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1. INTRODUÇÃO Do filho pródigo, que códigos? Do filho pródigo, que códigos são meus? O código de micro, o livre arbítrio, o livre eu. O código de micro, o livre arbítrio o clone e deus. E eu e Deus, e Deus e eu, e eu e Deus, e eu? Elétrica, elétrica, elétrica. (MERCURY, Daniela. Elétrica, In: Daniela Mercury disco Elétrica, 1998) Qual o papel do homem nessa nova ordem tecnológica mundial? É a indagação central que dá origem e justifica este trabalho. Essa questão foi concebida ainda durante o período da graduação, em uma aula de Comunicação Comparada, quando se discutia a obra de Mcluhan, ‘Os Meios de Comunicação como extensão do homem’. A discordância com parte da turma ao interpretar que, segundo o autor, a tecnologia amputa a capacidade humana, culminou em uma busca por uma contra-argumentação a esta acepção. O primeiro pressuposto teórico que permitiu um aprofundamento do problema foi encontrado em Lemos (1999) ao apontar que “a técnica é a arte de construção da vida”. A partir desta frase, que talvez seja a essência desta pesquisa, buscou-se a tentativa de estudar as transformações tecnológicas, principalmente as técnicas de comunicação aplicadas a um setor da atuação humana. Durante a folia carnavalesca do ano de 2000, ao observar a multidão que acompanhava a cantora Daniela Mercury, surge a idéia de se estudar a tecnologia aplicada ao turismo. Naquela ocasião, a denominada, ‘rainha do axé’, ao cantar a canção ‘Elétrica’, utilizada como epígrafe neste trabalho, propunha ao seu público, extremamente diversificado, entre brasileiros e estrangeiros, uma releitura dos conceitos sobre o que é ser homem, lançando o desafio da compreensão desse novo mundo influenciado pela cibernética. A mistura de ritmos da melodia (o

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1. INTRODUÇÃO

Do filho pródigo, que códigos? Do filho pródigo, que códigos são meus? O código de micro, o livre arbítrio, o livre eu. O código de micro, o livre arbítrio o clone e deus. E eu e Deus, e Deus e eu, e eu e Deus, e eu? Elétrica, elétrica, elétrica. (MERCURY, Daniela. Elétrica, In: Daniela Mercury disco Elétrica, 1998)

Qual o papel do homem nessa nova ordem tecnológica mundial? É a indagação central

que dá origem e justifica este trabalho. Essa questão foi concebida ainda durante o período da

graduação, em uma aula de Comunicação Comparada, quando se discutia a obra de Mcluhan, ‘Os

Meios de Comunicação como extensão do homem’. A discordância com parte da turma ao

interpretar que, segundo o autor, a tecnologia amputa a capacidade humana, culminou em uma

busca por uma contra-argumentação a esta acepção. O primeiro pressuposto teórico que permitiu

um aprofundamento do problema foi encontrado em Lemos (1999) ao apontar que “a técnica é a

arte de construção da vida”. A partir desta frase, que talvez seja a essência desta pesquisa,

buscou-se a tentativa de estudar as transformações tecnológicas, principalmente as técnicas de

comunicação aplicadas a um setor da atuação humana.

Durante a folia carnavalesca do ano de 2000, ao observar a multidão que acompanhava a

cantora Daniela Mercury, surge a idéia de se estudar a tecnologia aplicada ao turismo. Naquela

ocasião, a denominada, ‘rainha do axé’, ao cantar a canção ‘Elétrica’, utilizada como epígrafe

neste trabalho, propunha ao seu público, extremamente diversificado, entre brasileiros e

estrangeiros, uma releitura dos conceitos sobre o que é ser homem, lançando o desafio da

compreensão desse novo mundo influenciado pela cibernética. A mistura de ritmos da melodia (o

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toque percussivo da tradição do candomblé e o som distorcido da guitarra elétrica) e as

indagações contidas na letra da canção propuseram questionamentos sobre a função do homem e

da máquina nesse momento atual dominado pela cibercultura.

Em uma relação metafórica, o texto parece considerar os códigos de micro como novas

possibilidades de comportamento social e humano, podendo-se incluir, neste caso, os processos

de dominação que caracterizam a tecnocracia. O que sugere a cibercultura, então? Optar entre o

livre arbítrio e os códigos de micro? Usá-los para propagar a dominação social? Ou usá-los para

garantir o direito de ir e vir, como fez o ‘filho pródigo’?

Observa-se, atualmente, que o computador já faz parte de quase todas as ações e lugares

do mundo, redefinindo os comportamentos e espaços sociais. Intranet, extranet, pontos de

conexão, lugares digitais, a telepresença, o conhecimento do outro que continua estranho e mais

uma série de componentes são responsáveis por novas concepções de mundo e por novas formas

de interação humanas. Em casa, no trabalho, nas ruas, nas escolas, nas bibliotecas, tudo está

rendido às facilidades e encantamentos dessa máquina inteligente.

Estudiosos de diversas áreas convergem na acepção de que o mundo está vivenciando um

tempo digital vasto em informações e infraestruturas. Os potenciais e benefícios são grandes e o

momento da construção é tão rápido que nada foge a esse processo. Crescem uniões econômicas

e sociais, as normas e leis começam a ser reavaliadas, surgem medidas políticas para funcionar

em âmbito local e global, os espaços são transformados para adequar as novas tecnologias às

sociedades, os aspectos culturais definem as potencialidades econômicas, tudo girando em volta

desse complexo sistema em andamento de inovações tecnológicas e construções de novas

infraestruturas.

Nesse sentido, encontrar os códigos culturais requer uma tomada de ações conscientes,

que são ações livres, ações de livre arbítrio. Conhecer os limites entre os códigos de micro e os

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códigos humanos é justamente tentar compreender a função do computador junto aos sistemas

sociais, buscando como a máquina da cibercultura pode potencializar as funções dos locais. A

percepção dessas indagações, em um momento de multiculturalismo e descontração, ou

aproveitamento do tempo livre, culminou em um processo de elaboração do estudo dessas

transformações junto à atividade turística.

Considera-se, para tanto, que, com o desenvolvimento de tecnologias, a atividade turística

caracteriza-se enquanto fenômeno mundial, delimitando sua importância econômica e cultural.

Partindo deste princípio, pode-se conceber que, com a proliferação das tecnologias digitais, os

serviços turísticos passam a ser mais rápidos e mais eficientes, estabelecendo um público

altamente exigente e com interesses diversos, obrigando os locais receptivos, a adaptarem-se às

novas realidades. A partir dessa percepção, entende-se que a relação entre turismo e tecnologias

começa a exigir um estudo detalhado, contemplando as questões identitárias, os novos códigos

culturais e a nova dinâmica social que emergem nos centros receptivos, a partir da utilização dos

novos aparatos.

Portanto, o objetivo principal desta pesquisa é entender como as tecnologias digitais estão

potencializando as ações que dinamizam o setor, tendo como referência o município de Porto

Seguro-Ba. A escolha do município deve-se à sua atual organização cultural, na qual o turismo

desponta como principal atividade socioeconômica, segundo dados do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística – IBGE (censo de 2000). Busca-se, para tanto, traçar um estudo sobre a

produção cultural contemporânea do destino, considerando o uso das tecnologias digitais,

enfatizando como a história, as manifestações artísticas e os fatores ambientais estão

representados nas mediações ciberculturais do município (representações na internet). Nesse

sentido, busca-se apontar um modelo de cidade virtual, adequado a potencialização da atividade

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turística no local, que contemple o multiculturalismo como fator de estímulo à cidadania,

enfatizando fatores como educação, relações interpessoais e identidade cultural.

O fundamento para análise da cidade sobre a perspectiva da Revolução Digital é

encontrado na obra Telecommunications and the City de Graham e Marvin (1996) e na obra

‘Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea’ de Lemos (2002). Os autores

são contundentes na idéia de que a relação entre cidades e telecomunicações deve superar o

determinismo tecnológico e o futurismo utópico. Lemos apresenta em sua obra um panorama

sobre a cibercultura, mostrando o seu surgimento e como esta está manifesta nos locais e nas

ações do cotidiano popular. Também o autor apresenta um estudo sobre o imaginário da

cibercultura, enfatizando as expressões do underground, uma série de fatores e aspectos que

compõem a ambiência em uma atmosfera cibernética.

Graham e Marvin (1996) cogitam com quais finalidades devem ser aplicadas as

tecnologias digitais aos setores sociais para a promoção da melhor organização da sociedade. Na

obra, entende-se que somente a partir de um estudo detalhado e crítico dos aspectos que

caracterizam a dinâmica de um local (políticos, econômicos, sociais e o desenvolvimento

humano) pode-se chegar a um entendimento dos impactos das tecnologias em toda a sociedade e,

então, criar perspectivas reais de como a tecnologia pode melhorar, ampliar e potencializar as

ações do local. Os autores entendem as transformações tecnológicas como fatores de

reconfiguração da sociedade, envolvendo e entrelaçando todos os seus aspectos.

A metodologia estipulada para o desenvolvimento deste estudo possibilitou um

levantamento de dados, com análise e avaliação, de aspectos socioeconômicos e humanos no

município de Porto Seguro, promovidos pela atividade turística no período de 1990-2000. Para

tanto, foram definidas quatro etapas de trabalho que envolveram pesquisa bibliográfica,

documental e de campo. Na pesquisa de campo, utilizou-se do método intencional não

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probabilístico por julgamento para coletar opiniões de nativos e de turistas e da etnografia para

apresentar uma descrição da dinâmica do município.

No processo de construção do texto, optou-se, quando necessário, pela utilização de box1

para completar as discussões, a partir da disponibilização de fotografias e textos complementares.

Informações sobre a história, a economia, o meio ambiente a as ações sociais bem como dados

estatísticos estão presentes nesta dissertação de modo a permitir a maior compreensão e

detalhamento dos aspectos contemporâneos do município. As informações coletadas foram

analisadas à luz de teóricos do turismo, da comunicação e de culturalistas, dando ênfase aos

estudos da cibercultura. Os estudos sobre turismo fundamentam-se em considerações de Bignami

(2002), Beni (2000), Dias (2003), Lage (2000), Minani (1996), Moesch (2000) e Oliveira (2000).

Para embasar os estudos sobre tecnologia e meio social, foram usados os teóricos

Habermas (1968), Benjamim (1994), Lemos (1999; 2001; 2002), Beyers (1996), Dechert (1970),

Graham e Marvim (1996), Leroi-Gourhan (1971;1984) Lévy (1996a; 1996b; 1999), Maffesoli

(1998), evidenciando a trilogia de Castells (1999). Esses teóricos apresentam conteúdos que se

completam, fornecendo conceitos, exemplos, análises e críticas à sociedade contemporânea bem

como descrevem o processo histórico do desenvolvimento tecnológico, suas implicações e

perspectivas para o convívio humano, considerando as questões culturais e identitárias, avaliando

como estas se relacionam com as tecnologias digitais.

Os estudos sobre processos comunicacionais estão delimitados a partir de Barbero (2001),

Bordenave (2002), Castells (2003), Debord (1997), Hall (2003b) e por Macluhan. (1964). Por

fim, para fomentar a discussão sobre a produção cultural contemporânea utiliza-se, como

fundamentais, as concepções de Benjamim (1998), Bhabha (1998), Canclini (1998),

1 De acordo com o Manual de Redação da Folha de São Paulo (2000), ‘box’ significa texto curto que aparece cercado por fios, em associação com outros textos, que podem ser biografia, reprodução integral de um documento, pequena entrevista, comentário entre outros elementos textuais.

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Feathererstone (1997), Hall (2003a), Hannerz (1997), e Ianni (1999; 2000). Esses autores

apresentam conteúdos complementares, importantes para a análise e compreensão das atuais

transformações mundiais em seus aspectos políticos, econômicos e sociais, oferecendo uma

contribuição para o entendimento das formações identitárias e das expressões regionais.

O trabalho está divido em duas partes. Na primeira parte, estão o primeiro e o segundo

capítulos e o terceiro e quarto compreendem a segunda parte. Cada capítulo está dividido em três

tópicos, de modo que cada parte apresenta, ao todo, seis tópicos, com conteúdos específicos.

Optou-se por esse modelo de estruturação para melhor delimitar as discussões, dando-lhes o

aprofundamento necessário, de modo que a leitura não seja cansativa, considerando a dimensão

da dissertação, devido à complexidade dos temas abordados – desenvolvimento tecnológico,

complexidade social, turismo e comunicação on-line.

Na primeira parte, ‘O porto, a cidade, a cibercidade: os sentidos da evolução

tecnológica’, tem-se uma discussão sobre a relação entre a formação cultural e o

desenvolvimento tecnológico, com atenção voltada para a cibercultura. Esta temática está

centrada no primeiro capítulo – ‘O desenvolvimento tecnológico e seus usos pelas manifestações

culturais contemporâneas’ – que termina com uma abordagem envolvendo a relação entre

turismo e tecnologia. No segundo capítulo, ‘Aspectos do imaginário e da história importantes

para a construção da cidade virtual’ há uma acepção referente à formação do imaginário

turístico sobre Porto Seguro bem como sobre a atual dinâmica social do município, evidenciando

as práticas turísticas que emergem com a cibercultura.

A segunda parte, ‘O mundo digitalizado e seus impactos nas culturas locais’, o enfoque é

dado à relação entre internet e turismo. No terceiro capítulo ‘A cidade do ciberespaço’ apresenta-

se uma contextualização sobre a comunicação social e sua interferência nas dinâmicas sociais,

trazendo uma abordagem sobre a internet, evidenciando as características e categorias de atitude

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que delimitam sua particularidade, enquanto veículo de comunicação. Apresenta-se, entretanto,

uma análise de sites referentes ao município de Porto Seguro, cujos aspectos observados

correspondem à exploração das características do meio, à utilização das categorias de atitudes e

ao conteúdo veiculado, tendo como referência os estudos sobre o imaginário e a dinâmica social,

apresentados na parte anterior. No último capítulo, ‘ Navegar é preciso, viver é preciso também’,

apresenta-se uma sugestão sobre o modelo de cidade virtual adequada à potencialização da

atividade turística no município do Porto Seguro. Para tanto, mostram-se expectativas de

segmentos da população local com relação aos usos da internet.

Por fim, é importante ressaltar que, neste trabalho, tem-se um estudo cultural sobre

realizações contemporâneas que estão movimentando o turismo em Porto Seguro, não tendo

portanto, a pretensão de se apresentar um mapeamento e/ou uma enumeração dos recursos

tecnológicos disponíveis no município e utilizados pela população local. Assim, está-se

oferecendo uma modéstia compreensão de como o turismo e a cibercultura, enfatizando a

comunicação on-line, podem intensificar as potencialidades locais e ampliar as possibilidades de

melhoria de vida do homem, considerando tanto aspectos socioeconômicos, quanto questões

intelectuais e identitárias, contribuindo, desse modo, para que se possa edificar uma sociedade

mais justa e mais democrática.

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2. PARTE I:

O PORTO, A CIDADE, A CIBERCIDADE: OS SENTIDOS DA EVOLUÇÃO

TECNOLÓGICA

Nasce o sol e não dura mais que um dia./ Depois da luz, segue a noite escura./ Em tristes sombras, morre a formosura./E em contínuas tristezas, a alegria./ Porém se acaba o sol, porque nascia?/ Se é tão formosa a luz, porque não dura?/Como a beleza assim se transfigura?/ Como o gosto na pena assim se fia?/ Mas no sol e na luz falte a firmeza./ Na formosura não se dê constância./ E na alegria sinta-se a tristeza./ Começa o mundo, em fim, pela ignorância./ Pois tem qualquer dos bens, por natureza, / a firmeza somente na inconstância. (MATOS, Gregório de. Da brevidade do gosto e das coisas. In: www.secrel.com.br/jpoesia/gregoi10.html).

Os versos do poeta barroco, denominado ‘Boca do Inferno’, apresentam um

questionamento sobre a existência das coisas e a ocorrência dos fatos. A essência do poema está

centrada na mudança, que Gregório, metaforicamente, entende como a única característica fixa

do homem e das sociedades. A inquietação do poeta com a brevidade do gosto e das coisas

sugere ao homem uma indagação sobre a sua própria existência, sobre a veemência dos aspectos

de sua cultura e sobre a tenacidade dos seus indicadores identitários.

Começar o mundo pela ignorância é buscar a compreensão dos aspectos contemporâneos

para dinamizá-los em um tempo posterior, ou mesmo no próprio tempo. É buscar as contínuas

mudanças que impulsionam a dinâmica das sociedades e permitem a emergência de fatores que

potencializam as ações humanas, como a tecnologia. A associação do poema com esta primeira

parte do trabalho prende-se à indagação constante de como o desenvolvimento tecnológico pode

fomentar as alterações nos modos de vida, contribuindo para a fragmentação das estruturas

sociais existentes e excitando novas práticas culturais.

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O propósito desta parte, é identificar o aporte do desenvolvimento tecnológico junto à

dinâmica das sociedades, evidenciando a relação desse fator com o desdobramento da atividade

turística. No primeiro capítulo, ‘O desenvolvimento tecnológico e seus usos pela manifestação

cultural contemporânea’ será discutido como a técnica contribui para a formação das culturas,

evidenciado a atual forma de cultura, a cibercultura, bem como se dá a relação entre

desenvolvimento tecnológico e a emergência da atividade turística, excitando uma discussão de

como a cidade virtual pode contribuir para a potencialização do setor turístico.

No segundo capítulo, ‘Aspectos do imaginário de da história importantes para a

construção da cidade virtual’, serão traçadas indagações sobre o município de Porto Seguro a

partir do momento histórico institucionalizado pela chegada dos portugueses. Serão apresentados

aspectos identificadores do município, considerando o imaginário turístico e a evolução dos

processos técnicos que podem caracterizar o local como Porto, como Cidade e como Ciber-

cidade, notificando a movimentação turística que surge com a cibercultura. Este conhecimento é

fundamental para a compreensão e crítica do conteúdo turístico difundido nos sites referentes ao

município, cuja análise, está enfatizada na segunda parte.

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2.1. O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E SEUS USOS PELAS

MANIFESTAÇÕES CULTURAIS CONTEMPORÂNEAS.

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2.1.1. A cultura que emerge nas entrelinhas da tecnologia

Abrivos, túmulos; mortos das pinacotecas, mortos adormecidos atrás de portas secretas, nos palácios, nos castelos e nos mosteiros, eis o porta-chaves feérico, que tendo às mãos um molho com as chaves de todas as épocas, e sabendo manejar as fechaduras mais astuciosas, convida-vos a entrar no mundo de hoje, misturando-vos aos carregadores, aos mecânicos empobrecidos pelo dinheiro, em seus automóveis, belos como armaduras feudais, a instalar-vos com todas essas pessoas, ciosas dos seus privilégios. Mas a civilização fará delas uma pronta justiça. (Discurso que Apollinaire atribuiu a seu amigo Henri Hertz In: www.inicia.es/de/m_cabot/el_surrealismo.htm - Acesso em 04 de janeiro de 2004)

O discurso de Apollinaire convida o seu amigo a questionar o tempo, o mundo e as suas

transformações, tendo como ponto de partida os insumos técnicos. Esse discurso suscita a

idéia central a ser debatida neste tópico – a relação entre tecnologia e formação cultural.

Assim, partindo dessa perspectiva surrealista, será traçada uma tentativa de se compreender

como as culturas humanas podem ser descritas pelo aporte tecnológico. Afinal, como ressalta

Benjamin (1994), o surrealismo foi o primeiro estilo literário a se preocupar com as energias

revolucionárias que transparecem a partir das inovações tecnológicas como as construções de

ferro, as fotografias, os objetos industrializados e toda a parafernália que proclama a moda e

os gostos e torna antiquadas as manifestações passadas.

Para Benjamin (1994), há uma relação direta entre as revoluções sociais e os objetos frutos da

criatividade humana que dá sentido e vez a toda uma produção cultural e que vai caracterizar

um tempo no espaço de dependências técnicas, cuja nomenclatura (império, feudo,

modernidade, revolução industrial, cibercultura...) deriva dos modos operacionais e

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comportamentais bem como dos pensamentos desenvolvidos a partir das invenções e

inovações técnicas. Estas, por sua vez, sinalizam a tentativa do homem em aprimorar as suas

condições de vida e encontrar subsídios para melhor conduzir a realização de suas

perspectivas. Portanto, as ações, invenções e inovações que potencializam, dinamizam e

particularizam um local não só são elementos constitutivos da cultura como também são

indicadores do pensamento vigente em uma esfera social.

Assim, a tecnologia – o desenvolvimento de técnicas lógicas de ação ou, ampliando o

conceito de Castells (1999a), o uso de conhecimentos científicos ou não científicos para

especificar as vias de se realizarem as coisas e as atividades de uma maneira reproduzível –

coopera para a edificação e solidificação de estruturas sociais (grupos, organizações,

comunidades, cidades) e contribuem para a delimitação de práticas culturais que circunscrevem

modos de vida. Afinal, como observa Leroi-Gourhan (1971), a tecnologia é a única disciplina

etnológica que evidencia uma continuidade total no tempo, sendo, portanto, a única que permite a

compreensão dos atos humanos em uma ordem cronológica.

[...] o Homem aperfeiçoa os seus utensílios com tal eficácia que, de um ponto de vista moral, artístico e social, está agora ultrapassado pelos seus próprios meios de ação contra o meio natural, e este movimento de progresso técnico é tão flagrante que, desde há séculos, todos os grupos que se exaltam nos seus utensílios julgam-se ter-se também elevados em todos os outros domínios. ((LEROI-GOURHAN, 1984, p. 232)

Não é um desatino expressar que a cultura tem suas raízes fincadas no âmago do

fenômeno técnico. Contudo, compreende-se com Lévy (1999, p.22) que a técnica é um “ângulo

de análise dos sistemas sócio-técnicos globais, um ponto de vista que enfatiza a parte material e

artificial dos fenômenos humanos, e não uma entidade real, que existiria independente do resto,

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que teria efeitos distintos e agiria por vontade própria”. Logo, os modos e os objetos técnicos

comportam-se como elementos sinalizadores das práticas culturais de um local (envolvendo a

totalidade das atividades humanas desde idéias até as construções materiais) e corroboram para a

edificação de sua narrativa identitária.

A relação entre cultura e tecnologia é fruto do modo como os atores sociais produzem,

utilizam e interpretam as técnicas no seu dia-a-dia. Leroi-Gourhan (1984) aponta que, muito

mais que um mecanismo de aperfeiçoamento operacional, os fatos técnicos cooperam para a

compreensão das causas e do desenvolvimento dos processos históricos. As invenções, as

inovações, as difusões entre técnicas oriundas de locais distintos, a inércia técnica ou mesmo a

tomada de técnicas antigas provocam alterações na dinâmica cotidiana da sociedade,

interferindo, conseqüentemente, em sua formação cultural, afinal, as descobertas tecnológicas

ocorrem em afluências, interagindo entre si em um procedimento dialético cada vez mais

intenso, indicando, em qualquer que seja o processo, que a inovação tecnológica não ocorre de

forma isolada.

Ela reflete um determinado estágio de conhecimento; um ambiente institucional e industrial específico; uma certa disponibilidade de talentos para definir um problema técnico e resolvê-lo; uma mentalidade econômica para dar a essa aplicação uma boa relação custo/benefício; e uma rede de fabricantes e usuários capazes de comunicar suas experiências de modo cumulativo e aprender usando e fazendo. (CASTELLS, 1999 a, p.55)

A base do desenvolvimento tecnológico é também política e econômica uma vez que a

transformação da natureza representa alterações no comportamento humano e, por

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conseguinte, em toda vida social. Nesse sentido, pode-se dizer que as inovações e invenções

do homem são ao mesmo tempo frutos das necessidades sociais e fomentadores de novas

práticas culturais. Portanto, “se a técnica se transforma na forma englobante da produção

material, define então uma cultura inteira – um mundo” (HABERMAS, 1968, p.55). Assim o

desenvolvimento tecnológico pode comportar-se como acelerador ou como freio das

transformações em uma localidade, afinal, como lembra Lévy (1999), associados às técnicas

estão projetos sociais, interesses políticos e econômicos, idéias, utopias e mais uma série de

fatores que completam a gama das atividades dos homens na sociedade.

As modificações nos sistemas sociais estão vinculadas às constantes reformulações

técnicas que se constituem como uma linha evolutiva contínua. Esse encadeamento descreve o

que Micthell (2000) denomina em seu E-topia de ‘metamorfoses tecnológicas’, permitindo que o

espaço esteja sempre movimentado por um processo de construção/desconstrução, no qual o

homem reformula o seu espaço, partindo sempre dos modelos existentes. Ou seja, o ponto de

partida de um novo sistema social é o atual. Ele completa o que está feito, estruturando um novo

modelo.

Vale ressaltar que as reformulações tecnológicas não criam novas condições de vida nem

novas necessidades, elas apenas as reinventam, transformando o funcionamento dos sistemas e

redistribuindo as atividades, estendendo-as por vários outros caminhos. Porém, como alerta

Mitchell (2000), à medida em que os sistemas tecnológicos modificam as operações sociais, o

homem tem que buscar entendê-lo, escolher suas opiniões, seus destinos e, cuidadosamente,

construí-los. Afinal, como aponta Dechert (1970), toda vez que se faz uma inovação tecnológica

e científica, o homem muda, reconstruindo seu pensamento sobre as coisas, sobre o mundo e

sobre si mesmo. Assim, pode-se dizer que as reformulações técnicas propõem novas

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constituições sociais, transformando a vida e a concepção de vida em sua totalidade, provocando

a ruptura de conceitos, de crenças, de valores, apresentando respostas, por um lado, e, por outro,

gerando novas indagações.

Para Habermas (1968, 45), “na medida em que a técnica e a ciência pervadem as esferas

institucionais da sociedade e transformam assim as próprias instituições, desmoronam-se as

antigas legitimações”. Nesse sentido, as ‘metamorfoses tecnológicas’ rompem com as estruturas

que se apresentam sólidas e apontam novos ícones, símbolos e significados para a coletividade.

As constantes revoluções da produção estremecem sucessivamente as condições sociais,

transformando as relações concretas em sistemas envelhecidos. Tem-se a desconstrução de

elementos identitários do local e a edificação de novos indicadores, estabelecendo, então, um

processo ininterrupto de reconfiguração da identidade.

A identidade torna-se uma ‘celebração móvel’: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. É definida historicamente e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um ‘eu’ coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas. (HALL, 2003, p.13).

De acordo com Castells (1999b, p.22), entende-se identidade como “a fonte de significado

e experiência de um povo” vigente em um determinado período. A identidade é responsável pela

organização dos significados de um grupo social para os indivíduos, sejam eles componentes ou

não do grupo. Porém, além da revolução nos modos de produção, deve-se compreender que há

uma série de fatores interferentes na construção da identidade como a formação étnica, os

aspectos ambientais, as mitologias e lendas que compõem as fantasias e crenças que giram em

torno de uma ambiência.

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Permeado por essa compreensão, Leroi-Gourhan (1984) notifica que a evolução dos

modos de produção ocorre em um terreno instável, uma vez que os elementos constituintes dos

processos que compõem a unidade técnica derivam de diferentes grupos étnicos e de tempos e

espaços variados. A essa observância, acrescenta-se o fato de que em cada sistema técnico está

em voga uma concepção ideológica que prescreve ações filosóficas, sociológicas, econômicas,

políticas, comunicativas e administrativas (ainda que aparentemente imperceptível e inconsciente

nas primeiras civilizações) bem como os sentimentos de medo e encantamento do homem para

com os novos objetos.

As alterações nos processos técnicos, portanto, estão atreladas à complexidade das

sociedades e comportam-se como responsáveis pelo delineamento dos seus obstáculos e

possibilidades, dos seus paradoxos, das suas certezas, das suas coerências e ambigüidades. Por

isso, junto às ‘metamorfoses tecnológicas’ pode-se identificar funções específicas do

desenvolvimento tecnológico que podem contribuir para a compreensão de como as técnicas

interferem na identidade cultural. Nessas sentido, Hall (2003) observa que, a partir da

modernidade, as alterações sociais são mais profundas do que a maioria das mudanças

características de períodos anteriores, uma vez que as conexões entre culturas passam a ser mais

extensas e a interferir com mais intensidade no cotidiano popular. Faz-se importante salientar,

entretanto, que, em qualquer período, o desenvolvimento tecnológico encontra-se veemente

presente no imaginário social.

De um modo, o refletir sobre a utilização das energias hidráulicas e eólicas e sobre o

maquinismo e o automatismo que caracterizaram a produção técnica medieval, foi o fator

preparatório do homem para a acepção da modernidade, afinal, proporcionou a emergência de

novos códigos de procedimento nos quais a técnica era concebida como elemento impulsionador

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das transformações do mundo. Todavia, é o Renascimento do século XV que vai permitir a

manifestação de uma revolução epistemológica capaz de somar ao pensamento de então ideais da

modernidade. O teocentrismo é superado pela razão humana difundida pelo empirismo de Francis

Bacon e pelo racionalismo de René Descartes. O ‘penso, logo existo’ tornou-se a metáfora

perfeita para a legitimação das descobertas científicas e do domínio humano sobre a natureza

inteligível.

A vigência desse pensamento racionalista começa a preparar a sociedade para a

conivência com o ritmo acelerado das inovações que vai, a partir do final do século XVIII,

caracterizar as revoluções industriais, quando a fusão entre o desenvolvimento técnico e a

organização social deixa de ser apenas um projeto da modernidade e torna-se um fato real.

Ações e inovações características da I Revolução Industrial, ocorrida entre os séculos

XVIII e XIX, a exemplo da máquina a vapor, a fiadeira e o tear mecânicos, a aplicação da força

motriz às máquinas fabris, a difusão da mecanização na indústria têxtil e na mineração, a

fabricação em série e o surgimento da indústria pesada além de potencializarem a produção,

possibilitaram a consolidação do capitalismo, o surgimento do sistema burocrático, o povoamento

dos centros urbanos e a formação de uma nova classe social – a classe operária.

A partir desse momento, as cidades começam a ser organizadas sob a lógica da

industrialização, (re)definindo suas funções (industrial, agropecuária, turística...). Por esse

contexto, começa-se a difundir, no pensamento popular, a crença de que o desenvolvimento

tecnológico significaria uma melhoria da vida e das relações sociais. Assim, tem-se a idéia de

progresso técnico associado diretamente à reformulação das estruturas sociais, articulando-se

técnica, trabalho e economia política, consolidando uma sociedade industrial, na qual onde a

tecnologia alastrava-se por todos os domínios da vida.

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No entanto, pode servir como uma forma abreviada para designar o poder do propriamente humano e portanto antinatural presente no trabalho humano descartado acumulado em nossas máquinas – um poder alienado, o que Sartre chama de a contra-finalidade do prático inerte, que se volta contra nós em formas irreconhecíveis e parece constituir-se no horizonte distópico massivo de nossa práxis coletiva e individual. (JAMESON,1997, p.61)

Essa condição pragmática e alienante da técnica vai se evidenciar a partir da segunda

Revolução Industrial, final do século XIX, ao promover a gênese de uma sociedade voltada para

o consumo. Essa revolução caracteriza-se pelo desenvolvimento da eletricidade, do motor de

combustão interna, de produtos químicos com base científica, da fundição eficiente do aço e pelo

aprimoramento das tecnologias de comunicação e de transportes.

O surgimento do sistema fordista e a apropriação de espaços comunicacionais, como a

fotografia o cinema e o rádio, como divulgadores de produtos industrializados, iniciaram o

processo de comunicação de massa que culminou na formação de uma nova prática cultural - a

cultura de massa – na qual o sujeito passa a ser compreendido como membro de uma

coletividade, estando mais centrado no cerne das grandes estruturas sociais. A concepção de

‘sujeito cartesiano’ é substituída por uma definição mais social do sujeito.

[...] a medida em que as sociedades modernas se tornavam mais complexas, elas adquiriam uma forma mais coletiva e social. As teorias clássicas liberais de governo, baseadas nos direitos e consentimentos individuais, foram obrigadas a dar conta das estruturas do Estado-nação e das grandes massas que fazem uma democracia moderna. As leis clássicas da economia política, da propriedade, do contrato e da troca tinham que atuar, depois da industrialização, entre as grandes formações de classe do capitalismo moderno. (HALL, 2003, p.29)

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Essa concepção orgânica e funcional das relações sociais está imersa na racionalidade

ideológica da industrialização, que vigora durante o ápice da segunda revolução. Habermas

(1968), ao dialogar com Max Weber e com Herbert Marcuse, vai considerar essa racionalidade

como o conteúdo legitimador da dominação política, promotora das relações institucionalizadas.

Para o autor, ela está intrinsecamente direcionada à laboração de estratégias de dominação tanto

sobre a natureza quanto sobre o próprio homem social, comportando-se, dessa forma, como

‘exercício de controles’. Esse exercício condiciona-se à capacidade e ao interesse da delimitação

dos aspectos sociais, não estando associado (diretamente) à opressão e à exploração, embora

admita caráter repressor na medida que submete os indivíduos ao aparelho técnico e,

conseqüentemente, ao estatal, compondo uma sociedade totalitária de base racional, voltada para

a ampliação da comodidade da vida e intensificação da produtividade do trabalho.

Assim, ao impor ao homem a vivência de ações padronizadas (caracterizando a cultura de

massa), o desenvolvimento industrial contribui para a atuação do Estado. Esse promove a

organização do tempo e dos espaços sociais, uma vez que o incremento das forças produtivas,

associado ao desenvolvimento tecnológico e ao modo de produção capitalista, condicionava os

cidadãos a pensar que o contínuo aumento da produtividade e o domínio da natureza cooperavam

para a edificação de uma vida mais confortável.

O aumento das forças produtivas institucionalizado pelo progresso técno-científico faz explodir todas as proporções históricas. Daí tira o enquadramento institucional as suas oportunidades de legitimação. O pensamento de que as relações de produção pudessem medir-se pelo potencial das forças produtivas desenvolvidas fica cerceado pelo facto de que as relações de produção existentes se apresentam como a forma de organização tecnicamente necessária de uma sociedade racionalizada. (HABERMAS, 1968, p.48)

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Nesse sentido, observa-se com Castells (1999a) que os ideais das revoluções industriais,

ao difundirem-se por todo o sistema econômico e permearem em toda a esfera social, servem de

base material para a continuação histórica das lutas humanas. Portanto, o desenvolvimento

tecnológico, ao mesmo tempo em que se comporta como a base da legitimação do poder político,

permite o surgimento de insólitos sistemas culturais, pois a racionalização inerente a tal processo

amplia as esferas ideológicas do trabalho industrial, abrangendo outros âmbitos da vida como a

urbanização, o tráfico econômico, as redes de transportes e de comunicação, as instituições de

direito privado, as escolas, a religião bem como o aproveitamento do tempo livre.

Então, se por um lado, a sociedade industrial retira do homem a sua autonomia, o

impossibilitando determinar pessoalmente a sua vida, por outro, cria subsídios para que se

formem grupos sociais. A utilização dos insumos tecnológicos e a reflexão sobre essa utilização

ultrapassam, no século XX, os limites institucionais, fazendo emergir uma complexa estrutura

social, caracterizada por conflitos de toda ordem.

São problemas inseridos mais ou menos nas guerras e revoluções, nas lutas pela descolonização, nos ciclos de expressão e recessão das economias, nos movimentos do mercado de força de trabalho, nas migrações, nas peregrinações religiosas e nas incursões e tropelias turísticas, entre outras características mais ou menos notáveis da forma pela qual o século XX pode ser visto, em perspectiva geistórica ampla. São problemas raciais que emergem e se desenvolvem no jogo das forças sociais, conforme se movimentam em escala local, nacional, regional e mundial. Ainda que muitas vezes esses problemas pareçam únicos e exclusivos, como se fossem apenas ou principalmente ‘étnicos’ ou ‘raciais’, a realidade é que emergem e se desenvolvem no jogo das forças sociais, compreendendo implicações econômicas, políticas e culturais. (IANNI, 1997, p.175)

Desse modo, pode-se considerar, de acordo com Castells (1999b), uma distinção entre três

formas e origens de construção da identidade, afinal, a constituição social da identidade ocorre

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em uma conjunção marcada por relações de poder. Assim, tem-se a ‘identidade legitimadora’,

introduzida pelos grupos dominantes, que, no caso, corresponde à identidade formada a partir da

racionalização industrial; a ‘identidade de resistência’, característica dos grupos de oposição e a

‘identidade de projeto’ quando o grupo redefine sua posição na sociedade, transformando toda a

estrutura social. Estas duas últimas formas de identidade caracterizam os partidos políticos,

sindicatos de operários, ambientalistas, feministas, homossexuais, negros e demais grupos que, de

algum modo, lutam contra a cultura dominante com bases totalitária.

Pode-se entender que, ao proteger a legalidade da dominação, a racionalidade tecnológica

legitima uma sociedade totalitária de base racional, na qual as normas sociais são reforçadas por

sanções, caracterizando a tentativa do Estado-nação em delimitar os indicadores culturais

nacionais, fomentando a construção de uma identidade legitimadora. Em contrapartida, ao

abranger vários âmbitos da vida, a tecnologia industrial acaba por permitir a formação de

subsistemas culturais promotores da complexidade das relações sociais do sistema macro a que

pertencem, gerando, então, a formação de grupos com identidades de resistência e de projeto.

A constituição dos bairros e das camadas sociais, das associações (empresariais,

filantrópicas, étnicas...), dos partidos políticos, dos grupos de oposição, das tribos urbanas bem

como a formação dos guetos e das camadas do ‘undergrounded’ dá-se a partir da consolidação de

códigos sociais peculiares que permitem a emergência dos indicadores culturais de cada um

desses subsistemas. Assim, em meados do século XX, as sociedades industriais já não mais

poderiam ser concebidas como uma totalidade de indivíduos.

Quando se combinam industrialização, urbanização, secularização da cultura e do comportamento, racionalização das ações e das instituições, mercado, produtividade, competitividade, individualização e individualismo possessivo,

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como ocorre habitualmente no capitalismo, o resultado pode ser um ambiente social explosivo. Aí tendem a multiplicar-se as desigualdades sociais, juntamente com a divisão do trabalho social, com a hierarquização do status e papéis, com distribuição desigual do produto e do trabalho social. Esse o ambiente em que indivíduos, famílias, grupos e classes, ou maiorias e minorias, inseridos nas tramas das relações sociais, ou no jogo das forças sociais, podem tanto integrar-se como tensionar-se e fragmentar-se. (IANNI, 1997, p.1888)

Nesse sentido, a evidência e o reconhecimento das diferentes identidades dos grupos

culturais suscita uma nova forma de organização social, pois o racionalismo industrial, mesmo

nas primeiras décadas do século XX, não se faz mais suficiente para manter a lealdade dos grupos

culturais ao poder ‘tecno-estatal’. Então, o progresso tecno-científico e o controle sobre ele vão

exigir uma nova forma de legitimação do poder político – a consciência tecnocrática.

A consciência tecnocrática é, por um lado, menos ideológica do que todas as ideologias precedentes; pois, não tem o poder opaco de uma ofuscação que apenas sugere falsamente a realização dos interesses. Por outro lado, a ideologia de fundo, um tanto vítrea, hoje dominante, que faz da ciência um feitiço, é mais irresistível e de maior alcance do que as ideologias de tipo antigo, já que com a dissimulação das questões não só justifica o interesse parcial de dominação de uma determinada classe e reprime a necessidade parcial de emancipação por parte da outra classe, mas também afeta o interesse emancipador como tal do gênero humano. (HABERMAS, 1968, p.80)

O sentido utópico da ‘vida boa’ vinculada ao desenvolvimento tecnológico perde a força

de sua projeção na totalidade social e torna-se uma ‘e-topia’ junto às diferentes perspectivas dos

grupos culturais, manifestando-se em suas lutas por acesso às melhorias de vida, o que assinala a

busca pela satisfação das necessidades privatizadas e uma tomada de consciência das massas

sobre o seu contexto sócio-econômico. Contudo, o reconhecimento dessa postura analítica

(vigente nos subsitemas), por parte dos grupos dominadores, vai tornar-se o fator responsável

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pelo estabelecimento de regulações normativas direcionadas que despolitizam os sujeitos,

vinculando-os a funções determinadas. Assim o sistema passa a ser composto por subsistemas de

ações racionais dirigidas afins. É essa forma sutil de controle direcionada que caracteriza a

‘consciência tecnocrática’.

Contudo, a difusão dessa consciência exige um entendimento das idéias e práticas que

particularizam cada um dos subsistemas que compõem o (macro) sistema social. Este

entendimento pode ser adquirido, entre outros aspectos, a partir da compreensão das relações

econômicas e dos processos comunicacionais. Afinal, as sociedades capitalistas são, em essência,

sociedades de mudanças contínuas e rápidas, edificadas a partir das informações recebidas sobre

as suas próprias práticas e sobre as práticas de outros espaços.

De acordo com Marx (1982), a partir do potencial econômico, dá-se a constituição das

classes sociais, que vão, então, comportar-se como grupos culturais uma vez que se distinguem,

umas das outras, pela forma organizativa que definem os seus significados peculiares. Esses

significados estão impressos nos valores, nos modos comportamentais, nos ícones e nos símbolos

sociais, nas manifestações estéticas, artísticas e religiosas, nas posições partidárias, nas lutas em

prol dos direitos coletivos, dos usos e das reflexões sobre as transformações tecnológicas, e

principalmente nas experiências compartilhadas. Tais elementos, entre outros, constituem os

códigos que delimitam a identidade através da qual, a classe social torna-se reconhecida enquanto

produtora de uma cultura específica, constituindo-se como um grupo cultural.

Jameson (1997) aponta que a cultura deve ser pensada em termos de uma explosão, cuja

expansão abrange todas as esferas do domínio social. Dos valores econômicos e das peripécias

estatais às práticas e à própria estrutura da psiquê, tudo, na vida social, pode ser considerado

como cultural. Nesse sentido, Barbero (2001), chama atenção para a necessidade de se aceitar

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uma pluralidade de culturas, que corresponde a diferentes modos de vida social, cujo

entrelaçamento vai fomentar o processo de hibridismo cultural (CANCLINI, 2000), o qual vai

ratificar o caráter dinâmico da cultura. Logo, pode-se pensar a cultura como um constante

processo de criação, de transformação de conhecimentos e vivências e de reformulação do

ambiente em que o homem vive e justamente por isso as identidades culturais estão sempre em

mutação.

O entendimento sobre esse processo pode permitir a identificação dos espaços enquanto

‘lugar’, ‘território’, ‘lar’... ‘nação’, cujos significados são apropriados pelas experiências

coletivas que se formam a partir da intersecção entre concepções individuais que vão definir

modos de vida. Ao agrupar-se em organizações comunitárias, as pessoas desenvolvem um

sentimento de pertença a uma identidade cultural, através da qual, sentem-se representadas e

motivadas a lutarem pelos propósitos tanto pessoais, quanto coletivos. Essa identificação é

componente de formação da ambiência de um grupo cultural ou sistema/classe social.

As pessoas se socializam e interagem em seu ambiente local, seja ela a vila, a cidade, o subúrbio formando redes sociais entre seus vizinhos. Por outro lado, identidades locais entram em intersecção com outras fontes de significado e reconhecimento social, seguindo um padrão altamente diversificado que dá margem a interpretações alternativas. (CASTELLS, 1999b, p.79)

Essas interações e interpretações compõem as ações comunicativas. Essas se configuram a

partir dos sentidos que o grupo emprega às informações que recebe, sejam elas, oriundas do

poder estatal, do desenvolvimento tecnológico ou de outros grupos quaisquer bem como a partir

da forma com que o grupo produz e faz circular, tanto interna como externamente ao sistema, as

suas próprias informações.

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A comunicação simbólica entre esses seres humanos e o relacionamento entre esses e a natureza, como base na produção (e seu complemento, o consumo), experiencia o poder, cristalizam-se ao longo da história em territórios específicos, e assim geram culturas e identidades coletivas (CASTELLS, 1999 a, p. 33)

A compreensão desse processo interativo e da construção de sentidos decorrente pode

proporcionar o entendimento dos códigos culturais, uma vez que a comunicação perpassa por

todas as esferas da sociedade, promovendo o elo entre os seus membros e a propagação das

alterações em sua dinâmica. E como as ‘metamorfoses tecnológicas’ são fomentadoras da

dinâmica social, pode-se conceber, com Lerói-Gourhan (1984), que o meio social é um ‘meio

técnico’ delimitado pelo poder econômico e pelos códigos culturais que o caracterizam. Nesse

sentido, afirma-se que a cultura emerge nas entrelinhas da tecnologia.

Portanto, as tentativas do homem em desenvolver, entender e firmar uma identidade

pessoal e coletiva a partir da revolução industrial compõe o cenário socioeconômico do século

XX, no qual o desenvolvimento tecnológico assume abertamente a sua condição de delimitador

das ações culturais. A complexidade dessa conjuntura perpassa por todos os aspectos da

sociedade. As relações políticas, os conflitos entre os grupos culturais, as expressões religiosas,

as manifestações artísticas, os sistemas administrativos e comunicacionais, a atividade turística, a

vida cotidiana e a totalidade de aspectos que compunham as ações humanas têm sua

funcionalidade a partir de uma ‘consciência high tech positivamente imperante’, que a partir da

década de 1970 toma caráter ubíquo, sendo incisiva para a edificação e consolidação, no final

deste século XX e início do atual, de uma sociedade viciada em tecnologias cibernéticas.

O desenvolvimento tecno-científico associado a instituições, empresas e a mão-de-obra

qualificada proporcionou o surgimento da Revolução Digital ou, como denomina Castells

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(1999a), Revolução da Tecnologia da Informação ou Revolução da Informação, formando (ou

forjando?) a Sociedade da Informação e a Era do Conhecimento, que está transformando a cultura

material em mecanismos de um novo paradigma tecnológico, fomentando uma nova forma

cultural – a cibercultura – que está manifesta, de algum modo, em todas as áreas de atuação

humana contemporâneas, acelerando as trocas entre os grupos culturais e os situando em uma

dimensão global, formando uma nova realidade extremamente abrangente, complexa e, em

muitos casos, contraditória.

Mais uma vez, no final do século XX, o mundo se dá conta de que a história não se repete no fluxo da continuidade, das seqüências e recorrências, mas que envolve também tensões, rupturas e terremotos. Tanto é assim que permanece no ar a impressão de que terminou uma época, terminou estrondosamente toda uma época; e começou outra não só diferente, mas muito diferente, surpreendente. Agora são muitos os que são obrigados a reconhecer que está em curso um intenso processo de globalização das coisas, gentes e idéias. (IANNI, 1997, p.10)

É, portanto, uma nova perspectiva de novidade, de mudanças e de ruptura com o passado

repressor que vai caracterizar as últimas décadas do século XX e os primeiros anos do atual. A

humanidade mais uma vez se depara com uma nova realidade, com novas possibilidades e

ressurgem as indagações sobre a atuação humana, desta vez, pensada em uma ambiência

planetária. Assim, entram em negociação os valores locais e globais, redimensionando todas as

esferas da vida, desde as realizações mais banais do cotidiano até as mais complexas relações

políticas e econômicas entre as nações. Esse é o ambiente em que se prolifera a cibercultura, a

cultura contemporânea, que, de acordo com Lemos (2002), corresponde a uma atitude

influenciada pela contracultura americana que acena contra o poder tecnocrático, promovendo a

democratização da informação.

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2.1.2. Qual é a ‘onda

2’ da cibercultura?

[...] Acessando a internet você chaga ao coração da humanidade inteira sem tirar o pé do chão. Reza Pai Nosso em hebraico, filosofa em alemão, entende porque o Michael deu chilique na televisão. Kdi Vinil, quando é que tu vai gravar CD? São milhões de megabits afanando a solidão, com a graças de Bill Gates salve a globalização. Se o homem já foi a lua, vai pegar o sol com a mão. Basta comprar um PC e aprender o abc da informatização. (BALEIRO, Z. Kid Vinil. In: zeca-baleiro.letras.terra.com.br/letras/80229/ Acesso em 04 de janeiro de 2005).

A epígrafe, um fragmento da canção Kid Vinil, está propondo reflexões sobre as

mudanças operacionais e comportamentais emergentes nesse momento de cibercultura. O texto

apresenta vantagens oferecidas pelo atual avanço tecnológico, mostrando as possibilidades que

esse novo sistema higt tech oferece ao homem, ao mesmo tempo em que traz questionamentos

sobre os usos da tecnologia por meio da metáfora que envolve Kid Vinil, um músico

colecionador de discos de vinil, que se recusa a gravar CDs. Assim, o compositor, convida seu

público a meditar sobre as novas possibilidades de relacionamento humano, de aquisição de

conhecimentos e informações e de operacionalização das ações.

Será realmente necessária a substituição das antigas técnicas por novas? A quem interessa

esse procedimento? O homem deve ser sempre dependente das inovações ou ele deve adaptá-las

às suas necessidades e desejos? Que interferências as novas tecnologias digitais provocam nas

culturas e como elas podem estabelecer suas identidades frente ao ininterrupto processo de

2 Expressão popular baiana, utilizada para propor uma questão. Geralmente substitui termos como ‘o que estar acontecendo?’; ‘ o que houve’?; ‘qual é o problema?’

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globalização? E até que ponto esse processo contribui para a melhoria das sociedades e da vida

humana? Qual identidade cultural forma-se com a cibercultura? Qual é a ‘onda’ da cibercultura?

Na efervescência conflituosa em que o homem busca delimitar e conceituar o tempo atual

como modernidade tardia (HALL, 2003) ou como pós-modernismo (JAMESON, 1997) ou como

pós-modernidade (FEATHERSTONE, 1997) vigora uma nova forma de pensar e agir, de

impulsionar os processos econômicos, políticos e sociais; uma nova forma de se buscar a

interação humana e a resolução de problemas que permeiam as sociedades; uma nova forma de

entender o homem e de se questionarem as suas ações e inter-relações e, logicamente, de

controlá-las. Formas estas de tal modo sinérgicas que proclamam sincretismos operacionais entre

o homem e a máquina, desencadeando uma série de novos processamentos, idéias e

conceituações acerca das próprias ações e dos espaços que as possibilitam.

A integração crescente entre mentes e máquinas, inclusive a máquina de DNA, está anulando o que Bruce Mazlish chama de ‘a quarta descontinuidade’ (aquela entre seres humanos e máquinas), alterando fundamentalmente o modo pelo qual nascemos, vivemos, aprendemos, trabalhamos, produzimos, consumimos, sonhamos, lutamos ou morremos. Com certeza, os contextos culturais/institucionais e a ação social intencional interagem de forma decisiva com o novo sistema tecnológico, mas esse sistema tem sua própria lógica embutida, caracterizada pela capacidade de transformar todas as informações em um sistema comum de informação, processando-as em velocidade e capacidade cada vez maiores e com custo cada vez mais reduzido em uma rede de recuperação e distribuição potencialmente ubíqua. (CASTELLS, 1999a, p.51)

Na busca da definição e da superação do próprio tempo, o homem acaba por produzir um

novo movimento de criação e de transformação do social, uma nova forma de cultura que resulta

da aplicabilidade científica sobre o desenvolvimento da técnica, fomentando uma revolução

operacional e comportamental, baseada na codificação da informação – a Revolução Digital.

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Nessa nova conjuntura, o homem entra no processo de reconfiguração, ressignificação,

reconstrução das esferas sociais para adaptá-las ao presente, repensando as melhores maneiras de

reconstruir e reescrever (como este texto) a vida em sua totalidade de aspectos. Por outro lado,

Lévy (1999) chama a atenção para o fato de que essa revolução pode despontar como o ‘outro

ameaçador’ para aqueles que não se encontram diretamente envolvidos nos processos de criação

e de apropriação dos novos instrumentos digitais.

Para dizer a verdade, cada um de nós se encontra em maior ou menor grau nesse estado de desapossamento. A aceleração é tão forte e tão generalizada que até mesmo os mais ‘ligados’ encontram-se em graus diversos, ultrapassados pela mudança, já que ninguém pode participar ativamente da criação, das transformações, do conjunto de especialidades técnicas, nem mesmo, seguir essas transformações de perto (LÉVY, 1999, p.28).

A Revolução Digital é o sistema de produção motivado pela cibernética, a ciência de

controle e processamento de informações (DECHERT, 1970). As ações desenvolvem-se a partir

das redes de comunicação telemáticas, interligadas por ‘nós’, que permitem a troca e o

encaminhamento de informações. Essas informações são codificadas em dígitos binários, os

‘bits’, que se processam pela quantização de dados, delimitados pelo tempo em que se formam as

amostragens, que aparecem como os sinais ‘0’ e ‘1’. Uma vez agrupados, os sinais formam os

‘Bytes’ de informação, desencadeando uma nova ordem global, fundamentada pelas

telecomunicações digitais cuja evolução é ordenada em kilobis, megabits e gigabis.

Graham e Marvin (1996) observam que essas telecomunicações digitais estão sendo

difundidas rapidamente nas casas, nos locais de trabalho, nas ruas e em várias instituições

públicas. Para eles, o resultado dessa conjunção é um processo de convergência tecnológica e a

rápida penetração das chamadas redes telemáticas em todas as esferas de atuação do ser humano.

Essas redes compõem a infra-estrutura necessária para a ligação de computadores, acelerando os

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processos de inovação nos usos e tratamentos da informação. De acordo com Lévy (1999), não

importa a natureza, um texto, uma imagem, um som... qualquer mensagem ou informação se

puder ser explicitada ou medida, certamente será traduzida pelas tecnologias digitais, sendo

processada, automaticamente, com bastante precisão, alta velocidade e em grande escala

quantitativa.

Contudo, muito mais que a conversão da informação do modo analógico ao digital, “o

nascimento da micro-informática (e da cibercultura) é fruto de movimentos sociais” (LEMOS,

2002, p. 111), caracterizando uma nova lógica em relação a essas tecnologias contemporâneas,

atribuindo-lhes qualidades lúdicas, criativas e enriquecedoras. Esse movimento, resultante de

convergências culturais, pode apresentar novos significados para a produção tecnológica,

divergentes daqueles definidos pela sociedade do consumo que a submetia aos interesses

econômicos dos grupos dominadores, uma vez que os cidadãos conectados podem utilizar as

novas tecnologias para o compartilhamento de emoções, a ampliação do convívio e para as

construções comunitárias. A cibercultura, então, pode ser entendida como uma nova forma de se

pensar e de se construir o mundo, forma esta que admite associação de vários segmentos culturais

e humanitários.

A partir dos novos potenciais interativos, o homem se depara com a possibilidade de

renegar e, portanto, abalar (e, quem sabe romper?) com os princípios deterministas e reguladores

que fundamentam a consciência tecnocrática imposta nos primórdios do mesmo sistema tecno-

científico. É, portanto, o vasto contingente de oportunidades que configura a cibercultura como

uma realidade sócio-técnica e como um movimento social, no qual o homem, inserido nesta nova

ordem, torna-se capaz de, ele mesmo, criar sua própria ambiência e interagir com os mais

longínquos espaços do planeta, dinamizando, ainda mais os processos de globalização.

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A cibercultura pode estar manifesta ao mesmo tempo e ‘em tempo real’ nos mais distintos

e distantes locais do globo, sugerindo e permitindo ao homem a ampliação dos seus horizontes,

através da reconfiguração e reedição dos espaços e dos modelos políticos, econômicos,

educacionais bem como da produção e circulação de informações, a partir do uso das novas

tecnologias. Essas, por sua vez, não podem ser concebidas apenas como ferramentas

manipuláveis, mas como processos a serem desenvolvidos, podendo confundir (ou fundir) as

categorias de usuários e de criadores.

Segue-se uma relação muito próxima entre os processos sociais de criação e manipulação de símbolos (a cultura da sociedade) e a capacidade de produzir e distribuir bens e serviços (as forças produtivas). Pela primeira vez na história, a mente humana é uma força direta de produção, não apenas um elemento decisivo no sistema produtivo. (CASTELLS, 1999a, p. 51)

Mitchell (2000) observa que o homem está deixando o estágio de lidar com ícones e

comandos virtuais presentes no desktop, baseados em metáforas icônicas do uso de objetos reais,

para promover a incorporação da lógica digital aos próprios objetos, expressando noções de

interface e ambiente de respostas que podem gerar uma relação simbiótica entre o homem e o

computador. Como exemplo dessas apropriações, tem-se o modelo de pesquisa desenvolvido pelo

Massachusetts Institute of Technology (MIT) sob o nome genérico ‘Things That Think’ – coisas

que pensam. A partir desse modelo, Mitchell (2000) interpreta o software como o elemento

fundamental desse processo de reconfiguração dos espaços e da atuação humana, tornando-se o

pressuposto central da incorporação da lógica da programação aos lugares, objetos e ações do

cotidiano, edificando ações computacionais. Essa conjunção, portanto, de software e hardware

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nas atividades diárias, estão transformando, adaptando e modificando a dinâmica dos sistemas

culturais.

Ao andar pelas ruas e locais das metrópoles ou mesmo das regiões interioranas, o homem

pode perceber e vivenciar essa conjunção. A tecnologia incorporada através de sensores ópticos,

códigos de barra, leitores de impressões digitais, sistemas de reconhecimento de faces, GPS,

dispositivos acústicos, eletromagnéticos, cartões de acesso, os bancos 24 horas, a telefonia

celular, entre vários outros insumos, sinalizam a convergência do local em uma conjuntura

cibernética, caracterizando a aplicabilidade da teoria da informação, que busca a redução dos

erros e aceleração dos processos, fomentados pela Revolução Digital.

Essa atual estrutura com base em tecnologias programáveis interfere nas relações de

tempo e espaço com a dinâmica das localidades que passam a ter as redes informacionais como

mais um fator condicionante de sua funcionalidade. Assim como as redes de água, esgoto e

eletricidade trouxeram novidades para o cerne social, proporcionando melhorias na infra-

estrutura urbana e na qualidade de vida nos centros urbanizados, as redes de informação

computacionais estão formatando um novo modo de vida, desenvolvendo a idéia de uma

sociedade eletrônica e digital focada no desenvolvimento do que Mitchell (2000) denomina

‘computers for living in’ – computadores para a vida. Para o autor, de eletrodomésticos às

vestimentas e assessórios pessoais tudo se insere na lógica de que podem se tornar utensílios

capazes de, alguma forma, transportar, transmitir, gerenciar e apresentar dados, transformando e

ampliando, conseqüentemente, as fronteiras das sociedades.

Fomentando o cenário da cibercultura, observam-se eventos e ações sociais como as raves

(festas alucinantes e liberadas), a ciber-moda tribal e presenteísta, repleta de materiais sintéticos,

piercings e tatoos, que proclamam novos padrões estéticos, os cyborgs protéticos e

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interpretativos, os netcyborgs3, o hipercorpo4, as atitudes cyberpunk5 e a ciberarte (utópica,

futurista e funcional). Estes aspectos apontam para presença e permanência da essência ‘ciber’

como o motor das movimentações do homem contemporâneo. Ainda destacam-se os

cybercafes,(cafeterias eletrônicas que promovem agregação a partir das redes telemáticas) as Lan

Hauses (locais de jogos eletrônicos) e as novas projeções da arquitetura voltadas para adaptar as

tecnologias contemporâneas aos locais além de infinitos modos comportamentais criativos que

repercutem na estrutura dos sistemas sociais, potencializando as suas funções, garantindo as

metamorfoses tecnológicas e, evidentemente, trazendo toda a sua problemática.

A manifestação da cibercultura pode se percebida, inclusive, em expressões lingüísticas

cotidianas. Por exemplo, o verbo ‘unir’ está sendo comumente substituído por ‘lincar’ (derivado

de link). As relações entre grupos, empresas e organizações formam ‘redes organizacionais’

(lembrando as redes telemáticas); estar atento a um fato é atualmente ‘conectar-se’ (como a

internet); aderir a uma causa ou a um grupo passou a ser ‘plugar-se’ (de plug). E, entre várias

outras expressões lingüísticas, a mais popular, indubitavelmente, é o ‘virtual’, geralmente

substituindo o termo imaginário ou algo impossível de acontecer ou algo que só acontece em

pensamento (ainda que contrariando a teoria).

A cibercultura vai, pouco a pouco, redefinindo nossa prática de espaço e do tempo, particularmente no que se refere ao novo nomadismo tecnológico e às fronteiras entre o espaço público e o espaço privado. Com os telefones celulares, os fax, os computadores portáteis, modem e satélites, estamos em casa o tempo todo. Como disse Barlow num evento multimídia em Amsterdã, ‘minha casa é meu e-mail’. O espaço privado se imbrica no espaço público e vice-versa, numa

3 Em Lemos (2002) cyborg protéico é uma pessoa, cujo funcionamento fisiológico, é ajudado por aparelhos eletrônicos. O interpretativo constitui-se pela influência dos meios de comunicação de massa e os netcyborgs, são os cyborgs interpretativos das redes, libertando-se da sociedade do espetáculo. 4 Para Lévy (1996) o hipercorpo constitui-se a partir do transplante de órgãos, criando uma grande circulação de órgãos entre os corpos humanos, o que corresponde à virtualização do corpo. 5 De acordo com Lemos (2001) o cyberpunk é um reflexo da cultura contemporânea que se caracteriza por ser um mistura de estilos, utilizando-se da sátira e de outras formas literárias, como o horror e o fantástico, para, ao mesmo tempo, negar os fatores agressivos e repressivos e afirmar a luta contra a tecnocracia.

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verdadeira publicização do privado e de privatização do público. (LEMOS, 2002, p.128)

Conforme Lévy (1996), pode-se dizer que esse conflito espacial corresponde tanto à

desterritorialização quanto ao efeito Moebius (passagem do interior ao exterior e do exterior ao

interior), caracterizando a virtualização do espaço e das ações. O processo de virtualização se

inicia quando as entidades (idéias, pessoas, ações, lugares, grupos culturais...) penetram em uma

atmosfera de mutação da identidade, passando do campo ontológico para um campo

problemático, onde se desprendem de suas bases estruturais, ficando disponíveis para a

coletividade, o que vai implicar, conseqüentemente, nas trocas de identidade e de funções entre

os fatores envolvidos. Nesse momento de trocas, as entidades tornam-se virtuais.

Por uma acepção filosófica, Lévy (1999, p. 49) entende o virtual como “aquilo que existe

apenas em potência e não em ato, o campo de forças e de problemas que tende a resolver-se em

uma atualização. O virtual encontra-se antes da concretização efetiva ou formal”. Portanto, o

processo de virtualização antecipa e põe em discussão os fatos, as ações e as idéias humanas,

possibilitando o surgimento de várias interpretações. E é justamente essa abrangência subversiva

que vai situar a virtualização em um campo problemático.

Assim sendo, através do processo de virtualização, tem-se a redefinição das práticas

cotidianas e, conseqüentemente, alterações nas funções e nas estruturas dos locais. Como

exemplo de estruturas contemporâneas virtualizadas, pode-se apontar a reconfiguração da

residência (privado/interior) em um ambiente de trabalho (público/exterior), fundindo os limites

que separam (ou separavam) o ócio do negócio. Como um outro protótipo, tem-se o surgimento

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das máquinas inteligentes, que potencializam as relações assíncronas6 (intermediada pela

máquina), permitindo a ampliação das relações face-a-face (síncronas), além de uma série de

outros mecanismos fomentados pela emergência das tecnologias de informação e por sua

permeabilidade em todas as áreas de atuação humana.

Nessa nova conjuntura, as comunidades, instituições, organizações, cidades... têm a

perspectiva de estenderem-se para o ciberespaço, um plano metafísico e insistentemente

problemático que, de acordo com Lévy (1999, p. 92), corresponde a um “espaço de comunicação

aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores”. Ou

ainda pode-se pensá-lo como “um objeto comum, dinâmico, construído, ou pelo menos

alimentado, por todos que o utilizam” (LÉVY, 1996, p. 128), em que estão inclusos os sistemas

de comunicação eletrônicos enquanto transmissores de informações provenientes de fontes

digitais ou destinadas à digitalização.

Conectado às redes, o homem perde a referência espacial e temporal. No ciberespaço, ele

se depara com vários universos, rompendo as barreiras do conhecimento e até mesmo desafiando

a física newtoniana, ocupando, ao mesmo tempo, vários espaços em um só lugar. O homem

mergulha no ambiente digital e se enquadra à virtualidade. O longe tornou-se um lugar que não

existe mais mesmo. As distâncias são superadas e os deslocamentos e as ações ocorrem em um

tempo rápido e sem medidas, projetados em uma Realidade Virtual. O espaço se fragmenta de

acordo com as necessidades humanas. Tudo isso repercute nas estruturas socioeconômicas

nacionais, redefinindo os comportamentos culturais. A característica principal dessa atual

6 Não chega a ser uma novidade absoluta, afinal outras formas comunicativas como telefonemas e cartas nos habituou em uma comunicação interativa, recíproca, assíncrona e à distância. Contudo, apenas as particularidades técnicas do ciberespaço permitem que os membros de um grupo humano (que podem ser tantos quantos se quiser) se coordenem, se cooperem, alimentam e consultam uma memória comum, e isto quase em tempo real, apesar da distribuição geográfica e da diferença de horários. (LÉVY, 1999, p.49).

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revolução não é a centralidade de conhecimentos e informações, mas sim, a sua aplicabilidade em

um processo continuum de realimentação cumulativa entre as inovações tecnológicas e seus usos.

Todo esse movimento social permite a incidência da ‘sociedade da velocidade’ e das

ações sinérgicas em que o hibridismo cultural e operacional vai desencadear, muito mais

rapidamente, a convergência de diversas culturas e contraculturas, de diversas manifestações

étnicas, indentitárias, éticas e estéticas, fomentando o tribalismo e diferentes formas de interação

do humano com as tecnologias digitais e, a partir delas, várias experiências coletivas espontâneas.

Constata-se um alastramento cultural tanto para além das fronteiras dos sistemas sociais,

pois as redes são mundializadas, como para os domínios regionais, municipais e domésticos,

possibilitando a conexão entre os mais distantes locais do globo terrestre. Desse modo, entende-

se que esse sistema digital constitui-se como uma nova forma de ligação entre os espaços,

podendo ser distinguidos os componentes das relações intracidades e intercidades (Mitchell,

2000). Há técnicas e custos diferentes para o desenvolvimento do sistema entre área local, área

metropolitana e redes de longas distâncias. As atuais redes de longas distâncias – ligações de

intercidades – são formadas por interconexão em centros de mudanças com alta capacidade,

cabos de fibra óptica, ligações por microondas ou via satélites. Esses centros de mudança são

Pontos de Presença – POPs – que constituem a base material das relações intracidades e

intercidades.

Os POPs, são, nada mais que, pontos de conexão entre localidades. Qualquer que seja sua

forma – portos, aeroportos ou computadores – são potenciais geradores de atividades

socioeconômicas em suas regiões. Esses pontos, portanto, constituem-se como a infraestrutura

necessária para a efetivação das trocas sociais e econômicas entre os sistemas culturais,

provocando súbitas mudanças em suas dinâmicas. Assim, o sistema de telecomunicações digitais

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a longa distância tem criado novos tipos de interdependências entre regiões dispersas, exigindo

uma reformulação rápida dos conceitos e valores locais para adaptá-los aos modos globais. Esse

processo contribui para a flexibilização das identificações regionais em complexas ‘identidades

glocais’ como resultado de uma negociação ou de uma familiarização (FEATHERSTONE, 1997)

ou mesmo de um hibridismo entre as expressões culturais do local com as de outras regiões do

globo, evidenciando novas práticas em seus limites geográficos.

À medida em que as culturas tornam-se glocais, os seus elementos identitários vão

tomando cada vez proporções mais complexas, principalmente pensando-se em termos de cultura

de consumo7. Nesse caso, não se pode ignorar ou simplesmente considerar distantes, estranhos ou

exóticos, os novos signos, significados e ícones que provêem de outras culturas, uma vez que

estes passam a compor a nova atmosfera do lugar. Como sugere Featherstone (1997), para poder

entender e se situar nesse novo contexto, pessoas, governantes, organizações, cidades... devem

acostumar-se com a flexibilidade e a capacidade de mudanças de códigos das práticas e

experiências com que se deparam, afinal, elas constituem as novas identidades culturais, reunindo

aspectos globais e locais. Essas identidades glocais desenvolvem-se através de processos

‘transculturais’ que indicam formas de afirmação, recuperação, invenção ou reinvenções da

identidade.

O transculturalismo é uma condição e um produto das migrações transnacionais, dos movimentos dos indivíduos, famílias, grupos, coletividades, sempre envolvendo diferentes etnias e distintos elementos culturais. Ao mesmo tempo em que se formam bolsões, enclaves ou guetos, também multiplicam-se os conctatos, intercâmbios, mesclas, hibridações mestiçagens ou transculturações. Criam-se novos contextos sócio-culturais, outras possibilidades de produção material e espiritual, contextos esses nos quais multiplicam-se as diversidades,

7 O termo cultura de consumo não apenas assinala a produção e o relevo cada vez maiores dos bens enquanto mercadoria, mas também o modo pelo qual a maioria das atividades culturais e das práticas significativas passa a ser mediadas através do consumo (FEATHERSTONE, 1997, p. 109).

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as desigualdades, as intolerâncias, tensões, xenofobias, etnicismos e racismos. (IANNI, 1997, p. 202)

Nesse sentido, em todos os níveis e em todas as esferas sociais, os POPs conduzem o

homem ao processo de aceleração das suas perspectivas. Todas as formas de produção social e

econômica, tanto a produção material quanto a espiritual bem como as empatias e antipatias entre

os grupos culturais podem ser inseridas nesse processo da ‘glocalização’ e então ampliarem seus

limites, ou, por uma expectativa mais positivista com relação às antipatias sociais, findarem-se.

É interessante notificar que, ao mesmo tempo em que sistemas culturais alargam suas

fronteiras, tornando-se cosmopolitas, reestruturam-se no âmbito interno criando também novos

horizontes e novas possibilidades em termos de localismo, (re)configurando, desse modo, as

relações intracidades, através da edificação dos Pontos de Presença Digital. Faz-se importante a

especificação POP Digital, para os locais de interação entre homem e tecnologias digitais uma

vez que aeroportos, rodoviárias e portos, por exemplo, são, de fato, Pontos de Presença e não

dependem necessariamente dessas tecnologias para sua funcionabilidade.

Pode-se considerar os POPs Digitais como ‘Digital Places’, termo concebido por Thomas

Horan (2000) para designar os locais onde as pessoas podem interagir com o computador ou

através dele, entrando simultaneamente em sinergia com o espaço físico e o virtual. Contudo a

principal característica desses locais é que podem funcionar como uma ágora cultural, na qual as

pessoas de uma mesma comunidade adquirem mais uma oportunidade de interação, como vem

ocorrendo nos ‘Espaços Internet Aveiro Digital8’ da cidade de Aveiro em Portugal e em centros

nacionais como Porto Alegre/RS nos ‘Telecentros9’ e no projeto intitulado, ‘Porto Digital10’, na

8 www.aveiro-digital.pt 9 www.portoalegre.re.gov.br 10 www.portodigital.org/instituto/contato.html

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capital pernambucana, e em vários outros empreendimentos privados como os cybercafes e as

Lan Hauses. Esses espaços representam a tentativa do homem em potencializar as suas ações,

fortalecendo os laços comunitários e fomentando as relações intracidades.

Contudo, essa conjunção entre o físico e o virtual deve ser realizada após reflexões sobre

a melhor forma de integrar os objetos eletrônicos aos lugares, preocupando-se com a estética e as

funções do local e principalmente com as necessidades e desejos dos moradores. Essa adaptação,

portanto, deve ocorrer obedecendo às características locais e aos anseios da população, então,

reconfigurando o ‘senso do local ou o fluid locations’, que Horan (2000) entende como uma

superestrutura de auto-identificação do espaço físico através de sua memória, idéias, atitudes,

valores, preferências, significados e concepções. O senso do local é o que permite uma maior

interação entre comunidades vizinhas.

Essa reconfiguração exige uma ambientalização dos aspectos contemporâneos, impostos

pelas tecnologias digitais às características econômicas, sociais, estéticas e éticas locais, de modo

que o novo modelo possa contribuir para o processo de continuidade evolutiva11 das funções do

local, promovendo ao cidadão a melhoria da vida e maior sagacidade referente à sua identidade.

Horan (2000) alerta que para recombinar o design urbano devem ser considerados conhecimentos

os mais diversos como científicos, tecnológicos, políticos, sobre a arquitetura e, principalmente,

sobre as ações locais, agrupando-os na perspectiva de desenvolvimento junto aos digital places.

Esse, portanto, pode ser considerado como um deliberativo e interativo processo interdisciplinar

de reinvenção das bases e das circunstâncias sociais.

11 A continuidade evolutiva que se está cogitando refere-se aos processos materiais da cultura como agilização das ações e das trocas econômicas, participação política... e não a uma continuidade cultural, que não pode ser considerada, e ainda que fosse possível estaria condicionada além das metamorfoses tecnológicas, a vários outros fatores como etnia, ambiente, religião, trocas culturais.

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Fundamentado por Castells (1999a), pode-se conceber os digital places (e qualquer outro

POP) como ‘espaços de fluxos12’, afinal, proporcionam o processamento da informação, podendo

suprir uma lacuna junto à democratização da informação além de poder potencializar as diversas

atividades econômicas, políticas e sociais de uma localidade. Contudo, esses processamentos,

como informa o mesmo autor, materializam-se e concretizam-se em ‘espaços de lugares13’, o que

delimita a edificação dos pontos de presença às peculiaridades culturais e características físicas e

arquitetônicas do ambiente. Portanto, os POPs digitais são, ao mesmo tempo, espaços de fluxo e

espaços de lugar, sendo que no primeiro caso está-se considerando o processamento das ações e

enquanto ‘espaço de lugar’ cogita-se o local de concretização das ações.

Embora já tenha sido cogitado, é importante evidenciar que a edificação dos POPs deve

estar associada ao compartilhamento das decisões referentes a um local, implicando no cuidado

com os aspectos que compõe a sua ambiência e o torna peculiar. E nessa perspectiva de

‘democratização’, considera-se que a operacionalização através dos digital places, deve

possibilitar maior interatividade entre as pessoas, de modo que possam escolher os destinos do

seu local de moradia e dos locais de seus interesses, à medida em que a influência mútua entre a

organização material, as práticas sociais e as infra-estruturas tecnológicas atenta para a

importância da identidade cultural na reorganização espacial.

12 Para Castells (1999a), o espaço de fluxos refere-se à organização material das práticas sociais de tempo compartilhado que funcionam por meio de seqüências intencionais, repetitivas, programáveis de intercâmbio e interação entre posição fisicamente desarticuladas, mantidas por atores sociais nas estruturas econômicas, política e simbólica da sociedade. A dominação estrutural dessa lógica provoca alterações no significado e na dinâmica dos lugares. 13 Espaço de lugares fica entendido em Castells (1999a) pela independência das formas, das funções e dos significados dos locais dentro das fronteiras da contigüidade física, podendo claramente ser identificável tanto na aparência quanto no conteúdo. Ou seja, os espaços de lugares são locais que apresentam uma atmosfera peculiar identificada pelo seu fluid locations.

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Nesse sentido, pode-se estabelecer com Horan (2000) uma diferença entre ‘comunidades

de lugares’ e ‘comunidades de interesses’ para grupos que entram em conexão através do

ciberespaço. As primeiras são formadas por pessoas que habitam uma mesma localidade e as

comunidades de interesses ultrapassam as fronteiras locais, sendo constituídas por pessoas de

locais diversos que compartilham idéias e objetivos semelhantes. Ambas as comunidades podem

contribuir para a dinâmica do local no espaço físico.

Seja comunidade de interesse, seja comunidade de lugar, o fato é que a digitalização das

comunidades amplia suas ações e torna-se ponto de partida para que novas perspectivas sejam

projetadas em seu âmbito. Essa extensão vai então contribuir para a reconstrução do espaço

físico, criando um ambiente social, onde os cidadãos teriam mais oportunidades para se

aprofundar em questões do seu interesse, podendo gerar uma maior inter-relação social e

reformulação dos aspectos culturais.

Essas novas perspectivas estão provocando significativas mudanças na estruturação dos

grupos culturais conectados. As normas começam a ser criadas, pelo Estado e por organizações

internacionais, para regular serviços públicos e universais, as oportunidades de desenvolvimento

tornam-se as mesmas no interior e nos grandes centros, o que não implica em uma dispersão

espacial, mas em uma onda de urbanização generalizada. Com essa infraestrutura digital, torna-se

crescente a distribuição da sofisticação educacional, medicinal e de outros serviços vitais,

podendo, do ponto de vista operacional, gerar o desaparecimento das diferenças entre cidades e

fazendas, regiões centrais e periféricas.

Grupos da chamada contra-cultura e a maioria discriminada podem, através do

ciberespaço da internet, romper com as esferas sociais dos preconceitos e construir formas

organizativas de ação mais dinâmicas, mais velozes e mais abrangentes, divulgando idéias,

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expressando os descontentamentos cotidianos, agrupando e mobilizando pessoas e

transformando, conseqüentemente, as questões localizadas em fenômenos globais. Desse modo,

os grupos podem fomentar um ativismo eletrônico, constituindo redes de movimentos sociais.

A essa organização cívica através do ciberespaço denomina-se ciberativismo, que pode

dinamizar as lutas e os interesses comuns das entidades civis a favor da justiça social. O

ciberativismo amplia as esferas dos movimentos sociais, proporcionando a manifestação dos

interesses e necessidades dos grupos culturais, sem submetê-los às determinações e hierarquias

tradicionais. Nesse sentido, formam-se redes de organismos independentes que favorecem a

intensificação de parcerias e a internacionalização dos propósitos locais, podendo-se cogitar a

formação de grupos mundiais de oposição aos efeitos nefastos da globalização, reunindo forças

para convertê-los em ações em prol dos direitos humanos.

Beyers (2000) notifica que, nesse novo contexto cibercultural, a produção industrial

começa a ser suprida pelo desenvolvimento da Economia de Serviços, que corresponde a

trabalhos de alta qualidade, com ênfase à inovação contínua e a uma busca constante por

flexibilidade, eficiência e responsividade. Negociantes vêm percebendo que começar a competir

em um mercado global (no tempo adequado e falando a língua certa) pode tornar-se mais

interessante que começar no espaço físico em que se encontra.

As ofertas podem ser ordenadas ou redistribuídas eletronicamente, crescendo facilmente e

alcançando mercados consumidores, os mais distantes possíveis. Por outro lado, enquanto as

empresas empurram seus produtos, os usuários atentam para as melhores aquisições. Portanto, ao

mesmo tempo em que as companhias desenvolvem sistemas alternativos de distribuição, estão

ameaçando a estabilidade e a existência de seus concorrentes. Não é surpresa, o conseqüente

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crescimento de uma competição ainda mais violenta e a perpetuação das acirradas desigualdades

sociais.

Como em qualquer outro sistema de produção, o atual modelo virtual permite a existência

de tecnologias de controle para o fluxo de informações e serviços que formam o ciberespaço.

Aliás, como alerta Mitchell (2000), acreditar que a informação circula livremente no ambiente

digital é um mito, uma utopia, mas preocupar-se com o controle das informações é uma dystopia,

afinal, esses sistemas de controle do ciberespaço têm a mesma força e potência dos portões

físicos, o que alerta para a elaboração de conceitos cada vez mais contundentes sobre esse novo

contexto, uma vez que na sociedade glocal as estruturas de poder desenvolvem-se com

perspectivas globais, atuando como forças decisivas na criação e regulamentação dos processos

que disseminam o novo mapa do mundo. Evidentemente, essas estruturas não prescindem das

configurações nacionais e regionais, muito menos, dos sistemas de integração dos blocos

geopolíticos.

Umas vezes apóiam-se neles, assim como em outras combatem-nos. Isso fica evidente nas controvérsias sobre como administrar a dívida interna e externa, como desestatizar ou desregular a economia, reduzir tarifas, acelerar a integração regional, etc. [...] São estruturas globais de poder, às vezes contraditórias em suas diretrizes ou práticas, mas sempre pairando além de soberanias e cidadanias nacionais e regionais. Parecem desterritorializadas, já que deslocam-se ao acaso das suas dinâmicas próprias, deslocadas de bases nacionais, do jogo das relações entre estados nacionais. E reterritorializam-se em outros lugares, principalmente em cidades globais, trasncedendo nações e nacionalidades, fronteiras e geografias. (IANNI, 1997, p.17)

Nesse sentido, ao considerar que as redes telemáticas são as atuais ferramentas para a

potencialização das relações comerciais, Graham e Marvin (1996) atentam para o fato de que elas

podem contribuir para a centralização do controle global e das funções de gerenciamento nas

mãos de pequenos grupos, manipulando locais em desenvolvimento (cidades ou países) apenas

como operadores e receptores de produtos, e assim, forjam a sociedade do conhecimento, criando

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a ilusão de que tudo tende a harmonizar-se. Essas redes estão favorecendo a penetração de

regiões periféricas por organizações centralmente localizadas, designando um sistema de troca

inter-regional de bens, de informações e de serviços com desenvolvimentos cada vez mais

específicos para as diferentes localidades. Assim possibilitam o gerenciamento em tempo real das

ações nos grupos sociais, criando regras-chave na constituição do novo espaço social e

fragmentando por pedaços sua utilidade com maior nível personalizado, de acordo com as

diferenças socioeconômicas. Desse modo, constituem-se, ainda mais sutilmente que a consciência

tecnocrática da sociedade industrial, como uma forma de dominação completamente ‘cínica’ e

‘descompromissada’ com os direitos individuais e com a prosperidade coletiva.

Portanto, essa nova conjuntura cibercultural pode ampliar a capacidade, eficiência e

segurança das relações existentes, mas também pode tornar as relações humanas e a

administração pública, em sociedades em desenvolvimento, mais complexas, exigindo estratégias

de gerenciamento muitas vezes não satisfatórias para a maioria da população, como ocorrem, por

exemplo, com as privatizações, em que o governo passa a se eximir das responsabilidades pela

prestação de serviços de infra-estrutura básica. Assim sendo, essas novas infra-estruturas de

telecomunicações devem ser adaptadas aos locais, dando suporte à estabilização dos sistemas de

água, de energia, de transporte e demais necessidades da população, apresentando, aos

operadores, mais uma possibilidade de manutenção da qualidade dos seus serviços e, aos

consumidores, novas oportunidades de realizações cotidianas.

Segundo Graham e Marvin (1996), somente com um estudo detalhado e crítico dos

diversos aspectos que caracterizam a dinâmica de um local pode-se chegar a um entendimento

das interferências das tecnologias em toda a sociedade e, então, criar perspectivas reais de como a

tecnologia pode melhorar, ampliar e potencializar as ações do local. O entendimento da relação

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entre cidades e telecomunicações deve, contudo, superar o determinismo tecnológico e o

futurismo utópico, com o objetivo de promover a construção social a partir da tecnologia. É

importante que as inovações tecnológicas sejam contextualizadas em ações sociais, identificando

aspectos positivos e negativos, demonstrando que as conseqüências da utilização de tecnologias

digitais na cidade tanto podem ser benéficas quanto maléficas. As telecomunicações podem ser

usadas na exploração e organização de novas áreas, promovendo o esvaziamento de outras,

recriando novos sistemas de uso e controle do espaço. Essa novidade tecnológica pode

perfeitamente ‘tornar-se um pesadelo tão medonho’ fazendo com que os habitantes das regiões

interligadas, principalmente nos locais periféricos, experimentem apenas os sintomas paradoxais

dessa nova ordem higt tech mundial.

Nesse sentido, envolto em uma visão pessimista, Virilio (1993) chama a atenção para o

fato de que o ciberespaço pode transformar os locais de convivialidade em espaços do vazio,

onde as ações humanas podem confundir-se com um sistema de audiência eletrônico, que

poderia causar uma série de interrupções (como ele denomina os fechamentos de empresas, o

desemprego, o trabalho autônomo, as privatizações, etc) e de turbulências capazes de

desorganizar o meio urbano, provocando o declínio e a degradação dos locais. Para o autor, com

a interface da tela, as coisas e os fatos passam a existir enquanto distância, compondo uma nova

representação sem visibilidade face-a-face, podendo fazer desaparecer a ambiência das ruas e

avenidas, daí a razão pela qual ele considera o ciberespaço como um espaço crítico.

A representação da cidade contemporânea, portanto, não é mais determinada pelo cerimonial de abertura das portas, o ritual das procissões, dos desfiles, a sucessão de ruas e das avenidas; a arquitetura urbana deve, a partir de agora, relacionar-se com a abertura de um ‘espaço-tempo tecnológico’. O protocolo de acesso da telemática sucede ao do portão. Aos tambores de portas sucedem-se os dos bancos de dados, tambores que marcam os ritos de passagem de uma cultura técnica que avança mascarada, mascarada pela imaterialidade de seus componentes, de sua redes, vias e redes diversas cujas tramas não mais se inscrevem no espaço de um tecido construído, mas na seqüência de uma planificação imperceptível do tempo, na qual a interface homem máquina toma o lugar das fachadas dos imóveis, das superfícies, dos loteamentos... (VIRILIO, 1993, p.10)

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Evidentemente, essa perspectiva é um tanto dramática, assemelhando-se muito mais à

literatura de ficção científica ou a um roteiro da teledramaturgia do cinema norte-americano. Não

se pode prever, muito menos determinar, todas as implicações que um invento tecnológico pode

causar em uma sociedade. Não existem tecnologias do bem nem do mal, apenas a organização

social em consonância com a administração pública pode direcionar os destinos e os usos das

tecnologias em uma localidade, podendo impedir determinadas interrupções e turbulências.

Contudo, o posicionamento do autor, aponta para a necessidade de tomadas de decisões

perspicazes junto ao aproveitamento dessas novas tecnologias para que a cidade e os locais de

habitação humana não sejam pensados apenas como espaços de reprodução de ações digitais,

perdendo sua dinamicidade e peculiaridades.

É necessário estar atento aos novos significados que esse mundo digital está impondo e

como eles podem reorganizar o espaço habitado e, então, apropriá-los às diversas propostas do

ser humano. Compreender, portanto, as diferentes perspectivas das organizações culturais e

educacionais do local, as políticas governamentais e as atividades propostas pela comunidade em

uma versão adaptada aos debates do passado é procurar atribuir um novo sentido às interações

resistentes encontradas nas mesmas, forçando, assim, uma redefinição da democracia.

Políticas governamentais fortes com bases locais têm que ser instituídas para garantir que

o sistema digital não reduza a existência humana aos constantes conflitos do ‘ser ou não ser’ e do

‘ter ou não ter’. A continuidade do histórico processo evolutivo tecnológico mostra que, em

todas as mudanças ocorridas nas dinâmicas sociais, os ricos e poderosos sempre foram os

primeiros (e muitas vezes os únicos) a beneficiarem-se com as inovações. Por isso, cada vez

mais, surgem contundentes visões utópicas e/ou pessimistas sobre essa nova conjuntura. Mas é

preciso fazer bem melhor para escapar das ciladas do ingênuo determinismo tecnológico. É

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preciso desenvolver uma ampla ação orientada para as perspectivas tecnológicas, econômicas,

sociais e políticas reais do que esteja acontecendo na sociedade.

É justamente para se evitar um colapso social que se deve pesar as melhores formas de se

adaptarem as tecnologias aos locais, preocupando-se, logicamente, com as sua funções. Cada área

de atuação exige direcionamentos específicos, assim as técnicas utilizadas devem partir da

necessidade de aprimoramento das ações, possibilitando a compreensão das complexas relações

que as envolvem. Assim, em tais aplicabilidades, devem ser identificadas funções características

do desenrolar técnico (dicotômica, dialética, sinalizadora e dinamizadora), de modo que seu

entendimento promova o aperfeiçoamento da ação, preocupando-se, evidentemente, com as

expressões que compõem a identidade cultural do sistema social em que se está imersa a

atividade.

Por essa perspectiva, no próximo tópico, será apresentada uma abordagem de como o

desenvolvimento tecnológico pode contribuir para o aperfeiçoamento da atividade turística,

preocupando-se com nativos, turistas e profissionais envolvidos no setor. A ênfase do estudo será

dada aos fatores tecnológicos (ou derivados dos usos da tecnologia) que impulsionam a prática da

atividade e aqueles fatores que podem culminar no seu aperfeiçoamento.

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2.1.3. Desenvolvimento tecnológico, complexidade social e turismo

O gueto, a rua, a fé./Eu vou andando a pé,/ pela cidade bonita./ O toque do afoxé e a força de onde vem?/ Ninguém explica, ela é bonita.(MERCURY, Daniela. Canto da cidade. In: Daniela Mercury, disco Elétrica, 1998)

Contemplar as belezas arquitetônicas e naturais da cidade, vivendo a diferença e se

reconhecendo nela ao andar pelos guetos, ruas, festas, museus, igrejas, bares e restaurantes,

desvendando seus mistérios e realizando as mais inusitadas fantasias de consumo e de

convivialidade são fatos que enaltecem pessoas, promovendo evasão, distração e o encontro com

a diversidade, com a alteridade, e com a(s) sua(s) outra(s) face(s). Assim, ao andar pela cidade,

nesse movimento de contemplação dos espaços, muitas vezes, idealizados no imaginário através

dos programas de TV, das páginas de livros e revistas ou das projeções na internet, o homem

pode encontrar-se no outro, sem se preocupar com o tempo, com as ações, com as regras e

mesmo sem se preocupar com os excessos.

Todas essas idiossincrasias, sugeridas pela epígrafe, ocorrem pelo contato do homem

com um mundo, quando ele se permite entrar em um estado de apreciação e admiração do

espaço, ultrapassando, muitas vezes, os próprios limites culturais. Essas ações compõem a

atividade turística, interferindo nas estruturas dos locais onde ela se evidencia, criando

perspectivas as mais diversas possíveis entre nativos e visitantes14, através da potencialização do

contato humano. O turista, por analogia a Benjamin (1989), é o próprio flâneur que, no descanso,

14 Neste trabalho, os termos visitantes e turistas são usados como sinônimos, embora turismólogos e a própria Organização Mundial de Turismo – OMT, considerem que o visitante só pode ser concebido como turista se permanecer mais de um dia no local visitado.

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vaga por espaços que o desvinculem do seu meio social, buscando viver os seus exageros sem

medo, realizando desejos que, por algum motivo, não podem ser experienciados no local de

residência.

Uma embriaguez acomete aquele que longamente vagou sem rumo pelas ruas. A cada passo, o andar ganha uma potência crescente; sempre menor se torna a sedução das lojas, dos bistrôs, das mulheres sorridentes e sempre mais irresistível o magnetismo da próxima esquina, de uma massa de folhas distantes, de um nome de rua. Então vem a fome. Mas ele não quer saber das mil e uma maneiras de aplacá-la. Como um animal ascético, ele vagueia através dos bairros desconhecidos até que, no mais profundo esgotamento, afunda em seu quarto, que o recebe estranho e frio. (BENJAMIN, 1989, p. 186)

Assim como o flâneur descrito por Benjamin (1989), o turista busca enquadrar-se em

uma determinada ambiência, que lhe proporciona evasão em todos os sentidos e a

experimentação do outro em seu espaço natural, deixando fluir o(s) outro(s) de si em uma

condição de completo contentamento e encantamento. Contudo, enquanto o fâneur benjaminiano

vaga constantemente, sozinho, pelas ruas, como se fosse uma profissão, o turista busca nos locais

que ele elege como seu destino turístico a fuga da sua rotina cotidiana, em um tempo

determinado, no qual ele não somente consome o espaço (de acordo com seu poder econômico),

permitindo-se vivenciar uma variedade de cenas e de situações, como também edifica novas

interações humanas a partir de interesses comuns, por isso diz-se que essa é uma flanerie

burguesa temporária e comunitária.

Essa observância sobre a diversidade de facetas e a flanerie burguesa temporária e

comunitária como delineantes da atividade turística fundamenta-se a partir dos estudos de

Maffesoli (1998) sobre a multiplicidade do eu e a ambiência comunitária; a partir da concepção

de capitalismo desenvolvida por Marx (1982); dos estudos sobre a interferência da técnica no

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meio social de Leroi-Gourhan (1971) e, principalmente, a partir do surgimento dos estudos

culturais, que, como já sinalizado, vão compreender as classes sociais como grupos culturais.

Enquanto o capitalismo vai segmentar a sociedade por capacidade de consumação,

delimitando-a enquanto classe de pobres e de ricos, os estudos culturais vão compreender as

diferentes perspectivas entre essas classes e, mesmo dentro delas, evidenciando valores, gostos,

modas, costumes, estéticas, éticas políticas e sociais, etnias, crendices peculiares que

particularizam cada grupo enquanto produtor de uma cultura específica. Cada um destes tem

reações próprias aos acontecimentos regionais e mundiais e que por isso não podem ser

compreendidos por uma totalidade de indivíduos, agrupados por montantes financeiros. Contudo,

a condição econômica é também um elemento delimitador de um grupo cultural.

O turismo é uma combinação complexa de inter-relcionamentos entre produção e serviços, em cuja composição integram-se uma prática social com base cultural, com herança histórica, a um meio ambiente diverso, cartografia natural, relações sociais de hospitalidades, troca de informações interculturais. O somatório desta dinâmica sociocultural gera um fenômeno recheado de objetividade/subjetividade, consumido por milhões de pessoas. (MOESCH, 2000, p..9)

Ao considerar todas essas perspectivas junto ao turismo, está-se situando a atividade em

um campo problemático, uma vez que esses fatores estão sempre em negociação, o que contribui

para o processo de mutação das identidades envolvidas na prática turística (turistas, nativos e

destinos turísticos). Para Moesch (2000), a compreensão dessa problemática implica no

entendimento de uma nova cultura, que extrapola o determinismo capitalista sobre o turismo.

Segundo a autora, esta nova cultura consiste em uma pressão crescente sobre a produção da

subjetividade social, promovendo um contínuo fluxo de ressignificações da realidade derivadas

da relação entre visitados e visitantes. Afinal, o turismo, deve-se ressaltar, caracteriza-se

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basicamente como uma atividade de trocas, sejam elas econômicas, sejam elas sociais, cujos

efeitos e resultados só se observam após as temporadas turísticas – após as altas estações.

Assim, ao caracterizar-se como um processo de trocas contínuas, Lévy (1996) aponta

que o turismo é a mais virtual de todas as atividades econômicas, exigindo o entrelaçamento de

vários setores da atuação humana como a comunicação, a administração, a sociologia, a

economia, as medidas políticas, os meios de transportes e demais áreas das quais estão

dependentes a organização e o bom desempenho do setor.

O principal setor mundial em volume de negócios, lembremos, é o turismo. Viagens, hotéis, restaurantes. A humanidade jamais dedicou tantos recursos a não estar presente, a comer, a dormir, viver fora de sua casa, a se afastar de seu domicílio. Se acrescentarmos ao volume dos negócios do turismo propriamente dito o das indústrias que fabricam veículos (carros, caminhões, trens, metrôs, barcos, aviões etc.), carburantes para os veículos e infraestruturas (estradas, earoportos...), chegaremos acerca de metade da atividade econômica mundial a serviço do transporte. O comércio e a distribuição por sua vez fazem viajar signos e coisas. Os meios de comunicação eletrônicos e digitais não substituem o transporte físico, muito pelo contrário: comunicação e transporte, como já sublinhamos, fazem parte da mesma onda de virtualização geral. (LÉVY, 1996, p.51)

Portanto, ao situa-lo em um campo problemático e por evolver o deslocamento em busca

de peculiaridades e preferências culturais bem como alterações nas identidades dos destinos e das

pessoas envolvidas, o turismo pode ser entendido como uma atividade cultural da

desterritorialização e da virtualização, que se prolifera, entre outros fatores, a partir do

desenvolvimento tecnológico. Portanto, considerando com o autor da citação acima, que o meio

humano é também um meio técnico.,deve-se ressaltar toda a problemática social decorrente dos

usos da tecnologia não somente nos centros receptivos – destinos turísticos – mas também nos

centros emissivos – local de origem do turista.

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Desse modo, os motivos que fomentam os locais como destinos turísticos e caracterizam

a sua identidade não estão centrados apenas nas suas peculiaridades culturais, mas também nas

características e exigências do grupo cultural a que pertence o turista – ‘grupos culturais

emissivos’. Considerando-se, inclusive, que as tentativas de satisfazer os desejos do visitante

interferem na organização dos destinos turísticos, contribuindo para as suas hibridizações

culturais e, conseqüentemente, para as alterações em sua identidade e em suas manifestações

socioeconômicas.

Assim, notificando que a invenção e utilização de tecnologias contribuem para o

reconhecimento, delimitação, dinamização e trocas das identidades culturais, é evidente a estreita

relação entre atividade turística, uma atividade social e econômica, e o desenvolvimento

tecnológico, relação esta que se constitui como uma ferramenta importante para se entender a

emergência e o incremento da atividade e suas adjetivações. Contudo, para se chegar a esse

entendimento da relação entre tecnologia e turismo, deve-se considerar a interferência da

tecnologia na dinâmica dos centros emissivos, já que se observa que a identidade dos destinos

turísticos está também atrelada ao local de residência do turista.

Para Benjamin (1989), as inovações tecnológicas obrigam as pessoas a se acostumarem

rapidamente com as mudanças sociais e com o novo ritmo das cidades em que convivem. Citando

Simmel, ele observa que o desenvolvimento dos meios de transportes coletivos, por exemplo,

trouxe para os habitantes dos centros urbanizados a situação nada acolhedora de terem que se

olhar reciprocamente por uma período de tempo sem se comunicarem. À luz do capitalismo, o

autor assinala que essa condição justifica-se pelo fato de as interações humanas nesses centros

tecnologicamente desenvolvidos estarem, em geral, determinadas por relações que instituem os

cidadãos, geralmente, como devedores e credores, vendedores e fregueses, patrões e empregados

e demais tipos individualizados que delimitam a vida em períodos abstrativos e racionais.

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Ainda, analisando os escritos do poeta Balzac, em Modeste Migno, quando relata suas

impressões sobre determinadas ações e aspectos que compunham a cidade de Paris, na França,

Benjamin (1989), atenta para o fato de que o desenvolvimento tecnológico permite o controle e a

padronização da vida social, correspondendo ao que Habermas (1968), entendeu como o

‘exercício de controles’. Para o ficcionista, os locais de estacionamento, que registram os

momentos de chegada e de partida dos cidadãos, e a numeração dos imóveis, estabelecida por

cadastramento público, favorecem ao domínio da sociedade, constituindo-se como referências

adequadas para avaliar o ‘progresso’ da normalização.

Pode-se conceber, a partir das notificações de Benjamin (1989) e dos estudos de

Maffesoli (1998), que a padronização das ações e o surgimento das relações racionalizadas são

conseqüências do desenvolvimento tecnológico que podem provocar nas pessoas o desejo de

deslocar-se para locais, onde possam fugir da linearidade operacional e das normalizações

características dos centros urbanos, à medida em que são implementadas e absorvidas novas

técnicas de ação. Assim, nos períodos de descanso, surge como uma possibilidade de fuga da

rotina, o deslocamento para onde o homem ‘tecnicizado’ pode, espontaneamente, compartilhar as

emoções com aqueles que têm as mesmas necessidades de interação, já que, geralmente, estas

não podem ser experienciadas cotidianamente, por conseqüência da dinâmica do local em que

vivem. Por essa perspectiva, pode-se dizer que estar em outro local que não o seu de residência,

já é em si, uma forma de vivenciar a alteridade.

As padronizações e individualizações da sociedade tecnocrática restringem as relações

sociais ao processo de sociabilidade, que corresponde à institucionalização das interações

humanas segundo a visão de Maffesoli (1998). Em contrapartida, o autor define as relações

fundamentalmente empáticas que ocorrem por meio dos interesses comuns como relações de

socialidade. Nesse contexto, considerando que o turismo possibilita a fuga das normalizações

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impostas pelo cotidiano racional e individualizado, aponta-se que esta corresponde a uma

atividade de agregação social para indivíduos de um mesmo grupo cultural, o que vai caracterizar

a atividade como sendo eminentemente empática, colocando-a no âmbito da socialidade. E é a

partir das especificidades dos grupos culturais que surgem as segmentações turísticas,

constituindo o que se poderia chamar ‘comunidades turísticas’, cujo reconhecimento e

entendimento favorece à melhor organização e planejamento do setor.

Leroi-Gourhan (1971) evidencia dois tipos de fenômenos que contribuem para a

compreensão desta perspectiva em que se está correlacionando turismo e desenvolvimento

tecnológico. Os fenômenos de tendência, intrínsecos à natureza do desenvolvimento dos

processos tecnológicos, e os fenômenos de fato que estão associados ao meio em que ocorrem.

Para o autor, esses fenômenos são complementares, correspondendo a duas faces de uma

determinada ação, sendo o primeiro previsível e universal e o segundo condicionado a intenções e

a aspectos locais.

A essa concepção, acrescenta-se o posicionamento de Carvalho (1996, p.102), ao

apontar que “a realização das dimensões da essência humana é possibilitada, entre outras coisas,

pelos artefatos criados pelo trabalho humano, do homem para o homem, numa escala de tempo

cada vez mais historicizada”. A observância dessas realizações humanas permite, então, o

reconhecimento e a identificação daquilo que se evidencia como fenômeno de tendência e das

ações que surgem como fenômenos de fato. Para Leroi-Gourhan (1971), a tendência implica nos

resultados, considerando-se desde a invenção até a utilização dos aparatos. Essa implicação

corresponde a um movimento contínuo que pode estar sempre gerando um novo fato, provocando

mudanças peculiares na dinâmica dos locais, contribuindo para os hibridismos culturais e para as

mutações da identidade das entidades envolvidas no processo.

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Como aponta Lévy (1999, p.23), “as técnicas carregam consigo projetos, esquemas

imaginários, implicações sociais e culturais bastante variados. Sua presença e uso em lugar e

época determinados cristalizam relações de força sempre diferentes entre seres humanos”. Desse

modo, compreende-se que o desenvolvimento tecnológico provoca diferentes ações e efeitos em

diferentes localidades e em diferentes grupos culturais, estando essas ações e efeitos dependentes

de aspectos históricos e das estruturas e relações socioeconômicas. Essas diferentes relações entre

técnica e lugar caracterizam a ambivalência ou a multiplicidade cultural que surge a partir dos

usos da tecnologia, podendo ser estes tratados como fenômeno de tendência ou como fenômeno

de fato.

Por este princípio, justifica-se que a relação entre turismo e desenvolvimento

tecnológico inicia-se a partir dos usos da tecnologia nos centros emissivos e completa-se na sua

utilização pelos centros receptivos. Ou seja, do ponto de vista sócio-técnico desenvolvido neste

trabalho, aponta-se que o turismo, emerge como uma atividade impulsionada pelo

desenvolvimento tecnológico, enquanto este a potencializa continuamente. Assim consideras-se

com Moesch (2000) que no turismo há um elemento dinâmico que é a viagem, e um elemento

estático que é a estada.

De acordo com a autora, viagem e estada ocorrem fora do lugar de residência da turista

e, a partir delas, este pratica ações diferenciadas do seu cotidiano, o que delimita o turismo como

um movimento particular temporário. A viagem, portanto, explica Moesch (2002), envolve uma

multiplicidade de ações institucionais e empresariais, de partida e de retorno e de diversos

encontros e trocas culturais, e que por isso mesmo esta situação se estende ao próprio turismo, o

setor da atividade. Nesse sentido, ao envolver deslocamento, estada, trocas culturais e

econômicas, evidencia-se o uso de tecnologias, as técnicas lógicas de ação, junto à atividade,

apontando que estas interferem nas relações sociais dos moradores da cidade turística.

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Portanto, quando considerada a relação ‘centro emissivo/tecnologia’, o turismo

comporta-se como fenômeno de fato, que vai gerar outro(s) fato(s), afinal a cidade turística tem

sua dinâmica própria e suas problemáticas cotidianas. Por outro lado, quando considerada a

relação ‘destino turístico/tecnologia’, observa-se não apenas estruturas potencializadas pela

técnica, mas também uma nova complexidade social15. Nesse caso, a tecnologia aplicada ao

turismo comporta-se como fenômeno de tendência (Ver diagrama que se segue).

O diagrama explica o contínuo movimento social causado pela inserção de tecnologias

nos locais, considerando suas peculiaridades culturais. Esse diagrama, contudo, representa uma

única perspectiva (e não uma realidade), entre tecnologia, complexidade social e turismo. Desse

modo, o indicador complexidade social, por exemplo, como fenômeno de fato nos centros

receptivos pode ser alterada por uma outra variável, como a agilização dos processos

comunicacionais, que, por hora não faz parte do estudo desenvolvido. Por outro lado, o diagrama

15 Entende-se complexidade social não somente como estruturas desorganizadas ou mal planejadas, mas como o total de relações que compõem a dinâmica do local.

Desen. Tecnológico

Centro Emissivo

Centro Receptivo

Complexidade Social

Turismo

Poten. do Turismo

F. de Fato

Complexidade Social

F. de Fato

F. de Tendência

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pode ratificar a idéia já apresentada de que não tecnologias benéficas nem maléficas, mas sim o

modo (e as intenções) de sua utilização pode determinar o seu fim.

É necessário insistir, de acordo com Maffesoli (2004, p.37) “que a vida não pode ser

reduzida à utilidade”, afinal existem aspectos contidos nos fenômenos sociais (intrínsecos ou não)

que os relativizam e põem em questionamento as práticas humanas, o que equivale a dizer da

própria problematização ou virtualização das atividades em que sentidos e valores estejam em

jogo. Por isso, acredita-se que o turismo, que se comporta, ora como fenômeno de tendência, e

ora como fenômeno de fato, está estreitamente atrelado a processos tecnológicos. Nesse sentido,

é oportuno salientar que as tentativas de entender o turismo devem buscar a inteireza de sua

complexidade sem rejeitar determinados aspectos (muitas vezes malditos) que também o

compõem enquanto atividade cultural.

Essa relação entre tendência e fato pode bem ser percebida através da história do

desenvolvimento tecnológico. A invenção da roda e a abertura de estradas que permitiram o

desenvolvimento dos meios de transportes terrestres assim como os meios que permitiram as

grandes navegações marítimas possibilitaram maior agilidade nos deslocamentos, ampliando os

horizontes do homem, permitindo-lhe conhecer novas culturas. Entretanto, esses veículos, a

princípio, foram construídos por motivos de guerras e conquistas, comércio, peregrinações

religiosas, saúde ou por razões políticas e de estudos, não sendo cogitada a idéia de serem

utilizados para fins outros, embora tenham possibilitado práticas com objetivos que hoje se

entendem por turísticas.

As estradas construídas por soldados com o objetivo de conquista durante o Império

Romano vieram, em conseguinte, permitir a intensificação das viagens de lazer e comércio a

praias e a spas, identificadas através das pinturas em azulejos, placas, vasos e mapas. Com as

peregrinações religiosas, surgem os primeiros serviços de atendimento aos viajantes, quando é

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criada a Irmandade dos Trocadores de Moedas para atender à diversidade de moedas circulantes,

representando, assim, os primeiros cambistas. As navegações deram impulso às viagens de longo

curso, estimulando uma prática que mais tarde determinou-se como ‘turismo moderno’, como

denomina Oliveira (2000). Com as navegações, as escolas organizavam viagens para os

estudantes com o objetivo de aumentar os conhecimentos de seus alunos. Os professores eram

obrigados a escrever livros que traduziam os costumes e hábitos dos locais visitados,

constituindo-se, deste modo, como os primeiros guias turísticos.

A concepção de turismo enquanto atividade cultural surge a partir das mudanças

tecnológicas, econômicas e sociais decorrentes das Revoluções Industriais. O aparecimento da

indústria incrementou as relações sócio-econômicas internacionais, favorecendo a abertura do

mundo ao cosmopolitismo. Embora a industrialização tenha ampliado e tornado mais acirrados os

conflitos sociais, deve-se considerar que o surgimento da classe média, com salários definidos, o

aumento dos ganhos pelos grupos dominantes e o surgimento das indústrias de entretenimento

deram um impulso às viagens, possibilitando que cidades se preparassem para receber e acolher

pessoas, tornado-se centros receptivos, onde a qualidade de vida melhorava consideravelmente,

pelo surgimento da eletricidade e das redes de água e de esgoto.

Contudo é no final do século XIX, que os sentidos das viagens não mais se limitavam

àqueles genuinamente econômicos e de domínio, entrando em uma esfera do conhecimento e da

busca por diversão e evasão. A viagem tornou-se um meio de as pessoas penetrarem nas

particularidades culturais das sociedades distantes e de se envolverem com as tradições, com o

exotismo e com os novos modos de vida que passavam a conhecer, na tentativa de fuga do seu

cotidiano. O turismo despontava como uma nova possibilidade de vida, seja para quem procurava

por destinos turísticos, em fuga da sua rotina ou ostentando seu poder econômico, seja para quem

recebia nesses centros, que vislumbrava novas possibilidades de aumentar seus ganhos e

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reestruturar a vida. Nesse cenário, são proliferadas as empresas hoteleiras, os restaurantes, as

indústrias de entretenimento, as agências de viagens e demais prestadores de serviços.

A multiplicação das trocas e o desenvolvimento das tecnologias de produção, de

transportes e de comunicação, as melhorias na infra-estrutura urbana bem como o progresso

técnico-científico tornaram-se fatores preponderantes para o incremento da atividade e o seu

enquadramento junto à dinâmica dos locais. Contudo, faz-se oportuno salientar, que além de ser

estimulado pelo desenvolvimento técnico, que cada vez mais amplia as trocas econômicas e

informacionais, também devem ser considerados como estimulantes da prática turística os limites

culturais atribuídos aos locais pelas produções literárias, pela imprensa e, principalmente, pelos

meios de comunicação de massa que surgem no século XX.

Retomando e correlacionando as teorias de Leroi-Gouhran (1971) e de Maffesoli (1998),

pode-se dizer que a abertura de estradas, as peregrinações, as navegações e as revoluções

industriais correspondem a fenômenos de tendências uma vez que as ações sociais, econômicas e

políticas delas decorrentes são possivelmente previsíveis, por estarem submetidas ao controle dos

grupos dominantes. Esses fenômenos contribuem para que se estabeleça uma maior delimitação e

padronização das perspectivas sociais ou mesmo uma consciência tecnocrática junto aos grupos

culturais por onde se alastram. É, nesse sentido, que se observam que os fenômenos de tendência

são delimitados por regras e normas que os institucionalizam e põem as relações humanas no

âmbito da sociabilidade, condicionando as práticas cotidianas às transformações tecnológicas, o

que contribui para que o homem busque espaços outros para a fuga da sua rotina, o que, muitas

vezes, culmina na atividade turística.

Por essa perspectiva, ratifica-se que a atividade turística é resultante de uma série de

fatores impulsionados pelo desenvolvimento tecnológico, que levam o homem a buscar

novidades e saciar seus desejos. Assim, qualquer que seja o motivo que estimule o deslocamento

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(a busca por conhecimento, convivialidade, lazer ou erotismo), este está vinculado ao modo como

os grupos culturais em que vive o turista usam e compreendem as invenções e inovações técnicas.

Desse modo, as viagens a lazer, decorrentes da abertura de estradas, o surgimento de

serviços de atendimento aos viajantes, a própria denominação ‘turismo moderno’ correspondem a

fenômenos de fato, afinal são todas ações potencializadas a partir do desenvolvimento

tecnológico que, de modo geral, não estão vinculadas à lógica da institucionalização. Ainda,

pode-se incluir nesse contexto, o reconhecimento e a delimitação de cidades como centros

receptivos, o surgimento das empresas prestadoras de serviços turísticos bem como as várias

segmentações da atividade. Justamente por constituírem-se como fenômenos de fato, justificam-

se as dificuldades em se estabelecer controles e delimitações nos ambientes turísticos, que têm

suas problemáticas peculiares.

Considerando as interações dos turistas com aqueles que participam do seu grupo

cultural, com os nativos e com o ambiente como relações espontâneas, e considerando os

segmentos turísticos como constituintes de ‘comunidades turísticas’, situa-se a atividade no

âmbito da socialidade, embora, não estando totalmente livre das regulamentações políticas, das

imposições sociais, muito menos, das restrições econômicas, afinal, a tecnologia aplicada aos

centros receptivos constitui-se também como um fator capaz de delimitar a racionalização e a

individualização das relações humanas que se evidenciam nesses locais, principalmente,

considerando possíveis divergências de interesses entre moradores, empresários, e políticos.

Essa relação de tendência e fato entre desenvolvimento tecnológico e turismo torna-se

mais evidente com a emergência da cibercultura. Com as novas práticas sociais, possibilitadas

pelo desenvolvimento das Tecnologias de Informação e de Comunicação – TICs –, redefinem-se

as perspectivas junto ao desenvolvimento do setor turístico, nas quais se observam novas

circunstâncias sociais, em que se proliferam os fenômenos de tendência e de fato.

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A cibercultura está potencializando as atividades desenvolvidas nos locais, criando

novas perspectivas para os seres conectados (e privilegiados) e mais obstáculos para os

desatualizados (geralmente os menos favorecidos). As rápidas conexões, a proliferação da

economia de serviços, ressaltando os serviços on-line, as maiores possibilidades de informação e

as flexibilidades do trabalho redimensionam a dinâmica dos locais e põem o homem em um

estado constante de negociação com a vida e com a sua sociedade. Ainda deve-se considerar a

desterritorialização dos locais, das empresas e dos grupos culturais que, projetados no

ciberespaço, cada vez mais têm seus limites ampliados (ou perdidos).

Contudo, ao mesmo tempo em que os grupos economicamente privilegiados vislumbram

novas possibilidades de interação e de conhecimento, os grupos menos favorecidos

economicamente continuam submissos às formas de controle, que só ampliam as divergências

sociais, entremeando de desigualdade e exclusão social todo o mundo. A vida na maioria dos

centros tomados pela cibernética torna-se mais veloz e cada vez mais segmentada. A tendência da

digitalização, da robótica e demais mecanismos da inteligência artificial é, sem dúvida, a

padronização das ações o que favorece o exercício dos controles e com ele as determinações e

imposições sociais na sociedade da informação.

[...] os termos desigualdade, polarização, pobreza, e miséria se enquadram no domínio das relações de distribuição/consumo ou apropriação diferencial da riqueza gerada pelo esforço coletivo. De outro lado, individualização do trabalho, superexploração dos trabalhadores, exclusão social e integração perversa são características de quatro processos específicos vis-a-vis as relações de produção (CASTELLS, 1999c, p.95).

Estes termos estão condicionando a Era da Informação a perplexidades que sujeitam os

cidadãos contemporâneos às manipulações ideológicas por falta de clareza analítica nas

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informações que circulam ‘livremente’. Por desigualdade, entende-se a apropriação desigual de

riqueza entre indivíduos de grupos culturais distintos; polarização é o processo em que o topo e a

base da escala de distribuição de renda e riqueza crescem mais velozmente que a faixa

intermediária, o que acentua as divergências sociais. A pobreza caracteriza os grupos que

sobrevivem com a renda mínima, considerada em uma sociedade, e miseráveis são aqueles que

estão abaixo da pobreza.

Com relação aos processos que caracterizam as relações de produção, Castells (1999c)

observa que a instabilidade nos padrões de emprego representa a tendência de se excluir

continuamente determinados segmentos da população dos mercados de trabalho formais. Assim,

ele entende individualização do trabalho como a forma desregulamentada de contratação,

ficando esta a critério da contribuição e condição do trabalhador no processo produtivo.

Superexploração indica as relações trabalhistas que submetem determinados tipos de

trabalhadores a condições piores do que as normas/regras que regem um dado mercado de

trabalho, em tempos e espaços determinados. Por exclusão social, entende-se o processo em que

grupos de indivíduos encontram-se impossibilitados de desenvolverem uma posição autônoma

dentro dos padrões sociais que compunham um dado contexto. E a integração perversa a que se

refere o autor, corresponde às formas de trabalho praticadas na economia do crime, ou seja, por

atividades geradoras de renda, que estão sujeitas às sanções legais cabíveis em um certo contexto

social, como o tráfico de drogas e a prostituição infantil.

Portanto, esse cenário segmentado também compõe a ambiência em que se propaga a

cibercultura que, enquanto acelera o ritmo de vida dos seres conectados, vai configurando

sucessivamente as relações sociais (considerando a relação entre pessoas de grupos culturais

economicamente privilegiados e aqueles desprivilegiados) como racionais e individuais. Assim, a

socialização em centros ciberneticamente desenvolvidos torna-se cada vez mais difícil, não

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somente para quem vem sofrendo as conseqüências malditas do desenvolvimento tecnológico,

mas para toda a sociedade que se preocupa a todo o momento com a violência urbana, decorrente,

em grande parte, das diferenças sociais. As interações humanas ficam, continuamente, mais

críticas, mais embaraçosas e mais difíceis de se amenizarem. Cada vez mais ‘tecnicizado’, o

cidadão entra em um constante processo de solidão e de sociabilização, relacionando-se apenas o

necessário, ou quase nada, com as pessoas de sua cidade.

Contudo, as TICs têm permitido ao homem conectado criar formas alternativas de vida e

de trabalho, montando seus negócios e fixando residência em locais menos conturbados, sem

perder o contato com o mundo, caracterizando a Nova Economia. De acordo com Beyers (2000),

em seu estudo sobre o desenvolvimento da Nova Economia ou a Economia de Serviços, entre os

anos 1985 e 1992, produtores norte-americanos migraram para os pequenos centros em busca de

melhores condições de vida. Nesse período, as áreas de maior crescimento da Nova Economia,

nos Estados Unidos, foram as cidades de Las Vegas, Seattle, Atlanta, Orlando e St. Petsburg,

enquanto grandes centros – Los Angeles, Chicago e New York – tiveram baixo crescimento ou

perda da oferta de empregos.

Além da produção de mercadorias, a geração de informações orientadas também

movimenta essa nova economia. O pesquisador indica que empresas podem atuar exclusivamente

na resolução de questões intelectuais. As empresas de consultorias, os diversos campos de uso

dos softwares e o agenciamento de atividades turísticas on-line são algumas indicações ou nichos

de especializações que exemplificam a prestação de serviços sem envolver, necessariamente, a

circulação e produção de mercadorias. De acordo com a reportagem ‘A explosão da realidade

virtual’ na revista científica Galileu (Globo, Nº 158, p. 63, 2004), desde a prospecção e extração

de petróleo até os tratamentos médicos, passando pelo desenvolvimento de carros e visitações a

museus e destinos turísticos sem o deslocamento físico, há uma série de novas aplicações e

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utilizações do virtual, proporcionadas pelo desenvolvimento das tecnologias de informação e de

comunicação.

Tais usos desterritorializam mais e mais o mercado consumidor das empresas inseridas

nessa nova economia. Assim, quanto ao modelo geográfico da localização de mercados, Beyers

(2000) identifica dois grupos. Um com forte poder econômico que atua em mercados

descentralizados os ‘Lone Eagles’, cuja metáfora da tradução literal ‘Águias Solitárias’ permite

contextualizar melhor as dimensões territoriais alcançadas e as potencialidades econômicas das

empresas dessa categoria. O outro grupo os ‘High Fliers’ é constituído por empresas que atuam

com maior força no mercado local e geralmente entram no mercado com poucos funcionários,

mas apresentam uma ‘Alta Inclinação’ a atuar em mercados externos. Nos sete anos delimitados

para a pesquisa, a maioria dos empregos gerados nos Estados Unidos estava associada a essas

novas empresas.

Esses empreendedores, porém, são pessoas ou grupos que buscam sua independência

com o objetivo de montar seu próprio negócio, correndo os riscos e oportunidades de qualquer

um outro, fugindo da problemática social dos grandes centros. Assim, as razões que culminam na

escolha do local de estabelecimento são a busca por melhor qualidade de vida e a procura por

novas possibilidades de negócios, o prestígio do local, a existência de prestadoras de serviços, o

nível educacional da população e por fim são avaliados os custos de vida, os impostos locais, a

existência de empresas fornecedoras e o custo com a mão-de-obra.

Essa flexibilidade da localização, inerente à Nova Economia, possibilita um

descongestionamento das grandes cidades, ao passo que promove a reestruturação de pequenos

centros e/ou áreas rurais. Contudo, o pesquisador relata uma mudança na administração das

empresas e não em sua lógica estrutural. A lógica continua sendo capitalista. De acordo com os

resultados da pesquisa, dependendo da disponibilidade de recursos e do conhecimento do

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cidadão, este obtém mais facilidades em desenvolver seu próprio negócio, o que não garante mais

justiça social. Essa nova conjuntura socioeconômica pode ser constatada em centros turísticos

brasileiros.

Mesmo reconhecendo as novas possibilidades de emprego, não se evidencia uma

preocupação com a população desses ‘pequenos centros reestruturados’, o que vem ocorrendo

em muitas cidades turísticas, caracterizando a principal problemática social desses locais: o

conflito constante entre os ricos grupos prestadores de serviço e falta de oportunidades para a

população local. Esses ricos grupos prestadores de serviços turísticos montam suas empresas em

destinos bastante procurados, nas quais a população local, na maioria das vezes, constitui-se

como mão-de-obra barata ou tem seus pequenos negócios prejudicados com a concorrência

desleal, afinal, além de oferecerem geralmente melhores serviços, utilizando-se de insumos

técnicos mais adequados e que proporcionam maior conforto, através do ciberespaço da internet,

essas ricas empresas saem na frente da concorrência, mostrando e oferecendo seus serviços

diretamente na casa do consumidor (em qualquer lugar do mundo) muito antes que este chegue

aos locais.

Assim, em centros receptivos, como será demonstrado no próximo tópico deste capítulo,

pode-se observar os processos de individualização do trabalho, superexploração dos

trabalhadores, exclusão social e integração perversa, além das espetacularizações sobre as

expressões regionais do local como fatos que se contrapõem aos benefícios proporcionados pela

cibercultura. Portanto, ao mesmo tempo em que o desenvolvimento tecnológico estimula a

atividade turística e a estrutura, pode tornar-se um fator de determinações e imposições sociais

nos centros receptivos, corroborando para que as relações humanas nesses locais não estejam

totalmente livres das normalizações advindas dos usos da tecnologia.

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De acordo com Graham e Marvin (2000), acredita-se que essa problemática é

conseqüência da falta de políticas públicas e de planejamento, da ausência de debates populares e

acadêmicos sobre os assuntos que envolvem a integração das tecnologias e, principalmente das

telecomunicações com a cidade, enfatizando que mesmo quando ocorrem, geralmente são

conduzidos pelo determinismo tecnológico, não sendo levados em conta as peculiaridades

culturais das localidades. Para os autores, esses debates devem analisar o contexto local e a

intervenção das tecnologias de comunicação como fator de interdependência entre cidades,

transportes e relações humanas ou sociais. Ainda, os autores sugerem que as políticas

internacionais (e acrescentam-se as interestaduais e as intermunicipais) devam corroborar para a

articulação entre a forma construída e o desenvolvimento sócio-econômico das cidades bem

como devem sugerir caminhos para a integração criativa das telecomunicações nas políticas e

estratégias urbanas locais.

Nesse sentido, sinaliza-se que a projeção das cidades no ciberespaço constituindo

Cidades Virtuais, pode tornar-se um fator de maior organização do espaço físico através da

disponibilização de informações e da possibilidade da execução de ações que podem promover

mudanças que contribuam para a melhor estruturação das localidades, usando ferramentas da

internet como chats, fóruns e e-mails. Assim, links que promovam transparência administrativa e

a divulgação e o fortalecimento da cultura local, chats e fóruns que estimulem a participação da

população nas decisões referentes aos destinos do patrimônio municipal e que estimulem a

criação de laços comunitários (que podem ampliar a luta contra a exclusão social) são fatores que

podem contribuir para a resolução dos problemas sociais que se proliferam nas localidades

turísticas, a partir das diferentes perspectivas de empresários e de moradores locais e das

diferentes formas como estes percebem e vivenciam os usos das tecnologias. Nesse sentido, deve

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acrescentar a necessidade de se promover a democratização do acesso à informação e a

programas alternativos de educação.

Através da internet pode-se também propor que membros das comunidades turísticas

possam melhor interagir entre si, antecipando as relações de socialidade através das salas de pate-

papo com temáticas específicas, o que pode evitar, no espaço offline, determinadas intolerâncias

sociais, como discriminações e preconceitos. Por outro lado, turistas podem conhecer melhor e

mais detalhadamente os aspectos socioeconômicos e naturais dos destinos que promovam

atividades de sua preferência, através da simulação de um passeio virtual pelo local.

A reportagem da revista Galileu (Nº 158, p.63, 2004) evidencia que uma experiência de

simulação da cidade vem sendo realizada pelo Laboratório de Realidade Virtual, o primeiro da

América Latina, localizado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). A

Caverna Digital, como é denominado o laboratório, é um ambiente de realidade virtual que exibe

simulações tridimensionais feitas em computador, em tamanho próximo ao natural. A pedido de

uma agência de turismo, foi produzido pela Caverna um software que simula um passeio virtual

pela cidade do Rio de Janeiro. A idéia do projeto, é que em vez de olharem apenas fotografias, o

turista, munido de óculos especiais, faça uma viagem pelas praias e pontos turísticos da cidade, o

que aumenta a vontade de experimentação do local, evitando possíveis decepções.

Contudo, as perspectivas de se utilizar as TICs como fator de potencialização da

atividade turística e de se amenizarem os problemas sociais que contextualizam o cotidiano da

população dos centros receptivos, sugere a necessidade de estudos direcionados e amplos sobre a

interferência das inovações tecnológicas nesses destinos e nas ações turísticas, de modo que

possa ser gerada uma compreensão melhor e mais detalhada dos aspectos culturais das sociedades

que permitam o entendimento do homem local e do seu meio, identificando as potencialidades

turísticas, como forma de se promover a melhoria na sua condição de vida. É preciso que se

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busque a edificação de estruturas operacionais que permitam aos cidadãos participarem com

consciência e em pé de igualdade dos processos contemporâneos das mudanças sociais que

constituem a cibercultura.

Assim, no próximo capítulo, será edificado um estudo de como o desenvolvimento

tecnológico, enfatizando os processos comunicacionais e a edificação de vias de acesso ao local,

contribui para a organização da atividade turística, tendo como referencial o município de Porto

Seguro, localizado no Extremo Sul da Bahia. Também serão observadas as práticas culturais que

delimitam os aspectos ‘ciber’ do local, apontando como estes interem na atividade turística.

A tentativa que se segue, é de compreender que fatores cooperaram para que o município se

tornasse um dos mais importantes destinos nacionais, destacando os tipos de turismo praticados

(ou as potencialidades turísticas do município). Busca-se identificar elementos que compõem o

imaginário e a dinâmica do local, com o propósito de entender como estes devem estar

organizados na internet de modo a potencializar a atividade turística, criando perspectivas para

que se possa promover a democratização da informação e das tecnologias de informação no local,

como forma de contribuir para a resolução de problemas sociais que emergem com a exclusão

digital.

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2.2. ASPECTOS DO IMAGINÁRIO E DA HISTÓRIA IMPORTANTES PARA A PROJEÇÃO DA CIDADE NA INTERNET

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2.2.1. Primeiro chão, primeira missa... o umbigo do mundo

Isso aqui é o umbigo do mundo! Onde a beleza tem muitas caras, cores e raças, misturas raras. Peles de abano com sangue indígena, olhos que brilham como esmeraldas. Caras mestiças de uma nova era, como o futuro que está chegando, sob o sol, no umbigo do mundo e todo mundo está sambando... isso aqui é o umbigo do mundo! É aqui o umbigo do mundo, poço sem fundo da imaginação, Deus e diabo entre o céu e o chão, salva e cidade, litoral, sertão, ondas sonoras, ritmo, paixão. Onde os amores se transformam em canção, onde as regras são exceção. Vida batida na palma da mão. Isso aqui é o umbigo do mundo! Fonte incessante de nova energia. Ponto de encontro entre o silêncio e o som. É o tempo que samba na voz de João, na nova batida que inventa a nação. Na beira da praia no eterno verão, na moça que passa na voz violão, no balanço da bossa de Vina e de Tom. Num rio de poesias, no mar de canções. Isso aqui é o umbigo do mundo! Ao som do mar e à luz do céu profundo. Fonte de esperança de uma nova vida. Pulmão de uma raça morosa e sofrida. Que canta e que dança e que veste de luz a força e a magia dos seus corpos nus, sob o sol, no umbigo do mundo. Essa é a batida que vem lá do fundo. Isso aqui é o umbigo do mundo! (MOTTA, Nelson. Umbigo do mundo. In: Daniela Mercury, disco Eletrodoméstico, 2003).

A letra da canção Umbigo do Mundo, usada como epígrafe, pode representar o atual

imaginário turístico sobre Porto Seguro, delimitado pela idéia de possibilidade das várias ações,

dos hibridismos culturais bem como pela idéia de permissividade. O município, neste sentido,

torna-se um cenário mágico e paradisíaco ideal para a prática da flanerie burguesa temporária e

comunitária, onde o então flâneur poderia realizar muitos dos seus desejos e fantasias, incluindo

aqueles de consumismo, de convivialidade ou mesmo os de erotismo. Além de tudo isso, também

está impresso nesse imaginário, a idéia de um povo bom, festeiro e receptivo. Assim, pode-se

dizer que esse imaginário suscita a idéia de que, no município, parece ser possível a conciliação

de todas as misturas, de todas as etnias, de todas as crendices, de todos os ritmos e de todas as

tendências da contemporaneidade.

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Nesse sentido, tem-se o umbigo do mundo, onde a moda cotidiana associa-se ao

underground e as técnicas de preservação da natureza e do patrimônio local harmonizam-se com

o consumismo do turismo. Em Porto Seguro, de acordo com o seu imaginário turístico, parece

que os conflitos que, geralmente, conturbam centros capitalistas não interferem na organização

social, embora grande parte da população nativa perceba as novidades e as possibilidades de

melhoria de vida promovidas pelo desenvolvimento tecnológico, mas sem experimentá-las. Tudo

isso compõe uma representação (podem existir varias representações) imaginária sobre o destino.

O imaginário desenvolve-se a partir das interações entre os fenômenos e ações sociais

com as contextualizações feitas sobre esses fenômenos e ações, quando estas constituem

processos comunicacionais, envolvendo a produção e a recepção de mensagens. Pela visão de

Bignami (2002, p. 16) pode-se dizer que um imaginário sobre um local “é fruto do acúmulo de

conhecimentos a respeito dele, decorrente de várias fontes e por meio de diferentes processos”.

Assim, está-se apontando que os relatos e observações de escritores, ficcionistas, jornalistas ou

quaisquer outros visitantes, ao se co-relacionarem, corroboram para a produção de um discurso

contextualizador de um local. Esse discurso vai se legitimar a partir das ideais que os receptores

das comunicações formulam sobre o espaço e das práticas desenvolvidas neste espaço a partir

dessas comunicações.

Portanto, as experiências coletivas praticadas em um local e as trocas culturais que

dinamizam a sua história, evidenciadas em processos comunicacionais implicam na construção

do imaginário que, com base nos estudos de Simões (1998), corresponde a uma ótica resultante

do horizonte de expectativa decorrente do universo cultural e vivencial que configura uma visão

de mundo do emissor (o produtor da mensagem) e posteriormente do receptor. Portanto, a

comunicação interfere na dinâmica do local atribuindo-lhe um sentido. A produção do

imaginário, desse modo, compreende um ciclo entre a história (os fatos observados), a

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interpretação da história (a atribuição de sentidos ao local a partir da observância sobre os fatos) e

a reformulação da história (a nova concepção que os receptores das interpretações atribuem ao

local, incluindo os próprios moradores).

Pode-se perceber a formação do imaginário em três momentos consecutivos –

Inauguração, Propagação e Legitimação – envolvendo a interação entre processos

comunicacionais e práticas sociais. No caso de Porto Seguro, está-se identificando como o

primeiro momento, o da Inauguração, a Carta de Caminha, reconhecida como a primeira

comunicação oficial sobre o local. No segundo momento, identifica-se esse imaginário a partir

dos processos comunicacionais voltados para a promoção e a propagação da atividade turística no

município, sendo, então, o momento da Propagação. O terceiro e último momento aqui definido

é o da Legitimação, que corresponde ao pensamento dos turistas sobre o local e as praticas

turísticas ali evidenciadas. Entende-se que a conjunção desses momentos forma o Imaginário

turístico de Porto Seguro, podendo ser percebido a partir da correlação dos discursos presentes na

carta, em comunicações turísticas e em depoimentos de turistas. Este Imaginário constitui-se

como um dos fatores imprescindíveis para a projeção do município no ciberespaço.

Com base nos estudos de Sacramento (2001, p. 43) sobre memória imaginativa, aponta-se que

a Carta de Caminha representa “a primeira e mais fundamental experiência do tempo, via

subjetividade, diferente da dimensão coletiva ou social”. Esse registro de memória completa a

realidade local, atribuindo-lhe um sentido (e não o sentido), pondo em negociação, ou seja,

problematizando os fenômenos sociais que compunham a ambiência daquele local, naquele

tempo, uma vez que esse documento corresponde a um instrumento que institui imagens

dialéticas, que correspondem a sinais representativos de idéias pertinentes a um grupo cultural.

Estas imagens se fundamentam pelas possibilidades operacionais e também por desejos, por

ansiedades e por necessidades individuais e/ou coletivas que ao serem projetadas em uma

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comunicação formam o imaginário sobre o fato observado, no caso, o município de Porto

Seguro.

Caminha, ao detalhar aspectos naturais do local em que desembarcara bem como as

edificações e comportamentos dos seres humanos ali encontrados, a partir de suas perspectivas e

de sua reação à alteridade, estabelece (para o local) a idéia de porto seguro livre das intempéries

e das barbáries que comumente eram vivenciadas durante o processo de colonização, afinal “todo

esse período foi marcado também pela busca de uma sociedade idealizada, utópica, a busca do

paraíso, que se encontraria talvez em terras estrangeiras” (BIGNAMI, 2002, p.79). Assim, a

exuberância da natureza e os costumes do povo encontrado no porto contribuíram para a

idealização do espaço ‘descoberto’ como o local do ‘se plantado tudo dá’ e do ‘se querendo tudo

pode’.

Portanto, o discurso do escritor português é tanto constatativo (objetivo) quanto

performativo (subjetivo), e desse modo a Carta de Caminha inaugura a substância ou essência

imaginária sobre aquele espaço atualmente, delimitado político e geograficamente, município de

Porto Seguro. Essa fase inaugural do imaginário pode ser observada através dos fragmentos do

texto do português descritos abaixo, organizados em três tópicos, mostrando a concepção do

emissor sobre a natureza, sobre o povo e sobre os costumes e a organização social.

A NATUREZA:

[...] Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos, até à outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas de costa. Traz ao longo do mar em algumas partes grandes barreiras, umas vermelhas, e outras brancas; e a terra de cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é toda praia... muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande; porque a estender olhos, não podíamos ver senão terra e arvoredos -- terra que nos parecia muito extensa [...].

[...] Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares

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frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! [...]. [...] Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé! [...].

O POVO:

[...]A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas; e suas vergonhas, tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as nós muito bem olharmos, não se envergonhavam [...]. [...] Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. E portanto se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E o Ele nos para aqui trazer creio que não foi sem causa. E portanto Vossa Alteza, pois tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim![...]. [...] E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã, do que entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos serão tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os batizar; porque já então terão mais conhecimentos de nossa fé, pelos dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais hoje também comungaram [...].

OS COSTUMES E A ORGANIZAÇÃO SOCIAL:

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[...]E concordaram em que não era necessário tomar por força homens, porque costume era dos que assim à força levavam para alguma parte dizerem que há de tudo quanto lhes perguntam; e que melhor e muito melhor informação da terra dariam dois homens desses degredados que aqui deixássemos do que eles dariam se os levassem por ser gente que ninguém entende. Nem eles cedo aprenderiam a falar para o saberem tão bem dizer que muito melhor estoutros o não digam quando cá Vossa Alteza mandar [...].

[...] Plantada a cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primeiro lhe haviam pregado, armaram altar ao pé dela. Ali disse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco, a ela, perto de cinqüenta ou sessenta deles, assentados todos de joelho assim como nós. E quando se veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco, e alçaram as mãos, estando assim até se chegar ao fim; e então tornaram-se a assentar, como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim como nós estávamos, com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados que certifico a Vossa Alteza que nos fez muita devoção [...].

[...] E depois de acabada a missa, quando nós sentados atendíamos a pregação, levantaram-se muitos deles e tangeram corno ou buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço. E alguns deles se metiam em almadias -- duas ou três que lá tinham -- as quais não são feitas como as que eu vi; apenas são três traves, atadas juntas. E ali se metiam quatro ou cinco, ou esses que queriam, não se afastando quase nada da terra, só até onde podiam tomar pé [...]. [...] E segundo depois diziam, foram bem uma légua e meia a uma povoação, em que haveria nove ou dez casas, as quais diziam que eram tão compridas, cada uma, como esta nau capitaina. E eram de madeira, e das ilhargas de tábuas, e cobertas de palha, de razoável altura; e todas de um só espaço, sem repartição alguma, tinham de dentro muitos esteios; e de esteio a esteio uma rede atada com cabos em cada esteio, altas, em que dormiam. E de baixo, para se aquentarem, faziam seus fogos. E tinha cada casa duas portas pequenas, uma numa extremidade, e outra na oposta. E diziam que em cada casa se recolhiam trinta ou quarenta pessoas, e que assim os encontraram; e que lhes deram de comer dos alimentos que tinham, a saber muito inhame, e outras sementes que na terra dá, que eles comem. E como se fazia tarde fizeram-nos logo todos tornar; e não quiseram que lá ficasse nenhum [...] [...] Terça-feira, depois de comer, fomos em terra, fazer lenha, e para lavar roupa. Estavam na praia, quando chegamos, uns sessenta ou setenta, sem arcos e sem nada. Tanto que chegamos, vieram logo para nós, sem se esquivarem. E depois acudiram muitos, que seriam bem duzentos, todos sem arcos. E misturaram-se todos tanto conosco que uns nos ajudavam a acarretar lenha e metê-las nos batéis. E lutavam com os nossos, e tomavam com prazer. E enquanto fazíamos a lenha, construíam dois carpinteiros uma grande cruz de um pau que se ontem para isso cortara. Muitos deles vinham ali estar com os carpinteiros. E creio que o faziam mais para verem a ferramenta de ferro com que a faziam do que para verem a cruz, porque eles não tem coisa que de ferro seja, e cortam sua madeira e paus com pedras feitas como cunhas, metidas em um pau entre duas talas, mui bem atadas e por tal maneira que andam fortes, porque lhas viram lá. Era já a conversação deles conosco tanta que quase nos estorvavam no que havíamos de fazer [...].

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Com sua carta, Caminha inaugura para o município, aquele, então, porto natural, a idéia

de natureza bela e exuberante, local de um povo receptivo, festeiro e inocente, capaz de

facilmente absorver costumes de outros povos bem como a idéia de uma sociedade aberta, onde

estrangeiros podem livremente transitar, sem se preocupar como o tempo, com os excessos,

muito menos, sem se preocupar em seguir regras (desse modo, este espaço é, sem dúvida, o

umbigo do mundo). Imaginário este que, em muitos textos, se confunde como do Brasil, vale

ressaltar.

Os fragmentos da carta apresentados notificam a consonância da idéia inaugural sobre o

local com as atuais comunicações específicas para a promoção do turismo e com as acepções dos

turistas. Esta coesão caracteriza o processo de incompletude textual, através da qual compreende-

se que o sentido dos enunciados está também atrelado à codificação. Contudo, não se pode

desconsiderar a noção de que um discurso (inclusive este que se está apresentando) nunca é

neutro, afinal, as reflexões sobre o contexto notificado apontam a subjetividade do emissor e,

portanto, a sua opção ideológica.

A incompletude do texto, esclarece Sacramento (2001), estabelece-se pela

intersubjetividade, levando-se em consideração que o texto compreende uma rede de relações e

de idéias concentradas nele próprio, suscitando a necessidade da intertextualidade – cruzamento

de idéias. E, a essa acepção da autora, acrescenta-se à rede das relações textuais a idéia de

hipertextualidade, que vai se caracterizar, conforme Lévy (1998, p.33), por “um conjunto de nós

ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens ou partes de gráficos,

seqüências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertexto”. Esses

pressupostos (intertextualidade e hipertextualidade) possibilitam o reconhecimento e o

entendimento das imagens estabelecidas em um discurso como promotoras do intercruzamento de

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culturas, ao consentir o alongamento das idéias centradas no texto. Essa elasticidade faz com que

os elementos estabelecidos no discurso tornem-se imagens dialéticas.

Portanto, o que legitima a Carta de Caminha como a fase inaugural do imaginário turístico

no município de Porto Seguro é a verossimilhança do discurso do português como os discursos

das comunicações contemporâneas voltadas para o estímulo do turismo no local e,

evidentemente, as opiniões dos turistas que fazem menção às imagens da carta. Assim, quando

estas comunicações delimitam o município como o local das mil e uma possibilidades de

diversão, capaz de satisfazer aos mais variados gostos bem como o local da permissividade, onde

parece não haver discriminações, rejeições e repressões, observa-se a intertextualidade destes

com a carta.

Nesse sentido, diz-se que as comunicações turísticas correspondem à fase da Propagação

do imaginário sobre o destino Porto Seguro. Essa idéia pode ser constatada junto a panfletos de

eventos turísticos (Box 1), a informações jornalísticas (Box 2;3), a materiais de divulgação

elaborados pela prefeitura municipal e pela empresa de Turismo do Estado da Bahia – Bahiatursa

– (Box 4;5) bem como a partir de produções comunicativas locais como o livro intitulado

‘Descubra Porto Seguro: Terra Mater do Brasil’ (Box 6) do jornalista nativo, Fausto Rodrigues de

Almeida, e um CD sobre o município, que será evidenciado no tópico 2.2.3. Esse imaginário

também pode ser identificado em sites referentes ao município ou a empresas turísticas que

operam no local, como poderá ser observado no tópico 3.1.3.

Box 1: Panfletos de eventos locais

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Box 2: Revista na poltrona

Com a natureza exuberante, boa estrutura turística e um povo receptivo e festeiro [...] Principal localidade da chamada Costa do Descobrimento, no litoral Sul da Bahia, ali em 1500, aportaram as naus da esquadra de Pedro Álvares Cabral. Em 2000, a Unesco elevou a região à condição de Patrimônio Natural Mundial. A cidade e seus distritos [...] se sucedem ao longo de 90 quilômetros de praias limpas e livres de poluição, algumas muito calmas e solitárias, outras fervilhantes e badaladas. Nessa faixa litorânea, o turista pode apreciar mangues, rios restingas, coqueirais, trechos de Mata Atlântica e formação de arrecifes. As famosas falésias de areias vermelhas, descrita na carta que Pero Vaz de Caminha escreveu à coroa Portuguesa, permanecem contemplando o mar. [...] (Um Porto Seguro para os sonhos. na poltrona, revista de bordo do grupo Itapemirim. Ano 6, nº 81, julho de 2004.)

Os panfletos para festas são distribuídos diariamente em toda a cidade. Tanto nos locais turísticos, quanto nos locais de fluxo de pessoas no centro urbano, grupos de jovens malhados e bonitos, às vezes performáticos, convidam os turistas a participarem dos eventos noturnos. Cada casa de show apresenta uma programação específica, porém todas enfatizam a mistura de ritmos e os jovens bonitos e descontraídos como principais atrativos.

Fotografia extraída da revista.

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Box 3: Revistas Bahia Terra da Felicidade

Box 4: House-Organ Produzido Pela Secretaria De Turismo Da Prefeitura Municipal

.

Quem conhece Porto Seguro hoje percebe que não foi por obra do acaso, que em 1500 os portugueses desembarcaram numa das regiões mais privilegiadas do Brasil [...]. Com o passar do tempo esse verdadeiro presente dos céus foi sendo lapidado até se transformar em um dos mais importantes pólos turísticos, que aos poucos vai sendo redescoberto também por visitantes de diversos cantos do mundo [...]. Diversos equipamentos completam a infra-estrutura colocada à disposição do turista, como as bem montadas cabanas de praia para oferecer, conforto, diversão e muita alegra a nossos visitantes.

[...] são inúmeras as opções de lazer, com roteiros ecológicos, passeios de escuna e alternativas super especiais como o Litoral Sul, que inclui o arraial D’Ajuda, Trancoso e Caraíva, com suas praias paradisíacas e excelente culinária [...]. É por essas e outras que as pesquisas de opinião indicam que mais de 90% dos turistas que já conhecem Porto Seguro desejam voltar. Quem não conhece, alimenta o desejo de um dia conhecer a terra abençoada onde tudo começou. (Porto Seguro: só falta você. Seja bem vindo! E descubra porque desde 1500 Porto Seguro encanta tantos turistas. Porto Seguro total. Secretaria Municipal de turismo e desenvolvimento Econômico de Porto Seguro/BA. Ano I, nº 01,

A paisagem descrita na primeira reportagem turística sobre a Bahia, há quase 500 anos, permanece deslumbrante e praticamente inalterada em toda a Costa do Descobrimento. O ilustre “jornalista” português, Pero Vaz de Caminha [...] encantado com a paisagem, escreveu ao rei contado em detalhes os encantos do país descoberto. Relaxar é palavra de ordem para quem chega a este lugar paradisíaco, e nada melhor que um mergulho revigorante em uma de suas belas praias, pra começar. A noite em Porto Seguro começa inevitavelmente na Passarela do Álcool. Aí, dezenas de barracas decoradas com arranjos de frutas vendem os mais variados coquetéis de frutas e “capetas”[...]. O comércio tem um horário atípico, muitos shoppings e lojas de artesanato funcional até meia noite. A noite continua na orla com reagge night, festas e músicas ao vivo na maioria dos restaurantes e barracas de praias, que promovem luaus em diversos dias da semana[...]. (Porto Seguro, Território livre do lazer. Bahia Terra da felicidade. Produzida pela Bahiatursa).

Fotografias extraídas do House-organ.

Capa da revista.

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Box 5: Folder produzido pela Bahiatursa

A atmosfera mágica que envolve e encanta os visitantes hoje é a mesma que encantou os portugueses em 1500, nos primeiros contatos com a terra e seus primitivos habitantes. [...] o Sítio Histórico da cidade Alta de Porto Seguro – Cidade Monumento Nacional e um dos primeiros núcleos habitacionais do Brasil.

Durante o dia, o visitante entrega-se aos prazeres das praias, cavalgadas, caminhadas, passeios no mar ou na mata. A vida noturna, é animadíssima. A programação começa na Passarela do Álcool e continua nas barracas da praia e casas noturnas até a madrugada. As vilas de Arraial Trancoso e Caraíva e a Aldeia Pataxó de Barra Velha são visitas obrigatórias ao paraíso [...]. (Costa do descobrimento. Descubra porque desde 1500 não pára de chegar gente aqui. Bahiatursa , 2000)

Fotografia extraída do folder.

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Box 6: Livro Descubra Porto Seguro

Ao fazerem menção à Carta de Caminha, mesmo implicitamente, os textos apresentados

podem conduzir o público a idealizar o município e a Costa do Descobrimento (que já não mais

podem ser desvinculados nos espaços comunicacionais) com imagens semelhantes àquelas que

compõem o imaginário do primeiro escritor oficial. Essa constatação reflete que a propagação de

um imaginário está vinculada a imagens já conhecidas historicamente, que, ao se repetirem nos

discursos dos interlocutores, permitem a contextualização de um local, que se dá a partir do

processo de aceitação, interiorização e reformulação dessas imagens sempre pré-estabelecidas,

por isso dialéticas.

Resenha descritiva do livro

‘Descubra Porto Seguro’ faz menção à cronologia histórica oficial do município, enfatizando-o como ponto inicial da civilização brasileira. O livro está dividido em seis partes com dados referentes à viagem de Cabral, às características gerais do município, enfatizando festas e aspectos naturais. Na quarta e quinta parte ele apresenta lendas e poemas relacionados a Porto Seguro e por fim, Almeida faz um relato da festas dos 500 anos do Brasil no município, apresentado fragmentos do discurso do, então, presidente da república, Fernando Henrique Cardoso bem como críticas dos pataxós à igreja católica. O autor apresenta uma relação dos monumentos históricos, que, segundo ele, constitui-se como forma de preservação da história. Mas, são em seus poemas (abaixo), que pode ser percebido, a presença do imaginário da Carta de Caminha.

Os porto-segurenses O povo de Porto Seguro/ Cheio de vida e amor/Tem no sangue o orgulho/Na existência o labor! [...]/ Por isso os portose-gurenses /hospitaleiros por tradição pregam numa doutrina a harmonia em seu rincão/ que é uma dádiva divina/ E o alicerce de uma nação! (Pág. 142)

Meu Porto Seguro

Meu Porto Segurodo mar sempre lindo/ da mata e coqueiral,/ meu Porto Seguro, d’Ajuda e Trancoso, do velho casario colonial, que atrai juventude / e na ‘Passarela’ tem luz e emoção,/ meu Porto Seguro- que é Porto Seguro -/ meu porto Segurodo eterno verão. (Pág. 149)

Capa do livro.

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Essa verossimilhança entre as comunicações apresentadas e a carta de Caminha,

caracteriza o processo de intertextualidade entre esses discursos. Processo este que permite a

compreensão de que as comunicações turísticas não estão instaurando novos sentidos para o

município de Porto Seguro nem para a Costa do Descobrimento, uma vez que as imagens que

compõem os textos apresentados, encontram-se já estabelecidas anteriormente no primeiro

discurso oficial sobre aquele local. Nesse sentido, a carta de Caminha comporta-se como suporte

a esse imaginário turístico contemporâneo.

Assim termos como ‘descubra porque desde 1500 não pára de chagar gente aqui’,

utilizada como chamada do folder produzido pela Bahiatursa; ‘Terra Mater do Brasil’, subtítulo

do livro escrito por um nativo e ‘terra abençoada onde tudo começou’, que fecha a chamada do

jornal produzido pela prefeitura municipal, sugerem ao leitor uma ligação com o momento

histórico da descoberta, narrado na carta. Os termos ‘atmosfera mágica’, ‘exuberância da

natureza’, ‘praias de águas límpidas e transparentes’, ‘praias limpas e livres de poluição’,

‘Parque Ecológico do Santuário cuidadosamente desenhado pela natureza’, entre outras

descrições que apontam a natureza local como espaço exótico e preservado, desencadeiam a idéia

de natureza vasta e formosa descrita por Caminha. Em alguns casos, como no periódico ‘na

poltrona’, esta associação é feita clara e diretamente, a exemplo do momento no texto referente

às falésias de areia vermelha, quando o emissor utiliza como referencial a descrição feita por

Caminha.

Com sua descrição sobre a nudez e a perfeição dos corpos dos nativos bem como a

descrição das danças e da passividade dos mesmos, Caminha inaugura, para os atuais moradores

do local, o status de sensuais e liberais e de povo receptivo e festeiro. Esse status pode ser

constatado junto a panfletos de divulgação das festas locais, como o referente ao Eco-parque do

Arraial d’Ajuda. Portanto, as ilustrações que evidenciam os corpos em bom estado físico e com

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poucas roupas propagam a verificação do escritor português. Pode-se inferir também que no

panfleto de divulgação da cabana ‘Alcatraz’ há a idéia de uma festa caracterizada pela

permissividade, quando o anúncio convida ao público a descobrir o que acontecerá no local.

Além disso, nas duas comunicações, estão evidenciadas as misturas de ritmos que apontam para a

aceitação de várias tendências musicais, sugerindo a interação de várias tribos, usando o termo de

Maffesoli (1998), suscitando a emergência de um hibridismo cultural (CANCLINI, 1998).

Pode-se dizer que a intertextualidade entre a carta de Caminha e as comunicações

turísticas apresentadas compõem uma espiral de idéias representativas do destino Porto Seguro e

Costa do Descobrimento utilizadas por agentes que atuam no processo de construção da imagem

do local, que, na maioria das vezes, utilizam apenas esse imaginário de paraíso ecológico e local

da permissividade como fator de divulgação do turismo. Imaginário este que não permite ao

interlocutor visualizar aspectos outros, principalmente, os aspectos malditos da dinâmica

cotidiana do município, propondo, portanto, a construção de uma ‘ilusão referencial’ sobre o

destino.

Contudo, deve-se ressaltar, com Bordenave (2002), que essa ilusão referencial, não

necessariamente, é resultante da intencionalidade dos meios em perpetuar as intenções

contidas no documento português. Por um lado, deve-se considerar que não existe condição de

se evitar uma construção seletiva da sociedade, pelos meios de comunicação, levando-se em

consideração a impossibilidade de abranger toda a complexidade social em um único espaço

comunicacional. Por outro lado, a própria seleção dos fatos, pelos produtores, autores e

jornalistas, evidencia alguns aspectos mais relevantes, que traduzem e transmitem uma

realidade, tornando-se um fator de mediação entre a totalidade dos aspectos locais e a

imaginação das pessoas.

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[...] os médias fazem um papel de mediação entre a realidade e as pessoas. O que ele nos entregam não é a realidade, mas a sua construção da realidade. Isto é, dá enorme quantidade de fatos e situações que a realidade contém, os meios selecionam só alguns, os decodificam à sua maneira, os combinam entre si, os estruturam e recodificam formando mensagens e programas, e os difundem, carregados agora de ideologia, dos estilos e das intenções que os meios lhes atribuem (BORDENAVE, 2002, p.80).

Assim sendo, pode-se dizer que os discursos dos meios de comunicação sugerem uma

construção social do local, podendo ser considerada como uma estratégia de identificação cultural

e interpelação discursiva de que fala Bhabha (1998), apontando e delimitando as suas formações

culturais a partir da consignação, negação, transformação, invenção e transmissão das estruturas

funcionais e das experiências humanas como fluxos culturais que permitem, então, a idealização

do local. Assim, as imagens dialéticas contidas nas comunicações demonstradas traçam fronteiras

culturais do município de Porto Seguro, estabelecendo, o que Hannerz (1997) compreende como

‘limite cultural’.

Entende-se que as comunicações apresentadas estão promovendo a propagação do

imaginário do português sobre o local, sugerindo ações que podem comportar-se como

experiências fantasiadas. Portanto, aponta-se que essas comunicações fomentam a segunda etapa

da formação do imaginário turístico de Porto Seguro, a fase da Propagação, que de algum modo,

delimitam os desejos e fantasias dos cidadãos envolvidos na atividade turística local, a partir de

uma intertextualidade entre a carta e as comunicações apresentadas.

Por essa intertextualidade entre a carta e as comunicações turísticas, constata-se, com

fundamento em Albuquerque Junior (1999) que o imaginário turístico de Porto Seguro

corresponde a uma produção imaginético-discursiva, formada a partir de idealizações e

expectativas sobre o local, construída historicamente por processos comunicacionais. Essa

produção confere aos receptores uma consciência tal sobre o espaço, que dificulta a

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divulgação de discursos outros sobre a história do local e sobre a atual dinâmica do município.

Desse modo, essas comunicações podem causar várias ilusões referenciais aos turistas, aos

nativos e a empresários a partir das perspectivas do grupo cultural a que pertencem.

O discurso das comunicações apresentadas sobre Porto Seguro pode tornar-se um subsidio

para que o turista e a população local construa em seu imaginário a visão de que o município

corresponda apenas a um local receptivo e acolhedor. Nesse sentido, pode-se vislumbrar,

conforme Debord (1997), que essas produções imagéticas podem estabelecer uma relação social

entre turistas e o local, constituindo um processo de espetacularização da cultura, que imputa aos

sujeitos envolvidos uma consciência tal, que o(s) espetáculo(s) torna(m)-se parte da sociedade

delimitada por uma visão de mundo que se objetivou. Para o autor, o espetáculo simultaneamente

representa o resultado e o projeto de um modo de produção existente. Assim, as comunicações

apresentadas neste estudo representam um modelo atual de vida existente no local, de modo que

sua sociedade torna-se uma unidade compartimentada em realidade e imagem.

Por outro lado, acredita-se que quando turistas confrontam os discursos das comunicações

turísticas com as suas experimentações do local, podem emergir várias e divergentes concepções

referentes àquele espaço idealizado, concepções das quais podem apresentar diferentes

significados sobre o local. Hall (2003) entende que essas diferenças de significados existem em

decorrência das diferenças culturais e dos significados que cada signo icônico veiculado pelas

médias representam nas sociedades, definindo níveis diferentes de conotação do signo visual.

Portanto, quando observadas as opiniões de turistas sobre o município de Porto Seguro,

percebe-se que ao mesmo tempo em que há um encantamento como o local, o que legitima o

imaginário propagado pelas comunicações, há também uma certa indignação com a estrutura

urbana, com as práticas turísticas e com as políticas públicas de organização da atividade. Então,

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pode-se apreender, junto à opinião dos turistas, a legitimação da mensagem evidenciada a partir

da intertextualidade entre as comunicações e a carta, estabelecendo um ‘nó’ de conexão entre o

discurso dessas comunicações e as práticas turísticas. Não é difícil, portanto, conceber esta

conexão como fator constituinte de um hipertexto turístico, através do qual muitas outras

acepções podem surgir. Assim sendo, tem-se a contínua reformulação histórica a partir da

propagação do imaginário sobre o local.

Essa terceira fase da formação do imaginário sugerida neste trabalho, a da Legitimação,

tem como representação depoimentos de turistas sobre Porto Seguro, registrados no Caderno de

Opiniões do Centro Municipal de Informações aos Turistas, onde estes têm espaços para

escreverem suas realizações no local, suas experiências e apresentarem também reclamações e

sugestões com relação aos aspectos turísticos. Essas opiniões foram coletadas durante o período

de 07 a 14 de janeiro, pelo método intencional não probabilístico por julgamento, cujo critério de

seleção dependia da disponibilidade de acesso ao caderno bem como da originalidade das

opiniões, visto que, muitas vezes, estas eram repetitivas, acentuando apenas descrições do local

como um espaço paradisíaco, confirmando, apenas, o discurso de Caminha e das comunicações

turísticas.

Foram coletados ao todo dezesseis depoimentos, dos quais oito (que estão demonstrados

abaixo16) começam descrevendo o espaço com expressões de encantamento, mas acentuam que o

local precisa de melhor organização e estruturação.

Porto Seguro é uma cidade turística bonita. Com clima agradável e uma cultura rica. Tenho muitas coisas para desfrutar aqui e espero levar para minha cidade, que também é belíssima, muitas recordações agradáveis. (turista, Pernambuco).

16 A transcrição foi feita na íntegra, não sendo realizada correções ortográficas nem gramaticais.

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A cidade é tudo de bom. Mas falta mais organização (limpeza) e as agências monopolizam demais os passeios. Quem está na ala norte não fica sabendo dos movimentos da ala sul. Muita prostituição infantil explorado por turistas (turista, Minas Gerais).

A cidade e as praias são lindas e tem tudo para atingir o mercado internacional. Infelizmente a cidade ainda é precária na limpeza, por exemplo, os banheiros dos restaurantes são sujos e muitas vezes a descarga dos vasos está quebrada. Trabalho com turismo na Itália e espero mandar muitos turistas para esta cidade, mas espero também uma melhoria (turista, Itália).

Adoro Porto Seguro. Venho ano sim outro não e não entendo porque até hoje não se construiu uma ponte. É uma vergonha. O país todo visita esta cidade e esta balsa é uma vergonha. Um espelho de quem governa (turista, São Paulo).

Apaixonei por Porto Seguro. Pessoas humildes, mas coração muito bom. As pessoas não merecem ser esquecidas. Tem que haver um meio de vida melhor. O governo precisa deixar o dinheiro girar aqui, cuidar do povo d’aqui como gente (turista, Minas Gerais).

Região muito bonita, cidade muito agradável, mas falta o básico. Andando pelas ruas, encontrei entulhos, lixos e muito buraco. Nas ruas e nas calçadas. Eu vim aqui só como turista e quem mora aqui vai ficar no abandono até quando? (turista, são Paulo).

A cidade é fantástica. Só precisa abaixar os preços das conveniências, pois é a maior exploração, principalmente acerca dos guias turísticos (turista, Minas Gerais).

A cidade é linda e com uma boa estrutura. Porém os responsáveis pelo turismo deveriam dar atenção especial e cuidar melhor deste patrimônio e também preservar/cuidar melhor da limpeza da cidade, colocando lixeiras ao longo de toda a orla marítima. O que me chamou a atenção foram os altos preços cobrados dos turistas. Até mesmo para estacionar os veículos na praia estamos sendo cobrados. Isso espanta o turista!!! (turista, Rio Grande do Norte).

Nesse sentido, constata-se a presença do imaginário inaugural e propagado sobre o

município e também outras extensões textuais, que não estão evidenciadas nas comunicações

turísticas, mas que apresentam uma verossimilhança com o discurso de Caminha quando sugere

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ao rei que envie, àquele local, clérigos para catequizarem os nativos. Portanto, as sugestões de

melhoria na infra-estrutura urbana da cidade de Porto Seguro pode representar as expectativas do

turista de melhoria para o local, assim como, pode-se conceber que a preocupação em converter

aquelas pessoas encontradas no porto ao cristianismo correspondia a uma preocupação de

Caminha para com os moradores daquela região. Por outro lado, mesmo concebendo que o

português apenas queria atribuir os seus valores aos nativos, na tentativa de facilitar a dominação

sobre o local, pode-se verificar também uma semelhança com o discurso dos turistas, afinal, a

melhor organização do destino significa mais conforto, mais comodidade e mais segurança para o

estrangeiro.

Entende-se, então, que os discursos comunicacionais, quando conectados à imaginação do

interlocutor, orientam os sentidos e significados dos locais contextualizados. Assim sendo, a

comunicação vai fomentar o espaço como uma entidade identificável capaz de proporcionar a

concretização ou expansão da fantasia. Contudo, a experimentação do espaço cria possibilidades

para o receptor escrever uma história própria sobre o local, caracterizando a constituição de um

sistema hipertextual, afinal, a idealização do município é permitida a partir de interconexões das

imagens apresentadas sempre por experiências anteriores transmitidas (retomando que nenhum

discurso é neutro). Portanto, o hipertexto é também um conjunto de ações humanas, pensamentos,

perspectivas e sensações individuais ou coletivas que também podem eles mesmos ser hipertexto.

As informações textuais completam-se e reproduzem-se associadas à vivência e às

informações contidas no imaginário das pessoas. Esse processo refere-se à construção do espaço,

ou melhor, a uma meta-construção da estrutura do urbano e do próprio cidadão que o dinamiza.

Assim sendo, aponta-se que as imagens delimitam as informações da narrativa, mas também

proporcionam ao observador um ambiente ideal para se evadir e dar continuidade ao texto sob

sua perspectiva, quando este passa a experimentar o espaço (por isso são imagens dialéticas).

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Assim pensa-se que a comunicação turística deve buscar cada vez mais a interatividade dos

sujeitos envolvidos na atividade.

De algum modo, essa superdimensão hipertextual vai contribuir para a promoção da

dinâmica dos locais, que vão eles mesmos continuamente modificarem-se em suas relações

sociais e econômicas a partir das mensagens produzidas pelo discurso hipertextual formado pela

sinergia entre o momento da propagação do imaginário e a sua legitimação, dando origem a

outros discursos e, conseqüentemente, a outras práticas sociais. Para Hall (2003) essa forma

discursiva tem uma posição privilegiada na troca comunicativa, considerando-se a circulação da

informação e que os períodos de ‘codificação’ e de ‘decodificação’, apesar de apenas

‘relativamente autônomos’ em relação à totalidade do processo comunicativo, são momentos

determinados.

Acredita-se, então, que essa movimentação se realiza sob a forma de um hipertexto

discursivo, pois é após a elaboração do discurso para os respectivos públicos que ocorrem as

práticas sociais, que vão então ser recodificadas, transformadas novamente sob a forma de

discurso e retransmitidas para a audiência. Contudo essa prática pode gerar perspectivas

diferentes entre nativos, empresários e turistas, considerando que estes correspondem a grupos

culturais diferentes que têm perspectivas peculiares, e que, talvez por falta de estratégias políticas

voltadas para a organização da atividade, podem gerar conflitos de interesses. Afinal, baseado no

imaginário que aponta Porto Seguro como um local mágico e paradisíaco, nativos e empresários

podem tentar explorar economicamente os turistas, enquanto esses podem estar esperando

encontrar realmente o povo ingênuo, feliz e receptivo das comunicações.

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Essas divergências de perspectivas, acima apontadas, podem ser identificadas nos oito

restantes depoimentos coletados no Caderno de Opiniões do Centro de Informações Turísticas da

Prefeitura Municipal, descritos abaixo17.

Acreditamos que a cidade merece mais atenção no que conta à infra-estrutura. A cidade histórica deveria ser cobrada uma pequena taxa, mas com melhorias no jardim, banheiro, lugar para lanche assim como na Passarela do Álcool. A história do Brasil deveria ser melhor explicada através de placas. (turista de São Paulo)

Achei uma roubada visitar a cidade histórica. Um guia que nos acompanhou por 45 minutos no local nos cobrou R$ 50,00 (cinqüenta reais) por pessoa, dizendo que era credenciado. Discutimos e terminou em R$ 25,00 (vinte e cinco reais) por cinco pessoas que estavam no carro. Por favor, colocar tabelas porque se não não voltarei e não recomendarei tal passeio” (turista, Minas Gerais).

Na minha opinião, várias medidas devem ser tomadas urgentemente: 1ª) os guias do trevo (trevo do Cabral) são verdadeiros marginais que perseguem os turistas e atrapalham os empresários; 2ª) limpeza e urbanização da cidade e das praias; 3ª) conscientização dos moradores e dos comerciantes para não praticarem a exploração de preços com os turistas (turista, São Paulo).

Porto Seguro é um espelho de como os nossos políticos pensam o turismo. A atividade turística que poderia ser um pólo de trabalho, torna-se uma ação propícia à exploração e à alienação. Mas parece que não é interessante que o povo tenha trabalho e não conheça as belezas e a história do nosso país, pois ia mexer com seus interesses (turistas, Rio Grande do Sul).

Os hotéis e principalmente as muitas pousadas existentes em Porto Seguro e em Arraial d’Ajuda não possuem informações sobre a programação turística da cidade. Francamente sugiro urgentes providências nesse sentido. A Secretaria de turismo não está investindo no futuro. A meu ver, a fonte de turismo não passará poucos anos de vida. Precisam urgente repassar informações a todos (turista, Minas Gerais).

A cidade cresceu em hotelaria, gastronomia e desenvolvimento local. Gostei da fiscalização nas praias, no centro e da organização dos guias de turismo

17 A transcrição foi feita na íntegra, não sendo realizada correções ortográficas nem gramaticais.

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(só não gostei dos preços dos guias, estão muito altos) (turista, Rio de Janeiro).

Viemos para cá em nosso próprio veículo e quando planejamos nossa viagem, não conseguimos um mapa da cidade através da internet. Nos sites da região, encontramos vasta publicidade de hospedagem, mas o mapa que era o mais importante não estava lá (turista, Espírito Santo).

A infra-estrutura não é das melhores. Porto Seguro se vale de lindas praias e esquece das bases e, principalmente, que existem brasileiros vindo par cá. O que acaba acontecendo é que tudo tem o triplo do preço por causa dos estrangeiros e se torna uma cidade para estrangeiros, muito caro. Preços exorbitantes nos afastam, não se esqueçam, moramos também aqui (turista, Brasília).

Pode-se dizer que os depoimentos acima completam a superdimensão hipertextual

produzida pela correlação ente o imaginário propagado pelas comunicações turísticas e a

experimentação do local, ratificando a idéia de que esta correlação promove a acepção de

um novo discurso, de uma nova observação ou, usando o termo de Lévy (1996) um novo

‘nó’ de conexão. Os estímulos produzidos pelas comunicações são tão evidentes que,

segundo dados da Embratur, Porto Seguro é o segundo destino mais procurado na Bahia e

o quinto mais procurado no país. Apesar de todos os conflitos sociais, principalmente,

aqueles vivenciados por turistas, de acordo com dados da Bahiatursa, o município teve, na

década de 1990, a cada, ano a taxa de visitação aumentada.

Esse ciclo – propagação do imaginário de Caminha/aumento do fluxo de

visitações/conflitos sociais locais e reclamação de turistas – constitui-se como parte do processo

dialético autotransformador da cidade e é também responsável pelas transformações em sua

dinâmica. Assim, as observâncias dos turistas sobre aspectos degenerativos do espaço urbano não

marca o fim do turismo em Porto Seguro, mas caracteriza-se, de acordo com Bhabha (1998),

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como um ‘entre-lugar’ da atividade no município, exigindo uma nova leitura da atividade no

local e dos processos comunicativos sobre o local. Nesse sentido, compreende-se que esse tempo

de ‘entre-lugar’ representa perfeitamente um ‘nó’ de conexão dentro da superdimensão

hipertextual discursiva que compõe a narrativa turística, dando continuidade ao hipertexto

característico do setor.

Portanto, com base em Benjamin (1987), é preciso examinar e divulgar as comunidades à

contrapelo, isto é, estuda-las a partir das perspectivas dos diversos grupos culturais que

fomentam a sua dinâmica. Assim, na elaboração de processos comunicativos, deve-se considerar

a capacidade política dos cidadãos em produzir uma abordagem contra-hegemônica das

mensagens emitidas por esses processos e apresentar, junto ao imaginário, também aspectos que

fomentam o cotidiano da cidade, incluindo conflitos sociais, mesmo porque, como aponta Roedel

(1999) não existe organização social, no sistema capitalista, que não tenha choques de interesses

entre classes ou grupos culturais, por menor e menos significativos que sejam.

Nesse caso, é preciso tentar entender a cidade, buscando delimitar suas características

principais e suas potencialidades turísticas de modo a evidenciar as possíveis práticas e, então,

estabelecer processos comunicativos direcionados para as respectivas comunidades turísticas e

para as comunidades locais. Partindo dessa perspectiva, será apresentado, no tópico que se segue,

uma discussão, evidenciando uma acepção sobre cidade e cidade turística, contemplando

questões históricas. Afinal, acredita-se que a cidade turística deve ser evidenciada nos espaços

comunicacionais e principalmente na internet (considerando as características do meio) não só

enfatizando o seu imaginário, mas também as práticas que compõem a sua dinâmica e fomentam

a sua complexidade social.

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2.2.2. A vida social e a construção da cidade

Todo dia, o sol da manhã vem e lhes desafia. Traz do sonho pro mundo que já não o queria. Palafitas, trapiches, farrapos, filhos da mesma agonia. E a cidade que tem braços abertos no cartão postal, com os punhos fechados pra vida real, lhes nega oportunidades mostra a face dura do mal. Alagados trenchtown, favela da maré, a esperança não vem do mar nem das antenas de TV e a arte é de viver da fé. Só não se sabe fé em quê! (VIANA, Herbert. Alagados. In: http://paralamas-do-sucesso.cifras.art.br/cifra_2768.html, Acesso em 20 de outubro de 2004 )

Sete horas da manhã. A cidade começa ser movimentada. Da sacada de um pequeno hotel no

centro, pode-se observar o abrir das lojas, das lanchonetes, dos restaurantes, dos escritórios, a

formação das filas bancárias além de vários outros artefatos que compõem a rotina vivida por

moradores de Porto Seguro, indicando que a cidade também pára e que sua população tenta

descansar, ao contrário do que disseminam algumas comunicações turísticas.

A movimentação do trânsito, a correria da garotada indo para a escola e dos trabalhadores do

centro urbano indicam que naquela cidade turística existe uma dinâmica social peculiar e

capitalista que fomenta a sua complexidade social, em que se observam, entre os aspectos

festivos e contemplativos, enfatizados pelo imaginário turístico, vários problemas de infra-

estrutura urbana como a falta de sinalização no trânsito, precários sistemas de saúde,

iluminação, educação e segurança pública, além de divergências socioeconômicas explicitadas

nas estruturas dos seus bairros, que separam, claramente, ricos e pobres. Assim, como

sinalizado pela epígrafe, a cidade que tem seu imaginário turístico difundido por veículos de

comunicação apresenta um lado maldito, que delimita constantes conflitos sociais e, talvez,

poucas perspectivas em melhorias de vida.

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Essa constatação deu-se após pesquisa de campo, utilizando-se do método da etnografia,

baseado em Malinowski (1973), além de pesquisas bibliográficas e de entrevistas a representantes

de órgãos públicos bem como através de análises de dados estabelecidos em documentos e

relatórios elaborados pela Bahiatursa em parceira com o Programa Bahia de Desenvolvimento do

Turismo – Prodetur. Também foram consultados dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística – IBGE – e a Proposta de Delimitação das Áreas Tombadas dos Municípios de Porto

Seguro e Santa Cruz Cabrália elaborada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional – IPHAN.

A pesquisa foi realizada em três períodos distintos. O primeiro de 25 a 30 de julho de 2003,

momento de baixa temporada, foi observada a dinâmica do centro da cidade e realizada

pesquisa documental junto ao IPHAN e à Secretaria Municipal de Turismo. O segundo

período deu-se na alta temporada entre 7 a 14 de fevereiro de 2004, cuja pesquisa centrou-se

na observância da atividade turística além de terem sido realizadas entrevistas com o

presidente do Conselho Regional de Turismo da Costa do Descobrimento e com um

representante da Funai, além de entrevistas a turistas pelo método intencional não

probabilístico por julgamento nos distritos de Arraial d’Ajuda e de Trancoso. Parte dos

resultados obtidos nesta etapa da pesquisa serão evidenciados nos tópicos que se seguem.

A última etapa da pesquisa ocorreu de 11 a 16 de outubro de 2004, na semana que compreende

o período, denominado ‘sacola cheia’, cuja atividade turística é voltada para o público

estudantil do eixo Sul-Sudeste. Nesse período, foram visitados o bairro popular do Baianão, e

de classe média alta Paraíso Pataxós (Itaperapuã), estipulados, pela pesquisa, como

representativos dos conflitos sociais do local, uma vez que os dois bairros são habitados por

moradores locais, não tendo seus fluxos populacionais dependentes da atividade turística.

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Nesse período, também foram realizadas entrevistas com índios da aldeia localizada no

município de Coroa Vermelha e com estudantes do local, cujos resultados serão evidenciados

no capítulo quatro.

Buscou-se traçar uma visão panorâmica do desenvolvimento da cidade de Porto Seguro, para

em consonância com teorias referentes à organização humana, apresentar uma acepção sobre

cidade turística. Para tanto, parte-se da compreensão de De Certeau (1999) de que a cidade

corresponde à produção de um espaço próprio, realçando aspectos ambientais e

comportamentais que comprometem a estrutura urbana, incluindo, inclusive, táticas dos

cidadãos que aproveitam ocasiões para reproduzirem opacidades da história, agindo com uma

determinada malícia e falta de ética do convívio que caracterizam um descomprometimento

com o desenvolvimento social.

Com Ortiz (1999, p.21), entende-se que “a categoria espaço é dessa forma ‘preenchida’ das

mais diferentes maneiras; tudo depende do conjunto das forças sociais às quais ela se refere”.

Nesse sentido, deve-se esclarecer com fundamento em Bourdieu (2001) que os critérios

observados constituem-se como ‘representações mentais’, podendo estas associar desde os

aspetos históricos às práticas contemporâneas, uma série de ações e artefatos que contribuem

para a compreensão de uma identidade local.

Partindo dessa perspectiva, o estudo inicia-se a partir de relatos históricos que oferecem uma

abordagem de como Porto Seguro elevou-se à categoria de cidade e de destino turístico. Nesse

espaço, busca-se observar as suas transformações sociais, na tentativa de apresentar indicações

de como potencializar a atividade turística a partir da cibercultura, preocupando-se com a

dinâmica da cidade, com questões identitárias e com a democratização da informação.

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Paraíso (1998) entende que a organização atual do município de Porto Seguro, assim

como de várias outras localidades brasileiras, começa, no século XVI, com a necessidade de os

portugueses tomarem posse da terra recém ‘descoberta’, para impedir sua invasão por outros

povos europeus, como franceses e espanhóis. Antes porém, várias medidas foram tomadas para

evitar tal invasão. Entre elas, destacam-se o envio de armas para o policiamento das costas

litorâneas e a tentativa de evitar a presença de navios que estabeleciam comércio clandestino com

a população. Como essas ações não tiveram sucesso, os governantes metropolitanos instituíram,

na década de 1530, a criação de núcleos populacionais ao longo do litoral, sob a responsabilidade

e com financiamento de particulares, criando o sistema de Capitanias Hereditárias que, embora

tivesse uma estrutura organizacional previamente planejada, não foi suficiente para garantir o

povoamento em torno da, então, capitania de Porto Seguro.

Porém, enquanto Capitania Hereditária, foram construídas casas, fortes, capelas,

armazéns, ribeira das naus e forja, dando início à organização social local (conjunto histórico que

atualmente constitui-se como atrativo turístico). Acrescenta-se a essas construções, a edificação

de engenhos de açúcar que, eram como em outras tantas aldeias, pontos de apoio para posteriores

penetrações. Esses engenhos não prosperaram devido aos constantes ataques de índios e

corsários. Também foram organizadas, na vila, expedições de entradas e bandeiras em busca de

metais preciosos. Com a distribuição das sesmarias, houve a ocupação espalhada para o Norte e o

Sul, com a população dedicada à lavoura e à pesca, constituindo-se esta última no mais

importante meio de subsistência desses colonos.

Contudo, o pau-brasil foi a principal mercadoria de exportação e, por ser uma exploração

itinerante, não foi responsável pela criação de qualquer núcleo urbano regular e estável. Por outro

lado, localizada longe dos centros desenvolvidos, desviadas das rotas da Índia ou do rio da Prata,

embora no trânsito, a capitania de Porto Seguro contava apenas com seus próprios recursos. Além

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desses fatores, os constantes ataques indígenas e a falta de escravos dificultavam o

desenvolvimento socioeconômico da vila. Esses fatores culminaram para que do início do século

XVII a meados do séc. XVIII a capitania entrasse em crise, quadro que só melhorá com sua

incorporação à Coroa.

A partir do século XIX, as ações que compunham a dinâmica do local passam a

consolidar-se na Cidade Baixa. Ali se concentraram as atividades pesqueiras, armazéns e casas

comerciais – em oposição à Cidade Alta, onde estavam os monumentos religiosos, as instituições

administrativas e a moradia das classes mais abastadas. Durante este século, a pesca e a

construção de embarcação ao lado do corte de madeira e da agricultura, constituíram a base

econômica da vila. Continuava, porém, o contrabando de pau-brasil e de pedras preciosas. Nesse

período, muitos viajantes, em sua maioria contrabandistas, passaram por Porto Seguro e deixaram

relatos de suas impressões sobre a cidade, através das quais pode-se perceber a dinâmica do local

naquele tampo. Esses relatos estão registrados na Proposta de Delimitação das Áreas Tombadas

dos Municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália elaboradas pelo IPHAN.

Em 1802, o inglês Thomas Lindley, preso como contrabandista de pau-brasil, ouro e

diamante, descreve Porto Seguro, relatando a situação de pobreza da cidade, mas observa que

existiam barcos que pescavam garoupas em abrolhos, salgando-as e enviando-as para Salvador:

As ruas são simplesmente largas, retas, mas dispostas de maneira irregular. As casas têm geralmente um só pavimento, são baixas e mal construídas de tijolo moles (abobes), pintadas com barro e recobertas de armagassa. Todas têm aspecto sujo e miserável. Próxima da orla marinha, ergue-se uma série de casas de pescadores, sombreadas de ondulentas palmeiras à frente, tendo cada uma seu laranjal ao lado. Atrás dessas chapanas surge a vegetação baixa.

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No documento, há registros de outros viajantes que não apenas confirmam esta

informação, como também apresentam uma descrição sobre a Cidade Alta. Em 1888, o

forasteiro Durval Vieira de Aguiar descreve a vila de Porto Seguro da seguinte forma:

Dois compridos amuados quase em seguida, pela margem do rio, e de um terceiro, onde se acha a velha Matriz e o estragado, porém bem construído e assobradado edifício da Câmara, no alto da montanha, que é circulada em baixo pela povoação; de forma que substituindo-se pela parte do mar, pode-se descer pelo lado oposto, e subir-se na rua de Pacatá, onde está o melhor comércio. A morada do alto é excelente pela beleza da vista e bons ares; porém na parte baixa, onde ‘aliaz’ reside a maioria da população, é humilde e às vezes doentia.

Pode-se dizer, portanto, que Porto Seguro tem sua história marcada por constantes

períodos de decadência que delimitaram um estado de isolamento político e econômico. Contudo,

de acordo com o documento disponibilizado pelo IPHAN, essa condição foi positiva no que

concerne à preservação do patrimônio arquitetônico, que, para o instituto, representa o embrião

da atual civilização brasileira. Ainda, segundo o mesmo documento, aponta-se que o isolamento

também contribuiu para a preservação do patrimônio natural, mesmo considerando que esse

estado condicionou o local à decadência social e à calamidade urbana.

No final do século XIX, a vila é elevada à condição de cidade de Porto Seguro, mas é

somente a partir do século XX, que se inicia o processo de estratificação espacial da cidade, base

da atual organização urbana. A Cidade Baixa torna-se o local de habitação dos comerciantes, que

começam a concentrar a renda gerada no local, ficando a Cidade Alta para a classe dos

funcionários públicos e pessoas pertencentes a classes econômicas menos favorecidas. Contudo,

nas primeiras décadas do século passado, a população do município de Porto Seguro encontrava-

se em condições precárias de sobrevivência, com sobrados arriscando desabar, falta de querosene

utilizado na iluminação, entre outros fatos que implicavam no esvaziamento do tecido urbano.

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Esses aspectos comportavam-se tanto como conseqüências quanto resultantes da pouca

movimentação econômica do local.

Somente a partir da segunda metade do século XX, inicia-se o processo de

movimentação social responsável pelo delineamento de sua mais importante e lucrativa

atividade econômica até então, a atividade turística. Tal movimentação inicia-se a partir de

1954 com as obras de construção da BR 101, que possibilitando a ampliação do fluxo de

pessoas, de bens e de informações faz emergir uma nova fase na história daquele primeiro

porto. Até a edificação da estrada, esse fluxo era constituído basicamente por comerciantes

ambulantes, trabalhadores rurais e pescadores, que, em sua maioria, ainda praticavam a

cultura de subsistência.

Em 1973, o Ministério das Comunicações, gerido por Mário Andreazza, reconhece o

potencial turístico de Porto Seguro e institui uma campanha de divulgação do município como

um dos principais pólos turísticos do país, cujos atrativos eram a beleza natural e a riqueza da sua

história, instituída como ‘berço da civilização brasileira’. Campanha que, pode-se dizer,

oficializa a delimitação do imaginário turístico local a partir da carta de Caminha. Desde então, o

município começa a se desenvolver economicamente, tornado-se um importante centro receptivo

cada vez mais dinâmico tendo atual complexidade social fomentada a partir da década de 1990.

No período de 1990 a 2000, Porto Seguro passa por profundas transformações em sua

dinâmica cultural, em que se observam, por um lado, melhorias na sua infra-estrutura urbana e

nas condições de vida da população e, por outro, a emergência de uma série de conflitos

socioeconômicos decorrentes das diferenças de interesses entre grupos que compõem a dinâmica

e a identidade do local.

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De acordo com dados do Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo

Sustentável na Costa do Descobrimento – PDITSCD – (2001), elaborado pela Prodetur e

pela Bahiatursa, na década de 1990, aponta-se um crescimento relativo de 78,1% na

geração de empregos diretos e indiretos na Costa do Descobrimento, concentrados, a sua

maioria, no município de Porto Seguro. Segundo o plano, 73,6% dos estabelecimentos

comerciais e de serviços da Costa do Descobrimento estão concentrados no município, o que

demonstra a sua importância para a economia da região, proporcionando benefícios em

termos de geração de renda, empregos, arrecadação de impostos e atração de novos

investimentos.

Na década de 1990, o município obteve bons resultados com relação à circulação de

capital e à sua estruturação urbana. Conforme o PDITSCD (2001), Porto Seguro

apresentou, na década de 1999, o 17º (décimo sétimo) maior Índice de Desenvolvimento

Econômico do Estado, sendo o 22º município com o maior Produto Interno Bruto – PIB.

Esses resultados, praticamente, devem-se aos investimentos realizados para dar suporte à

atividade turística, incluídos investimentos em meios de hospedagem, em restaurantes e em

parques temáticos e demais empresas de entretenimento.

De 1994 a 2000, o número dos meios de hospedagem (pousadas e hotéis dos tipos A,

B e C e aqueles não enquadrados na categorização)18, passou do total de 354 para 502,

ampliando de 4.635 para 10.204 o total de unidades habitacionais, e de 14.540 para 31.438 o

número de leitos no município. A cidade também tem o maior número de bares e

restaurantes da região (209), apresenta o maior número de prestadores de serviços de

18 Os meios de hospedagem distribuídos nos tipos A e B, segundo a Bahiatursa, são aqueles que oferecem maiores opções de instalação e equipamentos para o conforto do hóspede (restaurantes, bar piscina estacionamento...). Os considerados tipo C e não enquadrados, oferecem o mínimo de instalações.

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entretenimento, cerca de 20 (vinte), considerando parques temáticos, boates, cabanas,

museus, além da preservação das edificações históricas, que, de fato, se constitui como um

dos principais fatores de atração turística. Na cidade de Porto Seguro, estão localizadas três

das cinco agências de viagem da região, além do centro de convenções, o aeroporto

internacional, seis agências bancarias (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica

Federal, Itaú, HSBC e Real), que dão suporte a toda Costa do Descobrimento.

Junto a essas empresas, constata-se a utilização de tecnologias digitais na

operacionalização das ações cotidianas e turísticas, delineando o caráter ‘ciber’ da cidade. Os

bancos de auto-atendimento, os sistemas digitais de segurança, os ‘cybercafes’, os hotéis

inteligentes, que operam a partir de sistemas de controle digitais, os adesivos de operadores de

cartões de créditos e de cheques eletrônicos estampados nas vitrines das lojas sinalizam que a

cidade apresenta um potencial de operacionalização contemporâneo. Ainda, locais de diversão

como a ‘Tenda Cyber dance Café’, na Cidade Baixa, o centro de informação denominado ‘Guia

Virtual’ na Cidade Alta, além das constantes raves, do visual cyberpunk da juventude local e da

projeção da cidade no ciberespaço comunicam o caráter cibernético do local, de modo que se

pode pensar Porto Seguro como uma potencial ciber-cidade.

Todos esses resultados justificam o rápido crescimento populacional do município na

década de 1990. A população aumentou cerca de 47%, atingindo no ano 2000 um total de 95.665

habitantes, dos quais 83,1% concentraram-se na área urbana, constatando-se a predominância de

jovens com idade abaixo de 35 anos19. Este fato deve-se não somente ao desenvolvimento da

atividade turística, mas também devido à migração da população rural em função da decadência

da agricultura, principalmente, da lavoura cacaueira da região. Com esse movimento migratório,

19Dados constatados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE

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houve um constante aumento do número de bairros no município, dos quais, muitos deles,

caracterizam o processo de favelização. De acordo com o coordenador do setor de cadastramento

da prefeitura municipal, José Emanuel Simões, há atualmente na sede do município 31 (trinta e

um) bairros dos quais oito correspondem à classe média, nove, à classe média baixa, sete

constituem a classe baixa e seis bairros podem ser classificados como sendo de classe média alta.

Como aponta o presidente do Conselho Regional de Turismo da Costa do

Descobrimento, Laércio Gomes da Silva, esse movimento migratório em direção à cidade de

Porto Seguro, geralmente, em busca de emprego e de melhores condições de vida,

desencadeou uma série de fatores que tornam a organização social cada vez mais complexa

e carente de medidas públicas voltadas para a amenização das suas problemáticas.

Com a fama de que Porto Seguro era um Eldorado, as pessoas começaram a vir para cá, principalmente pessoas de baixa renda. Com a administração criminosa de ex-prefeitos de quatro em quatro anos, nasce uma sub-cidade em Porto Seguro. Nós temos um crescimento médio maior de 10% ao ano, um dos maiores do Brasil. Veja que nós não temos emprego para isso, devido a sazonalidade da nossa economia. Nós não apostamos na indústria. Como falam ‘os verdes’ a indústria vai poluir, eles não acreditam em indústrias não poluentes. Como Ilhéus fez. Nessa parte, Ilhéus deu uns passos, com o campo de informática. Mas errou porque começou a comprar produtos prontos e virou só carcaça, como é na Zona Franca de Manaus. Se ela apostasse nas indústrias de informática e incentivasse indústrias de software e hardware, ela ganhava dinheiro, ali se planejava, ali se produzia... mas mesmo assim conseguiu bastante emprego. Não é como aqui que só é turismo, turismo, turismo. A padaria, o mercado, a lavanderia, tudo esperando pelo setor. Então inchou a cidade, mas houve benefícios para a população? Todo esse inchaço causa um grave problema para o setor turístico e para a população nativa. Essa especulação em torno do turismo não melhora em nada a vida do pequeno empresário (SILVA, Laércio Gomes. Presidente do Conselho Regional de Turismo da Costa do Descobrimento Em entrevista na segunda etapa da pesquisa de campo).

Por conta desse inchaço populacional, observam-se processos de favelização, pressão

nos serviços de saneamento; aumento do volume de água consumida que se acentua nos

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períodos de alta temporada entre os problemas que caracterizam a atual estrutura social da

cidade de Porto Seguro. Além desses fatores, percebe-se, através dos números apresentados

pelo PDITSCD (2001), que os centros médicos e hospitalares não são suficientes para

atender à demanda populacional muito menos à turística (2 Centros de Saúde, 10 Postos de

Saúde, apenas 1 hospital conveniado ao SUS e um total de 15 leitos contratados).

Também se observa que o número de unidades escolares é pouco para propor

educação com qualidade aos moradores. Além do número reduzido de escolas, Laércio

Silva, aponta que a falta de orientações sobre turismo nas escolas tem contribuído para a

formação de profissionais sem a devida preparação para atuar junto à atividade turística.

“Somos uma cidade turística e não temos turismo nas escolas públicas. Noções de turismo, de

cidadania... não temos”, relata o presidente. De acordo com o disposto no site20 da Secretaria

de Educação do Estado da Bahia existem no município, um total 106 escolas que oferecem o

ensino fundamental (quatro particulares, três estaduais e 99 escolas da rede municipal) e

apenas oito escolas oferecem o ensino médio (seis estaduais e duas particulares). Assim,

observa-se a dificuldade de concluir o ensino médio e ter acesso ao curso universitário,

embora existam universidades particulares próximas ao local (nos municípios de Santa

Cruz Cabrália e de Eunápolis), e um campus da Universidade Estadual da Bahia, no

município de Eunápolis.

Assim sendo, pode-se inferir que as poucas possibilidades de educação e qualificação

profissional, a quantidade rarefeita de unidades hospitalares, o processo de favelização e a

problemática na administração pública, como informou Laércio G. da Silva, tudo isso

associado a um desenvolvimento econômico desordenado que cada vez mais amplia os

20 www.sec.ba.gov.br

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conflitos sociais, contribuiu, no final da década de 1990, para a classificação do município

como o 165º (centésimo sexagésimo quinto) em Índice de Desenvolvimento Social – IDS – da

Bahia. Dado que aponta para necessidade de medidas voltadas para melhor organização do

setor.

Partindo do princípio de que “morar na cidade visa elucidar as práticas culturais de

usuários da cidade no espaço do seu bairro” (DE CERTEAU, 2003, p. 37), admite-se que essa

categorização do IDS pode melhor ser compreendida através do confronto entre as estruturas

organizacionais dos bairros do Baianão, o mais popular do município, e o bairro Paraíso Pataxós,

localizado em uma área nobre. O bairro é um espaço dinâmico no qual a sua complexidade está

atrelada às ações cotidianas dos cidadãos que, por sua vez, delineiam as suas urgências enquanto

usuários da cidade. Assim sendo, pode-se perceber (Box 1.1 e 1.2), através do estudo sobre os

bairros estipulados, códigos e situações de diferentes grupos culturais, que fomentam a dinâmica

da cidade, podendo estes comunicar as divergências organizacionais, nas quais se observam

fatores representativos desse baixo índice de desenvolvimento social.

Box 1.1. Bairro Paraíso Pataxós:

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Box 1.2. Bairro Baianão:

Situado no litoral Norte, em frente à praia de Itaperapuã, o Paraíso Pataxós é um dos bairros que gozam dos melhores serviços públicos do município. Sinalização adequada para o tráfego de transportes, boa iluminação, coletores de lixo nas residências, são, entre outros, fatores que contribuem para a sua melhor organização. O bairro é puramente residencial, ficando suas ruas quase sempre vazias. Os moradores são, em sua maioria, empresários do turismo oriundos de outras regiões do Brasil ou de outros países.

Fotografias Moabe Breno

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A comparação entre a organização dos bairros, portanto, possibilita a percepção de

que vigora no município um processo de má distribuição de renda, característica do

capitalismo, que pode culminar em várias outras problemáticas sociais já mencionadas.

Esses conflitos também situam Porto Seguro no âmbito global das cidades capitalistas.

Afinal, as divergências entre classes caracterizam a racionalização típica do processo de

reprodução do capital, na qual a circulação dos lucros vai privilegiar uma classe ao passo

que põe em uma situação menos privilegiada outras. Nesse contexto, pode-se incitar a

emergência dos processos de integração perversa, superexploração, exclusão social e

individualização do trabalho, estudados anteriormente.

Com Roedel (1999) é possível compreender que esses conflitos promovem a

redefinição de comportamentos culturais, culminando na formação de blocos econômicos e

sociais que definem representatividades locais. Nesse sentido, aponta-se que, em escala

municipal, as associações de moradores e de profissionais ligados ao turismo, os sindicatos

dos trabalhadores e as lutas por direitos iguais fomentam uma nova dinâmica social, na

O Baianão é o mais populoso bairro do município, e talvez, por isso o mais complexo. Em suas ruas, comércio e moradia misturam-se, compondo a dinâmica local. Afastado do centro da cidade, o bairro é povoado, em sua maioria por nativos, que, em geral, constituem a mão-de-obra barata do setor turístico ou tem como fonte de renda pequenos negócios no próprio bairro. A própria organização do Baianão já indica a complexidade social em que está circunscrito. De um lado, ruas pavimentadas com casas que apresentam bom estado de conservação. De outro, ruas sem a mínima infra-estrutura comportam casas que denunciam a situação de pobreza e de isolamento em que vive a maioria da população.

Fotografias Moabe Breno

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qual se nota que a população está, de certo modo, atenta às exigências da atualidade. A

esses fatores, acrescenta-se que há, por parte da população, uma busca por especialização e

melhores capacitações profissionais, podendo estas ser notificadas a partir da emergência

de cursos de idiomas e de informática no município, a partir de meados dá década de 1990.

Pode-se dizer, contudo, que Porto Seguro comporta-se como um centro regional,

atento às transformações mundiais. A essa observância, acrescenta-se o fato de que o

imaginário turístico sobre o município é o principal responsável pela atração de

empresários no setor para a Costa do Descobrimento, evidenciando dados registrados no

PDITSCD (2001). Assim sendo, compreende-se que Porto Seguro comporta-se como

referência socioeconômica da Costa do Descobrimento e que através da afirmação de um

cosmopolitismo, a partir da atividade turística, tem delimitado o seu patrimônio cultural

como um patrimônio comum para a sociedade brasileira (e talvez mundial), afinal, existe

uma identificação do turista com o município enquanto produto turístico, que pode ser

comprovado a partir do crescimento contínuo do índice de visitação no local durante a

década de 1990. Pode-se considerar, entretanto, que essa interdependência também está

presente no imaginário das pessoas que migraram para o município nesta década,

vislumbrando novas possibilidades de vida, e que constituem o atual tecido urbano do local.

Pode-se inferir, portanto, que a cidade é um sistema integrado, onde seus elementos

interagem para a formação de um todo, com significado próprio, que pode ser

compreendida fora de suas fronteiras, a partir da identificação e reconhecimento dos seus

elementos. Trata-se de uma unidade formada pela interação de aspectos políticos,

econômicos, sociais, históricos e naturais para a delimitação de características que se

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evidenciam pelas atividades desenvolvidas no âmbito local e que podem se proliferar por

vários outros campos, a partir de sua própria organização.

Nesse sentido, observa-se que a cidade é um sistema concebido pela busca da qualidade

de vida que toma forma própria à medida que se vão definido suas funções e especificando suas

atribuições e valores a partir das concepções de sua população e de sua significância frente à

região e ao Estado do qual faz parte. Por essa perspectiva, Lemos (2001) as concebe como uma

produção do homem para a promoção da vida em comum, de modo que sua organização pode

fomentar três aspectos importantes à sua identificação, a saber, o aspecto cósmico, o prático e o

orgânico.

O aspecto cósmico permite o entendimento da idéia que o local venha a desempenhar,

considerando a estruturação dos seus traçados que funcionam como representações culturais,

através das quais pode-se identificar o ‘senso do local’, usando o termo de Horan (2000),

delimitando fatos históricos e práticas contemporâneas fomentadas na cidade, apresentando e

comunicando a função que o lugar desempenhe. Desse modo, pode-se dizer, que as formas

arquitetônicas assim como as paisagens naturais podem sinalizar comportamentos possíveis de

realizarem nos locais, de modo que empresários e o próprio turista possam identificar as

atividades desenvolvidas em um dado espaço.

Um ambiente construído comporta diferentes maneiras de análises do significado da organização espacial, mediante a correlação com os símbolos, signos, materiais, cores e formas de paisagem, ou seja, a análise por meio dos aspectos icônicos do ambiente. Dessa forma, o significado do espaço deve representar um sistema, indicador da situação espacial, concebido por base nas relações entre elementos e pessoas que se interagem. Os princípios que regem essa relação usuário/ambiente ocorrem dentro dos diversos aspectos de organização social, cultural, econômica e política (MINANI 1996, p. 118).

Assim, em Porto Seguro, evidencia-se a possibilidade de se realizar o turismo ecológico, a

partir da sua riqueza ambiental, prática turística que caracteriza o ócio criativo (DE MASI, 2000)

a partir da preservação do patrimônio material na Cidade Alta, no Quadrado, em Trancoso, nas

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tribos indígenas e na Passarela do Álcool e mesmo em outros locais que ainda não estão inseridos

nos roteiros de turismo do local. Constata-se, na rua do Mucugê, no Arraial d’Ajuda, e em praias

mais distantes da movimentação massiva, geralmente entre Trancoso e Caraíva, o fomento a

práticas sociais a partir da disseminação da ciberarte e da ciber-moda (objeto de estudo do

próximo tópico). Fomenta-se também o turismo de eventos pelos investimentos em espaços

adequados à realização de shows e eventos de qualificação profissional ou de negócios. Ainda,

cogita-se no município o turismo de lazer, considerando a diversidade de praias e o clima tropical

bem como a potencialidade receptiva e festiva da cidade que se observa na constituição das

cabanas, restaurantes e espaços públicos projetados para acolher o maior número possível de

pessoas no ritmo das músicas e danças contemporâneas.

O outro aspecto da cidade – o prático – vai compreender os espaços habitados, onde são

desenvolvidas as relações comerciais e a dinâmica local. Nesse caso, evidencia-se o

desenvolvimento material voltado para a consumação e a circulação do capital. Assim sendo,

aponta-se que a dinâmica do centro da cidade e toda a movimentação e especulação em torno da

atividade turística, permitem a percepção do aspecto prático de Porto Seguro. O turismo provoca

uma transferência de recursos de uma região para outra por meio da movimentação de pessoas

que viajam em busca da satisfação de suas necessidades. O efeito econômico é o mesmo das

exportações, que resulta no ingresso da moeda internacional no país, porém é peculiar da

economia turística o deslocamento do consumidor até o local produtor, caracterizando o que

Oliveira (2000, p.49) define como “exportação invisível de bens e serviços”. Esses produtos

disponibilizam-se na forma de passeios, traslados, hospedagens, alimentação, ingressos, compras,

entre outros serviços característicos do local.

Nesse sentido, por oferecer tantos atrativos e produtos turísticos, a cidade de Porto Seguro

deve se preparar para receber e acolher pessoas com gostos e condições econômicas os mais

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diversos possíveis. Afinal, a lógica econômica do setor é oferecer ao consumidor a maior gama

de produtos e serviços disponibilizados nas mais possíveis formas de pagamento, de modo a

ampliar constantemente o fluxo de capitais no local. Pode-se apontar que o município já opera

segundo critérios da Nova Economia, considerando o gerenciamento de informações direcionadas

aos seus segmentos, a partir da projeção de empresas turísticas no ciberespaço e a partir da

utilização de TICs como cartões de crédito e cheques eletrônicos. Essas especializações são

importantes para garantir o fluxo de informações entre os atuantes diretamente ligados ao setor

(empresários e turistas), potencializando a sua funcionabilidade, já que essas ‘informações

mercantis’, como denomina Beyers (2000), vão antecipar a relação entre o turista e a cidade.

Considerando os aspectos cósmicos e práticos, entende-se que a cidade turística, tanto

comporta-se como um espaço de fluxo, afinal há um constante fluxo de pessoas de capitais e de

informações, quanto como um espaço de lugar, uma vez que a cidade tem dinâmica e

complexidade própria, que ultrapassam as características delimitadas pela atividade turística.

Estas (dinâmica e complexidade) podem ser percebidas pela constituição dos seus bairros que

definem uma organização racional, caracterizando uma produção cultural glocal.

Nesse sentido, pode-se pensar a cidade turística como um corpo sistêmico ou um sujeito

universal (DE CERTEAU, 1999), que a partir de uma movimentação específica tem garantida a

sua funcionabilidade. Desse modo, evidencia-se o caráter orgânico da cidade, ou seja a

movimentação que a torna peculiar e permite a emergência da totalidade de ações que compõem

a sua dinâmica e, em conseqüência, a sua identidade cultural. A cidade turística, portanto, ao

reunir os aspectos cósmico e prático, acaba por constituir-se como um composto – uma mistura

de estilos, de sensações e de realizações – através do qual pode-se perceber a sua

funcionabilidade, a sua organicidade, ou seja, a sua vida própria. Por essa acepção, compreende-

se cidade turística como um ‘composto orgânico turístico’. Para tanto, considera-se que o

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imaginário sobre o local, a totalidade das empresas e ações voltadas para a prestação de serviços

turístico bem como as concepções do nativo sobre a cidade (que será evidenciada no tópico 3.2.2)

devem sinalizar uma conjuntura socioeconômica que tem como eixo principal a atividade

turística.

Essa concepção da cidade enquanto composto orgânico turístico pode contribuir para a

potencialização da atividade, uma vez que a partir dessa compreensão pode-se melhor planejar os

tipos de turismo praticados no local. Nesse sentido, evidencia-se que “quando se trata de planejar

ações derivadas de qualquer agrupamento humano, deve-se compreender toda a complexidade

dessa abordagem, e aceitar que o planejamento deve corresponder às expectativas da sociedade

como um todo” (DIAS, 2003, p.88). Portanto, a tomada de decisões referentes à estruturação dos

segmentos turísticos deve ser entendida muito mais como uma forma organizativa delimitada a

partir de aspectos sociais e econômicos vigentes na sociedade bem como a partir do imaginário

sobre o local, considerando, evidentemente, as peculiaridades dos grupos culturais que

dinamizam os segmentos, constituindo as comunidades turísticas.

Desse modo, a cidade turística deve ser notificada a partir da organização dos seus

aspectos potencializados de modo a produzir a identidade do local e das formas como a cidade

possibilita emergir os fluxos que a caracterizam. A identidade, contudo, deve fluir das ações que

fomentam a dinâmica da cidade e não, apenas, de produções imagéticas de um espaço construído

para o consumo, afinal, está-se pensando a cidade como um composto orgânico, por isso “quanto

mais houver interações sociais, mais se propiciará a diversidade que dialeticamente levará à

realização de existências humanas mais ricas” (CARVALHO, 1996, p.100).

Assim sendo, aponta-se que essa concepção implica no entrelaçamento dos aspectos que

caracterizam a produção do senso do local, incluindo nessa perspectiva, a produção de espaços e

ações que espetacularizam a cultura, propondo, muitas vezes, aos visitantes apenas uma falsa

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experimentação do espaço. Afinal, deve-se ressaltar que em um espetáculo, a cidade e turista

tornam-se, respectivamente, atração e público passivos, entregues às manipulações, produzindo e

desfrutando apenas o ilusório em um processo que se pode chamar de ‘alienação coletiva’.

Porém, é importante compreender como Debord (1997) que esse processo de espetacularização

da cultura também compõe a dinâmica do local.

Ao andar por ruas e estradas do município de Porto Seguro, não é difícil deparar-se com

pessoas vestidas com acessórios indígenas, vendendo objetos artesanais. Essa prática, em sua

maioria, representa uma teatralização da figura do índio, não correspondendo ao cotidiano atual

desse grupo étnico. Aliás, muitas dessas ‘figuras ilustrativas’ não compartilham das mesmas

perspectivas do grupo. Outro aspecto alienador pode ser constado na Cidade Alta, onde jovens

guias turísticos, muitas vezes reconstroem a história do local (sem as devidas especializações e

credenciamentos) para os turistas, cobrando altos valores pelo serviço.

Essas práticas representam a constituição de um processo de especulação, por parte dos

nativos, que, de algum modo, estão ávidos para explorarem os turistas, prática, que para muitos,

constitui-se em uma forma de sobrevivência. Segundo a visão de De Certeau (2003), pode-se

apontar que essas práticas constituem-se como acontecimentos-armadilhas ou lapsos da

visibilidade, reintroduzindo e reproduzindo as opacidades da história. Pode-se, entretanto,

reconhecer que essas práticas sociais denunciam aspectos malditos da organização pública, na

qual, pode-se inferir, considerando o depoimento do representante do Conselho Regional de

Desenvolvimento Turístico da Costa do Descobrimento, que não existe uma atuação política

voltada para a inserção dos grupos culturais menos favorecidos economicamente junto ao setor.

Contudo, admite-se que a produção artificial do lugar dificulta a estratificação da essência

do local, na medida em se oferecem apenas mercadorias para serem consumidas de forma

mecânica, limitando o produto turístico à mesma dimensão de qualquer um outro produto

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industrial. A partir dessa limitação (um limite cultural) pode-se estar contribuindo para a

unificação das várias possibilidades de ações turísticas, uma vez que tudo passa a ser cogitado

apenas para a venda, atribuindo à cidade a condição de um parque de diversão qualquer. Por essa

razão, pensa-se que cidade turística deve, então, ser organizada dentro de um modelo que engloba

a originalidade, a simplicidade das ações e a autenticidade, garantindo a sua vida própria.

Portanto, compreende-se a cidade turística como um sistema orgânico, que, ao mesmo

tempo é prático, por dispor-se e facilitar o consumo, e cósmico, por apresentar aspectos que

despertam o interesse das pessoas em suas instalações, paisagens e ações, de modo a envolve-las

como um ‘composto orgânico vivo’, que tem uma dinâmica própria e funcional, através do

desenvolvimento de técnicas e espaços viabilizadores da constância dos fluxos de capital, de

informações e de pessoas.

Compreende-se que a constância desses fluxos vai contribuir, segundo a visão de Hall

(2003), para o processo de mutação da identidade dos destinos, promovendo o contínuo

surgimento de novas ações turísticas. Assim, evidencia-se que novas práticas econômicas e

sociais estão sendo cogitadas em espaços turísticos a partir das transformações mundiais

propostas pela cibercultura. Por essa acepção, no próximo tópico, será edificado um estudo da

atual cultura turística fomentada pela cibercultura no município de Porto Seguro, considerando

elementos que compõem o imaginário sobre o local e práticas que caracterizam expressões

culturais das tribos contemporâneas.

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2.2.3. A movimentação turística fomentada pela cibercultura

Grupos de marinheiros saídos direto do porto, turistas solitários nervosos à caça dos prazeres não listados nos guias, figurões do Sprawl exibindo enxertos e implantes, e uma dúzia de diferentes, espécies de achacadores, todos enxameando a rua numa intricada dança do desejo e do comércio. (GIBSON, Willian. Neuromancer. 3 ed. São Paulo: Aleph, 2003)

A citação acima pode constituir-se como uma representação de práticas turísticas

contemporâneas, contribuindo para o entendimento de como a cibercultura está interferindo na

dinâmica das localidades globalizadas, corroborando para a edificação de novas estruturas

socioeconômicas. A literatura de Willian Gibson, aponta Jameson (1997), representa uma

inusitada realidade da ficção científica em um tempo em que predominavam as produções orais e

visuais. Difundindo o universo cyberpunk, a obra do ficcionista constitui-se como uma expressão

das atualidades das corporações multinacionais e da própria dinâmica global, mostrando as

possíveis transformações do social.

Por essa perspectiva, busca-se ratificar a idéia apresentada no primeiro tópico deste

capítulo, que aponta para um contínuo surgimento de novas práticas culturais, a partir do

desenvolvimento tecnológico, que desencadeiam códigos, formatos, padrões, pensamentos e

atitudes que caracterizam um local em um tempo. Portanto, pode-se dizer que esta nova

atmosfera ‘cyber...’ contribui para a redefinição dos sentidos da cidade, interferindo,

conseqüentemente, nas atividades em que trocas socioeconômicas estejam em jogo, como a

turística. Assim, notifica-se ressignificações e reconfigurações das ações e dos lugares a partir

dos usos de tecnologias digitais, que põem a atividade em uma esfera cibernética, fomentando

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uma conjuntura turística em que se observa a associação das novas tecnologias às entidades

envolvidas na atividade, possibilitando a emergência de um ‘turismo cibernético’ – o turismo da

cibercultura.

Essa definição, contudo, não busca ressaltar uma nova modalidade de turismo (um novo

segmento) muito menos inferir a idéia de um determinismo tecnológico junto à atividade

turística, apenas, indica que existe a apropriação de aspectos característicos da cibercultura pelo

setor, capazes de potencializar ações já vivenciadas nas localidades. Assim, observam-se, em

Porto Seguro, agilizações em operações comerciais, maior controle e padronização das ações em

hotéis e aperfeiçoamento nos sistemas de seguranças dos empreendimentos. Além desses fatores,

pode-se dizer que a produção e consumação da ciber-moda e da ciberarte no destino intensificam

os seus aspectos festivos, ratificando a idéia de local da permissividade e de libertação.

Esses aspectos colocam o turismo em uma esfera cibernética constatada a partir de

edificações que se comportam como digital places, da estética dos locais que comunicam o uso

de tecnologias digitais e da predominância das chamadas ‘áreas liberadas’ nos distritos de

Trancoso e, principalmente, Arraial d’Ajuda, evidenciando, a estética e posicionamentos de

turistas que freqüentam esses espaços. Ainda, corroboram para essa constatação, as promoções

das festas raves, o designing dos flyers das festas locais, além de aqueles fatores que caracterizam

o destino como uma potencial ciber-cidade, como já se evidenciou. Assim, ao longo da pesquisa

de campo, descrita no tópico anterior, foram observadas e fotografadas ações turísticas, que

fomentam a emergência da cibercultura junto à atividade.

Os cybercafes, os bancos de auto-atendimento, o centro de informação chamado Guia

Virtual, na Cidade Alta, um espaço ressignificado, o espaço de entretenimento e comunicação

denominado ‘Tenda Cyber dance café’ indicam a edificação de digital places (Horan, 2000) no

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local e sua utilização pelo setor turístico, como demonstrado nas ilustrações que se seguem (Box.

1.1; 1.2; 1.3 e 1.4).

Box 1.1: Cybercafes

Box. 1.2: Bancos de auto-atendimento 24 horas

Tornou-se incontável o número de cybercafes no município. No período de alta estação, na cidade de Porto Seguro e nos distritos do Arraial d’Ajuda e em Trancoso, o funcionamento desses empreendimentos inicia por volta das 9h00, quando os turistas começam a circular, ficando abertos, geralmente, até a meia noite, em Porto Seguro, e muitas vezes perduram a madrugada, nos distritos. Principalmente os turistas de outros países utilizam esses serviços, cujo valor varia de R$ 0,08 a R$ 0,15 o minuto.

Durante a pesquisa, foram identificados oito postos de auto-atendimento bancário no centro da cidade de Porto Seguro (Bradesco (2), Itaú (2), Real, Banco do Brasil, HSBC e um Banco integrado 24 horas), três no aeroporto internacional (B. Brasil, Bradesco e C. Econômica) e dois postos no distrito de Arraial d’Ajuda (Cx. Econômica e Banco do Brasil), e um em Trancoso (Banco do Brasil) os únicos de toda a Costa do Descobrimento. Os horários de maior movimento nestes locais, são no início da manhã e no início da noite.

Fotografia Moabe Breno: Cybercafe em Porto Seguro Fotografia Moabe Breno: Cybercafe em Arraial d’Ajuda

Fotografias Moabe Breno: Posto de auto-atendimento em Porto Seguro

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Box 1.3: Guia Virtual

Box 1.4: A Tenda Cyber Dance Café

Em meio à arquitetura colonial do centro histórico, na Cidade Alta, no final do percurso delimitado pelos guias locais, há a devida adaptação da história à contemporaneidade. O guia virtual, um espaço ressignificado, é um local onde o turista tem acesso a um hipertexto virtual, contendo características e algumas informações turísticas sobre a Costa do Descobrimento. Este conteúdo é vendido em CD, que recebe o mesmo nome do local, pelo valor de R$ 25,00. O conteúdo do CD vale-se de caracterização de aspectos históricos da Costa do Desc., além de enumeração dos atrativos e produtos turísticos, propagando o imaginário da carta de Caminha. Também estão enumerados na mídia hotéis, pousadas e restaurantes.

No espaço de uma edificação antiga reconfigurada e ressignificada, A Tenda cyber Dance Cafe é um local multiuso, situado na Cidade de Porto Seguro. Funciona tanto como cybercafe quanto como boate, que toca apenas ritmos digitais como trance, house e tecno. Foi inaugurada no verão de 2004. A perspectiva do proprietário, um clubber paulista que mora há 15 anos no município, era atender ao grupo de turistas que, segundo ele, cada vez mais busca por rimos eletrônicos no local.

Fotografia Moabe Breno.

Fotografia Moabe Breno. O empreendimento e, ao lado, o proprietário.

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Outro fator que situa o turismo na esfera cibernética é a fixação de adesivos de operadoras

de cartões de crédito e de cheques eletrônicos nas vitrines e paredes das lojas da Passarela do

Álcool (fig. 2), o que contribui para a edificação de uma nova paisagem urbana.

Box 2: Passarela do Álcool

Pode-se dizer que essa paisagem urbana constitui uma nova estética para o local,

sinalizando operacionalizações econômicas através das tecnologias digitais, completando, desse

modo, a ambiência turística. Para Richard (2001), a estética comporta-se como um fator tradutor

e comunicador das ações e pensamentos produzidos em um local. Assim, pode-se compreender

que essa paisagem, que pode, muitas vezes, agredir aos padrões de beleza e as concepções

A Passarela do Álcool é o local de maior concentração de lojas para a venda de artefatos locais e de restaurantes da Costa do Descobrimento. A movimentação maior da avenida tem início no final da tarde, quando os turistas estão voltando das suas atividades diurnas, até à meia noite, quando começam as festas nos centros de entretenimento noturnos. Em quase todos os estabelecimentos da avenida, os adesivos das operadoras de crédito competem com os produtos oferecidos e com os traçados da arquitetura colonial. Ainda configurando os usos das tecnologias digitais, na avenida, inúmeros vendedores ambulantes, em suas barracas, oferecem aos turistas CDs e DVDs (piratas) de músicas e danças difundidas no local.

Fotografia Moabe Breno.

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estilísticas do observador, sinaliza a potencialização de operacionalizações comerciais do destino,

a partir da cibercultura, podendo representar o que Maffesoli (1998) define como um ‘espírito de

tempo’.

Nesse sentido, aponta-se que essa apresentação física possibilita a percepção da

potencialidade tecnológica do local. Esta, em sinergia com a arte e com a arquitetura urbana,

redefinem os significados locais e dinamizam a atividade turística, estimulando,

conseqüentemente, uma (re)organização socioeconômica.

Pode-se pensar que este seja o caso da estética que garante, desde então, a sinergia social, a convergência das ações, das vontades, que permite um equilíbrio, mesmo que conflitual, dos mais sólidos. Os historiadores mostram que a arte stricto sensu pôde representar esse papel em inúmeras civilizações; pode-se imaginar que a vida cotidiana enquanto obra de arte possa também representá-lo hoje em dia (MAFFESOLI, 1996, p. 32).

Assim sendo, sem entrar na esfera do belo, admite-se que essas superposições de adesivos

bem como os outros espaços evidenciados neste trabalho comunicam uma reconfiguração das

ações a partir das tecnologias cibernéticas, definindo uma nova forma de pensar e encarar a

movimentação econômica junto à atividade turística, promovendo a inclusão do local no processo

de evolução tecnológica por que passa o mundo, o que contribui para ratificar a idéia de que

Porto Seguro comporta-se como cidade global da Costa do Descobrimento, apresentando caráter

glocal. Contudo, entendendo que muitos desses espaços analisados, em especial a Passarela do

Álcool, correspondem a áreas tombadas pelo IPHAN, comportando-se como espaços de

preservação da cultura nacional, admite-se que estas novas configurações e significações

apresentam-se dotadas de um certo grau de complexidade.

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Por um lado, não se pode impedir comerciantes de comunicarem a potencialidade

tecnológica de seus empreendimentos somente para atender a questões estéticas anteriores

ao tempo contemporâneo. Em contrapartida, a paisagem urbana não deve estar submetida

aos interesses de uma entidade componente do trade turístico, afinal, fazendo uma analogia

a Maffesoli (1998), o marketing turístico não justifica essas loucuras dos empresários

estivais.

A sociologia dos usos visa assim entender o modo pelo qual usamos os objetos técnicos no quotidiano, descrevendo uma perspectiva que flutua entre a etnometodologia e a psicologia. Talvez seja mais apropriado falar em astúcia dos usos, já que esse termo, mais aberto ao imprevisto, escapa à idéia de ‘lógica’, como sustenta Perriault. Sabemos, com De Certeau, como os usuários inventam o quotidiano, como eles investem conteúdos simbólicos, imprimindo seus traços na mais banal ação do dia-a-dia. Não há uma lógica, mas antes uma dialógica complexa (Morin) entre os objetos, os usos e as obrigações funcionais destes mesmos objetos. (LEMOS, 2002, p. 259)

Assim sendo, entende-se que essas apropriações sinalizam tanto a utilização dos recursos

tecnológicos quanto representam as finalidades e funções contemporâneas do patrimônio

histórico. Pode-se dizer, entretanto, que a superposição de adesivos representa as expectativas de

os empresários locais aumentarem seus rendimentos a partir da atividade turística, afinal, essas

comunicações também podem ser interpretados como ‘convites à compra’ a partir das novas

possibilidades de pagamento.

Considerando essas possíveis expectativas dos nativos e empresários locais de

potencializarem as trocas econômicas a partir do turismo, pode-se admitir que essas

transformações na paisagem urbana são fatores que ocorrem naturalmente no local, contribuindo

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para a peculiaridade da nova formação cultural. Assim, o que se está evidenciando é que, por

meio dessas transformações, percebe-se que a cidade de Porto Seguro está passando, mais uma

vez, por um momento de metamorfoses tecnológicas, iniciando, agora, um período que combina a

alta tecnologia aos espaços sociais, comunicando uma nova atmosfera do espaço, representada

por uma estética arquitetônica funcional assemelhando-se àquela apresentada por Gibson em seu

Neuromancer. Portanto, essa estética, longe de representar apenas uma ânsia capitalista, indica

um paradigma high tech da contemporaneidade, mostrando uma relação estreita entre a dinâmica

da atividade turística e as tecnologias digitais, fomentando a apropriação do imaginário da

cibercultura junto à atividade.

O imaginário da cibercultura aponta para a liberdade de expressão e para a popularização

da informação, através de fatores (realidade virtual, música eletrônica, imagens de síntese,

manipulações digitais...) que exprimem o “espírito transgressor, desviante e apropriador,

chegando à sua disseminação pelo corpo social, atingindo, mesmo indiretamente, todas as

pessoas que têm acesso às novas tecnologias” (LEMOS, 2002, p.258). Nesse sentido, observa-se

que as perspectivas delimitadas pelo imaginário da cibercultura encontram no imaginário sobre

Porto Seguro espaço ideal para se alastrar, possibilitando a emergência de novas práticas junto à

atividade turística, estimulando, desse modo, a produção e o consumo das novas tecnologias.

Panfletos de empreendimentos do circuito ‘Porto Nignt’, uma seqüência de cabanas na

beira da praia que oferecem a cada dia uma programação específica, assim como outras casas

noturnas comunicam diretamente manifestações da ciberarte. Por um lado, observa-se que o tipo

de letreiro utilizado faz parte do universo cyberpunk, assemelhando-se ao descrito por Gibson

(2003) – geralmente com maiúsculas retorcidas que imitam japonês impresso – no seu clássico

literário Neuromancer. Por outro lado, o destaque para os ritmos eletrônicos evidencia a absorção

da ciberarte junto às festividades locais (Ver Box. 3.1.).

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Box 3.1: Panfletos de festividades noturnas

Pode-se dizer que o imaginário da cibercultura associado ao imaginário sobre Porto

Seguro está propondo novas experimentações no local. Através da sinergia entre as imagens que

compõem esses imaginários, alguns espaços turísticos estão sendo formatados como centros

receptivos das tribos do underground, possibilitando, assim a efervescência de uma nova

comunidade turística no local. Nesse caso, deve-se ressaltar os distritos do Arraial d’Ajuda, de

Trancoso e de Caraíva.

Esse novo imaginário – um imaginário sinérgico – pode ser percebido em reportagens de

jornais de circulação estadual e nacional, que divulgam os distritos como espaços propícios à

associação do ‘clima legalize’ e da música alucinante da cibercultura à natureza exótica do

município. Desse modo, pode-se descrever esses espaços, conforme a obra ficcional de Gibson,

Esses são dois flyers representativos dos processos comunicacionais utilizados na divulgação das festividades. Nesses dois exemplos pode ser percebida a presença do imaginário cyberpunk seja através do letreiro, seja na comunicação dos ritmos.

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como uma ‘arcologia21 turística’, associando a arquitetura e a natureza a manifestações

comportamentais e artísticas características da cibercultura, corroborando para a formação de um

novo senso do local, e, ampliando a noção do que se está denominado turismo cibernético.

A reportagem ‘Arraial e Trancoso: para badalar’, da editoria de turismo do Jornal do

Brasil, de 20 de julho de 2002, delimita as localidades como destinos freqüentados pelos

‘moderninhos’, (termo referente aos adeptos da ciber-moda). Em meio à adjetivação das praias

como ‘badaladas’, ‘lindas’ e ‘deslumbrantes’, a reportagem destaca “as conhecidas raves, festas

eletrônicas que chegam a durar uma semana” como parte da programação dos locais que, como

sinalizado pelo impresso, correspondem a “marco de gente bonita e descolada”.

Com essa mesma perspectiva, a reportagem ‘Quatro séculos de Arraial d’Ajuda’, de 14

de agosto de 2002, da editoria de turismo do jornal, À Tarde, descreve o destino, apontando que

“o clima da vila é descontraído. Nas ruas, hippies convivem harmoniosamente com turistas que

procuram conforto”. Em outra reportagem, ‘Rumo à estação Caraíva’, de 24 de janeiro de 2003,

o mesmo jornal, após descrever o distrito como local de águas mansas, límpidas e piscinas

naturais, constituindo “uma da mais belas paisagens do litoral baiano” aponta que “no final da

tarde, jovens como colares de índio, ‘dread looks’, e clima legalize” se reúnem para olhar o pôr-

do-sol, preparando-se para, em conseguinte, aproveitar a agitação noturna.

Esse aspecto pode melhor ser percebido através do depoimento de turistas que freqüentam

o local. Os depoimentos foram coletados na segunda etapa da pesquisa de campo, descrita no

tópico anterior. Foram entrevistados ao todo dez turistas, dos quais apenas quatro deixaram-se

fotografar e dois outros não permitiram, na íntegra, a reprodução de suas percepções. Como as

21 Conforme a descrição de Gibson, arcologia refere-se a grandes cidades contidas num único edifício. O nome, surgido da junção das palavras arquitetura e ecologia, foi cunhado pelo arquiteto italiano, radicado nos EUA Paolo Soleri (1919), no final da década de 1960, para descrever seu conceito sobre novas cidades planejadas. Está-se aqui fazendo uma apropriação do termo para propor uma ratificação da idéia de turismo cibernético.

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entrevistas foram realizadas durante as raves, não foi utilizado o recurso gravador, sendo as

respostas anotadas.

O método utilizado foi o intencional não probabilístico por julgamento, cujo critério de

seleção dos entrevistados deu-se a partir do visual que caracteriza a ciber-moda. Para tanto,

partiu-se do princípio de que a estética possibilita emergir formas de socialidade, que, ampliando

a idéia de Maffesoli (1998), pode-se dizer com Lemos (2003), representa a multiplicidade de

experiências coletivas baseadas no ambiente imaginário, passional, erótico e violento do

cotidiano dos homens. Nesse sentido, admite-se que a estética apresenta-se como um elo entre

membros de comunidades, que, por compartilharem de gostos e valores similares ou

convergentes, produzem então a identidade do grupo que se forma.

Foram propostas apenas duas questões aos entrevistados. Primeiro, pediu-se para

descreverem o local, em seguida perguntou-se sobre a utilização da internet, partindo do

pressuposto de que o imaginário da cibercultura envolve ações contínuas na rede mundial. A

partir das respostas referentes à primeira questão, pôde-se constatar a legitimação do imaginário

sinérgico, que se está evidenciando, sobre os distritos de Arraial e de Trancoso bem como a

forma natural com que os adeptos daquela comunidade turística convivem com a alteridade e

buscam saciar os seus desejos de interação e de descontração nesses destinos.

O empresário gaúcho, de 38 anos, descreve o Arraial e Trancoso como ambientes

ideais para fugir da sua rotina, contextualizando a idéia desenvolvida anteriormente, no

tópico 2.1.3.

Eu venho aqui há 15 anos. Vou vir sempre. Adoro viajar, porque trabalho com antiquários, mas aqui eu venho descansar. Aqui é lindo. As pessoas são descontraídas e descoladas, são bonitas. São livres, não é? Isso é muito bom, quando venho aqui é porque estou cheio da minha cidade, aí eu venho ser livre... fico entre Trancoso e o Arraial, é tudo muito bom.

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O cabeleireiro mineiro de 36 anos, que esteve no município pela primeira narrou seu

encantamento com o local, mostrando-se tranqüilo como a diferença:

Arraial e Trancoso estão entre os melhores lugares que eu conheço. Aqui na Bahia, não tem igual. Tudo é muito bonito. Esses bares todos incrementados dão uma idéia de modernidade, mas ao mesmo tempo nos remetem ao passado do país, principalmente aqui no Quadrado. Eu achei fantástico esse lugar. Meus amigos vieram aqui no ano passado e ficaram maravilhados com o local, com tudo. Eu só acho que é tudo muito caro aqui e as pessoas usam muita droga por aqui. Eu não gosto, mas não me importo, cada um faz o que quer de sua vida. Eu prefiro curtir a natureza... não tem igual.

Para o turista da Nova Zelândia (32 anos):

Aqui (Arraial d’Ajuda) é muito bom. Aqui e em Trancoso. Aqui eu posso ouvir trance, a música do meu país. Tem praias bonitas e pessoas bonitas também e não tem muita gente, como em Salvador. É muito bom. Eu venho ano sim, ano não, com meus amigos. Amanhã eu vou para Trancoso, para a rave na praia.

A jornalista paulista, de 26 anos, relata:

Eu estou um pouco decepcionada com o local. Eu achava que aqui era mais louco, mas não é muito. As raves não duram mais três dias como me falaram, acabam 10h00, 11h00 da manhã, eu gosto de ficar sem parar, mas mesmo assim eu estou gostando. Aqui é muito bonito, já estou aqui há um mês e vou ficar todo o verão. Aqui tem um clima de ‘cybercultura’, eu gosto, parece um pouco com a noite paulista, só que na praia.

O empresário mineiro de 29 anos, aponta ao mesmo tempo a tranqüilidade e a agitação

que, paradoxalmente, caracterizam o local. Em seu depoimento também se observa uma ênfase

ao multiculturalismo.

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Loucura. Isso aqui é muito louco cara, é muito doido mesmo. Eu venho de Miami todo ano. Passo Natal em Minas com minha família e depois venho para cá. Venho ver o mar, além disso, eu gosto das raves e da mistura que rola por aqui. Tudo fica misturado, todas as tribos, todos os gostos, todas as pessoas. Eu ‘acendo unzinho’ na praia, tranqüilo, à noite. Relaxo e depois curto a ‘night’ numa boa, até de manhã... Dou um mergulho e vou para o hotel descansar.

De acordo com os depoimentos acima, é importante atentar para dois fatos evidenciados

no tópico 2.1.3.. Pelo depoimento do empresário gaúcho bem como do cabeleireiro e do

empresário mineiros, observa-se a fuga dos seus respectivos cotidianos para enquadrarem-se

temporariamente em uma nova ambiência, onde possam interagir com pessoas que compartilham

de suas mesmas perspectivas em um espaço diferente daquele do seu convívio. Destaca-se desse

modo, a busca de interações que caracterizam o processo de socialidade, o que corrobora para a

compreensão do que neste trabalho, está-se denominando comunidade turística. Outro fator que

amplia essa compreensão está contido no depoimento do turista da Nova Zelândia e no da

jornalista paulista. Pode-se perceber, nestes dois casos, a busca de vivenciar ações semelhantes

àquelas experiênciadas em seus locais de origem, caracterizando, também, a tentativa de

encontrar manifestações culturais que correspondam às suas. Assim, ratifica-se a idéia de que,

para um determinado grupo de turista, estar em outro local que não o seu de residência, já é em

si, uma forma de vivenciar a alteridade.

Além dessas necessidades de liberdade e de interação, característica desse grupo turístico

que se está identificando, é importante ressaltar a estética da ciber-moda como um aspecto

indicador de integrantes desse grupo do underground, responsável pela sua coesão. Assim, por

trás do visual extravagante e exótico dessa tribo, que permite associar vários tipos de acessórios,

roupas de material sintético com cores destoantes, piercings, tatoos, parece estar implícita a

aceitação do outro em sua estética e conteúdo cultural bem como a busca de novos estilos de vida

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e de apresentação física para uma possível adaptação. O que pode ser constado a partir do visual

e do depoimento de outros entrevistados durante a pesquisa (Box 4.1, 4.2; 4.3).

Box 4.1:. Designer, de 34 anos, paulista

Box 4.2: O clubber alemão (27 anos) exalta a qualidade da música eletrônica local

Eu gosto muito desse lugar. Eu posso ouvir e dançar tecno, house, trence... a verdadeira música eletrônica. Aqui toca a música que toca na ‘Parada Love’ em Berlim, que é a verdadeira música eletrônica, a música de Goa, na Índia, onde tudo começou. Já tem quatro anos que eu venho aqui com meus amigos e vou voltar todo ano.

Arraial e Trancoso são meus lugares preferidos. Não é como Porto Seguro. Aqui eu posso usar minha moda fashion, que ninguém se importa. Aliás aqui todo mundo é fashion, por isso eu exagero, eu adoro aparecer, eu adoro cores... eu adoro isso aqui. É muito ‘louco mesmo’. Eu adoro dançar e conhecer pessoas diferentes, e aqui eu posso interagir com muita gente diferente e de vários lugares diferentes.

Fotografia Moabe Breno

Fotografia Moabe Breno

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Box 4.3: O estudante mineiro (25 anos) fala da liberdade e da permissividade:

Pelos depoimentos e estética dos entrevistados, pode-se legitimar a predominância do

imaginário da cibercultura junto à atividade turística local. Esse imaginário pode também ser

identificado nos dispositivos tecno-sociais que podem ser observados junto ao designing

arrojado da maioria dos bares e restaurantes do Arraial d’Ajuda e de Trancoso que reúne

materiais sintéticos, luzes de néon, combinando muitas cores em pinturas surrealistas. Nesses

ambientes, punks, clubbers, membros do GLBT, hippies, além de outros adeptos da contra-

cultura constituem a maioria dos turistas, contribuindo para a promoção de uma verdadeira

mistura e associação de estilos de vida, cujas expressões ratificam esses locais como uma

‘arcologia turística’, onde estão associadas alta tecnologia, drogas (evidenciando as sintéticas) e

erotismo. Assim, com fundamento em Castells (1999b), pode-se considerar esses destinos como

‘áreas liberadas’, que, por sua vez, constituem-se como ambientes ideais para as manifestações

éticas e estéticas em que se observam gêneros próprios da cibercultura.

Entretanto, a produção e consumação dos ritmos eletrônicos, talvez seja o aspecto que

melhor caracteriza o Arraial e Trancoso como espaços onde se observa o imaginário da

O Arraial é tudo de bom. Belas praias, pessoas legais e bonitas e as festas são alucinantes, eu curto raves. Sem falar que aqui a gente pode fazer o que quiser que ninguém importa. Ninguém está preocupado com o que estamos fazendo, como estamos vestidos, nem como nos comportamos. É a primeira vez que venho ao Arraial e vou voltar todo ano.

Fotografia Moabe Breno

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cibercultura. A música tecno é tocada na maioria dos bares desses locais, atraindo, como o

clubber alemão, da amostragem, vários adeptos desse estilo, promovendo, e, ao mesmo tempo

exemplificando, novas formas de se tecer o laço cultural na contemporaneidade. Para tanto,

considera-se com Lévy (1999, p. 143), que a música tecno constitui a forma dinâmica “que define

a essência da cibercultura”, acrescentando, nesse sentido, que as festas raves constituem-se como

um nexo para a consolidação dessa ‘comunidade turística underground’.

Através das raves, pode-se perceber junto a essa comunidade, uma condição auto-

organizadora, delimitando esses destinos turísticos a partir de peculiaridades culturais que

apontam para a edificação de um sistema social aberto, caracterizado por uma forma de dupla

polaridade, que, de certo modo, evidencia, por negar, as interações e ações que caracterizam

processos de sociabilidade, escancarando, muitas vezes, questões sociais que as administrações

públicas tentam sucumbir.

Entende-se melhor, nessas condições, porque as raves, que no fim das contas certamente não oferecem mais tóxicos que as boates, e, de qualquer maneira, fazem menos mortos que as saídas das festas de sábado à noite, tenham parecido tão perigosos aos políticos. Nelas, o transe, ‘os produtos’, a violência são integrados à festa e não deixados na porta (MAFFESOLI, 2004, p. 36).

Assim sendo, pode-se dizer que a ambiência das raves, geralmente afastada dos espaços

massivos e por se caracterizar, principalmente, pela falta de delimitações de todo tipo, põe em

questionamento os códigos racionais da tecnocracia, assinalando problemáticas sociais oriundas

das repressões dessa forma de dominação. Ao mesmo tempo, apresentam novas alternativas de

interação que podem caracterizar processos de socialidade, desmoronado barreiras políticas,

ideológicas, profissionais ou mesmo cultuais. Assim, evidencia-se junto as raves, um movimento

ou uma efervescência social, que, por apropriação aos estudos de Maffesoli (2001) sobre o

nomadismo, pode-se dizer que permitem aos turistas vivenciarem coletivamente experiências

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culturais da contemporaneidade, acentuando ainda mais a idéia de ‘flanerie comunitária’

desenvolvida anteriormente.

Evidencia-se também uma prática cultural contemporânea voltada para a consumação. A

festa, as drogas, o sexo, e quaisquer outros excessos podem ser pagos nesses destinos turísticos,

e, a um custo alto, como ressaltou o cabeleireiro mineiro entrevistado. Assim, pode-se consolidar

a idéia da ‘flanerie burguesa temporária e comunitária’ e destacar, nesse sentido, uma nova

complexidade social no local, considerando, como já sinalizadas, implicações socioeconômicas

que se edificam a partir da inserção de tecnologias nos centros receptivos.

Assim sendo, ao considerar que o município de Porto Seguro tem uma dinâmica própria, é

preciso situar que junto às manifestações estéticas e artísticas características da cibercultura,

observa-se também uma série de conflitos, que, embora anteceda a inserção das tecnologias

cibernéticas nas ações locais, estão se proliferando com os usos não planejados dessas mesmas

tecnologias.

Aspectos que caracterizam problemáticas sociais contemporâneas no local podem ser

identificados através da reportagem ‘Porto Seguro pretende criar novas opções para turistas’ de

21 de maio de 2002 no jornal À Tarde. A matéria relata sobre o 1º Encontro Empresarial de

Porto Seguro, reunindo mais de trezentas pessoas que destacaram a necessidade de se ‘reiventar’

o destino turístico Costa do Descobrimento a partir de novas opções de lazer, maior valorização

das manifestações populares bem como melhores estratégias políticas junto às questões de

segurança, saúde, limpeza e informação.

As várias categorias representadas no encontro evidenciaram problemas e perspectivas. Domingos Carvalho, representante dos pescadores, disse que as tecnologias antigas e a falta de uma escola de pesca prejudicam a classe. Renato Borges denunciou a concorrência desleal feita aos corretores imobiliários regularmente credenciados. Para os produtores rurais, Pedro Vitório solicitou

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passeios para que os turistas possam conhecer as roças onde se produzem os alimentos consumidos na cidade. O vice-presidente da Associação Comercial, Rogério Cardoso, cobrou uma informação mais pontual por parte do poder público e uma redução na quantidade de ambulantes. ‘Nunca temos dados oficiais sobre a saúde e segurança, as calçadas são ocupadas por barracas e nas praias o assédio dos ambulantes aos turistas chegou a níveis insuportáveis’. O presidente do Conselho Regional de Turismo, Wilson Spagnol, fez um apelo para uma ação mais direta por parte da comunidade. ‘Precisamos saber quem está dentro do barco’. (Jornal À Tarde, Editoria Municípios, caderno 4, 21/05/02)

Assim, observam-se processos que, como destaca Castells (1999b), estão condicionando a

era da informação a perplexidades. A corrida dos ambulantes em busca de turistas pode

caracterizar o processo de individualização do trabalho; a concorrência desleal pode culminar na

superexploração dos trabalhadores. Ainda pode-se dizer que a falta de técnicas modernas para a

pescaria, caracteriza o processo de exclusão social (e acrescentando a exclusão digital),

considerando que ricos grupos, geralmente nacionais ou multinacionais operam, no município, a

partir dos benefícios proporcionados pela cibercultura.

Nesse sentido, ainda ressaltando o processo de exclusão social, considera-se que a

emergência dos chamados hotéis inteligentes tem contribuído para a falência de pequenos

empresários da rede hoteleira local, afinal, além de oferecer serviços mais confortáveis aos

turistas, podem agilizar seus negócios pelo ciberespaço e saírem na frente da concorrência,

mostrando e oferecendo seus serviços diretamente na casa do consumidor, caracterizando práticas

referentes à Nova Economia.

Ratificando esse processo de exclusão social e apontando o processo de exclusão digital, o

presidente do Conselho Regional de Turismo da Costa do Descobrimento, Laércio Gomes da

Silva aponta que o município é carente de mão-de-obra especializada para atuar a partir dessas

novas tecnologias do ciberespaço.

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Os grandes e médios hotéis são informatizados, fazem negócios via internet, compram não somente os insumos, pagam contas, e oferecem serviços, mas a mão de obra aqui ainda é desqualificada, por isso eu digo que o povo vive entre o abismo e o céu. Falta educação digital. Existem cursos caríssimos, para poucos. Nós estamos preparando os funcionários da Secretaria de Turismo. É uma ação exclusiva. Não temos previsão de promover esses cursos para a comunidade, mesmo porque toda a problemática política dessa gestão, não possibilita uma continuidade de ações. Mas na gestão anterior não tinha o pensamento de modernização. (SILVA, Laércio Gomes. Presidente do Conselho Regional de Desenvolvimento de Turismo da Costa do Descobrimento, em entrevista para esta pesquisa)

Contudo, em hotéis que oferecem serviços pela internet ocorrem algumas situações

imprevisíveis, que o mesmo presidente (na entrevista concedida para este trabalho de pesquisa)

aponta também como conseqüência da falta de educação digital.

Hoje, por exemplo, eu estou com uma reclamação de um indivíduo que fez uma reserva pela internet no hotel e não teve mais contato, quando chegou teve um ‘over book’ ele está sem quarto. Também tive notícias de uma operadora que fez a reserva e não pagou e só hoje abril sua caixa e percebeu um e-mail frio de que ele tinha sido transferido para outro hotel. (SILVA, Laércio Gomes. Presidente do Conselho Regional de Desenvolvimento de Turismo da Costa do Descobrimento, em entrevista para esta pesquisa)

De certo modo, essas ocorrências podem representar uma falta de credibilidade para com

as ações on-line. Por um outro lado, pode-se pensar nas projeções dessas empresas no

ciberespaço, como estruturas mal organizadas, nas quais o navegador (internauta) não dispõe de

formas comunicativas claras nem precisas junto à solicitação on-line de serviços. Assim sendo,

partindo do princípio de que comunicação e transportes constituem-se como pilares do

desenvolvimento das cidades turísticas surge a necessidade de se evidenciar um estudo sobre as

projeções de Porto Seguro no ciberespaço, compreendendo que essas extensões da cidade

completam o sentido do que se está chamando ‘turismo cibernético’.

Além dessa observância, foi constatado junto aos entrevistados que a internet pode tornar-

se um potencial meio de atração para turistas, afinal todos eles informaram estar conectados

freqüentemente, quando questionados sobre seus usos da rede mundial. Nesse sentido, pode-se

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pensar esse ciberespaço como um ambiente ideal para a ampliação de relações entre turistas,

fomentando a constituição de ‘comunidades turísticas virtuais’. As comunidades virtuais, na

visão de Lévy (1999), formam-se a partir de afinidades de interesses e de conhecimentos e de um

processo de trocas e de cooperações que se dão em um ambiente no ciberespaço.

Assim, nos capítulos seguintes, será apresentando um estudo mais detalhado sobre

processos comunicacionais on-line, enfatizando as possíveis contribuições desse ciberespaço para

a potencialização da atividade turística. Após um estudo sobre a interferência da comunicação na

dinâmica dos locais, serão realizadas análises de sites referentes ao município de Porto Seguro,

observando como estão projetados o imaginário turístico e aspectos que compõem o cotidiano do

local bem como a disponibilização dos serviços on-line. Por fim, será apresentada uma indicação

de como a cidade virtual pode potencializar as ações turísticas e contribuir para a melhor

organização da cidade no espaço físico, preocupando-se com perspectivas de moradores locais.

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3. PARTE II:

O MUNDO DIGITALIZADO E SEUS IMPACTOS NAS CULTURAS LOCAIS

Criar meu web site, fazer minha home-page. Com quantos gigabytes se faz uma jangada, um barco que veleje que veleje nesse informa, que aproveite a vazante da informaré, que leve um oriki do meu velho orixá ao porto de um disquete de um micro em Taipe. Um barco que veleje nesse informar, que aproveite a vazante da informaré, que leve meu e-mail até Calcutá depois de Hot-link, num site de Helsinque para abastecer. Eu quero entrar na rede, promover um debate, juntar via internet um grupo de tietes de Connecticut. De Connecticut acessar o chefe de Macmilícia de Milão, um hacker mafioso acaba de solta, um vírus para atacar programas no Japão. Eu quero entrar na rede pra conhecer os lares do Nepal, os bares do Gapão, que o chefe da polícia carioca avisa pelo célula, que lá na praça Onze tem um videopôquer para se jogar. (GIL, Giberto. Pela internt. http://vagalume.uol.com.br/letra/g/gilberto-gil/pela-internet.html, Acesso em 17 de outubro de 2004)

Interação, comércio, serviços e várias outras ações estão sendo cogitadas pela internet, o

mais veloz e dinâmico meio de comunicação da contemporaneidade. As ações on-line, cada vez

têm tomado lugar no cotidiano das localidades, provocando verdadeiras mudanças na vida e nas

concepções das pessoas. Portanto, nesta parte da dissertação, será traçado um estudo de como têm

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se comportado as representações comunicacionais de Porto Seguro no ciberespaço da internet

bem como as perspectivas sociais sobre a utilização deste meio.

No capítulo 3, intitulado ‘A cidade do ciberespaço’, serão apresentado conceitos e

características de Cidades Virtuais, envolvendo estudos sobre Comunicação Social. Em seguida,

será proporcionado um debate associando estudos teóricos sobre a interação entre governos,

empresas e cidadãos na rede, envolvendo aspectos considerados importantes tanto para a

dinamização e potencialização da atividade quanto para a melhor organização da comunidade

local. Por fim, será demonstrada uma análise de mediações on-line do município de Porto Seguro,

observando a presença dos aspectos estudados.

Já no capítulo 4, ‘Navegar é preciso. Viver é preciso também’, cujo título, evidentemente,

corresponde a uma remissão ao poeta Luis de Camões do século XVI, será apresentado um

estudo sobre a percepção de segmentos populacionais locais sobre cibercultura. Considerando

que a cultura do local caracteriza-se também pela mistura de etnias, serão apresentadas as

perspectivas de índios Pataxós sobre a internet, evidenciando quais as expectativas desse grupo

cultural sobre o meio, a partir da enumeração das principais problemáticas que estes enfrentam

atualmente. Será apresentada também a percepção de nativos sobre a internet, delimitando por

amostragem estudantes universitários e do terceiro ano do ensino médio.

Também se está evidenciando uma acepção de como a internet pode ser usada para propor

benéficos à sociedade local, a partir da sugestão de um modelo de cidade virtual, onde se possa

contemplar expectativas, intenções e interesses das entidades envolvidas na prática turística,

através da edificação de um processo comunicacional ético. Contudo, deve-se ressaltar que os

estudos sobre a população e etnicidade são apenas ilustrativos não tendo a pretensão de

estabelecer uma abordagem teórica. Mas esta noção é importante para que a proposta de

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edificação da cidade virtual não corresponda a uma ação característica da tecnocracia, na qual um

olhar externo define as soluções para um dado grupo cultural.

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3.3 A CIDADE DO CIBERESPAÇO

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3.3.1. A bipolaridade da comunicação, a internet e a potencialização da atividade turística Sigo o anúncio e vejo em forma de desejo o sabonete/ Em forma de sorvete acordo e durmo na televisão/ Creme dental, saúde, vivo num sorriso o paraíso/ Quase que jogado, impulsionado no comercial/ Só tomava chá/ Quase que forçado vou tomar café/ Ligo o aparelho vejo o Rei Pelé/ Vamos então repetir o gol/ E na rua sou mais um cosmonauta patrocinador/ Chego atrasado, perco o meu amor/ Mais um anúncio sensacional. (ALENCAR, Edison & MATHEUS, Hélio Comunicação In: http://elis-regina.letras.terra.com.br/letras/45671/ Acesso em 04 de janeiro de 2005 ).

Eletro-doméstico, eletro-Brasil, eletro selvagem, futuro que ninguém. Efeito colateral de quem precisa sair numa boa. Vem aí um baile movido a novas fontes de energia. Chacina, política e mídia. Bem perto da casa que eu vivia. (FALCÃO & YUCA, Marcelo. Eletro-doméstico. In: Daniela Mercury. Disco Eletro-domético, 2003)

As epígrafes sugerem uma discussão fundamentada pela perspectiva de McLuhan (1964)

sobre as alterações na dinâmica social a partir de processos comunicacionais mediatizados por

dispositivos técnicos. Embora a ênfase do primeiro texto seja a televisão, pode-se, por

analogia, estabelecer uma relação direta deste com a interferência da internet nas ações diárias,

afinal a essência da canção procura enumerar transformações na vida cotidiana a partir do

meio de comunicação. Nesse sentido, a segunda epígrafe traz um conteúdo mais abrangente,

apontando para a idéia dos eletrodomésticos como ‘narcóticos sociais’, destacando as

transmissões mediáticas como fator promotor da complexidade social assim como a política e

as chacinas.

Faz-se importante salientar que, embora se admita com McLuhan a interferência dos meios de

comunicação na sociedade, há uma discordância quanto à forma como o autor entende essa

interferência. McLuhan (1964, p. 23) observa que “o meio é a mensagem porque é o meio que

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configura e controla a proporção e a forma das ações e associações humanas”. Para o autor, o

conteúdo dos meios de comunicação embora diversos, são ineficazes na estruturação das

maneiras como os cidadãos se associam. Assim, a interação humana, a partir da comunicação

mediada por dispositivos técnicos, estaria dependente da forma como os cidadãos entendem

apenas o meio e não o conteúdo veiculado. Nesse sentido, distanciando-se de uma visão

menos interativa do receptor, o estudioso defende a idéia de que o conteúdo do meio “nos

cega para a natureza desse mesmo meio” (MCLUHAN, 1964, p. 23).

Contudo, ao limitar a característica do meio à sua natureza, o autor está negando a

popularização dos meios de comunicação e as várias oportunidades de interação a partir de

conteúdos específicos veiculados. Assim, a percepção de Mcluhan não engloba, por exemplo,

as interações pela internet ou de TV por assinatura, na qual o usuário é quem escolhe e

delimita o conteúdo, através do qual dá-se o processo de comunicação e interações humanas.

E, por essa lógica, a abordagem do autor parece também negar as peculiaridades dos grupos

culturais, e, com elas, a capacidade de decodificação dos cidadãos.

De acordo com Barbero (2001), as decodificações das mensagens estão vinculadas aos

aspectos culturais e à capacidade de os cidadãos receptores construírem seus discursos sejam

eles legitimando o conteúdo exposto, sejam eles contra-argumentando a abordagem

apresentada. E, nesse sentido, observa-se que o conteúdo transmitido também coopera para a

organização humana e, justamente por esse aspecto, existe uma diversidade de conteúdos

oferecidos pelos meios de comunicação, voltados para atender às mais diversas expectativas.

Considera-se, portanto, que as várias atividades da comunicação mediada, como jornalismo,

entretenimento, publicidade e propaganda, admitem linguagens específicas de acordo com as

características do veículo (televisão, rádio, impressos, internet). Do mesmo modo, admite-se

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que cada veículo tem peculiaridades operacionais que acostumam seus públicos a suas

técnicas de produção e de transmissão de mensagens. Ou seja, o suporte e seu conteúdo

cooperaram para a produção da mensagem. Assim, observa-se que um meio de comunicação

não anula o outro, ao contrário, pode-se dizer que quanto maior a incidência de médias em um

local, mais direcionada tende a ser a comunicação, considerando a potencialidade conotativa

de signos e as especificidades das diversas linguagens mediáticas.

Segundo Bordenave (2002), esse enorme potencial conotativo dos signos e as possíveis

variações nas estruturas da mensagem, associados ao dinamismo social, contribuem para que a

comunicação mediada seja caracterizada como um processo de muitas facetas, provocando

efeitos os mais diversos possíveis, muitas vezes inesperados, junto às organizações e aos

grupos culturais. Nesse sentido, a formação de massa social, a delimitação e a propagação de

imaginários bem como a padronização das ações são, entre outros, fatos que estão vinculados

às transmissões mediáticas, dependentes da ideologia, do alcance e do poder de

penetrabilidade do meio de comunicação.

Também estão atribuídas aos médias a veiculação de informações e a prestação de serviços à

comunidade bem como entretenimento e possibilidades de ampliar os processos de interações

sociais que podem contribuir para o fortalecimento de laços comunitários. Logo, os

fragmentos das canções usadas como epígrafe constituem-se como convites a questionamentos

de como os meios de comunicação podem potencializar funções e aspectos de uma localidade

e propor novas práticas sociais, como bem foi enfatizado no capítulo anterior, sempre

associado aos meios de transportes.

Diga-se, aliás, que não por acaso os antigos gregos reuniam em uma única entidade o deus Hermes, os atributos de comunicação (poder falar e convencer,

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persuadir) e os do comércio. Hermes é o mensageiro dos deuses e aquele que zela pelas estradas e viajantes, bem como o patrono dos oradores, escritores e mercadores. Transportes de mercadorias e falar bem eram vistas como atividades correlatas, uma vez que não bastava simplesmente transportar as mercadorias, pois era preciso negociá-las com outros povos, os quais é preciso saber encontrar, abordar (contactar), persuadir. Comunicação e transporte vêem-se assim originalmente associados na atividade do comércio. (MARTINO, 2002, p. 18-19)

Por este princípio, deve-se atentar para o fato de que a partir de instituições sociais, como

o comércio, surge a necessidade de se organizarem os processos comunicacionais para melhor

balizar o encontro com o estranho, com o estrangeiro e com a alteridade em práticas conscientes e

racionais, orientadas para determinado fim, de onde se pode extrair que a mente e a personalidade

interferem na experiência social através dos processos comunicacionais. Nesse sentido,

Bordenave (2002) entende que as entidades sociais (indivíduo, família, grupos culturais...)

formam-se também a partir da comunicação, cuja função principal seria promover o elo social,

contribuindo para a formação de uma identidade.

È importante salientar para o fato de que antes que a mensagem possa ter um efeito,

satisfaça necessidades, ou tenha um uso deve primeiro ser compreendida como um discurso

significativo para, em seguida, ser passível de uma suposta decodificação. Como Hall pontua

(2003, p.390), “é esse conjunto de significados decodificados que ‘tem um efeito’ influencia,

entretém, instruí ou persuade, com conseqüências perceptivas, cognitivas, emocionais,

ideológicas ou comportamentais muito complexas”. Existe uma relação de equivalência

estabelecida entre as posições de personificações – codificador-produtor e decodificador-produtor

– que estabelece graus diferentes de compreensão na troca comunicativa. Essa observância

equivale ao fato de que a comunicação mediada não se comporta como um aspecto independente

junto às transformações sociais, ou à indução de comportamentos.

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Suas mensagens, explícitas ou subliminares, são trabalhadas, processadas por indivíduos localizados em contextos sociais específicos, dessa forma modificando o efeito pretendido pela mensagem. Mas a mídia, em particular a mídia audiovisual de nossa cultura, representa de fato o material básico de processos de comunicação. Vivemos em um ambiente de mídia, e a maior parte de nossos estímulos simbólicos vem dos meios de comunicação. (CASTELLS, 1999a p. 360-361)

Nesse sentido, pode-se conceber que as mediações podem tanto propor práticas

promotoras da socialidade, quanto imputar aos processos comunicacionais, o caráter de

instrumentos a serviço do ‘exercício dos controles’. Assim sendo, ao se comportar como uma

estratégia de poder, compreende-se que essas mediações corroboram, em grande escala, para a

constituição das relações de sociabilidade, a partir de uma certa delimitação da opinião pública,

contribuindo fortemente para a edificação de grupos culturais com identidade legitimadora. Mas,

evidentemente, é a própria média uma das grandes responsáveis pela união e consolidação de

grupos com identidades de resistência e de projeto. Portanto, de qualquer modo, a comunicação,

pontua Bordenave (2002), constitui-se como técnicas intermediárias das relações sociais.

Ao se considerar a totalidade de aspectos que estão envoltos na construção das

identidades locais, pode-se dizer que há uma relação de reciprocidade e de complementação entre

a comunicação mediatizada e a complexidade social. Relação esta que contribui para o

ininterrupto processo de reconfiguração e de ressignificação dos lugares e das ações, uma vez que

os processos comunicativos comportam-se, a partir das revoluções industriais, como estratégias

de inserção do indivíduo na coletividade. Portanto, conforme, Hall (2003), existe uma

interdependência entre os processos de comunicação e a dinâmica social na qual os grupos se

alimentam das trocas de informação para continuamente (re)construírem seus modos de vida,

redefinindo as identidades culturais, afinal, essas informações possibilitam aos indivíduos

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constantes ‘atualizações’,que exprimem, como já foi evidenciado no tópico 2.2.1, apenas

recortes da complexidade social.

Esses recortes podem ampliar os horizontes da percepção do social, redefinindo as

estruturas organizacionais dos grupos culturais tanto a partir da legitimação dos mecanismos de

controle, quanto favorecendo o surgimento dos grupos com identidades de resistência e de

projeto, considerando, neste caso, a capacidade de os cidadãos construirem um discurso contra-

hegemônico a partir da atividade de decodificação, ou seja, da forma como os cidadãos entendem

as informações (BARBERO, 2001). É, nesse sentido, que se aponta o movimento contínuo entre

médias e grupos culturais, consolidando a estreita relação de complementação entre essas

entidades.

Canclini (1998) observa que a urbanização predominante nas sociedades contemporâneas

está entrelaçada à serialização e ao anonimato das produções sociais reestruturadas pelos médias,

que contribuem para a modificação dos vínculos entre o público e o privado. Ainda com essa

perspectiva, o autor pontua que a comunicação mediada pode por em sintonia, pensamentos de

pessoas que habitam centros distantes e com culturas diferentes, como moradores dos centros

urbanos e dos centros rurais. As manifestações populares, as intenções políticas, as novidades da

moda, o aumento dos preços, os congestionamentos das ruas, as experiências comuns da vida

urbana têm sua ressonância a partir das transmissões mediáticas. Ao mesmo tempo em que os

médias atribuem sentidos à esfera pública, é esse espaço que fornece a matéria prima, que, por

sua vez, garante a funcionabilidade dos meios. É essa a complementação que subordina a história

e os acontecimentos públicos a construções imagéticas de longa duração, como se pôde observar

junto à propagação e à legitimação de um imaginário.

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A cultura urbana é reestruturada ao ceder o protagonismo do espaço público às tecnologias eletrônicas. Como quase tudo na cidade ‘acontece ´porque a mídia diz e como parece ocorrer como a mídia quer’ acentua-se à mediatização social, o peso das encenações, as ações políticas se constituem enquanto imagens da política. Daí que Eliseo Verón afirma, de forma radical, que participar é hoje relacionar-se com uma ‘democracia audiovisual’ na qual o real é produzido pelas imagens geradas na mídia. (CANCLINI, 1998, p. 290)

Essa ‘democracia audiovisual’ certamente contribui para o processo de transformação das

informações, entretenimentos, idéias... em mercadorias para serem comercializadas e difundidas

em todo o globo. Programa de rádios, canais de TV, revistas, jornais e sites, cada um em seu

modo particular de penetrabilidade e em sua capacidade de alcance, uns mais outros menos,

atravessam as fronteiras mundiais e põem em conexão quase todos os lugares do mundo ao

mesmo tempo, de modo que as imagens (dialéticas) projetadas tornam-se a forma predominante

de comunicação, de informação e de fabulação.

Os médias cada vez mais condicionam seus públicos a visualizarem simulacros das

localidades, através dos quais pode emergir uma consciência coletiva mundial (de acordo com o

alcance do meio) sobre um determinado lugar, como já pôde ser observado junto à formação do

imaginário turístico sobre Porto Seguro. A difusão e a ampliação dessa consciência coletiva

provoca a desterritorialização e a reterritorialização dos lugares e a reconfiguração das ações.

Assim, ao mesmo tempo, acoplados em redes multimídias universais, os médias constituem a

realidade e a ilusão da aldeia global.

Quando o sistema mundial se põe em movimento e se moderniza, então o mundo começa a parecer uma espécie de aldeia global. Aos poucos, ou de repente, conforme o caso, tudo se articula em um vasto e complexo todo moderno, modernizante, modernizado. E o signo por excelência da modernização parece ser a comunicação, a proliferação e generalização dos meios impressos e eletrônicos de comunicação, articulados em teias multimídia alcançando todo o mundo. (IANNI, 1999, p.119).

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Essa proliferação favorece à formação de uma cultura mundial, que envolve tanto as

produções locais e nacionais quanto as criações diretamente em escala global, o que contribui

para a justificação da acepção do termo ‘glocal’. Pode-se considerar que os médias eletrônicos

constituem-se como poderosos instrumentos a serviço da glocalização, expressando e

fomentando movimentos de integração e de fragmentação, multiculturalismo e hibridismos

culturais bem como conflitos e acomodações do homem em seu grupo cultural e a relação deste

com o mundo. Tudo parece está tomando forma global e, nesse sentido, tomando um caráter

virtual à medida em que as culturas, ao alcance do indivíduo glocalizado, passam, a ser

problematizadas, com seus signos espalhados por essa sociedade mundial em constante formação,

na qual o cidadão é, na maioria das vezes, convertido em consumidor.

Ianni (1999) observa que a base da aldeia global é a informatização e as técnicas

eletrônicas que fomentam as tecnologias da inteligência, às quais atribui-se o poder de

potencializar a transformação dos fatos e das relações humanas em hipertextos. Como observa

Dizard Jr. (2000, p.25) “a internet é o prático caminho para o ciberespaço e, além disso, o

software que vai pegar carona em todas as faixas da nova auto-estrada da informação eletrônica”.

Nesse sentido, pode-se cogitar a potencialização da transmissão de informações e entretenimento

ao homem conectado, envolvendo a tradução das particularidades dos locais globalizados com

uma inigualável capacidade de abrangência de conteúdos.

A inclusão das expressões culturais nesse meio de comunicação apresenta conseqüências

contundentes junto à movimentação social. De um lado, pode enfraquecer o poder das médias

tradicionais e as funções tecnocráticas, ao permitir que mensagens de todo tipo coexistam em um

mesmo espaço, possibilitando ao internauta, um cidadão anônimo, optar por seu conteúdo

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preferido, entrando em sintonia com outros que compartilham das mesmas opções. Por outro,

tem-se a transformação do tempo e do espaço e a desterritorialização dos locais, que se

reintegram nesse ciberespaço por colagens de imagens que sucumbem, muitas vezes, à

diversidade dos sistemas culturais.

No entanto, não quer dizer que haja homogeneização das expressões culturais e domínio completo de códigos por alguns emissores centrais. É precisamente devido à sua diversificação, multimodalidade e versatilidade que o novo sistema de comunicação é capaz de abarcar e integrar todas as formas de expressão, bem como a diversidade de interesses, valores e imaginações, inclusive a expressão de conflitos sociais. Mas o preço a ser pago pela inclusão no sistema é a adaptação a sua lógica, a sua linguagem e a seus pontos de entrada, a sua codificação e decodificação. Por isso é tão importante para os diferentes tipos de efeitos sociais que haja o desenvolvimento de uma rede de comunicação horizontal multimodal do tipo da internet, em vez de um sistema multimídia centralmente distribuído como uma configuração do vídeo sob demanda. (CASTELLS, 1999 a, 396-397)

Assim sendo, ao abranger quase todo o espectro da comunicação humana, pode-se dizer

que a internet constitui-se como um mecanismo capaz de proporcionar às pessoas físicas e às

organizações processos comunicacionais interativos e individualizados que, por sua vez,

fomentam o surgimento das já referidas comunidades virtuais, comportando-se, nesse sentido,

como uma ágora cultural, na qual o cidadão conectado tem ao seu dispor um universo

informacional. Nesse ambiente, as informações encontram-se disponíveis na forma de ícones,

imagens, sons, textos, que, manipulados, compõem a interface do meio, funcionando como

representações ou simulações do mundo físico.

Conforme Lemos (2002), pode-se dizer que a internet é o espaço ideal para a interação do

indivíduo participante do fluxo de informações da contemporaneidade, sendo um ‘rito de

passagem’, que pode ser entendido como o processo de (re)construção das identidades,

imprescindível para os cidadãos da cibercultura. Nesse sentido, admite-se que, ao apresentar uma

essência hipertextual, este ambiente caracteriza-se como um local estratégico para reviver a

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democracia e a disseminação de informações na sociedade por meio das suas ferramentas (fóruns,

chats, e-mails e sites) e características (metamorfose, heterogeneidade, multiplicidade,

exterioridade, topologia e mobilidade dos centros)22.

As ferramentas de conversão e de interação, fóruns, chats e e-mails, favorecem e

potencializam a comunicação pessoal à longa distância (ou mesmo podem reforçar os laços entre

as vizinhanças) e põem, em sinergia, pessoas com os mesmos propósitos e concepções,

fomentando as comunidades virtuais. Nesse sentido, apreende-se que a internet é um terreno

virtual de morada e de fluxos de informações, capaz de ‘interfacear’ os processos de criação e

gravação da informação, de simulação e de comunicação, proporcionando a interação das mais

diversas formas possíveis.

Assim, pode-se ter, conforme a imprensa, o rádio e a TV a comunicação unidirecional, na

qual a mensagem parte de um pólo emissor para vários receptores (através das malas diretas,

correntes de e-mails, e os próprios sites); também se pode ter um processo de comunicação

bidirecional, em que os envolvidos trocam particularmente suas informações, como

proporcionado pelo telefone (e-mails). Mas a grande façanha da internet é a possibilidade de

realizar uma comunicação multidirecional na qual várias pessoas envolvidas podem ser, ao

mesmo tempo, emissores e receptores, o que Lévy (1999) denomina dispositivo todos-todos.

Nesse, grupos, comunidades, cidades... podem constituir progressivamente e de forma

cooperativa um contexto comum.

Em uma conferência eletrônica, por exemplo, os participantes enviam mensagens que podem ser lidas por todos os outros membros da comunidade, e às quais cada um deles pode responder. Os mundos virtuais para diversos participantes, os sistemas para ensino ou trabalho cooperativo, ou até mesmo, em uma escala gigante, a WWW, podem todos ser considerados sistemas de comunicação todos-todos. Mais uma vez, o dispositivo comunicacional independe dos sentidos implicados pela recepção, e também do modo de representação da informação. Insisto nesse ponto, porque são os novos dispositivos informacionais (mundos virtuais, informação em fluxo) e comunicacionais

22 De acordo com Lévy (1998), essas são características do hipertexto, mas como se está considerando a internet como uma ambiente hipertextual, optou-se por apontar, diretamente, essas características como sendo do meio.

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(comunicação todos-todos) que são os maiores portadores de mutações culturais, e não o fato de que se misture o texto, a imagem, e o som, como parece estar subtendido na noção vaga de multimídia. (LÉVY, 1999. p.63)

Nesse sentido, é importante investigar as características da internet, de modo a acentuar

teoricamente a especificidade deste meio, observando a forma como as novas técnicas de

transmissão e de tratamento da mensagem contribuem para a redefinição e/ou a reconfiguração de

ações e aspectos sociais.

Essas características ou princípios, como chama Lévy (1998), contribuem para que se

perceba a internet muito mais como um sistema emaranhado de informações conectadas,

constituindo um rizoma informacional, capaz de decodificar e ao mesmo tempo interfacear

estruturas organizacionais, pensando em uma esfera planetária. Assim, pelo princípio da

metamorfose (constante construção e renegociação) pode-se digitalizar a dinâmica das entidades

virtualizadas, de modo que seja possível propor, ao internauta, uma certa concepção das

alterações sociais que ocorrem naturalmente em um espaço. O princípio da heterogeneidade

(possibilidades de disponibilidade de várias formas comunicativas – sons, textos, ícones...) pode

propor conexões lógicas e/ou afetivas, através das várias possibilidades de simulação.

O princípio da multiplicidade (qualquer nó ou conexão pode revelar-se conforme uma

rede) pode apontar a complexidade social que está envolto de um determinado ícone, através das

inúmeras conexões que um ícone pode propor e, nesse sentido, fazendo um movimento inverso,

pelo princípio da exterioriadade (conexão com outras redes), o internauta pode chegar à entidade

digitalizada. Esses dois princípios portanto, direcionam para os outros restantes. O princípio da

topologia (tudo é perto na rede) aponta para a necessidade de conexão, afinal a informação não

pode circular livremente na rede, uma vez que a rede é o próprio espaço. O princípio da

mobilidade dos centros (não há um único centro na rede) vem a ratificar os aspectos

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anteriormente analisados apontado para o fato de que a internet é uma rede cheia de ramificações

que esboçam detalhes, peculiaridades e sentidos, através dos quais, o ciber-cidadão pode

percorrer o mundo, abrindo apenas as janelas do seu micro.

Portanto, esse ambiente virtual, com seus dispositivos comunicacionais e informacionais,

cria a possibilidade de se enfatizar na tela de um computador, aspectos e peculiaridades das

localidades, ampliando, evidentemente, o processo de trocas culturais entre o local e o global.

Nesse ciberespaço, as cidades comportam-se como “uma descrição/narração onde os olhos não

vêem coisas, mas simulações de quase objetos, ícones, símbolos gráficos, como ruas,

monumentos” (LEMOS, 2001, p. 15). Nessas ‘Cidades Virtuais’, as únicas fronteiras são o

acesso ao microprocessador de dados e a possibilidade de ingresso no mundo em rede, onde as

pessoas podem se encontrar e interagir, baseadas apenas em seus interesses, deixando para trás,

questões como nome, posição geográfica ou social.

Portanto, através do vídeo, o homem penetra no ambiente ciberespacial, onde a

informação é transformada em uma metalinguagem que pode integrar no mesmo sistema as

modalidades escrita, visual e oral da comunicação humana (CASTELLS, 1999a). Por meio

do computador, o homem dinamiza os processos de observações e estudos e acelera as suas

tarefas cotidianas. Pagar contas, conhecer pessoas e organizações, fazer pesquisas e

compras, efetuar movimentações bancárias são algumas das ações realizadas através da

internet que o permitem acompanhar e participar da ordem tecnológica contemporânea.

Através das redes informatizadas, profissionais, governantes e cidadãos podem

intensificar a comunicação, dinamizando e ampliando os sistemas econômicos, políticos e sociais

das comunidades a que pertencem, ou mesmo encontrando um novo sentido para a vida

individual ou em grupo. Agora, mais do que nunca, o homem tem a possibilidade de manter

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contato afetivo com os mais diversos lugares do mundo – o virtual Gemeinschaft – e/ou ampliar

suas áreas de abrangência profissional – eletronicamente Gesellchaft23. Assim enfatiza-se que as

redes informatizadas potencializam tanto as relações informais quanto as formais.

Todas essas características e novas possibilidades de ação e de interação apontam para a

efervescência de uma nova cultura, a cultura das redes, culminando no que Castells (2003)

denomina ‘galáxia da internet’. Para tanto, o autor compreende este média como um potencial

revolucionário que permite a coordenação das tarefas e a administração da complexidade das

estruturas sociais, proporcionando uma redefinição de tarefas, tanto em escala local como em

escala global, capaz de fornecer um novo modo de organização adequada para potencializar as

ações humanas. E, nesse sentido, pode-se inferir que a cultura da internet está moldando o meio

social.

A cultura da internet caracteriza-se por uma estrutura em quatro camadas: a cultura tecnomeritocrática, a cultura hacker, a cultura comunitária virtual e a cultura empresarial. Juntas, elas contribuem para uma ideologia da liberdade que é amplamente disseminada no mundo da internet. Essa ideologia, no entanto, não é a cultura fundadora, porque não interage diretamente com o desenvolvimento do sistema tecnológico: há muitos usos para a liberdade. Essas camadas culturais estão hierarquicamente dispostas: a cultura tecnomeritocrática especifica-se como uma cultura hacker ao incorporar normas e costumes a redes de cooperação voltadas para a cooperação de projetos tecnológicos. A cultura comunitária virtual acrescenta uma dimensão social ao compartilhamento tecnológico, fazendo da Internet um meio de interação social seletiva e de integração simbólica. A cultura empresarial trabalha, ao lado da cultura hacker e da cultura comunitária, para difundir práticas da Internet em todos os dominós da sociedade como meio de ganhar dinheiro. (CASTELLS, 2003, p. 34-35)

As estruturas que fomentam a cultura da internet não podem constituir-se enquanto tal se

analisadas de forma isolada, afinal, como lembra o próprio autor, sem a tecnomeritocracia, os

23 Gemeinscheft e Gesellschaft são termos concebidos pelo alemão Ferdinad Tönnies. O primeiro é de natureza afetiva e existencial, caracterizando-se por relações sociais informais; o segundo é de natureza racional, construído a partir de um vínculo contratual aceito voluntariamente pelos sujeitos (MATTELART, 1994).

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hackers constituiriam apenas uma comunidade de nerds (pessoas totalmente voltadas para a

atividade científica, socialmente inaptas) e geeks (especialistas em computadores). E, nesse

sentido, sem as iniciativas hackers e sem os valores comunitários não poderia haver a eminência

de uma cultura empresarial específica da internet. Afinal, a cultura, como já foi definido, é um

movimento social que envolve e entrelaça uma totalidade de aspectos, e, apenas a interligação

entre esses quatro pilares culturais é capaz de fomentar uma conjuntura cibernética junto aos

locais. Desse modo, deve-se retomar a discussão sobre o turismo cibernético pautado no final do

capítulo anterior, na tentativa de associar os princípios e características da internet às

necessidades organizacionais da atividade turística.

Partindo dessa perspectiva, pode-se dizer com Lemos (2002, p. 142) que “todas as formas

de socialidade contemporânea encontram nesse ambiente rizomático, um potencializador, um

catalizador, um instrumento de conexão”. Nesse sentido, compreendendo a prática turística como

uma atividade em que predominam as relações de socialidade, pode-se apontar a internet como o

meio de comunicação ideal para a potencialização do setor, capaz de acarretar efervescências

sociais, políticas e econômicas, ampliando o sentido das comunidades turísticas, que,

devidamente organizadas na rede, podem comportar-se, então, como comunidades turísticas

virtuais.

Assim sendo, deve-se atentar para o fato de que as comunidades turísticas são compostas

por comunidades de interesses (turistas e potenciais empresários) e comunidades de lugar

(nativos, políticos e empresários já estabelecidos no local). É importante também ressaltar que o

bom desempenho do setor deve-se em grande parte à interatividade entre essas comunidades, cuja

definição dá-se muito mais a partir da necessidade de se entender as expectativas dos envolvidos

no setor, não estando objetivando uma delimitação das ações desses atores. Assim, um

componente identificado como pertencente à comunidade de interesse pode muito bem

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compartilhar das mesmas intenções e objetivos característicos dos componentes da comunidade

de lugar e vice-versa.

Por interatividade entende-se, conforme Lévy (1999, p.79), “a participação ativa do

beneficiário de uma transação de informação”, na qual subtende-se que o processo comunicativo

completa-se com as reações do(s) receptor(es). Portanto, a interatividade aparece como a chave

para a fomentação e proliferação de estruturas organizacionais com bases democráticas, nas quais

os cidadãos envolvidos podem, em pé de igualdade, definir os destinos dos espaços que

compõem uma ambiência turística (caso contrário, a internet pode vir a ser apenas mais um

narcótico social). Assim, em uma comunidade virtual de turismo ecológico, por exemplo, podem

participar do mesmo fórum de discussão, turistas, moradores do local, empresários e governantes,

de modo que as opiniões e interesses de cada um desses componentes estariam, ao menos,

manifestados.

Considera-se, nesse sentido, que as iniciativas políticas em organizar e planejar os

espaços turísticos constituem-se como fator imprescindível junto ao processo de formação das

comunidades turísticas com bases democráticas. Assim, ratifica-se a internet como o veículo

ideal para a fomentação desse processo, no qual as comunidades turísticas virtuais seriam

dispositivos práticos comunicacionais a serviço das ações de planejamento, e ao mesmo tempo,

está-se cogitando o processo de interdependência entre a comunicação e as ações sociais, já

evidenciado.

Castells (2003) atenta que o mundo social da internet é tão complexo quanto a própria

sociedade, contudo defende a idéia de que as comunidades virtuais operam a partir de duas

características – comunicação livre e horizontal – que podem sintetizar práticas de livre expressão

em âmbito global, o que contribui para a subversão dos conglomerados dos médias de massa e

das burocracias governamentais de controle. Portanto, através das comunidades virtuais, pode-se

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cogitar a formação de organizações sociais autônomas que, através de uma ação coletiva, podem

atuar junto à construção de novos sentidos e significados das ações e dos espaços turísticos. Está-

se pensando, assim, em um novo contexto (um contexto mais democrático) no qual se

reconfigurem as identidades culturais na era da cibercultura. Com essa expectativa, será traçado,

no tópico seguinte, um estudo sobre a interação, no ambiente virtual, entre as entidades que

compõem os espaços urbanos.

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3.3.2. A interação entre governos, empresas e cidadãos no ciberespaço da internet

De meados da década de 1980 ao final da década de 1990, um imenso número de comunidades locais passou a operar on-line. Com freqüência estavam associadas às instituições locais e governos municipais, dando um cunho local à democracia dos cidadãos no ciberespaço. De maneira geral, três componentes diversos convergiram na formação dessas redes de computadores baseadas na comunidade: movimentos locais pré-Internet em busca de novas oportunidades de auto-organização e elevação da consciência; o movimento hacker em suas expressões mais politicamente orientadas; e governos municipais empenhados em fortalecer sua legitimidade pela criação de novos canais de participação do cidadão. (CASLTELLS, 2003, p.199)

A epigrafe extraída do livro Galáxia da Internet, chama a atenção para ações que estão

sendo fomentadas através da rede, na tentativa de que sejam potencializados aspectos das

localidades. Empresas, governos e cidadãos, desde a década de 1980, vêm apostando na

utilização da internet como um espaço propício à democratização das questões políticas, às

manifestações sociais, às associações e compartilhamentos de pensamentos e idéias, à ampliação

do comércio ou mesmo como um novo mecanismo de controle. Essas possibilidades tornaram-se

possíveis pela decodificação e organização dos aspectos do urbano na forma de cidades virtuais.

Não é estranho, portanto, ressaltar que a cidade que ficava apenas de braços abertos no

cartão postal, agora pode estar de corpo e alma disponíveis na internet, na forma de uma Cidade

Virtual, em projeções capazes de descrever em bits o espaço físico da ação humana enquanto um

‘composto orgânico vivo’, onde as entidades sociais podem projetar suas características,

interesses e peculiaridades, constituindo um tecido urbano virtual. Nessa representação binária,

podem estar contempladas potencialidades econômicas, ações políticas e manifestações sociais,

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constituindo uma nova forma de expressar a identidade e a cultura das localidades digitalizadas,

através de um sistema de signos e de significações, que se combinam na forma de ícones,

imagens, sons e textos para exprimir o senso do local.

A idéia central que envolve a discussão sobre a cidade virtual, observa Graham (2002),

propõe ações iterativas entre o computador e o usuário, à medida em que este navega entre os

vários links disponibilizados como representações dos espaços. Essa representação virtual

constitui um novo espaço para a promoção dos debates públicos e das manifestações sociais, ao

contrário do pensamento pessimista de alguns autores que cogitavam um isolamento humano a

partir da proliferação dos mecanismos de comunicação da internet. Aliás, quanto mais as pessoas

se comunicam maior é a probabilidade de encontros. Nesse sentido, Lévy (1999) aponta quatro

categorias de atitudes – analogias, substituição, assimilação e articulação – que podem

fomentar um processo operacional sinérgico entre o físico e o virtual.

As analogias aos espaços urbanos podem estimular as iniciativas de visitação e de ações

of-line a partir da descrição das funções e dos aspectos do local. Dados como horário de

funcionamento, principais ações a serem realizadas nas instituições e organizações locais bem

como informações sobre as regras e normas para a visitação constituem-se como analogias

representativas dos espaços. Essas projeções, entre outras, podem sugerir a valorização das

comunidades conectadas, propondo novas formas de interação em seu âmbito.

Nesse sentido, por uma perspectiva mais ampla, pensando na otimização da

funcionabilidade do local, a substituição das ações no espaço físico por ações on-line, apresenta-

se como uma possível saída, operacional e econômica, para as organizações e cidadãos. As novas

técnicas de ação sugeridas pela internet permitem a amplitude e a simultaneidade das

participações dos cidadãos em vários ambientes sociais a partir das suas próprias residências, dos

seus locais de trabalho ou de quaisquer outros digital palces. Além da possibilidade de mudanças

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para centros menos conturbados, como já foi evidenciado no capítulo anterior, com essas práticas

on-line, podem-se também cogitar melhorias na qualidade de vida nas grandes cidades,

considerando a possibilidade de descongestionamento dos centros urbanos e a redução da

circulação de automóveis, o que pode culminar na diminuição de custos com a locomoção.

A assimilação das redes de comunicação interativa às estruturas que já organizam e dão o

caráter urbano aos espaços sociais, constitui-se também como uma forma de pôr em sinergia a

internet e a cidade. Empresas vêem nesse universo multimídia um novo mercado de

equipamentos, de conteúdos e de serviços que podem ser usados a favor da instituição junto aos

processos de aquisição de benefícios. A assimilação dos recursos do ciberespaço possibilita a

essas entidades um maior controle sobre suas ações e sobre as ações dos seus respectivos clientes,

um fator a serviço da tecnocracia.

Contudo, Lévy (1999) entende que a forma mais coerente de se aproveitar a

potencialidade da internet a favor do desenvolvimento dos sistemas sociais dá-se a partir de uma

articulação entre esse ciberespaço e o território físico da atuação humana, fomentando um

processo contínuo de inteligência coletiva. Não se está aqui propondo uma idéia utópica nem

demagoga da edificação de massas eletrônicas, mas sim se está pesando na colaboração desse

mecanismo comunicacional junto aos processos de solução de problemáticas sociais a partir de

uma cooperação mútua, na qual governos, empresas e cidadãos poderiam co-relacionarem-se

mais facilmente, edificando um processo de socialidade.

Articular os dois espaços não consiste em eliminar as formas territoriais para substituí-las por um estilo de funcionamento ciberespacial. Visa antes compensar, no que for possível, a lentidão, a inércia, a rigidez indelével do território por sua exposição em tempo real no ciberespaço. Visa também permitir a solução e, sobretudo, a elaboração dos problemas da cidade por meio

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da colocação em comum das competências, dos recursos e das idéias. (LÉVY, 1999, p.195)

A internet representa um novo espaço de convivência no qual estão sendo processadas

configurações de novas e incipientes práticas sociais. Formas de se pensar e de se fazer o mundo

e o cotidiano estão se tornando cada vez mais freqüente nessa ambiência ciberespacial,

possibilitando aos usuários novas experimentações cognitivas e existenciais. Assim, entre o

imaginário e o mundo tátil, a internet constitui-se como o local alternativo de relações, nas quais

as analogias, as substituições, as assimilações e as articulações são fatores à disposição da

criatividade humana para a constante edificação de práticas democráticas e desterritorializadas.

O que antes se encontrava limitado, circunscrito às fronteiras geográficas e/ou

institucionais pode agora corresponder à amplidão, admitindo um caráter universal e

adimensional que contribui para a formação do processo de mundialização como “um fenômeno

social total que permeia o conjunto das manifestações culturais” (ORTIZ, 1994, p.30). Contudo,

as imagens que compõem as representações binárias da cidade correspondem apenas a uma

extensão dos territórios de uso do homem. Por elas, o navegante da internet pode perceber e, de

algum modo, participar de ações no local, mas sem experimentá-lo.

A cidade virtual deve ser antes compreendida como um espaço de socialidade, onde se

pode enfatizar a construção de sentidos e de significados junto aos grupos culturais. Desse modo,

esse ambiente comporta-se como um dispositivo comunicacional capaz de incitar o surgimento

de práticas sociais voltadas para a disseminação de expressões culturais e de valores locais ao

mesmo tempo em que propõe o surgimento de construções culturais inéditas, corroborando para a

reconfiguração das identidades desses locais digitalizados.

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A estrutura comunicativa da rede não representa um caminho que regula diretamente o pensamento e as ações humanas. Ela orienta apenas a comunicação que tornará a aceitação de determinadas mensagens e informações mais prováveis do que outras. É o sentido dado a conjuntos de mensagens que delimita os campos de comunicação (listas de discussão, consultas, sites, chats etc.) enquanto sub- ou microssistemas sociais. (STOKINGER, 2001, p.110)

Assim sendo, pode-se apontar que a própria estrutura comunicativa da rede, em essência,

já induz à democracia, afinal, é o próprio internauta quem escolhe e delimita as suas ações on-

line, construindo os seus horizontes e limites informacionais e operacionais, o que vai dar sentido

às suas vivências nessa ambiência ciberespacial. Como alerta Castells (2003, p. 120) “a internet

não pode fornecer um conserto tecnológico para a crise da democracia”. Contudo, deve-se insistir

que a utilização dessa extensão territorial contribua para a promoção de benefícios junto às

localidades digitalizadas, em contrário, representaria um uso abstrato dos recursos tecnológicos.

Palacios (2004) aponta fatores que podem traduzir as expectativas sobre a interferência

das cidades virtuais nas relações sociais e econômicas. Transparência administrativa e

orçamentária, participação, democracia direta, desburocratização, acesso à informação e a

programas alternativos de educação e lazer são possibilidades propostas por esse espaço

comunicacional que podem incitar uma efervescência social mais justa e mais humana. E, nesse

sentido, a cidade virtual seria um dispositivo eficiente junto à divulgação e o fortalecimento da

cultura local, à criação de novos laços comunitários e de vizinhança, além de comportar-se como

fator de ampliação das lutas contra a exclusão social, constituindo, então, um processo de

regeneração do espaço público.

Para tanto, é preciso pensar formas adequadas de se propor ações políticas, econômicas,

educacionais, informativas, interativas e quaisquer outras componentes da cidade virtual,

cogitando um alargamento da democracia na sociedade. Nesse sentido, compreende-se com

Bobbio (1997) que o desenvolvimento da democracia está vinculado à sua transição da esfera

política (em que o indivíduo é concebido como cidadão) para a esfera social (na qual o indivíduo

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é reconhecido por seu status). Assim sendo, pode-se inferir que o tratamento dado à política na

rede deve circunscrever-se a um aspecto cultural através do qual se propõe uma melhor

organização da sociedade, privilegiando as perspectivas e os direitos coletivos. Nesse caso, além

dos atos elaborados pelas representativas eleitas pela população também as ações e protestos

característicos de grupos culturais com identidade de resistência e de projeto devem caracterizar-

se como expressões políticas contemporâneas que fomentam uma efervescência social

democrática.

Uma vez conquistado o direito à participação política, o cidadão das democracias mais avançadas percebeu que a esfera política está por sua vez incluída numa esfera muito mais ampla, a esfera da sociedade em seu conjunto, e que não existe decisão política que não esteja condicionada ou inclusive determinada por aquilo que acontece na sociedade civil. (BOBBIO, 1997, p. 156)

As ações políticas, portanto, comportam-se como manifestações culturais nas quais os

cidadãos não apenas buscam por seus direitos, mas também procuram espaços para reafirmarem

seus pensamentos e propostas. Por essa perspectiva, pensar em uma democracia contemporânea,

como assinala Marques (2003), consiste na tentativa de se promover o acesso e a participação

coletiva junto às tomadas de decisões referentes aos destinos dos espaços, envolvendo os

sentimentos e interesses da população que participa e compõe o cenário social.

Nessa era da cibercultura, então, as cidades virtuais podem constituir-se como um espaço

de extensão das ações democráticas. Não se trata da elaboração de um novo tipo de democracia,

mas da utilização das ferramentas e características do meio hipertextual bem como da adequação

das categorias de atitudes on-line junto aos processos de desburocratização, clareza orçamentária

e administrativa entre outros fatores esclarecedores da atualidade local. Deve-se, também,

possibilitar e estimular o indivíduo social a participar das decisões futuras da comunidade em que

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convive e que, de algum modo, se sinta responsável, considerando o processo de mundialização

da cultura, em que podem entrar em sinergia e concordância, as comunidades de interesses e as

comunidades de lugar.

As cidades virtuais possibilitam, através dos grupos de discussões, momentos de

argumentação racional sobre temas de interesses coletivos. Nesses chats, o cidadão não é

representado, mas pode com suas próprias palavras expor e compartilhar com o mundo suas

indignações e reivindicações de forma direta, sem interlocutores. Essa interatividade

característica da internet, permite o estabelecimento de uma esfera pública virtual.

Marques (2003, p. 189) observa que “diferentes pontos de vistas e soluções a

determinados problemas podem ser colocados neste âmbito de discussão, o que favorece a

integração de idéias (isso acaba se relacionando à noção de inteligência coletiva de Lévy)”. Nesse

sentido, aponta-se que este média pode contribuir para a fomentação de ações políticas com

abrangência até mundial, como já se pode citar os ‘flash mobs’, movimentos sociais instantâneos

organizados a partir da rede ou mesmo as práticas mais comuns de ciberativismo voltadas para

colaborar com as lutas principais de grupos com identidade de resistência e de projeto como no

caso do grupo de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Trangêneros, de grupos étnicos ainda

discriminados, como o indígena e de qualquer minoria social.

Os movimentos sociais do século XXI, ações coletivas deliberadas que visam à transformação de valores e instituições da sociedade, manifestam-se na e pela Internet. O mesmo pode ser dito do movimento das mulheres, vários movimentos pelos direitos humanos, movimentos de identidade étnica, movimentos religiosos, movimentos nacionalistas e dos defensores/proponentes de uma lista infindável de projetos culturais e causas políticas. O ciberespaço tornou-se uma ágora eletrônica global em que a diversidade da divergência humana explode numa cacofonia de sotaques. (CASTELLS, 2003, p.115)

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Assim, as movimentações sociais a partir da rede podem propor junto a uma nova

cidadania uma atenção voltada para a redefinição da esfera pública. Nesse sentido, estas ações

acabam por entrelaçar aspectos diversos da atuação humana. A própria estrutura rizomática da

rede compreende uma maior interação de atividades sociais. Assim, associando o entendimento

sobre esfera pública virtual e sobre grupo cultural (desenvolvido no capítulo anterior) pode-se

inferir que a interação on-line ultrapassa o domínio da cidadania, em seu sentido literal,

penetrando em questões econômicas, educacionais, informacionais, entre outros aspectos e

peculiaridades, que fomentam a dinâmica dos locais.

Projeções e movimentos sociais na internet estão fomentando junto a empresas uma

prática de comércio e prestação de serviços eletrônicos específicos para grupos manifestantes.

Em sites voltados para a prática do ciberativismo, como o site oficial do grupo gay de Portugal

(www.portugalgay.pt), evidencia-se a comercialização de uma série de produtos de consumo para

os usuários daquele espaço bem como a possibilidade de reservas de diárias em hotéis e de

bilhetes para shows e festivais, entre outros serviços. Essa prática cooperativa do portugalgay

representa uma nova conjuntura organizacional das empresas e uma nova forma interativa destas

como seus fornecedores, consumidores e concorrentes.

Nesse sentido, assinala-se com Castells (2003) que a utilização da rede como forma

organizacional da empresa afeta todo o seu processo de criação, de troca e de distribuição de

valor, fazendo emergir uma nova configuração sociotécnica, cuja compreensão é indispensável

para o êxito empresarial. O autor observa que a empresa da (e na) rede corresponde a uma

agência de atividade econômica estruturada em torno de projetos empresariais específicos, que

devem apresentar flexibilidade e adaptabilidade voltadas para uma economia global, na qual se

evidencia uma demanda em constante modificação, por isso a necessidade de incessantes

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inovações e da disponibilização de informações rápidas, precisas e direcionadas, que devem

implicar na redução dos custos, eficiência e satisfação do consumidor.

Para tanto, a empresa virtual pode incluir uma quantidade infinita ou limitada de

componentes, dependo das operações e transações desenvolvidas, que podem estar atuando tanto

em esfera global quanto em esfera local. Nesse sentido, quanto mais houver interatividade e

personalização dos serviços, melhor a qualidade e o ajustamento entre a empresa e o seu público

(consumidores e fornecedores) no processo empresarial. O bom gerenciamento desses fatores,

por sua vez, permite uma maior administração da flexibilidade de modo que, enquanto é mantido

o controle das operacionalizações e transações empresarias pode-se ampliar o alcance do

mercado consumidor bem como se pode diversificar a composição da empresa (oferecendo novos

produtos e serviços, o que demanda novas relações).

Esses aspectos estão atrelados também ao reconhecimento da empresa no mercado

consumidor e na sua boa relação com o público, resultantes do uso adequado da marca da

empresa junto à sociedade. Indubitavelmente, a melhor maneira de ser manter uma boa imagem é

manter a alta satisfação do cliente, considerando desde o momento de acesso à empresa on-line,

passando pela execução da compra ou aquisição do serviço virtual, até o momento em que o

cliente utiliza o bem ou o serviço adquirido. Mas como propor a satisfação do cliente, partindo

desses três âmbitos (acesso, compra/solicitação de serviços e utilização do produto)?

É importante retomar, para tentar responder à questão proposta, a discussão sobre as

comunidades virtuais. Considera-se, a princípio, que as ações na rede geralmente estão envoltas

no processo de constituição de comunidades virtuais e que os membros desses espaços são os

principais divulgadores de artefatos dos interesses comuns, quando não são eles mesmos, os

selecionadores de seus caminhos virtuais. Isso não implica em uma organização planetária na

forma de um comunitarismo exacerbado. Assim como freqüentadores de um determinado bar do

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centro da cidade não necessariamente se conhecem e interagem entre si, membros de uma mesma

comunidade virtual podem não ter relação nenhuma, mas têm as mesmas preferências e

tolerâncias, embora se reconheça que a internet parece ter um efeito positivo sobre a interação

social.

Contudo, é importante atentar, conforme Castells (2003), que os estudos sobre

comunidades virtuais ainda não são suficientes para se chegar a um posicionamento contundente

sobre interação social. Mas essa não é o centro da presente discussão. Interessa, por hora apontar,

com base na compreensão do mesmo autor, que essas comunidades constituem redes de laços

interpessoais capazes de proporcionar socialidade, informação, apoio mútuo e um senso de

integração e identidade cultural. Nesse sentido, a busca por informações, em uma determinada

comunidade, pode possibilitar uma certa compreensão das atividades preferenciais dos usuários.

Ainda, o estudo sobre os aspectos que compõem a dinâmica da comunidade virtual, que

representa um estudo sobre a identidade cultural, contribui para o delineamento das principais

características do referido grupo.

Esse estudo pode ser realizado a partir da observância sobre os temas em debates, dos

principais links disponibilizados, também a partir da freqüência de visitações aos espaços

virtuais, entre outros aspectos. Estudos sobre as características identitárias das comunidades

virtuais podem contribuir para um processo de produção customizada, na qual o produto final é

adaptado ao consumidor individual, o que contribui para a redução dos custos com a produção e a

distribuição.

Caminhando nessa perspectiva de melhoria e potencialização das ações bem como

admitindo que a comunidade virtual permite uma relação direta entre aspectos políticos,

econômicos e sociais, pode-se evidenciar a importância dessas representações binárias junto ao

desenvolvimento das cidades em seus espaços físicos, o que pode culminar, então, na melhor

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estruturação de suas funções e aspectos. Considera-se, para tanto, que essas comunidades virtuais

devem estar organizadas na forma de uma cidade virtual. Ou seja, devem estar interligadas,

explorando ao máximo as características da internet (mencionadas no tópico anterior).

De fato, como já notificado por Graham (2002), muitos municípios e companhias privadas

estão atualmente estendendo-se para o ciberespaço da internet. Contudo, pode-se apontar que a

grande maioria dessas projeções funciona apenas como ‘uma banquinha de revistas na

esquina’não promovendo debates públicos nem a prestação de serviços à comunidade cível

(como será demonstrado no próximo tópico). Palácios (2004) observa que essa maioria funciona

como folhetos destinados a vender serviços turísticos, cuja preocupação é fornecer informações

sobre as características ambientais, festivas e folclóricas do local, exibindo paisagens e atrações

noturnas.

Como projetar, então, uma cidade nesse universo sem fronteiras? Como as cidades

virtuais podem proporcionar ao navegante o senso do local sem o seu deslocamento físico? Como

essas projeções podem contribuir para o desenvolvimento e organização do espaço urbano e

como podem promover o maior fluxo de informações, de capitais e de pessoas? Como o

imaginário e o cotidiano de um local turístico devem combinar-se na rede?

Diversas são as tentativas de digitalização das cidades e são também várias as referências

virtuais de uma cidade, cujas fronteiras ultrapassam o aspecto geográfico, como as cidades

turísticas. Contudo, muitas dessas representações não exploram e nem sequer sinalizam a

totalidade de aspectos que compõem a dinâmica local. Afinal, a cidade, como já foi evidenciado,

é uma totalidade de ações e de aspectos, na qual conflitos e harmonias; problemas e soluções

compõem a sua ambiência.

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Desta forma, não é tarefa fácil digitalizar uma cidade e devemos ter em mente esta complexidade para que a cidade digital não seja apenas uma metáfora simplificadora. O design deve explorar o potencial de conexão entre as pessoas e evitar ser uma simples transposição espacial do espaço. O modelo não deve ser substitutivo, nem transpositivo, mas complementar. De certa forma, as cibercidades devem insistir em formas de multiplicar você, já que podem ampliar o poder da ação a distância (teleação) e potencializar a emergência de redes de socialidade locais e empáticas. (LEMOS, 2001, p. 17)

A cidade digital deve exprimir o senso do local a partir da codificação simbólica das ações

reais desenvolvidas no espaço físico, sem que haja omissão dos aspectos não organizados ou das

regiões periféricas, mas, ao contrário, deve apresentar perspectivas de soluções para essas

questões, bem como a capacidade do local em resolver eventuais problemáticas imprevisíveis.

Afinal, não existe organização capitalista sem conflitos sociais, econômicos e políticos, por

menores e menos significantes que sejam. Não se deve pensar a digitalização das cidades sem

situá-las no âmbito planetário como forma de reconhecimento e legitimação de uma nova fase

inaugurada pelo capitalismo. Esse processo revela o caráter civilizatório desse sistema, o que para

Roedel (1999, p.109) corresponde “à sua capacidade de impor novos valores e/ou assimilar

antigos traços culturais e denotar a eles novos sentidos mais adequados à globalização”.

A digitalização de uma cidade deve, portanto, evidenciar seus planejamentos estratégicos

e em longo prazo, configurando sua dinâmica cultural de modo que esta possa ser compreendida

por meio de leituras como prática semiótica, isto é, uma leitura que se completa pela interação

entre os elementos lingüísticos e contextuais (texto, imagem e som), permitindo ao cibercidadão

um entendimento imediato daquilo que está sendo informado. Afinal, como acentua Ferrara

(1996), cultura e representações, cultura e signo constituem um todo coeso que precisa ser

entendido para que seja atingido o significado de uma dada realidade, ainda que contraditória.

Também se deve buscar esse entendimento para se propor a intensificação da circulação

de informações, de capitais e de pessoas no local, pois a cidade virtual constitui-se como um

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‘espaço de fluxo’ nesse período de cibercultura, devendo, então, intensificar a dinâmica do local e

de todos os seus aspectos, inclusive as trocas entre os cidadãos bem como a ocupação dos

espaços concretos da cidade. Por essa perspectiva, compreende-se como as cidades virtuais

podem cooperar para os processos de mutação das identidades locais, bem como para os

processos de hibridismo cultural e para a emergência de um multiculturalismo, onde se pode, de

fato, perceber o respeito à alteridade e a aceitação das diferenças, ao menos de modo virtual, mas

este pode ser um caminho (e uma contribuição da cibercultura) para a construção de uma

sociedade mais justa e mais humana.

Portanto, a busca pela melhor forma de transpor a cidade para o espaço virtual da internet

deve partir tanto do imaginário, que paira sobre o local, quanto dos aspectos que compõem o seu

cotidiano, relevando as perspectivas e necessidades dos cidadãos com relação ao uso do meio.

Em Lemos (2001), apreende-se três modelos de cidade virtual – ‘grounded cybercity’, ‘non-

grounded cybercity’ e ‘metaphorical cybercity’ – que adequadas às características do local a ser

virtualizado, podem instaurar processos comunicacionais mais ágeis, fomentar ações mais

democráticas e permitir aos navegantes a percepção do senso do local.

O primeiro modelo, as cidades virtuais enraizadas em espaços urbanos concretos, “tem

finalidades mais diversas, desde a ampliação do espaço público, passando pela consulta a bancos

de dados, à criação de comunidades através de fóruns e chats, até a possibilidade de fazer

compras em shoppings virtuais e se entreter” (LEMOS, 2001, p.). Como um exemplo bem

sucedido dessas cidades enraizadas, tem-se a Aveiro Cidade Digital (www.aveiro-digital.pt ).

Esse modelo busca mobilizar a sociedade com projetos de intervenção no espaço concreto,

sugeridos pela própria comunidade, por meio de quiosques públicos, acesso a escolas e

bibliotecas, incluindo também várias iniciativas culturais. Representa uma tentativa de incorporar

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tecnologias de comunicação à sociedade, promovendo igualdade de oportunidades e o acesso

público e universal à informação.

O segundo modelo, o non-grounded cybercity, geralmente fornece informações turísticas

e culturais de uma cidade, servindo como um guia, a exemplo das cidades dos portais TERRA,

UOL e AOL. Trata-se da enumeração de dados e paisagens, sem preocupação em exprimir o

senso do local.

Exibem paisagens exóticas ou o brilho dos néons, tentando-nos com os prazeres da noite e da boa mesa, atraindo-nos para shows folclóricos ou visitas a museus e galerias de arte, anunciando saudáveis caminhadas por aventurosas trilhas tropicais ou relaxamento total em luxuosos spas cercados de montanhas nevadas. (PALÁCIOS, 2004)

Esse modelo é pertinente por apresentar informações rápidas e precisas, mas não são

suficientes para atender perspectivas de agilização das ações da população local a partir da

internet. Ainda, como poderiam descrever cidades onde se evidenciam vários tipos de turismo,

como Porto Seguro e onde existe uma dinâmica social um tanto complexa? Então, o que

enfatizar? As paisagens naturais, os centros históricos, os espaços para eventos? Ou deve-se

organizar a cidade na forma de links pontuados em seqüência, onde poucos internautas têm

paciência de abrir um por um? Esses questionamentos valem também para o terceiro modelo, o

metaphorical cybercity, que não representam nenhuma cidade real, apenas assemelha-se a uma

cidade na construção das informações, constituindo metáforas da cidade, como o são os sites do

Geocities.

Contudo, considera-se que a cidade virtual pode propor aos atores sociais novas atitudes

voltadas para a complementação entre o território geográfica e politicamente definido e o espaço

da inteligência coletiva – o ciberespaço. Portanto, com base na teoria e na tentativa de averiguar

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como esse ambiente está sendo utilizado pelas entidades que compõem o setor turístico, será

apresentada, no próximo tópico, uma análise de sites referentes ao município de Porto Seguro.

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3.3.3. Um Porto virtual Seguro?

Quem quer levada? Tem; quem quer cocada? Tem; a massa que rebola, abará, coca-cola. Quem quer miolo? Tem; quem quer crioulo? Tem. O plug a lata d’água; prêt-a-porter, anágua [...]. Ta no tabuleiro ponto com mundo inteiro, o balancê, balancê dos balangandâs, um ie, ie, ie, ie, ie, ie no sol das manhãs, na rua te ver [...]. (DEL REY, Tenilson; VASCON, Paulo; ZARATH, Jorge. Groove da baiana. In: Daniela Mercury, disco Sol da Liberdade 2000).

A epígrafe, um fragmento de texto extraído da canção Groove da Baiana, relaciona o

tabuleiro da baiana ao ciberespaço, enfocando a diversidade de conteúdos que podem compor a

atmosfera de ambos espaços. A enumeração de elementos do tabuleiro da baiana pode simbolizar

a organização da cidade na internet, apontando a versatilidade de opções que este espaço pode

oferecer. Os fatores destacados na canção, embora tenham uma relação sutil com questões sociais

e econômicas, deve-se considerar, são elementos culturais propulsores da atividade turística, por

comportarem-se como elementos simbólicos da cultura e da economia do Estado da Bahia.

Portanto, pode-se dizer que este fragmento de texto traduz, como uma analogia perfeita, a função

do ciberespaço junto ao desenvolvimento socioeconômico dos destinos turísticos, em que se pode

ressaltar a possibilidade de potencialização da atividade, a partir da comunicação dos aspectos

locais.

Ainda nessa mesma analogia, não bastasse os incontáveis produtos oferecidos, o tabuleiro

também é um espaço extremamente dinâmico e democrático, onde todos podem opinar, comprar,

comer e interagir com as mesmas possibilidades, iconizando a democratização da informação e

vários outros aspectos que fomentam a atividade turística. De fato, há, disponível na internet,

uma série de representações do município de Porto Seguro, das quais a maioria (ou todas elas),

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está longe de representar a complexidade social do local bem como toda a potencialidade

turística. Estas representações apenas apontam aspectos voltados para o estímulo a práticas

festivas e à exaltação da natureza exótica. Esses locais virtuais, geralmente, constituem extensões

de empresas, sendo pouco voltados para o estímulo à democracia e à interação social, funcionado

apenas como um dispositivo de marketing.

Essa constatação deu-se após visitação e análise de sites, buscado o entendimento da

correspondência entre os aspectos sócio-econômicos locais e as potencialidades (as novas

possibilidades de ação e interação) da internet, observando-se também o imaginário turístico

propagado pelo meio. A pesquisa ocorreu no período de 26 de novembro a 06 de dezembro de

2004, depois de concluídos os estudos sobre o imaginário e a dinâmica do município, bem como

sobre os aspectos comunicacionais da internet.

A discussão com que se inicia esta pesquisa exploratória foi a definição da metodologia.

O desconhecimento sobre um método específico para análise de sites de cidades turísticas,

implicou em uma problematização acerca da melhor maneira de se entender as representações do

município nesse ciberespaço, considerando a exploração das várias práticas turísticas no local. A

princípio, pensou-se que o método adequado seria simplesmente o etnográfico, afinal tratava-se

de uma pesquisa em um espaço, o ciberespaço. Contudo, constatou-se que esse método não

corresponderia exatamente ao processo uma vez que o campo de pesquisa não permite a

experimentação do local.

O segundo método cogitado foi o intencional não probabilístico por julgamento, afinal,

como já tinha ocorrido uma visitação para reconhecimento do (ciber)campo a ser pesquisado,

verificou-se que era preciso selecionar alguns sites para análise, afinal pelo sistema de busca

utilizado, o Google, muitos deles se repetiam, outros estavam indisponível para visitação e outros

não apresentavam estrutura e conteúdo que merecessem maior atenção. Contudo, a necessidade

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de deslocar-se pelos sites que seriam analisados e, considerando, possíveis sensações que estes

deslocamentos virtuais viriam a proporcionar, era preciso um método de pesquisa que também

privilegiasse uma vivência virtual. Portanto, a metodologia estipulada para a pesquisa foi

definida como intencional não probabilística por julgamento etnográfica.

Através do sistema de busca Google (www.google.com.br), com o título Porto Seguro

Bahia, a pesquisa realizou-se em análises de sites selecionados a partir de sua atratividade e

facilidade de navegação, que ao estimularem uma flanerie virtual culminou em um processo

etnográfico de estudo. O sistema de busca escolhido deve-se à consideração de que este seja um

caminho para turistas encontrarem informações sobre o local que desejam experimentar.

Por atratividade foram definidas a velocidade de conexão e a organização e designer do

site. Assim, entendeu-se que quanto mais rápido a conexão mais facilmente o usuário pode se

deslocar pelo espaço virtual; quanto mais simples a arquitetura do site, com cores, tipos e

imagens harmoniosos e com efeitos que não desviam a atenção, mais conforto visual se propõe

ao navegante; e quanto mais direta as informações contidas nos links mais facilmente pode-se

conduzir o internauta aos outros links do site. Por fim considerou-se que esses três aspectos, a

partir das características do meio, podem proporcionar ao navegante uma rápida leitura

semiótica. Partindo desses pressupostos, dos 780 sites visitados, foram analisados 108 que

correspondem ao modelo non-grounded cybercity.

Para melhor apurar as sensações, a pesquisa foi realizada em períodos de tempos

estipulados em quatro horas consecutivas no turno matutino e quatro no turno vespertino, com

três horas de intervalo entre os períodos. Essa delimitação foi importante para que sensações

como cansaço e saturação, não interferissem no processo analítico. O ambiente também foi

preparado para deixar o pesquisador centrado apenas no que via pela rede, sem se envolver com

estímulos externos. Assim, durante o período da pesquisa, as portas e janelas do ambiente

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mantiveram-se fechadas, bem como se bloqueou o máximo possível de intervenções como

telefonemas ou outros sons que pudessem desviar a atenção.

A pesquisa deu-se obedecendo aos critérios de um formulário (anexo 1) devidamente

organizado, baseado em um modelo disponível no site do grupo de Pesquisa em Cibercidades24

da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. O formulário está divido em

três tópicos que envolvem conteúdo, exploração das características do meio, categorias de

atitudes evidenciadas, além de uma lacuna destinada a observações feitas sobre o designer, a

velocidade de conexão e os tipos de links disponíveis. Os sites analisados estão enumerados no

anexo 2 (dois).

A estruturação do formulário deve-se às constatações feitas no capitulo anterior sobre o

imaginário turístico do município e sobre a sua dinâmica sócio-econômica bem como a partir dos

depoimentos dos turistas. Considerando que o desenvolvimento sustentável da atividade turística

resulta do entrelaçamento de aspectos econômico, político e social e, então, entendendo a cidade

virtual como uma extensão da cidade, buscou-se identificar nos sites uma concepção o mais

aproximada possível do senso do local, cogitando o inter-relacionamento, de modo sinérgico,

entre os membros de um mesmo grupo cultural e/ou de uma mesma comunidade turística.

Por essa perspectiva, estipulou-se como conteúdo de análise o mínimo possível de fatores

que podem ampliar a compreensão dos nativos sobre sua própria ambiência e que o estimulem a

opinar sobre ações políticas e socioeconômicas locais. Considerou-se, entretanto, que esse

conteúdo não apenas deva estimular o internauta turista ao deslocamento físico, mas também o

permita executar ações que agilizem o seu período de estadia na cidade. Assim concluiu-se que

era necessário encontrar em uma única representação virtual, informações gerais sobre a

localidade, informações jornalísticas, educação, prestação de serviço, comércio eletrônico e

24 www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/cibercidade

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interatividade, que foram os aspectos estabelecidos como conteúdo para a análise dos lugares

digitais referentes a Porto Seguro.

A partir desses conteúdos, estimula-se que o internauta possa desenvolver uma

compreensão mínima sobre a dinâmica do local no espaço físico, o que pode proporcionar-lhe

uma concepção da cidade enquanto um composto orgânico vivo. Com essa perspectiva, admite-

se a possibilidade de se edificar (em longo prazo) uma coerência intelectual e operacional entre

turistas, empresários, políticos e nativos sobre as acepções acerca do local e as atitudes

desenvolvidas como práticas turísticas.

Como interação, foi evidenciada qualquer ação que proporcione o contato humano,

considerando a relação com o local representado ou com outras pessoas através de e-mails, chats

de conversação ou fóruns. Por prestação de serviços, incluiu-se a reserva de diárias e de

passagens, locação de automóveis e/ou outros serviços que dinamizem a atividade turística. As

informações estipuladas deveriam referir-se a dados estatísticos e geográficos, informações

históricas e da atualidade do município, ressaltado o número de bairros, de hospitais, de escolas,

de bancos (com seus respectivos postos de auto-atendimento) bem como qualquer informação

que amplie a descrição da cidade.

Compreendeu-se que a educação, nesses espaços virtuais turísticos, deve proporcionar

orientações para turistas e nativos sobre os cuidados com o meio ambiente e com o patrimônio

histórico bem como a disponibilização de estudos científicos, enfocando aspectos referentes à

atividade turística, à cultura e à organização social. Também se considera como educação,

orientações sobre os cuidados com perplexidades sociais e sobre a forma adequada de comportar-

se e vestir-se no local. Por fim, foram consideradas como e-comerce a venda e compra de

utensílios e objetos pela rede e, por jornalismo informações sobre o cotidiano do município, o

que poderia proporcionar uma concepção mais geral sobre a dinâmica do local.

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Poder-se-ía comparar as atuais extensões do município no ciberespaço às cidades

européias do final da Idade Média, com seus problemas de infra-estrutura urbana, caminhando

para descobrirem suas verdadeiras vocações e funções. Assim, a batalha dos burgueses para a

edificação dos centros comerciais, pode corresponder às tentativas dos atuais webdesigners em

construírem edificações fiéis, através de signos, ícones e significações, no espaço virtual para

poderem sinalizar a potencialidade turística do município.

Hotéis, restaurantes, a Prefeitura Municipal, a Cidade Alta, a Passarela do Álcool e muitos

outros espaços de Porto Seguro estão presentes no ciberespaço, em locais que pouco ou quase

nada contribuem para a promoção de debates públicos e para a prestação de serviços à

comunidade cívil. Pode-se dizer que apenas um dos locais analisados -

www.citybrazil.com.br/ba/portoseguro - pode traduzir a sua complexidade sócio-econômica,

apresentando a preocupação em desenvolver a democratização da informação, ao disponibilizar

para a população local espaços em que possa expressar opiniões referentes ao cotidiano. Este site,

explora as características do meio e oferece ações que agilizam a estadia do turista no local.

Contudo, de modo geral, muito pouco ou quase nunca se fala na melhoria da localidade,

apenas exalta-se o multiculturalismo como uma forma de se propagar aquele imaginário turístico

identificado no capítulo anterior. Natureza exótica, sensualidade e liberdade são os principais

temas apresentados pelos sites. Em português ou em qualquer outro idioma, principalmente o

inglês, Porto Seguro está presente na rede como o local da diversão, da descontração e do ‘se

querendo tudo pode’, como está evidenciado nos textos abaixo retirados de sites analisados.

Porto Seguro [...] conhecido por ser o local do descobrimento do Brasil. Carnaval é especialmente animado e o local é conhecido por sua agitada vida noturna e pelas comemorações do ano novo. Índios Pataxós, ainda vivem em Porto Seguro, pescando e fazendo artefatos para venderem aos turistas no centro da cidade histórica, onde tem interessantes igrejas, adoráveis jardins e uma bela visão panorâmica. A área em volta de Porto Seguro é uma densa reserva da Mata Atlântica. Cruzando a baía, chega-se ao Arraial d’Ajuda, um cenário admirável em um

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penhasco irregular com tranqüilas praias. O centro é cheio de bares e restaurantes e tem uma boa vida noturna. Ao longo da costa, está Trancoso, uma pequena e simples vila conhecida por ter as mais bonitas praias do Brasil.25

In:http://discoverbrazil.com/ntours/PortoSeguroPackageDN/index.cfm Turista tem muito o que fazer nas noites 'arraialenses'[...] Não há espaço para o tédio em um território repleto de bares, boates com infra-estrutura completa, bar e ambientes com efeito hi-tech. O roteiro da nigth obrigatoriamente passa pela Brodway, Estrada do Mucugê e Beco das Cores [...] Homens bonitos, geralmente estrangeiros tostadinhos e gatinhas que capricham no visual (nada de encarnar Gabriela Cravo e Canela e perambular por lá no modelito de chita, hein meninas!) sobem e descem a ladeira de paralelepípedos, atentos a olhares, e disparando olhares. Não sei que tipo de magia paira no ar, que faz com que Arraial D'Ajuda desencalhe seus visitantes. Que lá todo mundo se arranja, ah! isso é verdade. In: http://www.cosmo.com.br/viagem/integra.asp?id=96051

Assim como nesses dois exemplos, em quase todos os sites analisados há a propagação do

imaginário turístico do local (evidenciado anteriormente) bem como construções que traduzem e

fomentam o processo de espetacularização da cultura local, como pode ser observado no primeiro

texto sobre os índios Pataxós. Logo, pode-se dizer que na maioria desses espaços virtuais, ou

melhor em todos o sites analisados, que oferecem informações sobre o município, estas estão

limitadas a propagar o imaginário já identificado em outros mecanismos de comunicação.

Nenhum dos espaços virtuais analisados contemplou todos os aspectos estipulados. Muitos nem

mesmo exploram as características do meio para a contextualização do município, o que poderia

permitir ao turista uma maior percepção do cotidiano. As informações, em sua maioria, referem-

se à descrição de hotéis e de alguns atrativos turísticos, em geral, evidenciando as praias e as

casas noturnas.

25 Porto Seguro, in the extreme south of Bahia – including Arraial d’Ajuda and Trancoso – is another Bahia destination that has been selected by DiscoverBrazil.. Carnival here is especially lively and the town is known for its vibrant nightlife and New Year’s Eve celebrations. Pataxo Indians still live near Porto Seguro, fishing and making handicrafts to sell to tourists and the town itself has a historical city on top of the hill with some interesting churches, lovely gardens and wonderful panoramic views. The area around Porto Seguro is a densely forested nature reserve of original Atlantic forest. Across the bay lies Arraial d’Ajuda, which is set high on a cliff overlooking a rugged coastline with idyllic beaches. The town is full of bars and restaurants and has a good nightlife. Further along the coast is Trancoso, a simple little village known for having some of most beautiful beaches in Brazil.

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Considerando o conteúdo estipulado para o critério informação, pode-se destacar, como o

melhor estruturado, o site www.portosegurotur.com.br . Este oferece um arsenal de informações

referentes ao município, constituindo-se como um bom local para a identificação de algumas

prestadoras de serviços úteis ao turista, e de um modo mais genérico também à população local.

Contudo, o site não proporciona prestação de serviços, nem educação, nem e-comerce.

Nesse site, pode-se encontrar informações gerais sobre o município, como aspectos

geográficos, localização, também enumeração de estabelecimentos comerciais, telefones e

endereços de prestadores de serviço como hospitais, postos de saúde, empresas de transportes e

bancos. Ainda constam informações sobre o calendário de eventos, sobre os centros culturais e

enumeração das principais atividades econômicas. O jornalismo, nesse site, apresenta caráter

sensacionalista, noticiando apenas aspectos positivos do município ou fatos que podem interassar

a um grupo específico de turistas que procura por festas e diversões. Além do mais, o site é

extremamente desatualizado. No período da pesquisa, a última notícia, por exemplo, datava do

dia 09/04/2003, o que não condiz com as idéias centrais sobre a internet: dinamicidade, agilidade

e instantaneidade da informação.

De modo geral, o jornalismo referente ao município é voltado para notícias turísticas,

pouco se decodificam as ações cotidianas. As realizações populares, os conflitos sociais, as

situações reais dos bairros (os bairros nem constam nos sites) e as perplexidades sociais não são

pautas da maioria dos sites que oferecem jornalismo. Da totalidade de espaços que apresentam

este conteúdo, apenas três são totalmente referentes ao município de Porto Seguro, as outras

notícias estão veiculadas em extensões de jornais impressos de circulação nacional ou em portais

que aproximam cidades turísticas.

Dos espaços referentes ao município que oferecem jornalismo o www.portonet.com.br e o

www.portosegurotur.com.br limitam-se a notícias voltadas para a contemplação do local,

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divulgando apenas aspectos festivos e comemorativos. O www.muralnet.jor.br, uma revista

quinzenal local, apresenta uma dinâmica diferente, buscando utilizar o espaço como um local de

informação jornalística, tanto enfatizando as vivências e necessidades de informação da

população, decodificando as ações locais, quanto apresentando notícias referentes à pratica

turística. Assim, o site apresenta dois links jornalísticos denominados, “informações à

comunidade” e “informações aos turistas”.

No link ‘informações à comunidade’, tem-se notícias sobre a rotina da cidade. As sessões

temáticas estão divididas em sete temas, envolvendo políticas e administração pública,

educação, cidade, esportes, arte e cultura, cartas, gente. Assim, pelo site, pode-se ter uma noção

das realizações sociais e políticas do município. O outro link, “informações aos turistas”, no

período da pesquisa estava indisponível. Contudo, o site também propõe debates públicos, através

de uma enquete. Na ocasião da pesquisa, o tema referia-se à identidade nacional, questionando se

a história do Brasil deveria continuar a ser contada pela lógica dos dominadores ou se era preciso

rever a narrativa, esclarecendo as entrelinhas dos fatos (mais de 90% dos usuários tinham votado

na segundo opção).

Educação e e-comerce são os aspectos menos freqüentes na rede, referente ao

município. Oito sites apenas contemplam a educação, apresentando estudos científicos, versões

sobre a história local, inclusive um que apresenta linguagem infantil, de modo a orientar a criança

sobre as peculiaridades do local e explicações sobre a fauna e a flora, bem como sobre

construções arquitetônicas e sobre a cultura do município. Também constam orientações sobre a

forma de conduta no local (evidenciando o respeito à natureza). No

www.worldsexguide.org/porto-seguro.txt.html, um site voltado para o turismo sexual, há regras

contra prostituição infantil, ressaltando as punições legais nacionais (o site é voltado par o turista

estrangeiro), além de conter também normas para a utilização do site. Contudo, não há, em

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nenhum momento alerta quanto à não destruição do local e o incentivo à de cenários naturais e

urbanos, fator tão relevante no depoimento dos turistas, registrado no capítulo anterior.

O e-comerce é pouco explorado. Este aspecto é freqüentemente encontrado em sites de

imobiliárias, que disponibilizam vendas on-line de imóveis. Como no caso do site

www.altodetrancoso.com.br , extensão de uma empresa paulista que vende loteamentos em

Trancoso. O negócio pode ocorrer em tempo real uma vez que o usuário pode entrar em contato

direto com o vendedor, através de uma caixa de diálogo. Esta prática sinaliza a emergência das

empresas Lone Eagles e High Fliers, apresentadas no capítulo anterior. Na busca também foram

encontradas vendas de obras de arte, produzidas por artistas locais bem como de outros objetos

(roupas, eletrodomésticos).

As empresas hoteleiras utilizam a rede para oferecerem seus serviços on-line. Estas, que

constituem a maioria das representações do município na internet, estão fomentando uma cultura

comunicacional virtual que envolve a organização de links que conduzem o usuário a trafegar por

todo o hotel e em alguns espaços exóticos do município, antes de realizarem as reservas de suas

diárias. Geralmente, essas extensões de hotéis apresentam em sua estrutura links denominados

‘Reservas’ (permitindo a execução de reservas diárias); ‘Contate-nos/Fale conosco’ (promove

interação do navegante com a empresa); ‘Serviços’ (descreve os serviços do hotel); ‘Conheça

nosso hotel’(apresenta as instalações do hotel).

Nessas extensões de hotéis, geralmente aparece o link ‘Passeio Virtual’, onde estão

enumerados alguns atrativos turísticos, demonstrados através de fotografias e um pequeno texto

com a função de estimular o ciber-cidadão ao deslocamento físico, exibindo paisagens exóticas,

praias tropicais, shows contagiados por multidões enlouquecidas, lindas mulheres e garotos fortes

e um pouco de história, propagando o mito do descobrimento. Contudo, outros serviços são

oferecidos na rede, por outras empresas (imobiliárias, agências turísticas, e demais prestadores de

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serviço) como locação de automóveis, aluguel de casas para temporada, reservas de passagens

aéreas e/ou terrestres, matricula em aulas de dança, e entre outros, também a prestação de

serviços sexuais.

A interação, na grande maioria, proporciona uma relação direta apenas com empresa

prestadoras de serviços. Poucos sites oferecem chats e fóruns, ou caixas de diálogo ou enquetes.

Os fóruns dos sites locais são pouco freqüentados, o que se observa em alguns locais são espaços

para turistas disponibilizarem suas experiências ou deixarem seus recados. Não há de fato

estímulo à cidadania e à democracia, nas salas de bate papo. Apenas algumas poucas enquetes,

incitam a discussão.

De modo geral, constata-se que, de alguma forma, todos os sites oferecem algum tipo de

informação. A prestação de serviços ainda é limitada à rede hoteleira; não há exatamente o que se

poderia chamar de educação para o turismo, embora se registre a presença de sites que têm por

função fornecer pressupostos científicos sobre o turismo e sobre aspectos locais. A prática do e-

comerce não contribui positivamente para a dinâmica do comércio local, ao contrário, apenas

ratifica a discussão do tópico 1.1.3 de que a cibercultura está fazendo proliferar as divergências

entre ricos e pobres, afinal, enquanto as empresas com maior capacidade técnica e financeira

alcançam cada vez mais públicos distantes, pode-se dizer que mais e mais as pequenas empresas

(geralmente as empresas locais) perdem espaço no cenário competitivo do mercado.

Ainda, o que se pratica como jornalismo reproduz, na maioria dos casos, a prática da

impressa marrom, noticiando apenas o ilusório, o espetáculo, em vez de usar o meio para

promover realmente a democratização da informação que é a função principal do jornalismo. E

falando em democratização é possível ratificar que o que se encontra por interação nas

representações virtuais de Porto Seguro são espectros de uma economia capitalista e de um

sistema tecnocrático. Por um lado, tem-se um montante de empresas voltadas para interagir com

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possíveis clientes, no sentido de fazer-lhes reservas de seus serviços; por outro, sites que

apresentam chats e fóruns não oferecem temáticas capazes de fazer o usuário refletir sobre sua

condição humana nem mesmo sobre os aspectos contemporâneos de sua cidade.

Não existe uma interação entre a comunidade civil e os setores públicos e empresariais

que poderiam caracterizar uma democracia social e sinalizar uma melhor organização do local.

Não há também uma interconexão na rede nas representações de Porto Seguro. Assim, todos os

conteúdos estipulados para a pesquisa estão presentes na rede, na maioria das vezes, dissociados,

aparecendo com a freqüência identificada pela tabela que se segue (tabela 1.1)

Presença total dos conteúdos nos sites analisados

Conteúdo: Número total de sites em que se identificam os conteúdos:

Interação Em 76 sites (e-mail – 70; fórum – 5; chat – 5 caixa de diálogo 11)

Prest. de Serviços Em 65 sites Informação Em 111 sites Educação Em 8 sites E-Comerce Em 8 sites Jornalismo Em 21 sites

Com relação às características da internet, constata-se que estas não são devidamente

aproveitadas, o que dificulta ao usuário um melhor entendimento da dinâmica do município ou

mesmo melhor interagir com os locais, realizando ações que possam agilizar sua permanência

enquanto turista. Apenas nos endereços www.citybrazil.com.br/ba/portoseguro/

www.cvc.com.br/brasil/aereo/portoabrolhossaba_8d/default.asp e www.freires.com.br foram

Tabela 1.1

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contempladas todas as características do meio. De modo geral, observa-se a exploração da

hipertextualidade e da heterogeneidade. Em poucos sites, observa-se o princípio da metamorfose,

este geralmente aparecem em espaços jornalísticos e em imobiliárias e agências. Também o

princípio da exterioridade não é tão evidente.

A maioria das representações do município apresenta estrutura fixa, principalmente

quando se trata de hotéis. Estas empresas utilizam muito da heterogeneidade, da

hipertextualidade e da mobilidade dos centros para apresentarem suas acomodações,

compartimentos e mostrarem os serviços oferecidos. Por se tratar de edificações isoladas,

geralmente, não há exterioridade, por isso, na maioria das vezes, ao entrar em um hotel virtual, o

usuário não consegue deslocar-se para outro espaço, o que culmina também na não utilização do

princípio topologia, afinal, nesses hotéis virtuais estão aproximadas apenas as instalações da

própria empresa e alguns aspectos do cenário urbano e natural.

Em sites de imobiliárias ou agências de turismo, observa-se a exploração da topologia,

aproximando localidades em links, que, geralmente, não se convertem em ampliação do conteúdo

originário, mas sim, que levam o usuário a outro espaço, acrescentando-lhe outras informações

também superficiais. Nesses sites, fica fácil deslocar-se de hotel em hotel, ou, em poucos casos,

dar um passeio virtual pelo município. Mas esse é um caminho sem volta, afinal, muitas vezes

não há como retornar sem sair do site ‘linkado’.

Portanto, pode-se dizer que sites referentes ao municio de Porto Seguro ainda não

constituem verdadeiras representações do local, mas sim, simulacros isolados, que proporcionam

ao internauta apenas ilusões referenciais e limitadas. Como o demonstrado na tabela abaixo

(tabela 1.2), alguns recursos são mais explorados que outros, o que contribui para a necessidade

de planejar melhor o município de Porto Seguro no ciberespaço, na tentativa de representá-lo

como um composto orgânico vivo.

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Partindo da necessidade de se pensar um modelo de cidade virtual adequado à

potencialização do turismo, enquanto uma atividade sustentável, deve-se ressaltar a importância

também da exploração das categorias de atitudes, verificando ‘a priori’ como estas vêm sendo

utilizadas nas atuais extensões do município. Assim, nos sites analisados, identificou-se a

utilização dessas categorias em representações de hotéis, agências de turismo e imobiliárias.

Apenas a categoria analogia aparece em quase todos os sites. A substituição foi identificada em

imobiliárias; a assimilação em hotéis virtuais e a articulação é uma categoria de atitude bastante

utilizada por agências de turismo e imobiliárias, pondo o usuário em contato direto com hotéis

ou, no segundo caso, com o locatário ou o proprietário de imóveis. O total de exploração das

categorias de atitudes pelos sites analisados está identificado na tabela abaixo (tabela 1.3).

Características do meio encontrada nos sites analisados

Características Total de sites que apresentam a característica

Hipertextualidade Encontrada em 102 sites Metamorfose Encontrada em 43 sites Heterogeneidade Encontrada em 77 sites Multiplicidade Encontrada em 26 sites Exterioridade Encontrada em 15 sites Topologia Encontrada em 60 sites Mobilidade dos centros Encontrada em 57 sites

Tabela1.2

Categorias de atitudes disponibilizadas nos sites

Categorias Total de sites que disponibilizam a categoria

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A análise dos sites indica que ainda muito tem que ser feito e estudado para se edificar

uma estrutura virtual capaz de realmente não só representar a dinâmica do município, como

também propor novas ações locais. É preciso, portanto, pensar em um modelo de cidade que

possa ampliar as bases de um desenvolvimento turístico sustentável, na qual o ciberespaço seria

um elo entre as várias comunidades que compõem o cenário e a dinâmica do município.

Conteúdos, características do meio e categorias de atitude devem ser melhor redefinidos junto às

projeções virtuais do local, de modo que os internautas possam realmente utilizar a internet como

um espaço de agilização das ações e de democratização sejam essas através da possibilidade de

participação nas decisões políticas e administrativas, sejam através da fomentação de uma

competição mais justa entre as empresas.

Contudo, essa redefinição deve partir do posicionamento da população sobre o próprio

local, sem o que seria constituiriam uma ação tecnocrática. Nesse sentido, a internet pode ser

usada como um espelho da sociedade, apresentando os ícones e símbolos eleitos pelos moradores

e visitantes do município. Também se deve pensar na edificação dessa estrutura virtual, como

forma de pôr em sinergia e em pé de igualdade, com relação aos destinos da cidade, ricos e

pobres, patrões e empregados e demais tipos antagônicos, que diariamente compõem a ambiência

do local, fomentando os processos de hibridismo cultural, multiculturalismo e de mutação da

identidade.

O processo é difícil e lento, afinal conciliar intenções capitalistas, se não utópica, é uma

atitude bastante prodigiosa. Contudo o estudo sobre a vontade da população, associado a um

estudo sobre o planejamento urbano pode ser um caminho para se chegar a um consenso acerca

Tabela 1.3

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de uma representação virtual da cidade. Para tanto, no próximo tópico, será iniciada uma

discussão sobre a melhor forma de se projetar o município no ciberespaço, a partir das

perspectivas de representantes da população local e de índios Pataxós (os donos do espaço !?),

entendo as expectativas destes com relação ao uso da internet junto à resolução de suas

problemáticas.

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3.4. NAVEGAR É PRECISO. VIVER É PRECISO TAMBÉM

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3.4.1. Por que não uma ‘aldeia global’ no ciberespaço?

Box 1. Escola Indígena Pataxó

Estudar o município de Porto Seguro para propor a sua representação virtual não é tarefa

fácil diante da imensidão de aspectos e etnias que compõem a sua dinâmica. Assim, com base na

história, elegeram-se fatores preponderantes na sua identificação, de modo que na sua

transposição para o ciberespaço, deva-se privilegiar os elementos mais simbólicos do local,

buscando, evidentemente, tratá-los sem espetacularização, mas sim, criando perspectivas de

melhorias sociais e do próprio homem, que funcionem como estímulo à perpetuação da cidade

na rede.

Onde nasceu o Brasil? Indubitavelmente, o mito do descobrimento e a idealização do índio

enquanto ser puro e ingênuo são fatores de grande força na comunicabilidade turística

referente ao município, inclusive no ciberespaço, o que não poderia ser diferente, afinal em

Escola indígena Patoxó. Localizada na aldeia urbana, em Cora Vermelha, município de Santa Cruz Cabrália. A escola apresenta uma boa infra-estrutura comunicacional. TV com antena parabólica e internet via satélite estão disponíveis para alunos, professores e demais integrantes da comunidade.

Fotografias Moabe Breno.

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qualquer livro de história do Brasil, esse local é determinado como o centro originário da

cultura do país. Contudo, deve-se propor ao usuário da internet, aproveitando as suas

características, uma visão menos utópica sobre o local, utilizando recortes das práticas sociais

que fomentam o seu cotidiano e sinalizam os diferentes grupos culturais que o dinamizam. É

esta a perspectiva, embasada pela idéia de vencidos e vencedores de Benjamim (1997), que se

fundamenta o estudo sobre o multiculturalismo do local a partir do grupo étnico indígena.

Em cada espaço do município, há diferentes realizações humanas, voltadas para suprir as

carências e as necessidades sociais, para propor a interação e unidade dos grupos humanos que o

dinamizam, firmando então uma identidade cultural. Nos bairros, nas associações, nas escolas,

nas igrejas e nos guetos há sempre uma forma política de organização que delimita os aspectos

característicos das práticas sociais. É essa dinamicidade que torna os centros funcionais e

alimenta a concepção da cidade, enquanto um composto orgânico vivo. Assim, estudar o turismo

no município de Porto Seguro exige uma acepção sobre a atual forma de organização indígena,

enfocando questões étnicas que ainda persistem após tanto tempo da ‘civilização brasileira’,

embora a cultura indígena do local já tenha passado por transformações e adaptações à

contemporaneidade.

Eletricidade, televisores, antena parabólica, telefone, receptor de ondas de satélite, cursos

de informática, internet estão representados no Box 1, utilizado como epigrafe. Tudo isso compõe

a ambiência dos índios Pataxós na aldeia em Coroa Vermelha, município de Santa Cruz Cabrália,

há alguns minutos de Porto Seguro. Pode-se dizer, sem dúvidas, que essa é literalmente uma

aldeia global, que se procura utilizar das inovações para propor a unidade do grupo étnico

Pataxó. Portanto, no título do tópico, a expressão aldeia global (fazendo menção a Mcluhan)

reúne metonímia e ironia para iniciar um estudo, sobre a relação dos Pataxós com as atuais

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tecnologias de informação, evidenciando as expectativas destes para com a internet, de modo a

entender como esse ciberespaço pode proporcionar alterações na dinâmica da comunidade, que

venham a culminar na melhoria da vida.

Portanto, busca-se sinalizar, através do título, que os atuais Pataxós, ao contrário do que

delimitam comunicações turísticas, estão devidamente atentos às transformações mundiais. A

aldeia urbana, como os próprios índios denominam, é cenário das ações que promovem a

adaptabilidade do índio à contemporaneidade. Escolas, cursos, negociações e reuniões internas

são evidenciadas em Coroa Vermelha, propondo uma articulação geral entre os índios habitantes

da Costa do Descobrimento. Assim sendo, pode-se dizer que a aldeia vai tornando-se global à

medida em que vai absorvendo as influências mundiais, as utilizando em benefícios próprios.

Mas que ações reais estão sendo cogitadas a partir da internet? Ou que mudanças os Patoxós

esperam promover a partir da utilização deste média?

Na tentativa de entender como a internet pode potencializar as lutas indígenas,

contribuindo para organização e adaptação do grupo nessa era de cibercultura, foi aplicado

questionário (Anexo 3) a estudantes e professores índios atuantes na aldeia urbana, considerando

que estes podem representar a comunidade indígena da Costa do Descobrimento e, portanto, do

município estudado. Afinal, a própria dinâmica desse grupo cultural caracteriza-se pelo

deslocamento constante dos seus membros entre as aldeias. Assim, os índios transitam e residem

esporadicamente em aldeias diferentes, dependendo da sua atividade e das determinações gerais

do grupo. Portanto, pode-se inferir que tanto em Porto Seguro quanto em Coroa Vermelha há

uma mesma concepção sobre o mundo contemporâneo. A escolha pela realização da pesquisa na

tribo de Coroa Vermelha deveu-se à facilidade de deslocamento.

A partir de 1970, com a proliferação do movimento migratório para o município de

Porto Seguro, várias etnias começaram a misturar-se, gerando novas expressões culturais

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(multiculturalismo, hibridismos), mas, por outro lado, ampliando problemáticas já

evidentes no local, como a luta pela posse de terra entre e índios e ‘não índios’. Um conflito

que ultrapassa os limites territoriais, penetrando na esfera da cultura, dos valores, da

intolerância, da exploração e especulação sobre os espaços privilegiados pela natureza e

sobre as produções do homem local. Em entrevista, na segunda etapa da pesquisa de

campo, ocorrida entre 07 e 14 de janeiro de 2004, a representante da Funai, chefe do setor

de educação do órgão, Irene Maria de Jesus, aponta que essas problemáticas têm sua

ampliação com a prática turística.

Existe uma série de problemas decorrentes da atividade turística junto à aldeia indígena, principalmente pela presença, mesmo temporária, de não índios que devido a essa troca de informações tanto benéficas quanto maléficas induzem a práticas que acabam direcionando o que seria o natural dentro das aldeias para situações antes não previstas. Nós temos sérios problemas de prostituição, tráfico de drogas e a perda dos sentidos reais do que é ser índio, da cultura indígena e a perca da referência do legado cultural (Irene Maria de Jesus, em entrevista na primeira etapa da pesquisa)

Diante desse depoimento, ficou patente a importância de se desenvolver um estudo sobre

etnia, do modo que se possa melhor compreender a relação entre índios e turismo nessa era de

cibercultura. Assim, na ultima etapa da pesquisa de campo, aplicou-se questionário a dez

integrantes da aldeia urbana, pelo método intencional não probabilístico por julgamento. O

critério de seleção baseava-se no uso da internet e no grau de escolaridade.

Aplicou-se questionário, então, a cinco estudantes da oitava série do ensino fundamental,

o maior grau de ensino na escola indígena, e a cinco professores, respeitando as exigências e

peculiaridades da tribo, o que culminou na não interação direta entre pesquisador e amostragem.

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Afinal, de acordo com a orientação do cacique, os questionários foram entregues a um integrante

do grupo, que ficou responsável por sua aplicação e recolhimento. Assim as respostas foram

recolhidas após o prazo de um dia, o período estipulado pelo próprio representante. As questões

eram três: O que é etnia?; Quais as principais problemáticas que o grupo étnico indígena

enfrenta?; e Como a internet pode contribuir para a solução dessas problemáticas? Dos dez

questionários, apenas sete foram devolvidos preenchidos.

A compreensão sobre um grupo étnico não é tarefa das mais fáceis. As razões da etnia

estão impressas no dia-a-dia das comunidades enquanto totalidade de indivíduos e em cada

pessoa que, por si própria, tenta encontrar seu lugar na complexidade das relações sociais. Tentar

se encontrar, tentar se descobrir e tentar se impor no universo do capitalismo selvagem, que

define a todo tempo divisões nas sociedades, requer uma autoconsciência de si, da sua

coletividade e da sua história.

Ao verificar que as relações humanas estão submetidas mais à seleção social que natural,

entende-se que é “o modo pelo qual, sob os efeitos das seleções sociais, os elementos

antropológicos superiores e inferiores se combinam em uma população que determina as

vicissitudes da história” (POUTGNAT & STREIFF-FENNAR 1998, p.34) e compreende-se,

então, o surgimento e o declínio das nações e no interior destas, a complexidade das comunidades

que dinamizam o cotidiano das sociedades e compõem diferentes grupos étnicos.

De acordo com Poutgnat e Streiff-Fennar (1998, p.34), entende-se etnia como “um modo

de agrupamento formado a partir de laços intelectuais, como a cultura e a língua”. Desse modo,

os grupos étnicos não podem ser identificados somente por suas características físicas nem

mesmo podem ser delimitados a localidades geográficas. Um grupo étnico deve ser reconhecido

por meio das práticas e hábitos cotidianos, das manifestações estéticas, culturais e ideológicas,

das reivindicações e lutas contra a intolerância e da luta por seus direitos bem como pelos

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sentimentos comuns que sãos os responsáveis pelo estímulo e fortalecimento das relações entre

os indivíduos componentes de uma comunidade – um grupo étnico.

Considerando as necessidades de mudança e descoberta do homem bem como um arsenal

de informações, que a todo o momento invade seus espaços, compreende-se que existem

diferentes perspectivas entre pessoas que habitam uma localidade. Por isso, aponta-se que os

grupos ou comunidades étnicas não estão necessariamente reunidos em uma mesma área

geográfica, “eles existem apenas pela crença subjetiva que têm seus membros de formar uma

comunidade e pelo sentimento de honra social compartilhado por todos que alimentam tal

crença” (POUTGNAT & STREIFF-FENNAR, 1998, p.38). A etnicidade, portanto, fundamenta-

se pelo modo de como são organizados e delimitados os estilos de vida assim como pela

evidência das características distintivas que estabelecem as contextualizações sociais.

Essa percepção pode ser identificada junto ao grupo da amostragem. Dos sete

questionários devolvidos, em todos, a etnia era definida a partir de um inter-relacionamento

humano através das ações e valores que compõem a cultura do grupo e também dos aspectos co-

sangüíneos. Nas respostas referentes à definição de etnia, estão associadas história, língua,

política, religião, entre outros aspectos, como elementos identificadores de um grupo étnico.

Como escreveu um índio Pataxó “etnia é um grupo de pessoas diferenciadas e munidas por

sentimentos e em contexto de pertencimento sócio-cultural: histórico, lingüístico, co-sanguíneo,

política, religiosa, econômico, territorial”. Contudo uma necessidade de adaptação à

modernidade também faz parte do contexto étnico descrito pelos índios Pataxós. Assim

encontrou-se em uma das respostas que etnia “é nunca deixar suas origens, sua história e seus

costumes morrer. É deixar vivo o que está pouco a pouco sumindo e viver o que é real”.

De modo geral, pode-se, por inferência, identificar a existência de um sentimento comum

entre os componentes desse grupo étnico, que os possibilitam reconhecerem-se e identificarem-se

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entre si, fomentando os sentidos da comunidade. Pode-se também inferir que é justamente esse

sentimento coletivo de pertença que possibilita, atualmente, a unidade de um grupo étnico, como

a comunidade Pataxó.

Para Weber, o fator decisivo continua sendo a comunidade política. Ela corresponde ao que ele designa como a forma ‘mais artificial’ de origem da crença no parentesco étnico, aquela pela qual uma associação racional (tal como uma atividade comum de defesa do território ou do de conquista ou mesmo de uma simples subdivisão administrativa) transforma-se em comunalização étnica, atraindo um simbolismo de comunidade de sangue e favorecendo a emergência de uma consciência tribal ou a eclosão de um sentimento de dever moral ligado à defesa da pátria. (POUTGNAT E STREIFF-FENNAR, 1998, p.39).

Portanto, entendendo a política como um aspecto organizacional das comunidades, como

já foi evidenciado no capítulo anterior, é preciso definir as principais problemáticas sociais

características do grupo cultural em questão, para, em seqüência, trabalhar a partir da própria

perspectiva do grupo, uma maneira de se utilizar a internet de modo a contribuir para a edificação

de soluções. Está-se desse modo fomentando um processo de inclusão digital que, conforme Silva

Filho (www.espacoacademico.com.br/024/24amsf.htm), deve resultar de uma política pública

voltada para a implementação de ações que promovam novas oportunidades ao grupo.

Nesse sentido, identificou-se, na segunda questão, as principais problemáticas enfrentadas

pelo grupo Pataxó; como: preconceito, condições desiguais de trabalho, precárias condições de

habitação, falta de demarcação justa de terras, desintegração cultural, pobreza e o desprezo.

Também foi evidenciada, a espetacularização da cultura indígena, devido à falta de

conhecimento dos não índios sobre a história e as peculiaridades do grupo. Pode-se dizer que

muitas dessas problemáticas indígenas correspondem a articulações que descrevem a intolerância

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do homem frente às diferenças e que apontam para a urgência de ações que possibilitem o

fortalecimento dos grupos étnicos e das comunidades oprimidas, possibilitando-os interagir com

os seus ‘então opressores’ com as mesmas condições de sobrevivência. Na verdade, está-se aqui

estendendo a idéia de etnicidade para o espaço das relações, que, quando concentrado em

divergências econômicas, políticas, sociais, sanguíneas, ou sexuais, definem as hierarquias

sociais e as condições de sociabilidade, no sentido definido por Maffesoli (1998).

De fato, fundamentado em pressupostos capitalistas pode-se, de certo modo, justificar as

razões pelas quais predominam, entre diferentes grupos étnicos ou diferentes tribos, as condições

desiguais de sobrevivência e de participação nas decisões políticas locais. Contudo, quando se

consideram as diversas comunidades pelo ponto de vista cultural, reconhecendo que cada uma

tem seus próprios princípios, valores e desejos, não se pode entender, muito menos, aceitar tais

razões institucionalizadas. Todo grupo tem que ser valorizado e respeitado dentro de suas

perspectivas, sejam elas estéticas, de consumação, de convivialidade ou de erotismo.

Essa não aceitação ou indignação com as precárias condições humanas em que se

encontram grupos discriminados, faz emergir ações voltadas não somente para a resolução das

problemáticas, mas também para o esclarecimento ao público externo sobre os conflitos e sobre

as razões e expressões daquele grupo cultural oprimido. Nesse sentido, há, junto à comunidade

indígena, além das lutas por posse de terra, tão evidenciadas pelos meios de comunicação, ações

em prol da organização interna e da unidade do grupo, em que se buscam um estudo e a

valorização da cultura.

Hoje os professores indígenas têm uma organização. A Associação dos Professores Indígenas do Estado da Bahia. Elas passam por um processo de formação continuada e uma das reivindicações é a questão de dá suportes tecnológicos para as escolas. Além do suporte físico, eles querem que todos as

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escolas indígenas tenham computadores, estejam ligados à internet e a previsão deles é formar uma rede de escolas indígenas, como uma comunidade virtual. Em outros estados isso já acontece. Uma das principais atribuições atuais da escola indígena é a realização de pesquisa sobre a cultura antepassada. Os índios estão buscando encontrar no seu dialeto a denominação das inovações contemporâneas, como a internet. A pesquisa ocorre em autonomia metodológica, embora a Funai tenha um trabalho de orientação. Os próprios índios discutem entre si a melhor forma de atividades no sentido não só de resgate, mas de reconstrução da cultura, envolvendo tudo, material, espiritual, tudo que envolve a tradição. (Irene Maria de Jesus, Chefe do Setor de Educação da Funai. Durante a entrevista na primeira etapa da pesquisa de campo.)

A escola indígena corresponde a uma tentativa de adaptação da cultura do índio às

transformações mundiais, buscando propor um movimento contínuo de construção e reconstrução

da cultura, fomentando um processo total de multiculturalismo, no qual a educação torna-se a

base das transformações sociais. Tem-se com essa iniciativa uma proposta de educação

intercultural, na qual se pode encontrar, subentendido, a noção de que uma cultura não se

constitui isoladamente, mas também das inter-relações com o ambiente externo. Assim, à medida

em que o índio penetra na sociedade entrando em negociação com outras culturas, ele, consciente

de sua etnia, pode cada vez se auto-afirmar enquanto índio.

Nesse sentido, o ciberespaço pode ensejar a transformação da diferença em informação,

promovendo, ao mesmo tempo, a ampliação dos sentidos da comunidade e o reconhecimento,

por outros grupos, das peculiaridades indígenas. Portanto, está-se conduzindo o processo de

desterritorialização e, conseqüentemente, de glocalização, da referida comunidade. É essa

perspectiva de desterritorilaização que os índios Pataxós atribuem à internet, o que pôde ser

identificado junto à análise da terceira questão do questionário sobre a utilização da internet para

solucionar problemáticas indígenas.

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Em todos as respostas, esse ciberespaço foi evidenciado como um meio comunicacional

capaz de promover a divulgação das lutas da comunidade, ajudar na organização dos documentos

do grupo e na realização de pesquisas importantes para o seu desenvolvimento socioeconômico.

“A internet pode contribuir para divulgar as necessidades da aldeia, expressar as nossas idéias,

estar conectado com o que está acontecendo no mundo” expressou um Pataxó. Outro aponta que

“pesando em um mudo globalizado, a internet é um dos meios de solução, divulgando a

verdadeira situação que os povos indígenas enfrenta [sic] hoje e conscientizando o mundo, pois

índio também é gente e tem direitos!”.

Portanto, as perspectivas da comunidade indígena sobre a utilização da internet,

ultrapassam em muito as divulgações turísticas, em que estes aparecem como elementos da

exótica natureza da região. Ao contrário, o ciberespaço, é entendido pelos índios como mais uma

possibilidade de fortalecimento dos laços comunitários do grupo, reforçando assim suas

respectivas identidades bem como um espaço de conexão com outras culturas.

É importante perceber, a partir dessas opiniões, que existe uma crença na potencialidade

do ciberespaço em ampliar os sentidos da luta pelos diretos coletivos, contribuindo para a

ampliação dos limites espaciais da comunidade o que pode culminar em uma prática de

‘ciberativismo’. Pode-se assinalar, contudo, que agora mais do que nunca a comunidade indígena

vislumbra a possibilidade de se desprender das fronteiras geográficas e culturais, ampliando seus

horizontes para espaços talvez nunca imagináveis, o que pode refletir no maior fortalecimento da

comunidade, criando bases políticas sólidas para vencer os preconceitos e a discriminação.

Pode-se afirmar que a comunidade Pataxó está atenta aos novos significados que esse

mundo digital está impondo e como eles podem reorganizar o espaço habitado e, então, apropriá-

los às suas diversas propostas.Contudo, pode-se apontar que existe uma certa utopia (ou seria

aquela ingenuidade atribuída ao grupo há 500 anos?) com relação ao uso da internet. Os

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entrevistados parecem ainda não ter a compreensão de que, como em qualquer outro sistema de

produção, o atual modelo virtual também permite a existência de tecnologias de controle para o

fluxo de informações e serviços que formam o ciberespaço.

Os entrevistados demonstraram possuir uma certa compreensão das diferentes

perspectivas das organizações culturais, assim como uma postura política contundente e coerente

com seu grupo étnico. Ao proporem uma versão adaptada aos debates do passado, atribuindo-lhe

um novo sentido através da utilização do ciberespaço como intermediador das interações entre os

membros do grupo indígena, apontam para uma nova concepção da democracia voltada para o

desenraizamento dos propósitos da comunidade.

Ratifica-se, assim, que as novas tecnologias de informação, como o ciberespaço, não estão

criando novas concepções de mundo nem de identidade, nem de nação. Elas estão, sim,

ampliando os limites culturais dos grupos étnicos e desterritorializando ainda mais os seus

propósitos, tornado evidente que o conceito de etnicidade ultrapassa os limites territoriais. A etnia

pode ser entendida através de uma totalidade de aspectos que permeiam um contingente

populacional. São esses aspectos que permitem às pessoas o reconhecimento e a identificação

com o distante, geograficamente, em suas buscas, em suas viagens e em suas perspectivas

intelectuais, compondo, desse modo, uma comunidade, que pode ser identificada, então, como

um grupo étnico e suscitar uma nova prática turística.

Assim, a partir das expectativas indígenas sobre a internet, ratifica-se a necessidade de se

repensarem as representações virtuais de município, de modo a propor alternativas para a

comunidade construir suas próprias expressões virtuais e difundir suas concepções de mundo,

fortalecendo, desse modo, os sentidos da sua cultura. É preciso também percorrer as idéias dos

outros grupos culturais que fomentam o de processo multiculturalismo característico do

município, observando a concepção destes sobre a sua própria ambiência e destacando as suas

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perspectivas sobre o uso da internet. No próximo tópico, será apresenta uma percepção dos

demais habitantes dos principais centros turísticos do município de Porto Seguro (Trancoso,

Arraial d’Ajuda e a cidade sede), identificando que aspectos estes entendem como

representativos do local.

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3.4.2. Estudantes na esfera social da cibercultura Pra mostrar que já estamos na era de lutar pela nossa razão, combater a pobreza e a miséria do mundo vermelho tição. O vulcão que é filho da terra e a terra tem seu valor, quando a tristeza se afaga derrama larva de amor. Saia de baixo meu bem lá vem o vulcão da liberdade. Encontrar os limites na busca, cara a cara e também olho a olho impondo a bandeira do sim tendo a certeza e a coragem do povo. (Matéria, Tonho. Vulcão da liberdade. In: Daniela Mercury, 1998, disco Elétrica)

Não faria sentido traçar um estudo sobre a dinâmica de um local na era da informação,

sem perceber o pensamento do nativo sobre o próprio local de residência e sobre as atuais

transformações mundiais, proporcionadas pela cibercultura. Afinal, a compreensão sobre as

concepções populares constitui-se como fator imprescindível para que seja sugerida a edificação

de uma cidade virtual, voltada realmente para a ampliação de ações com bases democráticas.

Assim, entender razões, anseios populares e seus limites sociais e econômicos pode ser um

caminho para conduzir os próprios cidadãos a edificarem realizações mais humanas, utilizando

das tecnologias digitais, capazes de combater a pobreza, a miséria e demais perplexidades que

dificultam a formação de uma sociedade mais justa e mais democrática.

Partindo dessa perspectiva, foi realizada pesquisa com estudantes nativos pelo método

intencional não probabilístico por julgamento, na última etapa da pesquisa de campo, em

novembro de 2004. Escolheu-se como amostragem estudantes universitários e do terceiro ano do

ensino médio, considerando-se que estes são mais atentos às transformações mundiais e às

inovações tecnológicas, além de estarem em fase preparatória para o mercado de trabalho, o que

leva a inferir que as perspectivas de vida estão aflorando.

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Para a delimitação da amostragem escolheu-se uma escola pública da cidade de Porto

Seguro, uma do distrito de Trancoso e uma escola pública em Arraial d’Ajuda (representando as

classes baixa e média baixa). Também se escolheu uma entre as duas das escolas particulares

localizadas na cidade sede (únicas do município) e uma das duas faculdades particulares

próximas ao município como representantes das classes média alta e alta. Na pesquisa realizada

na faculdade, foram abordados apenas estudantes residentes em Porto Seguro. Em cada uma

dessas instituições foram aplicados questionários a dez alunos, somando um total de cinqüenta

questionários aplicados.

Com essa pesquisa, objetivou-se entender um pouco da percepção dos nativos sobre o

município de Porto Seguro, as suas concepções sobre a atividade turística bem como a freqüência

de uso da internet e as expectativas de como esse meio pode contribuir para a melhoria da vida no

município. O questionário (anexo 4) contou por onze questões subjetivas, elaboradas com base

nas teorias utilizadas neste trabalho e nas observações realizadas nas etapas anteriores desta

pesquisa.

Na primeira questão, pediu-se a sinalização de três aspectos que caracterizam o

município. Os estudantes da escola de Trancoso apontaram que as praias, a simpatia popular, os

centros históricos, o turismo, a união da comunidade, as possibilidades de emprego, o carnaval e

a precária infra-estrutura urbana, são aspectos que caracterizam o município de Porto Seguro.

Além desses, os estudantes representantes do Arraial d’Ajuda apontaram que o município

corresponde a uma das principais cidades turísticas do mundo por possuir um belo litoral e ser a

terra ‘Mater do Brasil’.

Os estudantes da amostragem de escolas públicas da cidade de Porto Seguro

acrescentaram aos aspectos já identificados pelos estudantes da amostragem nas escolas dos

distritos, a musicalidade do local e as barracas do circuito Porto Night como ícones do município.

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Os alunos da rede privada identificaram, além da natureza e riqueza histórica, a sujeira, o intenso

consumo de drogas e a prostituição. Por fim, os estudantes universitários da amostragem, além de

ratificarem os aspectos citados pelos alunos do nível médio, apontaram a facilidade de acesso ao

local, a vida noturna ativa e desestruturada bem como a impunidade como características gerais

do município.

Por uma análise dessas respostas, pode-se inferir que o imaginário da carta de Caminha e

o mito do descobrimento se fazem presentes junto à concepção da população sobre o próprio

município. Observa-se, contudo, uma leitura mais crítica sobre o cotidiano quando os estudantes

apontam perplexidades sociais como impunidade, consumo de drogas, prostituição e precária

infra-estrutura urbana junto à caracterização do local. Constata-se, entretanto, que o turismo

constitui-se como a atividade econômica na qual os nativos depositam suas expectativas de vida,

deixando para trás outras potencialidades como a agricultura, a pecuária e a própria

industrialização, fato que pode ser decorrente (e/ou explicar) do enorme número de empresas

turísticas e a carência de empreendimentos voltados para a realização de outras atividades

econômicas.

Contudo, como o turismo é atualmente a principal atividade econômica do local, pediu-se

para que fossem identificados três aspectos positivos e três aspectos negativos provocados pelo

setor no município. De modo geral, foram apontados como aspectos positivos o aumento dos

vínculos empregatícios, desenvolvimento tecnológico, encontro entre etnias e as trocas culturais,

reconhecimento mundial do município, além das possibilidades de aumento da renda familiar e

melhoria de vida. Os aspectos negativos apontados foram poluição, urbanização descontrolada,

falta de capacitação dos moradores locais, prostituição, pesca predatória, violência, assaltos,

aumento do consumo drogas, comércio ilegal, divisão social aparente e também a falta de

respeito à cultura local por parte dos turistas. Ainda foi identificado, como aspecto negativo, o

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aumenta dos riscos de contaminação da população com doenças venérias e a destruição do

patrimônio arquitetônico e natural.

Em muitas respostas, identificou-se como aspecto negativo o sentimento de liberdade do

turista, apontando que este o permite agir sem pudores e sem respeito à população, praticando

atos como a utilização de drogas em espaços públicos, práticas de vandalismo, não valorização

das expressões locais e a concepção de que as mulheres nativas todas estão disponíveis ao sexo.

Considerando o imaginário sobre Porto Seguro e a dinâmica dos principais centros emissivos

desse destino (São Paulo, Brasília, Minas Gerais), pode-se apontar que esse aspecto contextualiza

a idéia de flanerie burguesa temporária e comunitária, desenvolvida no capítulo anterior,

ratificando que o turista busca a evasão e a fuga do seu cotidiano para enquadrar-se em uma

ambiência, na qual ele se sente livre para executar ações que provavelmente não podem ser

realizadas em seu local de residência.

Evidencia-se, porém, que a identificação de aspectos negativos junto ao desenvolvimento

da atividade turística, vem a exigir um processo constante de organização urbana, no qual se

devem buscar elementos e dispositivos voltados para amenizar problemáticas sociais que também

contextualizam o local. Nesse sentido, é que se pensa a tecnologia como um fator capaz de

propor mudanças sociais benéficas à população, evidenciando o que se considerou como

fenômeno de tendência nos destinos turísticos. Contudo, reafirmando a percepção de fenômeno de

fato, junto aos centros receptivos, compreende-se que as expressões tecnocráticas e a

competitividade em torno da atividade turística, típica de qualquer ação capitalista, desencadeiam

tanto aspectos positivos quanto negativos em qualquer centro onde tecnologias (mecânicas,

eletrônicas ou cibernéticas) são utilizadas. Partindo dessa perspectiva, pediu-se, no terceiro ponto

do questionário, para os estudantes da amostragem apontarem três aspectos positivos e três

negativos provocados pela utilização de aparatos tecnológicos no cotidiano do município.

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Velocidade nas informações, agilização das tarefas, desenvolvimento urbano, redução das

distâncias, conexão com o mundo, combate às doenças, aumento da produtividade, a

disponibilização de caixas bancários de auto-atendimento, novas possibilidades de trabalho, de

educação, de interação social e de lazer foram, de modo geral, aspectos identificados como

positivos. Deve-se destacar que, na maioria das respostas, foram evidenciadas as atuais

possibilidades de aquisição de informação e de conhecimento bem como a potencialidade dos

meios de transportes, o que sinaliza uma acepção coerente com essa atual ‘era da informação’.

A observação acima pode ser ratificada a partir da quarta questão do questionário que

pedia a enumeração em ordem de importância de três aparatos tecnológicos capazes de contribuir

para a melhoria de vida. Os aparelhos de comunicação e de transportes foram os mais citados.

Em 46 (quarenta e seis) questionários foram citados aparelhos de comunicação em especial o

computador, o celular e a televisão como os aparatos que mais contribuem para a melhoria da

vida. Fax, telefone fixo e rádio, também foram enunciados. Os meios de transportes apareceram

em 20 (vinte) questionários, destacando-se avião e automóveis particulares. Outros aparatos

como eletrodomésticos, aparelhos utilizados pela medicina, caixas de auto-atendimento,

maquinário utilizado no trabalho de infra-estrutura urbana e aparelhos identificadores de armas e

de drogas também foram enumerados como importantes para a melhoria da vida.

As duas questões anteriores também foram necessárias para que se pudesse chegar

sutilmente ao objetivo principal do questionário que é identificar a relação da população com o

computador, destacando a utilização da internet. Assim perguntou-se, na quinta questão, como o

computador poderia contribuir para a melhoria de vida. Pesquisas, interação, informações,

diversão, possibilidades de trabalhar na própria residência e agilização do trabalho em empresas,

movimentação econômica através do e-comece, produção educacional, novas possibilidades de

aquisição de emprego, avanços na medicina e a conexão do homem como o mundo foram ações

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sugeridas pela utilização do computador capazes de potencializar e dinamizar as ações,

fomentando benefícios para os cidadãos conectados.

Também foi indicado, como uma possível melhoria da vida a partir do computador, o

processo de desenvolvimento social a partir da inclusão digital bem como o desenvolvimento de

comunidades virtuais que poderiam promover mais qualidade na educação popular. Contudo,

embora se tenha identificado um conhecimento sobre a potencialidade do computador,

contradizendo o depoimento do presidente do Conselho Regional de Turismo da Costa do

Descobrimento – CRTCD – , evidenciado no tópico final do capítulo anterior, pode-se inferir que

não há uma prática mais contundente da maioria dos moradores local com relação à internet pela

falta de acesso ao meio. Afinal, dos trinta estudantes da escola pública que responderam ao

questionário, apenas 10 (dez) possuem computador em casa e desses apenas três têm conexão

com esse média. Todos os estudantes da escola particular que compuseram a amostragem e sete

dos dez estudantes universitários possuem o parelho em casa, conectados à rede.

Esses números podem indicar não apenas um processo de exclusão digital, mas também

podem evidenciar a proliferação de um sistema social injusto e polarizador, no qual perpetua-se a

histórica condição social em que os ricos cada vez mais se beneficiam com as inovações

tecnológicas ao passo que os menos favorecidos economicamente permanecem à margem desses

avanços. Esse processo pode suscitar também a falta de políticas voltadas para inserção da

população no mercado de trabalho turístico. Portanto, diferente do que apontou o representante

do CRTCD, a falta de preparo da população local para atuar com a internet pode não ser

justificada pela falta de um pensamento de modernidade, mas sim pela falta de oportunidades de

especialização e de capacitação profissional.

Essa inferência pode ser também constatada pelo total de programas conhecidos e

utilizados pelos estudantes que compunham a amostragem, bem como pela freqüência de acesso

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à internet e pelo tipo de site utilizado. Os programas mais conhecidos pelos alunos da rede

pública, que participaram da pesquisa, são word, excel, windows e internet. Estes acessam a rede

no máximo duas vezes por semana, na escola ou em cybercafes, o que aponta para um tempo

limitado de conexão. Geralmente freqüentam sites de busca com o propósito de efetuarem

pesquisas para trabalhos escolares, além de buscarem também por diversão.

Os alunos da rede particular (ensino médio) que responderam ao questionário informaram

conhecer e utilizar os programas word, excel, windows, corel draw, e power point, além de

internet. Estes acessam a rede, no mínimo, duas vezes por semana, na própria residência. Esse

detalhe conduz à inferência de que o tempo de conexão não segue uma delimitação institucional

(como o acesso na escola), nem financeira (como o acesso no cybercafe, onde um minuto de

conexão é bastante caro, considerando o valor do salário mínimo). Os sites mais freqüentados por

esses alunos da rede privada são os de busca para pesquisas, os de diversão, de jornalismo, de

interação e de e-comerce. Utilizam as informações geralmente para a confecção de trabalhos

escolares, também efetuam relações a partir das salas de bate-papo.

Por fim, os alunos universitários da amostragem utilizam mais dos programas de

processamento de texto e internet, cujo acesso dá-se várias vezes por semana em casa, no

trabalho e/ou na faculdade. Freqüentam sites de jornalismo, de buscas, de interação e de e-

comerce. Geralmente utilizam a rede para pesquisas da faculdade e para a agilização no trabalho.

Nenhum dos estudantes que participaram da pesquisa, informaram conhecer linguagem de

construção de sites.

Considerando com (Ortiz, 1994, p.14) que “as idéias de sociedade da informática ou de

aldeia global sublinham a importância da tecnologia moderna na vida dos homens”, pode-se

inferir, a partir das informações coletadas, que vem se manifestando, no município, um

pensamento de mundialização. Para o mesmo autor, esse pensamento corresponde ao elemento

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fundamental para que sejam promovidas mudanças nas sociedades, no sentido de enquadrá-las

nos modos contemporâneos de produção tecnológica. Pode-se também apontar que esse

pensamento contribui para a concepção de Porto Seguro como cidade global da Costa do

Descobrimento, possuindo uma originalidade, uma vida própria e, ao mesmo tempo, uma

conexão com o mundo.

Contudo, também se pode ratificar, a partir da pesquisa, a idéia iniciada no tópico 1.2.2,

que o município está longe de representar uma sociedade modelo de democracia, contradizendo o

que pode ser entendendido nas entrelinhas do imaginário propagando sobre o local, inferindo-se a

alarmante discrepância social, como observado na amostragem; na medida em que dos 30 (trinta)

alunos representantes das escolas públicas, apenas 10 (dez) possuem computador. Ao passo que

dos 20 (vinte) da rede privada - ensino médio e universitário – dezessete o detêm.

Portanto, pode-se identificar a existência de vários grupos culturais ou de vários

subsistemas sociais componentes do município de Porto Seguro, que, mesmo apresentando

concepções de mundo semelhantes, podem ter interesses e necessidades divergentes. Essa

constatação, por sua vez, vem a tornar ainda mais complexa a edificação de uma cidade virtual,

que venha a contribuir para o desenvolvimento socioeconômico desses vários grupos que

compõem a ambiência do local. As várias identidades culturais, que estão por trás desse

referencial econômico e tecnológico utilizado, sugerem um estudo detalhado sobre os valores,

estilos de vida e as formas de pensar dos grupos que compõem a dinâmica do local. Por esse

estudo, então, pode-se buscar a virtualização do local, enquanto proposta de democracia.

O que se apresenta, então, já no final desse trabalho é mais um grande problema que

merece maior atenção, não se esgotando aqui sua discussão. A cidade turística, com base nos

estudos realizados no capítulo anterior, comporta-se como um espaço coletivo, onde se observam

interações humanas sinérgicas. Por outro lado, foram evidenciados, por uma amostragem da

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população local, aspectos negativos que merecem determinada atenção no sentido de se

amenizarem perplexidades sociais, que resultam dessas interações turísticas, comuns em centros

capitalistas. A esse fato, deve-se associar interesses das várias comunidades de turistas que

desfrutam do local, dos grandes e dos pequenos empresários além dos interesses públicos e,

principalmente, dos interesses dos moradores locais, considerando as várias identidades culturais.

Por uma analogia à compreensão de Ortiz (1994) sobre o paradigma do world system,

pode-se dizer que a dinâmica turística e a utilização da internet fazem avançar o pensamento mas

não deixam de apresentar problemáticas, que, se ignoradas podem levar os sistemas sociais a

grandes impasses. Assim, a grande competitividade entre empresários, as diferenças sociais

evidentes, o desrespeito à população local por turistas, o crescimento urbano descontrolado, a

utilização da internet para a propagação de um imaginário, que, muitas vezes, deturpa o senso do

local bem como a utilização desse espaço para promover a prostituição junto à atividade são,

entre outros, impasses que exigem medidas urgentes. É preciso que o turismo, atividade

econômica mais lucrativa e fonte de esperança para a juventude nativa, não termine como mais

uma ações de exploração desenfreada, tal qual como ocorreu após o nascimento do Brasil, como

o pau-brasil, com o açúcar...

Nesse sentido, a projeção do município no ciberespaço deve partir do aspecto comum

entre os vários grupos que fomentam a sua dinâmica, de modo que todos esses segmentos possam

se identificar com essa representação virtual, e, então, dinamizá-la. Através desse trabalho, pode-

se evidenciar que o ponto de intersecção entre esses segmentos é o imaginário sobre o local.

Afinal, tanto as comunicações tradicionais sobre o município (sendo elas institucionais ou não),

quanto os depoimentos dos turistas, bem como as representações virtuais analisadas e os aspectos

identificados por os estudantes da amostragem, contextualizam Porto Seguro como o local de

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natureza exuberante e da festividade, propagando e legitimando o imaginário da Carta de

Caminha.

As respostas do último quesito do questionário aplicado aos nativos podem vir a ratificar

esse posicionamento. Pediu-se que fossem apontadas três características do município que

deveriam representar o município na internet. Centros históricos, a natureza, incluindo as áreas de

preservação da Mata Atlântica, os empreendimentos, as festividades e a culinária foram os

aspectos mais citados. Contudo, outros fatores foram enunciados como importantes, entre eles, a

descrição do perfil dos visitantes, os eventos, cursos de especialização, o comércio local, a oferta

de emprego, a arte popular, o folclore do município bem como a historia do povo local,

enfatizando a vida dos antigos morados. Também foi sugerida uma interconexão do município

com toda a Costa do Descobrimento.

Com essa perspectiva de associação e interconexão social é que será edificada, no

próximo tópico, uma abordagem sobre o modelo de cidade digital adequado para a representação

do município de Porto Seguro no ciberespaço, na tentativa de contemplar a sua dinâmica.

Entretanto, o enfoque principal da discussão que se segue é traçar um plano em que se possa

cogitar uma prática de democracia junto às decisões referentes aos destinos do município, de

modo a evidenciar não apenas os interesses dos segmentos com relação ao turismo, mas

realmente de se propor um processo de inclusão digital, na qual possa-se oportunizar uma

educação intercultural em que o multiculturalismo e os hibridismos culturais contribuam para

alterações efetivas, reduzindo as diferenças sócio-econômicas e os conflitos étnicos locais. Desse

modo, espera-se que a internet possa constituir-se, de fato, como um ‘vulcão da liberdade’,

confirmando, assim, a metáfora do texto usado como epígrafe.

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3.4.3. Software da liberdade Sob o sol da liberdade, liberdade em que se dança. Sob o sol da liberdade, ainda sou criança. Ao penhor dessa igualdade, nosso povo que se esbalde em teu samba retumbante. Brava gente brasileira, gente boa que se preze, nossa terra tem palmeiras onde reina o samba reagge. O samba reagge rei. Salve salve o meu país, salve salve pátria (mátria) minha. E a nossa amada batu, batu, batucada. Somos notas, soltas notas, a compor a melodia, vinda das massas, vindas das praças, vinda de onde não se ouvia. Do mangue beat do Recife que resiste, do rap que repete a violência, do parintins que o índio existe. Pops como pecado. Pops como pecado. Agora olhe pro céu, veja como ele está lindo. Sob o sol da liberdade, liberdade em que se dança. Sob o sol da liberdade ainda sou criança. O povo reza pra Deus ajudar, o povo canta seus hinos. O povo vai aprender a falar é flor em teu solo se abrindo. Com a nosso pouca idade, com a nossa alegria, sob o sol da liberdade neste instante, neste dia. Sob o sol da liberdade a brilhar no céu da pátria. Neste dia, neste dia. (MECURY, Daniela, Sol da liberdade. In: Daniela Mercury, disco sol da liberdade, 2000)

Liberdade talvez seja a palavra que melhor traduz ações na rede. Liberdade de expressão

em todas as dimensões, com todos os exageros do underground, com as necessidades de

reivindicação popular, com as cobranças sociais e com as metáforas identitárias dos grupos com

identidade de resistência e de projeto. Não por acaso, então, se escolheu a canção Sol da

Liberdade como epígrafe para finalizar este trabalho, mas na tentativa de explorar as entrelinhas

de seus versos para incitar uma discussão sobre as possibilidades de mudança social promovidas

pela rede e acima de tudo, cogitar sobre a capacidade popular de adaptação ao presente e a

preparação para o futuro.

Nesse sentido, compreende-se a necessidade de se enfatizarem elementos que compõem o

imaginário das localidades, que são, em muitos casos, motivos de orgulho e de auto-estima para o

povo nativo e, no caso da cidade turística, comportam-se como atrativos para empresários e

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consumidores. Portanto, festividades, natureza exótica, mitos históricos e demais aspectos do

imaginário podem, acima de tudo, incentivar a realização de novos vínculos sociais e

econômicos, capazes de ampliar as oportunidades de melhoria de vida para a população local.

Para tanto, é necessário que haja, junto às políticas de planejamento e organização social, um

processo comunicacional responsável, voltado não apenas para difusão desses aspectos, mas

também para o estímulo à cidadania e à democracia.

A canção, utilizada como epígrafe, pensada para celebrar o meio milênio do Brasil,

comporta-se como um convite para o povo reformular suas ações e suas concepções sobre o

próprio país, valorizando suas expressões locais, mas sem perder de vista as exigências de

multiculturalismo e dos hibridismos culturais que promovem alterações nos aspectos identitários.

Exigências essas, tão evidentes no pensamento da cibercultura, têm nos meios de comunicação

um espaço ideal para se proliferar por toda a comunidade, considerando as peculiaridades de cada

meio. Assim, com atenção voltada para a internet, admite-se que, em muitos processos

comunicacionais, principalmente nos turísticos, é preciso repensar as abordagens sobre as

localidades, enfatizando a utilização adequada das categorias de atitudes permitidas na rede e a

exploração incisiva das características desse meio.

A necessidade de conhecimento, a ânsia por informação, a vontade popular de munir-se

com as novas tecnologias da informação indicam uma potencial mentalidade cibernética, que

pode fazer da informação e das ações on-line ferramentas que promovam a democracia, a

desburocratização e a interação social. E como não poderia deixar de ser, por esse mecanismo

comunicacional também podem ser apresentados conteúdos capazes de conduzir os usuários a

repensarem suas práticas turísticas, atentando para o respeito à diferença e à alteridade. Com a

promoção de uma educação intercultural, pode-se, paulatinamente, articular nativos, empresários,

turistas e políticos de modo a contribuir para a edificação de uma sociedade mais justa e mais

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humana. É, nesse sentido, que se entende o software decodificador da cidade, como o software

da liberdade.

Contudo, entendendo o turismo como uma atividade cultural própria da sociedade de

consumo e uma vez identificadas alarmantes discrepâncias socioeconômicas no centro receptivo,

é importante ressaltar que, para a sua organização e posterior digitalização, devem estar

combinadas ações públicas e privadas na execução de investimentos financeiros e tecnológicos

de modo a preparar e potencializar o espaço físico para ser consumido a partir de suas

especificidades. Mesmo porque, uma cidade desorganizada não pode apresentar-se organizada na

rede. Assim sendo, é importante pensar a cidade turística como um espaço em continuum

planejamento. Entendendo-se planejamento turístico como o processo de organização, no qual

são considerados fatores sócio-políticos e econômicos do local, onde a atividade se evidencia,

envolvendo planos de longos prazos e projetos estratégicos.

De acordo com Beni (2000), a organização da cidade turística deve refletir a vontade da

população, garantindo o seu envolvimento e participação nas atividades de planejamento e

desenvolvimento, construindo uma ação integrada e sustentável. Esses planos referem-se às

metas e objetivos específicos da cidade e vinculam-se ao desenvolvimento futuro, enquanto os

projetos estratégicos direcionam-se à identificação e à solução de questões imediatas, orientando-

se para ações em curto prazo e ao encaminhamento de acontecimentos inesperados.

Os planos de longo prazo compreendem tanto a infra-estrutura urbana do local quanto a

construção de empresas de serviços, como hotéis, agências de viagens, centros de diversão e

restaurantes, evidenciando o aumento da oferta de empregos. Com relação à infra-estrutura

urbana, é preciso edificar e manter um sistema capaz de responder às necessidades da própria

população e da flutuante, oferecendo serviços de abastecimento de água, iluminação, redes de

esgoto, saneamento básico, transportes, serviços de comunicação, postos de saúde e

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investimentos na segurança e limpeza pública, construção de centros de eventos, além de

investimentos em pontos de presença, incluindo os POPs digitais, uma necessidade da

contemporaneidade. Assim, deve constar do planejamento da cidade turística a construção e/ou

reformas de aeroportos, portos, rodoviárias e digital places.

Ainda deve fazer parte do planejamento a previsão de investimentos na qualificação do

profissional de turismo, o aumento de impostos nos cofres públicos, a melhoria do padrão de vida

da população bem como a existência de legislação que ordene a construção e a ocupação do

espaço físico. Devem ser criados cursos de idiomas e de informatização para profissionais

atuantes direta ou indiretamente no setor, ações em defesa do meio ambiente, além de normas de

punição e campanhas de conscientização voltadas para a fiscalização e denúncia das

perplexidades sociais como tráfico de drogas, prostituição infantil, exploração do trabalho e

espetacularização da cultura.

Esse processo deve ocorrer através de um estudo preliminar do espaço, identificando e

descrevendo a sua organização geopolítica e administrativa, os recursos ambientais e culturais da

cidade, bem como as suas características socioeconômicas e suas tendências de tráfego. Em

seguida deve ocorrer, na forma de diagnóstico, uma análise desses aspectos para, em

conseqüência, serem formuladas políticas e diretrizes de reorientação e programas de ação,

estabelecendo metas e projetos específicos para garantir a interação sustentável das inovações

tecnológicas aos aspectos políticos, sociais e econômicos.

Esse estudo e formulação de políticas para o desenvolvimento do setor turístico têm que

ser evidenciados a partir do reconhecimento e legitimação das questões identitárias, levando em

conta as concepções de valor da comunidade. Segundo Martín (2001), obtém-se a concepção de

valor pelo conhecimento do processo histórico de formação social, em que são identificados seus

valores materiais e imateriais em uma esfera que visa comunicar o que os objetos, as tradições e a

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paisagem significam naquele espaço. Os valores a serem reconhecidos, portanto, devem ser

extraídos da dinâmica do local e da história, de modo que habitantes e visitantes reconheçam e

identifiquem tais valores como constituintes da memória e da identidade local. Assim, pode-se

edificar a prática do desenvolvimento turístico sustentável.

O estudo sobre o município de Porto Seguro, evidenciado no capítulo anterior, aponta

para a urgência de um plano de metas que contemple todos esses fatores, afinal, pode-se dizer

que a atividade turística ainda está em processo de organização, embora o local comporte-se

como grande centro receptivo do país. Contudo, essas ações de planejamento devem partir da

administração pública, envolvendo projetos e medidas estaduais, municipais e federais, voltadas

para promover a organização do espaço, estimulando a sinergia entre empresários, nativos e

turistas.

Após a etapa do planejamento urbano, aponta-se que a cidade turística pode ser

digitalizada, permitindo a identificação dos seus aspectos culturais e das formas como a cidade

possibilita emergir os fluxos que a caracterizam – de capitais, de informações e de pessoas

considerando as características da internet bem como as categorias de atitudes que podem

fomentar a dinâmica dos locais nesse ciberespaço. Então, fatores que compunham a dinâmica

local devem estar disponíveis da melhor forma para que internautas percebam práticas sociais,

econômicas, políticas, concepções e crendices que caracterizam e movimentam o cotidiano da

população.

A partir de estudos aqui realizados, identificam-se pressupostos necessários para se propor

a digitalização do município de Porto Seguro. Pelo depoimento dos turistas (no primeiro

capítulo), observa-se a necessidade de informações mais detalhadas e precisas com relação aos

aspectos urbanos, naturais e geográficos do município bem como detalhes do cotidiano popular.

A partir da análise dos sites do tópico 2.3.3, concluí-se que a maior necessidade dos empresários

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é dispor de técnicas para ampliarem suas negociações e alcançarem mercados consumidores cada

vez mais longe, devendo-se incluir, nesse caso, empresários que ainda não têm suas projeções na

internet.

Pelo estudo sobre etnia e sobre as concepções da população nativa, evidencia-se a

importância de se promoverem debates públicos na rede e maior interação social, colocando em

contato, turistas, empresários e população local de modo que se possa incitar relações realmente

sinérgicas de modo que nos períodos de alta temporada, a beleza da cidade não seja sufocada

pela espetacularização da cultura, pela especulação econômica, nem pela sujeira e demais

perplexidades sociais, como a prostituição e a consumação exacerbada de drogas.

Pensando em uma forma de saciar essas necessidades, considera-se que as cidades virtuais

devem emergir como um espelho do espaço urbano, capaz de proporcionar um alto nível de

consciência política e social, constituindo-se como um suporte necessário à sobrevivência do

patrimônio natural e cultural. Assim, por uma representação da dinâmica atual do local e das suas

tradições, descrevendo os distintos bens patrimoniais, tanto os materiais quanto os imateriais,

pode-se possibilitar aos ciber-cidadãos informações necessárias sobre a diversidade e os valores

culturais desse espaço digitalizado.

A cidade virtual deve, então, exprimir o senso do local a partir da codificação simbólica

das ações reais desenvolvidas no espaço físico, sem que haja omissão dos aspectos não

organizados ou das regiões periféricas da cidade. Deve apresentar perspectivas de soluções para

esses problemas bem como a capacidade de o local em resolver eventuais complicações

imprevisíveis, o que aponta para a necessidade de se explorarem das características do meio e das

categorias de atitude, fazendo com que a cidade virtual, assim como no espaço físico, esteja em

constante organização.

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As dimensões urbanas do município de Porto Seguro, as diferenças entre a infra-estrutura

das regiões periféricas e centrais e toda a complexidade social, política e econômica que o

caracterizam devem ser transpostas para a rede de modo a permitir ao internauta a percepção do

local, enquanto centro capitalista, que, embora apresente uma cultura peculiar, cujo imaginário

faz sobressair a festividade e a natureza exótica, também concentra conflitos de toda ordem.

Lage (2000) destaca possíveis ações on-line capazes de intensificar a importância da internet

junto ao desenvolvimento do setor turístico (essas ações podem ser identificadas segundo as

categorias de atitude de Lévy). As novas relações entre consumidores e empresas,

proporcionando coletas de dados, podem ampliar a qualidade dos serviços oferecidos

(assimilação). O novo marketing ativa a participação através de informações detalhadas, de

modo que o consumidor reflita sobre os atributos de suas compras antes da efetivação

(analogia); e, por último, o destaque dado à informação detalhada atendendo a todos os

interesses, inclusive divulgando a venda de pacotes de agências, hotéis, parques temáticos,

transportes, entre outros (analogia).

Ainda a autora identifica a ampliação do ‘self-service’, visto que a cidade fica disponível

vinte e quatro horas por dia, sete dias da semana, de modo que se pode promover uma maior

articulação entre empresários, consumidores e fornecedores, aumentando e potencializando os

contatos entre essas entidades. Assim, estimulam-se novas formas e variações de pedidos de

produtos para os suportes técnicos e prestação de serviços desde reservas de viagens até a

utilização do home banking (assimilação e/ou substituição). Por fim, a autora aponta a

credibilidade e agilidade de comunicação, que permite uma transmissão instantânea e imediata de

informações solicitadas, bem como o universo de oportunidades com enorme facilidade e mínimo

custo, tornando o negócio global, afinal, a localização já não é mais um obstáculo ao comércio.

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Considerando as várias práticas turísticas e as várias comunidades que podem coexistir

em um centro receptivo, identificam-se também outras vantagens que a comunicação on-line

pode apresentar à cidade. O ciberespaço rompe com a supremacia dos meios de comunicação

tradicionais, permitindo a exposição de mais detalhes sobre as ações, podendo oportunizar

descrições mais detalhadas sobre determinados atos, geralmente, não divulgados pelos meios

tradicionais, como as áreas liberadas e os espaços de prostituição. Não se está fazendo apologia

ao turismo sexual, mas sim reconhecendo que ele existe e que precisa ser organizado junto aos

segmentos turísticos, inclusive para que esta ação desregulamentada não se torne a característica

predominante do local.

Pensando nestas e demais práticas turísticas, pode-se apontar que a comunicação

direcionada pela internet pode pôr os envolvidos em contato direto, mantendo, ao mesmo tempo,

o sigilo de suas identidades pessoais e fomentando o respeito a outras pessoas que não se sentem

à vontade junto a determinados grupos. Contudo, não se está cogitando a formação de guetos

virtuais, mas sim se fomentando um direcionamento junto a grupos turísticos, que, muitas vezes,

não compartilham das mesmas práticas e emoções. Assim, pode-se, simultaneamente, garantir o

direito de liberdade para as pessoas exercerem suas atividades e impedir determinadas situações

constrangedoras como discriminações, agressões e demais conflitos sociais.

Considerando essa possibilidade de uma comunicação mais direcionada, pode-se oferecer

elementos mais descritivos e mais objetivos, para as várias práticas, contemplando os desejos de

erotismo, as expressões estéticas e as manifestações das diversas comunidades turísticas, com os

exageros e, muitas vezes, ânsias de ruptura com padrões sociais discriminadores. Por outro lado,

podem-se apresentar também normas de conduta no local e as punições legais para os infratores

dessas normas, de modo a conduzir o usuário turista a não experimentar o destino sobre a lógica

da libertinagem, mas sim da liberdade. Evidentemente, toda e qualquer comunidade turística deve

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obedecer a normas e conhecer as penalidades legais de infração ou desrespeito aos códigos de

conduta local, afinal, por mais global que seja o destino, há sempre aspectos culturais que os

particularizam e os fazem glocais.

Além desses fatores, devem ser enfatizadas as possibilidades de interação social e de

organização dos segmentos turísticos enquanto comunidades virtuais, pondo em conexão,

população, governantes, empresários e turistas. Portanto, informações detalhadas, jornalismo,

educação, prestação de serviços e e-comerce constituem-se como conteúdos básicos junto à

digitalização de uma cidade. Evidencia-se, entretanto, que cada um desses conteúdos deve

subdividir-se em vários outros, permitindo ao internauta uma flanerie virtual. Assim, por

exemplo, o conteúdo referente à informação deve não penas enumerar estabelecimentos

comerciais e atrativos do local, mas também proporcionar ao usuário da internet o conhecimento

de detalhes e o contato direto com o estabelecimento. E, nessa perspectiva, devem ser

decodificados os bairros, os espaços de utilidade pública e os demais setores da sociedade em

questão.

Esse processo, aparentemente simples, pode incitar uma nova dinâmica ao local e

contribuir para a amenização de determinadas problemáticas (embora possa ensejar novos

problemas). A concorrência entre pequenas e grandes empresas e entre grupos locais e

estrangeiros pode ser reduzida, a partir da proximidade destas empresas na rede e também de uma

comunicação direcionada para seus respectivos públicos.

Portanto, a partir do estudo sobre turismo e cidade virtual, considerando a dinamicidade

do município de Porto Seguro, a potencialidade turista local e as expectativas populares com

relação à internet, sugere-se o ‘grounded cybercity’ como modelo de cidade virtual, capaz de

potencializar a atividade turística, fomentando práticas sociais, políticas e econômicas

características dessa era da cibercultura. Afinal, com esse modelo, pode-se mobilizar a sociedade

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com projetos de intervenção no espaço concreto, sugeridos pela própria comunidade, por meio de

quiosques públicos, acesso a escolas e bibliotecas, incluindo também várias iniciativas culturais.

Além disso, a cidade digital enraizada, representa uma tentativa de incorporar tecnologias de

comunicação à sociedade, promovendo igualdade de oportunidades e o acesso público e universal

à informação o que se identificou como uma necessidade do local, a partir dos estudos junto à

fragmentos da população. Essa incorporação vai apenas ampliar o caráter ciber do município, já

identificado.

As escolas públicas, a ‘aldeia urbana’ o centro municipal de informações turísticas

podem ser espaços iniciais para a implantação de quiosques de acesso público à rede. Além da

necessidade de conexão, estudantes locais e os índios podem ser atores sociais capazes de

incitarem um processo comunicacional caracterizado por uma busca de práticas democráticas, e

difundi-lo pelos demais setores sociais. Essas práticas, por sua vez, podem e devem permitir que

moradores melhor se organizem e possam eles mesmos definir os ícones e símbolos que melhor

traduzam a contemporaneidade do local em que habitam.

E se se está cogitando um processo democrático de comunicação, ressalta-se que, por ele,

artistas, artesãos e pequenos empresários locais que, por algum motivo, não têm como

construírem suas representações no ciberespaço, podem agilizar seus negócios e ampliar suas

rendas com a prática do comércio eletrônico. Em síntese, muitas outras atividades e ações sociais,

que não cabem no domínio da previsibilidade, podem se ampliar e se proliferar no espaço físico,

a partir da sua melhor organização no ciberespaço.

Além disso, como um destino, onde são desenvolvidas várias práticas turísticas, eventos,

lazer, negócios... o município de Porto Seguro deve preparar-se para responder questões e atender

às exigências e necessidades de vários públicos diferentes, mas que estão conectados com/e

através das ações no ciberespaço. Então, informações, as mais diversas, prestação de vários

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serviços, promoção da interação, educação e jornalismo responsável devem estar contemplados

nessa representação virtual, de modo que o possível visitante perceba a organização da sociedade,

que ele escolheu para gastar o tempo e o dinheiro, poupados durante suas jornadas de trabalho.

Portanto, a cidade virtual no modelo grounded cybercity pode constituir-se como um fator

potencializador da função turística do município de Porto Seguro, capaz de promover a melhor

organização social, maior interação entre a comunidade, abrangendo todos os seus setores:

políticos, empresários, turistas e, principalmente, a comunidade local. Contudo, deve-se admitir

que esse é um processo lento e que para sua operacionalização é necessária uma vontade pública

na elaboração de um projeto articulador dos segmentos sociais, propagando, assim, a concepção

da cidade turística, enquanto composto orgânico vivo.

Pode-se considerar, portanto, que a cidade virtual constitui-se como um protótipo de

dinamização social, voltado para a otimização de recursos, para controle e avaliação de

resultados. Para tanto, é preciso que o processo de edificação ocorra a partir de um compromisso

ético, entre políticos, empresários e população, que, por sua vez, faz-se imprescindível a qualquer

ação com objetivo de se proporem transformações no campo social. Assim, reconhece-se que é

importante, para a digitalização de uma cidade, uma dimensão ético-política capaz de organizar e

sustentar todo o processo, guiando (e não delimitando) os seus sentidos e os seus fins.

Por essas bases, a cidade virtual pode ser entendida como um processo lógico, à medida

em que seus conteúdos sejam precisos e sistemáticos, proporcionando um encadeamento racional

dos seus elementos e categorias de atitudes. Ainda, essa extensão territorial caracteriza-se como

uma técnica de cooperação e articulação já que aponta para a necessidade de compartilhamento

de opiniões e estabelecimento de parceiras, contemplando, assim, a prática de um mecanismo

comunicacional, resultado de uma construção coletiva, na qual os integrantes passam a ser

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reconhecidos por suas ações, perspectivas e peculiaridades culturais e não apenas por recortes dos

meios de comunicação que delimitam apenas um único imaginário.

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4. Conclusão:

O desenvolvimento tecnológico interfere nas estruturas sociais, causando mudanças na

dinâmica dos locais e no ritmo de vida das pessoas. Mudanças essas capazes de promover o

surgimento de fenômenos como o turismo, que apresenta novas perspectivas de melhoria de vida

e de sobrevivência, tanto para turistas, que se deslocam temporariamente para fugir da rotina,

quanto para nativos e empresários que redefinem suas atividades sócio-econômicas na tentativa

de satisfazer os desejos dos visitantes.

O turismo compreende e explica uma série de atividades de deslocamentos físicos que

exigem o aperfeiçoamento dos meios de transportes e de comunicação. Contudo, são os usos

tecnológicos junto à atividade que estabelecem a ligação direta entre turismo, setor econômico e

social, e tecnologia, a infraestrutura operacional para a sua dinamização. Nesse sentido, pensa-se

que as tecnologias de informação e de comunicação podem constituir-se como fatores de

potencialização do turismo, promovendo mais dinamicidade, agilidade e conforto junto à

execução dos serviços que fomentam a atividade.

Indubitavelmente, a aplicação de tecnologias digitais às ações e à emergência do

ciberespaço estão promovendo uma verdadeira revolução nas cidades, reformulando todos os

aspectos da vida contemporânea. Identificar essas transformações não é tarefa fácil e, mesmo

após um exaustivo trabalho de pesquisa, ainda apresentam incógnitas junto ao processo de

entendimento das ações humanas nessa era da cibercultura. O desejo é que essas inovações

realmente promovam melhorias na sociedade, acabando (amenizando, ao menos) as divergências

e a exclusão social.

Contudo, a cibercultura está potencializando a atividade turística no município de Porto

Seguro, o que pôde ser identificado a partir das inúmeras ações em que se observa a utilização de

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tecnologias digitais, como o auto-atendimento em bancos 24 horas, a emergência dos cybercafes,

a utilização do dinheiro eletrônico junto às compras, a emergência dos hotéis inteligentes. Ainda,

nesse sentido, não se pode deixar de evidenciar os aspectos sociais que comunicam a emergência

do imaginário da cibercultura como as constantes raves que atraem adeptos de vários lugares do

país e do mundo, bem como a partir do visual cyberpunk não só desses turistas, mas também dos

nativos e empresários que participam e promovem essas festas. Também ratificam essa afirmação

os inúmeros sites referentes ao município, destacando-se que em sua maioria correspondem à

representação de empresas prestadoras de serviços turísticos como hotéis e agências de viagens.

Aponta-se, entretanto, que o pensamento dos segmentos populacionais entrevistados,

sobre a internet, contribui para ratificar a potencialização do turismo a partir da cibercultura.

Afinal, estes entendem o veículo como mais uma forma de agilizar ações socioeconômicas do

município, correspondendo, segundo os entrevistados, a uma nova oportunidade de melhoria de

vida. Portanto, mesmo considerando que a amostragem aprestada não é suficiente para

representar o município como um todo, pode-se inferir que há uma expectativa com relação ao

uso da internet como fator promotor da dinamicidade contemporânea do local, o que aponta para

uma mentalidade de mundialização.

Contudo, é importante ressaltar que a mesma técnica que estimula e potencializa ações

pode tornar-se também fator de ampliação da complexidade social nos centros turísticos, quando

nestes faltam políticas de planejamento social bem como estratégias públicas e privadas voltadas

para o incentivo à educação e à cidadania. Nesse sentido, evidencia-se a necessidade de serem

criadas diretrizes que impeçam a proliferação de fatores que submetem os cidadãos ao ‘exercício

dos controles’.

Ao mesmo tempo em que o desenvolvimento tecnológico é capaz de estimular a esfera

social, contribuindo para a sua organização, pode colocar-se como fator de determinação e

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imposição junto a grupos culturais, gerando perplexidades sociais como foram evidenciadas junto

aos grupos de pescadores, agricultores, trabalhadores do mercado informal, além das várias ações

de espetacularização da cultura, decorrentes da especulação financeira sobre a atividade turística.

Logo, é necessário que o potencial técnico deve ser utilizado visando à valorização de grupos

culturais, levando em conta a complexidade sócio-econômica do local. É nesse sentido que se

evidenciou neste trabalho a internet como um fator de potencialização do turismo, e não como

um mecanismo que irá solucionar as problemáticas sociais.

Aliás, considerando a relação meios de comunicação e melhorias sociais, é importante

retomar, que a internet, assim como qualquer outro espaço de comunicação, por si somente, não

irá propor melhorias sociais, entretanto, estas dependem do modo como os administradores, seja

de que esfera forem, pública ou privada, utilizem os recursos do meio (características e categorias

de atitudes) para transmitirem o conteúdo desejado. E evidencia-se que o conteúdo veiculado tem

fundamental importância para o desenvolvimento do setor turístico, afinal, as imagens

apresentadas irão plasmar ou resignificar o imaginário sobre o local, responsável pela atração de

turistas e empresários. Nesse sentido, pode-se ratificar que o conteúdo veiculado contribui para a

delimitação das práticas turísticas no local, daí a importância de se conhecer o conteúdo

transmitido como forma, não apenas, de divulgação dos atrativos turísticos, mas também para a

exposição da dinâmica do local.

Assim, acentua-se que, antes da projeção da cidade na internet, tem-se que buscar o

entendimento dos seus aspectos culturais no plano físico. Entendendo-se as políticas de

investimento na organização do espaço urbano, bem como as iniciativas públicas e privadas para

a ampliação e melhoria das ações que caracterizam a dinâmica das cidades, como o

entrelaçamento entre esses aspectos e a construção dos significados do local.

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Portanto, compreende-se que a comunicação é fator essencial para o desenvolvimento da

atividade turística. Contudo, a utilização de um meio tecnológico de comunicação deve partir de

um estudo preliminar sobre as suas características e sobre a forma como este veículo vem sendo

usado para a promoção da atividade. Admite-se que as representações virtuais do município de

Porto Seguro-Ba carecem de melhor estruturação, de modo que possam vir a ampliar os limites

do local, e não apenas traduzi-lo segundo a lógica de um imaginário amplamente difundido, mas

que corresponda, de fato, à totalidade de aspectos de sua dinâmica socioeconômica. Assim,

considerando a atual movimentação turística, no destino Porto Seguro-Ba, fomentada pela

cibercultura bem como os demais aspectos do seu cotidiano, entende-se que a edificação de uma

grounded cybercity – cidade digital enraizada – poderia gerar subsídios para que se instalem no

destino, novas formas de ação e interação em torno do turismo.

Por essa perspectiva, compreende-se que essa prática comunicacional cibernética pode

contribuir para a reestruturação do sistema existente, a medida em pode propor a moradores,

turistas e empresários as mesmas possibilidades de acesso à informação e à movimentação do

capital. Nesse sentido, observa-se que a identidade contemporânea e a memória local são

elementos imprescindíveis à identificação de uma região e de suas potencialidades na esfera

global. Contudo, compreende-se que é preciso uma atuação política competente junto à

organização dos espaços, bem como a realização de debates públicos e acadêmicos que

promovam a integração popular, evidenciando a prática da democracia. Portanto, conclui-se que a

constituição de Porto Seguro-Ba enquanto cidade virtual enraizada, a grounded cybercity,

prescinde de uma vontade pública em democratizar a informação, investindo na edificação de

POPs digitais gratuitos bem como no apoio a estudos sobre os seus aspectos culturais.

A internet, indubitavelmente, é um meio capaz de potencializar não apenas ações

turísticas, mas também de pôr em sinergia grupos sociais com características e interesses

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divergentes, se forem explorados devidamente as suas características e categorias de atitude bem

como se forem delimitados conteúdos que possam apresentar uma idéia sobre a dinâmica do

destino, envolvendo suas peculiaridades socioeconômicas. A interação dos cibersistemas aos

sistemas físicos deve funcionar no sentido de desenvolver, junto ao usuário, uma mentalidade

sobre o espaço o mais próximo possível da sua dinâmica. Essa representação do espaço e do

tempo pode permitir a interpretação do cotidiano e com ele a compreensão da cultura e,

continuamente, os novos valores e signos decorrentes do multiculturalismo e dos hibridismos que

cooperam para as alterações da identidade local.

Esse processo de digitalização da cidade amplia a visibilidade dos detalhes locais e cria,

antes do deslocamento físico, um estado de espírito adequado às modalidades do turismo. A

superação de barreiras e a acumulação de detalhes concentram, nesse espaço virtual, as

paisagens, as temperaturas, os sabores, as cores, as culturas e os valores regionais. Por essa

tecnologia virtual, todo o planeta fica ao alcance da imaginação e do bolso, deixando a cidade

compreensível, disponível e também à ‘venda’. Contudo, esse modo de projeção da cidade que

objetiva propor uma articulação entre o espaço físico e o virtual, pode potencializar a oferta de

emprego e a ampliação da renda do nativo, contribuindo para a melhoria do nível de vida e a

ativação de outros setores produtivos no destino, favorecendo, conseqüentemente, à

democratização. Para tanto, é preciso que o local tenha definidas as práticas turísticas (lazer,

eventos, congressos, convenções, conferências, encontros, festas) como forma de atrair não

somente consumidores para a região, mas também investidores no setor bem como, é preciso que

governantes estejam dispostos a investirem nas potencialidades tecnológicas da

contemporaneidade, sem o que, não há possibilidades de edificação de uma grounded cybercity.

Esse modelo de projeção da cidade pode, entretanto, contribuir para que o destino Porto

Seguro-Ba não mais seja entendido como um objeto caracterizado por pacotes comerciais, mas

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sim, como um ‘composto orgânico vivo’, que se entrelaça e se define por sua capacidade

informacional, comercial, sua capacidade de promover interação, educação, prestação de

serviços, por seus atrativos culturais e ambientais, pelo traçado das suas casas, praças e

monumentos, por sua infraestrutura urbana, por suas vias de acesso e pela possibilidade de se

empregarem o dinheiro e o tempo poupados nesse processo atual de reconfiguração das coisas,

das ações e do espaço.

Contudo, é importante evidenciar que esse ciclo, que compreende espaço físico e

ciberespaço, só pode ser funcional se for fundamentado nas concepções do local, valorizando e

preservando sua identidade e memória. Tanto as viagens no ciberespaço como o consumo do

espaço físico devem proporcionar a visitantes e visitados uma troca espontânea de experiências,

evidenciando uma ‘inteligência coletiva’ em vez da alienação provocada pelas estetizações e

perplexidades sociais, ampliando, então, os conceitos de comunidade, socialidade e humanidade.

Por uma análise geral, reconhece-se que a relação entre tecnologia, complexidade social e

turismo sempre ultrapassam os limites intelectuais, de modo que é impossível abranger em uma

pesquisa de mestrado todas as implicações que surgem do entrelaçamento desses aspectos sociais.

Por ora, evidenciaram-se, junto à atividade turística, as relações de sociabilidade e de socialidade,

transformações sociais a partir das tecnologias digitais, aspectos comunicacionais e perspectivas

populares, através de uma abordagem metodológica, cujo ponto de partida foi o desenvolvimento

tecnológico e as implicações características do sistema capitalista. Portanto, acentua-se que, neste

trabalho, foi apresentado um caminho para se tentar entender parte da problemática que gira em

torno da atividade turística e dos usos da tecnologia.

Deve-se apontar, por fim, que as discussões desse trabalho estão longe de se esgotarem,

ficando temáticas como ‘flânerie burguesa temporária e comunitária’, ‘comunidades turísticas’

e ‘turismo cibernético’, carecendo de ampliação e mais detalhamento, que, por vários motivos,

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inclusive o tempo, não puderam ser totalmente explorados aqui. Nesse contexto, destaca-se

também a necessidade de um aprofundamento teórico dos conteúdos estipulados para a projeção

da cidade turística na internet (interação, prestação de serviços, informação, e-comerce,

jornalismo, evidenciando o aplicado ao turismo, e educação). Portanto, reconhece-se que as

lacunas deixadas nesta pesquisa necessitam de maior atenção, devendo sofrer desdobramentos.

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77. VIRILIO, Paul.. O espaço crítico e as perspectivas do tempo real. São Paulo; 34, 1993. ANEXO 1:

MESTRADO EM CULTURA & TURISMO UESC/UFBA

MOABE BRENO FERREIRA COSTA26

FORMULÁRIO PARA ANÁLISE DE SITES DA CIDADE TURÍSTICA:

26 Mestrando, orientado pela Dr.ª Sandra Sacramento, grupo de pesquisa ICER (CNPq). Comunicador Social

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243

Endereço ______________________________________________________________ Entidade_______________________________________________________________

CONTEÚDO:

Interação: e-mail_________; fóruns_________ chats_________ outras___________

Prestação de serviços____________________________________________________

Informação____________________________________________________________

Educação______________________________________________________________

E-comerce_____________________________________________________________

Jornalismo_____________________________________________________________

EXPLORAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEIO:

Hipertextualidade________; Metamorfose;_________; Heterogeneidade________;

Multiplicidade___________; Exterioridade_________; Topologia______________;

Mobilidade dos centoros__________.

CATEGORIAS DE ATITUDES:

Analogia_______; Substituição________; Assimilação______; Articulação_______.

OBSERVAÇÕES:

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

_____________________________

ANEXO 2:

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244

De modo geral pode –se dizer que não há ainda um aproveitamento total da internet

enquanto veículo de comunicação capaz de por em sinergias grupos culturais, empresas, cidadãos

e governantes. A exploração do meio ainda é genuína, e Por uma metáfora, pode-se dizer que

parece repetir as iniciativas de colonização dos portugueses, aproveitando-se apenas o superficial

e aspectos mais simples de serem trabalhados (no caso, hipertextualidade, analogia,

heterogeneidade e caixa de diálogo). Como pode ser verificado abaixo, na relação e descrição dos

sites analisados ainda há um universo cibernético a ser explorado pelo município de Porto

Seguro, curiosamente após 500 anos do início da exploração do espaço seu físico. Estes

endereços constituem-se como links no CD que acompanha este texto.

1- http://www.portonet.com.br

Portal da Costa do Descobrimento – Portonet. Possui chats, e-mails, enquete e mural de

recados como links de interação. Não oferece prestação de serviços nem educação nem e-

comerce. As informações são referentes à agenda, dados geográficos e estatísticos sobre o

município, enumera as principais atividades econômicas, pontos turísticos e relata um

pouco da história oficial sobre o descobrimento. Apresenta hipertextualidade,

heterogeneidade (texto, fotografias e ícones), mobilidade dos centros, exterioridade e

topologia. Utiliza da analogia. Designer de fácil compreensão, facilita o deslocamento. O

site tem como função principal descrever os aspectos do local. apesar de utilizar da

hipertextualidade, esta tem um certo limite, afinal muitos dos links conectados não

oferecem continuidade ao texto. Pode-se dizer que este site tem limites estruturais e não

explora devidamente as características do meio, não possibilita a execução de ações. O

conteúdo apresentado é muito limitado e não fornece a percepção do senso do local. O

aspecto histórico apresentado apenas propõe um conteúdo propagado e difundido.

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2- http://www.portosegurotur.com.br/

Site da Secretaria Municipal de turismo. Possui apenas e-mail com link de interação. Não

oferece prestação de serviço nem educação nem e-comerce. Oferece informações

geográficas e estatísticas sobre o município, enumera alguns estabelecimentos comerciais

como hotéis e restaurantes, apresenta um calendário de eventos. Apresenta

hipertextualidade, heterogeneidade (som, fotografia e texto), mobilidade dos centros e

topologia. Utiliza da analogia. O designer é simples e possibilita fácil navegação. As

informações são superficiais, não há uma atualização direta e o site vende o município a

partir da do imaginário de Caminha.

3- http://www.casinhasdabahia.com.br/

Hotel Casinhas da Bahia. Interação somente por e-mail. Oferece apenas prestação de

serviços (reserva de diárias) e informações sobre Caraíva e sobre as acomodações do

hotel. Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (ícones, fotografias e textos) e

mobilidade dos centros. Utiliza da analogia e da assimilação. O designer é agradável e

possibilita fácil navegação. Tem rápida conexão mas não permite uma acepção sobre o

local.

4- http://www.montepascoal.com.br/novo/default.asp?id=08

Hotel Monte Pascoal. Interação a partir de chats. Oferecer apenas prestação de serviços

(reservas de diárias) e informações sobre aspectos festivos do município, pontos

turísticos, aspectos geográficos e climáticos e sobre as instalações e serviços do hotel.

Apresenta hipertextualidade e heterogeneidade (fotografias e texto). Utiliza da analogia e

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246

da assimilação. Apresenta rápida conexão, mas o designer é desagradável de se olhar por

muito tempo. As informações são superficiais e reproduzem o imaginário da Carta de

Caminha.

5- http://www.portodasnaus.com.br/hotel.htm

Hotel Porto das Naus. Interação apenas por e-mail. Oferece prestação de serviços (reserva

de diárias) e informação sobre a localização do município, distância das principais capitais

do país e sobre as instalações do hotel. Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade

(som, texto e fotografia), multiplicidade, topologia e mobilidade dos centros. Utiliza da

analogia e da assimilação. O designer facilita a conexão. as informações são restritas ao

hotel. Rápida conexão.

6- www.solardoimoerador.com.br

Hotel Solar do Imperador. Oferece interação por e-mail e informações restritas ao o hotel.

Apresenta hipertextualidade e heterogeneidade (texto e fotografia). Utiliza da analogia.

Designer agradável que permite fácil locomoção. Possui rápida conexão. o site funciona

como um cartão postal eletrônico não utilizando das potencialidades do meio.

7- http://www.portoseguropraiahotel.com.br/default.htm

Porto Seguro Praia Hotel. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços (reserva de

diárias) e informações sobre as acomodações e serviços do hotel e aspectos ambientais e

turísticos do município. Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (ícones,

fotografias e texto) topologia e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia e da

assimilação. Designer agradável estimula e permite fácil navegação. Rápida conexão. o

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site assemelha-se a um cartão postal eletrônico ou mesmo como um dispositivo de

marketing.

8- http://www.portal500.com.br/coqueiroverde/index.html

Hotel. Oferece interação via e-mail, prestação de serviço (reserva de diárias) e

informações turísticas e sobre as acomodações e serviços do hotel. Apresenta

hipertextualidade, heterogeneidade (texto e fotografia), exterioridade e mobilidade dos

centros. Utiliza da analogia e da assimilação. O designer é agradável e apresenta rápida

conexão o que facilita a locomoção. As informações são superficiais.

9- http://www.mucuge.com.br/alicerce/

Alicerce Engenharia e Projetos (Construtora do Espírito Santo). Oferece interação por e-

mail e enumera hotéis, pousadas e loteamentos em Porto Seguro. Apresenta

hipertextualidade, metamorfose, multiplicidade, exterioridade e topologia. Utiliza da

articulação. Site com rápida conexão, apresenta links que remetem o usuário a hotéis,

pousadas e loteamentos.

10- http://www.pousadaarigato.com.br/chegar.htm

Pousada Arigato. Oferece interação por e-mail, prestação de serviço (reserva de diárias) e

informações limitadas às características da pousada. Apresenta hipertextualidade,

heterogeneidade (texto e fotografia) e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia e da

assimilação. Designer agradável que possibilita fácil navegação. O site comporta-se como

um postal eletrônico.

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11- http://www.terra.com.br/turismo/roteiros/2001/10/22/000.htm

Página do portal Terra. Oferece apenas informações sobre a história local e alguns

atrativos turísticos. Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (texto e imagem),

exterioridade e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia. O designer é agradável e

possibilita fácil navegação. Uma cidade metafórica sem pretensão de interação nem de

prestação de serviços. Com tudo as informações que oferece são superficiais e não

possibilita uma maior compreensão sobre atual dinâmica do município, ressaltando

apenas o imaginário da carta de Caminha e evidenciando o local como o marco do

descobrimento.

12- http://ibahia.globo.com/plantao/noticia/default.asp?id_noticia=94747

Página do portal da Rede Bahia de Comunicação. Oferece jornalismo e como interação

enquete sobre a cidade e espaço para comentário da matéria. Apresenta hipertextualidade,

metamorfose, multiplicidade, exterioridade, topologia e mobilidade dos centros. Utiliza

da analogia. Com o designer de um jornal eletrônico, apresenta notícias referentes ao

cotidiano do local, proporcionando uma idéia da dinâmica do município. Notícias as mais

diversas compõem a dinâmica da página, as matérias são fácil e rápido entendimento com

linguagem apropriada para o meio.

13- www.chalesporto.com.br

Hotel Charles do Mundaí. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços (reserva de

diárias) e informações sobre as acomodações do hotel e sobre a sua localização.

Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (texto e imagem) e mobilidade dos centros.

Utiliza da analogia e da assimilação. Designer agradável que permite fácil locomoção.

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Apresenta rápida conexão, possibilita apenas a compreensão do hotel mas não promove a

descrição do município.

14- http://www.aluguetemporada.com.br/scripts/imovel-

list.cfm?Cidade=Porto%20Seguro

Imobiliária. Oferece interação por e-mail e caixa de diálogo tanto para locadores quanto

para locatários, as informações são apenas sobre os imóveis. Apresenta hipertextualidade,

metamorfose, heterogeneidade (Imagem e texto) e topologia. Utiliza da analogia e da

articulação. O designer é simples e agradável. Permite fácil locomoção. Os poucos links

perpetuam as informações iniciais.

15- http://groups.msn.com/BRAZILportoseguroBahia

Página do Portal MSN. Oferece interação por chats, jornalismo e informações sobre o

calendário de eventos e a história local. apresenta hipertextualidade, metamorfose,

heterogeneidade (texto e fotografia) e mobilidade dos centros. O designer é agradável e

proporciona fácil navegação. Página em inglês, contextualiza Porto Seguro a partir do

imaginário de Caminha.

16- http://www.casavaca.com/casavaca_house_information.php3/spanish/162/Alquiler_V

acacional_Casa_Porto_Seguro_Bahia_Brasil.html

Imobiliária. Oferece interação por e-mail e informações sobre os imóveis e um pouco

sobre o município. Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (texto e imagem) e

topologia. Utiliza da analogia. O designer é um tanto complicado para a locomoção os

títulos dos links não possibilitam um entendimento imediato dos seus respectivos

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conteúdos. É difícil encontrar o link para interação. As informações sobre o município são

limitadas às festividades e a aspectos ambientais.

17- www.alugueltemporada.com.br/roteiros/ba-portoseguro.cfm

Imobiliária. Oferece interação por meio de caixa de diálogo tanto para locador quanto

para locatário. As informações referem-se à história local, aos aspectos ambientais e

eventos turísticos. Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (testos e fotografias) e

topologia. Utiliza da analogia. O designer é simples utiliza da barra de rolamento e

estimula a navegação. As informações sobre a história são superficiais e reproduzem o

imaginário da carta de Caminha.

18- http://discoverbrazil.com/ntours/PortoSeguroPackageDN/index.cfm

Agência de turismo – Discover South América. Oferece interação por e-mail, prestação de

serviços (reservas de pacotes turísticos) e informações sobre o município, sobre o país e

sobre serviços da empresa, que pode ser categorizada por uma Lone Eagle. Apresenta

hipertextualidade, metamorfose, heterogeneidade (texto e fotografia), exterioridade,

topologia e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia. O designer é agradável, facilita a

locomoção pelo site. Apresenta o município sobre a lógica do imaginário da carta de

Caminha, contextualizando o local como um destino cuja dinâmica é voltada apenas para

a diversão.

http://www.sac.ba.gov.br/Posto.asp?id=&CodUnidade=70

Serviço de Atendimento ao Cidadão -SAC. Oferece apenas informação sobre o endereço e

os dias e horários de funcionamento. Apresenta heterogeneidade (fotografia e texto) e

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hipertextualidade e topologia para remeter o usuário a prestadoras de serviços, como

Embaza, Coelba e bancos. Utiliza da analogia.

19- http://www.braziltravel.com.br/german_porto.htm

Agência de viagem. Apresenta interação por e-mail e informações sobre o local.

Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (fotografia e texto) e topologia. Utiliza da

analogia. O designer é bastante simples, promove fácil deslocamento o texto é voltado

para atrair turista estrangeiro, com imagem que estimulam o turismo sexual.

20- http://www.packtours.com.br/dest/bahia/bps/

Agência de viagem. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços (reservas de

diárias) e informações sobre os atrativos turísticos, um pouco da história e sobre os hotéis

credenciados bem como apresenta mapas de localização do município. Apresenta

hipertextualidade, metamorfose, heterogeneidade (fotografia, ícone e texto),

multiplicidade e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia, da assimilação e da

articulação. O designer é agradável proporciona uma fácil navegabilidade. O site é

voltado para o público exterior e apresenta o município com um forte apelo às práticas

festivas. Promove a articulação de empresas hoteleiras com usuários.

21- http://www.discountedhotels.com/porto_seguro_bahia/

Agência. Oferece prestação de serviços (reservas de diárias) e informações sobre hotéis

cadastrados. Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (fotografia e texto),

multiplicidade e topologia. Utiliza da analogia, assimilação e articulação. Página simples

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com enumeração de hotéis. Cada hotel corresponde a um link que apresenta outros vários

links. Promove articulação entre empresas hoteleiras e usuários.

22- http://www.expedia.co.uk/daily/hotels/Brazil/PortoSeguro.asp

Agência de viagem. Oferece interação por caixa de diálogo, prestação de serviços

(reservas de diárias) informações sobre os hotéis credenciados. Apresenta

hipertextualidade, metamorfose, multiplicidade, exterioridade e topologia. Utiliza da

analogia e da assimilação.o designer é simples ,apresentando enumeração de hotéis que se

constituem com links.

23- http://www.sabiatravel.ch/index.cfm?nav=12,3,14,25,160

Agência. Oferece poucas informações sobre a história e aspectos ambientais e festivos do

município. Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (fotografia e texto),

exterioridade e topologia. Utilizada analogia. O designer é simples semelhante a uma

página de jornal impresso. Site apenas informativo.

24- http://www.worldsexguide.org/porto-seguro.txt.html

Página voltada para a promoção do turismo sexual. Oferece interação por e-mail,

prestação de serviços (contratação de garotas de programa), informações sobre a

festividade praias e comercio sexual, educação (regras contra prostituição infantil e

normas de utilização do site) e e-comerce (vendas de vídeos e produtos eróticos).

Apresenta hipertextualidade, metamorfose e heterogeneidade (fotografias, texto e vídeo).

Utiliza da analogia, assimilação e articulação. Site voltado para o turismo sexual.

Designer agradável, possibilita fácil navegação. Utiliza da metalinguagem da rede para

promover a perpetuação do imaginário local de paraíso sexual. Apresenta fotografias e

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vídeo de sexo explícito, além de um texto na página principal que descreve as garotas

locais como fáceis e disponíveis ao sexo. O site é em inglês, voltado para o turista

estrangeiro. A página principal é voltada para o esclarecimento do conteúdo exposto. As

exposições de atos sexuais estão linkadas à página principal, de modo que não cause

impacto imediato aos navegantes. O site, contudo, atenta contra a prostituição infantil.

25- http://www.hirners.com/hotels/BR/Porto+Seguro.htm

Guia de hotéis. Oferece a conexão do usuário com empresas da rede hoteleira. Apresenta

hipertextualidade, metamorfose, exterioridade e topologia. Utiliza da analogia e da

articulação. Designer simples apenas apresenta uma listagem de hotéis que se constituem

com links.

26- http://www.blameitonrio4travel.com/porto-index.php

Agência. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços (reservas de diárias) e

informações sobre atrativos turísticos e a enumeração de bares e restaurantes. Apresenta

hipertextualidade, metamorfose, heterogeneidade (fotografia e texto), multiplicidade,

exterioridade e topologia. Utiliza da analogia, assimilação e articulação. O designer é

agradável, facilita a navegação.

27- http://membres.lycos.fr/damasceno/nordeste/ba/ba-psegu1.html

Oferece informação sobre a história e algumas características ambientais, utilizando da

analogia. A página é semelhante a uma página de revista impressa.

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28- http://www.viajeya.com/sections/destinos/cityDestination.ihtml?countryId=BR&cityI

d=BPS

Oferece informações sobre aspectos históricas e sobre a natureza e costumes locais.

Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (fotografia e texto) e topologia. Utiliza da

analogia. O designer é simples, semelhante à revista impressa.

29- http://www.trendystyle.net/lifestyle/hotspots/tui/brazilie.html

Revista eletrônica. Oferece jornalismo e informações sobre restaurantes, hotéis, história,

natureza, festividade, além de receitas culinárias e horóscopo. Apresenta

hipertextualidade, metamorfose, heterogeneidade (fotografia e texto), topologia e

mobilidade dos centros. Utiliza da analogia.

30- http://www.roomplease.com/hotel61634

Hotel Tropical Oceano Praia. Oferece interação por e-mail e caixa de diálogo para

indicação do hotel a terceiros, prestação de serviços (reserva de quarto de hotéis e

locação de automóveis) e informações apenas sobre as instalações e serviços do hotel.

Apresenta hipertextualidade e multiplicidade. Utiliza da analogia e assimilação. O site é

voltado para descrever os aspectos do hotel, com designer usa de vários idiomas, contudo

não oferece informações sobre o município.

31- http://dg.ian.com/index.jsp?cid=10429&action=viewLocation&locationId=26759

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World Sites Atlas. Oferece informações sobre a história e aspectos turísticos do município.

Apresenta hipertextualidade, metamorfose, heterogeneidade (fotografia e texto),

multiplicidade e topologia. Utiliza da analogia, da assimilação e da articulação. O

designer é semelhante à paginas de revista impressa. A página fornece informações

básicas sobre Porto seguro, limitando-se a aspectos turísticos e informações que remetem

ao mito do descobrimento. A página promove interação do usuário da internet.

32- http://www.bannerpromotion.it/bxsql-profile.php?memid=4384

Empresa de turismo espanhola. Oferecer interação por e-mail, prestação de serviços

(reserva de diárias e locação de veículos), informações sobre a história e aspectos

turísticos do município bem como características dos hotéis credenciados. Oferece

também a venda de roupas e objetos eletrônicos. Apresenta hipertextualidade,

metamorfose, heterogeneidade (textos e fotografias), multiplicidade, topologia e

mobilidade dos centros. Utiliza da analogia, da assimilação e da articulação. O designer

da página inicial é simples com links que permitem e estimulam o deslocamento pelo site.

As informações propagam o imaginário da Carta.

33- http://www.melhorespraias.com.br/v_praias.asp?opc=1&id_est=3&id_praia=60

Revista eletrônica turística. Oferece interação por e-mail, informações superficiais sobre

aspectos turísticos do município e jornalismo, com notícias turísticas do âmbito nacional.

apresenta hipertextualidade, metamorfose, heterogeneidade (fotografias e texto), topologia

e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia e da articulação. O designer é semelhante a

revistas impressas. Esse é um site específico para informações turísticas nacionais. As

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informações são superficiais e oferecem indicações de hospedagem, de alimentação e de

atividades turísticas das localidades.

34- http://www.correiodabahia.com.br/2004/11/26/noticia.asp?link=not000101812.xml

Correio da Bahia. Oferece interação por e-mail, informações referentes á localização e

como chegar ao município, bem como sobre alguns aspectos turísticos. Apresenta

hipertextualidade, metamorfose, heterogeneidade (texto e fotografia) e topologia. Utiliza

da analogia. Página específica sobre turismo do jornal. A análise foi referente à página e

não ao site completamente. Não há exploração devida sobre o jornalismo on-line, não há

conexão com outros sites sobre o município.

35- http://www.cidadesimples.com.br/sites/floridainn/index.htm

Hotel Florinda Inn. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços (reserva de

diárias) e informações limitadas à descrição das características e serviços do hotel.

Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (fotografia e texto), multiplicidade,

exterioridade, topologia e mobilidade dos centros. Site de fácil navegabilidade, com

designer agradável.

36- http://www.portobellohoteis.com.br/resrtabt.html

Hotel Porto Belo Resort. Oferece interação por e-mail e caixa de sugestões, prestação de

serviços (reserva de diárias) e informações sobre aspectos turísticos, a história, a natureza

e festividades, bem como sobre eventos populares além de oferecer informações sobre

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hotel e sobre o município, listando hospitais farmácias, espaços culturais, bancos, jornais,

atividades econômicas, clima e temperatura. Apresenta hipertextualidade, metamorfose,

heterogeneidade (fotografia e texto) e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia e da

assimilação. O designer é agradável e permite fácil navegabilidade. As informações são

superficiais propõem uma certa compreensão sobre a dinâmica do município.

37- http://www.newsbrazil.com.br/mapaturismo/portoseguro.html

Oferece poucas informações sobre o município. Apresenta apenas heterogeneidade (texto

e fotografia). Utiliza da analogia. Página semelhante a de periódico impresso. Apresenta

rápida conexão.

38- www.hotel.com.br/cadastro.htm

Portal que enumera hotéis. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços e

informações sobre os direitos dos hotéis cadastrados. Apresenta hipertextualidade,

metamorfose, heterogeneidade (fotografia e texto), multiplicidade, topologia e mobilidade

dos centros. Utiliza da analogia, da assimilação e da articulação. O designer é simples e

agradável e apresenta rápida conexão. Promove a articulação entre empresas,

fornecedores e usuários. Apresenta uma política de defesa dos direitos dos hotéis

cadastrados garantindo a privacidade dos dados cadastrais.

39- http://www.citybrazil.com.br/ba/portoseguro/

Portal do Território Brasileiro. Site em construção. Por sua estrutura, evidencia-se

interação por e-mail e fórum, prestação de serviços (reserva de diárias), informação, e-

comerce e jornalismo. Apresenta hipertextualidade, metamorfose, heterogeneidade

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(fotografia e texto), multiplicidade, exterioridade, topologia e mobilidade dos centros.

Utiliza da analogia, da assimilação e da articulação. O designer é simples e agradável,

permite ao internalta navegar pela cidade, conhecendo um pouco história e dos aspectos

do cotidiano. Há um certo estímulo ao debate público, através do links ‘A cidade fala’.

Dados estatísticos, informações gerais, destaques turísticos são algumas temáticas que

fomentam a dinâmica do site que se comporta côo um representação do município, capaz

de permitir ao internauta um panorama geral da sua dinâmica.

40- http://www2.ondehospedar.com.br/ba/porto_seguro.php

Onde hospedar – guia de hotéis e pousadas do Brasil. Oferece interação por e-mail e

disponibiliza contatos com empresas hoteleiras. Apresenta hipertextualidade,

heterogeneidade (ícones e texto), topologia e mobilidade dos centros. Utiliza da

articulação. O site oferece a enumeração de hotéis, promovendo a articulação destes com

o usuário. Não apresenta detalhes dos hotéis muito menos informações sobre o

município.

41- http://www.cvc.com.br/brasil/aereo/portoabrolhossab_8d/default.asp

Agência de viagem CVC. Oferece informação por e-mail, reservas de pacotes turísticos e

poucas informações sobre aspectos naturais do destino além de informações sobre os

serviços inclusos nos pacotes turísticos. Apresenta hipertextualidade, metamorfose,

heterogeneidade (fotografia e texto), multiplicidade, exterioridade topologia e mobilidade

dos centros. Utiliza da analogia, da assimilação e da articulação. O Site tem um designe

bastante agradável, representa uma prestadora de serviços turísticos e põe em sinergia

empresas e usuários.

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42- http://www.canalkids.com.br/viagem/brasil/porto.htm

Canal Kids. Oferece informações sobre a história do município. Apresenta

hipertextualidade, heterogeneidade (ilustrações e texto) e topologia. Utiliza da analogia.

Este é um site informativo para crianças. Apresenta designer semelhante à de revista

impressa, proporcionando no texto, links que remetem a conteúdos explicativos que

ampliam o sentido do texto.

43- http://www.jornaldigital.com/noticias.php?noticia=2070

Jornal digital. Oferece jornalismo. Apresenta hipertextualidade, metamorfose,

heterogeneidade (fotografia e texto), topologia e mobilidade dos centros. Utiliza da

analogia. O site corresponde a uma revista eletrônica nacional.A matéria sobre Porto

Seguro aparece na página de Cultura. Não há a exploração das características do meio

para que seja gerada uma discussão sobre os aspectos do município. não há conexão com

outros sites referentes ao local.

44- http://www.pousadadoroballo.com.br/

Pousada do Roballo. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços (reservas de

diárias) e informações sobre o Arraial d’Ajuda e sobre a pousada. Apresenta

hipertextualidade, heterogeneidade (fotografia e texto) e mobilidade dos centros. Utiliza

da analogia, da assimilação e da articulação. O site tem um designer agradável e rápida

conexão que possibilitam fácil navegação. Utiliza do recurso visual, apresentando pessoas

malhadas e a natureza exótica, como parte do cenário local.

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45- www.tursimo.gov.br/br/cidade/ver.asp?servicold=48&cid=20

Embratur. Oferece informações sobre o município e seus atrativos turísticos. Apresenta

hipertextualidade, heterogeneidade (fotografia e texto), multiplicidade, exterioridade e

topologia. Utiliza da analogia. O designer é semelhante ao de um periódico impresso.

Possibilita a conexão com sites referentes ao local. As informações reproduzem o

imaginário da Carta de Caminha. A análise foi referente à página sobre Porto seguro e

não ao site inteiro.

46- http://geocities.yahoo.com.br/brasil_tur/bahia.htm

Geocities yahoo. Oferece informações sobre o município e a enumeração de

empreendimentos turísticos. Apresenta hipertextualidade e utiliza da analogia. O designer

e semelhante ao de um periódico impresso, não há detalhamento das informações que

apenas reproduzem o imaginário da carta.

47- http://www.doaj.org/abstract?id=28205&toc=y

DOAJ – Directory of Open Access Journals. Oferece interação por e-mail e educação.

Apresenta hipertextualidade e utiliza da analogia. O designer é simples e agradável. O site

é voltado para a disponibilização de estudos científicos. Explora da hipertextualidade

para ampliar as discussões e oferta de dados científicos.

48- http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-

261X2001000300004&script=sci_abstract&tlng=pt

Sielo Brasil. Revista Brasileira de Geofísica. Oferece interação por e-mail e educação.

Apresenta hipertextualidade e utiliza da analogia. A página é simples, semelhante à de um

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periódico impresso. Disponibiliza estudos científicos sobre o local e utiliza da

hipertextualidade para detalhar os conteúdos.

49- http://www.abbra.eng.br/portoseguro.htm

Abbra – Produtos e serviços. Oferece informação sobre a história e sobre aspectos

turísticos (festividades). Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (fotografia e texto),

multiplicidade, exterioridade e topologia. Utiliza da analogia. O designer assemelha-se ao

de um cartão postal. Apresenta informações superficiais sobre o local, propagando o

imaginário da carta.

50- http://www.marlim.com.br/abre.htm

Hotel Marlin. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços (reservas de diárias) e

informações sobre as acomodações do hotel e sobre a localização (oferece mapa).

Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (texto, fotografia e som) e mobilidade dos

centros. Utiliza da analogia e da assimilação. O designer é simples e agradável e site

possui rápida conexão, facilitando a navegação.

51- http://www.losmandalas.com.br/default.htm

Los Mandalas Resort. Oferece interação por e-mail e informações sobre as instalações do

resort e sobre os serviços de mergulho que oferece. Apresenta hipertextualidade e

heterogeneidade (fotografia e texto). Utiliza da analogia. O designer é simples, as não

aproveita as os recursos do meio para potencializar as comunicação e agilizar as ações do

usuário.

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52- http://www.cidadeshistoricas.art.br/portoseguro/ps_eve_p.htm

Cidades Ibest. Oferece informações sobre as comemorações festivas, sobre hospedagem, e

sobre meios de transportes de acesso, sobre hospitais, atividades econômicas,

características geográficas e informações sobre a temporadas turísticas. Apresenta

hipertextualidade e metamorfose e utiliza da analogia. O designer é semelhante ao de um

periódico impresso as informações turísticas limitam-se a um calendário festivo.

53- http://www.pousadaramona.com.br/index.htm

Pousada Ramona. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços (reservas de diárias)

e informações sobre a natureza e atrativos turísticos de Trancoso e sobre as instalações do

hotel. Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (fotografia e texto) e mobilidade dos

centros. Utiliza da analogia e da assimilação. O designer é simples e agradável, apresenta

rápida conexão, facilitando a navegação. As informações são superficiais e não dão conta

da complexidade sócio-econômica do local, sendo limitadas ao imaginário de carta.

54- http://casadamarlene.cjb.net/

Imobiliária. Oferece interação por e-mail, prestação de serviço (aluguel de casas para

temporada), e-comerce (venda de imóveis) informações sobre pontos turísticos e sobre

aspectos naturais do município bem como sobre as características dos imóveis

negociados. Apresenta hipertextualidade ,metamorfose, heterogeneidade (fotografia e

texto) e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia, da assimilação e da articulação. O

designer é simples e agradável, e apresenta rápida conexão, o que facilita a navegação.

Promove articulação entre usuário e proprietários dos imóveis.

55- http://www.netviagens.com/Microsite/microsite.asp?channelID=370

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Agência de viagem (Portugal). Oferece interação por e-mail, prestação de serviços

(reservas de pacotes de viagens) e informação sobre o local (história e aspectos

ambientais), sobre o roteiro da viagem e sobre hotéis. Apresenta hipertextualidade,

metamorfose, heterogeneidade (fotografia e texto) multiplicidade e topologia. Utiliza da

analogia, da assimilação e da articulação. O designer é simples e agradável. Explora a

hipertextualidade e a multiplicidade para conectar o usuário com diversas localidades. As

informações são restritas a descrição de alguns aspectos turísticos do município,

propagando o imaginário da carta.

56- http://www.portal500.com.br/coqueiroverde/index.html

Hotel Coqueiro Verde. Oferece interação por e-mail e informação sobre as características

gerais do município, preparando o turista para eventuais situações constrangedoras com

exploração do turista por cambistas. Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade

(fotografia e texto) e mobilidade dos centros. O designer é agradável e facilita a

navegação. As informações são precisas mas oferecem ao usuário uma concepção mas

prepara o usuário para eventuais problemáticas sociais.

57- http://www.macamp.com.br/_Campings/BA-PortoSeg-Caju.htm

MA Camping. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços (reservas de diárias),

informações sobre o Arraial d’Ajuda (festividades e natureza) e sobre o camping.

Também oferece educação, apresentando um regulamento de conduta no local. Apresenta

hipertextualidade, heterogeneidade (ícones, fotografia e texto) e mobilidade dos centros.

Utiliza da analogia e da assimilação. O designer é um pouco confuso. Muitos ícones e

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muitas variações da fonte (diversos tamanho, cor, tipo, e estilos) causam um certo

desconforto à visão.

58- http://www.saudosamaloca.tur.br/

Hotel Pousada Saudosa Maloca. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços

(reservas de diárias – via e-mail) e informações sobre o hotel. Apresenta

hipertextualidade, heterogeneidade (fotografia e texto) e mobilidade dos centros). Utiliza

da analogia e da assimilação. O designer agradável e a rápida conexão facilitam a

navegabilidade.

59- http://www.freires.com.br/

Livro on-line – Freire’s on-line. Oferece informações sobre praias, festividades noturnas e

demais aspectos turísticos, incluindo perplexidades sociais conseqüentes da especulação

em torna da atividade. Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (fotografias e texto),

multiplicidade, exterioridade, topologia e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia. O

designer é semelhante à de uma revista impressa. Utiliza dos recursos do meio para

aprofundar as informações apresentadas. Utiliza da ironia para descrever o local,

compondo um texto original para apresentar ao usuário aspectos sociais negativos

provocados pela especulação em torno da atividade.

60- http://www.oscarararipe.com.br/pintor/contato.html

Galeria Atelier de Oscar Araripe. Oferece interação por e-mail e caixa de opinião e e-

comerce. Apresenta heterogeneidade (fotografia e texto) e utiliza da assimilação. Página

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de vendas de obras de arte. Assemelha-se a um catálogo sem fornecer informações

detalhadas.

61- http://www.losartesanos.com/brasil/bahia/porto_seguro.htm

Oferece informações sobre a história e aspectos turísticos do município. Apresenta

hipertextualidade e heterogeneidade (texto e fotografia). Utiliza da analogia e da

articulação, estabelecendo um conexão entre artesão e usuário. A página possui um

designer agradável.

62- http://www.amazonaspress.com.br/htm-comunic/the_best/the_best_020701_mail.htm

Revista eletrônica. Oferecer interação por e-mail e jornalismo. Apresenta

hipertextualidade , metamorfose e topologia. Utiliza da analogia. A página assemelha-se á

um jornal impresso, apresentando editorias fixas. As chamadas ficam ordenadas uma

após outra, de modo que é necessário usar da barra de rolamento para visualizar todas

as notícias.

63- http://www.beijodovento.com.br/

Pousada Beijo do Vento. Oferece interação por e-mail e informações sobre as

acomodações e serviços da empresa. Apresenta hipertextualidade e heterogeneidade

(texto e fotografia). Utiliza da analogia. O designer é pouco agradável e não estimula ao

deslocamento pelo site, uma vez que é preciso a barra de rolamento para percorrer todas

as informações e encontrar links de interação.

64- http://www.pousadacatamara.com.br/

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Pousada Catamarã. Oferece prestação de serviço (reserva de diárias) e informações sobre

a localização, as acomodações e serviços da empresa e sobre aspectos naturais do

município. Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (som, fotografia e texto) e

mobilidade dos centros. Utiliza da analogia, da assimilação e da articulação. Designer

simples e agradável e a rápida conexão facilitam a navegação.

65- http://www.kitesurfmania.com.br/ksm/viagem/estado.asp?estado=BA

Guia de viagem. Oferece interação por fórum, e informações sobre a história e atrativos

turísticos do município. Apresenta hipertextualidade, metamorfose, heterogeneidade

(texto e fotografia), multiplicidade, topologia e mobilidade dos centros. Utiliza da

analogia e da articulação, estabelecendo uma conexão entre o usuário e empresas do trade

turístico. O designer permite fácil navegação, por sua agradabilidade e rápida conexão.

66- http://www.brasilviagem.com/materia/?CodMateria=13

Agência de viagem (agência on-line). Oferece interação por e-mail, prestação de serviços

(reservas de diárias, de passagens e de pacotes turísticos), informações sobre a história e

aspectos turísticos do município. Oferece também jornalismo direcionado ao turismo,

ratificando o conteúdo das informações. As notícias são voltadas para vender o local

como produto turístico, não demonstrando um compromisso social. Apresenta

hipertextualidade, metamorfose, heterogeneidade (fotografia e texto), multiplicidade,

topologia e mobilidade dos centros. Utiliza da Analogia, da substituição, da assimilação e

da articulação. O designer agradável e a rápida conexão facilitam a navegação pelo site.

Promove a articulação do usuário com empresas hoteleiras.

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67- http://www.achetudoeregiao.com.br/BA/porto_seguro.htm

Site em construção, a análise foi feita a partir de sua estrutura e de alguns. Oferece

interação por e-mail e chats, prestação de serviços (canal de desaparecidos e de busca de

emprego), informações sobre aspectos turísticos e endereços úteis, educação (através dos

links ciência e meio ambiente). Oferece também jornalismo abordando notícias gerais.

Apresenta hipertextualidade, metamorfose, heterogeneidade (texto e fotografia),

multiplicidade, topologia e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia, da assimilação e

da articulação. O designer agradável e a rápida conexão facilitam o deslocamento pelo

site.

68- http://www.tropicalhotel.com.br/tarifas/oceano04.htm

Tropical Oceano Praia. Oferece informações sobre as tarifas e serviços do hotel. A página

é semelhante a um panfleto, tem rápida conexão utiliza apenas da analogia.

69- http://www.altosdetrancoso.com.br/

Empresa de Consultoria. Oferece interação por e-mail, além de disponibilizar um caixa de

diálogo na qual o usuário pode negociar em tempo real com a empresa. Oferece prestação

de serviços e e-comerce (aluguel e venda de imóveis) e informações gerais sobre

Trancoso e sobre os imóveis a ser negociados. Apresenta hipertextualidade, metamorfose,

heterogeneidade (fotografias e texto), multiplicidade, topologia e mobilidade dos centros.

Utiliza da analogia e da assimilação. O designer agradável e a rápida conexão facilitam o

deslocamento pelo site, que corresponde à extensão de uma empresa paulista que atua em

várias localidades. As informações disponibilizada propagam o imaginário da carta de

Caminha, enfatizando a natureza exótica, o mito de descobrimento e o multiculturalismo.

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70- http://www.cosmo.com.br/viagem/integra.asp?id=96051

Revista eletrônica. Oferece interação por e-mail, informações gerais sobre o município e

jornalismo. Apresenta hipertextualidade, metamorfose, multiplicidade, topologia e

mobilidade dos centros. Utiliza da analogia. O jornalismo apenas propaga o imaginário

turístico, já difundido, sobre o local.

71- www.herbario.com.br/polui/tarbh.htm#log

Herbário. Oferece interação por e-mail e educação, utilizando da analogia. Apresenta

hipertextualidade, e topologia. O site disponibiliza estudos científicos sobre o meio

ambiente.

72- http://www.arvore.com.br/noticia/2004_1/n0706_3.htm

Projeto Coral Vivo. Oferece interação por e-mail e jornalismo. Apresenta

hipertextualidade e utiliza da analogia. A página disponibiliza jornalismo científico. A

rápida conexão e o designer agradável facilitam a navegação.

73- http://www.brasilchannel.com.br/municipios/mostrar_municipio.asp?nome=Porto+Se

guro&uf=BA

Portal sobre o Brasil. Oferece interação por e-mail e enquete, jornalismo e informações

gerais a história, festividades, o comercio, espaços de fluxo e sobre atrativos turísticos do

município. Apresenta hipertextualidade, metamorfose, heterogeneidade (som e texto),

multiplicidade, topologia e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia. As informações

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oferecidas correspondem ao imaginário da carta, o designer agradável e a rápida conexão

facilitam o deslocamento pelo site.

74- http://www.brazadv.com/passeios_ecol%C3%B3gicos_mapas/passeios_ecol%C3%B3

gicos_3a.htm

Site sobre eco-turismo. Oferece informações sobre os aspectos naturais do local,

enfatizando a potencialidade para a prática do eco-turismo. Apresenta heterogeneidade e

utiliza da analogia. O designer não é muito agradável, as cores fortes causam uma

poluição visual.

75- http://www.lami.pucpr.br/~dalton/websites2000/semestre2/T-

C/Rafael%20Figlarz%20e%20Roberta%20Marques/bahia.htm

Oferece informações sobre as festividades do município, enfatizando as cabanas do

circuito Porto Nigth. Apresenta heterogeneidade (fotografia e texto) e topologia. Utiliza

da analogia. O designer é agradável e a página disponibiliza informações permeado pelo

imaginário da carta.

76- http://www.hoteisemportoseguro.com.br

Hotel Distribution Network. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços (reservas

de diárias) e informações sobre as praias, locais de lazer, lista bares e restaurantes e

endereços e telefones de bancos, rodovia´ria, aeroporto e demais instituições prestadoras

de serviços públicos. Apresenta hipertextualidade, metamorfose, topologia e mobilidade

dos centros. Utiliza da analogia, assimilação e articulação. O site representa uma empresa

prestadora de serviços turísticos. Estabelece conexão entre o usuário e hotéis. As

informações disponibilizadas estão longe de representarem a dinâmica do município,

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limitando-se a expor motivos turísticos. A rápida conexão e o designer agradável facilitam

a navegação.

77- http://www.brazils-hotels.com/porto_seguro_hotels.htm

Agência virtual de reservas de diárias. Oferece prestação de serviços (reserva de diárias)

e informações sobre aspectos turísticos da localidade. Apresenta hipertextualidade,

metamorfose, heterogeneidade (fotografia e texto) e topologia. Utiliza da analogia, da

substituição e da articulação. o designer agradável e a rápida conexão facilitam o

deslocamento pelo site, que corresponde a uma operadora virtual de serviços turísticos

que também articula usuários e hotéis.

78- http://www.muralnet.jor.br/capa.asp

Jornal eletrônico. Oferece interação por e-mail e enquete, informações para a comunidade

local e para turistas, além de uma prática jornalística voltada para a decodificação do

cotidiano local. Apresenta hipertextualidade, metamorfose, heterogeneidade (fotografia e

texto) e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia. Apresenta um vasto conteúdo

jornalístico, que possibilita uma compreensão sobre a dinâmica do local. O rápida

conexão e o designer agradável facilitam a navegação.

79- http://www.carnaval.com/bahia/discovery/

Site de informações turísticas. Oferece informações sobre a história, o meio ambiente e

aspectos festivos do município. Apresenta hipertextualidade, multiplicidade e topologia.

Utiliza da analogia e da articulação. O designer simples e agradável e a rápida conexão

facilitam o deslocamento pelo site. Promove a articulação entre hotéis e usuários e

reproduz o imaginário da carta de Caminha.

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80- http://www.topics-mag.com/edition11/porto-seguro.htm

Revista eletrônica. Oferece interação e informações sobre as festividades do município.

apresenta hipertextualidade e assimilação. Página semelhante á de um periódico impresso.

81- http://www.portoseguroresidencial.com.br/

Residencial Alto do Arraial. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços (reserva

de diárias) e informações sobre as acomodações do hotel e a enumeração de aspectos do

cotidiano local. apresenta hipertextualidade e heterogeneidade (ícone, fotografia e texto).

Utiliza da analogia e da assimilação. A rápida conexão facilita o deslocamento pelo site,

mas a utilização do flash causa um efeito desagradável. As informações são superficiais e

não dão conta da complexidade social.

82- http://revistaturismo.cidadeinternet.com.br/Dicasdeviagem/portoseguro.htm

Revista turismo. Oferece interação por e-mail, fórum e chat, prestação de serviços (espaço

para distribuição de currículos, espaço para anúncios, diversão – Karaokê – além de

serviços turísticos). Oferece jornalismo, voltado para a decodificação de práticas

turísticas. Apresenta hipertextualidade, metamorfose, heterogeneidade (fotografias e

texto) e topologia. Utiliza da analogia e da assimilação. A página referente às reportagens

turísticas limita-se aos aspectos festivos do local e às potencialidades naturais,

propagando imaginário da carta.

83- http://www.ivt-rj.net/caderno/anteriores/7/leila/leila5.htm

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Caderno virtual de turismo. Oferece interação por e-mail e uma caixa de diálogo,

prestação de serviços (disponibiliza espaço para publicação de artigos científicos),

educação e jornalismo, trazendo reportagens referentes ás praticas turísticas. Apresenta

hipertextualidade, metamorfose r mobilidade dos centros. Utiliza da analogia e da

substituição. O designer agradável e a rápida conexão facilitam o deslocamento pelo site.

84- http://www.brazilspecial.net/menu/cities/other_cities/city.asp?city=Porto%20Seguro

Agência de turismo. Oferece interação por e-mail e caixa de diálogo, prestação de

serviços (reservas de passagens e de diárias) e informações sobre a localização e aspectos

turísticos. Apresenta hipertextualidade, metamorfose, heterogeneidade (fotografias e

texto), topologia e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia, da assimilação e da

articulação. A rápida conexão e o designer agradável facilitam a navegação. Utiliza da

hipertextualidade tanto para aprofundas as informações quanto para remeter o usuário a

outros conteúdos. Promove a articulação ente usuário e hotéis.

85- http://www.timberland.com.br/parques_montepascoal.htm

Hotel Shalimar. Oferece interação por e-mail e informações sobre as acomodações do

hotel e aspectos turísticos do município. apresenta hipertextualidade, heterogeneidade

(ícones, fotografias, som e texto) e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia. O

designer do site dificulta a navegação (barra de rolamento horizontal e vertical), contudo

utiliza de ícones, imagens e textos agradáveis. S informações reproduzem o imaginário da

carta.

86- www.timberland.com.br/parques_montepascoal.htm

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Site sobre parques e reservas nacionais. Oferece informações (localização, distância da

capital, enumera hotéis, restaurantes e atrativos turísticos) e educação (detalhes da fauna

e flora, arquivo histórico e instruções de como se comportar no local). apresenta

hipertextualidade, topologia e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia. A rápida

conexão e o designer agradável facilitam a navegação, site específico para a comunidade

do turismo ecológico.

87- http://geocities.yahoo.com.br/webahia/bahiaweb/porto.htm

Geocity Yahoo. Oferece informações sobre a história e sobre socais de hospedagem.

Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (fotografias e texto) topologia e mobilidade

dos centros. Utiliza da analogia e da articulação. promove a articulação do usuário com

hotéis e locadoras de automóveis. O designer agradável e a rápida conexão facilitam o

deslocamento pelo site.

88- http://www.visualturismo.com.br/destaque.fwx?destino=PORTO%20SEGURO

Prestadora de serviços turísticos. Oferece interação por e-mail e informações sobre

peculiaridades locais (culinária, artesanato, atrativos turísticos, tipo de roupas e objetos

necessários para se usar no local). Apresenta hipertextualidade, metamorfose, topologia e

mobilidade dos centros. Utiliza da analogia e da articulação, pondo em conexão usuário e

empresas turísticas.

89- http://www.roteirosdecharme.com.br/textoestreladagua.php

Hotel Estrela d’água. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços (reservas de

diárias) e informações sobre o hotel e sobres Trancoso (história e aspectos ambientas).

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Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (fotografia e texto) e mobilidade dos

centros. Utiliza da analogia e da assimilação. O designer agradável e a rápida conexão

facilitam o deslocamento pelo site.

90- http://www.hostels.com/es/availability.php/HostelNumber.172

Hotel. Oferece interação por e-mail e informações sobre o local e sobre as acomodações e

serviços do hotel. Apresenta hipertextualidade e heterogeneidade (fotografia e texto).

Utiliza da analogia e da assimilação. O designer é simples e utiliza da barra de rolamento

e da hipertextualidade para ampliar as informações sobre a localidade e para a prestação

de serviços.

91- http://www.stayxs.com/new/booking/hotel_list.asp?wsid=5&cityid=1349

Poty Praia Hotel. Oferece prestação de serviços (reserva de diárias) e informações sobre

as acomodações do hotel, utilizando da analogia. Página com poucas informações

apresentando apenas algumas informações sobre o hotel e a localização.

92- http://www.brol.com/trv_cty02weather.asp?ID=12

Agência de viagem. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços (reserva de

pacotes turísticos) e informações sobre o município (história, atrativos turísticos,

restaurantes e meios de transportes locais). Apresenta hipertextualidade, metamorfose,

heterogeneidade (texto e fotografia) e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia e da

assimilação. A lenta conexão e a utilização da barra de rolamento dificultam a

navegação.

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93- http://www.bahiabonita.com.br/

Pousada Bahia Bonita. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços (reserva de

diária) e informações sobre as acomodações da empresa e sobre Trancoso. Apresenta

hipertextualidade, heterogeneidade (ícones, fotografias e textos) e mobilidade dos centros.

Utiliza da analogia e da assimilação. A rápida conexão e o designer agradável facilitam a

navegação. Os ícones são bastante criativos, comunicando imediatamente o conteúdo do

link (permitindo, então, uma leitura semiótica).

94- http://www.eztrip.com/dg_viewLocation_locationId-26759.html

Agência de viagem. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços (reservas de

diárias e de passagens aéreas) e informações sobre a história e aspectos turísticos do

município bem como sobre as instalações dos hotéis credenciados. Apresenta

hipertextualidade, metamorfose, topologia e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia,

da assimilação e da articulação. A rápida conexão e o designer agradável facilitam a

navegação. Promove a articulação de usuários com hotéis e as informações remetem ao

mito do descobrimento.

95- http://www.ervadoce.com.br/

Pousada e restaurante Erva Doce. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços

(reserva de diárias) e informações sobre as acomodações e serviços da empresa. Apresenta

hipertextualidade, heterogeneidade (fotografia e texto) e mobilidade dos centros. Utiliza

da analogia e da assimilação. A rápida conexão e o designer agradável facilitam a

navegação.

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96- http://www.viajeros.com/article86.html

Site específico para turistas. Oferece interação por e-mail, fórum e enquete, prestação de

serviços (reserva de diárias) informações sobre a história e aspectos turísticos. Apresenta

hipertextualidade, metamorfose, topologia e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia,

da assimilação e da articulação. O objetivo do site é promover interação entre os usuários

bem como articulação destes com empresas hoteleiras. Apresenta espaço para

cadastramento e posterior disponibilização de suas experiências e fotografias.

97- http://www.zirinei.residencial.nom.br/

Apartamentos Zirinei residencial. Oferece interação por e-mail, prestação de serviços

(reserva de diárias) e informações sobre história e atrativos turísticos do município e

sobre as acomodações e serviços da empresa. Apresenta hipertextualidade,

heterogeneidade (fotografias e texto) e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia e da

assimilação. O designer agradável e a rápida conexão facilitam o deslocamento pelo site.

98- http://www.greatrentals.com/Brazil/12023.html

Hotel. Oferece interação por e-mail e forum, prestação de serviços (reserva de diárias) e

informações sobre Trancoso e sobre as acomodações do hotel. Apresenta

hipertextualidade, heterogeneidade (fotografia e texto) e mobilidade dos centros. Utiliza

da analogia e da assimilação. Designer semelhante à de revista impressa, reproduz o

imaginário da carta.

99- http://www.hostelworld.com/hosteldetails.php/HostelNumber.7661

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Casa Amarela Hotel. Oferece prestação de serviços (reserva de diárias) e informações

sobre as acomodações, serviços e localização do hotel. Apresenta hipertextualidade e

heterogeneidade (fotografia e texto) e utiliza da analogia e da assimilação. Possui rápida

conexão e designer agradável.

100- http://www.hostels.com/de/hosteldetails.php/HostelNumber.172

Residencial das Araras. Oferece prestação de serviços (reserva de diárias) e informações

sobre as acomodações do hotel e sobre a localização. Apresenta hipertextualidade e utiliza

da analogia e da assimilação. Possui rápida conexão.

101- http://www.lodgingcatalog.com/accommodation_1581.htm

Mata Nativa Pousada. Oferece interação por e-mail e informações sobre a pousada e

enumeração de atrativos turísticos. Apresenta hipertextualidade e utiliza da analogia.

Possui rápida conexão.

102- http://www.hotelmais.com.br/P/psegur.htm

Guia virtual de hotéis. Oferece interação por e-mail e informações sobre as instalações

dos hotéis cadastrados. Apresenta hipertextualidade, metamorfose e topologia e utiliza da

articulação. A página é votada para promover a interação entre empresas hoteleiras e

usuários.

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103- http://www.portoseguro-online.com/

Cidade virtual. Oferece informações sobre a história, a localização dados estatísticos e

geográficos, enumeração de atividades econômicas, bem como lista telefones úteis, hotéis,

restaurantes e apresenta alguns aspectos turísticos. Apresenta hipertextualidade,

heterogeneidade (fotografia e texto) e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia e

articulação. A rápida conexão e o designer agradável facilitam a navegação.

104- http://www.clubmed.com.au/find_a_village/villages/Trancoso27.html

Club Med Trancoso. Oferece interação por e-mail, informações sobre as características e

serviços da empresa bem como sobre aspectos naturais e históricos de Trancoso. Oferece

jornalismo com notícias limitas ás ações da empresa. Apresenta hipertextualidade,

topologia e mobilidade dos centros e utiliza da analogia. A rápida conexão e o designer

agradável facilitam o deslocamento pelo site.

105- http://www.sct.ba.gov.br/cyber/06_en.asp

Secretaria de cultura e Turismo do Governo do Estado. Oferece interação por e-mail e

informações sobre a história e atrativos turísticos do município. Apresenta

hipertextualidade, topologia e mobilidade dos centros. Utiliza da analogia. Rápida

conexão e o designer agradável facilitam a navegação. As informações reproduzem o

imaginário da carta.

106- http://arraialdajuda.idoneos.com/index.php/259920

Pousada Tororão. Oferece prestação de serviços e informações sobre a localização e

acomodações da empresa. Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (fotografia e

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texto) e topologia. Utiliza da analogia, da assimilação e da articulação. Conexão lenta e

designer desagradável dificulta a navegação.

107- http://arraialdajuda.idoneos.com/index.php/259913

Pousada Acuarela. Oferece prestação de serviços e informações sobre a localização e

acomodações da empresa. Apresenta hipertextualidade, heterogeneidade (fotografia e

texto) e topologia. Utiliza da analogia, da assimilação e da articulação. Conexão lenta e

designer desagradável dificulta a navegação.

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ANEXO 3:

MESTRADO EM CULTURA & TURISMO UFBA/UESC

MOABE BRENO FERREIRA COSTA27

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA APLICADO A ÍNDIOS PATAXÓS:

1 - O que é etnia?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________

2- Quais as principais problemáticas que o grupo étnico indígena enfrenta?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________

3 – Como a internet pode contribuir para a solução dessas problemáticas?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________

27 Mestrando, orientado pela Dr.ª Sandra Sacramento, grupo de pesquisa ICER (CNPq). Comunicador Social.

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ANEXO 4:

MESTRADO EM CULTURA & TURISMO UFBA/UESC

MOABE BRENO FERREIRA COSTA28

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA APLICADO A ESTUDANTES:

Instituição de ensino:____________________________________________________

1 - Aponte três aspectos que caracterizam a cidade de Porto Seguro.

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________

2 – Aponte três aspectos positivos e três aspectos negativos provocados pelo turismo na

cidade de Porto Seguro.

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________

3 – Aponte três aspectos positivos e três aspectos provocados pela utilização de aparatos

tecnológicos nas ações do dia a dia.

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________

4 – Enumere em ordem de importância três aparatos tecnológicos que podem contribuir

para a melhoria de vida.

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28 Mestrando, orientado pela Dr.ª Sandra Sacramento, grupo de pesquisa ICER (CNPq). Comunicador Social

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5 – Como o computador pode contribuir para a melhoria da vida? (aponte três aspectos);

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6 – Possui computador?

Sim____________; Não_____________

7 – Enumere os programas que você conhece e utiliza:

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8 – Quantas vezes você acessa a internet por semana? Onde?

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9 – que tipo de site você freqüenta? Enumere os três preferidos:

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10 – Como você utiliza as informações que coleta pela internet?

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11 – aponte três características de Porto Seguro que você acha que deve estar na internet?

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