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Ano X - Edição 111 - Fevereiro 2017 Distribuição Gratuita RECICLE INFORMAÇÃO: Passe este jornal para outro leitor ou indique o site Violência escolar: uma reflexão sobre suas causas e o papel do Estado A violência, independente do lugar na qual é apresentada, deve ser analisa- da de uma forma cuidadosa, especial- mente quando o assunto é violência praticada por crianças e adolescentes. Leia mais: Página 6 OVELHA NEGRA Estabelecidos em uma confortável casa com dez quartos, sala de jantar e de estar, copa, cozinha, biblioteca, lavabo, quatro banheiros, uma enorme varanda com cadeiras de balanço e redes, na frente, um lindo jardim com vari- edade de plantas e flores. Ao fun- do, um enorme terreno com fogão à lenha onde assavam pães e por vezes reuniam-se para uma prosa e com muitas árvores frutíferas on- de as crianças adoravam brincar e traquinar. Leia mais: Página 8 Personagens inesquecíveis da Música - II No mês passado me referi à minha descoberta das partituras das sinfonias de Beethoven na biblioteca de meu pai, e que isso despertou meu interesse pela música sinfônica. Devo a meu pai também minha paixão pela ópera. Leia mais: Página 11 Insulto, logo existo No momento em que eu apenas uso o rótulo, perco a chance de ver engenho e arte. A crítica e o contradi- tório são fundamentais. Grande parte do avanço em liberdades in- dividuais e nas ciências nasceu do questionamento de paradigmas. Leia mais: Página 13 CULTURAonline BRASIL - Boa música Brasileira - Cultura - Educação - Cidadania - Sustentabilidade Social Agora também no seu Baixe o aplicativo IOS NO SITE www.culturaonlinebr.org A única possibilidade de nos eternizamos nessa frágil vida, é plantando boas sementes. É a melhor herança que deixamos! Caros Leitores, Como você já devem ter reparado, apresenta- mos um novo espaço no site da Gazeta Vale- paraibana, G-ciencia. Um dos objetivos da reformulação é tornar o site ainda mais colaborativo e, assim, fazer jus ao lema de ser “o ponto de encontro da educação”. Tendo em mente essa missão, de se tornar uma verdadeira comunidade virtual que une todos os profissionais e temas relacionados à educação, cul- tura e sustentabilidade Social, investiu na platafor- ma que se propõe a veicular trabalhos científicos da área. Leia mais - Página 2 Falar sobre o pensamento. Pode ser falar sobre o direito à liberdade de pen- samento, que é um direito fundamental garantido constitucionalmente, no artº 5, inc. IV da Constituição Federal. Po- de ser falar de um dos direitos básicos assina- lado nos Direitos Fundamentais do ser humano, nos tratados internacionais e nas constituições da maioria dos países do mundo. Leia mais: Página 3 Durante o século XIX são várias as referências às ações da Maçonaria no Brasil. Apesar disso, com exce- ção de alguns estudos recentes a esse respei- to, a história da Maçonaria ainda é muito pouco conhecida, não tendo chegado a se constituir em tema corrente de pesquisa acadêmica. Leia mais: Página 4 O Problema da Intolerância Hoje em dia, está-se novamente teste- munhando bastante um antigo proble- ma humano chamado intolerância. E hoje em dia há um fenômeno aparente- mente paradoxal à primeira vista, de intolerân- cia por parte de “tolerantes. Leia mais: Página 5 Dez anos a serviço da educação, da cidadania e valorização das culturas e tradições brasileiras A PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA - 25 de março de 1824 A Constituição Política do Império do Brasil, vulgo Constituição de 1824, foi a primeira e única constituição do Brasil Impe- rial, bem como a primeira constituição a reger o território brasileiro (Portugal adotou só sua primeira constituição em 1822). Outorgada pelo imperador D. Pedro I e vigente até a declaração da república em 1889, essa Constituição foi a mais longeva e estável do Brasil, sendo marcada por peculiaridades como o Poder Moderador e esforços sinceros de se criar uma sociedade progressista, estabelecendo o voto (indireto e censitário) e direitos civis aos cidadãos. na. Características gerais A Constituição de 1824 diferencia-se da atual (1988) por ter sido outorgada (efetivada sem participação popular) e semirrí- gida (possibilitava modificações em seu texto). Em todo o resto, as características são idênticas, sendo ela uma Carta for- mal e escrita (é um documento sistematizado de regras), analítica (ou prolixa, dispondo minuciosamente sobre vários tópi- cos) e dogmática (elaborada por um órgão constituinte). Contexto histórico Um produto da independência brasileira, a Constituição de 1824 surgiu da necessidade de legitimar o novo império e de formalizar um equilíbrio entre as várias classes sociais que disputavam o poder político após o fim do regime português, especialmente os escravocratas, que temiam re- voltas da população majoritariamente escrava, e os imigrantes ainda leais a Portugal ("Partido Português"). Divisão de poderes A Constituição de 1824 é mais conhecida por sua peculiar divisão de poderes, com a inclusão do Poder Moderador entre o executivo, legislativo e judiciário. Com o objetivo declarado de resolver impasses e disputas, o Poder Moderador, na prática, foi uma maneira de assegurar a autoridade do Imperador sobre os demais poderes. Direitos civis e religião Notadamente, o título oitavo da Constituição garantiu alguns direitos inalienáveis a todos os cidadãos brasileiros, considerado "cidadão" qualquer pessoa livre natural ou naturalizada no Brasil: o direito à liberdade, à segurança pessoal e à propriedade. No âmbito religioso, ela estabeleceu o catolicismo como única religião oficial do Estado, havendo liberdade de culto a outras religiões somente no âmbito doméstico, ou seja, sem de- monstrações em local público. Apesar desta restrição, a liberdade religiosa era ampla na prática. Direito de voto e eleição O estabelecimento do voto para o poder legislativo (Assembleia Geral) foi a tentativa de conferir um caráter popular à Carta, limitado pelo fato de este ser indireto (cidadãos votavam em Eleitores de Província, que então escolhiam os parlamentares) e censitário (limitado por condições finan- ceiras). Embora as eleições primárias fossem permitidas a qualquer cidadão, os Eleitores de Província deviam ser homens livres, sem anteceden- tes criminais e com renda anual superior a 200 mil réis. Para candidatos a deputado, o valor subia para 400 mil réis, com a exigência de seguir a religião oficial; para senadores, cujo cargo seria vitalício, o valor era de 800 mil réis, mais idade mínima de quarenta anos.

111 - FEV - 2017 · 2017. 10. 2. · Personagens inesquecíveis da Música - II No mês passado me referi ... sendo marcada por peculiaridades como o Poder Moderador e esforços sinceros

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Page 1: 111 - FEV - 2017 · 2017. 10. 2. · Personagens inesquecíveis da Música - II No mês passado me referi ... sendo marcada por peculiaridades como o Poder Moderador e esforços sinceros

Ano X - Edição 111 - Fevereiro 2017 Distribuição Gratuita

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Violência escolar: uma reflexão sobre suas

causas e o papel do Estado A violência, independente do lugar na qual é apresentada, deve ser analisa-da de uma forma cuidadosa, especial-mente quando o assunto é violência praticada por crianças e adolescentes.

Leia mais: Página 6

OVELHA NEGRA

Estabelecidos em uma confortável casa com dez quartos, sala de jantar e de estar, copa, cozinha, biblioteca, lavabo, quatro

banheiros, uma enorme varanda com cadeiras de balanço e redes, na frente, um lindo jardim com vari-edade de plantas e flores. Ao fun-do, um enorme terreno com fogão à lenha onde assavam pães e por vezes reuniam-se para uma prosa e com muitas árvores frutíferas on-de as crianças adoravam brincar e traquinar.

Leia mais: Página 8

Personagens inesquecíveis da Música - II

No mês passado me referi à minha descoberta das partituras das sinfonias de

Beethoven na biblioteca de meu pai, e que isso despertou meu interesse pela música sinfônica. Devo a meu pai também minha paixão pela ópera.

Leia mais: Página 11

Insulto, logo existo No momento em que eu apenas uso o rótulo, perco a chance de ver engenho e arte. A crítica e o contradi-

tório são fundamentais. Grande parte do avanço em liberdades in-dividuais e nas ciências nasceu do questionamento de paradigmas.

Leia mais: Página 13

CULTURAonline BRASIL - Boa música Brasileira - Cultura - Educação - Cidadania - Sustentabilidade Social

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A única possibilidade de nos eternizamos nessa frágil vida, é plantando boas sementes. É a melhor herança que deixamos!

Caros Leitores,

Como você já devem ter reparado, apresenta-mos um novo espaço no site da Gazeta Vale-paraibana, G-ciencia.

Um dos objetivos da reformulação é tornar o site ainda mais colaborativo e, assim, fazer jus ao lema de ser “o ponto de encontro da educação”. Tendo em mente essa missão, de se tornar uma verdadeira comunidade virtual que une todos os profissionais e temas relacionados à educação, cul-tura e sustentabilidade Social, investiu na platafor-ma que se propõe a veicular trabalhos científicos da área.

Leia mais - Página 2

Falar sobre o pensamento. Pode ser falar sobre o direito à liberdade de pen-samento, que é um direito fundamental garantido constitucionalmente, no artº 5, inc. IV da Constituição Federal. Po-

de ser falar de um dos direitos básicos assina-lado nos Direitos Fundamentais do ser humano, nos tratados internacionais e nas constituições da maioria dos países do mundo.

Leia mais: Página 3 Durante o século XIX são várias as referências às ações da Maçonaria no Brasil. Apesar disso, com exce-

ção de alguns estudos recentes a esse respei-to, a história da Maçonaria ainda é muito pouco conhecida, não tendo chegado a se constituir em tema corrente de pesquisa acadêmica.

Leia mais: Página 4 O Problema da Intolerância Hoje em dia, está-se novamente teste-munhando bastante um antigo proble-ma humano chamado intolerância. E hoje em dia há um fenômeno aparente-

mente paradoxal à primeira vista, de intolerân-cia por parte de “tolerantes.

Leia mais: Página 5

Dez anos a serviço da educação, da cidadania e valorização das culturas e tradições brasileiras

A PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA - 25 de março de 1824

A Constituição Política do Império do Brasil, vulgo Constituição de 1824, foi a primeira e única constituição do Brasil Impe-rial, bem como a primeira constituição a reger o território brasileiro (Portugal adotou só sua primeira constituição em 1822). Outorgada pelo imperador D. Pedro I e vigente até a declaração da república em 1889, essa Constituição foi a mais longeva e estável do Brasil, sendo marcada por peculiaridades como o Poder Moderador e esforços sinceros de se criar uma sociedade progressista, estabelecendo o voto (indireto e censitário) e direitos civis aos cidadãos. na.

Características gerais

A Constituição de 1824 diferencia-se da atual (1988) por ter sido outorgada (efetivada sem participação popular) e semirrí-gida (possibilitava modificações em seu texto). Em todo o resto, as características são idênticas, sendo ela uma Carta for-mal e escrita (é um documento sistematizado de regras), analítica (ou prolixa, dispondo minuciosamente sobre vários tópi-cos) e dogmática (elaborada por um órgão constituinte).

Contexto histórico

Um produto da independência brasileira, a Constituição de 1824 surgiu da necessidade de legitimar o novo império e de formalizar um equilíbrio entre as várias classes sociais que disputavam o poder político após o fim do regime português, especialmente os escravocratas, que temiam re-voltas da população majoritariamente escrava, e os imigrantes ainda leais a Portugal ("Partido Português"). Divisão de poderes

A Constituição de 1824 é mais conhecida por sua peculiar divisão de poderes, com a inclusão do Poder Moderador entre o executivo, legislativo e judiciário. Com o objetivo declarado de resolver impasses e disputas, o Poder Moderador, na prática, foi uma maneira de assegurar a autoridade do Imperador sobre os demais poderes.

Direitos civis e religião

Notadamente, o título oitavo da Constituição garantiu alguns direitos inalienáveis a todos os cidadãos brasileiros, considerado "cidadão" qualquer pessoa livre natural ou naturalizada no Brasil: o direito à liberdade, à segurança pessoal e à propriedade. No âmbito religioso, ela estabeleceu o catolicismo como única religião oficial do Estado, havendo liberdade de culto a outras religiões somente no âmbito doméstico, ou seja, sem de-monstrações em local público. Apesar desta restrição, a liberdade religiosa era ampla na prática.

Direito de voto e eleição

O estabelecimento do voto para o poder legislativo (Assembleia Geral) foi a tentativa de conferir um caráter popular à Carta, limitado pelo fato de este ser indireto (cidadãos votavam em Eleitores de Província, que então escolhiam os parlamentares) e censitário (limitado por condições finan-ceiras). Embora as eleições primárias fossem permitidas a qualquer cidadão, os Eleitores de Província deviam ser homens livres, sem anteceden-tes criminais e com renda anual superior a 200 mil réis. Para candidatos a deputado, o valor subia para 400 mil réis, com a exigência de seguir a religião oficial; para senadores, cujo cargo seria vitalício, o valor era de 800 mil réis, mais idade mínima de quarenta anos.

Page 2: 111 - FEV - 2017 · 2017. 10. 2. · Personagens inesquecíveis da Música - II No mês passado me referi ... sendo marcada por peculiaridades como o Poder Moderador e esforços sinceros

Fevereiro 2017 Gazeta Valeparaibana Página 2

A Gazeta Valeparaibana é um jornal mensal gratuito distribuído mensalmente para download na web

Editor e Jornalista responsável: Filipe de Sousa - FENAI 1142/09-J

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Olá caros Leitores,

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É o “G-Ciência”. Espaço 100% colaborativo e GRATUITO! A proposta surge para ser o meio em que trabalhos científicos sejam veiculados na imprensa, dano a eles o devido destaque.

Todo internauta pode prticipar’, basta seguir dois passos...

1º - ENVIAR o trabalho para: [email protected] (em Word sem formatação com letra Arial 11). NÃO ESQUECER de enviar todos os seus dados: Nome Completo, Documento de Identidade, Nome do Curso, Faculdade.

2º - Depois de analisado, será publicado no espaço “G-Ciência” do site e na edição do mês subsequente no Jornal Digital. Após a publicação, o trabalho (que pode ser classificado como TCC, artigo científico, dissertação e tese) ganhará espaço na home do SITE e no Jornal DIGITAL, fomentando o debate sobre o tema em questão.

Espero que o ‘C-SE Científico’ seja útil para você, afinal ele foi pensado para unir os “amigos da comunicação”.

E saiba: estou à disposição para o que for preciso – inclusive para receber críticas e sugestões sobre o projeto.

Agradeço desde já pela atenção.

Abraços,

Filipe de Sousa Editor responsável da Gazeta Valeparaibana

A seguir algumas dicas sobre trabalhos e publicações:

1. Leia sobre o que já feito

Antes de começar um projeto de pesquisa, é importante checar diversas conteúdos da área para conhecer tudo o que já foi falado sobre o tema. Uma das sugestões apresentadas pelo professor Volpato é ler artigos de boas revistas internacionais. Além disso, é preciso fazer um levantamento de publicações que podem ser utilizadas para dar base ao seu projeto.

2. Pense no nível que a sua pesquisa irá atingir

Antes de fazer um projeto é preciso identificar o nível de ciência que se pretende atingir. Identifique algumas publicações científicas que estariam no patamar da sua pesquisa. Você preten-de atingir uma Science, com abrangência em diversas áreas de conhecimento, ou deseja focar em uma publicação especializada? Se a sua resposta for publicar em um veículo científico de grande abrangência, será necessário pensar e elaborar a sua pesquisa de forma que ela seja compreensível para o maior número de pessoas possível, incluindo outras áreas de conhe-cimento.

3. Apresente uma novidade

Não existe uma boa pesquisa sem algo novo ou relevante. “Os pesquisadores têm dificuldade de aceitar que o tema da sua pesquisa não apresenta uma novidade”, conta Volpato. Segun-do ele, após ler sobre o que já foi desenvolvido dentro do tema, é necessário encontrar uma nova abordagem. Uma pesquisa muito repetitiva não pode apresentar grandes contribuições científicas.

4. Saiba a hora certa para começar a escrever

Muitas pessoas começam a escrever o seu artigo na hora errada. Segundo Volpato, para manter a unidade do texto é importante ter uma ideia completa do trabalho. Não comece a adian-tar algumas partes do seu artigo sem ter concluído a pesquisa, analisado e interpretado dados. Antes de começar a escrever, o professor afirma que é necessário já ter em mente a res-posta para algumas perguntas: 1) Como surgiu a pesquisa? 2) Onde você chegou? 3) Como chegou nesse caminho e o que me faz aceitar a sua história? 4) O que isso muda na ciência? 5) Por que as pessoas se interessariam por isso?

5. Tenha em mente o tipo de revista que você gostaria de publicar

Após ter uma visão geral do trabalho, respondendo as perguntas anteriores, comece a pensar na revista que você deseja ter o seu trabalho divulgado. Leia diversos artigos e tente observar o formato que eles seguem. “É bom conhecer o jeitão da revista”, apontou Volpato. Pense nessa estrutura quando estiver escrevendo.

6. Mantenha a lógica no texto

Na hora de escrever é preciso observar se as ideias da pesquisa não estão se contradizendo. De acordo com o pesquisador, muitas pessoas acabam cometendo erros nesse item. Introdu-ção, desenvolvimento e conclusão devem estar muito bem alinhados e relacionados. Todas as partes devem apresentar coerência e lógica. Releia o texto e veja se ele consegue manter uma unidade. Não use freses sem sentido.

7. Encontre a medida certa

O tamanho do texto não quer dizer qualidade. “Nenhuma palavra a mais, nenhuma palavra a menos. A gente tem que saber sintetizar”, apontou Volpato. Segundo ele, as pessoas tendem a achar que os trabalhos mais longos são os melhores. No entanto, o número de páginas não é sinônimo de qualidade. É importante apresentar todos os argumentos de maneira clara e ob-jetiva. Para o professor e pesquisador, a elaboração de um artigo deve ser semelhante a de um prédio. “Ele precisa ser vistoso, importante, sólido e econômico”, defendeu.

8. Seja claro e evite palavras que dificultam o entendimento

Nada de prosopopeia para acalentar bovinos (ou seja, a famosa expressão “conversa para boi dormir”). Tente tornar a sua pesquisa mais acessível e troque as palavras de difícil entendi-mento. Segundo Volpato, a ciência tem um caráter transdisciplinar, porém, quando você escreve um artigo cheio de termos técnicos e palavras desconhecidas, a sua pesquisa tende a ficar restrita apenas para pessoas da área. “É importante pensar que você está escrevendo um texto para ser lido por diferentes públicos.”

9. Compartilhe o seu conhecimento

Após concluir um artigo é importante tentar a sua publicação em revistas de divulgação científica. Segundo o professor Volpato, a divulgação da pesquisa é tão importante quando a reda-ção. É a partir da publicação que você poderá compartilhar o seu conhecimento com outros pesquisadores. Além disso, também terá a oportunidade de submeter o seu trabalho para avali-ação de outros especialistas. Antes de enviar um artigo para análise, observe atentamente o formato exigido em cada publicação. Algumas revistas têm normas específicas que devem ser seguidas, incluindo padronização de estilo, quantidade de caracteres e outras referências.

10. Acompanhe os resultados Não pense que a publicação do artigo é o último passo. Após divulgar a sua pesquisa, tente observar a repercussão do seu trabalho no mundo científico. Observe as contribuições acadêmicas da sua pesquisa. Ao visualizar quem está citando o seu artigo, procure entender quais reflexões estão sendo gera-das a partir dele.

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Fevereiro 2017 Gazeta Valeparaibana Página 3

Crônica do mês Pensamentos e ações

Falar sobre o pensamento. Pode ser falar sobre o direito à liberdade de pen-samento, que é um direito fundamental garantido constitucionalmente, no artº 5, inc. IV da Constituição Federal. Pode ser falar de um dos direitos básicos assinalado nos Direitos Fundamentais do ser humano, nos tratados interna-cionais e nas constituições da maioria dos países do mundo. Art.19 DUDH- Declaração Universal dos Direitos Humanos diz:

“Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar,

receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.”

Como pode ser falar daquilo que nos vai à mente. Daquilo que sonhamos e desejamos, do que não queremos, ou queremos muito, do que não dizemos e que é só nosso.

“A liberdade de pensamento é um direito fundamental essencial para nosso desenvolvimento pleno como ser humano. Não pode ser ameaçado “, reprimido. É de suma importância para que as divergências apareçam, os contrários surjam e novas ideias possam brotar de toda

essa pluralidade. É claro que se tenho liberdade para pensar, vou querer emitir minha opini-ão, minhas impressões sobre o que vai no meu íntimo. Cada um é livre para refletir sobre o

assunto que lhe convém. Somos livres para pensar.” (excerto do meu artigo: A liberdade de pensamento).

Assunto vasto, falado de todas as maneiras, cantado, tema de poesia, verso e prosa, de li-vros e músicas e rimas. Chega-nos através da nossa mente em abstrações, ou algo produzi-do e planejado por nós, racionalizado e às vezes verbalizado. Precisamente aí é que come-çam os nossos problemas. A partir do momento em que deixamos as palavras o traduzirem. Um pensamento sobre um amor que só eu sei que sinto, é algo só meu. Quando falo desse amor, posso ser correspondida ou posso sofrer uma decepção por que a recíproca pode não existir. Quando emito uma opinião foi por antes ter pensado sobre o assunto, e a partir daí, estou sujeita a ouvir uma contestação, ou uma crítica, que poderá ser boa ou ruim. Poderei ser confrontada pelo que expressei. Sofrerei consequências, e dependendo do que foi dito, até punições.

Aí é que entra o meu direito (de expressar o que penso) e a minha responsabilidade pelo que digo. Pensar para nós é vital. Existimos então pensamos. Não importa o que. Pensamentos bons, maus, tristes, divertidos, horríveis, felizes, não importa, faz parte de nós. Pensar sobre o futuro, passado, presente, o real e o irreal. É algo que trazemos a mente. Podemos contro-lá-lo, ou podemos deixar fluir, viajar nos devaneios da mente, sem direcioná-lo para algum lugar. Provavelmente quando estamos assim descuidados é que temos as melhores ideias, os melhores insights, num estado de relaxamento da mente. Você já pensou como seria uma vida sem pensamentos? É inimaginável. Definir o que é pensamento é algo complicado, as várias ciências tentaram, mas não se tem um conceito claro, nem no dicionário esse conceito é bom. É algo muito complexo. Existe um limite para nossos pensamentos? Com certeza não, a não ser o que eu mesmo me imponho.

Através dos nossos pensamentos conseguimos lidar com o mundo e tudo que isso implica. Somos seres que pensam o tempo todo, de forma consciente ou inconsciente. Vamos ter cui-dado com o que pensamos, pois nossos pensamentos podem se tronar realidade. Quando os pensamentos se tornam pessimistas, podem influenciar de forma negativa a nossa existên-cia, virando preocupações às vezes descabidas. Pensar negativamente sobre algo, sobre u-ma situação nos traz prejuízos a saúde mental e física, Podendo nos levar a estados depres-sivos. Não podemos não pensar, mas podemos ter mais cuidado com o que pensamos. Va-mos pensar positivo. Vamos pensar coisas boas, querer bem, pensar em passar amor, em passar boas energias. Pensar grande, pensar amorosamente. Com certeza esse energia boa vai contagiar as pessoas ao redor, e uma corrente de bons pensamentos irá fluir. Isso torna nossa vida melhor. E quando colocarmos em prática o que pensamos, vamos ter o cuidado para que nossas ações não desrespeitem o outro. Vamos agir respeitando os direitos do pró-ximo. A linha que separa até onde vai o meu direito e onde começa o do outro é tênue. Até onde posso ir sem desrespeitar e sem invadir a o espaço de alguém? Acredito que meu direi-to vai até onde o meu agir não prejudique ninguém.

Que nossos pensamentos nos levem longe, que sejam bons, produtivos, nos façam sonhar, nos impulsionem, que a gente consiga dosar emoção e razão. Que a gente pare para pensar aonde queremos ir. Para onde o mundo está indo. Para onde a humanidade está se encami-nhando. Vamos pensar qual a nossa participação nesse caminhar. Estou fazendo a minha parte? Estou pensando em como posso melhorar esse planeta? Estou pensando e agindo coletivamente, preocupado (a) com o outro e o mundo que nos cerca?

Pensar. Pensar e agir.

Quem sabe aproveitarmos o dia do pensamento ( 22 de fevereiro ) para pensar e repensar nossa existência, nossos caminhos, nossos quereres, nossos sonhos, e incluir nesses pen-samentos amor, muito amor, pois só ele é capaz de transformar o mundo.

Mariene Hildebrando e-mail: [email protected]

Calendário

Algumas datas comemorativas 04 - Dia do Amigo do Facebook 13 - Dia Mundial do Rádio 16 - Dia do Repórter 20 - Dia Mundial da Justiça Social 21 - Dia Internacional da Língua Materna 24 - Promulgação Primeira Constituição Brasileira 25 - Dia da Criação do Ministério das Comunicações 27 - Dia do Livro Didático 28 - CARNAVAL 2017

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O Brasil é o país da paixão! Os apaixonados pelo futebol. Os apaixonados pelo carnaval. Os apaixonados pela Xuxa, pelo Pelé e pelo

Ayrton Senna. Os apaixonados por corrupção!

Jônathas Siviero -------------------------------------

Não se pode esperar muito de pessoas que vivem de futebol, carnaval e televisão.

Que dirá de um país. Renilmar Fernandes

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Fevereiro 2017 Gazeta Valeparaibana Página 4

Culturas e Identidades

DOMINGOS VANDELLI, JOSÉ BONIFÁCIO E A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA CARBONÁRIA

Durante o século XIX são várias as referências às ações da Maçonaria no Brasil. Apesar disso, com exceção de alguns estudos recentes a esse respei-to, a história da Maçonaria ainda é muito pouco conhecida, não tendo chega-do a se constituir em tema corrente de pesquisa acadêmica. O desinteresse em torno do pertencimento maçônico é, de certa forma, interessante pois, por um lado, há uma visibilidade dos maçons nas obras produzidas ao longo do século XIX; por outro, aqueles mesmos personagens históricos foram destitu-ídos de sua identidade maçônica nos estudos de caráter acadêmico das últi-mas décadas. Não obstante algumas construções teóricas apontarem para o pertencimento maçônico de tal ou qual personagem, “o seu registro se asse-melha a um daqueles adjetivos inseridos casualmente em uma frase e cuja retirada não faria a menor falta na medida em que pouco contribui para esta-belecer o nexo explicativo de uma questão” (MONTEIRO, F., NEVES DA SIL-VA, C., A Cruz e o Compasso: uma intrincada relação histórica, 2011, pp. 19-31).

Elemento pouco divulgado é o de estas sociedades, por vezes secretas, mas mais propriamente iniciáticas, serem na origem organizações académicas e mesmo estu-dantis. Podem elas evoluir a ponto de congregarem membros de todas as idades e estratos sociais, como sucedeu com a Carbonária Portuguesa, nas imediações da implantação da República, em que se diz ter contado com mais de quarenta mil membros, porém o seu surgimento é em regra universitário e coimbrão. Maria Estela Guedes afirma que entre as várias ordens maçónicas, existe a Maço-naria Florestal ou Maçonaria da Madeira. Integrantes dela, funcionaram em Portu-gal instituições diversas, mencionadas pelos historiadores desde a segunda metade do século XVIII, pelo menos. A Sociedade dos Jardineiros, por exemplo, atuava em Coimbra ao tempo em que Almeida Garrett era estudante, uma vez que foi seu fun-dador ou restaurador. Dentre os personagens famosos da Maçonaria Florestal, encontram-se Domingos Vandelli e José Bonifácio de Andrada e Silva, uma das figura centrais na “Independência” do Brasil. Embora consabido que o Império e a República do Brasil são construções maçôni-cas, até o presente a historiografia nacional lida com o assunto de modo tangente. Portanto, o próprio “desinteresse” é indicativo e aponta para um cenário de fundo complexo e escamoteado. Vamos recordar alguns fatos para perceber que essa imensa lacuna na historiografia brasileira não é mero “desinteresse por falta de do-cumento primário: 1) Bonifácio era Desembargador da Relação e Casa do Pôrto, cujo cargo ocupou até 1820, ano que veio para o Brasil depois de uma longa "insistência" junto à Cor-te. Nesta qualidade é pouco provável que não tenha conhecido os chefes da maço-naria vermelha do Pôrto que fizeram instalar a Revolução Liberal em 24/08/1821: o desembargador Manoel Fernandes Tomás, o advogado José Ferreira Borges, o juíz de órgãos José da Silva Carvalho, etc. Todos dominaram as Côrtes de Lisboa e apresentaram no dia 30/10/1821 um projeto de resolução mandando suspender os pagamentos a Bonifácio a menos que ele regressasse a Portugal. Desta maneira pode-se considerar no mínimo factível que tanto a "cidade" do Pôrto quanto a ma-çonaria vermelha em Portugal conheciam plena e intimamente as ideias políticas de JB. E é quase certo admitir que no ano 1820 ao partir para o Brasil JB já dava co-mo certa a irrupção da Revolução Liberal. Igualmente, parece não haver dúvidas sobre as divergências de longa data entre JB e os chefes da maçonaria verme-lha. O posterior deslocamento dele pelo Brasil e os "contatos" certeiros com os di-ferentes grupos maçônicos nos ajustes da Independência são provas incontestes neste sentido, ainda mais quando se considera que se tratava de "sociedades se-cretas", ou seja, o que discute dentro das lojas é ordem para ser cumprida fora de-la. Ou seja, é pouco provável que JB não seja maçon em Portugal e que sua "vinda" para o Brasil não seja uma das partes do plano da mesma; 2) A maçonaria esteve diretamente envolvida nas Inconfidências Mineira (1789) e Baiana (1798), na Revolução Pernambucana (1817), na Revolução Liberal do Porto (1820), Confederação do Equador (1824), Guerra dos Farrapos (1835), Sabinada (1837), Revolução Pernambucana (1861), etc, até o golpe da República. Vê-se ai os principais nomes da política nacional envolvidos. Os exemplos podem continuar. Além da maçonaria quais outros agentes históricos de importância revolucionária estão atuando em GRUPO de modo uníssono CONTRA a Coroa Portuguesa nesse período? Será preciso ter apontado esses OUTROS grupos para legitimar o discur-so que a maçonaria se auto-promove sem legitimidade. 3) Os irmãos Andradas não tinham uma sociedade ou seja, não eram uma maçona-ria em si mesmos, antes, pertenciam a uma e essa filiação vem da Europa para o Brasil (já em Coimbra) e, dado que somente em 30/11/1818 D. João VI expede Al-vará proibindo a existência de sociedades secretas é de se ressaltar que até este presente momento, as "filiações" eram subterrâneas. Antes e depois do FICO as lojas maçônicas organizam-se de modos distintos em 2 linhas de atuação chamada "vermelha" e "azul" (denominação didática da historiografia moderna. No entanto, cabe lembrar que essas "divisões" internamente inexistem). VERMELHA- Comér-cio e Artes (já existia no tempo de D. João VI), no início de 1822 subdivide-se em União e Tranquilidade (termos que serão usados em documentos oficiais de D. Pe-dro no dia do FICO) e Esperança de Niterói. AZUL- da Comércio e Artes sai uma subdivisão que formará a Distintiva e o Clube da Resistência, futura Nove de Janei-ro. Vermelha terá como expoente J.G. Ledo e a Azul José Bonifácio ou Azevedo Coutinho.

Os principais nomes dos maçons vermelhos e azuis foram os homens que trabalha-ram incansavelmente pelo "FICO". Ambos os maçons faziam parte da mesma "loja" e estavam reunidos e unidos na luta contra o absolutismo e a igreja. Vitoriosa a Revolução Liberal eles se "separariam" em "lojas" bem caracterizadas como "vermelha" e "azul". No início de 1822, já se constatam movimentos de reorganiza-ção das lojas. Em Maio de 1822 no Rio de Janeiro ocorre a criação do órgão cen-tral diretor de todas as "lojas" maçônicas vermelhas: o Grande Oriente do Bra-sil. Antes dele, todas as "lojas" eram dependentes do Oriente Lusitano com sede em Lisboa. O mesmo movimento acontece com as "lojas" maçônicas azuis: o A-postolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros da Santa Cruz. Assim, o projeto de re-organização das lojas" não emana do Brasil. Inclusivamente, de modo ingênuo tem-se atribuído a Bonifácio a autoria e criação do Apostolado. Tese bizarra que vai de na contramão da ligação do Apostolado com o projeto da Santa Aliança no Brasil, conforme defende Cipriano Barata. No mesmo sentido defende frei Joaquim do Amor Divino Caneca. As Atas das Assembléias do Apostolado que constam no IHGB dão subsídio que refutam a tese de centralidade das pessoa de JB como "autor" do Apostolado. Depreende-se que os persongens Ledo X JB quanto a mim são peças importantes dentro de uma engrenagem muito maior. Por conseguinte reduzir a mera disputa entre homens é escamotear um intrincado processo que en-volve Portugal desde séculos antes. Para além disso, há outro problema: o ineditismo do nome composto atribuído por alguns historiadores ao Apostolado da "Nobre Ordem dos Cavaleiros da Santa Cruz", o qual sai completamente do padrão titular das lojas penetrando na seara que leva à requisição pela maçonaria como herdeira e sucessora legítima da Ordem de Cristo isso sem considerar a “filiação” carbonária. 4) Para finalizar, a questão da filiação Carbonária de Bonifácio e Vandelli (ambos constam como maçons no Dicionário de Maçonaria Portuguesa, de Oliveira Mar-ques: a)) Domingos Vandelli, foi chamado pelo Marquês de Pombal a lecionar His-tória Natural e Química na Universidade de Coimbra, reformada sob o seu governo. Aparecem pela primeira vez em Portugal os estudos e laboratórios de Química e Física, dadas por Vandelli, bem como, têm lugar escandalosos ágapes, que teriam mais a ver com desafios carbonários do que com o programa da cadeira conforme cita ALMEIDA, M. L. (1937) - Documentos da Reforma Pombalina. Coimbra; b) Os alunos de Vandelli serão acusados de maçons. Duas acusações merecem ser reti-das: naturalistas, pois todos eles deviam frequentar o curso de Filosofia Natural, e tolerantes. Ambas centrais na maçonaria.; c) Uma parte significativa dos estudan-tes da Universidade de Coimbra, a partir de 1777, era constituída por portugueses do Brasil. Os que vieram a notabilizar-se, quase todos foram alunos de Vandel-li: Visconde de Barbacena (primeiro doutor saído da Universidade Reformada, foi substituto de Vandelli na cadeira de História Natural e Química; governador de Mi-nas Gerais, abafou a Inconfidência Mineira). José Bonifácio de Andrada e Sil-va (lente de Mineralogia e Metalurgia, cadeira criada expressamente para ser regi-da por ele, Intendente Geral das Minas e Metais do Reino, ministro de D. Pedro, pilar da independência do Brasil). José Alvares Maciel (iniciador e ideólogo do Ti-radentes). Vicente Coelho de Seabra Silva e Teles (nomeado em 1791 demons-trador de Química, depois lente substituto de Zoologia e Mineralogia, e de Botânica e Agricultura). Manuel Joaquim Henriques de Paiva (primeiro demonstrador da nova cadeira de Química, médico, parte para a Bahia). Constantino António Bote-lho de Lacerda Lobo (lente de Química, sucede na Física a Della Bella). Manuel José Barjona (em 1791 nomeado lente substituto de Física e Química, depois ca-tedrático de Zoologia e Mineralogia). Padre Tomé Rodrigues Sobral (sucessor de Vandelli em Química, depois Química e Metalurgia, dá aulas de 1789 a 1821, consi-derado o Lavoisier português). Manuel Ferreira da Câmara Betten-court (Intendente das Minas de Oiro do Brasil). Bernardino António Gomes (no Laboratório da Casa da Moeda descobriu a cinchonina, lendo á Academia Real das Ciências de Lisboa, em 7 de Agosto de 1810, o Ensaio sobre o cinchonino e so-bre a sua influência na virtude da Quina e doutras cascas, permitindo a Pelletier & Caventou descobrir a quinina dez anos depois). Baltasar da Silva Lisboa, e pro-vavelmente José da Silva Lisboa, Visconde de Cayrú, jurista e maçon da Bahi-a). Padre Joaquim Veloso de Miranda (lente substituto de História Natural e Quí-mica, parte em 1779 para Minas Gerais). Francisco António Ribeiro de Pai-va (lente de Zoologia e Mineralogia, director da Faculdade de Filosofia). E os via-jantes-naturalistas João da Silva Feijó, Alexandre Rodrigues Ferreira, Manuel Galvão da Silva e José António da Silva. Igualmente cabe ressalvar os casos de rede familiar + maçonaria que em geral não são levados em conta pelos historiadores, por questões de metodologia e paradig-ma, como por exemplo o caso do "naturalista" Alexandre Vandelli, filho de Domin-gos Vandelli, casado com uma filha de José Bonifácio de Andrada e Silva. A rede de "naturalistas" que casam-se com famílias brasileiras é digno de nota e nunca foi estudada a sério. Some-se a isso o fato de os “naturalistas” estarem diretamente envolvidos com as pesquisas e projetos de mineração da Coroa Portuguesa para termos um componente no mínimo intrigante e, apesar disso, “desprezado” pela historiografia nacional. Estamos diante de uma teia de circularidade onde o prisma da “Independência me-rece focos mais abrangentes, sem proselitismos. De saída, percebe-se que o papel isolado que Otávio Tarquínio constrói para a figura de José Bonifácio é um tanto quanto questionável. Foi um personagem importante e erudito. Mas, a questão é: o que está por trás dele?

Loryel Rocha

Apresenta todos os sábados 20 horas o programa “Culturas e Identidades”, na CULTURAonline BRASIL.

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Fevereiro 2017 Gazeta Valeparaibana Página 5

Cidadania

O Problema da Intolerância

Hoje em dia, está-se novamente testemu-nhando bastante um antigo problema huma-no chamado intolerância. E hoje em dia há um fenômeno aparentemente paradoxal à primeira vista, de intolerância por parte de

“tolerantes”, ou seja, pessoas que declaram lutar por tolerância e se comportam de forma intolerante com quem diverge das suas idei-as.

Tolerar significa aceitar pontos de vista diferentes, e mesmo discordando deles, con-viver com eles em paz. Tolerar é aceitar as diferenças mesmo não as aprovando. Um exemplo de teoria econômica, uma pessoa é a favor do Liberalismo Econômico e contra o Estado Social mas, respeita o colega ao lado que é a favor que é contra o Liberalismo e à favor do Estado Social. E vice-versa. Sem querer se impor, sem ofender, sem recorrer ao argumentum ad hominem, discordando, mas respeitando à pessoa de quem se dis-corda.

Quando se lê ou se ouve a palavra “intolerância”, muitos já associam a palavra com religiões. A intolerância não é algo ex-clusivo de religiosos radicais, ela também e-xiste nos meios político, científico e nas rela-ções interpessoais cotidianas de modo mais

amplo. Mas, como vencer o mal da intolerân-cia? Na minha opinião, com conhecimento. O ser humano tem a tendência de rejeitar o que não conhece, e rejeição não é um sentimento longe de outro sentimento, o da hostilidade. Pelo que me parece, as pessoas necessitam de expandir as suas consciências sobre a realidade, necessitam se informar mais, se esclarecer mais e generalizar menos. A ge-neralização é irmã da ignorância e o oposto da especialização. A palavra preconceito sig-nifica juízo pré-concebido, conceito formado antecipadamente à análise adequada. E o que muita gente necessita é justamente a-prender a analisar corretamente antes de for-mar opinião definitiva sobre alguém ou algo. A escuridão é a ausência de luz, o frio é a ausência do calor, a ignorância é a ausência do conhecimento. A solução para a intolerân-cia está na cada vez maior divulgação do co-nhecimento às pessoas. É no que eu acredi-to.

João Paulo E. Barros

Porque precisamos fazer a Reforma Política no Brasil?

Seus impostos merecem boa administração. Bons políti-cos não vem do nada. Para que existam bons políticos

para administrar o país, toda a sociedade precisa colaborar para que eles possam nascer e terem sucesso. É preciso um sistema eleitoral moderno para melhorar a qualidade da política. Os políticos "tradicionais" tem horror à reforma política, porque ela pode mudar a situa-ção atual onde eles usam e manipulam o eleitor e são pouco cobrados !

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Vida além do cárcere. Certo dia, ao chegar ao fórum, avistei uma moça que me aguardava na entrada do gabi-nete. À medida que me aproximava, ela baixa-va os olhos para o chão, acuando-se num can-to entre a parede e a porta.

- Olá! Posso te ajudar em algo?

- Oi, doutora. Meu marido pediu para que eu falasse com você.

- Quem é seu marido?

- É o João (*nome fictício*). Ele está preso.

- Ah, sim. O que aconteceu?

Nesse momento, a moça de corpo franzino começou a chorar. Suas lágri-mas eram acompanhadas por intensos soluços e, por conta disso, não conseguia falar. Eu, surpresa e sem jeito com a situação, pedia para que ela se acalmasse, o que foi acontecendo aos poucos.

- O que há? Por que chora tanto?

- Eu só queria saber quando meu marido sai da cadeia, doutora.

Eu, então, me calei. Tendo em vista o estado emocional daquela mulher, que me olhava com tanta tristeza, não podia simplesmente dizer que seu companheiro ainda enfrentaria mais sete longos anos de prisão. Contudo, enquanto pensava em como dar a notícia, ela se adiantou:

- Acabei de sair do hospital. Sangrei uma noite inteira sozinha. Pedi ajuda, mas os vizinhos não escutaram. Perdi meu filho. Perdi a criança que pre-encheria a minha solidão. Estou só, doutora. Não tenho ninguém.

E começou a chorar novamente. Eu, diante dela, experimentava mais uma vez o sentimento que tem sido para mim uma constante na Vara de Execu-ções Penais: a impotência.

Por que conto esse episódio?

Conto para que não esqueçamos que o cárcere esconde dramas e histó-rias de vida que vão além, muito além daquelas paredes mofadas e mal cheirosas, daqueles corpos amarelados e abatidos. Conto para que saiba-mos que existem pais, mães, esposas e filhos que, apesar de não estarem fisicamente presos, encontram-se em intenso sofrimento psíquico. Conto para dizer que é absolutamente possível ser solidário às vítimas da violên-cia e lutar para que o sistema carcerário não faça mais vítimas; afinal, ser a favor da vida não admite meio-termo. Conto para que lembremos que diari-amente pessoas são entulhadas como lixo, muitas delas sem decreto con-denatório definitivo, a fim de que seja saciada a sede de vingança de uma sociedade doente.

Conto para que saibamos que seres humanos "pagam" pelos erros cometi-dos num lugar que, ao invés de ressocializar, é a barbárie na Terra. Conto para lembrar que cabe ao Estado, sim, a sua proteção, e que a Constitui-ção Federal prevê a dignidade da pessoa humana como um dos funda-mentos da República, sendo um de seus objetivos a promoção do bem es-tar de todos. TODOS, sem exceção. Conto para dizer que não quero, não posso e não vou me conformar com a situação dessas pessoas, e que no dia em que achar natural a morte de 60 seres humanos, no dia em que não enxergar nada além de "bandidos" naqueles corpos atrás das grades, a magistratura já não estará mais viva em mim. Eu já não estarei mais viva.

Fernanda Orsomarzo.

Políticas

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Escolas x Violência

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Fevereiro 2017 Gazeta Valeparaibana Página 6

Violência escolar: uma reflexão sobre suas

causas e o papel do Estado

CRIMES CONTRA A VIDA

DIREITO ,PENAL (DIREITO DA

CRIANÇA E DO ADOLESCENTE)

ORDEM, SOCIA, LESÕES CORPORAIS

A violência, independente do lugar na qual é apresentada, deve ser analisa-da de uma forma cuidadosa, especi-almente quando o assunto é violência praticada por crianças e adolescen-tes.

INTRODUÇÃO

A violência, independente do lugar na qual é apresentada, deve ser analisada de uma forma cuidadosa, sendo neces-sário observar os elementos em que es-tão entrelaçados a ela, especialmente quando o assunto é violência praticada por crianças e adolescentes.

As escolas não têm sido mais um ambi-ente de segurança e proteção. Ao longo dos anos o que se tem visto é um au-mento generalizado da violência dentro dos portões das escolas em todo o Bra-sil. Furtos, agressões físicas e verbais, tráfico e consumo de drogas tem sido parte do cotidiano de diversas institui-ções de ensino.

O presente artigo surgiu a partir de um projeto de extensão realizado por alunos do curso de Direito da Universidade Fe-deral do Tocantins, em uma escola da rede estadual na cidade de Palmas - TO, onde foram recolhidos textos abertos es-critos com a perspectiva dos alunos so-bre a presença da violência nas escolas, suas causas e os efeitos entre os alunos. Por meio deste artigo objetiva-se apre-sentar os diversos fatores ligados à vio-lência na escola e demonstrar a função do Estado frente a esse problema.

VIOLÊNCIA NA ESCOLA

Segundo Elis Palma Priotto (2008) e Lin-domar Wessler Boneti (2008), a violência escolar é denominada por todos os atos ou ações de violência, comportamentos agressivos e antissociais, incluindo tam-bém conflitos interpessoais (seja entre alunos, alunos e professores ou até entre professores), danos ao patrimônio esco-lar, atos criminosos, marginalizações, discriminações, bem como outros pratica-dos entre a comunidade escolar (alunos, professores, funcionários, familiares e estranhos à escola) dentro do ambiente escolar.

Através dos relatos percebeu-se que na escola estudada a violência se apresenta por meio de agressões físicas e agres-sões verbais, com constantes xingamen-tos e intimidações, incluindo ainda, furtos e a presença das drogas e bebidas alco-ólicas dentro da escola.

Pode-se considerar que tal violência tem decorrências históricas e sociais. Portan-to, não pode vincular a violência nas es-colas a um único fator, pois envolve o

espaço social onde a escola está inseri-da, a situação familiar dos estudantes e a atitude do poder público para com a edu-cação, entre outros fatores.

FATORES RELACIONADOS À VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

Explanando sobre alguns dos fatores que refletem na violência dentro das escolas, pode-se destacar o ambiente onde as escolas estão inseridas, que muitas ve-zes tornam os alunos vulneráveis tanto a sofrerem violências, como a reproduzi-la dentro da escola. Vê-se que no entorno de escolas não é incomum a presença de bares com fácil acesso a bebidas alcoóli-cas por menores, que muitas vezes as levam para dentro até das salas de aula. O entorno das escolas acabam sendo lugares de vulnerabilidade, carecendo de segurança pública e policiamento, sendo os policiais muitas vezes fonte de medo e não de segurança e sem o mínimo de fiscalização no que se refere a venda de bebidas alcoólicas à menores de 18 a-nos. No entanto, toda essa fragilidade torna a escola mais passível da influência da violência externa.

Dentro do próprio ambiente familiar pode-se citar como forma de violência expres-sa nesse ambiente, a negligência e o abandono das crianças por parte dos seus pais ou responsáveis, pelo descaso de proporcionar condições necessárias para o desenvolvimento do ser humano, como higiene, alimentação, roupa etc., fazendo com que as crianças se sintam cada vez mais rejeitadas, podendo nutrir um sentimento de revolta exteriorizados de forma agressiva dentro das escolas.

Muitos pais acabam delegando para a escola uma responsabilidade que era sua, atribuindo à escola todo papel de educar seus filhos, o que acaba sendo um erro, pois a família é a base da edu-cação, onde se aprende o que é ser éti-co, respeitar as diferenças de cada um, os limites que cada um deve ter e, por-tanto, viver em sociedade. Porém, vale ressaltar que, em um dado momento his-tórico, a escola assumiu toda responsabi-lidade de educar, tendo em vista que os pais teriam que trabalhar e não tinham com quem deixar seus filhos, e posterior-mente, a escola vem a perceber que não havia possibilidade de conter para si todo papel educacional. Toda essa questão reflete hoje, tendo em vista que muitos pais atribui todo o seu tempo para traba-lhar e continuam a encarregar toda a res-ponsabilidade da educação para a esco-la.

Ainda no âmbito familiar, muitos filhos acabam vivenciando episódios de violên-cias entre os familiares que acaba refle-tindo no desenvolvimento psicológico e emocional de cada um deles, bem como, afetando o desenvolvimento escolar e social.

O Estado, por sua vez, em diversas oca-siões não cumpre seu papel de fiscaliza-ção, de proporcionar condições adequa-das e criar políticas públicas que viabili-zem uma escola como centro de aprendi-zagem e conhecimento e não como um lugar de medo e violência.

O PAPEL PARTICIPATIVO DO ESTA-DO NA REDUÇÃO DA VIOLÊNCIA

Ainda que as causas das violências se-jam variadas não se pode deixar de com-batê-las. Os problemas de violências a-presentados nas escolas são os mesmos em sua maioria, e para solucionar tal pro-blema, deve haver a busca coletiva de meios para que isso ocorra. São neces-sárias a presença e a participação efetiva

de professores, funcionários, pais, alu-nos, de direção, da sociedade e do Esta-do nas discussões buscando a solução destes problemas. De acordo com o Es-tatuto da criança e do adolescente no art 4º:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liber-dade e à convivência familiar e comunitá-ria. (grifo nosso)

Nesse contexto, é importante frisar o pa-pel do Estado e das próprias instituições na proteção aos direitos da criança e do adolescente com relação a educação. De acordo com o artigo 53, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno de-senvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualifica-ção para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - direito de ser respeitado por seus e-ducadores;

III - direito de contestar critérios avaliati-vos, podendo recorrer às instâncias es-colares superiores;

IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;

V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.

Partindo da perspectiva que para solucio-nar o problema da violência na escola deve-se ter um trabalho conjunto, se faz necessário a presença do poder público por meio da criação de políticas públicas voltadas para a redução da violência, capacitação dos professores, intermédio entre escola, comunidade e família e ain-da o cuidado com o entorno das escolas.

Política pública é “ação que nasce do contexto social, mas que passa pela es-fera estatal com uma decisão de inter-venção pública numa realidade social determinada, que seja ela econômica ou social” (BONETI, 2003, p.19- 20). Dessa forma, visualizando a realidade em que as escolas estão inseridas é papel da administração pública com apoio dos go-vernos federal, estaduais e municipais e da sociedade civil buscar meios de inter-vir de forma positiva nessa realidade. Para Abramovay (2003), no livro “Violências na Escola”, no que se refere às escolas, é necessário o envolvimento de todo o corpo docente, alunos, pais, funcionários, mídia, polícia etc. Para ela também, as secretarias estaduais e mu-nicipais de educação devem acompanhar o processo de implementação de medi-das contra a violência nas escolas, para que assim possa contribuir com a prepa-ração de pessoal e de material para trei-namento de funcionários, discutindo ain-da políticas de gestão e segurança com autoridades escolares e com a comuni-dade.

Deve-se ainda sempre considerar as cri-anças e jovens, alunos, como os protago-nistas das políticas públicas, incluindo-os na criação delas e os ouvindo juntamente com os pais e a comunidade, já que eles são os maiores interessados e beneficia-dos em ter uma escola menos violenta e mais focada na aprendizagem. A escola reflete o cotidiano dos alunos e também o contexto social em que está inserida de

modo que é ali que os alunos irão mani-festar o que vive cotidianamente. Os pró-prios alunos da escola estadual de Pal-mas - TO apontaram que a violência está relacionada à falta de respeito e educa-ção uns para com os outros, influência de amigos e do próprio ambiente familiar que vivem e que passa a ser reproduzido na escola.

Há também o reflexo da comunidade em que estão inseridas as escolas. Se a es-cola está inserida em um contexto, onde existe o tráfico e a violência doméstica, por exemplo, provavelmente haverá a manifestação dessa violência na escola. Dessa forma, as políticas públicas não devem apenas focar no ambiente escolar interno, mas cuidar do entorno dela, cri-ando um ambiente seguro, cuidando de manter uma boa iluminação, semáforos e faixas de pedestre, controlar venda de bebidas alcoólicas em locais próximos, dar segurança aos alunos e membros da comunidade, contando com um policia-mento eficiente.

Ainda tratando de medidas externas à escola deve haver a integração entre es-cola família e comunidade, promovendo a socialização das famílias e da comuni-dade em que se situa a escola, para a redução da violência, além de um projeto de conscientização e campanhas de combate à violência com apoio dos mei-os de comunicação de massa e outras instituições de mobilização. Somente com um trabalho em conjunto das esco-las, familiares, poder público e comunida-de é que pode amenizar e combater a violência dentro das escolas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No que se refere à violência nas escolas, percebe-se que este problema não está relacionado a um único fator, mas envol-ve questões sociais, abrangendo aspec-tos familiares, o contexto onde a escola está inserida e a atuação do poder públi-co. Dessa forma, para solucionar esse problema, é preciso, antes de tudo, co-nhecer as experiências vividas pelo aluno na escola e fora dela, como no seio fami-liar e na convivência social e deve-se existir um conjunto de ações participati-vas entre os envolvidos: os familiares, a direção das escolas, os próprios alunos e o Estado.

Pelos relatos feitos pelos alunos da esco-la tomada como referência para o traba-lho de extensão, pôde-se notar que a maioria dos fatos narrados se referem às questões familiares, onde muitos deles presenciaram momentos de violência nas suas residências, bem como vivem sem a orientação dos pais no que diz respeito a educação de cada um.

Dessa forma, para tentar reverter essa situação de violência e a escola passar a ser um ambiente de uma boa convivência entre seus integrantes, que são alunos, professores, diretores e pais, é necessá-rio que haja toda uma participação dos próprios integrantes, bem como do Esta-do, que proporcione condições suficien-tes para que isso aconteça, por meio de políticas públicas. Os pais devem partici-par mais da vida escolar de seus filhos, comparecendo reuniões com os profes-sores, como também não atribuir somen-te à escola um papel que também são deles.

Autoras:

Ana Caroline Carvalho Martins

Maria Carolinna Bastos Santana Torres

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Fevereiro 2017 Gazeta Valeparaibana Página 7

Crônicas, Contos e Poesia

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NOITE

Genha Auga

A NOITE QUIETA CHEGA, TODOS ADORMECEM,

MENOS O POETA DE ALMA INQUIETA.

NELA SUSPIRO MINHA LIBERDADE

OUÇO A MÚSICA SUAVE, TOCO MEU VIOLÃO

SÓ PARA AS JANELAS ESCURAS.

O LUAR ME COMPROMETE COM LEMBRANÇAS E NOSTALGIA.

AS ESTRELAS ME ESPIAM, AS NUVENS TRAPACEIAM-SE RAPIDAMENTE

EM RETICÊNCIAS E SUSPIROS

ESCREVO ALGUMAS DAS MINHAS LINHAS. NAS NOITES PRATAS ORA CINZENTAS COM SEU MISTÉRIO, BELEZA E MAGIA.

OUVIR O SILÊNCIO DA NOITE FAZ BEM,

PERMITE-ME CONTEMPLAR O CÉU, O BREU, AS JANELAS, O ALÉM DE MIM.

NESSA QUIETUDE TUDO POSSO SENTIR.

SUSPIRO E ABRAÇO O QUE DE BEM AGASALHA MEU ENVELHECER,

NESSA NA LUZ QUE SÓ O BOÊMIO VÊ. BOA NOITE! É HORA DE IR.

VEM A LUZ DO SOL TE SEDUZIR ASSIM COMO EU, FOGES DELE.

FECHO A JANELA, JÁ POSSO DORMIR.

PROGRESSO

Genha Auga – Jornalista – Mtb: 15.320 Embora tanto progresso desde que o Brasil foi descoberto, como pode o brasileiro estar em pleno século XXI, frustrado, infeliz e inseguro?

O trem era a vapor, hoje se tem o metrô, morria-se cedo demais, mas em prol do avanço da medicina o idoso está cada vez mais na longevidade, a distância não permitia “matar” a saudade, mas com as redes sociais, fala-se e “vê-se” as pessoas a qualquer momento. De-dicava-se anos ao emprego para manter o salário e ascender na carreira, novos tempos e o empreendedorismo veio e está em alta,

Liberdade tinha que ser conquistada, confiança ser merecida, filhos eram planejados. Nos tempos de hoje, tem-se tudo isso com facilidade e então, o que falta?

Penso que falta lembrar-se que sabíamos viver o simples...

O homem materializou-se e formou uma sociedade corrompida pela prosperidade que, esquecida da parte moral, ensinou que importante é “brilhar”. Já não sabemos lidar com as decepções e dores. Para tudo toma-se remédio, mas, nada se resolve.

Bem como, materialmente o que quebra joga-se fora e compra-se outro, não se tem mais paciência para ajudar o próximo e, simplesmente, troca-se o parceiro da mesma forma co-mo também somos substituídos por outro ou, por alguma coisa que nos faça entrar em “estado de graça”.

Não há o que se pensar, refletir ou até mesmo do que se arrepender. “Errar”, hoje é nor-mal, seja qual for a gravidade, ninguém é condenado e tudo é perdoado. A “salvação”, a-gora é regra.

Somos parte de uma sociedade movida pelo estresse que nos empurra ao pesadelo, faz pa-rar de sonhar e gerenciar pensamentos. Corre-se diariamente, a lentidão irrita e a cada dia, afundamos para o último nível do mal de um ser humano: a depressão.

Quer-se viver com dignidade, pouca condição tem-se para isso, falta-nos a confiança nos relacionamentos. O de melhor posição social quer o dignificante desde que longe do efici-ente que faz jus ao pouco que tem, mesmo sem muita chance de escolha. Deveriam andar juntos para gerar a confiança e ambos tornarem-se eficazes.

Tem-se uma visão poética e mágica de tudo, sem a necessidade de igualitarismo para to-dos e, dessa forma, entre a pompa do soberbo e a ignorância, vive-se de ilusão. É preciso educar o olhar para ver, gerenciar seus próprios pensamentos para não silenciar a própria vida.

Parece que o futuro é uma ilusão cada vez mais diferente do que imaginamos, afastando as oportunidades de se melhorar tudo e, o progresso que tanto desejamos, depende mais da vontade individual e, divididos em facções: corruptos, miseráveis, criminosos, ignorantes, abastados, cada um, na sua individualidade, segue sua vida, mas, se mesmo assim, garan-tisse sua dignidade de maneira que não faltasse ao próximo, o progresso aconteceria.

O homem valorizou mais o avanço tecnológico e o consumismo do que a si mesmo, ato-lou-se no apego dos bens possuídos, desprezou os atos morais e patrióticos e quer discutir o que nunca foi construído. Tem-se fome de comida, de educação e justiça, no entanto, para ser livre de verdade, se não se tem essas prioridades básicas, mesmo com liberdade, não se chega a lugar algum. De que serve discutir política e ideologia opondo-se ao que mal se conhece e sem nenhuma alternativa real e que valha à pena?

Na verdade, é preciso libertar-se do consumismo, defender-se da exclusão pela falta da educação e ter atitudes que não te condene por atrocidades cometidas por futilidades. Não encontrará respostas na tecnologia se não aprender a usá-la para o trabalho e de maneira dignificante.

A rota do progresso, não pode tornar-se um mito que nos convença de ter um destino certo e glorioso nessa história em que somos protagonistas

Genha Auga

jornalista MTB: 15.320

Quem me vê sempre parado, distante

garante que eu não sei sambar estou me guardando pra quando o carnaval chegar

eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando e não posso falar

estou me guardando pra quando o carnaval chegar...

Eng.Hawaii

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Fevereiro 2017 Gazeta Valeparaibana Página 8

Contos que a vida conta

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OVELHA NEGRA

Genha Auga – jornalista Mtb: 15320

Família tradicional do interior de Minas Gerais, meados de 1940.

Estabelecidos em uma confortável ca-

sa com dez quartos, sala de jantar e de estar, copa, cozinha, biblioteca, lavabo, quatro ba-nheiros, uma enorme varanda com cadeiras de balanço e redes, na frente, um lindo jardim com variedade de plantas e flores. Ao fundo, um enorme terreno com fogão à lenha onde assavam pães e por vezes reuniam-se para uma prosa e com muitas árvores frutíferas on-de as crianças adoravam brincar e traquinar.

Eram oito; o casal, cinco filhos, a avó e além deles, muitos empregados que circula-vam e atendiam as necessidades da família o dia todo.

Dos cinco filhos de Dona Mercedes e Sr. Aluízio, que na ordem, pelo mais velho: Maria Luíza, Eugênia, Geraldo, Ana Maria, Roberto e, sob os cuidados do casal, a avó materna, Dona Laura.

Sr. Aluízio era um homem obstinado pelo trabalho, bem estar da família e de uma educação rigorosa para com a prole, com to-tal acato e conivência da esposa. Já a avó pouco intermediava na educação ou traquina-gens dos netos. Os empregados eram todos bastante comprometidos com a casa e os pa-trões.

Levantavam cedo e reuniam-se para o farto café da manhã servido diariamente à mesa. Em seguida, cada um seguia para suas atividades: filhos iam para escola, mãe cuida-va dos empregados e da rotina da casa, o pai seguia para o escritório de sua empresa onde administrava com muita dedicação e rigor pa-ra garantir o futuro da família com boa escola, alimentação, roupas, aulas de músicas, lazer e o que mais fosse necessário. A avó distraia-se por entre as árvores, o lago e sua paixão era tocar piano.

Vamos então conhecer um pouco des-sa rotina, que exceto pela Maria Luíza, a filha mais velha, considerada “ovelha negra”, saia um pouquinho do convencional.

Uma manhã, reunidos para o café: - O que aconteceu com essa broa?

Pergunta Maria Luíza à mãe. - Nada, responde dona Mercedes, co-

ma que está boa. - Está dura, não quero e diz para a em-

pregada que serve o café providenciar outra coisa para ela.

A mãe insiste que não e ela sai da me-sa. O pai reprovando totalmente a atitude da filha dá ordens para que ela não coma nada e somente ao voltar da escola irá se alimentar, nem sequer autorizou que levasse merenda para a escola.

Eugênia, a irmã um ano mais nova, es-boça um sorrisinho de deboche pela derrota de Maria Luíza e seguem para a escola. No intervalo, veem Maria Luíza recebendo ofer-tas da lancheira dos amigos que se solidariza-ram com ela. Acostumados com a petulância de sempre, não ligaram, a não ser Eugênia que não se conformava com isso, mas que torcia contra, por simples inveja de não con-seguir agir da mesma forma.

Voltavam caminhando com os amigos para casa e, Maria Luíza, resolve ficar num barzinho da pracinha para enturmar-se com o pessoal mais “agitado”.

Aluízio ao chegar para o almoço perce-be que a filha não estava e indagando os fi-lhos, que por medo, responderam que não sabiam de nada. Enfurecido já pelo ocorrido na manhã, prometeu que naquele dia ela iria apanhar e receber um merecido castigo. To-dos com os olhos arregalados esperavam feli-zes na sala, pois, eles sempre eram punidos nas traquinagens e ela sempre se safava. Eu-gênia fez questão de sentar-se bem na ponta do sofá para ver mais de perto a surra da ir-mã.

Entra Maria Luíza soluçando muito e com os olhos vermelhos, consequência das “biritas” que tomou e dos cigarros que fumara.

- “Ic, Ic”, soluçava e com os dedos es-fregando a vista e chorosa, diz para o pai que teve um cisco muito grande no olho e parou para alguém ajudá-la e que doía muito e fingi-a soluçar de choro correndo para o quarto. Safou-se!

Eugênia admirada e aborrecida por ter ficado tanto tempo a espera para ver a ira do pai sobre a irmã frustrou-se, mas, no fundo a admirava e queria ser igual.

Ás vezes a mãe ralhava com ela quan-do se negava a colaborar com algum serviço da casa, embora tantos empregados, uma mãe deveria educar as meninas para as tare-fas que cabiam a uma mulher e seu pai sem-pre dizia que por ser a mais velha, era tam-bém dona da casa e os rapazes por vezes dedicavam-se às tarefas que competiam a serem aprendidas com o pai.

Certo dia, Maria Luíza resolveu marcar um encontro com as amigas em sua casa e lhe foi permitido esse gosto num final de se-mana. Outra surpresa: ela foi a uma loja de tecidos, levou as medidas, escolheu o pano e encomendou cortinas novas para receber su-as amigas e como o pai tinha conta e muita credibilidade no mercado, pediu para que a-notasse e que foi a mando de sua mãe.

Depois de dois dias, entregam as corti-nas e a mãe abismada contou para o pai que

é quem sempre passava os castigos e sovas. - Maria Luíza, disse o pai, desde quan-

do você pode tomar iniciativas dentro da casa e sem minha permissão? Realmente, dessa vez, você não me escapa.

- Ora papai, responde ela rapidamente, você diz sempre que sou a mais velha e tam-bém dona da casa e como mamãe é tão ata-refada, resolvi trocar as cortinas para agradar vocês. Não fiz tudo certinho?

O pai entrou nessa conversa e admitiu que a filha teve bom gosto. Os irmãos não acreditaram e, ai se ousas-sem, dizer qualquer coisa ao contrário. Eugê-nia, mais uma vez, foi ao delírio com a cora-gem e dissimulação da irmã e pensou: “Ainda vou ser igual a ela”. Por muitas vezes Maria Luíza, depois que to-dos dormiam, pulava pela janela, encontrava os amigos e sorrateiramente empurravam o carro do pai para não fazer barulho e a certa distância ligavam o motor e iam se divertir pe-los bares da cidade, voltava sempre à tempo e ninguém desconfiava de nada, a não ser Eugênia que ficava sempre de tocaia para sa-ber o que a irmã, sua ídola, aprontava e em segredo tudo guardava. Um dia, Eugênia, pediu para a irmã que a le-vasse junto a ameaçando de contar ao pai o que ela sabia, caso não a levasse. Maria Luí-za concordou e foram juntas para a próxima “balada”. (Mas, visto a ameaça, dentro de Ma-ria Luíza havia a vingança). Foram e então Maria Luíza, na volta, simulou um problema com o carro e pediu para que Eugenia sentasse ao volante e fizesse o que ela e os amigos pediriam. Mesmo sem saber dirigir, sentiu-se o máximo nessa aventura e missão. Foi aí que todos correram e a largaram de-sesperada no carro e sem ter o que fazer. Pensou que teriam ido buscar ajuda e ador-meceu. Amanheceu o pai logo recebeu notí-cias da filha no carro e chamou Maria Luíza para ir junto buscá-la e saber o que havia a-contecido. Ao chegar ao local, viu a filha com cheiro de álcool, roupa de sair e ao lhe perguntar acu-sou a irmã de tudo que acontecera. O pai o-lhou bem para Eugênia e ralhou com ela por tamanha mentira tentando culpar a irmã que estava em seu quarto dormindo tranquilamen-te. Já na casa, chamou os filhos disse: - Vejam bem o que acontece com filha menti-rosa e de maus exemplos: foram muitas cinta-das e lágrimas de dor e de raiva derramadas. - Papai! Disse Maria Luíza, eu jamais teria es-sa descompostura e muito me envergonho da irmã que tenho. Conselho: não desdenhe o que não pode comprar e não saia na chuva porque, vai se molhar...

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Fevereiro 2017 Gazeta Valeparaibana Página 9

Comunicação

FÓRUM MUNDIAL DAS RESISTÊNCIAS: Oficina mostra como fazer TV Comunitária nos Municípios

Há várias cidades brasileiras que poderiam ter TVs Comunitárias e não as tem, por falta de informação. Para difundir melhor as informações e também as condições para que um município possa ter uma TV Comunitária, OSCAR PLENTZ e CARLOS CASTRO, da ASL foram convidados a realizar Oficina no Fórum Social das Resistências. Para incentivar mais gente a buscar in-formações e até mesmo constituir uma TV COMUNITÁRIA na sua cidade, o Luiz Müller Blog publica a seguir o conteúdo da Oficina:

“Canal da Cidadania” – nossa organização constrói a TV Popular !!!!

Por ASL.Org – Assembleia Popular – Oscar Plentz e Carlos Castro

A democracia no Brasil não existirá sem a democratização dos meios de co-municação.

Sequer temos instalado o balaço fixado no art. 223 da Constituição Federal entre o público, o privado e o estatal nos sistemas de comunicação, que per-manece controlado por um oligopólio, que age sem qualquer escrúpulo e controle, dominando a comunicação de massas e exercendo influência exa-cerbada na vida nacional e na sociedade brasileira.

Daniel Herz, companheiros e entidades como a Federação Nacional dos Jor-nalistas (FENAJ) que preconizaram o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) atuaram no estabelecimento do Capitulo da Comu-nicação na Carta Maior de 1988, onde está, entre outras normas, o art. 223 antes citado, que seria para democratizá-lo..

Em 1987 ele lançou o livro, A História Secreta da Rede Globo e fez história ao participar de lutas políticas como a concepção do conceito de Radiofusão Comunitária, a regulamentação da cabodifusão, a reforma da Lei de Impren-sa e a criação do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional (CCS).

A lei da Cabodifusão (Lei 8.977 de 1995) foi que estabeleceu a obrigatorie-dade da presença de emissoras públicas (TVs do Executivo, Judiciário e Le-gislativo), comunitárias e universitárias nos pacotes de TV por assinatura e estabeleceu uma nova janela no tema, que mesmo pequena, faz podermos assistir outros programas além daqueles dominados pelo setor privado, in-clusive podendo se acompanhar o legislativo e o judiciário de forma diferen-te, diretamente nas residências ou nos aparelhos de TV.

Ao mesmo tempo, nos anos 80, surgira uma TV Livre, também chamada de TV de Rua, caracterizada por uma produção de vídeos educativo-culturais para exibição em circuito fechado ou em praça pública, como proposta das lutas pela redemocratização do Brasil.

Anos depois os canais comunitários foram institucionalizados através da Lei Federal nº 8.977, de 6 de janeiro de 1995 – conhecida como Lei do Cabo –, que deu origem aos chamados Canais Básicos de Utilização Gratuita como forma de contrapartida social dos operadores de cabo. A legislação criou os canais comunitários para serem utilizados por organizações não governa-mentais, contudo sem prever a viabilidade econômica desse novo veículo de comunicação. A sociedade civil organizada, principal artífice no processo de democratização dos meios de comunicação, passou a ocupar esses canais previstos em lei e transformar em realidade as letras da legislação, embora parcamente.

A primeira cidade brasileira a ter uma transmissão de canal comunitário foi Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, no dia 15 de agosto de 1996, através do canal 14 da NET Sul. Em seguida outras cidades também passaram a veicu-lar o Rio de Janeiro (30 de outubro de 1996) São Paulo (27 de julho de 1997) e, ainda neste ano Belo Horizonte, Brasília e Campinas.

Pelo último levantamento da Frente Nacional pela Valorização das TVs do Campo Público (Frenavatec), dos 258 municípios brasileiros onde são ofere-cidos os serviços de operadoras de TV a cabo, existem 67 canais comunitá-rios em funcionamento. Também foi feita a pesquisa sobre a produção audi-ovisual comunitária e foram catalogados cerca de 550 programas televisivos,

produzidos e veiculados dentro dos canais comunitários, o que estabelece esta como a maior produtora audiovisual televisiva brasileira, isso tudo sem financiamento público.

De qualquer forma, isso tudo pode ser quadruplicado com as instalações de todas TV Comunitárias possíveis. Fazer conteúdo é importantíssimo, como também estar organizado para o próximo passo.

Desde 2006, com o Decreto 5.820/2006 e a fixação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T), que reordena o espaço eletromagné-tico, temos a previsão dos canais locais, o Canal da Cidadania, que busca o exercício da cidadania e da democracia, o diálogo entre as diversas identida-des culturais do Brasil e a universalização do direito à informação, comunica-ção, educação e cultura.

São esses os principais objetivos a serem atendidos, além de fomentar a produção audiovisual independente, de caráter local e regional e podendo atuar na prestação de serviços de utilidade pública.

Para isso, o Canal da Cidadania faz uso da multiprogramação possibilitada pela TV digital. São quatro faixas de conteúdo: a primeira para o Poder Pú-blico municipal; a segunda para o Poder Público estadual e as outras duas (2) para associações comunitárias, que ficarão responsáveis por veicular programação local.

Os pedidos de outorga podem ser feitos por municípios, estados e funda-ções e autarquias a eles vinculadas. Emissoras educativas vinculadas a go-vernos também podem solicitar autorização para se multiprogramar como um Canal da Cidadania. Neste caso, além das quatro faixas mencionadas, poderão veicular uma quinta com sua programação.

http://www2.mcti.gov.br/index.php/espaco-do-radiodifusor/canal-da-cidadania

Cerca de 390 municípios estão com seus pedidos encaminhados e o de Sal-vador deferido. No Rio Grande do Sul temos 27 pedidos em andamento, en-tre os quais de Porto Alegre, por exemplo, e perto nas cidades de Viamão, Cachoeirinha e Novo Hamburgo.

Os municípios ao requerer o pedido devem se comprometer em criar o Con-selho Municipal de Comunicação, o que é também de importância para o controle social da mídia e das atividades de comunicação (vide - Portaria nº 489, de 18 de dezembro de 2012).

Mas, o mais importante são estes dois canais digitais e em TV Aberta para a sociedade administrar via associações civis e sem fins lucrativos.

Portanto, aí entra a organização social que deve ser incentivada para tomar em suas mãos este desafio de implementar a sua comunicação direta e es-tabelecer seus conteúdos. Para que isso seja levado adiante, que se acom-panhe e encabece o processo já se organizando deste já as TVs Populares e mesmo, experimentalmente, em Webs TVs e nas próprias TV Comunitá-rias existentes, como na implementação de novas comunitárias onde é pos-sível, que só neste Estado ainda são várias, ou seja, todas as cidades que tenham tv com distribuição por cabo e que ainda não tem a associação co-munitária, que administre e coloque em funcionamento a TV Local, ou seja, TV Populares de domínio da sociedade.

Assim, se fazem atos práticos para democratizar a comunicação e retirar do domínio de uns as concessões de meios de comunicação, do uso do espaço eletromagnético, da fibra ótica, do satélite, da microonda e do acesso à inter-net. Isso é um passo importante.

Nestes sentido, propomos e estamos ao dispor para auxiliar o movimento,

Oscar José Plentz Neto – advogado - (51) 99984 9519 – [email protected]

Carlos Alberto Jacques de Castro – analista de sistemas (51) 99688 6872 [email protected]

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Rádio web CULTURAonline Brasil

NOVOS HORÁRIOS e NOVOS PROGRAMAS

Prestigie, divulgue, acesse, junte-se a nós !

A Rádio web CULTURAonline Brasil, prioriza a Educação, a boa Música Nacional e programas de interesse geral sobre sustentabilidade social, cidadania nas temáticas: Educação, Escola, Professor , Família e Sociedade.

Uma rádio onde o professor é valorizado e tem voz e, onde a Educação se discute num debate aberto, crítico e livre. Mas com responsabilidade!

Acessível no link: www.culturaonlinebrasil.net

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Fevereiro 2017 Gazeta Valeparaibana Página 10

Escola de hoje A ESCOLA NO MUNDO

CONTEMPORÂNEO

Gema Parenti Araújo Pedagoga Pesquisadora

O mundo contemporâneo vem sofrendo diver-sas transformações em múltiplos setores da sociedade, inclusive na educação, provoca-das especialmente pelo avanço das tecnologi-as, pela produção incessante de conhecimen-to e pela criação de novos meios de comuni-cação.Essas transformações são, ao mesmo tempo, responsáveis por esse processo e re-sultantes desse processo, que é irreversível e tende a avançar rapidamente a cada dia.

Na visão de Anthony Giddens (2005), a mo-dernidade deveria ser vista como um fator multidimensional que inclui mudanças sociais, intelectuais e políticas; ao invés disso, a mo-dernidade busca valorizar a multiplicidade de valores atingindo assim a identidade dos su-jeitos. Diz o autor que, "em vez de estarmos entrando num período de pós-modernidade, estamos alcançando um período em que as conseqüências da modernidade estão se tor-nando mais radicalizadas e universalizadas do que antes" (GIDDENS, 2005, p.12).

Na percepção de Stuart Hall (2003), de certa forma, o indivíduo possuía uma única identi-dade, mas com a modernidade o mesmo indi-víduo tem que adaptar-se a várias identidades "formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos repre-sentados ou interpelados nos sistemas cultu-rais que nos rodeiam" (HALL, 2003, p. 13).

Alberto Melucci (2001) adota a expressão i-dentização para referir o "caráter processual, auto-reflexivo e construído da definição de nós mesmos" (MELUCCI, 2001, p. 34). A i-dentidade é, para este autor, "um processo de constante negociação entre as diversas par-tes do eu, tempos diversos do eu e ambientes ou sistemas diversos de relações, nos quais cada um está inserido", capacitando o indiví-duo a responder pelos múltiplos e contraditó-rios elementos que lhe compõem em cada momento (MELUCCI, 2004, p. 67).

O mal-estar docente, fenômeno contemporâ-neo, pode estar relacionado a todas essas mudanças que vêm ocorrendo e que afetam também os professores e suas identidades.O professor, em meio a tantas exigências e ne-cessidades que se transformam continuamen-te, questionando seu papel e suas funções, acaba por desenvolver sentimentos de insa-tisfação profissional e falta de disposição para buscar aperfeiçoamento; esgotamento pelo acúmulo de tensões; depressões. Esses sen-timentos, muitas vezes, o levam ao abandono da própria profissão, visto que as mudanças

acontecem com tanta rapidez e não conse-guem serão acompanhadas pelos educado-res.

Segundo Moacir Gadotti, em sua obra Bonite-za de um Sonho (2001, p. 14), essas mudan-ças vão além da sala de aula "através da rede de computadores interligados",com isso, infor-mações são passadas velozmente para o mundo todo em qualquer ocasião, sejam elas de qualquer natureza, permitindo que o aluno traga para a sala de aula informações muitas vezes ignoradas pelo professor.

Em meio a toda essa corrida ao progresso, podemos dizer que a escola acaba perdendo-se em relação ao ensino e à aprendizagem, tanto pela falta de recursos para atender a toda essa demanda de novos conhecimentos e competências, como pela falta de formação dos que precisam acrescentar à sua função de transmissores do conhecimento, a de ani-madores culturais, assistentes sociais e res-ponsáveis administrativos. Esta concepção multifuncional pode traduzir-se num fator de perturbação e de stress, levando o educador ao desânimo.

Além da constante formação do educador, para que possa acompanhar as mudanças e assim evitar o mal-estar, acredito na impor-tância da construção de um bom relaciona-mento no ambiente escolar, incluindo os mo-mentos de construção e reconstrução dos sig-nificados das práticas em sala de aula, como afirma Philippe Meirieu (2006), dizendo que "todo nosso esforço consiste em despertar a motivação no próprio movimento do trabalho", pois é trabalhando e investigando que se constrói a motivação (MEIRIEU 2006, p. 51).

O acesso à informação está se tornando cada vez mais um problema com o qual a escola tem de lidar. A informação hoje circula em re-vistas, jornais, Internet, TV e outros. À escola cabe redirecionar suas práticas para a viabili-zação e democratização do acesso a essa informação, visando a criação de condições para que o aluno possa gerenciar de forma coerente este acesso em questão.

Vivemos em uma sociedade rotulada de vá-rios nomes, mas que aflui para a mesma ideia de avanços tecnológicos. Seja qual for o rótu-lo, incontestavelmente os tempos são outros e, portanto, são tempos que pedem uma nova escola e que requer uma inovação daqueles que dela participam. A gestão pedagógica é uma parte importante desse processo, pois a ela cabe estabelecer objetivos específicos, definir as ações em função dos objetivos e do perfil dos alunos e da comunidade, como afir-ma Heloisa Lück: "gestão educacional corres-ponde ao processo de gerir a dinâmica do sis-tema de ensino como um todo" (LÜCK, 2006, p. 36).

A autora ressalta a importância do projeto pe-dagógico para acompanhar toda essa trans-formação que a escola vem sofrendo na atua-lidade, sendo que o projeto deveria ser revisto a cada ano e em alguns casos, reformulado, pois é através da prática que novas idéias vão surgindo e alimentando o aprendizado. A es-cola está deixando de ser um espaço para acumular conhecimento, onde o educador é visto apenas como um depositário do saber; hoje, o papel do professor passa a ser o de e facilitador do aprendizado, também o de criar situações de aprendizagem que sirvam para toda a vida do aluno, através de metodologias que organizem e criem condições para um ambiente educacional autônomo.

Para facilitar essa construção mencionada, é fundamental que se crie na escola, um clima agradável entre professor e gestores, pois dessa forma o professor terá mais facilidade de compartilhar seus saberes e as suas idei-as. Sentir-se-á apoiado nas suas propostas e nos seus protestos. Terá liberdade para ex-pressar seus sentimentos em relação ao ensi-no e às aprendizagens e não aprendizagens de seus alunos, estes últimos como um dos motivos já comprovados de intenso mal-estar dos professores.

Colocando-se numa posição de aprendente, disposto a aprender sempre, com certeza se-rá ouvido pelos colegas e pela equipe gestora da escola, tendo assim a liberdade de expres-são nas trocas de experiências entre os cole-gas, tão importantes para o aprimoramento do ensino. Para isso, se faz necessário uma constante reflexão da sua prática docente, para que se torne consciente do que faz, de como faz e do que não faz, porque na medida em que constrói essa consciência, o profes-sor, como afirma Jaume Carbonel, "passa a se deparar com as suas potencialidades e fra-gilidades e esse é o ponto de partida de um processo de mudanças e de avanços pesso-ais e profissionais".

Os profissionais da educação devem lembrar-se continuamente de sua vocação, paixão, compromisso. A vocação é um compromisso com a paixão pelas diversas dimensões do conhecimento – psicológicas, epistemológi-cas, sociais, éticas e políticas – e pela curiosi-dade permanente quanto a tudo que acontece na sala de aula, na escola e na comunidade, no município, no estado, no país e no mundo; porque "a vocação é uma decisão individual que se projeta no coletivo." (CARBONEL, 2001, p. 110)

José Manuel Zaragoza (1993) faz referência à acelerada transformação no contexto social em que se desempenha a educação, fazendo novas exigências a cada dia.

CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO

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Fevereiro 2017 Gazeta Valeparaibana Página 11

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Personagens inesquecíveis da Música - II Giuseppe Verdi No mês passado me referi à minha descoberta das partituras das sinfonias de Beethoven na biblioteca de meu pai, e que isso despertou meu interesse pela música sinfônica. Devo a meu pai também minha paixão pela ópera. A ópera é o tipo do espetáculo que consegue mexer com muita gente. É um

espetáculo de arte total, onde há uma história sendo contada, cenários, figurinos, luz, atores/cantores, bailarinos, e, claro, a música! Quando se fala em ópera, provavelmente a primeira pessoa que vem à cabeça em um fã do gênero é de Verdi. Italiano, nascido em 1813 e morto em 1901, Verdi alcançou em vida o sucesso e soube aproveitar sua vida produzindo sua arte, e, somente com a segurança das grandes personalidades, soube provocar a sociedade e usufruir dos benefícios que esse reconhecimento pode trazer. Figura polêmica, foi entusiasta do Rissorgimento, movimento do início do séc XIX cujo um dos sonhos era a unificação do estado Italiano, fato que ocorreu em 1861. Menino prodígio descobriu sua vocação para a música logo cedo e teve a sorte de ser estimulado por seus pais. Interessou-se pela ópera desde cedo e acabou se tornando um dos maiores compositores do gênero, não só do séc XIX mas como de toda a história. Suas primeiras obras já mostravam sua personalidade forte e inquieta. A ópera italiana no começo do séx XIX tinha como estética o bel canto, que privilegiava a virtuosidade do cantor. Era escrita menos por contar uma história e mais para mostrar como se poderia cantar bem passagens difíceis. Já de início ele procurava um caminho para se encontrar um espetáculo onde a voz era importante claro, mas o drama, a mensagem do texto teria que ser seu foco. A primeira fase

Na primeira fase de sua vida musical, jovem e engajado na política, Verdi procurou escolher argumentos que mostravam ambientes onde o pano de fundo é alguma situação política extrema. Isso acabou mexendo com os brios do povo italiano. Suas obras com essa mensagem forte aliadas a um talento enorme para melodias acabaram levando Verdi a um sucesso repentino. Em sua terceira ópera Nabucco, que narra a vida de Nabucodonosor, há um coro de escravos hebreus, Vá, pensiero, onde os escravos cantam a saudade da sua terra. Esse coro imediatamente se tornou hino do nacionalismo italiano. Na história da ópera talvez esse seja o

primeiro momento onde o coro vira estrela do espetáculo ao invés de

algum cantor. Até hoje ao ouvir esse hino um italiano se emociona, talvez até mais do que o próprio hino nacional. https://youtu.be/2F4G5H_TTvU Em 2011, Ricado Muti, interrompeu uma execução da ópera após Va pensiero, houve um aplauso de mais de 5 min do público e Muti fez um discurso contra os cortes na área da cultura, e repetiu o coro com o teatro inteiro cantando junto numa cena emocionante. https://youtu.be/G_gmtO6JnRs Nabucco trouxe fama a Verdi que investiu seu dinheiro em terras que trouxeram segurança para ele até o final de sua vida. A segunda fase Com Rigoletto, uma história onde o protagonista é corcunda e humilhado pela aristocracia, Verdi inaugura uma fase onde ele modifica a maneira de se fazer ópera, onde o texto e a música passam a ser as prioridades, a ópera perde o caráter de uma sequencia de números musicais e serve ao drama. É dessa época La Traviata, obra figura entre as óperas mais executadas no dia de hoje. Baseada em A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Fº, contando a triste história de uma prostituta que sofre as consequências do preconceito que a impede de ser feliz. https://youtu.be/pBtTPjBFOQQ https://youtu.be/kwaOrpuo84Y https://youtu.be/8Hc0HOb4Z-w A terceira fase Verdi com o sucesso e reconhecimento além da estabilidade financeira aceitou uma encomenda do governo do Egito para que escrevesse uma obra que se passasse no antigo Egito. Verdi aceitou o desafio e escreveu uma das mais monumentais criações do mundo lírico. Aïda, uma história de amor entre duas pessoas de povos inimigos, fala de preconceito, dominação, e mostra a maturidade do compositor. No segundo ato há a famosa marcha triunfal. https://youtu.be/xxgOIwOd_5I Essa obra inaugura a terceira fase da vida do compositor. Ele poderia escolher o que ele quisesse para se deidicar. Nessa época ele estreitou relações com o escritor e também compositor Arrigo Boito. Boito seduziu Verdi que teria dito que não escreveria mais nada com dois librettos baseados em Shakespeare: Otello (https://youtu.be/qjUkN6X5WOI) e Falstaff (https://youtu.be/LvFyDeOwMtY) , que encerraram a lista de sucessos do compositor italiano. Dessa mesma época é seu Requiem (https://youtu.be/KkssNMI_niE) escrito em homenagem à morte de Alessandro Manzoni, poeta admirado por Verdi. Verdi viveu intensamente, é amado pelos italianos. Seja por causa do

que ele representa para o país como identidade, ou pela força de sua obra como um todo. Giuseppe Verdi definitivamente é uma das personalidades mais marcantes da história da música! Saudações musicais Maestro Luís Gustavo Petri

Mto. Luís Gustavo Petri é regente, compositor, arranjador e

pianista. Fundador da Orquestra Sinfônica Municipal de Santos. Diretor musical da Cia. de Ópera Curta criada e dirigida por Cleber Papa e Rosana Caramaschi. É fre-quente convidado a reger as mais importantes orquestras brasileiras, e em sua car-reira além de concertos importantes, participações em shows, peças de teatro e musicais.

Música e Músicos

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Fevereiro 2017 Gazeta Valeparaibana Página 12

Algumas Datas comemorativas

O Facebook está completando 12 anos nesta quinta-feira (4) e, para entrar no clima da comemoração, a rede social está oferecendo um vídeo para o que chamou de “Dia do Amigo”. A ideia é aproveitar o marco da fundação do The Facebook em 2004, para celebrar a ami-zade com fotos dos membros da rede social com seus amigos. O re-sultado é um vídeo montado com cards, trilha sonora, e que pode ser editado e compartilhado na linha do tempo e no feed.

O Dia Mundial da Rádio celebra-se anualmente a 13 de fevereiro.

A data foi escolhida pois foi neste dia que a United Nations Radio e-mitiu pela primeira vez, em 1946, um programa em simultâneo para um grupo de seis países.

A data foi declarada em 2011 pela UNESCO e o primeiro Dia Mundial da Rádio foi celebrado em 2012.

O tema para o Dia Mundial da Rádio 2017 é "A rádio é você", enalte-cendo a participação pública na rádio. Pode juntar-se à celebração do dia no site oficial da data.

A rádio continua a ser o meio de comunicação social que atinge as maiores audiências, continuando a adaptar-se às novas tecnologias e a novos equipamentos, com a transmissão online via streaming, por exemplo.

É um meio bastante útil para a população, seja como ferramenta de apoio ao debate e comunicação, de promoção cultural ou em casos de emergência social. Para os profissionais de comunicação social, a rádio é uma plataforma para se divulgarem fatos e histórias.

A rádio acompanhou os principais acontecimentos históricos mundiais e hoje continua a ser um meio de comunicação fundamental. Este meio de comunicação social adaptou-se à era digital e continua a ser um meio fiável para a população, que recebe a informação na hora, sendo esta uma das características mais positivas da rádio.

O Dia Nacional do Repórter é comemorado anualmente em 16 de fe-vereiro no Brasil.

A data homenageia os profissionais responsáveis por transmitir atra-vés dos meios de comunicação fatos e informações de interesse pú-blico. Todo o repórter é jornalista, mas não são todos os jornalistas obrigatoriamente repórteres.

O repórter é um cargo que pode ser ocupado por um profissional que foi habilitado, através do curso de Jornalismo, para desempenhar a comunicação social por meio das mídias.

A principal tarefa do repórter é a cobertura de pautas e notícias, com investigação profunda dos fatos, entrevistas e produção de um texto explicativo, imparcial e direto para o leitor ou telespectador.

O cargo de repórter está presente em todas as áreas da comunicação social, seja na televisão, rádio, internet ou jornalismo impresso. A fi-gura do repórter é imprescindível para a produção de conteúdos apu-rados e com qualidade profissional.

Mensagem para o Dia do Repórter

"Um repórter deve trabalhar com ética, buscando sempre a verdade sobre a notícia, sem fazer alarde ou sensacionalismo com a mesma!

Parabéns pelo seu dia, repórter!"

"O repórter é o profissional caçador de notícias que nos informa a ca-da dia de todos os fatos ocorridos no mundo".

O Dia Mundial da Justiça Social é comemorado anualmente em 20 de fevereiro.

Esta data é de extrema importância para ajudar a fortalecer a luta contra a pobreza, exclusão, preconceito e desemprego, em busca do desenvolvimento social dos países.

Alcançar a justiça social significa promover uma convivência pacífica e saudável entre as nações, eliminando barreiras do preconceito, seja por motivos de raça, etnia, religião, idade ou cultura, por exemplo.

A data foi criada pela Organização das Nações Unidas – ONU, em 26 de novembro de 2007, sendo comemorada pela primeira vez em 2009. O Dia Mundial da Justiça Social foi criado como um reforço pa-ra o estabelecimentos das metas propostas pela ONU na Cimera Mundial do Desenvolvimento Social, em 1995, Cúpula Social de Co-penhagen e na Cúpula do Milênio, entre outros fóruns da Organiza-ção.

O Dia Internacional da Língua Materna é celebrado anualmente em 21 de fevereiro em todo o planeta.

Criada pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Edu-cação, a Ciência e a Cultura, em 17 de novembro de 1999, o Dia In-ternacional da Língua Materna tem o objetivo de promover a diversi-dade linguística e cultura entre as diferentes nações.

Além disso, esta data também convida a todos os países membros da UNESCO e suas matrizes a refletirem sobre a preservação das parti-cularidades linguísticas e culturais de cada sociedade.

A primeira constituição monárquica do país foi outorgada em 1824 por D. Pedro I, que manteve os princípios liberais e fortaleceu ainda mais o poder do imperador.

Em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a primeira constituição republicana brasileira. Ela se baseou nos ideais de liberdade, igualda-de e justiça, instituindo o sufrágio direto para eleição, voto para maior de 21 anos e abolição à exigência de renda como critério do exercício dos direitos políticos. Por outro lado, excluía os mendigos, analfabe-tos e religiosos sujeitos a votos de obediência.

O Dia Nacional do Livro Didático é comemorado anualmente em 27 de fevereiro, no Brasil.

Esta data homenageia uma das ferramentas essenciais para a forma-ção educacional dos alunos: o livro didático.

O livro didático reúne as informações que o aluno necessita para aju-dar a desenvolver o seu conhecimento, em todas as etapas da edu-cação – desde o ensino fundamental até os superiores.

Os livros didáticos também são muito importantes para orientar os educadores (professores), no processo de ensino e aprendizagem.

Desde 1985, o Brasil mantém o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que fornece todos os livros didáticos para os alunos das re-des públicas de ensino de todo o país.

No entanto, a trajetória do livro didático no Brasil começou em 1929, com a criação do Instituto Nacional do Livro (INL), órgão com a fun-ção específica de legislar esta área no país.

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04 - Dia do Amigo do Facebook

13 - Dia Mundial do Rádio

20 - Dia Mundial da Justiça Social

21 - Dia Internacional da Língua Materna

24 - Promulgação Primeira Constituição Brasileira

27 - Dia do Livro Didático

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Fevereiro 2017 Gazeta Valeparaibana Página 13

Educação

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Insulto, logo existo

No momento em que eu ape-nas uso o rótulo, perco a chan-ce de ver engenho e arte.

A crítica e o contraditório são fundamentais. Grande parte do

avanço em liberdades individuais e nas ciên-cias nasceu do questionamento de paradig-mas. Sociedades abertas crescem mais do que sociedades fechadas. A base da demo-cracia é a liberdade de expressão. Sem opo-sição, não existe liberdade. Uma crítica bem fundamentada destaca dados que um autor não percebeu. Um juízo ponderado é excelen-te. Mais de uma vez percebi que um olhar ex-terno via melhor do que eu. Inexiste ser hu-mano que não possa ser alvo de questiona-mento. Horácio garantia, com certa indigna-ção, que até o hábil Homero poderia cochilar (Quandoque bonus dormitat Homerus - Ars Poetica, 359). A crítica pode nos despertar.

Como saber se a avaliação é boa? Primeiro: ela mira no aperfeiçoamento do conhecimento e não em um ataque pessoal. A boa crítica indica aperfeiçoamento. Notamos, no arguidor sincero, uma diminuição da passionalidade. Refulgem argumentos e dados. Mínguam questões subjetivas. Há mais substantivos e menos adjetivos. Não digo o que eu faria ou o que eu sou. Indico apenas como algo pode ser melhor e a partir de quais critérios. Que argumentos estão bem fundamentados e quais poderiam ser revistos. Objetividade é um campo complexo em filosofia, mas, certa-mente, alguém babando e adjetivando foge um pouco do perfil objetivo.

Duas coisas ajudam na empreitada. A primei-ra é conhecimento. Há um mínimo de forma-ção. Não me refiro a títulos, mas à energia despendida em absorver conceitos. Nada posso dizer sobre aquilo do qual nada sei. Pouco posso dizer sobre o que escassamente

domino. A segunda é a busca da impessoali-dade. Critico não por causa da minha dor, da minha inveja, do meu espelho. Examino a o-bra em si, não a obra que eu gostaria de ter feito ou a que me incomoda pelo simples su-cesso da sua existência. Critico o defeito e não a luz. Cheguei a essas conclusões por já ter errado. Arrependo-me de críticas pas-sionais. Tomei consciência de que dois ou três temas mexem tanto comigo, que a objeti-vidade tende a diminuir. Questões ligadas ao racismo, à violência contra mulheres e à edu-cação implicam uma carga emotiva forte para mim. Hoje, quando vejo que o debate roça nisso, submeto-me a redobrada atenção para evitar fazer aquilo que estou reclamando em outros. Reconhecida minha imperfeição, reafirmo: assusta-me a virulência da internet. Há pessoas que querem fazer sucesso a qualquer preço e cimentam a estrada com pa-lavrões. Acreditam que agressões com pala-vras vulgares e apelidos sejam um grande im-pacto. Estão corretos: causam impacto, mas vulgaridade é simples concussão. Suponho que alguns apresentem sintomas ligados à chamada síndrome de Tourette.

Hyperlink: https://pt.wikipedia/.org/wiki/Georges_Gilles_de_la_Tourette.

Georges Gilles de la Tourette (1857-1904) descreveu pacientes que tinham compulsão de enunciarem palavrões, especialmente refe-rências a fezes. A coprolalia, este fluxo de te-mas fesceninos e agressivos, escapa ao con-trole. Além de uma síndrome generalizada de Tourette, noto a vontade de classificar mais do que entender. Definido se o autor é X ou Y, encerra-se a discussão. Basta dizer que ele é, por exemplo, conservador ou socialista. Nada mais preciso pensar da obra. É preciso reforçar que o talento e a criatividade têm pouca exclusividade política ou biográfica. Portinari e Jorge Amado eram gênios na pin-tura e na escrita. Também foram devotados

comunistas. Jorge Luis Borges mudou a ma-neira de pensar a literatura mundial. Era racis-ta e achava a ditadura de Francisco Franco muito boa. Oscar Niemeyer mudou a noção de arquitetura do século 20. Era adepto do marxismo. Shakespeare, do ponto de vista político, era bastante conservador e desconfi-ava da participação popular. Descartes e Pas-cal eram religiosos; Bertrand Russel e Dide-rot, ateus. Picasso e Hemingway eram sedu-tores quase agressivos de mulheres. Nelson Rodrigues não era, exatamente, um feminista. O pintor Francis Bacon, o músico Schubert e o economista J. Keynes tinham vida ou dese-jo homoeróticos. O que eu quero dizer: no momento em que eu apenas uso o rótulo, per-co a chance de ver engenho e arte. Fixar-se no estereótipo parece ser um recurso de certa estreiteza analítica. Tanto a maestria pode estar presente num indivíduo detestável como a mediocridade pode aflorar no mais engaja-do lutador dos direitos dos filhotes de foca. Respondo raramente a críticos agressivos. Basicamente por falta de tempo e também por acreditar ser um direito de todos a manifesta-ção com liberdade, dentro dos limites da lei. Internet funciona como terapia para muitos. Sempre recomendei que as pessoas fossem comedidas não por humildade, porém por vai-dade, já que atacando alguém eu falo tanto de mim e dos meus medos que a prudência impõe certo silêncio obsequioso. Poucas coi-sas desnudam tanto minha alma como o ata-que. Podemos sempre evitar o texto de quem discordamos. O impossível é evitar a nós mesmos. Eis fevereiro entre nós. Hoje, chego ao meu verão de número 54. Nunca havia percebido a vida tão fascinante como agora. Melhorei muito porque tive bons críticos ao longo dos anos. Ajudaram-me a superar ma-zelas e lacunas. Agradeço a eles. Desejo paz aos outros julgadores. Estou com pouco tem-po para odiar. Boa semana a todos.

Leandro Karnal

Não se deixe contaminar pelos não-éticos.

Cuidado! Não faltarão pessoas fingindo-se amigas que buscarão tirar você do caminho da ética, da retidão, da honestidade. Afaste-se delas! Não faltarão pessoas chamando vo-cê de ingênuo e mesmo de bobo, porque teve uma atitude digna, ética, moralmente defensá-vel e negou-se a cometer um ato de honesti-dade duvidosa. Afaste-se delas! Não faltarão

pessoas dizendo a você: “todo mundo faz”; “aqui sempre foi assim”; “não seja tolo”, buscando fazer você duvidar de que vale a pena ser ético, honesto, limpo, moralmente defensável. Livre-se delas!

Não se iluda: você encontrará, todos os dias, pessoas falsas, fingindo-se puras e propondo a você negócios escusos, vantagens ilícitas, ganhos indevidos. Cuide-se delas!

Sem dúvida, um dos maiores desafios do mundo em que vivemos é o de não nos deixar contaminar pelos não-éticos, pelos espertos inver-

tebrados que querem nos desviar do caminho do sucesso duradouro, da paz de espírito, da credibilidade. É preciso uma força superior para não se deixar contaminar, para não se deixar abater, pois não é fácil ver pessoas pouco éticas, desfrutando de grandes riquezas materiais, frutos da corrupção, da desonestidade, da esperteza, da traição aos valores morais.

Embora não seja fácil, você precisa acreditar que vale a pena ser éti-co, honesto, limpo, crível, leal e firme na vivência e na defesa dos va-lores mais elevados. Deixe que o chamem de tolo. Não dê ouvidos aos que disserem que você é ingênuo. Não ceda às pressões para desviar-se do caminho reto, pois só ele poderá nos conduzir ao ver-dadeiro sucesso, à verdadeira paz de espírito, ao orgulho de nos ver no espelho e de olhar para os olhos de nossos filhos e amigos. O res-to a traça come, o governo confisca, o ladrão rouba. Invista no que é duradouro, permanente, definitivo. Não se deixe contaminar.

Pense nisso. Sucesso!

Luiz Marins

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Fevereiro 2017 Gazeta Valeparaibana Página 14

Grandes mestres

O Povo Brasileiro - Darci Ribeiro (Continuação da edição anterior)

Trecho do livro O Povo Brasileiro

movimento fantástico – a Inconfi-dência Mineira...

O movimento idealizado por uma elite intelectual previa uma nova organização da sociedade. Entre os planos dos inconfidentes esta-vam a criação de universidades, a

instalação de indústrias e a libertação dos es-cravos.

A inspiração maior vinha dos ideais da Revo-lução Francesa e de um novo país da Améri-ca do Norte, os Estados Unidos. Uma denún-cia acabou levando à forca um dos líderes do movimento: o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

Tiradentes foi esse herói nacional fantástico, um homem sábio, engenheiro que fez o servi-ço de águas do Rio de Janeiro, que fez o pla-nejamento dos portos do Rio... e que conspi-rou na Europa, em Portugal e conspirou com os norte-americanos também. Era um intelectual que lia, conhecia a consti-tuição americana e queria fazer uma repúbli-ca. Era respeitado pelos magistrados, pelos coronéis militares, pelos poetas, por aquele grupo atípico de Minas que quis criar uma Re-pública Brasileira, criar um Brasil e criar brasi-leiros, dando dignidade. Mas os portugueses abafaram isto tão bem que continuou soterra-da a ideia de liberdade e de autonomia do Brasil... Trinta anos depois da rebelião dos inconfiden-tes, o Brasil se tornava império autônomo. Mas levaria quase cem anos para extinguir o trabalho escravo em seu território. Durante trezentos anos o país usou cerca de doze mi-lhões de negros como principal força de tra-balho em seu processo de formação. Trazidos do Sudão, da Costa do Marfim, da Nigéria, de Angola e de Moçambique, essa gente marcaria com sua cor e com sua força a fisionomia e a cultura brasileiras. E, ao final do período colonial, era uma das maiores po-pulações do mundo moderno. "Todos nós, brasileiros, somos carne da car-ne daqueles pretos e índios supliciados”. Co-mo descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre marcados pelo exercício da brutalidade sobre aqueles ho-mens, mulheres e crianças. Esta é a mais ter-rível de nossas heranças. “Mas nossa crescente indignação contra esta

herança maldita nos dará forças para, ama-nhã, conter os possessos e criar aqui, neste país, uma sociedade solidária ". O Povo Brasileiro São Paulo. A terceira cidade do mundo. Uma megalópole com doze milhões de habitantes. Esta cidade, fundada em 1554 é hoje o espe-lho do Brasil. Olhando com atenção seus bair-ros e sua gente é possível perceber todas as contradições do país. O Brasil rico, moderno, que chega às véspe-ras do século XXI como a oitava economia do planeta. Mas também o Brasil que não acom-panhou o progresso. O país que ainda luta por melhores condições de vida. As grandes capitais são o retrato do cresci-mento desordenado das cidades brasileiras no século XX. Para se ter uma idéia, entre 1920 e 1960 a população urbana cresceu dez vezes. Hoje quase 70% dos brasileiros mo-ram em cidades. As maiores transformações foram sentidas nos centros urbanos, mas elas são reflexos do que ocorreu no campo. Em toda a história brasileira, as mudanças de regime pouco afe-taram a ordem social. Durante o período colonial e depois no Impé-rio e na República, o poder na zona rural sempre foi baseado no monopólio da terra e na monocultura. Aqui nenhuma terra foi reser-vada para o povo que ia formando o Brasil. Nos Estados Unidos as pessoas iam para o Oeste (o que corresponderia no Brasil a Goi-ás, Mato Grosso). Elas iam porque sabiam que se construíssem uma casa, fizessem uma roça ganhavam o direito de demarcar uma fazenda de 30 hectares. Aqui isto nunca deu certo porque um pequeno grupo monopolizou a terra, obrigou o povo a sair das fazendas. Eles não dividiam e sim expulsavam. Não é que eles usem a terra. E-les não usam dez por cento da terra que exis-te, mas expulsaram. E essa gente que foi ex-pulsa vem viver uma vida miserável na cida-de. Em 1850 as regras de acesso à propriedade rural mudaram. A simples ocupação e cultivo já não bastavam para garantir a posse. O re-gistro obrigatório acaba expulsando da terra os menos favorecidos. Na periferia de São Paulo vive gente entregue a uma pobreza total. É de se perguntar: como tão poucos latifundiários fizeram a infelicidade de tantos brasileiros que estão em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Recife, na Bahia, por toda parte? Nenhum município estava em condições de absorver o êxodo rural num ritmo tão intenso, mas nem sempre foi assim. O país cresceu e

se desenvolveu a partir de uma economia de base agrícola, voltada para abastecer o mer-cado europeu. A maioria da população con-centrava-se na zona rural. As cidade e vilas funcionavam como entre-postos comerciais, onde o povo vivia da pres-tação de serviços aos fazendeiros. Somente nas regiões mineradoras é que se implantou uma rede urbana independente da produção agrícola. Recife enriqueceu com os holandeses e com o açúcar. Na Amazônia, Belém e Manaus se desenvolveriam como portos de exportação dos recursos naturais extraídos da floresta. O Rio de Janeiro cresceu como porto de escoa-mento do ouro. A partir de 1808 tornou-se o principal núcleo urbano do país, com o de-sembarque do rei de Portugal D. João VI e de sua corte. Muito sabido esse D. João VI. Descrevem-no como um bestão que andava numa carroça, comendo frango com as mãos e jogando os ossos para o lado... Ele é descrito popular-mente como uma besta, mas não tem nada de besta. Enquanto os reis de Espanha ficavam queren-do pedir perdão a Napoleão para continuar mandando, ele viu que o bom era o Brasil, não era Portugal. Ele largou aquela velharia e veio para cá, abriu os portos e começou a or-ganizar o país. Trouxe 18 mil pessoas. Essa trasladação trouxe pra cá toda uma classe dominante já feita, muitos deles com cursos universitários em Coimbra. É essa gente que organiza o pa-ís. "A luta mais árdua do negro africano e de seus descendentes brasileiros foi – e ainda é – a conquista de um lugar e de um papel de participante legítimo na sociedade nacional." O Povo Brasileiro O Brasil só se tornou uma nação com a aboli-ção da escravatura, que concedeu aos ne-gros, ao menos no papel, a igualdade civil. Emancipados mas sem a terra que cultivaram por quase quatro séculos, os ex-escravos abandonaram as fazendas e logo descobri-ram que não podiam ficar em nenhum lugar. A terra tinha dono. Saindo de uma fazenda caíam em outra, de onde eram, também, fa-talmente expulsos. Houve quem tivesse melhor sorte. É o caso de uma comunidade negra situada no litoral fluminense. Ali, todos descendem da mesma família. São netos, bisnetos, trinetos e tatara-netos de três mulheres escravas – como o Sr. Valentim.

CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO

Numa sociedade movida à dinheiro e hipocrisia, encontramos pessoas propensas aos mais diversos rumos incluindo-se a devassidão. Cuidado com quem andas, pois tua companhia sumariza quem és. Não tenha medo de lutar pelo que acredita, apenas seja você mesmo nos mais diver-gentes momentos que possam surgir. Fazendo isto, certamente afetará os que estão à tua volta que não gostam do que veem. Saberão fazer a triagem do joio e do trigo. Só tome cuidado com o lado com que ficará, pois uma escolha errada pode te afetar drasticamente. Pense no seu futuro. Sua escolha hoje, será o seu futuro amanhã. Seja feliz, haja com honestidade sempre. Mas acima de tudo, cuidado com o que te tornarás!

Filipe de Sousa

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Fevereiro 2017 Gazeta Valeparaibana Página 15

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EUROPA hoje e ontem (artigo continuado)

Por: Michael Löwy

Sociólogo, é nascido no Brasil, formado em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, e

vive em Paris desde 1969. Diretor emérito de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS). Homenageado, em 1994, com a medalha de prata do CNRS em Ciências Sociais, é autor de Walter Benjamin: aviso de

incêndio (2005), Lucien Goldmann ou a dialética da totalidade (2009), A teoria da revolução no

jovem Marx (2012) e organizador de Revoluções (2009) e Capitalismo como religião (2013), de

Walter Benjamin

Capitalismo e democracia na Europa

PARTE XIV

Em julho de 2011 foi aprovado um novo pacote multilateral de socorro financeiro para a Grécia de € 159 bilhões, com empréstimos da União Europeia e do FMI, promessas de privatizações e de renegociação de dívida com os bancos privados. A cúpula europeia também pro rrogou o vencimento dos empréstimos da Grécia, Irlanda e Portugal e reduziu as taxas de juros cobradas para aliviar o serviço de suas dívidas. .

Os meses seguintes se encarregaram de colocar lenha na fogueira que se pretendia ex t ingu i r . Houve reba ixamentos das classificações de risco dos papéis das dívidas espanhola e italiana, ameaça de fazer o mesmo com os papéis da França e dos principais bancos franceses e alemães. O montante de recursos aprovado para o EFSF, € 440 bilhões, ficou pequeno.

Não só a dívida grega era insustentável e em constante crescimento, como também Portugal e Irlanda seguiam os passos da Grécia. Itália e Espanha, a terceira e quarta m a i o r e s e c o n o m i a s d a E u r o z o n a , desmoronavam sobre montanhas de dívidas. O BCE finalmente admitiu recomprar títulos da Itália e da Espanha, cujas dívidas estavam sob a ameaça de colapso. França, país do núcleo duro da União Europeia, perdeu sua qualificação de crédito AAA, enquanto o conjunto da União Europeia, começando pelo seu motor, a Alemanha, começou a se afundar na recessão. O círculo vicioso da austeridade que agrava a recessão e o endividamento não se interrompeu, ao contrário, apertou a corda e estrangulou a chamada “economia real”, a produção, achatada por uma crise de superprodução de capital, sem mercados suf icientemente rentáveis.

Ao colocar a Grécia na UTI com o segundo resgate (garantia) pretendeu-se evitar as consequências catastróficas de um segundo Lehman Bro thers , que causar ia uma avalanche de quebras de países e bancos. A economia grega encolhera 16% em cinco anos, o desemprego chegara à estratosfera. E o peso da dívida, em vez de diminuir, só aumentara: dos 130% do PIB no final de 2009, chegou em 2012 aos 160%. Na UE,

não só não houve reativação econômica, mas tampouco recapitalização dos bancos. Europa ficou sob o potente freio da austeridade e, por outro lado, sob o suposto motor da liquidez em aumento, pelas operações do BCE. A receita de austeridade se pôs na ordem do dia em toda Europa. Nos planos de ajuda à Grécia, Irlanda e Portugal, a ajuda financeira veio condicionada à adoção de medidas de austeridade fiscal: ora, os fundos de resgate da zona do euro, já envolvidos com Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha, poderiam ser insuficientes para lidar também com a Itália. Uma parte do sistema bancário francês estava e está enterrada na Grécia, enquanto que a da Itália acumulava uma parte enorme da dívida pública italiana, no Leste europeu e nos Bálcãs.

Os bancos da Europa e do Japão, e o Federal Reserve dos EUA, pressionaram à Alemanha para que aceitasse integrar um Fundo de Financiamento, que pudesse ser subscrito (via emissão de ações para angariar os recursos) no mercado internacional, e que superasse largamente o trilhão e meio de dólares. A posição do governo e das autoridades monetárias alemãs foi: nada de títulos unificados da zona do euro; nenhum aumento nos recursos dest inados ao Mecanismo de Estabilização Europeu (500 bilhões de euros); nenhum esquema comum de sustentação ao s is tema bancár io ; austeridade fiscal a todo custo, inclusive na Alemanha; nada de financiamento a governos via política monetária; nenhum relaxamento da política monetária da zona do euro; e nada de boom de crédito forte na Alemanha. O país credor, em cujas mãos o poder se concentra em um momento de crise, declarava sua intenção de transformar à UE em sua própria plataforma econômica no mercado mundial.

Em 1998, quando os alemães ainda usavam o marco, seu superávit comercial junto às nações que mais tarde adotariam o euro era de US$ 29 bilhões. Em 2008, já com a divisa comum, o saldo favorável atingiu US$ 177 bilhões, um número sete vezes maior. Mais de US$ 1 trilhão entrou na Alemanha desde a criação da moeda única (em 1999) até 2010 por meio do comércio de bens com seus países colegas do euro, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). A escalada das exportações alemãs ocorreu principalmente em cima de países que mais tarde se tornaram o foco da crise europeia. De 1998 a 2008, o superávit comercial da Alemanha com a Espanha aumentou onze vezes; com a Itália, 8,6 vezes; com Portugal, sete vezes; com a Grécia, 3,5. Somente em cima da Espanha, a Alemanha ganhou US$ 270 bilhões no comércio de bens de 1999 a 2010. Sobre a França, os alemães acumularam um saldo de US$ 328 bilhões. A Alemanha, no entanto, não tem os meios militares, políticos ou econômicos para impor uma anexação. Tampouco pod ia p rocede r de f o rma administrativa: devia negociar ou impor sua hegemonia à França, e negociar uma divisão de influências na Europa com os Estados Unidos e a China.

Em 2012, Martin Wolf resumiu assim a situação: “Com os bancos enfraquecidos, a demanda privada combalida, a demanda governamental em contração e a demanda exte rna f raca , as economias f ráge is provavelmente sofrerão queda de produção e desemprego mais alto que o atual, dentro de dois a t rês anos. A recompensa pelo sofrimento atual é mais sofrimento no futuro. Quer a Grécia seja “salva”, quer não, no momento é difícil acreditar que a zona do euro atual poderia sobreviver a isso, especialmente quando o principal argumento em seu favor – o da integração econômica e financeira – está sendo destruído. As empresas, especialmente as instituições financeiras, estão tentando cada vez mais equiparar seus ativos e passivos de país a país. Da mesma forma, apenas as companhias mais corajosas planejam produção confiando em que os riscos cambiais tenham sido eliminados. Já que parcela crescente do risco transnacional agora cabe ao Banco Central Europeu, o caminho para uma dissolução está mais aberto que nunca”.

Um limite histórico foi atingido. A enorme acumulação de capital, real (ou “produtivo”) e fictício, propiciada pela formação da zona do euro, vinculada inicialmente à separação da Europa oriental e dos Bálcãs da União Soviética, chegara à sua estação terminal. A soma dos títulos do setor financeiro, tanto na Alemanha quanto na França, ficou três vezes maior do que seus PIBs. Os bancos europeus eram importantes investidores em papéis governamentais, detendo um terço do total. Apesar de começarem a se desfazer deles, sua exposição continuou enorme na dívida dos governos, totalizando 2,6 trilhões de euros, ou 7,5% de seus ativos totais. Nos EUA, a exposição dos bancos aos títulos públicos norte-americanos equivale a 1,25% de seus ativos, seis vezes menos.

Alemanha não deu o mínimo sinal de apoiar as duas propostas que os outros membros da UE consideraram indispensáveis para evitar o cataclismo na Europa: a monetização da dívida soberana pelo Banco Central Europeu (BCE), e a criação dos eurobônus para reduzir o peso dos juros nos países mais vulneráveis aos mercados financeiros. A união bancária da Europa, que colocaria o sistema bancário europeu sob uma proteção e supervisão únicas, faria que o resgate de um banco fa l ido cor resse por conta das instituições europeias com independência da nacionalidade da entidade falida. Alemanha, Áustria, Finlândia e Holanda se opuseram porque seriam as que deveriam entrar com a maior parte de uma fatura que seria “alheia”. Assim, a falência da economia mundial nocauteou à Europa unificada, cuja implosão retroalimentava essa mesma falência.

A crescente desintegração da União Europeia propôs duas alternativas: sua dissolução ou sua conversão em um regime de protetorados sob a direção de uma potência dominante ou sob a associação desigual de um par dessas mesmas potências (França e Alemanha).

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Fevereiro 2017 - Última página

Numa sociedade movida à dinheiro e hipocrisia, encontramos pessoas propensas aos mais diversos rumos incluindo-se a devassidão. Cuidado com quem andas, pois tua companhia sumariza quem és. Não tenha medo de lutar pelo que acredita, apenas seja você mesmo nos mais divergentes momentos que possam surgir. Fazendo isto, certamente afetará os que estão à tua volta que não gostam do que veem. Saberão fazer a triagem do joio e do trigo. Só tome cuidado com o lado com que ficará, pois uma escolha errada pode te afetar drasticamente. Pense no seu futuro. Sua escolha hoje, será o seu futuro amanhã. Seja feliz, haja com honestidade sempre. Mas acima de tudo, cuidado com o que te tornarás!

Filipe de Sousa Programa: Noites de Domingo - Todos os Domingos ás 20 horas

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E A EDUCAÇÃO

A escola que temos forma jovens "mancos", que podem ser ótimos em cál-culo e biologia, mas são emocionalmente frágeis. Nosso "templo do saber" esqueceu-se da recomendação feita por Sócrates: "conhece-te a ti mesmo.

O templo do saber

Existe a grande possibilidade de que toda discussão política entre antago-nistas chegue a um consenso quando alguém diz: "precisamos investir em educação". De fato, a palavra "educação" carrega em nossa sociedade um imenso prestígio, como se fosse um traje de gala, um artefato mágico que pode nos iluminar o caminho para a felicidade e para o sucesso.

A escola, por sua vez, é vista pelo senso comum como o “templo do saber”. O local onde meninas e meninos vão para adquirir as habilidades que os tornarão adultos inteligentes e úteis socialmente, o lugar por excelência do conhecimento. Mas, qual saber se persegue aí? Uma olhadela no currículo de nossas escolas, nos permite ter uma boa ideia do que o sistema procura atingir: matemática, ciências positivas e línguas tomam a maior parte do tempo, demonstrando que o saber primordialmente ofertado aos nossos jo-vens se orienta para "fora", quer dizer, para conhecer e dominar ferramentas que expliquem o funcionamento do mundo.

Recentemente, em uma discussão com meus alunos de ensino médio, per-guntei o que eles entendiam por uma pessoa inteligente: "É bom em mate-mática!", muitos concluíram. A resposta de meus alunos é perfeitamente previsível. E não é que ela seja falsa, mas é incompleta. Pois, se é verdade que o ser humano tem o aspecto racional que o distingue dos outros ani-mais (a capacidade de fazer cálculos complexos, por exemplo), também é verdade que possuímos emoções que contrastam com nosso intelecto. No-vidade? Nenhuma! "Emoção" vem da palavra latina "movere", que significa algo como "mover". Uma emoção, portanto, é uma sensação que gera em nós uma resposta, uma "perturbação", nublando muitas vezes nossa racio-nalidade e criando inconvenientes para a vida prática. Quem nunca disse algo de que se arrepende quando estava com raiva, ou fez alguma loucura (ou estupidez?) quando estava apaixonado, que atire a primeira pedra!

A preocupação com esse poder das emoções é tão antiga quanto o ser hu-mano. Há uma coletânea enorme de reflexões desde a antiguidade que ten-ta responder aos inconvenientes que resultam de emoções descontroladas. Aristóteles, Sêneca, Epicuro (só para ficar com alguns filósofos do mundo antigo) se debruçaram sobre a questão, tentando encontrar uma maneira de viver em equilíbrio com nossas paixões.

Bem, parece-me que, infelizmente, essa parte do legado do mundo greco-romano tem tido pouco espaço em nossos dias. Voltando novamente o olhar para nossas escolas, veremos que não existe uma estrutura (física e “procedimental”) adequada para lidar com as emoções que ali borbulham. Ora, quais são as competências exigidas para um teste escolar? Domínio de conceitos, habilidade descritiva, cálculo... A escola que temos atualmente quer, ou diz que quer, formar seres pensantes. Mas deixa para trás nossos afetos. A verdade é que nossos jovens saem mancos da escola, saem, na melhor das hipóteses, ótimos em cálculo e biologia, mas emocionalmente frágeis. Em nosso templo da educação, não se dá a devida atenção à reco-mendação feita por Sócrates (que chamou atenção para a inscrição no tem-plo Apolo em Delfos): "conhece-te a ti mesmo".

Inteligência Emocional: revisitando os clássicos

Em 1995, o psicólogo estadunidense Daniel Goleman, publicou um livro chamado "Inteligência Emocional". Sua tese central vai de encontro às refle-xões dos antigos sobre o perigo de uma vida emocional conturbada. Gole-man chama de "sequestros emocionais" aqueles momentos em que "perdemos a cabeça", ou seja, quando nossa racionalidade fica desnorteada e as emoções explodem, causando, por vezes, arrependimentos.

Acompanhando Aristóteles - e é com a citação a seguir que o livro começa, Goleman aponta que o que está em questão na inteligência emocional é que: "Qualquer um pode zangar-se. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa não é fá-cil". Há uma certeza quando olhamos de perto o ser humano: sua racionali-dade é parte de sua integralidade, mas não podemos esquecer sua passio-nalidade, seu ímpeto primal que atravessa milênios como herança do "homem das cavernas".

A primeira parte do livro é dedicada a explicar os mecanismos da cognição humana que tornam os "sequestros emocionais" possíveis. A resposta en-saiada pelas pesquisas de ponta em psicofisiologia corrobora alguns filóso-fos da antiguidade que pregavam a consciência de si para controlar as pai-xões.

"A recomendação de Sócrates - 'Conhece-te a ti mesmo' - é a pedra de to-que da inteligência emocional: a consciência de nossos sentimentos no mo-mento exato em que eles ocorrem" [Capítulo IV]

A proposta de Sócrates é muito familiar à de Sidarta Gautama e estes se aproximam em grande medida dos estoicos e aristotélicos quanto àquilo que proporciona uma vida feliz. Certamente, há nuances e, por vezes grandes diferenças entre essas escolas, mas, no entanto, o cerne do problema é que o controle de si, só pode advir do conhecimento de si. E é aí que reside a grande contradição de nossa escola. O foco está no exterior, nos "fatos" e "dados" que se pode conhecer do funcionamento deste mundo. Não existe (ou ainda é muito incipiente) o estímulo à busca interior dos estudantes, de compreender sua história pessoal, de entender como isto influencia seus gostos e dificuldades. Volta-se as energias para o conteúdo, para a memori-zação. Resultado? Basta ler as manchetes. Em que pesem os avanços da psicologia e neurociência, ainda vivemos em uma sociedade de excessos e de violência física e simbólica amplamente disseminadas.

Soluções?

Não poderia ter a pretensão de esgotar os argumentos e métodos propostos por Goleman em um breve artigo. No entanto, caminhando para a conclu-são, gostaria de apontar uma estratégia que me parece frutífera. Cito:

"É uma estranha chamada, que percorre o círculo de 15 alunos da quinta série sentados no chão à moda hindu. Quando o professor chama seus no-mes, os alunos não respondem com o vago 'Presente', mas gritam um nú-mero que indica como se sentem; um significa deprimido; dez, muito energi-zado" [Capítulo XVI]

Se concordarmos que a consciência de si e de suas emoções é determinan-te para nosso bem-estar, quando a chamada ocorre sob essa dinâmica, pro-fessor e estudante ganham. O primeiro, compreende melhor as pessoas com quem lida, preparando-se para orientar de maneira mais eficaz seu a-prendizado. O segundo, porque sendo estimulado a falar sobre si, aprende a reconhecer suas emoções, cria o hábito de investigar seus sentimentos. A-lém disso, podemos pensar em um efeito mais amplo, que é justamente o reconhecimento que todos podem ter entre si do estado emocional do outro, quer dizer, se todos estão cientes que fulano está em um dia ruim, podem se tornar mais cuidadosos, mais empáticos.

Estou certo de que é preciso uma guinada muito maior do que introduzir o método mencionado acima. Na realidade, os dois antagonistas que citei no começo do artigo, certamente discordarão quando a discussão enveredar para "como vamos investir em educação". Mas isso não muda o fato de que é urgente repensar o atual sistema! Precisamos de uma escola orientada por novos valores, por outra compreensão do que é importante aprender. Que tal se as escolas também fossem lugares para o autoconhecimento?!

LUCAS ROCHA