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Flávia Lamberti 53 RESUMO / ABSTRACT EXERCÍCIO DE PESQUISA TERMINOLÓGICA NO ENSINO DA TRADUÇÃO TÉCNICA E CIENTÍFICA Resumo: O ensino de tradução de textos especializados recorre à Terminologia para buscar estratégias que podem contribuir para o desenvolvimento da competência tradutória dos alunos em disciplinas de prática de tradução. Na Terminologia, as linguagens de especialidade, objeto de trabalho da tradução técnica e científica, são discutidas partir do aspecto pragmático, cognitivo e terminológico. Apresenta-se em seguida um exercício de pesquisa terminológica com a escolha de dois textos didáticos pertencentes à Economia, sendo um o texto original em inglês e o outro, a sua tradução para o português do Brasil. Palavras-chave: Tradução técnica e científica, Terminologia, Linguagens de especialidade Abstract: Specialized translation teaching has turned to Terminology to find strategies which may contribute to the development of students’ translation competence in courses of translation practice. In Terminology, languages for special purposes, object of work in technical and scientific translation, are discussed within the pragmatic, cognitive and terminological aspect. A terminological research exercise is then presented using two didactic texts in the area of Economics, being one the original text in English and the other its translation to Brazilian Portuguese. Key words: Technical and Scientific Translation, Terminology, Language for Special Purposes

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Flávia Lamberti

53

RESUMO / ABSTRACT

EXERCÍCIO DE PESQUISA TERMINOLÓGICA NO ENSINO DA TRADUÇÃO TÉCNICA E

CIENTÍFICA

Resumo: O ensino de tradução de textos especializados recorre à Terminologia para

buscar estratégias que podem contribuir para o desenvolvimento da competência

tradutória dos alunos em disciplinas de prática de tradução. Na Terminologia, as

linguagens de especialidade, objeto de trabalho da tradução técnica e científica, são

discutidas partir do aspecto pragmático, cognitivo e terminológico. Apresenta-se em

seguida um exercício de pesquisa terminológica com a escolha de dois textos didáticos

pertencentes à Economia, sendo um o texto original em inglês e o outro, a sua tradução

para o português do Brasil.

Palavras-chave: Tradução técnica e científica, Terminologia, Linguagens de

especialidade

Abstract: Specialized translation teaching has turned to Terminology to find strategies

which may contribute to the development of students’ translation competence in courses

of translation practice. In Terminology, languages for special purposes, object of work

in technical and scientific translation, are discussed within the pragmatic, cognitive and

terminological aspect. A terminological research exercise is then presented using two

didactic texts in the area of Economics, being one the original text in English and the

other its translation to Brazilian Portuguese.

Key words: Technical and Scientific Translation, Terminology, Language for Special

Purposes

Traduzires 4 – 2013

54

EXERCÍCIO DE PESQUISA TERMINOLÓGICA NO ENSINO DA TRADUÇÃO TÉCNICA E

CIENTÍFICA

Flávia Lamberti

Universidade de Brasília

[email protected]

Introdução Este artigo se propõe a discutir a tradução de textos especializados, técnicos e

científicos, dentro do quadro da Terminologia, ciência que estuda os termos nas

linguagens de especialidade. O tratamento proposto tem razão didática relacionada ao

ensino da tradução especializada a alunos de cursos de Letras-Tradução. A

Terminologia, tanto em sua vertente teórica quanto aplicada, oferece um quadro para o

estudo das linguagens de especialidade, as quais são objeto de trabalho da tradução

técnica e científica.

Considera-se que a compreensão do funcionamento dessas linguagens oferecerá

ao estudante de tradução estratégias que possibilitam o desenvolvimento de

competências, tais como a competência cognitiva, a competência linguística e a

competência sociofuncional (CABRÉ, 1999, p.195), para o processamento de traduções

especializadas.

A tradução técnica e científica tem como objeto de trabalho textos pertencentes

às mais variadas áreas do conhecimento. Sob a perspectiva da Terminologia, esses

textos são exemplares de linguagens de especialidade. Cada uma dessas linguagens, por

sua vez, tem a característica de pertinência a uma área do conhecimento e de ser

delimitada por uma estrutura conceitual, por marcas linguísticas, em especial

terminológicas, e por marcas pragmáticas distintivas. Dentre essas características, as

marcas pragmáticas, quer dizer, de uso, são agentes principais para a definição de

determinada configuração conceitual e terminológica em uma linguagem de

especialidade.

Este artigo objetiva apresentar um exercício de pesquisa terminológica a ser

usado em sala de aula, em disciplinas de prática de tradução de textos especializados,

realizado a partir da concepção de linguagens de especialidade em Terminologia, a qual

compreende três aspectos: pragmático, cognitivo e terminológico. O exercício é

desenvolvido em duas partes, uma teórica e outra prática; na primeira, apresenta-se a

referida concepção, que é a base para a condução da segunda parte.

1. As linguagens de especialidade As linguagens de especialidade situam-se na língua e fazem parte dela. Desse

modo, tais linguagens reúnem todas as características advindas do fato de fazerem parte

de um sistema linguístico, quer dizer, de serem passíveis de caracterização em diversos

níveis de descrição (fonológico, morfológico, lexical, sintático e discursivo) e de

apresentarem uma série de variedades (dialetais e funcionais) condicionadas pelas

características das situações comunicativas. (CABRÉ, 1993, p.126-127).

Diversas são as definições de linguagem de especialidade na Terminologia, tais

como em Cabré (1993, p.128-148). Nessa obra, é apresentada a contraposição entre

língua comum e linguagem de especialidade e entre língua geral e linguagem de

especialidade. A língua comum é definida como “o conjunto de regras, unidades e

restrições que formam parte do conhecimento da maioria dos falantes e representam um

Flávia Lamberti

55

subconjunto da língua entendida em sentido global. As unidades da língua comum são

utilizadas em situações consideradas ‘não marcadas’” (CABRÉ, 1993, p.128)1. A língua

geral, no sentido de Kocourek, é a língua global e compreende tanto a língua comum

como as linguagens de especialidade.

As linguagens de especialidade são definidas como:

O conjunto de subcódigos – parcialmente coincidentes com o subcódigo da

língua comum – caracterizados em virtude de umas peculiaridades

‘especiais’, isto é, próprias e específicas de cada uma delas, tais como a

temática, o tipo de interlocutores, a situação comunicativa, a intenção do

falante, o meio no qual é reproduzido o intercâmbio comunicativo, o tipo de

intercâmbio, etc. As situações nas quais as linguagens de especialidade são

usadas podem ser consideradas ‘marcadas’. (CABRÉ, 1993, p.128-129).2

Além do caráter linguístico diferenciado, a definição acima dá destaque às

peculiaridades especiais, tais como a temática, o tipo de interlocutores e as situações

comunicativas, na delimitação de uma linguagem de especialidade. Essas peculiaridades

constituem os aspectos pragmáticos, os quais são elementos que melhor permitem

diferenciar as linguagens de especialidade em relação à língua comum. (CABRÉ, 1993,

p.154).

Esse caráter pragmático também recebe respaldo de outros teóricos da

Terminologia, tal como em Sager et al. (1980 apud CABRÉ, 1993, p. 125) na seguinte

citação:

As linguagens de especialidade são usadas de forma mais consciente do que a

língua geral e as situações nas quais são usadas intensificam a preocupação

do usuário com essa linguagem. É portanto no nível do uso que devemos

investigar critérios diferenciadores mais específicos.3

Destacam também o caráter pragmático Varantola (1986) e Picht e Draskau

(1985). O primeiro ressalta que o uso de uma linguagem de especialidade pressupõe

uma educação especial e está restrito à comunicação entre especialistas da mesma área

ou de áreas afins.

Já Picht e Draskau (1985 apud CABRÉ, 1993, p. 134) destacam o fato de que o

uso pode se dar em qualquer nível de complexidade e pode envolver diversos tipos de

interlocutores em razão desse nível:

Uma linguagem de especialidade é uma variedade formalizada e codificada

da língua, usada com propósitos especiais e em um contexto legítimo – quer

dizer, com a função de comunicar informação de natureza especializada em

1 El conjunto de reglas, unidades y restricciones que forman parte del conocimiento de la mayoría de

hablantes de una lengua constituye la llamada lengua común o general, que representa un subconjunto

de la lengua entendida en sentido global. Las unidades de la lengua común se utilizan en situaciones que

pueden calificarse como ‘no marcadas’. (CABRÉ, 1993, p.128). 2 En contraste, hablamos de lenguaje de especialidad (o de lenguajes especializados), para hacer

referencia al conjunto de subcódigos – parcialmente coincidentes con el subcódigo de la lengua común –

caracterizados en virtud de unas peculiaridades ‘especiales’, esto es, proprias y específicas de cada uno

de ellos, como pueden ser la temática, el tipo de interlocutores, la situación comunicativa, la intención

del hablante, el médio en que se produce un intercambio comunicativo, el tipo de intercambio, etc. Las

situaciones en que se utilizan los lenguajes de especialidad se pueden considerar, en este sentido,

‘marcadas’. (CABRÉ, 1993, p.128-129). 3Special languages are used more self-consciously than general language and the situations in which they

are used intensify the user’s concern with the language. It is therefore on the level of use that we look for

more specific differentiating criteria. (SAGER et AL. 1980 apud CABRÉ 1993, p. 125).

Traduzires 4 – 2013

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qualquer nível - desde o nível de maior complexidade, entre especialistas, até

níveis de menor complexidade, com o objetivo de informar ou dar início ao

estudo de uma temática.4

Com Pitcht e Draskau, é possível pensar em uma escala de complexidade em

uma linguagem de especialidade, que varia de um nível de maior complexidade, no qual

os interlocutores são especialistas, por exemplo, a um nível de menor complexidade, no

qual os interlocutores são especialista e estudante ou especialista e público leigo.

Nesse sentido, os textos produzidos podem ser caracterizados por determinada

situação de uso que combina determinado nível de complexidade e tipo de interlocutor

ou destinatário. Os textos científicos, por exemplo, publicados em periódicos, têm um

nível de maior complexidade, são produzidos por especialistas e destinados a um

público também especialista. Já os textos didáticos, como os livros didáticos para o

ensino médio ou superior, têm um nível de menor complexidade em relação aos

primeiros e são direcionados ao estudante.

As diversas situações de uso a que uma linguagem de especialidade está sujeita

são passíveis de ser compreendidas pelo fenômeno da variação. A tarefa de

compreender fenômenos linguísticos variáveis é tarefa da socioterminologia, disciplina

que se ocupa da “variação social por que passa o termo nos diversos níveis e planos

hierárquicos do discurso científico e técnico” (FAULSTICH, 1999, p.175). A

diversidade de termos efetua-se em pelos menos três planos: temporal, horizontal e

vertical da língua:

1. toda língua é historicamente diversificada e, dada a mudança linguística,

um estado de língua no tempo 1 é diferente de um estado de língua no tempo

2; 2. toda língua é socialmente diversificada tanto pela origem geográfica

quanto pela origem social dos locutores; 3. Toda língua é estilisticamente

diversificada, os locutores vão modificando sua maneira de falar de acordo

com as situações sociais em que se encontram. (FAULSTICH, 1999, p.174).

A variação que decorre do ambiente de ocorrência no plano horizontal, no plano

vertical e no plano temporal é classificada como variação de registro. Nesse grupo, as

variantes terminológicas são denominadas variantes terminológicas de registro.

(FAULSTICH, 1999, p.176-178)

As variantes terminológicas de registro, por sua vez, classificam-se em três

tipos: variante terminológica geográfica, variante terminológica de discurso e variante

terminológica temporal, a seguir definidas:

1. variante terminológica geográfica, aquela que ocorre no plano horizontal

de um país, isto é, nas diferentes regiões em que se fala a mesma língua. Pode

decorrer de polarização de comunidades linguísticas geograficamente

limitadas por fatores políticos, econômicos ou culturais, ou de influências que

cada região sofreu durante sua formação. Servem de exemplo os termos da

linguagem médica caxumba, usado no centro-oeste, sudeste e sul do Brasil e

papeira, termo usado no norte e nordeste do Brasil, assim como em Portugal.

(...)

2. variante terminológica de discurso, a que decorre da sintonia que se

estabelece entre elaborador e usuários de textos mais formais ou menos

4LSP is a formalized and codified variety of language, use for special purposes and in a legitimate

context – that is to say, with the function of communicating information of a specialized nature at any

level – at the highest level of complexity, between initiate experts, and, at lower levels of complexity, with

the aim of informing or initiating other interested parties (...). (PICHT; DRASKAU, 1985 apud CABRÉ,

1993, p. 134)

Flávia Lamberti

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formais, como parotidite epidêmica, que é um termo específico do discurso

científico, da área da medicina; junta de descarga, termo próprio do discurso

técnico da área de mecânica de automóveis; planta de proveta, termo próprio

do discurso de vulgarização científica, da área de melhoramento genético.

Este tipo de variante ocorre no plano vertical do discurso de especialidade e

tem por meta estabelecer o máximo de simetria na comunicação.

3. variante terminológica temporal, aquela que, no processo de variação e

de mudança, em que duas formas (X e Y) concorrem durante um tempo, se

fixa como preferida. Serve de exemplo o termo já em desuso, da área de

biologia, macrogameta, que foi substituído, no discurso da biotecnologia, por

gameta feminino, assim como microgameta que cedeu lugar para gameta

feminino. (FAULSTICH, 1999, p. 177-178).

O estudo de Strehler (1995) apresenta pesquisa acerca da linguagem da área de

mecânica de automóveis, realizada sob a perspectiva da socioterminologia. A coleta dos

termos foi direcionada tendo em vista três meios sociais distintos: produtor, revendedor

e mecânico. Na análise dos dados, observou-se, por exemplo, que a peça de automóvel

chamada anel de descarga é o termo usado pelo produtor. Já os termos biscoito ou junta

de descarga são usados pelo mecânico. Trata-se de "variantes socioprofissionais",

termos com um mesmo significado, mas com formas diferentes haja vista a distinção de

meios socioprofissionais em uma mesma linguagem especialidade. É uma variação

própria do plano horizontal da língua advinda da distinção de origem social e

profissional dos interlocutores.

Em continuação à caracterização da concepção de linguagem de especialidade, a

seguir são apresentados mais dois outros aspectos: o aspecto cognitivo e o aspecto

linguístico, mais especificamente terminológico.

1.1 Estrutura conceitual (de conhecimento) das linguagens de especialidade

A abordagem terminológica considera que uma linguagem de especialidade tem uma

estrutura de conhecimento, que, por sua vez, é constituída de conceitos

interrelacionados de diversos modos, os quais constituem um subsistema. O conjunto de

subsistemas constitui o léxico de uma língua. Essas considerações foram depreendidas

da concepção de léxico no âmbito da Terminologia, conforme Sager (1993, p. 13):

O léxico de uma língua é constituído de muitos subsistemas separados que

representam a estrutura do conhecimento de cada área de especialidade ou

disciplina. Cada estrutura do conhecimento é constituída de conceitos

interrelacionados de diversos modos. A abordagem do estudo terminológico a

partir da dimensão cognitiva exige entendimento da estrutura do

conhecimento de modo a obter um panorama completo e coerente da

natureza, comportamento e interação dos conceitos e seus termos. (SAGER,

1990, p.13). 5

Os termos, por sua vez, representantes linguísticos dos conceitos, refletem a

organização do conhecimento de uma linguagem de especialidade e, por sua vez, a sua

estrutura conceitual, tal como em l’Homme (2004, p.25):

5 From the point of view of terminology, therefore, the lexicon of a language consists of the many

separate subsystems representing the knowledge structure of each subject field or discipline. Each

knowledge structure consists of variously interlinked concepts. Approaching the study of terminology

from its cognitive dimension requires an understanding of the structure of knowledge in order to obtain

as complete and coherent a picture of the nature, behavior and interaction of concepts and their

associated terms as possible. (SAGER, 1990, p. 13).

Traduzires 4 – 2013

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A dimensão conceitual considera que o conjunto de termos de uma área

especializada é o reflexo da organização do conhecimento dessa área. Os

termos denotam os conceitos que são conectados entre si de diversas formas

(por exemplo, gênero e espécie ou parte e todo). A organização dos conceitos

de uma área – sua estrutura conceitual ou seu sistema conceitual – guia o

terminógrafo ao longo de seu trabalho de descrição (...)6

Essa estrutura conceitual pode ser extraída por meio de modelos de

representação, tais como as relações conceituais clássicas. (L’HOMME, 2004, p. 86).

Além dessas, destaca-se também a relação interlinguística, especialmente importante na

determinação da relação de equivalência entre conceitos de uma linguagem de

especialidade, em línguas diferentes (L’HOMME, 2004, p. 115). A seguir são

apresentadas as descrições das três relações conceituais clássicas e da relação

interlinguística, usadas neste estudo:

a) Relação genérica (ou gênero-espécie): essa relação estabelece uma ordem

hierárquica, na qual um termo com extensão7 mais ampla abrange uma série

de outros termos com características conceituais mais restritas e específicas.

O conceito mais genérico é chamado de hiperônimo e os conceitos mais

específicos são chamados de hipônimos. Esses são considerados ‘tipos’ do

termo mais genérico. Servem de exemplo a relação mamíferos – mamíferos

placentários (morcegos, tamanduás, macaco, homem, baleia) e mamíferos

não placentários (cangurus, coalas).

b) Relação partitiva: essa relação é também chamada de relação parte - todo ou

meronímica, na qual um termo denota um todo e outro ou vários outros

termos denotam as partes. Serve de exemplo a relação telefone – tela –

teclado – seletor de funções – controle de volume – luz indicadora de uso.

c) Relações associativas, também chamadas de relações complexas por Sager

(1990, p.34), as quais indicam diversos tipos de relações estabelecidas entre

os conceitos. Seguem alguns exemplos das possíveis relações:

RELAÇÃO EXEMPLOS

Produtor – produto agricultor -soja

Ação – resultado costurar - tecido

Ação – instrumento colher - colheitadeira

Recipiente – conteúdo cesta - maça

Causa-efeito chuva - inundação

Profissão-instrumento médico - estetoscópio

Instrumento – objeto martelo - prego

Duração – instrução hora - relógio

Pessoa – habitação rei -castelo

6 L´optique conceptuelle considere que l’ensemble des termes d’un domaine specialisé est le reflet de

l’organisation des connaissances dans ce domaine. Les termes dénotent des concepts qui sont reliés entre

eux selon différentes modalités (par exemple, en genres et espèces ou en tout et parties). L’organisation

des concepts d’un domaine – sa structure conceptuelle ou son système conceptual – guide le

terminographe tout au long de son travail de description (…) (L’HOMME, 2004, p.25) 7 A range of objects a concept refers to are called its extension. We speak of a broad concept as having a

wide extension because it encompasses many types of objects in its scope of meaning. (SAGER, 1990,

p.24) (Um conjunto de objetos a que um conceito se refere é chamado de extensão. Um conceito é

considerado amplo quando tem ampla extensão, pois esse abrange muitos tipos de objetos no âmbito do

seu significado).

Flávia Lamberti

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Conteúdo – contido caixa de ferramentas – ferramenta

(PAVEL, S.; NOLET, D., 2000, p.16)

d) Relações interlinguísticas: são relações conceituais de equivalência.

L’Homme (2004, p. 115) as denomina como uma “uma relação entre dois

termos que pertencem a línguas diferentes, mas que têm o mesmo

significado”8. Os termos estão em uma relação de equivalência uma vez que

dispõem dos mesmos componentes semânticos.

1.2 Terminologia

O termo ‘terminologia’ é polissêmico. Nesta seção, terminologia é o conjunto de

termos de uma linguagem de especialidade. Além dessa acepção, há outras duas, uma

como a disciplina ou ciência, outra como o conjunto de princípios que regem a

compilação de termos (CABRÉ, 1999, p.18-19).

Além do fato de os termos serem representantes linguísticos dos conceitos em

uma estrutura conceitual de uma linguagem de especialidade, uma terminologia tem

também um caráter distintivo por duas questões: i) a distinção entre ‘termo’ e ‘palavra’;

ii) ocorrência de unidades terminológicas complexas.

No que se refere ao ponto de vista linguístico, não é possível detectar uma

diferença entre ‘termo’ e ‘palavra’. Ambas as unidades têm uma forma fônica e gráfica,

uma estrutura morfológica (simples ou complexa), uma classe gramatical e um

significado (CABRÉ, 1999, p. 24-25). No entanto, algumas observações podem oferecer

indicações de que são unidades diferentes. A análise em conjunto de um inventário de

termos permite observar que determinados modos de formação de termos,

especialmente a formação com formantes cultos e as construções sintagmáticas fixas

(unidades terminológicas complexas), têm frequência muito maior nas linguagens de

especialidade do que na língua geral. Além disso, destacam-se os aspectos pragmáticos,

como aqueles que melhor permitem distinguir termo de palavra. Esses aspectos estão

relacionados: i) aos usuários; ii) às situações em que os termos são utilizados; iii) a

temática que veiculam, e iv) ao tipo de discurso. (CABRÉ, 1999, p. 24-25).

As unidades terminológicas complexas (UTCs) são passíveis de reconhecimento

pelos seguintes critérios, descritos por Boulanger (1993, p.10-12):

1) Inseparabilidade: não é possível intercalar uma palavra qualquer na sequência

lexical da UTC sem alterar o significado. Exemplo: tabela de demanda (*tabela

futura de demanda).

2) Impossibilidade de comutação ou substituição: impossibilidade de substituir

uma das palavras por outra sem romper as relações semânticas da UTC.

Exemplo: mercado competitivo por mercado de competição; efeito renda por

efeito salário; efeito substituição por efeito troca.

3) Impossibilidade de coordenação: quando existe a impossibilidade de coordenar

um dos componentes com outro elemento ou de recuperá-lo sob a forma

anafórica, isto é reduzida.

8 Cette relation engage deux termes appartenant à des langues différentes, mais qui ont le même sens.

(L’HOMME, 2004, p. 115).

Traduzires 4 – 2013

60

3.1 Coordenação. Ex: *mercado físico e de comércio eletrônico; *benefício

marginal e integral; *preço relativo e absoluto.

3.2 Anáfora. É a referência a uma palavra/termo anterior que se segue. É uma

UTC quando somente a base pode ser recuperada anaforicamente, jamais a

expansão.

Ex: lei da demanda Essa lei ... * Essa demanda...;

efeito substituição Esse efeito... * Essa substituição...

mercado de recursos Esse mercado... *Esses recursos...

2. Exercício de pesquisa terminológica

Esta seção apresenta a segunda parte do exercício de pesquisa terminológica

bilíngue para as aulas de prática de tradução de textos especializados. Propõe-se a

realização desse exercício antes da preparação de uma tradução específica. Uma vez

conduzido o exercício, elabora-se a tradução.

O exercício inicia-se com a delimitação de aspectos pragmáticos do texto a ser

traduzido, mais especificamente a área de conhecimento (juntamente com a definição da

subárea ou da temática), os interlocutores e a situação/ambiente de uso (o que inclui

registro de uso: marca geográfica, tipo de discurso e o ano de produção).

Em seguida, o exercício pode ser conduzido de duas formas:

1) na língua de chegada, seleciona-se um texto da mesma área de

conhecimento/subárea/temática e com o mesmo tipo de discurso9 e

interlocutores do texto a ser traduzido; ou

2) na língua de partida e na língua de chegada, selecionam-se textos da

mesma área de conhecimento/subárea/temática e com o mesmo tipo de

discurso e interlocutores do texto a ser traduzido.

Após a escolha do procedimento 1) ou 2) acima, são realizadas as seguintes

atividades:

i) construção de estruturas conceituais por meio da identificação de

relações conceituais, e

ii) seleção de unidades terminológicas.

Para este exercício, o texto a ser traduzido é classificado como pertencente à

área da Economia e trata da temática da demanda. No que se refere ao registro de uso, é

um texto didático, quanto ao tipo de discurso, cujos interlocutores são especialista e

estudante, o que indica ser um texto intermediário na escala de complexidade. Quanto

ao registro temporal e geográfico, é respectivamente uma publicação contemporânea,

elaborada em inglês para o mercado norte-americano.

Em continuação, escolheu-se o procedimento 2) para a condução deste exercício.

Desse modo, foram selecionadas duas publicações didáticas, uma na língua de partida, o

livro Macroeconomics, de Michael Parkin, publicado em 2002, e outra na língua de

9 O tipo de discurso aqui refere-se à possibilidade de variação terminológica de discurso, da qual

decorrem as variantes terminológicas de discurso, classificadas por Faulstich 1999, p. 177-178.

Flávia Lamberti

61

chegada, a tradução desse livro em português, intitulada Economia, publicada em 2009,

8ª edição. Para este estudo, foi escolhido, em cada obra, o capítulo 3, Demand and

Supply e Demanda e Oferta, respectivamente.

A escolha de uma tradução como fonte da pesquisa terminológica em português

não foi considerada problemática, apesar de existirem instruções, como as do Manual de

Terminologia, de Pavel e Nolet, que recomendam a escolha de fontes originais. No

entanto, a escolha da obra traduzida foi favorecida pelo fato de o livro em questão ter

passado por revisão técnica de especialista, Professor Nelson Carvalheiro, Doutor em

Economia pela Universidade de são Paulo (USP), e pelo fato de o cotejo do original

com a tradução favorecer a identificação de termos equivalentes, isto é, de relações

interlinguísticas.

2.1 A construção de estrutura conceitual

A construção da estrutura conceitual inicia-se com a coleta de candidatos a

termo conduzida em âmbito bilíngue. A extração de tais candidatos a termo foi

conduzida a partir da leitura10 e do uso do critério relativo à concepção de unidade

terminológica (subitem 1.2).

Nessa fase foram coletados 41 candidatos a termo em português e 40 candidatos

em inglês:

Português Inglês

1. queda livre dramatic slide

2. queda livre de preços price slide

3. foguete rocket

4. subir como um foguete to rocket

5. foguete de preços price rocket

6. montanha-russa roller coaster

7. montanha russa de preços price roller coaster

8. mercado market

9. preço price

10. bem good

11. serviço service

12. recurso resource

13. insumo input

14. moeda money

15. mercado de câmbio currency market

16. mercado de comércio eletrônico e-commerce market

15. título financeiro financial security

14. mercado competitivo competitive market

15. preço monetário money price

16. custo de oportunidade opportunity cost

17. preço relativo relative price

10 A coleta dos termos pode também ser automática, quer dizer, utilizar um programa de computador que

seleciona unidades lexicais e apresenta estatísticas em relação à frequência de ocorrência. Nesse tipo de

programa, a alta frequência de uma unidade, ou de formas recorrentes, é um indicativo de que tal unidade

ou formas recorrentes é um termo. Nesta pesquisa, no entanto, em razão de a documentação ser reduzida

(seis páginas de texto) considerou-se que o critério da frequência não seria um indicativo real para a

seleção de um candidato a termo.

Traduzires 4 – 2013

62

18. índice de preços price index

19. demanda demand

20. quantidade demandada quantity demanded

21. necessidade want

22. plano de compras; plano dos

compradores

buying plan

23. lei da demanda law of demand

24. efeito substituição substitution effect

25. efeito renda income effect

26. curva de demanda demand curve

27. tabela de demanda demand schedule

28. curva de disposição e capacidade de

pagar

willingness-and-ability-to-pay curve

29. benefício marginal marginal benefit

30. mudança de demanda change in demand

31. preço de bens relacionados price of related goods

32. preço futuro esperado expected future price

33. renda income

34. renda futura esperada ?

35. população population

36. preferência preference

37. bem substituto substitute

38. bem complementar complement

39. bem normal normal good

40. bem inferior inferior good

41. mudança da quantidade demandada change in the quantity demanded

2.1.1 Relações conceituais e seleção de unidades terminológicas

Coletados os candidatos a termo, a fase seguinte concentrou-se em identificar

relações conceituais entre eles. Uma vez identificada a relação conceitual, tem-se a

efetiva seleção de unidades terminológicas. Isso que dizer que foram selecionados como

termos apenas aqueles candidatos que fizeram parte de uma estrutura conceitual,

elaborada a partir dos dados disponíveis no documento de análise.

As relações conceituais identificadas foram11:

1) Relação partitiva:

1.1 mercado (necessidade; comprador; vendedor; plano de compras;

preço; custo de oportunidade; bem; demanda; serviço, recurso; insumo;

moeda, título financeiro);

1.2 demanda (quantidade demandada, lei da demanda, curva de demanda,

tabela de demanda, curva de disposição e capacidade de pagar, benefício

marginal, mudança de demanda, mudança da quantidade demandada).

11 As relações conceituais são apresentadas com os dados do português, mas se considera que os termos

em inglês em relação de equivalência com os termos respectivos em português também apresentam as

mesmas relações identificadas.

Flávia Lamberti

63

Em 1.1, por exemplo, o mercado é o todo, que se constitui por uma série de

outros conceitos, tais como: necessidade, comprador, vendedor, preço, custo de

oportunidade, bem, serviço, recurso, demanda. É no mercado que esses conceitos

entram em jogo e interagem. No mercado, por exemplo, a necessidade gera o interesse

por um bem; o comprador, por sua vez, interessa-se por um bem a um determinado

preço; a relação entre bem e preço gera uma demanda. Por outro lado, a escolha entre

um bem ou outro produz um custo de oportunidade.

A demanda (1.2) também relaciona-se de modo todo-parte com conceitos

estreitamente relacionados a ela, tais como lei da demanda e curva de demanda.

2) Relação genérica (gênero-espécie):

2.1 mercado (mercado de câmbio; mercado de comércio eletrônico)

2.2 mercado (mercado competitivo)

2.3 comprador (consumidor);

2.4 vendedor (produtor)

2.5 preço (preço monetário; preço relativo)

2.6 bem (bem substituto, bem complementar, bem normal, bem inferior)

Em relação à mercado, por exemplo, foram identificadas duas estruturas ‘tipo

de’. Em 2.1, mercado é apresentado em relação ao local onde se realiza; em 2.2, em

relação à intensidade da concorrência que compradores e vendedores enfrentam.

3) Relações associativas

As relações associativas observadas foram:

A) ‘causa – consequência’. Nessa relação, existe um conjunto de termos que exerce

influência para a definição de um resultado ou situação, quais sejam:

a) causa (preço, efeito renda, efeito substituição) – consequência (demanda,

quantidade demandada, plano de compras)

b) causa (preço dos bens relacionados, preço futuro esperado, renda, renda

futura esperada, população, preferência) – consequência (mudança de

demanda, mudança da quantidade demandada).

Em 1a) a demanda, a quantidade demandada, o plano de compras são causados,

ou melhor, influenciados, pelo preço, pelo efeito renda, pelo efeito substituição. Em 1b)

a mudança de demanda ou a mudança da quantidade demandada podem ser

influenciadas, por exemplo, pelo preço dos bens relacionados, mas também por outros

fatores, como a renda e a preferência.

B) ‘estado/condição – instrumento’. Nessa relação, um instrumento serve para

demonstrar determinado estado/condição. Serve de exemplo a relação entre quantidade

demandada e curva de demanda/tabela de demanda, sendo esses últimos instrumentos

usados para demonstrar a quantidade demandada de um bem a um determinado preço.

Do mesmo modo, a curva de disposição e capacidade de pagar é um

instrumento para demonstrar o benefício marginal dependendo da quantidade disponível

e do preço de um bem. Nesse sentido, a curva mostra que, à medida que a quantidade

aumenta, o benefício marginal de cada unidade diminui, assim como diminui o preço

mais alto que uma pessoa está disposta a pagar e é capaz de pagar.

Traduzires 4 – 2013

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Outro exemplo seria a relação associativa entre preço relativo e índice de

preços. O preço relativo de um bem é calculado em termos de uma ‘cesta’ de todos os

bens e serviços, também chamada de índice de preços. Para calcularmos o preço

relativo do café, por exemplo, dividimos o seu preço monetário pelo preço monetário de

uma ‘cesta’. O índice de preços é, portanto, um instrumento para o cálculo do preço

relativo.

4) Relações interlinguísticas

A análise dos textos em português e em inglês, conduzida com base no conceito

de relações interlinguísticas, permitiu identificar unidades lexicais, apresentadas no

subitem 2.1, em uma relação de equivalência, com exceção da unidade n. 34 em

português, o termo renda futura esperada. A não identificação de um equivalente pode

indicar, a princípio, uma relação não-isomórfica, que é a possibilidade de o português

fazer uma distinção que o inglês não necessariamente faz. (L’HOMME, 2004, p.115).

Por último, foram identificadas unidades lexicais que não foram selecionadas

como termo, pois não foram atribuídas a uma estrutura conceitual da área da Economia.

São elas em inglês: dramatic slide, price slide, rocket, to rocket, price rocket, roller

coaster, price roller coaster; seus respectivos equivalentes em português são: queda

livre, queda livre de preços, foguete, subir como um foguete, foguete de preços,

montanha russa e montanha russa de preços. Essas unidades apresentam a

característica de serem metáforas e de terem sido tomadas de empréstimo de outras

linguagens para uso na Economia, haja vista a necessidade de descrever a mudança de

preços. Nesse sentido, o conceito de queda livre12 da física foi usado para descrever a

queda brusca de preços13. Por sua vez, o conceito de foguete14 da astronomia, para a

subida rápida de preços, e o de montanha russa15, da ludologia, para as oscilações de

preços. Ressalte-se que em português foi usada a colocação verbal ‘subir como um

foguete’ como equivalente de to rocket16, em razão de não ser possível em português a

conversão de substantivo para verbo, tal como em inglês.

3. Considerações finais A análise de textos especializados a partir da concepção de linguagens de

especialidade em Terminologia permitiu abordar uma área do conhecimento, a

Economia, a partir de um ponto de vista linguístico. Isso quer dizer que a análise feita é

característica de um profissional da linguagem, mais especificamente de um

terminólogo ou de um tradutor-terminólogo, mas não de um economista. Tendo como

estratégia o quadro de análise proposto para a busca da organização do conhecimento

especializado em um ambiente bilíngue, foi possível caracterizar os textos de análise

quanto ao seu aspecto pragmático, cognitivo e terminológico e de identificar relações

12 “Em Física, queda livre é o movimento resultante unicamente da aceleração provocada

pela gravidade.. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Queda_livre>. Acesso em: 15 abr. 2014. 13 “O preço de um computador despencou em queda livre de cerca de $ 3.000 em 2000 para $300 em

2006”. (PARKIN, 2009, p.54) 14 Foguete. Substantivo masculino. 3. Astronomia. Veículo espacial que contém um explosivo e que é

propelido pela descarga, na parte traseira, dos gases liberados pela combustão. Disponível em

<http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=foguete>. Acesso em: 17 abr. 2014. 15 Montanha-russa. Substantivo feminino. 1) Lud. brinquedo, encontrado em parques de diversões, que se

constitui de uma múltipla rede de trilhos, armados em aclives e declives sucessivos (...). Disponível em:

<http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=montanha-russa>. Acesso em: 15 abr. 2014. 16 Rocket v.intr. 1. To move swiftly and powerfully, as a rocket. Disponível em: <

http://www.thefreedictionary.com/rocket>. Acesso em: 17 abr. 2014.

Flávia Lamberti

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interlinguísticas. Por fim, espera-se ter contribuído para o desenvolvimento da

competência tradutória dos alunos de prática de tradução e para o ensino da tradução

técnica e científica.

Referências bibliográficas BOULANGER, Jean-Claude. Lexicologie et lexicographie: notes de cours. 1.ed.

Canadá: Université Laval, 1993.

CABRÉ, Maria Teresa. La terminología: teoria, metodología, aplicaciones. Barcelona:

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--------. La terminologia: representación y comunicación: elementos para una teoría de

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FAULSTICH, Enilde. A função social da terminologia. In: I Seminário de Filologia e

Língua Portuguesa. São Paulo : Humanitas, 1999, p.167-183.

L’HOMME, Marie-Claude. La terminologie : principes et techniques. Montréal : Les

Presses de l’Université de Montréal, 2004.

SAGER, Juan. A Practical Course in Terminology Processing.

Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 1990.

PARKIN, Michael. Economia. Tradução Cristina Yamagami. 8. ed. São Paulo:

Pearson/Prentice Hall, 2009.

-------. Economics with electronic study guide CD ROM. 6. ed. Addison-Wesley

Longman, 2002.

PAVEL, Silvia; NOLET, Diane. Manual de terminologia. Canadá: Public Works and

Government Services, 2002. Disponível em:

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STREHLER, René. A socioterminologia como base para a elaboração de glossários.

Ciência da Informação, v. 24, n. 3, 1995. Disponível em:

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