1080 Politica Externa Brasileira

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    o Poltica

    Externa Brasileira

    POLTICA EXTERNA BRASILEIRADISCURSOS, ARTIGOS E ENTREVISTAS

    (2011-2012)

  • POLTICA EXTERNA BRASILEIRADISCURSOS, ARTIGOS E ENTREVISTAS

    (2011-2012)

    ministrio das relaes exteriores

    Ministro de Estado embaixador luiz alberto Figueiredo machado Secretrio-Geral embaixador eduardo dos santos

    Fundao alexandre de gusmo

    Presidente embaixador Jos Vicente de s Pimentel

    Instituto de Pesquisa de Relaes Internacionais

    Diretor embaixador srgio eduardo moreira lima

    Centro de Histria eDocumentao Diplomtica

    Diretor embaixador maurcio e. Cortes Costa

    Conselho Editorial da Fundao Alexandre de Gusmo

    Presidente embaixador Jos Vicente de s Pimentel

    Membros embaixador ronaldo mota sardenberg embaixador Jorio dauster magalhes embaixador gonalo de Barros Carvalho e mello mouro embaixador Jos Humberto de Brito Cruz ministro lus Felipe silvrio Fortuna Professor Clodoaldo Bueno Professor Francisco Fernando monteoliva doratioto Professor Jos Flvio sombra saraiva

    a Fundao Alexandre de Gusmo, instituda em 1971, uma fundao pblica vinculada ao Ministrio das Relaes Exteriores e tem a finalidade de levar sociedade civil informaes sobre a realidade internacional e sobre aspectos da pauta diplomtica brasileira. sua misso promover a sensibilizao da opinio pblica nacional para os temas de relaes internacionais e para a poltica externa brasileira.

  • Antonio de Aguiar Patriota

    Braslia 2013

    POLTICA EXTERNA BRASILEIRADISCURSOS, ARTIGOS E ENTREVISTAS

    (2011-2012)

  • Direitos de publicao reservados Fundao Alexandre de GusmoMinistrio das Relaes ExterioresEsplanada dos Ministrios, Bloco HAnexo II, Trreo70170-900 Braslia DFTelefones: (61) 2030-6033/6034Fax: (61) 2030-9125Site: www.funag.gov.brE-mail: [email protected]

    Equipe Tcnica:Eliane Miranda PaivaFernanda Antunes SiqueiraGabriela Del Rio de RezendeGuilherme Lucas Rodrigues MonteiroJess Nbrega CardosoVanusa dos Santos Silva

    Projeto Grfico:Daniela Barbosa

    Capa:Embaixador Antonio de Aguiar Patriota em coletiva de imprensa na cidade de Paraty no Rio de Janeiro. Foto de Luiz Roberto Lima.

    Programao Visual e Diagramao:Grfica e Editora Ideal

    P314Patriota, Antonio de Aguiar.

    Poltica externa brasileira: discursos, artigos e entrevistas (2011-2012) / Antonio de Aguiar Patriota. Braslia : FUNAG, 2013.

    509 p. (Coleo poltica externa brasileira)

    ISBN 978-85-7631-460-8

    1. Diplomacia - Brasil. 2. Poltica externa - Brasil - Amrica Latina. 3. Poltica externa - Brasil - frica. 4. Poltica externa - Brasil - sia. 5. Poltica externa - Brasil - Estados Unidos. 6. Poltica externa - Brasil - Europa . 7. Segurana coletiva. 8. Desenvolvimento sustentvel. 9. Poltica econmica internacional. 10. Segurana alimentar. I. Ttulo. II. Srie.

    CDD 327.81

    Bibliotecria responsvel: Ledir dos Santos Pereira, CRB-1/776 Depsito Legal na Fundao Biblioteca Nacional conforme Lei n 10.994, de 14/12/2004.

    Impresso no Brasil 2013

  • ApresentaoO que mudou na atual poltica externa brasileira? Essa uma

    pergunta recorrente e necessria, porquanto lana luz sobre o pa-pel que o Brasil ocupa nas relaes internacionais contemporne-as. relevante tambm, pois permite uma reflexo sobre como os objetivos de poltica externa esto em sintonia com as transforma-es por que passa a sociedade brasileira.

    Este livro, que rene discursos, artigos e entrevistas do Ministro de Estado das Relaes Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, em dois anos de poltica externa, de janeiro de 2011 a dezembro de 2012, sob a orienta o da primeira mulher fren-te do Executivo brasileiro, serve, portanto, a dois propsitos: por um lado, oferece uma resposta indagao sobre a orientao da poltica externa brasileira na primeira metade do Governo Dilma Rousseff; por outro lado, constitui uma maneira de dar publicidade aos atos de gesto da poltica conduzida no mbito do Ministrio das Relaes Exteriores.

    Os textos que compem este volume foram distribudos em cinco sees que procuram compreender os temas prioritrios da agenda de poltica externa brasileira entre 2011 e 2012. A primei-ra subdiviso trata dos princpios que orientam a poltica externa brasileira e de como o Brasil, aliado a outros polos de poder, atua para transformar o sistema de governana global, de modo a con-ferir-lhe maior legitimidade e eficincia. A segunda parte do livro aborda as relaes do Brasil com a Amrica do Sul, a frica, a sia,

  • os Estados Unidos e a Europa. As demais partes deste livro esto divididas em trs eixos temticos: paz e segurana internacionais, desenvolvimento sustentvel e comrcio e economia.

    Poltica Externa de alcance globalNo incio deste sculo, o mundo mudou, e o Brasil mudou com

    ele. Mais importante notar como o Brasil passou a influenciar essas transformaes e formatar os termos dos debates nos princi-pais foros internacionais. Integrando um pequeno grupo de pases, no mais do que quinze, que possui relaes diplomticas com to-dos os Estados reconhecidos pela Organizao das Naes Unidas, alm da Palestina e da Santa S, o Brasil possui hoje uma poltica externa de alcance verdadeiramente global e uma ao diplomtica criativa e com uma viso prpria do mundo.

    A ao diplomtica brasileira zela por aqueles valores espe-cficos que nos definem como sociedade. Comprometido interna-mente com a valorizao da democracia, a promoo e proteo dos direitos humanos e o desenvolvimento sustentvel, o Brasil atua para conformar, em sua ao externa, um sistema multipolar sustentado na cooperao e na legitimidade. O sistema de gover-nana global precisa se democratizar para que a maioria dos pases sinta-se representada e servir de instrumento para o desenvolvi-mento socioeconmico das naes menos privilegiadas. Na viso do Brasil, as relaes internacionais no precisam ser necessaria-mente conflitivas, como querem algumas narrativas sobre a supos-ta natureza da poltica internacional.

    O Brasil tem buscado, dessa maneira, contribuir para a constru-o de consensos polticos e econmicos, bem como reafirmar sua identidade como pas que valoriza o dilogo, a diplomacia preventi-va, o respeito ao direito internacional e a promoo do desenvolvi-mento e da paz. Um sistema multipolar que tenha por fundamento a cooperao dever exigir uma perspectiva ampliada sobre paz e segurana internacionais. por essa razo que o Brasil defende uma

  • poltica abrangente para os problemas de segurana internacional, a partir de um enfoque inclusivo e de uma compreenso ampla da ideia de paz, para que seja duradoura. Paz, segurana e desenvolvi-mento so indissociveis e devem orientar a comunidade interna-cional na meta de estabelecer um ciclo virtuoso de crescimento glo-bal com igualdade social e preservao do meio ambiente.

    Para um pas, como o Brasil, que logrou retirar 36 milhes de pessoas da extrema pobreza e incluir outros tantos brasileiros na classe mdia, no possvel vislumbrar a paz de maneira susten-tvel sem desenvolvimento e justia social. A poltica externa bra-sileira se inspira nessas conquistas da ltima dcada, pois foram elas que capacitaram o Itamaraty a assumir o papel de ator global, a partir de um compromisso inabalvel com seu entorno regional.

    Recortes RegionaisEntre janeiro de 2011 e dezembro de 2012, foram realizadas

    36 visitas pelo Ministro de Estado das Relaes Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, 12 das quais em nvel presidencial, a pases da Amrica do Sul. A frequncia desses encontros de alto nvel revela a prioridade que a poltica externa brasileira atribui Amrica do Sul. A regio destaca-se por representar, hoje, um espao de paz, demo-cracia, cooperao e de crescimento econmico com justia social.

    Credita-se ao processo de democratizao do continente uma das principais razes para a aproximao entre os pases sul-ame-ricanos. O esforo contnuo de construo de confiana, facilita-do pelo amadurecimento das instituies democrticas dos pases sul-americanos, e os vinte anos de experincia bem-sucedida de integrao no mbito do MERCOSUL foram fundamentais para despertar o interesse pela criao e institucionalizao de novos espaos de interlocuo tambm com os demais pases do conti-nente sul-americano, no mbito da UNASUL.

    A adeso da Venezuela ao MERCOSUL contribui para a am-pliao desse projeto de integrao regional. Com a Venezuela,

  • o MERCOSUL estende-se da Terra do Fogo Ilha de Margarita. Traduzido em nmeros, o MERCOSUL compreende uma popu-lao de 275 milhes de habitantes, uma extenso territorial de 12.789.558 km2 e um PIB nominal de 3,32 trilhes de dlares (dados de 2011), o equivalente quinta economia mundial. O propsito que une os pases do MERCOSUL em um esforo de integrao trans-formar esse potencial numrico em bem-estar econmico e social de maneira equitativa e sustentvel. De fato, o processo de integrao, alm de servir de indutor de crescimento econmico, tem, cada vez mais, incorporado duas dimenses importantes, a social e a cidad.

    A incorporao ao MERCOSUL da Venezuela, o incio de ne-gociaes formais para a adeso plena de Bolvia ao bloco e o inte-resse de Suriname e Guiana em associar-se ao processo so passos importantes em direo consolidao de uma rea de livre comr-cio na Amrica do Sul at 2019.

    Com uma populao majoritariamente afrodescendente, o Brasil, em suas relaes com o continente africano, depara-se, em alguns aspectos, com a prpria histria de superao de desafios. O continente africano vive um perodo de significativo desenvolvi-mento socioeconmico e de amadurecimento poltico, no obstan-te os desafios que ainda enfrenta.

    O Brasil participa ativamente do renascimento africano. Exemplo do engajamento inequvoco do Pas com os vizinhos do Atlntico Sul o alcance da rede diplomtica e consular brasilei-ra na frica, a maior entre os pases latino-americanos. Alm das trinta e oito Embaixadas brasileiras residentes em pases africa-nos, h ainda dois Consulados-Gerais, na Cidade do Cabo e em Lagos, o que perfaz quarenta postos no continente. O nmero de Embaixadas de pases africanos residentes em Braslia revela reci-procidade de interesse. Com a abertura da representao diplom-tica do Burundi, em 2012, somam trinta e quatro as Embaixadas de pases africanos na capital brasileira.

  • O nmero de visitas de alto nvel igualmente reflete o interes-se brasileiro pelas oportunidades que emergem na frica. Ainda no primeiro ano de governo, a Presidenta da Repblica, Dilma Rousseff, participou da V Cpula do IBAS, na frica do Sul, de onde seguiu para Moambique e Angola para visitas bilaterais. Antes disso, no primeiro semestre de 2011, o Ministro Antonio de Aguiar Patriota estivera na frica para encontros bilaterais (Guin-Bissau, frica do Sul, Nambia e Repblica da Guin) e para a XVI Reunio Ordinria do Conselho de Ministros da CPLP, em Luanda. O Chanceler brasileiro voltou frica antes do final de 2011 para participar da IV reunio ministerial da Cpula ASA, na Guin Equatorial, e para visita bilateral em Gana. Entre abril e agosto de 2012, esteve ainda em quatro outros pases africanos (Tunsia, Mauritnia, Senegal e Cabo Verde) e participou da 319 Reunio do Conselho de Paz da Unio Africana, na Etipia.

    O Brasil acompanhou de perto dois importantes momentos da histria recente do continente: a criao de um novo Estado africano e as inquietaes populares no norte da frica. Em julho de 2010, o Governo brasileiro estabeleceu relaes diplomticas com o Sudo do Sul e, no ano seguinte, apoiou o pleito do povo sul-sudans de tornar-se o 193. Estado-membro das Naes Unidas. Embora os desafios permaneam, a independncia do Sudo do Sul, de maneira negociada, refora a convico do Governo brasileiro na eficcia da ao diplomtica como instrumento de soluo de controvrsias.

    O vigor das mobilizaes populares, iniciadas com a Revoluo de Jasmim, no final de 2010, revelou ainda o dinamismo das so-ciedades africanas no norte do continente. Nesse momento de transformaes polticas no continente africano, o Brasil defendeu o desejo de emancipao poltica dessas vozes excludas, a plena autonomia dos pases africanos na conduo das reformas polti-co-sociais demandadas e a cooperao internacional em benefcio do fortalecimento da democracia e do desenvolvimento econmico dessas naes.

  • Nos foros internacionais, o Brasil tem reiteradamente re-pudiado a violncia e as violaes de direitos humanos contra a populao civil nos pases do norte da frica e tambm no Oriente Mdio, para onde os protestos estenderam-se. Importa ainda que a atuao da comunidade internacional seja lcida e coordenada de modo a no agravar a situao poltica local. O Brasil vem defen-dendo ainda que medidas coercitivas com vistas a proteger a popu-lao civil sejam empregadas apenas quando os esforos de nego-ciao forem esgotados e com a expressa autorizao por parte do Conselho de Segurana. Alm disso, conforme proposta brasileira s Naes Unidas por meio do conceito de Responsabilidade ao Proteger, os mandatos do Conselho de Segurana que autorizam o emprego da fora devem ser regularmente monitorados e sua im-plementao periodicamente revista.

    Nas relaes com a China, o Brasil diversifica as reas de coo-perao. Em 2012, a China tornou-se a principal origem das impor-taes brasileiras o pas j ocupava o posto de maior destino das exportaes nacionais. Para alm da complementariedade econmi-ca, o Brasil procurou extrair da cooperao com a China metas mais ambiciosas com vistas a contribuir para a competitividade industrial e o avano tecnolgico nacional. Com esse propsito, a Presidenta da Repblica realizou visita China, em abril de 2011. Em junho do ano seguinte, o ento Primeiro-Ministro Wen Jiabao retribuiu a visita. Registram-se ainda inmeros encontros de autoridades chinesas e brasileiras no contexto da Comisso Sino-Brasileira de Alto Nvel de Concertao e Cooperao (COSBAN), com o propsito de atualizar o perfil da cooperao entre os dois pases.

    Nos dois anos cobertos por este compndio, foi possvel con-solidar parcerias e coordenar posies polticas com pases asiti-cos, como a China e a ndia, em diversos foros, durante Cpulas dos BRICS e do IBAS. Merece destaque ainda a iniciativa de aproxi-mao do Brasil com os pases da Associao de Naes do Sudeste Asitico (ASEAN). Ao iniciar processo de adeso ao grupo asitico,

  • o Brasil estabeleceu novas frentes de aproximao poltica e econ-mica com uma regio de crescente progresso.

    A prioridade atribuda pelo Brasil cooperao com novos parceiros no se d em detrimento do relacionamento com aliados tradicionais. Em outubro de 2011, a Presidenta Dilma Rousseff par-ticipou da V Cpula Brasil Unio Europeia, em Bruxelas. No ano seguinte, participou dos seguintes eventos: Feira Internacional de cincia e tecnologia da informao, a CeBIT, em Hannover; Jogos Olmpicos, em Londres; XXII Cpula Ibero-americana, em Cdis; e, Missa Inaugural do Pontificado do Papa Francisco, no Vaticano. A Presidenta da Repblica esteve, entre 2011 e 2012, em visitas bilate-rais na Blgica, Bulgria, Alemanha, Reino Unido, Espanha e Frana. Quatorze Chefes de Estado e/ou de Governo europeus, por sua vez, visitaram o Pas entre janeiro 2011 e dezembro de 2012.

    Nos ltimos anos, Brasil e Estados Unidos estabeleceram e consolidaram mais de vinte mecanismos bilaterais de dilogo e co-operao, que cobrem uma ampla variedade de temas nos nveis bilateral, regional e internacional. A cooperao com os Estados Unidos abrange, cada vez mais, reas novas e mais complexas. Oportunidades se abrem no contexto dos megaeventos esporti-vos, da explorao de recursos energticos, de investimentos em infraestrutura e em novas tecnologias e de cooperao na rea de aviao e de defesa. Esse cenrio encoraja tambm a colaborao entre os dois pases em outras reas como educao, tecnologia e inovao. Os Estados Unidos so o principal parceiro do Brasil no programa Cincia sem Fronteiras: mais de cinco mil brasileiros esto matriculados em programas de graduao e ps-graduao em universidades norte-americanas.

    Paz e segurana internacionaisO Conselho de Segurana da ONU, que tem a primazia sobre os

    temas de paz e de segurana internacionais, mostra liderana insufi-ciente na soluo de prolongados conflitos com alto custo humano e

  • poder de alastramento, como o israelo-palestino e o srio. H crescen-te conscincia de que a carncia de representatividade do Conselho de Segurana tem implicaes no s para o funcionamento desse organismo como para a legitimidade do sistema multilateral.

    Afinando posies com pases como ndia e frica do Sul, no m-bito do IBAS, o Brasil engaja-se na reforma do sistema de governan-a global, a comear pelo Conselho de Segurana. Embora ainda no esteja representado permanentemente no Conselho de Segurana, como enfatiza o Ministro das Relaes Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, o Brasil est permanentemente comprometido com a busca de encaminhamento para os principais temas em debate na-quele rgo. ndia, Brasil e frica do Sul, quando juntos estiveram representados no Conselho de Segurana das Naes Unidas, em 2011, tiveram ocasio de mostrar estreita coordenao no acompa-nhamento dos principais temas de paz e segurana internacionais.

    Imbudo desse esprito, o Brasil associa-se ainda a outros ato-res com quem compartilha a nfase na diplomacia preventiva e o interesse em perspectivas autnomas sobre a poltica internacional. Nesse contexto, o Brasil vem apoiando iniciativas como Amigos da Mediao, grupo criado em 2010 por Finlndia e Turquia; trocando impresses no mbito da coordenao informal que ficou conhecida como Solidariedade Trilateral para a Construo da Paz, entre Brasil, Turquia e Sucia, que se reuniu pela primeira vez em setembro de 2012; e, avanado agendas em reas como proteo de civis, igualda-de de gnero e democracia, com pases como Noruega e Pases Baixos.

    Dcimo maior contribuinte ao oramento regular das Naes Unidas, o Brasil est preparado para assumir novas responsabi-lidades e certo de que poder contribuir para o aprimoramento dos principais temas relacionados paz e segurana internacio-nais. No Conselho de Segurana das Naes Unidas, como mem-bro no permanente pela dcima vez entre 2010 e 2011, o Brasil atuou no sentido de promover novos debates e conceitos, como o de Responsabilidade ao Proteger, aperfeioar os mecanismos de

  • interlocuo e de transparncia com os demais Estados-membros da ONU e o Conselho de Segurana e coordenar as atividades de manuteno e consolidao da paz a partir da interao entre o Conselho de Segurana e a Comisso de Consolidao da Paz (CCP).

    O Brasil figura ainda entre os maiores fornecedores de tro-pas para operaes de manuteno da paz, lidera o componente militar da Misso das Naes Unidas para a Estabilizao do Haiti (MINUSTAH) desde 2004, detm o comando da Fora Tarefa Martima da UNIFIL desde fevereiro de 2011.

    Tambm meta da diplomacia brasileira aumentar a repre-sentatividade de brasileiros em funes de alto nvel em organis-mos internacionais. Entre 2011 e 2012, o Governo brasileiro teve a satisfao de eleger o Professor Jos Graziano como Diretor-Geral da Organizao das Naes Unidas para Alimentao e Agricultura (FAO); Robrio Silva como Diretor-Executivo da Organizao Internacional do Caf e Brulio Ferreira de Souza Dias como Secretrio-Executivo da Conveno sobre Diversidade Biolgica. A um s tempo, essas eleies refletem o engajamento do Brasil com o sistema multilateral e a confiana que a comunidade internacional deposita nesses brasileiros, por seus mritos pessoais e profissionais.

    Desenvolvimento sustentvelMaior evento de poltica internacional realizado no Brasil

    durante o mandato da Presidenta Dilma Rousseff, a Conferncia das Naes Unidas sobre Desenvolvimento Sustentvel, a Rio+20, que ocorreu entre 20 e 22 de junho de 2012, no Rio de Janeiro, representou um esforo de convergncia em torno de um novo pa-radigma que associa os pilares econmico, social e ambiental na definio do desenvolvimento sustentvel.

    Para alm de uma reviso do processo iniciado h vinte anos no Rio de Janeiro, com a Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio+20 serviu como ponto de partida para o fortalecimento dos mecanismos de governana

  • nos campos do desenvolvimento sustentvel e do meio ambiente. Como pas anfitrio da maior conferncia da histria das Naes Unidas, o Brasil procurou ouvir com ateno as demandas dos dife-rentes grupos de pases e de interesses de modo a identificar reas de convergncia. O consenso foi alcanado por meio da finalizao do documento O Futuro que Queremos, que, em 283 pargrafos, lana uma nova agenda de desenvolvimento sustentvel.

    Ao consolidar a noo de que a erradicao da pobreza es-sencial para que possamos realizar o desenvolvimento sustent-vel, o documento final da Rio+20 representa um marco histri-co. A experincia brasileira prova de que possvel, ao mesmo tempo, crescer economicamente, combater a pobreza e promover a incluso social sem descuidar do meio ambiente. O Brasil pode ser considerado, de certa forma, um pas-sntese desse processo de desenvolvimento sustentvel nas ltimas dcadas.

    O documento final da Rio+20 lana ainda o processo de for-mulao dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentvel (ODS). O Brasil defende que a agenda de desenvolvimento das Naes Unidas para o perodo ps-2015 inclua os ODS, com foco na pro-moo de padres sustentveis de produo e de consumo.

    O Brasil est comprometido com o Foro Poltico de Alto Nvel sobre Desenvolvimento Sustentvel, que dever renovar e refor-ar as tratativas sobre o tema nas Naes Unidas. O Foro ter sua estrutura vinculada tanto Assembleia Geral quanto ao Conselho Econmico e Social das Naes Unidas, com previso de encon-tros anuais em nvel ministerial, bem como reunies de Chefes de Estado e/ou de Governo a cada trs ou quatro anos.

    A Rio+20 representou tambm um marco no que diz respeito participao de elevado nmero de representantes da sociedade civil. O Governo brasileiro empenhou-se em garantir espao para a sociedade civil, por meio dos Dilogos para o Desenvolvimento Sustentvel e da Cpula dos Povos. A Cpula dos Povos contou com a participao de cerca de 25 mil pessoas de vrios pases, organi-

  • zaes e movimentos sociais, da cidade e do campo, favorecendo o intercmbio de experincias e dilogo sobre projetos de desen-volvimento entre membros de organizaes e movimentos sociais.

    Comrcio e Economia Nos dois anos cobertos por este compndio, a diplomacia co-

    mercial guiou-se pelo objetivo de criar condies e de prospectar oportunidades para que o comrcio internacional servisse ao pro-jeto de desenvolvimento do Pas. Um dos principais desafios atu-ais a obteno de melhores condies de acesso a mercados para os bens e servios produzidos no Brasil. Para tanto, dedicou-se ateno prioritria integrao sul-americana e, muito especial-mente, consolidao e ao aprofundamento do MERCOSUL, destino privilegiado para as exportaes de produtos manufatu-rados. Encontra-se plenamente operativo o Ncleo China, fora--tarefa voltada para o acompanhamento quotidiano das relaes econmico-comerciais do Brasil com seu maior parceiro comercial individual. Por sua crescente importncia para o comrcio inter-nacional, os pases em desenvolvimento representam parceiros de especial interesse. As relaes econmico-comerciais com o mundo desenvolvido, ao mesmo tempo, receberam ateno diferenciada por meio de contatos intergovernamentais e maior apoio ao setor privado brasileiro.

    Foram adotadas ainda distintas medidas administrativas no Ministrio das Relaes Exteriores, com o objetivo de promover maior capacitao do corpo diplomtico em temas comerciais, econmicos e financeiros. A criao da Coordenao-Geral de Contenciosos (CGC) na estrutura organizacional do Ministrio e seu fortalecimento nos ltimos anos tem servido de estmulo formao de uma equipe de diplomatas com alta especializao em disputas comerciais, cujo trabalho j rendeu ao Brasil benefcios importantes nos campos econmico, poltico e ambiental.

  • A diplomacia brasileira privilegia a OMC como foro privilegia-do para tratamento dos grandes temas de comrcio internacional. No mbito do sistema multilateral de comrcio, o Brasil atuou para preservar o patrimnio jurdico-institucional da OMC. Evidncia disso a iniciativa brasileira de discusso da relao entre cmbio e comrcio, lanada, na OMC, em 2011, e no comprometimento com a concluso da Rodada do Desenvolvimento.

    Consideraes FinaisNos dois ltimos anos, o Ministrio das Relaes Exteriores

    capacitou-se para defender os interesses desse novo Brasil, que lo-grou erradicar a pobreza, alar milhes de brasileiros classe m-dia, internacionalizar empresas, capacitar sua mo de obra e pre-servar o meio ambiente. Essas medidas internas, aqui relacionadas de maneira no exaustiva, permitiram uma atuao internacional a um s tempo mais participativa nos planos regional e universal, capaz de aliar pragmatismo e humanismo e alicerado no respeito ao direito internacional.

    No plano internacional, o Brasil exerceu papel de construtor de solues. Com uma rede diplomtica e consular que abrange 227 postos no exterior, o Brasil tornou-se um ator incontornvel em todos os grandes debates sobre questes de interesse global.

    O Brasil mostrou-se preparado para assumir um papel corres-pondente a seu peso econmico e poltico, e a diplomacia brasilei-ra conquistou espaos de crescente autonomia. Como sublinhou a Presidenta Dilma Rousseff, o lugar que um pas ocupa no mundo est prioritariamente vinculado ao papel que esse pas ocupa em relao ao seu povo.

    Este volume apresenta a narrativa de poltica externa brasi-leira entre 2011 e 2012. Embora atualizado at novembro do ano corrente por meio de notas de rodap, este volume precisou definir um horizonte temporal, o que antecipa um novo esforo de compi-lao de discursos, entrevistas e artigos do Ministro das Relaes

  • Exteriores a partir de janeiro de 2013. Tal esforo editorial dever materializar-se em uma nova antologia de poltica externa.

    Cabe uma nota final de agradecimento aos que se engajaram na feitura desta coletnea. Pela execuo deste projeto, ao Embaixador Jos Vicente de S Pimentel, Presidente da Fundao Alexandre de Gusmo. Pela leitura atenta e as pertinentes ponderaes, aos Embaixadores Tovar da Silva Nunes e Jos Humberto de Brito Cruz, ao Ministro Haroldo de Macedo Ribeiro e ao Conselheiro Roberto Doring Pinho da Silva. Pela organizao do livro e coordenao editorial, Amena Yassine. A todos que igualmente assistiram editorao deste volume: Patrick Luna, Fabiano Bastos Moraes, Tatiana Carvalho Teixeira, Diogo Ramos Coelho, Bruno Pereira Rezende e Natlia Shimada. Pela compilao dos textos entre 2011 e 2012, Maria Helena de Aguiar Notari. Pelas tradues, Amlia Maria Fernandes Alves e Fernanda Guimares de Azeredo Alves.

  • SumrioLista de Abreviaturas e Siglas .............................................................................. 27

    PARTE IUma diplomacia universal...........................................................33Um pas sul-americano convicto, um ator global

    Discurso proferido por ocasio da cerimnia de transmisso do cargo de Ministro de Estado das Relaes Exteriores. Braslia, 2 de janeiro de 2011 ....................................................................... 35

    Desafios novos, objetivos e valores perenesEntrevista concedida revista Veja, 9 de janeiro de 2011. Ttulo original: Continuar no repetir ................................................ 45

    Brasil, interlocutor incontornvel nos grandes debates da agenda internacional

    Discurso proferido por ocasio das comemoraes do Dia do Diplomata. Braslia, 20 de abril de 2011 ................................... 53

    Uma fora pela paz e pelo dilogoDiscurso proferido por ocasio da abertura do seminrio O Centenrio de San Tiago Dantas e a Poltica Externa Independente. Braslia, 30 de agosto de 2011. ........................................ 61

    A busca de espaos de crescente autonomiaDiscurso proferido por ocasio da sesso solene de abertura do Ano do Centenrio de Morte do Baro do Rio Branco. Braslia, 10 de fevereiro de 2012. ................................................................. 69

  • Uma ncora regional e outra, globalEntrevista ao projeto Sabatina da Folha, 17 de maio de 2012. .......... 75

    O lugar do Brasil no mundo e o desenvolvimento social do povo brasileiro

    Entrevista concedida revista Carta Capital, 29 de setembro de 2012. Ttulo original: Valores nacionais. ................127

    Alm da imagem de sol e de futebolEntrevista concedida revista Monocle, 1 de outubro de 2012. Ttulo original: Q&A: Added punch. .....................................................135

    Multipolaridade da cooperao ...............................................141IBAS: uma ponte entre as trs grandes democracias multitnicas do sul

    Discurso proferido por ocasio da VII Reunio da Comisso Mista Ministerial do Frum de Dilogo ndia-Brasil-frica do Sul (IBAS). Nova Dlhi, 8 de maro de 2011. ..................................143

    Uma plataforma de paz na nova ordem multipolarDiscurso proferido por ocasio do seminrio Abordagens para segurana internacional: as experincias do Brasil e dos Pases Baixos. Braslia, 29 de maio de 2012. ..................151

    Solidariedade trilateral para a construo da pazEntrevista concedida revista Monocle, 1 de dezembro de 2012. Ttulo original: The power of three. .......................................163

    PARTE IIA Amrica do Sul como destino e opo .................................169Construo de confiana e aprofundamento do dilogo no Cone Sul

    Entrevista concedida ao boletim Em Questo, 26 de maro de 2011. Ttulo original: Para Patriota, o objetivo estabelecer uma efetiva cidadania mercosulina. .................................171

    Uma zona de paz, de democracia e de cooperaoDiscurso proferido por ocasio da cerimnia comemorativa dos 20 anos da Agncia Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (ABACC). Buenos Aires, 8 de julho de 2011. ..............................................................179

  • Dinamismo econmico e efervescncia poltica e democrticaDiscurso proferido por ocasio da abertura do seminrio A Amrica do Sul e a integrao regional. Rio de Janeiro, 28 de setembro de 2011. ...............................................................................185

    O caminho da plena inclusoDiscurso proferido por ocasio da reunio ordinria do Conselho de Ministras e Ministros das Relaes Exteriores da Unio de Naes Sul-Americanas (UNASUL). Assuno, 17 de maro de 2012 . ..............................................................199

    Agricultura familiar: elemento central de um modelo de desenvolvimento sustentvel

    Texto base para interveno na 18 Reunio Especializada da Agricultura Familiar do MERCOSUL. Caxias do Sul, 14 de novembro de 2012. .............................................................................207

    MERCOSUL: um autntico projeto de desenvolvimentoTexto base para interveno na XIV Cpula Social do MERCOSUL. Braslia, 4 de dezembro de 2012. ...................................219

    O MERCOSUL produtivo e a ampliao do projeto de integrao

    Discurso proferido por ocasio da XLIV Reunio Ordinria do Conselho do Mercado Comum (CMC). Braslia, 6 dezembro de 2012. .....................................................................................225

    frica: matriz cultural, espao de oportunidades .................235Um amigo para o desenvolvimento

    Discurso proferido por ocasio da solenidade em comemorao ao Dia da frica. Braslia, 25 de maio de 2011. ..................................237

    Sudo do Sul: oportunidade de um futuro melhorDiscurso proferido por ocasio da sesso do Conselho de Segurana das Naes Unidas sobre o ingresso do Sudo do Sul na ONU. Nova York, 13 de julho de 2011 ................................247

    Um novo ciclo de progresso e de emancipaoDiscurso proferido por ocasio da IV Reunio Ministerial da Cpula Amrica do Sul-frica. Malabo, 24 de novembro de 2011. .............................................................................253

  • sia: eixo dinmico de desenvolvimento ................................261Parceria Brasil-China para a superao de assimetrias

    Entrevista concedida ao jornal Brasil Econmico, 17 de maio de 2011. Ttulo original: No s entrar, extrair e levar o minrio ou a soja embora. ..........................................................................263

    Crescimento econmico com justia socialDiscurso proferido por ocasio da Sesso Plenria da V Reunio de Chanceleres do Frum de Cooperao Amrica Latina-sia do Leste. Buenos Aires, 25 de agosto de 2011. ...............267

    China: para alm da complementaridadeEntrevista concedida rede de televiso CCTV, 29 de setembro de 2011. .................................................................................... 273

    ASEAN: oportunidades para uma parceria estratgicaTexto base para interveno em mesa redonda empresarial Brasil Associao de Naes do Sudeste Asitico (ASEAN). Bali, 16 de novembro de 2011. ...................................................................279

    Estados Unidos ...........................................................................287Estados Unidos: uma parceria madura

    Entrevista concedida revista Isto Dinheiro, 18 de maro de 2011. Ttulo original: Queremos criar uma relao de confiana com os EUA. ...........................................................................289

    Europa ..........................................................................................293Unio Europeia, parceria por um novo paradigma de governana global

    Palestra proferida por ocasio da visita da Alta Representante para Relaes Exteriores e Poltica de Segurana da Unio Europeia, Catherine Ashton. Braslia, 7 de fevereiro de 2012. .............................295

  • PARTE IIIPaz Sustentvel ...........................................................................305Interdependncia entre paz, segurana e desenvolvimento

    Discurso proferido por ocasio do Debate Aberto de Alto Nvel do Conselho de Segurana das Naes Unidas sobre a interdependncia entre segurana e desenvolvimento. Nova York, 11 de fevereiro de 2011. ..........................................................307

    A paz se constri com desenvolvimento e justia socialDiscurso proferido por ocasio da reunio de Alto Nvel do CSNU sobre Diplomacia Preventiva. Nova York, 23 de setembro de 2011. ...............................................................................313

    A fora como ltimo recursoEntrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo, 17 de outubro de 2011. Ttulo original: Potncias so inoperantes na questo palestina, diz Patriota. ..........................................................319

    Primavera rabe .........................................................................329Desafios de paz e segurana da Lbia

    Entrevista concedida ao jornal The Hindu, 11 de maro de 2011. Ttulo original: Lets not make the situation in Lybia worse. ...............................................................................................331

    A Sria e a necessidade de solues diplomticasEntrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo, 25 de maro de 2012. Ttulo original: Patriota nega omisso do Brasil na Sria. .........................................................................339

    Dilogo e TolernciaArtigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 23 de setembro de 2012. Ttulo original: O tear remoto da paz. .................................345

    Responsabilidade ao Proteger ..................................................349O Primeiro Direito Humano o Direito Vida

    Artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 1 de setembro de 2011. Ttulo original: Direitos humanos e ao diplomtica. ......................................................................................351

  • Entre a Responsabilidade Coletiva e a Segurana ColetivaDiscurso proferido por ocasio de debate sobre Responsabilidade ao Proteger na ONU. Nova York, 21 de fevereiro de 2012. ................357

    Direitos Humanos e Democracia .............................................363Democracia: um imperativo poltico

    Discurso proferido por ocasio do ato de inaugurao do Centro de Estudos sobre a Democracia. Lima, 6 de agosto de 2012. ...............................................................................................365

    PARTE IVUma nova agenda para o desenvolvimento sustentvel ........375Rio+20: o imperativo moral do direito ao desenvolvimento

    Discurso proferido por ocasio da cerimnia de criao da Comisso Nacional e do Comit de Organizao da Conferncia Rio+20. Braslia, 7 de junho de 2011. ..............................377

    Rio+20: um chamado responsabilidade coletivaEntrevista concedida ao boletim Em Questo, 23 de janeiro de 2012. Ttulo original: A Rio+20 deve ser o incio de um perodo de ao, em que os atores sociais sero cada vez mais importantes para a promoo concreta do desenvolvimento sustentvel. .....................................................................385

    Um modelo de desenvolvimento com crescimento econmico, incluso social e sustentabilidade ambiental

    Artigo publicado nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, 20 de abril de 2012. Ttulo original: Economia verde, sem pobreza. .................................................................391

    Futuro sustentvelEntrevista concedida ao jornal Valor Econmico, 18 de junho de 2012. Ttulo original: Brasil no aceita medidas punitivas. .......................................................................................395

  • Paz, Desenvolvimento e Segurana Alimentar ......................403Segurana alimentar, por um mundo menos desigual

    Discurso proferido por ocasio do seminrio Cooperao tcnica brasileira: agricultura, segurana alimentar e polticas sociais. Roma, 24 de junho de 2011. .......................................405

    Agricultura: o motor do desenvolvimento sustentvelDiscurso proferido por ocasio da 39 Sesso do Comit sobre Segurana Alimentar (CSA) Mundial da Organizao das Naes Unidas para Alimentao e Agricultura (FAO). Roma, 17 de outubro de 2012. ...................................................................415

    PARTE VRelaes econmicas internacionais .......................................425O Brasil no sistema multilateral de comrcio

    Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 8 de outubro de 2011. Ttulo original: Dez anos, cem casos. ..........427

    O sistema multilateral de comrcio ante uma crise de alcance global

    Discurso proferido por ocasio da cerimnia de abertura do seminrio internacional O Brasil e o sistema de soluo de controvrsias da OMC. Braslia, 10 de outubro de 2011. ............433

    Desalinhamentos cambiais e impactos para as economias emergentesDiscurso proferido por ocasio do Dilogo de Alto Nvel do 34 Perodo de Sesses da Comisso Econmica para Amrica Latina e Caribe (CEPAL). San Salvador, 31 de agosto de 2012. .....................................443

    A deteriorao do ambiente econmico internacional e os efeitos sobre os mercados cambiais dos pases em desenvolvimento

    Discurso proferido por ocasio da cerimnia de abertura do seminrio Os BRICS e o sistema de soluo de controvrsias da OMC. Braslia, 10 de outubro de 2012. .................453

  • Diplomacia comercial em um mundo em criseArtigo publicado no jornal Valor Econmico, 10 de outubro de 2012. Ttulo original: Diplomacia e comrcio...............469

    Personalidades Citadas .......................................................................................475ndice Onomstico .................................................................................................485ndice Remissivo .....................................................................................................491

  • 27

    Lista de Abreviaturas e Siglas

    ABACCAgncia Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares

    ABC Agncia Brasileira de Cooperao

    AGNU Assembleia Geral das Naes Unidas

    AGU Advocacia-Geral da Unio

    AIE Agncia Internacional de Energia

    AIEA Agncia Internacional de Energia Atmica

    ALADI Associao Latino-Americana de Integrao

    ALALCAssociao Latino-Americana de Livre-Comrcio

    APEX-BrasilAgncia Brasileira de Promoo de Exportaes e Investimentos

    ASEAN Associao de Naes do Sudeste Asitico

    ASA Cpula Amrica do Sul-frica

    ASPA Cpula Amrica do Sul-Pases rabes

    BRICSAgrupamento Brasil-Rssia-ndia-China-frica do Sul

    CALC Cpula da Amrica Latina e do Caribe

  • 28

    Antonio de Aguiar Patriota

    CAMEX Cmara de Comrcio Exterior

    CARICOM Comunidade do Caribe

    CCP Comisso de Consolidao da Paz

    CDSComisso de Desenvolvimento Sustentvel das Naes Unidas

    CEBRI Centro Brasileiro de Relaes Internacionais

    CELACComunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos

    CEPALComisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe

    CGC Coordenao-Geral de Contenciosos

    CNEA Comisso Nacional de Energia Atmica

    CNEN Comisso Nacional de Energia Nuclear

    CNI Confederao Nacional da Indstria

    COBEN Comisso Binacional de Energia Nuclear

    COSBAN Comisso de Alto Nvel Sino-Brasileira

    COSIPLANConselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento

    CPLP Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa

    CSNU Conselho de Segurana das Naes Unidas

    CTBTTratado de Proibio Completa dos Testes Nucleares

    DPR Departamento de Promoo Comercial

    ECOSOCConselho Econmico e Social das Naes Unidas

    EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    FAOOrganizao das Naes Unidas para Alimentao e Agricultura

  • 29

    Lista de Abreviaturas e Siglas

    FIRJANFederao das Indstrias do Estado do Rio de Janeiro

    FMI Fundo Monetrio Internacional

    FOCALALFrum de Cooperao Amrica Latina-sia do Leste

    FOCEMFundo de Convergncia Estrutural do MERCOSUL

    FUNAG Fundao Alexandre de Gusmo

    G-4Grupo formado por Brasil, ndia, Alemanha e Japo

    IBAS Frum de Dilogo ndia-Brasil-frica do Sul

    IGADAutoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento

    IHGB Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro

    IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada

    MAPAMinistrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    MERCOSUL Mercado Comum do Sul

    MDICMinistrio do Desenvolvimento, da Indstria e do Comrcio Exterior

    MINUSTAHMisso das Naes Unidas para a Estabilizao no Haiti.

    MONUSCO

    United Nations Organization Stabilization Mission in the Democratic Republic of Congo (Misso da Organizao das Naes Unidas para a Estabilizao da Repblica Democrtica do Congo)

    NSGNuclear Suppliers Group (Grupo de Supridores Nucleares)

  • 30

    Antonio de Aguiar Patriota

    OAB Ordem dos Advogados do Brasil

    OEA Organizao dos Estados Americanos

    OMC Organizao Mundial do Comrcio

    ONU Organizao das Naes Unidas

    OPAQOrganizao para a Proibio de Armas Qumicas

    OTAN Organizao do Tratado do Atlntico Norte

    PAA Programa de Aquisio de Alimentos

    PNAE Programa Nacional de Alimentao Escolar

    PNUMAPrograma das Naes Unidas para o Meio Ambiente

    PMA Programa Mundial de Alimentos

    PPT Presidncia pro tempore

    PRONAFPrograma Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

    REAFReunio Especializada da Agricultura Familiar do MERCOSUL

    SADCSouthern African Development Community (Comunidade para o Desenvolvimento da frica Austral)

    SCCCSistema Comum de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares

    STPRIStockholm International Peace Research Institute

    TNPTratado de No Proliferao de Armas Nucleares

    TPI Tribunal Penal Internacional

    UA Unio Africana

  • 31

    Lista de Abreviaturas e Siglas

    UNASUL Unio de Naes Sul-Americanas

    UNCTADConferncia das Naes Unidas sobre Comrcio e Desenvolvimento

    UNILABUniversidade da Integrao Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira

    UNIOGBIS

    United Nations Integrated Peace-Building Office in Guinea-Bissau (Gabinete Integrado das Naes Unidas para a Consolidao da Paz na Guin-Bissau)

    UNMILUnited Nations Mission in Liberia (Misso das Naes Unidas na Libria)

    UNMISUnited Nations Mission in Sudan (Misso das Naes Unidas no Sudo)

    UNOCIUnited Nations Operations in Cte dIvoire (Operao das Naes Unidas na Cte dIvoire)

    ZOPACAS Zona de Paz e Cooperao do Atlntico Sul

    UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

    UNMISSUnited Nations Mission in the Republic of South Sudan (Misso das Naes Unidas na Repblica do Sudo do Sul)

  • PARTE IUma diplomacia universal

  • 35

    Um pas sul-americano convicto, um ator globalDiscurso proferido por ocasio da cerimnia de transmisso do cargo de Ministro de Estado das Relaes Exteriores. Braslia, 2 de janeiro de 2011.

    Minhas primeiras palavras so de agradecimento Senhora Presidenta da Repblica pela honra com que me distingue ao no-mear-me Ministro das Relaes Exteriores.

    Com entusiasmo, antecipo a distino de servir primeira mulher a presidir o Brasil. A eleio de uma Presidenta um acon-tecimento de importncia intrnseca: mais uma expresso con-creta dos ideais de justia, equidade e democracia que nos unem a todos como cidados brasileiros. A Presidenta Dilma Rousseff representa honestidade intelectual, esprito pblico, destemor em face de desafios de qualquer tamanho, sensibilidade e humanismo. Para o Itamaraty, representa a certeza de que o Brasil continuar a afirmar-se como um interlocutor cada vez mais ouvido e respeita-do no plano internacional.

    Querido Embaixador Celso Amorim, meu Chefe por tantos anos e sempre amigo. Vossa Excelncia foi e seguir sendo, para mim e para muitos de ns, fonte permanente de estmulo e inspi-rao. Foi na gesto de Vossa Excelncia que o Brasil se consolidou, a um s tempo, como um pas sul-americano convicto e um ator

  • 36

    Antonio de Aguiar Patriota

    de influncia mundial. Seu legado ser referncia incontornvel em nossa Histria Diplomtica. Fao votos de que, ao lado de nos-sa querida Ana Maria, seja muito feliz nesta nova etapa da vida. Ainda que de formas distintas, tenho certeza de que o Brasil conti-nuar contando com a fora de seu intelecto e sua coragem moral.

    Para corresponder confiana em mim depositada pela Presidenta Dilma Rousseff dependerei de esforos coletivos, que envolvero necessariamente a valiosa colaborao e dedicao de todos os colegas: funcionrios diplomticos e administrativos, na Secretaria de Estado e nos Postos no exterior.

    Aproveito esta cerimnia de transmisso de cargo para ofi-cializar o convite ao Embaixador Ruy Nunes Pinto Nogueira1 para assumir a Secretaria-Geral das Relaes Exteriores. Sua vasta ex-perincia, seu profissionalismo, sua integridade pessoal sero par-ticularmente apreciados neste momento em que enfrentamos uma agenda externa crescentemente ampla e complexa, e capacitamos o Itamaraty para defender os interesses de um novo Brasil.

    Atuarei em estreita cooperao com o Secretrio-Geral, com os Senhores Subsecretrios-Gerais e demais Chefias da Casa para levar adiante uma gesto inclusiva e integradora. Uma gesto que continue a valorizar a nossa principal vantagem comparativa, que so os recursos humanos, e que busque valer-se das novas tecnolo-gias da informao para modernizar nossos mtodos de trabalho.

    Acredito que a escolha de um diplomata de carreira para o car-go de Ministro das Relaes Exteriores pode ser interpretada como uma demonstrao de respeito pelos quadros especializados des-te Ministrio e de reconhecimento por nosso compromisso com o Estado brasileiro um Estado que se coloca cada vez mais a servio da sociedade como um todo, e dos menos favorecidos em primeiro lugar.

    1 O Embaixador Ruy Nunes Pinto Nogueira foi Secretrio-Geral das Relaes Exteriores entre janeiro de 2011 e fevereiro de 2012. Atualmente, o cargo ocupado pelo Embaixador Eduardo dos Santos.

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    PARTE I

    Um pas sul-americano convicto, um ator globalUma diplomacia universal

    Orientaremos a ao externa do Brasil preservando as con-quistas dos ltimos anos e construindo sobre a base slida das rea-lizaes do Governo do Presidente Luiz Incio Lula da Silva.

    O Brasil mudou muito em relativamente pouco tempo. Em um ambiente de liberdade de expresso e participao crescente de setores antes excludos no processo poltico, logrou-se conciliar crescimento econmico com distribuio de renda, em um contex-to de aprofundamento de nossa democracia. Foram obtidos avan-os no respeito aos direitos humanos, na valorizao da cidadania, na modernizao da atividade econmica, na promoo de um de-senvolvimento mais justo e ambientalmente sustentvel.

    Deixamos para trs o tempo em que um acmulo de vulnerabi-lidades limitava o escopo de nossa ao internacional. No subesti-mamos o muito que ainda precisamos realizar para garantir a cada brasileiro e brasileira educao e sade de qualidade, segurana e oportunidades dignas de trabalho. Mas adquirimos uma autorida-de natural para nos engajarmos em todos os grandes debates e pro-cessos decisrios da agenda internacional polticos, econmicos, comerciais, ambientais, sociais, culturais.

    possvel afirmar que, entre os polos que configuram a nova geopoltica deste incio de sculo, o Brasil, com sua tradio de paz e tolerncia, se posiciona como um ator que rene caractersti-cas privilegiadas para a promoo de modelos mais inclusivos de desenvolvimento e para o fortalecimento da cooperao entre as naes por intermdio de mecanismos de governana mais repre-sentativos e legtimos.

    Permaneceremos atentos para evitar que os crculos deci-srios que se formam em torno das principais questes contem-porneas reproduzam as assimetrias do passado, ignorando as aspiraes legtimas dos que no os integram. Os G-20s e outros agrupamentos restritos s conseguiro consolidar sua autoridade

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    Antonio de Aguiar Patriota

    se permanecerem sensveis aos anseios e interesses dos mais de 150 pases que no se sentam em suas reunies.

    Precisamos nos preparar para uma demanda por mais Brasil em todos os temas da frente externa. Dispomos para isso de uma apre-civel rede de Postos no exterior, cujo ritmo de expanso tender a desacelerar-se2. Mas precisaremos continuar a formar quadros que nos garantam um nvel de profundidade reflexiva autnoma e de efi-ccia operacional compatveis com nosso perfil de ator global.

    Devemos ter presente que, como a stima economia do mun-do, e havendo implementado um conjunto de polticas econmicas e sociais que tm produzido resultados tangveis, o Brasil gera uma expectativa natural, em searas de cooperao as mais diversifica-das, junto a pases menos desenvolvidos na Amrica Latina e no Caribe, na frica, no Oriente Mdio e na sia. Nossa capacitao em termos de prestao de cooperao tcnica, de assistncia na adoo de polticas pblicas bem-sucedidas ou de ajuda humani-tria no obstante os avanos considerveis dos ltimos anos precisar modernizar-se para atender a essa demanda.

    Deparamos hoje com um mundo em que os consensos de ou-tras eras so cada vez mais questionados, e os antigos formadores de opinio encontram dificuldade crescente para fazer prevalecer suas ideias. As aventuras militares e as prticas econmicas irres-ponsveis que desestabilizaram a ordem internacional nos ltimos anos exigem que cada participante do sistema assuma plenamente seu papel no tratamento de questes que afetam a todos indiscri-minadamente. O Brasil no se furtar a defender interesses nacio-nais especficos e imediatos, mas tampouco deixar de afirmar sua

    2 No momento do discurso, o Brasil contava com 218 postos no exterior, assim distribudos: 132 Embai-xadas, 13 Misses/Delegaes, 3 Escritrios de Representao, 6 Consulados, 53 Consulados-Gerais e 11 Vice-Consulados. Em dezembro de 2013, a rede diplomtica e consular brasileira soma 227 postos no exterior, sendo 139 Embaixadas, 13 Misses/Delegaes, 3 Escritrios de Representao, 7 Consu-lados, 54 Consulados-Gerais e 11 Vice-Consulados.

  • 39

    PARTE I

    Um pas sul-americano convicto, um ator globalUma diplomacia universal

    identidade em funo de objetivos sistmicos amplos, vinculados a valores que nos definem como sociedade. Continuaremos a privile-giar o dilogo e a diplomacia como mtodo de soluo de tenses e controvrsias; a defender o respeito ao direito internacional, a no interveno e ao multilateralismo; a militar por um mundo livre de armas nucleares; a combater o preconceito, a discriminao e a arbi-trariedade; e a rejeitar o recurso coero sem base nos compromis-sos que nos irmanam como comunidade internacional.

    Um breve olhar sobre o mundo que nos envolve revela o acer-to de nossas opes dos ltimos anos na promoo de agendas de ordem sub-regional, regional e global que se complementam ao mesmo tempo em que se ampliam o que no impede que bus-quemos adaptaes e reconsideremos certas nfases, em funo de desdobramentos nos planos interno e externo.

    Ancorados em nosso entorno sul-americano, teremos a nossa disposio um MERCOSUL robusto e uma UNASUL crescentemen-te coesa. Compete-nos completar a transformao da Amrica do Sul em um espao de integrao humana, fsica e econmica, onde o dilogo e a concertao poltica se encarreguem de preservar a paz e a democracia e no qual os elos que vimos estabelecendo entre nossas classes polticas, nossos setores privados e nossas socieda-des contribuam para uma regio cada vez mais unida no propsito de oferecer melhores condies de vida a nossa gente.

    Central nesse empreendimento a relao Brasil-Argentina, que vive hoje um momento de plenitude e avana em um vasto espectro de iniciativas, que incluem reas como a cooperao em matria espacial e os usos pacficos da energia nuclear. E cada vizi-nho na Amrica do Sul receber uma ateno crescentemente dife-renciada. Caber aos Governos trabalhar mais e melhor para cobrir as lacunas de conhecimento e interao que ainda caracterizam o relacionamento entre os pases da regio. Nosso destino comum

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    Antonio de Aguiar Patriota

    exige que conheamos melhor a histria, a demografia, o potencial econmico e a cultura uns dos outros da Terra do Fogo Ilha de Margarita. No se faz integrao sem dilogo permanente, sem engajamento intelectual e at mesmo, diria eu, sem emoo e idea-lismo. nessa direo que precisamos trabalhar.

    Para alm da Amrica do Sul, o processo que teve origem na Cpula Amrica Latina e Caribe da Costa do Saupe se consoli-da na Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos a CELAC. Continuaremos engajados na pauta de cooperao com os pases caribenhos, tendo como marco principal a Cpula Brasil-CARICOM. Nosso compromisso com o Haiti, que enfrenta renovados desafios, insere-se nesse contexto.

    A prioridade atribuda vizinhana no se dar em detrimento de relaes estreitas com outros quadrantes do Sul ou do mundo de-senvolvido. Interessa-nos intensificar relaes com uma pluralidade de parceiros em esferas como a do comrcio, dos investimentos e do dilogo poltico. Em um mundo no qual no se dissiparam ain-da totalmente as dicotomias Norte-Sul, a ao diplomtica do Brasil pode contribuir para a promoo de relaes mais equilibradas em torno a interesses compartilhados. Nossos prprios imperativos de desenvolvimento econmico, social e tecnolgico orientaro a busca de parcerias em uma variedade de temas, que incluiro a educao, a inovao, a energia, a agricultura, a produtividade industrial e a defesa, sem descuidar do meio ambiente, da promoo dos direitos humanos, da cultura, das questes migratrias.

    No enumerarei todas as parcerias estratgicas j estabele-cidas, ou todos os mecanismos de aproximao inter-regional de-senvolvidos nos ltimos anos, sob a chefia do Embaixador Celso Amorim, que continuaremos a cultivar e aprimorar. Singularizo o IBAS, pelo seu valor emblemtico como mecanismo ponte en-tre trs grandes democracias multitnicas do Sul. Acrescento que

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    PARTE I

    Um pas sul-americano convicto, um ator globalUma diplomacia universal

    conversei com a Presidenta Dilma Rousseff a respeito de um pro-grama de viagens presidenciais para os prximos meses, que in-cluir visitas aos pases vizinhos e a alguns de nossos principais parceiros econmicos e comerciais, como Estados Unidos e China3.

    A Cpula da ASPA, a realizar-se na capital peruana no pr-ximo ms de fevereiro4, constituir uma valiosa oportunidade de contato da Presidenta com lderes da Amrica do Sul e do mundo rabe. Comprometo-me ademais a manter uma agenda ativa com nossos parceiros na frica intensificando nossa cooperao e nosso dilogo com o continente irmo.

    O comparecimento posse da Presidenta da Repblica, Dilma Rousseff, de altos representantes de uma variedade de pases, muitos dos quais hoje aqui presentes sejam de nossa regio, da Europa, da frica, do Oriente Mdio ou do Extremo Oriente , s pode ser visto como uma manifestao recproca do interesse de Governos de todas as partes do mundo e de todos os nveis de desenvolvimento em fortalecer seus vnculos com o Brasil5. Com relaes diplomticas que se estendem a virtualmente todos os pases-membros das Naes Unidas, o Brasil pode afirmar que pra-tica, hoje, uma diplomacia verdadeiramente universal6.

    3 Em 2011, a Presidenta da Repblica, Dilma Rousseff, realizou 16 viagens ao exterior em carter bila-teral e 8 visitas em carter multilateral. Em 2012, foram 10 pases visitados pela Presidenta em carter bilateral e 7 participaes em eventos multilaterais. De janeiro a agosto de 2013, a Presidenta Dilma Roussef fez 9 visitas em carter bilateral e 6 em eventos multilaterais. O Ministro de Estado das Rela-es Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, alm de acompanhar a Presidenta da Repblica em suas viagens ao exterior, realizou, em 2011, 40 viagens em carter bilateral e 17 em carter multilateral. Em 2012, foram 25 viagens bilaterais e 12 participaes em eventos multilaterais. De janeiro a agosto de 2013, o Ministro de Estado realizou 16 visitas bilaterais e participou de 21 eventos multilaterais.

    4 Adiada por conta dos levantes populares no mundo rabe, a III Cpula Amrica do Sul Pases rabes (ASPA) reavaliou-se em Lima, entre os dias 1 e 2 de outubro de 2012, com a presena de delegaes de 31 pases. A I Cpula ASPA realizava-se em Braslia, entre 10 e 11 de maio de 2005; e a segunda em Doha, em 31 de maro de 2009.

    5 Quarenta e sete autoridades estrangeiras estiveram presentes cerimnia de posse da Presidenta da Dilma Rousseff, entre as quais 23 Chefes de Estado e de Governo.

    6 Com o estabelecimento de relaes diplomticas com o Reino de Tonga, havido em 21 de dezembro de 2011, o Brasil incluiu-se no pequeno grupo de pases no mais do que quinze a manter relaes

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    Antonio de Aguiar Patriota

    Em paralelo prioridade regional, diversificao inclusiva de parcerias e ao aperfeioamento da governana global, no poderia deixar de mencionar a importncia que continuaremos a atribuir s comunidades brasileiras no exterior. Seguiremos valorizando as ati-vidades consulares e daremos continuidade a iniciativas pioneiras como a do Conselho de Representantes dos Brasileiros no Exterior7.

    A par dos progressos j alcanados, cumpre reconhecer que muito resta por realizar para que o Brasil se afirme como o Pas socialmente justo e democrtico com que sonhamos; para que seu lugar no mundo reflita plenamente nossa vocao para o dilogo e a cooperao. Em ltima anlise, esse ser sempre um projeto inacabado, em que uma gerao transfere para a seguinte as suas conquistas e as aspiraes ainda no realizadas.

    Surgiro desafios nas reas econmica, financeira, comercial, ambiental que exigiro cuidadosa coordenao interna envolvendo diferentes setores do Governo e contatos com o setor privado, sin-dicatos, sociedade civil. A preocupao com a competitividade de nossa indstria e com a composio de nossa pauta exportadora requerer estratgias capazes de oferecer oportunidades para que se conciliem interesses ofensivos e defensivos.

    Manteremos contato com a presidncia francesa do G-20 Financeiro e outros interlocutores8, entre os quais os BRICS, para

    diplomticas com todos os Estados reconhecidos pela Organizao das Naes Unidas, alm da Palesti-na e da Santa S. Em dezembro de 2010, o Brasil reconheceu o Estado da Palestina com base nas frontei-ras anteriores s linhas de 1967. Durante a 67. Sesso da Assembleia Geral da ONU, em 29 de novembro de 2011, a maioria dos Estados-membros da organizao decidiu, por meio da Resoluo A/67/L.28 (138 votos a favor, 9 votos contra e 41 abstenes), conceder Palestina o status de Estado observador no membro das Naes Unidas. A Santa S tem status de Estado observador permanente da ONU desde 6 de abril de 1964. Esse status foi confirmado por deciso da AGNU de 2004 (A/RES/58/314).

    7 Criado pelo Decreto n. 7.214/2010, o Conselho de Representantes de Brasileiros no Exterior com-posto por dezesseis membros e tem a funo de representar os brasileiros expatriados; manter, por intermdio do Itamaraty, interlocuo com o Governo brasileiro para canalizar as demandas da dis-pora; e apresentar sugestes de aes em prol das comunidades brasileiras.

    8 A Frana deteve a presidncia do G-20 no ano de 2011. No ano seguinte, a presidncia do Grupo esteve com o Mxico. Em 2013, a Rssia assumiu a presidncia do G-20. Na Cpula de Cannes, reali-

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    PARTE I

    Um pas sul-americano convicto, um ator globalUma diplomacia universal

    assegurar um ambiente propcio sustentabilidade da recupera-o econmica e infenso a presses protecionistas. Com o mesmo objetivo trabalharemos por resultados ambiciosos e equilibrados nas negociaes da Rodada de Doha.

    Comprometo-me a fazer o necessrio para desenvolver uma comunicao abrangente com as diferentes Pastas do Executivo com as quais no podemos deixar de trabalhar em sintonia, como Justia, Defesa, Indstria e Comrcio, Fazenda, Direitos Humanos, Meio Ambiente, entre outras. O mesmo com relao ao Legislativo e ao Judicirio e, em sentido amplo, sociedade civil, comuni-dade empresarial, ao cidado comum. Gostaria de ver o Itamaraty em contato com todos os Estados da Federao. Na verdade, a po-ltica externa serve a todas as esferas governamentais e a todas as regies do Pas. Por essa mesma razo, no devemos ser tmidos ao postularmos a alocao de recursos adequados para levarmos adiante nosso trabalho.

    Importante tambm dizer que devemos opinio pblica, em cada circunstncia especfica, esclarecimentos sobre como encara-mos o mundo e em que esprito interagimos com ele. Assim contri-buiremos para o debate aberto e honesto que desejamos continuar promovendo sobre nossa poltica externa.

    Temos diante de ns muito trabalho, em muitas frentes. Mas herdamos um Pas em excelentes condies econmicas e polticas; dispomos de uma Chancelaria que inspira respeito mundo afora; beneficiamo-nos de um perodo de liderana particularmente inspirada e criativa. Sem minimizar os desafios do futuro, quero

    zada entre 3 e 4 de novembro de 2011, os lderes do G-20 presentes acordaram o propsito de focar os trabalhos do grupo nos desafios econmicos globais, atuando como foro informal e gil. Foram ento abordados temas como crise econmica mundial, trabalho e emprego, sistema multilateral de comrcio. Na Cpula de Los Cabos, realizada de 18 a 19 de junho de 2012, as principais discusses estiveram centradas no tratamento dos desequilbrios macroeconmicos, na reforma da arquitetura financeira internacional, na incluso financeira, na segurana alimentar, no crescimento verde e no desenvolvimento sustentvel.

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    assegurar-lhes que dedicarei minha energia fsica e mental, o compromisso de uma vida inteira dedicada diplomacia, e algu-ma sabedoria e bom humor que terei adquirido no convvio com minha mulher, Tania, e com meus filhos, Miguel e Thomas, para contribuir para um Brasil, uma Amrica do Sul e um mundo cada vez mais prsperos, justos e democrticos.

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    Desafios novos, objetivos e valores perenesEntrevista concedida revista Veja, 9 de janeiro de 2011. Ttulo original: Continuar no repetir.

    Veja: Em todos os seus anos como diplomata profissional, que imagem o senhor formou dos Estados Unidos?

    Ministro: Tenho um envolvimento pessoal com os Estados Unidos, atravs da famlia, da minha mulher. H aspectos da sociedade ame-ricana que admiro. uma sociedade que est perto de oferecer opor-tunidades iguais aos seus cidados. O fato de um afrodescendente ocupar a Casa Branca uma ilustrao disso. Ele chegou a essa posi-o por um sistema que leva em conta a meritocracia. Portanto, ns temos o que aprender com os Estados Unidos. Agora, para falar a partir da minha experincia em Washington como embaixador, di-fcil deixar de constatar o lado polarizado do espectro poltico ameri-cano. difcil fazer uma sntese global do que so os Estados Unidos. Existe um hiato enorme entre uma poltica como a Republicana Sarah Palin e o Democrata Barack Obama. Eles tm vises de mundo diferentes, experincias de vida diferentes.

    Veja: O antiamericanismo um sentimento prevalente na Amrica Latina, afetando tambm a diplomacia brasileira. Qual a razo?

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    Ministro: Isso tem muito a ver com a histria da Amrica Latina, das intervenes dos Estados Unidos em assuntos internos dos pa-ses, como no Panam e na Colmbia. Houve tambm a ocupao de pases como o Haiti. O Embaixador Arajo Castro, um grande Chanceler, dizia que, entre os pases latino-americanos, o Brasil o que tem menos razo para se ressentir dos americanos, por ter uma histria muito parecida com a deles.

    Veja: Sua nomeao sinal de que haver uma distenso nas rela-es entre o Brasil e os Estados Unidos?

    Ministro: Sinto-me muito confortvel nos Estados Unidos. Passei muitos anos da minha vida l, quase trs anos como embai-xador em Washington, onde estabeleci bons contatos com uma di-versidade de interlocutores no Executivo, no Congresso e entre os chamados think tanks, os institutos de anlise poltica. Na minha experincia nos Estados Unidos, sempre senti que as portas esta-vam abertas para a nossa interlocuo. Isso no significa que con-cordemos em tudo sempre, mas h um respeito mtuo, que vem do fato de sermos as duas maiores democracias multitnicas das Amricas. No Governo passado, havia uma interlocuo boa, na-tural. Pode ter ocorrido aqui e ali uma dificuldade pontual, mas que nunca contaminou o conjunto do dilogo. Alis, dificuldades pontuais so caractersticas das relaes entre os pases.

    Veja: O que muda na diplomacia brasileira no Governo Dilma Rousseff?

    Ministro: Tive apenas duas reunies com a Presidenta Dilma Rousseff. pouco para responder a sua pergunta. Estive muito envolvido com a administrao anterior e me identifico com sua orientao geral. Mas continuar no repetir. Podemos esperar nuances, nfases e desafios novos. O prprio Brasil est hoje num patamar muito diferente daquele em que estava em 2003. Naquele ano, era prioridade que o Presidente fosse a Davos (reunio anual

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    PARTE I

    Desafios novos, objetivos e valores perenesUma diplomacia universal

    do Frum Econmico Mundial realizada na cidade sua de Davos) com o objetivo de se apresentar e tranquilizar a comunidade in-ternacional. A Presidenta da Repblica decidiu no ir a Davos em 20119. Estritamente falando, no h necessidade de apresentar a nova Presidenta do Brasil comunidade internacional. Ela j muito conhecida.

    Veja: A aspirao brasileira a uma cadeira permanente no Conselho de Segurana da ONU continua sendo prioridade?

    Ministro: Esse assunto no vai sair da agenda internacional. Estamos vivendo um momento de grandes transformaes geopo-lticas. As potncias tradicionais continuam tendo muita influncia, mas uma influncia que compartilhada cada vez mais com um nmero maior de atores. Isso leva ao debate sobre governana glo-bal, e as mudanas nela se observam em todas as esferas. O Conselho de Segurana est sendo forado a mudar nessa direo. Alis, 2011 ser um ano fascinante porque foram eleitos como membros no permanentes vrios pases que esto moldando esses novos meca-nismos. Estaro presentes o Brasil, a ndia e a frica do Sul. Ser uma espcie de laboratrio para examinar como o Conselho pode funcionar com a participao desses novos atores10.

    9 Representaram o Governo brasileiro, no Frum Econmico Mundial de 2011, o Ministro de Estado das Relaes Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, os Presidentes do Banco Central, Alexandre Tom-bini, e do BNDES, Luciano Coutinho. Estiverem presentes, tambm, o Presidente da Petrobras, Jos Srgio Gabrielli, e representantes da iniciativa privada brasileira.

    10 Em 2011, integraram o Conselho de Segurana das Naes Unidas, como membros no permanen-tes, Alemanha, frica do Sul, Bsnia-Herzegvina, Brasil, Colmbia, Gabo, ndia, Lbano, Nigria e Portugal. Nesse ano, estiveram, portanto, representadosnoCSNU, entre membros permanentes e no permanentes, todos os pases dos foros BRICS (Brasil, Rssia, ndia, China e fricadoSul) e IBAS (ndia,Brasil e fricadoSul). No binio 2010-2011, o Brasil exerceu pela dcima vez mandato de membro no permanente do Conselho de Segurana das Naes Unidas o que colocou o Pas, ao lado do Japo, como Estado que por mais vezes cumpriu mandato eletivo nesse rgo. A frica do Sul e a ndia exerceram mandatos de membros no permanentes no binio 2011-2012 pela segun-da e stima vez, respectivamente.

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    Veja: A Itlia anunciou que pretende denunciar o Brasil na Corte Internacional de Haia, por causa da recusa em extraditar o terro-rista Cesare Battisti. O senhor v condies de o Brasil defender a permanncia de Battisti sob a alegao absurda de que ele sofre perseguio poltica na Itlia?

    Ministro: Essa no uma discusso que envolva o Itamaraty. uma discusso que foi levada para o Supremo, depois transferida para o Presidente. uma deciso da administrao que se encerrou em 31 de dezembro, e eu vou lidar com ela na medida em que crie algum mal-estar diplomtico entre Brasil e Itlia. Mas, como disse o prprio Primeiro-Ministro Silvio Berlusconi, essa uma questo judicial. Dar um tratamento judicial questo um sinal muito positivo da parte do Governo italiano.

    Veja: Os vazamentos das mensagens diplomticas americanas pelo Wikileaks alteraram de alguma forma o dilogo entre a diplo-macia dos pases?

    Ministro: Minha resposta tende a ser sim. Obviamente, o traba-lho diplomtico envolve diferentes graus de confidencialidade. Isso faz parte do ofcio da diplomacia e da mesma forma em todos os pases. A perspectiva de que uma conversa confidencial, uma conversa reservada, possa ser divulgada sem que se tenha controle algum sobre essa divulgao uma coisa que no pode deixar de ter um impacto sobre o profissional da diplomacia. Acho que se tomar mais cuidado em todos os lugares, sobretudo nos Estados Unidos. O Wikileaks no criou embaraos maiores para o Brasil, mas um fenmeno que deve ser objeto de reflexo em todas as chancelarias mundiais.

    Veja: Como o senhor analisa a postura dos diplomatas americanos a partir dos documentos revelados?

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    Desafios novos, objetivos e valores perenesUma diplomacia universal

    Ministro: Voc chega concluso de que as chancelarias todas se assemelham muito. O tipo de narrao, de anlise, se parece muito com o tipo de narrao que ns fazemos. Se vazassem documentos brasileiros, encontraramos coisas semelhantes. Faz parte da cul-tura da diplomacia.

    Veja: O senhor citado em um dos documentos como fonte de um comentrio segundo o qual no havia confiana plena do Governo brasileiro na sinceridade do Governo iraniano em relao ao pro-grama nuclear. Se no havia essa confiana, por que o Brasil se co-locou como intermedirio da negociao?

    Ministro: O Brasil e a Turquia foram estimulados a ir adiante na negociao at a ltima hora. Vocs conhecem a histria da carta do Presidente Barack Obama ao Presidente Luiz Incio Lula da Silva e ao Primeiro-Ministro da Turquia, Recep Erdoan. Existia uma expectativa de que valia a pena, era interessante, embora houves-se muito ceticismo. Quanto ao meu comentrio especfico, eu me reservaria o direito de no comentar. Em circunstncias normais, essa conversa no deveria ser vazada. O que posso dizer que uma medida de desconfiana sempre existe na relao com diferentes parceiros. Alm disso, esse comentrio retratado no Wikileaks foi feito em fevereiro de 2009, e, depois disso, a confiana foi crescen-do, aumentando gradativamente. Tanto que produziu um acordo11.

    Veja: A Presidenta da Repblica concedeu uma entrevista em que afirmou discordar da posio brasileira em no condenar o Ir por violao de direitos humanos.

    11 Brasil, Turquia e Ir acordaram, em maio de 2010, a Declarao de Teer, documento que estabelecia as condies para a troca de urnio levemente enriquecido por combustvel para o Reator de Pesquisas de Teer. Pouco tempo depois, os Estados Unidos patrocinaram projeto de resoluo, no Conselho de Segurana da ONU, para impor nova rodada de sanes contra o Ir. A Resoluo 1929 foi aprovada. Brasil e Turquia membros no permanentes do rgo poca votaram contra o projeto.

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    Ministro: A Presidenta Dilma Rousseff muito sensvel a isso, como deve ser. Identifico-me plenamente com essa posio. A questo da ameaa de apedrejamento da iraniana obviamente vai contra tudo o que ns representamos12. Somos um pas onde no h pena de morte, e o Brasil muito ativo na condenao inter-nacional desse recurso punitivo, onde quer que ele seja utilizado. No nos esqueamos de que a pena de morte existe nos Estados Unidos, no mundo rabe, no Ir.

    Veja: O senhor conversou sobre isso com a Presidenta da Repblica?

    Ministro: Ela deixou muito claro que seu engajamento com a promoo dos direitos humanos envolve a viso de que todas as violaes, todos os abusos devem ser tratados de maneira equ-nime. No podemos cair na distoro de condenar um pas e calar sobre outro. Acho que vai haver uma reflexo interna sobre essa questo dos direitos humanos. Agora, no quero adiantar em que direo, ou quais sero os matizes.

    Veja: O regime venezuelano contribuiu para o enfraquecimento da democracia na Amrica Latina?

    Ministro: Se ns olharmos ao redor do globo, a Amrica do Sul a nica regio do mundo em desenvolvimento onde todos os go-vernos so democraticamente eleitos e se preocupam muito com a reduo da concentrao de renda. Isso uma coisa positiva. Agora, h diferentes experimentos polticos. Alguns enfrentam obstculos, que tm a ver com a histria, com a evoluo interna. A Venezuela se polarizou muito, a ponto de a oposio ter tentado

    12 Em 2006, a nacional iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani foi condenada pena de morte por lapi-dao (apedrejamento) por crimes de adultrio e de cumplicidade no homicdio do seu marido. O caso provocou grande comoo internacional, e a campanha movida pelos seus dois filhos resultou no adiamento da execuo, mas no levou revogao da pena capital. Em julho de 2010, o Presidente Luiz Incio Lula da Silva anunciou que pediria ao Presidente do Ir, Mahmoud Ahmadinejad, que permitisse ao Brasil acolher a iraniana em territrio nacional o que foi descartado por Teer em agosto do mesmo ano. Em setembro, logrou-se converter a pena de apedrejamento na aplicao de outra pena.

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    Desafios novos, objetivos e valores perenesUma diplomacia universal

    dar um golpe no Presidente Hugo Chvez em abril de 200213. Para que a democracia realmente aprofunde suas razes, esse um pro-jeto da sociedade como um todo, do governo, da oposio.

    Veja: Uma das crticas mais frequentes que se faziam no Governo passado era sobre as sucessivas interferncias do professor Marco Aurlio Garcia em assuntos diplomticos. Ele continua no cargo de assessor da Presidenta. Qual a sua relao com ele?

    Ministro: Muito amigvel, de muito respeito mtuo. Eu converso frequentemente com ele. J participei de muitas reunies com ele. Antevejo uma parceria muito boa.

    Veja: O senhor no teme o duplo comando?

    Ministro: Eu vejo a oportunidade de complementaridade. Ele co-nhece como poucos a realidade poltica dos pases vizinhos, um homem culto, de conhecimento amplo. Facilita nosso trabalho o fato de eu o conhecer bem e de haver uma empatia. O Ministro Amorim dizia sempre que, se o professor Marco Aurlio quisesse interferir em questes internas do Itamaraty, ele poderia ter feito isso, mas jamais tomou atitude alguma nesse sentido. H um res-peito muito grande pela instituio que o Itamaraty representa.

    13 Em 12 de abril de 2002, o Governo brasileiro emitiu nota imprensa em que lamentava a ruptura da ordem institucional na Venezuela, deplorava os atos de violncia que produziram mortos e feridos e manifestava sua solidariedade com as famlias das vtimas. Da mesma maneira, o Governo brasileiro reafirmou a importncia da democracia e dos direitos da cidadania, valores e princpios compartilha-dos e consagrados em nossa regio (Nota Imprensa n 170, de 12 de abril de 2012). No mesmo dia, os Presidentes dos pases-membros do ento Mecanismo Permanente de Consulta e Concertao Poltica (Grupo do Rio), em Declarao Conjunta, condenaram a interrupo da ordem constitu-cional na Venezuela, gerada por um processo de crescente polarizao e incitaram a realizao de eleies claras e transparentes, em consonncia com os mecanismos previstos pela Constituio venezuelana (Nota Imprensa n 172, de 12 de abril de 2002). Em 14 de abril, em novo comunicado imprensa, o Governo brasileiro afirmou ter tomado conhecimento, com satisfao, da retomada da ordem constitucional e do processo poltico democrtico na Venezuela. A nota imprensa n 174, de 14 de abril de 2002, prossegue nos seguintes termos: A reassuno pelo Presidente Hugo Chvez de suas funes como Chefe de Estado, ao colocar fim quebra da institucionalidade que mereceu a firme condenao do Brasil e da comunidade internacional, marcou um acontecimento significativo para a reafirmao dos valores e princpios democrticos na Amrica do Sul.

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    Veja: Continua ento a viso ideolgica na diplomacia brasileira?

    Ministro: A utilizao da palavra ideolgica um problema, pois ela usada de maneira diferente por diferentes interlocuto-res. Para Evo Morales, ser ideolgico ser neoliberal. Para pases mais alinhados com os EUA, ser ideolgico ter uma poltica de esquerda, socialista. O correto ter uma rea de convergncia em torno de objetivos e valores permanentes, como a democracia, a luta contra o preconceito, a busca de formas de cooperao inter-nacional equnimes.

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    Brasil, interlocutor incontornvel nos grandes debates da agenda internacionalDiscurso proferido por ocasio das comemoraes do Dia do Diplomata. Braslia, 20 de abril de 2011.

    Hoje um dia histrico. Pela primeira vez uma Presidenta do Brasil dirige-se aos formandos do Instituto Rio Branco. Em nome do Itamaraty gostaria de estender Presidenta Dilma Rousseff nossa respeitosa e afetuosa acolhida. Em pouco mais de cem dias de sua gesto, o corpo de funcionrios desta Casa aprendeu a admirar o profissionalismo, a dedicao e a clareza de ideias com que a Senhora Presidenta assumiu o comando da poltica externa brasileira.

    Na verdade a agenda internacional esteve presente desde o dia de sua posse qual compareceu o mais elevado nmero de delegaes estrangeiras jamais presente a uma posse presidencial no Brasil14. Creio que podemos interpretar este fato, significativo em si mesmo, como reflexo da crescente influncia do Brasil no plano internacional, e como demonstrao de um elevado interes-se por parte de amplos setores da comunidade internacional em estabelecer contatos com a nova Presidenta do Brasil desde o incio de seu mandato.

    14 Sobre o nmero de autoridades presente cerimnia de posse da Presidenta da Repblica, Dilma Rousseff, cf. nota 5.

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    Seu primeiro dia de trabalho, dia 2 de janeiro, foi, assim, de-dicado a encontros com vrios desses representantes. E com muita honra acompanhei esses encontros como seu recm-empossado Ministro das Relaes Exteriores.

    De l para c um caminho foi delineado, e um estilo estabele-cido pelo Governo Dilma Rousseff: a objetividade como critrio; a firmeza na promoo dos interesses nacionais; a nfase na busca de resultados concretos nos planos econmico, comercial, da ino-vao; a prioridade atribuda a parcerias capazes de contribuir para o aumento de nossa competitividade.

    Mas tambm foram dadas sinalizaes importantes de outra natureza: o idealismo como horizonte, tal como refletido no desejo de projetar, em nossa ao externa, o mesmo engajamento mani-festado no plano domstico com a justia social, o combate po-breza, o aperfeioamento do convvio democrtico, o desenvolvi-mento sustentvel, o compromisso com a promoo e proteo dos direitos humanos sem seletividade ou politizao , a valorizao do conhecimento e da cultura.

    Vivemos um momento de extraordinrio potencial para nos-sa ao diplomtica, em funo das conquistas observadas nos ltimos anos em matria de crescimento econmico com redu-o da desigualdade e do amadurecimento de nossa democracia. Conquistas tambm no plano da interlocuo externa que se de-senvolve, a um s tempo, com nossos vizinhos sul-americanos, de forma privilegiada, e com parceiros de todos os nveis de desenvol-vimento, em todos os quadrantes.

    Para dar contedo e forma a nossa ao diplomtica, e para es-tar altura das crescentes responsabilidades que vimos assumindo no cenrio internacional contemporneo, precisamos ser capazes de enfrentar o desafio da renovao.

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    Brasil, interlocutor incontornvel nos grandes debates da agenda internacionalUma diplomacia universal

    Ao dirigir-me aos jovens formandos que hoje assumem plena-mente seu destino de diplomata brasileiro, penso na importncia do constante aperfeioamento e atualizao de nossos mtodos de trabalho e instrumentos de anlise. Penso na necessidade de uma capacitao lingustica sintonizada com a emergncia de um mundo multipolar. Penso no fato de que nosso trabalho exige um esforo per-manente de definio de objetivos especficos e vises de conjunto.

    Como primeiro Chanceler brasileiro formado pelo Instituto Rio Branco em Braslia, quero transmitir-lhes o entusiasmo e o otimismo de quem, nos idos de 1980, sonhava com um Brasil que passou a existir de verdade: um pas que se distingue entre as prin-cipais economias do mundo como um vetor de desenvolvimento e democracia, um participante ativo e um interlocutor incontorn-vel nos grandes debates de interesse global.

    Ao escolher a Argentina como destino de sua primeira viagem ao exterior15, a Presidenta Dilma Rousseff evidenciou a prioridade atribuda s relaes com nossos vizinhos. Estaremos empenhados nos prximos anos na consolidao da Amrica do Sul como um espao de crescente paz e prosperidade. A pedra angular deste es-foro a relao com nosso principal parceiro econmico e comer-cial na regio. Trabalharemos pelo fortalecimento do MERCOSUL e pela construo de uma UNASUL robusta, sem deixarmos de de-dicar uma ateno diferenciada a cada pas sul-americano.

    A integrao da Amrica do Sul permanecer o ponto de par-tida para uma diplomacia latino-americana e caribenha em sentido mais amplo.

    Para alm do mbito regional, ficou claro, tanto nos encon-tros mantidos pela Presidenta com os Presidentes Barack Obama16

    15 A Presidenta da Repblica, Dilma Rousseff, visitou a Argentina em 31 de janeiro de 2011.

    16 O Presidente Barack Obama visitou o Brasil entre 19 e 21 de maro de 2011. Na ocasio, em Comuni-cado Conjunto, os dois mandatrios reconheceram a importncia de reformar as instituies inter-nacionais, a fim de refletir as realidades polticas e econmicas atuais e saudaram a designao do

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    e Hu Jintao17 quanto em sua participao na Cpula dos BRICS18, que o Brasil privilegiar contatos com os principais polos da ordem multipolar em gestao, aliando agendas bilaterais substantivas a uma viso cooperativa da multipolaridade. Isso significa, por um lado, contribuir para que a comunicao entre polos consolidados e emergentes seja fluida e construtiva; por outro, significa um mul-tilateralismo inclusivo, em que a maioria de pases mais pobres e menores se sinta genuinamente representada.

    G-20 como o mais alto foro para coordenao de polticas econmicas e os esforos para reformar a governana das instituies financeiras internacionais. No Comunicado Conjunto, os Presidentes concordaram que, da mesma forma que outras organizaes internacionais precisaram mudar para se tornar mais aptas a responder aos desafios do Sculo XXI, o Conselho de Segurana das Naes Unidas tambm precisa reformar-se, e expressaram seu apoio a uma expanso limitada do Conselho de Segurana que aprimore suas efetividade e eficincia, bem como sua representatividade. O Presi-dente Barack Obama manifestou seu apreo aspirao do Brasil de tornar-se membro permanente do Conselho de Segurana e reconheceu as responsabilidades globais assumidas pelo Brasil. Entre 9 e 10 de abril de 2012, a Presidenta da Repblica, Dilma Rousseff, visitou os Estados Unidos da Am-rica. No Comunicado Conjunto produzido nessa ocasio, os Presidentes defenderam a necessidade de reformar o CSNU e reiteraram seu apoio a uma expanso limitada do Conselho de Segurana que aprimore suas efetividade e eficincia, bem como sua representatividade. O Presidente Barack Obama reafirmou seu apreo aspirao do Brasil de tornar-se membro permanente do Conselho de Segurana e reconheceu as responsabilidades globais assumidas pelo Brasil.

    17 A Presidenta da Repblica fez visita China entre 11 e 13 de abril de 2011. O Comunicado Conjunto divulgado na ocasio afirma que as duas partes reafirmam a disposio de manter estreita coordenao em foros multilaterais com vistas a ampliar a representatividade e legitimidade desses foros, assim como a fortalecer a multipolaridade e promover a paz, a segurana e o desenvolvimento. Para tanto, os dois mandatrios sublinharam a importncia da coordenao poltica no mbito do G-20 e do BRICS.

    18 Desde o incio de seu mandato, a Presidenta da Repblica, Dilma Rousseff, participou de todas as Cpulas do agrupamento que rene, alm do Brasil, Rssia, ndia, China e, desde 2011, frica do Sul, o BRICS (anteriormente designado apenas como BRIC). A III Cpula do BRICS, ocorrida em Sanya, China, em dia 14 de abril de 2011, marcou o ingresso da frica do Sul no grupo, ampliando sua repre-sentatividade geogrfica. A IV Cpula do BRICS, realizada em Nova Dlhi, nos dias 28 e 29 de maro de 2012, teve como foco temas como crescimento econmico, paz e segurana internacionais, de-senvolvimento sustentvel, desafios urbanizao e biodiversidade, bem como o aperfeioamento dos mecanismos de governana global. Na V Cpula do BRICS, realizada em Durban, em 27 de maro de 2013, foram debatidos temas como promoo do desenvolvimento inclusivo e sustentvel, refor-ma das instituies de governana global e caminhos para a paz, a segurana e a estabilidade globais. Entre os principais acordos obtidos, figuraram entendimentos para o incio das negociaes que leva-ro criao de um banco de desenvolvimento do BRICS, voltado ao financiamento de projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentvel. A I Cpula do BRIC foi realizada em Ecaterimburgo, no dia 16 de junho de 2009; a II Cpula do BRIC, em Braslia, em 16 de abril de 2010.

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    Brasil, interlocutor incontornvel nos grandes debates da agenda internacionalUma diplomacia universal

    Continuaremos a trabalhar por reformas na governana global que reflitam as realidades geopolticas do sculo XXI, sem reproduzir as assimetrias do passado. Manteremos uma poltica ativa de conta-tos com os pases do Sul na frica, no Oriente Mdio, na sia.

    Como afirmou recentemente o Secretrio-Geral da Liga rabe, Amr Moussa, o Brasil estendeu sua mo ao mundo rabe ao liderar o projeto ASPA, que estabeleceu uma moldura para que a Amrica do Sul se aproximasse do Oriente Mdio e Norte da frica em tor-no de objetivos comuns e pacficos. Quando a regio foi tomada por uma onda de manifestaes que surpreendeu o mundo por sua intensidade e seu poder de contgio, o Brasil solidarizou-se com aqueles que clamam por liberdade de expresso e capacidade de influir sobre os destinos polticos de suas sociedades.

    Enquanto caa o regime de Hosni Mubarak no Egito, o Brasil presidia no Conselho de Segurana uma Sesso Especial sobre o tema Paz, Segurana e Desenvolvimento19. O debate serviu para ilustrar as limitaes dos enfoques puramente militares para equa-cionar crises que tambm traduzem frustraes com a falta de oportunidades de emprego e estagnao econmica.

    Peo permisso para expressar o reconhecimento do Itamaraty pelo desempenho honroso dos Ch