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Ceroido-Lipofuscinose Neuronal Estudos de localização celular da proteína CLN6 Mariana Isabel Quaresma da Rocha Alves 2007

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Ceroido-Lipofuscinose Neuronal

Estudos de localização celular da proteína CLN6

Mariana Isabel Quaresma da Rocha Alves

2007

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Ceroido-Lipofuscinose Neuronal

Estudos de localização celular da proteína CLN6

Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da

Universidade do Porto, para obtenção do grau de Mestre

em Medicina e Oncologia Molecular, realizada sob a

orientação científica da Doutora Maria Gil Roseira Ribeiro

(Centro de Genética Médica Dr. Jacinto Magalhães,

Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge)

Mariana Isabel Quaresma da Rocha Alves

2007

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Aos meus pais…

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Agradecimentos

Foram várias as pessoas que, de uma forma ou de outra, permitiram a realização

deste trabalho. A todas elas muito obrigada! Gostaria de citar algumas, agradecendo:

À minha orientadora, Doutora Maria Gil Ribeiro, não só pela fantástica orientação

científica, mas também pelo incentivo e conselhos prestados. Muito obrigada por tudo

isto, e ainda pela disponibilidade demonstrada.

À Doutora Maximina Pinto, por me ter proporcionado a realização deste trabalho no

Centro de Genética Médica Dr. Jacinto Magalhães do Instituto Nacional de Saúde Dr.

Ricardo Jorge.

À Doutora Lúcia Lacerda, por me ter proporcionado a concretização do trabalho

prático na Unidade de Enzimologia.

A todos os meus colegas da Unidade de Enzimologia, por toda a ajuda e ambiente de

trabalho proporcionados. Em especial ao Dr. Carlos Bessa e à Doutora Carla Teixeira

pelos conhecimentos e também pela amizade. À Doutora Sandra, à Dra. Marisa e à

Dra. Francisca pelo incentivo. À Dra. Lurdes pela ajuda e disponibilidade prestadas.

Aos meus Pais e ao meu irmão, que são o meu porto seguro. Obrigada por todo o

carinho demonstrado nesta, e em todas as anteriores etapas da minha contínua

aprendizagem.

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Índice Geral

Abreviaturas i

Índice das Figuras v

Índice das Tabelas vii

Resumo ix

Abstract xi

Capítulo 1 - Introdução

1.1. Lisossoma 3

1.1.1. Ultraestrutura e composição 3

1.1.2. Biogénese 5

1.2. Doenças de Sobrecarga Lisossomal 9

1.3. Ceroido Lipofuscinose Neuronal 10

1.3.1. Características clínico-patológicas 10

1.3.2. Biologia funcional das proteínas NCL 13

1.3.3. Heterogeneidade genética e alélica 19

1.3.4. Fisiopatologia 21

1.3.5. Diagnóstico 23

1.3.6. Tratamento 25

1.3.7. Modelos animais 28

Capítulo 2 - Objectivos 31

Capítulo 3 - Materiais e Métodos

3.1 Anticorpos 35

3.2. Amostras biológicas 35

3.3. Procedimento experimental 38

3.3.1. Culturas celulares 38

3.3.2. SDS-PAGE e Western Blot 38

3.3.3. Imunofluorescência 40

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Capítulo 4 - Resultados 45

4.1. Avaliação da sensibilidade e especificidade de anticorpos policlonais anti-CLN6 47 4.2. Estudos de co-localização por imunofluorescência da proteína endógena de FHC 50

4.3. Estudos de imunofluorescência em células murinas 55

4.4. Avaliação do efeito de mutações no gene CLN6 sobre a localização intracelular da proteína 55

4.5. Impacto de mutações noutros genes CLN na localização intracelular da proteína CLN6 57

Capítulo 5 - Discussão 61

Capítulo 6 - Conclusões 71

Capítulo 7 - Perspectivas Futuras 75

Capítulo 8 - Referências bibliográficas 79

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i

Abreviaturas

AAV - Adenovírus associado

AF 594 - Alexa flúor 594

ANCL - Forma adulta da ceroido lipofuscinose neuronal

ATP - Adenosina trifosfato

BHK21 - Células de rim de hamster bébé

BSA - Albumina bovina sérica

cDNA - DNA complementar

CG - Complexo de Golgi

CHO - Células de ovários de hamster chinês

CLN - Gene ceroido lipofuscinose neuronal

CLNp - Proteína NCL

CoA - Coenzima A

CoNCL - Forma congénita da ceroido lipofuscinose neuronal

COP - Cytosolic coated proteins

COS-1 - Células de rim de macaco verde africano

CV - Inclusões de perfil curvilíneo

CTSD - Gene da catepsina D

Cy5 - Fluorocromo cianina5

DAPI - 2`,6 - diamidino-2-fenilindole

DNA - Ácido desoxirribonucleico

DSL – Doenças de sobrecarga lisossomal

DTT - 1,4 - ditiotreitol

EDTA - Ácido etilenodiaminotetracético

EE - Endossomas precoces

EPMR - Epilepsia progressiva com atraso mental.

ERT - Terapia de substituição enzimática

FHC - Fibroblastos humanos cultivados

Lamp- Lysosome-associated membrane protein

Lgp - Lysosomal membrane glycoprotein

Limp - Lysosomal integral membrane protein

LE - Endossomas tardios

FITC - Fluorocromo fluoresceína isotiocianato

FP - Inclusões do tipo impressão digital

GalCer - Galactosilceramida

GlcNAc-P - N-acetilglucosamina-fosfato

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ii

GM2 - Gangliósido 2

GM3 - Gangliósido 3

GROD – Depósitos granulares osmiofílicos

GTPases - Guanosina trifosfatases

HEK293 - Células de rim embrionário humano

HRP - Horseradish peroxidase

IBD - International Batten disease

INCL - Forma infantil da ceroido lipofuscinose neuronal

kb - kilo base

kDa - kilo Daltons

JNCL - Forma juvenil da ceroido lipofuscinose neuronal

LINCL - Forma infantil-tardia da ceroido lipofuscinose neuronal

LE - Endossomas tardios

ME - Microscopia electrónica

MEM - Meio essencial mínimo

MFSD - Major facilitator superfamily

mnd - Motor neuronal degeneration

MP - Membrana plasmática

M6P - Manose-6-fosfato

NaOH - Hidróxido de sódio

NCL - Ceroido lipofuscinose neuronal

nclf - Variante de LINCL em ratinho

NIH3T3 - Linha celular de fibroblastos embrionários de ratinho

NLS - Nuclear localization signal

NX(S/T) - Asparafina X( Serina/Treonina): X, uma aminoácido qualquer

OMIM - Online mendelian inheritance in man

ON - Over nigth

PBS - Tampão fosfato salino

PM- Peso molecular

PMSF - Fluoreto de fenilmetanosulfunilo

PPT1 - Palmitoil transferase 1

Rab - Membro da superfamília Ras

Ras - Família de proteínas G de baixo peso molecular

RE - Retículo endoplasmático

RER - Retículo endoplasmático rugoso

RNAm - Ácido ribonucleico mensageiro

RL - Complexos rectilíneos

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iii

SDS - Dodecil sulfato de sódio

SDS-PAGE - Dodecil sulfato de sódio-electroforese em gel de poliacrilamida SLC29 - Transportadores de nucleósidos

SVF - Soro de vitelo-fetal

SNARE - Soluble NSF attachment receptor

NSF - N-etilmaleimide sensitive factor

SNC - Sistema nervoso central TA - Temperatura ambiente

TBS - Tampão tris salino

TBST - Tampão tris salino-Tween20 TEMED - Tetrametiletilenodiamina

TGN - Rede trans Golgi

TLC - TRAM–Lag1p–CLN8

Tris- Trishidroximetilaminometano

TPP1 - Tripeptidilamino peptidase 1

vLINCL - Variante da forma infantil tardia da ceroido lipofuscinose neuronal

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v

Índice das Figuras Figura 1.1: Lisossoma: topologia das principais proteínas integrais.

4

Figura 1.2: Contribuição da via biossintética e da via endocítica para a formação dos lisossomas.

6

Figura 1.3: Integração das vias biossintética, endocítica e exocítica.

8

Figura1.4: Análise ultra-estrutural de células das glândulas sudoríferas da pele.

11

Figura 1.5: Estratégia de estudo bioquímico e molecular visando o diagnóstico das variantes genéticas de NCL.

24

Figura 4.1: Alinhamento da sequência primária da proteína CLN6 de diferentes espécies.

46

Figura 4.2: Detecção da proteína CLN6 endógena de FHC com o anticorpo anti-CLN6/34.

47

Figura 4.3: Localização intracelular da proteína CLN6 de FHC com o anticorpo anti-CLN6/35.

48

Figura 4.4: Localização intracelular da proteína CLN6 de FHC com o anticorpo anti-CLN6/LAL.

49

Figura 4.5: Co–localização da proteína CLN6 de FHC com proteínas marcadoras do RE e do lisossoma.

51

Figura 4.6: Co-localização da proteína CLN6 de FHC com DAPI

52

Figura 4.7: Co-localização da proteína CLN6 de FHC com anticorpos anti-CLN6/35 e faloidina-FITC.

52

Figura 4.8: Co-localização da proteína CLN6 de FHC com anticorpos anti-CLN6/35 e anti-CLN6/LAL.

53

Figura 4.9: Co-localização da proteína CLN6 de FHC com anticorpos anti-CLN6/35 e anti-CLN6/RMB.

54

Figura 4.10 Co-localização da proteína CLN6 em células murinas NIH3T3 com os anticorpos anti-CLN6/35 e anti-calregulina

55

Figura 4.11: Detecção da proteína CLN6 endógena de FHC de doentes com a variante CLN6 com o anticorpo anti-CLN6/34.

56

Figura 4.12: Imunofluorescência com o anticorpo anti-CLN6/35 em fibroblastos cultivados de doentes com a variante CLN6.

56

Figura 4.13: Efeito de mutações nos genes CLN na localização intracelular da proteína CLN6.

58

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vii

Índice das Tabelas Tabela 1.1: Localização e função das principais proteínas Rab.

9

Tabela 1.2:: Características clínico-patológicas da NCL.

12

Tabela 1.3: Base genética da Ceroido Lipofuscinose Neuronal.

20

Tabela 3.1: Descrição dos anticorpos usados no protocolo de imunofluorescência e de Western blot.

36

Tabela 3.2: Espectro mutacional de doentes portugueses com NCL e análise do efeito das mutações na expressão da proteína.

37

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ix

Resumo

A ceroido lipofuscinose neuronal (NCL) é um grupo de doenças

neurodegenertativas de transmissão autossómica recessiva, geralmente fatais.

Caracteriza-se pela acumulação lisossomal de um lipopigmento autofluorescente com

propriedades semelhantes à lipofuscina, em vários tipos de células. As NCLs são

causadas por mutações presentes em pelo menos 8 genes. As formas INCL/CLN1,

LINCL/CLN2, e CoNCL/CLN10 são causadas pela deficiência em enzimas lisossomais

solúveis, tiosterase, aminopeptidase e protease, respectivamente. As formas

vLINCL/CLN3, vLINCL/CLN5, vLINCL/CLN6, vLINCL/CLN7 e vLINCL/CLN8, são

causadas por defeitos em proteínas de topologia membranar de função ainda

desconhecida. A observação de morte celular, de alterações no tráfego intracelular de

proteínas e lípidos e de alterações no metabolismo dos esfingolípidos, na maioria das

variantes da doença, sugere que as proteínas NCL deverão actuar numa via celular

comum, especialmente importante para o funcionamento neuronal.

A variante CLN6, recentemente descrita, é causada por mutações no gene

CLN6. Esta proteína é altamente conservada e não possui, sequências péptido sinal

ou locais de N-glicosilação. Em estudos realizados recentemente, a proteína CLN6 foi

observada em vários compartimentos celulares, incluindo o RE, CG, endossomas de

reciclagem e lipid rafts.

No sentido de contribuir para o conhecimento da localização celular da proteína

CLN6 foram produzidos e caracterizadas três anticorpos policlonais imunopurificados.

Em fibroblastos humanos cultivados, estes detectaram a proteína endógena quer em

estudos de SDS-PAGE/Western blot, quer de imunofluorescência. Os dados obtidos

na exposição das células a soro pré-imune ou ao péptido bloqueador sugerem que o

padrão de marcação é específico. Estudos de microscopia de imunofluorescência com

marcação dupla revelaram co-localização parcial da proteína CLN6 no núcleo e ao

longo da membrana plasmática, em regiões marcadas pela faloidina que interactua

especificamente com filamentos de actina.

A mutação p.I154del no gene CLN6 não interfere com o tráfego intracelular da

proteína CLN6. Além disso, estudos de imunofluorescência em fibroblastos de doentes

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x

CLN1, CLN2, CLN3 e CLN5 não revelaram alterações significativas do padrão de

marcação da proteína CLN6.

Os resultados obtidos no âmbito do presente trabalho, fornecem pistas novas

para o conhecimento da localização celular da proteína CLN6. Tais evidências,

juntamente com dados obtidos anteriormente, sugerem que a proteína CLN6 poderá

desempenhar um papel importante na transdução de sinal da membrana para o

citossol, e depois para o núcleo onde deverá causar alterações específicas na

expressão genética. Os participantes moleculares desta cascata deverão ser

identificados no futuro.

Desta forma, os resultados obtidos representam uma contribuição importante

para futuros estudos de investigação que visem explorar o conhecimento da função da

proteína CLN6 e dos mecanismos patobiológicos da CLN6 e de outras NCLs, bem

como, os mecanismos moleculares associados à neurodegeneração e ao

envelhecimento celular.

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xi

Abstract

The neuronal ceroid lipofuscinoses (NCLs) are a group of fatal genetically inherited

neurodegenerative diseases. The hallmark is the lysosomal accumulation of lipofuscin-

like material in multiple cell types. NCLs are caused by at least 8 mutant genes.

INCL/CLN1, LINCL/CLN2 and CoNCL/CLN10 are caused by defects in soluble

lysosomal enzymes, thiosterase, aminopeptidase and protease, respectively.

vLINCL/CLN3, vLINCL/CLN5, vLINCL/CLN6, vLINCL/CLN7 and vLINCL/CLN8 are

caused by defects in membrane-bound proteins whose function is currently unknown.

Most variants manifest cell death, intracellular trafficking defects and dysregulated

sphingolipid metabolism, suggesting that NCL proteins may interact along one pathway

especially important for proper neuronal functioning.

One of the most recent described variants is the CLN6, which is caused by

mutations in the CLN6 gene. This highly conserved protein contains no signal peptide

or asparagine linked glycosylation sites. The function of the CLN6 protein is unknown.

Recently, the CLN6 protein has been located to various cellular compartments

including endoplasmatic reticulum, Golgi, recycling endosomes and lipid rafts.

Aiming to get novel insights into the CLN6 cell location three polyclonal

immunopurified peptide antibodies were produced and characterised. In cultured

human fibroblasts, these antibodies were able to detect the endogenous protein in

either SDS-PAGE/Western blot or immunofluorescence studies. Furthermore, data

obtained by exposing the cells to pre immune serum or blocking peptide indicated that

the labelling pattern was specific. The intracellular distribution of CLN6 in cultured

human fibroblasts was investigated by double immunofluorescence microscopy. The

wild type CLN6 showed partial co-localization in nucleus and along cell membrane in

regions stained with phalloidin that specifically interacts with actin microfilaments. The

mutation p.I154del in the CLN6 gene did not interfere with CLN6 intracellular trafficking.

Moreover, fibroblasts from CLN1, CLN2, CLN3 and CLN5 patients did not showed any

severe miss localization of CLN6 protein.

The data here reported provided novel clues into the knowledge of CLN6 protein

cell location. Altogether, data here reported along with previous findings suggest that

the CLN6 protein may have a role in signal transduction from the membrane to the

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xii

cytosol, and then to the nucleus where can cause specific changes in gene expression.

The molecular players of this cascade must be identified in the future.

Overall, the data reported in the present study will contribute to the design of future

studies aiming to investigate the protein cell function and the disease pathology of

CLN6 and other NCLs, as well as the mechanisms of neurodegeneration and aging.

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Capítulo 1

Introdução

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Introdução

3

1. Introdução

1.1. Lisossoma

A descoberta dos lisossomas ficou a dever-se a De Duve e seus colaboradores,

quando, na década de 50, estudavam a actividade da fosfatase ácida no fígado de rato

(De Duve et al., 1955). Estes investigadores observaram que a actividade desta e de

outras hidrolases ácidas aumentava consideravelmente quando os homogeneizados

de fígado eram submetidos a meios hipotónicos, tratados com detergentes e sujeitos a

congelação. Esta observação sugeria que as hidrolases ácidas deveriam estar

contidas num compartimento limitado por uma membrana que impedia o contacto

entre as enzimas e os substratos. Os meios hipotónicos, os detergentes ou o processo

de congelação/descongelação, provocariam rupturas na membrana dos lisossomas,

causando a libertação das enzimas, e consequente detecção da sua actividade por

métodos bioquímicos (Baudhuin et al., 1965). Na sequência destes estudos, foi

possível observar ao microscópio electrónico estruturas que correspondiam a corpos

densos e limitados por uma membrana. Organelos deste tipo já tinham sido

observados em cortes ultra-finos de hepatócitos, mas o seu significado funcional só foi

compreendido após os estudos bioquímicos de Duve (rev. em De Duve e Wattiaux,

1966).

1.1.1. Ultraestrutura e composição

Os lisossomas encontram-se praticamente em todas as células eucarioticas. São

organelos intracelulares delimitados por uma membrana e constituídos por enzimas

hidrolíticas (solúveis ou membranares) responsáveis pela digestão celular (Figura 1.1).

Conhecem-se cerca de 50-60 tipos de enzimas lisossomais, que incluem proteases,

nucleases, glicosilases, lipidases, fosfolipipases, fosfatases e sulfatases. Toda esta

variedade enzimática permite a digestão intracelular de praticamente todos os tipos de

macromoléculas nos seus monómeros estruturais (aminoácidos, ácidos gordos,

nucleótidos e açúcares simples) (Barrett e Heath, 1977).

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Introdução

4

Estas enzimas são preferencialmente activas em meio ácido (~ pH 5.0). A

acidificação do lúmen é efectuada por uma bomba de protões localizada na membrana

do lisossoma (Figura 1.1) (Alberts et al., 2002).

A célula está protegida contra ataques do próprio sistema digestivo uma vez que

a membrana do lisossoma mantém as enzimas digestivas isoladas do citoplasma

(essa função é exercida, aparentemente, pelos carbohidratos associados à face

interna da membrana); no caso de uma eventual lise da membrana lisossomal a acção

destas enzimas estará inibida a pH citoplasmático (~ 7.2).

Figura 1.1: Lisossoma: topologia das principais proteínas integrais. H+-ATPase promove a acidificação do lúmen lisossomal; LAMP- Lysosome-associated membrane protein; LIMP - Lysosomal integral membrane protein; LGP - lysosomal membrane glycoprotein. Figura extraída de Eskelinen et al. (2003), Cell Biology.

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Introdução

5

1.1.2. Biogénese

Via biossintética

As proteínas lisossomais são, na sua maioria, glicoproteínas constituídas por

oligossacáridos ricos em manose. A sua síntese ocorre nos ribossomas associados ao

retículo endoplasmático rugoso (RER), com subsequente translocação dos

polipéptidos para o lúmen do RER onde são N-glicosilados em resíduos específicos de

asparagina (Asn-X-Ser/Thr). Estas glicoproteínas são transportada para a fase cis do

complexo de Golgi (CG) e resíduos de manose dos N-oligossacáridos são fosforilados

pela adição de GlcNAc-P catalizada pela enzima N-Acetilglucosamina-1-

fosfotransferase. Durante o seu transporte vectorial no CG, as glicoproteínas são alvo

de processamento proteolítico e oligossacarídico, nomeadamente conversão dos N-

oligossacáridos ricos em manose, em N-oligossacáridos complexos ou em estruturas

híbridas e imposição do grupo fosfato por acção da enzima N-Acetilglucosamina-1-

fosfodiéster α-N-Acetilglucosaminidase, com formação do marcador de

endereçamento lisossomal manose-6-fosfato (M6P). Na rede trans do CG, as

glicoproteínas lisossomais ligam-se a receptores específicos membranares (receptores

M6P). Os referidos receptores reconhecem resíduos de M6P e são responsáveis pelo

transporte vesicular das glicoproteínas lisossomais até aos endossomas tardios (LE)

(Figura 1.2A). Deste modo, a segregação entre as proteínas lisossomais e as

proteínas de secreção ocorre na rede trans do CG.

A fusão entre LE e lisossomas preexistentes pode dar origem a estruturas

híbridas que contém enzimas lisossomais e receptores M6P inseridos na membrana

(Figura 1.2B).

Nos LE e estruturas híbridas, a diminuição de pH (5-6) origina a separação entre

os receptores e as proteínas lisossomais. Adicionalmente, as enzimas lisossomais são

desfosforiladas para impedir o seu retorno ao CG. Os receptores M6P são incluídos na

membrana de vesículas que os transportam de regresso ao CG ou à membrana

plasmática (MP), onde são reutilizados. Desta forma, os lisossomas definem-se não só

pela presença de hidrolases ácidas e de glicoproteínas integrais de membrana, mas

também, pela ausência de dois receptores de manose-6-fosfato e de recycling cell

surface receptors, o que os distingue dos endossomas (rev. em Kornfeld e Mellman

1989, rev. em Luzio et al., 2000; rev. em Mullins e Bonifacino, 2001).

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Introdução

6

Uma outra via, que não depende dos receptores de M6P, é responsável pela

incorporação de certas proteínas na membrana lisossomal e da fosfatase ácida nos

lisossomas. Estas proteínas são transportadas por vesículas desde a rede trans do

CG, até à MP. A partir da MP são incorporadas em vesículas de endocitose, que as

transportam até aos endossomas precoces (EE), estrutura a partir da qual podem

circular repetidamente até à MP. A partir dos EE, estas proteínas são transportadas

até aos lisossomas via LE (Braun et al., 1989).

Figura 1.2: Contribuição da via biossintética e da via endocítica para a formação dos lisossomas. A: Transporte de hidrolases lisossomais sintetizadas de novo para o lisossoma. Os precursores das hidrolases lisossomais são covalentemente modificados na rede cis do CG pela adição de M6P. Estes precursores são segregados ao nível da rede trans do CG, onde as adaptinas de vesículas de clatrina se ligam aos receptores M6P, que por sua vez ligam as hidrolases lisossomais modificadas. As vesículas cobertas por clatrina desligam-se da rede trans do CG e fundem-se com os LE. Nos LE, a diminuição do pH origina a dissociação das hidrolases dos receptores M6P, sendo estes reciclados para o CG onde ficam disponíveis para ligar outras hidrolases. Nos LE, o grupo fosfato do marcador M6P é removido para impedir o retorno das glicoproteínas ao CG. A Figura foi extraída de Alberts et al., 2002, Molecular Biology of the Cell. B: Transporte das macromoléculas internalizadas por endocitose. Inicialmente as biomoléculas são endereçadas para os EE, e de seguida para os LE. A formação dos lisossomas ocorre a partir da fusão dos LE com lisossomas pré-existentes ou com organelos híbridos. A figura foi extraída de Luzio et al. (2003), Molecular Membrane Biology.

A

B

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Introdução

7

Via endocítica

Em células de mamíferos, os organelos da via endocítica tardia interagem entre

si e encontram-se num equilíbrio dinâmico, quer in vivo como in vitro. Assim, pode

verificar-se uma mistura de conteúdos e/ou troca de proteínas membranares entre LE

(Aniento et al.,1993), entre lisossomas (Bakker et al., 1997; Ward et al., 1997; rev. em

Storrie e Desjardins, 1996) e entre LE e lisossomas (Mullock et al., 1994).

Presentemente existem 3 hipóteses, não exclusivas, para explicar a mistura de

conteúdos entre os LE e lisossomas. A primeira hipótese assume a existência de

transporte vesicular entre os dois organelos (rev. em Mellan e Warren, 2000),

enquanto que a segunda hipótese, conhecida por kiss and run, propõe que os LE e os

lisossomas repetida e continuamente se fundem e afastam (rev. em Storrie e

Desjardins, 1996). A terceira hipótese envolve a fusão directa e completa entre os LE

e os lisossomas, através da formação de uma estrutura híbrida e subsequente

recuperação do lisossoma (Griffiths, 1996; Thilo et al., 1995) (Figura 1.2B).

Integração da via biossintética, endocítica e exocítica

Nas células eucarióticas, a via secretora e a via endocítica envolvem múltiplos

compartimentos, cada um com um conjunto específico de proteínas e lípidos. Deste

modo, a biogénese desses organelos está associada a mecanismos de transporte

específicos que visam assegurar a sua identidade, função e correcta inter-

comunicação. Por conseguinte, o tráfego intracelular dessas moléculas é um processo

complexo; os organelos são estruturas dinâmicas e as suas proteínas de membrana

estão sujeitas a múltiplas e diversas interacções moleculares.

Avanços recentes na compreensão dos mecanismos moleculares do transporte

membranar devem-se, essencialmente, a estudos multidisciplinares que integram

conhecimentos de biologia celular, biologia estrutural, imagiologia, genética e

bioquímica de proteínas e de lípidos (rev. em van Vliet et al., 2003). Na Figura 1.3 é

apresentado um esquema geral da integração destas 3 vias.

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Introdução

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Figura 1.3: Integração das vias biossintética, endocítica e exocítica. Vesículas de transporte intracelular e localização de algumas Rabs. Na via biossintética as proteínas são transportadas do RE através do CG para a MP. Na TGN, as moléculas podem ser transportadas para vesículas secretoras constitutivas (CV) ou para vesículas secretoras de regulação (RV). O material internalizado do exterior da célula, chega aos EE, podendo ser reciclado de volta à superfície da célula, ou transportado para os LE e lisossomas. As vias biossintética e endocítica trocam material a nível do CG e dos compartimentos endossomais. É indicada a localização das diferentes Rabs nos compartimentos membranares onde participam. Figura extraída de Stenmark e Vesa, 2001, Genome Biology.

A identificação de marcadores bioquímicos para cada população de endossomas

(rev. em. Seabra et al., 2002) veio facilitar o estudo do tráfego intracelular de proteínas

e lípidos. Estes marcadores são proteínas da família Rab, isto é, pequenas GTPases

que regulam o transporte de vesículas ao longo das vias endocítica e exocítica,

actuando principalmente ao nível da associação entre vesículas e posterior fusão com

as membranas, mecanismo no qual participam as proteínas do complexo SNARE

(Novick et al., 2006). As proteínas Rab estão intimamente associadas a proteínas do

citoesqueleto, designadamente aos microtúbulos, regulando o transporte das vesículas

ao longo destes filamentos (rev. em Seabra et al., 2002). Mais de 60 genes Rab foram

identificados e a função do produto de muitos deles caracterizada (Tabela 1.1). Esta

diversidade de proteínas Rab indica que a homeostasia celular está associada a um

elevado controlo e organização interna na célula.

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Introdução

9

Tabela 1.1: Localização e função das principais proteínas Rab.

Proteína Localização Função

Rab1a RE e CG Transporte RE-CG e intra Golgi

Rab2 cis-Golgi Transporte CG-RE

Rab3a Vesículas sinápticas, grânulos secretores

Regulação da libertação de neurotransmissores; regulação da secreção

Rab4a EE, MP Endereçamento e EE-MP

Rab5a MP, EE e vesículas de clatrina Transporte EE-MP; fusão EE-EE

Rab6a RE, CG, TGN Tráfego CG-RE e intra Golgi;

Rab7 LE Tráfego EE-LE; tráfego LE-lisossoma

Rab8a TGN, vesículas secretoras, MP Secreção polarizada: transporte TGN-MP

Rab9 LE, TGN Transporte LE-TGN

Rab11 RE, TGN, MP Tráfego RE-TGN

1.2. Doenças de Sobrecarga Lisossomal

As Doenças de Sobrecarga Lisossomal (DSL) são causadas pela actividade

deficiente de uma proteína lisossomal resultando na acumulação intra-lisossomal de

metabolitos não degradados. Apesar da base genética estar relativamente bem

estabelecida para a maioria das DSL, pouco se sabe acerca da relação entre a

acumulação intra-lisossomal e o desenvolvimento da patologia.

Presentemente estima-se que existam no lisossoma pelo menos 50 a 60

hidrolases e 7 proteínas integrais de membrana (Journet et al., 2002). Em princípio,

mutações em genes que codificam qualquer uma destas proteínas podem causar DSL.

Cerca de 40 DSL que envolvem hidrolases solúveis e/ou cofactores proteicos são

actualmente conhecidas.

A classificação das DSL em lipidoses, esfingolipidoses, mucopolissacaridoses,

glicogenoses, mucolipidoses, glicoproteinoses, oligossacaridoses e ceroido

lipofuscinoses neuronais (NCLs) reflecte a natureza do substrato acumulado. Com a

excepção da doença de Fabry e MPS tipo II que são doenças ligadas ao cromossoma

X, as DSL são doenças autossómicas recessivas. Embora as DSL sejam

individualmente raras, no seu conjunto apresentam uma incidência de

aproximadamente 1:8000 nascimentos (Meikle et al., 1999), representando, por isso,

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Introdução

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um reconhecido problema de saúde a nível mundial. Recentemente, a prevalência da

doença em Portugal foi estimada em 1:4000 nascimentos (Pinto et al., 2004).

As DSLs são doenças monogénicas associadas a uma considerável variabilidade

clínico-patológica e heterogeneidade alélica resultantes da presença de diferentes

tipos de mutações (missense, nonsense, splite-site, delecções parciais e inserções) no

respectivo gene. Algumas mutações originam perda completa de actividade

enzimática, enquanto que outras causam apenas redução dessa actividade. Em geral,

a actividade residual correlaciona-se inversamente com gravidade do fenótipo clínico.

No entanto, as DSLs são um grupo heterogéneo de doenças, incluindo formas

neuropatológicas muito graves, formas suaves com envolvimento apenas de tecidos

periféricos e casos assintomáticos, e, não raramente, o mesmo genótipo é identificado

em doentes com formas severas e formas suaves da doença (rev. em Futerman e

Meer, 2004). Assim, em certos casos de DSL a severidade da doença pode também

estar relacionada, não só com a natureza da alteração genética, mas também com o

tipo e nível de substrato acumulado, e com o tipo de tecidos ou células afectadas por

essa acumulação. No futuro, um conhecimento mais profundo acerca das vias

celulares e bioquímicas secundárias que estão alteradas em virtude da acumulação de

substratos específicos nos lisossomas (rev. em Futerman e Meer, 2004) permitirá uma

melhor compreensão das implicações fenotípicas decorrentes da identificação de

mutações.

1.3. Ceroido Lipofuscinose Neuronal

1.3.1. Características clínico-patológicas

A Ceroido Lipofuscinose Neuronal (NCL) é um grupo de doenças

neurodegenerativas, de transmissão autossómica recessiva, que se caracteriza pela

acumulação lisossomal de um lipopigmento autofluorescente com características

semelhantes a ceroido e lipofuscina, principalmente em tecidos neuronais. O termo

ceroido lipofuscinose neuronal foi introduzido por Zeman e Dyken (1969) de forma a

diferenciar estas patologias das gangliosidoses. A primeira descrição da doença surgiu

em 1826, por Stengel, que caracterizou quatro casos de doentes com cegueira

progressiva, demência, epilepsia, declínio cognitivo e disfunção motora. Hoje,

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Introdução

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sabemos tratar-se da forma juvenil da NCL. Outros casos de NCL juvenil foram

descritos por Batten (1903), Spielmeyer (1923) e Hallervorden (1938). Jansky (1908) e

Bielschowsky (1923) documentaram doentes com a forma infantil tardia e Kufs (1925)

descreveu a forma adulta. Haltia e colegas descreveram a forma infantil da NCL

(1973) (Wisniewski e Zhong, 2001).

A análise de dados provenientes de estudos de microscopia electrónica de vários

tecidos, obtidos por autópsias e biópsias, revelaram que as inclusões lisossomais em

doentes com NCL podem ser de quatro tipos: depósitos granulares osmiofílicos

(GROD), perfis curvilíneos (CV), perfis do tipo impressão digital (FP) e complexos

rectilíneos (RL) (rev. em Bennett e Hofmann, 1999) (Figura 1.4).

Figura 1.4: Análise ultra-estrutural de células das glândulas sudoríferas da pele. Figura extraída de Teixeira et al., 2003a.

GROD CV

CV/FP CV/FP

GROD CV

CV/FP CV/FP

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Introdução

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Estas doenças caracterizam-se clinicamente pela perda progressiva de visão,

declínio da função motora e intelectual, epilepsia, atrofia cerebral, alterações de

comportamento e morte precoce nas formas mais graves da doença (rev. em

Santavuori, 1988). Com base na idade de aparecimento dos sintomas são distinguidas

5 formas clínicas: congénita (CoNCL), infantil (INCL), infantil-tardia (LINCL), juvenil

(JNCL) e adulta (ANCL). A progressão clínica nestas formas da doença não é ainda

bem conhecida. A base genética e patológica destas variantes clínicas é apresentada

na Tabela 1.2.

Até ao final da década de 90 era observada uma correlação quase perfeita entre

o fenótipo clínico-patológico e a variante genética da NCL. A forma infantil, infantil-

tardia e juvenil eram associadas, respectivamente, a inclusões do tipo GROD, CV e

FP, e causadas por mutações nos genes CLN1, CLN2 e CLN3. A identificação de

novas variantes (CLN5-CLN8 e CLN10) em doentes que exibiam um fenótipo clínico

mais suave que o infantil-tardio clássico associado à deficiência da enzima

TPP1/CLN2, e a identificação da mesma variante genética em doentes com um

fenótipo clínico distinto sugere que, a cada gene, deverá estar associado um espectro

clínico que inclui quer formas muito severas quer formas adultas ou praticamente

assintomáticas.

Tabela 1.2: Características clínico-patológicas da NCL.

*Subunidade c da ATP sintetase; CTSD, Gene da catepsina D; MFSD, Major facilitator superfamily; Onset,

Idade em que se manifestou o 1º sintoma da doença; GROD, Depósitos granulares osmiofílicos; CV, Perfil curvilíneo; FP, Perfil do tipo impressão digital; RL, Complexo rectilíneo.

Proteína Idadede Variante Gene Onset Inclusões acumulada morte

CoNCL CLN10/CTSD neonatal GROD SaposinaA/D

INCL CLN1 6-18 meses GROD SaposinaA/D 8-13 anos

LINCL CLN2 2-8 anos CV/misto Subunidadec* 5-12 anos

JNCL CLN3 4-10 anos FP/misto Subunidadec* 8-51 anos

vLINCL CLN5 4-7 anos CV/FP/RL Subunidadec*

CLN6 8 meses-8 anos CV/FP/RL Subunidadec*

CLN7/MFSD8 2-7 anos CV/FP/RL Subunidadec*

CLN8 1-10 anos CV/GROD Subunidadec* > 40-50 anos

CLN10/CTSD 4-7 anos Estruturas lamelares

Proteína Idadede Variante Gene Onset Inclusões acumulada morte

CoNCL CLN10/CTSD neonatal GROD SaposinaA/D

INCL CLN1 6-18 meses GROD SaposinaA/D 8-13 anos

LINCL CLN2 2-8 anos CV/misto Subunidadec* 5-12 anos

JNCL CLN3 4-10 anos FP/misto Subunidadec* 8-51 anos

vLINCL CLN5 4-7 anos CV/FP/RL Subunidadec*

CLN6 8 meses-8 anos CV/FP/RL Subunidadec*

CLN7/MFSD8 2-7 anos CV/FP/RL Subunidadec*

CLN8 1-10 anos CV/GROD Subunidadec* > 40-50 anos

CLN10/CTSD 4-7 anos Estruturas lamelares

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Introdução

13

1.3.2. Biologia funcional das proteínas NCL

Presentemente são conhecidas 8 proteínas (CLN1, CLN2, CLN3, CLN5, CLN6,

CLN7, CLN8 e CLN10); três são enzimas lisossomais solúveis (CLN1, CLN2 e CLN10)

e as restantes são proteínas de topologia membranar de função ainda desconhecida.

Os aspectos estruturais e funcionais mais relevantes para a compreensão do presente

trabalho são a seguir apresentados.

Estrutura e função

Proteína CLN1 / PPT1:

A PPT1, proteína palmitoil transferase 1, é codificada por um gene de 25-kb,

constituído por 9 exões, localizado no cromossoma humano 1p32. Este gene produz

um único RNAm de 2.5-kb (Schriner et al., 1996). A proteína codificada, de 306

aminoácidos, contém uma sequência péptido sinal (26 aminoácidos), que é clivada co-

traducionalmente. A proteína madura migra como um dupleto de 37/35kDa, ficando

reduzida a 31kDa após desglicosilação (Verkruyse e Hofmann, 1996). A PPT1 possui

três locais de N-glicosilação (aminoácidos 197, 212 e 232) que contribuem para a

actividade e/ou estabilidade da enzima (Bellizzi et al., 2000). A enzima é transportada

para o lisossoma pela via da M6P (Hellsten et al., 1996; Sleat et al., 1996; Verkruyse e

Hofmann, 1996). Estudos proteómicos identificaram a enzima no cérebro, lisossomas

placentários e fagossomas macrofágicos (Chataway et al., 1998; Garin et al., 2001;

Sleat et al., 2005). O seu pH óptimo de actividade é entre 4,5 e 5,5. (Verkruyse e

Hofmann, 1996).

A PPT1 é uma enzima que remove ácidos gordos ligados covalentemente à

cadeia lateral de resíduos de cisteína de proteínas (Camp e Hofmann, 1993; Camp et

al., 1994), preferencialmente os ácidos gordos que possuem entre 14 e 18 carbonos

(Lu et al., 1996; Lu et al., 2002). Estudos in vitro sugerem que a PPT1 promove a

despalmitoilação de proteínas S-aciladas, tais como H-Ras, palmitoil-CoA e

subunidades de proteínas Gα modificadas (Lu e Hofmann, 2006). No entanto, os

substratos fisiológicos desta enzima ainda não são conhecidos (Camp e Hofmann,

1993).

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Introdução

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A palmitoilação/despalmitoilação é uma modificação pós-traducional reversível e

dinâmica das proteínas. Ao nível fisiológico, a palmitoilação tem um papel importante

na modulação da actividade de proteínas que participam no processo de transporte

vesicular e sinalização intra e inter celular (rev. em Bijlmakers e Marsh, 2003; rev. em

E l-Husseini e Bredt, 2002; rev. em Huang e El-Husseini, 2005). É conhecido o seu

papel na associação de polipéptidos com a membrana ou citoesqueleto, prevenção de

dimerização de proteínas, restrição da sua mobilidade lateral e reciclagem de

receptores. Desta forma, é possível que a enzima PPT1 regule a função de diversas

proteínas do sistema nervoso central envolvidas na transmissão neuronal, vias de

sinalização ou transporte de proteínas (rev. em Bizzozero, 1997; rev. em Dunphy e

Linder, 1998). Assim, a deficiente actividade em PPT1 pode ter implicações

patofisiológicas ao nível destes eventos celulares e, deste modo, induzir um mau

funcionamento no sistema nervoso central, causando morte neuronal.

Proteína CLN2 / TPP1:

O gene CLN2, de 6.6-kb, está localizado no cromossoma humano 11p15 e

compreende 13 exões, que originam transcritos de 3.7-kb e 2.7-kb. Este gene codifica

um polipéptido de 563 aminoácidos com massa molecular de 61 kDa.

A glicoproteína precursora inactiva é autocataliticamente activada a pH ácido

através da remoção de um segmento N-terminal, formando-se a enzima madura

lisossomal de 46 kDa. O pH óptimo para a autoactivação (pH~3) é mais baixo do que

o pH óptimo de actividade da enzima madura (pH~4.5) que apresenta uma actividade

fraca a pH 3.0 (Ezaki et al., 2000b). O seu transporte para o lisossoma ocorre pela via

mediada pelo receptor da M6P (Andersen e McDonald, 1987; Doebber et al., 1978; Lin

e Lobel, 2001; McDonald et al., 1985; Sleat et al., 1997).

A CLN2 é uma tripeptidilaminopeptidase (TPP1), isto é, cliva tripéptidos dos

amino-terminais de péptidos com grupos α-amino livres (Junaid et al., 2000; Vines e

Warburton, 1998) com preferência por aminoácidos hidrofóbicos na posição P1

(Bernardini e Warburton, 2001). Estudos in vitro sugerem que esta proteína possui

também actividade de endopeptidase (Ezaki et al., 2000b). Estudos de modificação

química indicam que a Ser475 é o local activo nucleofílico da TPP1 (Lin et al., 2001).

Estudos mutacionais e com inibidores sugerem que esta enzima não apresenta a

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Introdução

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tríade catalítica Ser-Asp-His, característica de muitas serina proteases e lipases, mas

sim Ser475-Asp276-Glu272 (Lin et al., 2001; Oyama et al., 2005, Walus et al., 2005).

O conhecimento acerca dos substratos naturais da TPP1 é limitado. Evidências

experimentais in vitro indicam que a TPP1 poderá estar envolvida na degradação de

hormonas peptídicas (Doebber et al., 1978), péptido β – amilóide (Wisniewski et al.,

1990a; Wisniewski et al., 1990b) e subunidade c da ATP sintetase (rev. em Ezaki et

al., 1999).

Proteína CLN3:

Apesar da caracterização do gene CLN3 e da proteína correspondente ter

ocorrido na década de 90 (IBD Consortium, 1995), a função desta proteína membranar

politópica permanece desconhecida.

O gene CLN3 localiza-se no cromossoma humano 16p12.1-p11.2 e é constituído

por 15 exões, abrangendo uma região com 15-kb. Este gene produz um RNAm de 1.3

kb. A proteína CLN3 possui 438 aminoácidos (48 kDa).

A CLN3 não possui homologia com outras proteínas conhecidas. A análise in

silico, designadamente quanto ao perfil hidropático, e estudos bioquímicos sugerem

que a CLN3p possui 6 domínios transmembranares e que os terminais amino e

carboxílico estão orientados para o citossol (Ezaki et al., 2003, Kyttälä et al., 2004).

A proteína CLN3 foi localizada em vários organelos celulares, entre os quais, os

lisossomas (Järvelä et al., 1998; Kida et al., 1999), CG (Kremmidiotis et al., 1999;

Persaud-Sawin et al., 2004), núcleo, membrana celular (Margraf et al.1999),

mitocôndria (Katz et al., 1997) e lipid rafts (Rakheja et al., 2004). Estudos bioquímicos,

moleculares e celulares sugerem que a proteína está localizada no sistema

endossomal/lisossomal em células neuronais (Kyttälä et al., 2004) e em células não

neuronais (Järvelä et al., 1998; Ezaki et al., 2003; Persaud-Sawin et al., 2004). Em

células neuronais, a proteína foi encontrada na região sináptica, sugerindo uma

possível função extra-lisossomal (Haskell et al., 2000; Järvelä et al., 1999; Luiro et al.,

2001). Existem também evidências experimentais que sugerem uma função

neuroprotectora (Persaud-Sawin et al., 2004; Rylova et al., 2002). Dada a sua

natureza politópica e a relação distante à família de transportadores de nucleósidos

SLC29 (rev. em Baldwin et al., 2004), é possível que a CLN3p desempenhe uma

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Introdução

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função de transporte e/ou canal. A interacção de segmentos citoplasmáticos de CLN3p

com a proteína Hook1 que estabelece ligação aos microtúbulos e o facto de Hook1

interactuar directamente com as proteínas Rab7, Rab9 e Rab11 (Luiro et al., 2004),

sugere que a CLN3p poderá desempenhar funções relacionadas com o citoesqueleto

e tráfego endomembranar. Recentemente, foi identificado na proteína CLN3 um

domínio de ligação à galactosilceramida (GalCer), um lípido especialmente abundante

nas membranas neuronais. Esta observação sugere o envolvimento da proteína CLN3

no transporte deste cerebrosídeo para a MP (Persaud-Sawin et al., 2004).

Existem também observações em doentes JNCL e em ratinhos CLN3 knock-out,

que associam a proteína CLN3 à morte celular Neste processo podem estar

implicadas quer a apoptose, em que a CLN3 desempenhará um papel protector

(Persaud-Sawin et al., 2002; Puranam et al., 1999), quer a autofagia (Lane et al., 1996;

rev. em Mitchison et al., 2004; Persaud-Sawin et al., 2005; Seigel et al., 2002). O papel

protector da CLN3 na morte celular poderá ocorrer através da modulação de síntese

de ceramida que é um lípido indutor de apoptose dependente de caspases (Persaud-

Sawin et al., 2002).

Proteína CLN5:

O gene CLN5 encontra-se localizado no cromossoma 13q22 e abrange uma

região de 13-kb no DNA genómico. Este gene é constituído por 4 exões e codifica para

uma proteína de 407 aminoácidos (46 kDa). Três transcritos de 2.0, 3.0 e 4.5 kb foram

detectados em diversos tecidos humanos, incluindo o cérebro (Savukoski et al., 1998).

A sequência de aminoácidos da proteína não tem homologia com nenhuma proteína

identificada. A análise in silico revela a existência de 4 potenciais codões de iniciação

e a ausência de péptido sinal no polipéptido produzido a partir do primeiro codão de

iniciação. O segmento amino terminal até ao terceiro resíduo de metionina não é

conservado. Estudos de tradução in vitro e estudos de transfecção e marcação

metabólica sugerem que os 4 codões de iniciação podem ser utilizados in vivo

originando polipéptidos de 47, 44, 42 e 40 kDa (Isosomppi et al., 2002; Vesa et al.,

2002). Em células COS-1 transfectadas com cDNA CLN5 foi observado um polipéptido

glicosilado de 60 kDa. Estudos de co-imunoprecipitação e ensaios de interacção de

proteínas in vitro sugerem interacção de CLN5 com os polipéptidos CLN2 e CLN3

(Vesa et al., 2002).

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Introdução

17

A análise in silico sugere que a CLN5 é uma proteína com 2 domínios

membranares (Savukoski et al., 1998). Em células BHK-21 transfectadas com cDNA

CLN5 foram observados polipéptidos solúveis (Isosomppi et al., 2002; Vesa et al.,

2002) com excepção do polipéptido mais longo, resultante da utilização do primeiro

codão de iniciação, de natureza membranar (Vesa et al., 2002). Recentemente, Bessa

e colaboradores (2006) observaram em extractos celulares de fibroblastos, 4

polipéptidos membranares de peso molecular semelhante aos observados in vitro.

Em estudos de imunofluorescência com células BHK-21 transfectadas, a

proteína CLN5 foi localizada principalmente nos lisossomas, RE e CG, reflectindo

assim, o tráfego intracelular da proteína através dos organelos da via biossintética

(Isosomppi et al., 2002). No entanto, estudos mais recentes indicam a presença da

proteína endógena na MP em domínios membranares que co-localizam com a

conexina-43, uma proteína marcadora das junções comunicantes ou junções de hiato

(Bessa C, comunicação pessoal). O significado fisiopatológico desta observação não é

ainda conhecido.

Proteína CLN6:

Este gene localiza-se no cromossoma 15q23. O gene CLN6, de 22.7-kb,

compreende 7 exões. Em vários tecidos humanos, incluindo o cérebro, foi detectado

um RNAm de 2.4-kb (Gao et al., 2002; Wheeler et al., 2002). O gene CLN6 codifica

para um polipéptido de 311 aminoácidos (36 kDa). A análise da sequência de

aminoácidos revela ausência de locais potenciais de N-glicosilação (Asp-X-Ser/Thr,

X=qualquer aminoácido) e de sinais clássicos de endereçamento para o lisossoma. No

entanto, a sequência N-terminal RRR (aminoácidos 5-7) presente na CLN6p foi

previamente descrita numa proteína membranar tipo II do RE, a glucosidase I (Hardt et

al., 2003). Adicionalmente, no segmento N-terminal de CLN6p codificado pelo exão 1

(aminoácidos 1-28) foi detectado um sinal peptídico potencialmente envolvido no

endereçamento da proteína para a mitocôndria (Gao et al., 2002).

Em termos topológicos, a proteína possui um domínio N-terminal citoplasmático,

7 domínios transmembranares e um domínio C-terminal luminal (Heine et al., 2004,

Heine et al., 2007).

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Introdução

18

Estudos de imunocitofluorescência da proteína sobre expressa em células

BHK21 e HEK293 (Mole et al., 2004 e Heine et al., 2007) revelaram a presença da

proteína CLN6 no RE.

Proteína CLN7 / MFSD8:

O gene CLN7 (45.5-kb) está localizado no cromossoma humano 4q28.1-q28.2 e

compreende 11 exões. O RNAm de 5-kb codifica um polipéptido de 518 aminoácidos

com massa molecular de 58 kDa. O perfil hidropático sugere uma organização

topológica com 12 domínios transmembranares (Siintola et al., 2007). A CLN7p

pertence a uma das maiores classes de proteínas transportadoras (permeases)

(MFSD, Major facilitator superfamily). Estudos recentes de imunofluorescência co-

localizaram a proteína CLN7 com proteínas marcadoras do lisossoma (Siintola et al.,

2007). No entanto, a sua função não é presentemente conhecida.

Proteína CLN8:

O gene CLN8 localiza-se no cromossoma 8p23q e abrange uma região de DNA

genómico com cerca de 20-kb. Este gene, constituído por 2 exões, produz transcriptos

de 1.4, 3.4, 7.5-Kb. Este gene codifica para uma proteína de 286 aminoácidos (~

33kDa). A análise in silico prevê 6 domínios transmembranares, ausência de sinal

peptídico e de N-glicosilação. Estudos de imunofluorescência em células neuronais e

não neuronais transfectadas com cDNA CLN8 sugerem a sua localização no RE e no

compartimento, entre o RE e o CG (Lonka et al., 2004).

A função desta proteína não é conhecida. No entanto, a CLN8p apresenta

domínios homólogos à família TLC de proteínas eucarióticas (rev. em Winter e

Ponting, 2002). Membros desta família de proteínas facilitam a translocação de

cadeias polipéptídicas novas para o RE, a exportação de proteínas ancoradas ao

glicosilfosfatidilinositol para fora do RE (Barz e Walter, 1999; Hegde et al., 1998;

Heinrich et al., 2000) e estão associadas à síntese e transporte de lípidos, podendo

ainda actuar como sensores de lípidos intracelulares. Proteínas desta família não

partilham grande similaridade a nível de aminoácidos, mas possuem um domínio

conservado com pelo menos cinco α hélices transmembranares e alguns aminoácidos

altamente conservados. Dados recentes obtidos em leveduras (Guillas et al., 2001;

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Introdução

19

Schorling et al., 2001) e em células de mamíferos (Mizutani et al., 2005; Riebeling et

al., 2003; Venkataraman et al., 2002) sugerem um papel das proteínas TLC na

regulação da síntese de ceramida dependente de acil-CoA.

Proteína CLN10 / CTSD:

O gene CTSD humano de 16.3-kb localiza-se no cromossoma 11p15.5, contém 9

exões e codifica para uma proteína de 412 aminoácidos, a CTSD, uma protease

aspártica lisossomal. Esta enzima é sintetizada no RE como uma pré-proenzima

inactiva de 53 kDa, que sofre várias modificações pós-transducionais durante o

transporte para os lisossomas. Após clivagem co-transducional do péptido sinal N-

terminal, a pró-CTSD é N-glicosilada em 2 resíduos de asparagina. Os N-

oligossacáridos possuem resíduos de M6P, possibilitando a segregação da enzima

para o lisossoma pela via clássica da M6P. No entanto, dependendo do tipo de célula,

esta via pode não ser exclusiva, isto é, o transporte para o lisossoma pode também

ocorrer de modo independente da M6P (Storch e Braulke, 2005). No compartimento

endossomal, a clivagem proteolítica de 44 aminoácidos do propéptido resulta na forma

activa precursora de cadeia simples com 47 kDa (rev. em Kyttälä et al., 2006). A

maturação proteolítica final ocorre nos lisossomas e é dependente de proteases

cisteína, resultando na formação de 2 cadeias polipeptídicas de 31 e 14 kDa ligadas

por ligações dissulfureto (Gieselmann et al., 1983; Gieselmann et al., 1985),

provavelmente com exclusão de seis aminoácidos posicionados entre as cadeias

(Kobayashi et al.,1992). Ao contrário da proteína humana, a proteína madura isolada

de ratos e ratinho é constituída por um único polipéptido (Storch e Braulke, 2005). No

entanto, a implicação fisiológico desta observação não é presentemente conhecida.

1.3.3. Heterogeneidade genética e alélica

Mais de uma centena de mutações foram descritas

(http://www.ucl.ac.uk/ncl/mutation.shtml) nos 8 genes implicados na doença (Tabela

1.3). A forma mais prevalente da doença é a variante CLN3 (OMIM 204200), com mais

de 500 famílias identificadas, seguindo-se a variante CLN2 (OMIM 204500). As formas

CLN1 (OMIM 256730), CLN5 (OMIM 256731), CLN6 (OMIM 601780), CLN7 (OMIM

610951), CLN8 (OMIM 600143) e CLN10 (OMIM 610127) são raras na população em

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Introdução

20

geral (rev. Siintola et al., 2006a). Contudo, as formas CLN1, CLN5 e CLN8 são

particularmente frequentes na Finlândia (rev. em Siintola et al., 2006a), e

recentemente foram descritos os primeiros doentes de origem não finlandesa

afectados com a variante CLN5 (Bessa et al., 2006; Pineda-Trujillo et al., 2005) e a

variante CLN8 (Striano et al., 2006).

Mutações prevalentes foram identificadas nos genes CLN1, CLN2 e CLN3

(Tabela 1.3). Nos restantes genes, a maioria das mutações identificadas são

esporádicas.

Tabela 1.3: Base genética da Ceroido Lipofuscinose Neuronal.

Forma Proteína Localização Localização Mutações # mutações/clínica mutada proteína do gene comuns famílias

CoNCLvLINCL Protease aspártica Lisossomal 11p15.5 desconhecida 3 / 3(CLN10) (CTSD) solúvel

INCL Palmitoil-tioesterase 1 Lisossomal 1p32 c.223A>C / T75P 45 / 171(CLN1) (TPP1) solúvel c.364A>T / R122W

c.451 C>T / R151X

LINCL Tripeptidil-peptidase 1 Lisossomal 11p15 IVS5-1G>C / g.3556 G>C 54 / 318(CLN2) (TPP1, protease serina) solúvel c.622C>T / R208X

JNCL Batenina, CLN3 Transmembranar 16p12 c.462-677del (1.02-kb del) 40 / >400(CLN3) RE/Golgi/MP/Lis

vLINCL CLN5 Glicoproteína 13q22 c.1175delAT / Y392X 7 / 33(CLN5, v. Finlandesa)

vLINCL CLN6 Transmembranar 15q21-q23 desconhecida 22 / >41(CLN6, v. Cigana/Indiana) RE

vLINCL CLN7 Transmembranar 4q28 desconhecida 5 / 7

vLINCL CLN8 Transmembranar 8p23 c.70C>G / R24G 10 / 24 (CLN8, EPMR) RE-ERIGC

Forma Proteína Localização Localização Mutações # mutações/clínica mutada proteína do gene comuns famílias

CoNCLvLINCL Protease aspártica Lisossomal 11p15.5 desconhecida 3 / 3(CLN10) (CTSD) solúvel

INCL Palmitoil-tioesterase 1 Lisossomal 1p32 c.223A>C / T75P 45 / 171(CLN1) (TPP1) solúvel c.364A>T / R122W

c.451 C>T / R151X

LINCL Tripeptidil-peptidase 1 Lisossomal 11p15 IVS5-1G>C / g.3556 G>C 54 / 318(CLN2) (TPP1, protease serina) solúvel c.622C>T / R208X

JNCL Batenina, CLN3 Transmembranar 16p12 c.462-677del (1.02-kb del) 40 / >400(CLN3) RE/Golgi/MP/Lis

vLINCL CLN5 Glicoproteína 13q22 c.1175delAT / Y392X 7 / 33(CLN5, v. Finlandesa)

vLINCL CLN6 Transmembranar 15q21-q23 desconhecida 22 / >41(CLN6, v. Cigana/Indiana) RE

vLINCL CLN7 Transmembranar 4q28 desconhecida 5 / 7

vLINCL CLN8 Transmembranar 8p23 c.70C>G / R24G 10 / 24 (CLN8, EPMR) RE-ERIGC

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Introdução

21

1.3.4. Fisiopatologia

O material acumulado na forma infantil clássica (associada ao gene CLN1)

corresponde, aproximadamente, a 35% de lípidos e 45% de proteínas (principalmente

saposinas A e D) (Tyynelä et al., 1993). Em tecidos de doentes com a forma CLN10

também está documentada a acumulação das saposinas A e D (Siintola et al., 2006b).

Em cérebro de doentes com a forma infantil-tardia (CLN2), a subunidade c da

ATP sintetase mitocondrial, é o principal componente das inclusões lisossomais,

constituindo cerca de 85% do material proteico acumulado (Kominami et al., 1992,

Palmer et al., 1992). Esta proteína foi detectada, embora em menor quantidade, em

diversos tecidos e órgãos extra-neuronais.

Em doentes com a forma juvenil (CLN3), a subunidade c da ATP sintetase

constitui cerca de 20% do material proteico acumulado (Palmer et al., 1992). Outros

compostos acumulados incluem dolicóis fosforilados (Hall e Patrick, 1985; Pullarkat et

al., 1988) e o péptido β-amilóide (Wisniewski et al., 1990a, Wisniewski et al., 1990b).

Os níveis de numerosas enzimas lisossomais estão também significativamente

aumentados no cérebro destes doentes (Sleat et al., 1998; Pohl et al., 2007).

Nas variantes CLN5 a CLN8, similarmente à CLN2, o material acumulado contém

principalmente a subunidade c da ATP sintetase mitocondrial (Elleder et al., 1997). No

entanto, nas variantes CLN5 e CLN8 também foram detectadas as saposinas A e D

(Tyynelä et al., 1995, rev. em Tyynelä et al., 1997; rev. em Ranta et al., 2001). Na

variante CLN8 foi também observado o péptido β-amilóide. (rev. em Ranta et al.,

2001).

O significado fisiopatológico da acumulação diferencial das saposinas A e D

versus subunidade c da ATP sintetase em diferentes variantes da patologia não é

presentemente conhecido.

As saposinas são glicoproteínas que derivam de uma proteína precursora

comum (prosaposina) que é clivada proteoliticamente no lisossoma (Hiesberg et al.,

1998). Estas proteínas actuam como cofactores proteicos necessários para a

degradação in vivo de esfingolípidos com cadeias curtas de oligossacáridos. A

saposina A é indispensável para a actividade catabólica da β-galactosilceramidase. A

função da saposina D não é conhecida, embora existam evidências experimentais que

sugerem a sua participação na degradação da ceramida. Um outro co-factor proteico,

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Introdução

22

o activador GM2, auxilia a enzima lisossomal β-hexosaminidase A na degradação do

gangliósido GM2 em gangliósido GM3 (Sandhoff et al, 2001). O transporte destas

proteínas activadoras para o lisossoma é mediado pela sortilina (rev. em Ni et al.,

2006). Se as proteínas deficientes nas variantes CLN1, CLN5, CLN8 e CLN10

desempenham uma função na maturação e/ou actividade biológica destas saposinas

não é presentemente conhecido.

Relativamente à acumulação da subunidade c da ATP sintetase observada na

maioria das variantes de NCL (CLN2, CLN3, CLN5-CLN8), vários estudos (Ezaki et al.,

1999; Ezaki et al., 2000a; rev. em Junaid et al., 2000) sugerem que a degradação da

subunidade c é iniciada pela TPP1 e continuada pela catepsina D. Esta subunidade é

ainda especialmente sensível ao pH intralisossomal elevado (Kominami, 2002), que é

uma característica partilhada pela CLN2p, CLN3p e CLN6p (Holopainen et al., 2001).

No entanto, a importância da acumulação da subunidade c no mecanismo de

neurodegeneração permanece por esclarecer.

A razão pela qual a deficiência em proteínas NCL origina neurodegeneração

selectiva permanece desconhecida. Estudos diversos recorrendo a diferentes

abordagens experimentais, desde estudos de biologia celular e molecular a cDNA

microarrays, utilizando amostras de modelos animais naturais ou artificiais, sugerem

vários mecanismos moleculares potencialmente envolvidos na resposta inflamatória

(Qiao et al., 2007; Teixeira et al., 2006), defeitos ao nível do tráfego vesicular

intracelular de proteínas e lípidos (Luiro et al. 2004; Persaud-Sawin et al., 2004;

Rakheja et al., 2004; Teixeira et al., 2006), transporte de vesículas sinápticas,

alterações do pH lisossomal (Holopainen et al., 2001; Padilla-López e Pearce, 2006),

apoptose (Cho e Dawnson, 2000; Dhar et al., 2002; Heine et al., 2003; Persaud-Sawin

et al., 2002; Rylova et al., 2002; Teixeira et al., 2006), e outros mecanismos, como por

exemplo a remodelação da matriz extracelular (Teixeira et al., 2006), na patogénese

da NCL e de forma não mutuamente exclusiva.

Se populações de neurónios apresentam sensibilidade diferencial a estes

mecanismos moleculares é uma questão que não está esclarecida.

O grau de envolvimento lisossomal, primário ou secundário, na patogénese da

doença, o conhecimento da função das proteínas e a composição exacta das

inclusões lisossomais são questões essenciais a investigar no futuro para uma melhor

compreensão da etio-patologia da NCL. Adicionalmente, é provável que mais genes

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Introdução

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estejam envolvidos na patologia. De facto, foi descrita uma proteína homóloga da

PPT1, a proteína PPT2, que hidrolisa a palmitoil-CoA mas não palmitoil cisteínas

(Soyombo e Hofmann, 1997; Soyombo et al., 1999). Em modelos artificiais produzidos

por inactivação do gene PPT2 foi observado um fenótipo semelhante a NCL mas com

características viscerais pouco comuns (Gupta et al., 2003). Porém, a deficiência

natural em PPT2 não foi detectada até à data. Uma enzima distinta mas com

actividade similar à TPP1, a TPP2, localiza-se no citossol, onde participa na

degradação de proteínas intracelulares e no processamento antigénico (rev. em

Tomkinson e Lindas, 2005). Tal como para a PPT2, a deficiência natural em TPP2 não

foi detectada até à data. Outras proteínas potencialmente associadas ao fenótipo NCL

são as pertencentes à família de canais de cloreto, nomeadamente CLC-3 (Yoshikawa

et al., 2002) e CLC-7 (Kasper et al., 2005).

De salientar ainda que existem várias evidências que sugerem que estas

proteínas poderão participar numa via celular comum cujos intervenientes moleculares

ainda não são conhecidos. De facto, estudos de co-imunoprecipitação, ensaios de

interacção in vitro e estudos de co-localização por imunofluorescência com a proteína

endógena ou com a proteína sobre expressa sugerem múltiplas interacções entre

proteínas CLN (Persaud-Sawin et al., 2007; Vesa et al., 2002;). Os resultados

publicados por Vesa e colaboradores (2002) sugerem que a proteína CLN5 interactua

com as proteínas CLN2 e CLN3. O aumento da actividade da enzima CLN2/TPP1

geralmente observado em células de doentes com deficiência na proteína CLN3 (Sleat

et al., 1998) ou na proteína CLN5 (Vesa et al., 2002) traduz, assim, a redundância

funcional deste sistema de proteínas. Mais recentemente (Persaud-Sawin et al., 2007),

estudos de co-localização da proteína endógena de fibroblastos humanos cultivados

(FHC) sugerem interacções entre as proteínas CLN2-CLN8, CLN2-CLN3, CLN3-CLN6,

CLN3-CLN8 e CLN6-CLN8.

1.3.5. Diagnóstico

A NCL é considerada a patologia neurodegenerativa hereditária mais comum na

infância. A sua prevalência na população mundial varia entre 1:20.000 e 1:100.000,

enquanto que na população finlandesa está descrita a prevalência de 1:12.500 nados

vivos (rev. em Mole, 1998).

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Introdução

24

O diagnóstico da NCL é estabelecido segundo critérios clínico-patológicos,

bioquímicos e genéticos. A informação clínica e patológica é útil para a definição da

estratégia a adoptar no estudo diferencial dos genes envolvidos na patologia (Figura

1.5). A actividade deficiente das enzimas PPT1, TPP1 ou CTSD, em extractos

celulares de leucócitos obtidos a partir de sangue periférico ou de fibroblastos

cultivados a partir de biópsias de pele, estabelece o diagnóstico das formas CLN1,

CLN2 ou CLN10, respectivamente. No caso da actividade destas enzimas se

encontrar dentro da gama controlo de referência, será necessário proceder ao rastreio

de mutações nos genes CLN3, CLN5-CLN8. A existência de mutações prevalentes

poderá facilitar esta etapa do diagnóstico laboratorial (rev. em Williams et al., 2006).

Uma vez identificada a(s) alteração(ões) no gene respectivo, será importante

avaliar a sua causalidade. Este aspecto é particularmente relevante no caso de

mutações esporádicas com mecanismo molecular patogénico desconhecido. Nestes

casos, deverá proceder-se à caracterização funcional da alteração genética

encontrada no DNA genómico e confirmada ao nível do cDNA, recorrendo a uma

abordagem molecular, celular e fisiológica.

Em doenças raras e de etiologia ainda pouco conhecida, como é o caso da

doença NCL, uma actividade integrada de prestação de serviços de diagnóstico

genético e de investigação é importante para acelerar o conhecimento da patogénese

molecular destas doenças genéticas.

Figura 1.5: Estratégia de estudo bioquímico e molecular visando o diagnóstico das variantes genéticas de NCL. ME- Microscopia electrónica.

Actividade enzimática

PPT1 TPP1 CTSD PPT1, TPP1 e CTSD

Reduzida Reduzida Reduzida Normal

CLN1 CLN2 CLN3 / CLN5 / CLN6 / CLN7 / CLN8

Forma Congénita / Infantil / Infantil-tardia / Juvenil /Adulta

Estudo molecular

CLN3: delecção 1-kb1

Ausente Presente

CLN3

Rastreio de mutações

Estudo patológico por ME

CLN10

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Introdução

25

1.3.6. Tratamento

Uma vez que, actualmente, não existe um tratamento efectivo para a NCL, a

única forma de actuar na diminuição da sua incidência é através da prevenção da

patologia nas famílias em risco. Nesse sentido procede-se, inicialmente, à

identificação de portadores através da pesquisa da mutação familiar, e

subsequentemente à identificação dos casais em risco para a patologia. A actividade

de prevenção inclui, por isso, o diagnóstico molecular pós-natal, o aconselhamento

genético e, eventualmente, o diagnóstico pré-natal.

Em termos terapêuticos, o principal objectivo consiste em aliviar os sintomas da

doença, incluindo a epilepsia, os problemas comportamentais e a depressão.

Adicionalmente a fisioterapia e a terapia ocupacional poderão ajudar a retardar as

debilidades físicas nos doentes com NCL (rev. em Hobert e Dawnson, 2006). O uso de

suplementos antioxidantes para o tratamento da NCL tem sido investigado desde que

se observou que granulócitos de doentes que tinham uma actividade peroxidase

reduzida, e mais especificamente, que eritrócitos de doentes que apresentavam um

decréscimo da actividade da glutationa peroxidase, aumentaram os níveis de

actividade enzimática com suplementos de selénio (Westermark e Sandholm, 1977).

Os principais dados deste estudo demonstram que o tratamento com antioxidantes em

doentes JNCL parece abrandar, mas não parar, a progressão da doença (Santavuori e

Moren, 1977; Santavuori et al., 1989).

Várias abordagens terapêuticas têm sido investigadas durante os últimos anos

(rev. em Hobert e Dawson et al., 2006), nomeadamente a terapia com chaperones

químicos, a terapia de redução de substrato, a terapia de substituição enzimática, a

terapia com células estaminais e a terapia génica. A sua aplicabilidade ao tratamento

da NCL é a seguir discutida.

Terapia com chaperones químicos

O enrolamento anormal das proteínas está na base da patogénese de várias

doenças neurodegenerativas como a doença de Huntington e a doença Alzheimer

(rev. em Cohen e Kelly, 2003).

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Introdução

26

Uma vez sintetizadas, as proteínas adquirem a sua conformação tridimensional

nativa, de forma a ficarem no estado termodinamicamente mais estável.

Frequentemente, o enrolamento ocorre com a ajuda de proteínas chaperones.

Mutações missense resultam frequentemente em proteínas mal enroladas, e portanto,

com uma estabilidade termodinâmica alterada o que, consequentemente, origina

redução ou até mesmo perda, de actividade biológica. Estudos in vitro, recentemente

realizados (rev. em Hobert e Dawnson, 2006), demonstraram que a adição de

compostos de baixo peso molecular, como inibidores de enzimas e/ou substratos,

podem aumentar a actividade das enzimas mutadas. Tal acontece porque os

inibidores e/ou substratos funcionam como moduladores conformacionais

estabilizando e reestruturando a proteína mutada, restituindo-lhe, pelo menos

parcialmente, actividade biológica.

Em princípio, inibidores de hidrolases podem ser usados para aumentar a

actividade enzimática de CLN1/PPT1 e CLN2/TPP1 quando mutações missense estão

presentes nestas proteínas. No entanto, uma das dificuldades deverá ser o transporte

dos inibidores ao longo da barreira hematoencefálica (rev. em Hobert e Dawnson,

2006). No entanto, a vantagem da terapia com chaperones, reside no facto deste

método conseguir corrigir os enrolamentos quer de proteínas solúveis quer de

proteínas de membrana, sendo potencialmente úteis para o tratamento das diferentes

variantes da NCL causadas por mutações missense.

Terapia de redução do substrato

A enzima PPT1 hidrolisa os substratos palmitoil-cisteína e palmitoil-CoA (Camp e

Hofmann, 1993; Camp et al., 1994). A sua deficiência origina uma acumulação de

péptidos palmitoilados nas células de doentes com a forma INCL/CLN1 (Lu et al.,

1996). A cisteamina hidroliza o palmitoil-CoA in vitro, embora com uma velocidade

substancialmente inferior à da degradação da cistina, e reduz a acumulação de

substratos em células cultivadas (Lu et al., 2002). Presentemente, o efeito de um

fármaco que contém a substância activa cisteamina (Cystagon), na degradação das

inclusões lisossomais que se observam nestes doentes está a ser estudado no

National Institutes of Health Clinical Center, Bethesda, USA.

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Introdução

27

Terapia de substituição enzimática (ERT)

A doença de Gaucher foi a primeira DSL a ser tratada com sucesso com ERT

(Rice et al., 1996; Schiffmann et al., 1997). O facto da LINCL/TPP1 ser igualmente

uma doença monogénica de sobrecarga lisossomal causada pela deficiência numa

enzima solúvel que utiliza a via de transporte dependente da M6P, levou a que a

aplicação da ERT para o tratamento da deficiência em TPP1 fosse investigada. A

forma de proenzima da proteína TPP1 foi expressa em células CHO, purificada e

estudada (Lin e Lobel, 2001). Fibroblastos de doentes com deficiência em TPP1 e

neurónios de ratos em cultura foram capazes de internalizar a enzima recombinante

marcada com a M6P. Adicionalmente, foi observada uma redução na acumulação da

subunidade c da ATP sintetase, indicando que a enzima foi capaz de degradar o

principal composto que se acumula nesta doença (Lin e Lobel, 2001).

Assim, a ERT poderá vir a ser uma opção terapêutica para as formas CLN1,

CLN2 e CLN10, embora se coloque, presentemente, o problema da transposição

eficiente da enzima através da barreira hematoencefálica.

Terapia com células estaminais

Em ratinhos knockout para a enzima PPT1 que receberam enxertos de células

estaminais neuronais foi observado o aumento da actividade enzimática, a redução da

quantidade de material acumulado nas células neuronais, neuroprotecção e uma maior

taxa de sobrevivência (rev. em Hobert e Dawson, 2006). Teste de segurança e eficácia

foram já efectuados em ratinho knockout e em primatas não humanos (Steiner R,

comunicação pessoal, Oregon Health and Science University, USA, StemCells Inc.).

Terapia génica

Vários estudos (Crystal et al., 2004; Passini et al., 2006; Hacket et al., 2005) em

modelos murinos da INCL/CLN1 e LINCL/CLN2 sugerem que a terapia génica directa

no SNC utilizando o adenovirus associado (AAV), resulta no aumento da actividade

enzimática e melhoria da condição fisiopatológica. Testes de segurança e eficácia

foram efectuados em modelos murinos, entre outros, e presentemente encontra-se em

curso, na Universidade Cornell (Nova Iorque, EUA), um ensaio clínico de fase I que

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Introdução

28

visa avaliar o nível de segurança correspondente à administração intracerebral de um

vector recombinante viral em crianças com a forma LINCL da doença.

1.3.7. Modelos animais

Desde que a NCL foi reconhecida como um grupo etio-patológico específico,

doenças com características semelhantes à NCL foram descritas em vários animais

(Bildfell et al., 1995; Bronson et al., 1993; Goebel et al., 1988; Palmer et al., 1997;

http://www.ucl.ac.uk/ncl/mutation.shtml). Entre os animais cuja doença ocorre

naturalmente, e que têm sido usados como modelos de estudo para as diferentes

formas de NCL, existe o cão Longhaired Dachshund (Canine CLN2/TPPI) como

modelo de estudo da forma LINCL; o cão Border collie (Canine CLN5), a ovelha

Borderdale, e a vaca de Devon (Bovine CLN5) como modelos para a forma

vLINCL/CLN5; ovelhas South Hampshire, merinos (Ovine CLN6) e o ratinho nclf

(CLN6) causado pela inserção de uma base no exão 4 (c.316dupC), como modelo de

estudo da forma vLINCL/CLN6; o cão Setter Inglês (Canine CLN8); ratinhos mnd

(motor neuronal degeneration) (CLN8), como modelo de estudo da forma vLINCL

(CLN8); o Bulldog americano (Canine CTSD/CLN10); e a ovelha Swedish landrace

(Ovine CoNCL/CTSD) como modelos de estudo para a forma congénita da NCL.

Vários modelos animais (White Swedish Landrace sheep ou Bulldogs americanos com

aparecimento tardio dos primeiros sintomas) foram descritos com mutações no gene

CTSD, exibindo sintomas idênticos aos observados numa forma severa de NCL

congénita (Awano et al., 2006).

O desenvolvimento tecnológico ao nível da manipulação de genes permitiu criar

estirpes de ratinhos com alterações específicas em genes ortólogos aos genes NCL.

Presentemente existem modelos murinos para as variantes CLN1, CLN3 e CLN5 (rev.

em Jalanko et al., 2006).

A existência de modelos animais naturais e artificiais facilita a investigação dos

mecanismos moleculares etio-patogénicos e a descoberta de novas abordagens

terapêuticas, até porque, para algumas variantes da doença existe um número muito

reduzido de doentes identificados a nível mundial.

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Capítulo 2

Objectivos

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Objectivos

31

2. Objectivos

O Centro de Genética Médica Dr. Jacinto Magalhães (CGMJM) do Instituto

Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, localizado no Porto, dedica-se ao estudo da

Ceroido Lipofuscinose Neuronal desde 2000, integrando a actividade assistencial de

diagnóstico genético desta doença com a investigação da sua patogénese molecular

através da caracterização funcional de alterações genéticas.

Na população portuguesa, a incidência da patologia foi estimada em 1:65.000

nascimentos (Teixeira et al., 2003a). Em virtude da actividade desenvolvida no

CGMJM, desde 2000 foram identificados 53 doentes pertencentes a 43 famílias

portuguesas. O estudo bioquímico e genético revelou que 44% desses doentes eram

afectados com uma das variantes clássicas da NCL, CLN1, CLN2 ou CLN3 (Teixeira

et al., 2003a). Após a identificação do gene CLN6, em 2002 (Gao et al., 2002; Wheeler

et al., 2002), foram identificadas 5 famílias portuguesas afectadas com esta variante

da doença (Teixeira et al., 2003b).

Presentemente pouco se conhece acerca da patogénese molecular da variante

CLN6. Até à data esta variante foi identificada em cerca de 50 famílias de diferentes

origens geográficas afectadas com esta doença, nas quais foram identificadas 28

mutações, uma das quais de natureza polimórfica (http://www.ucl.ac.uk/ncl/cln6.shtml).

Cerca de 50% das mutações identificadas no gene CLN6 são do tipo missense, mas o

seu mecanismo molecular patogénico não é ainda conhecido. Em estudos de

microscopia de imunofluorescência a proteína CLN6 foi observada no RE (Heine et al.,

2004; Mole et al., 2004). Este organelo já anteriormente tinha sido implicado na

fisiopatologia da NCL em virtude de uma outra proteína, a CLN8, ter sido localizada no

RE (Lonka et al., 2004). Das 8 proteínas caracterizadas até à presente data, apenas a

CLN6 e a CLN8 não foram observadas no compartimento lisossomal. Apesar da

função lisossomal se encontrar comprometida em todas as variantes da NCL, hoje

sabe-se que nem todas as proteínas implicadas na doença são proteínas lisossomais.

Assim, o presente trabalho teve como objectivo a caracterização da localização

intracelular da proteína CLN6 visando contribuir para o desenvolvimento futuro de

estudos funcionais e subsequente compreensão dos mecanismos moleculares

fisiopatológicos associados a alterações específicas no gene CLN6. Para a

concretização desses objectivos foram produzidos anticorpos contra péptidos

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Objectivos

32

específicos da proteína CLN6 humana, que inicialmente foram caracterizados em

termos de sensibilidade e de especificidade. Estes anticorpos detectam níveis

endógenos de proteína, constituindo, por isso, uma ferramenta importante para

prosseguir os estudos de biologia celular e molecular nesta variante da NCL.

Os estudos efectuados e descritos no presente trabalho de mestrado estão

inseridos num projecto de investigação em curso, financiado pela Fundação da

Ciência e Tecnologia (FCT/POCTI/SAL-MMO/55374/04), que visa contribuir para o

conhecimento da fisiopatologia da NCL, em especial das variantes raras da doença

associadas à deficiência de proteínas não lisossomais.

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Capítulo 3

Materiais e Métodos

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Materiais e Métodos

35

3. Materiais e Métodos

3.1 Anticorpos

Os anticorpos policlonais CLN6/34 e CLN6/35 foram produzidos em coelho

utilizando péptidos sintéticos, respectivamente MEATRRRQHLGATGGP (aminoácidos

1-16) e KLIERSPRTLPRSIT (aminoácidos 99-113) acoplados a KLH (imunogénio). O

antisoro foi imunopurificado contra o péptido respectivo utilizando a matriz AF-Amino

TOYOPEARL 650M, com uma eficiência de acoplamento de 98%. A eluição foi

efectuada com 100 mM glicina pH 2.5 (Eurogentec, Belgium).

O anticorpo policlonal CLN6/LAL foi produzido em galinha utilizando o péptido

sintético LALVLHQKRKRLFLDS (aminoácidos 242-257) (Davids Biotechnologie

GmbH, Alemanha).

O anticorpo policlonal CLN6/RMB foi oferta da Prof. R-M. Boustany (Duke

University Medical Center, Durham, USA). Este anticorpo foi produzido em ovelha

utilizando o péptido sintético corrrespondente aos aminoácidos 284-301.

Na Tabela 3.1 são resumidos os anticorpos primários e secundários que foram

utilizados no presente estudo bem como a respectiva diluição de trabalho.

3.2. Amostras biológicas

Para a realização deste trabalho foram utilizadas células cultivadas e

crioconservadas em azoto líquido, nomeadamente fibroblastos de pele de doentes

com NCL. Para a utilização de amostras biológicas de doentes em estudos de

investigação, foi obtido consentimento informado e o projecto de investigação em que

os estudos se inserem aprovado pela Comissão de Ética do ex-Instituto de Genética

Médica Dr. Jacinto Magalhães.

As características clínico-patológicas, o perfil enzimático da CLN1/PPT1 e

CLN2/TPP1, e o genótipo dos doentes portugueses com NCL incluídos no presente

trabalho foram caracterizados em estudos prévios (Bessa et al., 2006; Bessa et al.,

2007; Teixeira et al., 2003a; Teixeira et al., 2003b) e são apresentados na Tabela 3.2.

A nomenclatura das mutações está de acordo com as recomendações internacionais

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Materiais e Métodos

36

(den Dunnen e Antonarakis, 2000). A natureza polimórfica das mutações missense foi

avaliada através da pesquisa da alteração génica em 100 alelos de indivíduos

portugueses saudáveis, sem relação familiar conhecida entre si ou com as famílias de

NCL estudadas. Adicionalmente, efectuou-se a análise in silico da causalidade das

mutações missense recorrendo a 4 programas bioinformáticos que analisam as

características biofísicas dos aminoácidos, informação estrutural e/ou filogenética:

SIFT, Sorting Intolerant From Tolerant (http://blocks.fhcrc.org/sift/SIFT.html), Align-

GVGD (http://agvgd.iarc.fr) e Panther (http://www.pantherdb.org/) (Mathe et al., 2006;

Ng e Henikoff, 2001; Ng e Henikoff, 2002; Tavtigian et al., 2006; Thomas et al., 2003).

Tabela 3.1: Descrição dos anticorpos usados no protocolo da imunofluorescência e de Western blot.

Anticorpo Primário Marca (referência) Diluição

Anti-CLN6 coelho1

(abCLN6/34) Eurogentec (não comercial) 1:100

Anti-CLN6 coelho2

(abCLN6/35) Eurogentec (não comercial) 1:100

Anti-CLN6 galinha3 (abCLN6/LAL)

Dabio (não comercial) 1:100

Anti-CLN6 ovelha4 (abCLN6/RMB)

Oferta da Prof. R.-M. Boustany, Duke University, NC, USA

1:4000

Anti-calregulina cabra5 Santa Cruz Biotech inc. (sc-6467) 1:150 Anti-lamp1 ratinho6 Santa Cruz Biotech inc. (sc-20011) 1:150

Anticorpo Secundário

Cabra anti-coelho FITC Santa Cruz Biotech inc. (sc- 2012) 1:200

Burro anti-coelho Cy5 Chemicon (AP182S) 1:150

Cabra anti coelho HRP Pierce (34075) 1:500

Bovino anti-galinha FITC Santa Cruz Biotech inc. (sc-2700) 1:200

Burro anti-ovelha AF594 Molecular Probes (A-21442) 1:250

Burro anti-cabra FITC Santa Cruz Biotech inc. (sc-2024) 1:200

Cabra anti-ratinho FITC Santa Cruz Biotech inc. (sc-2078) 1:200

1 Anticorpo produzido contra o segmento peptídico 1-16 da proteína CLN6 humana; 2 Anticorpo produzido contra o segmento peptídico 99-113 da proteína CLN6 humana; 3 Anticorpo produzido contra o segmento peptídico 242-257 da proteína CLN6 humana; 4 Anticorpo produzido contra o segmento peptídico 284-301 da proteína CLN6 humana; 5 A calregulina é uma proteína extrínseca da membrana do RE; 6 As lamp-1 (Lysosome-associated membrane proteins) são proteínas extrínsecas da membrana lisossomal.

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Materiais e Métodos

37

Tabela 3.2: Espectro mutacional de doentes portugueses com NCL e análise do efeito das mutações na expressão da proteína.

Estudos de expressão

Genótipo Proteína mutada1

Actividade enzimática3 (nmol/h/mg proteína)

Variante genética Alelo 1 Alelo 2 Alelo 1 (S-A-Pa)

Alelo 2 (S-P-A) Nível de mRNA2 PPT1 TPP1

CLN1 (n=1) c.541G>A c.541G>A p.V181M (D-D-D)

p.V181M (D-D-D)

n.d. 4.60 (L) 6.60 (F)

261 (L) 304 (F)

CLN2 (n=1) n.d. n.d n.d. n.d. 0.320 125 (F) 8.03 (F)

CLN3 (n=8) c.462-677del c.462-677del p.C153fs p.C153fs 0.108 (1.000 ± 0.114) 46.0 ± 13.0 (L) 283 ± 115 (L)

(p<0.005) 124 ± 23 (F) 208 ± 86 (F)

CLN5 (n=1) c.565C>T c. 335G>C p.Q189X

p.R112P (NC-N-NC)

0.440 (1.000 ± 0.078)(p=0.025)

40.1 (L) 64.3 (F)

225 (L) 169 (F)

CLN6 (n=5) c.460_462delATC c.460_462delATC p.I154del p.I154del 0.841 (1.000 ± 0.064) 43.3 ± 15.2 (L) 173 ± 86 (L)

CLN6 (n=1) c.460_462delATC c.829_837delGTCGCCTGGinsCCTG

p.I154del W276fs (p=0.265) 111 ± 27 (F) 206 ± 90 (F)

1 A análise do impacto das mutações missense na função da proteína foi efectuada através dos programas SIFT (S), Align-GVGD (A) e Panther (Pa); N, alteração neutra; D, alteração deletéria; NC, alteração não classificada. 2 O nível do mRNA do gene CLN respectivo foi determinado em fibroblastos por PCR a tempo real e os resultados expressos sob a forma de média ± d.p.; o teste de t-student foi utilizado na análise da significância estatística dos resultados obtidos. 3 Os ensaios enzimáticos foram efectuados em duplicado utilizando substratos sintéticos fluorogénicos e a actividade expressa em nmol/h/mg proteína. Os resultados representam a média ± d.p.Intervalo controlo: PPT1: leucócitos (n=60), 52±19, fibroblastos (n=20), 151±50; TPP1: leucócitos (n=60) 247±85, fibroblastos (n=20) 247±90; L, Leucócitos; F, Fibroblastos; A enzima β-galactosidase foi utilizada nos ensaios enzimáticos in vitro como enzima referência. Nas células de doentes com NCL não foram observadas alterações com significado patológico ao nível da actividade enzimática da enzima de referência. As alterações quantitativas com significado patológico foram sombreadas a cinzento. n.d, não determinado.

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Materiais e Métodos

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3.3. Procedimento experimental

3.3.1. Culturas celulares

Após a reposição em cultura, as células cresceram em meio essencial mínimo

suplementado (MEM, Dullbecco’s) com antibióticos (10000U/mL de estreptomicina e

penicilina; 125 mg/mL de kanamicina e 1250 μg/mL de fungizona) e com 10% SVF

(Gibco), e foram mantidas a uma temperatura de 37ºC, numa atmosfera humidificada

com 5% dióxido de carbono. O meio de cultura foi renovado regularmente e a cultura

expandida por tripsinização.

3.3.2. SDS-PAGE e Western Blot

Preparação das Amostras

Cerca de 1.5 x 10 7 células de uma cultura com células regularmente distribuídas

a 80-90% de confluência, foram lavadas com PBS (137 mM cloreto de sódio, 10 mM

monoidrogenofosfato de sódio, 1.8 mM monofosfato de potássio, 2.7 mM cloreto de

potássio, pH 7.4) e tripsinizadas. De seguida, centrifugaram-se as células a 334g

durante 10 minutos (Refrigerated Micro Centrifuge Model 5417R, Eppendorf) e o pellet

foi ressuspendido em 1mL de PBS e sujeito a uma segunda centrifugação nas

mesmas condições.

Para obtenção de extractos totais foi adicionado ao pellet celular tampão de lise

(0.25 mM sacarose; 5 mM imidazole; 1 mM EDTA pH 7.4; 0.05mg/mL PMSF (Sigma) e

inibidores de proteases (Sigma Aldrich, 1:500). A lise celular foi efectuada por

sonicação (Ultrasonic processor Model W-375, Heat Systems-Ultrasonics,Inc)

utilizando 3x 25 impulsos com intervalos de 1 minuto no gelo.

De seguida procedeu-se à quantificação das proteínas do extracto total de

fibroblastos.

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Materiais e Métodos

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Quantificação da Proteína

As proteínas foram quantificadas por um ensaio colorímetro, baseado no método

de Lowry, utilizando um kit comercial (BioRad DC Protein Assay, BioRad).

Este ensaio baseia-se na reacção da proteína com uma solução de tartarato de

cobre alcalino e com o reagente Folin. O desenvolvimento da cor deve-se à reacção

entre as proteínas e o cobre num meio alcalino e à consequente redução do reagente

de Folin pelo complexo formado. O aparecimento de cor resulta essencialmente da

presença dos aminoácidos tirosina e triptofano e em menor extensão de resíduos de

cistina, cisteína e histidina. As proteínas efectuam a redução do reagente Folin pela

perda de 1,2 ou 3 átomos de oxigénio, produzindo uma ou mais espécies reduzidas de

coloração azul característica com uma absorvância máxima de 750nm e mínima de

405nm.

Procedeu-se à leitura da absorvância a 750 nm no Espectrofotómetro UV-Vis

UVmini 1240 (Shimadzu) utilizando uma curva padrão de BSA de concentração

conhecida. A concentração da proteína foi calculada e expressa em mg/mL.

SDS-PAGE

Ao volume de extracto total correspondente a 100 μg de proteína total foi

adicionado 50% tampão da amostra (0.15M Tris pH 8.8, 0.22M SDS, 0.75mM azul de

bromofenol, 34.5% glicerol, 6mM EDTA.NaOH pH 8.8), 10% DTT perfazendo com H2O

o volume final de 60 μL. Procedeu-se à desnaturação das amostras a 90ºC durante 10

minutos, seguida de uma centrifugação a 17400g durante 5 minutos.

As proteínas foram separadas por SDS-PAGE, à temperatura ambiente, num gel

de poliacrilamida 11%. O tampão de electroforese consistiu em 24mM Tris, 250mM

glicerol e 0.05% SDS. A electroforese foi realizada a 30 mA no gel de empacotamento

(11% acrilamida, 0.24M Tris pH 6.8, 0.050% SDS, 0.050% persulfato de amónio e

0.05%TEMED) e a 25mA no gel de resolução (4.2% acrilamida, 0.32M Tris pH 8.8,

0.080% SDS, 0.080% de persulfato de amónio e 0.080% TEMED). O tempo de

electroforese foi variável, dependendo das dimensões do gel, e controlado pela

migração das proteínas padrão de peso molecular conhecido (mistura de 7 proteínas

purificadas que originam bandas numa gama de 14.4 kDa a 116 kDa) (Fermentas). A

solução das proteínas padrão foi utilizada numa concentração final de 25%.

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Materiais e Métodos

40

Western Blot

As proteínas foram transferidas para uma membrana de nitrocelulose utilizando o

tampão de 25mM Tris, 20% metanol, 192mM glicina e 0.02% SDS. A transferência foi

efectuada no aparelho Semi-dry blotting system (The W.E.P. Company) a 275mA,

durante 2 horas. Todas as incubações a seguir descritas decorreram com agitação

constante. A membrana foi incubada em TBS (20mM Tris, 136mM NaCl pH 7,4) com

5% de leite em pó durante 2 horas à T.A. e, a seguir, incubada com o anticorpo

primário (Tabela 3.1), apropriadamente diluído em TBS 5% leite em pó a 4ºC durante

16-20 horas. A remoção do excesso de anticorpo foi efectuada por incubação da

membrana em TBST (TBS com 0.1% Tween20) durante 10 minutos à T.A.. De

seguida procedeu-se à incubação com uma solução de anticorpo secundário (Tabela

3.1), previamente diluído em TBST com 5% leite em pó, durante 2 horas à T.A. Após

incubação da membrana 5 minutos em TBST (2 lavagens), a detecção foi realizada

por quimioluminescência, usando o kit Super Signal West Dura extended duration

substrate kit (Pierce Biotechnology). A membrana foi exposta a um filme CL-X Posure

(Pierce Biotechnology) numa cassete de revelação (Hypercassette RPV 1642,

Amersham). A revelação do filme foi efectuada pelo processador (Fuji Medical Film

Processor FPM-100A , Fuji Photo Film CO.LTD).

As imagens do western blot foram tratadas através do programa GNU Image

Manipulation Program 2.4.

3.3.3. Imunofluorescência

Após a lavagem das células com PBS e tripsinização, procedeu-se ao seu

plaqueamento em lamelas (Roth), colocadas em caixas de petri (Nunc), com

capacidade máxima de 3 mL e um volume de 8.8 cm2. Quando as células se

apresentaram 80-90% confluentes, retirou-se o meio de cultura e procedeu-se à sua

lavagem, à T.A., incubando 3x5min com PBS. O procedimento decorreu à T.A. até à

incubação com o anticorpo primário. A fixação foi efectuada com uma solução de 4%

formaldeído (Formaldehyde Free Methanol 16% UltraPure EM Grade, Polyscience) em

PBS, durante 25 minutos, seguida de 3 lavagens (5 min por lavagem) com PBS. Para

a permeabilização das células utilizou-se 0.1% Triton X-100/PBS, durante 2 minutos.

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Materiais e Métodos

41

Após 3 lavagens de 5 min com PBS, as células foram incubadas com PBS/1%

BSA/0.01% Triton X-100 (solução de bloqueamento), durante 60 minutos. De seguida,

procedeu-se à incubação com o anticorpo primário (Tabela 3.1) previamente diluído

em solução de bloqueamento, O.N., a 4ºC. Após 3 lavagens de 5 min à T.A., as

células foram incubadas com o anticorpo secundário adequado (Tabela 3.1),

previamente diluído em solução de bloqueamento, durante 2 horas à T.A. Lavaram-se

as células 3 vezes em PBS e procedeu-se à montagem das lâminas (Roth) com meio

de montagem (Slow Fade Antifade, Invitrogen). Nos ensaios de co-localização

procedeu-se do mesmo modo, utilizando soluções adequadas de anticorpos primários

ou de anticorpos secundários.

No ensaio com a faloidina, após permeabilização, incubaram-se as células com

uma solução do conjugado faloidina-FITC (50 μg/mL) em PBS, durante 40 min à T.A.

Nos estudos com marcação dupla, inicialmente procedeu-se à exposição das células

com os anticorpos primário e secundário, e de seguida à marcação com o conjugado

faloidina-FITC. Lavaram-se as células 3 vezes em PBS e procedeu-se à montagem

das lâminas (Roth) com meio de montagem (Slow Fade Antifade, Invitrogen).

No ensaio com marcação dupla com o DAPI, após a exposição das células aos

anticorpos primário e secundário, adicionou-se o meio de montagem Vectashield com

DAPI (1,5μg/mL) (Vector Laboratories).

O segmento peptídico usado na imunização, também designado por péptido

bloqueador, apresenta homologia para a epítope do anticorpo anti-CLN6. No ensaio de

competição, procedeu-se à incubação prévia do anticorpo com o péptido. A

especificidade do perfil de imunofluorescência foi avaliada por comparação do padrão

de marcação obtido na presença do anticorpo primário e do complexo (anticorpo

primário-péptido). Foi usada uma concentração de PB/35 47x superior à de anticorpo

CLN6/35 e de PB/LAL 50x superior à de anticorpo CLN6/LAL.

As lâminas foram observadas no microscópio de fluorescência Nikon Eclipse

E400 acoplado a uma câmara fotográfica Nikon Coolpix 950. As imagens resultantes

de imunofluorescência foram tratadas com o programa Wright Cell Imaging Facility –

ImageJ.

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Capítulo 4

Resultados

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Resultados

45

4. Resultados

O conhecimento preciso acerca da localização celular das proteínas não

lisossomais implicadas na fisiopatologia primária da NCL, como é o caso da proteína

CLN6, é importante, nomeadamente para o desenvolvimento de estudos funcionais e

subsequente compreensão dos mecanismos moleculares patogénicos associados a

mutações entretanto identificadas.

A biologia celular da proteína CLN6 tem sido investigada desde 2004. Nos

trabalhos publicados até à presente data, os resultados foram obtidos com anticorpos

policlonais produzidos contra péptidos específicos da proteína CLN6 humana (Heine et

al., 2004; Mole et al., 2004; Persaud-Sawin et al., 2007).

No sentido de contribuir para a compreensão da estrutura e localização

intracelular da proteína CLN6 foram sintetizados anticorpos contra 3 regiões peptídicas

distintas, aminoácidos 1-16 (anticorpo anti-CLN6/34), 99-113 (anticorpo anti-CLN6/35)

e aminoácidos 242-257 (anticorpo anti-CLN6/LAL), da proteína CLN6 humana. A

sequência do péptido 99-113 foi confirmada por sequenciação (Instituto de Tecnologia

Química e Biológica, Lisboa).

A Figura 4.1 compara a posição dos diferentes péptidos usados na produção dos

anticorpos policlonais anti-CLN6. A maioria dos péptidos ocorre em posições da

proteína em que a sequência dos aminoácidos é conservada.

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Resultados

46

Figura 4.1: Alinhamento da sequência primária da proteína CLN6 de diferentes espécies. O alinhamento foi efectuado utilizando o programa bioinformático ClustalW (http://www.ebi.ac.uk/Tools/clustalw/index.html). A sequência dos péptidos usados na produção de anticorpos anti-CLN6 está identificada com barras coloridas: CLN6/1747 (aminoácido 1-15) e CLN6/1749 (aminoácido 28-39) (Mole et al., 2004) em azul, CLN6/RMB (aminoácido 284-301) (Persaud-Sawin et al., 2007) em verde, CLN6/34, CLN/35 e CLN6/LAL (presente estudo) em rosa. O péptido utilizado na produção do anticorpo CLN6/34 (presente estudo, aminoácidos 1-16) é praticamente sobreponível ao péptido correspondente ao anticorpo CLN6/1747.

Homo sapiens MEATRRRQ-HLGATGGPGAQLGASFLQARHGSVSADEAARTAPFHLDLWFYFTLQNWVLDFGRPIAMLVFPLEWFP 75 Macaca mulatta MTVSLP-------------YLISSIIQ--HGSVSADEAARTAPFHLDLWFYFTLQNWVLDFGRPIAMLVFPLEWFP Mus musculus MEAATRRR-QLLGAAG---GPGVAFVQARHGSVKAEDKDRTAPFHLDLWFYFTLQNWVLDFGRPIAMLVFPIQWFP Bos taurus MEAAARRR-HPGAAGGPGAQPGASFLQARHSSVKADEAAGTAPFHLDLWFYFTLQNWVLDFGRPIAMLVFPLEWFP Ovis aries MEAAARRR-HPGAAGGSGAQPGASFLQARHSSVKADEAAGTAPFHLDLWFYFTLQNWVLDFGRPIAMLVFPLEWFP Canis lupus familiaris MEAAARRRQHPGAAGGAGAQPGASFLQARHSSGKADEAVGTAPFHLDLWFYFTLQNWVLDFGRPIAMLVFPLEWFP Gallus gallus MQGSARRRPFPAAAPGS-PQPSGPLYAGRHGAAKNEDTSKTSPFHLDLWFYFTLQNWVLDFGRPIAMIILPLEWFP Danio rerio ----MRRR-------PQSATFTSAFLRAGSEKTTAAATTR-SQFHTDLWLCFTVQNWILDFGRPIAMIIMPLEWFP Homo sapiens LNKPSVGDYFHMAYNVITPFLLLKLIERSPRTLPRSITYVSIIIFIMGASIHLVGDSVNHRLLFSGYQHHLSVRE 150 Macaca mulatta LNKPSVGDYFHMAYNVITPFLLLKLIERSPRTLPRSITYVSIIIFIMGASIHLVGDSVNHRLLFSGYQHHLSVRE Mus musculus LNKPSVGDYFHMTYNIITPFLLLKLIERSPRTLPRSIVYVSIITFIMGASIHLVGDSVNHRLLFSGYQHHLSVRE Bos taurus LNKPSVGDYFHMAYNIITPFLLLQLIERCPRTLPRSLIYVSIITFIMGASIHLVGDSVNHRLIFSGYQNHLSVRE Ovis aries LNKPSVGDYFHMAYNIITPFLLLKLIERCPRTLPRSLIYVSIITFIMGASIHLVGDSVNHRLIFSGYQNHLSVRE Canis lupus familiaris LNKPSVGDYFHMAYNIITPFLLLKLIERSPRTLPRSVIYVSIITFVMGASIHLVGDSVNHRLLFSGYQHHLSVRE Gallus gallus LNKPSAGDYFPMAYNVITPFLLLKLIERSPKTLPRSMVYVSIITFVMGASIHLVGDSVNHRLIFSGYQHHLSVRE Danio rerio LNKPSVGDYFHMAYNVITPFLLLKLIERSPTALPRSAVYLSIITFVMGASIHLVGDSINHRLILSGYQLHLSVRE Homo sapiens NPIIKNLKPETLIDSFELLYYYDEYLGHCMWYIPFFLILFMYFSGCFTASKAESLIPGPALLLVAPSGLYYWYLV 225 Macaca mulatta NPIIKNLKPETLIDSFELLYYYDEYLGHCMWYIPFFLILFMYFSGCFTACKAERWMPGPALLLVAPSGLYYWYLV Mus musculus NPIIKNLKPETLIDSFELLYYYDEYLGHCMWYIPFFLILFMYFSGCFTTCKAESHMPGPALLLVVPSGLYYWYLV Bos taurus NPIIKNLKPETLIDSFELLYYYDEYLGHSMWYIPFFLILFMYFSSCFTPTKAESSMPGAALLLVVPSGLYYWYLV Ovis aries NPIIKNLKPETLIDSFELLYYYDEYLGHSMWYIPFFLILFMYFSGCFTPTKAESSMPGAALLLVVPSGLYYWYLV Canis lupus familiaris NPIIKNLSPETLIDSFELLYYYDEYLGHCMWYVPFFLILFIYFSGCFTPTKAESSMPGAALLLAMPSGLYYWYLV Gallus gallus NPIIRNLKPETLIDSFELLYYYDEYLGHSMWYIPFFLILFIYFTGCFTPDEDESRMPMSALLLTGPSSLYYWYLV Danio rerio NPIIKDLKPASLIDSFELLYYYDEHLGHSMWYIPFFLIIFLYFTGCFTQVKDEK-MSTSGWLLLGPSAVYYWYLI Homo sapiens TEGQIFILFIFTFFAMLALVLHQKRKRLFLDSNGLFLFSSFALTLLLVALWVAWLWNDPVLRKKYPGVIYVPEPW 300 Macaca mulatta TEGQIFILFIFTFFAMLALVLHQKRKRLFLDSNGLFLFSSFTLTLLLVALWVAWLWNDPVLRKKYPGVIYVPEPW Mus musculus TEGQIFILFIFTFFAMLALVLHQKRRRLFLDSNGLFLLYSFALTLSLVALWVAWLWNDPVLRKKYPGVIYVPEPW Bos taurus TEGQIFILFIFTSFAMLALVLHQKRKRLFLDSNGLFLFYSFALTLLLVALWVAWLWNDPVLRKKYPGVIYVPEPW Ovis aries TEGQIFILFIFTSFAMLALVLHQKRKRLFLDSNGLFLFYSFALALLLVALWVAWLWNDPVLRKKYPGVIYVPEPW Canis lúpus familiaris TEGQIFILFIFTFFAMLALVLHQKRKRLFLDSNGLFLFYSFALTLLLVALWVAWLWNDPVLRKKYPGVIYVPEPW Gallus gallus TEGQIFILYIFTFFAMMALVMHQKRKGLVLDSNGLFLFYSFIITLVLIAVWVVWLWNDKTLRKKYPGVIYIPEPW Danio rerio TEGQIFVLYVFTFFAMVATVMRQRRMGFVLDSNGRFLFYNFIITLGLVLVWVAYLWNDKVLRKKYPGIIYVPEPW Homo sapiens AFYTLHVSSRH------ 311 Macaca mulatta AFYTLHVSSRH------ 297 Mus musculus AFYTLHVSSQQ------ 308 Bos taurus AFYTLHVSSQH------ 311 Ovis aries AFYTLHVSSQ------- 310 Canis lupus familiaris AFYTLHVSSRP------ 312 Gallus gallus AFYTLHMSNLHAAKEGL 317 Danio rerio SFYTLHIKGS------- 298

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Resultados

47

4.1. Avaliação da sensibilidade e especificidade de anticorpos policlonais anti-

CLN6

Inicialmente procedeu-se ao estudo da sensibilidade dos anticorpos anti-

CLN6/34 e anti-CLN6/35. A proteína existente em extractos totais de FHC de

indivíduos saudáveis foi analisada por SDS-PAGE e Western blot (Figura 4.2). Em

FHC foi observada uma banda com cerca de 40 kDa, de tamanho ligeiramente

superior ao calculado para a sequência primária da proteína CLN6 (36 kDa). O perfil

de migração obtido com os anticorpos anti-CLN6/34 e anti-CLN6/35 foi semelhante.

Os resultados obtidos indicam que estes anticorpos têm sensibilidade para a detecção

de níveis endógenos de proteína de FHC.

Figura 4.2: Detecção da proteína CLN6 endógena de FHC com o anticorpo anti-CLN6/34. Extractos totais foram submetidos a SDS-PAGE, as proteínas transferidas para uma membrana de nitrocelulose e analisadas com o anticorpo anti-CLN6/34 de acordo com o procedimento experimental descrito no Capítulo 3 “Materiais e métodos”.

Com o objectivo de avaliar a sensibilidade do anticorpo para a detecção de níveis

endógenos de proteína CLN6 nativa realizaram-se estudos de microscopia de

imunofluorescência recorrendo a FHC de indivíduos saudáveis.

Com o anticorpo anti-CLN6/35 observou-se marcação membranar,

essencialmente de tipo tubular, e uma marcação ponteada na região central da célula,

muito provavelmente no núcleo (Figura 4.3_1). Um padrão de marcação semelhante

foi obtido com o anticorpo anti-CLN6/34 (não mostrado). No sentido de avaliar a

especificidade dos anticorpos procedeu-se à incubação diferencial das células com o

soro pré-imune de coelho (Figura 4.3_4) e com o complexo anti-CLN6/35/péptido

bloqueador (Figura 4.3_6). Nestes casos, as células apresentaram um padrão

bastante diferenciado do observado nas células expostas ao anticorpo primário anti-

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Resultados

48

CLN6/35 (Figura 4.3_1) e ao soro imune não purificado CLN6/35 (Figura 4.3_5). As

células expostas ao soro imune não purificado (Figura 4.3_5) apresentam marcação

em compartimentos celulares similares aos marcados com o anticorpo primário anti-

CLN6/35 (Figura 4.3_1). Quando as células foram expostas a apenas um dos

anticorpos (primário ou secundário) não foi observada, tal como o esperado, qualquer

coloração (Figura 4.3_2 e Figura 4.3_3).

Figura 4.3: Localização intracelular da proteína CLN6 de FHC com o anticorpo anti-CLN6/35. Os estudos de microscopia de imunofluorescência foram efectuados de acordo com o procedimento descrito na Capítulo 3 “Materiais e métodos”. 1 - Anticorpo anti-CLN6/35 e anticorpo secundário conjugado com FITC; 2 - Sem anticorpo primário e com anticorpo secundário conjugado com FITC; 3 - Anticorpo anti-CLN6/35 e sem anticorpo secundário; 4 - Soro pré-imune CLN6/35 e anticorpo secundário conjugado com FITC; 5 - Soro imune não purificado CLN6/35 e anticorpo secundário conjugado com FITC; 6 - Anticorpo anti-CLN6/35 previamente conjugado com o péptido bloqueador CLN6/35 (ensaio de competição) e anticorpo secundário conjugado com FITC.

Com o anticorpo anti-CLN6/LAL observou-se uma coloração ponteada que

sugere uma localização nuclear para a proteína CLN6 (Figura 4.4_1). No sentido de

excluir a possibilidade de detecção de outros padrões de coloração testaram-se várias

condições experimentais, nomeadamente fixação e permeabilização das células com

metanol, acetona, ou a mistura 1:1 metanol/acetona, permeabilização das células com

0.2% ou 0.5% Triton X-100, e exposição das células a um solução de bloqueamento

com diferentes concentrações de Triton X-100. Em todas as condições experimentais

testadas o padrão de marcação observado era similar ao apresentado na Figura

2 3

4

1

5 6

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Resultados

49

4.4._1, obtido nas condições descritas na Capítulo 3 “Materiais e métodos”, ou não foi

detectada qualquer marcação. Este mesmo procedimento de optimização do sinal de

marcação foi efectuado para o caso dos anticorpos anti-CLN6/34 e anti-CLN6/35,

sendo que as imagens apresentadas referem-se ao procedimento descrito em

“Materiais e métodos”.

No intuito de avaliar a especificidade do anticorpo anti-CLN6/LAL procedeu-se à

incubação diferencial das células com o soro pré-imune de coelho (Figura 4.4_4) e

com o complexo anti-CLN6/LAL/péptido bloqueador (Figura 4.4_6). Tal como

observado para o anticorpo anti-CLN6/35, nestes casos as células também

apresentaram um padrão bastante diferenciado do observado nas células expostas ao

anticorpo primário anti-CLN6/LAL (Figura 4.4_1). Quando as células foram expostas a

apenas um dos anticorpos, primário ou secundário, (Figura 4.4_2 e Figura 4.4_3) ou

ao soro imune não purificado (Figura 4.4_5) foi observada alguma coloração; no

entanto, o padrão da marcação era claramente diferenciado do padrão observado em

células expostas ao anticorpo anti-CLN6/LAL.

Figura 4.4: Localização intracelular da proteína CLN6 de FHC com o anticorpo anti-CLN6/LAL. Os estudos de microscopia de imunofluorescência foram efectuados de acordo com o procedimento descrito na Capítulo 3 “Materiais e métodos”. 1 - Anticorpo anti-CLN6/LAL e anticorpo secundário conjugado com FITC; 2 - Sem anticorpo primário e com anticorpo secundário conjugado com FITC; 3 - Anticorpo anti-CLN6/LAL e sem anticorpo secundário; 4 - Soro pré-imune CLN6/LAL e anticorpo secundário conjugado com FITC; 5 - Soro imune não purificado CLN6/LAL e anticorpo secundário conjugado com FITC; 6 - Anticorpo anti-CLN6/LAL previamente complexado com o péptido bloqueador CLN6/LAL (ensaio de competição) e anticorpo secundário conjugado com FITC.

3 1 2

6 4 5

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Resultados

50

4.2. Estudos de co-localização por imunofluorescência da proteína endógena de

FHC

A proteína CLN6 integra um grupo de proteínas implicadas em doenças

genéticas caracterizadas por alterações lisossomais. Para a maioria dessas proteínas

(CLN1, CLN2, CLN3, CLN5, CLN7, CLN10) está documentada a sua localização, pelo

menos parcial, nos lisossomas (rev. em Kyttällä et al., 2006). Porém, a proteína CLN6

sobre expressa em células HEK293 (Mole et al., 2004) ou em células BHK21 (Heine et

al., 2004), foi observada no RE.

No sentido de estabelecer a localização celular da proteína endógena detectada

pelos anticorpos anti-CLN6/34 e anti-CLN6/35, procedeu-se inicialmente ao estudo de

co-localização com anticorpos específicos para proteínas marcadoras do retículo

endoplasmático (anti-calregulina) e do lisossoma (anti-lamp-1). A calregulina e lamp-1

são proteínas periféricas presentes na membrana do RE e lisossoma,

respectivamente. Os resultados obtidos são apresentados na Figura 4.5. Dado que foi

observado um padrão de marcação semelhante com ambos os anticorpos, na figura

exemplifica-se o resultado obtido apenas com um dos anticorpos, anti-CLN6/35.

Os resultados obtidos sugerem que a proteína CLN6 não co-localiza com

proteínas do RE (Figura 4.5_3) ou do lisossoma (Figura 4.5_6). No entanto, é de

referir que, nas células marcadas com o anticorpo anti-CLN6/35, adicionalmente à

marcação detectada na região central e que deverá corresponder ao núcleo celular, foi

observada alguma marcação perinuclear (Figura 4.5_2). Porém, dada a diferença de

intensidade de sinal obtida com este anticorpo e o anticorpo anti-calregulina, não foi

possível avaliar a possibilidade de co-localização destas proteínas.

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Resultados

51

Figura 4.5: Co-localização da proteína CLN6 de FHC com proteínas marcadoras do RE e do lisossoma. Os estudos de microscopia de imunofluorescência foram efectuados de acordo com o procedimento descrito na Capítulo 3 “Materiais e métodos”. 1 - Anti-calregulina e anticorpo secundário conjugado com FITC (verde); 2 - Anti-CLN6/35 e anticorpo secundário conjugado com Cy5 (vermelho); 3 - Sobreposição das imagens obtidas com anti-calregulina e anti-CLN6/35; 4 - Anti-lamp1 e anticorpo secundário conjugado com FITC (verde); 5 - Anti-CLN6/35 e anticorpo secundário conjugado com Cy5 (vermelho); 6 - Sobreposição das imagens obtidas com os anticorpos anti-lamp1 e anti-CLN6/35.

Foram, a seguir, efectuados estudos de marcação dupla com o anticorpo anti-

CLN6/35 e DAPI (corante que liga fortemente o DNA) em amostras de FHC. A co-

localização observada (Figura 4.6_3) indica que a proteína CLN6 está, de facto,

presente no núcleo, mais precisamente ao nível do nucleoplasma. De referir que os

estudos de co-localização com o anticorpo anti-lâmina A excluíram a proteína CLN6 da

lâmina nuclear (não mostrado). Para confirmação da localização da proteína CLN6 no

nucleoplasma, foram efectuados estudos de co-localização da proteína CLN6 com

anticorpos anti-HP1 (proteína marcadora da heterocromatina) e anti-histona H3

(proteína marcadora dos nucleossomas). No entanto, não foi possível estabelecer as

condições experimentais para a utilização destes anticorpos em estudos de

imunofluorescência.

2 3 1

4 5 6

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Resultados

52

Figura 4.6: Co-localização da proteína CLN6 de FHC com DAPI. Os estudos de microscopia de imunofluorescência foram efectuados de acordo com o procedimento descrito na Capítulo 3 “Materiais e métodos”. 1 – DAPI-UV (azul); 2 - Anti-CLN6/35 e anticorpo secundário conjugado com Cy5 (vermelho); 3 - Sobreposição das imagens obtidas com anti-CLN6/35 e DAPI.

A questão que, de seguida, se tentou esclarecer foi a localização da marcação

intracelular do tipo tubular observada em FHC com os anticorpos anti-CLN6/34 e anti-

CLN6/35. Nesse sentido, procedeu-se à marcação dupla das células utilizando

faloidina complexada com FITC. A faloidina é uma toxina fúngica isolada de Amanita

phalloides. A toxicidade da faloidina deve-se à sua capacidade de ligação à actina F.

Como resultado desta ligação, a actina torna-se fortemente estabilizada. A marcação

amarela (Figura 4.7_3) indica que a CLN6 das regiões celulares onde é detectada sob

a forma de uma estrutura do tipo tubular co-localiza com a actina.

Figura 4.7: Co-localização da proteína CLN6 de FHC com os anticorpos anti-CLN6/35 e faloidina-FITC. Os estudos de microscopia de imunofluorescência foram efectuados de acordo com o procedimento descrito na Capítulo 3 “Materiais e métodos”. 1 - faloidina-FITC (verde); 2 - Anti CLN6/35 e anticorpo secundário conjugado com Cy5 (vermelho); 3 - Sobreposição das imagens obtidas com o anticorpo faloidina e anti-CLN6/35.

3 1 2

3 1 2

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Resultados

53

Dado que com os anticorpos anti-CLN6/35 e anti-CLN6/LAL se observou um

padrão de marcação nuclear semelhante, procedeu-se a estudos de co-localização

com estes 2 anticorpos. A marcação amarela (Figura 4.8_3) resultante da

sobreposição dos padrões de marcação (Figura 4.8_1 e Figura 4.8_2) sugere que

estes anticorpos, produzidos contra epítopes distintos, reconhecem a proteína

endógena na mesma localização sub-celular.

Figura 4.8: Co-localização da proteína CLN6 de FHC com os anticorpos anti-CLN6/35 e anti-CLN6/LAL. Os estudos de microscopia de imunofluorescência foram efectuados de acordo com o procedimento descrito na Capítulo 3 “Materiais e métodos”. 1 - Anti-CLN6/LAL e anticorpo secundário conjugado com FITC (verde); 2- Anti-CLN6/35 e anticorpo secundário conjugado com Cy5 (vermelho); 3 - Sobreposição das imagens obtidas com anti-CLN6/LAL e anti-CLN6/35.

Com o objectivo de compreender se o padrão de marcação ponteado nuclear

observado com os anticorpos anti-CLN6/34, anti-CLN6/35 e anti-CLN6/LAL era

específico da proteína endógena e independente da natureza da epítope do anticorpo,

procedeu-se à comparação do padrão de marcação obtido com os anticorpos anti-

CLN6/35 e anti-CLN6/RMB (Figura 4.9). Com o anticorpo anti-CLN6/RMB observou-

se, em planos de focagem distintos, marcação parcial ponteada no citossol (Figura

4.9_1) e no núcleo (Figura 4.9_2a) de FHC. A marcação citossólica deverá

corresponder à presença da proteína no CG e endossomas de reciclagem, tal como,

previamente descrito (Persaud-Sawin et al., 2007). Relativamente à marcação nuclear,

quando se efectuaram estudos de co-localização com os estes dois anticorpos anti-

CLN6, verificou-se sobreposição do sinal obtido (Figura 4.9_4). Esta observação

reforça a especificidade da marcação nuclear obtida para a proteína CLN6.

1 2 3

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Resultados

54

Figura 4.9: Co-localização da proteína CLN6 de FHC com os anticorpos anti-CLN6/35 e anti-CLN6/RMB. Os estudos de microscopia de imunofluorescência foram efectuados de acordo com o procedimento descrito na Capítulo 3 “Materiais e métodos”. 1, 2a e 2b -Anticorpo CLN6/RMB e anticorpo secundário conjugado com AF594 (1 e 2a, variação de plano de focagem); 3 - Anti CLN6/35 e anticorpo secundário conjugado com Cy5; 4 - Sobreposição das imagens obtidas com os anticorpos anti-CLN6/RMB e anti-CLN6/35.

A análise in silico da sequência linear da proteína CLN6 quanto à existência de

sequências sinal putativas de endereçamento para o núcleo, foi efectuada pelo

programa bioinformático NucPred (Brameier et al., 2007). O resultado obtido foi de

0.36, ao qual corresponde uma especificidade de cerca de 0.60. Os NLS’s previstos

nesta análise correspondem às sequências lineares 5RRR7, 249KRKR252 e 287RKKY290.

Adicionalmente, o programa bioinformático ELM (The eukaryotic linear motif resource

for functional sites in proteins, http://www.elm.eu. org/) prevê a existência de um

motivo (267ALTLLLV273) envolvido na ligação a receptores nucleares. No entanto, no

presente trabalho não foi possível avaliar o significado funcional destas sequências.

2b 4 3

1 2a

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Resultados

55

4.3. Estudos de imunofluorescência em células murinas

No sentido de explorar a possibilidade de localização diferencial da proteína

CLN6 em função do tipo de célula, desenvolveram-se estudos de imunofluorescência

com o anticorpo anti-CLN6/35 para detecção da proteína endógena em células

murinas NIH3T3 (Figura 4.10). Nestas células, observou-se um padrão de marcação

ponteada na região perinuclear e nuclear. A marcação dupla destas células com o

anticorpo anti-calregulina não sugere co-localização da proteína CLN6 com esta

proteína marcadora do RE. O padrão de marcação nuclear parece ser semelhante ao

observado em FHC. Porém, nas células murinas não foi observado o padrão de

marcação do tipo tubular.

Figura 4.10: Co-localização da proteína CLN6 em células murinas NIH3T3 com os anticorpos anti-CLN6/35 e anti-calregulina. Os estudos de microscopia de imunofluorescência foram efectuados de acordo com o procedimento descrito na Capítulo 3 “Materiais e métodos”. 1 - Anticorpo anti-calregulina e anticorpo secundário conjugado com FITC; 2 - Anticorpo anti-CLN6/35 e anticorpo secundário conjugado com cy5; 3 - Sobreposição das imagens obtidas com anti-calregulina e anti-CLN6/35.

4.4. Avaliação do efeito de mutações no gene CLN6 sobre a localização

intracelular da proteína

Em FHC de doentes com a variante CLN6 e homozigóticos para a mutação

c.460_462delATC, p.I154del, foi detectada, com o anticorpo anti-CLN6/34, uma banda

que co-migra com a banda (40 kDa) observada em fibroblastos controlo (Figura 4.11).

3 1 2

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Resultados

56

Figura 4.11: Detecção da proteína CLN6 endógena de FHC de doentes com a variante CLN6. Extractos totais foram submetidos a SDS-PAGE, as proteínas transferidas para uma membrana de nitrocelulose e analisadas com o anticorpo anti-CLN6/34 de acordo com o procedimento experimental descrito no Capítulo 3 “Materiais e métodos. 1- Indivíduo saudável (controlo); 2- Doente homozigótico para a mutação p.I154del.

Estudos de imunofluorescência realizados em fibroblastos de doentes

homozigóticos para a mutação c.460_462delATC, p.I154del (Figura 4.12_2) ou

compostos heterozigóticos que apresentam num alelo essa mutação e no outro alelo a

alteração c.829_837 delGTCGCCTGGinsCCTG, W276fs (Figura 4.12_3) sugerem que

a delecção in frame do resíduo de isoleucina 154 não interfere com a localização da

proteína.

Figura 4.12: Localização intracelular da proteína CLN6 de fibroblastos cultivados de doentes com a variante CLN6. Os estudos de microscopia de imunofluorescência foram efectuados de acordo com o procedimento descrito na Capítulo 3 “Materiais e métodos”. As células foram marcadas com o anticorpo anti-CLN6/35 e o anticorpo secundário conjugado com FITC. 1 - Indivíduo saudável (células controlo); 2 - Doente homozigótico para a mutação p.I154del; 3 - Doente composto heterozigótico (p.I154del, p.W276fs).

1 2 3

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Resultados

57

4.5. Impacto de mutações noutros genes CLN na localização intracelular de

CLN6

As semelhanças clinicopatológicas que se observam entre as diferentes variantes da

NCL sugerem redundância estrutural e/ou funcional ao nível das proteínas implicadas nesta

patologia. De facto, estudos de co-imunoprecipitação sugerem que a proteína CLN5 deverá

associar-se às proteínas CLN3 e CLN2 através de domínios específicos, localizados,

respectivamente, no segmento C-terminal e N-terminal de CLN5 (Vesa et al., 2002). No

sentido de investigar esta possibilidade procedeu-se ao estudo da localização celular da

proteína CLN6 em linhas celulares de fibroblastos de doentes com diferentes variantes de

NCL (CLN1, CLN2, CLN3 e CLN5) disponíveis em banco, no laboratório, à data de

realização do presente estudo. As características genéticas e bioquímicas destas linhas

celulares são documentadas na Capítulo 3 “Materiais e métodos”.

Os resultados obtidos nos estudos de microscopia de imunofluorescência com o

anticorpo anti-CLN6/35 são apresentados na Figura 4.13. Em todas as linhas celulares

estudadas observou-se marcação parcial no núcleo e no citopalsma, sendo o padrão

semelhante ao detectado em células controlo. Face a estes resultados, as mutações nos

genes CLN1 (p.V181M) (Figura 4.13_2), CLN3 (p.C153fs) (Figura 4.13_4) e CLN5

(p.Q189X e/ou p.R112P) (Figura 4.13_5) não deverão interferem com a localização correcta

da proteína CLN6.

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Resultados

58

Figura 4.13: Efeito de mutações nos genes CLN na localização intracelular da proteína CLN6. Fibroblastos humanos de doentes com diferentes variantes de NCL marcados com o anticorpo anti-CLN6/35 e o anticorpo secundário conjugado com FITC. 1 - Indivíduo saudável (células controlo); 2 - Doente com a variante CLN1 e homozigótico para a mutação p.V181M; 3 - Doente com a variante CLN2; 4 - Doente com a variante CLN3 e homozigótico para a mutação p.C153fs; 5 - Doente com a variante CLN5 e composto heterozigótico, apresentando a mutação p.Q189X no produto de um alelo e a mutação p.R112P no produto do outro alelo.

3 1 2

4 5 4

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Capítulo 5

Discussão

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Discussão

61

5. Discussão

Os lisossomas são organelos celulares que contêm enzimas hidrolíticas. A

deficiência em enzimas lisossomais está associada a doenças graves, genericamente

designadas por Doenças de Sobrecaga Lisossomal, demonstrando a importância

destes organelos na fisiologia celular.

A Ceroido Lipofuscinose Neuronal (NCL) é um grupo de doenças

neurodegenerativas autossómicas recessivas e geralmente fatais, caracterizadas por

uma disfunção ao nível do lisossoma que está associada à presença de inclusões com

características de ceroido e lipofuscina, especialmente em células neuronais. Estas

inclusões têm também sido associadas ao processo de envelhecimento celular (rev.

em Seehafer e Pearce, 2006)

Apesar das primeiras descrições clínicas da doença terem sido efectuadas no

início do século XIX (Batten, 1903; Batten, 1914; Bielschowsky, 1913), os primeiros

genes (CLN1 e CLN3) só foram identificados em 1995 (The IBDC, 1995; Vesa et al.,

1995).

Durante a última década foram identificados oito genes (CLN1, CLN2, CLN3,

CLN5, CLN6, CLN7, CLN8 e CLN10) e descritas mais de 100 mutações

(http://www.ucl.ac.uk/ncl/mutation.shtml). A esta heterogeneidade genética e alélica

está associada uma variabilidade clínica considerável. Inicialmente, entre a década de

60 e 80, a NCL compreendia 4 subtipos que eram classificados, de acordo com a

idade de início, a progressão clínica e as características ultra-estruturais das inclusões

lisossomais, em forma infantil (INCL/CLN1), infantil-tardia (LINCL/CLN2), juvenil

(JNCL/CLN3) e adulta (ANCL). Mais recentemente, variantes destes subtipos têm sido

identificadas, muitas das quais resultantes de mutações em mais do que um gene. Por

exemplo, variantes do subtipo clássico LINCL/CLN2 podem ser causadas por

mutações nos genes CLN5, CLN6, CLN7, CLN8 ou CLN10. (rev. em Siintola et al.,

2006a). Tal como para outras doenças monogénicas lisossomais, um espectro

alargado de fenótipos clínicos, desde formas muito graves, como a forma congénita

associada a mutações no gene CLN10, a formas adultas, estará provavelmente

associado a cada uma das variantes genéticas de NCL. Estudos de correlação

genótipo-fenótipo permitem avaliar se a variabilidade clínica está intrinsecamente

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Discussão

62

associada a uma heterogeneidade genética. Nesse sentido, o conhecimento da função

da proteína é importante para avaliar o impacto fisiopatológico de mutações. Porém, a

função das proteínas NCL apenas está bem documentada para as enzimas solúveis

lisossomais: CLN1/tioesterase, CLN2/aminopeptidase e CLN10/protease. As restantes

proteínas, provavelmente de natureza membranar, parecem ter uma localização

celular diversa e que inclui o RE, CG, endossomas de reciclagem e lisossomas (rev.

em Kyttälä et al., 2006).

A variante CLN6 foi identificada apenas em 2002 (Gao et al., 2002; Wheeler et

al., 2002). A análise in silico das características estruturais e topológicas indica que o

gene CLN6 codifica para uma proteína de 311 aminoácidos (~36 kDa), sem péptido

sinal N-terminal, locais de N-glicosilação (NX(S/T), X= um qualquer aminoácido) ou

sinais clássicos de endereçamento para o lisossoma (Bonifacino e Dell’Angelica,

1999). Estudos de permeabilização diferencial da membrana com digitonina e

recorrendo a anticorpos específicos, designadamente contra o terminal amino (Heine

et al., 2007), sugerem que a proteína CLN6 possui um domínio N-terminal

citoplasmático, 7 domínios transmembranares e um domínio C-terminal luminal.

Estudos de co-localização da proteína de células HEK293 transfectadas com o cDNA

CLN6 utilizando dois anticorpos produzidos contra péptidos distintos sugerem que a

CLN6 é uma proteína residente do RE (Mole et al., 2004). Em células BHK21

transfectadas com CLN6Myc/His tag, a proteína sobre expressa detectada com o

anticorpo monoclonal anti-Myc foi igualmente observada no RE (Heine et al., 2004).

Os resultados obtidos nestes 2 estudos independentes referem-se à proteína sobre

expressa. Só mais recentemente, em 2007, foram publicados os primeiros resultados

referentes à proteína endógena (Persaud-Sawin et al., 2007).

No sentido de contribuir para o conhecimento da localização intracelular da

proteína CLN6 foram produzidos 3 anticorpos contra péptidos específicos da proteína

CLN6 humana. Estes anticorpos detectaram níveis endógenos da proteína produzida

por fibroblastos cultivados de origem humana.

Em extractos totais de FHC foi detectada, por SDS-PAGE e Western blot, uma

forma molecular com cerca de 40 kDa, de peso molecular ligeiramente superior ao

calculado (36 kDa) para a sequência primária da proteína. O resultado obtido sugere

que a proteína sofre modificações pós-traducionais. Curiosamente, a proteína sobre

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Discussão

63

expressa apresenta um peso molecular ligeiramente inferior, correspondente a 29-30

kDa (Heine et al., 2004; Mole et al., 2004).

Estudos de imunofluorescência com marcação dupla em FHC de indivíduos

saudáveis revelaram uma marcação parcial ao longo da membrana plasmática e no

núcleo.

Ao longo da membrana plasmática observou-se um padrão de marcação

ponteado do tipo estrutura tubular. Esta observação foi consistente para 2 dos 3

anticorpos policlonais utilizados no presente estudo, com epítopes localizadas no

segmento N-terminal (aminoácidos 1-16) e num segmento interno da proteína

(aminoácidos 99-113). O padrão de marcação observado sugere a associação da

proteína CLN6, directa ou indirectamente, a filamentos de actina. Estudos de

marcação dupla com a faloidina confirmaram a co-localização parcial da proteína

CLN6 com filamentos de actina. A co-localização da proteína CLN6 com a actina não

está documentada na literatura. No entanto, um padrão de marcação semelhante foi

recentemente observado em células neuronais transfectadas com o cDNA CLN6

(Heine et al., 2007) utilizando um anticorpo N-terminal (aminoácidos 1-15) (Mole et al.,

2004) que foi produzido contra um segmento peptídico praticamente sobreponível a

um dos anticorpos acima referido. No futuro, será importante esclarecer se a proteína

CLN6 se associa directa ou indirectamente a estes filamentos. Até à data, a interacção

de proteínas NCL com componentes do citoesqueleto foi documentada apenas para a

proteína CLN3 por Luiro e colaboradores (2004). Os resultados reportados por estes

autores suportam a possibilidade de interacção da proteína CLN3 com a proteína

Hook1 dos microtúbulos. Por outro lado, as proteínas CLN3, CLN6 e CLN8 foram co-

localizadas em lipid rafts da membrana plasmática e em endossomas de reciclagem

(Persaud-Sawin et al., 2007). Adicionalmente, estudos de expressão génica por cDNA

microarrays sugerem que a proteína CLN6 possa estar envolvida em processos de

tráfego vesicular (Teixeira et al., 2006). Na proteína CLN3 foi identificado um domínio

de ligação à galactosilceramida (Persaud-Sawin et al., 2004) eventualmente

importante para o transporte da proteína do CG para os endossomas de reciclagem.

De referir ainda que a proteína CLN8, localizada no RE, poderá desempenhar um

papel ao nível da biossíntese/transporte de moléculas lipídicas, nomeadamente da

ceramida (rev. em Winter e Ponting, 2002). Neste contexto, a localização da proteína

CLN6 ao longo de filamentos de actina constitui mais um argumento a favor da

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Discussão

64

possibilidade de uma interacção concertada entre as proteínas CLN3, CLN6 e CLN8,

nomeadamente ao nível do tráfego vesicular.

Os estudos de imunofluorescência em fibroblastos humanos com os 3 anticorpos

policlonais produzidos contra segmentos peptídicos específicos (segmento N-terminal,

segmento interno e segmento C-terminal, aminoácidos 242-257) co-localizaram a

proteína no núcleo da célula, tendo sido visualizada uma marcação dispersa pelo

nucleoplasma. Com os anticorpos produzidos contra o segmento N-terminal e

segmento interno da proteína, esta marcação foi parcial. Por razões técnicas não foi

possível obter informação adicional quanto ao domínio nuclear correspondente a este

padrão de marcação, nomeadamente eucromatina ou heterocromatina.

A localização nuclear da proteína CLN6 é reforçada pela observação de que um

quarto anticorpo produzido contra um segmento peptídico C-terminal (aminoácidos

284-301) co-localiza parcialmente a proteína no núcleo, com um padrão de marcação

sobreponível ao observado com os 3 anticorpos acima descritos. Estudos recentes

(Persaud-Sawin et al., 2007) em FHC utilizando este mesmo anticorpo sugerem co-

localização parcial da proteína CLN6 no CG, endossomas de reciclagem e

microdomínios membranares específicos intracelulares. Apesar da marcação

ponteada perinuclear e da marcação dispersa pelo citoplasma observada com os 3

anticorpos produzidos contra segmentos distintos (segmento N-terminal, segmento

interno e segmento C-terminal) da proteína ser fraca, não é presentemente de excluir

a possibilidade destes anticorpos detectarem a proteína CLN6 no RE, CG e

endossomas de reciclagem. Estudos de microscopia confocal de fluorescência com a

possibilidade de obtenção de imagens sucessivas de diferentes planos da mesma

amostra deverão ser, no futuro, utilizados para avaliar esta hipótese.

No entanto, esta aparente discrepância face ao descrito na literatura (Heine et

al., 2004; Mole et al., 2004), pode ser explicada pela localização diferencial da proteína

endógena versus proteína sobre expressa, pela localização específica da proteína de

acordo com tipo de célula, ou ainda, pelo facto dos anticorpos exibirem diferente

sensibilidade e/ou especificidade.

De salientar que os anticorpos caracterizados neste estudo não detectaram a

proteína endógena de FHC nos lisossomas, corroborando os resultados previamente

publicados por outros autores (Heine et al., 2004; Mole et al., 2004). Esta observação

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Discussão

65

reforça a noção de que a variante CLN6 não é causada por um defeito primário

lisossomal ao contrário do observado para a maioria das NCLs (rev. em Hofmann et

al., 2002; rev. em Kyttällä et al., 2006).

Os anticorpos policlonais avaliados no presente estudo foram produzidos contra

segmentos peptídicos conservados da proteína. De facto, em fibroblastos

embrionários murinos, o padrão de marcação nuclear obtido com o anticorpo anti-

CLN6 produzido contra o segmento interno da proteína é semelhante ao observado

em FHC. No entanto, em fibroblastos murinos não foi observada marcação ao longo

da membrana plasmática do tipo tubular. O significado fisiológico desta aparente

discrepância não foi investigado.

A informação disponível na literatura e os resultados obtidos no presente

trabalho sugerem que a proteína CLN6 tem uma localização celular diversa: RE, CG,

citoesqueleto, endossomas de reciclagem e núcleo. A observação da proteína em

microdomínios membranares intracelulares que co-localizam com a fosfatase alcalina

(Persaud-Sawin et al., 2007) sugere que a proteína CLN6 poderá estar localizada em

lipid rafts, eventualmente no RE e/ou membrana plasmática.

Os determinantes moleculares do tráfego intracelular de proteínas são sinais

peptídicos ou glicosídicos (rev. em van Vliet et al., 2003). A identificação destes sinais

é essencial para a compreensão da biogénese de organelos e estruturas celulares.

Relativamente à presença da proteína no RE, a proteína CLN6 possui 4 motivos

potenciais de retenção (recuperação) no RE, localizados no terminal amino e no

terminal carboxílico: 5RRR7, 249KRKR252, 288KK289 e 305LH306 (Cosson e Letourneur,

1994; Hardt et al., 2003). Porém, estudos recentes de biologia molecular e celular

efectuados por Heine e colaboradores (2007) sugerem que os motivos 249KRKR252, 288KK289 e 305LH306 não actuam como sinais bioquímicos de retenção no RE. Os

resultados obtidos por estes autores sugerem que o terminal amino da proteína estará

associado à retenção da proteína CLN6 no RE. O facto da sequência N-terminal 5RRR7 da proteína CLN6 ter sido descrita numa proteína membranar tipo II do RE, a

glucosidase I (Hardt et al., 2003), suporta a hipótese deste sinal N-terminal ser

responsável pela retenção da proteína CLN6 no RE. Porém, outros motivos de

retenção para além do(s) existente(s) no terminal amino citossólico deverão estar

presentes na proteína CLN6 uma vez que a proteína CLN6 mutada devido à

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Discussão

66

supressão dos resíduos 1-49 continua retida no RE (Heine et al., 2007). As proteínas

de membrana residentes no RE são mantidas no organelo devido à presença da

sequência linear K(X)KXX ou de outras sequências menos comuns como um motivo

de arginina (Michelsen et al., 2005), ou CVLF (Zarei et al., 2004). Adicionalmente, é

possível que proteínas integrais de membrana sejam retidas por incorporação em

estruturas oligoméricas de tamanho considerável e que se mantém relativamente

imóveis ao nível da membrana do RE (Nikonov e Kreibich, 2003).

A observação da proteína CLN6 em organelos ou estruturas citopasmáticas

como o CG ou os endossomas de reciclagem sugere que a proteína CLN6 poderá não

ficar retida no RE. Porém, a proteína CLN6 não possui locais de N-glicosilação com a

sequência NX(S/T) (X= um qualquer aminoácido) e, por isso, não é provável a sua

exportação do RE através da via secretora clássica. A exportação de proteínas de

membrana a partir do RE é um processo selectivo mediado por sinais específicos,

nomeadamente motivos diacídicos e dihidrofóbicos (Nufer et al., 2002). Através da

interacção destes sinais de endereçamento específicos com proteínas específicas de

vesículas de clatrina (adaptinas) é possível regular a concentração das proteínas de

membrana em regiões específicas do RE onde são empacotadas em vesículas

transportadoras COP (cytosolic coated proteins) tipo II. O mecanismo pelo qual a

proteína CLN6 é exportada do RE deverá ser investigado no futuro.

Relativamente aos sinais de endereçamento de proteínas para o núcleo (NLS,

nuclear localization signal), o mais comum consiste em péptidos básicos constituídos

por resíduos de arginina e resíduos de lisina/histidina, (K/R)4-6 ou (K/R)2 X10-12 (K/R)3

(X, qualquer aminoácido) (rev. em Jans e Hassan, 2000), estando documentado que

estes sinais também podem desempenhar um papel ao nível citoplasmático (rev. em

Boulikas, 1993). Porém, bastantes mais NLS’s estão descritos, muitos dos quais

esporádicos (rev. em Christophe et al., 2000). No caso da proteína CLN6, a análise in

silico (Brameier et al., 2007) previu 3 NLS’s correspondentes às sequências lineares 5RRR7, 249KRKR252 e 287RKKY290. Se, de facto, estas sequências representam NLS’s

que interactuam com a importina α com vista ao transporte da proteína para o núcleo,

é uma questão que deverá ser investigada no futuro. O facto dos estudos efectuados

por Heine e colaboradores (2007) excluírem, em princípio, o envolvimento das

sequências 249KRKR252 e 288KK289 na retenção da proteína CLN6 no RE suporta a

hipótese destas sequências poderem actuar com NLS’s. O mecanismo de transporte

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Discussão

67

do complexo proteína-importina α através do poro nuclear implica a interacção deste

complexo com o receptor importina β, e subsequente interacção com proteínas

específicas do poro nuclear (nucleoporinas). Uma vez transportada para a face luminal

do poro nuclear, a ligação de RanGTP à importina β induz a alteração conformacional

do receptor e subsequentemente a dissociação da proteína do receptor (importinas) e

retorno do receptor ao citoplasma (rev. em Jans e Hassan, 2000). Curiosamente, o

programa bioinformático ELM (The eukaryotic linear motif resource for functional sites

in proteins, http://www.elm.eu.org/) prevê um motivo (267ALTLLLV273) que possibilita a

ligação a receptores nucleares. Este mesmo programa prevê vários locais potenciais

de fosforilação, nomeadamente para a proteína cinase CK2. Por outro lado, é

conhecido que um dos mecanismos de regulação do processo de transporte nuclear

consiste na modulação directa da interacção proteína-importina através de fosforilação

(rev. em Jans e Hassan, 2000). Assim, é possível que a aparente discrepância

observada em SDS-PAGE/Western blot relativamente ao peso molecular da proteína

CLN6 (40 kDa versus 36 kDa) seja explicada por esta modificação pós-traducional

específica. Estudos recentes sugerem que a proteína CLN6 forma dímeros in vivo

(Heine et al., 2004; Heine et al., 2007) e que os segmentos N-terminal e C-terminal da

proteína estarão envolvidos na homodimerização ou interacção com outras proteínas

(heterodímeros). Esta observação é muito interessante na medida em que a

exportação da proteína a partir do RE e/ou a actividade da proteína no núcleo poderá

ser regulada por homo ou heterodimerização. De facto, a proteína CLN6 poderá não

possuir NLS’s e o seu endereçamento para o núcleo celular depender da interacção

com uma proteína que possua NLS’s.

A CLN6 não é a única proteína NCL com localização nuclear. A proteína CLN3

endógena de células de cérebro humano (Margraf et al., 1999) e, mais recentemente,

a proteína CLN5 endógena de fibroblastos humanos foram localizadas no núcleo

(Bessa, não publicado). Estudos futuros deverão explorar a possibilidade de

interacção CLN6-CLN5 e CLN6-CLN3.

Estudos de imunofluorescência em células de doentes com a variante CLN6

sugerem que a delecção do resíduo I154, localizado entre o segmento

transmembranar 3 e 4, numa região luminal da proteína (Sharp et al., 2003), não

interfere com o tráfego da proteína CLN6 para o núcleo ou citossol. Adicionalmente,

em doentes com outras variantes da doença (CLN1, CLN2, CLN3 e CLN5), causadas

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Discussão

68

por mutações específicas, não foi observada alteração na localização celular da

proteína CLN6. No entanto, nas variantes CLN1, CLN2 e CLN5 estudadas, é possível

que as mutações resultem na deficiência parcial de actividade biológica e essa

actividade residual seja suficiente para assegurar a localização intracelular correcta da

proteína CLN6. No caso da variante CLN3, não obstante a mutação ser uma delecção

de 1.02 kb, nos fibroblastos destes doentes foi detectado um nível de RNAm/CLN3

correspondente a cerca de 11% do nível observado em células controlo (Bessa et al.,

2006). Adicionalmente, estudos recentes (Kitzmüller et al., 2007) sugerem que a

proteína mutada retém actividade biológica. Essa actividade biológica residual poderá

ser suficiente para assegurar o endereçamento intracelular correcto da proteína CLN6,

no caso da proteína CLN3 estar envolvida no tráfego intracelular da CLN6p. De facto,

uma actividade residual da proteína mutada justificaria o fenótipo mais suave da

doença observado nas formas LINCL e JNCL, comparativamente às formas mais

graves da doença, como a forma congénita ou infantil. No entanto, presentemente não

é de excluir outras possibilidades, nomeadamente o facto da deficiência em qualquer

uma das proteínas NCL ter um impacto, directo ou indirecto, sobre a função das outras

proteínas NCL, mas não interferir com a sua localização celular. Por exemplo, a

actividade e quantidade da enzima TPP1 está aumentada em várias formas de NCL, e

noutras doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer, tratando-se

possivelmente de uma alteração secundária (Junaid e Pullarkat, 1999); alterações do

pH foram descritas em várias formas de NCL (Holopainen et al., 2001) e podem estar

associadas à acumulação da subunidade c da ATP sintetase mitocondrial uma vez

que a acção sequencial da TPP1 e da catepsina D é necessária para a degradação da

subunidade que é dependente do pH (Kominami, 2002).

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Capítulo 6

Conclusões

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Conclusão

71

6. Conclusão

Os resultados obtidos no âmbito do presente trabalho contribuíram para o

conhecimento acerca da localização celular da proteína CLN6 de FHC. A co-

localização da proteína ao nível dos filamentos de actina e do núcleo, juntamente com

a informação previamente existente quanto à sua localização no RE, CG e

endossomas de reciclagem, sugere a participação da proteína CLN6 numa via de

sinalização, que se inicia à superfície celular e implica transdução do sinal para o

citossol e núcleo celular, onde serão causadas alterações específicas ao nível da

expressão genética. Uma rápida distribuição da proteína do citossol para o núcleo será

necessária para assegurar a correcta sinalização pretendida pela célula. Se o papel da

proteína CLN6 nessa hipotética via de sinalização está associada a lípidos,

nomeadamente esfingolípidos, é uma questão a investigar no futuro.

A hipótese de participação da proteína CLN6 numa via de sinalização é apoiada

pelos resultados obtidos previamente em estudos de expressão por cDNA microarrays

em fibroblastos de doentes com a variante CLN6 (Teixeira et al., 2006), que sugerem

como factores etio-patogénicos da CLN6 a remodelação da matriz extracelular, o

tráfego vesicular, a transdução de sinal associado à cascata de cinases MAP e os

mecanismos apoptóticos e anti-apoptóticos.

A investigação a desenvolver no futuro deverá procurar explorar estas hipóteses,

tentando esclarecer os determinantes moleculares dessa via de sinalização hipotética,

onde outras proteínas NCL poderão estar também implicadas.

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Capítulo 7

Perspectivas Futuras

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Perspectivas Futuras

75

7. Perspectivas futuras

Os resultados obtidos no âmbito deste trabalho corroboraram o conceito de

localização celular diversa para a proteína CLN6 e contribuíram para o seu

esclarecimento, na medida em que estudos de imunofluorescência indicaram a

presença desta proteína no núcleo e a sua associação, directa ou indirecta, a

filamentos de actina do citoesqueleto. Estes resultados deverão ser comprovados por

outras abordagens experimentais, nomeadamente por fraccionamento celular e

estudos de imunoprecipitação visando a identificação das proteínas que interactuam

de forma directa ou indirecta com a proteína CLN6 e, subsequentemente, o

conhecimento dos intervenientes moleculares da via celular em que participa a

proteína CLN6. Por outro lado será importante determinar a localização sub-celular da

proteína CLN6 em células neuronais utilizando os anticorpos anti-CLN6 usados neste

estudo. A presença da proteína CLN6 ao nível dos lipid rafts da membrana plasmática,

nas regiões em que foi observada co-localização com a actina, também deverá ser

investigada.

Um aspecto básico a esclarecer no futuro é o da natureza membranar da

proteína CLN6, para a qual não existe, presentemente, uma evidência experimental

bioquímica robusta.

O mecanismo molecular de endereçamento da proteína para os

compartimentos/estruturas celulares onde foi observada é um outro aspecto de

especial relevância. Estudos moleculares, bioquímicos e celulares de linhas celulares

de doentes com a variante CLN6 com mutações específicas poderão ser úteis no

esclarecimento desta questão.

Adicionalmente, estudos de proteómica serão importantes para explorar as

alterações secundárias e terciárias decorrentes da deficiente actividade biológica da

proteína CLN6. Estes estudos deverão fornecer pistas importantes relativas à função

desta proteína a nível celular.

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Capítulo 8

Referências Bibliográficas

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