O que aconteceu na Primavera de 2005 no Programa de Conservação Ex-situ de Lince-ibérico foi uma importante aprendizagem dos três pontos que, na minha opinião, são os essenciais no

processo de conservação da espécie: inspiração, transparência e perseverança profissional.

Fiquei, obviamente, inspirada ao receber a noticia do nascimento das três primeiras crias em Ace-buche. Era um momento aguardado desde a década de noventa e o empenhado trabalho de equipa estava a dar frutos. O plano de reprodução em cativeiro tinha constituido um apoio científico robusto e esse, sem dúvida, era o caminho para o sucesso. Portugal, sem populações reprodutoras, deposi-tava todas as esperanças neste arranque. O plano de acção portugués não estava ainda, à data, aprovado. Pareceu-me que a visibilidade das novas crias (que teve em todos os meios de comunicação!) poderia despoletar o apoio po-lítico que aguardavá-mos desde a primeira proposta técnica do pla-no, em 1998. De facto, o Plano de Acção para a Conservação do Lince em Portugal saiu em Despacho legal em 2008.

Trocaram-se, naqueles días de 2005, várias mensagens de felicitações. O grupo de reprodu-ção em cativeiro teve, desde o início, um funcionamento de grande comunicação e total transparência por parte da sua coordenação. Tal facto foi um exemplo de

perseverança

10 yearsof the first litter born in the ex-situ conservation programme

-28th of March 2015-

Iberian Lynx

What did they feel? What did they think? What did they do?. We asked a group of people related with the conservation of the Iberian lynx, about their personal experiences that 28th of March 2005. How do they evaluate the last ten years?. And the future of the species? What do we still need to overcome?

Iberian Lynx Ex-situ Conservation Programme

como deveriam funcionar todas as vertentes da conservação da espécie. Dado o franco diálogo rápidamente se soube da perda das duas crias pouco tempo depois. Essa constrangedora noticia foi, para mim, a evidência comprovada de que a conservação desta espécie (como outros preda-

dores de topo) tem grandes dificuldades e muitos maus momentos a assumir. Ultrapassar desânimos e aprender com infortúnios foi uma exigência que have-ria de repetir-se, em Portugal, já depois de 2005. Foi o caso de quando nasceu a primeira cria em cativeiro, em Silves, mas que depois não sobreviveu. Foi o caso da ameaça a dezenas de animais em cativeiro pela doença crónica renal. E aconteceu há cerca de um mês, neste ano de 2015, quando após as primeiras libertações de linces no Guadiana, mor-reu a primeira fêmea envenenada.

Com estes eventos sombrios há que partilhar e aprender. Exige de todos os envolvidos perseverança – uma certeza de que os projec-tos de conservação exigem aquisição permanente de conhecimento e decisões criativas, abertas a uma gestão adaptativa.

Estes dez anos de programa foram mui-to positivos. Conse-guiu-se ultrapassar as expectativas, criar animais aptos à rein-trodução que já se ini-ciou em varios pontos da Ibéria. Vejo com optimismo o futuro global da espécie. A sua conservação é hoje um assunto de todos, os linces continuam a inspirar as pessoas. O maior desafio será en-volver muito mais as populações locais nos territórios onde a es-pécie ocorrerá. Criar uma dinámica participativa em que beneficios e responsabilidades sejam partilhadas por administrações e cidadãos.

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