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1 ASSUNTO TEMÁTICO: “O PAPEL DA AÇÃO SOCIAL DA IGREJA NO MUNDO URBANO HOJE” EXPOSITOR: REV. ANTONIO JOSÉ Sábado, 15 de setembro de 2007 Governador Valadares-MG. 1 - Os Fundamentos Bíblicos e Teológicos na Questão Social O povo de Deus, desde o começo, tem sido identificado como uma comunidade solidária e amorosa, e os cristãos devem manter este comportamento no mundo de hoje, de sorte que o nome do Senhor seja engrandecido por meio do nobre testemunho de sua igreja. 1.1 - O Fundamento do Velho Testamento no Aspecto Social Ao considerar o que a Bíblia tem a dizer sobre o evangelismo e a prática social, temos a tendência de olhar para o Novo Testamento, para a Grande Comissão, o livro de Atos dos Apóstolos e o testemunho da igreja que se formava. Entretanto, há no Velho Testamento considerável ênfase sobre o povo da aliança, que estava diante das práticas malignas das nações pagãs que o cercavam, e diante do desejo de Deus de que ele fosse um povo missionário. Numerosas passagens do Velho Testamento lembram-nos que o povo de Deus não deveria ser um grupo religioso exclusivista. Foi dito a Abraão que não somente seu clã seria abençoado, mas também “serão benditas todas as nações da terra” (Gênesis 22.18). Afirma Bavinck: À primeira vista, o Velho Testamento parece oferecer pouca base para a idéia de missão. ... Entretanto, se investigarmos o Velho Testamento com mais abrangência, torna-se claro que o futuro das nações é um ponto do maior interesse. ... Isto naturalmente não pode ser de outra forma, pois desde a primeira página da Bíblia até a última todo o mundo é incluído, e seu plano divino de salvação é revelado como pertencendo a todo o mundo (Bavinck, 1960, 11). Abraão e seus descendentes deviam ser missionários e canais das bênçãos de Deus para as outras nações. O povo de Israel devia observar os mandamentos de Deus como povo da aliança, a fim de transmitir os valores espirituais às nações ao seu redor. É certamente mais do que coincidente que a trombeta vibrante anunciasse o jubileu no dia da expiação (Levítico 25.9). A reconciliação com Deus é a precondição para a

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ASSUNTO TEMÁTICO: “O PAPEL DA AÇÃO SOCIAL

DA IGREJA NO MUNDO URBANO HOJE” EXPOSITOR: REV. ANTONIO JOSÉ

Sábado, 15 de setembro de 2007 Governador Valadares-MG.

1 - Os Fundamentos Bíblicos e Teológicos na Questão Social

O povo de Deus, desde o começo, tem sido identificado como uma comunidade

solidária e amorosa, e os cristãos devem manter este comportamento no mundo de hoje, de sorte que o nome do Senhor seja engrandecido por meio do nobre testemunho de sua igreja.

1.1 - O Fundamento do Velho Testamento no

Aspecto Social Ao considerar o que a Bíblia tem a dizer sobre o evangelismo e a prática social,

temos a tendência de olhar para o Novo Testamento, para a Grande Comissão, o livro de Atos dos Apóstolos e o testemunho da igreja que se formava. Entretanto, há no Velho Testamento considerável ênfase sobre o povo da aliança, que estava diante das práticas malignas das nações pagãs que o cercavam, e diante do desejo de Deus de que ele fosse um povo missionário.

Numerosas passagens do Velho Testamento lembram-nos que o povo de Deus não deveria ser um grupo religioso exclusivista. Foi dito a Abraão que não somente seu clã seria abençoado, mas também “serão benditas todas as nações da terra” (Gênesis 22.18). Afirma Bavinck:

À primeira vista, o Velho Testamento parece oferecer pouca base para a idéia de missão. ... Entretanto, se investigarmos o Velho Testamento com mais abrangência, torna-se claro que o futuro das nações é um ponto do maior interesse. ... Isto naturalmente não pode ser de outra forma, pois desde a primeira página da Bíblia até a última todo o mundo é incluído, e seu plano divino de salvação é revelado como pertencendo a todo o mundo (Bavinck, 1960, 11).

Abraão e seus descendentes deviam ser missionários e canais das bênçãos

de Deus para as outras nações. O povo de Israel devia observar os mandamentos de Deus como povo da aliança, a fim de transmitir os valores espirituais às nações ao seu redor. É certamente mais do que coincidente que a trombeta vibrante anunciasse o jubileu no dia da expiação (Levítico 25.9). A reconciliação com Deus é a precondição para a

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reconciliação com os irmãos e irmãs. A verdadeira reconciliação com Deus leva inevitavelmente à transformação de todos os outros relacionamentos.

Da aliança mosaica às promessas do evangelho, a Bíblia está continuamente apontando para o pobre, a viúva, o órfão, o estrangeiro, o necessitado e o oprimido.

O Velho Testamento revela vários fatos significativos acerca da atitude de Deus para com o pobre. “Ele acode ao necessitado que clama, e também ao aflito e ao desvalido. Ele tem piedade do fraco e do necessitado, e salva a alma aos indigentes” (Salmo 72.12-13). O Senhor “não se esquece do clamor dos aflitos” (Salmo 9.12). “Foste a fortaleza do pobre, e a fortaleza do necessitado na sua angústia” (Isaías 25.4). Na ordem social do Velho Testamento, o pobre recebia um benefício econômico. O povo devia emprestar liberalmente ao pobre, sem cobrar juros (Deuteronômio 15.7-11; Êxodo 22.25). Parte do trigo e da colheita da uva deveria ser deixada no campo, para ficar para o pobre (Levítico 19.9,10; 23.22). De modo significante, parte do propósito do dízimo era prover a carência do pobre (Deuteronômio 14.29; 26.12,13).

O Velho Testamento enfatiza que Deus requer justiça para o pobre e julgará aqueles que os oprimirem. As palavras de Deus ao profeta Zacarias são representativas: “Executai juízo verdadeiro, mostrai bondade e misericórdia cada um a seu irmão; não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre” (Zacarias 7.9,10; Levítico 19.15; Deuteronômio 16.18.20; 24.14.22; Provérbios 31.9; Amós 2.6,7).

Finalmente, o Velho Testamento ensina que o povo de Deus tem sobre si uma responsabilidade ética especial para com o pobre. A recordação de sua escravidão no Egito foi o motivo para que os israelitas demonstrassem misericórdia para com o oprimido (Deuteronômio 24.17-22). Todos estes ensinos sobre o pobre são parte da palavra de Deus. Embora eles estejam ligados aos contextos históricos específicos, a mensagem ética brilha amplamente e forma o cenário dos ensinos e atitudes do próprio Jesus.

No Velho Testamento a atenção divina para com o pobre aparece consistentemente dentro do contexto da justiça de Deus e a obra de justiça no meio de seu povo. Assim, biblicamente, palavras como pobre, necessitado, oprimido, forasteiro têm tipicamente um conteúdo moral, relacionado com a exigência divina por justiça.

1.1.2 - O Ano da Restauração (Jubileu) e o Ano Sabático As provisões econômicas do Ano do Jubileu têm largas implicações (Levítico

25.8-17; 25.18-34; 35-55; Números 26.52-56). A cada quarenta e nove anos, registram os textos, os escravos seriam libertados, os débitos seriam suspensos ou cancelados, e a terra retornaria aos seus proprietários originais (esta declaração realça o reconhecimento de que toda terra, em última análise, pertence somente a Yahveh). A lei previa a liberação do solo, dos escravos e dos devedores a cada sete anos. Passados sete anos a terra deveria ficar inculta:

Seis anos semearás a tua terra, e recolherás os seus frutos; porém no sétimo

ano a deixarás descansar e não a cultivarás, para que os pobres do teu povo achem

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que comer, e do sobejo comam os animais do campo. Assim farás com a tua vinha e com o teu olival (Êxodo 23.10,11).

O ensino bíblico expressa a mesma orientação no livro de Levítico: Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Quando entrardes na terra, que vos dou,

então a terra guardará um sábado ao Senhor. Seis anos semearás o teu campo, e seis anos podarás a tua vinha, e colherás os seus frutos. Porém no sétimo ano haverá sábado de descanso solene para a terra, um sábado ao Senhor; não semearás o teu campo nem podarás a tua vinha. O que nascer de si mesmo na tua seara não segarás, e as uvas da tua vinha não podada não colherás; ano de descanso solene será para a terra. Mas os frutos da terra em descanso vos serão por alimento a ti, e ao teu servo, e à tua serva, e ao teu jornaleiro, e ao estrangeiro que peregrina contigo; e ao teu gado, e aos animais que estão na tua terra, todo o seu produto será por mantimento (Levítico 25.2-7).

Os escravos hebreus também recebiam sua liberdade no ano sabático: Quando um de teus irmãos, hebreu ou hebréia, te for vendido, seis anos servir-

te-á, mas no sétimo o despedirás forro. E, quando de ti o despedires forro, não o deixarás ir vazio. Liberalmente lhe fornecerás do teu rebanho, da tua eira e do teu lagar; daquilo com que o Senhor teu Deus te houver abençoado lhe darás. Lembrar-te-ás de que foste servo na terra do Egito, e de que o Senhor teu Deus te remiu: pelo que hoje isso te ordeno. Se, porém, ele te disser: Não sairei de ti; porquanto te ama a ti e a tua casa, por estar bem contigo, então tomarás uma sovela, e lhe furarás a orelha na porta, e será para sempre teu servo: e também assim farás à tua serva. Não te pareça aos olhos duro o despedi-lo forro; pois seis anos te serviu por metade do salário do jornaleiro: assim o Senhor teu Deus te abençoará em tudo o que fizeres (Deuteronômio 15.12-18).

Ao término de seis anos os escravos hebreus deviam tornar-se livres. E os

senhores deviam compartilhar seus produtos do labor conjunto com os irmãos que partiam. Não deviam ser despedidos de mãos vazias (Deuteronômio 15.14,14). A provisão sabátida sobre empréstimos eram ainda mais radicais (Deuteronômio 15.1-6). Cada sete anos todos os débitos deviam ser quitados. Deuteronômio 15 é tanto uma proposição idealística do perfeito requerimento de Deus como também uma referência realística para o provável comportamento de Israel como comunidade justa e compassiva. O ano sabátido, infelizmente, foi praticado somente esporadicamente. A desobediência de Israel, contudo, não enfraqueça a ordem divina.

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1.1.3 - Leis Sobre o Dízimo e a Respiga Outras determinações legais ampliam os deveres a ser observados no Ano do

Jubileu. A lei estabelece que um décimo de toda a produção de animais e plantações deveria ser separado como dízimo ao Senhor.

Ao fim de cada três anos tirarás todos os dízimos do fruto do terceiro ano, e os

recolherás na tua cidade. Então virá o levita (pois não tem parte nem herança contigo), o estrangeiro, o órfão e a viúva, que estão dentro da tua cidade, e comerão, e se fartarão, para que o Senhor teu Deus te abençoe em todas as obras que as tuas mãos fizerem (Deuteronômio 14.28,29; ver também Deuteronômio 26.12-15; Números 18.21-32).

A pobre viúva Rute (capítulo 2 de Rute) pôde sobreviver por causa da lei da

respiga ou rebusca. Quando ela e Noemi viajaram para Belém, a avó do rei Davi foi aos campos no tempo da colheita e ajuntou as gavelas de grãos deixadas pelos ceifeiros. Ele pôde fazer isto porque a lei de Deus decretara que os agricultores deviam deixar alguma coisa da colheita, incluindo as espigas de grãos dos campos para o pobre. Os bagos de uvas caídos acidentalmente deviam ser deixados: “Deixá-los-ás ao pobre e ao estrangeiro: Eu sou o Senhor vosso Deus” (Levítico 19.10). As questões de riqueza, pobreza e justiça social constituem o ponto central do ministério dos profetas. O Senhor diz por meio do profeta Isaías:

Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desabrigados, e se vires o nu, o cubras, e não te escondas do teu semelhante? (Isaías 58.6,7).

Amós clama que não somente Deus deleita-se em tais ações de justiça social, mas

os relacionamentos e louvores dos crentes não são aceitáveis a Deus a mesnos que seus mandamentos sejam observados. “Corra o juízo como as águas, e a justiça como ribeiro perene” (Amós 5.24). Deus deu a Israel aquelas instruções para que seu povo aprendesse como viver em paz e justiça.

1.2 - O Fundamento do Novo Testamento no Aspecto Social

A mensagem do evangelho no Novo Testamento de forma nenhuma minimiza a

inspiração e autoridade do Velho Testamento. Os cristãos sustentam que a crença do Novo Testamento aclara e consuma a manifestação da natureza, propósito e vontade de Deus no Velho Testamento. Assim, em Jesus o modelo do Velho Testamento quanto à relação entre o indivíduo e a comunidade sob a aliança não é anulada, mas cumprida.

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A igreja do Novo Testamento não está isenta da obrigação de agir com justiça na evangelização. Os cristãos são apontados como aqueles que têm fome e sede de justiça (Mateus 5.6). E a vinda do Senhor foi em benefício da justiça para todos, eqüidade para com os aflitos da terra:

Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes um renovo. Repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor. Deleitar-se-á no temor do Senhor; não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos; mas julgará com justiça os pobres, e decidirá com eqüidade a favor dos mansos da terra; ferirá a terra com a vara de sua boca, e com o sopro dos seus lábios matará o perverso. A justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade o cinto dos seus rins.

A promessa do Velho Testamento sobre o ano do jubileu do Messias significa

justiça e libertação para o oprimido e alquebrado:

O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu, para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos, e pôr em liberdade os algemados; a apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os que choram (Isaías 61.1,2).

Quando Jesus foi à sinagoga em Nazaré (Lucas 4.14-21) Ele leu Isaías 61.1,2. Ao

ler esta passagem das Escrituras, mostrou as marcas pelas quais seu evangelho seria conhecido.

As leis para a comunidade da aliança foram dadas para capacitar a comunidade a expressar sua fidelidade ao seu justo Senhor. O relacionamento vertical com Deus é conscientemente reconhecido, mas deve ser expresso em relações de retidão (amor e justiça) com o próximo.

Jesus explicou magistralmente a seus discípulos sua compreensão das leis do Velho Testamento, quando as reafirmou para a nova aliança (Mateus 22.34-40; Marcos 12.28-34; Lucas 10.25-28). Em diferentes formas, cada evangelista acentua que estes dois mandamentos são de igual importância. Em Mateus “amar a Deus” é entendido com o grande e primeiro mandamento. Mas o segundo é considerado “semelhante a este”. Portanto, ambos são unidos, e deles dependem toda a lei e os profetas. Em Marcos 12.28-34 o escriba pergunta a respeito do primeiro de todos os mandamentos. Jesus responde citando o primeiro e o segundo mandamentos; em outras palavras, nenhum mandamento pode ser assinalado como primeiro, ambos são colocados diante de todos os requerimentos da lei. O segundo mandamento não é classificado, de fato, como segundo em importância; ele é listado como compreendendo, com o primeiro, o mandamento principal sobre o qual o escriba lhe havia perguntado.

Em Marcos 12.28-34, Jesus expõe nitidamente o mandamento para amar a Deus em termos de amor o próximo, em contradição às ordenanças legais (Marcos 12.33b). Estes mandamentos interpretam-se mutuamente. É impossível aos cristãos amar a Deus sem expressar seu amor a seus próximos (ver 1 João 4.7-21).

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Jesus também reinterpretou o sentido do amor para com o próximo. A exegese judaica compreendia próximo em Levítico 19.18 como amigos, compatriotas ou parentes. Jesus deu um novo entendimento de que a vida humana verdadeiramente está sob o amor de Deus. Em Lucas, Jesus seguiu seu ensino sobre o Grande Mandamento com a parábola do Bom Samaritano (Lucas 10.30-37). Ele mostrou como os deveres religiosos para com Deus (evitar a contaminação com um corpo possivelmente morto) era, de fato, desobediência à lei de Deus.

A missão da igreja neste mundo é mais do que proclamação verbal. É um serviço sacrificial para o qual Cristo envia seu povo redimido ao mundo, tal como o Pai o enviou. Jesus Cristo é o modelo e norma para a igreja (João 20.21). “O Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (João 1.14), e tomou a forma de servo (Filipenses 2.5-11). Este é o caminho de Deus para comunicar seu amor a todas as pessoas: “Nisto se manifestou o amor de Deus em nós, em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele” (1 João 4.9). Neste amor de Deus Jesus serviu e deu sua vida em resgaste por muitos (Marcos 10.45; Romanos 5.8).

Além disso, este amor de Deus que levou Cristo a morrer por seu povo “sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5.8), compele seus adeptos a ser embaixadores em nome de Cristo (2 Coríntios 5.20). Portanto, os cristãos são motivados pelo amor de Jesus Cristo e por sua palavra a tomar muito seriamente o anúncio das boas-novas de Jesus Cristo.

O Novo Testamento não nega o Velho Testamento; ele cumpre e intensifica os ensinos e mandamentos da revelação hebraica. O Novo Testamento de modo nenhum revoga o mandamento de Deus para a justiça social, caridade e amor. Antes, ele acrescenta uma nova dinâmica e uma nova dimensão àqueles mandamentos.

1.2.1 - O Conceito Social Cristão Está Firmado na Doutrina de Deus

Inicialmente, quais são as implicações do tema central teológico que percorre o

Novo Testamento? Que podem os cristãos deduzir da revelação da natureza e propósito de Deus? Em princípio, os crentes precisam ter uma compreensão mais abrangente da doutrina de Deus. Existe a tendência de esquecer que Ele está preocupado com toda a humanidade e com toda a vida humana.

Firmado na fundação do Velho Testamento, o Novo Testamento assevera que Deus é ao mesmo tempo santo e amoroso. Ele afirma que Deus, a fonte preexistente e soberana de toda a realidade, é a Pessoa Triúna do amor santo, perfeito em santidade e amor, criando, sustentando, governando, julgando e reconciliando o mundo consigo mesmo por meio de Jesus Cristo.

Reiterando, quer no evangelismo quer na responsabilidade social, os cristãos devem discernir a base fundamental para suas ações no caráter do próprio Deus. Isto é correto, pois a teologia cristã deve sempre guiar a vida cristã. A afirmação cristã é que Deus é tanto Criador como Juiz de todos os homens. Ele criou todos os homens, e todos eles terão de prestar contas a Ele no dia do julgamento. Ele é o Deus de justiça, que em toda comunidade humana odeia o mal e ama a justiça. Pois Ele ama o bem e odeia o mal, onde quer que se manifestarem:

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Cesse a malícia dos ímpios, mas estabelece tu o justo; pois sondas a mente e o coração, ó justo Deus. ... Deus é justo juiz; Deus que sente indignação todos os dias (Salmo 7.9,11). O Senhor está no seu santo templo; os seus olhos estão atentos, as suas pálpebras sondam os filhos dos homens. O Senhor põe à prova ao justo e ao ímpio; mas ao que ama a violência, a sua alma o abomina. Fará chover sobre os perversos brasas de fogo e enxofre, e vento abrasador será a parte do seu cálice. Porque o Senhor é justo, ele ama a justiça; os retos lhe contemplarão a face (Salmo 11.4-7).

Justiça, reconciliação e libertação são cada vez mais o objeto da inquirição

humana no mundo de hoje. Stott afirma:

O Deus vivo é o Deus de justiça, bem como de justificação. Certamente Ele é o Deus da justificação, salvador de pecadores, o “Deus compassivo, clemente e longânimo, e grande em misericórdia e fidelidade” (Êxodo 34.6). Mas Ele também está empenhado em que seu povo se caracterize pela justiça (Stott, 1985, 38).

Ele é também o Deus de misericórdia. No Salmo 146 temos esta afirmação:

O Senhor faz justiça aos oprimidos, e dá pão aos que têm fome. O Senhor liberta os encarcerados. O Senhor abre os olhos aos cegos, o Senhor levanta os abatido, o Senhor ama os justos. O Senhor guarda o peregrino, ampara o órfão e a viúva, porém transtorna o caminho dos ímpios (Salmo 146.7-9).

1.2.2 - O Empenho Social Cristão Está Firmado na Doutrina de Cristo Tem havido muitas reinterpretações e reconstruções a respeito de Jesus. Assim, o

povo tem tido o Jesus asceta, o sofredor, o monarca, o cavalheiro, o astro maior, o capitalista, o socialista, o revolucionário, etc. Vários destes retratos são mutuamente contraditórios, naturalmente, e outros têm pouco ou nenhum aval histórico.

Jesus Cristo, diz Luzbetak, é “o coração do kerygma e a essência das doutrinas cristãs” (Luzbetak, 1963, 245). Por kerygma pretende-se significar o âmago das boas-novas cristãs como foram proclamadas pela igreja nascente. A encarnação é um acontecimento único (João 1.1-14), e este acontecimento requer proclamação. “Foi pela proclamação das boas-novas que o Cristianismo primitivo causou impacto sobre o mundo antigo e conquistou seus adeptos” (Walton, 1946, 24). Jesus Cristo encarna as boas-novas, e tais boas-novas devem ser anunciadas. Jesus é o conteúdo da proclamação evangélica. A afirmação de Jeremias mostra que “na Cristandade iniciante havia duas formas de pregação, a saber kerygma e didache. A última significa pregar ou ensinar diretamente a congregação, por exemplo, o Sermão do Monte” (Jeremias, 1963, 31,32).

Jesus veio não meramente para ensinar, nem reformar a sociedade, mas para reconciliar os seres humanos com Deus por meio dele. Jesus ensinou, mas seu ensino tinha uma qualidade dinâmica (Marcos 1.15, 22). Ele denunciou a hipocrisia (Mateus 23) e a injustiça (Mateus 25.31-46), mas suas reformas foram tão extensivas que teve de

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nomear homens para ajudá-lo a expandir o Reino de Deus, que chegou com sua própria pessoa. Bright afirma que “para compreender a ética do Reino é necessário que os homens se submetam às regras impostas por esse Reino” (Bright, 1953, 221,222). Os seguidores de Jesus no Novo Testamento aclamaram-no alegremente como Messias, porém o fato de que deveria sofrer e morrer era o ponto mais difícil de aceitar. “Foi por causa desta idéia de que o Filho do Homem devia sofrer e morrer que Pedro o repreendeu; a idéia de um Filho do Homem ou Messias morrer era inacreditável e uma contradição” (Ladd, 1974, 155). Entretanto, Jesus, o Messias, assumiu deliberadamente o papel de servo (Filipenses 2.7) e sofreu a morte (v. 8). De acordo com Blauw, “Jesus, por cumprir conscientemente os dois papéis, de Servo de Deus sofredor e de Filho do Homem que retornará a este mundo, completou o plano da salvação de Deus” (Blauw, 1962, 73).

A vida, obra e ensino de Jesus são compreendidos à luz destes dois papéis. Stott faz a seguinte afirmação:

No tocante ao exemplo de Jesus, o modelo bíblico mais desafiador para a missão é a encarnação. O Filho de Deus não permaneceu na segura imunidade de seu céu. Ele esvaziou-se de sua condição e entrou no mundo humano com grande humildade. Fez-se um com o gênero humano em sua fragilidade e tornou-se vulnerável às suas tentações e dor. Tomou sobre si o pecado da humanidade e morreu a morte que cabia a eles. Ele não poderia identificar-se mais completamente com as pessoas do que havia feito. E no entanto, tornando-se humano, nunca cessou de ser divino. Foi uma total identificação com a humanidade, mas sem qualquer perda da identidade deísta. A missão da igreja deve ser modelada pela do Filho (João 20.21). (Stott, 1988, 246.)

Jesus exerceu um ministério de compaixão durante o tempo de sua vida terrena:

pregando, ensinando, curando as multidões (Mateus 9.35,36). O Manifesto de Nazaré (Lucas 4.18,19) dominou sua carreira, como documentam as narrativas dos Evangelhos. A missão do povo de Deus deve de semelhante modo caracterizar-se pelo serviço e ação com ardor e amor. Sua identificação com o pobre e o sem lar (Mateus 8.20; Lucas 9.58) levou-o a entrar em divergência com a posição dos religiosos (21.14,15,23), o que culminou na cruz (Lucas 22.2-6). Cristo veio a este mundo com a missão de servir sacrificialmente (Marcos 10.44,45) e morrer pela expiação dos pecados, obra que foi coroada por sua ressurreição dentre os mortos.

Quando Jesus veio proclamar o Reino, Ele fez um apelo para um novo estilo de vida. Como diz Bright, “é uma conclamação à obediência total e radical” (Bright, 1953, 200). Ele os chamou para o Reino do Servo.

Como Bright observa,

É um Reino dos mansos e humildes, no qual o líder é Aquele que está desejoso de ser o menor de todos e servo de todos... mas àqueles que são chamados é dado menos que a missão do servo: proclamar o evangelho do Reino a todas as nações da terra (Bright, 1953, 210,211).

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1.2.3 - A Prática Social Cristã Está Firmada na Doutrina do Reino de Deus

O Reino de Deus é um conceito profundo que não pode ser compreendido

imediatamente por meio de algum sistema de interpretação esteriotipada ou simplista. Uma forma mais antiga do dispensacionalismo distinguia entre o Reino de Deus (Marcos) e o Reino do céu (Mateus). Aqui o Reino de Deus dá ensejo a uma interpretação futurista, omitindo muito da aplicação deste tema precioso para a vida do povo de Deus no mundo contemporâneo.

Os cristãos não podem discutir a respeito de Jesus ou sua missão sem referência ao Reino. Como diz Bright, “em Jesus o conceito bíblico do Reino de Deus atingiu sua fase culminante” (Bright, 1953, 187). “A missão de Jesus não trouxe um novo ensino, mas um novo evento” (Ladd, 1974, 80). Esse evento é o Reino de Deus. Em Jesus o Reino veio para a história. Deus fez uma coisa nova.

A tese de Ladd aponta para o Reino de Deus como:

O Reino redentor de Deus dinamicamente ativo para estabelecer seu domínio entre os homens, e que este Reino, que surgirá como um ato apocalíptico no final dos tempos, já chegou à história humana por meio da pessoa e missão de Jesus para vencer o mal, livrar os homens de seu poder e conferir-lhes as bênçãos do Reino de Deus (Ladd, 1974, 9).

Esta definição enfatiza as dimensões tanto futura como presente do Reino, e

relaciona-se com a presença de Cristo. A percepção que Jesus tinha do Reino incluía os gentios. Na parábola dos

lavradores malvados Ele ensinou que, quando Israel rejeitasse o governo de Deus, o Reino passaria a outros (Marcos 12.1-11; Mateus 21.33-43). No Reino futuro “muitos virão do Oriente e do Ocidente” para juntar-se a Abraão, Isaque e Jacó no banquete messisânico (Mateus 8.11). Esta realidade escatológica, porém, é precedida da atividade missionária do povo de Deus. De Ridder diz que “aqueles que estão no Reino de Deus estão sob a obrigação de ficar à disposição do Rei para o progresso de seus bons propósitos” (De Ridder, 1975, 144). Esta obrigação inclui tanto a evangelização como a busca do Reino de justiça no mundo.

O Reino é mais do que palavras. O Reino é ação. Mas como podem os cristãos atuais compreender o Reino? Newbigin pergunta: “A presença do Reino em Jesus continua ao longo da história?” (Newbigin, 1978, 49). A igreja, diz Newbigin, é enviada “não para proclamar o Reino, mas para carregar em sua própria vida a presença do Reino” (Newbigin, 1978, 54).

É muito melhor ver em atividades sociais certos indícios do Reino do que o próprio Reino. O Reino está operando no mundo em uma sociedade imperfeita, mas no final dos tempos Deus intervirá para separar o bom do mau e criar uma nova sociedade pura (Mateus 13.47-49; Apocalipse 21.5). O Reino é de cima e não deve ser equiparado às realizações humanas. Todavia, o evangelho é profundamente social em sua aplicação e em suas implicações. Ao orar pelo Reino que virá, os crentes oram para que a vontade de Deus seja feita na terra (Mateus 6.10). Bright afirma: “A ética de Jesus é a ética do Reino; e Jesus espera que seus seguidores a tomem com seriedade, não somente em sua geração,

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mas em todas as gerações” (Bright, 1953, 223). O povo de Deus deve estabelecer sua vida sobre os princípios do Reino introduzidos pelo próprio Jesus (Mateus 7.24-27). A igreja não é o Reino, e tampouco o Reino é limitado à igreja. Esta, que reúne o povo de Deus, deve demonstrar a presença do Reino em sua vida no mundo. Como declara Vellanikal, “a presença do Senhor neste mundo está sendo consumada pela igreja existente no mundo” (Vellanikal, 1973, 67). Particularmente em áreas do mundo, onde a proclamação aberta do evangelho é impedida, a presença da igreja é sua própria testemunha, como observa o Bispo Newbigin (Newbigin, 1978, 61).

A igreja, embora não seja o Reino, realiza a obra do Reino. “A igreja é a comunidade do Reino, mas nunca o próprio Reino... O Reino é o governo de Deus; a igreja é a sociedade de homens” (Ladd, 1975, 111). A igreja no Novo Testamento é a comunidade do povo de Deus que Jesus está formando no mundo (Mateus 16.18, 1 Pedro 2.9,10). A igreja é edificada sobre a confissão de Cristo como Senhor (Mateus 16.16,17; Atos 2.38). A igreja é o corpo de Cristo (Efésios 1.23; 5.30,32), composta de todos que experimentam sua graça por meio da fé (Efésios 2.8,16; 3.6). Esta comunidade é o agente do Reino (Snyder, 1977, 12).

As duas parábolas do sal—“vós sois o sal da terra” (Mateus 5.13), e luz—“vós sois a luz do mundo” (Mateus 5.14-16), enfatizam o testemunho na sociedade através da vida do Reino. O alcance deste testemunho e influência é universal. Jesus intentou que seus seguidores tomassem a sério seus ensinos e praticá-los em todas as ocasiões. Do contrário, estes dois ditos são destituídos de sentido (Ladd, 1975, 128). A igreja, diz Boyd, a despeito de todas as suas imperfeições, “é o instrumento de Deus para o estabelecimento de seu Reino” (1977, 289). A igreja deve ser luz no mundo escuro e sal na sociedade decadente.

1.2.4 - A Obra Social Cristã É Firmada Sobre a Doutrina do Homem

Toda obra cristã filantrópica (isto é, a obra inspirada no amor pelo semelhante)

depende da avaliação que os cristãos fazem do beneficiário. Quanto mais alto o valor dos seres humanos, mais os cristãos se inclinam a ajudá-los.

Os humanistas seculares, que são sinceros em qualificar-se como dedicados à causa humana, parecem às vezes mais humanos do que os cristãos. Blackman escreve: “Humanismo é o caso e a causa humana, uma velha convicção acerca do caso humano... que induz homens e mulheres... a esposar a causa humana com a cabeça e o coração e com as duas mãos” (Blackman, 1968, 9).

Porém se eles são indagados da razão por que estão comprometidos com o gênero humano, devem provavelmente estar inclinados a responder com Julian Huxley, que escreveu: “O desenvolvimento da vasta possibilidade realizável do potencial humano proporciona o início da ação coletiva” (Huxley, 1961, 47). A inadequação disto como uma base para o serviço é óbvia. Se o livre progresso da evolução fosse a principal preocupação do cristão, porque deveriam eles cuidar do psicopata, do doente crônico ou do faminto?

O povo cristão tem uma base mais sólida para servir os seres humanos. Não é por causa do que os homens podem se tornar no futuro especulativo do desenvolvimento da

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raça, mas por causa do que eles já são pela criação divina. Os seres humanos são feitos à semelhança de Deus, possuindo capacidades peculiares que os distinguem da criação animal. É isto o que importa para seu valor peculiar e que sempre tem inspirado a filantropia cristã. Assim, o fundamento cristão para fazer a obra social está no ensino bíblico do homem. Na verdade, os seres humanos são decaídos, e sua imagem divina desfigurou-se, porém, a despeito de sua natureza pecaminosa, eles são ainda imagem de Deus (Gênesis 1.26,27; 9.6). A imagem de Deus em todas as pessoas (Gênesis 1.27) não foi completamente obliterada pela queda. Um ponto de partida natural para examinar a herança teológica da tradição presbiteriana é João Calvino. Ele lançou os fundamentos do que viria a tornar-se a igreja reformada do ramo protestante. A centralidade da doutrina do Imago Dei para Calvino é reforçada pelo fato de ele ter iniciado sua edição das Institutas com a seguinte afirmação sobre o Imago Dei:

A fim de que cheguemos a um conhecimento seguro de nós mesmos, devemos primeiramente aceitar o fato de que Adão, progenitor de todos nós, foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1.26,27). Isto é, ele foi dotado de sabedoria, eqüidade, santidade, e foi tão imbuído por esses dons de graça perante Deus que poderia ter vivido para sempre nele, se permanecesse firme na integridade que Deus lhe havia dado (Institutas 1536; 1975, 21).

Continuando a esclarecer este imago nos seres humanos em sua Institutas 1559,

Calvino apresenta um amplo complemento de discernimentos. Ele estava certo de que o imago pode estar diretamente relacionado a um dom de Deus e um atributo da natureza criada do homem original.

Portanto, a integridade com que Adão foi dotado é expressa por esta palavra [imago], quando ele tinha plena posse da compreensão correta, quando tinha suas afeições mantidas nos limites da razão, todos os seus sentidos dispostos em perfeita ordem, e ele verdadeiramente atribuía sua excelência aos dons excepcionais concedidos a ele por seu Criador (ver 1.15.3; Institutas 1559, 1960, 188).

Calvino estava convencido de que os seres humanos foram criados por Deus para

ocupar uma parte importante do desígnio, e a natureza especial do homem foi integralmente o resultado da marca criativa de Deus (ver 1.15.3; Institutas 1559, 1960, 186).

Em sua afirmação a respeito da imagem de Deus, Calvino foi claro acerca de que todas as pessoas foram criadas à imagem de Deus. Falando sobre quem os cristãos devem amar, Calvino afirmou que o amor pelo próximo não depende do comportamento daquela pessoa, “mas aqui a Escritura ajuda da melhor forma ao ensinar que não devemos avaliar se os homens têm méritos próprios, mas olhar para a imagem de Deus em todos os homens, aos quais devemos toda honra e amor” (Institutas, 1960, 696).

A dignidade que todas as pessoas merecem não é por causa de terem feito Além disso, a verdadeira confraternização e verdadeiro amor por toda a criação de Deus envolve completa servitude de um para com outro e para com Deus. Todos somos inteiramente dependentes de Deus, e por conseguinte subservientes a esse Deus. Cumprir nossa responsabilidade divina para com nosso próximo requer total subserviência às

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necessidades de todos. Onde há responsabilidade mútua, há servitude mútua. Em resumo, Calvino insiste em que todos devem ser sociáveis e prestativos. Na realidade, Calvino definiu a sociedade em seu comentário sobre Efésios “como um jugo de mútua servitude, na qual há uma obrigação mútua de todas as pessoas, bem nascidos e servos igualmente (Comentário de Calvino sobre Efésios 5.21). Nesta linha de raciocínio, o pensamento de Calvino pode proporcionar orientação ao nosso século sobre a ética dos relacionamentos sociais e mostrar como a vida cristã deve ser vivida em ambiente contemporâneo.

1.2.5 - O Exercício da Assistência Social Cristã Está Firmada

na Doutrina da Igreja Muitas pessoas vêem a igreja como uma espécie de clube, como o clube de golfo

local, com a diferença de que o interesse de seus membros está voltado para Deus e não para o golfe. São pessoas religiosas que praticam juntas atos religiosos. Elas pagam suas mensalidades e têm direito aos privilégios dos membros do clube. Dentro deste cenário, elas esquecem a compreensão bíblica da igreja como a única sociedade cooperativa que existe para o benefício dos não-membros. Em lugar do clube-modelo da igreja, os cristãos precisam restaurar o que pode ser descrito como a dupla identidade da igreja. Por outro lado, a igreja é composta de pessoas santas, conclamadas a deixar o mundo e pertencer a Deus. Mas, por outro lado, são pessoas respeitáveis no mesmo sentido de ser enviadas de volta ao mundo para testemunhar a mensagem do evangelho. De acordo com Stott, “a igreja é um povo, uma comunidade de pessoas que deve sua existência, sua solidariedade e sua peculiaridade cooperativa distinta de outras comunidades no tocante a uma única coisa – o chamado de Deus” (Stott, 1982, 21).

Stott menciona também a igreja como a sociedade alternativa de Deus:

Jesus Cristo oferece uma verdadeira comunidade. A igreja é parte do evangelho. O propósito de Cristo não é salvar indivíduos isolados e assim perpetuar seu isolacionismo, mas edificar uma igreja ou criar um nova sociedade, na qual as barreiras raciais, sociais e sexuais tenham sido ultrapassadas, que se oferece ao mundo como a verdadeira sociedade alternativa, e que desafia os valores e padrões do mundo (Stott, 1988, 131).

Raramente, em sua longa história, a igreja tem se lembrado ou preservado sua

dupla identidade. Algumas vezes, em uma adequada ênfase sobre sua santidade, a igreja tem erroneamente se afastado do mundo e se tornado isolada dele. Em outras ocasiões, em uma adequada ênfase sobre sua mundanidade (isto é, sua imersão na vida do mundo), a igreja tem sido assimilada equivocamente pelos padrões e valores do mundo, tornando-se assim contaminada por eles. Entretanto, sem qualquer preservação de ambas as partes de sua identidade, a igreja não pode incumbir-se da missão. A missão procede da doutrina bíblica da igreja em sociedade.

O próprio Jesus ensinou estas verdades em suas vívidas metáforas do sal e da luz. “Vós sois o sal da terra... vós sois a luz do mundo”, disse Ele (Mateus 5.13-16). Ele sugeriu que as comunidades, a nova e a velha, a igreja e o mundo, são tão radicalmente diferentes um do outro como a luz é das trevas e o sal é da terra pisada. Ele também

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replica que, se eles servissem para alguma coisa, o sal devia ser impregnado na carne, e a luz devia brilhar na escuridão. Assim, pois, devem os cristãos infiltrar-se na sociedade dos não-cristãos com a mensagem transformadora e redentora do evangelho.

De conformidade com o Novo Testamento, a igreja é a comunidade da fé e do amor que confessa, incorpora e implementa o “salvadorismo” e o senhorio de Deus em Cristo. É esta comunidade que ensina a verdade do amor reconciliador de Deus em Jesus Cristo pelo poder do Espírito Santo, mercê da adoração, evangelismo e serviço demonstrados diante da sociedade.

Costas, distinguido teólogo e missiólogo, comenta o assunto desta forma:

Como membros da comunidade escatológica da salvação, os cristãos são chamados a interpretar a obra redentora de Cristo por meio da atualização em sua vida diária das características essenciais da salvação. Ter nascido na comunidade da fé e em suas relações com o restante do mundo. Sua experiência de libertação do poder do pecado e da morte requer deles a manifestação do shalom de Deus em sua vida (isto é, uma vida de reconciliação, liberdade e plenitude). Sua participação na vida do Reino de Deus requer deles um compromisso com a justiça (Costas, 1974, 31,32).

1.3 - Atividade social cristã durante o período da Reforma

O clima político, sócio-econômico e religioso mudou no período tardio da Idade

Média (1300-1500). O feudalismo começou a declinar e fortes governos monárquicos centralizadores estabeleceram-se na Europa.

A Renascença promoveu o humanismo com o despertamento do ensino do grego e do latim, o desenvolvimento da ciência e novas tendências nas artes. Economicamente, o desenvolvimento contínuo do comércio e da indústria incentivaram uma economia capitalista, mudando a estrutura social. Um grande influxo de pessoas nas cidades em busca de novos empregos trazidos pelo empobrecimento econômico de amplas seções da sociedade, especialmente os colonos e a famílias de agricultores.

1.3.1 - Preocupação de Martinho Lutero na área social (1483-1546)

Para compreender a visão de Lutero sobre o evangelismo e responsabilidade

social, deve-se conhecer seu conceito de dois reinos—o Reino de Deus e o reino deste mundo. O cristão, como filho de Deus, pertence ao primeiro, e como cidadão deste mundo pertence ao último. Portanto, ele é responsável perante Deus, bem como perante a autoridade civil (Latourette, 1953).

Com respeito à responsabilidade social, Lutero ensinou duas importantes verdades. Primeira, embora ele reconheça a relevância das boas obras, rejeita a idéia de que as boas obras trazem perdão pelos pecados. Em suas 95 Teses (1517), ele declarou:

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43. Os cristãos devem ser ensinados que aquele que dá ao pobre ou empresta ao necessitado pratica uma obra melhor do que comprar perdões; 45. Os cristãos devem ser ensinados que aquele que vê um homem em necessidade, e passa por ele, e dá (seu dinheiro) por perdões, não compra as indulgências do papa, mas a indignação de Deus.

Lutero opôs-se à visão anabatista de separação entre igreja e estado, porque ele

acreditava que Deus pode usar o governo secular para estabelecer a justiça social. Em 1520, ele escreveu uma carta aberta à nobreza cristã e instou o estado a fazer reformas econômicas e sociais para melhorar a vida do pobre (Hordern, 1983; Brecht, 1985).

1.3.2 - Preocupação social de João Calvino (1509-1564)

Calvino está acima dos demais líderes da Reforma francesa e suíça. De Genebra,

ele causou maior impacto sobre a Europa e o restante do mundo. Poderosa como era sua influência ali, ele foi sempre uma espécie de hóspede em terra estranha. Em um sentido, ele era apenas um dos muitos refugiados que viviam em Genebra com seus olhos em sua terra natal, esperando que algum dia toda a França fosse evangelizada e que a religião reformada pudesse prosperar livremente (Mackinnon, 1962; Parker, 1975).

Esperando esse dia, ele e seus amigos acolhiam a contínua corrente de protestantes refugiados das áreas dominadas pelo Catolicismo Romano, oferecendo-lhes comida e abrigo em Geneva. Foi característico da reforma calvinista que esta hospitalidade deveria ser institucionalizada como fundo de assistência social conhecida como Bolsa Francesa ou Fundo Francês Para Estrangeiros Pobres, destinado àqueles que chegavam a Genebra para viver conforme as reformas da Palavra.

A influência de Calvino foi consolidada por meio da academia que ele fundou, a qual se tornou a Universidade de Genebra. As instituições educacionais foram nitidamente importantes para ele. Calvino promoveu a educação na escola secundária e insistiu sobre a educação primária compulsória para meninos e meninas (Innes, 1983).

Calvino também compreendeu a relevância das instituições de caridade para o bem-estar não somente dos totalmente indigentes e desfavorecidos, mas também de muitas vítimas dos eventos históricos de seu tempo. Olson comenta:

A estrutura organizacional para a caridade em Genebra, a Bolsa Francesa, foi uma instituição fundamental que cuidou não apenas de muitos refugiados humildes e de pobres de Genebra, mas também de refugiados franceses de importância e conseqüência. A Bolsa Francesa foi uma parte importante daquele sistema de bem-estar porque foi dedicada a estrangeiros em uma cidade popular para os refugiados (Olson, 1989, 12).

Calvino revela freqüentemente uma sensibilidade para a posição e necessidades

do indivíduo dentro da sociedade, especialmente dos desprivilegiados e dos pobres. Wallace afirma:

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Do púlpito ele muitas vezes saía de seu estilo para incitar a consciência de seus ouvintes sobre seu dever para com os desprovidos financeiramente ao seu redor. Quando ele pregava sobre a proibição do Velho Testamento de despojar o devedor pobre de um penhor insuportável por seu débito, ele falava em voz alta que pode ser ouvida hoje como um reclamo de que nenhuma sociedade deve privar qualquer homem da oportunidade de trabalhar para seu sustento (Wallace, 1990, 123).

1.3.3 - Atividade social cristã e o movimento missionário protestante

O reavivamento resultou em crescente testemunho dos cristãos, à medida que

sentiam que deviam cumprir o mandato de Cristo (a Grande Comissão de Mateus 28.18-20) e estavam convictos de seu poder e sua presença com eles nesse cumprimento. Sob a influência do Espírito Santo eles compreenderam que tinham de testemunhar Cristo e trabalhar desde “Jerusalém... até aos confins da terra” (Atos 1.8). O testemunho era para fora tanto quanto para o lar, pois as missões estrangeiras saíram do reavivamento.

O século dezenove é conhecido pela enorme expansão das missões cristãs em todo o planeta. Não se deve imaginar, contudo, que os missionários se concentraram exclusivamente na proclamação verbal. Eles o fizeram, naturalmente, mas também exerceram muito trabalho social.

William Carey, David Livingstone, Robert Morrison, Hudson Taylor, Ashbell G. Simonton, e muitos outros foram pioneiros no esforço missionário em outros países. Esses missionários pregaram zelosamente o evangelho aos nativos da África, Ásia e América Latina e iniciaram muitas reformas sociais necessárias nesses continentes. A história demonstra claramente que as missões evangélicas proporcionaram serviços sociais, como medicina, lar para idosos, educação e orfanatos, para benefício dos habitantes locais.

William Carey é uma espécie de protótipo da obra missionária protestante. Não há dúvida de que sua meta primária era converter as pessoas à fé em Jesus Cristo, e assim levá-las à salvação eterna. Entretanto, não viu qualquer conflito entre essa meta e outras atividades pelas quais também ficou bem conhecido. Drewery diz: “Ele estava profundamente interessado em agricultura e botânica, e foi responsável pela fundação de uma sociedade de horticultura e agricultura. Ele esperava fazer um investimento em vegetais mais disponíveis” (Drewery, 1979, 99).

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1.4 - Conclusões e Recomendações O pacto de Lausanne tomou as seguintes conclusões sobre o papel social da

Igreja: 5. A Responsabilidade Social Cristã

Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parte do nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar mas também divulgar a retidão do reino em meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta.

10. Evangelização e Cultura O desenvolvimento de estratégias para a evangelização mundial requer metodologia nova e criativa. Com a bênção de Deus, o resultado será o surgimento de igrejas profundamente enraizadas em Cristo e estreitamente relacionadas com a cultura local. A cultura deve sempre ser julgada e provada pelas Escrituras. Porque o homem é criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e em bondade; porque ele experimentou a queda, toda a sua cultura está manchada pelo pecado, e parte dela é demoníaca. O evangelho não pressupõe a superioridade de uma cultura sobre a outra, mas avalia todas elas segundo o seu próprio critério de verdade e justiça, e insiste na aceitação de valores morais absolutos, em todas as culturas. As missões, muitas vezes têm exportado, juntamente com o evangelho, uma cultura estranha, e as igrejas, por vezes, têm ficado submissas aos ditames de uma determinada cultura, em vez de às Escrituras. Os evangelistas de Cristo têm de, humildemente, procurar esvaziar-se de tudo, exceto de sua autenticidade pessoal, a

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fim de se tornarem servos dos outros, e as igrejas têm de procurar transformar e enriquecer a cultura; tudo para a glória de Deus.

11. Educação e Liderança

Confessamos que às vezes temos nos empenhado em conseguir o crescimento numérico da igreja em detrimento do espiritual, divorciando a evangelização da edificação dos crentes. Também reconhecemos que algumas de nossas missões têm sido muito remissas em treinar e incentivar líderes nacionais a assumirem suas justas responsabilidades. Contudo, apoiamos integralmente os princípios que regem a formação de uma igreja de fato nacional, e ardentemente desejamos que toda a igreja tenha líderes nacionais que manifestem um estilo cristão de liderança não em termos de domínio, mas de serviço. Reconhecemos que há uma grande necessidade de desenvolver a educação teológica, especialmente para líderes eclesiásticos. Em toda nação e em toda cultura deve haver um eficiente programa de treinamento para pastores e leigos em doutrina, em discipulado, em evangelização, em edificação e em serviço. Este treinamento não deve depender de uma metodologia estereotipada, mas deve se desenvolver a partir de iniciativas locais criativas, de acordo com os padrões bíblicos.

13. Liberdade e Perseguição É dever de toda nação, dever que foi estabelecido por Deus, assegurar condições de paz, de justiça e de liberdade em que a igreja possa obedecer a Deus, servir a Cristo Senhor e pregar o evangelho sem impedimentos. Portanto, oramos pelos líderes das nações e com eles instamos para que garantam a liberdade de pensamento e de consciência, e a liberdade de praticar e propagar a religião, de acordo com a vontade de Deus, e com o que vem expresso na Declaração Universal do Direitos Humanos. Também expressamos nossa profunda preocupação com todos os que foram injustamente encarcerados, especialmente com nossos irmãos que estão sofrendo por causa do seu testemunho do Senhor Jesus. Prometemos orar e trabalhar pela libertação deles. Ao mesmo tempo, recusamo-nos a ser intimidados por sua situação. Com a ajuda de Deus, nós também procuraremos nos opor a toda injustiça e permanecer fiéis ao evangelho, seja a que custo for. Não nos esqueçamos de que Jesus nos preveniu de que a perseguição é inevitável.

Este estudo contribui para uma compreensão melhor do papel da atividade social

cristã na missão evangelística atual na América Latina. Ele fornece à igreja contemporânea fundamentos bíblico, teológico e histórico com vistas ao empreendimento social. Este estudo traz ainda ponderações que ajudam a igreja cristã a cumprir com mais eficiência a obra de Deus no contexto da América Latina.

Os seguintes fatores bíblicos, teológicos e históricos têm sido salientado neste estudo:

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1. Que o povo de Deus está investido de uma responsabilidade ética especial em favor do pobre. No Velho Testamento, a lembrança do povo de Deus como escravo no Egito era motivá-lo a mostrar misericórdia ao oprimido (Deuteronômio 24.14-22; Levítico 19.15; Amós 2.6,7; Zacarias 7.9,10). Todos estes ensinos a respeito do pobre fazem parte da Palavra de Deus. O Velho Testamento enfatiza que Deus requer justiça para os pobres e julgará aqueles que os oprimem.

2. Que o zelo de Deus pelo pobre no Velho Testamento aparece coerentemente dentro do contexto da justiça de Deus e da obra de justiça no meio do povo de Deus. Assim, biblicamente, palavras como pobre, necessitado, oprimido, forasteiro têm tipicamente um conteúdo moral, relacionando-se às exigências de Deus por justiça (Padilla, 1975; Snyder, 1977; Sider, 1979).

3. Que a igreja do Novo Testamento não se omite da obrigação de proceder com justiça no evangelismo. A mensagem do evangelho no Novo Testamento de modo algum reduz a inspiração e autoridade do Antigo Testamento. O Novo Testamento intensifica as manifestações e exigências da revelação hebraica. O Novo Testamento de modo algum cancela a ordem de Deus por justiça, caridade e amor. Ao contrário, ele requer uma nova dinâmica e uma nova dimensão àquela instrução (Mateus 5-7; Marcos 12.28-34; Lucas 10.30-37; 1 João 4.7-11); (Stott, 1982; Conn, 1984).

4. Que a missão da igreja neste mundo é mais do que proclamação verbal. É um serviço sacrificial para o qual Cristo envia seus seguidores ao mundo, assim como o Pai o enviou (João 1.14; Filipenses 2.2-11; Marcos 10.44,45; Romanos 5.8); (Nicholls, 1986; Stott, 1977; Costas, 1989).

5. Que a obra social cristã está alicerçada sobre uma doutrina mais abrangente de Deus, Cristo, o Reino de Deus, o homem e a igreja. Tanto no evangelismo como na responsabilidade social, os cristãos discerniram no próprio Deus o fundamento para suas ações. Ele criou todos os homens, e todos os homens terão de prestar contas a Ele no dia do juízo. Ele é o Deus de justiça, que em toda comunidade humana odeia o mal e ama a justiça (Salmo 11.4-7; 146.7-9); (Escobar, 1978; Newbigin, 1978).

6. Que todos os empreendimentos missionários durante a história da igreja têm se preocupado e envolvido com o que denominamos responsabilidade social. Eles a têm visto como parte de seu ministério de anunciar o evangelho. Além disso, demonstraram o notável grau de consistência ao longo da história com sua focalização sobre a educação, assistência médica, agricultura e várias espécies de soerguimento social dos membros abandonados ou oprimidos da sociedade (Neill, 1957; Toynbee, 1958; Latourette, 1970).

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