avaliar a qualidade do sono e efectuar o despiste de
distúrbios do sono ao longo de um mês, através de dezanove itens individuais. A
qualidade subjectiva do sono, latência do sono, duração do sono, eficiência do
56
sono habitual, distúrbios do sono, uso de medicação para dormir e disfunção
diurna são alguns dos aspectos considerados neste questionário.
Trata-se de uma das medidas subjectivas que permite a validação contra
a PSG, e é um dos instrumentos mais utilizados na avaliação da severidade da
insónia 9.
O PSQI é fiável e válido para avaliar a qualidade do sono e os distúrbios
do sono ao longo de um mês. Embora não tenha sido especificamente
concebido para abordar a insónia, discrimina claramente entre indivíduos com
sono normal e indivíduos com distúrbios e é um excelente instrumento de
apreciação dos distúrbios do sono em geral 31
.
O quadro 3 representa os conteúdos do PSQI e as pontuações possíveis
em cada item.
Quadro 3: Conteúdo e pontuação do PSQI
Conteúdo dos itens Item Pontuação
As seguintes questões relacionam-se com os hábitos de sono apenas no último mês. As suas respostas devem indicar a opção mais correcta para a maioria dos dias e das noites do último mês. Por favor responda a todas as questões. Durante o último mês,…
A que horas foi normalmente para a cama? 1 Horas Quanto tempo, em minutos, demorou a adormecer em cada uma? 2 0-3
A que horas se levantou de manhã? 3 Horas Quantas horas dormiu mesmo? (pode ser diferente do número de horas que passou na cama) 4 0-3
Quantas vezes teve dificuldade em dormir porque… Não conseguiu dormir em 30minutos 5.a 0-3 Acordou a meio da noite ou de manhã muito cedo 5.b 0-3 Teve de se levantar para ir a casa de banho 5.c 0-3 Não conseguiu respirar confortavelmente 5.d 0-3 Tossiu ou ressonou alto 5.e 0-3 Teve muito frio 5.f 0-3 Teve muito calor 5.g 0-3 Teve pesadelos 5.h 0-3 Teve dores 5.i 0-3 Outras razões, por favor descreva indicando o n.º de vezes que teve dificuldade em dormir por estas razões 5.j 0-3
Quantas vezes tomou medicamentos (prescritos ou não por médico) para o ajudar a dormir? 6 0-3
Quantas vezes teve dificuldade em manter-se acordado enquanto conduzia, durante as refeições ou em actividades sociais?
7 0-3
Quantas vezes teve dificuldade em manter o entusiasmo na realização das suas tarefas? 8 0-3
Como avaliaria a qualidade do seu sono em geral? 9 0-3
57
Relativamente às pontuações dos vários itens do PSQI, para o item 2 o
valor zero (0) corresponde a uma latência do sono inferior a 15 minutos, o valor
um (1) equivale a um período entre 16 e 30 minutos, o valor dois (2) traduz um
período entre 31 e 60 minutos e o valor três (3) refere-se a períodos superiores a
60 minutos.
No item 4, se o número de horas que dormiu é maior que 7 horas,
corresponde ao valor zero (0), se dormiu entre 6 e 7 horas o valor é um (1), se
dormiu entre 5 e 6 horas, o valor é dois (2), e se o número de horas que dormiu
é inferior a 5, o valor é três (3).
Para o item 5 até 8 é de referir que o valor zero (0) equivale à resposta
“não durante o último mês”, o valor um (1) corresponde à resposta “menos de
uma vez por semana”, o valor dois (2) por sua vez indica a resposta “uma a duas
vezes por semana”, e finalmente, o valor três (3) significa “três ou mais vezes por
semana”.
Relativamente ao item 9, estes valores assumem outro significado.
Assim, o valor zero (0) significa “muito bom”, o valor um (1) equivale a
“razoavelmente bom”, o valor dois (2) corresponde a “razoavelmente mau” e, por
último, o valor três (3) significa “muito mau”.
Através das pontuações dos diferentes itens obtém-se os vários
componentes que permitem efectuar o cálculo do PSQI.
O componente um (1) representa a avaliação da qualidade subjectiva do
sono, o componente dois (2) a latência do sono, o componente três (3) a
duração do sono, o componente quatro (4) a eficiência habitual do sono, o
componente cinco (5) os distúrbios do sono, o componente seis (6) a utilização
de medicamentos para o sono e, por fim, o componente sete (7), visa avaliar a
disfunção diurna.
A fórmula de cálculo de cada componente do PSQI é a que se segue:
Componente 1
:
Pontuação do item 9.
58
Componente 2:
Resulta da soma da pontuação do item 2 com a pontuação do item 5.a.
Quando a soma destes dois itens é igual a zero o valor é zero (0); entre 1 e 2 o
valor é um (1); entre 3 e 4 o valor é dois (2); e entre 5 e 6 o valor é três (3).
Componente 3:
Pontuação do item 4.
Componente 4:
Obtém-se pela divisão do total de horas que dormidas pelo total de horas
na cama, multiplicado por 100. Se o resultado obtido é superior a 85% o valor é
zero, se é situado entre os 84 e os 75 %, é um (1), se oscila entre os 74 e os
65%, é dois (2), e para resultados inferiores a 65% é três (3).
Componente 5:
Resulta da soma das pontuações dos itens de 5.b até 5.j. Quando essa
soma for zero, o valor é zero (0). Entre1 e 9, o seu valor é um (1), se entre 10 e
18 é dois (2), e entre os19 e os 27, o valor assumido é três (3).
Componente 6:
Corresponde à pontuação de item 6.
Componente 7:
Resulta da soma das pontuações dos itens 7 e 8. Se esse valor for zero,
o seu valor é zero (0). Entre1 e 2, é um (1), entre 3 e 4 é dois (2) e entre 5 e 6 é
três (3).
A pontuação de PSQI global é obtida com base na soma dos sete
componentes resultantes. A normalidade situa-se entre zero e cinco, valores
superiores a cinco indicam patologia do sono.
59
2.6.4. Escala da Severidade da Insónia
Bastien et al (2001) 31
definem a Escala de Severidade da insónia,
Insomnia Severity Index (ISI), como um instrumento que permite medir a
percepção que o doente tem da sua insónia e defendem que este instrumento é
adequado para quantificar a severidade da insónia.
Estes autores referem que o ISI avalia os sintomas subjectivos e
consequências da insónia assim como o grau de preocupação ou transtorno
causados por este problema.
O ISI divide-se em sete itens que abordam a gravidade das alterações do
sono, nas duas semanas precedentes, relacionadas com o início do sono e com
a sua manutenção, satisfação com o padrão de sono habitual, interferência com
o desempenho de tarefas, até que ponto é que essa interferência é notória, e
finalmente, o grau de transtorno ou preocupação causado por este problema.
Cada item é cotado numa escala de zero a quatro e a pontuação final
oscila entre o zero e os vinte e oito valores, sendo que quanto mais elevada a
pontuação, maior é o grau de severidade da insónia. A forma como cada item é
pontuado é visível no quadro 4.
As pontuações de todos os itens são somadas (1.a+1.b+1.c+2+3+4+5).
Os resultados situados entre zero e sete indicam insónia pouco significativa do
ponto de vista clínico, entre oito e catorze uma insónia ligeira, entre quinze e
vinte e uma insónia clínica (com severidade moderada) e resultados entre vinte e
dois e vinte e oito reflectem insónia clínica severa.
60
Quadro 4: Conteúdo e pontuações do ISI
2.6.5. Escala de Sonolência de Epworth
Esta escala permite medir, de forma simples e rápida a sonolência diurna
e tem sido muito utilizada em numerosos estudos. Além disso, a avaliação da
sonolência diurna através da Escala de Sonolência de Epworth ou Epworth
Sleepiness Scale (ESS) tem demonstrado associações significativas entre
sonolência diurna e insónia, permitindo uma análise quantitativa dos efeitos
terapêuticos farmacológicos e não farmacológicos na sonolência diurna 9
Conteúdo dos itens
. Trata-
se de um dos testes subjectivos mais utilizado embora possam ocorrer
dificuldades em imaginar situações não experienciadas.
O grau de sonolência obtém-se pela soma das pontuações atribuídas a
cada um dos itens, variando entre zero e vinte e quatro e considera-se duvidoso
entre oito e nove, patológico quando é superior a nove, e anormal a partir de
dez.
Item Pontuação
Por favor classifique a severidade da sua insónia (nas últimas 2 semanas).
Dificuldade em adormecer 1.a 0-4
Dificuldade em dormir 1.b 0-4
Problemas de acordar cedo demais 1.c 0-4
Que tipo de satisfação/insatisfação tem actualmente com o seu sono? 2 0-4
Até que ponto considera que os seus problemas de sono interferem nas suas actividades diárias (fadiga durante o dia, capacidade de trabalho, concentração, memória, humor, etc.)
3 0-4
Até que ponto os outros se apercebem dos seus problemas de sono e dos reflexos na sua qualidade de vida?
4 0-4
Até que ponto os seus problemas de sono o preocupam? 5 0-4
61
A variação da pontuação para cada item desta escala pode ser
observada no quadro 5.
Foi utilizada a versão validada para a língua e cultura portuguesa.
Quadro 5: conteúdos e pontuações da ESS
2.6.6. Questionário SF-36
Vários estudos já demonstraram a sensibilidade do questionário SF-36
(Medical Outcomes Study Short-form Health Survey 36-item) na avaliação do
impacto da insónia, quer por si quer em associação com outras co-morbilidades
psiquiátricas, na área do estado de saúde e da qualidade de vida associada 31, 32,
33
A qualidade de vida é, segundo a Organização Mundial de saúde (OMS),
a percepção que um indivíduo tem da sua posição na vida, no contexto cultural e
do sistema de valores em que vive, e em relação com os seus objectivos,
expectativas, metas e preocupações. É um conceito que integra, de uma forma
complexa, a saúde física do indivíduo, estado psicológico, nível de
.
Conteúdo dos itens Item Pontuação
Qual a sua facilidade de adormecer nas seguintes circunstâncias, em contraste com a sensação de estar apenas cansado? Isto refere-se ao seu dia-a-dia recente. Mesmo que não tenha feito qualquer destas coisas recentemente, tente imaginar como reagiria. Use o número mais apropriado em cada situação.
Sentado a ler 1 0-3
A ver TV 2 0-3
Sentado inactivo num lugar público (teatro, reunião, etc.) 3 0-3
Passageiro num carro durante uma hora consecutiva 4 0-3
Deitado a descansar à tarde 5 0-3
Sentado a falar com alguém 6 0-3
Sentado tranquilamente depois do almoço sem bebidas alcoólicas 7 0-3
Num carro, parado nos sinais de trânsito 8 0-3
62
independência, relações sociais, as suas crenças, e a sua relação com os
aspectos mais salientes do seu ambiente. Pressupõe uma avaliação subjectiva,
inerente a um contexto cultural, social e ambiental específico, e é por isso um
conceito multidimensional 34.
A qualidade de vida está intrinsecamente ligada à qualidade do sono,
sendo que qualquer distúrbio do sono interfere com a mesma. A qualidade de
vida pode ser definida como “ um estado global de bem-estar sentido por um
indivíduo e demonstrado por medidas subjectivas e objectivas de funcionamento,
saúde e satisfação na sua vida” (Reimer e Flemons, 2003) 35.
A avaliação da qualidade de vida na área da medicina do sono é
importante em várias dimensões. Para os doentes, o impacto dos sintomas,
relacionados com as alterações do sono, na sua qualidade de vida é a razão que
mais peso tem na procura do tratamento e na adesão ao mesmo. Nos clínicos, o
impacto que um distúrbio do sono parece ter no doente e no seu companheiro é
preponderante na escolha do plano de tratamento. Por outro lado, para os
investigadores, a avaliação da qualidade de vida é muitas vezes uma variável de
primeira linha.
Jenkinson et al (1993) 33, define o short form – 36 items (SF-36) como um
questionário que mede oito dimensões de saúde, nomeadamente, Função Física
(10 itens), Função Social (2 itens), Desempenho Físico (4 itens), Desempenho
Emocional (3 itens), Saúde Mental (5 itens), Energia e Vitalidade (4 itens), Dor (2
itens) e Percepção da Saúde Geral (5 itens).
Este autor estabelece ainda que para cada item de cada variável as
pontuações são codificadas, somadas e é efectuada a sua transformação numa
escala de zero até cem, correspondendo o zero ao pior estado de saúde
possível avaliado pelo questionário, e correspondendo cem ao melhor estado de
saúde possível e avaliado através do questionário.
Brazier et al (1992) 31
considera o SF-36 um instrumento fiável para medir
a saúde na população geral.
63
Em Portugal, a validade do SF-36 para instrumento de avaliação do
estado de saúde já foi demonstrada (Ferreira e Santana, 2003) 32.
Ferreira e Santana (2003) 32
contextualizam para a realidade portuguesa
as oito principais dimensões que o SF-36 permite medir em saúde. Segundo
estes autores, a escala de Função Física (FF) permite medir o impacto que as
limitações físicas têm na qualidade de vida do indivíduo, avaliando as limitações
na execução de actividades físicas, das mais simples às mais exigentes. As
escalas de Desempenho, por sua vez, medem as limitações que os problemas
Físicos (DF) ou Emocionais (DE) têm no desempenho do individual. As escalas
da Dor (DR) permitem não só avaliar as características da dor mas também em
que medida é que esta interfere com o dia-a-dia do indivíduo. A percepção
holística da saúde é avaliada pela escala que mede a Saúde em Geral (SG),
nomeadamente, saúde actual, resistência à doença e a aparência saudável. A
escala de Vitalidade (VT) mede os níveis de energia e de fadiga. A escala da
Função Social (FS) permite medir o impacto que os problemas físicos e
emocionais têm na actividade social do indivíduo. A escala de Saúde Mental
(SM) permite inferir acerca do comportamento emocional e bem-estar
psicológico, incluindo questões que se referem a importantes dimensões da
saúde mental, nomeadamente, ansiedade, depressão e perda de controlo em
termos comportamentais ou emocionais.
Estas oito escalas podem por sua vez ser agrupadas em duas
componentes: saúde física e saúde mental.
Por fim, o SF-36 contempla ainda a escala de transição em saúde, que
não sendo considerado um conceito em saúde, pretende medir a quantidade de
mudanças em geral, na saúde de quem responde. O conteúdo abreviado dos
itens das escalas do SF-36 e a sua pontuação podem ler-se no quadro 6.
64
Quadro 6: Conteúdo abreviado dos itens e pontuações das escalas do SF-36
Ferreira e Santana 32 (2003), referem que os resultados obtidos pelo
género feminino, para todas as dimensões, são significativamente mais baixos
do que os obtidos pelo género masculino, o mesmo acontecendo com a idade, já
que os mais idosos tendem a apresentar valores menores. Os trabalhadores
manuais, assim como os indivíduos com menor escolaridade, casados, ou
residentes em áreas rurais, tendem a apresentar uma pior percepção do seu
estado de saúde. Estes resultados foram também corroborados por outros
estudos na área 31, 33
Escala
.
Conteúdo dos itens Item Pontuação
FF – Função Física
Actividades violentas 3a 1-3 Actividades moderadas 3b 1-3 Levantar ou pegar compras de mercearia 3c 1-3 Subir vários lanços de escadas 3d 1-3 Subir um lanço de escadas 3e 1-3 Inclinar-se, ajoelhar-se ou baixar-se 3f 1-3 Andar mais de um km 3g 1-3 Andar vários quarteirões 3h 1-3 Andar um quarteirão 3i 1-3 Tomar banho ou vestir-se sozinho/a 3j 1-3
DF – Desempenho Físico
Diminuiu o tempo gasto a trabalhar ou noutras actividades 4a 1-2 Fez menos do que queria 4b 1-2 Limitado no tipo de trabalho ou outras actividades 4c 1-2 Dificuldade em executar o trabalho ou outras actividades 4d 1-2
D – Dor
Intensidade das dores 7 1-6 Interferência da dor no trabalho normal 8 1-5
SG – Saúde Geral
A sua saúde é: óptima, muito boa, boa, razoável, fraca 1 1-5 Parece que adoeço mais facilmente que os outros 11a 1-5 Sou tão saudável como qualquer outra pessoa 11b 1-5 Estou convencido que a minha saúde vai piorar 11c 1-5 A minha saúde é óptima 11d 1-5
VT - Vitalidade
Cheio de vitalidade 9a 1-6 Com muita energia 9e 1-6 Sentiu-se estafado/a 9g 1-6 Sentiu-se cansado/a 9i 1-6
FS – Função Social
Interferência dos problemas de saúde nas actividades sociais 6 1-5 Nº de casos em que a saúde física interferiu nas actividades sociais 10 1-5
DE – Desempenho Emocional
Diminuiu o tempo gasto a trabalhar ou noutras actividades 5a 1-2 Fez menos do que queria 5b 1-2 Não trabalhou tão cuidadosamente como era costume 5c 1-2
SM – Saúde Mental
Sentiu-se nervoso/a 9b 1-6 Sentiu-se deprimido/a e que nada o/a animava 9c 1-6 Sentiu-se calmo/a e tranquilo/a 9d 1-6 Sentiu-se triste e em baixo 9f 1-6 Sentiu-se feliz 9h 1-6
MS – Mudança de Saúde Saúde actual comparada com o que acontecia há um ano 2 1-5
65
O SF-36 pode ser auto-administrado ou aplicado por entrevista pessoal
ou telefónica. Exige idade mínima de 14 anos do inquirido e capacidade para ler
o questionário. O tempo de aplicação foi calculado em cerca de 10 minutos.
Apesar de o SF-36 não conter nenhuma variável referente directamente
ao sono 31, 32, 33, permite inferir acerca da sua qualidade e quantidade, através da
dimensão vitalidade e energia que é a mais sensível à presença de distúrbios do
sono, embora também se verifique uma significativa correlação com as
dimensões físicas e mentais 35.
Foi utilizada a versão 1 do SF-36 para o desenvolvimento deste estudo.
As principais diferenças residem nas escalas atribuídas a algumas das
perguntas, o que não interfere nos resultados específicos esperados. A versão
utilizada distingue-se da actual relativamente às escalas utilizadas nas perguntas
4, 5 e 9, que passaram a ser medidas numa escala de cinco pontos 32
. O motivo
pelo qual foi utilizada esta versão deve-se ao facto de ter sido aquela que se
encontrava mais acessível no momento da elaboração do questionário.
Para utilização do Sf-36, versão 1, validada para Portugal, foi necessário
efectuar um pedido de autorização ao Centro de Estudos de Investigação em
Saúde da Universidade de Coimbra.
O cálculo das pontuações das oito dimensões referentes ao SF-36,
versão 1, foi efectuado utilizando como recurso o Centro de Estudos de
Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra.
Os dados recolhidos através da aplicação dos questionários foram
posteriormente inseridos numa Matriz, em EXCEL, de forma a possibilitar o
tratamento estatístico dos dados. (vide Anexo 4)
66
2.7. PROCEDIMENTOS ÉTICOS
Foi pedida autorização formal à Comissão de Ética da Faculdade de
Medicina de Lisboa, que em reunião de 7 de Novembro de 2006, deu parecer
favorável à prossecução do estudo “Prevalência das queixas de Insónia nos
Doentes que recorrem às consultas de Clínica Geral do Centro de Saúde de
Figueiró dos Vinhos e sua relação com a qualidade de Vida”.
Foi pedida autorização formal à Sra. Directora do Centro de Saúde de
Figueiró dos Vinhos, através de carta enviada em 26 de Junho de 2006, para dar
início a aplicação dos questionários.
Autorização dos sujeitos:
O consentimento informado foi obtido junto dos sujeitos, através da sua
assinatura, e após a leitura da “Folha de Informação e Consentimento
Informado”, que precedia o preenchimento do questionário.
(vide anexo 2)
2.8. TÉCNICAS DE ANÁLISE ESTATÍSTICA
Descrição e caracterização da amostra
Para a descrição e caracterização da amostra utilizaram-se as medidas
estatísticas de tendência central (média) e de dispersão (amplitude e desvio
padrão).
67
Comparação do estado de saúde
Para comparar as médias das pontuações do estado de saúde registadas
na amostra em estudo e os valores de norma existentes para a população rural,
utilizou-se o One sample t-test (teste t-student para comparação de uma média).
Correlação estatística entre sub-escalas dos questionários
Para a análise das eventuais associações entre a (in) existência de
queixas de insónia, bem como do seu grau de severidade e as variáveis de
caracterização dos sujeitos em estudo (nelas incluindo quer às sócio
demográficas, quer as respeitantes a medicação e a hábitos de sono) recorreu-
se ao teste de Chi-Square Test (teste do Qui-quadrado).
As comparações do estado de saúde, nos diferentes grupos encontrados
(ter ou não ter insónia, ter níveis de severidade de insónia distintos, ter ou não
sonolência diurna excessiva) foi realizada através da aplicação do teste t-student
para duas amostras independentes, se em presença de dois grupos no mesmo
momento, e da One Way ANOVA, se perante três ou mais grupos no mesmo
momento. Neste último caso as comparações múltiplas posteriores foram
efectuadas através dos Pós Hoc Tests, LSD (quando a igualdade das variâncias
era assumida) e Dunnett T3 (quando a igualdade das variâncias não era
assumida).
O estudo das associações entre o estado de saúde e as pontuações das
escalas do PSQI, ISI e ESS, foi efectuado através do coeficiente de correlação
de Pearson. Para interpretação dos coeficientes de correlação recorreu-se aos
critérios de Cohen e Holliday referidos por Byrman e Cramer (1992) 36, que
sugerem a seguinte classificação: correlação muito baixa para valores iguais ou
inferiores a 0,19; baixa para valores entre 0,20 e 0,39; moderada se entre 0,40 e
0,69; alta entre 0,70 e 0,89 e muito alta para valores iguais ou superiores a 0,90.
Valores de p< 0,05 foram considerados estatisticamente significativos.
Na análise dos dados foi utilizado o Statistical Package for the Social
sciences (SPSS) versão Windows (SPSS 14.0).
68
3. RESULTADOS
A apresentação dos resultados iniciou-se com a descrição e
caracterização dos dados relativos às características sócio-demográficas da
amostra em estudo, aos hábitos de medicação e de sono da amostra, a
prevalência de insónia na amostra, a sua severidade e às suas repercussões
diurnas, nomeadamente sonolência diurna, bem como dos dados referentes à
caracterização da amostra face ao estado de saúde.
Foram apresentados os resultados relativos à comparação do estado de
saúde da amostra com os valores normativos para a população portuguesa.
De seguida, expuseram-se os dados alusivos à insónia face às
características sócio-demográficas, hábitos de medicação, de sono e estado de
saúde.
Apresentaram-se igualmente os dados respeitantes à severidade de
insónia e sua relação com as características sócio-demográficas, hábitos de
medicação, de sono, e estado de saúde.
A descrição dos dados referentes à sonolência diurna e sua relação com
as características sócio-demográficas, hábitos de medicação, de sono, e estado
de saúde, foi também realizada.
Finalmente, foram relatados os dados relativos à relação entre PSQI, ISI,
ESS e Estado de Saúde.
69
3.1. DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
3.1.1. Caracterização sócio-demográfica
A amostra foi composta por 292 sujeitos, que preencheram o questionário
no local ou o devolveram preenchido, pertencentes ao Centro de Saúde de
Figueiró dos Vinhos (CSFV), inscritos em consulta de clínica geral (CG) no
período de 20 de Junho até 31 de Dezembro de 2006.
Após ter sido apurada, nenhum sujeito foi excluído. A amostra inicial
constituiu, por isso, a amostra definitiva.
As principais características sócio-demográficas, obtidas através do
questionário, encontram-se resumidas nos quadros 7, 8 e 9.
Quadro 7: Sexo, estado civil, companhia, situação profissional, trabalho por turnos
Variáveis Sócio demográficas N %
Sexo
Feminino 208 71,2 Masculino 84 28,8 Dados em falta 0 0,0 Total 292 100,0
Estado Civil
Casado 176 60,3 Solteiro 93 31,8 Separado 13 4,5 Viúvo 10 3,4 Dados em Falta 0 0,0 Total 292 100,0
Companhia
Não 29 9,9 Sim 263 90,1 Dados em falta 0 0,0 Total 292 100,0
Situação Profissional
Emprego a tempo inteiro 208 71,2 Emprego a tempo parcial 13 4,5 Desempregado 26 8,9 Estudante 29 9,9 Reformado 16 5,5 Dados em falta 0 0,0 Total 292 100,0
Trabalho Por Turnos
Não trabalha por turnos 247 84,6 Trabalha em turnos regulares 25 8,6 Trabalha em turnos irregulares 19 6,5 Dados em falta 1 0,3 Total 292 100,0
70
A maioria dos participantes no estudo eram do sexo feminino (71,2 %),
casados (60,3 %), viviam acompanhados (90,1 %), eram empregados a tempo
inteiro (71,2%), mas não trabalhavam por turnos (84,6 %), como de resto, pode
ser apreciado no quadro 7.
Quanto à variável sexo, o gráfico 1 permite-nos visualizar a distribuição
da amostra quanto ao género.
Gráfico 1: Distribuição da amostra quanto ao sexo
71%
29%
feminino masculino
Relativamente à idade da amostra, a média etária foi de 38,14 anos
(quadro 8), sendo os grupos etários mais significativos o dos 25-34 anos (25,7
%) e o dos 35-44 anos (24,0 %), como é possível verificar pela análise dos
quadros 8 e 9.
Quadro 8: Idade
Quadro 9: Grupo etário
N Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
Idade 292 20 60 38,14 12,298
Anos N %
Grupo Etário
20-24 52 17,8 25-34 75 25,7 35-44 70 24,0 45-54 56 19,2 55-60 39 13,4 Total 292 100,0
71
No gráfico 2, exemplifica-se a distribuição da amostra relativamente ao
grupo etário.
Gráfico 2: Distribuição da amostra por Grupo etário
17,8
25,7 2419,2
13,4
05
1015202530
% Sujeitos da amostra
20-24 25-34 35-44 45-54 55-60
Grupo etário (anos)
3.1.2. Hábitos de sono
Os dados relativos aos hábitos de sono foram obtidos utilizando as
respostas às primeiras quatro perguntas do questionário de Qualidade de Sono
de Pittsburgh.
Referem-se à hora habitual de deitar, à latência do sono (tempo em
minutos que o doente leva a adormecer a partir do momento em que se deita), à
hora habitual de o sujeito acordar e a eficiência subjectiva do sono (o número de
horas que o sujeito acha que dormiu).
Os quadros que se seguem, quadros 10, 11, 12 e 13, retratam os hábitos
de sono da amostra em estudo.
Relativamente à hora habitual de o sujeito se deitar, o quadro 10 mostra
que a hora de deitar oscilou entre as 21 horas e as 5 horas (amplitude = 8,0),
sendo a média de 23 horas e 30 minutos. Constatou-se que a hora mais
frequente de deitar foi 23 horas (24,7 %), e 24 horas (18,5 %).
72
Quadro 10. Caracterização da hora de deitar na amostra
No gráfico 3, está representada a distribuição da hora habitual de deitar dos
sujeitos da amostra em estudo.
De forma a facilitar a análise dos dados relativos à hora de deitar, e tendo
por base a literatura, Paiva (2006) 4
65,5
34,5
0
20
40
60
80
% sujeitos da amostra
<24 ≧24
Hora de deitar
refere que 70,0 % dos portugueses se
deitam após as 24 horas, foi efectuada a divisão da amostra em dois grupos. Um
grupo com hora habitual de deitar antes das 24h e outro grupo com hora habitual
de deitar após as 24 horas. Verifica-se que 65,5 % dos sujeitos se deitaram
antes da meia-noite.
Gráfico 3: Distribuição da amostra segundo a hora de deitar
Hora de deitar N % Média Desvio padrão
21,00 11 3,8
23,30 1,24
21,30 9 3,1 22,00 32 11,0 22,30 26 8,9 23,00 72 24,7 23,30 40 13,7 23,45 1 0,3 24,00 54 18,5 00,30 13 4,5 01,00 18 6,2 01,30 1 0,3 02,00 9 3,1 03,00 3 1,0 04,00 2 0,7 05,00 1 0,2 Total 292 100,0
73
Quanto ao tempo que os sujeitos do estudo demoraram a adormecer,
constatou-se que o mais frequentemente referido foi 30 minutos (24,3 %), 15
minutos (16,8 %), 5 minutos (15,4 %), 10 minutos (14,0 %), e de forma ainda
considerável, 60 minutos (11,3 %).
A média foi de 26,12 minutos, como se pode verificar da análise do
quadro 11.
O valor máximo referido foi 210,0 minutos e o mínimo 0,0 minutos
(amplitude = 210,0).
Quadro 11: Caracterização da latência subjectiva do sono na amostra
O gráfico 4 mostra a distribuição da latência do sono na amostra,
considerando o valor de referência de 30 minutos.
Verificou-se que 44,4 % dos sujeitos obtiveram uma latência de sono
superior a 30 minutos.
Latência subjectiva do sono (minutos) N % Média Desvio Padrão
0,00 1 0,3
26,12 24,53
1,00 2 0,7 2,00 1 0,3 3,00 1 0,3 5,00 45 15,4 7,00 1 0,3 9,00 1 0,3 10,00 41 14,0 15,00 49 16,8 20,00 19 6,5 25,00 2 0,7 30,00 71 24,3 35,00 4 1,4 40,00 4 1,4 45,00 7 2,4 50,00 2 0,7 60,00 33 11,3 80,00 1 0,6 90,00 3 1,0 120,00 2 0,7 180,00 1 0,3 210,00 1 0,3 Total 292 100,0
74
Gráfico 4: Distribuição da amostra segundo a latência do sono
55,6
44,4
0102030405060
% de sujeitos da amostra
< 30 >30
Latência do subjectiva do sono (minutos)
Os sujeitos da amostra, como se pode observar no quadro 12,
acordavam entre as 7 horas (24,0 %) e as 8 horas (17,8 %), sendo a média de 7
horas e 39 minutos. O valor máximo referenciado foi 13 horas e o valor mínimo
foi 5 horas (amplitude =8,0).
Quadro 12: Caracterização da hora de acordar na amostra
Hora de acordar N % Média Desvio Padrão
5,00 4 1,4
7,39 1,17
5,30 3 1,0 6,00 28 9,6 6,15 1 0,3 6,30 3 9,9 6,40 4 1,0 6,45 4 1,4 7,00 70 24,0 7,05 1 0,3 7,15 1 0,3 7,20 2 0,7 7,20 1 0,3 7,25 2 0,7 7,30 37 12,7 7,45 2 0,7 8,00 52 17,8 8,05 1 0,3 8,15 4 1,4 8,30 17 5,8 9,00 14 4,8 9,30 1 0,3 10,00 6 2,1 10,30 2 0,7 11,00 4 1,4 11,30 1 0,3 13,00 2 0,7 Total 292 100,0
75
O gráfico 5 mostra a distribuição da amostra relativamente à hora habitual
de acordar dos sujeitos.
De forma a facilitar a análise dos dados relativos à hora de acordar,
dividiu-se a amostra em dois grupos, um grupo que se levanta antes das 7 horas
e outro após as 7 horas (inclusive). Constatou-se que 75,6 % dos sujeitos se
levantaram depois das sete horas.
Gráfico 5: Distribuição da amostra segundo a hora de acordar
24,6
75,4
0
20
40
60
80
% sujeitos da amostra
< 7 ≧ 7
Hora de acordar
Quando se consulta o quadro 13, observa-se que uma grande parte dos
sujeitos do estudo tinha a sensação subjectiva de ter dormido entre 7 a 8 horas.
(36,0 % e 19,9 %, respectivamente). O valor médio foi de 6,98, o que significa 7
horas e 38 minutos. O valor mínimo foi 2 horas e o valor máximo 10 horas e 30
minutos (amplitude = 8,3).
76
Quadro 13: Caracterização da duração subjectiva do sono
O gráfico 6 representa a distribuição dos sujeitos da amostra conforme o
número de horas que referiram dormir habitualmente.
Com base em Paiva (2006) 21
73
27
01020304050607080
% sujeitos da amostra
< 8 ≧ 8
Duração subjectiva do sono (horas)
, 85 % da população adulta necessita de
dormir entre 7 e 8 horas, pelo que se decidiu dividir a amostra em dois grupos,
para facilitar a análise dos dados referentes à hora de deitar. Um grupo que
dormia menos de 8 horas e outro mais de 8 horas (inclusive).
Com base neste procedimento, verifica-se que os sujeitos dormiam
menos de 8 horas (73,0 %).
Gráfico 6. Distribuição da amostra segundo a duração subjectiva do sono
Duração subjectiva do sono (horas) N % Média Desvio
Padrão 2,00 1 0,3
6,98 1,14
3,00 1 0,3 4,00 4 1,4 4,30 4 1,4 5,00 14 4,8 5,30 4 1,4 6,00 46 15,8 6,15 1 0,3 6,30 14 4,8 7,00 105 36,0 7,15 1 0,3 7,30 18 6,2 8,00 58 19,9 8,30 3 1,0 9,00 12 4,1 9,30 3 1,0 10,00 2 0,7 10,30 1 0,3 Total 292 100,0
77
O quadro 14 reflecte as correlações estatísticas entre os hábitos de sono
e a idade.
Relativamente à hora de deitar, verificou-se que existe uma correlação
negativa significativa (p = 0,021) com a idade, na amostra em estudo. À medida
que a idade dos sujeitos aumentou, a hora a partir da qual se deitaram diminuiu.
No que diz respeito ao tempo que os sujeitos da amostra levaram a adormecer
(latência do sono), essa correlação não é significativa do ponto de vista
estatístico (p = 0,086).
Já no que se refere à hora que os sujeitos se levantaram, verificou-se que
a correlação com a idade é significativa (p = 0,000), quanto maior a idade dos
sujeitos, mais cedo eles se levantavam. A duração subjectiva do sono também
apresentou uma correlação significativa com a idade do ponto de vista estatístico
(p=0,000), constatou-se que o número de horas de sono diminuiu, à medida que
a idade dos sujeitos aumentou.
Quadro 14: Correlação estatística entre hábitos de sono e Idade (n 292)
Hábitos de Sono Idade
Hora de deitar r - 0,135* p 0,021
Latência do sono r 0,101 p 0,086
Hora de acordar r -0,252** p 0,000
Duração subjectiva do sono r -0,280** p 0,000
* Correlação significativa para p <0,05
** Correlação significativa para p <0,01
3.1.3. Hábitos de medicação
No que se refere à medicação habitual, resumida no quadro 15, os
fármacos utilizados com maior frequência foram os que se destinavam ao
tratamento de ansiedade (9,6 %), indutores do sono (9,9 %), hipertensão arterial
(11 %), anti-depressivos (11,3 %) e anti-álgicos (15,8 %).
78
Quadro 15: Medicação habitual
3.1.4. Caracterização das queixas de insónia, severidade de insónia e sonolência diurna
Para a descrição das queixas de insónia, conforme o referido no capítulo
anterior, considerou-se que uma pontuação de PSQI> 5 traduzia a existência de
queixas de insónia, enquanto que uma pontuação de PSQI <5 significava a não
existência de queixas de insónia.
Medicação habitual N %
Asma
Sim 6 2,1 Não 286 97,9 Total
292 100,0
Hipertensão Arterial
Sim 32 11,0 Não 260 89,0 Total
292 100,0
Diabetes
Sim 12 4,1 Não 280 95,9 Total
292 100,0
Dores
Sim 46 15,8 Não 246 84,2 Total
292 100,0
Circulação
Sim 19 6,5 Não 273 93,5 Total
292 100,0
Ansiedade
Sim 28 9,6 Não 264 90,4 Total
292 100,0
Depressão
Sim 33 11,3 Não 259 88,7 Total
292 100,0
Dormir
Sim 29 9,9 Não 263 90,1 Total
292 100,0
Ácido Úrico
Sim 12 4,1 Não 280 95,9 Total
292 100,0
Dislipidémia
Sim 5 1,7 Não 287 98,3 Total
292 100,0
Reumatismo
Sim 8 2,7 Não 284 97,3 Total
292 100,0
79
As queixas insónia tiveram uma prevalência significativa na amostra (57,9
%), como está demonstrado no quadro 16.
Quadro 16: Prevalência de queixas de insónia na amostra
A amostra em estudo apresentou uma severidade de insónia pouco
significativa do ponto de vista clínico (53,1 %). No entanto, foram ainda
expressivos os casos de insónia ligeira (35,5 %), e de insónia clínica de
severidade moderada a grave (11,6 %), como é visível no quadro 17.
Quadro 17: Severidade da insónia na amostra
Relativamente à sonolência diurna da amostra, foram 20,2 % os sujeitos
que demonstraram sonolência diurna excessiva, facto observável no quadro 18.
Quadro 18: Sonolência diurna
Queixas de Insónia PSQI N %
Sem queixas PSQI < 5 123 42,1 Com queixas PSQI > 5 169 57,9
Total 292 100,0
ISI N %
0-7 Insónia pouco significativa do ponto de vista clínico 155 53,1
8-14 Insónia ligeira 103 35,3
15-21 Insónia clínica de severidade moderada 29 9,9
22-28 Insónia clínica severa 5 1,7
Total 292 100,0
ESS N %
<9 Normal 233 79,8
> 9 Sonolência diurna excessiva 59 20,2
Total 292 100,0
80
Quando comparadas as médias relativas à prevalência de queixas de
insónia, severidade de insónia e sonolência diurna, verificou-se que para o PSQI
e o ISI, esta média se localiza em valores que não são de normalidade (7,56 e
7,82, respectivamente).
O desvio padrão é menor para o ESS (3,747).
Quadro 19: Prevalência de queixas de insónia, severidade de insónia e sonolência diurna
3.1.5. Caracterização do estado de saúde na amostra
É perceptível pela observação do quadro 20 que a Função Física (média
79,02) e Desempenho Físico (média 74,91), foram as dimensões que mais
pontuaram na amostra em estudo. As que menos pontuaram foram a Vitalidade
(média 57,23) e a Saúde em Geral (média 59,28), seguidas da Saúde Mental
(média 61,81) e a Dor Física (média 63,55).
Quadro 20: Dimensões do estado de saúde
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
PSQI 292 0 25 7,56 4,855 ISI 292 0 25 7,82 5,407 ESS 292 0 21 7,07 3,747
Dimensões do SF-36 N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
Função Física 291 0,00 100,00 79,02 22,62 Desempenho Físico 292 0,00 100,00 74,91 34,15 Dor Física 292 0,00 100,00 63,55 23,45 Saúde em Geral 292 0,00 100,00 59,28 18,50 Vitalidade 292 0,00 100,00 57,23 18,72 Função Social 292 0,00 100,00 74,83 22,82 Desempenho Emocional 292 0,00 100,00 73,74 33,66 Saúde Mental 292 0,00 100,00 61,81 20,63
81
3.2. O ESTADO DE SAÚDE DA AMOSTRA FACE AOS VALORES NORMATIVOS
Compararam-se os resultados médios obtidos para cada dimensão do
SF-36 com os valores normativos estabelecidos por Ferreira e Santana (2003) 13
*One sample t-test
Quando a comparação dos valores normativos das médias das
dimensões do SF-36 para a população em geral
,
para populações rurais.
Verificou-se que só existe significância estatística para as dimensões
Função Física e Saúde em Geral (p = 0,000), como é possível apreciar no
quadro 21.
Os valores das pontuações das dimensões Função Física, Desempenho
Físico, Dor Física, Saúde em Geral e Vitalidade, foram mais elevados na
população de Figueiró dos Vinhos.
Quadro 21: Comparação entre os valores normativos para população rural e os valores da
amostra
32
Dimensões do SF-36
foi efectuada com os valores
pontuados na amostra (quadro 22), verificou-se que a Função Física e a Saúde
em Geral foram as dimensões que mantiveram a significância estatística (p entre
0,002 e 0,005).
Médias das dimensões P* Valores normativos para a
população rural Valores para a amostra
Função Física 74,35 79,02 0,000 Desempenho Físico 72,27 74,91 0,187 Dor Física 62,92 63,55 0,646 Saúde em Geral 55,27 59,28 0,000 Vitalidade 57,20 57,23 0,981 Função Social 75,55 74,83 0,590 Desempenho Emocional 74,34 73,74 0,763 Saúde Mental 63,21 61,80 0,247
82
Também neste caso as pontuações apresentadas foram mais elevadas
na nossa amostra para as dimensões Função Física, Desempenho Físico, Dor
Física e Saúde em Geral.
Quadro 22: Comparação entre os valores normativos para a população geral e os
valores da amostra
*One sample t-test
3.3.QUEIXAS DE INSÓNIA 3.3.1. Queixas de insónia e características sócio-demográficas
É observável pela análise do quadro 23, que dos indivíduos com queixas
de insónia (57,9 % do total da amostra), 59,6 % do total dos indivíduos do sexo
feminino apresentou queixas de insónia.
Todavia, a diferença entre a prevalência no sexo feminino e masculino
não é estatisticamente significativa (p = 0,334).
Dimensões do SF-36 Médias das dimensões
P* Valores normativos para a população em geral Valores para a amostra
Função Física 75,27 79,02 0,005 Desempenho Físico 71,21 74,91 0,065 Dor Física 63,34 63,55 0,878 Saúde em Geral 55,83 59,28 0,002 Vitalidade 58,43 57,23 0,273 Função Social 74,95 74,83 0,928 Desempenho Emocional 73,56 73,74 0,925 Saúde Mental 64,04 61,80 0,066
83
Quadro 23: Queixas de Insónia versus sexo
*Teste do Qui-quadrado
O gráfico 7 representa a relação da insónia com o sexo feminino e
masculino.
A maioria dos sujeitos com queixas de insónia eram do sexo feminino
(73,37 %).
Gráfico 7: Queixas de insónia versus sexo
27%
73%
masculino feminino
Para o estudo da influência da idade na prevalência das queixas de
insónia, foi necessário efectuar uma divisão por grupo etário. Foi adoptado,
dentro do possível, a estratificação etária utilizada pelos censos 2001. Foram
estabelecidos cinco estratos etários, dos 20 (idade mínima exigível para
participar no estudo) aos 24; dos 25 aos 34; dos 35 aos 44; dos 45 aos 54; e dos
55 aos 60 (idade máxima para participação no estudo).
O grupo etário dos 45-54 anos, embora não fosse o mais numeroso
(n=56), foi aquele em que a prevalência das queixas de insónia foi mais elevada
(73,2 % do total dos elementos deste grupo etário têm queixas de insónia).
Sexo
PSQI
P* Sem queixas de insónia Com queixas
de insónia Total
N % N % N % Feminino 84 40,4 124 59,6 208 100,0
0,344 Masculino 39 46,4 45 53,6 84 100,0
Total 123 42,1 169 57,9 292 100,0
84
No grupo etário dos 55-60 anos de idade, como pode ser observado no
quadro 24, a prevalência das queixas de insónia foi igualmente elevada (69,2
%).
O grupo etário com menor prevalência de queixas de insónia é o dos 35-
44 anos (50 % do total dos elementos deste grupo etário têm insónia).
Quadro 24: Queixas de insónia versus idade
*Teste do Qui-quadrado
Através da análise do gráfico 8, é possível verificar que a prevalência das
queixas de insónia foi mais elevada nos sujeitos do grupo etário dos 45-54 anos
(24,26 %) e dos 25-34 anos (22,48 %). Os grupos etários dos 55-60 anos (15,07
%) e dos 20-24 (16,56 %) foram os que menos queixas de insónia apresentaram.
Gráfico 8: Queixas de Insónia por grupo etário
16,56
22,48 20,7124,26
15,97
0
5
10
15
20
25
% Insóniana amostra
20-24 25-34 53-44 45-54 55-60
grupo etário
Grupo etário
PSQI
P* Sem queixas de insónia Com queixas
de insónia Total
N % N % N % 20-24 24 46,2 28 53,8 52 100,0
0,024
25-34 37 49,3 38 50,7 75 100,0 35-44 35 50,0 35 50,0 70 100,0 45-54 15 26,8 41 73,2 56 100,0 55-60 12 30,8 27 69,2 39 100,0
Total 123 42,1 169 57,9 292 100,0
85
Quando em causa está o estado civil, as diferenças não foram
significativas do ponto de vista estatístico (p = 0,065).
É visível, pela consulta do quadro 25, que 90,0 % dos viúvos e 76,9 %
dos indivíduos separados apresentam queixas de insónia.
Quadro 25: Queixas de insónia versus estado civil
*Teste do Qui-quadrado
Relativamente ao facto dos sujeitos estarem ou não acompanhados no
seu dia-a-dia, as diferenças não foram significativas (p = 0,932).
No quadro 26, observou-se que 58,6 % dos sujeitos com companhia
tinham queixas de insónia.
Quadro 26:Queixas de insónia versus companhia
*Teste do Qui-quadrado
O quadro 27 retrata a existência de queixas de insónia face à situação
profissional dos sujeitos.
As diferenças encontradas não foram significativas do ponto de vista
estatístico (p = 0,072).
Estado civil
PSQI
P* Sem queixas de insónia Com queixas
de insónia Total
N % N % N % Casado 75 42,6 101 57,4 176 100,0
0,065
Separado 3 23,1 10 76,9 13 100,0 Solteiro 44 47,3 49 52,7 93 100,0 Viúvo 1 10,0 9 90,0 10 100,0
Total 123 42,1 169 57,9 292 100,0
Companhia
PSQI
P* Sem queixas de insónia Com queixas
de insónia Total
N % N % N %
Sim 12 41,4 17 58,6 29 100,0
0,932 Não 111 42,2 152 57,8 263 100,0
Total 123 42,1 169 57,9 292 100,0
86
Da sua análise, ressalta que 87,5 % dos sujeitos reformados, e 69,2 %
dos sujeitos desempregados, apresentaram queixas de insónia.
Quadro 27: Queixas de insónia versus situação profissional
*Teste do Qui-quadrado
Nos quadros 28 e 29, é possível visualizar a relação estatística entre o
trabalho por turnos, regulares ou irregulares, e as queixas de insónia.
As diferenças encontradas, quadro 28 e quadro 29, não foram
estatisticamente significativas (p = 0,781).
Dos trabalhadores por turnos, 63,6 % apresentaram queixas de insónia.
Quadro 28: Queixas de insónia versus Trabalho por turnos
*Teste do Qui-quadrado
Situação profissional
PSQI
P* Sem queixas de insónia Com queixas
de insónia Total
N % N % N % Tempo inteiro 96 46,2 112 53,8 208 100,0
0,072
Tempo parcial 5 38,5 8 61,5 13 100,0 Desempregado 8 30,8 18 69,2 26 100,0 Estudante 12 41,4 17 58,6 29 100,0 Reformado 2 12,5 14 87,5 16 100,0
Total 123 42,1 169 57,9 292 100,0
Trabalho por turnos
PSQI
P* Sem queixas de insónia
Com queixas de insónia Total
N % N % N %
Não 106 42,9 141 57,1 247 100,0
0,718 Sim 16 36,4 28 63,6 44 100,0
Total 122 41,9 169 58,1 291 100,0
87
Dos sujeitos que trabalham em turnos regulares, 64,0 % apresentaram
queixas de insónia. (quadro 29)
Quadro 29: Queixas de insónia versus Trabalho por turnos regulares e irregulares
*Teste do Qui-quadrado
3.3.2. Queixas de insónia e hábitos de sono
Os dados relativos aos hábitos de sono da amostra foram obtidos utilizando as
primeiras quatro perguntas do questionário de Qualidade de Sono de Pittsburgh.
Os dados apresentados referem-se à hora habitual de deitar, à latência do sono
(tempo em minutos que o doente leva a adormecer a partir do momento em que
se deita), à hora habitual de o sujeito se levantar e à eficiência subjectiva do
sono (o número de horas que o sujeito acha que dormiu).
O quadro 30 demonstra que quando em causa está a latência do sono e
a duração subjectiva do sono, a associação com as queixas de insónia foi
significativa (p = 0,000 e p =.0,000, respectivamente)
Trabalho por turnos
PSQI
P* Sem queixas d insónia Com queixas
de insónia Total
N % N % N % Não trabalham por turnos 106 42,9 141 57,1 247 100,0
0,718
Trabalham em turnos regulares 9 36,0 16 64,0 25 100,0
Trabalham em turnos irregulares 7 36,8 12 63,2 19 100,0
Total 122 41,9 169 58,1 291 100,0
88
Quadro 30: Queixas de insónia versus hábitos de sono
* Independent-Sample t-test
3.3.3. Queixas de insónia e hábitos de medicação
O quadro 31 reflecte os hábitos terapêuticos da amostra em estudo.
Foram consideradas as terapêuticas dirigidas para o tratamento de situações de
asma, hipertensão arterial, diabetes, dores, problemas circulatórios, ansiedade,
depressão, alterações do sono, do ácido úrico, dislipidémia, e reumatismo.
Verificou-se que quando em causa estavam os fármacos dirigidos para o
tratamento de hipertensão arterial (p = 0,005), de queixas álgicas (p = 0,006),
ansiedade (p = 0,002), depressão (p = 0,010), alterações do sono (p = 0,000), a
relação com as queixas de insónia foi estatisticamente significativa.
Hábitos de sono PSQI N Média Desvio padrão P*
Hora de deitar
Sem queixas de insónia 123 23,42 1,24
0,199 Com queixas de insónia 169 23,22 1,26
Latência do sono (minutos)
Sem queixas de insónia 123 16,20 12,64
0,000 Com queixas de insónia 169 33,35 28,32
Hora de levantar
Sem queixas de insónia 123 7,39 1,22
0,929 Com queixas de insónia 169 7,38 1,15
Duração subjectiva do sono (horas)
Sem queixas de insónia 123 7,46 0,90
0,000 Com queixas de insónia 169 6,63 1,18
89
Quadro 31: Queixas de insónia versus medicação
* teste de Qui-Quadrado
Medicação direccionada para o tratamento de:
PSQI Sem queixas
de insónia Com queixas de insónia Total P*
N % N % N %
Asma Não 120 42,0 166 58,0 286 100,0
0,693 Sim 3 50,0 3 50,0 6 100,0 Total 123 42,1 169 57,9 292 100,0
Hipertensão arterial
Não 117 45,0 143 55,0 260 100,0 0,005 Sim 6 18,8 26 81,3 32 100,0
Total 123 42,1 169 57,9 292 100,0
Diabetes Não 120 42,9 160 57,1 280 100,0
0,220 Sim 3 25,0 9 75,0 12 100,0 Total 123 42,1 169 57,9 292 100,0
Dores Não 112 45,5 134 54,5 246 100,0
0,006 Sim 11 23,9 35 76,1 46 100,0 Total 123 42,1 169 57,9 292 100,0
Circulação Não 117 42,9 156 57,1 273 100,0
0,336 Sim 6 31,6 13 68,4 19 100,0 Total 123 42,1 169 57,9 292 100,0
Ansiedade Não 119 45,1 145 54,9 264 100,0
0,002 Sim 4 14,3 24 85,7 28 100,0 Total 123 42,1 169 57,9 292 100,0
Depressão Não 116 44,8 143 55,2 259 100,0
0,010 Sim 7 21,2 26 78,8 33 100,0 Total 123 42,1 169 57,9 292 100,0
Dormir Não 121 46,0 142 54,0 263 100,0
0,000 Sim 2 6,9 27 93,1 29 100,0 Total 123 42,1 169 57,9 292 100,0
Ácido Úrico Não 121 43,2 159 56,8 280 100,0
0,068 Sim 2 16,7 10 83,3 12 100,0 Total 123 42,1 169 57,9 292 100,0
Dislipidémia Não 122 42,5 165 57,5 287 100,0
0,312 Sim 1 20,0 4 80,0 5 100,0 Total 123 42,1 169 57,9 292 100,0
Reumatismo Não 121 42,6 163 57,4 284 100,0
0,320 Sim 2 25,0 6 75,0 8 100,0 Total 123 42,1 169 57,9 292 100,0
90
3.3.5. Queixas de insónia e estado de saúde
No quadro 32 está representada a relação entre o estado de saúde e a
existência de queixas de insónia.
Verifica-se que os sujeitos sem insónia tiveram uma pontuação mais
elevada em todas as dimensões do estado de saúde, face às pontuações
obtidas pelos indivíduos com insónia.
Em algumas dimensões essa diferença de pontuação, entre sujeitos com
e sem insónia, foi mais acentuada, nomeadamente no Desempenho Físico
(diferença entre as médias de 23,68), Dor Física (diferença entre as médias de
15,64), Desempenho Emocional (diferença entre as médias de 23,36) e Saúde
Mental (diferença entre as médias de 15,76).
A relação entre a existência de queixas de insónia e estado de saúde foi
sempre significativa em todas as suas dimensões (p <0,000).
Quadro 32: Queixas de insónia versus Estado de Saúde
* Independent Samples Test
Dimensões do SF-36 PSQI N Média Desvio padrão P*
Função Física Sem queixas de insónia 123 85,09 18,56 0,000
Com queixas de insónia 168 74,58 24,28 0,000
Desempenho Físico Sem queixas de insónia 123 88,62 23,79 0,000
Com queixas de insónia 169 64,94 37,03 0,000
Dor Física Sem queixas de insónia 123 72,60 19,00 0,000
Com queixas de insónia 169 56,96 24,22 0,000
Saúde em Geral Sem queixas de insónia 123 67,67 15,55 0,000
Com queixas de insónia 169 53,17 18,07 0,000
Vitalidade Sem queixas de insónia 123 65,85 15,47 0,000
Com queixas de insónia 169 50,94 18,40 0,000
Função Social Sem queixas de insónia 123 83,43 17,20 0,000
Com queixas de insónia 169 68,56 24,36 0,000
Desempenho Emocional Sem queixas de insónia 123 87,26 23,20 0,000
Com queixas de insónia 169 63,90 36,63 0,000
Saúde mental Sem queixas de insónia 123 70,93 17,19 0,000
Com queixas de insónia 169 55,17 20,43 0,000
91
O gráfico 9 permite-nos apreciar as diferentes pontuações do estado de
saúde apresentadas pelos sujeitos, segundo a existência de queixas de insónia.
Gráfico 9: Pontuações das dimensões do estado de saúde segundo as queixas de insónia
FUNÇÃO FÍSICA 85,9
74,58
60
70
80
90
sem queixas de insónia com queixas de insónia
P= 0,000
DESEMPENHO
FÍSICO 88,62
64,94
0
50
100
sem queixas de insónia com queixas de insónia
P=0,000
DOR FÍSICA 72,659,96
0
50
100
sem queixas de insónia com queixas de insónia
P=0,000
SAÚDE EM
GERAL 67,67
53,17
0
50
100
sem queixas de insónia com queixas de insónia
P=0,000
VITALIDADE 65,8550,94
0
50
100
sem queixas de insónia com queixas de insónia
P=0,000
FUNÇÃO
SOCIAL 83,43
68,56
0
50
100
sem queixas de insónia com queixas de insónia
P=0,000
92
DESEMPENHO EMOCIONAL
87,2663,9
0
50
100
sem queixas de insónia com queixas de insónia
P=0,000
SAÚDE
MENTAL 70,9355,17
0
50
100
sem queixas de insónia com queixas de insónia
P=0,000
3.6. SEVERIDADE DA INSÓNIA 3.4.1. Severidade de insónia e características sócio-demográficas
De forma a facilitar a associação da severidade de insónia com outras
variáveis em estudo, foi efectuada uma codificação para três grupos. A variação
da ISI passou então a fazer-se de zero a sete, de oito a catorze e de quinze a
vinte oito. Mesmo assim, o último grupo apenas compreendia 34 sujeitos dos
292 que compõem a amostra.
Relativamente à relação da severidade da insónia com a variável sexo, a
insónia pouco significativa do ponto de vista clínico (entre zero e sete), foi a mais
prevalente em ambos os sexos, embora com maior relevância no sexo
masculino (65,5 % do total de sujeitos masculinos).
A insónia ligeira ou a insónia de severidade moderada a severa foram,
por sua vez, mais prevalentes no sexo feminino (38,0 % e 13,9 %
respectivamente), como é aliás visível através do quadro 33.
A relação da severidade de insónia com o género foi estatisticamente
significativa (p = 0,017).
93
Quadro 33: Severidade de insónia versus sexo
*Teste do Qui-quadrado
O gráfico 10 mostra a distribuição da população feminina segundo a
severidade de insónia.
Verifica-se que 48,1 % das mulheres apresenta uma insónia de
severidade pouco significativa do ponto de vista clínico.
Gráfico 10: Severidade de insónia na população feminina
48,1
38
13,9
0
10
20
30
40
50
% sujeitos da amostra
0_7 8_14 15_28
Severidade de insónia
O gráfico 11 mostra a distribuição da população masculina segundo a
severidade de insónia.
Verifica-se que 65,5 % dos homens apresenta uma insónia de severidade
pouco significativa do ponto de vista clínico.
Sexo
Severidade de insónia
P* 0 -7 8 - 14 15 - 28 Total
N % N % N % N % Feminino 100 48,1 79 38,0 29 13,9 208 100,0
0,017 Masculino 55 65,5 24 28,6 5 6,0 84 100,0
Total 155 53,1 103 35,3 34 11,6 292 100,0
94
Gráfico 11: Severidade de insónia na população masculina
65,5
28,6
6
0
20
40
60
80
% sujeitos da amostra
0_7 8_14 15_28
Severidade de insónia
Quando em causa estava a variação da severidade de insónia segundo o
grupo etário, o quadro 34 permitiu apurar que a insónia pouco expressiva do
ponto de vista clínico é a mais prevalente no grupo etário dos 25 – 34 anos (57,
3 %). Na mesma perspectiva, a insónia ligeira foi predominante no grupo etário
dos 45 – 54 anos (39,3 %), sendo por sua vez a insónia de severidade
moderada a grave mais significativa no grupo etário dos 35 – 44 anos (15,7 %).
O grupo etário com menor incidência de insónia de severidade pouco
significativa do ponto de vista clínico foi o dos 20 – 24 anos (48,1 %).
A insónia ligeira foi menos frequente no grupo etário dos 35 – 44 anos
(31,4 %), e a insónia na sua forma mais severa foi igualmente menos presente
no grupo etário dos 45 – 54 anos (5,4 %).
Transversalmente a todos os grupos etários, a insónia pouco significativa
do ponto de vista clínico foi a mais prevalente (variando entre os 48,1 % e os
57,3 %).
A forma mais severa de insónia foi aquela que menor expressão teve,
embora ainda assim fosse considerável (variando entre os 5,4 % e os 15,7 %).
Todavia, a relação da severidade de insónia para com a idade não foi
significativa do ponto de vista estatístico (p = 0,770).
95
Quadro 34: Severidade de insónia versus idade
Grupo Etário Severidade de insónia
P* 0 – 7 8 – 14 15 - 28 Total N % N % N % N %
20 – 24 25 48,1 20 38,5 7 13,5 52 100,0
0,770
25 – 34 43 57,3 24 32,0 8 10,7 75 100,0 35 – 44 37 52,9 22 31,4 11 15,7 70 100,0 45 - 54 31 55,4 22 39,3 3 5,4 56 100,0 55 – 60 19 48,7 15 38,5 5 12,8 39 100,0
Total 155 53,1 103 35,3 34 11,6 292 100,0
*Teste do Qui-quadrado
Ao estabelecer a relação estatística entre a severidade da insónia e o
estado civil da amostra, verificou-se que a insónia de severidade pouco
significativa do ponto de vista clínico foi mais prevalente nos sujeitos casados
(58,5 %), e teve menor expressão nos sujeitos viúvos (20,0 %).
A insónia ligeira, por sua vez, apresentou maior incidência nos sujeitos
viúvos (70,0 %) e foi menos presente nos sujeitos casados (29,0 %).
A forma mais severa de insónia ocorreu mais frequentemente nos
sujeitos separados (15,4 %) e foi menos habitual nos sujeitos solteiros (9,7 %).
Nos sujeitos separados e viúvos, a forma mais frequente de insónia foi a
insónia ligeira (53,8 % e 70,0 % respectivamente).
Nos sujeitos casados e solteiros, a insónia com pouco significado do
ponto de vista clínico foi a mais expressiva (58,7 % e 49,5 % respectivamente).
A análise do quadro 35 permite ainda constatar que, quanto à gravidade,
a insónia mais frequente foi a insónia pouco significativa do ponto de vista clínico
(53,1 %), face à insónia de severidade moderada a grave, que foi a menos
frequente, embora se mantivesse ainda assim prevalente (11,6 %).
Verifica-se que a relação do estado civil com a severidade da insónia foi
estatisticamente significativa (p = 0,050), existindo variação da severidade de
insónia com o estado civil dos sujeitos.
96
Quadro 35: Severidade de insónia versus estado civil
Estado civil Severidade de insónia
P* 0 – 7 8 – 14 15 - 28 Total N % N % N % N %
Casado 103 58,5 51 29,0 22 12,5 176 100,0
0,050
Separado 4 30,8 7 53,8 2 15,4 13 100,0 Solteiro 46 49,5 38 40,9 9 9,7 93 100,0 Viúvo 2 20,0 7 70,0 1 10,0 10 100,0
Total 155 53,1 103 35,5 34 11,6 292 100,0
*Teste do Qui-quadrado
Da análise do quadro 36, que visa relacionar a severidade da insónia com
o facto de o sujeito viver acompanhado, ressalta que a insónia pouco
significativa do ponto de vista clínico foi frequente nos sujeitos que viviam
acompanhados (54,4 %). Em contrapartida, a insónia ligeira foi mais habitual nos
sujeitos que viviam sós (44,8 %).
A insónia de gravidade moderada a severa, por sua vez, foi mais
expressiva nos sujeitos que viviam sós (13,8 %), embora fosse ainda importante
nos sujeitos que viviam acompanhados (11,4 %).
Contudo, não houve diferenças estatisticamente significativas (p = 0,408),
quando em causa estavam a severidade de insónia e a variável companhia.
Quadro 36: Severidade de insónia versus companhia
Companhia Severidade de insónia
P* 0 – 7 8 – 14 15 - 28 Total N % N % N % N %
Não 12 41,4 13 44,8 4 13,8 29 100,0
0,408 Sim 143 54,4 90 34,2 30 11,4 263 100,0 Total
155 53,1 103 35,3 34 11,6 292 100,0
*Teste do Qui-quadrado
A variação da severidade da insónia relativamente à situação profissional
está representada no quadro 37.
Verificou-se que as diferenças não foram significativas do ponto de vista
estatístico (p = 0,518), sendo que não houve variação significativa da severidade
de insónia com a situação profissional dos sujeitos.
97
A insónia pouco significativa do ponto de vista clínico, no grupo dos
sujeitos desempregados, foi de 57, 7 %, e nos sujeitos trabalhadores em tempo
parcial foi de 38,5 %.
No que se refere à insónia ligeira e à insónia pouco significativa do ponto
de vista clínico, nos sujeitos estudantes foram de 44,8 %.
O menor valor de insónia ligeira foi encontrado nos sujeitos trabalhadores
a tempo parcial (30,8 %). Neste grupo de trabalhadores, a insónia de gravidade
moderada a severa foi de 30,8 %.
Os estudantes foram o grupo de sujeitos com menor valor de insónia
moderada a severa (10,3 %).
Quadro 37: Severidade de insónia versus situação profissional
Situação profissional
Severidade de insónia P* 0 – 7 8 – 14 15 - 28 Total
N % N % N % N % Emprego a tempo inteiro 115 55,3 71 34,1 22 10,6 208 100,0
0,518
Emprego a tempo parcial 5 38,5 4 30,8 4 30,8 13 100,0
Desempregado 15 57,7 8 30,8 3 11,5 26 100,0
Estudante 13 44,8 13 44,8 3 10,3 29 100,0
Reformado 7 43,8 7 43,8 2 12,5 16 100,0
Total 155 53,1 103 35,3 34 11,6 292 100,0
*Teste do Qui-quadrado
Os quadros 38 e 39 retratam a relação estatística entre a severidade de
insónia e a sua variação com o trabalho por turnos, e por turnos regulares e
irregulares.
Constatou-se que as diferenças obtidas para estas variáveis não foram
estatisticamente significativas (p = 0,472).
A insónia de severidade pouco significativa do ponto de vista clínico foi
superior no grupo de sujeitos que não trabalham por turnos (52,3 %), assim
como a insónia de severidade moderada a grave (12,6 %).
A insónia ligeira teve maior expressão nos sujeitos que trabalham por
turnos (40,9 %). Os sujeitos que trabalham em turnos irregulares apresentaram
98
42,1 % de insónia ligeira, enquanto que em sujeitos que trabalham em turnos
irregulares, esse valor foi de 42,1 %.
A insónia pouco significativa do ponto de vista clínico, relativamente ao
trabalho por turnos, oscilou entre os 52,3 % e os 53,0 %.
Os sujeitos que trabalham em turnos regulares, apresentaram 8 %
insónia moderada a severa.
Quadro 38: Severidade de insónia versus trabalho por turnos
Trabalho por turnos Severidade de insónia
P* 0 – 7 8 – 14 15 - 28 Total N % N % N % N %
Não 131 53,0 85 34,4 31 12,6 247 100,0
0,472 Sim 23 52,3 18 40,9 3 6,8 44 100,0 Total
154 52,9 103 35,4 34 11,7 291 100,0
*Teste do Qui-quadrado
Quadro 39: Severidade de insónia versus trabalho por turnos regulares e irregulares
Trabalho por turnos Severidade de insónia
P* 0 – 7 8 – 14 15 - 28 Total N % N % N % N %
Não 131 53,0 85 34,4 31 12,6 247 100,0
0,812 Sim Regulares
13 52,0 10 40,0 2 8,0 25 100,0
Irregulares 10 52,6 8 42,1 1 5,3 19 100,0
Total 154 52,9 103 35,4 34 11,7 291 100,0
*Teste do Qui-quadrado
3.4.2. Severidade de insónia e hábitos de sono
Quando se efectua a comparação entre a severidade da insónia e os
hábitos de sono, é possível apurar, pela apreciação do quadro 40, que apenas
relativamente à latência do sono e à duração subjectiva do sono, essa
associação foi significativa (p = 0,001 e p = 0,016, respectivamente).
99
Em teste de comparações múltiplas efectuado posteriormente, a
significância estatística foi provada para os três graus de severidade de insónia,
no que se refere à latência do sono (p entre 0,000 e 0,013).
Quanto à duração subjectiva do sono, a significância foi mantida (p entre
0,000 e 0,002), exceptuando quando em causa esteve o 2º grau de severidade
de insónia (severidade entre os 8 e os 14), com o 3º grau de severidade de
insónia (severidade entre os 15 e os 28).
Quadro 40: Severidade de insónia versus hábitos de sono
Hábitos de sono
Severidade de insónia N Média Desvio
Padrão P*
Hora de deitar
0 – 7 155 23,33 1,18
0,942 8 – 14 103 23,47 1,30 15 - 28 34 22,68 1,28 Total 292 23,30 1,26
Latência do sono
0 – 7 155 17,86 14,11
0,001 8 – 14 103 31,79 31,05 15 – 28 34 46,62 23,35 Total 292 26,12 24,53
Hora de Acordar
0 – 7 155 7,36 1,19
0,158 8 – 14 103 7,50 1,27 15 – 28 34 7,16 0,76 Total 292 7,38 1,18
Duração subjectiva do sono
0 – 7 155 7,28 0,94
0,016 8 – 14 103 6,73 1,20 15 - 28 34 6,35 1,40 Total 292 6,98 1,14
* test of Homogeneity of Variances
3.4.3. Severidade da insónia e hábitos de medicação
O quadro 41 reflecte a relação estatística existente entre a severidade da
insónia e a toma de medicação direccionada para o tratamento ou controlo de
determinadas doenças, nomeadamente a asma, hipertensão arterial, diabetes,
100
situações dolorosas, circulação, ansiedade, depressão, alterações do sono,
ácido úrico, dislipidémia e reumatismo.
A relação entre a severidade da insónia e o facto de o sujeito realizar
medicação foi estatisticamente significativa, quando em causa estavam fármacos
direccionados para o tratamento de dores (p = 0,002), ansiedade (p = 0,009),
depressão (p = 0,027) e medicação para dormir (p = 0,000).
Quadro 41: Severidade de insónia versus medicação
Medicação direccionada para o tratamento de:
Severidade de insónia P* 0 – 7 8 – 14 15 - 28 Total
N % N % N % N %
Asma
Não 153 53,5 101 35,5 32 11,2 286 100,0 0,231 Sim 2 33,3 2 33,3 2 33,3 6 100,0
Total 155 53,1 103 35,5 34 11,6 292 100,0
Hipertensão Arterial
Não 138 53,1 91 35,0 31 11,9 260 100,0 0,901 Sim 17 53,1 12 37,5 3 9,4 32 100,0
Total 155 53,2 103 35,3 34 11,6 292 100,0
Diabetes Não 149 53,2 98 35,0 33 11,8 280 100,0
0,867 Sim 6 50,0 5 41,7 1 8,3 12 100,0 Total 155 53,1 103 35,5 34 11,6 292 100,0
Dores Não 140 56,9 83 33,7 23 9,3 246 100,0
0,002 Sim 15 32,6 20 43,5 11 23,9 46 100,0 Total 155 53,1 103 35,5 34 11,6 292 100,0
Circulação Não 145 53,1 95 34,8 33 12,1 273 100,0
0,613 Sim 10 52,6 8 42,1 1 5,3 19 100,0 Total 155 53,1 103 35,3 34 11,6 292 100,0
Ansiedade Não 147 55,7 90 34,1 27 10,2 264 100,0
0,009 Sim 8 28,6 13 46,4 7 25,0 28 100,0 Total 155 53,1 103 35,5 34 11,6 292 100,0
Depressão Não 143 55,2 90 34,7 26 10,0 259 100,0
0,027 Sim 12 36,4 13 39,4 8 24,2 33 100,0 Total 155 53,1 103 35,5 34 11,6 292 100,0
Dormir Não 153 58,7 88 33,5 22 8,4 263 100,0
0,000 Sim 2 6,9 15 51,7 12 41,4 292 100,0 Total 155 53,3 103 35,5 34 11,6 292 100,0
Ácido Úrico
Não 147 52,5 101 36,1 32 11,4 280 100,0 0,380 Sim 8 66,7 2 16,7 2 16,7 12 100,0
Total 155 53,1 103 35,3 34 11,6 292 100,0
Dislipidémia Não 152 53,0 103 35,9 32 11,1 287 100,0
0,069 Sim 3 60,0 0 0,0 2 40,0 5 100,0 Total 155 53,1 103 35,3 34 11,6 292 100,0
Reumatismo Não 150 52,8 100 35,2 34 12,0 284 100,0
0,575 Sim 5 62,5 3 37,5 0 0,0 8 100,0 Total 155 53,1 103 35,5 34 11,6 292 100,0
*Teste do Qui-quadrado
101
3.3.4. SEVERIDADE DA INSÓNIA E ESTADO DE SAÚDE
O quadro que se segue visa representar a relação estatística entre a
severidade de insónia e o estado de saúde da amostra. Para isso utilizou-se a
escala de Severidade de Insónia com os seus quatro graus de gravidade,
nomeadamente, de zero a sete (insónia pouco significativa do ponto de vista
clínico), de oito a catorze (insónia ligeira), de quinze a vinte e um (insónia de
severidade moderada) e de vinte e dois a vinte e oito (insónia clínica severa).
Da análise do quadro 42, é possível apreender que as diferenças foram
significativas, entre pelo menos dois dos grupos de severidade da insónia, em
todas as dimensões do SF-36 (p = 0,000).
Foi realizado teste de comparação de múltiplas variáveis, após o qual se
verificou que as diferenças se mantinham significativas em todas as dimensões
do SF-36, principalmente na Função Física, nos quatro grupos de severidade de
insónia (p entre 0,000 e 0,028, entre 0,000 e 0,026 e 0,000 e 0,004).
Nas dimensões Dor Física (p= 0,000, entre 0,000 e 0,002, 0,000 e 0,024)
e Vitalidade (p= 0,000, entre 0,000 e 0,006), havia significância estatística,
excepto quando em causa estavam os grupos 2 (8 – 14) e 3 (15 – 21) de
severidade de insónia.
Nas dimensões Saúde em Geral (p=0,000, entre 0,000 e 0,041, 0,000 e
0,030) e Saúde Mental (p= 0,000, entre 0,000 e 0,042), foi mantida a
significância estatística, excepto quando em causa estavam os grupos 3 e 4 (22
– 28) da severidade de insónia.
Na dimensão Desempenho Físico (p entre 0,025 e 0,006), foi mantida a
significância estatística, quando em causa estavam os grupos 2 e 3, 2 e 4, bem
como 3 e 4 de severidade de insónia.
Relativamente à dimensão Desempenho Emocional (p entre 0,001 e
0,041), quando em causa estavam os grupos 1 (0 – 7) e 4, 2 e 3, 2 e 4, e ainda 3
e 4 da severidade da insónia, a significância estatística, manteve-se
102
Finalmente na dimensão Função Social (p= 0,000, entre 0,000 e 0,020),
apresentou diferenças estatisticamente significativas, quando em causa estavam
os grupos 1 e 4, 2 e 4, e por último 3 e 4 da severidade da insónia.
Quadro 42: Severidade de insónia versus estado de saúde
Dimensões do SF-36 Severidade de insónia N Média Desvio
Padrão P*
Função Física
0 – 7 155 83,55 20,85
0,000
8 – 14 102 77,50 20,65 15 – 21 29 67,41 25,37 22 – 28 5 37,00 32,13 Total 291 79,02 22,61
Desempenho Físico
0 – 7 155 83,54 28,83
0,000
8 – 14 103 69,41 35,68 15 – 21 29 57,76 37,86 22 – 28 5 20,00 27,38 Total 292 74,91 34,15
Dor Física
0 – 7 155 70,00 22,22
0,000
8 – 14 103 59,05 21,28 15 – 21 29 51,34 24,54 22 – 28 5 27,00 18,19 Total 292 63,55 23,44
Saúde em Geral
0 – 7 155 65,76 16,83
0,000
8 – 14 103 54,18 16,77 15 – 21 29 46,38 16,72 22 – 28 5 38,20 27,16 Total 292 59,28 18,47
Vitalidade
0 – 7 155 62,60 17,31
0,000
8 – 14 103 53,54 17,61 15 – 21 29 47,30 17,52 22 – 28 5 24,00 17,82 Total 292 57,22 18,71
Função Social
0 – 7 155 82,74 18,80
0,000
8 – 14 103 70,38 21,43 15 – 21 29 54,31 25,28 22 – 28 5 40,00 24,04 Total 292 74,82 22,82
Desempenho Emocional
0 – 7 155 83,22 25,01
0,000
8 – 14 103 68,93 36,23 15 – 21 29 48,27 41,40 22 – 28 5 26,66 36,52 Total 292 73,74 33,66
Saúde Mental
0 – 7 155 69,73 18,53
0,000 8 – 14 103 57,08 17,42 15 – 21 29 40,00 19,65 22 – 28 5 40,00 15,75 Total 292 61,80 20,62
* Oneway ANOVA
103
O gráfico 12 mostra a variação das pontuações do estado de saúde,
dentro de cada dimensão, conforme o grau de severidade de insónia.
Gráfico 12: Pontuações das dimensões do estado de saúde segundo a severidade da
insónia
FUNÇÃO FÍSICA
83,55 77,5 67,4137
79,02
0
50
100
seminsónia
ligeira moderada severa Total
P=0,000
DESEMPENHO FÍSICA
83,54 69,41 57,76
20
74,91
0
50
100
seminsónia
ligeira moderada severa Total
P=0,000
DOR FÍSICA 70 59,05 51,3427
63,55
0
50
100
seminsónia
ligeira moderada severa Total
P=0,000
SAÚDE EM GERAL
65,76 54,18 46,38 38,259,28
0
50
100
seminsónia
ligeira moderada severa Total
P=0,000
FUNÇÃO SOCIAL
82,74 70,3854,31 40
74,82
0
50
100
seminsónia
ligeira moderada severa Total
P=0,000
104
DESEMPENHO EMOCIAL
83,22 68,9348,27
26,66
73,74
0
50
100
seminsónia
ligeira moderada severa Total
P=0,000
SAÚDE MENTAL
69,7357,08
40 4061,8
020406080
seminsónia
ligeira moderada severa Total
p=0,000
3.5. SONOLÊNCIA DIURNA
3.5.1. Sonolência diurna e características sócio-demográficas
A sonolência diurna excessiva, e a sua relação com o género, consta do
quadro 43, onde é possível apreciar que o sexo masculino apresentou uma
sonolência diurna de 23,8 %.
Contudo, a diferença entre os sexos não foi significativa do ponto de vista
estatístico (p = 0,330).
Quadro 43: Sonolência diurna versus sexo
*Teste do Qui-quadrado
Sexo
ESS
P* Normal Excessiva Total
N % N % N % Feminino 169 81,3 39 18,8 208 100,0
0.330 Masculino 64 76,2 20 23,8 84 100,0
Total 233 79,8 59 20,2 292 100,0
105
Os gráficos 13 e 14 exemplificam a distribuição da população feminina e
masculina, segundo a sonolência diurna.
De forma a obter uma perspectiva mais clara dessa distribuição,
efectuou-se uma divisão da amostra segundo o sexo e a pontuação obtida no
ESS. Assim, dividiu-se a amostra feminina e masculina em dois grupos com ESS
maior que nove, ou com sonolência diurna excessiva, e ESS menor que nove ou
sem sonolência diurna excessiva.
Com base no descrito, existe 18,8 % de população feminina com
sonolência diurna excessiva
Gráfico 13: Distribuição da população feminina segundo a sonolência diurna
81,3
18,8
020406080
100
% sujeitos da amostra
< 9 ≧ 9
Sonolência diurna
Relativamente à população masculina, 23,8 % apresenta sonolência
diurna excessiva.
Gráfico 14: Distribuição da população masculina segundo a sonolência diurna
76,2
23,8
0
20
40
60
80
% sujeitos da amostra
< 9 ≧ 9
Sonolência diurna
106
No quadro que se segue (quadro 44), observou-se que a relação da
sonolência diurna excessiva com a variável idade não foi estatisticamente
significativa (p = 0,923).
O grupo etário dos 25 aos 34 anos apresentou uma sonolência diurna
mais elevada (22,7 %).
O grupo etário dos 45 aos 54 anos foi o que apresentou um menor valor (16,1
%).
Quadro 44: Sonolência diurna versus idade
*Teste do Qui-quadrado
No quadro 45, está representada a relação entre a sonolência diurna
excessiva e o estado civil dos sujeitos da amostra.
Ressalta que os sujeitos separados foram os que apresentaram uma
sonolência diurna excessiva mais acentuada (23,1 %).
Os sujeitos solteiros obtiveram o menor valor (19,4 %).
Uma vez mais, não é significativa a relação estatística entre estas duas
variáveis (p = 0,990).
Quadro 45: Sonolência diurna versus estado civil
*Teste do Qui-quadrado
Grupo Etário
ESS
P* Normal Excessiva Total
N % N % N % 20 – 24 41 78,8 11 21,2 52 100,0
0,923
25 – 34 58 77,3 17 22,7 75 100,0 35 – 44 56 80,0 14 20,0 70 100,0 45 – 54 47 83,9 9 16,1 56 100,0 55 – 60 31 79,5 8 20,5 39 100,0
Total 233 79,8 59 20,2 292 100,0
Estado civil
ESS
P* Normal Excessiva Total
N % N % N % Casado 140 79,5 36 20,5 176 100,0
0,990
Separado 10 76,9 3 23,1 13 100,0 Solteiro 75 80,6 18 19,4 93 100,0 Viúvo 8 80,0 2 20,0 10 100,0
Total 233 79,8 59 20,2 292 100,0
107
No quadro 46 está patente a relação entre as variáveis sonolência diurna
excessiva e a companhia.
Neste quadro, observa-se que foram os sujeitos que viviam
acompanhados que exibiram valores de sonolência diurna excessiva mais
elevados (20,5 %).
No entanto, a relação não é estatisticamente significativa (p = 0,675)
Quadro 46: Sonolência diurna versus companhia
*Teste do Qui-quadrado
Da análise da relação da sonolência diurna excessiva com a situação
profissional dos sujeitos da amostra, efectuada no quadro 47, constatou-se que
não existe uma relação estatisticamente significativa na associação destas
variáveis (p = 0,704).
Verificou-se que os sujeitos trabalhadores a tempo inteiro se
evidenciaram por apresentarem valores de sonolência diurna excessiva menores
(18,3 %), em contraste com os sujeitos reformados que apresentaram valores
muito superiores (31,3 %).
Quadro 47: Sonolência diurna versus situação profissional
*Teste do Qui-quadrado
Companhia
ESS
P* Normal Excessiva Total
N % N % N % Não 24 82,8 5 17,2 29 100,0
0,675 Sim 209 79,5 54 20,5 263 100,0 Total
233 79,8 59 20,2 292 100,0
Situação profissional
ESS
P* Normal Excessiva Total
N % N % N %
Emprego a tempo inteiro 170 81,7 38 18,3 208 100,0
0,704
Emprego em tempo parcial 10 76,9 3 23,1 13 100,0 Desempregado 20 76,9 6 23,1 26 100,0 Estudante 22 75,9 7 24,1 29 100,0 Reformado 11 68,8 5 31,3 16 100,0
Total 233 79,8 59 20,2 292 100,0
108
A relação entre a sonolência diurna excessiva e o trabalho por turnos, e o
trabalho por turnos regulares e irregulares, é expressa nos quadros 48 e 49.
Verifica-se que não existiu uma relação estatisticamente significativa
entre a sonolência diurna e o trabalho os turnos, e o trabalho por turnos
regulares e irregulares (p = 0,661 e p = 0,882, respectivamente)
Todavia, observa-se que os sujeitos que trabalham por turnos foram os
que demonstraram uma sonolência diurna mais marcada (22,7 %).
Salienta-se que os sujeitos trabalhadores por turnos regulares foram os
que apresentaram valores de sonolência diurna mais elevados (24,0 %), quando
comparados com os sujeitos trabalhadores por turnos em turnos irregulares
(21,1 %).
Quadro 48: Sonolência diurna versus trabalho por turnos
*Teste do Qui-quadrado
Quadro 49: Sonolência diurna versus trabalho por turnos regulares e irregulares
*Teste do Qui-quadrado
Trabalho por turnos
ESS
P* Normal Excessiva Total
N % N % N % Não 198 80,2 49 19,8 247 100,0
0,661 Sim 34 77,3 10 22,7 44 100,0 Total
233 79,8 59 20,2 292 100,0
Trabalho por turnos
ESS
P* Normal Excessiva Total
N % N % N % Não 198 80,2 49 19,8 247 100,0
0,882 Regulares 19 76,0 6 24,0 25 100,0 Irregulares 15 78,9 4 21,1 19 100,0
Total 233 79,8 59 20,2 292 100,0
109
3.5.2. Sonolência diurna e hábitos de sono
O quadro 50 demonstra que a relação existente entre sonolência diurna e
hábitos de sono não foi estatisticamente significativa (p entre 0,151 e 0,930).
Verifica-se no entanto, que a hora de deitar apresentou uma média mais
elevada de sonolência diurna excessiva (23,40), e a duração subjectiva do sono
uma média de sonolência diurna menor (6,78).
Quadro 50: Sonolência diurna versus hábitos de sono
Hábitos de sono ESS N Média Desvio
Padrão P*
Hora de deitar Normal 233 23,28 1,24 0,511 Excessiva 59 23,40 1,32
Latência do sono Normal 233 26,06 24,52 0,930 Excessiva 59 26,37 24,80
Hora de levantar Normal 233 7,35 1,18 0,367 Excessiva 59 7,51 1,17
Duração subjectiva do sono Normal 233 7,03 1,11 0,151 Excessiva 59 6,78 1,28 * Independent-Samples T-test
3.5.3. SONOLÊNCIA DIURNA E HÁBITOS DE MEDICAÇÃO
A relação existente entre o consumo de fármacos, nomeadamente
medicação direccionada para o tratamento de determinadas doenças ou controlo
de situações específicas como asma, hipertensão arterial, diabetes, situações
dolorosas, alterações circulatórias, ansiedade, depressão, alterações do sono,
do ácido úrico, dislipidémia e reumatismo, e a sonolência diurna excessiva pode
ser contemplada no quadro 51.
110
Não existiu uma associação estatisticamente significativa entre qualquer
das medicações referidas e a existência de sonolência diurna excessiva (valores
de p entre 0,149 e 0,991)
Todavia, verificou-se que os valores de sonolência diurna excessiva
estavam discretamente elevados, para sujeitos que consumiam medicação
direccionada para o tratamento de alterações circulatórias (26,3 %), situações
dolorosas (26,1 %), diabetes e ácido úrico (25,0 %), depressão (21,2 %) e
alterações do sono (20,7 %).
Quadro 51: Sonolência diurna versus medicação
Medicação direccionada para o tratamento de:
Sonolência diurna P* Normal Excessiva Total
N % N % N %
Asma Não 228 79,7 58 20,3 286 100,0
0,827 Sim 5 83,3 1 16,7 6 100,0 Total 233 79,8 59 20,2 292 100,0
Hipertensão Arterial
Não 205 78,8 55 21,2 260 100,0 0,250 Sim 28 87,5 4 12,5 32 100,0
Total 233 79,8 59 20,2 292 100,0
Diabetes Não 224 80,0 56 20,0 280 100,0
0,673 Sim 9 75,0 3 25,0 12 100,0 Total 233 79,8 59 20,2 292 100,0
Dores Não 199 80,9 47 19,1 246 100,0
0,279 Sim 34 73,9 12 26,1 46 100,0 Total 233 79,8 59 20,2 292 100,0
Circulação Não 219 80,2 54 19,8 273 100,0
0,493 Sim 14 73,7 5 26,3 19 100,0 Total 233 79,8 59 20,2 292 100,0
Ansiedade Não 210 79,5 54 20,5 264 100,0
0,745 Sim 23 82,1 5 17,9 28 100,0 Total 233 79,8 59 20,2 292 100,0
Depressão Não 207 79,9 52 20,1 259 100,0
0,878 Sim 26 78,8 7 21,2 33 100,0 Total 233 79,8 59 20,2 292 100,0
Dormir Não 210 79,8 53 20,2 263 100,0
0,945 Sim 23 79,3 6 20,7 29 100,0 Total 233 79,8 59 20,2 292 100,0
Ácido Úrico
Não 224 80,0 56 20,0 280 100,0 0,673 Sim 9 75,0 3 25,0 12 100,0
Total 233 79,8 59 20,2 292 100,0
Dislipidémia Não 229 79,8 58 20,2 287 100,0
0,991 Sim 4 80,0 1 20,0 5 100,0 Total 233 79,8 59 20,2 292 100,0
Reumatismo Não 225 79,2 59 20,8 284 100,0
0,149 Sim 8 100,0 0 0,0 8 100,0 Total 233 79,8 59 20,2 292 100,0
*Teste do Qui-quadrado
111
3.5.4. SONOLÊNCIA DIURNA E ESTADO DE SAÚDE
A relação estatística entre sonolência diurna excessiva e o estado de
saúde da amostra é retratada no quadro 52 e gráfico 15.
Verifica-se que existiu uma relação significativa, do ponto de vista
estatístico, para as dimensões Vitalidade (p = 0,001), Função Social (p = 0,003),
Desempenho Emocional (p = 0,035), Saúde Mental (p = 0,032), e Saúde em
Geral (p = 0,050).
Quadro 52: Sonolência diurna versus estado de saúde
Dimensões do SF-36 ESS N Média Desvio Padrão P*
Função Física Normal 232 79,74 21,76
0,281 Excessiva 59 76,19 25,72
Desempenho Físico Normal 233 76,93 32,85
0,069 Excessiva 59 66,94 38,12
Dor Física Normal 232 64,72 22,93
0,090 Excessiva 59 58,93 25,06
Saúde em Geral Normal 232 60,33 17,95
0,050 Excessiva 59 55,10 20,05
Vitalidade Normal 232 59,03 17,73
0,001 Excessiva 59 50,08 20,83
Função Social Normal 232 77,14 21,26
0,003 Excessiva 59 65,68 26,42
Desempenho Emocional Normal 232 76,11 31,96
0,035 Excessiva 59 64,40 38,59
Saúde Mental Normal 232 63,10 20,60
0,032 Excessiva 59 56,67 20,10
* Independent-Samples T-test
O gráfico 15 mostra que existiu sempre variação das pontuações das
dimensões do estado de saúde, quando em presença de sonolência diurna,
embora essa variação nem sempre fosse estatisticamente significativa.
112
Gráfico 15: Pontuações das dimensões do estado de saúde segundo a sonolência diurna
FUNÇÃO FÍSICA 76,93
66,94
60
70
80
sonolência normal sonolência excessiva
P=0,281
DESEMPENHO FÍSICO
76,93
66,94
60
70
80
sonolência normal sonolência excessiva
P=0,069
DOR FÍSICA
64,72
58,93
55
60
65
sonolência normal sonolência excessiva
P=0,090
SAÚDE EM GERAL 60,3355,1
50556065
sonolência normal sonolência excessiva
P=0,052
VITALIDADE 59,03
50,08
40
50
60
sonolência normal sonolência excessiva
P=0,001
FUNÇÃO SOCIAL 77,14
65,68
50607080
sonolência normal sonolência excessiva
P=0,003
DESEMPENHO EMOCIONAL
76,11
64,4
50607080
sonolência normal sonolência excessiva
P=0,035
SAÚDE MENTAL 63,1
56,67
50556065
sonolência normal sonolência excessiva
P=0,032
113
3.6. RELAÇÃO ENTRE ESTADO DE SAÚDE, QUEIXAS DE INSÓNIA, SEVRIDADE DE
INSÓNIA E SONOLÊNCIA DIURNA
O quadro seguinte (quadro 53) expressa a relação entre o estado de
saúde, as queixas de insónia, a severidade da insónia e a sonolência diurna
excessiva.
Relativamente às dimensões Função Física, Saúde em Geral e Saúde
Mental, não existiu relação significativa do ponto de vista estatístico quando em
causa estava o ESS (valores de p entre.0,127 e 0,270). As restantes dimensões
exibiram relações significativas do ponto de vista estatístico para com o PSQI
(p= = 0,000), ISI (p= 0,000) e ESS (p entre 0,001 e 0,041), e ostentaram uma
correlação negativa.
Assim, quando em causa estiveram os resultados do PSQI e do ISI, para
todas as dimensões do estado de saúde, verificou-se que quanto maiores foram
as suas pontuações, menores foram as pontuações do estado de saúde, o que
se reflectiu na qualidade de vida associada, que consequentemente também foi
menor. Relativamente à ESS, o mesmo só se verificou para as dimensões
Desempenho Físico, Dor Física, Vitalidade, Função Social e desempenho
emocional.
114
Quadro 53: Estado de saúde versus PSQI, ISI e ESS
Dimensões do SF-36 PSQI ISI ESS
Função Física r - 0,363** -0,293** - 0,065 p 0,000 0,000 0,270 N 291 291 291
Desempenho Físico r - 0,450** - 0,347** - 0,119* p 0,000 0,000 0,041 N 292 292 292
Dor Física r - 0,418** - 0,380** - 0,146* p 0,000 0,000 0,012 N 292 292 292
Saúde em Geral r -0,418** - 0,412** - 0,085 p 0,000 0,000 0,149 N 292 292 292
Vitalidade r - 0,482** - 0,409** - 0,169** p 0,000 0,000 0,004 N 292 292 292
Função Social r - 0,387** - 0,477** - 0,230** p 0,000 0,000 0,000 N 292 292 292
Desempenho Emocional r - 0,411** - 0,376** - 0,193** p 0,000 0,000 0,000 N 292 292 292
Saúde Mental r - 0,471** - 0,476** - 0,089 p 0,000 0,000 0,127 N 292 292 292
* Correlação significativa para p <0,05
** Correlação significativa para p <0,01
115
4. DISCUSSÃO DE RESULTADOS
DISCUSSÃO
Neste capítulo, tenta fazer-se uma análise crítica dos resultados, tendo
em conta as limitações do estudo. A discussão de resultados visa analisar os
dados expostos no capítulo dos resultados. Essa análise é realizada tendo por
base as predições efectuadas e está inicialmente ordenada de acordo com a
posição pela qual os dados surgem nos resultados. Efectua-se, quando
pertinente, a comparação dos dados obtidos no estudo, com os resultados de
outros investigadores acerca da mesma temática. Finalmente, formulam-se
novas hipóteses e sugestões para futuros desenvolvimentos e termina-se com
as principais conclusões que dele emanaram.
Análise crítica dos resultados
Este estudo apresentou algumas limitações, quer a nível do instrumento
de colheita de dados utilizado (vide anexo 3), como relacionadas directamente
com as características da população alvo.
Quando nos reportamos ao instrumento de colheita de dados, verificamos
que se trata de um instrumento extenso, com um total de 105 perguntas, o que
sem dúvida, contribuiu para uma fraca adesão ao seu preenchimento. O
preenchimento in situ foi pouco frequente, uma vez que o tempo médio para o
efeito rondou os 15 minutos. Consequentemente, foram entregues cerca de 500
questionários, dos quais só foram devolvidos 292 (58,4 %).
116
Logo à partida, esta condição foi determinante, para que uma população
mais jovem, aderisse melhor ao seu preenchimento.
O questionário destinava-se a ser auto-administrado, mas na população
mais idosa ou com baixo grau de alfabetismo (censos 2001), existiu colaboração
do investigador no seu preenchimento. Este factor pode contribuir para enviesar
o estudo. Por outro lado, a um questionário auto-administrado, está inerente
alguma subjectividade, quer na sua interpretação como no seu preenchimento,
que depende de factores como a sensibilidade para o assunto, cultura e
capacidades individuais.
Com relação ao conteúdo do questionário, verificou-se que na colheita de
dados demográficos não se inquiriu acerca dos hábitos de vida, nomeadamente,
hábitos tabágicos, e consumo de bebidas alcoólicas ou estimulantes, para não
tornar o questionário ainda mais extenso. A não apreciação destes dados pode
ter levado a que, sujeitos com elevado consumo de estimulantes, por exemplo,
apresentassem alterações dos hábitos de sono sugestivos de insónia 13, 14, 15. Por
outro lado, a história familiar de insónia também não foi pesquisada 10, não
sendo por isso possível estabelecer uma ligação entre antecedentes familiares e
o aparecimento de queixas de insónia.
A utilização de vários questionários diferentes, Questionário da Qualidade
do Sono de Pittsburgh (PSQI), Escala de Severidade de Insónia (ISI), Escala de
Sonolência de Epworth (ESS) e Questionário da Qualidade de Vida relacionada
com o estado de saúde ou SF-36, fez com que o sujeito tivesse de recorrer a
informação em vários momentos temporais diferentes (passado recente, duas
semanas, um mês), o que pode ter levado a má interpretação de algumas
perguntas do questionário.
Não foi considerado no desenho do estudo, que os indivíduos com
insónia, sendo maiores consumidores de cuidados de saúde 1, 10
O estudo centra-se em indivíduos que recorrem ao Centro de Saúde de
Figueiró dos Vinhos (CSFV), a consulta de clínica geral (CG), mas que podem
, poderiam
enviesar a amostra.
117
estar doentes ou não. Essa condição, doença (médica ou psiquiátrica), conduz
por si só a alterações do sono na grande generalidade dos casos 2, 10, 9, 7, 11
Relativamente à composição da amostra quanto ao género (quadro 7)
71,2 % dos sujeitos são do sexo feminino face a 54,4 % na população alvo.
Esperava-se que existisse uma diferença significativa relativamente ao género
na composição da amostra, e essa diferença vai no sentido do encontrado. No
entanto, foi de certa forma uma surpresa a proximidade encontrada entre o
número de primeiras consultas para o sexo feminino e o masculino. Embora o
número de primeiras consultas se mantivesse mais elevado no sexo feminino
(54,4 %) a diferença foi ténue face ao esperado. A explicação para a
. Este
dado é importante e não foi ponderado, o que compromete a generalização dos
resultados a população que recorre ao CSFV.
Poderiam ter sido seleccionados utentes que recorressem ao CSFV para
consultas de rotina, como por exemplo, consultas destinadas a renovação de
licença de condução, ou consultas na área do planeamento familiar. Na verdade
as consultas para renovação de licença de condução não são sinalizadas de
forma diferente pelo programa informático SINUS, que faz a gestão das
estatísticas de consultas, o que dificulta o apuramento da população alvo. O
recurso a este tipo de consulta é também maioritariamente masculino, enquanto
o recurso às consultas de planeamento familiar é quase exclusivamente
feminino.
Por estas razões decidiu-se por uma amostra aleatória.
A amostra e suas características
Quando nos referimos à amostra, importa saber, antes de mais se a
amostragem é satisfatória. Se os 292 sujeitos são representativos da população
que se pretende estudar.
A população alvo apurada é de 750 utentes. A amostra representa 39 %
da população alvo.
118
predominância feminina poderá residir em outra característica da amostra, a
idade. Por outro lado, as mulheres parecem ser mais preocupadas e mais
conscientes dos seus problemas de sono, o que se traduz numa maior
disponibilidade para discutir o assunto.
A amostra apresenta uma média etária invulgarmente baixa (38,14), o
grupo etário dos 25 aos 34 é mesmo aquele que concentra um maior número de
sujeitos (quadro 9).
A boa adesão de sujeitos jovens pode ser explicada pela maior
disponibilidade para anuir a este tipo de iniciativa, além de possuírem uma
facilidade superior para o preenchimento do questionário, o facto de serem mais
céleres, possibilitou também um número de preenchimentos in situ mais elevado,
o que evitou o extravio de questionários. Além disso a época do ano em que
decorreu (principalmente os meses de férias e férias escolares), é propícia à
realização de exames de rotina por parte dos utentes deslocados por questões
académicas ou profissionais.
Hábitos de sono da amostra
A média encontrada para a hora de deitar (quadro 10) da amostra foi de
23,30 (23h30min). Este valor converge com o encontrado por outros
investigadores, nomeadamente Soldatos et al (2005) 19 que apresenta para a
população portuguesa uma média de hora de deitar de 24 horas. Apesar de
existir uma discrepância entre a população activa da amostra (como está
exemplificado no quadro 7) e a deste autor (apenas 33,1 % de sujeitos activos
relativamente à população portuguesa), este resultado está de acordo com as
tendências actuais 4. A frequência mais registada na amostra é 23 horas, o que
pode de certa forma explicar-se por se tratar de uma população tendencialmente
rural e sobretudo activa, com características geográficas e sociais próximas às
populações do interior.
119
A latência subjectiva média do sono da amostra é de 26,2 minutos, o que
significa que está perigosamente próximo de valores considerados patológicos
(> 30 minutos), este valor encontra-se dentro dos valores referidos por Soldatos
et al.(2005) 19 que estabelece para a população portuguesa um valor situado
entre 22,7 e 27,2 minutos.
Relativamente à hora de acordar, constata-se que a média é 7h 40
minutos, o que vem contrariar os dados de Soldatos et al (2005) 19 que apontam
no seu estudo para uma média, relativamente à população portuguesa, de 7
horas. Não existe, relativamente ao referido estudo, informação acerca da área
geográfica onde decorreu. A ausência de filas de trânsito para se deslocar para
o trabalho pode ser uma condição explicativa deste horário de levantar. A hora
de deitar tem também influência neste dado. Mais uma vez, há a considerar que
a população do estudo de Soldatos et al (2005) 19 não é uma população
essencialmente activa.
A hora de deitar da amostra difere em cerca de 36 minutos da hora
estabelecida pelo estudo de Soldatos et al (2005) 19, esta variação é
sobreponível com a encontrada relativamente à hora de levantar (45 minutos).
No que se refere à duração subjectiva do sono, a nossa amostra
apresenta uma média de 6,98, o que quando comparado com os dados obtidos
no estudo de Soldatos et al (2005) 19
Relativamente à latência do sono, não se verifica influência da idade no
tempo que os sujeitos levam a adormecer (quadro 14). Estes dados são
corroborados por outros autores
, é inferior em cerca de uma hora. Mais uma
vez esta discrepância pode ser explicada pelo facto de os sujeitos do referido
estudo serem maioritariamente não activos, o que como já foi referido, não
acontece na nossa amostra.
Sendo uma amostra essencialmente jovem, conforme o demonstrado no
quadro 9 e como se poderia antever, a hora de deitar, a hora de acordar e a
duração subjectiva do sono aumentaram à medida que a idade diminuiu. Estes
dados comprovam-se estatisticamente (quadro 14).
4, 22. Verifica-se que apesar de os hábitos de
120
sono não estarem particularmente alterados na nossa amostra, sendo que
apresenta, ainda assim, valores mais favoráveis do que os referidos na literatura 19, os jovens demonstram tendência para se deitarem mais tarde, e acordarem
mais tarde, dependendo essencialmente do estilo de vida no estabelecimento
dos seus hábitos diários de sono diários.
Prevalência das queixas de insónia nos utentes que recorrem às consultas de clínica geral do CSFV
Uma das hipóteses avançadas, no âmbito deste estudo, foi que as
queixas de insónia são uma situação prevalente nos doentes que recorrem às
consultas de clínica geral do CSFV.
Com base nos resultados obtidos, constata-se que a prevalência de
queixas de insónia é significativa (57,9 %), o que confirma a hipótese colocada.
Por outro lado, a insónia ligeira representa 35,3 % da amostra, a insónia de
severidade moderada a grave, 11,6 % e a sonolência diurna excessiva 20,2 %.
Analisando a literatura existente acerca da prevalência de insónia na
população portuguesa, constata-se que o valor apresentado para a amostra em
estudo, é mais elevado do que o encontrado por Ohayon e Paiva (2005)12. Este
valor aproxima-se do panorama mundial, que sugere uma prevalência para a
população geral de 30 a 40 % nos adultos 1, mas é ainda assim
significativamente superior. Uma das justificações encontradas para explicar esta
elevada prevalência das queixas de insónia, foi referida anteriormente, na
análise crítica do estudo. Assim, o facto de os sujeitos se dirigirem ao CSFV para
obterem uma consulta de clínica geral, pressupõe uma situação de doença
(física ou mental), o que está frequentemente associado a insónia 2, 10, 9, 7, 11.
Outra hipótese colocada sugere que, quando existem queixas de insónia,
a sua gravidade é moderada, e ocorrem repercussões diurnas (sonolência diurna
excessiva).
121
Relativamente ao grau de severidade, a insónia de gravidade moderada
representa 9,9 % da população em estudo. Se considerarmos a severidade de
insónia moderada a grave, este valor ascende aos 11,6 % (quadro 17).
No que se refere à prevalência de sonolência diurna, 20,2 % dos sujeitos
da amostra evidenciam um valor patológico.
Estes valores, relativos a severidade de insónia e a sonolência diurna
excessiva, confirmam a hipótese colocada relativamente a gravidade e
ocorrência de repercussões diurnas, embora a gravidade predominante de
insónia seja a ligeira (35,3%).
Prevalência e severidade de insónia na população feminina
Por hipótese, a população feminina, apresentará uma maior prevalência
de queixas de insónia e uma maior severidade de insónia.
Verifica-se que a prevalência de insónia, nos sujeitos femininos da
amostra, é de facto superior (quadro 23), e que a severidade é maior (quadro
33).
Este resultado vem de encontro ao esperado e ao descrito na literatura 10,
11
A hipótese não se verifica, o que não vai de encontro à literatura de
referência
.
Variação da prevalência das queixas de insónia e da severidade da insónia com a idade
Foi colocada como hipótese deste estudo, que a prevalência das queixas
de insónia, bem como a sua gravidade, aumentará com o aumento da idade.
Na verdade, de acordo com dados referentes a amostra em estudo,
verifica-se que a prevalência das queixas de insónia não aumenta com o
progredir da idade (quadro 24) e que a relação existente entre estas duas
variáveis não é estatisticamente significativa para a amostra.
10, 11. Existem no entanto contradições. É referido que o diagnóstico de
insónia é estável entre os 15 e os 44 anos 10, o que está de acordo com os
122
dados da amostra para este grupo etário (quadro 24), que apresenta 67,5 % de
sujeitos com menos de 44 anos.
Influência da latência subjectiva do sono na prevalência das queixas de insónia
Uma maior latência do sono está associada a uma maior prevalência das
queixas de insónia.
Verificou-se que existem diferenças estatisticamente significativas
relativamente à existência de queixas de insónia e à latência subjectiva do sono
(quadro 30). Relativamente à amostra, uma média de latência subjectiva do sono
maior aparece associada a queixas de insónia. O mesmo se verifica quando em
causa está a severidade de insónia, através da qual se verifica que a latência
subjectiva do sono aumenta com o aumento do grau de gravidade da insónia
(quadro 40).
Influência do Estado Civil ou da companhia na prevalência de queixas de insónia
Pressupõe-se, por hipótese, que indivíduos separados, viúvos ou sem
companhia, obterão uma maior prevalência de queixas de insónia.
Esta hipótese é parcialmente comprovada pela análise dos resultados
obtidos junto da amostra. Separados (76,9 %), apresentam uma prevalência de
queixas de insónia superior, quando comparados com sujeitos casados ou
solteiros (quadro 25). Relativamente aos sujeitos viúvos, não foi possível inferir,
uma vez que não foram representativos na amostra (3,4 %). Este resultado vai
de encontro à literatura consultada, nomeadamente o estudo Ohayon e Roth
(2001) 11
. A variável companhia não revelou uma relação significativa do ponto
de vista estatístico com a existência de queixas de insónia.
123
Comparação entre os valores normativos do estado de saúde para a população portuguesa e as pontuações do estado de saúde da amostra.
Colocou-se como hipótese de que as pontuações para o estado de saúde
da população da amostra seriam superiores aos valores normativos
estabelecidos para a população portuguesa.
Foram efectuadas duas comparações das pontuações do estado de
saúde da amostra, com os valores normativos para a população rural 32, e com
os valores normativos estabelecidos para a população portuguesa no geral 32. As
características sócio-demográficas da amostra aproximam-se da população
rural, sem no entanto se identificar totalmente com ela. Relativamente a
comparação das pontuações da amostra com os valores normativos para uma
população rural, para as dimensões Função Física, Desempenho Físico, Dor
Física, Saúde em Geral e Vitalidade, verifica-se que as pontuações são
superiores para a nossa amostra. No entanto, essa diferença só é
estatisticamente significativa para a Função Física e Saúde em Geral (quadro
21). Comparativamente com os valores normativos para a população portuguesa
no geral, as pontuações obtidas na nossa amostra, nas dimensões Função
Física, Desempenho Físico, Dor física, Saúde em geral, Vitalidade e
Desempenho Emocional são mais elevadas. Contudo, essa diferença só é
considerada estatisticamente significativa para as dimensões Função Física e
Vitalidade (quadro 22). As diferenças são menos significativas quando em causa
está a comparação do estado de saúde da amostra com os valores normativos
para a população portuguesa. Esta diferença, principalmente no que se refere as
dimensões Função Física e Vitalidade, pode eventualmente ter sido enviesada
pela idade da amostra, uma vez que, como já foi referido, se trata de uma
amostra jovem. Assim, se considerarmos o estudo 32 que teve por base o
apuramento dos valores normativos, verificamos que a população é igualmente
jovem, 76,2 % têm idade inferior a 44 anos. Todavia, a população com menos de
34 anos representa 31,6 % da amostra. Na nossa amostra, 43,5 % têm menos
de 34 anos. As dimensões Desempenho Físico, Dor física, Saúde em geral e
Desempenho Emocional, Função Física e Vitalidade comprovam a hipótese. As
124
dimensões Função Física e Vitalidade são as que apresentam as diferenças
mais significativas.
Pontuações das dimensões do estado de saúde nos doentes com queixas de insónia, com severidade moderada de insónia ou sonolência diurna excessiva
Colocou-se a hipótese de que sujeitos com queixas de insónia, com
severidade moderada ou sonolência diurna excessiva, obterem menores
pontuações em todas as dimensões do estado de saúde (questionário SF-36).
Em todas as dimensões do estado de saúde, quando existem queixas de
insónia verifica-se que as pontuações são inferiores (quadro 32). Do mesmo
modo, relativamente à severidade de insónia, verifica-se que dentro de cada
uma das dimensões, a pontuação diminui com o aumento do grau de severidade
(quadro 42). No que se refere à sonolência diurna, verifica-se o mesmo
pressuposto, sujeitos com sonolência diurna excessiva, pontuam menos em
todas as dimensões do estado de saúde (quadro 52). Este estudo demonstra
que existe uma correlação negativa e estatisticamente significativa entre todas
as dimensões do estado de saúde face a existência de insónia, severidade de
insónia e sonolência diurna, e nesta, para todas as dimensões, excepto Função
Física, Saúde em Geral e Saúde Mental (quadro 53). O questionário SF-36 não
contém nenhuma variável referente directamente ao sono 32, 33, 31, mas a
dimensão Vitalidade, é a que se revela mais sensível 35 nas oscilações da
quantidade e da qualidade do sono.
A hipótese verifica-se e corrobora a literatura existente neste domínio 1, 10, 35, 21
, a qualidade de vida, inerente ao estado de saúde, diminui quando existem
queixas de insónia, e diminui à medida que a severidade de insónia aumenta e,
apesar de nas dimensões Função Física, Saúde em Geral e Saúde Mental a
correlação não ser significativa do ponto de vista estatístico (quadro 53), verifica-
se uma diminuição nas pontuações de todas as dimensões quando em presença
de sonolência diurna aumentada (quadro 52).
125
CONCLUSÕES
Este estudo sugere que os hábitos de sono dos jovens de Figueiró dos
Vinhos diferem dos hábitos da restante população, e tendem a aproximar-se dos
encontrados nos jovens dos grandes centros urbanos. Podemos então supor
que a tendência geral seja para uma uniformização dos hábitos de sono diários,
independentemente do meio onde estão inseridos, passando essencialmente a
depender do estilo de vida.
Os resultados obtidos comprovam que as queixas de insónia são mais
prevalentes e mais graves no sexo feminino, o que vai de encontro a literatura
existente 10, 11.
A insónia está relacionada com uma menor qualidade de vida, que
diminui à medida que a gravidade da insónia aumenta.
O questionário SF-36, apesar de não apresentar uma dimensão
específica para medir o estado de saúde associado ao sono 35, 32, 33, 31, parece
ser significativamente sensível a variação da sua qualidade e quantidade.
Os habitantes de Figueiró dos Vinhos apresentaram de um modo geral,
pontuações médias das dimensões do estado de saúde globalmente mais
elevadas em comparação com as médias dos valores normativos para a
população geral 32. No entanto, as queixas de insónia (57,9 %), a insónia de
severidade moderada a grave (11,6 %), e a sonolência diurna (20,2 %) são
prevalentes na população Figueiroense. O que sugere que a dimensão do
problema em Portugal poderá ser superior ao conhecido ou que ter-se-á vindo a
agravar.
Em síntese verifica-se na amostra uma elevada prevalência de insónia
com sonolência diurna excessiva, e constata-se que a qualidade de vida dos
doentes que recorrem às consultas de clínica geral do Centro de Saúde de
Figueiró dos Vinhos está afectada.
126
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