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 PATRIMÓNIO INDUSTRIAL E MUSEOLOGIA EM PORTUGAL Ana Cardoso de Matos 1* Maria da Luz Sampaio 2** 1 *  Ana Cardoso de Matos – Professora do Departamento de História da Universidade de Évora, mem- bro da direcção do CIDEHUS – Centro Interdisciplinar de História, Cultura e Sociedades da Universidade de Évora – Portugal. 2 **  Maria da Luz Sampaio – Doutoranda em História e Filosoa da Ciência, especialidade em Museologia  – Universidade de Évora. Membro integrado no CIDEHUS – Centr o Interdisciplinar d e História, Cultura e Sociedades da Universidade de Évora – Portugal. ABSTRACT: The aim of the present article is to give an overview of the museums of technology and existing indus- try in Portugal. Are considered the most relevant cases on the national scene and is also made a brief re- ection on the role of those mu- seums in the preservation of the industrial memoire, in education and in the diffuse of the technical- industrial culture. It will also be presented a brief overview on how the creation of industrial museums in the context of technical educa- tion, the process of industrializa- tion and under the inuence of the universal and international exhibi- tions has been considered, in Por- tugal, since the nineteenth century. KEY-WORDS: Industrial heritage. Museology. His- tory of industry. Museums. RESUMO:  No presente artigo pretende-se dar uma panorâmica dos museus da técnica e da indústria existentes em Portugal. São considerados os casos mais relevantes no panorama nacio- nal e realizada uma breve reexão sobre o papel desses museus na preservação da memória industrial, na educação e na difusão da cultura técnico-industrial. Apresentaremos também uma breve abordagem so- bre a forma como desde o século XIX se equacionou, em Portugal, a criação de museus industriais no âmbito das reformas do ensino técnico, do processo de industriali- zação e no seguimento das exposi- ções universais e internacionais. PALAVRAS-CHAVES: Património industrial. Museologia. História da indústria. Museus.

10951-35499-1-PB

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  • PATRIMNIO INDUSTRIAL E MUSEOLOGIA EM PORTUGAL

    Ana Cardoso de Matos 1*

    Maria da Luz Sampaio2**

    1 * Ana Cardoso de Matos Professora do Departamento de Histria da Universidade de vora, mem-bro da direco do CIDEHUS Centro Interdisciplinar de Histria, Cultura e Sociedades da Universidade de vora Portugal.

    2 ** Maria da Luz Sampaio Doutoranda em Histria e Filosofia da Cincia, especialidade em Museologia Universidade de vora. Membro integrado no CIDEHUS Centro Interdisciplinar de Histria, Cultura e Sociedades da Universidade de vora Portugal.

    AbSTRACT: The aim of the present article is to give an overview of the museums of technology and existing indus-try in Portugal. Are considered the most relevant cases on the national scene and is also made a brief re-flection on the role of those mu-seums in the preservation of the industrial memoire, in education and in the diffuse of the technical-industrial culture. It will also be presented a brief overview on how the creation of industrial museums in the context of technical educa-tion, the process of industrializa-tion and under the influence of the universal and international exhibi-tions has been considered, in Por-tugal, since the nineteenth century.

    KEy-wORDS:Industrial heritage. Museology. His-tory of industry. Museums.

    RESUMO: No presente artigo pretende-se dar uma panormica dos museus da tcnica e da indstria existentes em Portugal. So considerados os casos mais relevantes no panorama nacio-nal e realizada uma breve reflexo sobre o papel desses museus na preservao da memria industrial, na educao e na difuso da cultura tcnico-industrial. Apresentaremos tambm uma breve abordagem so-bre a forma como desde o sculo XIX se equacionou, em Portugal, a criao de museus industriais no mbito das reformas do ensino tcnico, do processo de industriali-zao e no seguimento das exposi-es universais e internacionais.

    PALAVRAS-CHAVES: Patrimnio industrial. Museologia. Histria da indstria. Museus.

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    com profunda saudade que vejo desaparecer pouco a pouco os vest-gios da nossa antiga actividade, da nossa industria caseira [...]. A machina vae triturando tudo no seu movimento vertiginoso, sem que mo pie-dosa se lembre de apanhar esses restos, humildes nas gloriosos, deposi-tando-os depois em stio, onde possam ser cuidadosamente estudados e onde a curiosidade lhes preste o merecido culto (VITERBO, 1896, p. 1).

    Introduo

    Numa sociedade em que a tecnologia tem cada vez mais importncia e interfere constantemente com o nosso quotidiano, os Museus tcnicos e indus-triais so cada vez mais pensados em interligao com a educao e com a fami-liarizao das populaes com a cincia e a tcnica. Nesta perspetiva os museus podem assumir um papel importante na formao dos vrios nveis de ensino, ao mesmo tempo que so espaos de preservao e divulgao do patrimnio tcnico e industrial.

    Por outro lado, o processo de desenvolvimento tecnolgico e industrial, que todos os dias torna obsoletos processos e tcnicas industriais, que pouco antes eram considerados avanados, e o fenmeno de desindustrializao so razes pe-las quais cada vez mais urgente a criao em Portugal de um Museu da Indstria, que preserve, estude e divulgue o patrimnio industrial e tecnolgico do pas.

    Estas preocupaes em preservar as antigas mquinas e objetos, o conhecimen-to associado aos processos de fabrico e o valor das artes e ofcios, estavam j presen-tes na criao dos antecessores deste tipo de museus, que remontam ao sculo XVIII com a criao, em 1794, do Conservatoire National des Artes et Mtiers, mais tarde transformado em Muse des Arts et Metiers de Paris (PARIS, 1987, p. 47-48).

    Em meados do sculo XIX, na sequncia da primeira Exposio Univer-sal, foi criado o South Kensington Museum por iniciativa de Henry Cole e do prncipe Alberto, sendo o mesmo aberto ao pblico em 1857 (LIFFEN, 2010, p. 56-67). Anos mais tarde o South Kensington Museum foi dividido em dois mu-seus, por um lado, o Victoria e Albert Museum, e, por outro, o Science Museum de Londres, que aps vrias mudanas e ciclos de crescimento, em 1960 se as-sumiu como um Museu da Cincia dedicado educao cientifico-tcnica. Este museu possua nesta altura uma coleo mais centrada nas tecnologias do que na cincia pura e dava um particular destaque revoluo industrial inglesa e sua cultura tcnica (GRANATO; LOURENO, 2010, p. 7-14).

    Nos ltimos anos as ligaes entre as Exposies Universais e a criao de diferentes tipos de museus tm sido realadas pela historiografia de diferentes pa-ses3, Um dos aspectos que tem sido referido o facto de desde a exposio Uni-versal de Paris de 1867, se ter defendido a ideia de que as exposies universais deveriam ser substitudas, com vantagem, por museus4. De facto, vrios museus foram criados na sequncia das exposies universais, verificando-se na dcada de 1880 a criao de museus comerciais (BORGES, 2012, p. 379), muitas vezes museus industriais e comerciais, em diversos pases. Em 1882, os belgas criaram o Museu Comercial de Bruxelas, em 1883 foram estabelecidos os Museus Indus-triais e Comerciais de Lisboa de Porto (MATOS, 2010, p. 49-74), a que nos volta-remos a referir, e at 1900 foram fundados mais de dezassete museus comerciais5.

    3 Veja-se o caso de Matos, Gouzevitch e Loureno (2010) e Souto (2011).

    4 Esta ideia est presente no relatrio de Le Play (COMMISION IMPRIALE, 1869) apresentado na se-quncia desse evento.

    5 Em 1906 foi criado o Museu do Rio de Janeiro (BORGES, 2012, p. 382).

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    Entretanto em 1879, foi inaugurado na Alemanha, o Deutsh Museum, um pro-jeto dedicado promoo tecnolgica e industrial alem e que considerado por vrios especialistas a Masterpiece dos museus tcnicos e cientficos6. J no sculo XX surgiram o Tekniska Museet (1924) e o museu da cincia e da tecnologia em Stockholm (1924) inspirado na ideia de promover a indstria e a engenharia sueca7.

    Na dcada seguinte, so abertos ao pblico importantes museus - em 1931, o Museu Nacional de Cincia, em Tquio, em 1933 o Museum of Science and Industry de Chicago e em 1937 o Palais de la Dcouverte em Paris -, que marcam uma nova gerao de museus em que se procurava explicar a cincia e a tcnica cada vez mais presente no quotidiano das populaes.8

    Ser porm, na dcada de 1980, que fruto da mudana do modelo his-trico de desenvolvimento, em especial das cidades industrializadas, palco dos processos de desindustrializao e de terciarizao, que iro ocorrer a maioria dos processos de reconverso e musealizao de espaos industriais e a criao de museus dedicados tcnica e indstria.

    Vrios exemplos poderiam ser referidos, entre eles o Museu da Cincia e da Tcnica da Catalunha instalado numa antiga fbrica de grande valor arquitetu-ral, que tem como principal objetivo preservar o patrimnio industrial e manter a memria do processo de industrializao da regio durante o sculo XIX.

    Os Museus da Cincia, da Tcnica e da Indstria em Portugal: as pri-meiras iniciativas

    As primeiras iniciativas para criar um museu da indstria em Portugal datam de 1807, altura em que o Estado encarregou a Cmara do Comrcio de criar uma coleo de livros, planos, modelos ou desenhos de mquinas e de outros objetos teis para promover e animar os diversos ramos da indstria nacional9, semelhante ao que havia sido criado em Frana, no ano de 1794. No entanto, a conjuntura poltica de ento impediu a criao dessa coleo10 e, em 1819, continuava-se a referir a necessidade de se criar este museu. Onze anos depois, Alexandre Antnio Vandelli11, membro da Academia Real das Cincias de Lisboa, retomou o assunto, reforando a necessidade de se constituir um tal museu, que considerava essencial para o progresso da indstria portuguesa.

    Na reforma do ensino de Passos Manuel estipulou-se, por decreto de 18 de Novembro de 1836, a criao dos Conservatrios de Artes e Ofcios de Lisboa e Porto, definidos como um depsito geral de mquinas, modelos uten-slios, desenhos, descries e livros relativos s diferentes Artes e Ofcios12, cujo fim principal era a instruo prtica em todos os processos industriais por meio da imitao13. Contudo, o funcionamento prtico destes museus esteve longe de corresponder aos objetivos da sua criao.

    A segunda metade do sculo XIX foi marcada pelo cientismo, pela apologia da cincia e pela ideia de que se devia promover a existncia de uma sociedade

    6 Segundo Gil (1997, p. 21-39) este museu que d continuidade ideia de ensino.

    7 Disponvel em: . Acesso em: 20 nov. 2013.

    8 Nomeadamente recorrendo interaco com o pbico com com as hand on.

    9 Decreto de 24 Junho de 1807 (PEDREIRA, 1994, p. 246).

    10 Portugal foi invadido pela tropas de Napoleo I em 1808 e a famlia real foi obrigada a deslocar-se para o Brasil.

    11 Alexandre Antnio Vandelli, naturalista Luso-Brasileiro (1784-1862).

    12 Dirio do Governo n. 274. Decreto de 18 de Novembro de 1836, art 9 e 10.

    13 Dirio do Governo n. 274. Decreto de 18 de Novembro de 1836, art 9 e 10.

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    industrial organizada e regulamentada por princpios cientficos e tcnicos. Os homens de Oitocentos desejavam difundir a importncia da cincia atravs de propostas de reforma do ensino tcnico, da publicao de obras de divulgao cientfica e tcnica, da realizao de conferncias, da organizao de exposies e da criao de museus industriais e/ou tcnicos. Como j se referiu, a criao de museus esteve directamente ligada com a realizao de exposies, nomea-damente, de exposies universais.

    Assim, sob a influncia da Exposio Universal de Londres realizada em 1851 e dos projetos que se seguiram de estabelecer um museu ligado in-dstria, o decreto de 31 de Dezembro de 1852, que criou o Instituto Indus-trial de Lisboa e a Escola Industrial do Porto, previa o funcionamento junto a estes estabelecimentos de Museus Industriais. O Relatrio do Ministrio das Obras Pblicas, Comrcio e Indstria datado de 30 de Dezembro de 1852, que acompanhou este decreto, considerava que o museu industrial devia tomar por modelo, quanto possvel, as coleces de exemplares, que se tm organizado nos pases mais adiantados, e que melhores estabelecimentos possuem neste gnero14. A falta de recursos financeiros foi adiando a concretizao destes museus, embora se continuasse a afirmar a importncia da sua criao,

    Diremos mesmo a necessidade absoluta e imperiosa, de se estabelecerem nos centros industriais museus tecnolgicos, onde se renam exemplares das mquinas mais perfeitas, modelos industriais de diferente ordem, co-lees de matrias-primas e tudo quanto possa contribuir para facilitar a instruo e apurar o bom gosto das classes industriais (BRASIL, 1864).

    A conjuntura europeia das ltimas dcadas do sculo XIX, marcada pela conquista de novos mercados e pelo domnio de espaos extraeuropeus pro-dutores de matrias-primas, e o impacto das exposies universais e interna-cionais levaram criao, por Decreto Rgio de 24 de Dezembro de 1883, dos Museus Comerciais e Industriais do Porto e de Lisboa. Os novos museus tinham como principal objetivo [] proporcionar instruo prtica atravs de exposies permanentes [] refletindo ao mesmo tempo o estado da indstria nacional [] (LOUREIRO, 2005, p. 199).

    Considerados como uma instituio educativa, detinham ainda uma fun-o comercial e industrial promovendo a venda de produtos expostos. Estes projetos tiveram, no entanto, vida curta, apesar da sua vasta programao e dos esforos de Joaquim de Vasconcelos, director e conservador do Museu do Porto, e de Joaquim Tello, director do Museu de Lisboa, tendo sido extintos pelo Decreto-lei de 23 de Dezembro de 1890, que nomeou em seu lugar uma Co-misso Superior de Exposies que nunca chegou a entrar em funes.

    Uma panormica dos museus dedicados ao patrimnio Industrial: 1990-2010

    1 As novas perspectivas de musealizao do patrimnio industrial e a sua influncia em Portugal

    Ser necessrio aguardar quase 100 anos, para que em Portugal nasam novos projetos de museus dedicados cincia, tcnica e indstria lanados com o objetivo de promover e incrementar o conhecimento tcnico e cientfico junto do populao, em especial da populao escolar desde os mais jovens aos estudantes do ensino superior.

    14 Sobre a criao deste museus veja-se: Matos (2010), Silva (1971) e Gomes (1978, p. 163-172).

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    A partir da dcada de 1980, fruto do reconhecimento da importncia do patrimnio industrial em Portugal, foram fundadas as primeiras associaes que tiveram um papel importante, ainda que diverso ao longo do tempo, na defesa e no estudo deste patrimnio. Destacamos o papel da Associao de Arqueologia Industrial da Regio de Lisboa, fundada em 1980 e que mais tarde deu origem APAI - Associao Portuguesa de Arqueologia industrial15, e da APOREM Asso-ciao Portuguesa de Empresas com Museus, fundada em 1992 com o objetivo de preservar o patrimnio e a memria passada das empresas e apresent--las em espaos museolgicos abertos comunidade, Estas associaes tiveram uma importante ao na divulgao do patrimnio industrial e empresarial e na sensibilizao das empresas e das Cmaras Municipais para a necessidade de preservar este tipo de patrimnio, impulsionando, consequentemente, a criao de novos museus ou ncleos museolgicos.

    O rpido desaparecimento dos vestgios materiais do desenvolvimento econmico verificado ao longo de sculo e meio levaram diversos autores a eleger o chamado patrimnio industrial como um novo territrio, chamando a ateno para o seu potencial, inclusive em termos da sua reutilizao para novas funes, dando-lhes uma segunda vida, entre as quais as de caracter museol-gico (MENDES, 2012, p. 2).

    Nos estudos sobre o patrimnio industrial, desde cedo que os vestgios materiais foram considerados essenciais para o estudo da sociedade industrial como fonte essencial para o estudo da histria da indstria, da tecnologia e dos movimentos sociais. Por esta razo se procurou preservar os vestgios da socie-dade industrial e d-los a conhecer atravs de diversas formas de valorizao, nomeadamente atravs da sua musealizao.

    Neste processo de valorizao/musealizao do patrimnio industrial a Nova Museologia, movimento nascido entre os anos de 1971 e 1974, sob a gide de Marcel vard com o apoio de Hugues de Varine e de George Henri Rivire, introduziu conceitos e prticas que se tornaram uma referncia, e con-tribuiu para a viso renovada que se passou a ter, no s na forma de musealizar o patrimnio industrial, mas, tambm, no papel que estes museus assumem nas comunidades em que se inserem. Este novo modelo, o museu de territrio em contacto estreito com os seus habitantes, ficou expresso num novo conceito de musealizao: o Ecomuseu. O conceito de ecomuseu foi colocado em prti-ca pela primeira vez na comunidade de Le Creusot/Monteceau-Les-Olives, em Frana, onde os autores acima referidos criaram um museu do homem e da indstria (RIVIRE, 2009). Neste museu procuraram joindre un inventaire du patrimoine matriel et immatriel dans son environnement la prise de conscien-ce dynamique du milieu (POULET, 2008, p. 177) .16

    O movimento da nova museologia e o conceito de Ecomuseu foram de-terminantes para o desenvolvimento dos museus dedicados ao patrimnio in-dustrial e desencadearam uma nova sensibilidade em torno da cultura material e da sua leitura integrada na paisagem.

    A partir da dcada de 1980 verificou-se, em Portugal, um processo de desindustrializao, em especial nas cidades industrializadas que obrigou a re-

    15 Sobre a actividade da APAI veja-se: Matos, Ribeiro e Santos (2003, p. 23-32). Para alm desta foram criadas outras associaes como a APPI-Associao Portuguesa para o Patrimnio Industrial.

    16 Como refere Chaumier (2003) o Ecomuseu procura relier des objets, dmontrer les rapports de ncessit, dtudier les objets dans leur environnement e procura exprimer, travers eux une culture et les relations des habitants un territoire. Uma das suas misses est prparer des changements et dtre un facteur dinnovation (CHAUMIER, 2003, p. 91; 93).

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    pensar o territrio, a reconverso dos edifcios abandonados e a planificao do tecido urbano. O abandono da actividade industrial foi, em vrios casos, acom-panhado pela realizao de estudos e intervenes arqueolgicas em espaos industriais, muitas vezes associados a processos de classificao e projetos de revitalizao (regenerao) urbana, que permitiram a criao de novos espaos culturais e museolgicos. Estes novos museus esto associados s mais-valias da marca Indstria enquanto score estratgico no desenvolvimento econ-mico e turstico de uma cidade ou regio, sustentados por polticas culturais (entenda-se poltica cultural enquanto estratgia de desenvolvimento urbano, educativo e cultural), que apostam na valorizao do patrimnio industrial e da histria local para dinamizar o seu tecido social e econmico.

    Partindo dos estudos realizados sobre o patrimnio industrial sublinha-mos a ideia, j apresentada por vrios autores, que a partir dos anos de 1980 se desenvolveu de um modo exponencial a designada Museologia Industrial, ou, segundo outra perspetiva, a museologia dos fenmenos industriais (CUST-DIO, 2006, p. 42). Amado Mendes refere a este respeito que [] as estruturas industriais, pela sua escala e dimenso, so apropriadas para a exibio de obras de grande porte [] (MENDES, 2012, p. 3) sendo espaos ideais para serem reutilizados para novas funes e, em muitos casos, para serem reconvertidos em museus, dedicados memria industrial, preservando assim estruturas e equipamentos aos quais foi atribudo valor histrico e patrimonial. A este pro-psito, este mesmo autor veicula a ideia de que

    o boom deste gnero de museus se deveu a outros factores, dos quais destaco [] o movimento museolgico da nova museologia, defen-dendo a proximidade do museu com a comunidade, a preservao de patrimnio relativo ao trabalho e ao quotidiano, a interactividade nos museus e a sua funo pedaggica (MENDES, 2013).

    2 Os museus industriais de iniciativa empresarial: exemplos representativos

    Em Portugal, uma parte dos museus dedicados ao patrimnio industrial nasceram no seio das polticas de preservao deste tipo de patrimnio e de divulgao das grandes empresas, muitas delas com participao do Estado, en-quanto outros se deveram a iniciativas das Cmaras Municipais. Neste trabalho, centrmo-nos na apresentao e reflexo sobre os museus dedicados ao patri-mnio industrial, criados em Portugal por iniciativa de empresas, associaes ou autrquicas a partir da dcada de 1990.

    Entre os museus de empresa destacamos o Museu da gua da EPAL Empre-sa Pblica de guas Livres e o Museu da Electricidade (Central Tejo) da empresa EDP.

    O Museu da gua da EPAL tem a sua histria ancorada na aprovao, em 1919, pela Assembleia Geral da Companhia das guas de Lisboa, de um regu-lamento administrativo que criava na estrutura organizativa da empresa a [...] 3 diviso da Repartio Tcnica, designada por Trabalhos de Desenho, Arquivo, Biblioteca e Museu17. Esta Repartio passou a ser responsvel pela preserva-o da documentao histrica da Companhia, pelo registo documentado das alteraes realizadas nos edifcios e nos vrios equipamentos da empresa, re-colhendo exemplares dos vrios equipamentos que iam sendo substitudos por outros mais recentes, com objectivo de os preservar e expor. Com esse fim a 3 diviso da Repartio tcnica

    17 Disponvel em: . Acesso em: 22 nov. 2013.

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    [...] Teria a seu cargo a organizao e conservao do Museu em que estejam expostos os diversos tipos de canalizao, aparelhos acess-rios, contadores e mais material usado, e bem assim um mostrurio das avarias e alteraes no mesmo encontrado18.

    Esta deciso foi tomada num perodo de grandes mudanas polticas, viven-do-se, ento o rescaldo do assassinato de Sidnio Pais, acontecimento registado em 14 de dezembro de 1918, que ps fim a um perodo efmero denominado de Repblica Nova (1917-1918). O novo governo foi assumido pelo ento se-cretrio de Estado da Marinha, Almirante Canto e Castro, que se debateu com as revoltas monrquicas de Monsanto, em Lisboa, e com a Traulitada do Norte, encabeada por Paiva Couceiro. Estes movimentos estavam integrados no per-odo da Primeira Repblica, que anunciava um projeto regenerador firmado na crena de um homem novo assente no progresso e no aperfeioamento do homem pela educao e pela cultura, perodo que terminou a 28 de maio de 1926 com o golpe militar, que levou implantao de uma ditadura militar.

    Aps um longo perodo em que no foram tomadas medidas especificas o processo de preservao do patrimnio da EPAL conheceu um momento importante em 1967, quando foram desactivados o Aqueduto das guas Livres e o Reservatrio da Me d`gua das Amoreiras, que desde o sculo XVII ti-nham abastecido a cidade de Lisboa. Estas monumentais estruturas passaram, ento, a integrar o patrimnio do Museu da EPAL. Em 1987, o Museu sofreu remodelaes sendo alvo de uma nova organizao museolgica da coleo e, em 1994, no mbito da Lisboa Capital Europeia da Cultura, a EPAL procedeu recuperao do Reservatrio da Patriarcal situado no subsolo do jardim do Prncipe Real. O museu, actualmente, abrange quatro ncleos dispersos pela cidade de Lisboa: o Aqueduto das guas Livres, o Reservatrio da Me de gua das Amoreiras, o Reservatrio do Patriarcal e a Estao Elevatria a vapor dos Barbadinhos. Integra, ainda, um arquivo histrico com o acervo documental de grande valor composto por documentos escritos, plantas e desenhos, que per-mitem reconstituir a histria do abastecimento de gua e as vrias alteraes sofridas pelos edifcios e pela rede de distribuio.

    Outro projeto com impacto no panorama museolgico o Museu da Electricidade em Lisboa que nasceu do interesse da empresa EDP (empresa nascida da fuso de 13 empresas do setor eltrico em 1976) em preservar um dos smbolos arquitetnicos da produo da eletricidade: a Central Tejo19.

    O primeiro edifcio desta Central Elctrica, hoje desaparecido, foi edifica-do em 1909 e ao longo das dcadas seguintes novos edifcios foram sendo cons-trudos e a potncia elctrica instalada ampliada para dar resposta ao consumo crescente desta energia. Em 1972 a Central foi desativada aps um perodo em que apenas funcionou como Central de Reserva (desde 1951).

    Em 1985, este espao foi palco daquela que muitos autores consideram como a primeira grande exposio de arqueologia industrial realizada em Por-tugal 20 e que se intitulou Arqueologia Industrial: um Mundo a descobrir, um Mundo a defender, iniciativa que pretendia ser o embrio da criao de um museu da indstria escala nacional. Nesta exposio foram apresentados equi-pamentos e peas oriundas de vrias empresas e indstrias, possibilitando, ainda, este evento a abertura ao pblico da antiga Central termoelctrica. Seguiram-se

    18 Disponvel em: . Acesso em: 22 nov. 2013.

    19 Sobre o edifico da Central veja Faria, Cruz e Barbosa (2007).

    20 Em 1978 , em Tomar teve lugar uma exposio de arqueologia industrial .

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    outras exposies, das quais destacamos, em 1990 Um sculo de Electrici-dade, dedicada apresentar a histria da Central Tejo e o seu contributo na produo de electricidade para a regio de Lisboa.

    Desde os anos 80 iniciaram-se vrias diligncias no sentido deste edifcio ser preservado e transformado em Museu da Electricidade. Em 1986, o conjun-to fabril da Central Tejo, pelo seu valor histrico e arquitectnico em Portugal, foi classificado como Imvel de Interesse Publico, por Decreto Governamental de 1/86 de 3 de janeiro, sendo um dos primeiros edifcios industriais a ser clas-sificado em Portugal21.

    Alguns anos depois o Museu da Electricidade foi encerrado para ser alvo de obras de remodelao, reabrindo ao pblico em 2006, com um novo con-ceito de musealizao que centrava a sua exposio permanente na prpria Central e nos equipamentos que permaneceram no edifcio e que continuam a fazer parte integrante da sua arquitectura.

    Este museu integra, ainda, uma reserva onde se encontra armazenado o esplio que no est exposto ao pblico e um Centro de Documentao cons-titudo por acervos documentais das vrias empresas de produo, transporte e distribuio de energia.

    Ao longo dos ltimos anos, alguns museus industriais, e em especial os museus de empresa da EPAL e da EDP, apresentaram uma capacidade de inves-timento na manuteno dos seus espaos, bem como na remodelao e revita-lizao os seus edifcios (com recurso a fundos comunitrios). A sua programa-o assenta na abertura dos seus espaos a exposies temporrias, eventos culturais e artsticos muito variados, onde se incluem exposies internacionais itinerantes pela Europa. Deste modo, apostam na divulgao das suas instala-es, autnticos cenrios da histria da tcnica e da indstria portuguesa e, simultaneamente divulgam a marca da empresa junto de interlocutores na-cionais e estrangeiros e desenvolvem uma programao sustentada em eventos culturais e artsticos nos seus espaos.

    As empresas (muito especialmente as que integram capitais do Estado) ga-nharam conscincia do seu patrimnio e utilizam os Museus como instrumento da sua poltica de marketing, considerando-os como locais privilegiados para a projeo da imagem do passado e presente da empresa, e contribuindo, simulta-neamente, para a preservao do patrimnio arquitetnico e documental.

    3 Museus industriais de iniciativa universitria

    Embora os museus industriais ligados a instituies de ensino, nomeada-mente universitrio, sejam uma realidade com uma importncia crescente em diversos pases, em Portugal o seu nmero ainda escasso. O caso que merece maior destaque o Museu de Lanifcios da Covilh, que est profundamente associado s mudanas de natureza econmica e social verificadas na regio da Covilh a partir dos anos 70, com o declnio do sector dos lanifcios e o aban-dono de edifcios industriais, a progressiva terciarizao da regio e a instalao da futura Universidade da Beira Interior. Alis, a ideia da criao deste museu foi uma iniciativa da Universidade da Beira Interior, institucionalizada pelo Des-pacho Reitoral de 1989. Nasceu, assim, o projeto de recuperao da memria do passado industrial e a constituio de um espao museolgico que evocava, no s, as manufacturas pombalinas, como o processo de industrializao deste

    21 Aps a classificao do Moinho de Mar do Seixal em 1984.Classificado como Imvel de Interesse Pblico pelo Decreto n29/84.DR.ISerie no 145 de 25-06-1984. Ver tambm Nabais (1986).

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    conclave industrial no interior montanhoso de Portugal. Este o exemplo como um museu pode contribuir

    lmergence dun intrt commun au sein de lespace public, Il exer-ce de fait une hgmonie en termes de collections comme de r-flexion collective propos du patrimoine, tant du point de vue de lappartenance et de lidentit que du pont de vue de lexprience de laltrit (POULET, 2005, p. 4).

    O Museu dos Lanifcios da Covilh foi o resultado da aplicao de metodologias de interveno desenvolvidas no mbito da arqueologia in-dustrial, com a celebrao, em 1986, de um Protocolo de Cooperao entre o ainda Instituto Universitrio da Beira Interior e a Associao de Arqueo-logia Industrial da Regio de Lisboa22. Deste modo, foi possvel realizar um conjunto de intervenes arqueolgicas e, mais tarde, a musealizao de tanques, fornalhas e outras estruturas industriais. Inaugurado em 1992, e aberto ao pblico, em regime normalizado, em 1996, este projeto permitiu, no s, a preservao e recuperao da rea da Tinturaria da Real Fbrica de Panos (fundada pelo Marqus de Pombal em 1764), como ainda a aber-tura, em 2006, do Ncleo da Real Fbrica da Veiga, (um espao com cerca de 12000 m2 de rea bruta) e um Centro de Interpretao dos Lanifcios nas proximidades do espao museolgico anterior. Recentemente o museu lanou um projeto editorial, a Ubimuseum, uma revista on-line dedicada a divulgao dos estudos e projetos de investigao que vo desde histria da indstria e da tcnica at museologia.

    Em Guimares, na zona dos Couros, foram reconvertidos duas fbricas: a Fbrica de Curtumes da Ramada, espaos afetos ao curso de design da Universi-dade do Minho, e a Fbrica de Curtumes de Antnio Jos de Oliveira e Filhos23, onde se instalou o Centro Avanado de Formao Ps-graduada.

    Nos Aores, encontramos, ainda, o Observatrio do Mar dos Aores, criado pelo Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Aores, que possui desde 2008 um ncleo museolgico dedicado arqueologia industrial e cujo objetivo o estudo e a divulgao do patrimnio baleeiro. Instalado na f-brica de Baleias, do porto de Pim, na Cidade da Horta (edifcio classificado como Imvel de interesse Pblico (IIP) desde 1894). Este ncelomuseolgico possui uma exposio permanente que conta com a maquinaria original: Casa das caldeiras, casa das autoclaves tendo integrado acervos de antigas armaes baleiras.

    4 Os museus industriais de iniciativas autrquicas

    Para alm dos museus que nasceram no seio das grandes empresas na-cionais, encontramos tambm em Portugal um conjunto de museus de iniciativa autrquica, o grande promotor nos ltimos anos de equipamentos culturais que reutilizaram e reconverteram antigos edifcios industriais em Museus, Centros de Cincia e Tecnologia e Centros Interpretativos. Estes, uma vez instalados e integrados na Rede Portuguesa de Museus tm pautado a sua programao, no s pelo desenvolvimento de programas educativos, mas tambm, e sobretudo nos ltimos tempos, por programas de incluso social, dialogando com dife-rentes entidades, abrindo o espao do Museu para minorias, promovendo o dilogo intercultural e os programas de insero social e cultural.

    22 Disponvel em: . Acesso em: 22 nov. 2013.

    23 Disponvel em: . Acesso em: 22 nov. 2013.

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    Localizados em concelhos com uma vertente industrial reutilizaram anti-gas instalaes fabris para dar corpo a novos projetos museolgicos de feio municipal. Nesta linha importa, referir o Museu do Trabalho Michel Giacometti, de Setbal, inaugurado em 1995, e o Ecomuseu do Seixal, aberto ao pblico desde 1992 (denominado Ecomuseu em 1993), que possui vrios ncleos mu-seolgicos associados ao patrimnio industrial e fluvial. Destacmos, ainda o Museu da Cortia da Fbrica do Ingls, em Silves, inaugurado em outubro de 1999, mas que teve uma existncia efmera j que encerrou alguns anos de-pois, o Museu do Vidro (Palcio Stephens) na Marinha Grande inaugurado em dezembro de 1998, o Museu da Plvora Negra, em Oeiras, aberto ao pblico em 1998, e que tem norteando a sua misso em torno da investigao das co-lees do Museu e dos vrios edifcios e equipamentos da fbrica, bem como das diversas componentes sociais e tecnolgicas (CAMACHO, 2008, p. 6-8), e o Museu da Mina de Aljustrel transformado em ncleo museolgico em finais da dcada de 1990, entre outros museus.

    Pertencendo a uma gerao de museus de iniciativa autrquica mais re-cente, inaugurados no perodo que decorreu entre 2000 a 2006, encontramos, o Museu de Cermica de Sacavm, inaugurado em junho de 2001, o Museu do Papel de Paos Brando/Terras de Santa Maria, inaugurado em outubro de 2001, o Museu Nacional do Po, na Serra da Estrela, aberto ao pblico em se-tembro de 2002, o do Museu da Chapelaria de S. Joo da Madeira, inaugurado em junho de 2005, que foi antecedido por um trabalho de pesquisa antropo-lgica, de recolha de memrias dos que trabalharam nas fbricas de chapela-ria [], que permitiu elaborar um ficheiro de informantes realizado com base na metodologia das entrevistas semidirectivas para constituir histrias de Vida (MENEZES; FERNANDES, 2007, p. 161), e a constituio uma importante coleco de objetos. Este museu que ilustra bem o modo de produo dos chapus, tem apostado numa programao com forte ligao comunidade industrial deste concelho.

    Mais a Sul, o Museu Municipal de Portimo inaugurado em 2008, aps um processo de estudo, levantamento patrimonial e de reconverso das antigas instalaes da fbrica de conservas Feu Hermanos, um espao que apresenta uma coleo de mquinas e apetrechos associados indstria conserveira. O programa museolgico do museu procurou integrar e valorizar os elementos mais relevantes da sua arquitetura, enquanto elementos do patrimnio indus-trial e da envolvente ribeirinha da cidade (GAMEIRO; AIRES; CID, 2007, p. 147). Importa referir a qualidade de projetos museolgicos como o do Museu de Portimo, que j recebeu vrios prmios nacionais e internacionais24.

    No Sul do pas situa-se, tambm, o museu pertencente Fundao Ro-binson, instalado numa antiga fbrica de cortia, localizada em Portalegre, que teve uma grande importncia neste sector. Este museu composto por dois ncleos: o ncleo da Igreja de So Francisco e o nucelo da Fbrica Robinson. O primeiro um espao cultural com dimenso museolgica que se integra no plano de reabilitao arquitectnica e paisagstica do Espao Robinson, enquanto o segundo tem uma vocao cultural, mas o vasto e riqussimo pa-trimnio industrial que ainda conserva ser estudado e mantido in situ sempre que possvel, em diversas localizaes na fbrica, documentando um passado industrial importante.25

    24 Desde 2010 foram-lhe atribudos os seguintes premios: Museu Conselho da Europa 2010, atribudo pelo Conselho da Europa; premio DASA Mundo do Trabalho 2011.

    25 Disponvel no site da Fundao Robinson: .

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    5 Os museus como alternativa desindustrializao: o caso do norte do pas

    A regio Norte de Portugal, detentora de um tecido industrial com ra-zes antigas e que no sculo XIX se caracterizava pelo seu carcter oficinal e manufactureiro, conheceu ao longo das primeiras dcadas do sculo XX um importante desenvolvimento industrial, em grande parte tributrio das ligaes com o mercado brasileiro e colonial.

    Nas ltimas dcadas do sculo XX, a cidade do Porto, tal como outras ci-dades marcadas pelo processo de industrializao, foi afectada por um processo de desindustrializao e deslocalizao da indstria, inicialmente das freguesias do centro da cidade para as perifricas e, mais tarde, das freguesias perifricas para os concelhos envolventes. Este fenmeno propiciou tambm nesta regio o nascimento de novos museus na dcada de 1990, dos quais se pode destacar o Museu Nacional da Imprensa e Artes Grficas, uma iniciativa da Associao que congrega jornais e empresas do sector grfico, e o projeto do Museu da Cincia e Indstria do Porto, uma iniciativa conjunta da Cmara Municipal do Porto e da Associao Empresarial de Portugal. Este ltimo museu encontra-se agora en-cerrado ao pblico, mas detentor de uma importante coleo representativa de mquina, ferramentas e objetos das principais unidades industriais e oficinas que existiram na cidade. Durante os anos em que esteve aberto este museu desenvolveu uma srie de atividades que procuravam manter viva a memria industrial da cidade (SAMPAIO, 2003, p. 169-172) e uma importante programa-o educativa com o objetivo de dar a conhecer s geraes mais jovens essa mesma memria que corre o risco de se diluir.

    Em 1992, foi fundado o Museu do Carro Elctrico, um projeto da Socieda-de de Transportes Colectivos do Porto, instalado na antiga central termoelc-trica de Massarelos e detentor de uma coleo de carros elctricos, atrelados e veculos, e o Museu dos Transportes e das Comunicaes instalado em 1992 na Alfndega do Porto, um edifcio cuja construo data de 1859.

    Na regio do Vale do Ave, marcada pelo desenvolvimento da indstria txtil algodoeira, a desativao de numerosas fbricas deu origem recon-verso de vrios edifcios industriais nos quais foram instalados projetos de carater empresarial (incubadoras de empresas) ou espaos de divulgao ar-tstica. Com o objetivo de preservar a memria industrial da regio em 1987 foi instalado em Famalico, numa antiga fbrica de fiao e tecelagem, o Museu da Indstria Txtil da Bacia do Ave. Este museu foi integrado num projeto mais amplo: a rota do vale do Ave.

    Em Santo Tirso, foi recuperada a Fbrica de Santo Thyrso (fundada em 1898), uma das mais emblemticas fbricas txteis do Vale do Ave, sendo recon-vertida em incubadora de base tecnolgica nas reas da Moda e Design, com a finalidade de contribuir para a promoo da inovao e do empreendedorismo26, No seu interior foi, ainda, instalado um centro interpretativo evocando a mem-ria desta unidade txtil instalada nas margens do rio Ave.

    Mais recentemente, em Guimares, no mbito da programao da Capi-tal Europeia 2013, foram abertos novos espaos culturais, sendo de destacar a reconverso da fbrica de lenis ASA um edifcio industrial dos anos 60 transformado num condomnio empresarial27, este espao que combina reas

    Acesso em: 3 dez. 2013.

    26 Disponvel em: . Acesso em: 02 dez. 2013.

    27 Disponvel em . Acesso em: 22 nov. 2013.

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    dedicadas a projetos empresariais com outras destinadas a eventos culturais. Ainda em Guimares de destacar, o antigo mercado transformado num centro artstico e cultural ao qual se atribuiu o nome de Plataforma das Artes.

    Reflexes sobre os museus da tcnica e da indstria na sociedade actual

    Segundo os dados divulgados pelos estudos do OAC (Observatrio das Actividades Culturais) para o perodo de 2000 a 2005, verificamos que ocorreu um aumento dos museus tutelados pelas Cmaras Municipais. Para este mesmo perodo o nmero de museus aumentou de 208 para 235 museus. Se analisar-mos os museus em funo da sua tipologia, a realidade museolgica caracteriza--se, por um destacado nmero de museus de Arte (20,6 % do total), de Histria (9,4%) Etnografia e Antropologia (5,8%) e, ainda, museus mistos e pluridiscipli-nares (14,9% no total). Os museus da Cincia e da Tcnica apresentam apenas 6,5% (SANTOS, 2005).

    Nesta linha de levantamentos de dados quantitativos, importa referir os da-dos do inqurito levado a cabo pelo Instituto dos Museus Portugueses - IPM em 2000, que apontava para num universo de 530 museus em funcionamento, 81 com colees de patrimnio industrial, sendo que os distritos mais industrializados do pas, como Lisboa, Porto, Setbal apresentavam os dados mais relevantes. Assim, para o distrito de Lisboa, num universo de 16 museus, a percentagem de colees de patrimnio industrial era de 19,75%. J para o Porto, num universo de 10 mu-seus, a percentagem era de 12,35%, e para o distrito de Setbal, num universo de 5 museus a percentagem era de 6,17%. Nos distritos com uma tradio industrial menos relevante, os valores desciam para os 2,47%, como era o caso dos distritos de vora, e Castelo Branco e da ilha da Madeira. Esta uma realidade que nos faz refletir, sobre como a cultura tcnico-industrial foi sendo integrada nos museus existentes e nos que entretanto foram criados (SILVA, 2000).

    O estudo realizado pelo Observatrio das Actividades Culturais OAC, no perodo referido, 2000 a 2005, permitiu constatar que o panorama muse-olgico portugus apresentou durante esses anos uma clara expanso. Este crescimento caracteriza-se pela valorizao do patrimnio mvel por parte dos sectores pblicos e privados e pelo desenvolvimento de polticas cultu-rais, nas quais se inclu a requalificao (com recursos a fundos comunitrios) de parte significativa dos museus nacionais. Por seu lado, a criao da Rede Portuguesa de Museus RPM, em 2000, e a aprovao da nova Lei Quadro dos museus portugueses, em 2004, tiveram, tambm, um papel importante na reorganizao dos museus portugueses.

    Apesar do aumento do nmero de museus verificado at 2005, nos l-timos anos a maioria dos mesmos apresenta sinais de crise, que resultam das redues oramentais que so preocupantes para todos os que se encontram ligados ao setor museolgico, vendo, na maioria das vezes, a diminuio, seno mesmo a paralisao dos processos de preservao deste tipo de patrimnio.

    Porm, e numa perspetiva analtica, este um momento de reflexo sobre o trabalho realizado e sobre os novos desafios para o futuro28. O patrimnio industrial e os projetos museolgicos nesta rea so dos primeiros a serem atingidos pela carncia dos meios, pois so estruturas muito especficas, de gran-des dimenses, como aquedutos, reservatrios, centrais, casa das mquinas, mas tambm, colees de objetos que possuem exigncias de conservao muito

    28 Certos analistas referem, este momento, como um perodo de transio entre modelos e realidades, entre distintas formas de utilizar os recursos existentes e o abalar das cadeias sociais e financeiras (dados da OAC).

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    especficas. A falta de recursos nesta rea implica, muitas vezes, a suspenso dos trabalhos de incorporao de colees, e, mais grave ainda, a interrupo de pro-jetos de estudo, inventariao e conservao destas colees e equipamentos.

    Perante a consciencializao deste enunciado, o esforo que se impe, na rea da cultura e em particular dos museus, uma maior responsabilizao e interao entre o sector pblico e o sector privado. Implica congregar mais von-tades e traar uma nova estratgia que rentabilize os recursos j existentes e que promova um dilogo mais aberto dos vrios agentes e protagonistas destes processos. Importa, como defende o ICOM, retomar o fio condutor do de-senvolvimento dos museus portugueses, ancorado numa ao estratgica, que permita uma ao articulada entre a preservao do patrimnio, o turismo cul-tural e as dinmicas educativas e socializadoras associadas misso dos museus.

    No momento crtico atual, em que se questiona diariamente o papel do servio pblico, impe-se reflectir sobre os modelos de requalificao dos mu-seus existentes e a criao de novos museus integrados numa rede de museus dedicados ao patrimnio industrial, que se complementem entre si sem desne-cessrias repeties de temas ou abordagens. Neste contexto importa fomen-tar o trabalho em rede, nomeadamente, com a criao de museus de base geo-grfica e temtica (defendido pelo ICOM e por vrios especialistas e tcnicos), importa tambm encontrar novas formas de subvencionar e apoiar a atividade cultural e congregar e disponibilizar recursos humanos e materiais.

    Nesta linha de preocupaes e perspectivas de actuao fundamental sensibilizar os poderes pblicos para a importncia do patrimnio industrial como sector estratgico na definio das identidades regionais, e na promoo da inds-tria. Esta nova forma de actuar impe, consequentemente, uma alterao de escala e uma outra de base territorial: unidades regionais, nacionais e europeias.

    Os projetos de estudo e conservao do patrimnio industrial obrigam, desde o incio, a combinar vrios recursos e meios que permitam a correcta compreenso dos objetos expostos, para a qual essencial a recolha das mem-rias e dos saberes associados ao funcionamento desses mesmos objetos e m-quinas. Assim, particularmente importante estabelecer o dilogo com antigos fabricantes, manuseadores /operadores dessas mquinas e registar o seu modo de funcionamento. igualmente relevante recolher informaes junto de ope-rrios e engenheiros que foram responsveis pela montagem ou desmontagem das mquinas, ou seja, o levantamento da histria oral que permita recuperar e preservar a memria dos saberes, das tcnicas, das vivncias, rotinas, reivin-dicaes Esta recolha deve ser simultnea com o levantamento das marcas deixadas no territrio e com o inventrio do edificado e dos objetos. A realiza-o destas tarefas obriga a um trabalho interdisciplinar e quantas vezes trans-disciplinar, combinando histria, arquitectura, engenharia, eletrotecnia, antropo-logia... de modo a permitir uma compreenso global do patrimnio industrial e a encontrar as melhor opes para a sua musealizao ou reconverso. No se pode tambm esquecer a componente didtica que devem ter os projetos de musealizao destes bens patrimoniais.

    Os museus da indstria, da cincia e da tcnica, so uma nova gerao de museus que na sua constituio dependem da celeridade dos projetos de recon-verso dos edifcios, dos processos de classificao e dos financiamentos para a musealizao de estruturas e equipamentos. Eles tm hoje a seu cargo a con-servao e a divulgao de grandes naves industriais, chamins, mquinas a vapor, geradores eltricos, objectos de trabalho e produo, mas mais ainda, esto refns das suas instalaes e das prprias mquinas, reluzentes ou enferrujadas.

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    Fora do discurso expositivo ficam, quantas vezes, as novas abordagens em torno de temas como as relaes laborais, o trabalho infantil, o trabalho feminino e o trabalho domstico, as convulses sociais, o sujo, a dor. (CUSTDIO, 2006, p. 42). Seguindo de perto a linha de pensamento de certos autores, e comungando de determinados princpios de destacar a seguinte afirmao

    [...] com a valorizao cultural do patrimnio industrial inicia-se um profcuo dilogo entre a tcnica, a indstria, a histria, a arqueologia e a cultura, cuja interaco dialctica contribui para um aprofundamento das razes e das memrias tcnicas e socais da industrializao (CUS-TDIO, 2006, p. 35).

    Aos museus da Cincia da Tcnica e da Indstria cabe a misso, no s, de salvaguardar colees histricas, mas tambm de motivar os pblicos para a cincia e a tecnologia, assumindo-se como montras do conhecimento cientfico e tecnolgico. Segundo Tinoco29,

    os museus da cincia e da tcnica tm por funo chamar constante-mente ateno para aquilo que a indstria deve aos homens. Quer se trate dos inventores e dos tcnicos, dos produtores ou dos consu-midores, e, tambm evidenciar de que maneira ela veio influenciar os modos de vida (TINOCO, 2012, p. 40, grifo do autor).

    Nesta linha de pensamento e perante o panorama dos museus que se tm dedicado ao patrimnio cientifico-tcnico-industrial:

    A histria dos museus de Cincia e da Tcnica est marcada por suces-sivas transformaes dos seus papis e identidades. Se por um lado, os museus se foram constituindo como uma referncia estvel de capital cultural na rea cientfica, por outro lado, a criao, a evoluo e ao dos museus estiveram sempre profundamente associadas s dinmicas, estmulos e transformaes ditadas pelos contextos da prpria cincia e da tcnica, e tambm por imperativos econmicos, polticos, sociais e outros (MEDINA, 2012, p. 258, grifo do autor).

    Estes imperativos marcaram cada momento, cada ciclo da histria e es-tendem-se a todos os domnios da sociedade. No seio dos museus dedicados ao patrimnio industrial e dos museus da detentores da cultura tcnico-indus-trial importa realizar uma reflexo sobre o papel que devero ser chamados a ter nesta sociedades de grande acelerao tecnolgica, sujeita aos fluxos da sociedade de informao, globalizante e globalizada. Qual o papel deste patri-mnio e dos seus museus no sculo XXI? Se o patrimnio industrial tem de-sempenhado um papel renovador no desenvolvimento da museologia em Por-tugal, se a constituio das suas colees, a musealizao de espaos industriais constituem um exerccio de dilogo inter comunidades, interdisciplinar, ento nada melhor do que avaliar os riscos e as potencialidades deste novos projetos e reclamar o seu lugar no desenvolvimento educacional, cultural, cientifico e tecnolgico neste novo milnio.

    Consideraes finais

    A anlise que fizemos permitiu relembrar que a preocupao em preser-var a memria da indstria data do sculo XIX, altura em que surgiram as pri-meiras iniciativas de se criarem museus industriais no pas. Apesar de ao longo do sculo XX terem surgidos iniciativas pontuais de preservar o patrimnio industrial, os museus dedicados ao patrimnio industrial, instalados em espaos

    29 Alfredo Tinoco, professor e muselogo falecido em 2010.

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    industriais reconvertidos e adaptados so, em Portugal, um fenmeno da dcada de 1990 e dos primeiros anos do seculo XXI.

    Estes projetos, recentes em Portugal, procuram interiorizar e expressar as tendncias da nova museologia, assumindo-se como museus de territrio, com uma forte ligao s comunidades industriais, aos seus protagonistas (empresrios, tcnicos, operrios), apostando nos programas educativos e de incluso social.

    Os museus industriais, e, em muitos casos, as novas incubadoras empre-sariais, (que reutilizam espaos industriais emblemticos), tm tido a funo de preservar as estruturas industriais, as suas linguagens arquitetnicas e a mem-ria do patrimnio industrial. Contudo, nem todos os museus tcnico industriais que hoje existem em Portugal se pautaram pelos critrios mais adequadas na reconverso dos espaos e nem todos tm o mesmo tipo de discurso expositi-vo, desenvolvendo-se segundo diferentes critrios e linhas programticas. Alm disso, nem sempre os critrios de preservao so to abrangentes ou repre-sentativos das atividades industriais ou dos saberes tcnicos como seria neces-srio para preservar a memria industrial do pas e das suas vrias regies. Se as chamins tm constitudo um smbolo da indstria, cuja preservao recor-rente, ainda que muitas vezes a falta de contextualizao lhe retirem o significa-do que poderiam ter, o mesmo no acontece com outros espaos fabris, como a casa das mquinas e os seus equipamentos, que so normalmente demolidos sem que se tenha procedido a registos histricos e arqueolgicos aprofundados.

    Por outro lado, muitos museus tm permanecido refns das suas mqui-nas reluzentes e de modos tradicionais de musealizao dos espaos, sem capa-cidades para irem mais longe na interveno crtica e educativa, assumindo-se como agentes de transformao social e poltica.

    Os primeiros museus denominados da Cincia, da Tcnica e da Indstria tiveram, como vimos a longo deste trabalho, uma ligao muito estreita com as exposies industriais e internacionais. Nalguns casos tiraram partido dos inves-timentos, recursos e edifcios construdos para essas exposies. Posteriormen-te, souberam alargar ou reformular os seus objetivos, encontrando modelos organizativos, ao longo do tempo que lhes permitiram consagrar-se divulgao do conhecimento cientfico e tecnolgico, como aconteceu, por exemplo, com o Deutsches Museum, em Munique (Alemanha), ou com o Science Museum em Londres (Inglaterra). Em Portugal, esse fenmeno no se concretizou, apesar de termos tido iniciativas semelhantes ao longo de diferentes pocas. Relembra-mos, a exposio de 1865 e a construo do Palcio de Cristal no Porto.

    Nos ltimos 30 anos nasceu, em Portugal, uma nova gerao de museus dedicados ao patrimnio industrial por iniciativa das universidades, das empresa pblicas e das autarquias que se constituem como um importante ncleo da experincia museolgica e da preservao do patrimnio tcnico-industrial. Por ltimo importa referir que est reservado aos museus dedicados ao patrimnio industrial Museus da Cincia, da Tcnica e da Indstria - um papel muito espe-cfico: a educao pela tcnica, a divulgao da cultura tecnolgica, a promoo do conhecimento cientfico e as diversas aplicaes da tecnologia na atualidade que interferem com a nossa vida quotidiana e com as decises polticas e sociais sobre as quais a sociedade civil frequentemente chamada a pronunciar-se. A explorao das suas colees e equipamentos atravs de programas educativos e projetos de estudo e difuso da cultura tcnico-industrial devem ser o seu leith motiv (objectivo e misso). Mas, para isso, necessrio que possuam os meios e os recursos que lhes permita desenvolver um trabalho consistente, cujo mbito contemple, desde a divulgao dos saberes e ofcios, at s tecnologias

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    digitais, passando pela temticas do mundo do trabalho, dos movimentos sociais e pelo entendimento das identidades ligadas ao mundo industrial.

    Esta funo educativa e social s possvel com a definio de um progra-ma de Servio Educativo, que esteja integrado numa estratgia nacional assumida, no s pelo poder local e regional, mas por uma agenda nacional de promoo da educao tcnica, interligada com as agendas internacionais e cujo grande objectivo seja o fomento do conhecimento cientifico-tecnolgico em Portugal.

    Referncias

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    Artigo recebido em dezembro de 2013. Aprovado em fevereiro de 2014