Upload
dodung
View
214
Download
1
Embed Size (px)
Citation preview
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 4-25. ISSN: 2317-2649
1. A CIDADE DE SOBRAL: PERCURSO BIBLIOGRÁFICO
THE SOBRAL CITY: course bibliographic
RESUMO
O presente artigo é fruto de uma pesquisa
bibliográfica desenvolvida na procura de
restaurar a historiografia sobralense através de
um diálogo eclesiástico e historiográfico, que
tem como objetivo buscar a compreensão da
história local dentro das mudanças sociais.
Dentro dessa ótica colocaremos em exposição o
papel da família para o crescimento da cidade;
ainda veremos como a mulher foi controlada
em vários sentidos, como também suas posturas sociais e econômicas que teve uma grande
contribuição. A Igreja como Instituição colaborou para um fortalecimento tanto econômico
como cultural da cidade. Compete à história desempenhar o caso imparcial sobre o passado
com total neutralidade.
Palavras-chaves: Cidade, Historiografia, História Local, Sobral
ABSTRACT
This article is based on a literature developed in seeking to restore the
historiography Sobralense through an ecclesiastical and historiographical dialogue, which
aims to seek the understanding of local history within social changes . Within this
perspective put on display the family's role in the growth of the city ; It remains to be seen
how the woman was controlled in many ways , but also their social and economic positions
had a great contribution. The Church as an institution contributed to the strengthening both
economic and cultural city . It is for the story to play the impartial case about the past with
complete neutrality. Keywords: Cidade, Historiografia, História Local, Sobral.
JAQUELINE PORTELA DE SOUSA –
INTA
Chrislene Carvalho dos Santos Pereira
Cavalcante – Docente INTA/UVA
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
INTRODUÇÃO
“É na cidade que se passa da família ampliada à família nuclear, mas os grandes burgueses concebem um governo à imagem de seus clãs familiares. O “bom governo” tende a imitar o modelo do príncipe justo, num espaço mais restrito no qual se podem diversificar as experiências políticas justo, num espaço mais restrito no qual se podem diversificar as experiências politicas, com a exceção da heresia. A cidade respeita a Igreja e com frequência se coloca a seu serviço”.
Jacques Le Goff
Essa pesquisa tem como tema o percurso historiográfico da cidade de Sobral. Esse
tema despertou o meu interesse porque a legislação brasileira, ao valorizar a inclusão da
história local no currículo da Educação Básica, foi possível verificar, durante o Estágio
Curricular, que não se vem praticando essa inclusão. Em virtude dessa ausência de diálogo
com a História Local nas escolas procurarei aqui nesse artigo, dialogar historiograficamente a
escrita de Sobral. Vale ressaltar que essa escrita tem duas grandes fases: uma que é a escrita
clerical e a segunda é acadêmica.
Segundo Malatian “Cabia à História procurar resgatar a verdade objetiva, imparcial e
neutra sobre o passado, utilizando para isso as provas documentais deixadas pelos nossos
antecessores.” Essa será a marca da escrita clerical, numa relação de macro para micro
História. A segunda forma de escrita será abordada na vertente da história como estudo das
experiências humanas num determinado tempo e espaço. É dentro dessa perspectiva que
cabe ao pesquisador, atualmente, analisar como em cada lugar e períodos diferentes certa
realidade social é fundamentada, pensada e analisada, e que se pode gerar uma leitura do
mundo, trazendo do micro para macro história.
É nessa linha de pensamento que devemos proporcionar aos alunos do Ensino
Básico, fazendo-os ter conhecimento dos fatores sociais que contribuíram para sua
historiografia, e ao mesmo tempo, trazendo a transmissão de teorias de ensino-
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
aprendizagem que ponderam o aluno participante ativo do processo de uma edificação de
conhecimento, fazendo o mesmo um sujeito crítico e ativo.
A cidade como tema, não é recente, mas passou a ser fomentado com a Escola dos
Annales no Brasil, a partir dos anos 1980. Carpintéro, no seu artigo A cidade como história,
ressalta a reponsabilidade da historiografia brasileira, que durante alguns anos mencionou a
cidade, apenas como campo das modificações políticas e econômicas.
Por outro lado, salientamos a responsabilidade da historiografia brasileira, que nos últimos anos tratou a cidade predominantemente, apenas como palco das transformações políticas e econômicas, ou então, como cenário para os grandes acontecimentos sociais.
De acordo com Carpintéro, cresceu o número de produções acadêmicas com o tema
voltado para a cidade, o que nos leva a refletir é que na maioria dessas produções não são de
historiadores, mas de arquitetos, geógrafos e sociólogos, e algum tempo desperta o interesse dos
historiadores:
Nos últimos anos, a produção acadêmica sobre temas relacionados à cidade aumentou de modo significativo, o que faz da tarefa de apresenta – lá e analisa –lá criticamente uma ousadia sem limites. Antes reduto de alguns arquitetos, geógrafos e sociólogos, recebe há já alguns anos a atenção dos historiadores, que com seus colegas de outras áreas, compõem um amplo painel de recortes temáticos e de aproximações teóricas.
A História tem um papel importante, onde escolhe caminho que apresente um
mapeamento das pesquisas, enquanto questões urbanas, e investiga criticamente os
paradigmas e contribuições explicativas da área da história relacionadas aos estudos sobre
cidade.
Procuro reconstruir a historiografia sobralense dentro de um diálogo eclesiástico e
historiográfico, buscando compreender a história local centro das transformações sociais,
assim como o papel da Igreja para o fortalecimento tanto econômico como cultural da
cidade, que é destacado nessa escrita.
Nesse artigo pretendo fazer um diálogo com os autores Sadoc, Frota, Cavalcante,
Silva Junior e Rodrigues, que desenvolveram algumas pesquisas vinculadas à História
Política, História Social e História Cultural, trazendo contribuições para essa área de estudo.
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
HISTORIOGRAFIA DA FUNDAÇÃO
A marca da escrita eclesiástica em Sobral é a busca da fundação da cidade dentro de
uma abordagem histórica político-social, dos grandes acontecimentos, das fontes cartoriais,
da teoria da história política positivista.
Padre Sadoc no seu livro, Origem da Cultura Sobralense, afirma-nos que não tem
como comprovar quem foi o primeiro proprietário da Fazenda Caiçara, que é o marco da
fundação de Sobral. Ele cita Frota: “Não nos foi possível averiguar quem foi o primeiro
proprietário da Fazenda Caiçara, mas tudo leva a crer que o seu possuidor pela a doação
feita a Patrimônio da matriz, a houve recebido de outrem.”.
Através desta afirmação do Bispo Dom José, incentiva-nos a pesquisarmos mais para
conhecermos as origens de Sobral.
Na pesquisa de Padre Sadoc, ele relata que, levado pela curiosidade, resolveu
averiguar em alguns documentos algo que comprove a origem da cidade de Sobral com a
ajuda do ponto de partida que deixou Dom José. Esses registros dos documentos originais
demonstram uma possibilidade à fundação. De acordo com Padre Sadoc, a primeira
sesmaria da Ribeira do Acaraú foi concedida no dia 20 de setembro de 1863, para Manoel de
Goés e seus companheiros Fernando Góes, Francisco Pereira Lima, Manuel de Almeida
Arruda, Pe. Amaro Fernandes de Abreu, Estevão de Figueiredo e Simão Goés de Vasconcelos.
Manoel de Góes foi um homem abastado e faleceu em Pernambuco no começo do
século dezoito e era proprietário da capela do Capítulo do Convento de S. Antônio do Recife,
o mesmo juntamente com seus companheiros para conseguir as sesmarias:
Por que não tem na Capitania de Pernambuco terras próprias capazes para a quantidade de gado vacum e cavalar, os vinha comboiando até esta Capitania por distância de duzentas léguas de matos fechados e terras de tapuias bárbaros, com muitos dispêndios de suas idas, e querendo acomodar-se nesta Capitania, deliberaram buscar paragens convenientes, e caminhando desta Força para a parte do Maranhão topa um rio por nome Caracu na distância de quarenta e cinco
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
léguas, nas ribeira do qual se podem colher fontes e pastar gados com grande aumento da Fazenda Real desta capitania. (ARAUJO, 2005)
Após a petição, o Capitão-mor Bento de Macedo a deferiu, concedendo assim,
vinte e uma léguas de terras acima do rio. Cada companheiro de Manoel Góes ficou com
sete léguas, sendo que, apenas dois dos sesmeiros demarcaram suas terras e
consequentemente ocuparam. Essa data ficou conhecida com o nome de Datas dos Góes
que atingiu até o Marco, onde se encontra hoje a cidade de Marco, que fica à margem do rio
Acaraú.
Ainda buscando nos documentos, nos termos de batismo, casamento e óbito do
Curato do Acaraú, que esses livros lavram dados desde 1725, Padre Sadoc não encontrou
nada de referência a Francisco Pereira Lima, Manuel de Almeida Arruda e Estevão de
Figueiredo, que diante dessa ausência de dados podemos dizer que não deixaram
descendência na região. Tudo indica que o terreno que hoje está situada a cidade de Sobral,
estava dentro dos limites das sesmarias que foi confirmada em 14 de outubro de 1702, que
sendo concedida pelo Capitão-mor Francisco Gil Ribeiro para dois políticos da Câmara da
recém-criada Vila de Aquiraz, Antonio da Costa Peixoto e Leonardo de Sá. Antonio da Costa
Peixoto era português, chegou ao Ceará no ano de 1676, com residência no Suipé,
aproximadamente de Pecém, que somente em 1694 oficializou sua ocupação de terra com
outra sesmaria que lhe foi concedida.
Araújo (2005) apresenta que o primeiro proprietário das terras onde foi
construída a Fazenda Caiçara, Antonio da Costa Peixoto teve grandes influências social e
política nas primícias da Capitania, sendo que na primeira eleição no Ceará, (Aquiraz), para
Constituição da primeira Câmara, o mesmo foi eleito vereador.
Nesse momento da construção de uma História familiar sobralense, percebemos
nesse trabalho que explana as origens sobralenses, que as riquezas começam através da
ocupação de terras e para permanecer em família os filhos dos proprietários casavam-se
com as filhas de outros sesmeiros, que é o caso do filho de Antonio da Costa; teve dois
filhos: Nicolau da Costa Peixoto e Apolônia da Costa. Nicolau casou com Paula Sá, filha de
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
Leonardo de Sá, um dos sesmeiro; os mesmos fixaram residência no baixo Acaraú, atual
cidade de Bela Cruz, onde a mesma fez necessária à igreja, construindo a Capela de Nossa
Senhora da Conceição.
De acordo com Araújo (2005), Apolônia foi a segunda proprietária que herdou as
terras de seu pai na Ribeira do Acaraú, onde hoje é a cidade de Sobral; ela casou com o
Sargento-mor Antônio Marques, natural de Portugal, que residia no Siupé. Do fruto desse
matrimônio, nasceram sete filhos, mas somente três desses residiram para administrar e
ocupar na Ribeira do Acaraú, sendo eles: Antonio da Costa Leitão, João Marques da Costa e
Quitéria Marques de Jesus, que como terceira casou-se com o Capitão Antônio Rodrigues
Magalhães. Por muito tempo o casal morou no Suipé onde nasceu a maioria de seus filhos.
Somente em 1750, mudaram-se para a fazenda Caiçara que doaram terras para a construção
da Capela da Nossa Senhora da Conceição da Ribeira do Acaraú.
Aproximadamente por volta do ano de 1759, Dona Quitéria faleceu, ressaltando que
dois anos anteriores, seu esposo já tinha falecido. Em virtude do falecimento de Quitéria a
Fazenda Caiçara passou a ser herdada pela sua filha caçula Bárbara Maria, sendo a quarta
proprietária, a mesma casou com Antonio José Marinho. Vejamos que até aqui as terras
ainda eram da mesma família. Na pesquisa dirigida pelo Padre Sadoc, não se ressalta se
nesse momento houve crise financeira na família, mas ele afirma que as terras foram
arrendadas a Luís Soares Ferraz Porto, pela quantia de oito mil réis por ano, que logo após
vendeu para José Mendes Machado, que assim passou a ser o quinto proprietário. Através
dessa venda as terras saíram das posses da primeira família.
José Mendes Machado residia na Fazenda Sapo, atual cidade de Santana do
Acaraú, onde casou com Antonia Maria Lopes, com quem teve filhos; o mesmo doou
algumas terras para o dote de casamento de sua filha Inácia Maria, que casou com Francisco
Rodrigues da Cruz. Em 1777, José Mendes morreu e o restante das terras passaram a ser dos
seus três filhos: Antonio José, Vitorino e Matias Mendes Machado, sendo soldado servidor
da guarnição do Forte de Nossa Senhora da Assunção em Fortaleza. Em virtude de morar em
Fortaleza, teve dificuldades em administrar as terras. Ele vendeu a um preto forro Manoel
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
de Sousa, sendo assim o sétimo proprietário. Embora sendo um homem de cor, Manoel de
Sousa teve muita influência na Vila de Sobral.
Sobre o tempo de colonização a escrita acadêmica apresenta uma abordagem.
Souza (2006) afirma que a prática devocional pelo Rosário é uma tradição antiga, que teve
início no século XIV que já se encontrava na Espanha. A devoção do Rosário e de Irmandades
por negros começa a se desenvolver com aqueles escravos que tinham contatos com os
ensinamentos Católicos, e assim, fazendo adaptações à suas crenças anteriores.
A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, na cidade de Sobral, essa devoção ao
Rosário da Virgem Maria teria chegado ao Ceará, através dos negros, que chegaram com os
primeiros colonizadores que vinham de Portugal e dos Estados de Pernambuco, Bahia e
Maranhão, lugares onde já existia há bom tempo essa tradição, principalmente entre os
Negros. A irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Sobral teve sua
formação em meados do século XVIII.
Sobre esse tema a historiografia de Sobral recebeu munição da escrita da
dissertação de Rodrigues. O autor apresenta:
A necessidade de construção de um templo vai além de mera devoção, pois como afirma Mott, “A capela, além das fundações religiosas, era ponto de reunião social. Ali se celebravam casamentos, batizados, primeiras comunhões”. Com frequência servia de cemitérios aos membros da família.1
Nesse período histórico a Capela de Nossa Senhora do Rosário dos pretinhos era
de serventia aos homens e famílias de cor, que era administrado por Alferes Eusébio de
Sousa Farias, que com o intuito de garantir o sustento da Capela, o administrante propôs a
compra das terras a Manoel de Sousa Leal. A venda concretizou-se e as terras passaram a
fazer parte do patrimônio da Capela de Nossa Senhora do Rosário.
1 SOUZA, Raimundo Nonato Rodrigues de. Irmandade e Festa Rosário dos Pretos de Sobral-CE (1854-
1884). Edições NUDOC, 2006. P. 146 (Coleção Mundos do Trabalho).
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
A marca da fundação histórica aceita o processo de colonização portuguesa e
sua fixação no território e os valores de interação. Sendo assim, a história de ocupação do
território marca um período da produção da escrita da história de Sobral.
A CIDADE DE SOBRAL E SUAS CONQUISTAS
Frota apresenta que a Vila estava se povoando, e cada vez mais havia necessidade
da presença da Medicina. Houve conquistas, profissionais que se destacaram no ramo da
Medicina e Farmácia, como também bons cirurgiões, enfrentando secas e epidemias,
superando e conquistando espaços, tanto político como econômico.
Iniciamos contextualizando como se deram as demarcações das terras da Ribeira do
Acaraú, que hoje é a cidade de Sobral. Mas gostaríamos de enfatizar a cidade de Sobral na
primeira metade do Século XX, com um acontecimento muito importante na sua história,
que foi ser o local no globo terrestre que possibilitou com prova, a relatividade.
Em 1915 o cientista Einstein iniciou a sua Teoria da Relatividade, segundo a qual
era exigida que a luz tivesse peso e sofresse a força da gravitação como qualquer outra
partícula de matéria, e para ser considerada verdadeira ficou sujeita à comprovação
experimental. Para se comprovar a veracidade dessa Teoria foi consultado um mapa na qual
a trajetória da sombra daquele eclipse, no ano de 1919, que iria passar. Ela começaria no
Pacífico próximo a Costa Ocidental do Peru, e passando pelo Nordeste do Brasil (Sobral),
assim atravessando o Atlântico em direção à África, pela a qual atingiria a costa da Libéria e
assim, cruzando a África Central que terminaria no mar próximo da Costa Oriental africana.
Analisando o estado natural do sol no Peru ele estaria muito baixo e só surgiria no
horizonte. Já na África oriental estaria também muito baixo, impossibilitando a
comprovação, nas Ilhas de São Paulo e São Pedro; no meio do Atlântico, o sol estaria a alto,
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
mas uma estação na região seria impossível já que são apenas pedras isoladas. Averiguando
as dificuldades dos locais os cientistas do Observatório de Greenwich resolveram enviar duas
expedições: uma para o nordeste do Brasil, na cidade de Sobral, e outra à Ilha do Príncipe,
costa ocidental da África, por motivo que, nesses locais o sol estaria numa altura de 45º e
com uma boa duração, assim favorecendo a comprovação.
O Observatório Nacional do Rio de Janeiro enviou uma comissão científica à cidade
de Sobral, com o dirigente Dr. Henrique Morize. A mesma era composta por oito
participantes: Dr. Domingos Costa, astrônomo; Dr. Lélio Gama, calculador; Dr. Teófilo Lee,
geólogo e químico; Dr. Luís Rodrigues, meteorologista; Dr. Alírio de Matos, astrônomo; Artur
de Almeida, mecânico e Primo Flores, auxiliar.
Assim como Sobral recebeu a comissão brasileira, a cidade também recebeu mais
duas comissões, sendo essas estrangeiras: Americana e Inglesa. A Comissão Americana
instalou seu observatório na Praça do Patrocínio e se hospedou na residência do Dr. José
Sabóia de Albuquerque. A Comissão Inglesa ficou hospedada na residência do Cel. Vicente
Sabóia, que na época, era deputado federal. A comissão brasileira foi também montada na
Praça do Patrocínio que tinha como objetivo central fotografar a coroa solar, testando a
Teoria da Relatividade de Einstein, e para a alegria de Einstein e das Comissões científicas,
no dia 29 de maio de 1919, diante dos resultados, foi comprovada a Teoria da Relatividade
de Einstein no sertão do nordeste brasileiro, especificamente na cidade de Sobral.
A fundação da Diocese de Sobral foi criada em 1915 pelo papa Bento XV, marca
um novo tempo, que teve como primeiro Bispo Dom José Tupinambá da Frota, cita Padre
Sadoc: “Homem dinâmico e empreendedor, seria o mais qualificado do tipo educador do
povo sobralense.”
Após sua posse no ano de 1916, Dom José tinha como um objetivo, colocar o fim
no analfabetismo na cidade com a instalação do Comitê Municipal contra o analfabetismo;
após essa instalação foram inauguradas algumas escolas. Com a inauguração do Seminário
Diocesano, no ano 1925, considerada a primeira grande obra educacional de Dom José,
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
transformou o palco da Educação de Sobral. Esse Seminário durou 43 anos, acolhia centenas
de jovens do Estado do Ceará e dos Estados vizinhos, onde teve algumas formações de
Bispos e padres, não na parte da Teologia, mas também formou inúmeras pessoas através
da formação humanística básica que não só permaneceram na cidade de Sobral, mas como
também se espalharam pelo Brasil, exercendo inúmeras atividades profissionais.
A escrita da cidade apresenta a cidade, sempre em evolução onde a pecuária tinha
um grande destaque econômico, e sem falar que suas áreas pastoris favoreciam para o seu
progresso econômico. Já no final do século XIX para o início século XX, tanto o sistema
cultural como o econômico sobe com grande êxito, vivendo a cidade de Sobral o apogeu de
sua história.
Assim, com a inauguração da Estrada de Ferro, Sobral – Porto de Camocim, a cidade
de Sobral passou a ter uma parcela de influência sobre a Região Centro – Norte do Estado do
Ceará, onde também não influenciou somente no Estado Ceará, mas como também em
algumas regiões dos Estados do Piauí e do Maranhão, quando as mesmas passaram a
usufruir dessa estrada de ferro para descarregar seus produtos no Porto de Camocim que
exportava para outras regiões, tanto do Brasil como também internacionais.
Com a implantação da estrada de ferro no final do século XIX, foi um dos principais
fatores físicos que contribuiu para o crescimento da cidade, favorecendo um intercâmbio
econômico e cultural que era via Porto de Camocim ao restante do Brasil, como também a
Europa, fazendo uma ligação com o Velho Mundo.
Silva Junior (2002) nos traz uma apresentação de um número avançado de
deslocamento do campo para a cidade, que se deu de uma forma intensa dentro do período
da década de vinte. Segundo ele, os números de casas comerciais eram de 760, no entanto
os estabelecimentos rurais estavam com o número de 316. Dentro desse momento, Sobral
recebia um número acerbado de pessoas que estavam deixando o campo para morar no
espaço urbano. Em virtude dessas mudanças a cidade deveria se moldar com as
transformações que ocorria nos grandes centros urbanos.
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
Percebe-se que através da escrita local (semanário católico) prevalecia, tinha toda
uma preocupação em destacar a cidade em elevado grau do progresso, como destacou Silva
Júnior (2002) ao afirmar que em alguns relatos lidos em Correio da Semana, a cidade
passava por momentos muito difíceis, que aos poucos aqueles discursos que era feito dentro
de uma perspectiva harmoniosa estava sendo desconstruído pelo o dia a dia dos
sobralenses. Em 1919 Sobral atravessou uma grande seca, e em 1920, ainda não tinha se
recuperado. Vimos agora outro discurso, aqui a cidade foi “tomada” por flagelados que
vieram do campo para Sobral em busca de sobrevivência, por causa da seca. O Governo
Federal na época tomou atitudes através de construções de estradas e açudes, com o intuito
de minimizar os sofrimentos daqueles indivíduos, porém usando meios através da política,
para dizer, “fui eu que fiz, então votem em mim para que eu possa continuar fazendo mais
por vocês”.
A Igreja Católica nesse momento, como sempre, estava ao lado da política
conservadora, colocando um comportamento de reconstrução da sociedade. Para ela a
sociedade estaria precisando de intervenção religiosa, a Igreja estava em condições
favoráveis, na qual se achava sendo detentora da moral e dos bons costumes. Sendo esse o
momento em que a política procurava se sobressair com base em Roma, que organização
doutrinaria em sentido de romanização.
Há três tipos de discurso que irão se contradizer na briga pelo poder político: o
Juiz, como detentor da lei; Bispo Diocesano, como representante do sagrado e Deolindo
Barreto, representando a imprensa local que atuava dentro do pensamento progressista e
não era a favor do clero, afirma Silva Junior (2002). Já no Estado do Ceará em si, estava
passando por transformações. Em 1912, com a queda de Nogueira Accioly, a política no
Ceará estava dividida em democratas e conservadores. A Igreja por vez estava apoiando a
política acciolyna, que era totalmente conservadora, que foi crucial na aproximação do Bispo
e o Juiz, uma inimizade que foi posta durante a década de 1910.
Essa aproximação tinha como objetivo atacar Deolindo Barreto, redator-chefe
do semanário (opositor) A Lucta, que tinha em seus discursos, profundos pensamentos
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
contra o clero. Com seus pensamentos democratas contra a política conservadora,
incomodou de tal maneira que o mesmo foi assassinado no ano de 1924, um assassinato que
até nos dias de hoje não foi desvendado.
Como visto, houve batidas políticas entre democratas e conservadores, e a Igreja
como sempre acusadora de que a civilização moderna era na maior parte, causadora das
más condições sociais na qual a cidade se encontrava, e impedia que Sobral fosse
reconhecida nacionalmente como uma cidade modelo, Sobral passava por ponto de vista
disciplinador. Havia um argumento em que a cidade não poderia perder a supremacia.
Defendia-se que Sobral não deveria perder a hegemonia política, cultural e economia construída ao longo da sua história. A Sobral da tradição montada, deveria se unir em torno de uma causa maior, que seria a de perpetuar a idéia da Princesa do Norte.2
Segundo Silva Junior (2002), durante a década de 1920 houve várias tentativas
de socialização dos espaços com o objetivo de remendar a metrópole da região norte. Nesse
período foram fundados vários espaços sociais, assim como: Sobralense Futebol Clube, para
incentivar a diversão e lazer para a sociedade. Em 1922, dar-se início a temporada de
corridas de cavalos do Jóckey Club Sobralense, entre outros. Sempre procurando uma
estrutura para a cidade de Sobral que visava um modo de viver civilizado.
Na época era visível como o padrão de vivência era comparado com o da capital
cearense, e por muitas vezes, as regras que eram ditas na capital, eram copiadas em Sobral.
Tanto a elite política e a Igreja bolassem as regras do tempo e dos lazeres do povo, tendo em
mente que a folga era visto como um desvio a ser acertado, no caso do lazer dentro de um
modo que levasse o que era certo ou não. Com isso, a Igreja passaria a controlar de uma
forma mais decisiva, sendo assim passaria a controlar a cidade de modo não tão visível
aparentemente, unificando suas forças e colocando-se presente na cidade.
2 SILVA JÚNIOR, Agenor Soares e . “A Cidade Disciplinada”: A Igreja Católica e os Trabalhadores Urbanos
em Sobral – Ceará ( 1920- 1925). Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Pernambuco, 2002. pag. 77.
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
Araújo (2005) afirma que, com a inauguração da Santa Casa de Misericórdia de
Sobral, que foi uma obra de Dom José Tupinambá da Frota, em 25 de maio de 1925, depois
dessa data a medicina sobralense teve um grande avanço, saindo do campo individual para
ser serviço coletivo e institucional da comunidade. Não podemos negar que essa mudança
trouxe grandes benefícios para a saúde da população sobralense, pois não foi tão fácil.
Envolveu questões financeiras, recursos humanos e técnicos. Essa obra foi fundamental para
eternizar o Bispo Dom José Tupinambá da Forta.
Já na educação, depois de ter passado pelo processo de ensino colonial, Sobral
chega ao ensino superior em passos lentos. Durante a primeira metade do século XX, o
governador Benjamin Barroso nomeia o professor Newton Craveiro para o cargo de Inspetor
Escolar, ainda jovem com profundo conhecimento da Escola Nova, que chega à cidade de
Sobral pelo professor Lourenço Filho, que teve grande influência na educação da cidade.
Com o intuito de renovação dos métodos pedagógicos nas escolas cearenses, o professor
Newton Craveiro lança um livro didático, que teve como tema: João Pergunta. Esse livro teve
muito êxito em todo o Brasil. Em 1923, Sobral tornou-se sede da 3ª Região do Ensino e nesse
ano o educador Newton foi nomeado Delegado do Ensino.
Araújo (2005) ressalta que no ano de 1926, foi registrada a inauguração da Escola
Ernestro Deocleciano, que era destinada aos filhos dos operários da Fábrica de Tecido, que
teve uma grande participação na economia da cidade. Com um bom número de escolas no
ano de 1930, o Governo do Estado do Ceará mantinha um grupo escolar e quem estava à
frente era a professora Olga de Pontes Medeiros. Nesse mesmo ano houve o surgimento do
Externato Dom Bosco, dirigido pelo Padre Gonçalves Eufrásio, que era destinado aos
operários. O Externato alfabetizou vários adultos, tendo como base o modelo de educação
da JOC – movimento operário que nasceu na Bélgica, que tinha se espalhado por todo
mundo.
Por volta do ano de 1933 foi fundada a Liga dos Professores Católicos de Sobral,
que o seu objetivo central era agregar todos os católicos que exerciam o magistério público
ou particular do grau primário ao Ensino Superior.
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
A Liga deveria se empenhar para “intensificar entre os seus membros a fé e a prática do catolicismo, praticar um apostolado católico social junto as pessoas sobre as quais possam os seus membros direta ou indiretamente exercer influência, promover o estudo das questões pedagógicas procurando orientá-los pelas boas regras da doutrina cristã e defender, quando preciso, o magistério e o ensino.3
A Liga dos Professores foi a primeira Associação de Classe fundada na cidade, que
tinha no centro de suas ações, reduzir a introdução de alguns métodos pedagógicos da
Escola Nova. Já no ano de 1934, chega com mais um avanço na educação da cidade de
Sobral. Nesse ano foram inaugurados o Ginásio Sobralense e o Ginásio Santana, ambos eram
destinados à educação secundária da juventude, tanto masculina como feminina, aqui sendo
os primeiros estabelecimentos de ensino secundários que conseguiram se “comparar” em
questão de estrutura com o Colégio Pedro II do Rio de Janeiro. Ressaltamos que, o Ginásio
sobralense teve como seu primeiro Diretor Pe. José Aloísio Pinto que foi uma figura muito
importante na educação sobralense. Já o Ginásio Santana foi entregue a Congregação das
Filhas de Santana, sendo a primeira Diretora, Sorana Tecla d’Urso.
Fundado em 1942 o Educacional São José, que foi iniciativa da professora
Honorina Passos e que somente depois passou a ser Ginásio São José, tinha havido a troca
da direção para a Professora Dinorá Tomás Ramos. Com a intenção e dedicação à educação
primária dos pobres, surge em 1943, o Patronato Maria Imaculada que tinha como
metodologia de ensino, São Vicente de Paulo.
O nosso objetivo nessa pesquisa é dar ênfase na primeira metade do século XX,
para entendermos como era a sociedade sobralense nessa época. Através dos avanços nas
conquistas sobralenses, entenderemos como passavam as pessoas que viviam na cidade e
que com as aquisições realizadas através do Bispo Dom José as pessoas teriam grandes
afeições por ele.
3 ARAÚJO, Francisco Sadoc de, Origem da Cultura Sobralense, Edições UVA, Sobral- CE, 2005, pag. 178.
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
A cidade nesse momento estava passando por transformações, tanto no âmbito
educacional como cultural, deparando-se com modificações nos comportamentos familiares,
que socialmente iam se transformando. A Educação revolucionária que Dom José
Tupinambá trouxe para a cidade teve um ponto crucial para os sobralenses, antes só tinha
uma educação “atrasada” e agora se depara nesse momento com um desenvolvimento
educacional.
Quando tratamos do desenvolvimento educacional sobralense não podemos
deixar para traz o surgimento do Ensino Superior na cidade de Sobral, embora sendo criado
somente na segunda metade do século XX, gostaríamos de destacá-lo como uma obra
importantíssima que aqui Dom José teve conhecimento. Assim como na Educação Básica
sobralense o Bispo teve suas influências na história do Ensino Superior.
Visto que Sobral e cidades vizinhas já tinham inúmeras escolas secundárias, havia
uma necessidade de bons professores habilitados para dirigi-las. Nesse período, terminando
o ensino secundário, aquele que quisesse dar continuidade a seus estudos no Ensino
Superior teria que ir para a Capital do Ceará, Fortaleza, englobando a necessidade de
professores habilitados e a distância para uma formação no Ensino Superior.
Em 1960 nascia a ideia da criação da primeira escola superior em Sobral, partindo
da iniciativa da Diocese de Sobral e com as orientações do professor Martins Filho que era
Reitor da Universidade Federal do Ceará. Logo após, tiveram que tomar providências em
pedido de autorização que é enviado ao Conselho Nacional de Educação “Pelo o Decreto
49.878 de 11 de janeiro de 1961, assinado pelo Presidente da República Dr. Juscelino
Kubitschek é autorizado a funcionar a Faculdade de Filosofia Dom José, tendo os cursos de
Letras e História.”
Com o Monsenhor José Gerardo Ferreira Gomes, como diretor, sua aula inaugura
no dia 19 de março de 1961. Após sete anos foi criada a Fundação Universidade Vale do
Acaraú – UVA que foi estabelecida pelo Decreto Municipal n° 214 do dia 23 de outubro de
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
1968, através do Prefeito Jerônimo de Medeiros Prado. De lá para cá a Universidade
Estadual Vale do Acaraú é reconhecida em todo o Brasil.
Não podemos negar que a cidade de Sobral teve grandes avanços em vários
ramos, e que a Igreja Católica também teve o seu papel na pessoa de Dom José. É notável
como tudo girava em torno da Igreja, que sempre estava envolvida em várias questões,
começando na Educação secundária até as atitudes comportamentais dos seus fieis.
O PAPEL DA IGREJA CATÓLICA DENTRO DAS FAMÍLIAS SOBRALENSES
Silva Junior (2002) mostra-nos na sua dissertação de mestrado, algumas colocações
sobre como era a família cristã sobralense na primeira metade do século XX, nos anos 1920 a
1925. Mostra-nos ainda, um artigo que tem como título Monstruoso Drama de Sangue que
foi narrado no semanário católico da cidade de Sobral. Este artigo faz ressalva ao drama de
uma família que habitava em um bairro periférico em Sobral.
A família representada por Maria do Carmo, Francisco Porphirio e os seus dois filhos.
Certo dia, Maria do Carmo foi até a Delegacia regional fazer uma queixa de que seu marido
não estava correspondendo com o dever de um dono de casa; o mesmo, além de está
desempregado vivia embriagado e incentivava os filhos a roubar, enquanto Maria do Carmo
trabalhava muito para alimentar seus filhos, e até mesmo o Porphirio, seu esposo, em suas
vendas de tabuleiro. Cansada de viver uma vida com condições difíceis ela resolve ir até a
delegacia. O delegado chama o Senhor Francisco Porphirio para dar bons conselhos; o
mesmo sai da delegacia com bastante raiva de sua esposa, por tê-lo denunciado, e ao chegar
em casa com um punhal mata sua companheira, que estava grávida, com quatro
punhaladas, que morre de imediato.
Francisco Porphirio vendo que tinha matado sua mulher e seu filho embrionário fugiu
com o punhal nas mãos. Os soldados começam a perseguição e o mesmo vendo que estava
sendo perseguido atira pedras nos soldados. Como louco, dar sacada de punhal pelo ar. Os
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
soldados se aproximam cada vez mais dele; ele vendo isso pula o muro da casa do cidadão
José Custódio de Azevedo.
A polícia pula no muro e encontra Francisco Porphirio trancado dentro do banheiro
estendido no chão lavado de sangue e sem sentido. Visto que estava sem saída, tenta se
matar com facadas no pescoço, afetando somente a garganta e ficando sem sentido devida a
perda de sangue e a perturbação mental que se encontrava. Foi levado para o hospital e
feito curativos pelos médicos, logo após o assassino foi levado para a detenção onde ficou
aguardando o final do inquérito para o julgamento.
Diante desse relato vimos que nem todas as famílias sobralenses seguiam o padrão
que era definido pela Igreja Católica. De acordo com esse fato, é visível compreender que
existiam outros perfis de família em Sobral.
A Igreja Católica mostra uma representação de uma família cristã com uma divisão
hierárquica que é correspondente a uma família patriarcal, e que não teria que haver nem
questionamento. Para o catolicismo a mulher cristã é a guardiã da família, sendo ela a base
para uma preparação de uma sociedade que estava sofrendo grandes modificações em
virtude da modernização, e para o homem, a Igreja o via dentro de um papel provedor, ou
seja, o centro do lar e a autoridade máxima.
Dentro desse mesmo período, com a entrada da modernidade na cidade,
apareceram vários utensílios para que a mulher sobralense pudesse acompanhar as
inovações que estavam frequentemente mudando, e como Sobral estava no processo de
adaptação do novo, surgiu o discurso sobre essas mudanças, incluindo beleza, saúde e moda
dentro do universo das mulheres sobralenses.
O campo da escrita acadêmica traz a problematização para a história. Dessa
forma, a cidade passa a ser analisada como espaço de combate dos comportamentos
femininos. Sobre o modelo imposto do comportamento feminino pela modernização, era
visto como algo profano na ótica da Igreja, onde a mulher deveria ser comparada com a
Virgem Maria, que sempre estava voltada para a atenção do lar. Para a Igreja quando a
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
mulher entrava em contato com essas mudanças mundanas ela estaria totalmente
corrompida com o pecado, e a beleza que a Igreja estava a favor era da beleza natural.
Conforme afirma Cavalcante (2013) “A mulher que estivesse seguindo a ‘moda mundana’,
segundo anunciava o Correio da Semana, estaria infringindo a moral cristã. No entanto,
bastaria que tomasse a decisão de mudar esse quadro, voltando a ser rainha do lar.”
A Igreja tenta controlar esses avanços que iam contra os seus princípios,
colocando-a de fora e possibilitando sua exclusão no poder. Dessa maneira, sua atitude foi
condenar a mulher a controlar o seu próprio corpo, assim como na saúde, moda e no sexo. A
mulher foi controlada em vários sentidos, como também nas posturas sociais e econômicas.
Visto que era avaliada com muito critério, algumas exceções pela a Igreja, e as condições de
modernidade dentro da saúde e da moda. Contudo, a mulher deveria manter o seu papel de
protetora do lar, voltando sua atenção somente para a família e que jamais deveria atentar-
se para a valorização de seu corpo, quebrando ali todas as virtudes de uma verdadeira
mulher cristã.
O clero tenta colocar um perfil familiar que corresponde com os princípios bíblicos, e
nesse caso, a família seria uma instituição responsável em representar a moral cristã.
Caberia a mulher o dever de se impor, vista como uma figura frágil e mediadora tanto do lar
como também da família em si, como afirma Silva Júnior (2002), “A mulher vivia no limite do
sagrado e do profano, cabendo ao homem cuidar para que esta não se desviasse do
caminho”.
Analisando a família de Maria do Carmo no relato citado no início, percebe-se que
essa família coloca-se totalmente fora do perfil familiar determinado pela Igreja Católica. De
acordo com Silva Junior (2002), o casal estaria fora desse padrão, devido ambos terem se
unidos no matrimônio civil, no qual automaticamente ia contra o padrão familiar instituído
pela Igreja.
Visto que nesse período a cidade de Sobral estava passando por transformações
nos campos da economia e social, claro também, dentro das famílias por causa da chegada
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
da modernidade, essa modernidade foi atacada pela Igreja, que tinha o objetivo de abrir um
leque de padrões familiares e que estava se deparando com a moda, comportamento, novas
religiões que estavam chegando através da facilidade da comunicação e também a questão
do divórcio. Vendo que a modernidade estaria assolando tanto a Igreja como também a
família, a Igreja “ataca” essas inovações com seus discursos.
Era totalmente inaceitável pensar na possibilidade de haver separação de um casal,
pois a Igreja era contra em se tratar desse assunto. E se tratando do assunto de divórcio,
começaram muitos discursos, entre o clero e a ciência, buscando encontrar argumentos
aprofundados para garantir as satisfações.
Na ótica da Igreja a família era a primeira instituição perfeita da sociedade, sendo a
segunda o Estado e por último a Igreja.
Apesar de convergirem na pregação da moral familiar, conservadores católicos e cientificistas polemizavam sobre o papel social da mulher, assim, Combari, na sua ética do trabalho, ao abordar a família como a matriz da organização familiar, afirma ser ela uma instituição que passa por uma profunda universalização ética originária das classes médias e das elites urbanas, propagando, desta forma, uma ideologia do familismo dentro de um cenário intelectual brasileiro entre o final do século XIX e o inicio do século XX.
Para Silva Junior (2002), o princípio do perfil familiar definido pelo semanário
católico sobralense vem com harmonia, e a divisão de tarefas entre o marido e a esposa,
constituindo uma instituição, a família, na qual formam uma unificação das doutrinas cristãs
catalisando as mudanças sociais.
Dentro do cenário familiar em que se encontrava Maria do Carmo e o Francisco
Porphirio, estavam distantes de se encaixar dentro do perfil familiar patriarcal e positivista.
Nesse caso Porphirio deveria ser a autoridade maior e provedora dentro família, no entanto
ele se encontrava desempregado, talvez devido às condições que não eram favoráveis a ele.
Enquanto Maria do Carmo estava lutando para conseguir a separação, na visão da Igreja
naquele momento, isso era totalmente um pecado, sendo ela obrigada a conviver com o
marido, mantendo um matrimônio forjado e cuidar dos filhos. Essas eram as únicas opções
na qual ela se encontrava.
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
Silva Junior (2002) afirma-nos que a percussão sobre divórcio e família teve grandes
discutições durante a década de vinte dentro do semanário católico. Nesse período, em
algumas edições do jornal Correio da Semana, vêm nos trazer as más influências dos Nortes
Americanos no Brasil, que discutiam o estilo de vida americano e a religião que predominava
mais nos Estados Unidos, o protestantismo, que para a Igreja Católica não levava a sério a
importância do matrimônio. Quando tratamos em questão, o casamento entre os
americanos, sentíamos a ausência da santificação da cerimônia, tornando o casamento em si
algo banal. Mostra-nos que se analisarmos esse motivo iremos compreender a causa pela a
qual o divórcio era totalmente liberado entre os americanos, a razão de que havia a falta da
religião Católica Apostólica Romana dentro daquela região.
A cidade de Sobral nesse momento estava enfrentando uma realidade social muito
difícil, e a Igreja Católica não queria enxergar esse fato. Durante muito tempo e ainda hoje,
podemos afirmar que o matrimônio para a Igreja era e é algo sagrado, onde tem a presença
da trindade santa: pai, filho e espírito santo e uma instituição familiar para ligar a família
sagrada.
Porém, Sobral não tinha um padrão familiar como a igreja queria que fosse.
Existiam vários tipos de famílias que passavam por conflitos, fome; por muitas vezes a
mulher teria que se submeter ao marido para desobedecer a Igreja, e acabando ser
assassinada pelo seu conjugue, exemplo da família citada anteriormente. Era uma luta de
poderes, buscando um modelo de cidade que a harmonia prevalecia, mas esquecia de que
ali envolvia vidas, envolvia também a luta pela sobrevivência.
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A importância dessa pesquisa é fazer com que muitos leitores, tanto da área
acadêmica como educação básica, tenham um contato com a historiografia da cidade de
Sobral. Como foi citado no início desse artigo é notável que hoje nas salas de aula do ensino
básico note-se a carência da História Local. O objetivo desse artigo é acender a chama de
interesse para trabalhar a História da cidade de Sobral, olhando não só para o lado de uma
História Positivista, mas também com um olhar crítico, ajudando ao leitor/estudante
compreender que há diversas fases que uma cidade passa para chegar ao seu auge.
Mas a cidade também tem suas tenebrosas profundezas [...] em nome de um ideal religioso, a crítica da cidade avoluma-se, desde São Martinho até alguns franciscanos do século XIV [...] o orgulho urbano é feito da imbricação entre a cidade real e a cidade imaginada, sonhada por seus habitantes e por aqueles que a trazem à Luz, detentores de poder e artistas.
Resgatar a História de uma cidade dentro de dois ângulos diferentes, como
eclesiástico e historiográfico, traz-nos uma compreensão completa de como foi construída a
cultura da cidade. Nessa pesquisa encontramos detalhes sobre a História da cidade de Sobral
que não é mencionada no cotidiano escolar local.
Destacamos alguns Historiadores, Cavalcante, Silva Junior, Rodrigues, que nos
relatam em seus trabalhos, uma narrativa compreensiva do que foi a cidade de Sobral em
certo período.
Quando se trata de Sobral, o que vem em nossa mente é a presença da Igreja.
Percebe-se que durante muito tempo essa instituição religiosa se fez presente no cotidiano
dos sobralenses. Não podemos negar que a Igreja tentou controlar os avanços da sociedade
que batia de frente com os seus ensinamentos e lhe propulsionava exclusão tanto do poder
político como também o social. Por outro lado ela teve também um papel importante que
contribuiu para o desenvolvimento de várias áreas: educação, saúde, lazer, entre outros.
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
Dentro dessa pesquisa vimos como a Igreja tentou modificar de várias maneiras
o comportamento feminino, visto que a mulher era olhada como “objeto” que deveria se
adequar dentro dos padrões religiosos. A Igreja com receio de perder o poder condena a
mulher a controlar o seu próprio corpo, assim como na saúde, moda, e no sexo.
Vimos que a mulher foi questionada em vários aspectos no âmbito social como
também econômico que contribui por muitas vezes, causar a “exclusão social”. Para a Igreja
todas as condições que traziam a mulher a se adaptar dentro do mundo da modernidade
eram avaliadas com muito critério. Entretanto o objetivo da Igreja era que a mulher,
auxiliadora do homem, tinha o dever de sustentar a tarefa de Dona do Lar, não podendo
jamais voltar o seu olhar para as vaidades que a modernidade oferecia.
Como estamos tratando de cidade, assim como todas grandes cidades foi se
baseando em outra cidade; com Sobral não foi diferente. Na década de 20 do século XX era
ver como o modelo de vivência a ser comparado com o da cidade de Fortaleza, a capital
Cearense, na maioria das vezes algo que era dito como ordem, moda, lazer na cidade de
Fortaleza, logo a cidade de Sobral estava se apropriando do modelo.
A cidade de Sobral sempre foi vista como uma cidade evolucionada, onde a
pecuária tinha um grande destaque econômico, e sem falar que suas áreas pastoris
favoreciam para o seu progresso econômico. Já no final do século XIX para o início do século
XX, tanto o sistema cultural como o econômico sobe com grande êxito, vivendo a cidade de
Sobral o apogeu de história.
Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 3-25. ISSN: 2317-2649
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, Francisco Sadoc de, História Cultural Sobralense. Sobral: Imprensa Universitária – UVA, 1978.
__________ Origem da Cultura Sobralense, Edições UVA, Sobral- CE, 2005.
BARROS, M. M. L. de. Memória e família. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro. vol. 2.
BASSANEZI, Silva Maria, O Historiador e suas Fontes: Os eventos Vitais na reconstituição da História. São Paulo: Contexto, 2009. P. 141-172.
CARPINTÉRO, M.V.T.; CERASOLI, J.F. A Cidade Como História. 2009.
CAVALCANTE, Chrislene Carvalho dos Santos Pereira, O Espetáculo da Cidade: corpo feminino, publicidade e vida urbana em Sobral (1920/ 1925). Instituto ECOA, Sobral – CE, 2013.
FROTA, Tupinambá da Frota, História de Sobral, 2. Ed, Fortaleza, 1974.
LE GOFF, Jacques, Por Amor às Cidades: Conversações com Jean Lebrun; tradução Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes. – São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998. – (Prisma).
MALATIAN, Teresa. Um Percurso Historiográfico do Conhecimento Histórico. Departamento de História da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – UNESP/Franca.
MESQUITA, Teobaldo Campos. Manual de elaboração e apresentação de trabalhos científicos. 3ª edição (Revista e atualizada). Sobral (CE): Edições Universitárias, 2011.
SANTOS, Chrislene Carvalho dos. Construção Social do Corpo Feminino em Sobral (1920 – 1925). Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Pernambuco, 2000.
SILVA JÚNIOR, Agenor Soares e. “A Cidade Disciplinada”: A Igreja Católica e os Trabalhadores Urbanos em Sobral – Ceará (1920- 1925). Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Pernambuco, 2002.
SOUZA, Raimundo Nonato Rodrigues de. Irmandade e Festa Rosário dos Pretos de Sobral-CE (1854-1884). Edições NUDOC, 2006. p. 146 (Coleção Mundos do Trabalho).