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otavio-calegari
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ARTIGO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
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NOVEMBRO / 2011 76REVISTA PROTEOQUALIDADE DE VIDA NO TRABALHOTrabalhadoromnilateralControle rigoroso e fragmentao de tarefas no so boas alternativasApesardaemergnciadenovosmo-delos de gesto do trabalho, que buscamromper com formas arcaicas de produ-o, e do espao cada vez maior das no-vas tecnologias da informao e da co-municao, o cho de fbrica das cor-poraes brasileiras permanece operan-do hegemonicamente com velhos para-digmas.Omaisclssicodessesparadigmas,com efeitos nocivos para o bem-estar notrabalho, a separao rgida e ortodo-xaentreplanejamentoeexecuo,re-sultando em uma clivagem do tipo: nasorganizaes h os que pensam e os queexecutam.Istofazlembrarumamxi-maatribudaaoengenheiromecnicoFrederickWinslowTaylor:Ooperrioideal aquele que, quando chega f-brica, deixa o crebro no vestirio.Essa separao entre o pensar e o fa-zer no consiste apenas em um pragma-tismotpicodachamadaracionalidadecientficadotrabalho;tambmummododeexercciodopodernascor-poraes. uma forma prtica de divi-so do trabalho e, sobretudo, de controlesobreofazereosresultadosquedelenascem.Essecontrolesetornaagoramais sofisticado, preciso e rigoroso comosuportedasnovastecnologiasdain-formao. A vigilncia eletrnica com vo-caopersecutriatemsido,segundopesquisas, fonte crescente de mal-estarno trabalho. Me sinto fortemente con-trolada, vigiada por mquinas e cmeras.Isto me faz muito mal, afirma uma tra-balhadora de central de teleatendimen-to.Para os que se interessam em promo-ver uma Qualidade de Vida no Trabalhode natureza preventiva e sustentvel, fundamental se perguntar que concep-o de ser humano e de trabalho encon-tram-sesubjacentesaoparadigmage-rencial da diviso entre plane-jamentoeexecuo.Paradigmaatualepresente nas corporaes, embora nas l-timasdcadasasnovastecnologiasdegesto do trabalho (ex. adoo da poliva-lnciafuncional)venhamtentandorecicl-loviatransfernciaaostrabalha-doresdenovasresponsabilidadessobabatutadeumaautonomiavigiadaeres-trita.EMMIGALHAS EMMIGALHAS EMMIGALHAS EMMIGALHAS EMMIGALHASAo transformar o cotidiano das corpo-raes com base em dois mundos (os doque pensam e dos que executam) no apenas o trabalho que se transforma emmigalhas para seus executores, como lem-bra a obra de Georges Friedmann,O tra-balhoemmigalhas.Ostrabalhadorestambm se transformam em migalhas.Otrabalhofragmentado,repartidoedistribudo tambm fragmenta o criadorda obra. Ele tende a transformar em pe-quena poro, parte nfima, coisa nenhu-ma ou nada o sujeito da ao: o trabalha-dor. Nessa lgica de gesto, o trabalhadorsetransformaemapertadordeparafu-sos, batedor de carimbos, repetidor descripts.O desenho de tarefas de ciclos curtos,repetitivas,comsolicitaocognitivali-mitada e intensa veicula uma concepode ser humano empobrecida, minguada ealienante. O trabalho se processa de modoqueproduzacoisasqueimediatamenteso separadas dos interesses e do alcancede quem as produziu. Isto tende a ocultarou falsificar a ligao de modo que apare-a o processo (e seus produtos) como in-Mrio Csar Ferreiradiferente, independente ou superior aoshomens, seus criadores.Os modelos de gesto do trabalho queoperam nessa lgica de produo s in-teressam, de fato, nos trabalhadores co-mo pernas, braos, corpo e automatismoscognitivos.ApromoodaQVTrequerumnovoparadigmasobreaconcepode ser humano que supere o fenmenodas migalhas.OMNILA OMNILA OMNILA OMNILA OMNILATERALIDADE TERALIDADE TERALIDADE TERALIDADE TERALIDADEO trabalhador e o trabalho na tica deQVT de vis preventivo requer pensar econceber o homem como ser completonos moldes do que preconizou a culturaclssica greco-romana. Ou seja, um seromnilateral (do latim omnis: tudo, todo),comtodasaslateralidadesdavidahu-mana. Que lateralidades so estas? Elasdizem respeito s dimenses fsicas, psi-colgicas e sociais do ser humano que,por natureza, requerem pleno desenvol-vimento.ApolticaeosprogramasdeQVT devem, portanto, estar em sintoniacomumaperspectivadotrabalhadoromnilateral.Do ponto de vista fsico, fundamen-tal respeitar os limites e as caractersti-casdofuncionamentodocorpohuma-no, prevenindo, por exemplo, as tarefasrepetitivaseasolicitaointensivaeprolongada de musculaturas. O trabalhoqueharmonizaedesenvolveocorpofator de sade e longevidade. Do pontodevistacognitivo,otrabalhodeveser,sobretudo, momento de criao, execu-o com zelo e autonomia. O fazer cria-tivo sinnimo de desenvolvimento in-telectual e tambm um forte antdoto damonotonia geradora de adoecimento. Doponto de vista social, o trabalho deve sergeradordeharmoniaedecooperaopermanentes.Dessaforma,eleforjaocrescimento individual e coletivo e, so-bretudo,facilitasprticasdereco-nhecimento de seus protagonistas.UmaQualidadedeVidanoTrabalhoque se oriente pela perspectiva da omni-lateralidade coloca o trabalho no devidolugar: modo de se fazer histria e fontepromotora de bem-estar.Mrio Csar Ferreira - Ps-doutor emErgonomia Aplicada Qualidade de Vidano Trabalho pela Universidade Paris 1Sorbonne (Frana) e professorassociado no Departamento dePsicologia Social e do Trabalho doInstituto de Psicologia da [email protected] SOARES/ESTDIO BOOM