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    Espionagem ... de Estado?

    Um paradoxo chamado Operaes de Inteligncia

    Devaar moosh darad,

    Moosh goosh darad.Antigo provrbio persa1

    Considerada a segunda profisso mais antiga da humanidade,

    no entanto, consideraes parte, em minha opinio, aidealizadora da primeira profisso, na verdade, criou aprostituio como estria-cobertura para obter informaessecretas... uma hiptese, por que no?A prpria Bblia relata a histria de uma meretriz chamadaRaabe, a qual ocultou em sua casa dois espies hebreus,J oshua e Kaleb, auxiliando para que estes buscasseminformaes sobre o poderio militar da cidade de J eric, antesda invaso daquela cidade.Informaes privilegiadas sobre os inimigos somente poderiam

    vir de uma fonte, espies, e to somente por eles. Oconhecimento das condies do inimigo somente poderia virde pessoas empregadas sigilosamente para essa funo,homens e mulheres cobertos pelo manto do sigilo em suasaes, valorosos portadores do dom da argcia, impregnadospela vontade, motivados por inmeras razes, tais comodinheiro, poder, obteno de favores, traio, chantagem, oupela simples aventura, satisfazendo o seu ego de participar emoculto das manipulaes e articulaes dadas ao destino dahumanidade.At onde se sabe o tratado mais antigo sobre o uso de espies

    em combate a Arte da Guerra, atribuda ao general chinsSun Tzu, escrito por volta do sc. VI a.C.A histria da humanidade repleta de relatos sobre o uso daespionagem como forma de obteno de informaes valiosasque seus adversrios no estavam dispostos a compartilhar,de forma que sua aquisio deveria ser levada a efeito dequalquer forma, no importasse o qual, mas que se obtivessemas informaes requeridas.

    1 As paredes tm ratos e os ratos tm ouvidos, provrbio persa que com opassar dos sculos nebulosos de sangue derramado e traio,conspiradores ou inocentes, vtimas de perseguies na Rssia resumiamessa sbia advertncia em As paredes tm ouvidos, segundo Cel. AllisonHind, em Histria da Espionagem, Rio de J aneiro: Edies Bloch, 1967. pg.53.

    Com o passar do tempo, osgovernantes instituram serviosespecializados na busca deinformaes sigilosas de seusadversrios ou concorrentes. ParaHind (1967, pg. 22) todo umaparelhamento de servio secreto,que atua quase s claras, ergue-secomo uma pirmide invertida, sobre

    o nico funcionrio que agesecretamente.Essa uma aluso realidade dosservios secretos. Na atualidade,quando se fala em Servios deInteligncia, no conceito popular, aprimeira imagem que surge mente J ames Bond. Devido aos filmes,romances e noticirios jornalsticoscobrindo os infortnios e mazelas deaes falhas dos servios secretos,

    a Atividade de Inteligncia depronto associada espionagem,assassinatos, roubo de informaes,grampos telefnicos, traies echantagens.

    Por Fbio Fonseca de Araujo

    Artigo publicado para a Revista Inteligncia Operacional

    Disponvel em http://www.inteligenciaoperacional.com

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    A realidade bem outra: JamesBond a anttese doverdadeiro espio! O verdadeiroespio aquele de quem nuncaouviremos falar, pois ele noexiste para o mundo exterior,existe apenas em relatriossigilosos na Agncia para a qualtrabalhou. Segundo Copeland(1976, pg. 125), os ingleses queconheceram Ian Flemingsustentam que o autor criou suasestrias baseados em um certoJ ames Boone. Este era uminspetor administrativo doMinistrio do Exterior. Suamisso era apenas a verificaodo inventrio dos materiais

    existentes nas missesdiplomticas inglesas na frica eOriente Mdio. Boone alegavapara suas inmeras namoradasque sua funo ostensiva erauma cobertura para um trabalhomais srio.Segundo os relatos de Copeland,Boone era um sujeito corpulentoe de grande fora fsica,noentanto o crebro era

    praticamente vazio. Estavasempre metido em brigas econfuses nos bares e cabars.Certa feita, Boone desentendeu-se com um bbado quemolestara uma moa, em Teer.Em uma briga, matou o homemcom um nico golpe de karat.No entanto, Boone virou heri danoite para o dia, pois o sujeitoque matara era um famosocontrabandista de herona,procurado pela polcia de cincopases. Assim, Boone passou aviver uma existncia de dolopopular, semiconvencido de quesuas fanfarronices inventadaseram a verdadeira realidade.J ames Bond alardeia para todosos ventos o seu jargo: Meunome Bond, J ames Bond...

    Servio Secreto Britnico!.Destri tudo em sua volta, mataprimeiro, pergunta depois.Estrias ficcionais semelhantes aessas veiculadas pela mdia

    que formam o pensamento e acultura popular de que os servios

    secretos ou de Inteligncia tm anica funo de trabalhar comespionagem e que tais missesso semelhantes s empreendidaspelo personagem J ames Bond. Ouseja, h uma violenta distoro darealidade.O prprio desconhecimentodoutrinrio causa tremendosembaraos, tais como o empregode certas terminologias. Porexemplo, o termo agente, emconsonncia com a maioria dosServios de Intelignciainternacionais, empregado paradesignar a pessoa que buscar ainformao sigilosa de quem adetm, mas que necessria paraa produo de conhecimentos,sejam tticos ou estratgicos.Normalmente o agente um

    elemento recrutadooperacionalmente, devendo sereportar a um Oficial deInteligncia que atuar como seucontrolador. O agente ir de fatobuscar a informao requerida,atravs de tcnicas operacionais.Embora existam agentesoperacionais orgnicos, ou seja,pertencentes aos Servios deInteligncia, trabalhando

    diretamente na busca de dadosnegados, a doutrina recomendaque o agente operacional norealize infiltraes, tal misso fica aencargo do que chamamos de

    agente especial, que foirecrutado operacionalmente,

    recebeu treinamentoespecializado para a realizaoda busca de dados negados,pode ou no ser remunerado,mas no faz parte da lotaofuncional do Servio deInteligncia que o emprega.

    A Agncia Brasileria deInteligncia (Abin) rgocentral do Sistema Brasileira deInteligncia classifica o termo

    "espionagem" como sendo aobteno ilegal de dados ouconhecimentos, de fato,espionagem crime. 2 Emcontrapartida, o Ministro-chefedo Gabinete de SeguranaInstitucional (GSI), daPresidncia da Repblica,General J orge Armando Flix,confirma que "existem algunsconhecimentos que provmdos chamados dados

    2 Disponvel emhttp://www.abin.gov.br/modules/mastop_publish/?tac=Perguntas_Frequentes, acesso em 05/07/2010.

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    Gen. Jorge Arm ando Flix Minis tro-chefe do Gabinete de Segurana Instituci onal

    negados, aqueles que seus detentores no estodispostos a revelar, que devem ser obtidos de outrasmaneiras: informantes, aquisio e acompanhamento,enfim, pelas tcnicas da chamada 'espionagem',expresso bem de acordo com a mstica daatividade".3(grifo nosso).

    Antunes confirma que o senso comum normalmente associa aAtividade de Inteligncia a espionagem, trapaas echantagens e que essa imagem amplamente incentivadapela literatura ficcional e pela mdia, reforando o que foi dito

    anteriormente. No obstante, a autora explica que o termointelligence 4 um eufemismo anglo-saxo para aespionagem, porm, afirma que a espionagem apenasuma parte do processo de inteligncia, que muito maisamplo.No quotidiano da investigao policial, como, por exemplo,sobre o crime organizado, as boas fontes de informaes, ouinformantes, vulgarmente conhecidos no meio policial pelaalcunha de "X-9", normalmente so aqueles que possuemcerta relao pessoal com os chefes do crime organizado,

    pois seriam as nicas capazes de trazer informaesprivilegiadas, as quais seriam impossveis de conseguir sem aconfiana mtua entre o investigador e o informante.O que aconteceria com o informante se este fosse descobertocomo "alcagete" no meio da organizao criminosa? O quepoderia acontecer com seus familiares? Ser que o sigiloseria primordial e que, por razes bvias de segurana, orelacionamento entre o investigador e sua fonte fosse"secreto"? Este tipo de ao comumente utilizada nasinvestigaes policiais , literalmente, uma tcnica deespionagem, embora por vezes seja realizado

    empiricamente, sem a adoo de padres de procedimentos.

    3 FLIX, J orge Armando. ArtigoAf inal, o que faz a ABIN? Disponvel nosite www.abin.gov.br, acesso em 29 JAN 06.4 ANTUNES, 2002, pg. 21.

    Embora a espionagemseja tida como uma aoilegal e antitica soempregadas asTCNICAS DAESPIONAGEM para aobteno de dadosprivilegiados, e no arealizao em si de atos

    de ilegalidade,principalmente em setratando de um rgogovernamental que tempor misso fazer cumprira lei, para isso existemdispositivos legaisregulamentando edirecionando as aesdos organismos deinvestigao e

    Inteligncia.Interceptaes telefnicas, acesso adados cadastrais, bancrios,gravaes ambientais, infiltrao deagentes de polcia e de intelignciaem organizaes criminosas, com ofim nico de produo de provas e deinformaes podem ser realizadas soba tutela de uma autorizao judicial, e,embora estando autorizado

    judicialmente, no deixam de serespionagem, pois as tcnicasempregadas so as mesmas. Adiferena que a ao de espionagemde Estado deve estar prioritariamentecoberta por uma autorizao judicial.Assim, o emprego de Tcnicas deEspionagem pelos rgos deInteligncia Policial, embora soeestranho, desde quefundamentalmente autorizada por uma

    Autoridade competente, deixa de serilegal. No entanto, veremos queembora se usem as mesmas tcnicaspara a busca de dados negados,Operaes de Inteligncia divergemde espionagem em vrios aspectos. Aconfuso se d justamente pela faltade conhecimento doutrinrio, ampliadapelo conceito ficcional difundido pelamdia.Na continuidade do raciocnio, comrelao ao sigilo das operaes, oGeneral Flix pergunta: "por quetanto segredo?" , respondendo que"muitas das aes de Inteligncias podem ser realizadas sob o

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    manto do sigilo" , a razoapresentada por Flix clara eobjetiva, quando afirma que demodo geral todas as atividades deInteligncia que utilizem fonteshumanas tm uma tendncia aserem tratadas sigilosamente. Eassim deve ser, com o objetivo desalvaguardar e proteger osprofissionais e suas famlias, bemcomo resguardar os eventuaisinformantes de qualquer rejeioprofissional ou social, e em algunscasos, at de sua integridadefsica, onde poder correr atmesmo o risco de ser morto.Clavell reproduz o pensamento dogrande estrategista chins, dosculo VI a.C., General Sun Tzu,

    em seu tratado A Arte da Guerra,escreveu em seu dcimo terceirocaptulo o seguinte:

    (...) O que possibilita ao soberanointeligente e ao bom general atacar,vencer e conquistar coisas alm doalcance de homens comuns apreviso. (...)O conhecimento das disposies doinimigo s pode ser conseguido deoutros homens. (...) as disposiesdo inimigo s so averiguadas por

    espies e apenas por eles.Da o emprego de espies, que sedividem em cinco tipos: (...)Quando esses cinco tipos estoagindo, ningum podedescobrir o sistema secreto.:5(grifo nosso)

    De fato, num sistema deinformaes, sempre havera necessidade de sigilo nasoperaes de obteno de

    informaes privilegiadas. Oprimeiro manual escrito sobreo uso de espies em combate a Arte da Guerra. Sun Tzuressalta apenas aquilo que hmuito tempo vem sendoutilizado para a realizao detal servio, ou seja, o uso deespies (agentes/operadoresde Inteligncia). O fato desalientar que h necessidade

    de sigilo e que ningumpoder descobrir o sistemasecreto, tem a ver com asegurana das operaes, do

    5CLAVELL, 2002, pg. 104-5.

    pessoal empregado e,principalmente, a proteo dasinformaes obtidas.Interessante salientar que otermo espionagem de origemfrancesa, com um significado dealgo em torno de espiar dealgum lugar oculto ou emsecreto. A palavra espionage(do mdio francs) faz aluso aspione (do italiano antigo) elinguisticamente semelhante aospehon (do alto germnicoantigo). O fato filologicamente interessante, pois, emborasemelhantes os termos, osfranceses, italianos e alemestiveram suas razes histricasbem diferentes. As duasprimeiras se originam do latim doImprio Romano, enquanto oterceiro termo vem de origembrbara, dos que cruzaram o RioReno. Etmologicamente ostermos sugerem ligaesclandestinas ou sub-rpticas.6Bastante mal empregado o termopor jornalistas e leigos, ServioSecreto normalmente associado aos Servios de

    Inteligncia como um todo. Naprtica, a realidade um poucodiferente.

    6 LERNER, 2004, pg. 413.

    Segundo Chase Brandon,oficial da Agncia Central deInteligncia (CIA), em umaentrevista dada aodocumentrio Capa e espada Operaes secretas (Cloakand dagger Covert Ops,ttulo original, existente nosmateriais extras que

    acompanham o filme AIdentidade Bourne),

    a CIA composta por quatroreas administrativas bsicas.Trs delas so totalmenteabertas. Quase todas as pessoastrabalham no prdio da CIA. Elastm vida bem normais. A menorparte da CIA, no nosso jargo, o Servio Secreto e onde passeitoda a minha carreira. Nossotrabalho no na sede. No

    vamos ao escritrio todos os dias.Vivemos, trabalhamos epassamos nossa vida inteiraespalhados por todo o planeta,tentando descobrir os planos eintenes das pessoas ms,antes que possam fazer essascoisas e prejudicar os interessesde segurana nacional dos EUAou a vida dos cidados.7 (grifonosso)

    Fregapani, na mesma linha deraciocnio, afirma que aobteno das informaesprotegidas ou simplesmentenegadas a misso de todoo servio secreto, e a vigamestra de toda a estrutura oESPIO (sic)8(grifo nosso)A maioria dos pases, leia-seServios de Inteligncia,negam realizaremespionagem, no entanto,

    afirmam que fazem contra-espionagem. Por que ser? Aresposta mais bvia esta:porque espionagem crime!No entanto, juntando osconceitos apresentados at omomento, se Operaes deIngeligncia so aesespecializadas para a buscade dados negados, utilizando-se das tcnicas da chamadaespionagem e que o agente,

    7 Material extra in A IdentidadeBourne. Universal Studios, EUA,2002.8 FREGAPANI, 2001, pg. 59.

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    seja operacional ou especial, queatua propriamente na busca dessedado negado, pode ser chamadode espio, pois nele e na suamisso resultam toda a estrutura erazo de ser de um ServioSecreto, questionamos:Operaes de Inteligncianecessariamente so

    espionagem?A resposta NO! Vejamos asconsideraes...Conforme mencionado aterior-mente, Antunes afirma que aespionagem apenas uma partedo processo de inteligncia, que muito mais amplo. A espionagemsempre existiu no seio dosServios de Inteligncia, sendo

    realizada pela sua menor e maisimportante parte, o ServioSecreto, e sempre existir.A espionagem uma daspequenas, mas importante,engrenagens da mquina chamadaAtividade de Inteligncia, noentanto ela no representa o todo, apenas uma diminuta parte

    dentro de um complexo sistema de produo de conhecimentosoportunos e necessrios, para assessoramento dosresponsveis pela tomada de deciso em nvel estratgico.Farago9 pontual em diferenciar Inteligncia e espionagem aoafirmar que a

    Espionagem a parte da Inteligncia destinada inspeo sub-reptciadas atividades de pases estrangeiros, para descobrir seu poder emovimentos, e comunicar tais dados s autoridades adequadas. oesforo para desvendar, atravs de mtodos ocultos, os segredos

    alheios. Devido s circunstncias e s dificuldades da espionagem, funo autnoma, porm, em ltima anlise, parte integral do esquemageral da Inteligncia.Como a Inteligncia, a espionagem age em nveis diversos.Diferenciamos espionagem estratgica, na qual a busca sub-reptciacolima fins importantes, da espionagem ttica, objetivo da qual determinado segredo de limitada ou localizada importncia.Alm dessas, h a espionagem poltica e a militar, cujas respectivasdesignaes indicam a natureza da atividade. H tambm a espionagemindustrial atividade largamente desenvolvida, e praticada na guerra ena paz por governos e entidades particulares.

    Farago salienta ainda que

    acima de tudo, existe a diferena entre espionagem positiva a que conduzida agressivamente para obter segredos de pases estrangeiros e espionagem negativa, ou contra-espionagem, cujo fim proteger ossegredos do prprio pas e prender aqueles que tentarem descobri-losem benefcio de uma potncia estrangeira. 10

    O autor comenta ainda que entre os praticantes daespionagem, os operadores da ativa so usualmente grupadossob a designao genrica e algo depreciativa de espies11(grifo nosso).

    9 FARAGO, 1966, pg. 145.10 Idem, pg. 146.11 Ibidem.

    Espio austaco sendo fuzilado na Rssia

    (imagem fonte: http://www.greatwardifferent.com/Great_War/Spies/Tales_of_Spies_01.htm)

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    (Estrutura bsica de uma Rede de Agentes)

    Embora, no decorrer da histria da humanidade, os heris de guerrasforam muitos deles espies, sua funo tida como antitica,criminosa, ilegal sem honra, tanto que aqueles que foram presos,acabaram sendo torturados, mortos por enforcamento, fuzilados,esquartejados, e postos em locais bem visveis para alerta aos demaissobre o seu destino, caso fossem apanhados.Pouco puderam fazer os pases para salvar a vida de seus agentes,alm do que houve inmeros casos que os pases negaram todo equalquer envolvimento com a espionagem descoberta, e sequerconheciam o acusado de espionagem. nesse ponto que reside toda a diferena, as aes de espionagempromovidas pelos Servios de Intelignica so normalmentedesenvolvidas em solo estrangeiro, tanto em pases amigos, quantoinimigos, Embora haja casos da chamada espionagem domstica(executada dentro do prprio pas e contra os prprios cidados), aqual j colocou vrios Servios de Inteligncia em maus lenis.Esta a primeira regra que se aprende em espionagem: nunca sejapego, se for pego est sozinho.Assim, para prosseguir com as argumentaes, questionamos: qual ento a diferena entre um especialista da Inteligncia e um agentede espionagem?

    Farago12 faz essa distino com maestria ao afirmar queO especialista da Inteligncia dedica-se esclusivamente coleta, avaliao, edisseminao de informaes de todos os tipos, -- a maioria delas provindo defontes pblicas e acessveis. Sua funo altamente intelectual, na integraodos dados aparentemente sem conexo. O especialista no se precisa disfarare, embora suas atividades sejam protejidas por considervel sigilo, ele conseguemanter sua identidade verdadeira.O agente de espionagem se dedica exclusivamente obteno de informaessecretas, realizando uma funo que apenas parte quase sempre pequena,

    12 FARAGO, 1966, pg. 148.

    mas importantssima doesforo total da Inteligncia.Ao contrrio do especialistada Inteligncia, ele deveocultar a identidade, a exatanatureza de sua misso esuas linhas de comunicao,atravs de falsa identidade eaplicando absoluto sigilo ssuas atividades.

    Nesse aspecto, pode surgirnovamente o equvoco. Ao ler oconceito de agente deespionagem, com relao sua misso, podemos verificara semelhana entre asOperaes de Inteligncia paraa busca de dados negados(informaes secretas) e asaes de espionagem.Salientamos ento, que as

    Operaes de Inteligncia, paraserem executadas devem serprecedidas de uma autorizaoexpedida pela mais altaautoridade do Servio deInteligncia, em concordnciacom a chefia/direo doSegmento de Operaes deInteligncia, em atendimento aum Plano de OperaesInteligncia, alm do que a

    busca deve considerar osquesitos solicitados em umPlano Nacional de Inteligncia.

    A diferena que arealizao da Operao deInteligncia deverobedecer aos parmetroslegais e ticos, preceituadospela Constituio Federal edemais dispositivos queregulam a Atividade deInteligncia no pas, j aespionagem, emboratambm possa seguir a umplanejamento que dependatambm de autorizaohierrquica para suarealizao, se dar em soloestrangeiro econsequentemente ir feriraos preceitos legais daquele

    pas, alm do fato de que osagentes locais recrutados

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    estaro violando as leis de seu pas em detrimento de fornecerinformaes sigilosas tticas ou estratgicas ao nosso Servio deInteligncia.Com relao a essa questo delicada, Cepik13 afirma que

    A fonte de informao mais antiga e barata consiste nas prprias pessoas quetm acesso aos temas sobre os quais necessrio conhecer. O acrnimo emingls que designa essa disciplina (humint) [human intelligence] umeufemismo tipicamente norte-americano, incorporado ao jargo internacionalporque evita o uso do termo espionagem, muito mais pesado do ponto de vistalegal e poltico. O acrnimo tambm utilizado para indicar que a intelignciaobtida a partir de fontes humanas est longe de resumir-se aos arqutipos daespionagem.

    Embora o uso do termohumint seja mais leve,fatalmente se um informantelocal estrangeiro for pegopassando informaes sigilosasestratgicas, tticas, industriais,tecnolgicas e/ou militares,ser preso por espionagem e

    traio de seu pas, cuja penapode chegar priso perptua,ou at mesmo a morte. Issosem falar que, mesmo havendouma Conveno Internacionalpara os Direitos Humanos, semsombra de dvidas, naclandestinidade, o preso peloato de espionagem poder sersubmetido tortura antes desua execuo.

    Toda essa trama era chamada,no auge da Guerra Fria, de OGrande J ogo.Para Soares14 a Atividade de Inteligncia deve ser pautada em umaTrade, composta pelo sigilo, pela legalidade e pela tica.O grande paradoxo existente, quando se fala em Operaes deInteligncia, est justamente na associao dessas aes s questesilegais, clandestinas, imorais e antiticas.A associao feita normalmente pelo pensamento popular e oconhecimento por vezes deturpado por parte daqueles que deveriam

    realizar o controle da Atividade de Inteligncia no pas, aliado aosrecentes escndalos promovidos por Servios de Inteligncia estatais,fazem com que a realizao da Inteligncia seja ainda equiparada aatos de espionagem, maculando a imagem j desgastada daInteligncia de Estado, abrindo novos questionamentos sobre anecessidade da virtual existncia de Servios de Inteligncia emnosso pas.Golbery do Couto e Silva, mentor do Servio Nacional de Informaes(SNI) chegou a proferir que havia criado um monstro, depois que ele

    13

    CEPIK, 2003, pg. 36.14 SOARES, Andr. Curso Operaes de Inteligncia em Inteligncia de Estado. Ed.do autor. Disponvel emwww.inteligenciaoperacional.comacesso em 05/07/2010.

    prprio, ao se retirar doServio, como erachamado o SNI, passou aser alvo do Estado.Nos dias atuais, pelosresultados veiculados pelamdia jornalstica, sejaescrita ou televisiva,poderamos afirmar que osServios de Intelignciaesto agindo pautados na

    lei, embasados na tica ecobertos pelo manto dosigilo? As aesdesastrosas e depreciativasoriundas de aes malexecutadas pelos Serviosde Inteligncia de Estadono nos remeteria

    novamente a questionar seo monstro ainda est vivoe sem controle?Qual seria o real foco atualdos Servios de Intelignciahoje, cada um em seu setorde atribuio especfico? inadimissvel a existnciade Servios de Intelignciade Estado, seja na esfera

    governamental, policial oumilitar, que atuem por conta

    Exem lo de HUMINT

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    prpria margem da lei, deixando de executar suas funesembasados em uma Doutrina de Inteligncia slida, no entanto,necessariamente cobertos por regulamentaes legais, passando aexecutar aes de espionagem domstica ao invs de Operaes deInteligncia. No possvel admitir que para um bem maior seexecutem aes marginais e clandestinas com o fito da obteno deinformaes secretas necessrias produo de conhecimentostticos ou estratgicos. Para isso existem dispositivos legais, quedevem ser cumpridos dentro da necessidade e no de forma banal.

    Dessa forma, conclui-se que enquanto houver um paradoxo dentro daconceitualizao do termo Operaes de Inteligncia, muito poucose poder progredir em consolidar um Sistema de Inteligncia dignode confiana e credibilidade, pautado no sigilo, na legalidade e natica.

    Referencial e Leituras complementares

    ANTUNES, Priscila Carlos Brando. SNI & ABIN Uma Leitura dos Servios Secretos

    Brasileiros ao Longo do Sculo XX. Rio de J aneiro: Editora FGV, 2002.

    CEPIK, Marco A. C. Espionagem e democracia. Rio de J aneiro: FGV, 2003.

    COPELAND, Miles. O verdadeiro mundo do espio. Braslia: Grfica SNI, 1976.

    CLAVELL, J ames.A arte da guerra. Rio de J aneiro: Record, 2002.

    FARAGO, Ladislas. O mundo da espionagem a verdadeira histria da guerra de

    sabotagem. Rio de J aneiro: Dinal, 1966.

    FLIX, J orge Armando. Afinal, o que faz a ABIN? Artigo disponvel em

    http://www.abin.gov.br/abin/artigo_gen_felix_140805. acesso em 25/11/2005.FREGAPANI, Gelio. Segredos da Espionagem A influncia dos servios secretos nas

    decises estratgicas. Braslia: Thesaurus, 2001.

    HIND, Allison. Histria da espionagem. Traduo de Alexandre Pires, Rio de J aneiro: Bloch,

    1967.

    LARNER, K. Lee; LARNER, Brenda Wilmoth. Enciclopedia of espionage, intelligence and

    security. Vol. 1, EUA: Thompson Gale, 2004.