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10 livros essenciais da literatura brasileira Bruno Fernandes dos Santos Número 10 1EMA

10 livros essenciais da literatura brasileira

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10 livros essenciais

da literatura

brasileira

Bruno Fernandes dos Santos

Número 10

1EMA

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O Quinze, de Rachel de Queiroz Publicado em 1930, o romance O Quinze, de Rachel de Queiroz, renovou a ficção

regionalista. Possui cenas e episódios característicos da região, com a procissão de

pedir chuva, são traços descritivos da condição do retirante. O sentido reivindicatório,

entretanto não traz soluções prontas, preferindo apontar os males da região através de

observação narrativa.

Em O Quinze, primeiro e mais popular romance de Rachel de Queiroz, a autora

exprime intensa preocupação social, apoiada, contudo, na análise psicológica das

personagens, especialmente o homem nordestino, sob pressão de forças atávicas que

o impelem à aceitação fatalista do destino. Há uma tomada de posição temática da

seca, do coronelismo e dos impulsos passionais, em que o psicológico se harmoniza

com o social.

A obra apresenta a seca do nordeste e a fome como conseqüência, não trazendo ou

tentando dar uma lição, mas como imagem da vida.

Não percebe-se uma total separação entre ricos e pobres, e esta fusão é feita através

da personagem Conceição que pertence realmente aos dois mundos. Evitando assim

o perigo dos romances sociais na divisão entre "bons pobres" e "maus ricos", não

condicionando inocentes ou culpados.

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Lavoura Arcaica Um Copo de Cólera, de Raduan

Nassar

Raduan Nassar lançou este seu livro, o segundo de sua minguada

produção, em 1978. O Brasil ainda vivia sob a ditadura militar. Contudo, não há quase

nada nele, no plano ostensivo, sobre as condições político-sociais que o país vivia

naqueles anos. O tema desta densa e quase alucinada novela é o embate que se

trava entre um casal de amantes, suscitado por uma razão banal. Sob esse plano

simples, porém, jaz uma condensação quase infinita de significados, que, enfeixados

por uma prosa extremamente apurada, tornam essa obra uma das ficções mais

complexas e intrigantes surgidas na segunda metade do século 20.

A história está dividida em sete partes: A Chegada, Na Cama, O Levantar, O Banho, O

Café da Manhã, O Esporro, A Chegada. Conforme se vê, a última seção retoma a

primeira, como que fechando um ciclo, mas sob perspectiva diferente. Enquanto no

início o personagem masculino chega à sua chácara e encontra a namorada à sua

espera, no final é a mulher quem surge na casa do amante, e topa com ele dormindo.

Entre esses dois momentos, eles se amam e, pela manhã, lançam-se à briga feroz. O

motivo parece despropositado. O homem irrita-se com as formigas que estão

destruindo sua cerca viva e passa a atacar o formigueiro. A namorada ironiza a

operação e ele se volta contra ela. A guerra verbal ocorre num crescendo de

agressividade.

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O Ateneu, de Raul de Pompéia

A história é narrada pelo personagem principal, Sérgio, já adulto, em primeira pessoa e de

forma não linear. O livro inicia-se com os primeiros contatos de Sérgio com o Ateneu, colégio

interno no qual o seu pai o matricula, ainda mesmo antes de ser admitido para matrícula pelo

rígido diretor do estabelecimento, Aristarco. A entrada de Sérgio no Ateneu representa, para o

próprio, a passagem para a idade adulta, por conta de seu afastamento dos pais, sobretudo

dos carinhos e da proteção materna. Antes disso, cursara apenas algumas aulas num

externato familiar e tivera aulas com um preceptor.

O Ateneu era uma instituição de ensino para filhos de famílias abastadas, ainda que admitisse

alguns alunos pelas vias da caridade. Por isso, seus educandos representavam "a fina flor da

mocidade brasileira", recebendo alunos de diversos estados brasileiros que eram enviados à

corte e ao estabelecimento de Aristarco por conta da fama do pedagogo e dos livros que este

enviava a todos os cantos do país à guisa de propaganda de sua instituição. Localizava-se no

bairro do Rio Comprido, que teve sua urbanização iniciada em 1812 e já no século

XIX recebeuuma pequena leva de imigrantes ingleses, depois de ter sido usada como área de

cultivo da cana-de-açúcar (século XVII) e do café (século XVIII e século XIX).

Rubem Braga: 200 Crônicas Escolhidas

O papel de Rubem Braga (1913-1990) para a crônica brasileira está em ter elevado o

gênero ao nível da melhor prosa já produzida em língua portuguesa. Nascido em

Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, e falecido no Rio, dedicou-se durante 62 anos

ao jornalismo, nos quais escreveu mais de 15 mil crônicas. A efemeridade desses textos,

escritos para jornal diário, Rubem Braga superou com o estilo e o tratamento que dava aos

temas escolhidos. A antologia 200 Crônicas Escolhidas (1978) reúne os melhores

exemplos desse trabalho.

Crônicas selecionadas de nove livros de Rubem Braga estão aqui: O Conde e O

Passarinho, Morro do Isolamento, Com a FEB na Itália, Um Pé de Milho, O Homem Rouco,

A Borboleta Amarela, A Cidade e a Roça, Ai de Ti, Copacabana, A Traição das Elegantes.

Há nos próprios títulos dessas obras os indícios do universo do escritor. Homem do interior

do Espírito Santo, ligado à terra - cultivava um jardim e uma horta na cobertura que tinha

em Ipanema, no Rio -, deleitava-se com as coisas mais simples para então escrever. Um

exemplo é a crônica O Conde e o Passarinho, de 1935, em que trata de uma

condecoração que o conde Francisco Matarazzo recebera. Um passarinho, segundo o

Diário de S.Paulo, tomou-lhe pelo bico uma medalha e saiu voando. É o mote para o

"Velho Braga" discorrer sobre as fábricas de Matarazzo, o poder econômico e a natureza.

Não de modo panfletário, mas com o lirismo de quem canta a natureza. Um outro exemplo

é Um Pé de Milho, de 1945, que se abre com este parágrafo: "Os americanos, através do

radar, entraram em contato com a Lua, o que não deixa de ser emocionante. Mas o fato

mais importante da semana aconteceu com o meu pé de milho". O cronista deixa de lado a

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ciência, depois dessa referência rápida e fria, e conta uma pequena história sobre como

nasceu, cresceu e floresceu um pé de milho no seu quintal, "um belo gesto da terra".

Rubem Fonseca: A Coleira do Cão

A partir da união da temática urbana, que aborda a vida sem horizontes da pequena

burguesia carioca e o mundo dos marginais e investigadores de polícia, com uma prosa

enxuta e técnica narrativa que privilegia a ação paralela como a de filmes de suspense,

Rubem Fonseca conseguiu atingir o patamar de escritor respeitado, ao mesmo tempo

saudado pela crítica e adorado pelo público.

Parte dess universo o autor conheceu bem. Formado em direito, este mineiro nascido em

Juiz de Fora em 1925 fez carreira na polícia. Em 1952, começou como comissário do 16o

Distrito Policial de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Ficou pouco tempo nas ruas. Foi, até

ser exonerado em 1958, policial de gabinete, cuidando do serviço de relações públicas. Na

escola de polícia destacou-se em psicologia. Fonseca tinha pendor para pinçar as

tragédias humanas que havia debaixo das definições legais. Foi escolhido, com mais nove

policiais cariocas, para aperfeiçoar-se nos Estados Unidos, entre 1953 e 1954.

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Sérgio Sant'Anna: A senhorita Simpson

A narrativa A Senhorita Simpson, de Sérgio Sant'Anna, foi publicada em 1989. A obra

serviu de inspiração para o cineasta Bruno Barreto produzir "Bossa Nova", filme

lançado em 2000.

O assunto deste conto envolve o choque de valores que se dá entre a puritana

protagonista, que parece ter saído das páginas do romancista americano Henry

James, e a burguesia carioca com quem convive nas aulas de inglês que ministra em

Copacabana.

Em A Senhorita Simpson o ponto de partida é um cursinho de inglês, o Piccadilly, que

serve como motivo principal para a narrativa. As inter-relações vitais para o enredo

vão surgindo como decorrência dos encontros noturnos para as aulas, tendo como

narrador-protagonista Pedro Paulo Silva, um dos alunos da turma, 29 anos,

funcionário-público no Tribunal de Justiça, separado da mulher, um casal de filhos,

habitando sozinho um pequeno apartamento na Prado Júnior e profundamente

envolvido com uma dependência por Valium, como soporífero, e por mulheres, como

carência de afeto. De certa forma sugerindo em tom de paródia o tipo romântico: a

crise existêncial, uma espécie de obsessão pelo encontro intermeada por um ligeiro

temor, a fuga das responsabilidades 'morais' e a fragilidade das relações não

duradoura.

A narrativa sugere um pequeno espaço brasileiro, essencialmente urbano: a zona sul

da cidade do Rio de Janeiro, Copacabana, a classe-média, o inglês como língua de

mercado e da moda, a mulher no trabalho, a separação conjugal, o misticismo oriental

e a utopia da trilha pela Bolívia e Peru rumo a Cuzco e Machu-Pichu (roteiro seguido

por tantos jovens da época). Tudo isto trabalhado com muita ironia e consciência

crítica sobre o ato de narrar, por parte de um autor que certamente esteve no contexto,

olhando desconfiado para alguns modelos, apreciando o sabor e a possibilidade do

encontro e parecendo ter nunca se submetido ao vício.

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Stanislaw Ponte Preta: Febeapá

Foi com Febeapá — Festival de Besteiras que Assola o País (1966), volume

dedicado aos abusos cometidos no país sob inspiração da ideologia da

Redentora, apelido do golpe militar de 1964, que ele alcançou seu grande

sucesso. O autor afirmava ser difícil precisar o dia em que as besteiras

começaram a assolar o Brasil, mas disse ter notado um alastramento desse

fenômeno depois que uma inspetora de ensino do interior de São Paulo, ao

saber que o filho tirara zero numa prova de matemática (embora sabendo que

o menino tratava-se de um debilóide), não vacilara em apontar o professor às

autoridades como perigoso agente comunista. Outro exemplo, pela pena do

autor: "Quando se desenhou a perspectiva de uma seca no interior cearense,

as autoridades dirigiram uma circular aos prefeitos, solicitando informações

sobre a situação local depois da passagem do equinócio. Um prefeito enviou a

seguinte resposta à circular: 'Doutor Equinócio ainda não passou por aqui. Se

chegar será recebido como amigo, com foguetes, passeata e festas’ ". Era

mestre das comparações enfáticas, como "mais inchada do que cabeça de

botafoguense", "mais feia do que mudança de pobre".

Devido ao enorme sucesso alcançado pelo livro, Stanislaw lançou em 1967 um

segundo volume, o que, de acordo com a professora Maria Célia Rua de

Almeida Paulillo, "atesta a perseverança de tão nefasto festival em nosso país”.

Tomás Antônio Gonzaga: Marília de Dirceu

Cartas Chilenas

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Cartas Chilenas é um conjunto de poemas, escritos em versos decassílabos e

brancos, com uma metrificação parecida com a da epopéia, e circularam

anonimamente em Vila Rica, entre 1787 e 1788, seus versos assumem um tom

satírico.

É uma obra satírica, constituindo poema truncado e inacabado (13 cartas), na qual um

morador de Vila Rica ataca a corrupção do Governador Luís da Cunha Menezes.

Aponta as irregularidades de seu governo, configurando o ambiente de Vila Rica ao

tempo da preparação política da Inconfidência Mineira. Em julho deste ano de 1878,

Cunha Menezes deixaria o governo de Minas, em favor do Visconde de Barbacena.

Onde se deveria ler Portugal, Lisboa, Coimbra, Minas e Vila Rica, lê-se Espanha,

Madrid, Salamanca, Chile e Santiago. Os nomes aparecem quase sempre

deformados: Menezes é Minésio. Há apelidos e topônimos inalterados, como: Macedo,

a ermida do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, a igreja do Pilar. O autor se dá o nome

de Critilo e chama o destinatário de Doroteu. Finalmente, os fatos aludidos são

facilmente identificados pelos leitores contemporâneos.

A matéria é toda referente à tirania e ao abuso de poder do Governador Fanfarrão

Minésio, versando a sua falta de decoro, venalidade, prepotência e, sobretudo,

desrespeito à lei. Afirmam alguns que o poema circulava largamente em Vila Rica em

cópias manuscritas.

Critilo (Tomás Antônio Gonzaga) aplica-se de tal modo na sátira, que a beleza mal o

preocupa. Os versos brancos concentram-se no ataque. Sente-se um poeta capaz de

escrever no tom familiar que caracteriza o realismo dos neoclássicos, com certa

inclinação para a pintura da vida doméstica.

Para Critilo, o arbitrário Governador constituía, de certo modo, atentado ao equilíbrio

natural da sociedade.

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Vinícius de Moraes: Nova Antologia

Poética

A antiga Antologia poética de Vinicius de Moraes data de 1954. Foi organizada pelo

próprio autor (com a ajuda de amigos, principalmente Manuel Bandeira), que a

atualizou em 1967, mantendo sua estrutura.

Esta Nova antologia poética vem assinada pelos poetas Antonio Cicero e Eucanaã

Ferraz, e foi lançada originalmente em 2003. Os organizadores reviram conceitos,

refizeram a estrutura e montaram uma seleção criteriosa, lançando um olhar renovado

sobre a obra viniciana.

Tanto a crítica especializada quanto o público reconheceram de imediato que na nova

antologia a poesia de Vinicius de Moraes mostra-se mais livre, mais moderna, mais

densa e, simultaneamente, mais leve. O volume foi um sucesso imediato, e logo

passou a ser editado também na Companhia de Bolso.

Ele passa a fazer parte, agora, do novo projeto editorial das obras de Vinicius de

Moraes, e traz, entre outras novidades, um belo caderno de imagens com diversas

fotos inéditas, reprodução de manuscritos e documentos raros. Fechando o volume, o

leitor encontrará uma seleção de textos críticos, entre eles a orelha da

"velha" Antologia poética, assinada por Rubem Braga, seguindo-se uma cronologia da

vida e da obra deste que é um dos maiores poetas brasileiros do século XX.

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Visconde de Taunay: Inocência

Sertão de Santana do Paranaíba, 1860. Pereira ( Martinho dos Santos Pereira ) vive na

fazenda com Inocência, sua filha de 18 anos. Seu pai exige-lhe obediência total, num

regime antigo e educada longe do mundo. Escolhe para ela o noivo, Manecão, um homem

criado no sertão bruto, de índole violenta.

Maria Conga é uma preta, escrava de Pereira. Tico é o guarda da moça Inocência,

bastante fiel apesar de ser mudo. Um dia, Pereira encontrou-se com um rapaz que

percorria os caminhos do sertão a medicar. Havia feitos estudos no colégio do Caraça e

iniciado Farmácia em Ouro Preto. Chamavam-no de "doutor", título que não

menosprezava. Seu nome era Cirino Ferreira dos Santos ( Dr. Cirino ).

Inocência estava doente de "uma febre braba" e o "doutor" curou-a . Os dois apaixonaram-

se mais tarde: eram demasiados os cuidados que o "doutor" tinha para com ela. Amavam-

se às escondidas e o laranjal era local de encontros proibidos. Pensavam que ninguém

poderiam desconfiar... mas Tico, o anãozinho mudo, estava atento... Nesse ínterim,

Pereira andava é desconfiado do Dr. Meyer, um caçador de borboletas, que por lá

aparecera!

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Desconfiava a tal ponto que o ilustre entomólogo passou a ser "persona non grata". Dr.

Meyer tinha por objetivo descobrir espécimes novos para museus europeus. Respeitava

com muito carinho e muita atenção a bonita Inocência. José Pinho (Juque), ajudante de

Dr. Meyer, explicava a função de seu patrão: procurar insetos. E isso durante quase dois

anos...

Garcia, leproso, aparece na fazenda do Sr. Pereira. Quer falar com Dr. Cirino. O "médico"

diz-lhe que a doença e incurável e contagiosa.

Inocência foi maltratada pelo pai, quando este soube de seu amor com o doutor. Foi

atirada contra a parede. Resistiu e jurou não se casar com Manecão, o sertanejo violento.

Mas o pai – Sr. Pereira – achou que a filha estava de "mau olhado", por causa do Dr.

Meyer.

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E encontrou uma solução: ele ou Manecão mataria o intruso alemão. Dr. Meyer não deu

ouvidos a Pereira, zombado de sua ameaça. Tomou-se de vergonha: era ofensa demais.

Tico, após testemunhar o amor existente entre Inocência e Cirino, explicou ao Sr. Pereira

tudo que se passava...

Manecão começou a seguir os passos de Cirino. Até um dia interpelou-o . Tirou uma

garrucha da cintura e... Cirino caiu por terra, pedindo água e sussurrando o nome de

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Inocência. Agonizante, exigia do mineiro Antônio Cesário que não deixasse Inocência

casar-se com Manecão...

Dr. Guilherme Tembel Meyer, em 1863, apresentava aos entomólogos do mundo a sua

mais recente descoberta: uma borboleta até então desconhecida: "PapilioInnocentia:" em

homenagem à Inocência, a moça do sertão de Santana do Paranaíba, da Parte sul oriental

do Mato Grosso.

Inocência, coitadinha...

Exatamente nesse dia dois anos faria que seu gentil corpo fora entregue à terra, no

intenso sertão de Santana do Parnaíba, para dormir o sono da eternidade...