1- Artigo - SAE

Embed Size (px)

Citation preview

IMPLEMENTAO

DA

SISTEMATIZAO

DA

ASSISTNCIA

DE

ENFERMAGEM (SAE) NA SALA DE RECUPERAO PS-ANESTSICA (SRPA). KUHNEN, Aline Carla1 MARKUS, Andrea Machado2 DA CORREGGIO, Thmy Canova3 AMANTE, Lcia Nazareth4

RESUMO Trata-se de uma Pesquisa Convergente Assistencial, de natureza qualitativa, desenvolvida no Centro Cirrgico do Hospital Universitrio da UFSC, com o objetivo de elaborar o instrumento para a implementao da Sistematizao da Assistncia de Enfermagem (SAE) no perodo ps-operatrio imediato. Foram selecionados 10 pacientes submetidos aos procedimentos realizados pela especialidade de cirurgia geral. Os resultados esto organizados em dois momentos, no primeiro caracterizado pelo Perfil dos participantes e no segundo identificamos duas categorias: A realidade da Sala de Recuperao Ps-Anestsica (SRPA), descrevendo os aspectos fsicos, assistenciais e humanos deste local e A ao a partir da realidade na SRPA, relatando as atividades de interveno. Atravs disso, notamos que a SAE facilita a monitorao do paciente e o aproxima do profissional de enfermagem, diminuindo a mecanizao da assistncia e tornando-a individualizada e humanizada. Descritores: Enfermagem Perioperatria; Assistncia de Enfermagem; Sala de Recuperao; Registro de Enfermagem.

1 2

Acadmica da oitava fase do Curso de Graduao em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Acadmica da oitava fase do Curso de Graduao em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. 3 Acadmica da oitava fase do Curso de Graduao em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina e Bolsista do Projeto Pr-Sade na Secretaria Municipal de Sade de Florianpolis. 4 Professora Doutora do Curso de Graduao em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina.

2

3 INTRODUO Os indcios do atendimento cirrgico remontam pr-histria, quando j eram realizados procedimentos como ajustamentos de fraturas, amputaes e trepanagens cranianas. No perodo medieval apareceram os cirurgies-barbeiros que realizavam sangrias, extrao dentria, drenagens de abscessos, entre outros procedimentos que eram desempenhados sem qualquer noo de higiene ou processos anestsicos, provocando um grande nmero de mortes por hemorragias e infeces(1). Ao final da Idade Moderna, em Londres, surge a primeira sala cirrgica hospitalar. Estas primeiras salas eram localizadas no ltimo andar dos hospitais, devido utilizao de luz natural e considerando a distncia dos outros pacientes hospitalizados, que com essa separao no ouviriam os gritos dos pacientes sendo operados(2). Na Idade Contempornea, antes da descoberta da anestesia, houve o primeiro relato formal na cidade de Newcastle, Inglaterra, sobre a existncia de uma sala para observao e cuidados especiais ps-cirrgicos, ainda que prestados por pessoal sem treinamento, localizada ao lado das salas de operao(3). Em 1842 surgiu uma nova era para a cirurgia com o descobrimento de anestsicos como o xido nitroso, ter, e posteriormente em 1847, o clorofrmio, possibilitando o controle da dor(4). Florence Nightingale, em 1863, j previa a necessidade de que os pacientes submetidos cirurgia fossem agrupados para facilitar seu atendimento nas primeiras horas ps-operatrias. Sendo que somente em 1942, nos Estados Unidos, utilizou-se, pela primeira vez, o termo Sala de Recuperao Ps-Anestsica - SRPA(3). Porm, somente entre 1940 e 1959, a assistncia de enfermagem aos pacientes cirrgicos foi se tornando mais complexa e cientfica. Nos ltimos anos, a pesquisa na rea da enfermagem cirrgica foi incrementada, visando melhora da qualidade da assistncia tanto no preparo pr-operatrio, quanto na recuperao do paciente(5). Desta forma, surge a enfermagem perioperatria, que segundo Smeltzer e Bare(6) deve ser baseada em um processo sistemtico e planejado com uma srie de passos integrados. Assim, o conceito de prtica perioperatria traz tanto as atividades desenvolvidas durante a assistncia pr, trans e ps-operatria, que so tradicionais da enfermagem, quanto as mais avanadas, como educao para o paciente, aconselhamento, levantamento de dados, planejamento e avaliao. A fase pr-operatria se inicia com a deciso de realizar a interveno cirrgica e termina com o paciente j na mesa operatria, neste momento se inicia a fase trans-operatria que termina quando o mesmo transferido para a sala de recuperao ps-anestsica.

4 O ps-operatrio imediato, segundo Smeltzer e Bare(6), tem seu incio na SRPA, onde o paciente admitido aps o trmino da cirurgia, ainda sob efeito da anestesia e termina com a sua alta. Sendo assim, a fase operatria considerado crtica e complexa, na qual o indivduo necessita de assistncia de enfermagem individualizada e sistematizada acarretando na criao da Sistematizao da Assistncia de Enfermagem Perioperatria (SAEP). Possari(3) afirma que a SRPA uma rea destinada aos pacientes submetidos a qualquer procedimento anestsico-cirrgico, onde permanecem at a recuperao da conscincia, normalizao dos reflexos e dos sinais vitais, sob a monitorizao e cuidados constantes das equipes de enfermagem e mdica. Cunha e Peniche(7) ressaltam que a SRPA uma unidade que possui instabilidade e alta rotatividade e, para que a assistncia de enfermagem ao paciente ocorra de forma efetiva so necessrias aes rpidas, para evitar complicaes, assim como registro correto destas aes, em instrumentos apropriados, para garantir uma continuidade dos cuidados iniciados. O registro dos dados fundamental neste processo, pois promove a continuidade da assistncia, a exatido das anotaes e o pensamento crtico, uma vez que o enfermeiro poder fazer uma avaliao de suas informaes e aprofundar seus conhecimentos. Para facilitar o registro podem-se elaborar instrumentos, porm estes devem obter informaes especficas e relevantes em relao ao paciente, estar embasado em um referencial terico, ser organizado para facilitar a interpretao dos dados, ser prtico para a sua utilizao e oferecer continuidade nas unidades envolvidas com a assistncia(8). No transcorrer das nossas atividades acadmicas terico-prticas, desenvolvidas especificamente na disciplina O Cuidado no Processo de Viver Humano I da quarta unidade curricular do curso de graduao em enfermagem, notamos a ausncia de um instrumento de Sistematizao da Assistncia de Enfermagem (SAE) na SRPA do Centro Cirrgico (CC) do Hospital Universitrio Polydoro Ernani de So Thiago da UFSC que facilitasse, organizasse e documentasse a assistncia de enfermagem prestada ao indivduo em processo anestsicocirrgico de forma qualificada e integral. Considerando a descrio at ento, a proposta norteadora deste estudo baseou-se no pressuposto de que: A complexidade de aes e a inter-relao das trs fases da experincia cirrgica do paciente justifica a importncia da SAEP e a utilizao de conhecimentos cientficos para esse embasamento(9). Neste sentido, apresenta-se a seguinte questo norteadora: Como implementar a Sistematizao da Assistncia de Enfermagem na Sala de Recuperao Ps-Anestsica?

5 Para responder tal questo foi definido como objetivo: elaborar o roteiro para a implementao da Sistematizao da Assistncia de Enfermagem no perodo Ps-operatrio imediato no Centro Cirrgico do Hospital Universitrio Prof Polydoro Ernani de So Thiago da Universidade Federal de Santa Catarina.

MTODO DA PESQUISA Tratou-se de uma Pesquisa Convergente Assistencial (PCA), de natureza qualitativa, cujo mtodo tem como objetivo articular a teoria com a prtica(10). Foi desenvolvida nos meses de agosto a novembro de 2008 no CC do HU/UFSC. Este hospital contm cinco salas cirrgicas, sendo que quatro esto equipadas para cirurgias de grande porte, requerendo anestesias gerais e/ou regionais. A quinta sala, embora equipada para a realizao de procedimentos anestsicos, em virtude de sua menor dimenso (20 m2) destinada apenas cirurgia de pequeno porte e procedimentos ambulatoriais. Caracterizado como hospital escola, fundado em 1980, possui a assistncia de enfermagem realizada de forma integral e sistematizada, seja na rea ambulatorial ou de internao. Para a realizao da assistncia de enfermagem, a metodologia adotada baseada na Teoria das Necessidades Humanas Bsicas (NHB) de Wanda de Aguiar Horta. Para participar da pesquisa foram selecionados 10 pacientes submetidos ao tratamento anestsico-cirrgico, que atendessem aos seguintes critrios de incluso: serem pacientes da especialidade de Cirurgia Geral, estarem internados nas Unidades Cirrgicas antes do procedimento, aceitar livremente participar e colaborar com o estudo aps terem sido convidados e esclarecidos sobre os objetivos do mesmo e assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Destacamos que dentre as especialidades cirrgicas, a cirurgia geral a que possui o maior ndice de cirurgias no CC do HU/UFSC sendo este o fator que motivou a escolha desta especialidade. Os pacientes foram convidados a participar do estudo a partir da escala cirrgica diria e visita pr-operatria do enfermeiro que era realizada seguindo um instrumento semi-estruturado criado por Ferreira; Borges e Figueiredo(11). Foi utilizado o mtodo da observao com o objetivo de analisar a assistncia de enfermagem prestada ao indivduo em recuperao ps-anestsica pelos profissionais da SRPA do CC do HU/UFSC. Assim, confeccionamos o instrumento de acordo com as observaes e anlise da pesquisa e atravs da reviso bibliogrfica. Utilizamos como guia o instrumento criado por Cunha e Peniche(7), porm o estruturamos e o adaptamos a fim de proporcionar uma assistncia integral e individualizada ao paciente e estar de acordo com a

6 realidade da SRPA do CC do HU/UFSC. Alm da reviso de literatura, buscamos desenvolver o instrumento com base na teoria de Wanda de Aguiar Horta que o referencial terico da sistematizao da assistncia do HU/UFSC e permite assistir o paciente em sua totalidade e assegurar sua plenitude bio-psico-scio-espiritual(12). Trentini e Paim(10) relatam que na PCA os processos de assistncia, coleta e anlise de informaes devero ocorrer simultaneamente, a fim de refletir sobre como fazer interpretaes e descobrir vazios que podero ser preenchidos ao longo do processo. Expe que em qualquer tipo de pesquisa qualitativa, a anlise das informaes consta de quatro processos genricos: apreenso, sntese, teorizao e transferncia. Assim, realiza-se a aplicao dos resultados em processo de modo a explicitar seus reflexos na qualidade da assistncia desenvolvida no mbito de atuao da pesquisa. Para garantir os aspectos ticos no desenvolvimento de pesquisa com seres humanos, as Diretrizes e Normas da Resoluo n 196/96 do Conselho Nacional de Sade do Ministrio da Sade nortearam o desenvolvimento deste estudo. O projeto foi apreciado e aprovado pelo Comit de tica e Pesquisa com Seres Humanos da UFSC (Anexo 1). Tambm elaboramos e utilizamos o TCLE que visa garantir principalmente a autorizao consciente para o uso das informaes obtidas. Os sujeitos do estudo foram convidados a participar espontaneamente, sendo que a sua recusa no implicou em prejuzos pessoais ou em alguma forma de constrangimento para os mesmos. Foram garantidos aos sujeitos autonomia, nomaleficincia, beneficncia, justia. Organizamos os dados primeiramente descrevendo o perfil dos participantes deste estudo e, posteriormente, apresentaremos duas categorias que surgiram a partir da leitura dos instrumentos semi-estruturados, baseados em Ferreira; Borges e Figueiredo(11), preenchidos durante a visita pr-operatria e a partir das observaes da assistncia de enfermagem prestada ao paciente na SRPA. Na primeira categoria relataremos aspectos fsicos, assistenciais e humanos da SPRA a qual foi denominada de A realidade da SRPA, na segunda descreveremos as atividades de interveno que realizamos a fim de alcanar o objetivo por ns proposto, que foi chamada de A ao a partir da realidade na SRPA.

RESULTADOS E ANLISE Perfil dos participantes Participaram como sujeitos deste estudo, 10 pacientes. O mais jovem possua 29 anos, seguido de um de 33 anos, um de 37 anos, dois de 38 anos, um de 39 anos, um de 47 anos, um de 49 anos, um de 58 anos e, por final, um de 62 anos. Dos participantes deste estudo, sete

7 pertenciam ao sexo feminino e trs ao sexo masculino. Destes, cinco pacientes foram submetidos cirurgia de Colecistectomia Videolaparoscpica (CVL), um de esplenectomia, uma cirurgia baritrica, um de Nissen Videolaparoscpica, um de retirada de corpo estranho subcutneo e um de tireoidectomia total. Quanto escolaridade, cinco participantes possuam o ensino mdio completo, dois o ensino fundamental completo e trs o ensino fundamental incompleto. De acordo com a procedncia, seis residiam em Florianpolis, dois em Balnerio Cambori, um em Cocal do Sul e outro em Guaraciara. Em relao ao motivo da indicao cirrgica, todos relataram sab-lo. A respeito da presena dos fatores de risco, quatro eram tabagistas e dois possuam Hipertenso Arterial Sistmica.

A realidade da SRPA No Brasil, a obrigatoriedade da SRPA j fazia parte das previses das unidades cirrgicas desde 1977, pela portaria n 400 do Ministrio da Sade, mas somente foi estabelecida em 1993, por Decreto Federal, com a resoluo do CFM n 1363/93. Essa deve ser uma rea fsica planejada com uma equipe multiprofissional composta de anestesiologista, enfermeiro e tcnico/auxiliar de enfermagem, treinada e habilitada a prestar cuidados individualizados e de alta complexidade(13). A SRPA localiza-se na planta fsica do CC e est equipada com sadas de oxignio e vcuo, umidificador de O2, extenses, aparelhos de monitorizao cardio-pulmonar, desfibrilador, material de consumo e as medicaes. Quanto estrutura fsica, a SOBECC(14) preconiza que o nmero de leitos na SRPA seja igual ao nmero de salas de cirurgias mais um leito. A SRPA do Centro Cirrgico do HU conta atualmente com apenas quatro leitos, quando o ideal seriam cinco, pois a estrutura fsica no comporta. Um problema constante a existncia de aparelhos danificados, que constantemente so encaminhados para o conserto, isto constitui um fator de desgaste para a equipe de sade que alm de se preocupar com a recuperao do paciente deve estar atenta ao pleno funcionamento dos equipamentos de monitorizao. Na SRPA do Centro Cirrgico do HU a assistncia ao paciente prestada pelo tcnico de enfermagem, no havendo enfermeiro fixo para este servio, pois ele responsvel pelas atividades administrativas e assistenciais de todo o CC. Na SRPA o tcnico de enfermagem faz o cuidado de enfermagem de acordo com a situao atual de cada paciente. Para a admisso do paciente, ele a organiza de modo a oferecer segurana, agilidade e conforto,

8 tambm verifica a funcionalidade dos equipamentos e repe o material de consumo, de roupas e as medicaes. Notamos que o dficit de recursos humanos em toda a unidade cirrgica implicou na falta de funcionrios para esta sala. Isto pode ser justificado pelo nmero de atestados mdicos, licenas ou at mesmo cobertura de profissionais faltantes. No decorrer da prtica presenciamos este fato por duas vezes, fazendo-nos inevitavelmente substitu-los. Por outro lado, houve momentos em que o profissional se afastava de seu posto e precisvamos chamlo, nos quais acreditamos que a sobrecarga de trabalho, o estresse e outros fatores favoreciam a procura por um descanso rpido. Aquino(15) afirma que o Centro Cirrgico um dos ambientes mais complexos do hospital, pois concentra recursos humanos e materiais necessrios ao ato cirrgico e, freqentemente, as suas atividades so desenvolvidas em um clima de tenso, pela existncia de procedimentos estressantes geradores de ansiedade, seja pela gravidade dos pacientes, como pela complexidade dos atos anestsicos e cirrgicos. Sendo assim, compreendemos que a complexidade deste ambiente e os seus elementos estressores se refletem no desempenho profissional acarretando situaes relatadas acima. A primeira ao assistencial na SRPA acontece na admisso do paciente, quando so passadas informaes referentes ao perodo intra-operatrio pelo anestesista e circulante da sala operatria para o responsvel pela SRPA, tais como a cirurgia e anestesia realizadas, drogas utilizadas, intercorrncias no trans-operatrio, estado geral do paciente, sinais vitais, existncia de alergias e sensibilidades, existncia de prescries mdicas a serem executadas imediatamente e unidade de origem ou domiclio(14). O fornecimento das informaes referentes ao perodo intra-operatrio do paciente realizado adequadamente pelo anestesista e em alguns momentos pelo circulante da sala, dando nfase na analgesia feita na sala de cirurgia e nos cuidados com os efeitos anestsicos. Estas informaes precisam ser fornecidas admisso na SRPA, pois a incidncia de complicaes no ps-operatrio imediato est geralmente associada a condies clnicas properatrias, tipo de cirurgia e anestesia. A preveno de complicaes neste perodo promove rpida convalescena, evita infeces hospitalares, poupa tempo, reduz gastos, preocupaes, ameniza a dor e aumenta a sobrevida do paciente(3). Assim, a assistncia direta neste perodo considerada uma ao essencial tendo em vista ser um perodo crtico, caracterizado por alteraes fisiolgicas referentes ao ato anestsico-cirrgico. As principais necessidades humanas bsicas afetadas do paciente, segundo Wanda Horta(12), so as necessidades fisiolgicas e de segurana, nas quais devem ser focados os sinais gastrointestinais, circulatrios e renais, controle da dor, retorno sensor e

9 motor das reas afetadas pela anestesia, integridade cutnea, balano hdrico, eliminaes e a proteo do paciente em relao aos medicamentos e quedas. Este fato se d devido ao elevado grau de dependncia do paciente que se encontra ainda sob efeito de drogas anestsicas. Alm destas necessidades humanas bsicas afetadas, assim que o efeito anestsico metabolizado no organismo do paciente, aparecem as necessidades de amor, de estima e de auto-realizao. Neste sentido, quando o paciente est acordando, estas necessidades se afloram e os profissionais atuam com o objetivo de ameniz-las atravs do dilogo, do afeto e do cuidado em si. Na assistncia direta, os profissionais priorizam a verificao da permeabilidade das vias areas superiores, a colocao dos aparelhos de monitorizao cardio-pulmonar (esfigmomanmetro e oxmetro), mscara de O2 e conforto do paciente, atravs do aquecimento, posicionamento adequado, troca de roupas molhadas e verificao da permeabilidade do acesso venoso. Posteriormente, preenchido o impresso de admisso da SRPA, contendo identificao do paciente, ndice de Aldrete e controle dos sinais vitais. Verificamos nos profissionais da SRPA a ateno aos valores dos sinais vitais, porm em alguns momentos estes no foram registrados. Notamos que a temperatura axilar e a freqncia respiratria muitas vezes so subnotificadas, fato que pode ser justificado pela no visualizao destes sinais vitais no monitor. Traldi(16) relata que a comparao entre os sinais vitais auxilia avaliar clinicamente o paciente, constituindo um importante mtodo para o acompanhamento de um diagnstico. Frente aos parmetros apresentados pelo paciente, o profissional deve visar seu bem-estar e ter aes que promovam sua normalizao. Outra forma utilizada para analisar a evoluo do paciente em recuperao anestsicacirrgica o dilogo direto com o paciente, estimulando-o e avaliando seu estado neurolgico e retorno sensrio-motor das reas afetadas pela anestesia. Assim, o questionamento sobre a presena de dor, nuseas, frio, eliminao vesical, permite a realizao de medidas cabveis para a resoluo de intercorrncias que diminuam o risco de infeco e preservem a integridade cutnea do paciente. Sendo assim, os curativos das incises e drenos so visualizados freqentemente e quando h necessidade so trocados. Um aspecto notado foi a falta de controle e registro dos soros administrados como tambm o balano hdrico, uma vez que o objetivo do balano hdrico facilitar o clculo do balano calrico do paciente, atravs da soma de lquidos infundidos com lquidos ingeridos e posterior diminuio dos lquidos eliminados. Este clculo de extrema importncia, principalmente nos pacientes em psoperatrio imediato, pois as drogas anestsicas reduzem a atividade metablica, podendo

10 alterar significativamente a quantidade de lquidos eliminados e, assim, ocasionar reteno hdrica(6). A comunicao imprescindvel na assistncia de enfermagem, no importa o setor em que realizada. Existem diversas formas de se comunicar, sendo uma delas o registro/ documentao da assistncia que observada e realizada. A documentao, alm de facilitar a comunicao entre os membros da equipe de sade, promove a continuidade da assistncia, reflete o plano de cuidados e serve como um registro legal do cuidado fornecido(17). Para auxiliar a equipe e proporcionar assistncia de enfermagem segura, e contnua aos pacientes, diversos mtodos de controle das funes fisiolgicas foram criados, sendo o mais utilizado o ndice de Aldrete e Kroulik(18). Esses autores pontuaram de zero a dois a variao da atividade motora sob comando, funo respiratria e circulatria, estado de conscincia e, recentemente o nvel de saturao de oxignio, ao considerarem estes parmetros clnicos marcadores dos sistemas fisiolgicos comprometidos pelo procedimento anestsico somando pontuao mxima 10, porm a alta ao paciente pode ser fornecida com ndice acima de oito(18). Notamos que a solicitao de alta feita pelo tcnico de enfermagem ao anestesista, somente aps a anlise do ndice de Aldrete e Kroulik alcanar escore igual a 10 e houver estabilidade dos sinais vitais. Lembrando que, alm disso, o paciente dever apresentar um padro respiratrio e cardiovascular eficazes, presena de reflexo glossofarngeo, retorno do nvel de conscincia e funo senso motora, ausncia ou diminuio da dor, ausncia de sangramentos intensos em ferida operatria, sondas ou drenos. Ao encaminhar o paciente unidade de destino so instalados e identificados os primeiros soros da prescrio mdica e fornecida por telefone a evoluo do paciente na SRPA para o enfermeiro. Neste momento, sentimos falta de um instrumento que registrasse as condies reais de alta do paciente, pois, sabemos que alm de promover a continuidade da assistncia, no se perderiam dados relevantes do paciente neste perodo de transferncia de uma unidade para a outra. As aes que desenvolvemos para intervir e modificar esta realidade sero descritas a seguir na categoria chamada de A ao a partir da realidade na SRPA.

A ao a partir da realidade na SRPA A presente categoria discorrer sobre trs temas cuja realizao permitiu a modificao da prtica do cuidado no CC, mais especificadamente na SRPA. Iniciaremos o relato pela

11 criao do roteiro de admisso do paciente na SRPA, seguido da implementao da SAE e da atividade educativa que realizamos. O roteiro de admisso do paciente na SRPA (Apndice 1), baseado na Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirrgico, Recuperao Anestsica e Centro de Material e Esterilizao (SOBECC) e na Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA), foi criado com o intuito de nos servir de guia durante a coleta de dados do presente estudo. Entretanto, aps a coleta e anlise dos dados notamos a necessidade da permanncia deste roteiro na SRPA para auxiliar os profissionais de nvel mdio, designados para este local, na assistncia ao paciente no final do processo anestsico-cirrgico. Como contedo, este roteiro incluiu a organizao da SRPA, a recepo do paciente (seu posicionamento, monitorao constante das necessidades humanas bsicas afetadas) e sua situao durante a alta(14-19). Desta forma, os profissionais puderam utilizar o roteiro e notamos, em alguns, o despertar de uma conscincia crtica, pois a presena do roteiro na SRPA possibilitou identificar possveis erros ou at mesmo omisses da assistncia. Assim, percebemos que a conscincia crtica envolve os profissionais ao cuidado de qualidade e excelncia, sendo esta, auxiliadora na sensibilizao para a implementao da SAE. Alm da presena do roteiro estimular a conscincia crtica para uma assistncia qualificada, ele fez com que os profissionais se preocupassem em realizar as anotaes de forma coesa e adequada. Santos; Paula e Lima(20) relatam que as anotaes efetuadas pela enfermagem consistem no mais importante instrumento de prova da qualidade de sua atuao e, mediante o fato de que grande parte das informaes inerentes ao cuidado do paciente fornecida pela enfermagem, indiscutvel a necessidade de registros adequados e freqentes no pronturio. Inicialmente, foi elaborado um instrumento de registro seguindo os passos da SAE, as observaes e anlise da pesquisa, alm de ser embasado na teoria de Wanda de Aguiar Horta. Assim, foi constitudo dos seguintes itens: identificao do paciente (nome, quarto/leito, registro, cirurgia realizada, diagnstico ps-operatrio, tipo de anestesia, anestesista e cirurgio), avaliao dos sinais vitais (temperatura, freqncia cardaca, freqncia respiratria, saturao de oxignio, presso arterial mdia e escala de dor), ndice de Aldrete e Kroulik, prescrio mdica, necessidades fisiolgicas afetadas (com a avaliao dos sistemas neurolgico, respiratrio, cardiovascular, digestrio, renal, tegumentar, incluindo inciso cirrgica), prescrio e anotao de enfermagem para o cuidado na SRPA, controles de infuses, lquidos eliminados, glicosometria, alm do registro da passagem de planto (alergias, estado de viglia, queixas, nvel ventilatrio, infuso, analgesia, curativo, drenos, sondas, diurese e pertences).

12 Com o instrumento parcialmente estruturado iniciamos a apresentao do mesmo para os profissionais da equipe cirrgica, os mesmos contriburam com valiosas sugestes para que o instrumento ficasse claro, objetivo, e ainda contemplasse todos os aspectos do ser humano presentes no referencial escolhido. Com isso acrescentamos alguns dados, como exames coletados, alta dos pacientes externos, alm de alterarmos a ordem e formatao dos itens. O instrumento de registro (Apndice 2) foi utilizado durante 10 dias por ns, pelos tcnicos de enfermagem, pelas enfermeiras e pelos anestesistas para registrar o cuidado aos pacientes admitidos na SRPA. Como esses profissionais auxiliaram na criao do mesmo, ficou muito mais fcil coloc-lo em prtica e, com isso, houve maior adeso por parte deles. Ao vivenciarmos a implementao do instrumento notamos que retratou a realidade das anotaes do cuidado prestado ao paciente neste perodo, acrescentando dados que antes no eram registrados por falta de espao ou organizao e fazendo com que as necessidades dos pacientes fossem mais observadas e compreendidas pelos profissionais. Outro aspecto observado foi que este registro facilitou a comunicao entre a equipe de sade, promoveu a continuidade da assistncia, possibilitou a reflexo do plano de cuidados alm de servir como registro legal do cuidado fornecido, respaldada pela Lei n 272/2002 do COFEN, provando a qualidade da atuao da enfermagem(21). As enfermeiras, tcnicos de enfermagem e anestesistas, que participaram desta etapa do estudo, compartilharam da mesma opinio de que o instrumento, apesar de ser extenso, consta de dados importantes e de relevncia para assegurar ao paciente cirrgico uma assistncia integral, do perodo ps-operatrio imediato. Outra ao que realizamos foi um momento educativo com os profissionais de enfermagem do Centro Cirrgico. Tivemos esta deciso por concordarmos com Freire(22) quando este aborda a educao como um processo que envolve interao entre educadores e educandos e no uma simples transmisso de conhecimentos, alm de acreditarmos que a atividade educativa reflete diretamente no cuidado ao paciente. Assim, aproveitamos a reunio anual da equipe de enfermagem do CC do HU/UFSC para realizarmos o momento educativo (a apresentao desse projeto). Confeccionamos um cartaz contendo informaes sobre a SAE, os objetivos da SAEP, a Teoria das NHB de Wanda de Aguiar Horta, a importncia do registro, fizemos uma apresentao do cartaz e posterior discusso. Durante a apresentao destacamos a SAE como uma forma de organizar a assistncia de enfermagem prestada ao paciente e que por ser ambiente perioperatrio, passa a ser nomeada de SAEP, cujos objetivos so os mesmos, porm voltados ao perioperatrio. Alm disso, abordamos a metodologia da SAE usada no HU/UFSC que se baseia na Teoria de Wanda de Aguiar Horta. A temtica da atividade educativa causou envolvimento da equipe,

13 com discusses construtivas para a melhoria da assistncia, alm de relatos, por parte destes profissionais, de que o cuidado realizado com qualidade, porm deve ser mais registrado.

CONCLUSO De acordo com Garcia e Nbrega(23), a SAE nos possibilita identificar, compreender, descrever, explicar e/ou predizer como os pacientes respondem aos problemas de sade ou aos processos vitais e determinam quais aspectos dessas respostas exigem uma interveno profissional de enfermagem. Ainda relatam que o processo de enfermagem, alm de favorecer o cuidado, organiza as condies necessrias para que este ocorra. Porm, para ser utilizado corretamente necessrio que os profissionais estejam devidamente capacitados metodologia de trabalho escolhida pela instituio. Por outro lado, a falta de trabalhadores de enfermagem, de equipamentos em bom estado de uso e de uma enfermeira lotada na SRPA dificultam a realizao de uma assistncia sistematizada, proporcionando situaes de risco tanto para a equipe de enfermagem quanto para o paciente. Outro fator importante foi que, mesmo diante de tantos desafios, a equipe de enfermagem realiza o cuidado de forma integral havendo maior deficincia no registro dessa assistncia. Embora tenha sido isolada, a ao educativa mobilizou a ateno dos trabalhadores de enfermagem fazendo com que os mesmos refletissem sobre o cuidado prestado e participassem da implementao da SAE. Assim, sugerimos que sejam implantados programas de orientao e capacitao continuada dos profissionais que j atuam na prtica e dos que ainda esto por vir para a utilizao da SAE em sua plenitude e compreenso de que a mesma favorece uma assistncia de enfermagem segura, individual e humanizada. Notamos que o instrumento criado para o registro da SAE de fcil preenchimento e salienta alguns aspectos a serem monitorados, possibilitando, desta forma, a aproximao do profissional de enfermagem ao paciente, diminuindo a mecanizao da assistncia e tornandoa individualizada e humanizada. Consideramos, ainda, que o mesmo foi validado quanto ao seu contedo e forma de apresentao, ficando altura da grandiosidade da assistncia de enfermagem na SRPA, pois foi inserido na rotina do CC do HU/UFSC como impresso oficial. Com este estudo esperamos que a assistncia de enfermagem na SPRA seja realizada de forma sistematizada, diminuindo ao mximo o ndice de complicaes possveis, com uma equipe de enfermagem treinada e habilitada, com registros corretos e adequados destes cuidados. Ainda lembramos que o CC possui inmeros assuntos a serem explorados como a

14 visita pr-operatria, o acolhimento do paciente em sua chegada ao CC e o estresse da equipe cirrgica.

REFERNCIAS 1. Alves JBR. Cirurgia geral e especializada. Belo Horizonte: Veja; 1973. 2. Afonso MSM et al. Condicionamento de ar em salas de operao e controle de infeco: uma reviso. Revista Eletrnica de Enfermagem, v. 08, n. 01, p. 134-143, 2006. [acesso em 2008 Maio 11] Disponvel em: http://www.fen.ufg.br/revista/ revista8_1/ revisao_01.htm. 3. Possari JF. Assistncia de enfermagem na recuperao ps-anestsica (RPA). So Paulo: Itria; 2003. 4. Sabiston DCJ. Tratado de Cirurgia: As bases biolgicas da prtica cirrgica moderna. v. 01, 15 ed. Guanabara Koogan: Rio de Janeiro; 1999. 5. Benedet SA. Cliente Cirrgico: ampliando a sua compreenso. [Dissertao Mestrado] Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Cincias da Sade. Programa de PsGraduao em Enfermagem. 147 f. Florianpolis; 2002. 6. Smeltzer SC, Bare BG. Brunner & Suddarth: tratado de enfermagem mdico-cirrgica. v. 01, 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005. 7. Cunha ALSM, Peniche ACG. Validao de um instrumento de registro para sala de recuperao ps-anestsica. Vol.20, n. 2. Acta Paulista de Enfermagem; 2007. 8. Tannure MC. SAE, Sistematizao da Assistncia de Enfermagem: Guia Prtico. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. 9. Galvo CM, Sawada NO, Rossi LA. A prtica baseada em evidncias: consideraes tericas para sua implementao na enfermagem perioperatria. Rev. Latino-am de Enfermagem, set-out 2002. [acesso em 2008 Abril 06] Disponvel em: http://www.eerp.usp.br/rlaenf/ 10. Trentini M, Paim L. Pesquisa convergente-assistencial: um desenho que une o fazer e o pensar na pratica assistencial em sade-enfermagem. 2.ed. Florianpolis: Insular; 2004. 11. Ferreira E, Borges HV, Figueiredo MSD. Visita Pr-operatria: Um instrumento para o cuidar do Enfermeiro de Centro Cirrgico. Dissertao de concluso de Curso. 73p. UFSC; 2007. 12. Horta WA. Processo de Enfermagem. So Paulo: EPU; 1979. 13. Basso RS, Picoli M. Unidade de recuperao ps-anestsica: diagnsticos de enfermagem fundamentados no modelo conceitual de Levine. Revista Eletrnica de Enfermagem, v. 06, n. 03, p. 309-323, 2004. [acesso em 2008 Abr 06] Disponvel em: http://www.fen.ufg.br/

15

14. SOBECC. Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirrgico, Recuperao Anestsica e Centro de Material e Esterilizao. Prticas Recomendadas. 4 ed. So Paulo: Nacional; 2007. 15. Aquino JM. Estressores no trabalho das enfermeiras em centro cirrgico: conseqncias profissionais e pessoais. Tese de Doutorado. Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto (EERP), 2005. [acesso em 2008 Nov 30] Disponvel em: http://www.teses.usp.br/teses/ disponiveis/22/22131/tde-19102006-154614/ 16. Traldi MC. Fundamentos de enfermagem na assistncia primria de sade. Campinas, SP: Editora Alnea; 2004. 17. Teixeira MB, Prates JB, Almeida JG. Avaliao da qualidade das anotaes de enfermagem. HC Enfermagem; 1998. 18. Aldrete JA, Kroulik DA. Postanesthetic recovery score. Anesth Analg.; 1970. 19. ANVISA. Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria. Resoluo. RDC n 50, de 21 de fevereiro de 2002. [acesso em 2008 Maio 11] Disponvel em: http://www.anvisa.gov.br/ legis/resumo/2002/5002rdc.pdf 20. Santos SR, Paula AFA, Lima JP. O enfermeiro e sua percepo sobre o sistema manual de registro no pronturio. V.11, n.1, p. 80-87. Rev. Latino-am Enfermagem; 2003. 21. COFEN. Conselho Federal de Enfermagem. Documentos bsicos. Atualizado em 2006. [acesso em 2008 Maio 20] Disponvel em: http://www.portalcoren-rs.gov.br/web/ legislacao/docs_oficiais. doc 22. Freire P. Pedagogia da autonomia. 13. ed. So Paulo: Paz e Terra; 1999. 23. Garcia TR, Nbrega MML. Sistematizao da assistncia de enfermagem: reflexes sobre o processo. In: 52 Congresso Brasileiro de Enfermagem, apresentado na mesa redonda A sistematizao de enfermagem: o processo e a experincia. Pernambuco; 2000.

16 ANEXO 1 Declarao do Comit de tica e Pesquisa com Seres Humanos (CEPSH) da UFSC

17 APNDICE 1 ROTEIRO DE ADMISSO DO PACIENTE NA SRPA

18 APNDICE 2 INSTRUMENTO DE REGISTRO DA SRPA

19

20

21