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1 1 - INTRODUÇÃO A região Amazônica abriga a maior bacia hidrográfica do mundo, com aproximadamente 7 milhões de Km 2 , correspondendo a cerca de 20% da vazão de todos os rios do planeta. Esta bacia é delimitada ao norte pelo maciço das Guianas, ao sul pelo maciço do Brasil Central e a oeste pela cordilheira dos Andes (Irion et al., 1997). Dentro desse complexo ecossistema se destacam as várzeas, áreas situadas às margens de rios de água branca (Sioli, 1984) que ocupam cerca de 5% da Amazônia (Benchimol, 1996). A várzea é um sistema complexo de lagos e planícies inundáveis, remansos, canais, diques, ilhas que se estendem sobre o vale do Rio Solimões/Amazonas e tributários de água branca, formados durante a época glacial nos últimos 15 mil anos. A elevada carga de sedimentos do Solimões/Amazonas, principalmente de origem andina e pré-andina, a forte correnteza e a variação anual do nível da água, são os principais fenômenos responsáveis pelo desenvolvimento da várzea (Irion et al., 1997). A extensão dessas áreas alagadas depende diretamente do pulso de inundação, chegando a ocupar um total de 300.000 km 2 , resultando em períodos bem definidos de cheias e secas. Somente o complexo Solimões/Amazonas inunda periodicamente cerca de 200.000 km 2 (Junk 1993), representando o maior sistema hidrológico do planeta. O alagamento sazonal do rio Solimões causa uma elevação no nível da água de 10 a 12 metros todos os anos, atingindo na Amazônia Central sua máxima inundação aproximadamente nos meses de junho-julho e o período de vazão mínima de outubro-novembro (Ayres, 1995; Piedade et al., 2000). O pulso de inundação é a principal força natural

1 - INTRODUÇÃO · A região Amazônica abriga a maior bacia hidrográfica do mundo, com ... Na época de enchente e cheia, o aumento da área alagada favorece a

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1 - INTRODUÇÃO

A região Amazônica abriga a maior bacia hidrográfica do mundo, com

aproximadamente 7 milhões de Km2, correspondendo a cerca de 20% da

vazão de todos os rios do planeta. Esta bacia é delimitada ao norte pelo maciço

das Guianas, ao sul pelo maciço do Brasil Central e a oeste pela cordilheira

dos Andes (Irion et al., 1997). Dentro desse complexo ecossistema se

destacam as várzeas, áreas situadas às margens de rios de água branca (Sioli,

1984) que ocupam cerca de 5% da Amazônia (Benchimol, 1996).

A várzea é um sistema complexo de lagos e planícies inundáveis,

remansos, canais, diques, ilhas que se estendem sobre o vale do Rio

Solimões/Amazonas e tributários de água branca, formados durante a época

glacial nos últimos 15 mil anos. A elevada carga de sedimentos do

Solimões/Amazonas, principalmente de origem andina e pré-andina, a forte

correnteza e a variação anual do nível da água, são os principais fenômenos

responsáveis pelo desenvolvimento da várzea (Irion et al., 1997). A extensão

dessas áreas alagadas depende diretamente do pulso de inundação, chegando

a ocupar um total de 300.000 km2, resultando em períodos bem definidos de

cheias e secas. Somente o complexo Solimões/Amazonas inunda

periodicamente cerca de 200.000 km2 (Junk 1993), representando o maior

sistema hidrológico do planeta. O alagamento sazonal do rio Solimões causa

uma elevação no nível da água de 10 a 12 metros todos os anos, atingindo na

Amazônia Central sua máxima inundação aproximadamente nos meses de

junho-julho e o período de vazão mínima de outubro-novembro (Ayres, 1995;

Piedade et al., 2000). O pulso de inundação é a principal força natural

2

responsável pela produtividade e pelas interações da biota nesse sistema

(Junk et al., 1989), além de produzir variações cíclicas nas condições físico-

químicas dos habitats.

Na época de enchente e cheia, o aumento da área alagada favorece a

exploração de vários habitats, aumentando a oferta de alimento para os peixes

(Santos, 1981; Almeida, 1984; Soares et al., 1986). Na vazante e seca, a retração

das águas limita o espaço, obrigando os peixes a migrarem da várzea para outros

locais como o canal principal dos rios ou para os lagos permanentes (Lowe-

McConnel, 1964; Goulding, 1980).

No período de alagação, habitats da várzea, tais como a água livre, os

bancos de macrófitas aquáticas e as florestas inundáveis, são extremamente

importantes para os peixes, pois fornecem abrigo, proteção, alimento e locais

de reprodução ao longo do ciclo hidrológico. Os bancos de macrófitas

aquáticas têm função na proteção de peixes de pequeno porte e alevinos, além

de fornecerem substratos para outros organismos (Sánchez & Araújo-Lima,

2001; Petry et al., 2003). As florestas inundáveis, por sua vez, produzem a

liteira, fonte de nutrientes, e os frutos e sementes que servem de alimento para

cerca de 200 espécies de peixes (Waldhoff & Maia, 2000), além de fornecer

para invertebrados que são ingeridos pelos peixes. Estes ambientes sustentam

populações de peixes de importância comercial, levando a pesca a ser

considerada uma das atividades econômicas de maior tradição na região.

A ictiofauna que coloniza os habitats dos lagos de várzea é abundante e

diversificada, sendo que a sua composição e distribuição estão relacionadas

com fatores abióticos como o nível da água, temperatura, oxigênio dissolvido,

3

pH e transparência. As variações sazonais do nível da água provocam

mudanças na estrutura das comunidades de peixes dos lagos e rios (Lowe-

McConnell 1964, Goulding 1980, Goulding et al. 1988; Merona & Bittencourt,

1993; Rodríguez & Lewis, 1997, Saint-Paul et al. 2000). As condições de

oxigênio e a temperatura levam os peixes a efetuarem deslocamentos entre a

vegetação flutuante, a floresta alagada e as áreas abertas (Junk et al., 1983;

Saint-Paul & Soares, 1987; Barthem, 1987). Rodríguez & Lewis (1997) e

Tejerina-Garro et al. (1998) relataram que a transparência e a profundidade da

água afetam a estrutura de comunidades de peixes em áreas alagadas no

Orinoco e no Pantanal, respectivamente. Finalmente, a cobertura de macrófitas

aquáticas e a abundância de piscívoros (Suárez et al., 2001) também

constituem importantes fatores que determinam a estrutura das comunidades

de peixes. Entretanto, muitas lacunas ainda persistem no conhecimento

integrado entre os fatores abióticos e a composição da ictiofauna ao longo do

ciclo hidrológico na Amazônia.

Estudos limnológicos realizados em corpos de água pertencentes a

sistemas rios-planícies de inundação têm demonstrado uma série de

modificações decorrentes da variação sazonal do nível da água, no potencial

hidrogeniônico, na condutividade elétrica, no material em suspensão, na

concentração de nutrientes e na comunidade biótica (da Silva, 1990; Hamilton

& Lewis Jr., 1990; Da Silva & Esteves, 1995; Hamilton et al., 1995). Além das

modificações temporais causadas pela variação do nível d’água, ambientes

aquáticos em planícies de inundação apresentam variações limnológicas

espaciais, devido à cobertura de macrófitas, vento, padrão de drenagem,

4

diversidade de ambientes terrestres no entorno, entre outros fatores, como já

constatado por Nogueira (1989), Panosso (1993) e Hamilton et al (1995). As

propriedades químicas e físicas da água são geralmente influenciadas pela

morfologia dos leitos dos rios e a estrutura das planícies inundáveis na bacia

amazônica, (Furch, 1984; Sioli, 1984), que, por sua vez, são conseqüências da

geologia dos substratos sobre os quais os rios passam (Putzer, 1984). Também

no Pantanal, Suárez et al., (2001) relatam que as características físico-

químicas, a cobertura de macrófitas aquáticas e a morfologia dos lagos

determinam a estrutura das comunidades de peixes.

Considerando que a estrutura de comunidades de peixes é regulada por

processos que ocorrem em escala temporal e espacial (Peres et al., 1995), o

presente trabalho propôs investigar a existência de relações entre a composição

da ictiofauna e alguns fatores abióticos da água ao longo do ciclo hidrológico e

entre habitats de lagos no complexo Lago Grande Manacapuru, Amazonas. Os

resultados apresentados neste estudo poderão subsidiar informações importantes

para a manutenção dos ambientes de várzea e, conseqüentemente, das

comunidades de peixes associadas a esse biótopo.

5

2- OBJETIVOS

2.1 – Geral:

Avaliar o efeito de fatores abióticos (características físico-químicos da

água) na distribuição das principais espécies de peixes em habitats de lago de

várzea, ao longo de um ciclo hidrológico.

2.2 – Específicos

√ Analisar as variações espaciais e temporais da ictiofauna em

diferentes habitats do lago na enchente, cheia, vazante e seca.

√ Avaliar as características físico-químicas da água de um lago de

várzea na enchente, cheia, vazante e seca;

√ Verificar a distribuição dos peixes em um lago de várzea conforme os

fatores abióticos.

√ Analisar as relações entre as características abióticas do lago de

várzea e a distribuição das espécies de peixes nesse ambiente.

6

3 – MATERIAL E MÉTODOS

3.1 - Área de estudo

O estudo foi realizado nos lagos Jaitêua (S 03˚13’901’’ e W 060˚44’326’’)

e São Lourenço (S 03˚17’555’’ e W 060˚43’759’’), ambos localizados no

complexo do lago grande de Manacapuru, Amazonas. O lago São Lourenço foi

utilizado como réplica do lago Jaitêua. (Fig. 1). A área total do município é de

aproximadamente 7.367,9 Km2 com uma população de 83.703 habitantes e

densidade demográfica de 11,3 hab./Km2 (IBGE, 2005).

O clima na região é do tipo equatorial úmido, com temperatura média

anual de 26,7 ˚C, com variações entre 23,3 e 31,4 ˚C e altitude de 60 metros

em relação o nível do mar. A umidade relativa do ar é de aproximadamente

80%, com média de precipitação anual de 2. 286 mm (CPRM, 2006).

Figura 1. Localização dos lagos Jaitêua e São Lourenço no complexo lago Grande de Manacapuru, Amazonas, Brasil.

7

3.1.1 – Caracterização do lago

O lago Jaitêua fica distante aproximadamente 14,8 km da sede do

município de Manacapuru (Global Mapper, 2006). Este ambiente apresenta

vegetação flutuante nos períodos de enchente e cheia com baixas ocorrências,

principalmente em suas margens. Suas florestas alagadas disponibilizam

muitos frutos e sementes para os peixes nos períodos de subida das águas.

O lago está submetido a uma flutuação média anual do nível do rio em

torno de 10 m. A enchente no rio começa em novembro e atinge a cota máxima

em julho, secando em outubro. A água começa a entrar nos lagos no final de

dezembro. Durante o período de seca, o lago permanece conectado com os

rios Manacapuru e Solimões.

3.2 – Coleta da ictiofauna

Os peixes foram coletados mensalmente na enchente (final de

dezembro, janeiro, fevereiro, março, abril e maio de 2006/2007), cheia (junho e

julho 2007), vazante (agosto, setembro e outubro de 2007) e seca (novembro e

início de dezembro de 2007). Foram amostrados três habitats: água aberta,

floresta alagada e bancos de macrófitas aquáticas. Na água aberta e floresta

alagada foram utilizadas baterias de malhadeiras, com tamanho de 25 x 2 m,

com malhas variando de 30 a 130 mm entre nós opostos, expostas durante

períodos de 24 horas e com despescas a cada 6 horas. Nos bancos de

macrófitas aquáticas os peixes foram capturados com redinha de cerco

medindo 20x5m com malhas de 10 mm entre nós opostos. Todos os pontos

8

amostrais foram georeferenciados com uso de um GPS Etrex (GARMIM

VISTA).

3.3 – Métodos de análises dos parâmetros físicos e físico-químicos do

ambiente aquático

Os valores foram obtidos concomitantes às coletas dos peixes em cada

ponto de coleta. Os fatores físicos e físico-químicos da água obtidos foram:

profundidade, transparência da água, condutividade elétrica, oxigênio

dissolvido, % de saturação do oxigênio, temperatura e potencial hidrogeniônico

(pH). Para os períodos de nível mais alto da água, foi utilizada uma garrafa

coletora de água (Van Dorn), para a obtenção de amostras de águas dos

pontos mais profundos do lago. A profundidade foi obtida com a utilização de

ecosonda ou ecobatímetro da marca Humminbird (Piranha Max 10 Fishfinder).

Para a transparência da água utilizou-se um uso de disco de Secchi de 30 cm

de diâmetro. A condutividade elétrica, o oxigênio dissolvido, a temperatura e o

pH foram medidos “in situ”, no momento das coletas de peixes, com aparelhos

do modelo YSI 30 e 55 e ORION 3 STAR/Thermo.

Os dados fluviométricos foram obtidos a partir de informações existentes

no banco de dados da CPRM Manaus.

3.5 – Triagem e identificação dos peixes

Durante as coletas os peixes foram acondicionados em sacos plásticos,

devidamente etiquetados com o número de malha, local e horário de captura.

Os exemplares foram identificados em campo com o auxílio de chaves de

9

identificação específicas (Gery, 1977; Santos, 1984; Ferreira et al., 1998), até o

menor nível taxonômico possível. Espécimes que não foram identificados em

campo foram fixados em solução de formalina a 10%, etiquetados e levados

para posterior identificação no laboratório de Bioecologia de peixes do INPA.

4 - Análises dos dados

4.1 – Atributos ecológicos da estrutura das assembléias de peixes

Nas Estimativas de riqueza da ictiofauna do lago foram calculadas com o

uso três métodos:

a) Índice de Jackknife (Krebs, 1989), que estima a riqueza absoluta

somando a riqueza observada através de um parâmetro calculado a partir do

número de espécies raras e do número de amostras. Além disso, corrige os

vícios nas estimativas, permitindo a comparação entre locais por meio do erro

padrão (Magurran, 1988), utilizando a seguinte fórmula:

Ŝ = S + (n – 1/ n) k

Onde:

Ŝ = estimativa da riqueza;

S = número total de espécies observadas na amostra “n”;

n = número total de amostras;

k = número total de espécies únicas, ou seja, coletadas uma única vez.

b) Curvas de rarefação (Krebs, 1989), a vantagem deste método é sua

independência do tamanho da amostra, além de permitir a comparação entre

10

diferentes amostras, no caso, período e ambiente, pois leva em consideração

dados sobre abundância específica e não o número absoluto de espécies.

Onde: E (Sn) = número esperado de

espécies.

S = número total de espécies na amostra.

N = número total de exemplares.

Ni = número total de exemplares da espécie i.

n = número de exemplares na amostra (número escolhido para

padronização).

c) Índice de Margalef

Para estimar a riqueza específica de cada lago foi utilizado o índice de

Margalef (Ludwig & Reynolds, 1988), que analisa a relação entre o número

total de espécies e o número total de exemplares observados, na fórmula a

seguir:

Onde: S = Número total de espécies na amostra.

n = Número total de exemplares na amostra.

Além dos valores de riqueza e abundância, foram calculados os valores de

diversidade, dominância, equitabilidade e frequência de ocorrência das

( )

−=Ε ∑=

n

N

n

NN

S

i

S

i

n1

1

( )n

SR

ln

11

−=

11

espécies para todos os habitats amostrados. A diversidade foi calculada com

uso do índice de Shannon-Wienner (Krebs, 1989):

H’ = - ∑ (pi) (ln pi)

Onde:

pi representa o número de exemplares da i-ésima espécie (Magurran,

1988). Dado que em uma amostra o valor de pi é desconhecido, estima-se o

mesmo pela seguinte fórmula:

pi = (ni / N)

Sendo:

ni = número de exemplares pertencentes à espécie “i”;

N = número total de exemplares coletados na amostra.

Para o cálculo de dominância foi utilizado o índice proposto por Berger-

Parker, sendo estimado pela seguinte fórmula:

d= n max / N

Onde:

n max = número de exemplares da espécie mais abundante;

N = número de exemplares da amostra.

Como o índice de Berger-Parker é um índice de dominância, foi usado

seu inverso 1/d, para indicar a diversidade.

12

Para o cálculo da abundância relativa das espécies (equitabilidade) foi

utilizado o método proposto por Pielou (1969 apud Magurran, 1988), que

propõe a relação entre a diversidade observada e a diversidade máxima. Esta

relação é representada pela seguinte fórmula:

E = H’ / ln S

Onde:

E = equitabilidade

H’ = índice de diversidade de Shannon-Wiener;

S = número de espécies presentes na amostra

4.2 - Abundância relativa das assembléias ictíicas

As medidas de abundância ou densidade relativa são consideradas

importantes ferramentas de avaliação da estrutura de assembléias. Neste

estudo o cálculo de abundância relativa foi utilizado para verificar a captura

obtida em relação a uma dada unidade de esforço (área do apetrecho), através

da CPUEn, que é definida como o somatório do número de peixes/m2/h, e

CPUEb, definido como o somatório do peso em gramas/m²/h. Ambos foram

aplicados aos dados obtidos com malhadeiras na água aberta e floresta

alagada, na enchente, cheia, vazante e seca. Este procedimento possibilita

comparações quantitativas entre espécies e locais amostrados, sendo

expresso pela seguinte equação:

Tempo de pesca Área

(“N” ou peso) CapturaTotal CPUE

X =

13

Onde:

CPUE = Captura por unidade de esforço.

N = nº da biomassa de peixes capturados para um determinado tamanho

de malha;

n = tamanhos de malha empregados (20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90, 100,

110, 120 e 130);

Área = tamanho da(s) malhadeiras (m2)

Tempo de pesca = nº de horas de pesca para um dado local e período

do ciclo hidrológico

Os resultados obtidos foram analisados através de análises de variância

(ANOVA) two-way (p ≥ 0,05), aplicadas somente em dois períodos do ciclo

hidrológico (enchente e cheia) nos habitats de água aberta e floresta alagada

somente. Os períodos de vazante e seca não fizeram parte desta análise por

não apresentarem os dois habitats em seus ciclos completos.

4.3 - Variações na composição das assembléias de peixes em

relação às características ambientais do lago e características físico-

químicas da água.

Para verificar a existência de relações entre as variáveis que estruturam

as assembléias locais de peixes (riqueza de espécies, abundância relativa,

diversidade de Shannon-Wiener, dominância, equitabilidade e composição de

espécies) e variáveis ambientais (condutividade elétrica, pH, temperatura,

14

oxigênio, profundidade e transparência), foram empregadas técnicas de análise

estatística multivariada (Legendre & Legendre, 1997).

Para avaliar as relações de similaridade entre as assembléias de peixes

nos diferentes habitats estudados, foi empregado o método de Escalonamento

Multidimensional (MDS). A matriz de similaridade foi calculada a partir do índice

de Jaccard, que se baseia na presença-ausência dos habitats. Os valores do

índice variam entre O (equivalente a dissimilar) e 1 (similaridade completa)

(Krebs, 1989). O índice é expresso pela seguinte equação:

J = a / a + b + c

Onde:

J = Similaridade de Jaccard;

a = espécies comuns entre os dois ambientes;

b = espécies presentes em “a” e ausentes em “b”;

c = espécies presentes em “b” e ausentes em “a”.

Outra análise de escalonamento multidimensional (MDS) levou em

consideração os valores encontrados através do índice de Bray-Curtis que se

baseia na dissimilaridade da abundância de exemplares entre os habitats

(Krebs, 1989):

B= Σ │XiJ- XIK│/ Σ (XiJ- XIK)

Onde:

B= medida de dissimilaridade de Bray-Curtis

XiJ, XIK= Número de exemplares da espécie “i” em cada amostra

n= número de espécies nas amostras.

15

Uma análise de correlação de Pearson foi realizada entre os parâmetros

físicos e físico-químicos da água e atributos das assembléias de peixes, a fim

de verificar se eram correlacionadas positivamente ou negativamente. Como foi

encontrado um alto nível de correlações e para evitar problemas de

colinearidade nas análises, as variáveis foram reordenadas por meio de uma

Análise de Componentes Principais (PCA). A PCA foi empregada para ordenar

os habitats em função das características físico-químicas da água

(temperatura, pH, oxigênio dissolvido, porcentagem de saturação de oxigênio e

condutividade) e uma característica estrutural do lago (profundidade e

transparência). Posteriormente, para verificar as relações entre a composição

de espécies de peixes (representada pelos eixos do MDS) com os parâmetros

limnológicos e estrutural (representadas pelos eixos da PCA), foram feitas

regressões lineares utilizando os habitats do lago (MDS x PCA).

4.4 – Relação entre a estrutura das assembléias ictíicas e

parâmetros limnológicos.

As relações entre a composição de espécies das assembléias de peixes

e os parâmetros limnológicos dos habitats estudados, foram analisados por

meio de regressões lineares simples (Zar, 1999).

Para a identificação de quais parâmetros são responsáveis pelo

agrupamento das espécies foram realizadas análises de correlação, com o

intuito de se estimar quais variáveis respondem pelos agrupamentos

observados.

16

Foram aplicados testes de regressão múltipla, tendo como variável

dependente a riqueza de espécies e independentes os fatores abióticos, para

se definir quais variáveis têm influência na riqueza de espécies.

As análises utilizando-se ANOVA two-way foram realizadas

considerando menores as informações de enchente e de cheia, uma vez que

os habitats de macrófitas aquáticas e floresta alagada não ocorrem na seca,

somente no inicio da vazante.

Todas as análises estatísticas foram realizadas com a utilização dos

pacotes Statistica 6.0, SigmaStat 3.5, Past e .

17

4 - Resultados

4.1 – Fatores físico-químicos e estruturais medidos na água aberta,

floresta alagada e nos bancos de macrófitas aquáticas.

Os parâmetros limnológicos observados apresentaram valores

diferenciados entre os habitats amostrados no lago. Os valores de pH anotados

nos bancos de macrófitas aquáticas na enchente e cheia (6,8 e 6,5), foram

mais elevados em relação ao restante dos habitats durante todo o ciclo

hidrológico (Tabela 1). Não existe diferenças significativas nos valores de pH

entre os períodos (F= 3,708; p= 0,194) e habitats do lago (F= 2,403; p= 0,294).

As concentrações de oxigênio apresentaram valores muito baixos na

floresta alagada (1,96 mg/l) na cheia e valores mais elevados nas macrófitas

(4,87 mg/l) no mesmo período (Tabela 1). Não houve diferenças significativas

nos valores de oxigênio entre os períodos (F= 5,453; p= 0,145), assim como

entre habitats (F= 3,186 ; p= 0,239).

A profundidade da água do lago apresentou seu maior valor na cheia

(8,70 m) e os menores na vazante e seca (1,65 e 2,3 m), na floresta alagada e

água aberta. Não houve diferenças significativas nos valores profundidade

entre os períodos (F= 5,594; p= 0,142), e nem entre os habitats (F= 14,495; p=

0,065). A temperatura da água apresentou maior valor nas macrófitas

aquáticas na enchente (31,2 oC) e menor na água aberta (31,1 o C) na vazante.

Não existem diferenças significativas nos valores entre os períodos (F= 0,0167;

p= 0,909), assim como entre os habitats (F= 4,092; p= 0,196) do lago.

Os maiores valores de condutividade elétrica anotados no lago foram na

enchente na água aberta (213,58 µS/cm ± 125,23), floresta alagada (234,82

18

µS/cm ± 158,24) e macrófitas aquáticas (241,47 µS/cm ± 80,42) no lago foram

anotados no período da enchente em água aberta (388,0 µS/cm) e os menores

na cheia (Tabela 1). Existe diferença nos valores entre os períodos (F=

743,762; p= 0,001), o mesmo fato não ocorreu entre os habitats (F= 1,005; p=

0,499). A transparência da água apresentou o maior valor no período da cheia

na floresta alagada (220,0 ± 0,14) e o menor na enchente nas macrófitas

aquáticas (13,5 ± 0,71). Não houve diferenças significativas nos valores entre

os períodos (F= 2,964; p= 0,227), e nem entre os habitats (F= 12,289; p=

0,075) do lago.

Tabela 1. Valores médios e desvio-padrão dos fatores físico-químicos medidos nos quatro períodos do ciclo hidrológico (enchente, cheia, vazante e seca) no lago Jaitêua, amostrados nos habitats de água aberta, floresta alagada e macrófitas aquáticas.

Unidade Amostral pH O2 DiSS. TEMP. COND. PROF. TRANSP.(mg/l) ( ̊ C) (µS/cm) (m) (cm)

EnchenteÁgua aberta 6,62 ± 0,04 2,57 ± 0,69 29,23 ± 0,13 213,58 ± 125,23 6,04 ± 1,04 108,0 ± 0,03Floresta alagada 6,30 ± 0,18 2,44 ± 0,03 29,69 ± 0,01 234,82 ± 158,24 3,09 ± 1,29 125,0 ± 0,21Macrófitas aquáticas 6,77 ± 0,10 4,87 ± 2,49 31,17 ± 0,29 241,47 ± 80,42 3,55 ± 0,49 13,5 ± 0,71CheiaÁgua aberta 6,17 ± 0,06 1,44 ± 0,68 29,69 ± 0,50 0,71 ± 0,11 8,70 ± 1,13 135,0 ± 0,71Floresta alagada 6,29 ± 0,03 1,96 ± 0,77 29,89 ± 0,15 1,20 ± 0,28 4,40 ± 0,14 220,0 ± 0,14Macrófitas aquáticas 6,49 ± 0,34 2,42 ± 0,35 30,36 ± 0,05 0,55 ± 0,21 4,05 ± 0,07 24,5 ± 2,12VazanteÁgua aberta 5,99 ± 0,59 3,27 ± 0,28 31,08 ± 1,13 13,20 ± 0,03 2,75 ± 1,63 78,0 ± 0,13Floresta alagada 5,98 ± 0,57 2,67 ± 0,81 30,76 ± 1,63 7,65 ± 3,90 1,65 ± 0,49 135,0 ± 0,21SecaÁgua aberta 6,23 ± 0,06 3,58 ± 1,65 29,31 ± 1,22 47,80 ± 17,25 2,27 ± 0,66 32,0 ± 0,03

4.2 – Composição da ictiofauna

Foram coletados nos ambientes de água aberta, floresta alagada e

bancos de macrófitas aquáticas do lago, um total de 18.404 exemplares,

distribuídos em 8 ordens, 33 famílias e 198 espécies. A ordem dos

Characiformes foi a mais abundante em todos os habitats do lago ao longo do

ciclo hidrológico com mais de 60% de exemplares coletados (Figura 3).

19

Figura 2. Abundância relativa das ordens de peixes coletadas ao longo de um ciclo hidrológico (enchente, cheia, vazante e seca) em três habitats (AA = água aberta; FA = floresta alagada; MA = macrófitas aquáticas) no lago.

0

20

40

60

80

100

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80

100

Fre

qu

ênci

a re

lati

va (

%)

Ordens

Enchente

MA

FA

AA

0

20

40

60

80

100

Fre

qu

ênci

a re

lati

va (

%)

Ordens

Vazante

FA

AA

0

20

40

60

80

100

Fre

qu

ênci

a re

lati

va (

%)

Ordens

Seca

AA

20

Figura 3. Abundância relativa (%) das famílias de peixes capturadas em três habitats (AA= água aberta; FA= floresta alagada e MA= macrófitas aquáticas) no lago ao longo de um ciclo hidrológico (enchente, cheia, vazante e seca) de 2006 a 2007.

0

20

40

60

80

100

Fre

qu

ênci

a re

lati

va (

%)

Familias

Enchente

MA

FA

AA

0

20

40

60

80

100

Fra

qu

ênci

a re

lati

va (

%)

Familias

Cheia

MA

FA

AA

0

20

40

60

80

100

Fre

qu

ênci

a re

lati

va (

%)

Familias

Vazante

FA

AA

0

20

40

60

80

100

Fre

qu

ênci

a re

lati

va (

%)

Familias

Seca

AA

21

4.3 - Estrutura da comunidade de peixes no lago Jaitêua: riqueza,

abundância e distribuição da ictiofauna.

Os valores de diversidade de Shannon-Wiener obtidos no lago não

apresentaram diferenças significativas entre os períodos do ciclo hidrológico

(F= 1,735; p= 0,259). No entanto os valores entre habitats apresentaram

diferenças significativas entre (F= 5,907; p= 0,038 ). O teste Tukey a 5%,

mostrou diferenças significativas nos valores entre a água aberta e macrófitas

aquáticas (p= 0,038) do lago.

A estimativa de diversidade obtida a partir do índice de Berger-Parker

apresentou seu maior valor na floresta alagada (9,01) no período da vazante e

o menor na cheia (1,34) nas macrófitas aquáticas.

Analisando os valores de equitabilidade não foram observadas

diferenças significativas entre os períodos do ciclo hidrológico (F= 1,697; p=

0,266) e nem entre os habitats (F= 3,979; p= 0,079). Esses valores foram

maiores na água aberta (E= 0,82) na seca e floresta alagada (E= 0,81) na

enchente (Tabela 4).

A dominância apresentou seus maiores valores no habitat de macrófitas

aquáticas na cheia e enchente (0,50 e 0,23). Não foram observadas diferenças

significativas dos valores entre períodos (F= 1,283; p= 0,363) e habitats (F=

1,415; p= 0,314), respectivamente.

Os maiores valores de riqueza de espécies foram obtidos na vazante

(S= 122) e enchente (S= 117). E os menores nas macrófitas aquáticas na

enchente (S=37) e cheia (S= 14). Não foram observadas diferenças

significativas nos valores entre os períodos do ciclo hidrológico (F= 3,049; p=

22

0,114), somente entre os habitats (F= 10,036; p= 0,012). O teste post-hoc

(Tukey 5%) mostrou que a diferença foi observada entre a água aberta e

macrófitas aquáticas (p= 0,011).

117

60

122

76

98

74

101

37

14

012345678910

0

20

40

60

80

100

120

140

160

E C V S

Pro

fun

did

ade d

o lag

o (m

)

Riq

uez

a d

e es

péc

ies

Meses

AA FA MA Lago

Figura 4. Riqueza de espécies de peixes nos habitats estudados no lago ao longo do ciclo hidrológico (2006 a 2007).

23

Tabela 2. Parâmetros da estrutura das assembléias de peixes do lago Jaitêua, obtidos em três habitats ao longo dos períodos da enchente, cheia, vazante e seca entre os anos 2006 e 2007. (S= riqueza de espécies; N= número de exemplares; Equit.= equitabilidade).

Período Habitat S N ShannonDiversidade de Berger-

ParkerEquit. Dominância Margalef

Água aberta 117 3009 3,69 6,95 0,77 0,05 14,48

Floresta alagada 98 1446 3,74 8,36 0,81 0,04 13,33

Macrófitas aquáticas 37 841 2,25 2,21 0,62 0,23 5,350

Água aberta 60 1475 2,93 6,31 0,72 0,08 8,09

Floresta alagada 74 828 3,48 7,26 0,81 0,05 10,86

Macrófitas aquáticas 14 555 0,86 1,34 0,33 0,59 2,06

Água aberta 122 7061 3,25 4,69 0,68 0,08 13,65

Floresta alagada 101 1856 3,73 9,01 0,81 0,04 13,29

Sec

a

Água aberta 76 1333 3,54 8,44 0,82 0,05 10,42

Vaz

ante

En

chen

teC

hei

a

24

4.3.1 – Abundância relativa das assembléias icticas

As análises de variância mostraram que a captura por unidade de

esforço CPUEn, expressa em número de exemplares, não apresentou

diferenças significativas (F = 1,657; p= 0,3769) entre os períodos e nem entre

os habitats (F= 2,274; p= 0,271) do lago. Em relação as análises da CPUE em

biomassa, também não houve diferenças significativas nos valores amostrados

para os períodos (F= 2,786; p= 0,264) e habitats (F= 4,862; p= 0,158).

As análises de captura por unidade de esforço realizadas ao longo do

ciclo hidrológico mostram haver um aumento em mais de duas vezes no

número de exemplares e biomassa coletados na água aberta no período da

vazante em relação ao restante dos períodos do ciclo (Tabela 5).

Dentre os habitats amostrados no lago, observou-se que 16 espécies

apresentaram ocorrência única na enchente. O menor valor de ocorrências

únicas se deu no período da cheia com um total de 8 espécies amostradas.

25

Tabela 3. Total de exemplares (N), peso (g) e abundância relativa em número de indivíduos (n) e peso (g) (com esforço amostral de 600 m2 de malhadeiras por 24 horas) por habitat em um ciclo hidrológico (enchente, cheia, vazante e seca).

Período Habitat N Peso (g) CPUE N CPUE B

Água aberta 3009 361277,1 61,65 122,09

Floresta Alagada 1446 191523,5 27,58 42,15

Água aberta 1475 152986,6 14,76 33,80

Floresta Alagada 828 101695,3 10,72 12,50

Água aberta 7061 740784,01 152,16 212,86

Floresta Alagada 1856 233985,4 30,19 57,57

Sec

a

Água aberta 1333 148813,0 18,04 29,25

En

chen

teC

hei

aV

azan

te

26

Figura 5. Frequência relativa das 10 espécies de peixes mais abundantes no período de enchente na água aberta (A), floresta alagada (B) e macrófitas aquáticas (C) do lago.

0 10 20 30 40 50

P. latior

P. flavipinnis

P. nattereri

T. albus

H. marginatus

S. spilopleura

M. duriventre

A. falcirostris

A. nuchalis

A. elongatus

Frequência relativa (%)

0 10 20 30 40 50

P. flavipinnis

T. angulatus

C. macropomum

T. auritus

T. galeatus

Hemiodus sp.

H. marginatus

H. microlepis

T. albus

A. falcirostris

Frequência relativa (%)

0 10 20 30 40 50

Hemigramus sp.

C. monoculus

M. duriventre

M. festivum

H. malabaricus

C. amazonarum

A. ocellatus

B. brevirostris

Serrasalmus sp.

R. myersii

Frequência relativa (%)

A B

C

27

Figura 6. Freqüência relativa das 10 espécies de peixes mais abundantes na água aberta (A), floresta alagada (B) e macrófitas aquáticas (C) no período da cheia no lago.

0 10 20 30 40 50

P. latior

T. albus

H. edentatus

Hemiodus sp.

A. elongatus

P. nattereri

P. flavipinnis

H. marginatus

A. falcirostris

T. auritus

Frequência relativa (%)

0 10 20 30 40 50

P. nattereri

P. flavipinnis

P. altamazonica

S. altispinis

H. edentatus

T. angulatus

A. falcirostris

A. elongatus

C. macropomum

R. vulpinus

Frequência relativa (%)

0 10 20 30 40 50

M. intermedia

Hemigramus sp.

Roeboides sp.

S. marmoratus

H. malabaricus

S. elongatus

S. elegans

Frequência relativa (%)

A B

C

28

Figura 7. Freqüência relativa das 10 espécies de peixes mais abundantes na água aberta (A), floresta alagada (B) na vazante e água aberta (C) na seca no lago.

0 10 20 30 40 50

P. nattereri

P. flavipinnis

P. latior

S. spilopleura

A. falcirostris

S. insignis

A. elongatus

P. rutiloides

T. albus

H. edentatus

Frequência relativa (%)

0 10 20 30 40 50

P. nattereri

P. flavipinnis

A. falcirostris

S. insignis

Hemiodus sp.

P. squamosissimus

T. angulatus

A. elongatus

T. auritus

H. efasciatus

Frequência relativa (%)

0 10 20 30 40 50

P. nattereri

S. spilopleura

A. falcirostris

P. flavipinnis

P. latior

H. microlepis

P. squamosissimus

Hemiodus sp.

L. batesii

S. fasciatum

Frequência relativa (%)

A B

C

29

4.4 – Variação na composição da ictiofauna nos habitats do lago.

Os resultados obtidos através da análise de ordenação (MDS) realizada

com base nos dados de abundância e presença-ausência das espécies,

explicam grande parte da variação dos dados originais da composição de

espécies das assembléias, como evidenciado pelos valores de configuração do

Stress de Kruskal (0,092 e 0,166), respectivamente. As análises dos dois

primeiros eixos da MDS, com os dados quantitativos de abundância (índice de

Bray Curtis), obtidas a partir da matriz de Bray-Curtis, mostram pouca

separação (Fig. 8A) entre os períodos do ciclo hidrológico amostrados para o

lago. O habitat de macrófitas aquáticas na enchente e cheia apresenta

diferenças mais pronunciadas em relação aos demais habitats do lago em

termos de abundância por espécie. No entanto, as proximidades entre os

pontos de floresta alagada e água aberta na enchente e cheia mostram maior

homogeneidade na composição e abundância de espécies.

As análises de MDS utilizando os dados de presença-ausência e a

correspondente matriz de similaridade do índice de Jaccard (Tab. 7) mostram

uma clara separação (Fig. 8B) entre os períodos do ciclo e diferenças menores

entre os habitats do lago na enchente. Os habitats de floresta alagada e água

aberta na enchente (J = 56,9%) e cheia (J = 54,0%) foram mais semelhantes

entre si. O habitat de macrófitas aquáticas na enchente e cheia apresentou

menor similaridade com a água aberta (J = 4,8%) e floresta alagada (J = 6,7%).

30

Figura 8. Ordenação por meio de Escalonamento multidimensional (MDS) dos dados de número de indivíduos (índice de Bray Curtis) (A) e presença-ausência de espécies (índice de Jaccard) (B) nos habitats de água aberta, floresta alagada e macrófitas aquáticas do lago Jaitêua na enchente e cheia.

Água abertaEnchente

Floresta alagada

Enchente

Água abertaCheia

Floresta alagadaCheia

Macróf itasEnchente Macróf itas

Cheia

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0

0,2

0,4

0,6

0,8

-1 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

Dim

ensã

o 2

Dimensão 1

(A) Configuração (Stress de Kruskal (1) = 0,092)

Água abertaEnchente

Floresta alagada

EnchenteÁgua aberta

Cheia

Floresta alagadaCheia

Macróf itasEnchente

Macróf itasCheia

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0

0,2

0,4

0,6

0,8

-0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

Dim

ensã

o 2

Dimensão 1

(A) Configuração (Stress de Kruskal (1) = 0,166)

31

Tabela 4. Valores dos eixos 1 e 2 (Dim 1 e Dim 2 ) das análises de MDS para os dados quantitativos (abundância) e qualitativos (Presença-ausência)

Tabela 5. Matriz de dissimilaridade de Bray Curtis (número de indivíduos) entre os habitats de água aberta (AA), floresta alagada (FA) e macrófitas aquáticas (MA) do lago Jaitêua nos períodos de enchente (E) e cheia (C) de 2006 e 2007. Em negrito encontram-se marcados os valores iguais ou superiores a 50%.

Tabela 6. Matriz de similaridade de Jaccard (presença-ausência) entre os habitats de água aberta (AA), floresta alagada (FA) e macrófitas aquáticas (MA) do lago Jaitêua nos períodos de enchente (E) e cheia (C) de 2006 e 2007. Em negrito encontram-se marcados os valores iguais ou superiores a 50%.

Habitat AAE FAE AAC FAC MAE MAC

AAE 1 0,658 0,780 0,661 -0,017 -0,031

FAE 0,658 1 0,556 0,699 -0,026 -0,034

AAC 0,780 0,556 1 0,608 -0,035 -0,024

FAC 0,661 0,699 0,608 1 -0,031 -0,029

MAE -0,017 -0,026 -0,035 -0,031 1 0,216

MAC -0,031 -0,034 -0,024 -0,029 0,216 1

Habitat AAE FAE AAC FAC MAE MAC

AAE 1 0,569 0,394 0,447 0,149 0,048

FAE 0,569 1 0,477 0,483 0,184 0,067

AAC 0,394 0,477 1 0,540 0,141 0,072

FAC 0,447 0,483 0,540 1 0,181 0,073

MAE 0,149 0,184 0,141 0,181 1 0,244

MAC 0,048 0,067 0,072 0,073 0,244 1

Dim1 Dim2 Dim1 Dim2

Água aberta (enchente) 0,073 -0,291 0,330 -0,327

Floresta alagada (enchente) -0,255 -0,240 0,122 -0,162

Água aberta (cheia) 0,216 -0,333 -0,358 -0,171

Floresta alagada (cheia) -0,145 -0,394 -0,154 -0,396

Macrófitas aquáticas (enchente) -0,313 0,661 0,353 0,451

Macrófitas aquáticas (cheia) 0,425 0,597 -0,293 0,605

Presença-AusênciaBray-CurtisPontos de Coleta

32

4.5 – Relação entre os parâmetros limnológicos e a composição da

ictiofauna.

A análise de correlação de Pearson realizada entre os parâmetros

limnológicos (características físicas e físico-químicas da água) conseguiu

identificar 5 correlações significativas (Tabela 9). Baseado nesse número de

correlações existentes, todas as variáveis foram reordenadas em uma Análise

de Componentes Principais (PCA), gerando com isso novas variáveis (eixos

ortogonais). Após definidas as componentes principais, estas foram

relacionadas diretamente com as variáveis representativas da estrutura das

assembléias de peixes, visando-se identificar relações de dependência.

A análise de componente principal 1 (PC1) explica 42,17% da variância

total, representando as variações inversas da transparência e as variações

diretas do oxigênio dissolvido (Tabela 9 e Figura 9). Essas duas variáveis

foram às principais responsáveis pela segregação dos habitats de água aberta

e floresta alagada na cheia, e isolou os bancos de macrófitas aquáticas na

enchente, provavelmente por valores mais elevados de transparência da água

(Figura 9).

O componente principal 2 (PC2) explica 28,76% da variância total, ou

seja, representa as variações inversas da profundidade, condutividade elétrica

e pH e as variações diretas de temperatura (Figura 9 e Tabela 9). Essas quatro

variáveis foram as principais responsáveis pelo agrupamento dos habitats de

água aberta e floresta alagada na enchente e vazante, e água aberta e

macrófitas aquáticas na seca e cheia (Figura 9).

33

Figura 9. (A) Análise de componentes principais (PC1 e PC2) mostrando as projeções das variáveis ambientais. Os autovetores estão representados pelas linhas pontilhadas. O2= Oxigênio dissolvido (mg/l), Temp.= Temperatura da água (˚C), Prof. = Profundidade (m), pH= Potencial hidrogeniônico, Cond.= Condutividade elétrica (µS/cm), Transp.= Transparência da água (cm). (B) Análise de Componentes Principais (PC1 e PC2) para o lago, amostrados durante o ciclo hidrológico.

pH

OD

Temp

Cond

Prof

Transp

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

Factor 1 : 42,17%

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

Fa

cto

r 2

: 2

8,7

6%

AAEFAE

MAE

AAC

FAC

MAC

AAVFAV

AAS

-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5

Factor 1: 42,17%

-3,5

-3,0

-2,5

-2,0

-1,5

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

Fa

cto

r 2

: 2

8,7

6%

34

Para se verificar a possível relação entre as variáveis ambientais

(representadas pelos eixos 1 e 2 da PCA) com a composição de espécies

(representada pelos eixos 1 e 2 do MDS) e abundância de espécies, foram

calculadas regressões lineares entre o primeiro e o segundo eixo de ambas as

análises (Figuras 17A e 17B). Foram observadas relações positivas e

significativas entre as características ambientais dos ambientes estudados e a

composição de espécies de peixes (presença-ausência; r2= 0, 5032; r= - 0

7094 e p= 0, 0098), bem como com a abundância de espécies (r2= 0, 5215; r= -

0, 7221 e p= 0, 0080).

Tabela 7. Correlações de Pearson entre as variáveis ambientais medidas nos habitats do lago ao longo dos períodos de enchente e cheia. Os valores em negrito indicam correlações estatisticamente significativas.

Variáveis pH OD Temp Cond Prof Transp

pH 1

OD 0,869 1

Temp 0,531 0,774 1

Cond 0,593 0,661 0,098 1

Prof -0,413 -0,548 -0,471 -0,423 1

Transp -0,709 -0,674 -0,641 -0,335 0,270 1

35

Tabela 8. Autovetores dos sete parâmetros ambientais analisados para os dois primeiros componentes principais. Parâmetros PC1 PC2

pH 0,668638 -0,550810

Oxigênio dissolvido (mg/l) 0,918444 0,286241

Temperatura (˚ C) 0,193332 0,727168

Condutividade (µµµµS/cm) 0,645613 -0,669886

Profundidade (m) -0,385002 -0,557250

Transparência (cm) -0,798408 -0,228901 Tabela 9. Valores dos escores para o lago nos habitats de água aberta, floresta alagada e macrófitas, analisados na enchente e cheia.

4.6 – Relações da composição, riqueza e abundância relativa das

espécies de peixes com os parâmetros limnológicos.

A composição de espécies representada pelo eixo 1 da MDS apresentou

relações significativas com todos os parâmetros físico-químicos da água do

lago. No entanto, as relações positivas e significativas foram observadas

somente entre a transparência, temperatura, pH e oxigênio dissolvido (Tabela

11). A riqueza de espécies apresentou relações positivas e significativas com a

transparência e temperatura da água. As relações negativas foram observadas

com a transparência, condutividade, pH, profundidade e oxigênio dissolvido,

sendo que ambas apresentaram valores significativos. A captura por unidade

de esforço dada em número de exemplares (CPUEn) e biomassa (CPUEb) não

apresentou relações positivas com nenhum dos parâmetros analisados, exceto

Pontos de coletas PC1 PC2

Água aberta (Enchente) 0,46073 -1,76993

Floresta alagada (Enchente) -0,05989 -1,88996

Macrófitas aquáticas (Enchente) 3,28506 -0,11397

Água aberta (Cheia) -2,13800 -0,73488

Floresta alagada (Cheia) -1,78835 -0,10942

Macrófitas aquáticas (Cheia) 0,33643 0,44985

36

a temperatura na CPUEb. Todas as análises com relações negativas

apresentaram valores significativos.

Tabela 10. Valores de coeficiente de determinação (R2), coeficiente de correlação (R), e nível de significância (p> 0,05) das relações entre a composição, riqueza e abundância relativa (CPUEn e CPUEp) com as variáveis ambientais dos habitats do lago.

Relações R² R p

Composição de espécies Transparência 0,7201 0,8486 0,1514

Condutividade 0,1353 0,3678 0,6322

Temperatura 0,3428 0,5855 0,4145

pH 0,8416 0,9177 0,0826

Profundidade 0,0230 0,1518 0,8481

Oxigênio 0,6139 0,7835 0,2165

Riqueza Transparência 0,3225 0,5679 0,4322

Condutividade 0,0685 0,2618 0,7382

Temperatura 0,7099 0,8426 0,1574

pH 0,0055 0,0743 0,9257

Profundidade 0,00002 0,0046 0,9954

Oxigênio 0,1990 0,4461 0,5539

CPUE n Transparência 0,0441 0,2101 0,7810

Condutividade 0,1820 0,4261 0,5734

Temperatura 0,3722 0,6101 0,3899

pH 0,1084 0,3293 0,6707

Profundidade 0,0030 0,0550 0,9450

Oxigênio 0,0132 0,1150 0,8849

CPUE b Transparência 0,0042 0,0647 0,9353

Condutividade 0,2211 0,4702 0,5298

Temperatura 0,2422 0,4922 0,5078

pH 0,2165 0,4653 0,5347

Profundidade 0,0061 0,0778 0,9222

Oxigênio 0,0003 0,0162 0,9838

37

5 - Discussão

5.1 - Características ambientais e físico-químicas da água nos

habitats do lago Jaitêua.

Os ecossistemas de várzea são caracterizados por uma diversificada

quantidade de ambientes que sofrem alterações anuais de acordo com as

variações sazonais geradas pelo pulso de inundação (Junk, 1983; Barthem &

Fabré, 2004). Essas áreas possuem sistemas aquáticos que são afetados

diretamente pelo regime de alagação (Saint-Paul, et al., 2000). Segundo

Barrella (2001), um dos principais efeitos causados pela flutuação anual do

nível da água são as modificações na estrutura dos lagos, alterando

conseqüentemente as características físico-químicas da água, sendo que

estas, por sua vez, podem causar grandes modificações nas comunidades

biológicas.

Dentre os parâmetros físico-químicos anotados no lago, destacam-se as

baixas concentrações de oxigênio dissolvido no período da cheia.

Possivelmente os peixes devem apresentar adaptações específicas que

possibilitem a sobrevivência em ambientes com baixas concentrações deste

gás. Das 10 espécies dominantes no lago, apenas Potamorhina latior,

Triportheus angulatus e Colossoma macropomum possuem adaptações

morfológicas, anatômicas e fisiológicas já descritas em vários trabalhos (Saint-

Paul & Soares, 1987; Soares 1993; Fernandes et al. 1994; Parma De Croux

1994; Muusze et al. 1998; Soares & Junk, 2000). Estas espécies têm como

características o uso da respiração na superfície aquática (RSA), considerada

uma adaptação para utilização do oxigênio da camada superficial, atribuído como

38

um componente estratégico de respiração integrada, permitindo a manutenção da

vida e atividades durante os períodos de baixas concentrações de oxigênio,

aumentando o risco de morte por predação.

Fatores como o oxigênio da água e a temperatura também são

caracterizados como bons indicadores abióticos. Os habitats de floresta

alagada e água aberta do lago apresentaram déficit de oxigênio na cheia,

possivelmente por ser um período com baixa produção de fitoplâncton no

ambiente, corroborando os estudos de Junk (1983), onde cita que habitats de

água aberta têm a oxigenação influenciada pelo crescimento do fitoplâncton e

difusão com o ar. Além do que, observamos valores de transparência da água

bem mais elevados na cheia na floresta alagada, podendo ser também um

excelente indicador da baixa produção de fitoplâncton, tendo contribuição com

os processos de decomposição da matéria orgânica neste habitat. É errado

concluir que valores extremamente baixos de oxigênio são excepcionais e

dificilmente serão os mais representativos para os lagos da Amazônia (Junk et

al., 1983). O aumento dos níveis de oxigênio na vazante no lago está

relacionado diretamente com o aumento da correnteza da água, promovido

pela saída de água deste ambiente, além da redução da cobertura de

macrófitas aquáticas. Esta por sinal se ocuparem grandes áreas podem

interferir diretamente nas concentrações de oxigênio por afetarem junto com a

floresta alagada a produção de fitoplâncton no sistema Junk et al., 1980.

Os maiores valores de transparência da água observados na cheia na

floresta alagada do lago, provavelmente estão relacionados com a falta de

entrada de água com grandes quantidades de sedimentos do Solimões, além

39

de ser um habitat que não sofre grande influência dos ventos, podendo

apresentar maior eficiência na decantação das partículas em suspensão. A

flutuação do nível da água ao longo do ciclo hidrológico exerce grande

influência nos valores de profundidade da água observados no lago, mas

também promove a presença e ausência dos habitats de floresta alagada e

bancos de macrófitas aquáticas ao longo do ano.

Os maiores valores de pH e condutividade encontrados no período de

enchente indicam a intensa entrada de água proveniente do rio Solimões,

ambiente rico em sedimentos como já mencionado acima, capaz de alterar

significativamente os valores observados para estas variáveis. Os valores de

pH e condutividade anotados nos ambientes deste estudo estão de acordo com

os observados por Anjos (2007), estudando um sistema lacustre do Cururu no

município de Manacapuru, à margem direita do Solimões. Esta autora realizou

coletas em três ambientes de várzea dentro deste sistema, evidenciando

valores mais altos de pH e condutividade no período da enchente.

Os resultados obtidos neste estudo mostram a existência de variações

sazonais nos parâmetros físicos e físico-químicos da água ao longo do ciclo

hidrológico, causados principalmente pela flutuação do nível da água ao longo

do ano. Isso nos leva crer que essas mudanças alteram a estrutura da

ictiofauna de acordo com as características da água dos ambientes

observados, além de corroborar com os estudos de Hamilton & Lewis (1990) e

Rodriguez & Lewis, (1997), que também relataram tais fatos em suas

pesquisas no rio Orinoco.

40

5.2 - Composição e estrutura das assembléias de peixes no lago e

suas relações com as características ambientais.

A maioria dos estudos desenvolvidos em lagos amazônicos mostra que a

ictiofauna é caracterizada pela dominância de Otophysi (=Ostariophysi sensu

stricto) com as ordens dos Characiformes (43%), Siluriformes (36%) e

Gymnotiformes (3%) representando aproximadamente 82% dos peixes,

seguidos de Perciformes com 12% e outras ordens com 6,4% (Roberts 1972,

Lowe-McConnell, 1999). Tais valores apresentam-se semelhantes aos

encontrados nos rios (Ferreira, 1993; Ferreira et. al., 1988; Santos, 1991) e

lagos de várzea da Amazônia Central (Junk et al, 1983; Souza-Pereira, 2000;

Saint-Paul et al. 2000).

Analisando a estrutura total da ictiofauna dos lagos Jaitêua e São

Lourenço observou-se que a sequência foi bem semelhante com

Characiformes (55,70%), Siluriformes (19,35%), Perciformes (16,9%),

Clupeiformes (4,72%) e outras ordens (Gymnotiformes, Osteoglossiformes,

Pleuronectiformes e Synbranchiformes) com (3,24%). Em ambos os lagos as

famílias Serrasalmidae, Characidae, Cichlidae, Curimatidae, Pristigasteridae,

Hemiodontidae e Pimelodidae foram dominantes ao longo do ciclo hidrológico

nos diferentes habitats.

Os caracídeos, curimatídeos e pristigasterídeos são em geral espécies

formadoras de cardumes que realizam migrações de longa ou curta distância e

desenvolvem parte do seu ciclo de vida nos lagos na época de cheia, e parte

nos rios, na época de seca (Cox-Fernandes, 1988; Soares & Yamamoto, 2004).

Cox Fernandes (1988), estudando nos canais de conexão do sistema do lago

41

do Rei, e Freitas e Garcez (2004) nos canais de conexão dos lagos Cururu e

Jacaré, observaram que esses peixes realizam movimentos migratórios dos

lagos em direção ao rio principal na cheia.

Muitas dessas espécies são consideradas residentes, desenvolvendo

seu ciclo de vida nos lagos de várzea como o caso de Moenkhausia lepidura,

intermedia e Acestrorhynchus falcirostris (piabas e peixe-cachorro). No período

da seca também foi observado no lago a ocorrência de alguns exemplares de

espécies migradoras tais como Triportheus auritus, Hemiodus immaculatus,

Anodus elongatus e Hemiodus sp., pois mesmo com a conexão ainda existente

no período de seca entre os lagos e os rios Manacapuru e Solimões, esses

peixes permaneceram no lago. Segundo Lowe-McConnell (1999), a chave da

estrutura das comunidades de peixes nos trópicos é baseada em sua

mobilidade, pois muitas espécies realizam movimentos laterais dos rios em

direção aos lagos e vice-versa, além da floresta inundada e dos tributários,

tendo como fator regulador a mudança no nível da água e variáveis

limnológicas como o oxigênio. Muitos autores também observaram mudanças

sazonais na composição da ictiofauna em planícies inundáveis dos rios

Machado e Madeira (Goulding, 1980), do Rio Rupununi nas Guianas (Lowe-

McConnell, 1964), lago do Inácio (Saint-Paul et al., 2000), lago do Rei (Merona

& Bittencourt, 1993), lago Catalão (Vale, 2003), lagos Samaúma, Sacambu e

Maracá na Amazônia Central (Siqueira-Souza, 2002), lagos Comandá, Praia,

Tracajá e Acari (Yamamoto, 2004) e no complexo lacustre do Cururu (Anjos,

2007).

42

Os habitats de floresta alagada na enchente e cheia e água aberta na

vazante e seca tiveram valores mais elevados de diversidade. O elevado valor

de Shannon observado na seca pode ser explicado pelo elevado número de

espécies residentes que permaneceram no lago neste período. Com relação ao

índice de dominância de Berger- Parker, as diferenças sazonais observadas

em seus valores podem ser atribuídas ao incremento no número de espécies

dominantes. As espécies dominantes concentraram-se mais na floresta

alagada do lago na enchente e cheia, como observados nos valores de

dominância.

Os resultados de diversidade podem estar relacionados com presença

de espécies formadoras de cardumes encontradas nos lagos, ou ainda por

tratar-se de áreas impactadas pela ação antrópica (Lowe-McConnell, 1999).

Se compararmos a diversidade de Shannon-Wiener obtida nos habitats do lago

com outros valores encontrados em lagos de diferentes bacias do Brasil, tais

como: braços dos lagos do sistema lacustre do Cururu, Amazonas (H’ = 2,49 a

3,11; Anjos, 2007), lago de Itaipu, Paraná ( H’= 1,0 a 2,0; Oliveira et al., 2004),

baía do Caxiuanã, Pará (H’=2,9; Montag, 2001) e Parque Estadual Rio Doce,

Minas Gerais (H’=0,54 a 1,31; Latini & Petrere Jr., 2004), podemos considerá-

los ambientes de alta diversidade. Os valores mais elevados de riqueza de

espécies encontrados neste estudo podem ser atribuídos ao elevado esforço

de pesca aplicado, com repetições de coletas realizadas mensalmente em um

período de 12 meses, com tempo de permanência das malhadeiras na água de

24 horas de

43

Os índices de riqueza e diversidade deste estudo quando comparados

com outros trabalhos realizados também em lagos de várzea da Amazônia

Central, permitem dizer que o lago Jaitêua pode ser considerado um ambiente

que apresenta boas condições ambientais para as comunidades de peixes,

mesmo sendo áreas muito utilizadas por pescadores profissionais.

A biomassa coletada nos lagos oscilou bastante ao longo do ciclo

hidrológico, sendo a cheia o período com os menores valores. Provavelmente,

isso se deve ao aumento da área alagada dos lagos, propiciando a ampliação e

o surgimento de habitats como a floresta alagada, os bancos de macrófitas

aquáticas e capins flutuantes, capazes de disponibilizar refúgios para os

peixes, tornando-os menos vulneráveis às capturas pelas malhadeiras e

redinhas. Devemos considerar que a malhadeira é um aparelho de pesca

passivo, deixando possivelmente de capturar muitas espécies de peixes

(Merona & Bittencourt, 1988), afetando diretamente as amostragens e

conseqüentemente a caracterização da comunidade de peixe.

A retração das águas na seca ocasiona perda e redução de habitats, tais

como a floresta alagada e macrófitas aquáticas, reduzindo conseqüentemente

os valores de CPUE observados. Quando comparados os valores de CPUE em

peso e abundância nos períodos do ciclo hidrológico, notamos que a vazante

foi o período que apresentou os maiores valores. Este fato está relacionado

com o movimento dos peixes em direção aos canais mais profundos dos lagos

e até mesmo para os rios, tornando-os mais vulneráveis à pesca com

malhadeiras. Tais condições possibilitaram o aumento em mais de três vezes

44

nesses valores para este período em relação ao restante do ciclo hidrológico

nos habitats amostrados.

Os valores obtidos pela CPUE em números de exemplares encontram-se

acima dos valores já observados por outros autores em estudos realizados por

Zuanon et al., (2004) na ilha do Cantão em Tocantins (6,63), Do Valle (2003)

no lago do Catalão no Amazonas (4,42), Ferreira (1991) no rio Trombetas

(2,42) no Pará, Torrente-Vilara et al., (2003) no rio Cautário em Rondônia

(2,08), Ferreira et al., (1988) no rio Mucajaí em Roraima (1,79) e Doria et al.,

(2005) no alto Madeira em Rondônia (2,83), ambos coletando com

malhadeiras.

De acordo com alguns autores (Rodríguez & Lewis, 1997; Tejerina-

Guarro et al.,1998), as características morfológicas dos lagos (área e

profundidade) e a cobertura vegetal aquática são considerados fatores

reguladores das comunidades de peixes. Além disso, as diferenças na

composição e na riqueza de espécies estão relacionadas ao tamanho do corpo

d’água. Segundo Welcomme (1985), o número de espécies pode aumentar

proporcionalmente com o tamanho do lago, sendo este um indicador direto da

capacidade de retenção da água.

O número de espécies coletadas nos bancos de macrófitas aquáticas

neste estudo foi relativamente baixo quando comparado com outros estudos já

realizados neste mesmo tipo de ambiente por Goulding et al. (1988) em

Anavilhanas (56 espécies), Sanchez-Botero & Araújo-Lima (2001) em três

lagos de várzea do rio Solimões (91 espécies), Petry et al. (2003) na ilha da

Marchantaria (139 espécies) e Prado (2005) em quatro lagos de várzea da

45

Amazônia Central (50 espécies), ambos com esforço de pesca maior em

relação ao atual estudo.

Os maiores valores de abundância observados no lago, tiveram como

espécies mais abundantes nos períodos de enchente e cheia o tucunaré

(Cichla monoculus) e a piaba (Moenkausia intermédia) com mais de 60% dos

exemplares coletados.

A composição da ictiofauna capturada nos bancos de macrófitas

composta pelas ordens de Characiformes, Perciformes, Gymnotiformes e

Synbranchiformes, segue padrões semelhantes aos estudos realizados por

Henderson & Hamilton (1995) no lago Mamirauá em macrófitas aquáticas,

mostram também o mesmo padrão de predominância da ordem Characiformes.

Sanchez-Botero (2000), estudando três lagos da Amazônia Central, também

evidenciaram a predominância de Characiformes. Petry et al. (2003)

verificaram em seus estudos nas macrófitas, que 45% dos exemplares

capturados eram pertencentes à ordem dos Characiformes. Proporções bem

semelhantes foram observadas por Meschiatti et al, (2000), analisando a

ictiofauna associada as macrófitas aquáticas em lagos do rio Mogi-Guaçu. É

interessante ressaltar que os bancos de macrófitas do lago Jaitêua não

apresenta grande complexidade em suas raízes (obs. pessoal), por

apresentarem predominância de mureru (Eichornia crassipes) e membeca

(Paspalum repens). Este fato é muito importante se levarmos em consideração

que os peixes menores buscam os bancos mais complexos para fugirem de

seus predadores, uma vez que a baixa complexidade deste habitat, como

46

citado acima, provavelmente pode ser uma das causas para os baixos valores

de riqueza observados.

Estas afirmações corroboram as conclusões de Petry et al. (2003), que

sugerem que a diversidade de espécies esta associada diretamente à

complexidade dos bancos de macrófitas. Os caules, raízes e folhas submersas

proporcionam aos juvenis e peixes menores uma barreira visual e física contra

seus predadores (Crowder & Cooper, 1979; Savino & Stein, 1989). Segundo

Araújo-Lima et al. (1986) as espécies mais susceptíveis a predação procuram

ambientes como os de macrófitas aquáticas, compostos por raízes, caules e

folhas, considerados mais complexos, para que os peixes possam fugir de seus

predadores.

Os valores de equitabilidade mais baixos encontrados na vazante na água

aberta e floresta alagada indicam a grande dominância de espécies formadoras

de cardumes, tanto migradoras (Pellona flavipinnis, Semaprochilodus insignis,

Potamorhina latior, Triportheus albus e Triportheus angulatus), como residentes

(Pygocentrus nattereri, Serrasalmus altispinis, Serrasalmus elongatus e

Serrasalmus spilopleura).

No período da enchente a baixa dominância de P. flavipinnis e H.

marginatus resultou em uma menor diferença na distribuição do número de

exemplares por espécie, conseqüentemente elevando os valores de

equitabilidade na água aberta. O mesmo fato ocorreu para a floresta alagada,

porém com baixa de dominância de outras espécies como: A. falcirostris, C.

macropomum e P. flavipinnis. Nos bancos de macrófitas aquáticas os valores

de equitabilidade foram mais reduzidos em relação aos outros habitats, graças

47

à dominância de Hemigrammus sp. e Cichla monoculus em ambos os lagos,

porém na cheia com a baixa dominância das espécies no lago e a menor

diferença de distribuição do numero de exemplares por espécies, elevaram o

valor de equitabilidade. Ao longo da cheia nos habitats de água aberta e

floresta alagada do lago, os valores apresentaram-se bem mais elevados,

indicando a falta de dominância de espécies.

O oxigênio e a temperatura são conhecidos por afetarem diretamente a

ictiofauna. As situações de hipoxia são comumente observadas em lagos de

várzea, igapós e poças temporárias, onde as altas taxas de decomposição,

principalmente de macrófitas e liteira, acarretam em redução dos níveis de

oxigênio dissolvido. Tais condições podem levar várias espécies de peixes a

utilizarem estratégias de respiração para sobreviver nesses ambientes com

baixos níveis de oxigênio (Junk, 1983; Soares 1993; Val et al., 1995)

A variação no nível da água (profundidade) mostrou relação direta com o

aumento e redução nos valores de riqueza de espécies observadas no lago. De

acordo com Súarez et al., (2001) o aumento da profundidade em lagoas

temporárias do Pantanal, foi a responsável pelo aumento da riqueza. Anjos

(2007) também evidenciou este fato no complexo lacustre do lago cururu.

Fatores abióticos têm sido amplamente relatados como responsáveis

pelas mudanças na estrutura das comunidades de peixes em lagos. Tajerino-

Garro et al. (1998) em estudos realizados em lagos das planícies inundáveis da

bacia do rio Araguaia-Tocantins, constataram que a transparência e a

profundidade possuem relações significativas com a estrutura das

comunidades. Rodrigues & Lewis (1997), estudando áreas alagadas do rio

48

Orinoco, verificaram que as comunidades de peixes são estruturadas pela

piscivoria, sob a influência da transparência da água que é modulada pela

morfologia do lago. Junk et al. (1983) e Saint-Paul & Soares (1987) relatam que

a variação na distribuição de espécies em lagos da Amazônia Central tem

relação com ás concentrações de oxigênio dissolvido.

Ao analisarmos os parâmetros físico-químicos da água do lago,

verificamos a existência de diferenças dos habitats da cheia em relação à

enchente. As ordenações dos ambientes a partir da Análise de Componente

Principais (PCA) revelam que na cheia existe uma diminuição na variabilidade

entre os habitats do lago, diferente do que observamos na enchente. Estas

variações também podem ser evidenciadas nas análises de MDS com a

análise da composição de espécies.

Os resultados observados sugerem que os habitats estudados

apresentam composição de espécies distintas ao longo do ciclo hidrológico. As

espécies ocupam os três principais habitats do lago, a água aberta, a floresta

alagada e os bancos de macrófitas aquáticas, de acordo com a variação do

nível da água. No período de alagação, a quantidade de peixes tanto na água

aberta como na floresta alagada do lago é grande. Já no período de vazante,

muitos peixes que ocupavam os habitats de água aberta e floresta alagada do

lago passam a iniciar um processo de movimentação em direção aos canais

mais profundos do lago, poços d’água, parte central do lago Grande (ou lago

Cabaleana), canal de conexão dos lagos com os rios Solimões e Manacapuru.

Esse período caracteriza-se por grandes abundâncias de peixes nas capturas.

Mesmo com a conexão entre os rios Solimões e Manacapuru, os canais

49

menores, principalmente do lago Jaitêua, não apresentam profundidade

suficiente para que ocorra a migração dos peixes, ocorrendo isolamento de

alguns ambientes na seca, aprisionando-os os peixes em locais mais profundos

do complexo lago Grande. Dessa forma, os peixes tornam-se presas fáceis

para as malhadeiras. Na seca a abundância de recursos alimentares para os

peixes torna-se menor, com poucas opções de alimento e abrigo. No entanto,

existe o lado favorável principalmente para os predadores, como no caso de

Serrasalmus spilopleura, amplamente dominante no lago na seca.

De acordo com a distribuição das espécies de peixes ao longo do ciclo

hidrológico, observamos que os habitats de água aberta e floresta alagada

apresentaram melhores condições para as espécies de peixes, principalmente

por apresentar maiores valores de riqueza e abundância de espécies.

Esses resultados nos levam a crer que a transparência da água, a

temperatura e o oxigênio dissolvido podem constituir fatores que influenciam

mudanças nas assembléias ictíicas, como verificado através da significância de

alguns modelos lineares entre os parâmetros ambientais e estruturais da

ictiofauna. Dessa forma, a sazonalidade do habitat é considerada um fator

chave que modifica as estratégias do ciclo de vida das comunidades de peixes

tropicais, amplamente mencionada em vários estudos (Goulding, 1980; Lowe-

McConnell, 1987; Cox-Fernandes, 1988; Merona & Bittencourt, 1993 e Saint-

Paul et al., 2000).

O complexo lacustre lago Grande de Manacapuru apresenta ambientes

bastante heterogêneos, tais como lagos, paranás, igarapés, furos com grandes

áreas de floresta circundando todo o complexo, favorecendo a alta riqueza de

50

peixes, indicando que a manutenção dessas áreas é de extrema importância,

pois são consideradas locais de alimentação, abrigo e reprodução para os

peixes. Mesmo com a proximidade do lago em relação à cidade de

Manacapuru, seus ambientes ainda apresentam boa integridade, permitindo

com isso que ocorra a manutenção da ictiofauna, além da permanência dos

vários nichos ecológicos a serem explorados pelas espécies.

Os resultados apresentados e discutidos neste estudo indicam a

importância de se implementar ações de manejo e ordenamento pesqueiro

voltados principalmente para espécies de peixes como as sardinhas, o

tambaqui, apapás, branquinhas e tucunarés, amplamente comercializadas nos

mercados e feiras de Manacapuru e Manaus, e tidas neste estudo como as

mais abundantes na água aberta e floresta alagada do lago.

51

6.0 - Conclusões

As variações ocorridas nos parâmetros físicos (profundidade e

transparência da água) e físico-químicos da água (oxigênio, temperatura,

condutividade e pH) principalmente na subida e descida das águas,

apresentaram efeitos sobre a composição das comunidades de peixes nos

habitats do lago. A profundidade do lago foi um parâmetro importante na

estruturação das comunidades, exercendo grande influência sobre a

composição das comunidades, em conjunto com outros fatores, como o

oxigênio dissolvido e a temperatura da água.

52

7.0 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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