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DESENVOLVIMENTO MUSICAL DE CRIANÇAS: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DE UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL Rebeca Vieira de Queiroz Almeida Faculdade Saberes, Vitória/ES Centro Municipal de Educação Infantil “Menino Jesus” [email protected] Rodrigo Serapião Batalha Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Centro Municipal de Educação Infantil “Menino Jesus” [email protected] Resumo Este artigo apresenta um relato de experiência de aulas de Música em uma escola de educação infantil, o CMEI “Menino Jesus”. Partindo da premissa de que a capacidade musical se desenvolve através da interação com o ambiente, buscamos discutir a importância e a necessidade da educação musical na educação infantil, como parte da formação global da criança. Por meio de uma revisão bibliográfica, foram tratadas algumas questões acerca do ensino/aprendizagem de Música nos anos iniciais da escolaridade. Do cotidiano da experiência relatada, em articulação com a literatura sobre o tema, apresentamos resultados de atividades musicais realizadas com crianças entre 0 e 5 anos. Como perspectiva para pensar a música na educação infantil, apontamos a necessidade de um diálogo dos saberes pedagógico- musicais cotidianos das professoras da educação infantil com sua formação acadêmica inicial. Palavras-chave: infância; educação infantil; desenvolvimento musical

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  • DESENVOLVIMENTO MUSICAL DE CRIANAS: UMA EXPERINCIA COM

    ALUNOS DE UMA ESCOLA DE EDUCAO INFANTIL

    Rebeca Vieira de Queiroz Almeida

    Faculdade Saberes, Vitria/ES

    Centro Municipal de Educao Infantil Menino Jesus

    [email protected]

    Rodrigo Serapio Batalha

    Programa de Ps-Graduao em Msica da

    Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

    Centro Municipal de Educao Infantil Menino Jesus

    [email protected]

    Resumo

    Este artigo apresenta um relato de experincia de aulas de Msica em uma escola de educao infantil, o CMEI Menino Jesus. Partindo da premissa de que a capacidade musical se desenvolve atravs da interao com o ambiente, buscamos discutir a importncia e a necessidade da educao musical na educao infantil, como parte da formao global da criana. Por meio de uma reviso bibliogrfica, foram tratadas algumas questes acerca do ensino/aprendizagem de Msica nos anos iniciais da escolaridade. Do cotidiano da experincia relatada, em articulao com a literatura sobre o tema, apresentamos resultados de atividades musicais realizadas com crianas entre 0 e 5 anos. Como perspectiva para pensar a msica na educao infantil, apontamos a necessidade de um dilogo dos saberes pedaggico-musicais cotidianos das professoras da educao infantil com sua formao acadmica inicial.

    Palavras-chave: infncia; educao infantil; desenvolvimento musical

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    MUSICAL DEVELOPMENT OF CHILDREN: AN EXPERIENCE WITH

    STUDENTS OF A SCHOOL FOR EARLY CHILDHOOD EDUCATION

    This paper presents an experience of music lessons at an elementary school, the CMEI Menino Jesus. Starting from the premise that musical ability is developed through interaction with the environment, we discuss the importance and necessity of music education in early childhood education, as part of formation of the child. Through a literature review, were addressed some questions about teaching and learning music in the early years of scholarity. Of everyday experience reported in conjunction with the literature on the subject, we presented results of musical activities conducted with children between 0 and 5 years. As a perspective to think of music in early childhood education, we pointed out the need for a dialogue of knowledge-musical everyday teaching the teachers of early childhood education with their initial academical formation.

    Key-words: childhood; early childhood education; musical development

    Introduo

    Quando a fala da criana est em suas primeiras etapas de desenvolvimento, torna-se invarivel que os adultos de seu meio, a cada nova palavra pronunciada, respondam a esses momentos com inmeros estmulos de ordem cognitiva e afetiva, algo considerado fundamental no processo de maturao lingustica. Mas se compararmos com as primeiras manifestaes musicais espontneas da criana, atravs do uso da voz e do corpo, poderamos dizer que os adultos reagem de forma semelhante? Assim como na linguagem verbal, a capacidade musical (ou musicalidade) desenvolvida por meio da interao com o ambiente musical em que estamos inseridos. Buscando abordar a importncia e a necessidade da educao musical estar presente na educao infantil, este artigo trata de algumas questes discutidas na literatura sobre o ensino/aprendizagem de Msica nos anos iniciais da escolarizao e

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    apresenta um relato de experincia com a msica em uma escola bsica de educao infantil.

    A msica como parte da formao integral

    Do ponto de vista histrico, o acesso ao ensino de Msica sempre foi tratado como sendo privilgio de uma minoriai. Para se justificar tal constatao, duas razes se evidenciam: a) a concepo de aprendizado de msica como luxo de uma elite social e econmica; e b) a concepo de capacidade musical como um dom que nasce em algumas poucas pessoas. Assim, enraizou-se uma ideia recorrente de que a educao musical no seria necessria para todos, deixando de ser considerada como parte indispensvel da formao global do ser humano.

    No entanto, a educao musical na infncia e seus processos cognitivos tm sido objeto de pesquisa de muitos educadores-pesquisadores. Howard Gardner, por exemplo, props em suas investigaes sobre cognio e aprendizagem que a inteligncia humana se caracteriza por mltiplas potencialidades, o que ele chamou de Inteligncias Mltiplasii (GARDNER, 1994), dentre as quais est a Msica, presente em todo ser humano. Para Gardner (1994), a formao do ser humano s se torna completa se todas as inteligncias so estimuladas como um todo, sendo assim, a Msica uma das inteligncias que precisa ser estimulada desde a primeira infncia, compreendendo a formao humana integral.

    Edwin Gordon (2000), que especialmente dedicado educao musical na primeira infncia, aponta que o potencial de aprendizagem de uma criana muito elevado, por isso, ela deve ser estimulada desde muito cedo a desenvolver um vocabulrio de audio musical, a fim de estimular as capacidades envolvidas nesse processo (GORDON, 2000). Gordon enfatiza o respeito e a ateno que se deve ter ao desenvolvimento natural da criana, de modo que ... no se podem determinar os interesses e capacidades duma criana com base nos interesses e capacidades dum adulto (GORDON, 2000, p. 306-307). Dessa forma, no se deve trabalhar a msica com crianas visando alta performance e a padronizao da voz ou do comportamento, mas sim, visando o estmulo ao desenvolvimento de suas capacidades, especialmente atravs de atividades ldicas. Gordon (2000) investigou que na educao musical na primeira infncia, do nascimento at 2-4 anos, a criana participa com pouca conscincia do ambiente musical, perodo denominado por ele como aculturao. Dos 2-4 anos aos 3-5 anos, no perodo de imitao, a caracterstica elementar participao musical com o pensamento concentrado no ambiente. Por ltimo, na

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    assimilao, dos 3-5 aos 4-6 anos, a criana participa musicalmente com pensamento consciente, concentrada em si mesma.

    Para John Sloboda (1999), o primeiro trao de conscincia musical que a criana apresenta alguma forma de diferenciao entre sequncias musicais ou entre msica e sons. Posteriormente, o autor aponta para o aparecimento do chamado canto espontneo entre 12 e 18 meses. Entre dois e trs anos, a caracterstica a de ampliao do potencial de organizao musical em canes. Aos trs e quatro anos, a capacidade imitativa conduz repetio de canes inteiras, e aos cinco, a criana fica mais consciente da preciso da performance (SLOBODA, 1999).

    Como resultado da anlise de criaes musicais de crianas em idade de 3 a 9 anos, desde a criao de simples padres rtmicos at organizaes musicais em frases curtas, passando por improvisaes livres de canes, Keith Swanwick e June Tillman (1986) propuseram o Modelo Espiral de Desenvolvimento Musical. Para analisar as criaes coletadas, os autores estabeleceram como princpio de organizao uma analogia entre o desenvolvimento musical e trs aspectos do jogo infantil de Piaget: mestria (resposta sensorial ao som e ao controle do som); imitao (ilustrao de aspectos do mundo ao redor por meio da msica); e jogo imaginativo (contribuio musical autnoma). Para cada aspecto h um fenmeno musical correspondente, respectivamente, materiais, expresso e formaiii. Considerando a faixa etria da educao infantil, mencionaremos aqui apenas os dois primeiros. Por mestria/materiais, compreende-se o movimento desde a simples reao exploratria do som at as reaes que demonstram um crescente controle motor. Na imitao/expresso, as respostas espontneas de expresso imitativa tornam-se gradualmente mais associadas s convenes musicais aprendidas no ambiente. Observe-se que a proposta do modelo ser apresentado como um espiral, em lugar uma srie linear de estgios. Um de seus princpios o afastamento de caractersticas individuais e pessoais da experincia musical em direo a formas mais esquematizadas de compartilhamento social (SWANWICK; TILLMAN, 1986).

    Vale ainda destacar na literatura o Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil, o RCNEI, um documento composto de trs volumes (BRASIL, 1998) que visa a oferecer orientaes pedaggicas para o trabalho de educadores no mbito da Educao Infantil. Trata-se de uma publicao de carter no obrigatrio, mas norteadora para o currculo na educao infantil. O Volume 3 contempla seis eixos de Conhecimento de Mundoiv, dentre os quais a Msica. Isso parece revelar o reconhecimento dessa arte como uma linguagem, ou seja, um tipo de conhecimento que precisa ser desenvolvido e contemplado em todo mbito da infncia nesses primeiros seis anosv. O RCNEI aponta um trip de estruturao da linguagem musical que deve ser trabalhada de forma articulada na

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    educao infantil, sempre respeitando as caractersticas do desenvolvimento em cada faixa etria:

    Produo centrada na experimentao e na imitao, tendo como produtos musicais a interpretao, a improvisao e a composio;

    Apreciao percepo tanto dos sons e silncios quanto das estruturas e organizaes musicais, buscando desenvolver, por meio do prazer da escuta, a capacidade de observao, anlise e reconhecimento;

    Reflexo sobre questes referentes organizao, criao, produtos e produtores musicais (BRASIL, 1998, p. 48).

    Na perspectiva da legislao brasileira, a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (BRASIL, 1996)vi , desde a sua gnese, assegura que O ensino da arte constituir componente curricular obrigatrio, nos diversos nveis da educao bsica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunosvii . Em 2008, esse artigo foi acrescido do seguinte pargrafo 6o: A msica dever ser contedo obrigatrio, mas no exclusivo, do componente curricular de que trata o 2o deste artigo.

    A experincia no CMEI Menino Jesus

    O Centro Municipal de Educao Infantil Menino Jesus mantido atravs de um convnio entre a Sociedade Brasileira de Cultura Popular (SBPC), uma entidade sem fins lucrativos, e a Secretaria Municipal de Educao da Prefeitura de Vitria, ES. A escola atende, em perodo integral, crianas moradoras de regies perifricas da capital capixaba. O perfil de um grupo misto em gnero e predominantemente afro-descendente. As famlias se caracterizam, em sua maioria, pela manuteno feminina do lar, sendo que a maior parte das mes dessas crianas est no trabalho informal e tm o ensino bsico incompleto.

    A experincia de educao musical nessa escola com a atuao de professores especficos, com formao em msica, teve incio em 2008, por meio da realizao do estgio curricular obrigatrio do curso de licenciatura em Msica da Faculdade de Msica do Esprito Santo (FAMES). Desde ento, diversos licenciandos passaram a desenvolver seus projetos de estgio com os alunos do CMEI. No entanto, somente a partir de 2009, a escola passou a contar com uma professora licenciada em Msica, cujo trabalho passou a ser articulado com a prtica de ensino dos estagirios. Desde o princpio, o trabalho de educao musical tem sido realizado de forma ldica,

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    respeitando a infncia e o desenvolvimento caracterstico de cada idade. Contedos e repertrios musicais tm sido desenvolvidos atravs de brincadeiras, cantigas e movimentao corporal, tendo como resultado final a contribuio da vivncia musical para a formao integral dos alunos.

    As experincias, que narramos a seguir, espelham muitos dos resultados de pesquisas sobre o desenvolvimento musical na infncia, apresentados acima, tanto no sentido de confirm-los quanto no sentido de alimentar a experincia da leitura dos textos. Reunimos questes vivenciadas e observadas no cotidiano do trabalho realizado entre 2009 e 2010, na interao docente entre a professora especialista em msica e a equipe de estgio. O relato est organizado dividido em trs grupos de aproximao por idade e por resultados similares obtidos nas atividades desenvolvidas com os alunos.

    As crianas de 0 a 2 anos, de um modo geral, manipulam instrumentos de diversas formas ouvindo com interesse o resultado de suas intervenes, batem palma com certa regularidade, tem vocabulrio limitado, mas observou-se um desenvolvimento da fala atravs das canes cantadas. Fazem diferenciao entre som e silncio se movimentando/marchando enquanto a msica Marcha Soldado tocada e ficam parados como esttuas quando a msica interrompida pelo silncio. Na mesma brincadeira de marchar como um soldado, apresentam diferenciao entre rpido e devagar, forte e fraco, correndo e andando, pisando forte e fraco. Apesar da oralidade no estar plenamente desenvolvida, a inteligncia musical j est presente desde os primeiros meses. Na maioria das vezes, essa inteligncia externalizada atravs de gestos e de alguns sons corporais como palmas, batidas de ps e batidas nas pernas. Observamos que, apesar de no cantarem toda a msica, as crianas demonstram record-la por meio de sequncias de gestos que so ensinados.

    Na fase de 3 a 4 anos, as crianas tm maior coordenao motora e noes de espao, os sons corporais so mais precisos e a pulsao regular. Tambm, conseguem reproduzir pequenos ostinatosviii, tanto com a voz e sons corporais quanto com instrumentos de percusso como chocalhos, clavas, tambor e pandeiro. H aumento de vocabulrio e, consequentemente, o canto melhor desenvolvido nessa etapa. Apresentam diferenciao de grave e agudo, forte e fraco, rpido e devagar. Alm dessa diferenciao de extremos, buscamos trabalhar com um meio termo. A comunicao gestual e os sons corporais permanecem presentes nas estratgias de ensino de msicas para a memorizao, no obstante, em parte considervel do repertrio, os alunos conseguem executar, depois de certo tempo, sem a necessidade de uma lembrana externa dos gestos.

    Por ltimo, entre 5 e 6 anos, as crianas demonstram refinamento na coordenao motora, frases rtmicas mais complexas, como as que caracterizam o funk e a capoeira. Os ritmos so

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    executados (seja com a voz, sons corporais ou instrumentos de percusso) com amplo domnio, especialmente pelos alunos que tm convvio com esses movimentos culturais nos seus cotidianos. O vocabulrio ampliado e h domnio na dico ao cantarem msicas inteiras sem a necessidade de memrias externas auxiliadas por gestos. Alm disso, h uma considervel ampliao do repertrio. possvel a execuo gradativa do grave para o agudo, do fraco para o forte e do lento para o rpido. Execues de parlendas com pergunta e resposta so realizadas com autonomia e pequenos contracantosix so possveis de serem praticados. Um avano nesta etapa a capacidade de memria musical, que a internalizao da msica executada ora mentalmente, ora externalizada com sons corporais, ora com a voz, essa capacidade, que remete s primeiras experincias desde os primeiros anos de vida, agora se apresenta de forma diferenciada e independente de memrias externas como gestos ou sons corporais. A criana, agora, demonstra a capacidade de cantar, por exemplo, o incio da msica, interromper o canto no meio, mas cantar internamente (na mente), e voltar a cantar o final como se tivesse a todo tempo cantado a msica com a voz do incio ao fim.

    Buscamos tratar at aqui, de questes especficas da atuao dos licenciados em Msica no contexto da educao infantil. Passamos, agora, a discutir alguns aspectos das prticas pedaggicas em msica por parte dos licenciados em Pedagogia.

    Algumas perspectivas para a msica na Educao Infantil

    Uma das principais caractersticas da atuao docente do licenciado em Pedagogia o conjunto de reas de conhecimento que so trabalhadas no cotidiano dos espaos escolares. Naturalmente, essa multiplicidade de reas tambm se faz presente na formao acadmica, conforme apontam as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Licenciatura em Pedagogia, a Resoluo CNE/CP n 1/2006, que apresenta a perspectiva de formao de profissionais capazes de ensinar Lngua Portuguesa, Matemtica, Cincias, Histria, Geografia, Artes, Educao Fsica, de forma interdisciplinar e adequada s diferentes fases do desenvolvimento humano (artigo 5, inciso VI) (BRASIL, 2006). O magistrio na educao infantil e anos iniciais do ensino fundamental uma das funes que pode ser exercida por esses professores e professoras. E , justamente o trabalho interdisciplinar, nas mais diferentes reas, desenvolvido por um nico docente, que marca os primeiros momentos da educao bsica.

    Sabemos que a msica parte da vida na escola, seja na hora do recreio em meio as brincadeiras e a roda de amigos, seja em sala

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    de aula como recurso das professoras para ensinar sobre as letras do alfabeto, as mudanas das estaes, a soma dos elementos, o significado de datas comemorativas etc. No entanto, essas experincias musicais eram saberes que se desenrolavam no como resultado da formao acadmica, mas como resultado das experincias de vida. E o mais interessante das experincias vividas durante a infncia das professoras, especialmente na escolaridade inicial, diz respeito a saberes que so criados e re-criados no cotidiano escolar, mas que no fazem parte da formao acadmica na licenciatura em Pedagogia. No obstante, a carncia de estudos e experincias musicais mais aprofundadas durante a formao inicial/continuada dos licenciados em Pedagogia acaba por revelar considerveis limitaes. Um exemplo disso est na constante utilizao da voz cantada em sala de aula pelas professoras e seus alunos, quando h uma inadequao ao registro vocal infantil. Alm disso, preciso questionar se os saberes pedaggico-musicais das professoras dialogam com os saberes musicais trazidos pelos alunos para a escola.

    Assim, o apontamento que fao nessas consideraes finais apresenta-se na seguinte questo: como promover uma integrao entre os saberes pedaggico-musicais cotidianos das professoras da educao infantil e sua formao acadmica inicial?

    Referncias

    BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Dirio Oficial da Unio de 23 de dezembro de 1996, p.27833. Disponvel em: . Acesso em 17 jun. 2007.

    _________. Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil. Braslia MEC/SEF, 1998.

    _________. Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Licenciatura em Pedagogia. Resoluo CNE/CP n 1/2006. Disponvel em: . Acesso em: 27 mar. 2008.

    CARLIN, J. L. The issue of music in schools: an unfinished symphony? Journal of Aesthetic Education. Illinois, 31 (1), p. 57-62, 1997.

    GARDNER, H. Estruturas da mente: a Teoria das Inteligncias Mltiplas. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1994.

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    GORDON, E. Teoria da aprendizagem musical: competncias contedos e padres. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkia, 2000.

    JOLY, I. Z. L. Musicalizao Infantil na formao do professor: uma experincia no curso de Pedagogia da UFSCar. Fundamentos da Educao Musical. Salvador, n.4, p.158-162, 1988.

    LOUREIRO, Alicia Maria Almeida. O Ensino da Msica na Escola Fundamental: dilemas e perspectivas. Revista do Centro de Educao da Universidade Federal de Santa Maria, vol. 28, n. 01, 2003.

    SLOBODA, John. The musical mind: the cognitive psychology of music. Oxford: University Press, 1999.

    SWANWICK, K.; TILLMAN, J. The sequence of musical development: a study of childrens composition. British Journal of Music Education, 3, p.305-339. Cambridge: Cambridge University Press, 1996.

    NOTAS

    i Ver autores como: Carlin (1997), Joly (2003) e Loureiro (2003).

    ii Segundo Gardner as Inteligncias mltiplas se definem em: Inteligncia lingustica, Inteligncia lgico-matemtica, Inteligncia espacial, Inteligncia musical, Inteligncia corporal-cinestsica, Inteligncia naturalista, Inteligncia interpessoal e Inteligncia intrapessoal. A pesquisa de Gardner no est encerrada, o autor continua pesquisando sobre a existncia de outras inteligncias.

    iii Swanwick e Tillman acrescentam um quarto elo teoria de Piaget, a meta-cognio, que associam ao fenmeno musical chamado valor.

    iv Os outros cinco eixos so: Movimento, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade, e Matemtica.

    v A Lei 11.274 de 06 de fevereiro de 2006 alterou a idade de ingresso da criana no Ensino Fundamental, sendo a partir de 6 anos de idade e no mais 7 anos de idade, portanto a Educao Infantil passa a atender crianas de 0 a 5 anos de idade. vi Lei n 9.394 de 1996

    vii Art. 26 2

    viii Termo utilizado na rea de msica para definir pequenos agrupamentos rtmicos que se repetem. ix Forma de canto alternado a um canto principal e forma de pergunta e resposta.