1 - A Europa Feudal (Parte1)

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A Europa Feudal (scs. IX-XIII)Parte I: Principais Caractersticas e Relaes Sociais

Professor Jos E. M. Knust

Roteiro de estudo para esta aula:1. A Sociedade europia no comeo do Feudalismo:A. B. C. D. E. Descentralizao poltica. Ruralizao Comrcio Restrito As trs Ordens Os grupos sociais: Aristocratas e Camponeses

2. As Principais Relaes Sociais do Feudalismo:A. Relaes Horizontais entre os Aristocratas B. Relaes Verticais: a explorao dos Camponeses: I. Os poderes do senhor feudal: Poder de mando II. Os poderes do senhor feudal: Domnio sobre a terra. III. As obrigaes dos servos.

A) Descentralizao Poltica Todas as tentativas de construo de grandes Imprios na Europa Medieval falharam. Assim, no existiam grandes Estados que governavam grandes regies, mas pequenos reinos, ducados ou condados governados pelos nobres locais como auxlio de seus cavaleiros.

Carlos Magno, poderoso imperador na Alta Idade Mdia. Seu imprio no resistiu sua morte.

Mapa do Sacro-Imprio: fragmentao em diversos condados, principados, etc.

Mapa da Itlia: tambm fragmentada politicamente

Anlise de Historiadores sobre esta poca Anlise 1

O Feudalismo, do ponto de vista poltico, representava uma pulverizao do poder que respondia melhor s necessidades de uma sociedade sada do fracasso de uma tentativa unitria (Imprio Carolngio) e pressionada por inimigos externos (vikings,magiares, etc.). (...) Os grandes proprietrios rurais puderam usurpar atribuies do Estado [formao dos exrcitos, cobrana de impostos, etc.]. (...) Os condes foram se apossando de poderes rgios e implodindo o Imprio Carolngio. Mas o prprio poder condal tambm foi se parcelando e caindo nas mos dos seus servidores, viscondes e casteles.Questo 01

Hilrio Fraco Jr., A Idade Mdia, p.62-63.

B) Ruralizao A Europa nessa poca era um mundo rural. Porque:A maior parte da populao vivia no campo, trabalhando na agricultura. Os poderosos daquele mundo tambm viviam no campo e obtinham seu sustento da agricultura (explorando o trabalho dos camponeses).

Castelos onde viviam os poderosos; e camponeses trabalhando a terra: A Europa na Idade Mdia era um mundo rural.

Questo 02

C) Comrcio restrito A produo agrcola e artesanal na Europa Feudal era principalmente voltada para o consumo no prprio local. Com isso, a comercializao desses produtos era muito pequena. Apenas o comrcio de produtos de luxo para a elite atingia grandes nveis.Questo 03 e 04

D) As Trs Ordens A ideologia dominante na Europa Feudal dividia a sociedade em trs grupos de pessoas, que tinham deveres diferentes:Os que guerreiam: Nobres, donos de terras e seus cavaleiros. Os que rezam: os membros do Clero da Igreja Catlica. Os que trabalham: os camponeses pobres.

Representao medieval para as trs ordens: Clero, Nobres e Camponeses

Textos escritos na poca (fontes primrias) Fonte 1

Os clrigos devem por todos orar Os cavaleiros sem demora Devem defender e honrar E os camponeses sofrer Cavaleiros e clero sem falha Vivem de quem trabalha Tm grande canseira e dor Pagam primcias, corvias, oraes ou talha E cem coisas costumeirasQuesto 05

E quanto mais pobre viver Mais mrito ter Das faltas que cometeu Se paga a todos o que deve Se cumpre com lealdade sua f Se suporta paciente o que lhe cabe: Angstias e sofrimento.

Poesia de Estvo de Fougres, sc. XII

E) Os grupos sociais: aristocratas e camponeses Na verdade, podemos dividir a sociedade em dois grupos principais:Os Aristocratas: Nobres e membros poderosos da Igreja (Alto Clero) Os camponeses: trabalhadores pobres que viviam do cultivo da terra.

Corte de um nobre medieval

Calendrio de atividades agrcolas realizadas pelos camponeses (cada figura representa um ms)

A) Relaes Horizontais: Entre os AristocratasNobre mais Poderoso:

Dentro da elite da sociedade, os poderosos faziam alianas para aumentar seu poder.Feudo (normalmente terras) Proteo Nobre menos Poderoso:

SuseranoAuxlio (militar e financeiro) Conselho (administrao e justia)

Vassalo

Vassalo presta homenagem (jurando fidelidade) ao Suserano.

Textos escritos na poca (fontes primrias) Fonte 2

Na sexta-feira (7 de abril) foram de novo prestadas homenagens ao conde, as quais eram feitas por esta ordem, em expresso de fidelidade e garantia. Primeiro prestaram homenagem desta maneira: o conde perguntou (ao vassalo) se ele desejava tornar-se o seu homem, sem reservas, ele respondeu: Quero; ento, tendo juntas as mos, colocou-as entre as mos do conde e aliaram-se por um beijo. Em segundo lugar, aquele que havia prestado homenagem jurou fidelidade ao porta-voz do conde, com estas palavras: Comprometo-me por minha f a ser fiel daqui por diante ao conde Guilherme e a cumprir integralmente a minha homenagem, de boa f e sem dolo, contra todos; e em terceiro lugar, jurou o mesmo sobre as relquias dos santos.Gilberto Brungese, Vita Karoli Comitis Flandriae.

Questo 06 e 07

Descrio de uma cerimnia de Homenagem (Vassalo jurando fidelidade ao Suserano)

Textos escritos na poca (fontes primrias) Fonte 3

Solicitado a escrever alguma coisa respeitante forma da fidelidade, anotei brevemente para vs, de acordo com a autoridade dos livros, as coisas que seguem: Aquele que jura fidelidade ao seu senhor deve ter sempre presente na memria estas seis palavras: inclume, seguro, honesto, til, fcil, e possvel. Inclume, na medida em que no deve causar prejuzos corpreos ao seu senhor; seguro, para que no traia os seus segredos ou armas pelas quais ele se possa manter em segurana; honesto, para que no enfraquea os seus direitos de justia ou outras matrias que pertenam sua honra; til, para que no cause prejuzo s suas possesses; fcil ou possvel, visto que no dever tornar difcil ao seu senhor o bem que ele facilmente poderia fazer, nem tornar impossvel o que para ele seria possvel.Carta enviada pelo Bispo Fulbert de Chaltres ao Duque da Aquitnia Guilherme V (1020)

Textos escritos na poca (fontes primrias) Fonte 3

Todavia, se justo que o vassalo evite estas injrias, no ser s por isto que merece benefcio; porque no suficiente abster-se do mal, a menos que faa tambm o que bom. Portanto, dever em adio conceder fielmente conselho e auxlio ao seu senhor nas seis coisas acima mencionadas, se desejar ser considerado merecedor do seu benefcio e digno de confiana na fidelidade que jurou. O senhor deve tambm retribuir da mesma maneira todas essas coisas ao seu fiel. Se o no fizer, ser com razo acusado de m f, exatamente como seria considerado prfido e perjuro o vassalo apanhado a fazer ou consentir em tais prevaricaes.retirado de Fernanda Espinosa. Antologia de textos histricos medievais. Lisboa: S da Costa Editora. P.173

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B) Relaes Verticais: A riqueza dos grupos Explorao dos poderosos se sustentava sobre a explorao do camponeses trabalho dos camponesesSenhor FeudalPoder de Mando Explorao Poder sobre a Terra

Campesinato

Questo 09

I) Poderes do senhor feudal: Poder de Mando O senhor feudal controlava o poder de justia, (estabelecer as leis, punir os criminosos) e de cobrar taxas. Esse poder era garantido pela fora militar que estes senhores possuam: fortemente armados, os cavaleiros ligados ao Senhor Feudal serviam tanto para guerras contra outros nobres como para obrigar os camponeses a obedecerem as ordens do Senhor.

Castelo e Cavalaria: smbolos do poder e da fora do Senhor Feudal

Camponeses trabalham sob a imponncia da imagem do Castelo do senhor feudal. (Castelo do Duque de Berry, na Frana)

Anlise de Historiadores sobre esta poca Anlise 2

Dentro de cada um dos feudos o poder estava nas mos dos guerreiros, nicos em condies de fornecer proteo naquela poca de insegurana generalizada. Ao menos essa era a justificativa inicial. A maior militarizao estava ligada a necessidade de enfrentar rivais locais e sobretudo dominar o campesinato. (...) A concesso e recepo de feudos e sua contrapartida (o servio militar) representavam uma forma de diviso da riqueza (terras e trabalhadores) sempre dentro da mesma elite. O poder poltico estava fracionado para que pudesse ser mantido.Adaptado de Hilrio Fraco Jr., A Idade Mdia, p.63.Questo 10

II) Poderes do senhor feudal: O domnio sobre a terra Com todo este poder, o Senhor conseguia impor o domnio sobre toda a terra da regio. Para poder utilizar estas terras tomadas pelo Senhor, os camponeses precisavam se submeter s relaes de dependncia com o Senhor, tornando-se um Servo.

Representao de uma aldeia medievalLegenda: 1. Floresta 2. Castelo 3. Terras cultivadas 4. Moinho 5. Igreja 6. Aldeia dos camponeses 7. Ponte

Questo 11

III) As obrigaes dos Servos Os senhores impunham aos Servos diversas obrigaes para poderem usar as terras. Entre elas, se destacam:Trabalhar alguns dias da semana (normalmente 3) nas terras do senhor. Entregar parte da produo de suas terras como taxas pelo uso da terra ou de implementos produtivos (moinhos, por exemplo). Pagar taxas em dinheiro ao senhor.

Apesar de toda opresso, muitas vezes os camponeses se rebelavam, causando problemas para os senhores.

Camponeses trabalhando a terra do seu senhor

Senhor Feudal recebe tributos de seus sditos (miniatura dosculo XIV)

Iluminara medieval mostra servos oferecendo pedaos de animais ao senhor feudal.

Textos escritos na poca (fontes primrias) Fonte 4

No dia de So Joo (24 de junho), os camponeses devem ceifar os prados do senhor, levar frutos ao castelo e cuidar dos fossos. Em Agosto devem colher o trigo e lev-lo granja do senhor. Eles s podero retirar a sua parte depois que o senhor tirar a sua. Em setembro devem dar ao senhor o melhor porco a cada oito porcos que tiverem. No dia de So Diniz (9 de outubro) devem pagar o censo (quantia fixa em dinheiro que o servo obrigado a pagar ao senhor) e a taxa em dinheiro para poder utilizar o seu campo. No comeo do inverno, devem prestar a corvia (trabalho na terra do senhor), para preparar a terra do senhor para o plantio.

Obrigaes dos servos na regio de Verson

Textos escritos na poca (fontes primrias) Fonte 4

No dia de Santo Andr (30 de novembro), os servos devem dar um bolo para o senhor, e no Natal, devem dar boas galinhas e uma quantidade de cevada e trigo. Depois disso, ainda devem dar alguns de seus carneiros para o senhor e realizar alguns trabalhos para o senhor, como ferrar os cavalos, cortar rvores, e carregar produtos para o senhor. Alm disso, os camponeses ainda devem pagar uma certa quantidade de farinha para usar o moinho e o forno.Adaptado de Direitos Senhoriais em Verson, retirado de Nelson Piletti e Claudino Piletti, Histria e Vida. So Paulo: Editora tica, 2004, p. 174

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Textos escritos na poca (fontes primrias) Fonte 5

Os camponeses e os viles Os da mata e os da plancie Aos vinte, aos trinta, aos cem Tiveram muitas reunies E espalharam a divisa de seu conselho Nosso inimigo nosso senhor E falaram isso em segredo E muitos juraram entre si Que jamais, por sua vontade Teriam senhor ou mediador (...)

Com tais ditos e palavras E outras ainda mais loucas Marcaram seu consentimento E juraram solenemente Que todos ficariam juntos E juntos se defenderiam E elegeram, no sei onde nem quando Os mais hbeis, os que falavam melhor Que foram por toda a regio Recolher os juramentos (...)

Revolta camponesa na Normandia, em 997.

Textos escritos na poca (fontes primrias) Fonte 5

Raul [o senhor] se exaltou de tal modo Que no fez qualquer julgamento Colocou todos tristes e doloridos De muitos arrancou os dentes E outros mandou empalar Arrancou os olhos, cortou os pulsos A todos mandou assar os jarretes Mesmo que com isso morressem Outros foram queimados vivos Ou colocados em chumbo fervente

Assim tratou a todos Ficaram com aspecto horroroso No foram vistos depois disso em lugar nenhum Onde no fossem reconhecidos A comuna ficou reduzida a nada E os viles se portaram bem Se retiraram e se demitiram Daquilo que tinham comeado.Citado em Jacques Le Goff, A civilizao do ocidente medieval II. Lisboa: Editorial Estampa, 1984, p. 60-61.

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Anlise de Historiadores sobre esta poca Anlise 3

O termo vilo, que de incio no pejorativo, sem dvida o mais adequado, em primeiro lugar, porque a noo moderna de campons no tem equivalente nas concepes medievais. Nelas, os homens medievais no eram definidos por suas atividades (o trabalho na terra), mas pelo termo vilo, que abrange todos os aldeos, seja qual for sua atividade (a includos os artesos), e que indica essencialmente residncia local. Ele tambm no designa um estatuto jurdico (livre/no-livre), questo que parece relativamente secundria. A base fundamental dessa relao social antes de tudo de ordem espacial: ela designa todos os moradores de um senhorio, os vilos (ou, se quisermos, aldeos) que sofrem a dominao do senhor do lugar.Baschet, Civilizao Feudal.Questo 14

Esquema-Resumo

Questes 15 e 16