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1.1. 6 CIDADE PELOTAS (RS) PAC - ANGLO AVALIAÇÃO QUALITATIVA (ESTUDO DE CASO) 1. ESTUDO DE CASO O estudo de caso aqui apresentado é o PAC (Urbanização de Assentamentos Precários), mais especificamente o loteamento Anglo localizado no município de Pelotas, denominado neste relatório de PAC - Anglo. A área pertence à região da Balsa, Região de Planejamento São Gonçalo, onde está sendo desenvolvido o Programa de Extensão Vizinhança da Universidade Federal de Pelotas e que nos permitiu uma aproximação com as lideranças comunitárias. O Programa Vizinhança teve início no ano de 2009, promovido pelo Departamento de Extensão e Treinamento, sob iniciativa da Faculdade de Enfermagem, sendo cadastrado junto a Pró Reitoria de Extensão e Cultura (PREC) da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e teve como objetivo “formal” o atendimento das necessidades da população vizinha ao Campus Anglo da UFPEL. Entretanto o Programa se estabeleceu como uma estratégia da Reitoria para diminuir o impacto sobre a população da região do novo campus da UFPEL. Lideranças comunitárias do entorno manifestaram ao reitor, na época Prof. César Borges, sua preocupação com a inserção da UFPEL no bairro. O receio era de uma expulsão “branca” da comunidade, pelo aumento do preço dos imóveis, ou uma requalificação urbana planejada, que não levasse em conta os moradores já estabelecidos, mas em situação de irregularidade fundiária (MEDVEDOVSKI, 2010). O projeto, que permanece em andamento, tem como parceria as diversas áreas de conhecimento que compõe a comunidade acadêmica e sua estratégia é a utilização das expertises das diversas áreas para a interação com a comunidade em temas como: a inclusão digital da população, o ensino de ciências, resgate histórico e da memória do bairro, educação ambiental, desenvolvimento de atividades esportivas, arte e cultura e promoção da educação em saúde. Dentro do Programa Vizinhança, por iniciativa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, desenvolveu-se o projeto de Requalificação Urbana Participativa, buscando a participação da comunidade para a requalificação do próprio espaço urbano através dos temas da pavimentação, arborização, disposição de resíduos sólidos e edificação de limites dos terrenos privados. O estudo preliminar de Pavimentação da Balsa foi desenvolvido para atender uma demanda da comunidade daquela região. Demanda esta identificada através do DRUP (Diagnóstico Rápido Urbano

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1.1. 6 CIDADE PELOTAS (RS) PAC - ANGLO – AVALIAÇÃO QUALITATIVA

(ESTUDO DE CASO)

1. ESTUDO DE CASO

O estudo de caso aqui apresentado é o PAC (Urbanização de Assentamentos

Precários), mais especificamente o loteamento Anglo localizado no município de Pelotas,

denominado neste relatório de PAC - Anglo.

A área pertence à região da Balsa, Região de Planejamento São Gonçalo, onde

está sendo desenvolvido o Programa de Extensão Vizinhança da Universidade Federal de

Pelotas e que nos permitiu uma aproximação com as lideranças comunitárias. O Programa

Vizinhança teve início no ano de 2009, promovido pelo Departamento de Extensão e

Treinamento, sob iniciativa da Faculdade de Enfermagem, sendo cadastrado junto a Pró

Reitoria de Extensão e Cultura (PREC) da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e

teve como objetivo “formal” o atendimento das necessidades da população vizinha ao

Campus Anglo da UFPEL. Entretanto o Programa se estabeleceu como uma estratégia da

Reitoria para diminuir o impacto sobre a população da região do novo campus da UFPEL.

Lideranças comunitárias do entorno manifestaram ao reitor, na época Prof. César Borges,

sua preocupação com a inserção da UFPEL no bairro. O receio era de uma expulsão

“branca” da comunidade, pelo aumento do preço dos imóveis, ou uma requalificação

urbana planejada, que não levasse em conta os moradores já estabelecidos, mas em

situação de irregularidade fundiária (MEDVEDOVSKI, 2010).

O projeto, que permanece em andamento, tem como parceria as diversas áreas de

conhecimento que compõe a comunidade acadêmica e sua estratégia é a utilização das

expertises das diversas áreas para a interação com a comunidade em temas como: a

inclusão digital da população, o ensino de ciências, resgate histórico e da memória do

bairro, educação ambiental, desenvolvimento de atividades esportivas, arte e cultura e

promoção da educação em saúde. Dentro do Programa Vizinhança, por iniciativa da

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, desenvolveu-se o projeto de Requalificação

Urbana Participativa, buscando a participação da comunidade para a requalificação do

próprio espaço urbano através dos temas da pavimentação, arborização, disposição de

resíduos sólidos e edificação de limites dos terrenos privados. O estudo preliminar de

Pavimentação da Balsa foi desenvolvido para atender uma demanda da comunidade

daquela região. Demanda esta identificada através do DRUP (Diagnóstico Rápido Urbano

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Participativo) e pelos líderes comunitários. Desta forma, o Projeto de Pavimentação

buscou desenvolver a qualificação e humanização do espaço urbano através da

pavimentação das vias, complementada com as demais ações de requalificação urbana.

Este projeto foi encaminhado pela UGP – Unidade Gestora de Projetos da Prefeitura

Municipal de Pelotas para obtenção de recursos do PAC Farroupilha – Extensão1.

O estudo de caso do PAC Anglo se oportunizou devido ao conhecimento prévio

da região da Balsa propiciado pelo Projeto de Requalificação Urbana da zona da Balsa

bem como pela aprovação de recurso destinada ao projeto do PAC em 4 áreas na cidade

de Pelotas (PAC Farroupilha), quando optou-se por desenvolver a pesquisa em uma das

regiões abrangidas pelo projeto, o Loteamento Anglo.

A pesquisa sobre o PAC Anglo, além de elaborar Procedimentos Metodológicos

de Avaliação de natureza quantitativa, que possam ser utilizados para o aperfeiçoamento

do PAC urbanização de Assentamentos Precários, também buscou ferramentas

metodológicas qualitativas, partindo do pressuposto teórico que a pesquisa sobre uma

parcela da cidade pré existente necessita um conhecimento da história da sua comunidade

e do processo de ocupação de seu território. Esta pesquisa busca instrumentos

metodológicos qualitativos que auxiliem a estabelecer esses conhecimentos bem como do

estabelecimento de prioridades pela população moradora em relação a sua inserção na

cidade.

1.1. Metodologia de Avaliação

Para a execução desse trabalho, primeiramente foram realizadas pesquisas

bibliográfica e exploratória sobre o tema do PAC Minha Casa Minha Vida –

Regularização de assentamentos precários, para obter um melhor conhecimento das

características do programa, seus objetivos e seu alcance.

Num segundo momento foi realizada pesquisa documental junto aos arquivos da

Unidade Gestora de Projetos – UGP da Prefeitura Municipal de Pelotas e junto aos

técnicos da Secretaria Municipal de Gestão Urbana e Mobilidade. Foram selecionadas

1 Este recurso para a pavimentação foi contemplado mas não aplicado na região da Balsa. Este fato causou uma situação de impasses nas relações entre a Universidade – Programa Vizinhança e a comunidade da Balsa. As lideranças passaram a encarar com descrédito os projetos de extensão da universidade e atribuir a essa a responsabilidade pela não aplicação dos recursos e houve uma desmobilização da comunidade. Nas reuniões mensais do Programa Vizinhança as várias representações da comunidade estavam representadas, entre elas a da área denominada PAC Anglo, com a liderança e vice da comunidade. Em 2008 este parcelamento clandestino estava iniciando seu processo de regularização técnica e fundiária e a comunidade estava muito mobilizada, o que possibilitou a aproximação da equipe de pesquisa com a

mesma.

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informações sobre o programa, a forma de atuação da prefeitura nas comunidades

selecionadas, a forma de condução do projeto arquitetônico e urbano em uma área

consolidada do município e, também, o volume de recursos destinados ao projeto.

Após esta etapa, desenvolveu-se uma pesquisa bibliográfica no acervo do Núcleo

de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo integrante da Faculdade de Arquitetura e

Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas para obter conhecimento sobre as

informações já existentes sobre o local e sobre outras intervenções semelhantes realizadas

em outras áreas da cidade.

Para conhecer o ponto de vista das pessoas diretamente envolvidas neste projeto,

foram realizadas entrevistas com informantes qualificados, como o líder comunitário do

local, Pedro Ferraz e com ex-funcionários da hoje extinta Secretaria de Habitação e

Cooperativismo.

Para realizar uma comparação do projeto do PAC Anglo com outros projetos

semelhantes de outras regiões do país, foi realizada pesquisa documental em sites da

internet relacionada aos movimentos populares por moradia.

Buscando um contato maior com a comunidade e reforçando opiniões diversas

sobre o andamento do projeto no dia 25 de junho de 2013 foi aplicado o Diagnóstico

Rápido Urbano Participativo junto a comunidade residente.

A pesquisa de caracterização e avaliação do PAC em Pelotas foi desenvolvida

através dos seguintes instrumentos metodológicos:

Levantamento do histórico da ocupação e da implementação da política

Foi efetuada a organização de dados secundários e de dados obtidos através de

entrevistas com os atores do processo de requalificação e regularização sob a forma de

“linha de tempo”, elencando os episódios marcantes no desenrolar da política do PAC

Anglo e identificando sua fonte de informação: a comunidade ou os “agentes públicos”.

Inicialmente, através de dados secundários coletados junto a Secretaria de Gestão e

Mobilidade Urbana e dos relatórios anuais do PAC.

a. PAC em Pelotas

b. PAC Anglo

Levantamento de dados sócio demográficos da região onde se insere o PAC Anglo

Utilização dos dados da ferramenta “Painel do Censo” do Censo do IBGE de

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2010 para a caracterização de domicílios e moradores do empreendimento, da região de

inserção e do município. Objetiva o auto reconhecimento da comunidade através de dados

quantitativos disponíveis on line no site do IBGE. Em regiões em que não existem dados

cadastrais da população a ser atendida, pode dar uma primeira aproximação com a

realidade. No caso analisado foi comparado com os dados provenientes do primeiro

cadastro da comunidade a ser beneficiada com os recursos do PAC Anglo.

Análise da Inserção urbana

Utilização de dados cadastrais disponíveis na Prefeitura Municipal de Pelotas

para avaliação da presença e disponibilidade de serviços e equipamentos urbanos.

1. LEVANTAMENTO DO HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO E DA

IMPLEMENTAÇÃO DA POLITICA

1.1. Introdução histórica do estudo de caso

Reconstruir o histórico desta política pública - o PAC MCMV - na área que

compreende o loteamento Anglo, tomando-o como estudo de caso para melhor entender

e avaliar as novas políticas governamentais de redução do déficit habitacional.

Para que esses processos se concretizem, o grupo de pesquisa precisa conhecer

em profundidade a história dessa área e da população moradora.

Inicia com a história da ocupação da região da Balsa e do PAC Anglo.

1.2. Origens da ocupação da Região da Balsa

Historicamente o município de Pelotas destaca-se pela produção do charque que

teve papel importante para a economia e desenvolvimento da cidade. Durante o século

XIX, charqueadores portugueses instalaram-se na região ao longo do arroio Pelotas,

próximo ao canal São Gonçalo, dando origem à população que demarcou o início do

município.

A área do loteamento Anglo está inserida nesta região, onde estava localizada a

charqueada de José Gonçalves da Silveira Calheca, que mais tarde foi herdada por

Antônio Ferreira Vianna, genro de Calheca. (Biblioteca pública de Pelotas, RPTMP, p.

93, 144 apud GUTIERREZ, 2001).

Este terreno sofreu desmembramentos ao longo dos anos e parte dele foi vendida

pela família Ferreira Vianna à Prefeitura. Nesta área se estabeleceu o galpão do Asseio

Público da municipalidade e se efetuaram obras de aterro do banhado para acesso a balsa

que dava acesso ao município de Rio Grande. Mais tarde, em 1957, foi fundada, no

mesmo local, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Ferreira Vianna, na Rua João

Thomas Munhoz nº 86, Bairro da Balsa, zona do Porto/Várzea em Pelotas, RS.

(SANTOS, 2002).

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Os dados a seguir foram coletados pela pesquisa histórica de Jeske (1999) sobre

a atuação do Frigorífico Anglo em Pelotas no período 1940-1970, bem como através dos

relatos coletados junto aos moradores no período de 2009- 2013 pelo projeto de Extensão

Vizinhança.

Segundo a autora, o avanço do capitalismo internacional, que primava por

tecnologias e produções mais qualificadas, levou os pecuaristas gaúchos a colocarem em

prática o projeto de um frigorífico de capital nacional. Apoiados pelo Governo do Estado,

esses pecuaristas elaboraram um plano para industrializar a carne dos rebanhos gaúchos.

Pelotas foi escolhida para a realização deste projeto, e a Intendência Municipal cedeu a

área, que, outrora, havia pertencido à charqueada Moreira, à beira do canal São Gonçalo,

para a construção do frigorífico, que recebeu o nome de Companhia Frigorífica Rio

Grande.

A história da Companhia Frigorífica Rio Grande foi passageira. O grupo não

conseguiu superar as dificuldades iniciais de falta de dinheiro e em 1921, a Companhia

Frigorífica Rio Grande foi vendida para a Companhia Lancashire General Investiment

Trust Limited, de propriedade do grupo britânico Vestey Brothers. Em novembro do

mesmo ano começa a operar então, o Frigorifico Anglo de Pelotas. Após adquirir as

instalações da mal sucedida Cia. Frigorífico Rio Grande, o grupo pouco utilizou a

unidade, desenvolvendo atividades de abate apenas na safra de 1921. Nos próximos três

anos, o abate foi inviabilizado pela guerra civil. Em 1926 o frigorífico é fechado e só

retoma suas atividades 17 anos depois, dentro de um contexto criado pela Segunda Guerra

Mundial. Em dezembro de 1943, após passar por algumas obras, são inauguradas as novas

instalações do Frigorífico Anglo. A reinauguração do Frigorífico representou, para os

trabalhadores pelotenses, sobretudo, a possibilidade de emprego regular. No auge da

“safra” atuavam até 4000 trabalhadores, sendo 1500 de forma permanente.

Os primeiros moradores da região Balsa eram empregados da prefeitura, muitos

dos quais trabalhavam junto aos serviços públicos urbanos (Asseio Público) e construíram

a via de acesso para a travessia por balsa para o município de Rio Grande, fato que deu

origem ao nome do bairro Balsa. As primeiras e poucas unidades habitacionais

aproveitaram as bordas do aterro, conquistando paulatinamente o banhado com novos

aterros. Com a vinda do frigorífico Anglo, este perfil se modifica aumentando o número

de moradores, estimado por Jeske entre 800 e 1200, cerca de 80% empregados do Anglo.

Segundo Jeske (1999, p.85):

“Pode-se inferir que a maioria dos moradores do Bairro da Balsa fixaram residência naquele local em função do emprego, que, nas décadas de 50-60, era oferecido,

basicamente, pelo Frigorífico Anglo, com menor participação do Porto de Pelotas e

de outras indústrias que funcionavam próximas àquela área. Esses moradores eram

oriundos ou da zona colonial da cidade, ou das regiões próximas a ela, como Canguçu, Piratini, Jaguarão, Arroio Grande”.

Apesar do interesse de ocupação da área próxima ao frigorífico por parte dos

trabalhadores, foi possível notar certo descaso da grande indústria com a formação do

Bairro da Balsa. O Anglo construiu apenas quatro ou seis casas, para abrigar operários

qualificados que vieram de outras localidades trabalhar, diferente da atuação de outras

empresas inglesas que construíram alojamentos para seus empregados junto às fábricas,

sob a forma de vilas operárias A justificativa para tal fato é de que já existia mão-de-obra

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com experiência em abate oriunda das charqueadas e que moravam na periferia da cidade,

próximos ao empreendimento, não precisando portanto, investir em unidades

habitacionais para atrair e fixar os operários.

Muitos trabalhadores eram naturais de Pelotas e iam residir no Bairro da Balsa

para ficarem mais próximo ao local de trabalho; porém a grande maioria era de fora

cidade, das cidades próximas d, trabalhando inicialmente como “safristas” (períodos

determinados) tendo se mudado para a cidade quando se efetivaram no Frigorífico.

Com o auxílio ocasional de administradores municipais, os trabalhadores foram

demarcando suas posses, aterrando o banhado e ocupando o território no entorno do

Frigorífico e da Rua Tiradentes, que dava acesso à Balsa.

Segundo Jeske (1999, p.87):

Após a ocupação do espaço e a construção de suas moradias, os trabalhadores enfrentaram a falta de água potável, de esgotos, de energia elétrica e transporte

coletivo, entre outros. Iniciaram de forma coletiva as negociações junto ao poder

publico e as concessionárias dos serviços pela solução desses problemas. Para

resolverem a falta de água potável e energia elétrica, os moradores da Rua Paulo Guilayn criaram a Associação dos Amigos da Balsa, em 1969. Essa associação

evoluiu, promovendo a organização dos moradores e possibilitando sua atuação nas

áreas social, médica e de lazer...”.

Esta história de luta pelas suas condições de sobrevivência e inserção urbana da

população da Balsa certamente foi a origem da luta pela ocupação e melhoria da área do

PAC Anglo desenvolvida pelos seus descendentes. Na narrativa desta busca pela

observância de seus direitos aos serviços básicos de água potável e energia elétrica, os

moradores destacam que a “...sua organização trouxe resultados que ultrapassaram os

limites das reivindicações, tendo a Associação de Moradores passado também, a atuar na

área do lazer e da saúde para os seus sócios.” (JESKE,1999,90).

1.3. A Ocupação Anglo

A gleba de terras onde atualmente se encontram as 150 famílias do PAC Anglo

era parte do patrimônio do Frigorifico Anglo. Era usada pelo mesmo como “piquete” para

o gado a ser abatido, ou seja, ali chegava o gado proveniente e era selecionado segundo

suas condições sanitárias para ser encaminhado ao frigorífico. Uma “casa de passagem”,

hoje sede da Associação de Moradores, foi edificada e os animais condenados eram

sacrificados para aproveitamento de sebos e ossos.

Com as mudanças tecnológicas na produção e armazenamento da carne e com a

instalação de diversos frigoríficos nacionais, as empresas começaram a fechar suas portas.

O Frigorífico Anglo encerrou suas atividades em 1991, após a tentativa de diversificação

para frutas e verduras enlatadas. No ano de 1993 o Grupo Vestey Brothers vende todos

seus frigoríficos no país. (MICHELON, 2012, 127). Inicia-se um período de decadência

da zona portuária, com o fechamento da maior parte das empresas ligadas a cadeia

produtiva de produtos alimentícios, com redução significativa na oferta de empregos e o

empobrecimento da população e diminuição de sua qualidade de vida.

A ocupação desta área começou no final da década de 90, coincidindo com o

fechamento do Frigorífico, sendo os moradores inicialmente filhos e netos dos seus

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antigos funcionários, muitos dos quais aguardando na justiça o pagamento de

indenizações pelas demissões ocorrida na época da falência do mesmo.

Em janeiro de 2007 o governo federal dá início o Programa de Aceleração do

Crescimento – PAC. O período que se desenvolve entre a ocupação do terreno, bem como

o que se segue após a implementação do PAC Farroupilha é detalhado através de uma

linha do tempo. Esta estratégia de desdobrar os fatos pregressos e os do processo de

implementação da política municipal busca atender ao objetivo enunciado de “analisar

criticamente as dimensões relativas ao processo, produto habitacional e impacto nas

condições de vida e no ambiente urbano de empreendimentos do PMCMV e do PAC”.

1.4. O Contexto do Surgimento do PAC

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi criado em 28 de janeiro

de 2007 no segundo mandato do presidente Lula (2007-2010) com o objetivo de retomar

o planejamento e execução de grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e

energética do país, visando a aceleração do seu desenvolvimento de uma forma

sustentável. Este conjunto de políticas econômicas planejadas para os quatro anos

seguintes previu investimentos totais de R$ 503,9 bilhões de reais.

A estrutura do programa se dividiu em cinco blocos:

Infraestrutura social, como habitação, saneamento e transporte em massa;

Medidas para estimular crédito e financiamento;

Melhoria do marco regulatório na área ambiental;

Desoneração tributária;

Medidas fiscais de longo prazo.

Em 29 de março de 2010, o PAC entrou na sua segunda fase (PAC 2), com o

mesmo pensamento estratégico. No entanto, mais recursos foram reservados para o

programa (uma previsão de R$ 1,59 trilhão de reais) e mais parcerias com estados e

municípios foram fechadas para a execução de obras estruturantes objetivando melhorar

a qualidade de vida nas cidades brasileiras.

Nesta etapa, o programa foi dividido em seis áreas de investimento e com as

seguintes finalidades:

PAC Cidade Melhor: enfrentar os principais desafios dos grandes centros urbanos para

melhorar a qualidade de vida das pessoas;

PAC Comunidade Cidadã: aumentar a oferta de serviços básicos à população de bairros

populares e garantir a presença do Estado;

PAC Minha Casa, Minha Vida: reduzir o déficit habitacional, dinamizar o setor de

construção civil e gerar trabalho e renda;

PAC Água e Luz para Todos: universalizar o acesso à água e à energia elétrica no país;

PAC Transportes: consolidar e ampliar a rede logística, interligando diversos modais

(rodoviário, ferroviário e hidroviário) para garantir qualidade e segurança;

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PAC Energia: garantir a segurança do suprimento a partir de uma matriz energética

baseada em fontes renováveis e limpas. Desenvolver as descobertas no Pré-Sal,

ampliando a produção de petróleo no país.

1.5. O PAC em Pelotas

Por critérios do diagnóstico do PLHIS - Plano de Habitação de Interesse Social,

apresentado em abril de 2013, o déficit habitacional de Pelotas foi definido com de 13.598

unidades habitacionais. A cidade possui 113 mil residências cadastradas no IPTU e seu

déficit habitacional é de 11,93%, índice considerado alto em comparação às cidades do

mesmo porte e que apresentam em média 6% de carência.

A assessoria técnica também identificou que Pelotas apresenta uma

característica diferente das demais cidades de mesmo porte: ao contrário da urgência da

construção de novas moradias está a necessidade de se melhorar as já existentes. Este fato

é revelado pelo número elevado de moradias consideradas inapropriadas incluídas no

total de carência habitacional, seja pela falta de regularização fundiária, seja pelas

precárias condições de infraestrutura.

O relatório do PLHIS ainda aponta que, ao contrário de outros municípios de seu

porte, Pelotas apresenta grande quantidade de coabitações e de famílias que

comprometem mais de 30% de sua renda em aluguéis, problema característico de grandes

metrópoles. Do somatório total do déficit de 11, 93%, o déficit de coabitação corresponde

a 5,91% e o ônus de aluguel significa 5,03%. Ainda, foram identificados 159 loteamentos

considerados assentamentos precários, mostrando uma relação de interação entre as

carências habitacionais e o conflito com o meio ambiente.

Dentre esses assentamentos precários o poder público municipal elegeu, por

situação de risco ambiental e precariedade das habitações 4 áreas, contemplando 1714

famílias com infraestrutura urbana, regularização fundiária e parte delas com novas

unidades habitacionais.

O município de Pelotas recebeu dois investimentos do PAC no setor da habitação

classificados como Urbanização de Assentamentos Precários. O primeiro denominou-se

PAC Farroupilha (Ver Quadro 1), abrangendo as áreas Vila Farroupilha e loteamentos

Ceval, Osório e Anglo e teve investimento previsto de R$22.471.745,86 (dados de 2014).

O órgão responsável pelos recursos é o Ministério das Cidades e o executor, o próprio

município, através da Secretaria de Habitação. O segundo tornou-se um investimento

complementar, denominado PAC Farroupilha- Extensão, com as mesmas características,

abrangendo as mesmas áreas além de investimento aproximado de R$8.704.595,02.

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Quadro 1- Dados sobre os empreendimentos do PAC Farroupilha.

Empreendimento Construtora(s) Linha de Financiamento

Público Alvo Total de Unidades

Valor Global de Vendas

Data da Contratação

PAC Farroupilha EGEL Empresa Gaúcha de Estrada Ltda., BKI Engenharia Ltda.

Governo Federal + Município

População Alocada em Áreas de Risco

175 + 90 14.009.049,00 Setembro de 2007

PAC Anglo

ACPO Ltda., Quality Serviços de Engenharia Ltda., AVS Construções Ltda.

Governo Federal + Município

População Alocada em Áreas de Risco

90 + 20 3.175.208,03 Setembro de 2007

PAC Osório CPC Construtora Ltda., Loki Engenharia Ltda.

Governo Federal + Município

População Alocada em Áreas de Risco

79 1.083.102,43 Setembro de 2007

PAC Ceval

TBS Sul Sistemas Construtivos e Arquitetônicos Ltda., CPC Construtora Ltda., Quality Serviços de Engenharia Ltda.

Governo Federal + Município

População Alocada em Áreas de Risco

14 1.311.371,68 Setembro de 2007

Fonte: Acervo NAUrb/UFEPL, 2007

O total de unidades a serem construídas em 4 áreas foi de 468, cabendo ao PAC

Anglo 90 unidades para substituir as unidades em área de risco ou em situação precária e

mais 20 unidades para situações de precariedade (ver Quadro 1).

A informação da Secretaria de Habitação é que estas estavam localizadas em

áreas de risco, mas as entrevistas com o líder comunitário do Loteamento Anglo

mencionam uma suposta intervenção de um vereador local para a inclusão do Anglo.

Segundo entrevista com o funcionário Jorge Alves da PMPEL2, que pertencia

aos quadros da Secretaria de Habitação (SEHAB) no governo Fetter, e anteriormente à

Secretaria de Habitação e Cooperativismo – SEHAB, no governo Marroni, os recursos

do PAC Anglo tiveram origem numa demanda voltada ao Loteamento Farroupilha.

Segundo o funcionário, no ano de 2006 o governo federal publicou na home page

do Ministério das Cidades o convite para uma reunião com os prefeitos em Brasília, onde

estes apresentariam projetos para utilização de recursos não aplicados pelas prefeituras

no tema de HIS. A SEHAB comunicou ao prefeito Fetter, que compareceu a reunião

levando o projeto para a Vila Farroupilha, duramente atingida pelas cheias dos dois anos

anteriores.

Segundo Alves “O projeto fizemos correndo, de um dia para o outro e colocamos

um valor absurdo em tudo triplicamos esse valor. Deu para fazer toda a Farroupilha e

mais as outros três (Ceval, Osório e Anglo) com o valor aprovado”. Segundo Alves, a

inclusão da Vila Farroupilha se deu pelo risco das cheias, a Osório pela necessidade de

desocupar uma via pública estruturante da cidade, e na Ceval a SEHAB tinha um projeto

em curso de mutirão. O Anglo foi incluído porque a prefeitura de Pelotas estava pagando

judicialmente para a massa falida do Frigorífico Casarin a segunda e terceira parcelas do

terreno, adquirido no governo Marroni.

2 Entrevista com Jorge Alves do Departamento de Habitação da Secretaria de Gestão Urbana e Mobilidade da PMPLE

em 09/03/2015.

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Os quatro projetos foram desenvolvidos sem nenhuma participação da

população residente, por funcionários da SEHAB3. “Os únicos dados que se tinha da

população era a listagem dos posseiros destas áreas”, relata. E continua: “Não foi

discutido nenhum dos projetos com os moradores. Sabemos hoje que eles são contra as

casas geminadas, mas não sabíamos na época. Só discutiram com a comunidade a

destinação do galpão do Anglo para ser o Centro Comunitário”.

Relata ainda que a comunidade do Loteamento Anglo sempre foi muito

mobilizada e que a primeira audiência pública solicitada pela mesma na Câmara de

Vereadores foi “de sensibilização”. “Até ratos mortos eles levaram na Câmara” relata.

Eu estava de férias e o Brandão (Secretário Municipal de Habitação) e a Claudia Leite

pediram meu socorro na Câmara.

Segundo Alves, com a criação da Unidade Gestora de Projetos, a SEHAB se

esvaziou, pois todos os projetos do PAC e Banco Mundial foram lá concentrados, criando

uma “supersecretaria”. Observa que a UGP só administra os projetos oriundos das

secretarias municipais, que não tem a capacidade de “criar projetos”. “Eles somente

intermediam a gestão”, e “isso é um problema para todas as secretarias, temos um poder

paralelo”, complementa.

Pelo relato deste funcionário, com larga experiência de contato com a população

de baixa renda e conhecimento de todas as áreas de risco e irregulares do município,

perdeu-se o elo que a Secretaria de Habitação tinha com esta comunidade, sua história e

suas reivindicações. Os projetos adquiriram um caráter mais “técnico”, “operacional”, na

busca de uma racionalidade administrativa.

Essa “racionalidade” de uma agência centralizada para gestão de projetos pode

ser contestada com base nos dados do RELATORIO DE FISCALIZACAO 01356.

MUNICIPIO DE PELOTAS – RS realizado pela Controladoria- Geral da União

Secretaria Federal de Controle Interno. Presidência da República. 3 / E02 Sorteio Especial

PAC – Unidades Municipais - Pelotas – RS.

Os trabalhos foram realizados no período de 11 de Março de 2009 a 24 Abril de

2009, e tiveram como objetivo “...analisar a aplicação dos recursos federais no Município

sob a responsabilidade de órgãos federais, estaduais, municipais ou entidades legalmente

habilitadas”. No pé de página de todas páginas do relatório aparecia a frase: Missão da

SFC: “Zelar pela boa e regular aplicação dos recursos públicos.”

Três foram as Ações Governamentais que foram objeto da fiscalização todas da

supervisão do Ministério das Cidades. A primeira destinava recursos para Elaboração de

Planos de Interesse Social na Região Sul (valor: R$ 58.500,00), a segunda ao Apoio a

Provisão Habitacional de Interesse Social na Região Sul (valor: R$ 1.214.529,41) que

destinou-se a retomada de obras de saneamento básico e a terceira ao Apoio a

Urbanização de Assentamentos precários (Habitar Brasil) no Estado do Rio Grande do

Sul (valor: R$ 22.281.405,20), que compreenderam as áreas Vila Farroupilha e

loteamentos Ceval, Osório e Anglo. Estas totalizavam os R$ 23.641.405,20.

A relatoria aponta diversas irregularidades: falta de titularidade das áreas onde

os recursos serão aplicados, demoras na tramitação de projetos e decisões administrativas,

3 Arquitetos Gilberto Fernandes, Claudia Leite e Eng. Civil Monica Lima.

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a não realização do trabalho social junto as comunidades, irregularidade sobre preço e

obras contratadas em ritmo lento de realização. O relatório não possui nenhuma

manifestação sobre as irregularidades, nenhuma contestação, por parte da PMPEL.

A suposta “agilidade” e “racionalidade” das ações centralizadas pela UGP pode

ser contestada com base nas ações de fiscalização. Destacamos trechos do documento

que reforçam esta contestação:

Pg. 14 e 15: Item 1.2.2 CONSTATAÇÃO:

Morosidade, por parte da Prefeitura Municipal de Pelotas, na contratação do

objeto pactuado através do Contrato de Repasse n°0236592-40/2007 que tem como

objeto a "elaboração do Plano Habitacional de Interesse Social (PLHIS), no Município

de Pelotas". ( ...)

Examinando a documentação que compõe o dossiê do contrato de repasse em

pauta, verificamos que a Prefeitura Municipal de Pelotas, apesar de ter recebido

autorização para contratação dos serviços ainda no mês de março de 2008, não procedeu,

até a presente data (abril de 2009), à consecução do procedimento licitatório necessário à

sua contratação. Foi alertada pela CAIXA acerca da proximidade do término do prazo

disponível para que a contratação fosse realizada. Em resposta, a Prefeitura Municipal

limitou-se à pedir prorrogação do prazo de vigência do contrato de repasse, sem

apresentar qualquer justificativa plausível para a não contratação do objeto pactuado, no

tempo transcorrido desde liberação para a sua contratação, ainda no mês de março de

2008.

Portanto, por 11 meses, a UGP “segurou” a realização do PLHIS.

Pag. 9 e 10: Item 1.1.7 CONSTATACAO: Obras contratadas em ritmo lento de

execução.

FATO: No âmbito do Contrato de Repasse n° 0222658-33/2007/Ministério

das Cidades/Caixa, em tela, existem, até presente data, 03 (três) obras de engenharia

em andamento, a saber, 1) Centro Comunitário no Loteamento Osório, em execução

pela empresa Loki Engenharia Ltda., contratada por meio da Dispensa de Licitação n°

MEM/001604/2008, pelo valor de R$ 151.621,33; 2) Centro Comunitário no Loteamento

Ceval, em execução pela empresa Zechlinski Engenharia e Construção Ltda., contratada

por meio da Concorrência Pública CC 01/2008-SMH (Processo n° 200.007891/2008),

pelo valor global de 134.671,02; e 3) 69 unidades habitacionais no Loteamento Osório,

em execução pela empresa Pérgola Arquitetura, Construção & Restauração, contratada

por meio da Concorrência Pública CC 01/2008-PAC/SMH (Processo n°

200.010427/2008), no valor de R$ 714.482,79.

Ao analisarmos as datas da contratação das obras, as datas de liberação da

execução, e os períodos previstos para conclusão, verificamos que as três obras

apresentam atrasos em relação aos cronogramas previstos nos contratos (...) as três obras

deveriam estar concluídas na data da fiscalização da CGU (18/03 /2009), sendo que no

caso do Centro Comunitário do Loteamento Osório, o atraso estimado já alcança 200 dias

e, no caso da construção das 69 unidades habitacionais, no mesmo loteamento, a obra que

já deveria estar concluída, apresentava apenas 15,0% de execução. O centro Comunitário

da Ceval, tinha 60,0% aproximadamente da obra executada, com um atraso de 162 dias.

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O tempo de obra prevista em todos os contratos era de 4 a seis meses. O que

efetivamente ocorreu nestas obras para que estes atrasos ocorressem não foi identificado

para estes casos, mas é detalhado para o PAC Anglo através de uma linha de tempo.

O PAC Anglo ocupa um terreno triangular que margeia o canal do Pepino e é

limitado em sua outra lateral pela ocupação da Balsa, área consolidada entre a década de

50 e 60 por trabalhadores do frigorifico Anglo. É limitado na base do triângulo por dois

conjuntos residenciais promovidos após a venda do patrimônio industrial para a Fundação

Simon Bolívar, da UFPEL, em áreas desmembradas da gleba original.

Ao longo do canal do Pepino está planejada uma das avenidas estruturantes da

cidade, de ligação zona norte com a zona portuária. Para sua realização é necessária a

remoção dos moradores da beira do canal.

1.6. A promoção e produção do PAC AngloIdentificar as ocorrências ao longo do

tempo do processo de planejamento e implementação do PAC Anglo foi o

método adotado para atingir ao objetivo = da pesquisa de “Analisar criticamente

as dimensões relativas ao processo, produto habitacional e impacto nas condições

de vida e no ambiente urbano de empreendimentos do PMCMV e do PAC”

(objetivo secundário b).

Para tanto foi adotado o procedimento metodológico de reunir num mesmo

painel, sob a forma de uma Linha de Tempo, todos os dados secundários coletados,

principalmente nos noticiários dos jornais locais, bem como as informações obtidas por

depoimentos dos representantes do poder público e dos representantes da comunidade.

A construção da linha de tempo ultrapassa o tempo desta pesquisa, pois está em

constante complementação e também porque o processo de qualificação urbana do

Loteamento Anglo ainda não está finalizado.

Apresentamos o recorte temporal que vai do período anterior a implementação

da política do PAC- Urbanização de Assentamentos Precários e resgata a história de

ocupação da gleba onde esse hoje se assenta e trazemos essa linha até a data de fevereiro

de 2015.

A linha de tempo é composta por cinco imagens que ampliam as cinco parcelas

em que esta foi dividida para poder fazer parte desse relatório. Suas dimensões reais são

de altura de uma folha A0 (1,1m) multiplicada por 5 vezes em seu comprimento (4,20 m).

Seu objetivo é mostrar visualmente o desenrolar do processo ao longo do tempo,

evidenciando todas as datas de eventos marcantes. O material está sendo utilizado para

dialogar com a comunidade e agentes públicos sobre a concretização do PAC Anglo.

1.7. Detalhamento da linha de tempo do PAC Anglo

Além da exposição no infográfico da linha de tempo é efetuada a descrição das

ocorrências de forma mais detalhada, identificando através da cor laranja as iniciativas da

comunidade.

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1914- A Companhia de Gêneros Congelados compra da Prefeitura Municipal

de Pelotas o terreno onde sediará o Anglo.

1917- Foi constituída a Companhia Frigorífica Rio Grande.

1920- Fevereiro: Foi vendido um terreno adquirido pela Cia. Frigorífica Rio

Grande a Companhia Lancashire General Investimento Trust Limited.

1921 - Foi constituída no Rio Grande do Sul a Sociedade Autônoma The Rio

Grande Meat Company com sede em Pelotas.

1924 - A The Rio Grande Meat Company passou a determinar-se também

Frigorífico Anglo.

1932 - O Frigorífico Anglo passa por reforma nas suas instalações.

1979 - O Frigorífico Anglo encerra seus abates.

1993 - o patrimônio industrial em Pelotas do Grupo Vestey Brothers é vendido

ao Frigorifico Casarin, que após atividade reduzida, entra em falência.

1998 - Inicia a ocupação do terreno onde está localizado o Loteamento Anglo;

segundo o líder comunitário Sr. Pedro Ferraz, já era do conhecimento dessa comunidade

que o terreno pertencia a uma massa falida, o que seria a chance de terem seus imóveis,

pois havia a possibilidade da Prefeitura Municipal de Pelotas comprar ou desapropriar

esse terreno.

2001 - Início da gestão do PT em Pelotas – 2001/2004. Prefeito Fernando

Marroni. Criada a Secretaria de Habitação e Cooperativismo.

2001- 2004 - Negociação entre a comunidade do PAC Anglo e PMPEL para a

aquisição da gleba ocupada.

2004 - LEI Nº 5.044, DE 7 DE MAIO DE 2004: Autoriza o Poder Executivo

Municipal a adquirir imóvel de propriedade da massa falida do Frigorífico Casarin S.A.

É paga a primeira parcela de R$ 30.000 (trinta mil reais), de um total de R$ 90.000

(noventa mil reais).

2005 – Assume o prefeito do PPS, Bernardo Olavo Gomes de Souza.

2006- Parte da massa falida do Casarin é adquirida pela Fundação Simon

Bolívar, ligada a Universidade Federal de Pelotas4. Esta instala sua reitoria em 2009, bem

como a Biblioteca Central e diversos cursos.

2006 - Assume o vice prefeito Antônio Fetter – 2006/2008 e 2009/2012.

2006– Negociações entre PMPEL e comunidade com apoio de vereador para

inclusão da Ocupação Anglo nos projetos de solicitação de recursos do PAC Farroupilha.

Pagamento do restante do valor do terreno à massa falida do Frigorífico Casarin.

4 Em 2006, a Fundação Simon Bolivar adquiriu fração da área de 122.582,00 m2 (cento e vinte e dois mil e quinhentos e oitenta e dois metros quadrados) em leilão judicial realizado no processo falimentar do Frigorífico Casarin Ltda., constituído do terreno e das construções do antigo frigorífico. O valor da aquisição foi de R$ 700.000,00 (setecentos mil reais). Uma fração de 20.569,38 m2 da matrícula no 65.975 foi doada à UFPEL. No local, a UFPEL viria a erguer os prédios do Campus Porto - Bloco A: onde funciona a Reitoria; Bloco B: onde funcionam diversas unidades acadêmicas e a Biblioteca do Campus. CGU - RELATORIO DE DEMANDAS EXTERNAS Número:

00190.015177/2012-62(2012)

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Aquisição de nova parcela de terreno à massa falida para viabilizar a urbanização com

permanência da população original.

2007 – UGP – Unidade Gestora de Projetos da Prefeitura Municipal de Pelotas

encaminha ao Ministério das Cidades suas propostas para fim de seleção para o PAC

Farroupilha, abrangendo as áreas da Vila Farroupilha e loteamentos Ceval, Osório e

Anglo.

2008 - Março - O Ministério das Cidades, por meio de fax enviado à Secretaria

Municipal de Habitação, confirmou a aprovação da Síntese do Projeto Aprovado (SPA),

autorizando assim, o início das obras do PAC Farroupilha. Nesse momento o prefeito em

exercício, Adolfo Antônio Fetter Júnior, assina o contrato do PAC para que os

loteamentos Anglo, Ceval e Osório recebessem os investimentos do programa. O valor

total estimado da obra do Anglo é de R$ 3 milhões – R$ 1,6 milhão investido em

habitações, R$ 1,2 milhão em infraestrutura e R$ 200 mil no Salão Comunitário.

2007 - Inicio do levantamento de dados cadastrais pelas assistentes sociais

contatadas para a execução do PAC – Urbanização da PMPEL.

2008 – Abril - Aviso de Concorrência Pública Nº 03/2008 - PAC/SMH.

Execução de Obras de Infraestrutura no Loteamento Anglo - PAC-Farroupilha. Data de

Abertura: 09/05/2008 às 14 horas.

2008 - Abril - Aviso de Concorrência Pública Nº 04/2008 - PAC/SMH -

Construção de 90 Habitações no Loteamento Anglo - PAC-Farroupilha. - Data de

Abertura: 09/05/2008 às 16 horas. Ver Figura 12 – Implantação original PAC Anglo.

2008 – Outubro - Lançamento de nova concorrência para as obras de

infraestrutura pela ausência de participantes na primeira concorrência. Aviso de

Concorrência 06/2008 - PAC/SMH - Execução de obras de infraestrutura no Loteamento

Anglo - PAC/SMH. Data de Abertura: 11/11/2008 às 10 horas.

2008 - Dezembro- A empresa Artefatos de Concreto Pedro Osório (ACPO)

vence a licitação para as obras de infraestrutura - rede de esgotos, terraplanagem,

pavimentação e rede de água e foi contratada para a execução das obras. Contrato

487/2008. Valor R$1.177.961,73.

2009 – Março - Efetuado o RELATORIO DE FISCALIZACAO 01356.

MUNICIPIO DE PELOTAS – RS – sobre as obras do PAC Farroupilha pela

Controladoria-Geral da União Secretaria Federal de Controle Interno. Presidência da

República. 3 / E02 Sorteio Especial PAC – Unidades Municipais - Pelotas – RS. O

relatório aponta diversas irregularidades: falta de titularidade das áreas onde os recursos

serão aplicados, demoras na tramitação de projetos e decisões administrativas, a não

realização do trabalho social junto as comunidades, sobre preço e obras contratadas em

ritmo lento de realização. O relatório não possui nenhuma manifestação sobre as

irregularidades por parte da PMPEL.

2009- Abril- Início das obras de infraestrutura da ACPO.

2009- Maio- Uma segunda empresa venceu a licitação para construção das casas,

a Pérgola Arquitetura Construção inicia as obras das 90 casas do loteamento Anglo.

2010- Abril - Empresa Pérgola Arquitetura Construção e Restauração Ltda.

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abandona o canteiro de obras, alegando problemas financeiros.

2010- Setembro – contrato com a Empresa Pérgola Arquitetura e Restauração

Ltda. foi rescindido.

2011- Março- ACPO recebe notificação de suspensão de obra, decorrente de

"dificuldade para sequência das obras enquanto tramita junto à Caixa Econômica Federal

documentos relativos aos ajustes de projeto e o orçamento, assim como aguarda a

remoção dos ocupantes da beira do canal e áreas das intervenções". Esta medida impede

a empresa de receber por qualquer trabalho que venha a ser executado após a data da

notificação. O gerente comercial da empresa afirmou em entrevista à equipe da

CUFA/Pelotas que as obras foram executadas até onde a definição da estação elevatória

de esgoto não interferia, pois se houvesse a mudança, o projeto original sofreria

alterações.

2011- Maio - Prefeitura solicita novo projeto da rede elevatória de esgotos, com

capacidade para atender também os moradores da Balsa, para o SANEP – Serviço

Autônomo de Saneamento, autarquia municipal. O Eng. Arnaldo Soares do Serviço

Autônomo de Abastecimento de Água de Pelotas (SANEP) responsável pelo projeto da

rede de esgotos do loteamento, propôs inicialmente que a rede seria ligada a uma

tubulação já existente, porém a declividade do terreno ficou acentuada e exigiu que o

plano fosse alterado, já que a escavação do local era impraticável. Depois de constatado

o problema, a Unidade Gestora de Projetos (UGP) da PMPEL, optou por fazer o projeto

de uma nova estação elevatória que contemplasse também a região da Balsa.

2011 - Meses depois a autarquia enviou o projeto para o Setor de Representação

de Desenvolvimento Urbano e Rural (Redur), da Caixa Econômica Federal. Foi afirmado

pelo presidente do SANEP, Jacques Reydams, como justificativa pela demora da

retomada das obras, que a avaliação dos processos apresentados ao banco é rigorosa e,

em decorrência disso, o projeto retornou mais de uma vez com pedidos de adequações.

2011– Julho - Lançamento de nova concorrência pública para retomada das

obras das 90 unidades habitacionais do PAC Anglo dez meses depois da rescisão do

contrato com a empresa anterior. Concorrência Publica 04/2011 (90 Unidades

Habitacionais- Anglo) – SMH/PAC. OBJETO: Obra de construção de noventa unidades

habitacionais no loteamento Anglo neste município de Pelotas/RS, com serviços

relacionados principalmente a fundação, estrutura, alvenaria, cobertura, instalações,

esquadrias, ferragens, revestimentos, impermeabilização, pisos, vidros e pintura.

2011– Setembro– Contratação da empresa Quality Serviços de Engenharia Ltda.

Dispensa de Licitação MEMO 4144E1060. Conclusão para a execução de 90 unidades

habitacionais - Contrato 226/2011 - 02/09/2011 – Valor: R$1.619.393, 30. Prazo de 12

meses.

2012 -Janeiro - Primeiras casas de um lote de 58 são entregues.

2012 - Março - Últimas das 58 casas da primeira etapa são entregues.

2012 – Março - Em março de 2012, após negociação com as assistentes sociais

da UGP/PMPEL sem resultado, moradora do Anglo em Pelotas é intimada a abandonar

sua casa - um pequeno chalé em precárias condições em dez dias, com a promessa de que

em quatro meses teria uma casa de alvenaria. "Eu sabia que não cumpririam os prazos,

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minha casinha era humilde, mas confortável, por isso eu não queria sair", diz. Sem opção,

Carmem relata que foi morar com a filha e os dois netos de favor no terreno de um

vizinho, em condições mais precárias ainda, onde está há mais de um ano e sem

perspectiva de mudança.

2012 – Abril- AVISO DE LICITAÇÃO - Tomada de Preços 21/2011 (PAC) –

SMH. OBJETO: Contratação de empresa para execução da Obra do Centro Comunitário

que abrange a zona denominada Anglo, no município de Pelotas/RS – SMH/PAC. Data

da abertura: 03 de abril de 2012 às 10h30min.

2012 – Outubro – Inicio das obras de reforma do Centro Comunitário.

2012 - Maio - Impasses na continuidade das obras das unidades habitacionais.

Quality Engenharia recebe comunicado de suspensão de obras por “falta de liberação de

área”. Segundo entrevista com o responsável pela empresa, Eng. Ubirajara Leal, a

prefeitura instruiu a empresa a construir as casas e, assim que concluídas, entregá-las,

mesmo sem a definição do impasse da estação elevatória. Seguindo esse processo, as

primeiras residências foram entregues em janeiro de 2012 e as últimas (da primeira etapa

do programa – 58 casas), em março, porém a empresa também recebeu notificação de

suspensão de serviço por parte da prefeitura. De acordo com Leal, isso ocorreu pela “falta

de liberação de área”, pois algumas famílias se recusaram a deixar suas casas situadas na

área onde seriam construídas as novas. A população residente no local não foi direcionada

para moradias temporárias e também temia pelo atraso da entrega das novas casas pois já

estavam informados sobre a demora para a definição do local de instalação da estação

elevatória de esgotos. Fica suspensa a construção de 32 unidades habitacionais.

2013 – Janeiro – Eduardo Leite, do PSDB assume a Prefeitura de Pelotas.

2013 – Janeiro - Levantamento realizado em janeiro de 2013 revela que das 58

casas já entregues, foram construídos muros e cercas em 25 unidades menos de 1 ano

após a entrega. (Figura 13).

2013 - Maio- Segundo Jacques Reydams, dirigente do SANEP, o último

encaminhamento do projeto da rede de esgoto à Caixa Econômica Federal foi realizado

em maio de 2013 – dois anos após a decisão de criação da nova rede elevatória (fonte :

Reportagem Central Única das Favelas – CUFA Pelotas 17/07/2013).

2013 – Junho - Moradores do Anglo lotam Câmara de Vereadores em uma

audiência pública para cobrar agilidade no processo. “Cansadas das variadas

justificativas para a demora na entrega do loteamento Anglo, as 32 famílias que ainda não

foram contempladas foram em busca de seus direitos na Defensoria Publica. A situação

de dez destas é ainda pior, pois foram retiradas de suas casas com a promessa de terem

novas moradias em três meses e estão em locais improvisados há mais de um ano.” -

Reportagem especial Diário Popular de 28/08/2013.

2013 – Julho – Defensor Público, Igor da Silva promove reunião entre os

moradores do PAC Anglo, SANEP e UGP/PMPEL.

2013 – Julho - Os moradores argumentam que a rede de esgotos das casas já

construídas está ligada diretamente no canal do Pepino, sem tratamento de efluentes.

Desconsiderando os cuidados ambientais, a população demonstra interesse

principalmente em retornar a ocupar seus terrenos e moradias, e argumenta que se 58

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casas foram construídas com ausência da rede elevatória de esgotos sem prazo específico

de ligação, o restante das casas não teria empecilho para serem concluídas e entregues.

2013 - No dia 11 de julho, declaração de um representante da Caixa, via

assessoria de imprensa, na qual o mesmo afirma estar aguardando documentos

complementares do Executivo e que a agilidade de seus processos depende do "envio

tempestivo e adequado da documentação solicitada".

2013 – Julho - Empresa Quality Engenharia e Consultoria Ltda. protocola pedido

de rescisão de contrato com a Prefeitura. O Eng. Leal relata que a empresa comprou

material hidráulico, esquadrias, entre outros itens para as 90 casas, para reduzir custos em

compras menores e todo este material está parado, sem uso. Já o gerente comercial da

ACPO, afirma que a empresa tem todo o interesse em retomar as obras, mas não pode

fazer isso em decorrência da notificação para suspensão, sem que a prefeitura defina onde

será instalada a rede elevatória de esgotos e sem os devidos ajustes de preços, já que os

valores acertados em 2008, quando foi assinado o contrato, estão defasados. São

efetuados ajustes nos contratos.

2013 - Julho - Depois de audiência publica na Câmara de Vereadores, realizada

no diz 16, sobre o PAC Farroupilha em Pelotas, Jacques Reydams desiste de tentar

encaminhar o projeto da estação elevatória pela Caixa e afirma que a autarquia irá arcar

com os recursos de cerca de R$ 50 mil para a execução. “O SANEP vai absorver este

serviço, a obra para a estação deve começar na semana que vem e a previsão de conclusão

é três semanas, já a finalização da rede depende de alguns serviços que não nos competem.

O SANEP deixará de ser um empecilho para a conclusão destas obras”, disse.

(Reportagem especial Diário Popular de 28/08/2013).

2013 - Julho - O gestor da UGP, Jair Seibtl afirma que para agilizar o processo

conseguiu aterro gratuito - sobra da obra de duplicação da BR-392 - e abriu uma licitação

para encontrar uma empresa que leve o material para o Anglo. Como não apareceu

nenhuma interessada, foi aberto um novo processo - o edital será publicado na quinta-

feira. A prefeitura, via assessoria de imprensa, diz estimar que o aterramento esteja pronto

até o dia 15 de agosto. (fonte Reportagem Central Única das Favelas – CUFA Pelotas

17/07/2013).

2013 – Agosto - Manchete do Diário Popular 28 /08: Há cinco anos, o anúncio

do investimento de R$ 57 milhões para moradias populares em Pelotas alimentou a

esperança de muitos; porém, das 448 casas prometidas para 2011, via PAC Farroupilha,

só 72 foram efetivamente entregues.

2013 – Agosto – Finalizado Serviços de Terraplanagem no Loteamento Anglo”

para viabilizar finalização das obras de infraestrutura pela ACPO. Contrapartida da

PMPEL. Contatado por Dispensa de Licitação MEM8363/20 08SMH/2008. Contrato

272/2008 (?). Valor: R$135.212. Executor: J.A SILVEIRA.

2013 – Dezembro - Integrantes da equipe do Núcleo de Pesquisa em Arquitetura

e Urbanismo da UFPEL compareceram à reunião do dia 10/12/2013 na sede da UGP e

apresentam os dados do levantamento da poligonal e dos conflitos entre o projeto original

e o implantado. Proposta de parceria para desenvolvimento da regularização fundiária do

PAC Anglo.

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2013 - Novembro - Os posseiros do Loteamento Anglo receberam um prazo de

15 dias para desocupar o espaço referente a praça do loteamento e das 32 unidades a

serem finalizadas. As famílias precisaram recorrer a parentes ou mesmo a pagar aluguel

durante o período. É o caso de Nilza da Silva, que desde 2004 estava residindo na região

e precisouadicionar aos gastos mensais o valor de um aluguel não previsto no orçamento

apertado. “Quem recebe um salário mínimo sabe a dificuldade de pagar as contas da casa,

aluguel e alimentação. Passei necessidade neste tempo, mas valeu a pena a espera.”

Situação semelhante foi vivida pela costureira aposentada Orfila de Carvalho. Com o

prazo para sair do local, Orfila precisou mudar-se para o Monte Bonito enquanto

aguardava a entrega da casa no loteamento. “O que mais me indignou foi o prazo de 15

dias sendo que as obras demoraram três meses para começar”. (Diário Popular. 21 agosto

2014).

2014- Março- Definida nova implantação das 32 unidades habitacionais pela

UGP e moradores. Nova planta de implantação elaborada e preservada a área verde

prevista no projeto original.

2014 – Julho - Em parceria com o NAURB (Núcleo de Pesquisa em Arquitetura

e Urbanismo) a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de

Pelotas (FAUrb/UFPel), a Secretaria de Gestão da Cidade e Mobilidade Urbana (SGMU)

anunciou aos moradores do Anglo, na manhã de sábado (19/07/14), em reunião no Centro

Comunitário do Loteamento, o inicio do processo de Regularização Fundiária na

comunidade. (Diário Popular – 19/07/2014)

2014 – Julho - “Durante a reunião, a população aproveitou para cobrar a entrega

das 32 casas construídas com recursos do PAC Farroupilha. Do total previsto de 90

residências, 58 já foram destinadas aos moradores. Conforme a prefeita em exercício, a

rede de esgoto ainda não foi finalizada, impedindo a utilização das construções. A greve

dos servidores do Serviço Autônomo de Abastecimento de Agua de Pelotas (Sanep) foi

dada como justificativa para a demora nas obras de saneamento. Prometida para julho, a

entrega teve o prazo adiado para agosto.” (Diário Popular – 19/07/2014).

2014 - Agosto- Casas do Loteamento Anglo são entregues aos moradores. “Em

meio a acabamentos e ajustes elétricos, as 32 famílias que aguardavam a entrega de suas

moradias no Loteamento Anglo finalmente receberam as chaves de casa. O clima era de

euforia durante a cerimônia realizada nesta quinta-feira (21) no centro comunitário

construído no local. (Diário Popular 21/08/2014). Falta finalizar as obras de

pavimentação da via que margeia o canal e urbanizar a praça.

2014 - Outubro/ dezembro- Em elaboração por alunos da Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo, que desenvolvem trabalho de extensão no NAURB, o projeto

de uma praça com brinquedos, arborização e quadra de futebol para o Loteamento Anglo,

atendendo a demanda da comunidade deste local.

2014 – Outubro- Realização da demarcação e mapeamento dos lotes e aplicação

do questionário socioeconômico ao morador. Os alunos começam o processo de selagem

que garante a participação do imóvel no Projeto ­ o adesivo contém a localização, número

de porta, ocupação e tipo de uso da construção.

2015 – Janeiro - A penúltima etapa corresponde a elaboração de uma planta

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topográfica da região, para então confeccionar o contrato de compra e venda dos imóveis.

Este contrato garantirá a escritura dos lotes, tornando os atuais posseiros em proprietários.

2015 – Janeiro - A liderança comunitária solicita visita da UGP ao PAC Anglo

para vistoria de obras de coleta de pluvial danificadas pela circulação do caminhão de

coleta de resíduos sólidos. O SANEP não instala a estação elevatória, alegando ser

tecnicamente viável a utilização da rede existente. Problemas de mau cheiro e esgoto

depositado nas vias são identificados.

2. LEVANTAMENTO DE DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS DA REGIÃO

ONDE SE INSERE O PAC ANGLO

2.1. Introdução

Este item tem o objetivo de descrever a situação dos moradores e dos domicílios

da região onde está inserido o PAC Anglo, através dos dados sociodemográficos obtidos

pelo censo 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

O presente relatório apresenta um conjunto dos dados censitários coletados em

2010 obtidos através de ferramentas disponíveis no Painel do Censo 2010, acessível no

endereço www.ibge.gov.br/censo2010/painel. O trabalho foi efetuado buscando delinear

as características sócio econômicas dos locais de estudo, Região administrativa do São

Gonçalo, Zona da Balsa e PAC Anglo, como base para as futuras ações participativas da

população sobre o território e da avaliação das políticas publicas de moradia sobre elas

implementadas.

Almeida (2007) afirma que a ausência de dados geográficos, a falta de acesso aos

dados produzidos ou de precisão e confiabilidade de dados georreferenciados existentes

nas bases municipais podem dificultar ou diminuir a eficácia dos instrumentos de

planejamento e gestão pública oferecidos pelo estatuto da cidade, que prevê a participação

popular nos processos de planejamento

O censo realizado pelo IBGE a cada início de década é um estudo aprofundado da

sociedade brasileira. Delineia de modo quantitativo o perfil socioeconômico da população

e serve de instrumento de apoio a processos decisórios e de planejamento de diversos

setores da economia e gestão pública. Segundo o próprio IBGE o censo é “um retrato de

corpo inteiro do país com o perfil da população e as características de seus domicílios, ou

seja, ele nos dirá como somos, onde estamos e como vivemos.” (IBGE, 2012). A

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utilização dos dados do Censo é uma forma de minimizar a falta de dados sobre as

comunidades e parcelas da cidade, utilizando –se da unidade mínima de disponibilização

dos dados censitários, que é o setor censitário, para trazer a tona dados sobre as mesmas.

A visão que esta pesquisa tem é de disponibilizar à população leiga a capacidade

de autorreconhecimento a partir dos dados levantados. Também busca descrever de modo

detalhado as áreas em estudo para subsidiar ações de qualificação urbana, tanto públicas

quanto privadas, nestes locais e de avaliação das políticas publicas.

Os produtos alcançados na pesquisa possibilitam fazer algumas análises

descritivas dos locais em estudo. Com a pesquisa foi possível caracterizar as áreas por

meio das variáveis disponíveis no censo de 2010. A síntese dos resultados apresenta as

semelhanças e diferenças destas variáveis para o PAC Anglo em relação a cidade de

Pelotas, a Região de Planejamento (São Gonçalo) onde se insere e em relação a

vizinhança mas próxima, a denominada Zona da Balsa e será mostrada a seguir com

informações que revelam estes cenários. Objetivo

O objetivo principal de realizar a caracterização de áreas habitacionais de interesse

social segundo os dados censitários do IBGE é propiciar para a população residente

autorreconhecimento de suas condições no ambiente de moradia e dos próprios

moradores, bem como a fim de apoiar processos participativos de gestão e avaliação dos

mesmos.

2.2. Objetivos Secundários

É aplicada a caracterização de áreas habitacionais de interesse social segundo os

dados censitários do IBGE à cidade de Pelotas, Região de Planejamento do São Gonçalo

e Zona da Balsa e PAC Anglo.

2.3. Utilização da Ferramenta Painel do Censo 2010

A ferramenta utilizada para a obtenção dos dados, Painel do Censo 2010,

disponibilizado online no site do IBGE (www.ibge.gov/censo2010/painel), propicia criar

mapas temáticos de acordo com as variáveis propostas e extrair os dados brutos para

outras análises. Assim, foi produzido para cada variável tabelas e gráficos das áreas

estudadas. A Zona da Balsa é composta por um conjunto de seis setores censitários que

somados totalizam a área. O PAC Anglo corresponde a um destes setores.

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São utilizados dois meios de obtenção de informação. O mais tradicional e que

não requer conhecimento especialista é o uso das ferramentas disponíveis no webgis do

IBGE, que oferece a possibilidade de gerar informação sobre as variáveis levantadas no

censo por meio de infográficos e cartogramas. Embora esta ferramenta esteja ao alcance

de todos, desde que tenham acesso à internet, o mecanismo tem certa complexidade para

sua utilização efetiva5.

O outro método requer conhecimento prévio em tecnologias de informação

geográfica, mais especificadamente em softwares de geoprocessamento. O IBGE fornece,

por meio da internet e de mídias digitais, base cartográfica e dados tabulares para

subsidiar estudos com esta tecnologia. Este recurso possibilita realizar análises espaciais

complexas e que não estão disponíveis na ferramenta online do IBGE. A utilização dos

dados do censo 2010 do IBGE e as análises realizadas seguiram dois caminhos distintos

para a produção de dados que subsidiassem informações sobre as áreas de estudo.

O primeiro passo foi fundamentalmente utilizar dados tabulares brutos disponíveis

no site do IBGE. Como o órgão disponibiliza as variáveis de forma organizada em sistema

de banco de dados (dados brutos), em grandes tabelas onde todas as variáveis são cruzadas

entre si, a pesquisa julgou conveniente copiar os dados dos gráficos, onde a visualização

é facilitada, e importá-los para planilha eletrônica (no caso: Excel) a fim de elaborar

tabelas e gráficos de acordo com as variáveis e locais de interesse da pesquisa. Com este

expediente foi possível gerar gráficos analíticos e tabelas sobre os seguintes temas:

a) GRUPO DOMICÍLIOS

Tipo de Domicílios

Condição de Ocupação

Quantidade de Moradores

Renda

b) GRUPO PESSOAS

População Residente

Faixa etária

c) GRUPO SANEAMENTO E ENERGIA

Água

Energia

5 O presente trabalho se utilizou de um conjunto de ferramentas disponível do Painel do Censo 2010, e acessível no endereço www.ibge.gov.br/censo2010/painel bem como de um tutorial onde as variáveis e as formas de representação (gráficos, tabelas e cartogramas) foram mais facilmente apropriadas pela comunidade científica e leiga. Este tutorial compõe um subgrupo de atividades da pesquisa denominada MORAR TS em que faz parte outras universidades brasileiras, inclusive a Universidade Federal de Pelotas, por meio do Núcleo de Estudos em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. O objetivo é buscar tecnologias sociais (TS) em habitação de interesse social (HIS) que sejam apropriadas pela população local das áreas em estudo.

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Lixo

Banheiro ou Sanitário

Outro caminho seguido foi a elaboração de mapas temáticos utilizando a

ferramenta de webgis disponível no site do IBGE (<

http://www.censo2010.ibge.gov.br/painel/ >). Foram produzidos conforme as variáveis:

a) GRUPO DOMICÍLIOS

Tipo de Domicílios – Apartamentos. Ver Figura 15 que representa o Mapa.

Condição de Ocupação – Alugados. Ver Figura 16 que representa o Mapa.

2.4. Resultados

2.4.1. Grupo Domicílio / Tema Domicílio / Variável Tipo de Domicílio

Quanto ao Tipo de Domicilio Particular Permanente, em Pelotas predominam as

Casas como tipo principal de domicílios, atingindo 79% do total. O percentual de

Apartamentos é 20% concentrando-se na Região Centro. Constata-se ser pouco

significativo o número de Casas de Vila ou em Condomínio (1%). Predominam as casas,

na zona da Balsa, atingindo 94,86% do total. Em alguns casos, como na reião do

PAC/Anglo, nota-se a ausência dos outros tipos de domicílio, caracterizando o tipo casa

como exclusivo dessas regiões. Os Quadros 2 e 3 constatam os dados referidos.

Quadro 2- Tipo de Domicílios Pelotas - São Gonçalo - Zona da Balsa

Tipo Habitacional Pelotas São Gonçalo Zona da Balsa

Nº % Nº % Nº %

Casa 87.242 79 7384 78,2 1.904 94,86

Apartamento 22.007 20 1578 16,7 98 4,88

Casa de Vila ou em Condomínio

1.598 1 477 5,1 5 0,24

Total 110.847 100 9439 100 2.007 100

Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010 Quadro 3- Tipo de Domicílios - Grupamentos da Zona da Balsa

Tipo Habitacional

Univers. Perret PAR PAC/Anglo M. Meneguetti Balsa

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

Casa 253 100 554 99,1 1 1,04 142 100 424 99,89 530 100

Apartamento 1 0,17 95 98,9 2 0,46

Casa de Vila ou em Condomínio

4 0,71 1 0,23

Total 253 100 559 100 96 100 142 100 427 100 530 100

Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010

2.4.2. Grupo Domicílio / Tema Domicílio / Variável Condição de Ocupação

A condição de ocupação dos domicílios em Pelotas é em sua maioria Próprio

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(79%), os domicílios Alugados são a segunda maior forma, totalizando 14%. Cedido

apresenta 6% e outra Condição de Ocupação apenas1%. Quanto a localização, a

concentração de imóveis alugados se dá na região central e no bairro operário do Fragata.

Ver Quadro 4. Quanto as condições de ocupação, na zona da Balsa como um todo, há

predominância dos imóveis Próprios, sejam quitados ou em aquisição (90,0%), repetindo

os percentuais da cidade. Em alguns casos específicos, como nas regiões da

Universidade, do Perret, do Meneguetti e da Balsa, nota-se a predominância da Condição

de Ocupação do tipo Próprio. O percentual de imóveis alugados tanto na Região do São

Gonçalo como na Zona da Balsa é bem menos significativo que na cidade como um todo:

passa de 14,1% para 4,44%.

Porém na região do PAC/ANGLO o destaque vai para o tipo Cedido (53.5%), fato

que tem relação direta com a situação de posse recente de grande parte dos moradores

desta área. Apesar da situação de posseiros, muitos moradores se declaram como

domicílios Próprios (45.7%), verifica-se que o Alugado tem baixa ocorrência em relação

aos demais (0,70%).

Como o loteamento PAC Anglo entrou em processo de regularização fundiária a

partir de outubro de 2014, a situação de Posse e Cedência deverá ser transformada em

poucos meses (previsão de finalização em abril de 2015) em situação de Propriedade. O

acompanhamento da implementação do programa deverá estar atento pela pressão do

mercado imobiliário de aluguel na região da Balsa pela demanda gerada pela presença do

novo campus universitário da UFPEL (Campus Anglo). O PAC Anglo situa-se a menos

de 300 m do Campus Anglo e a regularidade poderá ter um efeito contrario ao esperado:

poderá liberar os imóveis para o mercado formal de aluguel.

Quadro 4- Condição de Ocupação Pelotas – Zona da Balsa/ São Gonçalo

Condição de Ocupação Pelotas Zona da balsa

Nº % Soma % Nº % Soma %

Próprio e Quitado 81855 71,8 90.369 79

1724 86,1 1802 89,99

Próprio em Aquisição 8514 7,5 78 3,89

Alugado 16063 14,1 16063 14,1 89 4,44 89 4,44

Cedido por Empregador 790 0,7 6.637 5,82

27 1,34 110 5,48

Cedido de Outra Forma 5847 5,1 83 4,14

Outra Condição de Ocupação 882 0,8 882 0,8

Total 113.951 100 113.951 100 2001 100 2001 100

...(continua)

Condição de Ocupação São Gonçalo

Nº % Soma %

Próprio e Quitado 6884 72,8 7643 80,8

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Próprio em Aquisição 759 8

Alugado 1124 11,9 1124 11,9

Cedido por Empregador 63 0,7 606 6,4

Cedido de Outra Forma 543 5,7

Outra Condição de Ocupação 84 0,9 84 0,9

Total 9457 100 9457 100

Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010 Quadro 5- Condição de Ocupação – Grupamentos da Zona da Balsa

Condição de Ocupação

Univers. Perret PAR PAC/Anglo M. Meneguetti Balsa

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

Próprio 242 95,6 508 91,6 67 69,7 65 45,7 413 96,9 507 95,6

Alugado 5 1,97 31 5,5 27 28,1 1 0,70 8 1,8 17 3,2

Cedido 6 2,47 15 2,7 2 2 76 53,5 5 1,17 6 1,13

Total 253 100 554 100 96 100 142 100 426 100 530 100

Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010

2.4.3. Grupo Domicílio / Tema Domicílio / Variável Quantidade de

Moradores Por Domicílio

A maior parte dos domicílios no município de Pelotas tem 2 a 3 moradores

(29,08% e 26,37% respectivamente). A sub região do São Gonçalo e a Zona da Balsa

repetem essa tendência. Em suas médias. Entretanto nos grupamentos dos setores

censitários há uma diferença significativa dessa distribuição: o PAR, conjunto de

apartamentos construídos para oferta aos funcionários da UFPEL, tem sua maior

concentração em 1 morador por domicilio (38,54) e o menor percentual em 4 moradores

por domicilio (8,3%).

A área da Universidade, Balsa e o Perret, ocupações mais antigas da região,

apresentam percentuais semelhantes de domicílios com 4 moradores (19,9 a 20,44%), e

o PAC Anglo um percentual um pouco superior de 22,52%. A diferença maior aparece

nos domicílios com 5 ou mais moradores, que a média da cidade de Pelotas é 7,75%. A

sub região do São Gonçalo apresenta 15,5% de seus domicílios com 5 ou mais moradores

e o PAC Anglo sobe este percentual para 17,11%.

Estes dados evidenciam que a proposta padronizada de moradias com 2

dormitórios ofertada pelo PAC no município de Pelotas deixa 17,11% das famílias fora

de um atendimento condizente com o número de moradores. Foi também evidenciado que

28,82 % dos domicílios possuem entre 1 e 2 moradores, e que a opção por uma moradia

com um dormitório poderia atender a 12,61% das famílias beneficiadas. Uma oferta mais

diversificada da tipologia habitacional ou a possibilidade de uma casa evolutiva no lote

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atenderia de forma mais eficaz as demandas da população.

Quadro 6- Quantidade de Moradores por Domicílio - Pelotas, São Gonçalo e Zona da Balsa

Quant. de morador (s)

Univers. Perret PAR PAC/Anglo M. Meneguetti Balsa

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

1 31 13,77 73 14,37 37 38,54 14 12,61 71 16,62 78 16,21

2 48 21,33 150 29,52 30 31,25 18 16,21 87 20,37 116 24,11

3 70 31,11 124 24,4 21 21,87 35 31,53 103 24,12 139 28,89

4 46 20,44 103 20,27 8 8,33 25 22,52 85 19,9 97 20,16

5 ou + 30 13,33 58 11,41 0 0 19 17,11 81 18,96 51 10,6

Total 225 100 508 100 96 100 111 100 427 100 481 100

Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010 Quadro 7- Quantidade de Moradores por domicílio – Grupamentos da Zona da Balsa

Quant. de morador(s)

Pelotas São Gonçalo Zona da Balsa

Nº % Nº % Nº %

1 20776 19,21 1695 17,9 233 16,39

2 31448 29,08 2367 25 362 25,4

3 28521 26,37 2315 24,5 389 27,3

4 18991 17,56 1616 17,1 279 19,63

5 ou + 8388 7,75 1464 15,5 158 11,11

Total 100 100 100

Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010

2.4.4. Grupo Domicílio / Tema Domicílio / Variável Renda

Não diferente da realidade brasileira, Pelotas tem uma distribuição de renda

concentrada nas faixas menores de rendimento.

No Brasil, 71,9% ganha até 2SM mensais de renda domiciliar e 18,9 % recebe de

2 a 5 SM, mas em Pelotas há uma maior concentração nas faixas 1 a 2 SM (24,59%) e de

2 a 5 SM (38,36%).

Entretanto essa realidade se distribui de forma desigual na cidade e na Zona da

Balsa e no PAC Anglo a concentração nas faixas de menores rendimentos é maior do que

a media brasileira e pelotense, respectivamente 93,41% na Balsa e 95,67% no PAC, sendo

que no PAC Anglo 90,50% dos domicílios encontram-se concentrados na faixa de até 1

SM.

Estes dados são um alerta para os técnicos sociais do Programa e para os técnicos

municipais e gestores públicos. A baixa capacidade financeira das famílias é um problema

para a manutenção dos espaços da habitação e do entorno imediato. O investimento

realizado pode rapidamente se deteriorar caso o município não estabeleça um programa

especial de gestão e manutenção das unidades e do território.

Quadro 8- Classe de rendimento nominal mensal domiciliar - Pelotas

Pelotas Zona da Balsa

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Quantidade de salário(s) mínimo

Nº % Nº %

Até 1/2 1930 1,74 633 33,35

+ de 1/2 a 1 14344 12,99 730 38,46

+ de 1 a 2 27139 24,59 410 21,6

+ de 2 a 5 42334 38,36 114 6

+ de 5 a 10 16154 14,63 9 0,47

+ de 10 a 20 6224 5,64 2 0,10

+ de 20 2214 2,00

Sem declaração 15 0,01

Total 110354 100,00 1898 100

Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010 Quadro 9- Classe de Rendimento nominal mensal domiciliar- Zona da Balsa e grupamentos

Quant. de salário(s) mínimo

Univers. Perret PAR PAC/Anglo M. Meneguetti Balsa

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

Até 1/2 103 40,55 129 23,71 3 3,19 77 66,37 184 50 137 26,24

+ de 1/2 a 1 108 42,51 234 43 17 18,08 28 24,13 127 34,51 216 41,37

+ de 1 a 2 34 13,38 155 28,49 36 38,29 6 5,17 48 13,04 131 25,1

+ de 2 a 5 9 3,54 25 4,59 31 32,97 4 3,44 9 2,44 36 6,89

+de 5 a 10 0 0 1 0,18 6 6,38 1 0,86 0 0 1 0,19

+ de 10 0 0 0 0 1 1,06 0 0 0 0 1 0,19

Total 254 100 544 100 94 100 116 100 368 100 522 100

Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010

Quadro 10- Classe de Rendimento nominal mensal domiciliar em percentuais – Pelotas, Zona da Balsa e PAC Anglo

Quantidade de Salário(s) Mínimo Brasil (%) Pelotas (%) Zona da Balsa (%) PAC Anglo (%)

Até 1 39,2 71,9 14,73 39,32 71,81 93,41 90,50 95,67

De 1 a 2 32,7 24,59 21,60 5,17

De 2 a 5 18,9 38,36 6,00 3,44

De 5 a 10 6,1 14,63 0,47 0,86

+ de 10 3,1 7,64 - -

Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010

2.4.5. Grupo Pessoas / Tema População Residente

Na avaliação do PAC Anglo é importante verificar a quantidade de população alvo

desta ação de regularização técnica e fundiária frente a população total do bairro e da

população total de Pelotas.

Segundo o censo de 2010, Pelotas tem uma população de 327.789 habitantes. A

Região de Planejamento de São Gonçalo representa 8,72 da população da cidade, sendo

que a Zona da Balsa, bairro onde está inserido o PAC Anglo, representa 1,46% do total

dos habitantes pelotenses.

Dentro dessa região da Balsa, o PAC Anglo corresponde somente a 11,76 % do

total de 4.793 moradores, com 564 habitantes.

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Apesar de seu número de domicílios ser relativamente baixo, a localização dessa

ocupação é estratégica para o processo de renovação que a região está passando, com a

instalação do novo campus universitário da UFPEL e a retomada das atividades

portuárias. Situada junto a um canal, ocupou o leito de uma via planejada que ligará a

zona norte da cidade à região portuária. O projeto de regularização do parcelamento libera

essa via para que passe a fazer parte do sistema viário da cidade.

Quadro 11- População Residente Urbana - Distrito, Subdistritos e Setores Censitários

População Residente Urbana

Distrito Subdistrito Grupamento dos Setores Censitário

Pelotas São Gonçalo Zona da Balsa

Nº % Nº % Nº %

327.789 100 28.608 8,72 4.793 1,46

Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010

Quadro 12- População Residente Urbana – Discriminação dos Setores Censitários da Zona da Balsa

População Residente Urbana

Univers. Perret PAR PAC/Anglo M. Meneguetti Balsa

Nº Nº Nº Nº Nº Nº

863 18 1.810 37,76 192 4 564 11,76 1.364 28,45 1.710 35,67

Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010

2.4.6. Grupo Pessoas / Tema Faixa Etária

A pirâmide etária de Pelotas já reflete a diminuição da natalidade experimentada

no país nas últimas décadas. A década de 1960, quando a taxa de fecundidade era de cerca

de 6 filhos por mulher, passamos para 4,5 no final da década de 1970. Em 2010, conforme

dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa média de

fecundidade no Brasil era de 1,86 filho por mulher, semelhante à dos países desenvolvidos

e abaixo da taxa de reposição populacional, que é de 2,1 filhos por mulher. O desenho da

pirâmide da Região do São Gonçalo tem perfil semelhante. Os dois perfis diferenciados

dentro da Região do São Gonçalo são o conjunto Habitacional denominado PAR, com

predomínio de jovens adultos de 20 a 34 anos sendo o número de crianças de 0 a 4 anos

cerca de 1/3 do de jovens adultos da faixa mencionada. Na área do PAC Anglo

predominam as crianças e jovens até 14 anos, sendo que a base da pirâmide alargada

remete a uma distribuição populacional de famílias com número mais elevado de filhos.

As três primeiras faixas etárias possuem o triplo de pessoas em ralação a de jovens

adultos (20 a 34 anos). Predominam as mulheres entre os adultos entre 25 e 34 anos,

reforçando os dados do aumento da chefia de domicílio feminina encontrada nas

populações de mais baixa renda.

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2.4.7. Grupo Saneamento e Energia / Tema Abastecimento de Água

O abastecimento de água via Rede Geral dos Domicílios Particulares Permanentes

na zona da Balsa como um todo é predominante. O mesmo ocorre na comparação das

regiões da Zona da Balsa. Na maioria dos casos, a Rede Geral é a única forma de

abastecimento de água. A única região que possui Outra Forma de Abastecimento é a

Mário Meneguetti (19,9% do total). A situação de posse não tem sido um impeditivo para

ligação à rede geral.

Quadro 13- Domicílios Particulares Permanentes segundo Abastecimento de Água - Pelotas, São Gonçalo e Zona da Balsa

Pelotas São Gonçalo Zona da Balsa

Nº % Nº % Nº %

Rede Geral 107225 94,1 9330 98,7 1.915 95,75

Poço ou nascente na propriedade

4648 4,07 6 0,1 - -

Outra forma de abastecimento

2068 1,8 121 1,3 85 4,25

Total 113.941 100 9457 100 2.000 100

Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010

Quadro 14- Abastecimento de Água - Zona da Balsa

Univers. Perret PAR PAC/Anglo M. Meneguetti Balsa

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

Rede Geral 252 100 557 100 96 100 140 100 341 80 529 100

Poço ou nascente na propriedade

- - - - - - - - - - - -

Outra forma de abastecimento

- - - - - - - - 85 19,90 - -

Total 252 100 557 100 96 100 140 100 426 100 529 100

Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010

2.4.8. Grupo Saneamento e Energia / Tema Energia Elétrica

Sobre a energia elétrica, os dados mostram que os Domicílios Particulares

Permanentes da zona da Balsa possuem, quase que na sua totalidade, abastecimento de

Energia Elétrica por Companhia Distribuidora e o mesmo se repete nas regiões da Balsa.

No caso dessas regiões, as únicas que possuem outras formas de abastecimento de Energia

Elétrica, são a região do PAC/Anglo (2,12% proveniente de Outras Fontes) e a região do

Mário Menguetti (7,46% proveniente de Outras Fontes e 0,33% sem Energia Elétrica).

Supõe-se que estas sejam de ligações clandestinas.

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Quadro 15- Domicílios Particulares Permanentes segundo abastecimento de Energia Elétrica - Pelotas, São Gonçalo e Zona da Balsa

Pelotas São Gonçalo Zona da Balsa

Nº % Nº % Nº %

Com energia elétrica de outras fontes

590 0,51 54 0,6 48 2,2

Sem energia elétrica 522 0,45 38 0,4 2 0,1

Com energia elétrica de companhia distribuidora

112.839 99 9365 99 2.126 98

Total 113.951 100 9457 100 2.176 100

Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010

Quadro 16- Energia Elétrica - Zona da Balsa

Univers. Perret PAR PAC/ANGLO M. Meneguetti Balsa

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

Com energia elétrica de outras fontes

- - - - - - 3 2,12 45 7,46 - -

Sem energia elétrica - - - - - - - - 2 0,33 - -

Com energia elétrica de companhia distribuidora

253 100 556 100 95 100 138 97,80 556 92,2 528 100

Total 253 100 556 100 95 100 141 100 603 100 528 100

Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010

2.4.9. Grupo Saneamento e Energia / Tema Destino do Lixo

Quanto ao lixo, analisando os dados das tabelas (Quadros 18 e 19), conclui-se que

o destino do lixo na Zona da Balsa se dá, em sua maioria, de forma Coletada. Já na

comparação entre as regiões da Balsa, verifica-se que a totalidade do lixo é coletado em

todas as sub áreas analisadas. De acordo com entrevistas realizadas com moradores do

local, embora haja coleta nessas sub áreas, não existem recipientes adequados para

depósito do lixo a ser coletado.

Quadro 17- Domicílios Particulares Permanentes segundo o Destino do Lixo - Pelotas

Forma de coleta Pelotas

Nº % Soma %

Coletado

Por serviço de limpeza 97057 85,17

110606 97,06 Em caçamba de serviço de limpeza

13549 12

Queimado/Enterrado (na propriedade) - - - 2662 2,33

Jogado em Terreno Baldio/Logradouro/ Rio/Mar

- - - 183 0,16

Outro destino - - - 500 0,43

Total - - - 113951 100 Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010

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Quadro 18- Domicílios Particulares Permanentes segundo o Destino do Lixo - São Gonçalo e Zona da Balsa

Forma de Cotela São Gonçalo Zona da Balsa

Nº % Soma % Nº % Soma %

Coletado

Por serviço de limpeza

8862 93,7

9397 99,36

1.964 98,2

1.966 98,34 Em caçamba de serviço de limpeza

535 5,65 2 0,1

Queimado/Enterrado (na propriedade)

- 15 - 15 0,15 - - - -

Jogado em Terreno Baldio/Logradouro/ Rio/Mar

- 25 - 25 0,26 - - 18 0,9

Outro destino - 20 - 20 0,21 - - 15 0,75

Total - - - 9457 100 - - 1999 100 Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010 Quadro 19- Destino do Lixo - Zona da Balsa

Universidade Perret PAR PAC/ANGLO M. Meneguetti Balsa

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

Coletado 253 100 557 100 96 100 141 100 393 100 527 100

Total 253 100 557 100 96 100 141 100 393 100 527 100

Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010

Quadro 20- Domicílios Particulares Permanentes segundo Banheiro ou Sanitário - São Gonçalo e Zona da Balsa

Pelotas São Gonçalo Zona da Balsa

Nº % Nº % Nº %

Com banheiro de uso exclusivo dos moradores ou sanitário

113.137 99,3 9404 99,4 1.980 98,6

Sem banheiro de uso exclusivo dos moradores e nem sanitários

814 0,7 53 0,6 27 1,34

Total 113.951 100 9457 100,0 2.007 100

Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010

Quadro 21- Banheiro ou Sanitário - Zona da Balsa

Univers. Perret PAR PAC/Anglo M. Meneguetti Balsa

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

Com banheiro de uso exclusivo dos moradores ou sanitário

251 99,2 556 99,8 96 100 142 100 408 95,6 527 99,4

Sem banheiro de uso exclusivo dos moradores e nem sanitários

2 0,8 3 0,2 - - - - 19 4,4 3 0,6

Total 253 100 559 100 96 100 142 100 427 100 530 100 Fonte: IBGE: Censo Domiciliar 2010

2.5. Conclusões Parciais

Os dados censitários do censo domiciliar 2010 do IBGE aplicados para as

microrregiões permitiram ver o potencial da ferramenta para possibilitar o

autorreconhecimento da comunidade e a disponibilização de dados para embasar políticas

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públicas focadas neste território. Entretanto a ferramenta poderia ser mais amigável,

permitindo a organização de microterritórios diretamente no mapa disponibilizado,

diferentes das organizações territoriais do subdistrito, que é ainda muito abrangente,

estabelecendo um nível de pesquisa intermediário entre este e o setor censitário, sua

unidade mínima de informação.

Para seguimento da pesquisa serão aplicadas ferramentas de geoprocessamento

em que serão utilizadas as feições geográficas dos setores censitários (shapes) das regiões,

com a possibilidade de somatório de setores censitários para delimitar novas áreas

diretamente no mapa, sem a necessidade de extrair os dados de cada setor e agrupá-los.

Os shapes também permitirão o cálculo de densidade populacional, precisando a

distribuição espacial das variáveis. Agregado a este, no subgrupo 2 - meta física 2.2 - foi

elaborado um tutorial para facilitar o acesso e disseminação deste conhecimento com a

listagem destas variáveis e os passos para utilização da ferramenta, socializando essa

informação e possibilitando o embasamento para processos participativos em outras

comunidades.

3. INSERÇÃO URBANA

3.1. Introdução

O projeto PAC Anglo está sendo construído na região Administrativa do São

Gonçalo, na área denominada popularmente de Balsa, o qual é uma área pertencente à

prefeitura municipal de Pelotas. Segundo a classificação utilizada no Relatório do Grupo

de Trabalho das Áreas Especiais de Interesse Social (AEIS), produzido pelo NAUrb –

UFPel, o local é caracterizado como área pública, ocupada por população de baixa renda,

onde há interesse público em promover a regularização fundiária, produção, manutenção

e recuperação de habitação de interesse social.

De acordo com o tratado dos Direitos Econômicos e Sociais de Organização das

Nações Unidas – ONU, ratificado pelo Brasil em 1992, “a moradia digna localizada em

terra urbanizada, com acesso a todos os serviços públicos essenciais, é um direito

humano” e o seu não cumprimento significa uma violação a estes direitos. (PROJETO

MORADIA, 2002 apud PAOLI, 2014). Sendo assim, pode-se concluir que os

equipamentos urbanos são essenciais para a cidade, para dar suporte à população que

necessita de assistência médica, áreas de lazer e convívio, educação, entre outros. Cabe

salientar que a proximidade desses equipamentos serve para suprir a necessidade das

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pessoas que moram nos bairros, pois não precisam deslocar-se para a área central com o

intuito de realizar tais atividades. Entretanto, a implantação desses equipamentos depende

da autorização e iniciativa do poder público, sendo complementado, em alguns casos, por

iniciativa privada.

Esta é uma analise expedita, que leva em conta somente o raio de abrangência

dos equipamentos e serviços urbanos. A qualidade da prestação de serviços não está

somente ligada a sua acessibilidade, mas também a frequência (horários de

funcionamento) e continuidade.

3.1.1. Transporte Coletivo

O transporte coletivo percorre vias que tangenciam o PAC Anglo junto a Avenida

Tiradentes, acesso principal da Balsa à zona central da cidade. A localização em relação

ao centro comercial e histórico é privilegiada e os moradores podem deslocar-se a pé e de

bicicleta, pois a distancia ao mesmo não ultrapassa dez quarteirões, cerca de 700 m.

3.1.2. Educação

O PAC Anglo está na área de abrangência de uma escola estadual e parcialmente

numa escola municipal. No diálogo com a população, verificamos que a maior parte das

crianças estão na escola estadual, apesar da necessidade de travessias da avenida que

margeia o canal. A escola que atende ao bairro da Balsa, poderá ser solicitada quando a

avenida de mão dupla estiver incorporada ao sistema viário da cidade. Para o escolar, o

acesso à escola municipal da Balsa será a opção mais segura.

3.1.3. Saúde

O buffer considerado para ao alcance dos equipamentos de saúde é de 800 m,

estando o PAC Anglo dentro do raio de abrangência do Posto de Saúde da Balsa.

Entretanto o posto não tem atendido à demanda do entorno. Moradores queixam-se da

falta de médicos ou de poucas fichas para atendimento, a Figura 34 representa esse buffer.

Mais uma vez, o tema da distância, embora facilite o acesso, não é o determinante para a

satisfação dos moradores quanto ao atendimento à saúde.

3.1.4. Áreas verdes

O critério de proximidade não se mostra suficiente para avaliar o acesso às áreas

verdes. Além da distancia temos as dimensões das mesmas. Zona de ocupação irregular

e espontânea, a Balsa tem somente duas áreas verde: ao lado da escola e no Ambrosio

Perret. No projeto do parcelamento do solo da área de 30.078,00 m2 do PAC Anglo, estão

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previstos somente 3,65% para a área verde, muito abaixo da exigência da legislação

municipal para loteamento, que é 15%, podendo 5% estar contabilizada nos canteiros e

arborização das vias pública.

Juntamente com o projeto das casas do PAC Anglo, foi planejada uma área verde

dentro do perímetro da área, porém as obras da mesma não tiveram início até o momento.

A Figura 35 representa essa área verde.

3.1.5. Conclusões Parciais

Analisando a disposição de determinados equipamentos urbanos e comunitários –

áreas verdes, instituições educacionais, linhas de transporte coletivo e unidades de saúde

- da área, constata-se a ausência de equipamentos na área do Loteamento Anglo. Ao redor

do mesmo, quando há equipamentos, nota-se que a população tem de percorrer de médias

a grandes distâncias para usufruir dos mesmos. A maior parte dos equipamentos tangencia

o PAC Anglo no limite do raio de abrangência admitido como adequado.

4. CONCLUSÕES

4.1. Condução do Processo Participativo e Necessidades Habitacionais

Através das informações levantadas foi possível verificar a dificuldade de se

efetuar um projeto de requalificação urbana de assentamentos precários sem a efetiva

participação da comunidade em todas as etapas. A comunidade não foi cogestora, mas

sim "objeto" de uma intervenção de requalificação urbana.

Desde a assinatura do contrato do PAC por parte do prefeito Adolfo Fetter para as

regiões mencionadas receberem os investimentos do programa, em 2008, já se passaram

7 anos e o projeto não foi concluído até janeiro de 2015 (data de término da pesquisa). Se

contabilizarmos o período desse a ocupação do terreno, temos de 1998 a 2004, seis anos

até que a comunidade tenha a segurança da compra do terreno e a seguir, mais quatro

anos se seguem até a inclusão da área nas verbas do PAC Urbanização de Assentamentos

Precários. São 17 anos de instabilidade e apresentação das demandas da população ao

poder público e de existência de uma comunidade organizada.

Entretanto, apesar desta comunidade organizada, o projeto da área, iniciado em

2007 após o levantamento cadastral, não levou em conta o perfil das famílias, aplicando

um único projeto padrão de unidade habitacional de 2 dormitórios de 36,90 m2.

Os dados do censo de 2010 evidenciam que no PAC Anglo temos um percentual

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de 17,11% de domicílios com 5 ou mais moradores bem como 28,82 % dos domicílios

possuem entre 1 e 2 moradores, e que a opção por uma moradia com um dormitório

poderia atender a 12,61% das famílias beneficiadas.

Estes dados evidenciam que a proposta padronizada de moradias com 2

dormitórios ofertada pelo PAC no caso estudado deixa 17,11% das famílias fora de um

atendimento condizente com o número de moradores e que falta um maior detalhamento

das necessidades dos domicílios com 1 a 2 moradores, para oferta de unidades com um

dormitório. Uma oferta mais diversificada da tipologia habitacional ou a possibilidade de

uma casa evolutiva no lote atenderia de forma mais eficaz as demandas da população.

As primeiras 54 unidades já apresentam modificações e ampliações poucos meses

após a entrega. Levantamento realizado em janeiro de 2013 revela que das 58 casas, foram

construídos muros e cercas em 25 unidades. Além da busca da segurança essas

construções anexas ordenam o território e estabelecem um espaço de transição entre a

moradia e a rua. Entretanto a precariedade de recursos se alia à falta de orientação para a

execução destas obras. Não há nenhuma intervenção das assistentes sociais para busca de

soluções conduzidas de forma coletiva. Cada morador edifica com os recursos e limites

que estão a seu alcance. Desperdiça-se a oportunidade de relacionar a ação de capacitação

profissional desenvolvida pelo trabalho social com a de realizar melhorias habitacionais.

Esta também seria uma oportunidade de desenvolver programas de assistência técnica à

moradia de baixa renda, como aprovado na Lei Nº 11.888, de 24 de dezembro de 2008.

Esta assegura o direito das famílias de baixa renda (até 3 SM) à assistência técnica pública

e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social, como parte

integrante do direito social à moradia previsto no art. 6o da Constituição Federal. Apesar

de aprovada e defendida pelas instituições de promoção e controle da arquitetura e

urbanismo, não foi considerada pelo Ministério das Cidades como prioritária e somente

experiências isoladas têm sido implementas (LINASSI, 2014).

4.2. Tempo de Execução: um Problema de Gerenciamento do Município

Pelotas participou, com mais 5 municípios da Metade Sul do RS, de projeto de

desenvolvimento financiado pelo BIRD - Banco Internacional para Reconstrução e

Desenvolvimento, com as primeiras negociações iniciadas ainda na gestão municipal do

governo Marroni. Durante o período seguinte, de 2005 a 2007 o município recebeu

treinamento para compatibilização e adequação de projetos e estabeleceu um estrutura

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local para elaboração de projetos, preparação de editais, fiscalização de obras e prestação

de contas, através da UGP – Unidade Gestora de Projetos (envolvendo diversas

Secretarias e órgãos da prefeitura), com qualificação da equipe da UGP (e de diversos

servidores), que teve atribuições ampliadas para encaminhamento de outros projetos

(PAC 1 e 2, emendas parlamentares e Consulta Popular). A assinatura do Contrato entre

o BIRD e Pelotas ocorreu em março de 2008 com o início das obras e intervenções, com

prazo de 5 anos para conclusão de 30 projetos (pavimentação e arborização, calçadão do

Laranjal, na orla da Lagoa dos Patos, Centro de Comercio Popular - “camelódromo”,

entre outras) . Além das obras do BIRD, o controle de todos projetos e obras do PAC

ficaram ao encargo da UGP durante todo o período do governo Fetter mantendo-se a

mesma estrutura no governo eleito a partir de 2013, de Eduardo Leite.

Se a UGP foi ágil na captação dos recursos do Governo Federal, na execução dos

projetos do não teve o mesmo desempenho. Em entrevista de novembro de 2012 ao Diário

Popular, Fetter declara que, se por um lado a negociação inicial com o Banco Mundial foi

extremamente difícil, levou cerca de três anos, uma vez assinado o contrato o processo

foi ágil e “tudo funcionou muito bem”, dentro dos prazos acertados. “Com o governo

federal a situação se inverteu: a parte de projetos foi fácil, mas depois a execução se

tornou muito difícil, não foram cumpridos prazos de fiscalização nem de pagamentos.

Em março de 2009 a Secretaria Federal de Controle Interno da Controladoria-

Geral da União efetua o Relatório de Fiscalização 01356 RS sobre a elaboração do PLHIS

e do PAC Farroupilha no Município de Pelotas. O Relatório aponta diversas

irregularidades: falta de titularidade das áreas onde os recursos serão aplicados, demoras

na tramitação de projetos e decisões administrativas, a não realização do trabalho social

junto as comunidades, sobre preço e obras contratadas em ritmo lento de realização. O

relatório não possui nenhuma manifestação sobre as irregularidades, nenhuma

contestação, por parte da PMPEL. A retenção dos recursos para realizar o PLHIS – Plano

de Habitação de Interesse Social é claramente denunciada (recursos retidos por mais de

10 meses) e revela uma disputa de poder: a sociedade civil e a academia querem que este

seja elaborado, e do outro lado o Secretario de Habitação do governo Fetter, que neste

momento entende que um plano realizado de forma democrática poderia entrar em

conflito com as decisões centralizadas na UGP. Em Pelotas o PAC veio antes do Plano.

Executar o caminho contrário, ou seja, a elaboração de uma política pública

municipal de habitação adequada às características do município e de forma participativa,

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poderia entrar em conflito com a posição de total apoio ao capital imobiliário que a

PMPEL estava praticando.

O ano de 2007 é pródigo em editais para execução das unidades habitacionais e

infraestrutura das quatro áreas do PAC. Para as obras do PAC Anglo, uma empresa local

é selecionada para obras de infraestrutura e uma segunda de fora do estado para 90

unidades habitacionais. Os passos seguintes da construção destas unidades são uma

sequencia de falência, novo edital, falta de candidatos interessados, novo edital e por fim,

dispensa de licitação. O engenheiro responsável pela empresa contratada para finalizar as

90 unidades parcialmente construídas diz que “foi praticamente convidado” a realizar a

obra, que ninguém mais se interessava.

Kapp (2012,473) evidenciou para Belo Horizonte “o descompasso entre

programas federais, com suas agendas e pré-requisitos, e os problemas enfrentados pelas

prefeituras no dia a dia”. Em muitas delas não existe nenhum órgão especificamente

responsável pelas políticas habitacionais e urbanas. Pelotas, no período de governo do

PT, criou a Secretaria de Habitação e Cooperativismo, praticamente desativada nas duas

gestões seguintes, eliminando-se o Cooperativismo tanto de seu programa de ação como

de seu nome. A nova SEHAB efetua o projeto preliminar para envio ao Ministério das

Cidades da Vila Farroupilha e os Projetos Finais e a gestão são logo assumidas pela

Unidade Gestora de Projetos. Separa-se cabeça e corpo em prol de uma “agilidade”, de

uma “eficiência da máquina pública”: a SEHAB pensa e a UGP coloca em prática.

Entretanto, pelo relatório da Controladoria Geral da União e pela análise da Linha

de Tempo do processo de planejamento, projeto, obra e pós ocupação do PAC Anglo,

vimos que a fórmula administrativa centralizadora não funcionou. O descompasso entre

os tempos do Governo Federal e os do municipal permaneceu, porque outras são as

dificuldades para a execução de projetos de requalificação urbana, não resolvidos pela

existência de uma “super secretaria executiva”.

Deste estudo de caso elencamos algumas das dificuldades encontradas:

1. Falta de empresas que tivessem simultaneamente o interesse e o perfil de poder

participar das licitações. O mercado habitacional aquecido, com alternativas de recursos

nas três faixas do MCMV, abriu diversificadas oportunidade às empresas locais. Algumas

das concorrências publicas não tiveram nenhuma empresa local inscrita. Empresas de fora

que se apresentaram às licitações do município não possuíam o conhecimento das

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questões legais e dos processos de tramitação junto aos organismos públicos e autarquias,

o que pode causar tempo e custos adicionais. A primeira empresa que venceu a

concorrência publica para construção das 90 unidades do PAC Anglo, abandonou o

canteiro de obras de forma tempestiva em menos de um ano.

2. A forma de Concorrência Pública não tem conseguido atender a obras de

pequeno porte e espalhadas em vários pontos da cidade. O PAC Farroupilha no total

construiu 420 unidades habitacionais em 4 sítios distintos. Somente para o PAC Anglo

houve 4 concorrências e duas dispensas de concorrência e um processo que corre de

março de 2008 a março de 2015, 7 anos e ainda não finalizadas as obras da praça e

pavimentação do ultimo trecho da via principal, bem como a regularização fundiária. Se

essa forma de contratação de obras for estendida para a requalificação e regularização das

159 áreas do município de Pelotas, precisaremos de uma capacidade de gerenciamento

impossível de manter numa prefeitura de cidade de médio porte.

3. Falta de experiência das empresas em obras onde a população moradora

permanece no terreno ou é parcialmente remanejada. Problemas operacionais na

execução de obras de infraestrutura com a presença de menores de idade nas vias, demora

na saída dos moradores de suas casas e ruas, que para a empresa, não é entendida como o

local de moradia, mas sim como canteiro de obra, e imprevistos em custos de

infraestrutura. Estes fatores podem acarretar abandono e/ ou falências das empresas

contratadas.

4.3. Processo de Transição: da Precariedade a Nova Moradia

Além da demora, como constatado nas entrevistas, não houve uma política para a

relocação temporária dos moradores que tiveram de deixar suas casas para que as obras

pudessem iniciar. A população afirma que teve de providenciar por conta própria locais

temporários para se abrigar. Alguns se estabeleceram em casas de parentes e outros

puderam apenas improvisar abrigos temporários em péssimas condições de

sobrevivência, com materiais sucateados e sem nenhuma infraestrutura.

Apesar de previstos dentro das normativas do Programa, não foi proposta

utilização dos recursos para aluguel e para casa de passagem. A condição de precariedade

e insalubridade das famílias deste assentamento certamente recomendam a transição em

casa de passagem com assistência social para que as noções de cuidados com a moradia

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e com a infraestrutura urbana fossem trabalhadas com os moradores. Esta situação de

saída de sua moradia e necessidade de buscar apoio em familiares ou amigos trouxe muito

desconforto e custos para os moradores. A obra do PAC Anglo se desenvolveu em duas

etapas distintas: a primeira por urbanização e construção de novas unidades num terreno

vazio, contíguo a área já ocupada. Estas primeiras 58 moradias foram destinadas aos

moradores da comunidade do Anglo que estavam sobre o leito da via que margeia o canal.

Estes passaram de uma situação de total insalubridade para uma moradia mínima nos

padrões do Programa. As demais 32 famílias tiveram que ser desalojadas para que sobre

o terreno por elas ocupado, se construísse novas vias e unidades habitacionais. A espera

pelas novas moradias, que seria de 3 a 4 meses, se entendeu para alguns moradores de 12

a 18 meses. Esta transição da antiga à nova moradia causa uma desestabilização do

cotidiano que deve ser resolvida pelo gestor da política publica, e não pode ser justificada

pela busca da qualificação do espaço da moradia e da cidade que o Programa tem por

objetivo.

4.4. Regularização Fundiária

O processo de regularização fundiária está em curso. Há uma divergência entre a

demarcação da gleba original do terreno e a do levantamento de campo das obras de

requalificação urbana desenvolvidas, que superada, possibilita o envio final ao registro

de imóveis para poder proceder a titulação onerosa.

A Prefeitura teve que estabelecer uma metodologia de abordagem da

regularização que fixasse uma data limite para identificação dos residentes e que fazem

parte da comunidade original. Muitas famílias, atraídas pela perspectiva de obterem o

titulo de propriedade, querem agregar-se ao grupo original. Com o Loteamento Anglo,

este fato ocorreu nos primeiros anos da aquisição da área, antes da implementação do

PAC. A liderança comunitária foi extremamente rígida quanto a entrada de novos

membros no terreno e o grupo permaneceu praticamente igual durante o processo de

execução do PAC.

O uso de geotecnologias, propiciado pelo convênio do projeto de Extensão

Vizinhança com a UFPEL e a existência de uma imagem de sobrevoo atualizada facilitou

o processo de fechamento da poligonal e descrição dos lotes. Entretanto o Cadastro Sócio

Econômico dos moradores ainda é feito de forma analógica, aplicada por questionários

analógicos, e sem a constituição de um banco de dados. Tampouco é feita a associação

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entre o banco de dados cadastral e a localização das unidades habitacionais. Recomenda-

se a implementação destas ferramentas para possibilitar a espacialização das informações.

Situações de risco social, como drogadição, prostituição e situações de fragilidade social

familiar (mães menores de idade, mulheres chefe do domicílio, podem estar associados a

determinados locais do empreendimento. Se mais facilmente identificadas essas

correlações, estas poderão servir de base para ações e programas de prevenção e

melhorias, bem como de fácil localização para situações de urgência e risco.

Sobre a eficácia deste programa de requalificação urbana associado a

regularização fundiária, o funcionário entrevistado Jorge Alves recorda que o município

não pode repassar sem ônus o terreno regularizado para as famílias. O valor aprovado

pela Câmara Municipal foi de três Unidades de Referencia Municipal (R$ 88,12),

parcelado em 10x, o que nos valores de janeiro de 2015 significa R$26,43 mensais. Este

valor, que muitas vezes as famílias, muitas sem rendimentos, não poderão pagar, contrasta

com os valores de locação de apartamentos de 2 quartos na mesma região de Pelotas, que

varia de R$800,00 a R$1800,00. O funcionário declara “acho que vamos regularizar e

eles vão vender. Não tivemos coragem de usar a Concessão Real de Uso”.

4.5. Trabalho Técnico Social

Segundo as entrevistas com as técnicas do trabalho social do PAC Anglo, o

trabalho social é feito com a contrapartida do Município, em um percentual de 2.5% do

valor do projeto. Todas as ações planejadas pelo TTS são submetidas a aprovação da

CEF, após implantadas junto a comunidade. As ações efetivadas com a contrapartida do

Município, foram os cursos de geração de renda, (portaria, cobrador de ônibus, manicure

e pedicure, doces tradicionais de Pelotas, informática básica e técnica básica de cozinha),

que beneficiou a comunidade do loteamento, contemplando o eixo de desenvolvimento

socioeconômico – que objetiva “a articulação de políticas públicas, o apoio e a

implementação de iniciativas de geração de trabalho e renda, visando à inclusão

produtiva, econômica e social, de forma a promover o incremento da renda familiar e a

melhoria da qualidade de vida da população, fomentando condições para um processo de

desenvolvimento sócio territorial de médio e longo prazo”.

Esse é o discurso oficial das técnicas sociais, entretanto o RELATORIO DE

FISCALIZACAO 01356. MUNICIPIO DE PELOTAS – RS – sobre as obras do PAC

Farroupilha pela Controladoria-Geral da União Secretaria Federal de Controle Interno

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nos revela outra realidade. Constata a “Inexecução do trabalho técnico social previsto no

Plano de Trabalho”. Conforme o relatório:

“Analisando o dossiê do contrato de repasse em tela, verificamos que o trabalho

técnico social previsto para referida etapa 01 não vem sendo executado pela Prefeitura

Municipal de Pelotas. Examinando os dois boletins de "Acompanhamento e Avaliação

do Trabalho Técnico Social - AVT", emitidos pela Caixa, datados respectivamente de

21/08/2008 e 28/11/2008, verificamos que somente o segundo acusa alguma medição de

serviços, no valor de R$ 304,38 (trezentos e quatro reias e trinta e oito centavos), valor

este ínfimo em relação a monta prevista para esta atividade (R$ 76.775,89), pelo qual

pode ser considerado que o referido trabalho encontrava-se, a época, ainda não iniciado.”

(CGU, 2009)

Além de tardio, o trabalho técnico social se limitou a efetuar o cadastramento das

famílias em 2007 e posteriormente a oferecer cursos de capacitação profissional. O

Cadastro foi meramente burocrático e seus dados não foram utilizados para revelar as

características sócio econômicas da população para planejamento de ações. Novo

cadastro foi realizado em finais de 2014, mas como já mencionado, não houve nenhuma

utilização de seus dados. O tema da inadequada ocupação das áreas de recuos das

habitações, de promoção de ações coletivas de uso e manutenção das vias publicas foi

abordado superficialmente através de palestras. Não foi realizada qualquer ação para o

aproveitamento do espaço do Salão Comunitário, Este permanece vazio, com uso

eventual para as reuniões entre com o poder publico e a Universidade. A liderança

comunitária está em busca de parceiras para sua utilização e interditou o uso dos

moradores com a justificativa de que este poderá ser depredado.

A ação do técnico social no PAC Anglo mostrou-se meramente burocrática,

reforçando a observação das perdas que a instalação da UGP trazia a política habitacional

do município.

4.6. Gestão Pós- ocupação

A realidade se distribui de forma desigual na cidade de Pelotas e na Zona da Balsa

e no PAC Anglo a concentração nas faixas de menores rendimentos é maior do que a

média brasileira e pelotense, respectivamente 93,41% na Balsa e 95,67% no PAC, sendo

que no PAC Anglo 90,50% dos domicílios encontram-se concentrados na faixa de até 1

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(um) salário mínimo.

Estes dados são um alerta para os técnicos sociais do Programa e para os técnicos

municipais e gestores públicos. A baixa capacidade financeira das famílias é um problema

para a manutenção dos espaços da habitação e do entorno imediato. Os baixos

rendimentos desta população nos levam a refletir sob dois ângulos: primeiro, uma

constatação positiva, o programa habitacional PAC-Urbanização de Assentamentos

Precários está efetivamente atingindo a população de mais baixa renda, como a residente

nesse assentamento; segundo, devido a baixa renda, a população residente terá baixa

capacidade de pagamento de impostos, tarifas e taxas de serviços públicos. Este fato

poderá comprometer o processo de uso e manutenção dos mesmos. O investimento

realizado pode rapidamente se deteriorar caso o município não estabeleça um programa

especial de gestão e manutenção das unidades habitacionais e do território e um processo

participativo da população.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalizando, destacamos a inversão da ordem do planejamento e execução da

política publica de habitação: em Pelotas, o PAC Urbanização de Assentamentos

Precários foi realizado sem o PLHIS. Apesar da incontestável necessidade de uma

regularização técnica e fundiária da área em estudo, verificou-se que este foi um momento

único de entrada de recursos oportunizada por um edital do Ministério das Cidades e que

não teve continuidade. Não foram contempladas novas áreas e a capacidade gerencial da

UGP mal está dando conta de finalizar as quatro áreas contempladas com os recursos. Ou

seja, foi uma ação pontual e descolada do PLHIS. O estudo de caso do PAC Anglo

revelou que o projeto está sendo realizado sem a participação popular, em prazos que

muito ultrapassam os originalmente estabelecidos, que apesar de estar findando a

regularização fundiária e o os moradores demonstrarem sua satisfação com o futuro

titulo de propriedade, não foi um processo pleno A regularização fundiária implica a

regularidade técnica, jurídica e a participação da população. O projeto da requalificação

do PAC Anglo não foi um projeto conjunto entre a comunidade e o poder público

municipal, e sim uma sequência de embates para resolver os problemas que se

apresentavam ao longo de sua concretização. Ainda não se alcançou a regularidade

técnica, pois a estação elevatória de esgoto não foi construída pela autarquia de

saneamento municipal, o SANEP e os problemas de saneamento são constantes. O salão

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comunitário, pronto há um ano e meio, ainda não possui um programa de utilização e está

fechado ao acesso dos moradores. Moradias não adequadas ao perfil de um quinto das

famílias já apresentam construções irregulares e grande parte das unidades se apropriaram

do espaço frontal. A permanência no local original dessa comunidade, de localização

privilegiada na cidade, e a melhoria das condições de salubridade da moradia e do urbano

certamente são conquistas do Programa. Mas o projeto das unidades geminadas e o

desenho urbano repetem um modelo tradicional sem preocupações com evolutibilidade e

sustentabilidade. E o tema da gestão dos novos espaços públicos no seu uso e apropriação

cotidianos não fez parte dos objetivos do Programa.

A conjugação do PLHIS no nível municipal com projetos específicos para o nível

da comunidade, com a efetiva participação da população é o que seria a formulação ideal.

Uma maior autonomia da comunidade local seria o desejado, bem como a possibilidade

de alternativas de projetos com inovações nas concepções projetuais, tecnológicas e de

gestão. O formato atual do PAC -Urbanização de Assentamentos Precários, não está

apoiando e permitindo estas alternativas, bem como as estruturas de gestão municipais.

Uma revisão crítica deste programa deve buscar alternativas que modifiquem estas

relações e ampliem a aplicação dos recursos do PAC para que a urbanização e a cidadania

efetivamente cheguem aos assentamentos precários.