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1. Introdução; 2. Definições; 3. Aspectos metodológicos,' 4. Elementos ou fatores intervenientes; 5. Considerações finais. Henrique Rattner" *Professor do Departamento de Fundamentos Sociais e Jurídicos da Administração/ da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas. Rev. Adm. Emp., 1. INTRODUÇÃO De introdução recente no país, a avaliação de tecnolo- gia (AT.) rapidamente conquistou adeptos e ganhou notoriedade, dado sua versatilidade e eficácia na análise de inovações e de seus impactos, positivos ou negativos. Tanto o Conselho Nacional de Desenvolvi- mento Científico e Tecnológico (CNPq), quanto diver- sas secretarias ministeriais de tecnologia e equipes de pesquisas acadêmicas têm recorrido à AT para equa- cionar, dimensionar e avaliar as possíveis conseqüên- cias de projetos públicos em grande escala e, portanto, de custos e riscos elevados. O presente trabalho procura sintetizar algumas considerações teóricas e práticas sobre a AT, visando sua divulgação junto aos administradores de empresas privadas e públicas, e sua eventual adoção como ins- trumento de apoio no processo decisório. Os administradores de empresas privadas ou públi- cas são freqüentemente obrigados a tomar decisões em condições de incerteza, num mundo em mudanças contínuas. A necessidade de adaptar o processo de- cisório às circunstâncias em transformação leva à caracterização do mesmo como uma aposta indefinida de a/to risco. A característica de aposta refere-se ao al- to grau e natureza probabilística dos resultados espera- dos, em face de expectativas e aspirações contra- ditórias e, muitas vezes, conflitivas, das partes envolvi- das. A indefinição é decorrência de regras de jogo pouco claras ou explícitas, o que provoca, freqüente- mente, alterações durante o processo, ditadas pelas relações de poder e pela influência dos indivíduos ou grupos envolvidos. Finalmente, o alto risco é devido ao fato de mesmo as melhores alternativas encerrarem freqüentemente conseqüências negativas, provocando reações violentas por parte de grupos ou classes da população, atingidos desfavoravelmente pelas decisões dos detentores do poder. A avaliação de tecnologia representa um método de antecipação (ias repercussões, no meio ambiente natu- ral e social, da aplicação de uma determinada tecnolo- gia, objetivando a maximização de seus efeitos positi- vos e a neutralização dos negativos. A análise da AT pode ser feita sob duplo enfoque - o da tecnologia de per si e o de seu impacto no meio ambiente - procu- rando integrá-los numa visão de conjunto coerente, no qual a tecnologia está sempre subordinada ao sistema social global. Seria um exercício estéril tentar analisar e avaliar a tecnologia como fator isolado, com objeti- vos próprios, independentes de seu meio social. No contexto deste trabalho, a tecnologia é considerada co- mo um meio, cujos objetivos específicos estão sempre subordinados a alvos mais gerais, de categorias sociais superiores. 79 A avaliação de tecnologia é, portanto, uma técnica que ajuda a identificar, levantar e aclarar problemas, mais do que resolvê-los, baseada nas seguintes premis- sas: a) a implantação de uma nova tecnologia deve ser uma opção social consciente, ou seja, a decisão a res- Rio de Janeiro, 19(4): 79-90, out./dez. 1979 Avalição de tecnologia technology assessment um instrumento auxiliar no processo decisório

1. Introdução; - SciELOsubsídios ao processo decisório e, como tal, espera-se que apresente comparações das principais vantagens e desvantagens para osgrupos ou segmentos envolvidos,

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Page 1: 1. Introdução; - SciELOsubsídios ao processo decisório e, como tal, espera-se que apresente comparações das principais vantagens e desvantagens para osgrupos ou segmentos envolvidos,

1. Introdução;2. Definições;

3. Aspectos metodológicos,'4. Elementos ou fatores intervenientes;

5. Considerações finais.

Henrique Rattner"

*Professor do Departamento deFundamentos Sociais e Jurídicos da

Administração/ da Escola deAdministração de Empresas de São

Paulo, da Fundação Getulio Vargas.

Rev. Adm. Emp.,

1. INTRODUÇÃO

De introdução recente no país, a avaliação de tecnolo-gia (AT.) rapidamente conquistou adeptos e ganhounotoriedade, dado sua versatilidade e eficácia naanálise de inovações e de seus impactos, positivos ounegativos. Tanto o Conselho Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico (CNPq), quanto diver-sas secretarias ministeriais de tecnologia e equipes depesquisas acadêmicas têm recorrido à AT para equa-cionar, dimensionar e avaliar as possíveis conseqüên-cias de projetos públicos em grande escala e, portanto,de custos e riscos elevados.

O presente trabalho procura sintetizar algumasconsiderações teóricas e práticas sobre a AT, visandosua divulgação junto aos administradores de empresasprivadas e públicas, e sua eventual adoção como ins-trumento de apoio no processo decisório.

Os administradores de empresas privadas ou públi-cas são freqüentemente obrigados a tomar decisões emcondições de incerteza, num mundo em mudançascontínuas. A necessidade de adaptar o processo de-cisório às circunstâncias em transformação leva àcaracterização do mesmo como uma aposta indefinidade a/to risco. A característica de aposta refere-se ao al-to grau e natureza probabilística dos resultados espera-dos, em face de expectativas e aspirações contra-ditórias e, muitas vezes, conflitivas, das partes envolvi-das. A indefinição é decorrência de regras de jogopouco claras ou explícitas, o que provoca, freqüente-mente, alterações durante o processo, ditadas pelasrelações de poder e pela influência dos indivíduos ougrupos envolvidos. Finalmente, o alto risco é devidoao fato de mesmo as melhores alternativas encerraremfreqüentemente conseqüências negativas, provocandoreações violentas por parte de grupos ou classes dapopulação, atingidos desfavoravelmente pelas decisõesdos detentores do poder.

A avaliação de tecnologia representa um método deantecipação (ias repercussões, no meio ambiente natu-ral e social, da aplicação de uma determinada tecnolo-gia, objetivando a maximização de seus efeitos positi-vos e a neutralização dos negativos. A análise da ATpode ser feita sob duplo enfoque - o da tecnologia deper si e o de seu impacto no meio ambiente - procu-rando integrá-los numa visão de conjunto coerente, noqual a tecnologia está sempre subordinada ao sistemasocial global. Seria um exercício estéril tentar analisare avaliar a tecnologia como fator isolado, com objeti-vos próprios, independentes de seu meio social. Nocontexto deste trabalho, a tecnologia é considerada co-mo um meio, cujos objetivos específicos estão sempresubordinados a alvos mais gerais, de categorias sociaissuperiores.

79

A avaliação de tecnologia é, portanto, uma técnicaque ajuda a identificar, levantar e aclarar problemas,mais do que resolvê-los, baseada nas seguintes premis-sas:

a) a implantação de uma nova tecnologia deve seruma opção social consciente, ou seja, a decisão a res-

Rio de Janeiro, 19(4): 79-90, out./dez. 1979

Avalição de tecnologia technology assessment um instrumento auxiliar no processo decisório

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peito deve ser tomada com base nos conhecimentosacerca das implicações e impactos possíveis da inova-ção;

b) a administração pública que, por definição, deve vi-sar o interesse coletivo, teria todo o interesse em admi-nistrar racionalmente a inovação, o que exige avalia-ção e comparação sistemáticas com soluções alternati-vas.

Aplicada neste sentido, a avaliação de tecnologia sedistingue do raciocínio meramente intuitivo e daespeculação, porque:

a) exige uma explicitação do raciocínio e das inferên-cias, submetendo premissas e hipóteses à crítica e àverificação, de acordo com os requisitos e padrões dométodo científico;

b) tira os administradores da rotina e os obriga a am-pliar os horizontes da reflexão e do planejamento,analisando criticamente opiniões, crenças, tradições evalores tradicionais;

80

c) representa uma técnica interdisciplinar e holística,cuja aplicação leva à percepção da interação entremudanças tecnológicas e sociais;

d) indica, além de alternativas tecnológicas, possíveisimpactos de sua introdução nos meios ambientes eco-nômico, social, político e ecológico.

As condições de mercado de concorrência imperfei-ta e a complexidade do mundo de negócios e daadministração pública têm levado à adoção quase ge-neralizada de práticas de planejamento, no sentido deadequar os meios a fins preestabelecidos. A produçãode bens e serviços em grande escala, com produtos pa-dronizados para o consumo de massa; a indivisibili-dade de instalações e equipamentos e, portanto, o ele-vado custo do investimento inicial levam forçosamenteà programação e ao planejamento das operações, pro-curando reduzir, senão eliminar, os riscos de um fra-casso.

Como exemplo ilustrativo, convém analisar, entreoutros, os estudos sobre fontes energéticas alternati-vas, especificamente a de biomassas, cujas implicaçõesdevem ser analisadas não somente em termos de cus-to/beneficio para o investidor. As conseqüências indi-retas, ou de segunda ordem, da introdução de biomas-sas como fontes energéticas abrangem uma amplaga-ma de aspectós e problemas, tais como:

- a demanda adicional por terras de alta produtivida-de;- a expulsão das culturas menos rentáveis e, portan-to, a expansão da fronteira agrícola;- a eliminação das pequenas propriedades e atransformação de largas áreas em monoculturas;

- mudanças na estrutura da propriedade da terra,com a expansão de empresas agrícolas e agroindus-triais;- por outro lado, as monoculturas em grande escalae mecanizadas irão exigir:

Revista de Administração de Empresas

• quantidades crescentes de equipamentos motoriza-dos;• quantidades maiores de fertilizantes e pesticidas, emgrande parte ainda importados, onerando, portanto, obalanço de pagamentos;

_ a expansão das monoculturas, às custas das cultu-ras tradicionais, resultará em escassez de alimentos,cujos custos de produção tenderão a aumentar, devidoà expansão da fronteira agrícola, os maiores custosdos insumos (mão-de-obra mais qualificada, fertili-zantes importados, etc.), bem como os custos adicio-nais de transporte e armazenamento;

- no que se refere à mão-de-obra, os impactos nega-tivos já são verificados nos estados de São Paulo e Pa-raná, onde a expansão da agricultura capitalista temlevado à liberação trabalhadores não qualificados, an-tes ocupados na economia de subsistência ou em pe-quenas propriedades rurais. Suas migrações aosnúcleos urbanos mais próximos têm gerado o fenôme-no dos bóias frias, problema social de dificil solução e,portanto, provocador de tensões e conflitos políticos;

_ impactos indiretos da introdução de biomassas, emgrande escala, serão sentidos nas áreas urbanas -pressões sobre o poder público para prover à popula-ção migrante condições de vida mínimas, sob forma dehabitação, saneamento, recreação, educação, saúde esegurança pública, o que não deixará de refletir-se nodesequilíbrio orçamentário e num aumento das pres-sões tributárias sobre a população;

- o cultivo de monoculturas, como matéria-primapara a indústria energética, terá reflexos sobre as eco-nomias regionais. pela distribuição assimétrica das usi-nas e destilarias no espaço econômico. Portanto,desníveis de renda individual e regional tenderão aacentuar-se, gerando um ciclo virtuoso de poupança-.investimento-renda, em apenas algumas áreas privile-giadas;

- o meio ambiente ecológico sofrerá impactos dasnovas culturas em grande escala, devido ao uso de fer-tilizantes químicos e pesticidas, bem como à poluiçãodas águas pelos resíduos do processo de destilação damatéria-prima vegetal;

- a indústria de máquinas e equipamentos passará,indubitavelmente, por uma fase de grandes negócios,decorrente de uma demanda praticamente ilimitada elíquida por novas instalações, com facilidades cre-ditícias, proporcionadas pelo poder público.

Finalmente, convém mencionar também os diversosgrupos de interesses envolvidos ou afetados pelos pla-nos e projetos de biomassas:

- os proprietários das usinas e destilarias;- os proprietários das terras;- os pequenos lavradores;- os trabalhadores rurais, sem terras;- os industriais de máquinas e equipamentos;- os operários dessas indústrias;- os banqueiros e dirigentes de instituições financei-ras;

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- as administrações públicas, a nível municipal, esta-dual e federal;- as camadas de baixa renda da população urbana;- as classes média e alta da população urbana, donosde automóveis particulares.

A lista acima não esgota a pauta dos impactospossíveis da introdução e da utilização de biomassasem grande escala. Sua listagem e os cruzamentos comos diversos grupos afetados devem permitir a localiza-ção dos focos de resistência e de eventuais obstáculostécnicos, econômicos ou políticos à implantação donovo sistema energético. Ademais, a organização sis-temática de dados e informações sobre os impactos po-tenciais da nova tecnologia dará condições ao poderpúblico para escolheras alternativas mais eficazes.

2. DEFINIÇÕES

A AT constitui uma subcategoria de análise de diretri-zes (policy anatysisi, cujo objetivo é proporcionar aosque' tomam decisões nos setores público e privado am-pla e objetiva informação sobre as conseqüências po-tenciais de ações relacionadas com o desenvolvimentotecnológico. Praticamente, a AT é orientada para an-tecipar, identificar e avaliar os possíveis impactos quepodem advir da introdução e utilização de uma novatecnologia, uma nova aplicação de tecnologia existen-te, ou uma mudança significativa ao nível de suautilização.

Preocupados com os efeitos, não somente os plane-jados e diretos em termos de custo/benefício, mas s~-bretudo os secundários ou não esperados, que se mam-festam nos sistemas econômico, social, legal-institu-cional, ecológico e político, os objetivos da AT visa~explorar e determinar caminhos de intervenção maisefetivos no desenvolvimento de tecnologias prospecti-vas.

Partindo da premissa de que o futuro não é prede-terminado e, portanto, pode ser construído de acordocom opções sociais conscientes, as análises da AT pro-curam formular e explicitar os objetivos socialmentedesejáveis, seus custos, benefícios e efeitos, positivos enegativos, a médio e longo prazos, bem como indi-cam 'os meios e diretrizes disponíveis para evitar im-pactos negativos, ou para melhor preparar-se para asmudanças sociais inerentes.

Ao equacionar um estudo de AT, os técnicos devemformular as seguintes indagações básicas:

a) quais serão os impactos, efeitos ou conseqüênciasque resultarão do uso da tecnologia, além daquelesque estão sendo utilizados para justificar seu desenvol-vimento?

b) os diferentes grupos que recebem os impactos consi-deram-se beneficiados ou prejudicados, e em que me-dida?

c) o que pode ser feito para incrementar os impactosbeneficiadores?

Os exercícios de AT mais bem sucedidos são aquelesque conseguem identificar e construir combinações dealternativas sociotecnológicas capazes de modificarimpactos previstos.

Líderes políticos e administradores tomam suas de-cisões, inevitavelmente, em um contexto de incerteza.A AT procura reduzir essa incerteza sempre quepossível, oferecendo uma gama de opções, tentandoantecipar as vantagens ou impactos negativos de umaescolha entre soluções alternativas. Contudo, a ATnão pode substituir o processo decisório: ela constituiapenas um elemento neste processo. Pois as relaçõesentre tecnologia e sociedade são, na melhor dashipóteses, probabilísticas, e não dispomos por ora deum modelo fidedigno e seguro da interação entre asmudanças tecnológicas e sociais.

Embora a bibliografia consultada a respeito não re-vele uma definição precisa e geralmente aceita do queseja a AT, é possível encontrar, entre os autores, umacordo tácito a respeito de um conjunto de elementoscentrais, pressupostos básicos da própria técnica. Es-tes podem ser resumidos da seguinte forma:

a) o desenvolvimento tecnológico pode e deve ser ra-cionalmente administrado, em direção a objetivos quecontribuam, a longo prazo, para o bem-estar da huma-nidade, ou de uma sociedade em particular. Aadministração 'será facilitada por uma avaliação ecomparação objetivas das alternativas disponíveis;

81b) a AT procura precipuamente proporcionarsubsídios ao processo decisório e, como tal, espera-seque apresente comparações das principais vantagens edesvantagens para os grupos ou segmentos envolvidos,da população, inerentes a eventuais opções;

c) a AT representa, basicamente, um esforço interdis-ciplinar, exigindo a participação ativa de cientistas so-ciais, bem como das áreas exatas e naturais. Eventual-mente, disciplinas mais recentes, como análise de siste-mas, teoria das decisões, pesquisa operacional, etc.,contribuem eficazmente para a realização de umaavaliação tecnológica. A crescente ênfase na carac-terística sistêmica da AT ,é explicada pela interação datecnologia e as diretrizes do poder público, constituin-do um conjunto complexo de relações, potencialmenteinteligível e suscetível de ser racionalmente administra-do;

d) qualquer exercício de AT deve incluir, obrigatoria-mente, projeções do futuro; em conseqüência, explorae analisa-deliberadamente as incertezas inerentes emtais projeções;

e) o conjunto mais geral de tecnologia abrangetambém o de administração ou soft technology (tecno-logia social), além da conotação usual de tecnologiafísica ou material;

f) tendo essencialmente finalidades práticas - insumopara as decisões - os relatórios de AT podem incluirtanto informações e dados quantitativos, quanto qua-litativos e mesmo juízos de valor.

Avaliação de tecnologia

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Todavia, nenhuma AT pode ser considerada comoresposta definitiva para o problema em pauta, porquenovas informações emergem constantemente, alteran-do o cenário e as relações entre os elementos. Por isso,a aplicação da AT deve ser reiterada e cumulativa. Aabordagem do técnico em AT deve ser do tipo explo-ratório, experimental e pragmático. tendo sempre pre-sente que os impactos do desenvolvimento e da utiliza-ção de uma nova tecnologia aparecerão somente emlO, 15ou 20 anos, sob a forma de mudanças de outrastecnologias e instituições, o que exige, por sua vez, co-nhecimento e utilização de técnicas de antecipação. I

3. ASPECTOS METODOLÓGICOS

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Adimitindo-se a necessidade de avaliar novos proces-sos e produtos técnicos antes de sua aplicação em esca-la ampla, a fim de calcular os riscos e a extensão de po-tenciais disfunções, é lícito indagar sobre a poucapenetração desta técnica na indústria. Além da relativanovidade que a técnica em si representa, podemosapontar as seguintes razões prováveis para seu poucouso ou mesmo desconhecimento por parte dos admi-nistradores:a) a AT é considerada, geralmente, uma arte. Os im-pactos futuros de uma nova tecnologia envolvem sem-pre incerteza sobre a interação e as conseqüências decertos fatores, os quais só podem ser analisados dentrode um quadro de referências do conhecimento atual,enquanto os eventuais comentários e recomendaçõesestejam, necessariamente, baseados em premissas ehipóteses mais ou menos prováveis. Isto significa que asolução de um problema mediante a aplicação da ATsó pode proporcionar diretrizes gerais ou um quadrometodológico de referências para análise, compara-ção, etc., distinto, portanto, do tipo de problema bemdefinido que pode ser equacionado e resolvido me-diante a pesquisa operacional, matriz input-output,programação· linear, PERT, etc.;

b) muitos problemas não podem ser descritos adequa-damente, sem considerar suas relações sistêmicas comum contexto mais amplo. Problemas submetidos à ATsão geralmente interativos, e a característica da inter-dependência dos diversos fatores deve ser incluída ex-plicitamente nas especificações da AT. Todavia, naprática da tomada de decisões na indústria e, freqüen-temente, também no governo, o desenvolvimento po-tencial de uma nova tecnologia e seus impactos em ou-tras esferas são geralmente ignorados ou negligencia-dos como objetos de pesquisa e análise. Usa-se a pre-missa de ceteris paribus ou, pior ainda, a interaçãocom o contexto mais amplo é excluída da análise. Istonão deve levar-nos a subestimar as dificuldades exis-tentes ao nível de identificação dos impactos, bem co-mo a sua antecipação, quantificação ou dimensiona-mento;

c) tendo sido concebida inicialmente como instrumen-to auxiliar na tomada de decisões políticas, as princi-pais aplicações da AT encontram-se nesta área. Asrecomendações e as opções relacionadas com aspectosou fatores controvertidos são freqüentemente influen-

Revista de Administração de Empresas

ciadas por pontos de vista subjetivos e percepções e va-lores diferentes dos diversos grupos sociais afetadospela inovação pretendida. Tais controvérsias exigiriammais do que uma AT, o que raramente acontece. Deve-mos, portanto, inferir que a validação das opções e dasrecomendações não satisfaz necessariamente oscritérios da objetividade científica, no sentido de umaverificação intersubjetiva. Uma possível saída para es-te dilema poderia ser encontrada na elaboração de ummodelo participatório, em que os diferentes juízos devalor e as aspirações dos grupos sociais afetados pelanova tecnologia fossem analisados de forma neutra enão comprometida.

Conforme foi apontado atrás, um estudo de AT lan-ça mão de várias técnicas diferentes, sendo que a sele-ção de uma em particular exige verificação cuidadosade sua adequação e eficiência no caso específico. Atécnica de construção de cenários, por exemplo,.pareceadequada para analisar a probabilidade de eventos fu-turos, as condições que possam influenciar sua gênesee os efeitos e problemas potencialmente inerentes aoemprego de uma determinada tecnologia.

Todavia, a construção de cenários apresenta certasdificuldades no campo sociopolítico, porque um siste-ma de valores deve ser estabelecido a fim de analisar eavaliar os impactos sociais de determinadas tecnolo-gias, ou os obstáculos que grupos sociais possam oporà sua introdução. A necessidade de uma certa con-gruência entre os sistemas de valores atual e futuro exi-ge uma antecipação de valores e preferências, na horada introdução e aplicação de uma nova tecnologia. Odesenvolvimento de um sistema adequado de indicado-res sociais, que permitam identificar as áreas e os obje-tivos mais importantes para o bem-estar da população,pode ser um instrumento auxil1ar de relevância nestatarefa.

Em 1971, uma equipe da Mitre-Corporação, sob adireção de M. Jones, desenvolveu uma metodologia desete passos, para a condução de uma AT.Foi enfatiza-do que os passos deveriam ser considerados como no-vas linhas de conduta e, portanto, a seqüência, deacordo com a sua ordem numérica, não seria essencial.Essa metodologia de sete passos foi desenvolvida du-rante a realização de seis projetos de AT, pela mesmaequipe, todos referentes a tecnologias fisicas. A fim defacilitar a aplicação da metodologia, cada passo foicompletado por uma extensa lista de aspectos pro-blemáticos e questões, procurando ressaltar, ao mes-mo tempo, a complexidade e dificuldade da AT.

A metodologia proposta pela equipe Mitre-Jones foiampliada posteriormente por J. Coates, do Office ofTechnology Assessment (OTA), do Congresso norte-americano. Embora utilizando o esquema Mitre-Jonescomo ponto de partida, Coates incorporou alguns ele-mentos extraídos de sua própria experiência em AT,ampliando e aperfeiçoando consideravelmente aquelametodologia. Esses elementos ou passos - a iden-tificação dos diferentes grupos de interesse, de alterna-tivas macrossistêmicas e de variáveis exógenas - leva-ram à formulação das seis variáveis ou aspectos de

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interseção que afetam, de forma e intensidade varia-das, cada um dos passos seqüenciais, num processosistemático de AT.

A tabela 1apresenta as seqüências das metodologiasMitre-Jones (sete passos) e de Joseph Coates (10 pas-sos), paraaAT.

Tabela 1

Metodologia MitrNOM. (1971)

I. Definir a tarefa de avalioçlo2. Descreva li toc:nolosill rele-

vantes3. Desenvolver OI pressupostos

sobre o estado da sociedade

4. Identificar áreas de impacto5. Realizar anru.es preliminares

dos impactos6. Identificar possíveis opções p••

ra açlo7. Completar a análise dos imo

pactos.

Metodologia/. COat•• (1974)

I. Examinar diferentes formulaçõee. do problema

2. Especificar alternativas sistêmicas

3. Identificar possíveis impactos

4. Avaliar os impactos5. Id.entificar a estrutura decisória

6. Identificar as opç!!es para oçlo daestrutura decisória

7. Identifi~r grupos de interesse8. Identificar altematillJs macro-sís-

têmicas (outros caminhos para ameta)

9. Identificar variáveis ex6genas oueventos com prováveis efeitos so-bre 1- 8

______ 10. Conclusões e recornendaçôes --

Descrição deTecnologias

eProjeções

Alternativas

Convém ressaltar que essas seqüências de passos nãosignificam necessariamente sua realização de forma li-near. Ademais, seus autores insistem em que mais deum roteiro será necessário para produzir uma avalia-ção bem sucedida.

Tentaremos, a seguir, descrever resumidamente ca-da um dos elementos funcionais e de interseção, que fi-guram no. gráfico anterior, exemplificando algumasdas técnicas que parecem melhor adequadas a essas ne-cessidades funcionais.

3.1 Descrição eprojeção de tecnologiaAo primeiro e principal elemento funcional de qual-quer AT cabe a tarefa de descrever a tecnologia (ouárea problemática) a ser avaliada, e projetá-la, por ca-minhos alternativos, para o período de tempo futuroespecificado. A descrição das alternativas tecnológicasdeve permitir uma comparação adequada dos impac-tos e conseqüências. Por isso, a coleta de dados, adelimitação do campo de avaliação e a projeção de tec-nologias alternativas constituem componentes inte-grantes, porém subordinados a este estágio de AT.1. A coleta de dados referente à descrição da tecnolo-gia é necessariamente diferente daquela exigida poste-riormente para a conduta da análise dos impactos. Re-comenda-se, além da pesquisa bibliográfica, contatoscom especialistas e instituições especializadas, median-:te entrevistas realizadas por pesquisadores experien-tes. A organização de conferências, simpósios, etc.também pode servir de mecanismo para a acumulaçãoe a verificação de dados e informações. Em algunsprojetos, o uso de questionários para colher opiniõesde especialistas a' respeito dos objetivos da AT podesubstituir a entrevista pessoal.2. A delimitação da área de A Tparece um passo indis-pensável, tendo em vista a grande quantidade de op-ções e oportunidades, hipoteticamente sujeitas à inclu-

83No gráfico 1 são apresentados os elementos funcio-nais e de interseção para uma estratégia de AT.

Gráfico 1

~&~Análisede~ Diretrizes

(Policy Analysis)

incertezasimpactos inesperadosimplicações sociais a médio e longo prazos

CLARIFICAR:

Análise eComparação de

Impactos

o PROCESSO DE AVAliAÇÃO DE TECNOLOGIAPROCURA:

IDENTIFICAR:

aspectos e problemas subjacentes

COLETAR:informações e dados para subsidiar e au-xiliar a tomada de decisões presente oufutura.

Elementos de Interseção

Incerteza

Interação daEquipe

(*) Adaptado de J.E. Armstrong e W.W. Hannan -Strãtegies for Conducting Technology Assessment.Stanford Univenity - DEES - Stanford, Calif. 1977.

Avaliação de tecnologia

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são no processo de avaliação. A equipe de AT deve de-finir as fronteiras que permitem projeções lógicas efactíveis da tecnologia analisada, em termos de tempo,recursos e, sobretudo, dos contextos ou cenários futu-ros, consistentes com a mesma.

A referência ao tempo procura determinar o períodode projeção necessário para avaliar as principais evolu-ções da tecnologia considerada e que sejam consisten-tes com outras tendências na sociedade. A maioria dosestudos de AT já realizados limita as perspectivas a10 anos, embora alguns projetos futurológicos esten-dam suas projeções a 20 ou 25 anos.

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Certos projetos ou tecnologias encerram, em suaspróprias definições, delimitações geográficas para suaárea de aplicação (por exemplo, a produção de energiaa partir de determinados tipos de biomassas).

Finalmente, a análise da estrutura institucional e dasrespectivas competências e poderes pode configurar asperspectivas dos limites político-legais de certas inova-ções, bem como das diretrizes alternativas, associadascom os impactos esperados e capazes de produzirmodificações significativas.

3. A projeção de alternativas tecnológicas para um de-terminado período, e cujos impactos e implicações po-dem ser comparados, constitui o fator central no pro-cesso de AT. Sua colocação não procura, necessaria-mente, afirmar quais opções teriam maiores chancesde ocorrência, mas entende a apresentação de uma ga-ma de alternativas, estendendo-se desde as de desen-volvimento futuro mais provável, até aquelas que se-riam - embora viáveis - menos prováveis.

São várias as tarefas e opções nesta fase da AT: a,equipe deve decidir se, e até que ponto convém prosse-guir nas tendências verificadas no passado, ou se pre-tende definir objetivos futuros desejáveis, em direçãoaos quais a tecnologia em apreço deve ser desenvolvi-da.

Na área de negócios, a ênfase recairá geralmente nastendências do passado, devido também ao horizontetemporal limitado dos administradores e empresários.Todavia, o enunciado e a especificação de objetivossociais desejáveis envolve, claramente, juízos de valore critérios subjetivos.

Outro ponto a ser observado refere-se à descriçãodas alternativas tecnológicas. Recomenda-se, comoprincípio, a apresentação de informações apenas ne-cessárias à análise dos impactos. Na ampla descriçãode cenários alternativos, pode ser útil a condição queespecifique os níveis, momentos e condições deimplementação da,tecnologia.

A inserção do contexto social projetado será impor-tante para aquelas alternativas desenvolvidas em fun-ção de objetivos sociais explícitos. Assim, por exem-plo, uma alternativa tecnológica criada para atingir al-tos níveis de conservação de energia incluirá, necessa-riamente, atitudes sociais consistentes com o uso racio-nal de todos os materiais e recursos naturais, o que,por sua vez, causaria impactos sociais e políticos consi-deráveis.

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3.2 A avaliação dos impactos

Um dos principais elementos funcionais da AT consis-te na avaliação comparativa de opções tecnológicas al-ternativas, baseada num conjunto bastante amplo decritérios, incluindo impactos e conseqüências sociais alongo prazo.

Pode-se, portanto, subdividir a avaliação dos im-pactos em três subcategorias:

1. Seleção dos critérios ou parâmetros dos impactos2. Avaliação e previsão dos impactos3. Comparação e apresentação dos impactos

1. A seleção de critérios para a avaliação de impactos.constitui um passo crítico na realização da AT, pelofato de antecipar a estrutura e o escopo da AT global.Os critérios são construídos por listas específicas deitens, utilizados para julgar, quantificar e comparar al-ternativas tecnológicas, enquanto os impactos medema intensidade positiva ou negativa de um determinadocritério.

Várias abordagens ou procedimentos podem ser uti-lizados para definir e estruturar os critérios para aavaliação dos impactos. '

a) Organização segundo disciplinas científicas: expe-riências diversas em A'f2 revelam que, em casos deutilização exclusiva de critérios extraídos segundo ca-tegorias científicas - economia, sociologia, ecologiaetc. -, os resultados são pouco satisfatórios, indican-do falta de integração e coordenação na avaliação fi-nal, provavelmente devido à tendência, inerente aosespecialistas de cada disciplina, de prosseguir em suasrespectivas tarefas de AT, sem se preocuparem com asdos outros membros da equipe e com a cooperação in-terdisciplinar.

Por estas razões, sugere-se freqüentemente acombinação de critérios, sob forma de matriz, segun-do as disciplinas científicas e os principais grupos deinteresse envolvidos ou afetados pela tecnologia.

b) Organização segundo grupos de interesse: neste ca-so, os critérios são organizados em termos dos gruposde interesse afetados pela tecnologia. Também nestaabordagem é freqüente a combinação com pelo menosuma outra categoria, sob forma de matriz, especial-mente quando a participação do público é consideradarelevante.

c) Organização segundo áreas funcionais da tecnolo-gia: aqui os critérios serão agrupados segundo fases oucategorias da própria tecnologia. Por exemplo, no ca-so da exploração de petróleo no mar, os impactos se-rão analisados segundo os seguintes elementos:exploração e perfuração, transportes e facilidades in-fra-estruturais em terra.

No caso das biomassas, a categorização pode abran-ger: plantio, irrigação e colheita; transporte e armaze-namento da matéria-prima, transformação industrial,disposição dos resíduos, transporte e distribuição doproduto final, etc.

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d) Organização segundo categorias lógicas: estas sãoconstruídas apriori por meio de uma análise lógica douniverso das possíveis áreas de impacto. Esta aborda-gem, conhecida também como análise morfológica, éexemplificada pelo uso de árvores de relevância dosimpactos, em que determinados conceitos ou proces-sos são desdobrados numa hierarquia de elementoslógicos, relacionados e subordinados.

Este procedimento permite aos membros da equipevisualizar todos os impactos listados, oferecendotambém a possibilidade de pesquisar sistematicamenteos fatores ou aspectos omitidos.

e) Exemplos do processo de seleção de critérios: estatarefa pode ser concebida numa composição de trêspartes distintas:• a listagem de todos os impactos possíveis;• sua estruturação de forma coerente;• a seleção, como critérios, daqueles impactos consi-derados significativos e relevantes para a AT.

• Uma listagem completa e detalhada de todos oscritérios de impactos inclui, necessariamente, impactosprimários (diretos) e de segunda ordem (indiretos).Um exame de vários estudos de AT, realizados nosEUA, mostra a elaboração de listas exaustivas de im-pactos, baseada em uma avaliação preliminar. Nessescasos, a interação com o público e com os representan-tes de grupos de interesse é enfatizada como parte es-sencial do processo de avaliação. Outra técnica reco-mendada e útil na listagem de critérios de impactos é obrainstorming criativo.

• Em alguns casos, o impacto de uma tecnologia podeser tão difuso que torna difícil a categorização. Isto severifica, sobretudo, naqueles estudos em que os valo-res sociais predominam, levando à estruturação dosmesmos em separado, por meio de árvores de relevân-cia. Em outros, onde a coletividade parece envolvidana tecnologia, pode haver necessidade de separar e de-finir os grupos de interesse, afetados mediante umamatriz que os relacione com as áreas ou assuntos pro-blemáticos.

• Mesmo nos casos em que todos os impactos tenhamsido identificados, seria ainda necessário selecionar osque devem servir como critérios para a AT. A base pa-ra a seleção é constituída, geralmente, segundo opi-niões e juízos da equipe sobre os impactos significati-vos no contexto e dentro dos pressupostos delimitati-vos do estudo.

2. Previsão e avaliação dos impactos: tendo seleciona-do as áreas consideradas as mais importantes para oscritérios centrais de comparação, passa-se à elabora-ção de mecanismos de antecipação para estimar a in-tensidade daqueles impactos identificados, para cadauma das alternativas tecnológicas. Embora certas dis-ciplinas proporcionem mecanismos razoavelmente fi-dedignos para projeções a curto prazo, os requisitos deuma AT, a longo prazo, combinados com uma base deinformações e dados incertos tornam sua aplicação devalidade duvidosa. A suposição ou estimativa ar-

bitrária de dados; a fim de permitir a aplicação de umatécnica de antecipação - geralmente, uma fórmulamatemática - invalida o principal objetivo de umaAT, que procura realizar projeções do futuro, fidedig-nas dos principais impactos de uma alternativa tec-nológica. Um resumo rápido das respectivas vantagense desvantagens das diferentes técnicas, em situações di-ferentes, pode servir como orientação para sua escolhae aplicação em projetos concretos. Novamente, essastécnicas de avaliação de impactos futuros podem seragrupadas em três categorias:

a) disciplinas científicas;b) técnicas interdisciplinares e futurísticas;c) impactos sociais.

a) Algumas tarefas da avaliação de impactos são, porconsenso geral, melhor realizadas por especialistas nasdisciplinas científicas específicas envolvidas. Assim,por exemplo, impactos econômicos são geralmente es-timados mediante análises input-output, custo/benefí-cio, cálculo de elasticidades, multiplicadores, etc. Es-pecialistas do meio ambiente empregam modelos de di-fusão do ar e da água, e os engenheiros utilizam umavariedade de técnicas para antecipar fluxos de eficiên-cia ou de resíduos das máquinas. É indiscutível a im-portância dessas técnicas e disciplinas para anteciparos impactos, sobretudo aqueles relacionados com osobjetivos primários e diretos da tecnologia.

b) Técnicas interdisciplinares e futurísticas: uma gran-de variedade de técnicas, muitas delas desenvolvidasoriginalmente em áreas afins, tais' como futurologia,análise e pesquisa de sistemas, é utilizada preferencial-mente.na avaliação dos impactos. Mencionamos a se-guir as principais técnicas, sem detalhá-las, remetendoo leitor a obrai que desenvolvem amplamente este as-sunto.'

• Recursos à opinião de especialistas, cujos pareceres,se convergentes, podem tornar a AT desnecessária.Em caso de desacordo dos especialistas, a técnica deDelphos" pode tornar-se um instrumento de pondera-ção das opiniões divergentes, embora seu emprego sejademorado e não isento de críticas.

• .Analogias' aplicadas de uma disciplina para outraconstituem um recurso potencial, utilizado para ante-cipar a evolução de determinada situação. Em caso deanalogias emprestadas de unta disciplina paraantecipações interdisciplinares, os resultados têm sidomenos satisfatórios. A antecipação de reações so-cietárias a uma inovação tecnológica ainda não experi-mentada deve basear-se em analogias com experiênciassociais anteriores, em situações semelhantes.

• Modelos quantitativos: esses modelos, especialmen-te aqueles elaborados para o uso de computadores,apresentam ampla gama de aplicações, desde um sim-ples modelo econômico de input-output, até o sofisti-cado multi-loop non-linear feed back, modelo desimulação de Jay W. Forrester." Todavia, na melhordas hipóteses, eles proporcionam apenas as dimensõesquantitativas dos impactos, exigindo elaboração eperspectiva qualitativas.·

Avaliaçao de tecnologia

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• Modelos conceptuais: diferentemente dos modelospara computadores, estes podem ser utilizados para re-presentar todos os impactos, inclusive os não-quanti-tativos. Podem ser desenhados como diagramas deblocos, evidenciando as interfaces e interações dosvários componentes da tecnologia e os elementos domeio ambiente social, econômico, ecológico, etc. Essaabordagem é conhecida também como modelagem es-truturai, afirmando-se sua contribuição à estruturaçãodo problema em pauta, à clarificação das inter-rela-ções e à organização da avaliação dos impactos.

• A análise das tendências pode servir para anteciparo futuro, mediante a análise das tendências atuais esua extrapolação, especialmente para projeções a cur-to prazo. Estimativas probabilísticas dos impactosanalisados, ou análises de regressão para fenômenoscorrelacionados., são utilizadas para antecipar os im-pactos de mudanças ocorridas em uma variável, sobreoutra.'

• Análise cross-impact: os impactos de um desenvolvi-mento tecnológico não ocorrem de forma independen-te, mas, obviamente, a ocorrência de um pode afetar aprobabilidade de outros. A análise cross-impact repre-senta uma técnica formal e probabilística de matriz,para analisar essas relações e determinar as variáveiscríticas. Seu uso exige, todavia, quantidades relativa-mente grandes de recursos e tempo de computador.

86• Cenários: sua construção tornou-se a técnica maispopular para considerar os impactos cruzados na AT. •Apenas, em vez de analisar cada par de impactos, talcomo numa análise de cross-impact, o cenário inter-re-laciona e projeta todo um conjunto de variáveis.

c) Impactos sociais: embora a identificação e avalia-.ção dos impactos sociais constituam as peças centraisda AT, sua formalização e aplicação representam umdos aspectos mais fracos e negligenciados do processo.As principais técnicas utilizadas nos estudos realizadosnos EUA, nesses últimos anos.são:"

• Medidas quantitativas referentes ao movimento de-mográfico, mercado de trabalho, distribuição da ri-queza social, etc., podem ser extraídas e projetadaspor modelos quantitativos. Contudo, embora ajudema definir o contexto social, pouco ensinam sobre o.comportamento dos indivíduos e grupos.

• Análise morfológica refere-se ao uso de árvores derelevância para estruturar a análise dos impactos so-ciais.

• Opiniões de peritos, inclusive uma versão modifica-da de Delphos, mediante mesas redondas e debates desociólogos, procuram responder em termos das rea-ções prováveis do público a determinadas inovaçõestécnicas ou sociais.

• Pesquisas de opinião pública foram utilizadas emvários estudos de AT. Seus resultados são considera-dos como indicadores da reação popular ao desenvol-vimento tecnológico. Além dos problemas de amostra-

Revista de Administraçõo de Empresas

gem e custos, a técnica e seus instrumentos (ques-tionários, formulários, etc.) exigem preparação e trei-namento bastante demorados e intensos dos pesquisa-dores.

3. Comparação e apresentação dos impactos: Dado oceticismo da maioria dos técnicos em AT, com relaçãoàs técnicas de avaliação de impactos atrás menciona-das, parece também importante estender algumasconsiderações sobre a forma de organização eapresentação dos resultados da avaliação dos impac-tos. Uma vez antecipadas as magnitudes dos impactos,segundo os critérios selecionados, levanta-se o proble-ma de como somar, avaliar e comparar tais impactos.A apresentação dos mesmos e sua síntese constituem,geralmente, a peça central do relatório final de AT.Convém, portanto, comentar a forma de apresenta-ção, especialmente no que se refere às atitudes subjeti-vas de vários grupos de interesse e do público em geral,com relação à tecnologia e seu desenvolvimento.

Muitos .impactos, sobretudo os econômicos efisi-cos, podem ser descritos em termos fatuaisvnão-subje-tivos. Impactos sociais e políticos, todavia, .envolvematitudes subjetivas, impressões e opiniões de diferentescamadas da sociedade, para as quais não existem me-didas diretas e objetivas. Nestes casos, recorre-se àstécnicas de pesquisa e opinião pública, coleta de opi-nião de pessoas representativas de grupos de interesse,mediante entrevistas, bem como o julgamento dos im-pactos pela própria equipe de AT, que substitui os gru-pos ou o público, assumindo abertamente o fardo dasubjetividade.

Como regra geral, a equipe de AT deve procurar ca-minhos de síntese, de avaliação e de comparação de to-dos os impactos de uma determinada tecnologia. Istoexige o dimensionamento desses impactos, segundouma escala quantitativa comum, a fim de que possamser facilmente agregados e comparados. Discussõesmenos formais e em termos qualitativos são tambémusadas para avaliar e sintetizar os impactos que irãoconstar do relatório final. A ênfase na participação dopúblico e a inclusão de suas opiniões, atitudes e juízostornam o relatório mais concreto e dinâmico. Em vezde listar todos os impactos no relatório final, algunsestudos de AT selecionam e organizam esses impactosao redor dos problemas mais significativos, o que per-mite também a avaliação das respectivas compensa-ções e perdas ocasionadas, ao adotar-se determinadadiretriz ou programa.

Finalmente, serão também focalizados os maioresperigos, oportunidades, incertezas e problemas revela-dos pela AT, o que exige um esforço criativo consi-derável, além do processo formal de avaliação.

4. ELEMENTOS OU FATORESINTERVENIENTES

Na parte anterior, foram descritos os elementos fun-cionais de uma AT, em cuja realização deve ser consi-derada, também, uma série de fatores que interagemcom, ou influem decisivamente sobre o andamento das

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tarefas de AT. Esses fatores, esboçados e descritos re-sumidamente a seguir, são:

a) Os futuros contextos sociais alternativos, em que asopções tecnológicas são inseridas, e à luz de quaisjuízos sobre os impactos e implicações possíveis dasinovações serão formulados .:b) O contexto dos valores sociais especificos, assumi-dos na AT, e a forma pela qual são relacionados comas tarefas de avaliação de tecnologia.c) A incerteza referente às projeções alternativas datecnologia, aos impactos sociais resultantes dessasprojeções e da eficácia das diretrizes alternativas pro-postas.d) A interação, ou o roteiro a ser seguido, a fim de as-segurar uma AT adequada.e) A forma de interação da equipe, procurando reali-zar uma avaliação integrada e interdisciplinar.t) A validação e a participação do público nas diversasfases da AT.

No gráfico 2 são relacionados os elementos funcio-nais e os intervenientes, sob a forma de matriz, ondeos símbolos - uma a três cruzinhas - significamníveis de intensidade de interação crescentes.

Gráfico 2

A bibliografia sobre as técnicas de antecipação eprojeção de futuros sociais alternativos é bastante am-pla." Por. isso, comentaremos apenas rapidamente asprincipais premissas a elas subjacentes.

• Os sistemas sociais costumam apresentar tendênciasà continuidade. Mudanças de um estado para outroocorreriam lentamente e, mesmo em períodos revolu-cionários ou de descontinuidade, a cultura, os papéissociais e as instituições continuariam sem mudançassubstanciais. Este principio da continuidade constituia base das técnicas de antecipação, que procuram pro-jetar tendências e cicIos.10

• Os sistemas sociais tendem a demonstrar consistên-cia em suas estruturas internas, análogas às dos siste-mas orgânicos. As sociedades estáveis dispõem de me-canismos de coesão poderosos, impedindo, por muitotempo, sua fissão em correntes radicalmente antagôni-cas. Antecipações tecnológicas que pressupõem um de-senvolvimento rigoroso e continuo de determinadastecnologias admitem, implicitamente, o apoio dos va-lores e atitudes sociais a este desenvolvimento.

• Por outro lado, a divisão da sociedade em grupos deinteresse antagônicos é fonte de tensões, conflitos e depotenciais mudanças. Projetar soluções alternativas

87A B C

Descrição e Projeç!o da Tecnologia Avaliaçfo dos Impactos Análise de Diretrizes

A, A, A. B, B, B. C, C2

Coleta de Descriçlo e Projoçãode Seloçâode Previsão dos ·Av~o Identificaçlo ComparaçioDados Delimitaçio Tecnologia Critério Impactos dos Impactos das Diretrizes das Diretrizes

da Tecnologia

XXX X XX X XXX

XX X XX X XXX X XX

X XXX XX XX XX

XX X XX XX XX

XX X XX XX X XX

XX X XXX X XXX X XX

.Ç O, Futuro dac Sociedade.~ O, Valores~ Sociaisi D3 Incerteza

S O Roteiro

58 •Os Intereçãori! da Equipe

11 Ó. Validaçlo eQ Partícipaçâo do PúbUco .

Adaptado de J.E. Annstrong e W.W. HUman - Strategies for Conducting Technology Assessment.. Stanford Universlty, Stanford, 1977. p. 75.

XXX - Influência muito forteXX - Influência significativa

X - Influência pouco sentida

A seguir, comentaremos resumidamente cada umdos elementos intervenientes:

para os conflitos e problemas SOCiaiSconstitui ummeio eficaz para gerar futuros alternativos.

a) Futuro da sociedade: a necessidade de elaborarcontextos sociais alternativos decorre da natureza pro-jetiva da AT. Conforme foi apontado atrás, aproje-.ção e a análise dos diferentes impactos futuros de umdesenvolvimento tecnológico constituem a parte cen-tral da AT. Porém, essas considerações devem ser fei-tas, explícita ou implicitamente, dentro de um contex-to social mais amplo. Um contexto diferente resultariaem um desenvolvimento tecnológico diferente e, even-tualmente, mudaria a natureza e a gravidade dos im-pactos para os diferentes grupos populacionais.

• Os sistemas sociais abrangem inter-relações de tipocausa-efeito, ou evidenciam correlações que implicamprocessos causais. Assim, por exemplo, nas projeçõeseconômicas, a escassez é associada à elevação dos pre-ços, à contenção monetária-creditícia e ao desempre-go. Essas supostas inter-relações de causa-efeito sãobastante utilizadas na elaboração de modelos econô-micos e de simulação por computadores, nos quaisconstituem o principio básico, subjacente à técnica deanálise de impactos cruzados (cross-input analysisi.

A va/iação de tecnologia

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88

b) Os valores sociais: na literatura contemporânea, élugar comum focalizar o impacto da tecnologia sobreos valores sociais (por exemplo, o carro, a TV, o com-putador, etc.). Para o processo de AT, é primordialavaliar os efeitos dos valores sociais sobre o desenvol-vimento da tecnologia. A premissa da continuidadedas atitudes sociais positivas, com relação ao desenvol-vimento de certas tecnologias, não pode ser aceita sem

. restrições, à luz de movimentos conservacionistas e an-tinucleares, cada vez mais amplos ..

Por isso, valores e atitudes devem figurar, necessa-riamente, na projeção de desenvolvimentos tecnológi-cos alternativos e, ainda mais explicitamente, na se-leção de critérios ou áreas de impacto sobre os diferen-tes grupos de interesse. Ademais, valores e atitudes es-tarão atuantes na interpretação de impactos e naformulação de diretrizes para a ação do poder público,relacionada com a tecnologia avaliada.

A antecipação de valores sociais apresenta, além deproblemas metodológicos, aspectos éticos. Como as-sumir as aspirações e comportamentos de gerações fu-turas? As técnicas de antecipação normalmente utiliza-das - extrapolação, modelos analíticos e consultas a.especialistas - apresentam sérias limitações quandoaplicadas à previsão de valores. As dificuldades paraavaliar atitudes da população com relação a projetoscorrentes já são bastante grandes. Estender essas ten-tativas a projeções futuras de mudaças tecnológicas,ou à introdução de tecnologias ainda não desenvolvi-das, afigura-se como praticamente impossível. Entr~-tanto, a projeção dos.principais valores sociais consn-tui a parte central da variável interveniente, discutidano item anterior: o futuro da sociedade. A sugestãoformulada pelo documento sobre a AT, elaborada pe-la equipe da Universidade de Stanford,!' é a de pesqui-sar atitudes públicas conhecidas, relacionadas a pro-blemas e situações análogas, no passado. Por exem-plo, acidentes com reatores nucleares, ou com petrolei-ros no mar, causando a poluição das praias e diziman-do a fauna marítima, etc.

Todos os esquemas de avaliação são baseados emjuízos de valor, e a única maneira de equilibrar os pe-sos subjetivos é envolver, na avaliação dos impactos,uma amostra tão ampla quanto possível de represen-tantes dos diferentes grupos da população.

c) Incerteza: a condução de um processo de AT cons-titui uma tentativa deliberada de delimitar e definir asfronteiras da incerteza, relacionadas com o futuro deuma determinada tecnologia. Durante a realização daAT, contudo, aparecem diferentes tipos de incerteza,de natureza mais específica, exigindo equacionamentoe análise. A incerteza sobre o desenvolvimento futuro,as taxas e escalas de implementação de uma tecnologiadecorrem basicamente de fatores técnicos, financeirose "atitudinais". Avanços tecnológicos podem ou nãoocorrer; certos processos podem resultar muito maiscaros do que foi inicialmente orçado, e a opiniãopública poderá deter ou impedir certas instalações ...

A incerteza referente à magnitude dos impactos des-sa tecnologia é decorrência tanto dos aspectos técni-cos, quanto de juízos de valor. As técnicas tradicionais

Revista de Administração de Empresas

para dimensionar a magnitude desses impactos, embo-ra considerem limites de incerteza; não convencem naatribuição de importância ou pesos relativos a essamagnitude: Por outro lado, entrevistando grupos deinteresse, sobre suas atitudes com relação aos impactosfuturos, repetem o vício anteriormente apontado, ouseja, recorrem a atitudes e valores no presente, para es-timar respostas e reações de grupos sociais, no futuro.O equacionamento da incerteza sobre os efeitos daaplicação de diretrizes e programas alternativos, rela-cionados com a tecnologia, parece dos mais dificeis -veja-se, por exemplo, a atitude dos proprietários decarros particulares, diante de um possível racionamen-to da gasolina! Obviamente, as atitudes e perspectivasdas pessoas eventualmente consultadas a respeito irãovariar tanto em função de valores diferentes, quanto apartir de percepções diferentes da realidade.

d) Iteração ou roteiro da AT: diversos autores e traba-lhos metodológicos sobre a AT insistem na necessida-de de percorrer o roteiro ou a estratégia de estudo, re-petidas vezes, a fim de assegurar uma avaliação com-pleta, abrangente e equilibrada.

O gráfico 3 apresenta um roteiro ilustrativo para arealização de uma AT. O programa é dimensionadoem percentagem do tempo de estudo total e pretendeenfatizara importância, para a equipe, da cooperaçãode todos, a fim de que o roteiro possa ser cumprido.Assim, a descrição inicial da tecnologia é exigida após200/0 do tempo total projetado, e o mesmo tempo éalocado para cada um dos elementos funcionais, demodo que, ao atingir 60% do tempo projetado, sejapossível avaliar as fases de descrição da tecnologia, dedelimitação do estudo e, aos 75%, da análise dos im-pactos. Os restantes 25% do tempo serão divididos en-tre uma repetição completa do roteiro (20%), e aelaboração e redação do relatório final (5%). Eviden-temente, o roteiro apresentado não pretende ser segui-do rigidamente, mas deve servir de orientação para acondução de uma AT, dentro dos limites de tempo dis-ponível. O objetivo ideal de percorrer por duas vezesas respectivas etapas do estudo parece de difícilconcretização, devido à limitação de tempo e de recur-sos.

e) A interação da equipe, de forma harmônica e efeti-va, está sendo considerada uma meta altamente de-sejável, porém de dificil realização. Além das diferen-ças de atitudes pessoais, a estrutura organizacional, aexclusividade disciplinar e, sobretudo, o fosso que se-para as disciplinas científicas humanas e físicas consti-tuem os principais obstáculos para uma integração efe-tiva da equipe encarregada da AT. A presença de umapersonalidade com fortes traços de liderança não as-segura resultados integrados, pois constitui umacondição necessária, .porém não suficiente para ainteração. A formação de uma equipe nuclear decoordenação, composta por membros de formação di-ferente, porém conscientes da necessidade de intera-ção, baseada em atitudes de respeito recíprocas, poderepresentar uma solução que, embora demorada, é se-gura e eficiente.

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Gráfico 3 ____------------------------~-------------------------------------.95% S~undaiteraçãocompleta

io 20% 40%Descrição Avaliação Análiseinicial da inicial dos inicial das I 75~- tecnologia 1--------00 impactos 1-------- díretrízes .

65% 70%-

Estudo inicialcompleto,,-

"/ 1. Coleta de dados 4. Seleçãode cnténos 6. Avaliaçaodos Impactos

I 02. Descriçõesda tecnologia O 5. Previsãodos impactos o 7. Identificação das diretrizes3. alternativas tecnológicas 8. Análisedas diretrizes

\ ' ' ~

'Iteração " / Iteração Iteração .:interna ~ interna internâ /~

" //

'" //'~ ;''" ~~-----------------...-repete todo o processo

Neste caso, as responsabilidades são repartidas, e osmembros do grupo são regularmente informados, emreuniões de trabalho, dos progressos realizados e dosobstáculos existentes na execução do projeto.O A validação e a participação do público: a principalpreocupação, buscando a validação de um estudo deAT, é seu credenciamento e. aceitação pelos diversosgrupos envolvidos e, especialmente, os detentores dopoder decisório. Procedimentos adequados para refor-çar a aceitação dos resultados da AT dependem, emboa parte, dos seguintes fatores:

• a consideração e o tratamento sério e responsávelatribuídos às atitudes, opiniões e respostas dos repre-sentantes dos diversos grupos de interesse afetados pe-la tecnologia;• o esforço deliberado para atingir um nível 'de objeti-vidade e senso crítico, sobretudo, na análise crítica dasrepresentações dos diferentes grupos de interesse;

• a documentação rigorosa de todos' os passos e etapasda avaliação da tecnologia, a fim de que as conclusões

,possam ser verificadas ou repetidas, independente-mente, enquanto eventuais omissões ou erros possamser identificados e corrigidos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um dos problemas fundamentais da nossa sociedadee, também, um dos mais polêmicos, refere-se ao direi-to à informação. Obviamente, o problema não é ape-nas o de direito, mas sobretudo da qualidade dainformação proporcionada. Assumindo que saber époder, e postulando o advento de uma sociedade aber-ta, democrática e pluralista, caracterizada pela co-ges-tão e ampla participação da população nas decisões deinteresse público, a AT pode constituir-se em instru-mento importante de diálogo entre os diferentes gru-pos e camadas sociais, sob as seguintes formas:

a) A AT como base de informação, cujo objetivo seriaidentificar e esclarecer o problema em debate, deli-neando suas relações com outras áreas controvertidase proporcionando informações que ajudem a ampliar eelevar o debate público de assuntos complexos.

Adaptado de J.E. Armstrong e W.W, Harman, op. cit., pg.90b) A AT pode, também, tornar-se instrumento eficazdo planejamento, contribuindo para a escolha de tec-nologias alternativas, de modo mais racional eeficien-te do que técnicas rotineiras de análise custo/benefícioou input-output,

c) O processo de AT pode servir como mapeamentodas alternativas futuras, que possivelmente resultemda introdução ou implementação de uma nova tecno-logia, relacionada com um conjunto de diretrizes alter-nativas e disponíveis. Neste caso, a AT constitui a basede um debate nacional sobre os objetivos, implícitosou explícitos. de determinadas políticas. Veja-se, porexemplo, o caso da política energética nuclear; a pro-posta de mudança da capital do estado de São Paulo,etc.

d) Finalmente, cumprindo com as funções assinaladasacima, a AT transforma-se em um instrumento pode-roso de educação da população, abrindo uma amplagama de alternativas, enquanto chama a atenção paraos obstáculos e resistências prováveis que possam sur-gir da parte de grupos sociais afetados negativamentepelas conseqüências das inovações planejadas.

A aquisição de níveis de ciência mais elevados, noque diz respeito aos processos e suas implicações, levanecessariamente à formação de níveis de consciênciamais elevados, em termos de cooperação, de interde-pendência e de reconhecimento do destino comum.

89

IVeja Rattner, H. Estudos do futuro: introdução à antecipação tec-nológica e social. Rio, Ed. da FGV, 1979.2Armostrong, J.E. & Harman, W.W. Strategies for conductingtechnology assessment. Stanford, Stanford University, 1977. p. 41.3Veja, entre outros, Bright, James R. A guide to practical technolo-gical forecasting, Englewood Cliffs, Prentice-Hall, 1973, e RattnerH. op. cit.4Rattner, H. op, cit. p. 70.SRattner, H. op. cit. p. 235.

Avaliação. de tecnologia

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6Forrester,J.W. Urban dynamics. Cambridge, The M.l.T. Press,1969.'Rattner, H. op. cit. p. 34.8Armostrong, J.E. & Harman, W.W. op. cit. p. 52.9Rattner, H. op. cit. p. 275.!OPor exemplo, H. Kahn & Wiener, A. The Year 2000. New York,MacMilIan, 1967, e BeH, D. The Coming of post-industrial society,New York, Basic Books, 1973.I IArmostrong, J.E. & Harman, W.W. op. cit. p. 82.

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