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MATERIAL DE APOIO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES Apostila 05 Prof. Pablo Stolze Gagliano Temas: Transmissão das Obrigações 1. Transmissão das Obrigações A relação obrigacional não é estática, é dinâmica. 1 Dentro, pois, desta dinâmica obrigacional, o tema sob análise compreende o estudo de três figuras jurídicas muito importantes, sendo que apenas as duas primeiras foram reguladas pelo novo Código Civil: a) cessão de crédito; b) cessão de débito; c) cessão de contrato. 2. Cessão de Crédito A cessão de crédito traduz uma modalidade de transmissão obrigacional em que o credor (cedente) transfere total ou parcialmente o seu crédito a um terceiro (cessionário), mantendo-se a mesma relação obrigacional primitiva com o devedor (cedido). 1 Neste ponto, recomendamos, mais uma vez, a leitura da obra “A Obrigação como um Processo” de Clóvis do Couto e Silva, FGV.

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MATERIAL DE APOIO

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Apostila 05

Prof. Pablo Stolze Gagliano

Temas: Transmissão das Obrigações

1. Transmissão das Obrigações

A relação obrigacional não é estática, é dinâmica.1

Dentro, pois, desta dinâmica obrigacional, o tema sob análise compreende o estudo de três figuras

jurídicas muito importantes, sendo que apenas as duas primeiras foram reguladas pelo novo

Código Civil:

a) cessão de crédito;

b) cessão de débito;

c) cessão de contrato.

2. Cessão de Crédito

A cessão de crédito traduz uma modalidade de transmissão obrigacional em que o credor

(cedente) transfere total ou parcialmente o seu crédito a um terceiro (cessionário), mantendo-se a

mesma relação obrigacional – primitiva – com o devedor (cedido).

1 Neste ponto, recomendamos, mais uma vez, a leitura da obra “A Obrigação como um

Processo” de Clóvis do Couto e Silva, FGV.

Note-se que a relação obrigacional é a mesma, razão pela qual não pode ser confundida com a

novação subjetiva ativa, caso em que, como se sabe, com o ingresso do novo credor, é

considerado criada uma obrigação nova.

Vale frisar ainda que a cessão poderá ser onerosa ou gratuita – esta última possibilidade, de per si,

aliás, já serviria para não identificá-la totalmente com o pagamento com sub-rogação (que é

sempre oneroso, por envolver pagamento...).

A disciplina da cessão do crédito é feita a partir do art. 286:

Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei,

ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao

cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação.

A cláusula proibitiva da cessão, denominada “pacto de non cedendo”, à luz do princípio da

eticidade, deve constar expressamente no instrumento da obrigação.

Um importante ponto, ainda, deve ser ressaltado: à luz do princípio da boa-fé, e como decorrência

do “dever de informação”, o devedor deve ser comunicado da cessão feita, sob pena de não ser a

mesma eficaz em face dele:

Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a

este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular,

se declarou ciente da cessão feita.

No STJ:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. CESSÃO DE CRÉDITO. AUSÊNCIA DE

NOTIFICAÇÃO. CONSEQUÊNCIAS. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. IMPROVIMENTO.

1.- A cessão de crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada.

Isso não significa, porém, que a dívida não possa ser exigida quando faltar a notificação.

2.- O objetivo da notificação é informar ao devedor quem é o seu novo credor, isto é, a quem deve

ser dirigida a prestação. A ausência da notificação traz essencialmente duas consequências: Em

primeiro lugar dispensa o devedor que tenha prestado a obrigação diretamente ao cedente de

pagá-la novamente ao cessionário. Em segundo lugar permite que devedor oponha ao cessionário

as exceções de caráter pessoal que teria em relação ao cedente, anteriores à transferência do

crédito e também posteriores, até o momento da cobrança (artigo 294 do Código Civil).

3.- A falta de notificação não interfere com a existência ou exigibilidade da dívida, sendo de se

admitir, inclusive, a inscrição indevida em cadastros de inadimplentes em caso de não pagamento,

observadas as formalidades de estilo (artigo 43, § 2º, Código de Defesa do Consumidor).

4.- O agravo não trouxe nenhum argumento novo capaz de modificar o decidido, que se mantém

por seus próprios fundamentos.

5.- Agravo Regimental a que se nega provimento.

(AgRg no REsp 1408914/PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/10/2013, DJe

14/11/2013)

PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. CESSÃO DE CRÉDITO. NOTIFICAÇÃO DO DEVEDOR. NÃO

OCORRÊNCIA. EXIGIBILIDADE DA DÍVIDA. ART. 290 DO CC.

INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 284/STF.

1. Incide o óbice previsto na Súmula n. 284 do STF na hipótese em que a deficiência da

fundamentação do recurso não permite a exata compreensão da controvérsia.

2. A ausência de notificação quanto à cessão de crédito, prevista no art. 290 do CC, não tem o

condão de isentar o devedor do cumprimento da obrigação, tampouco de impedir o registro do

seu nome, quando inadimplente, em órgãos de restrição ao crédito, mas apenas dispensar o

devedor que tenha prestado a obrigação diretamente ao cedente de pagá-la novamente ao

cessionário.

3. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no AREsp 311.428/RS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em

05/11/2013, DJe 11/11/2013)

Outros artigos interessantes:

Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor

primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe

apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura

pública, prevalecerá a prioridade da notificação.

Art. 293. Independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor, pode o cessionário

exercer os atos conservatórios do direito cedido.

Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que,

no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente.

Importante ponto, finalmente, diz respeito à responsabilidade pela cessão do crédito.

Regra geral, o cedente responderá apenas pela existência do crédito cedido, não se

responsabilizando pela solvência do devedor (cessão pro soluto); nada impede, no entanto, como

decorrência da autonomia privada, que seja convencionada também a responsabilidade pela

solvência do devedor (cessão pro solvendo).

Neste sentido, leiam-se os seguintes artigos:

Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica

responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma

responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé.

Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor.

Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais

do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão

e as que o cessionário houver feito com a cobrança.

3. Cessão de Débito

A cessão de débito ou assunção de dívida opera-se por meio de um negócio jurídico pelo qual o

devedor, com expresso consentimento do credor, transfere o seu débito a terceiro.

Fique atento: a relação obrigacional é a mesma, razão pela qual não se identifica com a novação

subjetiva passiva.

No Código Civil, a sua disciplina é feita nos arts. 299 a 303:

Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do

credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era

insolvente e o credor o ignorava.

Parágrafo único. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção

da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa.

Art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da

assunção da dívida, as garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor.

Art. 301. Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas as suas

garantias, salvo as garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava

a obrigação.

Art. 302. O novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao

devedor primitivo.

Art. 303. O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito

garantido; se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito,

entender-se-á dado o assentimento.

Vale observar que a anuência do credor é indispensável para que se dê esta modalidade de

cessão.

4. Cessão de Posição Contratual

É comumente denominada de “cessão de contrato”, não tendo sido regulada pelo novo Código

Civil.

O seu reconhecimento fica a cargo da doutrina e da jurisprudência, valendo mencionar que o

Código Português fora explícito em sua disciplina (ver arts. 424 a 427).

Diferentemente das modalidades anteriores, na cessão de contrato, o cedente transfere ao

cessionário, de forma global, a sua própria posição contratual, compreendendo créditos e débitos.

Trata-se, em outras palavras, da cessão da sua própria posição ou situação no contrato.

É, pois, modalidade de cessão muito mais abrangente do que as anteriores.

São requisitos gerais desta cessão, em nosso pensar:

a) a celebração de um negócio jurídico entre cedente e cessionário;

b) a integralidade da cessão (cessão global);

c) a anuência expressa da outra parte (cedido) .

Confira, logo abaixo, importante jurisprudência selecionada referente a este tema, que será

desenvolvido em sala de aula.

5. Jurisprudência Selecionada

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. "CONTRATO DE GAVETA". ART. 20 DA LEI N.

10.150/2000. POSSIBILIDADE DE REGULARIZAÇÃO. NECESSIDADE DE ATENDIMENTO DAS

EXIGÊNCIAS DO SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO.

JULGAMENTO MONOCRÁTICO. EXISTÊNCIA DE JURISPRUDÊNCIA. POSSIBILIDADE.

EMBARGOS DE TERCEIRO. HIPOTECA. PENHORA.

1. O art. 20 da Lei n. 10.150/2000 assegura aos cessionários de mútuo hipotecário do

Sistema Financeiro da Habitação a possibilidade de regularização dos chamados "contratos

de gaveta" firmados em data anterior a 25.10.1996 que não tenham sido enquadrados nos

planos de reajustamento definidos pela Lei n. 8.692/1993.

2. A possibilidade de regularização não implica, por si só, o direito à cessão do

financiamento contra a vontade do agente financeiro e sem a comprovação do atendimento

das exigências do SFH pelo cessionário.

3. É possível ao relator julgar, por decisão monocrática, matéria respaldada em

jurisprudência da Corte.

4. A hipoteca regularmente constituída antes da celebração do contrato de gaveta justifica a

manutenção da penhora efetivada sobre o imóvel em execução promovida pelo credor

hipotecário, a teor do art. 655, § 2º, do CPC.

5. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no REsp 1126574/PR, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA,

julgado em 19/09/2013, DJe 30/09/2013)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. LEGITIMIDADE ATIVA.

CONTRATO DE GAVETA. POSTERIOR Á 25 DE OUTUBRO DE 1996. NECESSIDADE DA ANUÊNCIA DA

INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. ANÁLISE DE DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. INCOMPETÊNCIA DESTA

CORTE. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO, COM APLICAÇÃO DE MULTA.

1. A jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça revela-se no sentido de que,

nos "contratos de gaveta", firmados em data posterior a 25 de outubro de 1996, a anuência

da instituição financeira é condição para que o cessionário tenha legitimidade ativa para

propor ação de revisão de cláusulas contratuais.

2. Descabe a esta Corte apreciar a alegada violação de dispositivos constitucionais, sob pena

de usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal.

3. Agravo regimental a que se nega provimento, com aplicação de multa.

(AgRg no Ag 1423463/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em

18/10/2011, DJe 26/10/2011)

CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA

CUMULADA COM COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. CESSÃO DE CRÉDITO.

SUBSTITUIÇÃO DE PARTES. AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO.

- A cessão de crédito não vale em relação ao devedor, senão quando a ele notificada.

Precedentes desta Turma.

- Agravo no recurso especial não provido.

(AgRg no REsp 1171617/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em

22/02/2011, DJe 28/02/2011)

PROCESSUAL CIVIL. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. ALEGADA NEGATIVA DE PRESTAÇÃO

JURISDICIONAL. INOCORRÊNCIA. VIOLAÇÃO DO ART. 6º DA LICC. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.

CESSÃO DE DIREITOS E OBRIGAÇÕES. CONTRATO DE GAVETA. LEI 10.150/2000. INTERVENIÊNCIA

OBRIGATÓRIA DA INSTITUIÇÃO FINANCIADORA. ILEGITIMIDADE DO CESSIONÁRIO PARA DEMANDAR EM

JUÍZO. ORIENTAÇÃO FIRMADA NO JULGAMENTO DO RESP 783.389/RO.

1. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional nos embargos de declaração quando o

Tribunal de origem enfrenta a matéria posta em debate na medida necessária para o deslinde da

controvérsia, ainda que sucintamente. A motivação contrária ao interesse da parte não se traduz em

maltrato ao artigo 535 do CPC.

2.Verifica-se que o tema tratado no art. 6º da LICC não foi debatido pelo acórdão recorrido,

apesar da oposição de embargos de declaração, restando desatendido, portanto, o requisito específico

do prequestionamento. Incidência da Súmula nº 211/STJ.

3. "A cessão do mútuo hipotecário não pode se dar contra a vontade do agente financeiro; a

concordância deste depende de requerimento instruído pela prova de que o cessionário atende as

exigências do Sistema Financeiro da Habitação" (REsp 783.389/RO, Corte Especial, Rel. Min. Ari

Pargendler, DJe de 30.10.2008).

4. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no Ag 1180558/SC, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em 02/09/2010, DJe 13/09/2010)

PROCESSUAL CIVIL - ADMINISTRATIVO - RECURSO ESPECIAL - SFH CONTRATO DE GAVETA -

ILEGITIMIDADE AD CAUSAM DO CESSIONÁRIO - NECESSIDADE DE INTERVENIÊNCIA DA INSTITUIÇÃO

FINANCIADORA.

1. "A cessão do mútuo hipotecário não pode se dar contra a vontade do agente financeiro; a

concordância deste depende de requerimento instruído pela prova de que o cessionário atende as

exigências do Sistema Financeiro da Habitação" (REsp 783.389/RO, Rel. Ministro ARI PARGENDLER,

CORTE ESPECIAL, julgado em 21/5/2008, DJe de 30/10/2008).

2. Recurso especial provido.

(REsp 1180397/RJ, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em

18/03/2010, DJe 26/03/2010)

Processual civil. Agravo no recurso especial. Contrato de mútuo do Sistema Financeiro de

Habitação - SFH. Ação revisional. Cessão do contrato. Ausência de interveniência da instituição

financeira.

Ilegitimidade ativa do cessionário.

- A interveniência da instituição financeira é obrigatória na transferência de imóvel

financiado pelo Sistema Financeiro da Habitação pois, sem esta, não tem o cessionário legitimidade ativa

para ajuizar ação visando discutir o contrato realizado entre o mutuário cedente e o mutuante.

Agravo no recurso especial não provido.

(AgRg no REsp 934989/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em

23/08/2007, DJ 17/09/2007 p. 277)

RECURSO ESPECIAL - SFH - CONTRATO DE MÚTUO - CONTRATO DE GAVETA - TRANSFERÊNCIA -

AUSÊNCIA DA PARTICIPAÇÃO DO AGENTE FINANCEIRO - ART.

20 DA LEI N. 10.150/2000 - CONTRATO DE CESSÃO DE DIREITOS E OBRIGAÇÕES ANTERIOR A 25/10/1996

- POSSIBILIDADE DE REGULARIZAÇÃO - NECESSIDADE DE ATENDIMENTO DAS EXIGÊNCIAS DO SISTEMA

FINANCEIRO DA HABITAÇÃO SEGUNDO NORMAS ESTABELECIDAS PELA LEI N. 8.004/90 - ILEGITIMIDADE

ATIVA DO CESSIONÁRIO PARA PLEITEAR EM JUÍZO A TRANSFERÊNCIA COMPULSÓRIA - RECURSO

PROVIDO.

1. O art. 20 da Lei n. 10.150/00 prevê que as transferências no âmbito do Sistema Financeiro

da Habitação, desde que celebradas entre mutuário e adquirente até 25/10/1996, sem a participação do

agente financeiro, poderão ser regularizadas, à exceção daquelas que envolvam contratos enquadrados

nos planos de reajustamento definidos pela Lei n. 8.692/93.

2. A Lei n. 8.004/90 foi editada para disciplinar as transferências de financiamento firmando

sob a égide do SFH, e, assim, não se revela coerente a inexigibilidade da anuência do agente financeiro

na relação negocial firmada entre as partes, dispensando-se a qualificação do cessionário segundo os

critérios legais que regem o SFH que, a rigor, são exigidos do mutuário originário.

3. O cessionário não tem legitimidade ativa para pleitear, em juízo, a transferência

compulsória da titularidade do contrato de financiamento do imóvel firmando entre o agente financeiro

e o mutuário originário.

4. Recurso especial provido.

(REsp 1102757/CE, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em

24/11/2009, DJe 09/12/2009)

PROCESSUAL CIVIL. SFH. IMÓVEL FINANCIADO. CESSÃO. LEGITIMIDADE ATIVA DO CESSIONÁRIO.

RECURSO ESPECIAL. RAZÕES QUE NÃO INFIRMAM FUNDAMENTO CAPAZ, POR SI SÓ, DE MANTER O

ACÓRDÃO RECORRIDO. APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DA SÚMULA N. 283/STF. DIVERGÊNCIA

JURISPRUDENCIAL. SÚMULA 83/STJ.

1. In casu, o recorrente não combateu efetivamente fundamento do Tribunal a quo

suficiente para manter o entendimento consignado, qual seja, de anuência tácita do credor hipotecário

com o negócio jurídico entabulado entre o mutuário originário do SFH e o cessionário do chamado

"contrato de gaveta", sendo aplicável, por analogia, a súmula nº 283/STF, verbis: "É inadmissível o

recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o

recurso não abrange todos eles".

2. No tocante à divergência jurisprudencial, o aresto combatido não merece reparo, uma vez

que se encontra em consonância com cristalizada jurisprudência desta Corte Superior, no sentido de que,

com o advento da Lei 10.150/20002, o cessionário possui legitimidade para discutir e demandar em juízo

questões pertinentes às obrigações assumidas no contrato de mútuo, firmado no âmbito do Sistema

Financeiro da Habitação - SFH, pelo mutuário originário. Incidência da súmula nº 83 do STJ.

3. Recurso especial não conhecido.

(REsp 653.415/SC, Rel. MIN. CARLOS FERNANDO MATHIAS (JUIZ CONVOCADO DO TRF 1ª

REGIÃO), SEGUNDA TURMA, julgado em 08/04/2008, DJe 02/05/2008)

2 Art. 20. As transferências no âmbito do SFH, à exceção daquelas que envolvam

contratos enquadrados nos planos de reajustamento definidos pela Lei no 8.692, de 28 de

julho de 1993, que tenham sido celebradas entre o mutuário e o adquirente até 25 de

outubro de 1996, sem a interveniência da instituição financiadora, poderão ser regularizadas nos termos desta Lei.

Parágrafo único. A condição de cessionário poderá ser comprovada junto à instituição

financiadora, por intermédio de documentos formalizados junto a Cartórios de Registro de

Imóveis, Títulos e Documentos, ou de Notas, onde se caracterize que a transferência do imóvel foi realizada até 25 de outubro de 1996.

ADMINISTRATIVO. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. FCVS. CESSÃO DE OBRIGAÇÕES E DIREITOS.

"CONTRATO DE GAVETA". TRANSFERÊNCIA DE FINANCIAMENTO. NECESSIDADE DE CONCORDÂNCIA DA

INSTITUIÇÃO FINANCEIRA MUTUANTE. LEI Nº 10.150, DE 2000 (ART. 20).

1. A cessão de mútuo hipotecário carece da anuência da instituição financeira mutuante, mediante

comprovação de que o cessionário atende aos requisitos estabelecidos pelo Sistema Financeiro de

Habitação-SFH. Precedente da Corte Especial: REsp 783389/RO, Rel.

Ministro ARI PARGENDLER, CORTE ESPECIAL, julgado em 21/05/2008, DJ de 30/10/2008.

2. Consectariamente, o cessionário de mútuo habitacional, cuja transferência se deu sem a

intervenção do agente financeiro, não possui legitimidade ad causam para demandar em juízo

questões pertinentes às obrigações assumidas no contrato ab origine.

3. Ressalva do ponto de vista do Relator no sentido de que, a despeito de a jurisprudência da Corte

Especial entender pela necessidade de anuência da instituição financeira mutuante, como

condição para a substituição do mutuário, a hipótese sub judice envolve aspectos sociais que

devem ser considerados.

4. A Lei n.º 8.004/90 estabelece como requisito para a alienação a interveniência do credor

hipotecário e a assunção, pelo novo adquirente, do saldo devedor existente na data da venda.

5. A Lei n.º 10.150/2000, por seu turno, prevê a possibilidade de regularização das transferências

efetuadas sem a anuência da instituição financeira até 25/10/96, à exceção daquelas que

envolvam contratos enquadrados nos planos de reajustamento definidos pela Lei n.º 8.692/93, o

que revela a intenção do legislador de possibilitar a regularização dos cognominados “contratos de

gaveta”, originários da celeridade do comércio imobiliário e da negativa do agente financeiro em

aceitar transferências de titularidade do mútuo sem renegociar o saldo devedor.

6. Deveras, consoante cediço, o princípio pacta sunt servanda, a força obrigatória dos contratos,

porquanto sustentáculo do postulado da segurança jurídica, é princípio mitigado, posto sua

aplicação prática estar condicionada a outros fatores, como, por v.g., a função social, as regras que

beneficiam o aderente nos contratos de adesão e a onerosidade excessiva.

7. O Código Civil de 1916, de feição individualista, privilegiava a autonomia da vontade e o

princípio da força obrigatória dos vínculos. Por seu turno, o Código Civil de 2002 inverteu os

valores e sobrepõe o social em face do individual. Dessa sorte, por força do Código de 1916,

prevalecia o elemento subjetivo, o que obrigava o juiz a identificar a intenção das partes para

interpretar o contrato. Hodiernamente, prevalece na interpretação o elemento objetivo, vale

dizer, o contrato deve ser interpretado segundo os padrões socialmente reconhecíveis para aquela

modalidade de negócio.

8. Sob esse enfoque, o art. 1.475 do diploma civil vigente considera nula a cláusula que veda a

alienação do imóvel hipotecado, admitindo, entretanto, que a referida transmissão importe no

vencimento antecipado da dívida. Dispensa-se, assim, a anuência do credor para alienação do

imóvel hipotecado em enunciação explícita de um princípio fundamental dos direitos reais.

9. Deveras, jamais houve vedação de alienação do imóvel hipotecado, ou gravado com qualquer

outra garantia real, porquanto função da seqüela. O titular do direito real tem o direito de seguir o

imóvel em poder de quem quer que o detenha, podendo excuti-lo mesmo que tenha sido

transferido para o patrimônio de outrem distinto da pessoa do devedor.

10. Dessarte, referida regra não alcança as hipotecas vinculadas ao Sistema Financeiro da

Habitação – SFH, posto que para esse fim há lei especial – Lei n° 8.004/90 –, a qual não veda a

alienação, mas apenas estabelece como requisito a interveniência do credor hipotecário e a

assunção, pelo novo adquirente, do saldo devedor existente na data da venda, em sintonia com a

regra do art. 303, do Código Civil de 2002.

11. Com efeito, associada à questão da dispensa de anuência do credor hipotecário está a

notificação dirigida ao credor, relativamente à alienação do imóvel hipotecado e à assunção da

respectiva dívida pelo novo titular do imóvel. A matéria está regulada nos arts. 299 a 303 do Novel

Código Civil – da assunção de dívida –, dispondo o art. 303 que "o adquirente do imóvel

hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não

impugnar em 30 (trinta) dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento." 12.

Ad argumentandum tantum, a Lei n.º 10.150/2000 permite a regularização da transferência do

imóvel, além de a aceitação dos pagamentos por parte da Caixa Econômica Federal revelar

verdadeira aceitação tácita. Precedentes do STJ: EDcl no Resp 573.059 /RS e REsp 189.350 - SP, DJ

de 14.10.2002.

13. Agravo Regimental desprovido.

(AgRg no REsp 838.127/DF, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/02/2009,

DJe 30/03/2009)

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL. SISTEMA FINANCEIRO DE

HABITAÇÃO. "CONTRATO DE GAVETA". CESSIONÁRIO. ILEGITIMIDADE ATIVA.

1. A Corte Especial do STJ, por ocasião do julgamento do REsp n.

783.389/RO, Rel. Min. Ari Pargendler (DJe 30.10.2008), firmou entendimento no sentido de

que "a cessão do mútuo hipotecário não pode se dar contra a vontade do agente financeiro;

a concordância deste depende de requerimento instruído pela prova de que o cessionário

atende as exigências do Sistema Financeiro da Habitação".

2. Portanto, a cessão do mútuo realizada anteriormente a 25.10.1996 não é vedada, mas

condicionada à demonstração de que o novo cessionário preenche os requisitos

estabelecidos para a formalização do contrato, na forma do art. 20 da Lei n. 10.150/200, o

que não ocorreu no caso, conforme consignado pelo Tribunal de origem.

3. Agravo regimental não provido.

(AgRg no REsp 951.283/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,

julgado em 03/09/2009, DJe 21/09/2009)

Competência. Conflito. Cessão de contrato. Cessionária: Caixa Econômica Federal. Intervenção. Fase

Recursal. Assistência. Justiça Estadual X Justiça Federal.

- A cessão de direitos e ações pelo Banco Meridional do Brasil à Caixa Econômica Federal, com a

conseqüente intervenção desta, na qualidade de assistente, em embargos à execução, após a

prolação da sentença, mas antes do julgamento da apelação, desloca a competência para a Justiça

Federal.

- A Justiça Federal é competente para apreciar o pedido de assistência formulado pela entidade

federal e, caso admita a intervenção, poderá julgar o mérito do recurso.

- Do contrário, inadmitida a Caixa Econômica como assistente, será competente, para o

julgamento daquele recurso, a Justiça Estadual.

(CC 35.929/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 23.10.2002, DJ

06.10.2003 p. 200)

Cessão de contrato de arrendamento mercantil. Direitos e obrigações que lhe são anteriores. Cessionário

que pleiteia a revisão do contrato. Abrangência das prestações anteriores adimplidas pelo cedente.

Legitimidade do cessionário reconhecida. Recurso provido.

- A celebração entre as partes de cessão de posição contratual, que englobou créditos e débitos,

com participação da arrendadora, da anterior arrendatária e de sua sucessora no contrato, é lícita,

pois o ordenamento jurídico não coíbe a cessão de contrato que pode englobar ou não todos os

direitos e obrigações pretéritos, presentes ou futuros, inclusive eventual saldo credor

remanescente da totalidade de operações entre as partes envolvidas.

- A cessão de direitos e obrigações oriundos de contrato, bem como os referentes a fundo de

resgate de valor residual, e seus respectivos aditamentos, implica a transferência de um complexo

de direitos, de deveres, débitos e créditos, motivo pelo qual se confere legitimidade ao cessionário

de contrato (cessão de posição contratual) para discutir a validade de cláusulas contratuais com

reflexo, inclusive, em prestações pretéritas já extintas.

- A extinção do dever de pagamento da prestação mensal não se confunde com a possibilidade de

revisão das cláusulas contratuais, pois esta decorre do direito de acesso ao Poder Judiciário e

habilita a parte interessada a requerer o pagamento de diferenças pecuniárias incluídas

indevidamente nas prestações anteriores à cessão contratual, pois foram cedidos não só os

débitos pendentes como todos os créditos que viessem a ser apurados posteriormente.

(REsp 356.383/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05.02.2002, DJ

06.05.2002 p. 289)

Fiquem com Deus, meus amigos do coração! Pablo

C.D.S. 2014.1