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12 Cadernos UniFOA edição nº 15, abril/2011

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CADERNOS UniFOACENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

ISSN 1809-9475

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CADERNOS UniFOACENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

ANO VI - Nº 15 - Abril/2011

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EXPEDIENTE

CapaDaniel Ventura

EditoraçãoLaert dos Santos / Luana Fernandes

Comitê EditorialAgamêmnom Rocha de Souza

Rosana Aparecida Ravaglia SoaresSérgio Elias Vieira Cury

Conselho EditorialAline Andrade Pereira

Carlos Alberto Sanches PereiraCarlos Roberto Xavier

Denise Celeste Godoy de Andrade RodriguesÉlcio Nogueira

Fernanda Augusta Oliveira MeloJúlio César de Almeida Nobre

Pablo Gimenez SerranoMargareth Lopes Galvão SaronMauro César Tavares de Souza

Renato Porrozzi de AlmeidaVitor Barletta Machado

Revisão de textos

Língua PortuguesaClaudia Maria Gil Silva

Maricinéia Pereira Meireles da Silva

Língua InglesaMaria Amália Sarmento Rocha de Carvalho

Conselho Editorial ad hoc

Claudinei dos SantosDoutor em Engenharia de Materiais - Escola de Engenharia de

Lorena - Universidade de São Paulo - EEL/USP

Diamar Costa PintoDoutor em Biologia Parasitária - Fundação Oswaldo Cruz

Fabio Aguiar AlvesDoutor em Biologia Celular e Molecular

Universidade Federal Fluminense

Igor José de Renó MachadoDoutor em Ciências Sociais - Universidade Estadual de Campinas

- Professor do Departamento de Antropologia - UFSCAR

Maria José Panichi VieiraDoutora em Engenharia Metalúrgica pela Pontifícia Universidade

Católica do Rio de Janeiro

Ruthberg dos SantosDoutor em Administração pela Universidade de São Paulo

Douglas Mansur da SilvaDoutor em Antropologia Social – Universidade Federal de Viçosa

FOAPresidente

Dauro Peixoto Aragão

Vice-PresidenteJairo Conde Jogaib

Diretor Administrativo - FinanceiroIram Natividade Pinto

Diretor de Relações InstitucionaisJosé Tarcísio Cavaliere

Superintendente ExecutivoEduardo Guimarães Prado

Superintendência GeralJosé Ivo de Souza

UniFOAReitor

Alexandre Fernandes Habibe

Pró-reitora AcadêmicaCláudia Yamada Utagawa

Pró-reitora de Pós-Graduação,Pesquisa e Extensão

Maria Auxiliadora Motta Barreto

Cadernos UniFOAEditora Executiva

Flávia Lages de Castro

Editora CientíficaMaria Auxiliadora Motta Barreto

EXPEDIENTE

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FICHA CATALOGRÁFICABibliotecária Gabriela Leite Ferreira - CRB 7/RJ - 5521

C122 Cadernos UniFOA / Centro Universitário de Volta Redonda. –ano VI, n. 15 (abril 2011). – Volta Redonda: FOA, 2011.

Quadrimestral

ISSN 1809-9475

1. Publicação periódica. 2. Ciências exatas e tecnológicas – Periódicos. 3. Ciências da saúde e biológicas – Periódicos. 3. Ciências humanas e sociais aplicadas – Periódicos. I. Fun-dação Oswaldo Aranha. II. Título.

CDD – 050

Centro Universtitário de Volta Redonda - UniFOA

Campus Três Poços

Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325Três Poços, Volta Redonda /RJ

CEP 27240-560Tel.: (24) 3340-8400 - FAX: 3340-8404

www.unifoa.edu.br

Versão On-line da Revista Cadernos UniFOAhttp://www.unifoa.edu.br/cadernos

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SUMÁRIO

EDITORIAL ...................................................................................................................................................................... 09

CIÊNCIAS EXATAS

Avaliação de compósitos híbridos para aplicações em EngenhariaJuliana Marques Resende, Franciny Lima de Oliveira e Daniella Regina Mulinari .................................................................... 11

Biometria através de Impressão Digital Márcia Santos da Silva e Venicio Siqueira Filho ...................................................................................................................................... 19

C.O.S – 3DRA - Software construtor de objetos tridimensinais: Uma proposta de Construção de Sólidos Geométricos Através da Realidade AumentadaRodolfo Gregório de Moraes, Carlos Vitor de Alencar Carvalho e Ana Maria Severiano de Paiva .............................................................. 29

CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS

Fatores que levam os surdos a fazerem o “Turnover” nas empresas de grande porte do Sul FluminenseBruna Viana de Abreu Gonçalves, Douglas Baltazar Gonçalves e Ivanete da Rosa Silva de Oliveira ................................................ 37

Maratona multidisciplinar: Construindo Indicadores Locais de Desenvolvimento EducacionalAgamêmnom Rocha Souza e Luis Felipe Camêlo de Freitas ..................................................................................................................... 47

Notas preliminares de uma crítica feminista aos programas de transferência direta de renda – o caso do Bolsa Família no BrasilSimone da Silva Ribeiro Gomes ................................................................................................................................................................ 57

CIÊNCIAS DA SAÚDE

A semiologia médica no século XXAdriana Novaes Rodrigues, Cleize Silveira Cunha, Cristiane Silveira Cunha, João Ozório R. Neto e Mauro Tavares .............................. 69

Diagnóstico e Continuidade do Cuidado do Câncer Bucal em pacientes acompanhados pelas Equipes de Saúde Bucal do Programa de Saúde da Família: a experiência do município de Resende, no Estado do Rio de JaneiroSylvio da Costa Júnior e Carlos Gonçalves Serra ...................................................................................................................................... 73

The modulating effect of bruxism as a form of suppressed hostility on depression in a selected population of tension type headache (TTHa) and craniomandibular disorders (CMDS) individualsOmar Franklin Molina, Marcus Sobreira Peixoto e Raphael Navarro Aquilino e Rise Rank .......................................................... 91

Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e a educação físicaMaria Auxiliadora Motta Barreto e Sandro Cezar Moreira ................................................................................................................... 101

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LIST OF CONTRIBUTIONS

EDITORIAL ...................................................................................................................................................................... 09

ACCURATE SCIENCES

Hybrid composites evaluation to be applied in EngineeringJuliana Marques Resende1, Franciny Lima de Oliveira1 and Daniella Regina Mulinari ....................................................................... 11

Biometrics through Digital PrintingMárcia Santos da Silva and Venicio Siqueira Filho ................................................................................................................................. 19

COS – 3DRA – Software constructor of 3d objects: A Proposal of Construction of Solid Geometry through an Augmented RealityRodolfo Gregório de Moraes, Carlos Vitor de Alencar Carvalho and Ana Maria Severiano de Paiva ........................................................... 29

SOCIAL SCIENCES APPLIED AND HUMAN BEINGS

Reasons that lead the deaf to form the “Turnover” in large companies in the southeast of Rio de Janeiro StateBruna Viana de Abreu Gonçalves, Douglas Baltazar Gonçalves and Ivanete da Rosa Silva de Oliveira ............................................... 37

Multidisciplinary contest: Building Local Indicators of Educational DevelopmentAgamêmnom Rocha Souza and Luis Felipe Camêlo de Freitas ...................................................................................................................... 47

Preliminary notes of a feminist criticism to the income transfer programs – the case of “Bolsa Família no Brasil”Simone da Silva Ribeiro Gomes ............................................................................................................................................ 57

SCIENCES OF THE HEALTH

The medical semiology in the 21st centuryAdriana Novaes Rodrigues, Cleize Silveira Cunha, Cristiane Silveira Cunha, João Ozório R. Neto and Mauro Tavares ....................... 69

Continuity of Care Diagnostics and Oral Cancer in patients followedby oral health teams from the Family Health Pro-gram: theexperience of the municipality of Resende, State of Rio de JaneiroSylvio da Costa Júnior and Carlos Gonçalves Serra .......................................................................................................................... 73

O efeito modulador do bruxismo como uma forma de hostilidade reprimida numa população seleta com dor de cabeça por tensão muscular e distúrbios craniomandibulares (dcms).Omar Franklin Molina, Marcus Sobreira Peixoto, Raphael Navarro Aquilino and Rise Rank ................................................................ 91

Attention deficit and hyperactivity disorder and physical educationMaria Auxiliadora Motta Barreto and Sandro Cezar Moreira ........................................................................................................ 101

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Editorial

Chegamos à edição número 15, confirmando a realização de um desejo institucional: o da revista Cadernos UniFOA se estabelecer como veículo respeitado de publicação e divulgação de ideias e pesquisas, de professores e alunos que já entendem a ciência como uma construção sistemática. Através da Cadernos UniFOA, definitivamente marcamos presença na comunidade científica e acadêmica num enfoque inter e transdisciplinar.

Neste editorial, como Pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão, venho reafirmar minha satisfação em fazer parte da consolidação deste periódico, sedimentada nesta 15ª. edição. Como editora científica, reconheço o trabalho de todo o comitê, na busca incessante de aprimoramento para alcançar a maturidade acadêmico-científica, tão desejada por todos. É com grande prazer que constatamos que as ofertas de artigo continuam cada vez maiores, tanto interna quanto externamente e os desafios, atualmente, se voltaram para a lapidação de práticas e procedimentos. Neste número, seguindo os mesmos princípios de multidisciplinaridade que norteiam nossa publicação desde seu início, são apresentados artigos nos diversos segmentos, divulgando desde propostas de avaliação, de tecnologia virtual, até a consideração de diagnósticos e tratamentos, críticas a práticas sociais, além de informações específicas, sempre relevantes, sobre temas das áreas de exatas, humanas e biológicas Em editorial anterior, ressaltei que o momento era de crescer. Agora, já crescidos, nos voltamos para o momento de amadurecer. Contamos com todos para que essa nova fase seja plena de sucesso. Uma ótima leitura!

Profa. Dra. Maria Auxiliadora Motta Pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão

Editora Científica da Cadernos UniFOA

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Avaliação de compósitos híbridos para aplicações em Engenharia

Hybrid composites evaluation to be applied in Engineering

Juliana Marques Resende1

Franciny Lima de Oliveira1

Daniella Regina Mulinari2

Resumo

Os compósitos termoplásticos reforçados com fibras de vidro têm sido utilizados na indústria automobilística. No entanto, esses compósitos são relativamente caros e abrasivos aos equipamentos. Neste trabalho, foram avaliadas as propriedades mecânicas dos compósitos híbridos de poli-propileno reforçados com fibras de vidro e fibras provenientes da coroa do abacaxi tratadas com solução alcalina. A morfologia das fibras foi analisada por microscopia eletrônica de varredura (MEV). Os resultados obtidos mostraram que os compósitos híbridos apresentaram proprieda-des mecânicas intermediárias comparadas aos demais compósitos.

1 Discente do 10º período do Curso de Engenharia Ambiental - UniFOA2 Docente do Mestrado Profissional em Materias / MEMAT - UniFOA

Abstract

Thermoplastic composites reinforced with glass fibers have been used in the automobile industry. However, these composites are relatively expensive and abrasive to the equipment. In this work, the mechanical properties of the hybrid composites of polypropylene reinforced with glass fibers and pineapple crown fibers treated with alkaline solution were evaluated. The morphology of the treated fibers was analyzed by scanning electronic microscopy (SEM). The results showed that the hybrid composites presented intermediate mechanical properties compared to the other composites.

Palavras-chave:

Compósitos híbridos

Fibra proveniente da coroa do abacaxi

Polipropileno

Recebido em 03/2011

Aprovado em 04/2011

ArtigoOriginal

Original Paper

Key words:

Hybrid composites

Pineapple crown fibers

Polypropylene

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Introdução1.

Atualmente as indústria têm substituído os materiais tradicionais por materiais polimé-ricos. Os polímeros têm demonstrado um alto grau de confiabilidade e muitas vantagens so-bre os materiais convencionais; além de maior flexibilidade de projeto e economia na produ-ção, pois sua baixa densidade é essencial para a redução do consumo de combustíveis1. Aproximadamente, para 100 kg de polí-meros empregados em um veículo, 200 a 300 kg de outros materiais deixam de ser emprega-dos, refletindo no peso final do carro. Dessa forma, estimando-se a vida útil de um veículo em 150.000 quilômetros, pode-se economizar 750 litros de combustível devido ao uso de plásticos. Além disso, a utilização de polímeros favorece a injeção de peças com-plexas com alto nível de produção e qualidade sem falar na resistência à corrosão1. Nesse contexto, pesquisadores têm busca-do o desenvolvimento de novos materiais, capa-zes de conciliar o alto desempenho dos políme-ros de engenharia com a questão ecológica. Dessa forma, o uso de materiais compó-sitos tem aumentado a cada dia, devido às me-lhorias das características dos materiais, isto é, das propriedades da matriz polimérica, do re-forço fibroso e da interface polímero-reforço2. As fibras naturais têm sido bastante in-vestigadas para uso como reforço em compó-sitos de matrizes poliméricas, pois aliam pro-priedades que levam em consideração aspectos que vão de encontro a nova ordem mundial, de forte apelo ecológico. Além disso, as fibras naturais apresentam outras características in-teressantes tais como, baixo custo, baixa den-sidade, são provenientes de fontes renováveis, são biodegradáveis, não são tóxicas e possuem alto módulo específico, o que as tornam fortes candidatas em potencial para estas aplicações de engenharia 3-8. Dentre as diversas fibras naturais, as fibras provenientes da coroa do abacaxi vêm como uma alternativa viável e abundante quando comparado às fibras sintéticas que apresentam custo elevado e são provenientes de fontes não renováveis9-11. O Brasil é um grande produtor agrícola e, portanto, essas fibras são geradas em gran-de quantidade através do descarte residual dos

excedentes da fruta. O abacaxi, por exemplo, está entre as frutas mais produzidas e consu-midas no Brasil, na qual a coroa é um exce-dente que não apresenta nenhuma utilidade econômica. Luo e colaboradores (2004) avaliaram as propriedades mecânicas dos compósitos obti-dos a partir da resina poli (3-hidroxibutirato-covalerato) reforçada com 20 e 30% de fibras de abacaxi e obtiveram resultados de resistên-cia a tração e flexão altamente elevada quando comparados à resina pura12. Arib e colaboradores (2006) também ava-liaram as propriedades mecânicas dos compó-sitos de polipropileno reforçados com fibras de abacaxi e obtiveram um aumento significativo da resistência à tração e à flexão quando com-parado à matriz de polipropileno pura13. Nesse contexto, a proposta deste traba-lho foi avaliar utilização dessas fibras na fa-bricação de um compósito híbrido. Os com-pósitos foram produzidos por meio da mistura física das fases dispersas na forma de fibras (coroa do abacaxi e vidro) na fase contínua, o polipropileno. Também foram produzidos compósitos de polipropileno reforçados com fibras de vidro e reforçados com fibras da co-roa do abacaxi.

Materiais e Métodos2.

A metodologia desenvolvida para o cumprimento dos objetivos propostos neste trabalho foi otimizada e realizada para avaliar a viabilidade técnico-científica da proposta. Para a confecção do compósito foram utilizadas fibras provenientes da coroa do aba-caxi, fibras de vidro e polipropileno. As fibras foram obtidas a partir da coroa descartada na comercialização da fruta do aba-caxi. Após a retirada das fibras da coroa do aba-caxi, a mesma foi seca em estufa a 50° C por 48 horas, a fim de remover a umidade. Em seguida as fibras sofreram processos físicos de tritura-ção e peneiração, utilizando um liquidificador convencional e uma peneira de 25 mesh. O procedimento realizado para o trata-mento da fibra foi a imersão das fibras em uma solução de NaOH à 10% durante 1 hora e em temperatura ambiente. Após esse tempo, as fi-bras foram lavadas exaustivamente com água

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destilada até atingir o pH da água destilada e secas em estufa a 80º C. O polipropileno (PP) utilizado neste tra-balho foi fornecido pela BRASKEN. O PP a ser utilizado é indicado para peças injetadas que possui excelente resistência mecânica e ao calor e alta resistência ao impacto.

2.1. Análise da Modificação das Fibras

As fibras provenientes da coroa do aba-caxi in natura e modificadas foram caracteri-zadas por Microscopia eletrônica de varredura (MEV). As micrografias foram obtidas em um microscópio eletrônico de varredura JEOL JSM5310, disponível no INPE em São José dos Campos, com filamento de tungstênio ope-rando a 10 kV, usando elétrons secundários, a fim de obter informações quanto à morfologia e composição das fibras.

2.2. Obtenção dos Compósitos

Os compósitos foram obtidos em um homogeneizador de plásticos de laboratório da MH Equipamentos (modelo MH-50H), disponível na Divisão de Materiais (AMR) do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA). A mistura entre as fibras (vidro e abacaxi modificadas) e o polímero ocorreu dentro da cápsula bi-partida, com arrefecimento de água. As palhetas de homogeneização rotacionaram com aproximadamente 2600 rpm na primeira velocidade e 5250 rpm na segunda, tornando

o processo de homogeneização extremamente rápido. A primeira velocidade serviu para tirar o motor e o eixo do ponto de inércia e a segun-da para misturar os materiais. E foi nesse mo-mento que o equipamento foi desligado para que não ocorresse a degradação do material. Para a obtenção dos compósitos, primei-ramente as fibras foram secas em estufa a 50º C por 3h. O PP também foi seco á mesma tempe-ratura, porém, por 1 h. Posteriormente, os ma-teriais foram pesados nas proporções de 2,5% (m/m) de fibras de vidro e fibras provenientes da coroa do abacaxi modificadas. Foram pre-parados cerca de 250 g do material compósito em bateladas de 50 g no homogeneizador de plásticos. Após a mistura, o material fundido passou entre rolos de aços inox (calandras), seguido de resfriamento com imersão em água. Após a imersão em água, os compósitos foram moídos em moinho granulador (RONE) até passar por peneira de 13 mm e secos em estufa a 50º C por 3 h. Os compósitos moídos, previamente secos, foram injetados em molde contendo cavidades com dimensões específicas para ensaios mecânicos, utilizando uma Injetora Battenfeld HM 60/350, disponível no Centro Universitário da FEI. Também foram preparados compósitos de polipropileno, reforçados com 5% de fi-bras de vidro e compósitos de polipropileno, reforçados com 5% de fibras provenientes da coroa do abacaxi para efeito de comparação. Os compósitos obtidos e tipos de fibras estão relacionados na Tabela 1.

Tabela 1. Descrição dos compósitos

AmostraTipo de fibra

reforçada

Quantidade de PP

(% m/m)

Quantidade de reforço (abacaxi)(% m/m)

Quantidade de reforço (vidro)

(% m/m)

CHFibras de vidro / Fibra do abacaxi

95 2,5 2,5

CV Fibras de vidro 95 -- 5

CA Fibras do abacaxi 95 5 --

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2.3. Propriedades Mecânicas

As propriedades mecânicas foram ava-liadas por meio de ensaios mecânicos de tra-ção e impacto. Os ensaios de tração foram realizados no Laboratório de Ensaios Mecânicos do Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA, em um equipamento da marca EMIC (Figura 1).

Figura 1. Máquina EMIC utilizada para o ensaio de tração.

Para cada tipo de compósito avaliado, foram ensaiados cinco corpos de prova com dimensões de acordo com a norma ASTM D 638 – 03 com 13 mm de largura, 165 mm de comprimento e 3 mm de espessura. As pro-priedades mecânicas de resistência à tração, alongamento e módulo de elasticidade em tra-ção foram avaliadas.

Os ensaios de impacto foram realiza-dos no Laboratório de Ensaios Mecânicos do Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA, utilizando o equipamento da marca PANTEC (Figura 2).

Figura 2. Máquina PANTEC utilizada para o ensaio de impacto.

Foram analisados cinco corpos de prova, com dimensões de acordo com a norma ASTM D 6110 – 06 com 12 mm de largura, 63,5 mm de comprimento e 12 mm de espessura. Foram avaliadas a energia absorvida ao impacto e a resistência.

Figura 3. Micrografias das fibras de abacaxi: (A) fibra in natura 500X; (B) fibra modificada 500X.

A micrografia da fibra de abacaxi in na-tura (Figura 3A) revelou fragmentos achata-dos dispostos de forma ordenada. Observou-se uma superfície lisa e homogênea, devido à presença dos extrativos, assemelhando-se a

uma cera, que ainda estão presentes nas fibras. A análise da fibra após a modificação (Figura 3B) revelou o aparecimento da superfície ru-gosa, devido à modificação com NaOH, que promoveu uma desagregação das fibras em

Resultados e Discussão3.

3.1. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

A Figura 3 evidencia as micrografias ob-tidas das fibras provenientes da coroa de aba-caxi in natura e modificadas.

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microfi brilas, que visualmente torna as fi brilas mais expostas. Observou-se também a presen-ça de poros ou orifícios presentes em toda a

superfície rugosa da fi bra indicando que pode-rá ocorrer um aumento da área superfi cial efe-tiva para o contato com a matriz polimérica.

3.2. Propriedades Mecânicas

3.2.1. Resistência à Tração

A Figura 4 evidencia o comportamento de deformação do corpo de prova em função da aplicação da força de tração. O comporta-mento de deformação mecânica desses mate-

riais está fundamentado na viscoelasticidade. O termo viscoelasticidade está associado à resposta elástica e viscosa, simultânea ou não, apresentada pelos polímeros. Um material vis-coelástico, sob deformação, terá um compor-tamento misto que resultará em recuperação parcial da deformação da deformação depois de retirada a força que atua sobre este14.

Figura 4. Comportamento dos materiais no ensaio de tração.

A Tabela 2 apresenta os valores do limite de resistência à tração e seus respectivos alonga-mento e módulo, obtidos dos ensaios mecânicos dos compósitos PP reforçados com as fi bras de vidro, PP reforçados com as fi bras provenientes da coroa do abacaxi tratadas com NaOH 1% m/v, PP reforçados com fi bras de vidro e fi bras prove-

nientes da coroa do abacaxi tratadas com NaOH 1% m/v e também do polipropileno puro. Analisando-se os resultados da Tabela 2 observou-se um aumento no módulo de elas-ticidade ao inserir reforço na matriz poliméri-ca. Por outro lado, a resistência praticamente manteve-se a mesma.

Tabela 2. Valores do limite de resistência à tração.

Amostras

Propriedades

Alongamento no limite de resistência

à tração (%)

Limite de resistência à tração (MPa)

Módulo de Elasticidade (MPa)

PP 1,43 ± 0,2 22,2 ± 0,04 22,2 ± 0,04

CV 1,00 ± 0,03 22,02 ± 0,06 22,02 ± 0,06

CA 0,87 ± 0,03 0,87 ± 0,03 2508,9 ± 58,8

CH 0,80 ± 0,03 0,80 ± 0,03 2671,2 ± 66,4

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Tabela 3. Valores do limite de resistência ao impacto

Amostras Energia Absorvida (J) Resistência (J.m-1)

PP puro 6,0 ± 0,6 36,0 ± 1,1CV 11,33 ± 2,3 74,9 ± 15,3CA 6,75 ± 0,96 43,05 ± 6,2CH 8,0 ± 2,0 51,3 ± 12,7

No entanto, o compósito híbrido apre-sentou maior rigidez quando comparado aos demais. Este fato ocorreu, devido ao sinergis-mo das fibras de vidro e fibras provenientes da coroa do abacaxi tratadas.

3.2.2. Resistência ao Impacto

Dentre as propriedades mecânicas dos compósitos avaliadas neste trabalho, à resis-tência ao impacto mostrou maior relevância, pois a avaliação da resistência ao impacto dos materiais é um fator importante na seleção

de materiais para aplicações de engenharia (MULINARI, 2009). Analisando-se a resistência ao impac-to das amostras, foram observados que os compósitos apresentaram maiores valores, quando comparados ao PP puro, atingin-do até 108,05 % de aumento (CV). Esse aumento na resistência ocorreu devido à inserção de fibras na matriz, fazendo com que a energia absorvida aumentasse e, con-sequentemente, a resistência. Os resultados obtidos de resistência ao impacto podem ser observados na Tabela 3.

Os compósitos reforçados com fibras de vidro apresentaram maiores resistências, quan-do comparados aos compósitos reforçados com fibras provenientes da coroa do abacaxi e aos compósitos híbridos. No entanto, os compositos

híbridos, ou seja, aqueles reforçados com fi-bras de vidro e abacaxi apresentaram energia absorvida e resistência ao impacto intermedi-ária aos demais compósitos. As Figuras 5 e 6 evidenciam estes resultados.

Figura 5. Energia absorvida do polipropileno puro e dos compósitos.

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Figura 6. Resistência ao impacto do polipropileno e dos compósitos.

Santos (2006) apresentou resultados similares ao estudar compósitos híbridos re-forçados com fibras de vidro e fibras de coco tratadas com solução alcalina. A inserção de fibras na matriz também aumentou a resistência ao impacto, devido ao mecanismo de dissipação de energia. As fibras foram arrancadas (pull out) da matriz e dissi-param energia durante o processo de fricção mecânica. E esse arrancamento das fibras pre-veniu a concentração de tensão nas áreas ao longo da fibra.

Conclusões4.

As fibras provenientes da coroa do aba-caxi apresentaram alterações significativas em sua morfologia quando submetidas ao trata-mento alcalino. Com a inserção dessas fibras tratadas na matriz de polipropileno também reforçada com fibra de vidro, notou-se que os compósitos híbridos apresentaram proprieda-des mecânicas intermediárias quando compa-rada aos compósitos reforçados com fibras de vidro e aos compósitos reforçados com fibras provenientes da coroa do abacaxi tratadas.

Referências Bibliográficas5.

SANTOS, A. M. 1. Estudo de compósitos híbridos polipropileno / fibras de vidro e coco para aplicações em engenharia. Dissertação (Mestre em Engenharia Mecânica) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2004.

WAMBUA, P.; IVENS, J.; VERPOEST, 2. I. Natural fibres: Can they replace glass in fibre reinforced plastics? Composites Science and Technology, v. 63, p. 1259-1264, 2003.

CARVALHO, K.C.C.; MULINARI, 3. D.R.; VOORWALD, H.J.C.; CIOFFI, M.O.H. Chemical modification effect on the mechanical properties of HIPS/coconut fiber composites. BioResources, v.5 (2), p.1143-1155, 2010.

NIRMAL, U.; YOUSIF, B. F.; RILLING, 4. D.; BREVERN, P. V. Effect of betelnut fibres treatment and contact conditions on adhesive wear and frictional performance of polyester composites. Wear, v.268, p.1354–1370, 2010.

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Endereço para Correspondência:Daniella Regina [email protected] Universitário de Volta RedondaCampus Três PoçosAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325,Três Poços - Volta Redonda / RJCEP: 27240-560

MULINARI, D. R.; VOORWALD, H. J. 5. C.; CIOFFI, M. O. H.; ROCHA, G. J. M., DA SILVA, M. L. P. Surface modification of sugarcane bagasse cellulose and its effect on mechanical and water absorption properties of sugarcane bagasse cellulose/ HDPE composites. BioResources, v.5(2), p.661-671, 2010.

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Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:RESENDE, Juliana Marques; OLIVEIRA, Franciny Lima de; MULINARI, Daniella Regina Mulinari. Avaliação de compósitos híbridos para aplicações em Engenharia. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano VI, n. 15, abril 2011. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/15/11.pdf>

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Biometria através de Impressão Digital

Biometrics through Digital Printing

Márcia Santos da Silva 1

Venicio Siqueira Filho 2

Resumo

Este artigo tem como objetivo atender as necessidades do Unifoa, um centro universitário que por vez tem dificuldades com a agilidade do trá-fego de pessoas e segurança nas portarias, e como solução desses pro-blemas o sistema SCB atende respectivamente tais requisitos, além de oferecer maior controle de volume de acessos na instituição, fazendo uso da ferramenta para gerar relatórios essenciais. Como metodologia, ado-tamos os princípios da orientação a objetos seguindo os padrões da UML buscando desenvolver uma documentação clara que apresenta métricas, padrões e estimativas utilizando diagramas e tabelas. Com o auxilio da UML, o SCB foi desenvolvido na linguagem Java, sendo utilizado Ora-cle que é um SGBD de grande porte que utiliza a linguagem PL/SQL como interface e atenderá a demanda necessária. Com essas informações e ferramentas disponíveis, buscamos como objetivo solucionar o proble-ma apresentado pelo nosso cliente bem como atender a todas suas expec-tativas e proporcionando plena satisfação, uma vez seguindo um padrão pode-se desenvolver um produto de qualidade com todas as característi-cas necessárias melhorando o gerenciamento de acesso e segurança para torná-los um fator diferencial entre as demais instituições de ensino.

1 Graduação em Sistemas de Informação – UniFOA2 Professor Msc. do Curso Sistemas de Informação – UniFOA

Abstract

The aim of this article is to deal with the necessities of Unifoa, a university that has some difficulties to control a faster traffic flow and to assure security in that situation. As a solution to these problems the SCB system attends, respectively, such requirements and it offers greater control of the institution access using tools to generate essential reports. The methodology we adopted was based on object orientation principles, following UML rules in order to develop a clear documentation that shows metrics, standards and estimates using diagrams and tables. With the help of UML, the SCB was developed in Java, and uses Oracle, a large DBMS that implements PL / SQL language interface, which will answer the issues. With these available information and tools we intend to solve the problems presented by our client as well as their expectations and give them full satisfaction. Once following this pattern a product of quality can be developed with all the needed characteristics improving the access and security management to make them a distinguishing factor among other educational institutions.

Palavras-chave:

Sistemas biométricos

Biometria digital

Controle de acesso por biometria digital

ArtigoOriginal

Original Paper

Key words:

Biometric systems

Digital biometrics

Access control through digital biometrics

Recebido em 03/2011

Aprovado em 04/2011

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Introdução1.

Com o objetivo de promover a agilida-de e facilidade no acesso às dependências da faculdade, verificou-se a necessidade de um sistema que melhore o desempenho deste con-trole no UniFOA. Mediante pesquisas realiza-das com os próprios alunos, observamos que estes esquecem, perdem ou quebram suas car-teirinhas escolares com facilidade e com isso é gerada uma fila nas entradas da faculdade.Outro problema identificado é a baixa durabi-lidade do cartão de acesso que danifica-se com o tempo de uso, descascando e perdendo sua identificação (código de barras). Nossa utilização da biometria também será na entrada do sistema para cadastramento das digitais dos alunos, funcionários, professores e demais pessoas que frequentam a faculdade. A proposta do sistema é diminuir custos com impressões de cartão de acesso estudantis e preocupações a empresa quanto à seguran-ça da informação contida no sistema atual por meio da identificação digital do estudante de forma a obter as seguintes vantagens:

Evitar perdas, roubos e manutenções fu-• turas de cartão de acesso;Agilizar o tráfego de pessoas na entrada e • saída da universidade;Aumentar a segurança da informação que • o sistema possui,

Isso será realidade com a utilização de uma catraca biométrica, onde os alunos cadas-trarão suas impressões digitais e, ao entrar na faculdade, será necessário apenas colocar o dedo na catraca a fim de ser identificado atra-vés de nosso software, liberando ou não a en-trada do aluno. O sistema que os funcionários usarão para cadastrar as digitais de usuários terá uma identificação por login, senha e digital. Somente os funcionários terão acesso a esse sistema e isso será verificado através da bio-metria. Teremos dois níveis de acesso para os funcionários que cadastrarão usuários no siste-ma. O de administrador e o de usuário comum. Administrador poderá cadastrar outros funcio-nários para acessar o sistema; usuário comum apenas poderá cadastrar digitais de alunos e funcionários para acesso a universidade.

Portanto, o sistema procura compor uma única ação de leitura biométrica as funcio-nalidades de gravação de dados e permissão, criando assim uma maior facilidade e rapidez tanto para o trânsito de pessoas na entrada da faculdade quanto para segurança. Para esse Projeto, serão realizadas várias etapas de desenvolvimento, a primeira delas é a Análise de Requisitos, que tem como ob-jetivo conhecer o sistema atual: detectar os problemas existentes e as necessidades não contempladas visando definir alternativas para a construção de um novo sistema. Esta etapa contém os seguintes produtos principais: des-crição dos processos e procedimentos, tabelas de Casos de Usos, Diagramas de Casos de Usos, novas necessidades e alternativas de im-plementação. Em seguida, dando continuidade aos trabalhos, vem a etapa de Análise (Modelo Conceitual do Sistema) que define um conjun-to de características que o sistema deve possuir para atingir seu propósito. Podemos destacar: o Diagrama de Classe Conceitual, Diagrama de Objetos relevantes, Diagrama de Estado dos Objetos e Diagramas de Atividades. A seguir vem a Etapa do Projeto que abrange a modelagem física do sistema, englo-bando os Diagramas de Interação (Diagrama de Sequência ou Diagrama de Colaboração) e o Diagrama de Classe do Projeto. A última etapa é a Implementação que consiste na elaboração dos Diagramas de Componentes e de Implantação. Nesta etapa te-mos ainda os seguintes produtos: requisitos de segurança e confiabilidade do sistema, layout das telas e relatórios, plano de implementação do novo sistema e o plano de contingência. Contudo, com o desenvolvimento do sis-tema proposto, procuramos agregar valor ao negócio da empresa agilizando as consultas, dar mais segurança e eficiência, para atender as demandas de trabalhos existentes.

Conceituações e Contextualizações 2. da Biometria

A comunicação em qualquer lugar e a qualquer hora é uma realidade dos sistemas de informação na atualidade. De acordo com Pinheiro (2008), para aqueles que administram

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sistemas computacionais, proteger adequa-damente a informação é uma necessidade. O ambiente de redes de computadores tem sido palco de inúmeros incidentes de segurança, provocados por falhas na infraestrutura com-putacional como tentativas de invasão. Um dos maiores problemas enfrentados em termos de segurança da informação é a autenticação dos usuários que utilizam os recursos dos sis-temas computacionais. Precisamos garantir que o usuário é realmente quem ele diz que é. Essa preocupação é também vista quando se trata de acesso a uma dependência, como por exemplo, a empresas ou universidades. Certificarmo-nos que os usuários que transi-tam no ambiente realmente eram para estar lá se transforma em um desafio quando temos tantos recursos disponíveis para facilitar o acesso indevido.

2.1 Segurança da Informação

Por que precisamos proteger a informa-ção? Segundo Pinheiro (2008, p. 7): As tecnologias baseadas em sistemas computacionais têm crescido em uso e incor-porado mudanças surpreendentes na sociedade atual, principalmente nas atividades cotidianas dos indivíduos, que se deparam cada vez mais com situações e procedimentos onde são obri-gados a provar sua identidade para que assim se confirme que são realmente quem dizem ser. Com a exigência cada vez maior de novas fun-cionalidades nos sistemas de informação, sur-gem, com crescente evidência, novos proble-mas de segurança e, em particular, a questão da autenticação dos usuários desses sistemas. Por essas razões, tem aumentado o interesse no de-senvolvimento de métodos para a autenticação da identidade pessoal que levem em conside-ração uma estrutura dotada de mecanismos de segurança da informação mais eficiente.

2.2 Ameaças e Ataques

Vivemos diariamente sofrendo ataques e ameaças em nossos sistemas que podem ser intencionais ou acidentais. Acidental seria aquela que não foi planejada. Pode ser, por

exemplo, uma falha no hardware (um defeito no disco rígido) ou uma falha de software (um bug1 no sistema operacional, por exemplo). Já uma ameaça intencional, como o próprio nome já diz, está relacionada a intencionalidade pre-meditada. Algumas das principais ameaças aos sistemas envolvem a destruição de informações ou recursos, modificações, deturpação, roubo, remoção ou perda da informação, revelação de informações confidenciais ou não, chegando até a interrupção de serviços de rede. Já um ataque varia desde a pura curio-sidade, passando pelo interesse de adquirir mais conhecimento, até o extremo envolven-do ganhos financeiros, extorsão, chantagem de algum tipo, espionagem industrial com a ven-da de informações confidenciais e, o que está muito na moda, ferir a imagem de um governo ou uma determinada empresa ou serviço.

2.3 Segurança de Acesso

O roubo de identidade afeta milhões de pessoas em todo o mundo e tem sido um dos tipos de fraude mais praticados nos ambientes das redes de comunicação, especialmente a in-ternet. Quando se juntam as vulnerabilidades do mundo real às vulnerabilidades do mundo virtual e às fraquezas do ser humano, é grande a possibilidade de vazamento de informações, tendo como um dos resultados possíveis o rou-bo da identidade. Por esse motivo, a autentica-ção é um item fundamental para a segurança do ambiente de uma rede de computadores ao validar a identificação dos usuários que dese-jam usar os recursos disponíveis. A identificação é a função em que o usuário declara sua identidade para o sistema, enquanto que a autenticação é a função respon-sável pela validação dessa declaração de iden-tidade do usuário. Somente após a identifica-ção e autenticação do usuário é que o sistema concederá (ou não) a autorização para o acesso aos recursos da rede ou ao estabelecimento. Segundo Pinheiro (2008), muitos profissionais especializados em segurança da informação consideram que as medidas de autenticação simples, baseadas em identificador e senha precisam ser reforçadas através de uma au-

¹ bug – é um erro no funcionamento comum de um software, também chamado de falha na lógica programação, e pode causar discrepâncias no objetivo, ou impossibilidade de realização, de uma ação na utilização de um programa de computador. WIKIPEDIA. Defeito de software. 2010. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Defeito_de_software>. Acesso em: 08 fev. 2010.

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tenticação de fator múltiplo, ou seja, associar o que o individuo conhece, com algo que ele possua ou com suas características individuais. Esse tipo de autenticação é conhecido como “autenticação de dois fatores”, pois são usados dois métodos e, “autenticação em três fatores”, quando três métodos são utilizados.

2.4 Autenticação Baseada no que se Conhece

Trata-se da autenticação baseada em algo que o usuário do sistema conheça. Nessa catego-ria encontramos os nomes de acesso (login), as senhas (password) e as chaves criptográficas. Outro tipo muito utilizado é a “identifi-cação positiva”, que requer do usuário infor-mações pessoais (que serão informações pre-viamente cadastradas em um banco de dados), além do nome e da senha pessoal.

Por Senhas

Define-se senha como “um dado secreto, usu-almente composto por uma sequência de ca-racteres, que é usado como informação para autenticar um usuário ou pessoa”. Esse dado normalmente é utilizado em conjunto com uma identificação pessoal (login do usuário) durante o processo de autenticação, quando da entrada deste sistema computacional. A senha é uma forma de assinatura eletrô-nica e deve garantir que determinado indivíduo é ele mesmo, permitindo seu acesso aos vários serviços disponibilizados em um sistema de in-formação. Portanto, ela é pessoal, intransferível e deve ser mantida em sigilo absoluto.

Baseada no que se Possui

O segundo método de autenticação é ba-seado em um dispositivo de posse do usuário (token2), o qual pode ser dotado de algum tipo de processamento (smart token – dispositivos inteligentes).

Os memories tokens (dispositivos de memória) são sempre usados em conjunto com as senhas. Um exemplo de sua aplicação está nos cartões bancários. Esses cartões contêm informações para a autenticação e são usados em conjunto com a senha no momento que o usuário utiliza o sistema do banco. Já os smart tokens apresentam-se na for-ma de dispositivos eletrônicos e possibilitam o processamento de algumas informações. Eles podem ser divididos em três categorias bási-cas, a saber:

Quanto à característica física – podem ser • divididos em Smart Cards3 e outros dispo-sitivos semelhantes a chaves, chaveiros, bastões e outros objetos portáteis;

Quanto à interface – podem funcionar • como interfaces eletrônicas que requerem um dispositivo de leitura (como os Smart Cards) ou manuais, que utilizam um dis-positivo de entrada de dados dotado de teclas ou visores para a interação entre o usuário e a máquina;

Quanto ao protocolo - os protocolos usa-• dos para autenticação podem ser dividi-dos em três categorias:

Senhas estáticas – o usuário do sis-• tema se autentica no token e o token autentica o usuário no sistema;

Senhas dinâmicas – as senhas são • alteradas automaticamente nos sis-temas com interface eletrônica, mas devem ser lidas e digitadas pelos usu-ários que utilizam interface estática;

Desafio-resposta – protocolo basea-• do em criptografia, no qual o siste-ma envia um desafio ao usuário, que deve responder ao sistema, o qual avalia a resposta.

2 Token - é um dispositivo (hardware), com conexão via USB, que permite armazenar e transportar de forma segura seu certificado digital. Dessa forma, o usuário poderá fazer assinaturas digitais de qualquer computador com uma porta USB, não ficando limitado a assinar digitalmente somente através de seu computador. ELIEL SILVERIO. O que é TOKEN?. 2010. Disponível em: <http://www.systemar.com.br/digital_sign.php>. Acesso em: 08 fev. 2010. 3 Smart Cards - é um cartão contendo um chip responsável pela geração e o armazenamento de certificados digitais, informações que dizem quem você é. GABRIEL TORRES. Smart Card. 2002. Disponível em: <http://www.clubedohardware.com.br/artigos/665>. Acesso em: 08 fev. 2010

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Baseada nas Características Individuais

A proteção de informações importantes requer um método de autenticação no qual a possibilidade de acesso indevido ao sistema seja mínima, de forma que a autenticação ga-ranta a identificação do usuário de modo ine-quívoco e eficaz. Esse método é baseado em alguma característica física ou comportamen-tal própria do usuário do sistema, conhecida como “característica biométrica”. Os sistemas de autenticação, utilizados na segurança computacional, têm procurado aperfei-çoar o uso do identificador biométrico e da senha pessoal como formas de validar um usuário que utilize os recursos do sistema computacional.

2.5 Tipos de Controle de Acesso

Físico

É comum em um controle de acesso físi-co estabelecer-se restrições de acesso a locais e equipamentos de valor dentro das corporações, não somente evitando-se acesso de pessoal externo, mas, muitas vezes, limitando-se tam-bém o acesso do pessoal da própria empresa de acordo com seu nível hierárquico ou funcio-nalidade desenvolvida. Assim, o objetivo do controle de acesso físico é permitir que apenas os usuários autorizados obtenham esse acesso. O controle de acesso físico às instala-ções é um aspecto particularmente importante da segurança física. Os acessos de visitantes, clientes e outras pessoas- não diretamente en-volvidas com a operação do sistema- deve ser o menor possível. Em geral, a segurança física é obtida atra-vés de dispositivos como fechaduras, catracas e portas dotadas de dispositivos eletrônicos que bloqueiam o acesso ao ambiente dos equi-pamentos ou sistemas que se deseja proteger.

Lógico

Considerando que o controle de acesso físico não é suficiente para garantir a segurança das informações de um sistema computacional, serão necessários controles de acesso lógico, representados por medidas de segurança basea-das em hardware e software com a finalidade de impedir acessos não autorizados ao sistema.

Os controles de acesso lógico envolvem o fornecimento da identificação do usuário e de uma senha que serve de autenticação, pro-vando ao sistema que o individuo realmente é quem diz ser. O identificador deve ser único, ou seja, cada usuário deve ter sua identidade própria. O principal objetivo do controle aces-so lógico é que apenas usuários autorizados tenham acesso aos recursos da rede realmente necessários à execução de suas tarefas. Isso significa a existência de dispositivos que im-peçam os usuários de executar transações in-compatíveis com suas funções ou além de suas responsabilidades.

2.6 Conceituando a Biometria

Mas afinal, o que é a biometria? A bio-metria pode ser formalmente definida como a ciência da aplicação de métodos de estatísti-ca quantitativa a fatos biológicos, ou seja, é o ramo da ciência que se ocupa da medida dos seres vivos (do grego bio = vida e métron = medida). Resumindo, a biometria reconhece um indivíduo pelas suas características huma-nas mensuráveis (físicas ou comportamentais) para autenticar a identidade de um indivíduo.A biometria pode ser usada para incrementar a segurança em redes de computadores, prote-ger as transações financeiras, controlar o aces-so as instalações de alta segurança, prevenir fraudes, entre outras aplicações.

2.7 Sistema Biométrico Básico

Como mencionado, em um sistema bio-métrico, uma característica individual precisa ser registrada e a sua gravação é chamada de registro (enrollment). Esse registro está baseado na criação de um modelo (template), que é a re-presentação digital de uma característica física. O modelo é normalmente um externo con-junto de caracteres alfanuméricos baseados em algum tipo de algoritmo biométrico, que descre-ve as características físicas de um indivíduo. Um algoritmo é uma sequencia limitada de instruções ou passos que um sistema com-putacional utiliza pra resolver um problema específico. Na biometria são utilizados dife-rentes tipos de algoritmos, para processamento de imagens, geração de templates, para com-paração, entre outros, com o objetivo de aten-

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der aos diferentes tipos de sistemas. Assim, o algoritmo biométrico pode ser visto como o tradutor da característica física em uma repre-sentação digital na forma de um modelo. O algoritmo também permite comparar o modelo registrado em um Banco de Dados Biométrico com o modelo de um indivíduo que deseja se autenticar no sistema, chamado de “modelo vivo”. Quando os modelos são comparados, o sistema calcula a semelhança entre eles. Se a comparação for positiva, a pes-soa será autenticada, caso contrário, seu regis-tro será negado.

2.8 Componentes do Sistema Biométrico

Segundo Pinheiro (2008), a arquitetura de um sistema biométrico básico pode ser di-vidida em quatro componentes principais:

Subsistema Interface de usuário• (Sensor) – conjunto de elementos que contém os dispositivos ou sensor que capta a amos-tra biométrica do indivíduo e a converte em um formato adequado para ser utili-zada. O desempenho de todo o sistema é afetado pela qualidade da amostra forne-cida e pelo desempenho do próprio sensor ou dispositivo de coleta;

Subsistema Estação de Controle • (Cérebro) – é responsável pelas funções de contro-le dos dispositivos, inclui o hardware associado que pode estar dentro da pró-pria máquina ou pode ser um computador conectado ao equipamento ao qual se en-contram todos os recursos de programa-ção, processamento e armazenamento da informação. É responsável por receber a amostra biométrica fornecida pelo subsis-tema de interface de usuário e convertê-la em uma forma adequada para o processa-mento pelo módulo de comparação;

Subsistema Comparador• (Comunicações e Processamento) – esta etapa faz a com-paração da amostra biométrica apresen-tada com o template da base de dados. Ele verifica se as amostras são similares para tomar a decisão que identifica que a amostra apresentada pertence ou não

ao proprietário do template selecionado da base de dados. Para tomar essa deci-são um limiar deve ser estabelecido para poder delimitar até que valor de simila-ridade é considerado como uma amostra autêntica ou uma amostra falsa.

Subsistema de Armazenamento• (Banco de Dados) – este módulo mantém os templates dos usuários cadastrados no sistema bio-mético. Ele disponibiliza a adição, subtra-ção ou atualização dos templates registra-dos, podendo conter para um único usuário apenas um template ou vários, dependendo para quais finalidades o sistema foi desen-volvido. Cada template é armazenado com um identificador do usuário que permita determinar a que individuo, ele pertence.

Elementos Biométricos

Dentre os tipos de elementos biométri-cos podemos identificar sistemas baseados na identificação física (reconhecimento facial, impressão digital, geometria da mão, identi-ficação pela íris e retina, DNA, odores, entre outros) ou comportamental do indivíduo (re-conhecimento da voz, dinâmica datilográfica, assim como a própria assinatura). Os critérios normalmente usados para a escolha de um sistema biométrico em particular consideram, nomeadamente, o conforto na uti-lização, a precisão, a relação entre a qualidade e o preço e o nível de segurança. Dependendo do nível de segurança desejado para o sistema computacional, recomenda-se o uso simultâ-neo de pelo menos dois tipos de tecnologias de autenticação. Outra recomendação, segundo Pinheiro (2008), é que os sistemas que armaze-nam dados biométricos devem ser protegidos com o uso de alguma técnica de criptografia. Deve-se evitar a utilização descontrola-da desta como de qualquer outra tecnologia de reconhecimento de ambiente de trabalho. É importante manter uma posição prudente e equilibrada que incentive os fabricantes de sis-temas biométricos a adotar soluções técnicas que, protegendo a privacidade, minimizem os riscos de utilização indevida.

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Tabela 1 - Modelos de identificação biométrica

Tipo de Acesso Descrição

Reconhecimento Facial

A tecnologia de reconhecimento facial considera as medidas do rosto que nunca se alteram, mesmo que o indivíduo seja submetido a cirurgias plásticas. Essas medidas básicas são: distân-cia entre os olhos, distância dentre a boca, nariz e olhos e distância entre olhos, queixo, boca e linha dos cabelos.

Vantagens

A identificação pode ser feita sem qualquer contato físico.

Desvantagens

É um processo extremamente complexo que deve levar em consideração as mudanças que o rosto sofre no decorrer do tempo.

Descrição

Geometria da mão

Para a leitura da geometria da mão, o scanner possui guias que se assemelham a pinos que se encai-xam entre os dedos. Essas guias facilitam o reconhecimento do desenho da mão. O sistema calcula e registra as proporções entre os dedos e articulações, que são decisivas para identificar a pessoa.

Vantagens

É um sistema que apresenta baixo custo de implementação.

Desvantagens

Apresenta problemas com a presença de anéis nos dedos e o indivíduo precisa encaixar correta-mente a mão no equipamento de leitura.

Tipo de Acesso Descrição

Identificação pela Íris

O processo de reconhecimento através da íris humana pode ser dividido em três etapas distin-tas. A primeira etapa corresponde à aquisição da imagem da íris; a segunda etapa envolve a aplicação do algoritmo de extração e reconhecimento das características biométricas; a terceira refere-se ao processo de extração das características para gerar o IrisCode.

Vantagens

É mais preciso por ser a íris praticamente imutável com o passar do tempo e pouco suscetível a alterações físicas como sujeira e machucados que deixam cicatrizes.

Desvantagens

A íris não é um alvo fácil. É pequena (aproximadamente um centímetro), móvel, está localizada atrás de uma superfície refletora úmida e curvada, parcialmente oculta por pálpebras que piscam frequentemente e que pode ser obscurecida por óculos, lentes e reflexos e é deformada com a dilatação da pupila.

Reconhecimento pela Retina

Descrição

Este sistema permite a identificação do indivíduo pelo tipo e característica dos vasos da retina. Os dados levantados durante o exame “in loco” são convertidos em sinal analó-gico que, por sua vez, são transformados em sinal digital. O perfil da retina é armazena-

do no banco de dados do sistema biométrico para fins de comparação e verificação.

Vantagens

O padrão de veias da retina é a característica com maior garantia de singularidade que um indi-víduo pode apresentar.

Desvantagens

O sistema apresenta leitura difícil e incômoda na medida em que a captura dessa imagem exige que a pessoa olhe fixamente para um ponto de luz de infravermelho até que a câmera focalize os padrões e os capture. Além disso, oferece alto risco de implementação.

Reconhecimento por Voz

Descrição

O funcionamento do sistema baseia-se na captura e no processamento digital do áudio falado, através de um algoritmo especializado que segmenta este áudio em pequenos pedaços conhe-cidos como fonemas, devendo ser utilizado um tipo de algoritmo para cada linguagem, mesmo que haja aparentemente pequenas diferenças.

Vantagens

É o fato de a fala ser inerente ao ser humano e sua comunicação com o mundo exterior ser também natural e simples. Permitir o uso mais inteligente das árvores de atendimento auto-matizadas, eliminando as limitações características dessas soluções que utilizam acesso por discagem telefônica.

Desvantagens

Alguns sistemas solicitam que o usuário fale, em voz alta e repetidas vezes, uma sequência aleatória de números ou uma frase qualquer, o que pode representar uma demora no processo de cadastramento do padrão vocal. O sistema também é afetado por ruídos ambientais e o estado físico ou emocional do indivíduo, gripe ou estresse, por exemplo, comprometem a precisão do reconhecimento.

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2.9 Modelo escolhido – Impressão Digital

De todas as características biométricas, a impressão digital é a mais estudada, sendo empregada na área de segurança desde o sé-culo XIX como elemento de identificação de indivíduos. As impressões digitais são únicas para cada indivíduo e consideradas, segundo Pinheiro (2008), o tipo biométrico mais segu-ro para determinar a identidade depois do teste de DNA. É o tipo mais popular de sistema biomé-trico, baseando-se na identificação através das irregularidades das impressões digitais, retira-

das de um ou mais dedos, as chamadas “minú-cias”. A captura da imagem da impressão di-gital ocorre por meios ópticos, sendo que essa imagem é processada digitalmente pelo siste-ma, que identifica as características datiloscó-picas, comparando com os registros de banco de dados, determinando ou não o acesso. O banco de dados é gerado obtendo-se as impressões digitais dos usuários da rede. A finalidade é obter a impressão digital de todos os dedos, formando um arquivo decadactilar. Caso ocorra algum dano na impressão digital de um dos dedos, os outros poderão ser utili-zados para o reconhecimento.

Figura 1 – Exemplos de minúcias encontradas na impressão digital

Fonte: PINHEIRO, José Mauricio. Biometria nos Sistemas Computacionais.

Você é a senha. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna, 2008.

Trata-se de um método biométrico co-nhecido também como Finger Scan, relativa-mente barato e rápido, que oferece uma con-fiabilidade relativamente boa, apresentando um baixo custo de implementação. Entretanto, apresenta algumas desvantagens: se o dedo estiver com as minúcias desgastadas, sujo ou muito seco poderão ocorrer erros no processo de comparação dos dados e deformidades nos dedos (calos, cortes) também podem impedir a correta identificação do indivíduo.

Para esses tipos de problemas nosso sis-tema cadastrará se o usuário utilizará as digi-tais ou não. Se o usuário possuir um dos pro-blemas acima, ele utilizará o cartão de acesso para entrada na universidade. O mesmo será adquirido como feito atualmente sendo gerado pelo sistema atual. Para os funcionários que utilizam o sistema de cadastramento de digi-tais e também tem problemas com a digital, será validado apenas login e senha.

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Figura 2 – Processo de reconhecimento da impressão digital

Seleção da fonte da amostra (1); captura da impressão digital (2); mapeamento das minúcias (3); geração do modelo a partir do algoritmo (4); comparação no banco de dados (5); identificação positiva (6).

Fonte: PINHEIRO, José Mauricio. Biometria nos Sistemas Computacionais. Você é a senha. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna, 2008.

O reconhecimento por impressões digitais requer o uso de um scanner capaz de capturar, com um bom grau de precisão as minúcias (os traços que definem a impressão dos dedos), além de um software que trate a imagem capturada e faça o reconhecimento da digital. Os scanners para captura da impressão digital possuem tama-nhos relativamente reduzidos. Atualmente, estão disponíveis sensores de impressões digitais por-táteis, que podem ser anexados ao teclado, mo-nitor ou gabinete do computador. Outros mais modernos já possuem o mecanismo acoplado a dispositivos como mouse e teclado sem fio. Os sensores biométricos utilizados para colher a impressão digital são classificados em dois tipos básicos e a diferença entre um sistema e outro está na forma de discriminar as minúcias:

Sistema Real Time – a leitora de impres-• sões digitais captura a amostra, processa e faz a comparação com os modelos de um banco de dados local, dando uma resposta em seguida. O controle de acesso é a sua aplicação mais popular;

Sistema de Impressão Latente – a leitora • captura a amostra biométrica e a envia para um banco de dados geral. O objetivo é deter-minar a quem pertence uma ou mais impres-sões a partir da comparação com todas as amostras disponíveis nesse banco de dados.

O modelo foi escolhido, pois de todos os pesquisados é o que apresenta menor custo de implementação e maior velocidade no reco-nhecimento.

Análise de Requisitos3.

3.1 Descrições do Sistema Atual e Problemas

Catraca Eletrônica: Acesso a Universidade

No período de desenvolvimento deste projeto a universidade possuía 5.862 alunos matriculados, 514 funcionários e 472 profes-sores. Devido ao grande número de pessoas transitando na universidade, ela disponibilizou algumas catracas na entrada, onde alunos e professores passam seus crachás e são iden-tificados podendo assim ter acesso a faculda-de. Notam-se algumas falhas nesse processo, como por exemplo, o roubo e/ou empréstimo do crachá, sem possibilidade de averiguação pelos fiscais. Além disso, observamos outro problema no método atual que seria a perda e a quebra do crachá. Esquecimento e desgaste do mesmo também são fontes constantes de recla-mações, trazendo transtornos por ter que provi-denciar outra e enfrentar filas nas entradas.

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Sistema de Segurança Biométrico

O que podemos observar é que, assim como em outros sistemas, este possui apenas login e senha como identificação para acesso. No contexto de segurança e confiabilidade de dados, nota-se que este método é comum em muitas empresas. Senhas muitas das vezes são fáceis de serem burladas Apesar das senhas não aparecerem na tela, crackers4 e “espertos” podem descobri-las facilmente. Sabemos que senhas fáceis de serem lembradas é um pro-blema, pois podem ser óbvias para alguém que os conheça ou que tenha algum contato. E senhas mais difíceis as pessoas as esquecem com facilidade. Por isso, a preocupação com a segurança dos dados se torna maior.

3.2 Concorrência

Catraca Eletrônica: Acesso a Universidade

Podemos observar em pesquisas feitas na internet, jornais e revistas, que empresas estão cada vez mais interessadas em avanços tecnológi-cos que possam oferecer além de outros, agilida-de em seus processos. Com a catraca biométrica, a universidade se destaca das demais com essa nova tecnologia, mostrando que se importa com os frequentadores e com a melhoria da mesma.

Sistema de Segurança Biométrico

Segurança: Nota-se também, por meio de notí-cias em jornais, que as empresas buscam dificul-tar a burla dos sistemas que possuem. Com esse sistema, a faculdade demonstra que se preocupa com a confiabilidade dos dados que fornecem aos funcionários e alunos. Além do alto nível de proteção contra fraudes e falsificações, a libera-ção de acesso ao sistema para cadastramento dos dados acontece somente quando autorizado.

3.3 Novo Sistema

O nosso sistema implantará uma nova estrutura de segurança e acesso na faculdade. As novas catracas serão biométricas, tendo o acesso identificado através de digitais. Essas

catracas ficarão nas entradas e saídas, as mes-mas serão interligadas através de um compo-nente ao nosso sistema. Ela enviará a digital para o sistema que buscará no banco de dados o cadastro correspondente liberando ou não o acesso. O sistema de segurança através da biometria fará restrição de login, senha e digi-tal para possibilitar manutenção do mesmo. O sistema fará a identificação necessária e libe-rará acesso ou não ao usuário.

Referências4.

PINHEIRO, José Mauricio. • Biometria nos Sistemas Computacionais: Você é a senha. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna, 2008.

TIBÉRIO, Juliano Ricardo. • Biometria, quando somente seu corpo autoriza. Disponível em: <http://www.devmedia.com.br/articles/viewcomp.asp?comp=4486>. Acesso em: 13 ago. 2009.

BEZERRA, Eduardo. • Princípios de aná-lise e projeto de sistemas com UML. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002.

GUEDES. Gilleanes T. A. • UML: Uma abordagem prática. 3ºEd. São Paulo: Novatec Editora, 2008.

MEDEIROS, Ernani. • Desenvolvendo Software com UML. São Paulo: Pearson Makron Books, 2004.

BOOCH, Grady. UML, • Guia do usuário. 12º Reimp. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000.

Endereço para Correspondência:Venicio Siqueira Filho [email protected] Universitário de Volta RedondaCampus Três PoçosAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325,Três Poços - Volta Redonda / RJCEP: 27240-560

4 crackers - é o termo usado para designar quem pratica a quebra (ou cracking) de um sistema de segurança, de forma ilegal ou sem ética. WIKIPEDIA. Cracker. 2010. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Cracker>. Acesso em: 08 fev. 2010.

Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:SILVA, Márcia Santos da; FILHO, Venicio Siqueira. Biometria através de Impressão Digital. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano VI, n. 15, abril 2011.Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/15/19.pdf>

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C.O.S – 3DRA - Software construtor de objetos tridimensinais:Uma proposta de Construção de Sólidos Geométricos Através da Realidade Aumentada

COS – 3DRA – Software constructor of 3d objects:A Proposal of Construction of Solid Geometry through an Augmented Reality Rodolfo Gregório de Moraes1

Carlos Vitor de Alencar Carvalho2

Ana Maria Severiano de Paiva3

Resumo

Numa era em que as tecnologias invadem a vida dos cidadãos, em es-pecial nas áreas urbanas, como podemos aumentar a capacidade de per-cepção espacial e mesmo investigar as transformações geométricas, se apropriando de recursos tecnológicos? Neste artigo objetivamos respon-der este questionamento com a exploração de construções de sólidos ge-ométricos, através da combinação de sólidos previamente determinados, a saber, o cubo, o cone, a esfera e o cilindro, através da mediação da Re-alidade Aumentada (RA). Essa manipulação dos sólidos favorece a evo-lução gradual do conhecimento geométrico do aluno/usuário que, devido à forma lúdica apresentada, baseada em modelos pré-organizados que o desafia, faz com que este reflita sobre suas ações de forma crítica, perce-bendo, através de erros na construção, a necessidade de implementação de determinada ação corretiva para obter o êxito na atividade proposta.

Abstract

In an era that technologies invade the lives of citizens, especially in urban areas, how can we increase the capacity of spatial perception and even investigate the geometric transformations, appropriating technology resources? This article aims to answer this question by the exploration of geometric solids constructions, through a combination of solids defined as box, cone, sphere and cylinder through the mediation of the Augmented Reality. This manipulation of solids favors the gradual evolution of geometrical knowledge of the student / user, that due to the playfully way presented based on pre-arranged models that challenge, make him/her reflect upon his/her actions in a critical way, noting through errors in the construction the necessity to implement specific corrective action to achieve success in the proposed activity.

Palavras-chave:

Novas tecnologias aplicadas ao ensino

Realidade aumentada

Construções geométricas espaciais.

ArtigoOriginal

Original Paper

Key Words:

New technologies applied to education,

Augmented reality

Space geometric constructions

1Docente da Fundação Educacional de Duque de Caxias – FEUDUC. Discente do Programa de Mestrado Profissional em Educação Matemática – USS (Vassouras - Rio de Janeiro - Brasil).2Docente do Programa de Pós-Graduação – Mestrado Profissional em Educação Matemática da Universidade Severino Sombra – USS (Vassouras - Rio de Janeiro - Brasil). Docente do UniFOA (Volta Redonda – Rio de Janeiro – Brasil). Docente do Instituto Superior de Tecnologia – FAETEC (Paracambi – Rio de Janeiro – Brasil)3Docente do Programa de Pós-Graduação – Mestrado Profissional em Educação Matemática da Universidade Severino Sombra (Vassouras - Rio de Janeiro - Brasil).

Recebido em 03/2011

Aprovado em 04/2011

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Introdução1.

O processo de transformação- ocorrido na sociedade devido ao desenvolvimento e implementação de ferramentas tecnológicas, em especial, os computadores e ferramentas atreladas à utilização deste, como a Internet- desafia concepções e práticas do profissional de educação. Percebemos que iniciativas de inserção das tecnologias no ensino vêm ocor-rendo no Brasil desde a década de 70, do sé-culo XX, e deram origens a projetos como o EDUCOM, PRONINFE e PROINFO, co-ordenados pelo Ministério da Educação – MEC. Não podemos imaginar que somente a existência de uma política pública voltada à inserção da tecnologia ao ensino é suficiente para mudar as práticas docentes. Contudo, não podemos negar que, em um mundo cada vez mais tecnológico, os processos de ensi-no-aprendizagem não se modifiquem. Essa relação dialética entre a sociedade e a escola é bem observada por Chervel (1990) que cita que o processo de criação de uma disciplina se transforma em uma via de mão dupla, vis-to que a escola sofre influências da sociedade bem como, tem o poder de gerar transforma-ções na sociedade em que está inserida. Segundo Valente (1999, p. 39), a escola é um espaço de trabalho complexo, que envol-ve inúmeros outros fatores, além do professor e dos alunos. “[...] Portanto, a mudança na es-cola deve envolver todos os participantes do processo educativo – alunos, professores, di-retores, especialistas, comunidade de pais”. Cabe ressaltar o papel do professor nesse novo cenário, pois aquele deixará de ser o pro-fissional responsável pela informação de con-teúdos de determinada área de conhecimento, mas acompanhará o desenvolvimento do alu-no em seu processo de solução de problemas e geração de conhecimento. Para a intervenção efetiva, não existe uma receita, e o que é ser efetivo é polêmico, pois depende de um con-texto teórico, das concepções do professor e das limitações culturais e sociais que se apre-sentam em uma determinada situação. Esses fatores nunca são exatamente os mesmos, variando de um ambiente para o outro e para cada aluno no mesmo ambiente (VALENTE, 1999). Ou seja, conforme citado por Chervel (1990) o único limite verdadeiro com o qual

se depara a liberdade pedagógica do mestre é o grupo de alunos que ele encontra diante de si. Nesse contexto, este trabalho apresenta o desenvolvimento de um software com tec-nologia de Realidade Aumentada, chamado COS 3DRA (Constructor Objects Software 3D RA). O software foi desenvolvido em lin-guagem C e, para a construção dos sólidos básicos, utilizou o sistema gráfico OpenGL (WOO, 1999) que através da intermediação da RA permita ao usuário tentar configurar um sólido semelhante ao desafio proposto através da combinação de 4 sólidos básicos disponí-veis para seleção, a saber: A Cubo, O Cone, O Cilindro e A Esfera, sendo possível ao aluno/usuário, também, alterar as dimensões destes sólidos básicos, rotacioná-los e transladá-los

O Ensino da Geometria2.

A geometria está presente em todos os momentos de nossa vida, claro que as atitudes que fazemos diariamente, até certo ponto, po-dem ser consideradas intuitivas, ou seja, apli-camos conhecimentos matemáticos sem a pre-ocupação de estarmos “calculando” algo. Para ilustrar melhor, imaginemos uma pessoa que precisa posicionar uma pequena mesa retan-gular numa área livre de uma sala. Essa pessoa não fará medições formais para calcular a área livre e as dimensões da mesa para verificar se é possível posicionar a mesa neste local, ela efetuará uma comparação e, se considerar pos-sível tentará posicionar a mesa na área livre. Esse exemplo simples nos faz pensar: “então, por qual razão devemos estudar Geometria?” Conforme citado no PCN para o Ensino Fundamental (1998), os conceitos geométri-cos constituem parte importante do currículo de Matemática “[...] por meio deles, o aluno desenvolve um tipo especial de pensamento que lhe permite compreender, descrever e re-presentar, de forma organizada, o mundo em que vive”. Segundo Van Hiele (PONTE e SERRAZINA, apud MORELATTI, 2006, p. 267), o pensamento geométrico evolui articulan-do a intuição e a dedução de forma progressiva em uma sequência de cinco níveis de compreen-são de conceitos, sendo que a passagem de um nível para o seguinte ocorre através de vivência

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de atividades adequadas e ordenadas. Essa pas-sagem entre os níveis depende mais da aprendi-zagem do que idade e maturação do aluno. Cada nível é caracterizado por uma lin-guagem própria e uma relação entre os objetos de estudo. No primeiro nível, as formas são reconhecidas por suas aparências, ainda sem preocupação com propriedades, nível da visu-alização. No segundo nível, as propriedades de uma figura são reconhecidas e usadas na resolução de problemas, nível da análise. No terceiro nível, é possível estabelecer inter-re-lações entre figuras, ordenando logicamente as propriedades de determinada figura, nível da ordenação. No quarto nível, temos o domínio do processo dedutivo de demonstrações geo-métricas, nível da dedução. E, no quinto nível, temos a capacidade de compreender demons-trações formais, nível do rigor. Ainda em relação ao ensino de geome-tria o estudo dos registros de representações semiótica de Raymond Duval (DUVAL, apud ALMOULOUD, et al, 2004, p. 99), no que se refere as dificuldades de compreensão dos conceitos, cita que existem os seguinte tipos de apreensão durante os processos de ensino e de aprendizagem:

a) sequencial: é solicitada nas tarefas de construção ou nas de descrição com objetivo de reproduzir uma figura;

b) perceptiva: é a interpretação das for-mas da figura em uma situação geo-métrica;

c) discursiva: é a interpretação dos ele-mentos da figura geométrica, privile-giando a articulação dos enunciados através da imersão dos mesmos numa rede semântica de propriedades do objeto;

d) operatória: é uma apreensão centrada nas modificações possíveis de uma figura e na reorganização perceptiva que essas modificações sugerem.

Assim, na resolução de problemas de ge-ometria podemos classificar os tipos de modi-ficações possíveis de uma figura (ibid):

a) modificação “mereológica”: a figu-ra pode decompor-se em subfiguras, fracionando-se e reagrupando-se con-

venientemente segundo uma relação parte–todo;

b) modificação ótica: é a transformação de uma figura em outra, que será de-nominada “imagem”;

c) modificação posicional: é o desloca-mento da figura em relação a um re-ferencial.

O nosso interesse no presente trabalho consiste neste último processo de modifica-ção (modificação posicional), que pode ser realizado graficamente ou manualmente, em nosso caso, através do software C.O.S. – 3D R.A. baseado em conceitos de R.A, realizado coerentemente de acordo com o nível de per-cepção geométrica do aluno, segundo a teoria de Van Hiele, pois a combinação destes níveis de modificações permite o fracionamento de uma figura, a combinação de uma figura com outras figuras, gerando formas mais comple-xas ampliando o seu domínio dos conceitos geométricos e percepção espacial

Realidade Virtual e Aumentada3.

A Realidade Virtual (RV) possui di-versas possibilidades de aplicação, nas mais variadas áreas, dentre as quais podemos des-tacar Medicina, Entretenimento, Arquitetura, Engenharia e Educação. Na Medicina, pode-se imaginar a utilização de luvas interativas para realização de cirurgias a distância; no entre-tenimento, já convivemos com os filmes 3-D e diversos jogos eletrônicos que possibilitam a imersão em mundos virtuais; na arquitetura, temos a possibilidade de realizar um passeio virtual por um projeto de construção; na enge-nharia, criação de protótipos de peças , equi-pamentos e testes em simulações de situações reais; e em educação, a criação de micromun-dos, para realização de experiências físicas, é um pequeno exemplo do potencial de utiliza-ção da RV. O que vamos enfatizar dentre as mais variadas formas de aplicação da RV é o seu potencial pedagógico para a educação mate-mática. Uma das áreas da RV, que podemos utilizar com apoio ao ensino de matemática, é a Realidade Aumentada (RA). Esse termo é uma subclassificação dentro de um concei-

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to de RV- chamado Realidade Misturada,, na qual predomina a fusão do ambiente real com o ambiente virtual, gerado por computa-dor (ZORZAL et al, 2006). Assim, de acordo com a predominância do tipo de ambiente, po-demos ter uma Virtualidade Aumentada, em que predominam os elementos virtuais e uma Realidade Aumentada, caso haja a predomi-nância de elementos reais. A possibilidade de manipulação de ob-jetos virtuais num ambiente real é um dos principais diferenciais da RA, pois, estimula o usuário a usar a tecnologia devido a interati-vidade flexibilizada. Assim, o usuário amplia seu poder de visualização num ambiente real de objetos gerados num mundo virtual, contu-do, faz-se necessário o uso de uma biblioteca que seja capaz de fazer essa mediação entre o ambiente real e os objetos virtuais, posicio-nado corretamente a partir de instruções feitas pelo usuário via teclado. Dentre algumas bibliotecas disponí-veis, destaca-se o Artoolkit (ARTOOLKIT, 2010), que é um conjunto de bibliotecas de-senvolvidas na linguagem C pelo laborató-rio de Interface Humana da Universidade de Washington, que tem como objetivo auxiliar o programador na construção rápida de aplica-ções na área de RA. Disponível gratuitamente para fins não comerciais, o pacote disponibili-zado contém bibliotecas para rastreamento e os códigos fonte dessas bibliotecas para per-mitir que programadores adaptem para as suas necessidades. Um dos principais problemas encontra-dos na implementação de aplicativos em RA é o cálculo preciso do ponto de vista do usuário em tempo real, de modo que as imagens vir-tuais estejam alinhadas com os objetos reais. A biblioteca ARToolKit permite que imagens virtuais sejam sobrepostas ao vivo no mundo real. Ao optarmos neste artigo pela utilização da RA através do ARToolkit, estamos cientes tanto do potencial dessa técnica, quanto das limitações inerente ao software, como por exemplo, a necessidade de uma proximidade do marcador em relação ao computador.

A proposta do software4.

Este artigo traz a proposta de criação de um aplicativo, desenvolvido em linguagem C e, para a construção dos sólidos básicos, uti-lizou-se o sistema gráfico OPENGL (WOO, 1999) que através da intermediação da RA permita ao usuário tentar configurar um sóli-do semelhante ao desafio proposto através da combinação de 4 sólidos básicos disponíveis para seleção, a saber: A Caixa, O Cone, O Cilindro e A Esfera, sendo possível ao aluno/usuário, também, alterar as dimensões deste sólidos básicos, rotacioná-los e transladá-los. A construção desse sólido, o qual foi gerado por essa combinação, é uma tarefa que requer do aluno/usuário, além de uma percepção espacial, uma reflexão sobre como utilizar os comandos do aplicativo. A ativi-dade a definição de uma sequência de trans-formações tridimensionais para que o sólido gerado seja o esperado e, conforme citado por Valente (1999), esse processo desencadeia o ciclo Descrição-Execução-Depuração, que é de grande relevância para o conhecimento, pois permite que o aluno/usuário se torne crí-tico em relação aos comandos selecionados. É comum em uma atividade desse tipo que erros ocorram, que não devem ser encarados como punitivos, mas uma possibilidade de verifica-ção das falhas e correções dos comandos. Para exemplificar a proposta, foi construído um exemplo conforme a Figura 1. Nela é indica-do o desafio proposto. O aluno/usuário deve selecionar as formas básicas necessárias e as transformações geométricas para chegar pró-ximo do desafio. Isso deve ser feito através de comandos do para cada tipo de transformação: Escala, Rotação no eixo X, Y e Z, translação no eixo X, Y e Z).

Figura 1 – Desafio a ser construído.

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Na versão inicial deste protótipo, os co-mandos executados pelo aluno/usuário devem ser anotados detalhadamente para posterior verificação pelo docente do procedimento adotado para alcançar o objetivo, permitindo assim uma avaliação do tipo de percepção ge-ométrica do aluno e possíveis falhas no pro-cesso de aprendizagem, bem como a reflexão desse docente em relação a sua ação pedagó-gica. Como demonstração do potencial desse aplicativo, efetuamos uma sequência de co-mandos conforme telas a seguir.

Figura 2 – Seleção das formas básicas iniciais no software.

A figura 2 ilustra a seleção das formas básicas iniciais necessárias para resolver o desafio proposto na figura 1, em sua configu-ração original, de acordo com o padrão pré-estabelecido no aplicativo C.O.S - 3.D. R.A. A partir desse ponto, o aluno/usuário inicia o processo de comandos geradores das transfor-mações geométricas. A figura 3 apresenta a redução do raio da esfera.

Figura 3 – Transformação da esfera Redução do Raio através da escala.

A seguir as figuras 4 e 5 demonstram a transformação de rotação efetuada no cone, as quais nomearemos de posição 1, e 2.

Figura 4 – Transformação do cone – Rotação axial posição 1

Figura 5 – Transformação do cone – Rotação axial posição 2

Agora, com o cone devidamente posicio-nado, vamos posicionar a esfera, alinhando verti-calmente com o cone, conforme as figuras 6 e 7.

Figura 6 – Transformação do cone Translação para alinhamento vertical

Figura 7 – Transformação do cone – Translação para alinhamento vertical.

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Depois do alinhamento vertical basta deslocar de encontro ao cone, conforme as fi-guras 8 e 9.

Figura 8 – Transformação da esfera - Translação para alinhamento final.

Figura 9 – Transformação da esfera – Translação para alinhamento final

Por fim obtemos o resultado esperado, ou seja, uma figura similar àquela proposta no desafio inicial (figura 10).

Figura 10 – Sólido gerado – Resultado final

Considerações finais5.

O objetivo que pretendemos alcan-çar com o desenvolvimento do Software Construtor de Objetos 3.D - C.O.S - 3.D. R.A. é disponibilizar uma ferramenta que pode ser aplicada ao ensino de matemática como for-ma de flexibilizar a percepção de caracterís-

ticas individuais de sólidos elementares, bem como o efeito de comandos de transformações geométricas como homotetias e, translações e rotações em torno de eixos cartesianos para a construção de sólidos gerados pela combina-ção dos sólidos elementares. O potencial de utilização dessa ferramen-ta para o profissional de educação deve estar alinhado com o planejamento do trabalho edu-cativo, permitindo a exploração gradual dos desafios, de acordo com o perfil dos alunos en-volvidos nas atividades. Como todo processo de pesquisa experimental, as críticas constru-tivas- baseadas em relatos de experiência- são de grande valia para a evolução do trabalho e aprimoramento da ferramenta, logo, os autores se mostram, desde já, disponíveis para debates que levem a melhoria da qualidade do ensino de matemática. Novos desafios estão sendo propostos no software para posterior utiliza-ção/validação do mesmo em sala de aula.

Agradecimentos6.

A terceira autora agradece à FAPERJ pelo apoio financeiro através do programa “apoio à melhoria do ensino em escolas sediadas no esta-do do Rio de Janeiro – 2009”. O segundo autor agradece ao CNPq pelo apoio financeiro através da Bolsa de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora – DT.

“Este trabalho é parte dos resultados obtidos pelo segundo autor no pos-doutoramento na UNIBAN - Universidade Bandeirantes de São Paulo”

Referências bibliográficas:7.

ALMOULOUD, Saddo Ag et al. A geometria no ensino fundamental: reflexões sobre uma experiência de formação envolvendo professores e alunos. Rev. Bras. Educ., Dez 2004, no.27, p.94-108. ISSN 1413-2478

ARTOOLKIT ARTOOLKIT versão 2.72. Disponível em: http://www.hitl.washington.edu/artoolkit/documentation/index.html. Acesso em: 01/12/2010

BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Fundamental – Matemática. Brasília: Secretaria de Ensino Fundamental, 1998.

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CAMELO, Marcelo A. Ambiente em Realidade Virtual para usuários de Educação a Distância : Estudo da Viabilidade Técnica. Florianópolis, 2001. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Engenharia da Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina;

CANTARELLI, Elisa Maria Pivetta - Software Educacional II- Pós-Graduação – Especialização em Informática na Educação - Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - 2004

CARRARD, Marcos. Tutorial VRML. Ijuí, 2001. Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul- UNIJUÍ

CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria e Educação , Porto Alegre, nº 2 177-229, 1990.

FOSSE, Juliana Moulin. Representação Cartográfica Interativa Tridimensional: Estudo da variável cor em ambiente VRML. Curitiba, 2004. Dissertação de Mestrado

Endereço para Correspondência:Carlos Vitor de Alencar Carvalho [email protected] Universitário de Volta RedondaCampus Três PoçosAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325,Três Poços - Volta Redonda / RJCEP: 27240-560

(Mestrado em Ciências Geodésicas) – Universidade Federal do Paraná.

MANSSOUR, Isabel Harb . Introdução á VRML 2.0. Porto Alegre, RS PUC/RS Disponível em http://www.inf.pucrs.br/~manssour/VRML/index.html - Acessado em 30 de Outubro de 2010.

MORELATTI, Maria Raquel Miotto; SOUZA, Luís Henrique Gazeta de. Aprendizagem de conceitos geométricos pelo futuro professor das séries iniciais do Ensino Fundamental e as novas tecnologias. Curitiba, Educar, n.28, p. 263-275, 2006. Editora UFPR

VALENTE, José Armando. O Computador na sociedade do conhecimento. Campinas, SP UNICAMP/NIED, 1999.

ZORZAL, E. R.; BUCCIOLI, Arthur Augusto Bastos; KIRNER, Cláudio. Usando Realidade Aumentada no Desenvolvimento de Quebra-cabeças Educacionais. In: SVR2006 - VIII Symposium on Virtual Reality, 2006, Belém-PA. Proceedings of VIII Symposium on Virtual Reality. Belém, PA : Editora CESUPA, 2006. p. 221-232.

Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:MORAES, Rodolfo Gregório de; CARVALHO, Carlos Vitor de Alencar; PAIVA, Ana Maria Severiano de C.O.S – 3DRA - Software construtor de objetos tridimensinais: Uma proposta de Construção de Sólidos Geométricos através da Realidade Aumentada Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano VI, n. 15, abril 2011. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/15/29.pdf>

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Fatores que levam os surdos a fazerem o “Turnover” nas empresas de grande porte do Sul Fluminense

Reasons that lead the deaf to form the “Turnover” in large companies in the southeast of Rio de Janeiro State

Bruna Viana de Abreu Gonçalves 1

Douglas Baltazar Gonçalves2

Ivanete da Rosa Silva de Oliveira3

Resumo

A rotatividade de empregados em uma organização é prejudicial tanto para a empresa como para o trabalhador e quando extrapola os limites da normalidade é chamado de turnover. A mudança dos funcionários gera prejuízos de capital intelectual e financeiros para as organizações. Este artigo procura destacar que o turnover acontece, na maioria das vezes, com funcionários deficientes que, por diversos fatores geram ações de remanejamento de pessoal, por isso, é essencial que ocorra o treinamento para a inclusão do deficiente no mercado de trabalho. O presente trabalho apresentará os fatores que levam os surdos a fazerem turnover nas empre-sas de grande porte da região Sul Fluminense.

1 MBA em Gestão Empresarial e Negócios - Graduação em Comunicação Social - Habilitação em Publicidade e Propaganda2 Mestrando em História - Pós Graduação em Comunicação Empresarial - Graduação em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo3 Doutoranda em Políticas Públicas - Mestrado em Educação Física - Graduação em Pedagogia e em Educação Física

Abstract

The employee turnover in an organization is harmful to both the company and the employee and when exceeds the limits of normality it is called turnover. The change of employees generates losses of financial and intellectual capital to the organizations. This article aims to emphasize that turnover happens most often with disabled employees that for several reasons cause personnel reallocation, so it is essential a training to the inclusion of the disabled into the labor market. This paper presents the reasons that lead the deaf to form the “turnover” in large companies in the southeast of Rio de Janeiro State.

Palavras-chave:

Turnover

Surdos

Mercado de Trabalho

Deficiente

ArtigoOriginal

Original Paper

Key words:

Turnover

Deaf

Job Market

Deficient

Recebido em 03/2011

Aprovado em 04/2011

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Introdução1.

A inclusão das pessoas portadoras de de-ficiências auditivas teve avanços significativos nesse último século. Cabe destacar a análise de quais os fatores que levam os surdos a fazerem o “turnover” nas empresas de grande porte do Sul Fluminense. Este artigo é o resultado de pesquisa de campo- promovida por um questionário fechado e aberto, aplicado em um ambiente organizacional com portadores de deficiências especiais auditivo em seu quadro de colabora-dores- retratando a visão humana organizacio-nal dessa temática. Este estudo trata-se de uma pesquisa de campo exploratória, de cunho predominan-temente qualiquantitativa, pois, pretende-se, através de autores renomados da área, de-monstrar, juntamente com os dados analisados na pesquisa feita, quais são os objetivos dos surdos fazerem o “turnover” nas empresas. O presente artigo tem como relevância analisar as organizações que queiram reter seus capitais intelectuais evitando prejuízos financeiros – seleção e recrutamento, indica-dores gerenciais, treinamento etc. – através da melhoria na estrutura organizacional para por-tadores de deficiência dentro da empresa. Para discutir a questão da inclusão do surdo na sociedade, utilizaremos Graeff (2006, p.23):

A atualidade aponta para questões ur-gentes da dinâmica social. Entre essas questões, a busca pela inclusão dos sur-dos possibilita discussões de diferentes ordens, quais sejam, financeira, merca-dológica, técnica, pessoal e idealística.

Muitas vezes, pelo desconhecimento, as pessoas divagam e criticam um surdo; porém, desconhecem que eles possuem uma lingua-gem, uma comunidade unida e organizada, e principalmente têm as mesmas condições cog-nitivas que os ouvintes, o que significa que a surdez não impede que estes sujeitos possam fazer parte atuante na sociedade. O presente trabalho tem como objetivo defender que, atualmente, a surdez é uma defi-ciência que poderá acarretar múltiplas conse-quências sob os mais variados prismas, para o sujeito que se enquadra nessa situação. Pimenta

(2001, p. 24 apud Graeff, 2006, p.23) descreve a declaração de ator surdo Brasiliense:

A surdez deve ser reconhecida como apenas mais um aspecto das infinitas possibilidades da diversidade humana, pois ser surdo não é melhor ou pior do que ser ouvinte é apenas diferente. Se considerarmos que surdos não são “ou-vintes com defeito”, mas, pessoas dife-rentes, estaremos aptos a entender que a diferença física entre pessoas surdas e pessoas ouvintes gera uma visão di-ferente de mundo, um ‘jeito ouvinte de ser’ e um ‘jeito surdo de ser’, que nos permite falar em uma cultura da visão e outra da audição.

Através da pesquisa exploratória é pro-porcionado mais familiaridade com o proble-ma da inclusão de portadores de necessidades especiais nas empresas, devido a Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991, que se dá, às vezes, de maneira imprópria, gerando uma alta rotativi-dade de surdos dentro das empresas de nossa região, o que acarreta prejuízos intelectual e financeiros para as organizações. Trata-se de um tema em constante evolução, sendo neces-sárias frequentes atualizações.

No Brasil, a legislação sobre acesso de pessoas com deficiência ao trabalho entrou em vigor há mais de 14 anos, mais precisamente nas Leis nº 8.112, de 11de dezembro de 1990, que define em até 20% o percentual de vagas em concursos públicos, e nº 8.213, de 24 de julho de 1991, que determina uma cota de vagas para a pessoa com deficiência, variando de 2 a 5 %, junto às empresas privadas com mais de 100 funcionários (BRASIL, 1999a; 1999b). A reserva de vagas para o setor pri-vado surgiu posteriormente, e está prescrita na lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991 (BRASIL, 1991), que dispõe sobre os planos e benefícios da Previdência, art. 93, prescreve: a empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preen-cher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção:

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I- até 200 empregados - 2%II- de 201 a 500 - 3%III- de 501 a 1000 - 4%IV- de 1000 em diante - 5%

A inclusão social dos deficientes 2. auditivos

Existem no Brasil 24 milhões de pessoas portadoras de deficiência, o que significa cerca de 14% da população. Entre elas, 5,7 milhões são pessoas com deficiência auditiva (Censo – IBGE 2000). Essas pessoas encontram-se ex-cluídas, de diversas formas, de várias dimen-sões da vida social e produtiva. O grande desafio da sociedade, atual-mente, é a inclusão social dos portadores de deficiência. Os surdos têm uma grande dificul-dade de ler e entender a língua escrita, o que dificulta ainda mais a colocação dos mesmos na sociedade, conforme afirma a Sá (2006, p.2) em sua definição de surdo:

Quanto ao termo “surdo”, podemos di-zer que é o termo com o qual as pessoas que não ouvem referem-se a si mesmos e a seus pares. Podemos definir uma pessoa surda como aquela que vivencia um déficit de audição que o impede de adquirir, de maneira natural, a língua oral/auditiva usada pela comunidade majoritária e que constrói sua iden-tidade calcada principalmente nesta diferença, utilizando-se de estratégias cognitivas e de manifestações com-portamentais e culturais diferentes da maioria das pessoas que ouvem.

A população surda no mundo de hoje é muito extensa, sendo que a surdez pode ser uma doença de nascença, como também pode ocorrer pelo fato de uma outra doença deixar sequelas ou por uma doença na infância e na juventude. Quanto ao momento de apareci-mento da Surdez, as deficiências auditivas são classificadas de acordo com a aquisição da linguagem e da capacidade de leitura. Quem define bem essa diferença é Oliveira, Castro, Ribeiro (2002, p.2):

A Surdez Pós-lingual surge quando a criança já fala e lê, não se acompanhan-do praticamente de regressão devido ao

suporte da leitura. A Surdez Peri-lingual surge nas crianças que falam, mas que ainda não leem, situação em que, se não existir um acompanhamento eficaz, se dá uma rápida degradação da lingua-gem. A Surdez Pré-lingual é caracte-rizada pela total ausência de memória auditiva, sendo por isso extremamente difícil a estruturação da linguagem.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 10% da população mundial (perto de 600 milhões de pessoas) são portadoras de alguns tipos de deficiência. Estima-se que a distribuição desse percentual de PPDs (pessoas portadoras de deficiência) em nível médio mundial, seja de 5% com de-ficiência mental, 2% com deficiência física, 1,5% com deficiência auditiva, 1% com defi-ciência múltipla e 0,5% com deficiência visu-al. Nos países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, esse número pode chegar a 20% da população e somente 1 a 2% destas pessoas têm algum tipo de serviço de assis-tência, readaptação, acompanhamento clínico, psicológico, inclusão no trabalho etc.

A inserção no mercado de 3. trabalho: desafios para pessoas surdas

A colocação dos deficientes auditivos no mercado de trabalho gera um grande investi-mento para as empresas e isso acarreta ao em-presário um alto custo, sendo assim, falta uma estrutura nas empresas para uma boa relação entre funcionário, deficiente e chefe. Na maioria das vezes tem que ser utili-zado uma segunda língua para a relação entre um funcionário e um deficiente, sendo que, a língua principal do surdo é a Libras e para que um funcionário compreenda essa língua, é necessário um curso extra, que na maioria das vezes não é oferecido pela empresa. A Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS) é uma entidade filantró-pica, sem fins lucrativos com finalidade sócio-cultural, assistencial e educacional que tem por objetivo a defesa e a luta dos direitos da Comunidade Surda Brasileira e a sua revista explica bem a língua de Libras:

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A LIBRAS, como toda Língua de Sinais, é uma língua de modalidade gestual-vi-sual porque utiliza, como canal ou meio de comunicação, movimentos gestuais e expressões faciais que são percebidos pela visão; portanto, diferencia-se da Língua Portuguesa, que é uma língua de modalidade oral-auditiva por utili-zar, como canal ou meio de comunica-ção, sons articulados que são percebidos pelos ouvidos. Mas, as diferenças não estão somente na utilização de canais diferentes, estão também nas estruturas gramaticais de cada língua. (p. 7)

O maior problema dos surdos é a dificul-dade de comunicação e não da surdez em si mesma. Parte de seus problemas de comuni-cação vem do fato de ser-lhes impossível ad-quirir a linguagem partindo de um modelo ex-clusivamente oral auditivo. Isso não quer dizer que o surdo não possua competência linguísti-ca, pelo contrário: há estudos que demonstram que crianças surdas procuram sempre criar e desenvolver uma linguagem. A dificuldade dos surdos em encontrar um trabalho parte do reconhecimento das habilidades pela classe empresarial até a di-ficuldade de cursos profissionalizantes ade-quados para esses sujeitos. Segundo o site da FENEIS:

A contratação do surdo é o investimen-to para a empresa, pois ocorre o aumen-to da atenção concentrada no ambiente de trabalho; valorização do emprego pelo surdo pela dificuldade de inserção no mercado de trabalho; descoberta de talentos desconhecidos e potenciais di-versificados e enriquecimento do grupo funcional. Com a inclusão de surdos o grupo será multidisciplinar, contribuin-do para a sobrevivência da empresa e gerando resultados de satisfação e motivação, uma vez que acreditamos que o fator chave para obter uma van-tagem competitiva está na diversidade do quadro funcional, pois ocorre: maior capacidade para atender o mercado glo-balizado; enriquecimento do ambiente de trabalho; estímulo da criatividade de trabalho e como consequência apare-cimento de novas soluções; satisfação dos funcionários e redução do Turn Over (Rotatividade).

O que deixa as empresas mais arrasa-das é quando há um grande investimento no funcionário surdo e, após vários cursos e trei-namentos entre a equipe, acontece o chama-do turnover (rotatividade) e esse funcionário pede para sair da empresa, utilizando todo o aprendizado oferecido por outro investimento, como mostra o site da RH Central:

As empresas estão procurando ajuda, pois, o turnover de pessoas com defici-ência nas organizações é muito grande, o que mostra a contratação, porém, uma forte dificuldade de adaptação. Não é só incluir, mas manter a pessoa lá dentro e a sensibilização é a melhor forma de fazer com que as pessoas se relacionem melhor. Quando um funcionário sem deficiência percebe que a empresa dele coloca um funcionário com deficiência na sua equipe, ele vê que a sua orga-nização respeita as diversidades; dessa forma, se sentirá mais à vontade para expor as suas diferenças.

As pessoas com diferença no mercado têm muito a acrescentar nas empresas hoje em dia. Elas trazem mais paciência, tolerância e humildade para o meio de trabalho. Essas pessoas terão necessidade de apoio e tam-bém darão um retorno a toda ajuda recebida. Com isso, os trabalhadores que estão à sua volta passarão a se sentir mais úteis, afirma CLEMENTE e CELESTINI. Segundo Pastore (2000, p.7):

Os portadores de deficiência têm uma vida cercada de alegrias, realizações, incertezas e dificuldades e é dentro desse cenário que crescem, se educam, fazem amigos e constroem suas carrei-ras, porem são vítimas de preconceitos, principalmente porque são vistas como dependentes e incômodas.

Pode-se observar que uma parte da redu-ção da capacidade de andar, pensar, aprender, falar ou ver está ligada realmente às limitações do deficiente, no entanto, o meio social impõe diversas barreiras para as pessoas surdas. Com a mudança desse quadro, de forma a proporcio-nar condições adequadas a essas pessoas e elas deixariam de ser tratadas como um deficiente. Os empresários e recrutadores que são responsáveis pela contratação de deficientes

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nas empresas precisam adquirir uma visão mais realista, de forma a ampliar as oportunidades de trabalho das pessoas que portam limitações. As empresas, muitas vezes, não ofere-cem os mesmos direitos para os funcionários portadores de deficiência, fazendo com que estes fiquem desestimulados, não deixando-os participarem de promoções, aumentos sala-riais e bônus por performance. O surdo tem que trabalhar mais em relação aos demais fun-cionários para conseguir um bom salário, de-vido as suas limitações. No modelo social de deficiência, segundo Sassaki (1997):

O número de pessoas com deficiência em idade economicamente ativa que estão fora da força de trabalho é muito grande. E as empresas devem contratar trabalhadores com deficiência, em con-formidade com aspolíticas de emprego, salários e benefícios da empresa, e por estarem capacitadas e não apenas para cumprir leis. Esses trabalhadores cons-tituem-se, em mão de obra tão produtiva quanto a constituída só de trabalhadores sem deficiência.

Metodologia4.

Este estudo trata-se de uma pesquisa de campo exploratória, de cunho predominante-mente qualiquantitativa, através de pesquisa fechada e aberta, pois se pretende, através de autores renomados da área, demonstrar, jun-tamente com os dados analisados na pesquisa feita, quais são os fatores que levam os surdos a fazerem o “turnover” nas empresas de gran-de porte do Sul Fluminense. O método utilizado foi pesquisa bibliográ-fica e pesquisa de campo, na qual é entrevistado portadores de deficiência auditiva no contexto organizacional. A escolha do questionário fe-chado para a pesquisa com os surdos deveu-se ao fato de que, para uma análise na qual os de-ficientes conseguissem responder com eficácia e mais precisão, ter-se-ia que utilizar uma ferra-menta em que o resultado fosse mais direto. Já a escolha do questionário aberto foi ideal para analisar os motivos que levam os surdos a se manterem e a saírem das empresas, com respostas pequenas ideais para os porta-dores de necessidades.

O estudo foi realizado baseado nos re-sultados obtidos na pesquisa de campo, que abrangeu uma amostra de 20 funcionários, subdivididos em 4 empresas diferentes. A pesquisa levantou dados sobre ques-tões relacionadas diretamente com a inclusão dos surdos no ambiente organizacional, pes-quisados através de questionário fechado e aberto. O resultado da pesquisa relacionada re-fere-se especificamente a abordagem da sen-sibilidade de todos participantes na inclusão dos surdos no mercado de trabalho, de forma a diminuir os preconceitos e, consequente-mente, os turnover nas empresas, mudando o comportamento dos funcionários no ambiente organizacional, como destaca: [...] a visão pre-conceituosa que patrões e colegas de trabalho costumam lançar sobre essa parcela da popu-lação. A maioria as vê com pena ou as consi-dera incapazes [...] (CLEMENTE, 2003: 61) As empresas podem aproveitar muito as pessoas com diferença no meio de traba-lho. Essas pessoas terão necessidade de apoio e também darão um retorno a toda ajuda re-cebida. Com isso, os trabalhadores que estão à sua volta passarão a se sentir mais úteis. (CLEMENTE, 2003: 26) Os resultados obtidos foram analisados e, com isso, observamos as causas que levam os surdos a fazerem turnover no ambiente or-ganizacional, considerando o comportamento humano dentro das empresas.

4.1. Resultados e Discussão

A pesquisa confirma que 31% dos en-trevistados possuem faixa etária entre 26 a 32 anos, ficando com 25% a idade de 18 a 25 anos e também 25% para os acima de 40 anos res-tando 19% entre 19 a 25 anos. Foi observado também, com mais de 40%, que a maioria dos funcionários surdos possuem o Ensino Médio Completo e, em contrapartida, mais de 30% possuem o Ensino Fundamental Incompleto. Como ilustra a figura 1, a maioria dos entrevistados possui mais de 10 anos de expe-riência profissional e, logo em seguida, fican-do os de 3 a 5 anos de experiência.

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Figura 1. Representação Gráfica do tempo de experiência profissional dos entrevistados.

Como apresenta a figura 2, 50% dos en-trevistados já trabalharam em 3 a 5 empresas distintas e mais de 30% de 6 a 9 empresas, ten-

do um total de mais de 80% dos entrevistados que já trabalharam de 3 a 9 empresas.

Figura 2. Representação Gráfica da quantidade de empresas que o entrevistado já trabalhou.

Segundo a figura 3, foi feita uma cor-relação entre a quantidade de empresas que o surdo já trabalhou com o tempo de experi-ência que ele possui na sua carreira profissio-nal. Somando um total de mais de 81% dos

entrevistados que possuem de 3 a 5 anos de experiência e os acima de 10 anos, podemos afirmar que os mesmo já mudaram de empre-sas aproximadamente de 3 a 9 vezes.

Figura 2. Representação Gráfica da correlação entre a quantidade de empresas que o surdo trabalhou e o tempo de experiência que ele possui.

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Figura 4. Representação Gráfica do tempo de serviço na empresa atual.

Analisando a figura 4, o tempo que o en-trevistado possui na empresa atual, é possível confirmar que acima de 50% tem somente de 1 a 2 anos, e mais de 20% estão de 3 a 5 anos.

Isso confirma que os surdos não criam vínculo empregatício duradouro, aumentando a inci-dência do turnover na vida profissional.

Devido ao pouco tempo de serviço que o surdo se mantém em cada empresa, conforme mostra o gráfico anterior, podemos afirmar que os entrevistados não estão totalmente insatis-feitos em seu emprego atual. Conforme análise feita, os profissionais auditivos se mantém nas empresas praticamente o tempo da sua inclu-

são e adaptação, ou seja, é o tempo suficiente para uma boa satisfação no ambiente de traba-lho, sendo que, quando começa a rotina diária ficar maçante, eles logo saem do emprego. Isso é confirmado na figura 5, que apresenta os em-pregados muito satisfeitos com 45%, os pouco satisfeitos com 35% e os insatifeitos com 20%.

Figura 5. Representação Gráfica da satisfação da empresa atual.

Na pesquisa aberta foi possível notar os motivos relevantes que levam os surdos a se manterem e também a saírem do ambiente or-ganizacional. Segundo Robbins (2004: 262):

Uma das descobertas mais bem docu-mentadas nas pesquisas sobre compor-tamento organizacional e individual é que tanto as organizações como seus membros resistem à mudança. Em cer-to sentido, trata-se de algo positivo, ao oferecer estabilidade e previsibilidade ao comportamento. Se não houvesse resistência, o comportamento organi-

zacional se revestiria de uma aleato-riedade caótica. A resistência também pode ser fonte de conflitos funcionais. Entretanto, existe uma desvantagem inequívoca na resistência: ela dificulta a adaptação e o progresso.

Para que não ocorresse o turnover, foram notados os seguintes pontos relacionados ao funcionário surdo: um plano de cargo salarial, a estrutura organizacional para a inclusão no setor de trabalho e principalmente a integração com os outros colaboradores que são ouvintes. Dessa maneira, o funcionário fica estimulado e não terá interesse de trocar de emprego.

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Conclusão5.

Hoje em dia, as organizações estão se preocupando cada vez mais com as questões da responsabilidade social, no entanto, não podemos deixar de lado as questões “huma-nas”, pois, sabemos que a inclusão das pessoas nas mudanças é essencial para que as mesmas ocorram com sucesso. Atualmente, existe um movimento de inclusão social que consequentemente traz um mundo mais democrático, em que temos que respeitar os direitos e deveres de todos e ter consciência de que a limitação não diminui os direitos do indivíduo. As pessoas portadoras de limitações são cidadãos incluídos na mesma sociedade e, por isso, ela deve se preparar para lidar com a di-versidade humana. O meio social deve respei-tar e aceitar a todos, sem preconceitos de raça, cor, religião, sexo, idade, origens étnicas, op-ção sexual e suas deficiências. Uma sociedade democrática aberta a todos estimula a partici-pação de cada um, reconhece o potencial dos cidadãos, estimulando as diferentes experiên-cias humanas. A sociedade inclusiva tem o objetivo de oferecer oportunidades semelhantes a todos, propiciando a igualdade na diversidade. É um meio democrático que reconhece todos os se-res humanos como livres e com o direito de exercer sua cidadania. Podemos concluir que devemos incluir as pessoas portadoras de deficiência no mer-cado de trabalho, e isso acarreta uma extrema necessidade para que as empresas assegurem condições de interação entre os surdos com os demais funcionários das empresas bem como com todos os parceiros e clientes, mas é neces-sário que seja principalmente valorizada suas particularidades. Se o turnover da organização for maior que 5%, indica que algo está errado. A rota-tividade traz malefícios à empresa, e para que haja uma diminuição nessa situação, é preciso atender as necessidades e criar vínculos dinâ-micos de relacionamento com os colegas de trabalho, chefes, clientes e fornecedores. O turnover não traz vantagens nem para a empresa e nem para o funcionário. A em-presa tem despesas de: rescisão de contrato de trabalho, recrutamento, seleção, treinamento,

adaptação e outras despesas variáveis (advo-gados, justiça do trabalho, etc.). A pesquisa mostrou que a superação do preconceito é uma tarefa difícil que exige edu-cação, treinamento e compreensão tanto do lado não portador quanto do portador de deficiência. Conclui-se que, pra que ocorra a inclu-são do deficiente no mercado de trabalho é ne-cessária a mudança cultural, sendo que, essa transação não é simples, pois se trata de alterar os mecanismos que mexem com variáveis es-senciais ao comportamento humano.

Referências bibliográficas 6.

BRASIL. Ministério do Emprego e do Trabalho. Lei 8112 de 11 de dezembro de 1990. Legislação relativa ao trabalho de pessoas portadoras de deficiência: coletânea. Brasília: MTE, SIT/DSST, 1999c.

BRASIL. Ministério do Emprego e do Trabalho. Lei 8213 de 24 de julho de 1991. Legislação relativa ao trabalho de pessoas portadoras de deficiência: coletânea. Brasília: MTE, SIT/DSST, 1999d.

CLEMENTE, C. A; CELESTINI, E. C. Trabalhando com a diferença: responsabilidade social e inclusão de portadores de deficiência. São Paulo: Espaço da Cidadania, 2004.

_______. Trabalho e inclusão social de portadores de deficiência. 1. ed. Osasco: Gráfica e Editora Peres, 2003.

EMPRESAS DEFICIENTES PARA A INCLUSÃO. Disponível em: http://www.rhcentral.com.br/pen/pen.asp?cod_materia=3819 Acessado em: 05/08/2010

GRAEFF, Talita Diane. A relação do surdo com o mercado de trabalho. Revista Conexão UEPG, v. 2, p. 23-28, 2006.

IBGE. Censo demográfico 2000: resultados preliminares. Rio de Janeiro, 2000. 156 p. Tab. Graf. Mapas. Inclui 1 CD-ROM.

OLIVEIRA, Pedro; CASTRO, Fernanda; RIBEIRO, Almeida. Surdez infantil. Revista Brás Otorrinolaringol: 2002.

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PASTORE, José. Oportunidade de trabalho para Portadores de Deficiência. São Paulo: Editora LTr. 2000.

REVISTA DA FENEIS. Rio de Janeiro: 1999 / 2002. Números 1 ao 13.

RIBEIRO, Mauro. Contratar um PPD (Profissional Portador de Deficiência?) s/d. Disponível em: http://www.institutomvc.com.br/costacurta/artmr01_ppd.htm Acessado em: 04.08.2010

ROBBINS, Stephen Paul. Fundamentos do comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2004.

SÁ, Nídia Limeira de. Cultura, poder e educação de surdos. São Paulo: Paulinas, 2006.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997.

Endereço para Correspondência:Bruna Viana de Abreu Gonç[email protected] Ivair Stabellini, nº 90Bairro de Fátima - Barra do Piraí - RJCEP: 27.165-000

Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:GONçALVES, Bruna Viana de Abreu; GONçALVES Douglas Baltazar; OLIVEIRA Ivanete da Rosa Silva de Fatores que levam os surdos a fazerem o “Turnover” nas empresas de grande porte do Sul Fluminense Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano VI, n. 15, abril 2011. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/15/37.pdf>

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Maratona multidisciplinar: Construindo Indicadores Locais de Desenvolvimento Educacional.

Multidisciplinary contest: Building Local Indicators of Educational Development

Agamêmnom Rocha Souza1

Luis Felipe Camêlo de Freitas2

Resumo

Este estudo buscou sistematizar e evidenciar as iniciativas de um projeto de gestão ambientado em práticas participativas na constituição de indi-cadores locais de desenvolvimento educacional, no sistema municipal de educação de Barra Mansa, no Estado do Rio de Janeiro. Observou-se, em especial atenção, o ano de 2007, período em que se iniciou e realizou o projeto denominado “Maratona Multidisciplinar” que concentrou os principais eventos relativos a esse processo. Tratou-se de explicitar os fatos que demonstraram sua história e, assim, os esforços realizados e debates que surgiram e fizeram parte do processo. Sua implantação pos-sibilitou o desvelamento de informações quantitativas sobre a educação municipal, consubstanciando políticas educacionais a partir de uma rea-lidade traduzida e interpretada pelos sujeitos organizadores e executores dessas políticas, no município de Barra Mansa. As informações geradas assumem uma legitimização significativa, pois foi comparada com os indicadores educacionais produzidos pelo MEC permitindo assim, sua aferição; bem como a possibilidade de aprofundamento no conhecimento da realidade existente nas Escolas municipais, à medida que desvelou o comportamento de cada uma das classes do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental.

1 Professor do UniFOA - Centro Universitário de Volta Redonda, Conselheiro-representante do Corpo Docente dos Cursos da Área de Ciências Humanas/Sociais Aplicadas-CONSUN, Coordenador dos Cursos de Administração e de Ciências Contábeis, Membro do Conselho Fiscal - UniConsult EJ.

2 Professor Economista. Especializações em Gestão e Tecnologias Educacionais e Práticas e Teorias da EaD. Mestrando em Educação na UCP. Ex-Secretário de Educação de Valença e Barra Mansa.

Abstract

This report attempted to systematize and support the initiatives of a managing project applied to the participative practices in the establishment of local indicators of the educational development in Barra Mansa municipal education system, situated in Rio de Janeiro State. The project “Multidisciplinary Contest” started in 2007 and concentrated the main events about this process. It showed the facts that demonstrated its history and, therefore, the efforts and debates that appeared and made part of the process. Its implantation made possible the elucidation of quantitative information about the municipal educational system, strengthening educational politics from a reality translated and interpreted by the organizers and executors of these politics in the municipal district of Barra Mansa. The generated information assume a legitimate significance because it was compared to the educational indicators produced by MEC allowing, thus, its assessment, as well as the possibility of a depth knowledge of the reality that is diligent in the municipal Schools, as showed the behavior of each classroom from 5th to 9th year of the Elementary School.

Palavras-chave:

Avaliação Educacional

Ensino Fundamental

Políticas Educacionais

ArtigoOriginal

Original Paper

Key words:

Evaluation

Elementary School

Educational Politics

Recebido em 10/2010

Aprovado em 04/2011

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Introdução1.

Ao longo do tempo, tornou-se perceptí-vel, na administração pública, a dicotomia entre políticas públicas e de governo. A política de governo em simbiose autofágica com as políti-cas públicas incita uma tentação, quase sempre irresistível, em zerar tudo e recomeçar, ou seja, dispensar todo tempo e energia gastos na elabo-ração de pesquisas, projetos e programas reali-zados por equipes de pessoas que, certamente, utilizaram recursos públicos. Entenda-se o pre-juízo financeiro, e, por conseguinte os demais recursos empregados que bem poderiam ser utilizados em outro empreendimento, aumen-tando o custo de oportunidade1. Entende-se que não é apenas um fenômeno estanque, “a teoria do ‘caos’ assumido vem ganhando espaço na administração, na galeria dos iconoclastas. Para muitos, destruir tem certo charme. Reconstituir pode vir a ser algo inalcançável e frustrante” (CHIAVENATO & MATOS, 2002, p. 49). Em um sistema municipal de Educação, em que se observa uma democrática e saudá-vel mudança de gestão, pelo menos a cada 04 (quatro) anos, não, necessariamente, precisa-ria haver uma reinvenção de processos, pla-nejamentos e objetivos. A reengenharia apli-cada poderia analisar e lapidar com o intuito de reavaliar, reformar e avançar nos caminhos já percorridos, evitando, assim, o retrabalho. Os novos objetivos que se apresentarem per-mitirão projetos nascituros que se integrarão em resposta às novas demandas, demonstran-do, então, um processo de transição demo-crática e civilizada. Promover uma radical e sem propósito reengenharia de processos em um sistema de educação que, por natureza, é constituído por funcionários estatutários, dis-tribuídos entre escolas que não se falam e que atendem a sujeitos singulares dentro de uma coletividade; “pode sugerir um clima de festa, mas logo depois se instala a “ressaca cultural”; cita Chiavenato (2002), lembrando que

a violentação dos valores, os ressen-timentos ignorados, os traumas tidos como ‘pedagógicos’, como eufemismo

às perdas de posição e poder, acabam por significar desmotivação para a maioria, em contraste com a euforia dos poucos empreendedores das mudanças. (CHIA-VENATO & MATOS, 2002, p. 51).

Enfatizando o aspecto da especialização em contraposição ao mudar por mudar ou o mudar para deixar tudo igual, a secretaria mu-nicipal de Educação de Barra Mansa (SME), no início do ano de 2007, experimentou uma reorganização, sem rupturas, em sua gestão. O governo municipal, que havia iniciado em 2001 e sido reeleito em 2005, trocara, pela quinta vez, o gestor da área de Educação e, este, no período de 2007 e 2008 optou, prin-cipalmente, por aperfeiçoar projetos em anda-mento, modernizar o modelo de gestão e cons-truir indicadores de avaliação com o desafio de envolver as Escolas. Este artigo irá focar a construção do Indicador de Avaliação Municipal (IAM), im-plantado pela nova gestão da Educação em Barra Mansa, como vértice para práticas de par-ticipação, ampliação e qualificação nos proces-sos democráticos da escola. Essa participação, que visava à melhoria do sistema de ensino, se imprimiu em diferentes aspectos e óticas prati-cadas pela escola. E, baseou-se na tendência de descentralização, desconcentração e democrati-zação do poder em todas as áreas, como forma de agilizar os processos decisórios e potenciali-zar uma autonomia solidária. A autonomia das escolas possui certa rela-tividade por estar inserida em um sistema mais amplo, com ligações estruturais e funcionais, referencia-se, também, com outras escolas de seu sistema atomizado. Podemos, assim, dizer que a autonomia é relativa e solidária, contudo, se torna tanto maior quanto maior se apresen-tar sua eficiente gestão e eficácia nos resultados que devem ser positivos para os alunos, assim interpretados pela comunidade escolar. O diálogo deve ser praticado em todos os níveis e, tendo como base a transparência nas informações; esse pensamento nos reme-te a concluir que a prática exercida pela co-munidade escolar através dos Conselhos que

1 O conceito de Custo de Oportunidade está directamente relacionado com princípio econômico de que os recursos são escassos. Este princípio significa que os recursos são insuficientes para satisfazer todas as nossas necessidades, ou seja, sempre que é tomada a decisão de utilizar um recurso para satisfazer uma determinada necessidade, perde-se a oportunidade de o utilizar para satisfazer uma outra necessidade. O Custo de Oportunidade não é mais do que o valor que atribuímos à melhor alternativa de que prescindimos para utilizar o recurso. Disponível em www.notapositiva.com/dicionário_gestão/custo_oportunidade.htm

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acompanham a merenda escolar, os recursos do Fundeb2 e o transporte escolar deve ser praticado, do gabinete do gestor municipal da Educação às salas de aula da escola. Desta feita, a Secretaria Municipal de Educação de Barra Mansa (SME) entendeu so-bre a importância na construção do IAM, que possibilitaria às escolas praticarem o diálogo e exercitarem a discussão com dados objeti-vos, permitindo assim, correções de rota que se fizessem necessárias. Dessa maneira, se ini-ciou a construção do Indicador de Avaliação Municipal (IAM) com a proposta de seguir o mesmo cálculo utilizado para a confecção do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Até aquele momento não existiam indi-cadores municipais que dessem pistas sobre o estado e a trajetória em que estava o ensino municipal. Tecendo um paralelo, qualquer via-jante que escolhe um caminho tem por objetivo alcançar um destino, a existência de mapas e poder consultá-los contribuem para o término da jornada; um destino, assumido admite uma importância relevante, à medida que permi-te unificar energias antes dispersas dos vários sujeitos envolvidos nesse processo. E, nesse processo, seria possível, também, o momento de um saudável cruzamento de dados e a com-plementaridade de informações dos índices for-necidos pelo Ministério da Educação (MEC). Contudo, buscar respostas baseadas em informações cientificamente coletadas, que permitam produzir uma base de dados fidedig-na com possibilidade de construir ferramentas gerenciais, importantes e úteis, se torna apenas uma parte da solução de um contexto maior. Algumas inquietações surgem e insti-gam respostas. Será que, as informações produzidas pe-los sujeitos responsáveis pela educação do mu-nicípio seriam valorizadas e utilizadas na con-cepção e execução de políticas públicas para a educação? Quantas informações são disponibi-lizadas pelo MEC e não são aproveitadas pelas pessoas que deveriam empregá-las? Mesmo que se satisfaçam as questões técnicas, outras acabam surgindo no campo humano e tomando lugar na centralidade das

preocupações como “se é possível formar pes-soas na perspectiva de construir solidariedade, autonomia e respeito mútuo em sociedades onde inveja, talento e velocidade de produ-ção individual são a meta?” (MOREIRA & KRAMER, 2007, p. 1052). A questão nos remete ao entendimento de que a construção de indicadores de avaliação educacional ilumina e contribui, mas não afasta as diversas possibilidades pedagógicas, afeti-vas, materiais, políticas, gerenciais e outras que contribuem para uma educação de qualidade. Entende-se que, um índice de avaliação de desenvolvimento educacional local, em nosso caso o IAM, não apenas deveria infor-mar (resultados frios) “culpados” e sim, como justificativa plausível de sua existência, tornar indelével a necessidade de posturas e comporta-mentos, como parte de um conjunto de medidas que exprimisse que o comprometimento com os processos possui real importância com os resul-tados. Nesse sentido, dividimos o pensamento com Freitas (2007) quando escreve que

o passo inicial, portanto, é mudar nos-sa concepção de avaliação passando de uma visão de “responsabilização” para uma visão de participação e envolvi-mento local na vida da escola. (...) A avaliação em larga escala de redes de ensino precisa ser articulada com a ava-liação institucional e de sala de aula. Nossa opinião é que a avaliação de sis-tema é um instrumento importante para monitoramento das políticas públicas e seus resultados devem ser encami-nhados, como subsídio, à escola para que, dentro de um processo de avalia-ção institucional, ela possa usar estes dados, validá-los e encontrar formas de melhoria. A avaliação institucional fará a mediação e dará, então, subsídios para a avaliação de sala de aula, con-duzida pelo professor. Entretanto, sem criar este mecanismo de mediação, o simples envio ou a disponibilização de dados em um site ou relatório não en-contrará um mecanismo seguro de re-flexão sobre estes. Os dados podem até ter legitimidade técnica, mas lhes fal-tará legitimidade política. (FREITAS, 2007, p. 976)

2 Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação Lei Nº- 11.494, de 20 de Junho de 2007.

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Qual o significado de alunos com bons re-sultados nos exames padronizados de avaliação estudarem em uma escola com altas taxas de retenção? Em contrapartida, qual o significado de alunos com baixos resultados nos exames padronizados estudarem em escolas com altas taxas de aprovação? Segundo o presidente do INEP, Reynaldo Fernandes, “um sistema ideal seria aquele no qual todas as crianças e adoles-centes tivessem acesso à escola, não desperdi-çassem tempo com repetências, não abandonas-sem os estudos precocemente e, ao final de tudo, aprendessem” (FERNANDES, 2007, p. 7). Como se observa, o presidente do INEP aponta que convivemos com vários sistemas de educação no país e nestes são percebidas várias realidades viventes em um mesmo sistema; por-tanto, não existe a possibilidade de se oferecer fórmulas definitivas, nesse caso, a variável huma-na torna qualquer tentativa, um exercício cíclico. A presunção de estabelecer scores comparativos atende ao desvelamento imediato do processo educacional realizado, cria um instantâneo da realidade do segmento que se deseja observar. A tradução desse processo em cultura da Escola, ou seja, práticas perenes de gestão, avaliação e cor-reção com envolvimento dos sujeitos praticantes tende a encontrar o caminho da qualidade men-cionada e desejada para a educação.

Preparando a Maratona 2. Multidisciplinar

Segundo o Dicionário Michaelis, o ter-mo olimpíada possui as seguintes definições: “período de quatro anos, que mediava en-tre duas celebrações consecutivas dos jogos olímpicos. Jogos olímpicos modernos, que se realizam de quatro em quatro anos, de 1896 para cá”. Já o termo maratona é definido como “competição esportiva, lúdica ou intelectual”. Como o projeto era de se realizar as avalia-ções de dois em dois anos, optou-se pela deno-minação Maratona e acrescentou-se o termo Multidisciplinar para colorir sua característica de abrangência. Ficou definido, então, um gru-po formado por diretoras e assessores pedagó-gicos para tratar da realização da Maratona Multidisciplinar.

Correndo a Maratona3.

Por definição do grupo, as inscrições para a primeira Maratona seriam facultativas, ficando as escolas com o seu corpo docente responsáveis pela definição dos inscritos. Desde o início o que se buscava era que a Maratona Multidisciplinar produzisse um instrumento municipal gerencial útil que possibilitasse um diagnóstico, correções de rumo necessárias ao processo de aprendiza-gem e replanejamento da prática.

A ideia, portanto, é que, à municipali-zação do ensino, deve seguir-se a mu-nicipalização da avaliação. Em vez de tentar “adivinhar”, de Brasília, por que uma escola em um determinado muni-cípio não se sai bem (ou mandar espe-cialistas visitá-las), propomos que isso seja feito por quem está mais próximo da escola, o município. (FREITAS, 2007, p. 977)

O discurso da SME invocava que cada sujeito se comprometesse com o processo. Havia em paralelo, ao processo de avaliação, a busca de união do sistema de educação em uma mesma direção, além de se estabelecer um novo modelo de gestão em que se procu-rava aumentar a participação das Escolas na condução do sistema de educação.

O 5º Ano4.

Em 48 Escolas do sistema municipal de educação em 2007, que atuavam no 5º ano do Ensino Fundamental, havia 2.308 crian-ças matriculadas3. Desse total, 941 crianças se inscreveram para participar da Maratona Multidisciplinar, representando quase 41% dos sujeitos desse segmento. Desse total, 745 foram classificados, ou seja, 32,28% efetiva-mente participaram realizando as provas. Esse segmento apresentava uma taxa de aprovação média de 84,25%. As notas obtidas pelas escolas, conside-rando os parâmetros do IDEB, obtiveram uma média na Língua Portuguesa de 4,32 e, em Matemática foi de 2,24 resultando uma média final de 3,28. Esses resultados remetem para

3 Dados da SME de dezembro de 2007.

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uma ótica de preocupação com o segmento, pois ao se analisar o resultado individual das Escolas; observou-se que entre o menor re-sultado obtido 3,00 e o maior 6,52 em Língua Portuguesa encontramos uma diferença de 117,3% e, entre os resultados de Matemática encontramos como melhor resultado 3,08 e o menor de 1,73 gerando uma diferença de uma para outra Escola de 78%. Ora, ao se analisar esses dados, admitindo-se como verdade que esses sujeitos iniciaram juntos o processo de escolarização e chegaram ao 5º ano com efei-tos tão díspares, esse resultado demonstra o sistema municipal de educação como criador de diferenças excludentes para esses sujeitos. Em um estrato em que se analisa qual o per-centual de crianças conseguiria obter médias acima de 6,004, verifica-se que 20,19% das crianças conseguem em Língua Portuguesa e apenas 1,03% em Matemática.

O IDEB do município foi de 4,69 e o Índice de Avaliação Municipal – IAM foi ob-tido com a nota 4,45. Mais importante que a diferença de apenas 5,12% entre os índices é analisar onde deverão ser concentrados os es-forços na busca de melhores resultados. Uma construção que deverá ser realizada nas escolas com o envolvimento da comunidade escolar. Ao se investigar a composição da taxa de aprovação, se verifica que 08 Escolas demons-travam possuir 100% de taxa de aprovação, mas ao se analisar seu desempenho na profi-ciência, os resultados não foram tão otimistas quanto suas taxas de aprovação. Tais resultados nos trazem uma questão recorrente. Em que nível é produzido à taxa de aprovação na Escola? Que aspectos são con-siderados nos Conselhos de Classe? Questões demonstradas pelo IAM, suscitam a reflexões sobre o Conselho de Classe nas Escolas.

Quadro 1 – indicadores do 5º ano do Ensino Fundamental

Indicadores Totais

Matrícula Dezembro / 2007 2.308Inscritos 941Inscritos (%) 40,77Classificados 745Classificados (%) 32,28Média Língua Portuguesa 4,32Média Matemática 2,24Média Total 3,28Notas > de 6 em L. Portuguesa 20,19%Notas > de 6 em Matemática 0,00%Notas > de 6 em Geral 1,03%Taxa de aprovação 84,25%IAM 4,45IDEB 4,69

Fonte: Maratona Multidisciplinar – SME/2007

Anos Finais5.

A avaliação realizada nos anos finais do Ensino Fundamental compreendeu todos os anos de escolaridade, além do 9º ano, que é avaliado pelo IDEB. Buscou-se aprofundar e entender o comportamento das classes nos anos anteriores ao 9º ano, com o objetivo de

delinear os caminhos percorridos pelas crian-ças durante esse segmento de escolarização e, não apenas, o ano de saída. O aprofundamento desejado se baseava na construção de um ban-co de dados que apoiaria cada Escola, permi-tindo ir além de intuições e sentimentos. As análises “latitudinais” e “longitudi-nais” permitem entender as diferenças aconte-

4 Média aceita para aprovação do sistema municipal de educação.

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cidas “entre e nas” escolas, bem como “entre e nas” classes dessas escolas. Olhando a latitude das diversas classes e ano de escolaridade, se percebe seu comportamento entre as discipli-nas; o olhar longitudinal permite entender o comportamento das classes na disciplina nos 04 anos de escolaridade. Com a continuidade do estudo, o que possibilitaria à formação de séries históricas, as análises delineariam o comportamento de classes e crianças na trajetória escolar. Fazendo um corte e tomando como ver-dade que uma determinada classe, com os mesmos sujeitos iniciaram a escolarização no 6º ano e seguiram até o 9º ano juntos, ceteris paribus5, podemos entender como única variá-vel que não é constante é o docente; pois, ge-ralmente, este não completa sua carga horária entre todos os anos de escolaridade. Então, respeitando as mesmas condições entre classes, alterando-se apenas a variável docente, como responder as certas questões: por que determinadas classes apresentam re-sultados tão díspares em uma disciplina em um determinado ano de escolaridade? Por que determinadas classes podem apresentar resul-tados díspares entre disciplinas em um mesmo ano de escolaridade? Questões como estas de-vem ser refletidas na escola pela comunidade escolar que deve arguir e apresentar respostas às crianças e jovens interessados diretos na causalidade dos fatos. Como os alunos percebem a educação? Como podemos entender quando o jovem con-sidera a escola de maneira positiva para o seu processo de aprendizagem? A jovem Jéssica Miyuki Takahashi ,em entrevista a jornalista Tatiana Farah publicada no jornal O Globo em 01 de Janeiro de 2010, dá algumas pistas. Segundo a jovem, mesmo tendo de acordar às 05 horas e viajar 02 horas para estudar

na melhor escola pública paulistana segundo o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). (...) e entre as cinco primeiras escolas nas Olimpíadas de Matemática e na Prova Brasil, entre outras avaliações. (...) A diretora é a mesma desde 1994 e ninguém parece querer que ela saia. (...) A comunidade vê como parte de seu sucesso o envol-

vimento de seus docentes e dos admi-nistradores com a escola. (...) Os pro-fessores e dirigentes da escola afirmam que o que faz a escola funcionar bem é o envolvimento da equipe de trabalho e o fato de colocar tudo à disposição dos estudantes: livros, computadores e conhecimento. (...) Os alunos se or-ganizam em um grêmio estudantil. (...) A salas tem 40 alunos e os professores não faltam. (FARAH, 2010, p. 09)

O relato da jovem revela, ainda, que ela é considerada de bom comportamento, gosta de Matemática e prefere a professora de Português “porque ensina bem, explica tudo até que a gen-te entenda” (FARAH, 2010, p. 09). A avaliação foi realizada com uma mé-dia de 20 % dos sujeitos de todos os anos de escolaridade, o 9º ano participou com um pou-co menos, talvez por seu menor universo se comparado aos demais anos de escolaridade. Existe um hábito em todos os sistemas mu-nicipais de educação que contribui para seu esvaziamento no 9º ano; muitas crianças pro-curam a rede estadual a partir do 8º ano, como forma de garantir sua inclusão no ensino mé-dio nos colégios estaduais de sua preferência. Ao terminarem o 9º ano no sistema estadual já garantem sua vaga no Ensino Médio. As taxas de aprovação, na dimensão em que se prestaram no período estudado, po-dem refletir, o Conselho de Classe solidário. Solidariedade que penaliza as crianças na nas-cente e as despacha na jusante. Quando obser-vado a taxa de aprovação do 5º ano (quadro 1) encontramos o valor de 84,25%, mas no 6º ano esse número cai para 75,54%. Não iremos averiguar e nem discutir relações de causalidade nos processos de pro-moção ou retenção, nosso interesse aqui se reveste em demonstrar apenas resultados ave-riguados na Maratona Multidisciplinar. Observando os comentários após os Conselhos de Classe sobre a questão da inexis-tência de pré-requisitos como justificativa para a retenção na classe atual e as cobranças sobre comportamento dos alunos, por parte dos pro-fessores, percebe-se um discurso unificado para a retenção de determinados alunos quer por um ou outro motivo descrito. Alguns professores se solidarizam na retenção do aluno no 6º ano,

5 Expressão do latim traduzida para “todo o mais é constante”.

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até mesmo para evitar que haja dependência e “mais” trabalho para o ano seguinte. Já no 9º ano, a solidariedade descrita entre os professores apresenta uma lógica in-versa a do 6º ano; ela agora é com os alunos,

O grupo apontou características existen-tes no ciclo de alfabetização, que demandariam maior aprofundamento: (a) possui o maior nú-mero de professores contratados, (b) professo-res sem experiência e prática na alfabetização e (c) promoção das crianças para o 2º ano sem as habilidades e competências do 1º ano. O grupo descreveu uma realidade exis-tente, bem conhecida por quem trabalha na “fronteira”. Quando a escola ganha um novo professor, este recebe uma classe de crianças em processo de alfabetização ou de educação infantil. A realidade pode ser assim traduzida nos anos iniciais: quem tem mais tempo de casa escolhe as classes mais velhas e quem tem menos tempo recebe, principalmente, as classes de alfabetização. Ora, como não existe uma continuidade do professor com a classe (o professor do 1º ano não fica, necessariamente, com a mesma classe no 2º) foi colocado o não cumprimento das etapas do 1º ano; provocan-do uma grande retenção no 2º ano (média de 30% segundo dados da SME- 2007), ou uma promoção “não ideal”, conforme alguns rela-tos, para o 3º ano. A disciplina de Ciências foi a de melhor desempenho em todos os anos de escolaridade e entre todas as demais disciplinas. O grupo refle-tiu que a disciplina trata sobre temas atuais que estão presentes na mídia e possui identificação com a nova geração por abordar temas como a preservação do meio ambiente e serem alvo de vários projetos. O interesse pelo tema consegui-ria sobrepujar os problemas da leitura.

não mais entre os professores. Os alunos, ao terminarem o 9º ano, é observado que os pro-fessores preferem não retê-las, instala-se um espírito solidário com as formaturas, traduzido por uma taxa de aprovação de 93,27%.

Quadro 2 – Indicadores de participação na Maratona Multidisciplinar - Anos Finais.

INDICADORES 6º ANO 7º ANO 8º ANO 9º ANO

Matrícula Dez/ 2007 1.813 1.538 1.134 735

Inscritos 673 589 440 307

Inscritos (%) 37,12 38,30% 38,80% 41,77%

Classificados 367 332 229 128

Classificados (%) 20,24 21,59% 20,19% 17,41%

Taxa de Aprovação 75,54% 81,79% 82,69% 93,27%

Fonte: Maratona Multidisciplinar – SME/2007

Os resultados do 5º ano e dos Anos Finais foram apresentados para um grupo de 120 diretores, vice-diretores, pedagogos e pro-fessores. A proposta era de se fazer uma leitura conjunta dos números obtidos pela Maratona Multidisciplinar e traduzir seus significados à luz da experiência adquirida na prática escolar pelo grupo. Também foram apresentados os números por Escola, possibilitando cada gru-po fazer suas inferências sobre os resultados, convergindo em uma troca de experiências en-tre as escolas. Como resultados apresentados pelo gru-po, a avaliação sobre os resultados da disci-plina de Língua Portuguesa foi a mais con-corrida em relatos e pressupostos. Quando apresentada sua curva de resultados, com leve ascendência ao final, foram desencadeadas análises que proporam uma regressão para sua confrontação com a implantação do ciclo de alfabetização. Segundo o grupo, a implanta-ção do ciclo de alfabetização em 02 anos (1º e 2º ano de escolaridade) foi entendida, como o fato gerador dos resultados de agora da disci-plina de Língua Portuguesa. Em sua maioria, o grupo destacou que a prática no ciclo de alfa-betização, sem atingir os objetivos desejados em sua implantação, estaria contribuindo para os resultados não satisfatórios, identificados na Maratona Multidisciplinar. Por sua vez, os professores de História e Geografia enten-deram que a interpretação incorreta de enun-ciados e textos influencia, negativamente, nos resultados de suas disciplinas.

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Na disciplina de Matemática, que apre-sentou as menores avaliações, uma preocu-pação foi destacada, à medida que a geração entrante, ai considerado o 6º e o 5º ano, possui resultados significativamente menores que as gerações jusantes na disciplina, o trabalho re-alizado atualmente e o avistado no horizonte

deveriam ser analisados em profundidade e repensados. Nesse caso, a reflexão ficou por conta de que maneira essa disciplina vem sen-do trabalhada atualmente nas classes iniciais do Ensino Fundamental? Que propostas de-vem ser trabalhadas, já em curto prazo, que modifiquem a realidade atual?

Quadro 3 – Indicadores de resultados da Maratona Multidisciplinar nos Anos Finais.

INDICADORES 6º ANO 7º ANO 8º ANO 9º ANO

Média Língua Portuguesa 4,07 4,01 4,71 5,08Média Inglês 4,41 3,26 3,47 4,38Média Geografia 2,85 3,06 3,83 3,66Média História 3,87 2,94 3,40 3,84Médias Ciências 5,16 6,15 4,69 3,94Média Matemática 2,35 4,86 6,16 3,04Média Total 3,78 4,05 4,38 3,99Notas > de 6 em L. Portuguesa 21,44% 18,53% 30,23% 36,51%Notas > de 6 em Inglês 17,59% 7,52% 5,99% 16,10%Notas > de 6 em Geografia 0.75% 1,68% 12,50% 17,52%Notas > de 6 em História 6,95% 1,61% 7,85% 9,18%Notas > de 6 em Ciências 41,91% 64,34% 28,17% 12,67%Notas > de 6 em Matemática 0,10% 20,17% 65,90% 1,72%Notas > de 6 em Geral 14,79% 7,92% 4,38% 3,62%IAM 3,82 4,08 4,12 4,65IDEB - - - 4,10

Fonte: Maratona Multidisciplinar – SME/2007

Conclusão 6.

O trabalho com o grupo não foi estabe-lecido em uma dimensão inquiridora; os resul-tados da Maratona Multidisciplinar que abas-teceu o IAM foi encaminhado para as Escolas e, estas, deveriam refletir os resultados de suas Unidades, buscarem entendimentos, decodifi-carem, inferirem, enfim, a partir de dados reais entenderem em que medida o trabalho estava sendo realizado e, como se poderia melhorar

o que se espera, portanto, é que o co-letivo da escola localize seus proble-mas, suas contradições; reflita sobre eles e estruture situações de melhoria ou superação, demandando condições do poder público, mas, ao mesmo tem-po, comprometendo-se com melhorias concretas na escola. (FREITAS, 2007, p. 978)

A ferramenta a ser usada seria o trabalho coletivo, principalmente por se tratar a educa-ção de um segmento construído e constituído por vários sujeitos. Ao se apresentar a “cul-tura do individualismo” que rotula o traba-lho docente, “contrapondo-se ao ambiente de cooperação que deveria presidir a realização do trabalho educativo” Alonso (2003). As as-simetrias encontradas e, ainda, resistentes na escola são

a maior parte dos professores e diretores que torna-se alienada profissionalmente no isolamento de seu local de trabalho, os quais se negligenciam mutuamente. Não costumam trocar cumprimentos, apoiar-se e reconhecer os esforços posi-tivos uns dos outros. De fato normas for-tes de autoconfiança podem até mesmo evocar reações adversas a um desem-penho bem-sucedido de um professor. (FULLAN & HARGREAVES, 2000)

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Muitos fatores contribuem com a cul-tura do individualismo, Fullan e Hargreaves (2000), mencionam como importante, entre outros, o receio de se exporem à crítica. Onde a Escola deve priorizar sua energia e colaboração, modificar ou até mesmo reco-meçar? Dentro de sua autonomia, as Escolas administram o currículo e, dentro de sua sala, o professor pratica o currículo em ação. Não existe inspeção em sala de aula para verificar o currículo em ação, é o próprio professor quem decide o que deve ser trabalhado em sala. Os diários são passivos, apenas registram o que lhes é escrito pelo professor, não trazem de-terminações, são determinados pela caligrafia indelével do docente; jazem frios e na solidão, só possuem vida quando manuseados pelo do-cente em suas anotações ou por um pesquisa-dor resoluto. Os diários teriam muito a falar e esclarecer, mas ninguém puxa conversa com eles e, ao final do ano, são esquecidos em al-guma caixa a caminho do arquivo morto. Como ilustração e provocação, foram produzidas, a partir das avaliações, as médias que conseguiriam ficar acima da nota 6,00 (nota considerada para aprovação da crian-ça), nesse caso, projetaram-se o percentual de crianças que conseguiriam sua obtenção e, consequentemente sua promoção. Para inquie-tação do grupo, os resultados foram pífios e provocativos, retrataram o insucesso escolar quando as crianças são submetidas a uma ava-liação externa mesmo utilizando os conteúdos fornecidos pelos próprios professores. O Cálculo do Índice de Avaliação Municipal – IAM, foi parametrizado ao IDEB, ou seja, seguiu a mesma fórmula para sua ob-tenção. Seu resultado, matematicamente dife-rente do IDEB, se aproxima estatisticamente, à medida que aponta preocupações com o pro-cesso de aprendizagem. A proficuidade é de estabelecer uma relação direta com os pontos que precisam de maior atenção

os dados não revelam por que ele [a criança] tirou tal nota, como ele se dedi-cou ao estudo dessa disciplina, quantos livros da disciplina ele retirou da biblio-teca; e não conseguem dar um sentido de previsão, ou seja, se o aluno irá futura-mente melhorar ou piorar o seu desem-penho. (VIEIRA et al, 2003, p. 42)

Os “dados tornam-se informações quan-do seu criador lhes acrescenta significado, (...) para que a informação se transforme em co-nhecimento, os seres humanos precisam fazer todo o trabalho” (VIEIRA et al, 2003, apud Davenport & Prusak (1998)) Portanto, os quadros de resultados apre-sentados no plural possuem infinitamente um valor menor do que as singularidades das Escolas que ele representa. Nas escolas, núme-ros e classificações serão traduzidos por sujeitos que terão oportunidade em corrigir rotas, obje-tivando a mudança de uma realidade que não se deseja perpetuar no futuro. Em cada escola; di-retores, pedagogos e professores - que praticam o currículo, e, considerando uma democrática e silenciosa insurgência nas salas de aula- pode-rão melhor adaptar esse currículo, objetivando o sucesso de quem interessa: as crianças. Nesse sistema municipal de Educação, não havia a imposição de um currículo está-tico, até porque se constatou a não existência de uma proposta curricular até aquele momen-to, ou seja, cada escola estava praticando o currículo desejado sem interferência direta da SME. Talvez esse seja o motivo que responda ao assombro do coordenador da disciplina de História quando foi substituir um professor que entrara, subitamente de licença, no meio do ano. No retorno à secretaria, o coordenador revelara sua incrível constatação: “passados 02 bimes-tres, a classe de 6º ano só recebera informes sobre reforma agrária, necessitando agora de “correr com a matéria”. Olhando de uma ma-neira otimista para o “meio copo” com água, o relato serve como atenuante à disciplina de Língua Portuguesa, esta se torna menos culpada do desempenho de outras disciplinas, mas não se redime totalmente de sua responsabilidade. As inferências do grupo, considerando os resultados gerais, foram respaldadas pelo gabinete do secretário de Educação e provoca-ram recomendações e resoluções; produzindo ações e revisões de processos nas escolas. E, quando necessário, para reproduzir os efei-tos legais, foram feitas Resoluções e Estudos encaminhados ao Conselho Municipal de Educação:

recomendação para que o professor que • inicia o 1ºano na turma o continue no 2º, completando o ciclo de alfabetização;

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recomendação para que os professores de • maior experiência atuem na alfabetização;contratação de professores somente com • habilitação em nível superior;instituição da disciplina de “Ética e • Cidadania”;implantação de laboratórios de ciência • nas escolas;acesso a Internet em todas as escolas;• implantação de laboratórios de informática;• instituição de programa de formação con-• tinuada para os docentes;instituição de programa de visitação do-• miciliar do professor à casa da criança.

Algumas ações geradas a partir da im-plantação de um modelo de gestão participati-va, que teve a pretensão capilar de se estender às escolas que compõem o sistema municipal de educação, após a inferência dos dados cap-turados pela Maratona Multidisciplinar pelo grupo de diretores e assessores pedagógicos- resultaram em proposições e ações efetivas de transformação de uma cruel realidade exclu-dente existente e resistente. Como desdobramento das atividades rela-tadas, consideramos a necessidade de acompa-nhamento para avaliação dos resultados em sua nova dimensão proposta, ou seja, de um novo modelo de gestão; bem como o acompanhamen-to da evolução dos indicadores educacionais das escolas para que se verifique como é traduzido, por essa abordagem avaliativa, os índices edu-cacionais. Não houve a pretensão de esgotar o assunto, mas de demonstrar um projeto exequí-vel de gestão democrática dentro da realidade de tantas escolas públicas que sobrevivem à ló-gica política imposta em seu dia a dia.

Referências Bibliografia7.

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Endereço para Correspondência:Agamêmnom Rocha [email protected] Universitário de Volta RedondaCampus Três PoçosAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325,Três Poços - Volta Redonda / RJCEP: 27240-560

Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:SOUZA, Agamêmnom Rocha; FREITAS, Luis Felipe Camêlo de. Maratona multidisciplinar: Construindo Indicadores Locais de Desenvolvimento Educacional. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano VI, n. 15, abril 2011. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/15/47.pdf>

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Notas preliminares de uma crítica feminista aos programas de transferência direta de renda – o caso do Bolsa Família no Brasil

Preliminary notes of a feminist criticism to the income transfer programs – the case of “Bolsa Família no Brasil”

Simone da Silva Ribeiro Gomes1

Resumo

Nos últimos anos, os programas de “luta contra a pobreza” e transferência direta de renda estão presentes na maioria dos países latino-americanos. A partir do primeiro ano de governo do presidente Lula (2003), o Brasil enfatiza essa forma de política social, ao unificar diferentes modelos de transferência do governo anterior (1995-2002) em um só programa: o Bolsa Família. O presente artigo busca expor a crítica da regulação da pobreza e o impacto das condicionalidades referentes a esta lógica de intervenção na reprodução social de um grupo específico. A relação entre o Estado e as mulheres – responsáveis únicas pelo sustento financeiro de suas casas e, majoritariamente, as maiores beneficiárias destes programas - é caracterizada por atravessamentos em termos de classe social, gênero e raça. Ao apresentar a perspectiva feminista, este artigo procura abrir uma série de questões ao analisar como as condicionalidades impostas pelo Programa Bolsa Família tendem a naturalizar o papel reprodutivo das mulheres na sociedade brasileira, limitando seu espaço de agencia-mento e emancipação.

1 Psicóloga, formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mestre em Psicologia Social pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Mestranda em Sociologia e Antropologia pela Université Paris VII.

Abstract

In the last few years programs designated to “fight against poverty” and the income transfer are present in most of the Latin-American countries. After the first year of President Lula’s government (2003), Brazil emphasizes this kind of social politics, by unifying different models of transfer, from the previous government (1995 – 2002), in the same program: “Bolsa Família”. This article aims to expose the poverty regulation criticism and the impact on conditionalities that refer to this logic of intervention in the social reproduction of a specific group. The relation between the State and women – sole responsible for the financial budget of their houses and the main benefitted people of the program – is characterized by a going through in terms of social class, gender and race. By presenting the feminist perspective this article tries to open a series of questions on how these conditionalities imposed by the “Bolsa Família” Program tend to make natural the reproductive role of the women in the Brazilian society, limiting their space in the management and emancipation.

Palavras-chave:

Programa Bolsa Família

Feminismo

Regulação

ArtigoOriginal

Original Paper

Key words:

“Bolsa Família”

Program

Feminism

Regulation

Recebido em 03/2011

Aprovado em 04/2011

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Os programas de transferência 1. direta de renda e o caso do Programa Bolsa Família – contexto e alguns dados

Os programas de transferência direta de renda devem ser considerados frente a um contexto que busca responder aos Objetivos do Milênio2 e sua meta de reduzir pela meta-de a extrema pobreza até o ano de 2015. Os indicadores de progresso dessas iniciativas demonstram um entendimento individualizado da pobreza e que sua mensuração é baseada em características isoladas dos sujeitos, deixando de lado análises que considerem característi-cas como raça e gênero, entre outros índices. Apesar disso, a pobreza brasileira sabidamente possui características femininas e negras, de-monstrando que as mulheres sofrem com su-bordinações de tipo econômico e identitárias. Essas políticas foram amplamente adota-das nos últimos anos como o meio mais eficaz de luta contra a pobreza em diversos países em desenvolvimento. Entre suas característi-cas principais destaca-se i) uma transferência direta de dinheiro; ii) um público alvo defini-do e iii) um sistema de vigilância eficaz. Além disso, uma vez colocadas em prática, afetam pouco os orçamentos governamentais e são relativamente fáceis de administrar, quando considerada a extensão da sua aplicação nos municípios brasileiros e sua distribuição, atra-vés da utilização das redes bancárias. O Brasil é um país de nível de renda in-termediário, um PIB (em dólares) de cerca de 1 trilhão e meio e uma população total de 194 mi-lhões de habitantes, em 20093. A aplicação do Programa Bolsa Família (PBF)4 no país, com o status de política social, data de 2003 e teve o modelo inicialmente desenvolvido no México em curso desde 1997, atualmente, denominado «Oportunidades» como inspiração5. Além do México e Brasil, cerca de 12 países da América Latina possuem programas similares, imple-

mentados a partir dos anos 90 (LINDERT; LINDER; HOBBS; BRIÈRE, 2007). Assim como o PBF, os demais progra-mas de transferência de renda são, desde 2003, valorizados e tidos como exemplos por insti-tuições internacionais (agências de cooperação multilaterais, em especial o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento). Entretanto, a gênese de tais políticas não está em movimentos da sociedade civil, mas sim, na administração pública, sendo ela a res-ponsável por designar as zonas geográficas que são objetos da intervenção e definição da quantia dos benefícios e suas condicionalida-des (Lautier, 2006). Recuperando a lógica de outros progra-mas, o Programa Bolsa Família tem como prin-cípio de funcionamento uma quantia repassa-da pelo governo brasileiro mensalmente para as famílias consideradas “pobres” e “muito pobres”, com condicionalidades nas áreas de educação e saúde . No que tange à educação, a condicionalidade demanda a presença obriga-tória de crianças entre 6 a 15 anos, em 85%; e adolescentes entre 16 e 17 anos, em 75% das aulas. Os cuidados referentes à saúde6 são re-lativos ao seguimento do calendário de vaci-nação para as crianças menores de 7 anos, e os cuidados pré-natais para as mulheres grávidas entre 14 a 44 anos. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) trabalha com qua-tro tipos de benefícios: i) o benefício básico pago para famílias que não possuam crianças; ii) o benefício variável para as famílias com crianças; iii) o benefício variável vinculado ao adolescente; e iiii) o benefício variável de ca-ráter extraordinário, que é o único que tem seu valor calculado caso a caso. O histórico das políticas sociais no Brasil, entre os quais o Bolsa Família se inse-re, conta com o BPC (Benefício de Prestação Continuada)7 e as Aposentadorias Rurais Não Contribuitivas8. Além disso, o PBF é precedi-

2A declaração dos Objetivos do Milênio pelo desenvolvimento (OMD), de 2000,assinada por 189 países, possui 8 objetivos, sendo o primeiro reduzir a pobreza extrema e a fome. 3Segundo o Banco Mundial, fonte : http://donnees.banquemondiale.org/pays/bresil4A política em curso foi regulamentada por meio da Portaria Interministerial do Ministério da Saúde e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome nº 2509, de 18/11/04. (Freitas, 2008)5É interessante notar que em 1996 o governo Mexicano enviou uma delegação para o Brasil para investigar o “Bolsa Escola”, precursos do Bolsa família, para o seu primeiro programa de transferência de renda, “Progresa”, posteriormente denominado “Oportunidades”, em 2002.6Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, em : http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/beneficios.7Instituido em 1993, é um benefício pago pelo Governo Federal, assegurado por lei, à idosos e pessoas com deficiência. Fonte: http://www.mpas.gov.br/conteudoDinamico.php?id=23 8Instituídas em 1991, que ofereciam uma renda estipulada e equivalente ao salário mínimo da época.

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do e incorporou em seu funcionamento o pri-meiro programa de transferência de renda, o Programa Bolsa Escola9; Bolsa Alimentação10 ; Auxilio Gás11 e o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI)12. Considerando tal histórico, a boa avalia-ção13 do Programa é atribuída, em parte, à uni-ficação das políticas sociais do governo Lula, que envolveu desafios de estipulação e execu-ção municipal dos programas, dado os altos custos administrativos de um programa imple-mentado em mais de 5.500 municípios. Os pro-gressos da unificação foram consolidados pela Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), que atribuiu a execução de todos os programas de enfrentamento da pobreza ao âmbito muni-cipal. Além disso, um Ministério foi criado em 2004, o Ministério do Desenvolvimento Social e da luta contra a fome (MDS) para unificar, administrar e executar os programas nacionais de desenvolvimento e da Assistência Social. No âmbito da unificação de programas para o enfrentamento da pobreza, Fenwick (2009) menciona a centralidade dos avanços políticos e conquistas de movimentos so-ciais, no domínio da proteção social após a Constituição Federal de 1988, que municipa-lizaram a assistência social e a participação da população na formulação e implementação de tais políticas. A Constituição esteve no centro do debate político daquela época, com temas como democracia e cidadania, com ênfase para as questões relativas à pobreza e aos direitos sociais, mesmo que os discursos não tenham necessariamente gerado práticas eficientes. Isso posto, a pobreza não foi eliminada e nem todos os brasileiros/as gozam de todos os seus direitos, apesar do respaldo constitucional. ‘Segundo Lautier (2006), o PBF é um exemplo de política de transferência de renda de grande abrangência, com um alto número

de beneficiários e ampla mobilização do apa-rato governamental, como outras financiadas por instituições internacionais14. No que diz respeito a sua abrangência, desde o seu lança-mento, o número de famílias beneficiárias pas-sou de 3,6 milhões, em 2003, a 12,4 milhões, em 2009, o que representa, em média, 46 mi-lhões de pessoas, número inédito em termos de políticas sociais no país. Todavia, o impac-to do PBF no PIB brasileiro continua mínimo, representando cerca de 0,41 %15, um número pequeno frente à magnitude do problema da pobreza no país. Além disso, o PBF está inserido em um contexto comum aos programas de transferên-cia de renda: a garantia de legitimidade aos seus governos, pois a sua implementação sig-nificaria que os governos seriam responsáveis por “fazer qualquer coisa para ajudar os po-bres”. Dessa forma, seriam apresentados como instrumentos da coesão social, da formação de um corpo coletivo que reincorporaria indiví-duos outrora excluídos do seio da cidadania brasileira (Lautier, 2010).

O objetivo do Programa Bolsa 2. Família: a « luta contra a pobreza » e a regulação da miséria

As discussões sobre as transferências de renda devem ser acompanhadas de uma deli-mitação metodológica que situe a concepção de pobreza envolvida, tendo em vista sua im-portância para a implementação do Programa. Nos últimos anos, suas definições somaram conceitos à carência de renda, como a desi-gualdade, exclusão social e vulnerabilidade. A pobreza seria uma situação na qual as necessi-dades de sobrevivência não seriam atendidas,

9Implementado em 2001 pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, com a premissa de R$ 15,00 por filho matriculado na escola, com frequência mínima de 75% . Além disso, as famílias deveriam possuir renda per inferior a 90,00 reais .10Criado em 2001, consistia na complementação da renda familiar (de R$15,00 até R$45,00 por mês) para melhoria da alimentação e das condições de saúde e nutrição, para gestantes; mães que estejam amamentando sus filhos com até 6 meses de idade e crianças de 6 meses a 6 anos de idade. 11Programa de distribuição de renda implementado pelo governo federal brasileiro em 2001, administrado pelo Ministério de Minas e Energia, que consistia no pagamento de R$ 15,00 para cada família com renda de até meio salário-mínimo a cada dois meses, como forma de subsidiar a compra de botijões de gás.12Criado a partir dos anos 90, com o objetivo de retirar as crianças entre 5 a 15 anos de situações de trabalho e mantê-las estudando, o programa foi responsável por uma redução no trabalho infantil de 3,6% a 0,9% entre as crianças de idades de 5 a 9 anos e de 13,6% à 5,8% para as crianças entre 5 a 15 anos. O governo brasileiro estima que o objetivo de erradicação do trabalho infantil deve ser atingido até o ano de 2016. A Convenção n° 182 da OIT, de 1999, ratificada pelo Brasil em 2001, demonstra o compromisso do país até essa data. Fonte: http://www.autresbresils.net/IMG/pdf/bolsa.pdf13Avaliação esta que pode ser observada no consenso entre os dois candidatos nas eleições de 2010, tanto o canditado de oposição, José Serra do PSDB quanto a candidata do PT, Dilma Rousseff afirmaram que manteriam e expandiriam o programa.14Devemos assinalar que o programa é financiado, em certa medida, pelo Banco Mundial, que financia programas similares no México e em outros países em desenvolvimento. No ano de 2009, o Banco Mundial previu um investimento de 2, 4 bilhões de dólares no lançamento de programas de transferência direta de renda em outros seis países: Bangladesh, Colombia, Kenya, Macedonia, Pakistão e Filipinas. 15Segundo Bruno Lautier, se as alocações não possuem um alto custo para o orçamento, elas pesam bastante no debate político. Em: « La diversité des systèmes de protection sociale en Amérique Latine : une proposition de méthode d’analyse des configurations de droits sociaux ».

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não se reduzindo somente à fome, mas ao pa-drão de vida e a forma como estas diferentes carências podem ser satisfeitas num contexto socioeconômico. Para a Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL), o fenômeno seria multidimensional, associado ao subconsumo, desnutrição, condições pre-cárias de vida, baixa escolaridade, inserção instável no mercado de trabalho e pouca parti-cipação política e social (Melo, 2005). É nesse sentido que, dentre outros ob-jetivos16, a “luta contra a pobreza” é a finali-dade mais publicizada do Programa. Segundo o documento do Banco Mundial “The Nuts and Bolts of Brazil’s Bolsa Família Program: Implementing Conditional Cash Transfers in a Decentralized Context” (LINDERT; LINDER; HOBBS; BRIÈRE, 2007), sua meta principal seria a quebra da transmissão intergeracional da pobreza através de incentivos para investi-mentos em capital humano e o empoderamen-to de famílias beneficiárias ao conectá-las a serviços complementares. Dessa maneira, o arcabouço teórico de programas como o PBF teria como base uma compreensão multidimensional e inter-geracional da pobreza. Nesse caso, a fala de gestores como Chris Spohr17, economista do Banco Asiático de Desenvolvimento, que afir-ma que as condicionalidades educativas per-mitem que se rompa o ciclo da pobreza que passa de uma geração a outra e contribui para o fim do trabalho infantil, é ilustrativa de tais prerrogativas. Amartya Sen18 aproxima-se dessa visão ao teorizar sobre a desigualdade de oportunidades para além de um desequilí-brio de recursos e resultados. O teórico atri-bui ao desenvolvimento humano individual a redução das desigualdades, através do reforço das capacidades das pessoas. Sua concepção de “desenvolvimento como liberdade” (2000), prega uma expansão das liberdades humanas, que reduziria a pobreza. Ao Estado só cabe-ria aumentar essas liberdades, principalmente dos que se encontram em situação de pobreza (Freitas, 2008). É dessa forma que observamos que a combinação de transferência de renda com

acesso aos serviços de base, presente nos programas da maioria dos países em desen-volvimento, reflete uma compreensão na qual a pobreza inscreveria seus déficits em várias dimensões. A ênfase no desenvolvimento hu-mano, particularmente através da escolariza-ção das crianças, é um indicativo de uma pre-ocupação com a continuidade da pobreza. É nesse ponto que enxergamos uma gestão dos riscos sociais como uma dimensão adicional, já que a base teórica do entendimento das for-mas de “luta contra a pobreza” contaria com elementos que não visariam simplesmente ao aumento da renda no curto prazo, mas tam-bém no longo prazo, de forma a romper o ci-clo da pobreza intergeracional19 (Barrientos e Santibanez, 2009). É, portanto, anunciada a crítica da regula-ção da pobreza, formulada principalmente por Lautier e Salama (1995), ao afirmar que pro-gramas dessa natureza não rompem o ciclo de produção da pobreza, mas servem como uma forma de regulação da miséria. Segundo os autores, programas de transferência de renda, como o PBF, encontram-se dentro de um cam-po constituído - o “social” - cuja reprodução não tem como objetivo a eliminação da misé-ria, mas sua governância, incidindo sobre a ca-pacidade dos pobres em existir e agir livremen-te dentro de uma relação de poder específica. Tal relação estaria inserida na ideolo-gia liberal capitalista que arregimentaria os distintos setores sociais em propostas políti-cas redistributivas, mas conservadoras. Dessa maneira, o social e as “políticas sociais” apa-recem como uma estratégia de despolitização das desigualdades, uma forma de tratá-las em termos de gestão, organização e técnicas, ao invés de programas que estabelecessem nor-mativamente um status de cidadania e direitos políticos para seus beneficiários. O fato de tais políticas terem um propó-sito regulatório não é novidade, como pode-mos observar pelos programas implementados na Europa a partir do século XVI. É nesse pe-ríodo que traçamos a gênese dos fundamentos das políticas sociais cujo objetivo era de con-trole ou pacificação das relações sociais, onde

16Junto com o combate a fome e a promoção da segurança alimentar; o incentivo ao acesso aos serviços públicos, principalmente a saúde, educação e a assistência social; a criação de possibilidades de autonomia dos grupos familiares e desenvolvimento local dos territórios.17Fonte: Direct Matin, n 767, 5 Novembro 2010, « Manille à l’assaut de la pauvreté »18Segundo Armand Colin (2009), em : Glossaire “Les mots de Sen..et au-delà «, Revue Tiers Monde, 2009/2 (n° 198)19No original em ingles: “aim to break the cycle of intergenerational poverty” (BARRIENTOS e SANTIBANEZ, p.12, 2009).

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a luta contra a pobreza serviria para colocá-la em limites aceitáveis, cumprindo uma função política. Para Lautier (2006), tal funcionalida-de dos pobres seria dada por um utilitarismo no qual é seu número que os tornaria politica-mente úteis, entendendo que um alto número de pobres seria politicamente perigoso:

O objetivo da eliminação da pobreza, ao entrar na retórica política, sempre escondeu seu objetivo verdadeiro : a regulação da mesma. Se os pobres são politicamente úteis, um excesso de pobres é politicamente perigoso. Tais proposições seguem pertinentes não somente pela luta contra a pobreza con-temporânea, como também pela totali-dade da proteção social essa também serviria para “pacificar” as relações sociais, a normalizar os comportamen-tos e a desmobilizar os conflitos (LAU-TIER, 2006, p.10)20.

É nesse sentido que cabe ressaltar a ob-servação de Lautier (2006) sobre a implemen-tação de programas de transferência de renda como um dever da sociedade a que, paradoxal-mente, não corresponderia nenhum direito do cidadão, já que o recebimento do benefício não garantiria o status da cidadania para a popula-ção atendida. Ao enquadrá-los na assistência, as transferências são dadas segundo o cum-primento de determinadas condições e regras estritamente definidas. É dessa forma que esse enquadramento não garante a outorga de direi-tos individuais, mas sim um direito através do pertencimento a uma categoria, que os pobres não podem sequer reivindicar como sua. Um outro aspecto relativo à falta de re-ferência a direitos do PBF é seu acesso não ser garantido de forma incondicional. A partir do momento em que a quota de famílias atendidas no município é preenchida, a inserção de no-vas fica “impossibilitada”, independentemen-te de seu grau de vulnerabilidade e, portan-to, passíveis do recebimento desse “direito”. Freitas (2008) faz uma referência à regulação legal e ao disciplinamento da política, que atu-ariam em paralelo a uma utilização da mídia

para buscar o consenso de seus beneficiários e da sociedade como um todo. Já Lautier e Salama (1995) encaram a falta de direitos sob a perspectiva de uma cer-ta “infantilização” dos pobres, na medida em que ter seus direitos legitimados não significa-ria ter a possibilidade de pensar sobre se esses são colocados em prática. A pacificação das relações sociais possui um efeito de normali-zação dos comportamentos e desmobilização dos conflitos; essa forma de gestão da pobreza seria um dos fatores responsáveis por sua des-politização. Como veremos no item a seguir, o público mais atingido pela pobreza no país, mulheres e negras, apesar do recebimento dos benefícios, ainda sofrem com a falta de acesso ao espaço público e cidadania. Dessa forma, a questão dos pobres no país passaria a ser encarada como um proble-ma humanitário e não de regulação política. Os pressupostos normativos de ordem moral, ele-mento das políticas de transferência direta de renda, embasados no emprego de uma deter-minada linguagem, possuem, a destarte disso, um tratamento técnico, como afirma Lautier (1995, p.6): “uma vez feito o diagnóstico mé-dico, a farmacologia pode intervir. O perigo é a pobreza não absoluta (relativa) acabar sendo naturalizada, se não desculpada. Seu tratamen-to é, de qualquer forma, postergado21. A cidadania reaparece na crítica da re-gulação formulada por Lautier (2006), com a falta de rearticulação dos direitos sociais fundados sob o seu o preceito, em oposição aos direitos sociais anteriores, cujo ponto de inflexão tinha como centralidade o status de trabalhadores. O status de cidadão ligado ao trabalho é de difícil vislumbre em um Brasil com um mercado de trabalho cada vez mais precarizado, com a diminuição do número de carteiras assinadas e o aumento dos empregos informais. Para Castel (1998), o trabalho im-plicaria não somente em técnicas de produção, mas em relações sociais, culturais e identitá-rias de indivíduos. Para o autor, o conceito de desfiliação expressaria a não inscrição nas re-lações sociais hegemônicas, que pode se dar

20No original em francês (tradução da autora) : » L’objectif d’élimination de la pauvreté, s’il joue un rôle dans la rhétorique politique, a toujours masqué le véritable objectif : réguler la pauvreté. Les pauvres sont politiquement utiles ; trop de pauvres est politiquement dangereux. Ces propositions restent pertinentes non seulement pour la lutte contre la pauvreté contemporaine mais aussi pour la totalité de la protection sociale : celle-ci sert à « pacifier » les rapports sociaux, à normaliser les comportements et à désamorcer les conflits ».21Tradução da autora. No original Lautier (1995, p.6) « de même qu’une fois fait le diagnostic médical, intervient la pharmacopée). Le danger est alors évidemment que la pauvreté non absolue (relative) est de ce fait même naturalisée, sinon excusée ; son traitement est en tout cas remis à plus tard ».

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pela negação dos indivíduos ou pela falta de oportunidade de acesso. Dessa maneira, o debate político é, em certa medida, desarticulado de um projeto uni-versalista, já que, para essa assistência – agora desconectada dos direitos ligados ao trabalho –. o auxílio só existe como contrapartida à submissão à nação. Tal ambiguidade, expres-sa em um auxílio financeiro não vinculado ao trabalho, pode ser interpretada de duas formas: ora como uma ajuda mínima cedida aos pobres para se ver livre do problema, ora como o reco-nhecimento e contrapartida ao papel reprodu-tor do cidadão, partícipe da nação, através da família – vida local coletiva -, e na reprodução e transferência de valores simbólicos. Contudo, nem todos os autores são unâ-nimes em considerar as contrapartidas des-sas políticas como um exemplo de gestão da pobreza. Hall (2006) defende que os progra-mas de transferência de renda são também responsáveis por um desenvolvimento de ca-pital humano, ao oferecer outras inovações e vantagens aos usuários em contraposição aos benefícios sociais tradicionais. A formação do capital humano constaria no aumento da res-ponsabilidade da família, com ênfase na saú-de, educação e outros componentes considera-dos essenciais para a vitória sobre o que seria reconhecido como a “luta contra a pobreza”. No entanto, Freitas (2008) considera que o investimento nesse capital significaria maio-res recursos à disposição da produção, logo, às futuras gerações. Sua leitura é da ótica de um individualismo produtivo, que beneficiaria os indivíduos capazes de gerar mais renda. A partir dessa lógica, a solução para a pobreza residiria na melhoria das capacidades produti-vas das pessoas que, por definição, são pobres porque teriam pouca capacidade produtiva, as pessoas valeriam o que podem produzir eco-nomicamente.

A crítica feminista – o papel das 3. mulheres nessa regulação

É importante ter em conta o público atin-gido de forma mais direta por programas de transferência de renda: as mulheres, mães de família. Estas estariam inseridas em um perí-odo particular, o fim dos anos 80, quando se

tomou consciência sobre os limites do impac-to de programas tradicionais de erradicação da pobreza. Foi a partir desse momento em que houve uma mudança de paradigma para iniciativas que não somente buscassem a me-lhoria da renda dos pobres através de progra-mas participativos, mas também fornecessem ferramentas para a criação de possibilidades efetivas para aqueles que vivem em situação de pobreza (Cortes, 2008). Nessa época, assistiu-se a um empobre-cimento e uma feminilização geral da popula-ção na América Latina. Dada a nova face da população, observou-se o crescente empobre-cimento das classes médias, que acrescenta-ram novos públicos-alvo para os programas tradicionais de transferência de renda que pas-saram dos pobres estruturais para também as mulheres e, particularmente, às famílias diri-gidas por elas. O termo “feminização da pobreza” foi pri-meiramente utilizado por Diane Pearce (1978) no contexto das mudanças de padrões de gênero nas linhas de pobreza nos Estados Unidos entre as décadas de 50 e 70. O aumento do número de famílias pobres chefiadas por mulheres pas-sou a ser parte da retórica governamental e das agências de fomento nos EUA a partir da déca-da de 70, associado à ampliação da visibilidade de mulheres entre as mais pobres pelo aumento do divórcio, separações e viuvez. Segundo Castro (2001), foram as femi-nistas as responsáveis por chamar a atenção para o aumento da visibilidade da pobreza das mulheres, já que, historicamente, o trabalho feminino não remunerado de cuidado não con-tava como produção de riqueza. Além disso, caso considerada somente a renda individual, seriam as esposas, e não as mulheres chefes de família, as que mais se destacariam como as mais pobres entre os pobres, assim como as mais velhas vivendo sós. Dada a percepção do crescimento das famílias pobres chefiadas por mulheres, que se acredita proporcionar um maior risco de transmissão intergeracional de pobreza do que as familias nucleares pobres, começou-se a pesquisar, em um escopo maior, o consumo familiar, as condições de saúde e a inserção dos filhos na escola e no mercado de trabalho. Segundo Freitas (2008), é por esse motivo que os programas de transferencia direta de ren-

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22Segundo Luana Pinheiro et al en “Retrato das desigualdades de gênero e raça” 3. ed. Brasília: Ipea; SPM: UNIFEM, 2008.23Em uma pesquisa em 229 municípios, a partir de 94% das benefíciarias mulheres do programa. IBASE – 2008.24Constatado de forma pioneira por Melo (2005), a partir dos dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2001. Seu trabalho mostrou que existiriam fatores de gênero que incidiriam com maior peso na vida das mulheres e que as tornam mais vulneráveis com a relação à pobreza, agravadas pela questão racial.

da têm como beneficiárias diretas as mulheres cujos filhos menores residem no mesmo do-micílio, havendo uma preferência por aquelas que sejam chefes de família.

3.1 O PBF e as mulheres brasileiras

Se considerarmos o contexto brasileiro, o PBF se insere em um país onde 33%22 das famílias são chefiadas por mulheres e, segun-do o IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas23, 27% são mães sol-teiras e 64% são negras ou pardas. Ao obser-varmos as características da pobreza no país, assim como a composição dos beneficiários do Programa, entendemos que as mulheres negras constam frequentemente entre as mais pobres, retrato da persistência de uma desigualdade histórica24. Tais desigualdades, marcadas estrutu-ralmente pelo sexo e pela raça, refletem tam-bém um processo que afeta a relação entre as mulheres e o Estado, que seria permeada por obrigações impostas pelo aparelho estatal, que estende seus efeitos no tempo e no trabalho das mulheres, sobretudo, a partir das condi-cionalidades das políticas de transferências de renda. Segundo Mariano e Carloto (2009), tais encargos ampliam outras responsabili-dades impostas pela esfera governamental, como a execução de tarefas ligadas ao cuidado das crianças, adolescentes, idosos e doentes. Através de políticas de transferência de renda, as responsáveis pela casa são frequentemente convocadas a participar de atividades suple-mentares (como, por exemplo, grupos educa-tivos), sendo ainda mais sobrecarregadas de obrigações ligadas à reprodução social. A crítica feminista começa a incidir a partir desse momento, enfatizando que as mu-lheres são o público prioritário nesse tipo de política e o principal objeto de intervenção na “luta contra a pobreza”. Tendo em vista que a titularidade do Programa é preferencial, e não compulsória às mulheres, ação valorizada por 87,5% dos beneficiários, segundo o estudo do IBASE, que responderam que as mulheres deveriam ser mesmo as responsáveis pelo re-

cebimento do benefício. Podemos inferir, a partir disso, que a prática implementada refor-ça o imaginário coletivo sobre a exclusividade feminina nas tarefas de reprodução social. As condicionalidades dos programas de transferência de renda são os principais objetos de crítica de um estudo realizado por Molyneux e Tabbush (2008), em 10 municípios no Brasil, com 145 entrevistas semiestruturadas com be-neficiárias do PBF e 54 funcionárias do gover-no. Tal estudo demonstrou que o benefício fica, via de regra, à cargo das mulheres, sobretudo graças ao caráter das condicionalidades, ligadas à saúde e educação das crianças. Isso posto, na perspectiva da esfera do-méstica e da reprodução, tais mulheres não cumpririam somente o papel de beneficiárias dos programas, mas acumulariam a tarefa de serem as principais interlocutoras de tais ações, responsáveis pelo cumprimento das condicionalidades impostas. Como enfatizado por Molyneux (2006) essa seria a visão tradi-cional dos papéis de gênero, que residiria na base desse tipo de programa, responsável por reforçar tais relações assimétricas. A autora, em 2008, afirma que tal re-forço não é uma prerrogativa contemporânea, pois, se nos países em desenvolvimento a transferência de dinheiro para as mães visan-do às crianças é recente, desde a década de 30, a Europa Ocidental já possuía campanhas que enfatizavam as responsabilidades ditas femi-ninas. As justificativas utilizadas eram seme-lhantes às atuais, já que reforçariam um papel natural realizado pelas mulheres, que seriam mais responsáveis no que concerne a gestão da unidade familiar e o cuidado com as crianças. Desde a década de 30, portanto, assisti-mos a razões consensualizadas pela sociedade para a concentração de recursos financeiros nas mãos das mulheres que teriam como efei-to a acentuação de diferenças que justifica-riam a segmentação de gênero no que tange às responsabilidades domésticas. Todavia, é preciso saber se, ao enfatizar a ligação entre as necessidades das crianças e um modelo ma-ternal ligado aos cuidados e as responsabili-dades domésticas, tais programas podem ser

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responsáveis por reproduzir esse modelo, em particular pelas mães beneficiárias no médio e longo prazo. Ainda nessa crítica ao reforço dos papéis maternos, Molyneux (2008) busca enfatizar que as políticas contra a pobreza seriam mais eficazes se, ao visarem a um grupo em par-ticular, não aumentassem as desvantagens de um outro grupo vulnerável no mesmo proces-so – no caso, as mulheres. A prerrogativa que concerne aos programas de transferência de renda seria a produtora de um ciclo vicioso – as crianças, as unidades familiares e as mulhe-res se beneficiariam todos de um dispositivo simples de transferência de dinheiro entregue às mulheres. O benefício recebido é, sim, empregado quase que totalmente nos gastos familiares, como constatado pelo IBASE (2007), em que as famílias gastariam, em média, R$ 200,00 mensais com alimentação, cerca de 56% da renda familiar total. O dinheiro recebido com o PBF seria empregado principalmente com determinados itens para o bem-estar domés-tico, em ordem: alimentação (87%), material escolar (46%), vestuário (37%) e remédios (22%). Dessa forma, podemos perceber que as necessidades da família são atendidas, mas não existe uma medida de valorização da mu-lher de forma autônoma nesse processo. No que tange às múltiplas relações dos que vivem em situação de pobreza, programas como o Bolsa Família costumam reproduzir as prerrogativas que tratam a pobreza como uma necessidade social descontextualizada, retiran-do elementos essenciais na reprodução social, entre os quais as relações de gênero. As diretri-zes governamentais de programas como o PBF alegam, entretanto, ir além dessas concepções graças à participação e empoderamento fe-mininos, decorrente do aumento da renda. A prática, apesar disso, vê programas fundados sobre concepções de papéis sociais das mulhe-res que não levam em consideração suas ne-cessidades diferenciadas ou os riscos sociais a que são confrontadas (Molyneux, 2007). As próprias diretrizes do Banco Mundial reforçam os estereótipos de gênero, ao afirmar que as mulheres seriam as mais in-

dicadas a receber o benefício, pois refletiriam “a evidência internacional e brasileira que as mulheres são mais propensas a investir a renda adicional no bem-estar de seus filhos” (World Bank, 2007, p. 52). Tendo em vista que é um dos principais financiadores do Programa, o Banco Mundial25

afirma que a forma como o pagamento é exe-cutado, via cartão bancário, se apresentaria como uma das vantagens da política. A utili-zação dos bancos reduziria as possibilidades de clientelismos - uma vez que as autoridades públicas não estariam envolvidas na entrega de prestações diretamente aos beneficiários - e criaria um vínculo inédito entre as beneficiá-rias do PBF - pobres - ao sistema bancário, au-xiliando em seu desenvolvimento e na promo-ção de sua identidade e autoestima. Todavia, o processo inaugura uma nova forma de subal-ternização das mulheres, na medida em que fi-cam submetidas a um modelo de clientelismo local, como vigilantes das condicionalidades. É interessante notar a desvantagem su-blinhada pelo BM a respeito dessa forma de distribuição, que seria a perda de pontos de contatos com as beneficiárias do Programa e os funcionários, outrora úteis para o monitora-mento das condicionalidades e para a verifica-ção de dados de base. Dessa forma, os financia-dores deixam implícito seu caráter regulatório, uma relação de outorga de um benefício frente ao cumprimento de determinadas condições. O cumprimento das condições esta-belecidas a partir do já explicitado contexto frequente de famílias monoparentais, onde as mulheres são as responsáveis únicas pelo sus-tento de suas casas, conta com contextos de privações adicionais. A ausência de serviços públicos de saúde e educação eficazes faz com que as beneficiárias, segundo elas proprias, se tornem as únicas responsáveis por todo o pro-cesso. O simples aumento na renda não é capaz de superar a situação precária da saúde e da educação de alguns municípios do Brasil, em que somente 42,6% das famílias têm acesso à rede de esgotos26 e 70,3% utilizam o gás de bo-tijão como principal energia para cozinhar. A situação é tal que, em determinados lo-cais do país, famílias inteiras não conseguem

25Segundo o documento “Nuts and Bolts of Bolsa Família”, de 1997.26Segundo o estudo do IBASE “Repercussões do Programa Bolsa Família na segurança alimentar e nutricional das famílias beneficiadas”, de 2008.27Segundo dados do Censo Escolar do MEC de 2009.

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aceder ao PBF, pois seus filhos não possuem qualquer registro civil. Além disso, a falta de creches é um problema para as mães em mais de 827 municípios27, que não podem contar com um lugar para seus filhos entre 0 e 3 anos. Alheios à situação de pobreza estrutu-ral em muitas partes do país, para o Banco Mundial28 , o não cumprimento das condicio-nalidades representa um sinal para os gestores de que as famílias beneficiadas possam estar em risco ou precisando de serviços adicionais. Os responsáveis pelo PBF já afirmaram repe-tidamente que o foco do programa é auxiliar as famílias a cumprirem as condicionalidades e não puni-las em caso de não cumprimento. Todavia, o não cumprimento sucessivo invo-caria o aspecto “contratual” do Programa, le-vando ao bloqueio do benefício, suspensão e ao posterior cancelamento.

3.2 A crítica ao empoderamento femi-nino providenciado pelo PBF

O empoderamento29 das mulheres, pro-porcionado pelo Programa, um dos subtemas do PBF, assim como o aspecto de gênero, apesar de não constarem oficialmente em suas normativas e diretrizes segundo o IBASE (2007), são objetivos implícitos da política, enfatizados por seus gestores e financiado-res. Se, por um lado, os recursos financei-ros são uma fonte de renda e, portanto, uma forma de empoderar as mulheres, por outro, existem limitações dadas às próprias relações entre homens e mulheres, como demonstrado por Todorova (2009). Segundo a autora, para que o aumento da renda pudesse transformar as relações de gênero dentro das famílias, se-ria necessária uma participação dos cônjuges nas condicionalidades, fato pouco usual. Na Argentina, por exemplo, os homens dizem que o seu cumprimento30 cabe às mulheres e, portanto, eles teriam vergonha de participar. A utilização da retórica do empodera-mento não é novidade, fazendo parte das polí-ticas públicas voltadas para as mulheres desde

a década de 1970, vinculadas ao movimento feminista e a organizações da sociedade civil, de forma a aumentar a autoconfiança femini-na. Segundo Freitas (2008), contanto, para que tais políticas conduzam a um real empodera-mento de mulheres em situação de pobreza, seria necessário mais do que as discussões e treinamentos existentes nos programas como o PBF. A autora sublinha que, apesar de poder funcionar como o pontapé inicial do processo, não haveria a possibilidade de solidificá-lo, já que as mulheres efetivamente não participam dos processos decisórios relativos à concep-ção, execução e à avaliação dos Programas. Para Caldeira (2007), ao ligar o cumpri-mento das condicionalidades ao bem-estar de crianças, adolescentes e mães, sem intervir diretamente no dos demais integrantes das fa-mília, se reitera a permanência de uma relação assimétrica de poder e a manutenção de uma relação de interdependência. Situação oposta ao que se espera da realidade do empoderamen-to, que deveria diminuir o isolamento social fe-minino e aumentar sua visibilidade, principal-mente na esfera pública, algo não observado no estado atual do PBF. Há também um excesso de responsabilidades delegadas às famílias por um Estado incapaz de controlar socialmente os impactos provocados por mudanças relativas ao trabalho, à educação e à saúde. A possibilidade de empoderamento real de programas como o PBF é também relati-vizada por Molyneux (2008), ao afirmar que seria possível aumentar a autonomia e socia-bilidade de algumas mulheres em suas famí-lias, todavia com alguns “efeitos colaterais”. Estes efeitos podem ser percebidos em alguns contextos em que o ingresso no PBF provocou a criação ou mesmo o acirramento de certas tensões entre os casais, levando-os a situações de violência, na medida em que os maridos se recusam a agir em um ambiente de maior au-tonomia feminina. De acordo com Molyneux e Tabbush (2008)31 , há diferentes discursos sobre o em-poderamento: a fala dos gestores e das mu-

28Segundo o documento “Nuts and Bolts”, de 2007.29Empoderamento é um termo comumento utilizado por ONGs, tradução do inglês empowerement, que diria respeito a uma alteração radical dos processos e das estruturas que reproduziriam a posição da mulher como submissa. O termo chama a atenção para a palavra “poder” e sua relação social, que implicaria em uma fonte de opressão, autoritarismo, abuso e dominação. O feminismo, porém, fala deste como uma fonte de emancipação e forma de resistência (LISBOA, 2008).30O Programa “Plan Jefes y Jefas de Hogar Desocupados”, implementado no país em 2001, objetiva a transferência de renda para famílias com adultos desempregados que tenham dependentes até a idade de 18 anos ou com pessoas com qualquer tipo de deficiência (física ou mental). Fonte: Armando Barrientos, Miguel Niño-Zarazúa and Mathilde Maitrot. Social Assistance in Developing Countries Database - Brooks World Poverty Institute (2010)31Os resultados dessa pesquisa dizem respeito à avaliação do Programa Oportunidades, no México.

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lheres, responsáveis pela renda, que se inter-cruzam. Os primeiros afirmam aumentar a capacitação das mulheres e seus rendimentos através da aprendizagem na educação, saúde e, principalmente, com a criação de uma rede de solidariedade, que as tornaria mais confiantes em si mesmas. É nesse sentido que os discur-sos de 48,8% das mulheres32 confirmam essa avaliação, pois afirmaram se sentirem mais independentes financeiramente e 39,2% afir-maram que seu poder de decisão em relação ao destino do dinheiro da família aumentou. Segundo o IBASE (2008), o empodera-mento providenciado pelo Programa seria o resultado do desenvolvimento de um capital social e da aprendizagem através da participa-ção em grupo. Todavia, Molyneux e Tabbush (2008) verificaram que não houve mudanças no que tange à tomada de decisões, que conti-nuaria restrita às interações sociais femininas mais imediatas, apesar do aumento do poder de decisão em relação às despesas de casa, do-mínio previamente exclusivo dos homens. As críticas feministas sobre o cumpri-mento das condicionalidades se intercruzam com o advogado empoderamento do PBF, na medida em que há uma sobrecarga de tarefas nos domínios da educação, saúde ou assistência à criança. Tais tarefas, culturalmente relegadas às mulheres, não podem ser empoderadoras, na medida em que consomem tempo e energia que poderia ser utilizada para a obtenção de condi-ções de igualdade nos processos políticos e de espaços no mercado de trabalho, contribuindo para a manutenção das desigualdades entre os gêneros (MEDEIROS, BRITTO & SOARES, 2007). Em última instância, o preenchimento das tarefas impediria a maior participação das mulheres nos espaços públicos. A respeito da inclusão alegadamente proporcionada pelo PBF, se por um lado a po-lítica tem como um de seus objetivos incluir as mulheres outrora desconsideradas no seio da cidadania brasileira, principalmente atra-vés da utilização de documentos de identidade (e do registro bancári o dos beneficiárias/os), nem sempre o efeito gerado é uma inclusão ci-dadã. Segundo Molyneux e Tabbush (2008), é recorrente um desconhecimento das mu-lheres sobre a regulamentação e objetivos do Programa, que saberiam somente que devem receber uma quantia mensal fixa.

No que tange à alegação do aumento da visibilidade social das beneficiárias, através da elevação do seu poder de consumo e de com-pra, é preciso dimensionar a inclusão social proporcionada pelo PBF. Se em muitos casos o aumento da renda é capaz de retirar famílias de situações de miserabilidade, ainda assim é preciso ter em conta que restam casos em que a renda providenciada não seria suficiente para trazer tamanho impacto no orçamento domés-tico. Dessa forma, estando limitada à esfera da sobrevivência, os benefícios não teriam a ca-pacidade de proporcionar uma maior noção de direitos e cidadania (Molyneux e Constanza, 2008).

Conclusão4.

À guisa de conclusão, é importante situ-ar quem são, em sua maioria, as beneficiárias do Programa Bolsa Família no Brasil, mulhe-res chefes de família, negras e pobres. Berquó (2002), afirma que o número de domicílios che-fiados por mulheres era de 26% em 1999, sen-do que as mulheres negras sem cônjuge, mas com filhos, em 1998, representavam 20,7% da população . É nesse contexto que se inserem as transferências diretas de renda, característi-cas do Estado brasileiro a partir dos anos 2000, frequentemente uma responsabilidade das mu-lheres, sobretudo por suas condicionalidades ligadas à saúde e à educação infantil. Tais responsabilidades geram, com fre-quência, uma sobrecarga de trabalho impos-ta às mulheres. Além disso, os princípios de igualdade dentro da concepção do Programa, que teriam o empoderamento feminino como um de seus subtemas, não parecem possuir o efeito esperado quando se observa que é pouco usual que as relações de poder entre os casais sejam modificadas. É nesse sentido que a crítica feminista chama a atenção para o fato de que é neces-sário uma corresponsabilidade, ou seja, um maior envolvimento dos homens nesse tipo de programa. Além disso, para que o alegado empoderamento das mulheres fosse real, seria necessário, segundo Molyneux (2008), que os recursos fossem empregados de forma a melho-rar as capacidades das mulheres em assegurar sua independência econômica e seu bem-estar

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físico e mental. A autora afirma que o aumento da autonomia social e econômica das mulheres deve constar como um dos objetivos do PBF, com instrumentos para mensuração. Freitas (2008) afirma que o objetivo do PBF de superação da pobreza não deve ter como prerrogativa a ideia de rede de proteção social como emergência de curto prazo, pois não seriam políticas que atuam no nível dos princípios que determinam as tensões próprias da questão social. O Programa deveria, para a autora, integrar as partes, pobres e ricas, em-pregadas e desempregadas, de um modo radi-calmente diferente do atual, de forma a inserir de forma efetiva na discussão de políticas de combate à pobreza, questões ligadas à classe social, raça e gênero. A questão da inserção profissional das mulheres é levantada por Lavinas e Nicolli (2006), que afirmam que, junto ao nascimento do discurso da feminização da pobreza adota-do pelos governos e instituições internacionais, houve um aumento da visibilidade das mulhe-res pobres nos programas de transferência di-reta de renda, ligado ao cumprimento das con-dicionalidades. Todavia, a promessa de vencer a “luta contra a pobreza” não inclui políticas ligadas à inserção dessas mulheres no mercado de trabalho. Tal falha é apontada também por Molyneux (2007), que afirma que os progra-mas que não possuem essa diretriz seriam in-capazes de reduzir a vulnerabilidade feminina. O estudo realizado pelo IBASE (2008) é também categórico em afirmar que apesar de algumas melhorias visíveis na vida das mu-lheres, como o aumento de sua independência financeira, maior influência no planejamento dos gastos, e um sentimento de respeito ao aumentar sua influência no âmbito familiar e na comunidade, continua baixo o investimento em políticas capazes de garantir a inserção das mulheres no mercado de trabalho. O caso brasileiro precisa ser considerado - frente às demandas para além de um bene-fício instituído - como política social da for-ma que as políticas de transferência de renda o são. As mulheres pobres brasileiras neces-sitam também de meios para autonomizar-se dentro das relações de gênero e nas posições dentro do mercado de trabalho. Faz-se, então, necessárias políticas complementares como o fornecimento de creches e escolas públicas de

tempo integral, que seriam iniciativas em fa-vor da inclusão das mulheres na vida produti-va e, por consequência, na redução da pobreza de suas unidades familiares.

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Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:GOMES Simone da Silva Ribeiro. Notas preliminares de uma crítica feminista aos programas de transferência direta de renda – o caso do Bolsa Família no Brasil. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano VI, n. 15, abril 2011. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/15/57.pdf>

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A semiologia médica no século XXI

The medical semiology in the 21st century

Adriana Novaes Rodrigues1

Cleize Silveira Cunha2

Cristiane Silveira Cunha3

João Ozório R. Neto3

Mauro Tavares4

Resumo

Os autores analisam a importância da Semiologia Médica na formação profissional do médico para o século XXI. Verificam o abandono da propedêutica, o que prejudica enormemente a relação médico-paciente, pilar fundamental da formulação do diagnóstico clinico correto.

1 Mestre em Ensino de Ciências da Saude - USP, Doutoranda em Ciencias da Saude - USP2 Fisioterapeuta, Mestranda em Clínica Médica: Terapia Intensiva - UFRJ3 Mestre em Ensino em Ciências da Saúde – UniFOA, Docente do Curso de Medicina - UniFOA.4 Doutor em Cirurgia Geral - UFRJ, Docente do Curso de Medicina - UniFOA

Abstract

The authors analyze the role of medical semiotics in the professional training of physicians in the 21st century . They verify the abandon of propaedeutics, that harms the patient-doctor relation, the fundamental basis to the formulation of the correct clinical diagnosis.

Palavras-chave:

Ensino-aprendizagem

Semiologia

Educação médica

Key words:

Teaching-learning

Semiology

Medical Education

ArtigoOriginal

Original Paper

Recebido em 09/2010

Aprovado em 04/2011

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Introdução1.

Semiologia vem do grego Semeion (sinal) e Logos (discurso), ou seja, o estudo dos sinais das doenças. É a arte, a ciência metodizada do diagnóstico clínico; requisito indispensável para a terapêutica e o prognóstico (RODRIGUES, 2003). O exame semiológico bem feito torna desnecessária a solicitação de exames comple-mentares, vários deles dispendiosos e, outros, às vezes, inacessíveis. Somente a anamnese bem realizada faz em torno de 60% dos diag-nósticos clínicos. Quando associada ao exame físico a acurácia aumenta para perto de 80%. Essa associação possui a vantagem de indicar corretamente o melhor exame complementar a ser solicitado, com reflexos econômicos ime-diatos, principalmente para o setor público de assistência médica (BENSEÑOR, 2006).

Fig. 1 - Hipócrates (em grego, □πποκράτης) — (Cós, 460–Tessália, 377 a.C.)

Coube a Hipócrates (Fig. 1), meio mi-lênio antes de Cristo, sistematizar o método clínico, dando à anamnese e ao exame físico – este pautado basicamente na inspeção e na palpação – uma estrutura que em quase nada difere da que encontramos hoje. A pedra an-gular da medicina ainda é o exame clinico e nunca será demais repetir sua importância (PORTO, 1987). Na maioria das vezes, os alunos da graduação não gostam de fazer ana-mnese, pelo trabalho que acarreta, desdenhan-do-a. A medicina atual apóia-se cada vez mais nos recursos tecnológicos, não apenas no que diz respeito aos exames complementares, mas em toda a sua dimensão. É uma característi-

ca crescente e, podemos afirmar que vivemos um período de transição entre dois tipos de medicina: da hipocrática para a tecnológica (PORTO, 1987). Seriam essas as causas do abandono dos processos semiológicos? A re-alização da anamnese seria tão desagradável que poria em risco a relação médico-paciente e a enunciação de um diagnóstico clínico cor-reto? O presente artigo se propõe a refletir so-bre as modificações e fatores intervenientes no ensino da semiologia para o século XXI.

Objetivo2.

Analisar a literatura pertinente, situando a semiologia no curso de graduação da escola médica de hoje, verificando suas falhas e seu papel na formação do médico.

Discussão3.

Atribui-se a origem do tecnicismo desenfreado na escola médica a Abrahan Flexner, educador norte-americano, que, em 1910, propôs, baseado na filosofia liberal eu-ropéia, a divisão do curso de medicina em ci-clos básico e clínico. O ensino era centrado no hospital universitário que também respondia pela pesquisa clínica. Esse método de apren-dizagem ativo – doutrina flexneriana - seria responsável pela fragmentação do ensino e o favorecimento à especialização precoce, po-rém, é muito mais verossímil crer que a maior responsável é a corrente neoliberal americana do pós-guerra. A indústria americana, que pro-duzia equipamentos, insumos e medicamentos em larga escala e possuía uma visão utilitaris-ta de mercado exportador e de agente deten-tor das principais patentes; ditou as ações e as características de mercado, definidas como a globalização, que vivenciamos hoje. As pessoas passaram então a aceitar e a desejar a tecnologia. A indústria e o comércio não poupam esforços para fabricar e distribuir máquinas e medicamentos que são logo com-prados, usados e prescritos pelos médicos, em um ciclo vicioso. O uso indiscriminado da tec-nologia é fruto da especialização médica, con-dição precípua para a sobrevivência do profis-sional em grandes centros urbanos (PORTO,

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2003). O médico hoje vale mais pela máquina que manipula ou pela tecnologia que domina que pelo conhecimento técnico pessoal. Assim, perpetua-se o norteador que responde pela es-tratégia da economia de mercado: quanto me-nos se utiliza a anamnese e o exame clínico, mais são solicitados exames complementares. BENSEÑOR (2006), cita o caso assustador do gastroenterologista que recebeu um paciente para um parecer especializado em um hospi-tal terciário. O paciente coloca em sua mesa dezenas de exames complementares. Ao ver estes, o médico exclama: “Agora só me resta realizar a anamnese e o exame físico”. A me-dicina tornou-se tão espetacular quanto cara e , assim, corre o risco de perder seu mercado de consumo (PORTO,1987).

Referências4.

BENSEÑOR, I.J.M. A semiologia no século XXI. Simpósio sobre ensino da semiologia. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006. Disponível em www.ufrj.br. Acessado em 16/09/2007.

PORTO, C.C. Exame Clínico. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,1987.

RODRIGUES, Y.T. and RODRIGUES, P.P.B. Semiologia Pediátrica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. 2ed.

Endereço para Correspondência:Cleize Silveira [email protected] Universitário de Volta RedondaCampus Três PoçosAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325,Três Poços - Volta Redonda / RJCEP: 27240-560

Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:RODRIGUES, Adriana Novaes; CUNHA, Cleize Silveira; CUNHA, Cristiane Silveira; NETO, João Ozório R; TAVARES, Mauro. A semiologia médica no século XX. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano VI, n. 15, abril 2011. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/15/69.pdf>

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Diagnóstico e Continuidade do Cuidado do Câncer Bucal em pacientes acompanhados pelas Equipes de Saúde Bucal do Programa de Saúde da Família: a experiência do município de Resende, no Estado do Rio de Janeiro

Continuity of Care Diagnostics and Oral Cancer in patients followedby oral health teams from the Family Health Program: theexperience of the municipality of Resende, State of Rio de Janeiro

Sylvio da Costa Júnior 1

Carlos Gonçalves Serra 2

Resumo

Foi realizado um estudo qualitativo em Equipes de Saúde Bucal (ESB) do Programa de Saúde da Família (PSF), no Município de Resende, no Estado do Rio de Janeiro, visando avaliar a integralidade da assistência e a continuidade do cuidado à saúde para o câncer bucal. Em função da importância do câncer bucal e das condições das ESB do PSF em poder fazer o diagnóstico precoce, este trabalho se propõe a estudar, no mu-nicípio, as condições de diagnóstico e continuidade do cuidado para o câncer bucal. O objetivo deste estudo é analisar as condições técnicas e operacionais dos cirurgiões dentistas das ESB para identificação, diag-nóstico precoce e encaminhamento de pacientes cadastrados nas suas áreas de atuação, com suspeita de lesões orais consideradas pré-cance-rosas. Para obtenção dos dados primários, foram utilizadas técnicas de entrevistas, com roteiros semiestruturados Assim, quantitativamente ti-vemos: 11 dentistas do PSF no município de Resende e os profissionais do CEO. A entrevista semiestruturada, parte do trabalho de campo, foi elaborada contendo perguntas fechadas e abertas. Após levantamento e consolidação dos dados qualitativos e quantitativos, podemos constatar que o município conta com uma rede de saúde articulada, em que os pacientes com casos de lesões suspeitas são encaminhados para o centro de referência para continuidade do cuidado. Entretanto, podemos obser-var que a cobertura de 45,94% da população de Resende pelas Equipes de Saúde Bucal, correspondendo a 59.722 habitantes, se constitui num fator limitante para a detecção precoce de lesões suspeitas de câncer bu-cal. Dessa forma, torna-se importante a ampliação da oferta de serviços de saúde bucal, objetivando não só aumentar a resolubilidade, evitando transtornos adicionais aos pacientes, como dar mais agilidade ao diag-nóstico, contribuindo para a qualidade na sobrevida dos pacientes com diagnóstico positivo de câncer oral.

1 Odontólogo, Mestre em “Saúde da Família” UNESA.2 Odontólogo, Doutor em “Saúde Coletiva”, IMS/UERJ

Palavras-chave:

Câncer de boca

Continuidade do Cuidado

Programa de Saúde da Família

ArtigoOriginal

Original Paper

Recebido em 03/2011

Aprovado em 04/2011

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Abstract

It was performed a qualitative study on oral health teams (ESB) of the Family Health Program (FHP) in the municipality of Resende, State of Rio de Janeiro, to evaluate the integrality care and continuity of health care for mouth cancer. Because of the importance of oral cancer and conditions of the PSF in ESB it was performed early diagnosis, this study aims to examine the conditions of continuity of care and diagnosis for oral cancer in the county. The aim of this study is to analyze the technical and operational conditions of the dental surgeons of ESB for identification, early diagnosis and referral of patients enrolled in their fields, with suspected oral lesions are considered pre-cancerous. To obtain the primary data were used interviewing techniques, using semi-structured Thus, we had quantitatively: 11 dentists in the city of Resende PSF and the professionals of CEO. The semi-structured interview, part of the fieldwork, was prepared with closed and open questions. After gathering and consolidating qualitative and quantitative data it was possible to find that the city has a articulated healthcare network, where cases of patients with suspicious lesions are sent to the reference center for continuity of care. In spite of the low coverage of ESB it was possible to find out that the expansion of health services by Primary Care, and consequently, the increase of the resolvability, avoiding additional disorders for patients and giving faster diagnosis, can, effectively contribute to the quality on survival of patients with positive diagnosis of oral cancer.

Key words:

Mouth Cancer

Continuity of Care

Family Health Program

Introdução1.

A denominação câncer de boca inclui os cânceres de lábio e de cavidade oral. A incidência do câncer bucal no Brasil é uma das mais altas do mundo e os baixos índices de sobrevida refletem o seu comportamento agressivo, exigindo, desta forma, por parte dos profissionais, maior atenção a esta neoplasia, tanto em relação à prevenção quanto ao diag-nóstico e acompanhamento. A maioria dos estudos envolvendo lesões orais não separa as regiões específicas dentro da cavidade oral, no entanto, o câncer de lábio é mais frequente em pessoas brancas e registra maior ocorrência no lábio inferior em relação ao superior. O cân-cer em outras regiões da boca acomete prin-cipalmente os tabagistas, sendo que os riscos aumentam quando estes também são etilistas (BUNDGAARD, BENTZEN & WILDT, 1994; COTRAN, KUMAR, COLLINS, 2000). Aproximadamente 10% dos tumores malignos que ocorrem no corpo humano estão localizados na boca (PINHEIRO, 1998), sen-do esse o sexto tipo de câncer mais incidente no mundo (SYRJANEN, 2005). Excluindo-se o câncer de pele, o câncer bucal pode ser considerado o mais comum da região de cabeça e pescoço, com incidência de 38%

(CARVALHO et al., 2001; DEDIVITIS et al., 2004), com predominância no sexo masculi-no, e 75% dos casos diagnosticados na faixa etária dos 60 anos (COSTA et al., 2002). Segundo Cotran, Kumar, Collins (2000) e Há & Caetano (2004), cerca de 95% dos ca-sos são carcinomas epidermoides. O câncer de boca é o oitavo tipo de câncer mais frequente entre os homens (9.985 casos estimados/ano) e o nono entre as mulheres (3.895 casos esti-mados/ano) e suas taxas de incidência e mor-talidade vêm aumentando, sendo consideradas das mais altas do mundo (BRASIL, 2004). A questão da prevenção do câncer bucal é bastante complexa em virtude da multiplici-dade de fatores envolvidos, inclusive culturais, tornando difícil o controle. História familiar, fatores sócio-demográficos, tipo de dieta e es-tilo de vida, todos são coparticipantes, porém, a capacidade de intervenção nesses fatores é limitada (DEBS YD, 2000). Em contraparti-da, a forma mais eficaz e simples de combate a esse câncer, particularmente, é pela ênfase na promoção de saúde, aumento do acesso aos serviços de saúde e diagnóstico precoce. Em função da importância do câncer bucal a das condições das Equipes de Saúde Bucal (ESB) do Programa Saúde da Família (PSF) em poder fazer o diagnóstico precoce,

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este trabalho se propõe a estudar as condições de diagnóstico e continuidade do cuidado para o câncer bucal, no município de Resende, no Estado do Rio de Janeiro.

Fundamentação Teórica2.

2.1. A Construção do Modelo Odontológico de Atenção em Saúde

Em 1923, o Presidente Artur Bernardes promulgou a Lei nº 4.682, de 24 de Janeiro, de autoria do Deputado Eloy Chaves, que institui o Seguro Social no Brasil (MERCADANTE, 2002). Com o advento dessa lei, a partir de 1923, surgiram as Caixas de Aposentadoria e Pensões – CAPs. Essas Caixas eram orga-nizadas por categorias de classe e empresas, públicas ou privadas, que ofertavam serviços pecuniários e de saúde aos seus contribuin-tes, inclusive medicamentos. Os recursos das Caixas de Aposentadoria e Pensões eram pagos por contribuições obrigatórias de em-pregados e empregadores. A gerência desses recursos e a administração dos serviços pres-tados eram organizadas por uma comissão com representantes de patrões e empregados. Ao Governo cabia apenas dirimir conflitos (MERCADANTE, 2002). Com o crescimento das CAPs e com o volume de recursos crescente que cada CAPs administra, em 1930 surgem os IAPs – Institutos de Aposentadorias e Pensões. A di-ferença marcante entre os CAPs e os IAPs é o aumento significativo da participação estatal. Na saúde pública, a odontologia come-çou a crescer a partir de 1933 com a criação dos IAPs. Originalmente, os serviços tinham um caráter meramente mutilador, visando so-mente a remoção de focos infecciosos e não havia o cuidado com a adoção de ferramen-tas que visassem a promoção de saúde. Por insuficiência do conhecimento da época, não se evitou os complexos desdobramentos de-correntes das mutilações que interferem mui-to nos intrincados jogos da socialização, para além dos aspectos epidemiológicos associados (ZANETTI, 1993). A odontologia, inserida nos IAPs, assim como os demais ramos da me-dicina estavam orientados a atender os setores produtivos da emergente classe industrializa-

da nacional, padrão nada preocupado com o chamado bem estar social. Grandes diferenças de gestão e financei-ras entre os IAPs motivaram movimentos da época contra e a favor para a unificação dos Institutos. Na década de 60, o debate sobre a unificação ou não dos IAPs foi intenso: de um lado trabalhadores a favor da unificação com o argumento de tornar os Institutos menos desi-guais, e por outro lado, trabalhadores contra a unificação, sob o argumento de que a unifica-ção representava a perda de participação dos trabalhadores e o risco de maior centralização do poder estatal (MERCADENTE, 2002). Segundo Roncalli (1999), na medida em que os IAPs cresciam e financeiramente se encorpavam, aumentava a centralização e in-fluência estatal e diminuía a participação dos trabalhadores. Assim, o Estado brasileiro pas-sou a ser o maior financiador desse modelo de proteção social com o setor privado sendo o principal prestador de serviço. De acordo com Groismam, Moraes e Chagas (2005), o Estado adotou um modelo de atenção à saúde que privilegiava o setor priva-do em detrimento de investimentos na rede a atenção à saúde pública, modelo este chamado por muitos de privatista, em que a rede privada de saúde se robusteceu e se agigantou, a partir de recursos públicos, através, principalmente, de convênios. Esse modelo continuou a privi-legiar somente os trabalhadores formais com “carteira assinada”. Em 1966, quando os Institutos foram unificados, ao longo de mais de 30 anos de um modelo de Odontologia Previdenciária, foram definidos protocolos uniformes de atendimen-to às populações previdenciárias. Entretanto, as ferramentas institucionais utilizadas e o Ato Normativo nº 47 de 17 de outubro de 1969 continuaram nivelando por baixo o atendi-mento odontológico, dando ênfase ao mode-lo restaurador-mutilador de atendimento, via pagamento somente a atendimentos clínicos invasivos. A novidade do Ato Normativo foi a inclusão da odontopediatria entre as possi-bilidades de atendimento de livre demanda, incluindo como procedimento a profilaxia à cárie dentária. A expansão orçamentária da Previdência na década de 70 possibilitou o crescimento do atendimento odontológico, com aumento

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significativo da oferta de serviços, ainda que dentro do modelo de atendimento clínico da época. As políticas de saúde bucal tinham um forte foco na ampliação do acesso à prá-tica profissional, ocorrendo, em consequência, um maciço credenciamento de dentistas que trabalhavam em clínicas privadas. Não era objeto de preocupação dos gestores de saúde bucal conceitos e modelos baseados na equi-dade e universalidade de atendimento, ou da qualidade do serviço prestado, a ênfase era na ampliação da oferta, eminentemente privada (ZANETTI, 1993). Esse serviço era ofertado aos trabalha-dores urbanos pelo INPS, aos trabalhadores rurais pelo FUNRURAL, àqueles que esta-vam fora do mercado de trabalho, eventual-mente por religiosos e, aos bancários, pelo Serviço de Assistência e Seguro Social dos Economiários (PINTO, 1977). Nesse período, a administração Federal continuou preterindo o Ministério da Saúde (MS) como coordena-dor nacional das políticas de proteção sanitá-rio-bucais. Ainda no início da crise financeira que se abateu sobre a Previdência Social em 1977- segundo estimativa- 5% dos gastos da União com saúde eram destinados à odontolo-gia (US$ 120 milhões). Destes, o percentual de menos de 1% se encontrava no MS. Em 1981, mais de 58% dos gastos públicos estavam na esfera do INAMPS, os estados tinham 40,1% e o MS 1,1%. Nesse ano, segundo estimativas, a iniciativa privada correspondia a 81,8% do total de recursos movimentados pela odonto-logia (VIANNA, 1988). O chamado “Movimento Sanitário Odontológico”, no bojo das políticas reformis-tas de saúde de então, lutou tanto pela trans-formação do modelo hegemônico de atenção à saúde bucal quanto pela redemocratização da sociedade brasileira. O movimento reformista da saúde, no qual o movimento odontológico e suas conferências se inserem é paralelo e com-plementar ao movimento de redemocratização brasileiro (SERRA, 1998). A odontologia previdenciária sofreu- as-sim como a medicina previdenciária- as mu-danças e dificuldades provenientes do projeto de saúde pública privatista da década de 70 (SERRA, 1998), do aumento da cobertura do setor de seguro saúde do setor privado, da rá-pida modernização e incorporação de apare-

lhos e insumos odontológicos e da mercanti-lização de todo setor dentário (SERRA, 1998; ZANETTI, 1993).

2.2. A Estratégia Saúde da Família: princípios básicos

Na década de 1990, foram editadas pelo Ministério da Saúde as Normas Operacionais Básicas visando à definição de objetivos e es-tratégias para a orientação da dinâmica opera-cional do SUS, isto é: a consolidação da des-centralização do SUS, sua municipalização e reorientação do modelo de atenção. Assim, as Normas Operacionais Básicas, NOB/SUS-91,93 e 96, objetivavam redefinir:

Os papéis de cada esfera de governo;1. O caráter da direção única;2. Ferramentas para que Estados e 3. Municípios superem o mero papel de prestadores de serviços de saúde e passem assumir o papel de gestores; O papel de fluxos de financiamento, redu-4. zindo o pagamento por procedimentos e direcionando a transferência de recursos para transferências fundo a fundo.O papel da participação e controle social 5. sobre o sistema de saúde.

Dos preceitos advindos do Programa Saúde da Família, a territorialização das uni-dades de saúde com suas respectivas responsa-bilidades sanitárias representa um importante instrumento para a continuidade do cuidado. Dentro dessa lógica, a integração e a continuidade do cuidado consistem em uma estruturação permanente das práticas clínicas voltadas para o usuário do sistema, visando garantir a globalidade dos serviços requeridos de diferentes profissionais nos variados níveis do sistema.

2.3. O Papel dos Cirurgiões-Dentistas da Atenção Primária e do PSF

Leavell e Clark, em sua obra “Medicina Preventiva”, publicado em 1976, nortearam conceitualmente a chamada medicina preven-tiva. A prevenção é colocada em três estágios (primária, secundária e terciária) e cada está-gio ligado a um período clínico (pré-patogê-

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nese, patogênese e sequela) e a um nível de atuação. A prevenção primária deve acontecer no período de pré-patogênese, onde existem as condições para o estabelecimento de patolo-gias ligadas ao fator de risco associado. Dentro desse conceito, cada nível de prevenção está ligado a um nível de aplicação ou atuação. A Saúde Bucal, cada dia mais, desponta como preocupação, tanto no enfoque da pro-moção e prevenção, quanto assistencial. Os agravos bucais e suas sequelas são de grande prevalência no Brasil, constituindo-se em gra-ves problemas de saúde pública, com conse-quências sociais e econômicas. O tratamento oncológico, de modo ge-ral, necessita de recursos médicos-hospitalares mais complexos e sofisticados, envolvendo, muitas das vezes mutilações com complica-ções estéticas e de movimentação de músculos da cabeça e do pescoço. Dessa maneira, estudos que investiguem a associação entre indicadores de atenção pri-mária à saúde bucal e condições de acesso e resolubilidade são particularmente importan-tes para a formulação de políticas de saúde di-recionadas a reduzir desigualdades em saúde, sobretudo na utilização de serviços. O atraso relativo à precocidade do diag-nóstico refere-se também ao encaminhamento, que podemos considerar como o tempo entre a chegada do paciente ao clínico da atenção primária até o momento do possível diagnós-tico final de câncer bucal. Estabelece-se, dessa forma, uma relação direta com o sistema que organiza os fluxos de encaminhamento para a realização do diagnóstico (ONIZAWA et al. 2003; PITIPHAT et al., 2002). As ações de saúde em odontologia vêm crescendo muito Brasil desde a sua inclusão no Programa Saúde da Família, realizada no ano de 2000, pela portaria/MS nº 1444 do Ministério da Saúde. O CEO, que é atenção especializada em odontologia de nível secundário, oferece para a população serviços de diagnóstico bucal, com ênfase no diagnóstico e detecção do câncer de boca, periodontia especializada, cirurgia oral menor dos tecidos moles e duros, endodontia e atendimento a portadores de necessidades especiais (LETÁCIO, 2009).

2.4. O “Brasil Sorridente”

Orientado pela política de regionaliza-ção, o Ministério da Saúde criou, em 2003, o Programa Brasil Sorridente, com o claro obje-tivo de garantir a integralidade do atendimento e a continuidade do cuidado bucal através do CEO, nível secundário de atenção odontológi-ca, que oferece exames e consultas especiali-zadas em Saúde Bucal. Dessa maneira, a porta de entrada desse usuário do sistema de saúde público municipal deverá ser o Programa de Saúde da Família com Equipe de Saúde Bucal, para, nos ca-sos de maior complexidade, haver o encami-nhamento para os Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs), garantido, assim, a integralidade das ações. O objetivo é que esses Centros de Especialidades Odontológicas possam, no ní-vel médio de complexidade, dar suporte para a atenção primária, quer nas unidades tradi-cionais quer nas Equipes de Saúde Bucal do Programa Saúde da Família, sendo unidades de referencias para a atenção primária, traba-lhando de acordo com a realidade epidemioló-gica do território sanitário. Os Centros de Especialidades Odontológicas – incluídos no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), e classificados como Clínicas Especializadas e Ambulatórios de Especialidade -estão estrutu-rados para ofertar à população, no mínimo, as seguintes especialidades:

diagnóstico bucal, com ênfase no diag-• nóstico e detecção do câncer oral;periodontia especializada;• cirurgia oral menor;• endodontia e• atendimento a pacientes portadores de ne-• cessidades especiais.

2.5. O Câncer de Boca

De todas as lesões cancerígenas na cavi-dade oral o carcinoma epidermoide (ou carci-noma espinocelular ou carcinoma de células escamosas) corresponde a 90% a 94% do to-tal. Mostra-se como uma úlcera assintomáti-ca- que aumenta de tamanho e não cicatriza-que pode apresentar bordas elevadas, firmes e

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endurecidas. Seu diagnóstico deve ser baseado em achados histológicos e pode ser classifica-do como muito, moderadamente ou pouco di-ferenciado.

Problema, Objetivos e Método3.

3.1. Problema

Em função da alta incidência do câncer bucal no Brasil e dos baixos índices de sobre-vida, o que demonstra a agressividade desta patologia, há necessidade, cada vez maior, de que o profissional das equipes de saúde bucal no PSF esteja capacitado para diagnosticar precocemente lesões suspeitas de câncer oral e dar continuidade ao cuidado.

3.2. Objetivos

3.2.1. Objetivo Geral

Analisar as condições técnicas e opera-cionais dos cirurgiões dentistas das Equipes de Saúde Bucal do PSF do Município de Resende, no Estado do Rio de Janeiro, para identificação, diagnóstico precoce e encami-nhamento de pacientes cadastrados nas suas áreas de atuação, com suspeita de lesões orais consideradas pré-cancerosas.

3.2.2. Objetivos Específicos

Conhecer e descrever a estrutura dos ser-• viços de apoio diagnóstico e tratamento do câncer bucal dos usuários encami-nhados pelas Equipes de Saúde Bucal do Programa Saúde da Família do município de Resende.Identificar e analisar as dificuldades das • unidades de referência para diagnóstico e tratamento do câncer bucal no município de Resende.

3.3. Métodos e procedimentos

3.3.1. Coleta de dados

Primários• Para obtenção dos dados primários fo-ram utilizadas técnicas de entrevistas, com roteiros semiestruturados. Assim, quantita-tivamente tivemos onze dentistas do PSF no município de Resende. A amostra incluiu dois odontólogos, especialistas do Centro de Especialidades Odontológicas de Resende, para enriquecer a análise sobre a continuidade do cuidado. Dessa forma, esses dois profissio-nais do Centro de Referência foram incluídos na amostra, porém, na análise dos resultados, estes odontólogos do CEO ficaram à parte. A entrevista semiestruturada, parte do trabalho de campo, foi elaborada contendo perguntas fechadas e abertas. Cada questionário aplicado aos par-ticipantes do estudo continha explicações sobre a natureza do estudo e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido a ser por eles preenchido, caso concordassem em parti-cipar da pesquisa. Os dados secundários foram obtidos através das referências bibliográficas e docu-mentais, que possibilitaram embasamento às questões teóricas do trabalho.

3.3.2. Cenário do estudo

Município de Resende

O município de Resende conta com aproximadamente 130.000 habitantes (IBGE, 2007); 01 Hospital Municipal de Emergência com 47 leitos; 01 Hospital Geral Filantrópico/Santa Casa com 70 leitos; 01 Maternidade Filantrópica/APMIR com 78 leitos, totali-zando 195 leitos públicos; uma rede de saúde de 22 Módulos de Saúde da Família implan-tados1, 17 Equipes de Saúde Bucal, todas na modalidade I, 01 Centro de Especialidades Odontológicas tipo II (Portaria nº217/GM, de 11 de fevereiro de 2005) para onde são en-caminhados os casos de atenção secundária odontológica.

1http://189.28.128.99/dab/historico_cobertura_sf/historico_cobertura_sf_relatorio.php, acessado em 05/01/2011.

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Segundo a portaria 648 GM/MS, de 28 de Março de 2006:

São itens necessários à implantação das Equipes de Saúde da Família:I - existência de equipe multiprofis-sional responsável por, no máximo, 4.000 habitantes, sendo a média recomendada de 3.000 habitantes, com jornada de trabalho de 40 ho-ras semanais para todos os seus in-tegrantes (...).

Com isso, a cobertura de Equipes de Saúde Bucal no município é de 45,94% da população. Segundo cadastro no Ministério da Saúde, há no município 119 Agentes Comunitários de Saúde cadastrados, cobrin-do 63.825 habitantes, o que corresponde a 49,08% de cobertura2. O sistema municipal de saúde de Resende conta com outros níveis de complexidade, tendo ainda um hospital Geral, especializado em atendimento de urgência com 9 leitos de CTI; 01 hemonúcleo com ca-pacidade diária de atendimento de 40 pesso-as/dia; um centro municipal de reabilitação e Fisioterapia, com média anual de atendimento de 23.800 pessoas, sendo a média de atendi-mento hospitalar anual de 68.500 pessoas. Como determina o artigo 9˚ da Lei 8080 de setembro de 1990, a Secretaria Municipal de Saúde de Resende é a gestora dos serviços de saúde ofertados a população.

(...) a direção do Sistema Único de Saúde (SUS) é única, de acordo com o inciso I do art. 198 da Constituição Federal, sendo exercida em cada esfe-ra de governo pelos seguintes órgãos: I - no âmbito da União, pelo Ministério da Saúde; II - no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, pela respectiva Se-cretaria de Saúde ou órgão equivalente; e III - no âmbito dos Municípios, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente.

E segundo o artigo n˚18 da mesma Lei:

À direção municipal do Sistema de Saúde (SUS) compete: I - planejar, or-ganizar, controlar e avaliar as ações e

os serviços de saúde e gerir e executar os serviços públicos de saúde; II - par-ticipar do planejamento, programação e organização da rede regionalizada e hierarquizada do Sistema Único de Saúde (SUS), em articulação com sua direção estadual (...);

3.4 Aspectos Éticos

Inicialmente, este estudo foi submetido à análise pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estácio de Sá (UNESA), seguindo os requisitos preconizados pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Solicitou-se também anuência da Secretaria Municipal de Saúde de Resende para a efetivação deste estudo. A participação dos sujeitos da pesquisa, dentistas da rede mu-nicipal que trabalham na ESF, se deu de forma voluntária, mediante solicitação de permissão para a gravação e a explicitação sobre a finali-dade e importância da colaboração, seguida da assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados e Discussão4.

Deve-se assinalar que as unidades da Fazenda da Barra II, Fazenda da Barra III e Itapuca estavam em obras; 01 dentista (CD) estava em férias, 01profissional trabalhava na zona rural em mais de um Módulo de PSF e não foi contactada e 01 profissional de ESB não se sentiu à vontade para falar sobre o tema. Os profissionais que aceitaram par-ticipar deste estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizan-do que suas respostas fossem analisadas. Os dentistas entrevistados representam 64,70% do total de dentistas pertencentes às ESB. Como três unidades estavam em reforma, po-demos dizer que o universo de entrevistados representa 78,57% do total de dentistas em atividade em ESF. Alonge e Narendran (2003) em estudo similar com dentistas obtiveram percentual de 40% de participação do público-alvo. Na pesquisa destes autores o questionário foi encaminhado via correio para os dentistas, na expectativa de devolução do mesmo pelos

2 http://189.28.128.99/dab/historico_cobertura_sf/historico_cobertura_sf_relatorio.php, Acessado em 05/01/2011.

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participantes, diferente deste presente estudo em que o pesquisador foi a campo realizar as entrevistas.

4.1 Tema: Perfi l dos entrevistados

4.1.1 Categoria: Participação

No tocante ao perfi l profi ssional, o es-tudo reuniu informações de 11 dentistas do PSF (representam 64,70 % dos profi ssionais de ESB do município) referentes aos conheci-mentos sobre o tema. Para enriquecer a análise sobre a integralidade da assistência e a con-tinuidade do cuidado, foram entrevistados 2 (50%) odontológos especialista em cirurgia buço-macilo-facial do CEO, no universo de 4 especialistas em cirurgia, que são os responsá-veis no Centro de Referência pela biópsia em lesões suspeitas de câncer oral. Convém res-saltar que a análise quantitativa dos dados será realizada somente com os odontógos do PSF. A participação dos dentistas do CEO se deu em caráter complementar para enriqueci-mento da análise sobre a continuidade do cui-dado. Alonge e Narendran (2003) em pesquisa realizada com dentistas sobre câncer bucal ob-tiveram 40% de participação dos odontólogos contactados, levando-os a conclusão que havia pouco interesse dos dentistas sobre o tema.

Gráfi co 1. Distribuição dos cirurgiões-dentistas (CDs) do PSF segundo a participação no estudo.

Gráfi co 2. Distribuição dos cirurgiões-dentistas (CDs) do CEO segundo a participação no estudo. 4.1.2 Categoria: Idade

Em relação à idade dos dentistas (gráfi -co 3) entrevistados 04 (36,4%) têm entre 20 e

30 anos; 05 (45,4%) entre 30 e 40 anos e 02 (18,2%) com 40 anos ou mais.

Gráfi co 3. Idade dos CDs entrevistados

4.1.3 Categoria: tempo de graduado

Conforme sintetiza o gráfi co 04, a pes-quisa identifi cou, em relação ao tempo de graduado dos entrevistados, que 02 dentistas (18,2%) têm 01 ano ou menos de graduado; 02 (18,2%) entre 01 e 05 anos; 04 (36,4%) com mais de 05 e menos de 10 anos de graduado e 03 dentistas (27,3%) com mais de 10 anos de graduado. Os resultados desta pesquisa em relação aos anos de graduação diferem de ou-tros trabalhos, como o realizado por Alonge e Narendran (2003) e Kujan et al. (2006) na qual os odontólogos com mais de 20 anos de gra-duação eram percentualmente maiores quando comparados com outras faixas de idades, nos respectivos estudos.

Gráfi co 4. Tempo de graduado dos CDs entrevistados (em anos)

Grafi co 5. Tempo de trabalho em PSF (em anos)

Assim, dos dentistas entrevistados, o maior percentual (36,36%) refere-se aos pro-fi ssionais (quatro) com mais de 5 anos e me-nos de 10 anos de graduação e, quanto à ida-de, 45,45% (cinco) estão na faixa entre 30 e 40 anos. McCann et al. (2000) no seu estudo

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com dentistas sobre câncer de boca na Escócia encontrou um percentual de 33% de dentistas com mais de 20 anos de graduado.

4.1.5 Categoria: especialização

No que diz respeito aos dentistas pos-suirem ou não especializações (gráfi co 06), 05 (45,45%) responderam que possuem algu-ma especialização, enquanto 06 (54,54%) não possuem qualquer especialização.

Grafi co 6. Distribuição dos CDs com e sem especialização.

Como 54,54% dos entrevistados não possuem especialização, estes profi ssionais podem ser caracterizados como generalistas. Kujan et al. (2006) em estudo com dentistas sobre câncer oral identifi cou majoritariamente como generalistas mais de 70% dos dentistas entrevistados.

4.1.6 Categoria: vínculo com o PSF

A pesquisa identifi cou que 06 dentis-tas (54,55%) trabalham exclusivamente no Módulo de Saúde da Família no município de Resende, não possuindo qualquer outro tipo vínculo, enquanto 05 dentistas (45,45%) relataram ter outro tipo de trabalho, além da-quele em que desempenham suas funções no Programa de Saúde da Família. Dos CDs que relataram outro tipo de trabalho, todos, ou seja, 100% disseram trabalhar em consultorios particulares com outros colegas de profi ssão. Kujan et al. (2006) encontrou um percentual de 20% de dentistas que trabalham somente na serviço público, quando o questionamento foi sobre se havia outros vínculos de trabalho. Como a Portaria/MS nº648, de 28 de Março de 2006, que regulamenta o Programa de Saúde da Família preconiza dedicação de 40 horas semanais de trabalho, constatamos que 54,55% dos dentistas trabalham exclusi-vamente no PSF.

Na pesquisa desenvolvida por Leão et al. (2005) o número de dentista com outro vínculo de trabalho foi de 62%, além do com-promisso na atenção primária. Um dos dentistas entrevistados, que pos-sui vínculo empregatício classifi cado como estatutário, justifi cou sua dedicação exclusiva ao PSF da seguinte maneira: “(...) a Prefeitura paga um bom salário, que me permite fi car aqui 8 horas por dia”. Em relação ao vínculo empregatício, dos 11 profi ssionais do PSF, 01é contratado via Cruz Vermelha, 03 são cargos de confi ança e 07 foram admitidos por concurso público, rea-lizado em 2010. Dessa forma, somente os ad-mitidos por concurso público e, assim, subme-tidos ao Estatuto dos Servidores Municipais, fazem jus à gratifi cação por trabalharem no Programa de Saúde da Família e, por isto, têm salário diferenciado em comparação aos outros profi ssionais que também trabalham no PSF. Cruzando estes dados podemos perceber que dos 07 dentistas admitidos em concurso público, 02 (28,57%) tem outro vínculo de tra-balho, além do PSF, e 05 (71,42%) trabalham exclusivamente no PSF. A relação se inverte quando analisamos os dentistas classifi cados como não estatutários, em que dos 04 dentistas não estatutários, apenas 01 (25%) dedica todo seu tempo de trabalho ao Programa de Saúde da Família. Um dos dentistas não estatutários que possui outro vínculo trabalhista, arguido sobre o porquê de não trabalhar exclusivamente no PSF respondeu que “(...) o salário não é tão bom para viver só dele e eu posso ser mandado embora a qualquer momento”. Dessa maneira, o perfi l dos profi ssionais sujeitos deste estudo, pode ser registrado da seguinte forma: possuem entre 30 a 40 anos (45,45%) de idade; de 05 a 10 anos de gra-duado (36,36 %); 81,8%s são do sexo femi-nino; 54,54% são generalistas; 72,72% pos-suem vínculo trabalhista, classifi cados como servidor público do Município e 06 (54,54%) dentistas dedicam todo seu tempo e trabalho profi ssional exclusivamente ao Programa de Saúde da Família. Quanto a questão de gênero por parte dos pesquisados, este estudo coincide com pesquisa realizada por Leão et al. (2005), na qual houve predomínio de dentistas mulheres

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(52%), porém com percentual muito inferior ao apresentado neste estudo (81,81%).

4.2 Tema - diagnóstico precoce do cân-cer bucal pelas ESB/PSF

4.2.1 Categoria: capacitação institucional

Em relação à esta categoria, 10 (90,9%) dentistas relataram que não tiveram nenhum tipo de capacitação institucional sobre diag-nóstico precoce de câncer de boca e apenas 01 (9,1%) confirmou ter tido capacitação institu-cional sobre o tema. Entretanto, 09 (81,8%) afirmaram que, ao longo de sua tragetória pro-fissional, fizeram algum tipo de capacitação sobre o tema, enquanto 02 (18,2%) dos entre-vistados disseram que nunca participaram de cursos específicos sobre o tema. Algumas falas dos dentistas entrevis-tados retratam, de forma bem semelhante, a situaçào da maioria (81,8%) em relação à capacitação sobre câncer bucal. Assim, como exemplo: “(...) eu sempre participo de Congressos ou cursos gratuitos realizados pela ABO e na faculdade sempre tinha Jornadas Universitárias”. Todos os dentistas (100%) entrevistados dis-seram que a Prefeitura sempre realiza cursos de capacitação com os dentistas da rede mu-nicipal, embora nenhum abordasse tema “cân-cer de boca”. Os dentistas relataram que “ a Prefeitura e a Secretaria de Saúde sempre re-alizam cursos, constantemente, mas ainda não teve um sobre câncer de boca, mas sempre tem curso para fazer pela Prefeitura”.

4.2.1.1 Subcategoria: Participação em atividades acadêmicas sobre câncer oral

Quanto à participação dos dentistas em atividades acadêmicas sobre o tema relaciona-do com câncer bucal, verificou-se que 2 disse-ram que haviam participado de cursos sobre o tema a menos de 1 ano; 6 dentistass relataram ter participados de cursos sobre o tema a mais de 1 anos e 3 dentistas nunca participaram de cursos sobre o tema. Para a maioria dos en-trevistados (90,9%) a atualização sobre cân-cer bucal ocorreu em Congressos Científicos, onde participaram por conta própria.

Os 11 dentistas entrevistados (100%) re-lataram que gostariam de participar de cursos de capacitação sobre o diagnóstico precoce de câncer de boca. Esta fala é representativa dessa posição geral: “ gostaria de participar de capacitação sobre câncer de boca sim, pois me ajudaria muito na clínica e para eu poder con-tinuar me atualizando”.

4.2.1.2 Subcategoria: Condições técni-cas e operacionais

Sobre este aspecto, 10 (90,9%) dentis-tas relataram ter condições técnicas e conhe-cimento profissional para detecção de lesões suspeitas de malignidade oral. O mesmo per-centual de dentistas (90,9%) dos Módulos de ESB relataram que as unidades lhes oferecem boas condições físicas, de material e de insu-mos para um bom atendimento clínico e para uma boa investigação para rastreamento de lesões pré-malignas ou malignas. Apenas 01 (9,1%) dentista relatou que sua unidade po-deria ter um ar condicionado, mais espaço e, consequentemente, conforto para o profissio-nal e paciente: “(...) no verão, o consultório odontológico é muito quente, o que afeta a qualidade do trabalho”. Quanto à experiência de estar diante de uma possível lesão sugestiva de malignidade de câncer oral, 04 (36,36%) dentistas disseram que já se depararam com este tipo de lesão oral e a conduta de todos foi a de encaminhar os pacientes para o Centro de Referência de Especialidades Odontológicas do município (CEO) para que, após avaliação do especialis-ta, estes pacientes ficassem à disposição para uma possível biópsia incisional ou exciosional e exames complementares. Esta fala reflete a conduta dos profissionais : “(...) eu mediquei o paciente com analgésicos e anti-inflamatório para aliviar a dor local e encaminhei para o Centro de Especialidades”. Todos (100%) os dentistas pesquisa-dos relataram que não faltam insumos para o atendimento aos pacientes “(...) aqui não falta luva, material de consumo, nem nada que pos-sa paralisar o atendimento. Sempre que pedi-mos material a entrega é muito rápida”.

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Importante

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Idade do Paciente 7 4 0 0

Álcool 11 0 0 0

Infecção bacteriana 4 4 1 2

Trauma 7 3 1 0

Infecção Fúngica 2 5 2 2

Tabagismo 11 0 0 0

Infecção Viral 3 5 1 2

Importante Moderadamente

Importante

Sem Importância Não Sabe

Aftas 3 7 1 0

Candidíase 4 4 3 0

Eritroplasia 7 4 0 0

Tatuagem por Mercúrio 1 3 6 1

Leucoplasia 9 1 1 0

Língua Geográfica 2 2 7 0

Líquen Plano 4 3 4 0

Granuloma Piogênico 2 4 5 0

Mucocele 0 3 8 0

Quadro 4: Fatores de risco para o câncer oral e o grau de importância sobre a sua etiologia, segundo avaliação dos dentistas entrevistados.

Quanto à conduta diante de um paciente exposto a fatores de risco do câncer bucal, 09 (81,8%) entrevistados disseram que orientam o paciente sobre os perigos destes fatores de risco, enquanto 02 profissionais (18,2%) rela-taram que não tomam qualquer atitude, pois, na concepção deles a exposição aos fatores de risco não representa necessariamente que este paciente desenvolverá câncer oral. Por outro lado, 10 (90,9%) entrevistados disseram que tem conhecimento sobre os fato-res de risco ligados a patologia citada, enquan-to 01(9,1%) dentista relatou ter conhecimento insuficiente para os reais fatores de risco. A pesquisa mostrou que 100% dos den-tistas, durante a anamnese, questionam se os pacientes fazem ingestão de álcool e cigarro constantemente, pois a Secretaria Municipal de Saúde do Município disponibiliza uma fi-

cha padrão de anamnese para todos os dentis-tas que trabalham na Atenção Primária onde esse questionamento sobre o consumo de ta-baco e álcool está incorporado. A fala a seguir explicita esta situação: “(...) na ficha de anamnese que a Prefeitura nos disponibiliza tem um dos tópicos que fala sobre o consumo de tabaco, pergunta se o pa-ciente fuma, (...)”. Nesse sentido, Horowitz et al. (2000) e Kujan et al. (2006) relataram em estudo que encontraram este percentual para álcool em 60% e 58,8% e para fumo em 90% e 87,4%, respectivamente. Com referência à etiologia do câncer bu-cal e o grau de importância de cada condição oral, no que diz respeito à evolução do câncer bucal, todos os pesquisados (100%) disseram que a associação entre tabaco e álcool está diretamente relacionada com o aparecimento

Gráfico 7. Percepção dos CDs segundo a capacitação

para detecção de lesões suspeitas de malignidade oral.

4.2.1.3 Subcategoria: fatores de risco

Quando apresentados ao quadro conten-do vários fatores de risco e arguidos sobre o grau de importância de cada um deles no que diz respeito à etiologia do câncer bucal e o grau de importância de cada condição oral em relação à evolução do câncer bucal, as respos-tas foram distribuídas por número de citações, conforme sintetizado no quadro abaixo:

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do câncer de boca. As respostas dos dentistas pesquisados estão de acordo com estudo de Neville (1998) que demonstra que o tabaco está fortemente ligado ao surgimento de câncer oral e, quando associado ao álcool, o risco aumen-ta. Segundo Neville (1998) as lesões precurso-ras do câncer bucal mais importantes, entre as citadas no questionário, são a leucoplasia e a eritroplasia. Apenas um tipo de líquen plano, o líquen plano erosivo, segundo Neville (1998), tem potencial de transformação em malignida-de, 01% a 04% de chance de transformação em tumor maligno. Nessa pesquisa a leucoplasia e a eritroplasia foram as mais citadas como intrinsecamente relacionadas como precurso-ras do carcinoma bucal, citados por 81,81% e 63,63% respectivamente. Podemos constatar que o grau de co-nhecimento dos dentistas pesquisados sobre os reais fatores de risco para o câncer bucal é regular. A maioria relatou que questiona os pacientes durante a anamnese sobre um dos fatores de risco mais importantes sobre câncer bucal, o tabaco e sua associação com o álcool, porém, a radiação solar, diretamente associa-da ao surgimento queilite actínia, que junto ao tabaco é o principal fator de risco, não é citado por nenhum dentista nas perguntas abertas. Não existem estudos que relacionem o acometimento de aftas ao câncer bucal, em-bora apenas 01 (9,09%) dentista respondeu ser sem importância a relação entre ambas, os demais classificaram a relação entre ambas importante ou moderadamente importante; 06 dentistas (54,54%) entendem como importante ou moderadamente importante a relação entre o aparecimento de granuloma piogênico, em-bora, também, não existam estudos científicos que mostrem laço entre ambas as patologias. O mesmo se aplica entre infecções bacterianas e trauma, embora 08 (72,72%) e 10 (90,90%) dentistas considerem importante ou modera-damente importante a relação entre ambas, respectivamente.

4.2.1.4 Subcategoria: Tecidos moles

Arguidos sobre a frequência com a qual realizavam exame nos tecidos moles da cavi-dade oral dos pacientes nas consultas iniciais, 09 (81,8%) dos entrevistados disseram que sempre inspecionam os tecidos moles da ca-

vidade oral, 01 (9,1%) relatou que inspeciona ocasionalmente e 1 (9,1%) relatou que inspe-ciona apenas quando há queixa do paciente. A justificativa entre aqueles que relataram não inspecionar sempre os tecidos moles da cavi-dade oral foi de que não acham necessário tal procedimento em consultas iniciais, conforme retrata a fala: “(...) caso o paciente sinta alguma alteração ele nos dirá ao longo o tratamento.” Horowitz et al. (2000) em estudo sobre a frequência com que dentistas pesquisados rea-lizavam exame em tecidos moles da cavidade oral nas consultas iniciais constatou-se que 81% dos pesquisados realizavam este tipo de rastreamento para detecção de algum tipo de alteração. Este estudo coincide com o traba-lho apresentado, pois 90% dos dentistas que trabalham no Programa de Saúde da Família em Resende relataram que rotineiramente rea-lizam este tipo de inspeção. Estudo de Kujan et al. (2006) constatou que mais de 81,81% de dentistas pesquisados realizavam exame nos tecidos moles dos pa-cientes rotineiramente. Este trabalho traz per-centagem similar aos trabalhos de Horowitz et al. (2000) e Kujan et al. (2006) sobre a rotina de exames nos tecidos moles dos pacientes re-alizados pelos dentistas. Apenas um dentista relatou que só realiza este tipo de exame quan-do solicitado pelo paciente e que não faz parte de sua rotina inspecionar os tecidos moles.

4.2.1.5 Subcategoria: Competência dos CDs das ESB em relação ao câncer bucal

Os 11 dentistas entrevistados (100%) disseram que é função das Equipes de Saúde Bucal dos Módulos de Saúde da Família o incentivo e a produção de práticas ligadas a eliminação ou diminuição dos fatores de ris-co, conforme fala selecionada; “(...) aqui nós estamos mais próximos do paciente, da famí-lia, criamos vínculos com a comunidade e os agentes comunitários de saúde podem avisar na casa do pacinete para ele vir ao dentista.” Dos CDs entrevistados 100% relataram não ser papel da atenção primária o diagnóstico final de lesões suspeitas de câncer oral e sim o cadastramento das famílias adscritas em seu território, rastreamento de pacientes com fato-res de risco, diagnóstico precoce de lesões sus-

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peitas, encaminhamento para outros níveis de complexidade do sistema de saúde municipal e acompanhamento do paciente e das famílias.

4.3 Tema: Estrutura dos serviços

4.3.1 Categoria: fluxo do paciente de Saúde Bucal

Como citado anteriormente, Resende possui um CEO, que funciona como centro de referência para as unidades primárias distri-buidas no Município. Os pacientes atendidos pelo CEO têm como porta de entrada exclu-siva as unidades primárias de saúde e, excep-cionalmente, encaminhamentos oriundos do Hospital de Emergência. Esta frase é bem significativa e esclare-cedora: “O CEO atende os pacientes que che-gam com a guia de referência da unidade bási-ca de saúde ou, menos comum, do plantão do Hospital de Emergência, mas o paciente tem que ter a guia de referência.”

4.3.1.1 Subcategoria: encaminhamento

Os pacientes são encaminhados ao CEO por meio de uma ficha padronizada de encami-nhamento para as especialidades. Os pacientes encaminhados com lesões suspeitas de malig-nidade são referenciados para os dentistas es-pecialistas em cirurgia buco maxilo-facial no CEO. Nestes pacientes com suspeita de câncer bucal é realizada biópsia incisional ou exci-sional no Centro de Referência e o material é encaminhado para um laboratório conveniado com a Secretaria Municipal de Saúde. Quanto aos exames complementares, são realizados no único laboratório próprio da Prefeitura. Com o diagnóstico de câncer bucal e de posse da biópsia, exame de lâmina e bloco de cera, este paciente é encaminhado ao Instituto Nacional do Câncer, na Cidade do Rio de Janeiro. A Prefeitura disponibiliza ambulância para o transporte do paciente. A falta de um especialista em Estomatologista no CEO foi citada por um dos pesquisados como um limitador da rede de cuidado em saúde do Município: “não há especialista em Estomatologista, quem faz o procedimento é o buco maxilo”.

Foi relatado pelo dentista entrevistado no Centro de Referência que “se o resultado da biópsia der positivo para câncer de boca, o CEO entra em contato com o paciente por telefone e, caso não obtenha resposta, o CEO entra em contato com o PSF mais próximo de sua casa e o agente comunitário de saúde avi-sa o paciente para ir ao CEO o mais rápido possível buscar o resultado e conversar com o dentista. O PSF é fundamental nestes casos.” Durante a entrevista, os 2 dentistas espe-cialistas em cirurgia relataram que os pacien-tes são atendidos somente com a ficha de refe-rência que recebem das unidades primárias de saúde, inclusive dos PSFs, e após atendimento no CEO eles são contra referenciados para as unidades de saúde que os acompanham.

4.4 Tema: dificuldades para diagnóstico e tratamento das lesões bucais

4.4.1 Subcategoria: resolutividade e continuidade do cuidado nas ESB/PSF

Ao serem questionados como poderia ser melhorado o atendimento, a continuidade do cuidado e o aumento da resolubilidade dos casos, evitando o encaminhamento para espe-cialistas- 07 dentistas (63,63%) relataram que as unidades poderiam dar maior resolubilidade e segundo relato “(...) a expansão de exames de auxílio nas unidades, como por exemplo, um aparelho de RX para que a gente possa en-caminhar menos para o CEO.” Para todos os dentistas pesquisados (100%), a questão da territorialidade é um dos pilares da operacionalidade do trabalho das equipes das Unidades de Saúde da Família e do vínculo profissional-paciente estabelecidos, o que permite uma política estratégica para a de-tecção precoce desses agravos, porém, segundo os entrevistados, é de suma importância que as unidades de Saúde da Família ofertem aos usu-ários, por estes profissionais, majoritariamente generalistas, a maior variedade de serviços de saúde possível pela atenção básica. A pouca resolubilidade das unidades primárias e o constante encaminhamento para centros de referência conduz o paciente a uma lógica hegemônica fortemente baseada no hospital-especialista-doença. “Alguns pacien-

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tes vêm aqui só para pegar a guia de referência achando que no CEO eles podem realizar todo o tratamento dentário, ainda é muito forte na população a ideia do especialista.” Outro desdobramento da baixa resolubi-lidade no PSF é a possibilidade de demora no diagnóstico de lesões suspeitas de malignida-de por causa do mecanismo de marcação, em-bora os dentistas tenham relatado que o fluxo de referência e contra- referência das unidades de PSF para o centro de especialidade exista de maneira estruturada. O inconveniente desse modelo de sistema de referência e contra refe-rência existente no município, cujos serviços de saúde não estão informatizados e articu-lados em rede, diz respeito à transferência da responsabilidade pela marcação das consultas para os usuários, gerando transtornos e gastos adicionais com transporte, podendo levar a de-mora do diagnóstico precoce. Dar meios e ferramentas para que os dentistas generalistas possam atender esse usuário do sistema de saúde com maior resolu-bilidade possível fortalece a importância com que e o usuário enxerga a atenção primária, dá agilidade no diagnóstico precoce e minimiza o sofrimento em caso de confirmação do diag-nóstico. Aumentar a resolubilidade da atenção primária salva vidas.

Conclusão5.

A primeira observação diz respeito à co-bertura da população de Resende pelo ESB, que é de 45,94%. Através da análise dos dados, constata-se que é importante uma ampliação da rede de saúde no que se refere a cobertura de Equipes de Saúde Bucal, para que o rastrea-mento de lesões suspeitas de câncer oral possa se dar com maior precocidade possível, inclusi-ve por determinação da Portaria Interministerial nº 648, de 28 de Março de 2006, que estabelece como Especificidades do Programa de Saúde da Família a “reorganização da Atenção Básica no País, de acordo com os preceitos do Sistema Único de Saúde.” Além dos princípios gerais da Atenção Básica, as Equipes de Saúde Bucal devem “(...) ter caráter substitutivo em relação

à rede de Atenção Básica tradicional nos ter-ritórios em que as Equipes Saúde da Família atuam.” (BRASIL, 2006). Em relação à dedicação dos profissio-nais ao PSF, o trabalho identificou que a maio-ria dos dentistas das Equipes de Saúde Bucal pesquisados, o que corresponde a 06 dentis-tas (54,55%), trabalham exclusivamente no Módulo de Saúde da Família, não possuindo qualquer outro tipo de atividade de trabalho. Destes profissionais que se dedicam exclusivamente ao Programa de Saúde da Família (06 dentistas), a maioria, isto é, 05 dentistas (83,33%), é concursada e classifica-da como estatutária, tendo sido aprovada em concurso específico para o PSF. Esse dado é importante pois o Pacto pela Saúde3 tem como um de seus objetivos para o fortalecimento da Atenção Primária “(...) aprimorar a inserção dos profissionais da Atenção Básica nas redes locais de saúde, por meio de vínculos de traba-lho que favoreçam o provimento e fixação dos profissionais.” Quanto à capacitação institucional em re-lação ao câncer bucal, a pesquisa constatou que os dentistas das Equipes de Saúde Bucal têm capacitação institucional periódica promovida pela Prefeitura Municipal de Resende, embora não tenha ocorrido um capacitação específica sobre câncer de boca. Essa informação é im-portante, tendo em vista que as equipes de SB têm como atribuição fazer o rastreamento des-sa patologia. Pode-se concluir que o Município cumpre o preconizado pelo Pacto pela Saúde, que estabelece entre os gestores do SUS:

“(...) Desenvolver ações de qualificação dos profissionais da atenção básica por meio de estratégias de educação perma-nente e de oferta de cursos de especia-lização e residência multiprofissional e em medicina da família; consolidar e qualificar a estratégia de Saúde da Fa-mília nos pequenos e médios municí-pios; ampliar e qualificar a estratégia de Saúde da Família nos grandes centros urbanos”

e tem como diretriz:

3Documento pactuado na reunião da Comissão Intergestores Tripartite do dia 26 de janeiro de 2006 e aprovado na reunião do Conselho Nacional de Saúde do dia 09 de fevereiro de 2006.

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“avançar na implementação da Política Nacional de Educação Permanente por meio da compreensão dos conceitos de formação e educação permanente para adequá-los às distintas lógicas e espe-cificidades; considerar a educação per-manente parte essencial de uma política de formação e desenvolvimento dos tra-balhadores para a qualificação do SUS e que comporta a adoção de diferentes metodologias e técnicas de ensino-aprendizagem inovadoras, entre outras coisas; considerar a Política Nacional de Educação Permanente na Saúde uma estratégia do SUS para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor, tendo como orientação os prin-cípios da educação permanente”

e sendo de responsabilidade do Município:

“formular e promover a gestão da Edu-cação Permanente na Saúde e processos relativos à mesma, orientados pela in-tegralidade da atenção à saúde, criando quando for o caso, estruturas de coorde-nação e de execução da política de for-mação e desenvolvimento, participando no seu financiamento.”

Em relação às condições de logística, o presente trabalho constatou que a maioria dos dentistas das Equipes de Saúde Bucal pesquisados, o que corresponde a 10 dentis-tas (90,90%), dos Módulos de ESB, relataram que as unidades lhes oferecem boas condições físicas, de material e de insumos para um bom atendimento clínico e de uma boa investiga-ção para rastreamento de lesões pré-malignas ou malignas. Esse dado é importante, pois de-monstra que a Secretaria Municipal de Saúde está em sintonia com a Portaria nº 648, de 28 de Março de 2006, que estabelece que cabe ao gestor municipal do SUS, “garantir infra-estrutura necessária ao funcionamento das Unidades Básicas de Saúde, dotando-as de re-cursos materiais, equipamentos e insumos su-ficientes para o conjunto de ações propostas.” (Brasil, 2006) Este trabalho constatou que todos (100%) os dentistas das Equipes de Saúde Bucal pes-quisados ao suspeitarem de lesão pré-cancerí-gena simplesmente encaminham para o Centro de Especialidade Odontológica, o que está de acordo com a Portaria Ministerial 648 que diz

que é papel do dentista do PSF “encaminhar e orientar os usuários a outros níveis de com-plexidade do sistema e principalmente, manter a responsabilização pelo acompanhamento do usuário e o seguimento do tratamento, dentre outras responsabilidades” (Brasil, 2006), en-tretanto, a baixa resolutividade das Equipes de Saúde da Bucal pesquisadas compromete a realização da

“(...) atenção integral em saúde bucal, como a promoção e proteção da saú-de, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde individual e coletiva a todas as famílias, a indivíduos e a grupos es-pecíficos, de acordo com planejamento local, com resolubilidade.” (BRASIL, 2006)

Pode-se ressaltar quanto à marcação de consultas que tanto os dentistas das Equipes de Saúde Bucal quanto os dentistas do CEO, responsáveis pelo diagnóstico, consideram o sistema de referência e contra referência do Município de Resende como operacional e de bom funcionamento, porém, o constante deslocamento dos usuários para os centros de referências e a impossibilidade da realização de uma série de exames complementares para fins de diagnóstico em unidades próximas a sua residência, além de transtornos e gastos adicionais com transporte, submete o usuário a uma lógica de cuidado em saúde em que so-mente o especialista localizado no hospital ou no centro de referência pode dar resolubilida-de ao seu agravo, comprometendo inclusive o diagnóstico precoce. O aperfeiçoamento do sistema de referência e contra referência é fun-damental para a concretização do conceito da integralidade. Como os Centros de Especialidades Odontológicas são preparados para ofertar à população o diagnóstico bucal, com ênfa-se no diagnóstico e detecção do câncer oral, verificou-se, diante do exposto, que a falta de um profissional especialista em Estomatologia no Centro de Referência do Município com-promete um dos pilares do próprio Centro de Referência. Em suma, para aperfeiçoamento nos pro-cessos de ampliação da rede de saúde e da con-tinuidade do cuidado é importante as Equipes

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de Saúde da Família/Equipes de Saúde Bucal ampliarem a oferta de serviços de saúde aos usuários do sistema cadastrados no território do PSF. A ampliação de serviços de saúde pela Atenção Primária, e, consequentemente, o au-mento da resolutividade, evitando transtornos adicionais aos pacientes e dando mais agilidade ao diagnóstico, pode, efetivamente, contribuir para a qualidade na sobrevida dos pacientes com diagnóstico positivo de câncer oral.

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Endereço para Correspondência:Sylvio da Costa Júnior [email protected] 2 - Conjunto A-05 - Bloco B - Apto. 303Sobradinho - Brasília - DFCEP: 73.015-105

Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:JÚNIOR, SYLVIO DA COSTA; SERRA CARLOS GONçALVES. Diagnóstico e Continuidade do Cuidado do Câncer Bucal em pacientes acompanhados pelas Equipes de Saúde Bucal do Programa de Saúde da Família: a experiência do município de Resende, no Estado do Rio de JaneiroCadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano VI, n. 15, abril 2011. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/15/73.pdf>

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The modulating effect of bruxism as a form of suppressed hostility on depression in a selected population of tension type headache (TTHa) and craniomandibular disorders (CMDS) individuals.

O efeito modulador do bruxismo como uma forma de hostilidade reprimida numa população seleta com dor de cabeça por tensão muscular e distúrbios craniomandibulares (DCMS).

Omar Franklin Molina 1

Marcus Sobreira Peixoto 2

Raphael Navarro Aquilino 3

Rise Rank 4

ArtigoOriginal

Original Paper

1 Post Doctoral in Orofacial Pain (Harvard University), MDS, PA, Professor of Orofacial Pain, School of Dentistry, UNIRG-TO.2 MDS, Ph.D in Orthodontics, UNESP, Professor of Orthodontics, Dean UNIRG-TO.3 MDS, Ph.D (Radiology-UNICAMP), Professor of Radiology, UNIRG-TO.4 MDS, Dean, School of Dentistry, UNIRG, Tocantins.

Abstract

AIMS: explore the hypothesis that bruxism and depression are forms of suppressed hostility in individuals presenting Craniomandibular Disorders (CMDs) and Tension-type Headache (TTHa). METHODS: We evaluated a group of 100 Craniomandibular Disorders and Tension-Type Headache individuals, a group of 38 CMDs and Facial Pain individuals and a group of 23 No Craniomandibular Disorders No Facial Pain individuals. Clinical examination, questionnaires, history of signs and symptoms, the Beck Depression Inventory (BDI) and the Cook-Medley Inventory (HO) were used to gather data. RESULTS: The frequency of Tension Type Headache was about 43.5% in the group of 230 Craniomandibular Disorder patients. Mean scores in hostility were 19.0, 17.7 and 17.2 in the groups presenting Tension-Type Headache and CMDs, CMDs and Facial Pain and No CMDs no Pain, respectively. Mean scores in depression were about 12.0, 9.1 and 5.7 respectively in the same groups. Mean scores in bruxism were about 12.9, 8.2 and 6.8, respectively in the same groups. The strongest correlation between bruxism and depression were observed in the TTHa group (r=0.4, p<0.0001) and in the Non CMD Non Pain group (r=0.48, p<0.02). CONCLUSION: Depression is a better indicator of hostility in subgroups presenting TTHa. Scores in bruxism and depression as a form of suppressed hostility are higher in CMDs and TTHa individuals than in controls without TTHa. Because scores in bruxism were higher in TTHa and CMDs individuals, there is a strong and positive association between bruxism and TTHa in individuals with concomitant Craniomandibular disorders.

Key words:

Craniomandibular disorders

Tension-type headache

Bruxism

Depression

Recebido em06/2010

Aprovado em04/2011

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Introduction1.

Tension-type headache (TTHa) typically causes pain that radiates in a band-like fashion bilaterally from the forehead to the occiput. Pain often radiates to the neck muscles and is described as tightness, pressure, or dull ache (1).The International Headache Societydefines tension-type headache more precisely, separates the episodic from the chronic form and divides such headache in the form associated with a disorder of the pericranial muscles and the form not associated. A serious problem in studying TTHa is the possibility of mistaking such headache with migraine, unilateral miofascial headache and combination headache (2). Tension type headaches often occur bilaterally and are felt in the occipital or temporal region and are often aggravated by prolonged immobility of the neck such as when driving or working with the head flexed (3). Tension type headache is usually felt like a tightening on both sides of the head. Pain episodes can last for minutes, hours or days and can happen frequently.

Pain episodes are described as constant, dull, aching pain unassociated with other symptoms (4). Tension headaches are often the result of stress or bad posture, which causes tightening of the muscles of the neck and scalp (5).

Literature review2.

Anger and hostility are implicated in the development and maintenance of chronic pain and it has been reported that patients with various chronic pain disorders are characterized by high levels of trait anger and hostility. Some findings including the tendency to suppress anger or externalize angry feelings seems to be a robust determinant of chronic pain severity (6). The tendency to suppress anger was noted many decades ago by Engels in his study of chronic facial pain patients who also presented higher levels of depression and it has been suggested that suppression of anger is more common in pain populations than in non pain controls (7). Research (8), indicates that physical stress, frustration and anxiety

Resumo

OBJETIVOS: Testar a hipótese de que o bruxismo e a depressão são formas de hostilidade reprimida em indivíduos que apresentam Distúrbios Cranio-mandibulares (DCMs) e Dor de cabeça por tensão muscular (DCT). MÉTO-DOS: De um grupo de 230 pacientes com Distúrbios Craniomandibulares (DCMs), nos selecionamos todos os indivíduos que apresentavam dor de cabeça por tensão muscular (n=100). 38 indivíduos com DCMs e Dores faciais e 23 indivíduos sem DCMs e Sem dor, foram avaliados como gru-pos controles. História dos sinais e sintomas, exame clínico, questionários clínicos, o questionário de Beck para depressão e o de Cook-Medley para hostilidade, foram utilizados para recolher dados. RESULTADOS: A freqü-ência de dor de cabeça por tensão muscular (DCT) foi de 43.5% no grupo de indivíduos com DCMs. Os valores médios em hostilidade foram de 19.0, 17.7 e 17.2 nos grupos com DCM+DCT, DCMs + Dor Facial e Sem DCMs e Sem Dor Facial, respectivamente. Os valores médios em depressão foram 12.0, 9.1 e 5.7 respectivamente nos mesmos grupos. Os valores médios em bruxismo foram 12.9, 8.2 e 6.8 respectivamente nos mesmos grupos. As correlações mais fortes entre bruxismo e depressão foram observadas nos grupos com DCT (r=0.4 e p<0.0001) e no grupo Sem DCMs e Sem Dor (r=0.48, p<0.02). CONCLUSÕES: Já que os valores em hostilidade foram similares, mas os valores em depressão e bruxismo foram diferentes nos 3 grupos avaliados, os valores em depressão constituem um indicador melhor da hostilidade em subgrupos que apresentam Dor de cabeça por tensão mus-cular. Os valores em bruxismo e depressão como uma forma de hostilidade reprimida, são mais altos em indivíduos com Dor de cabeça por tensão mus-cular e DCMs do que em indivíduos com DCMs e Dor Facial e Sem DCMs e Sem dor. Já que os valores em bruxismo foram mais altos no grupo com DCT e com Distúrbios Craniomandibulares, existe uma associação muito forte entre bruxismo e DCT em indivíduos que apresentam Distúrbios Cra-niomandibulares concomitantes.

Palavras-chave:

Distúrbios Crani-omandibulares

Dor de Cabeça por Tensão Muscular

Bruxismo

Depressão

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can lead to frequent and intense or low level but sustained muscular contractions which in turn increase pain through ischemia and hypoxia (9). Anger management style and hostility are related to individual differences in physiological reactivity to stress (10). For instance, psychosomatic patients may react with symptoms in stress situations when compared with non psychosomatic controls. Pain involves both a sensory and an affective component. Negative affect is a construct involving anxiety, depression and anger. These emotions can influence the likelihood an individual will experience in a headache attack (11). Even though a relationship between hostility and depression has been well established, the way tension type headache, depression, hostility and bruxism are interrelated is still intriguing. For instance, it is not known how bruxism as a form of suppressed anger presents and interacts in headache patients and controls. The goals of this study are to test the working hypothesis as follows: 1.In CMD/ TTHa, CMD+Facial pain and a non/pain control groups, the level of hostility will not be different in these three groups as hostility is suppressed and is presented in the form of bruxing behavior; 2.If bruxism is closely associated with depression which reflects hostility inward, scores in depression will vary significantly in these three groups. 3.If bruxism is a form of suppressed hostility, more severe bruxism will be present in TTHa patients and will correlate positively with higher levels of depression.

Materials and Methods3.

Material of this study was obtained from a selected populations of 230 craniomadibular disorders (CMDs) patients referred consecutively over a period of seven years to UNIRG Center for the study of CMDs and Bruxism for assessment and treatment. The charts of all patients presenting CMDs, TTH and bruxing behavior were retrieved and evaluated retrospectively. Information regarding CMDs signs and symptoms, bruxing behavior, and specific characteristics of Tension Type Headache was obtained by using a comprehensive protocol including:

History of chief complaint and signs and 1. symptoms of CMDs and headachesQuestionnaires to assess bruxing behavior, 2. which allowed us to classify bruxers as suffering from mild, moderate, severe, and extreme bruxing behaviorA comprehensive questionnaire for 3. headache which allowed us to classify CMD/headache patients as suffering from tension-type headache (TTH), migraine headache, combination headache and myofascial headache different from TTH.Clinical examination including palpation 4. of the masticatory and cervical muscles to complement TTH diagnosis. The temporomandibular joints (TMJs) were palpated and joints sounds were assessed with a stethoscope. Jaw movements and the occlusion were also assessed. Initially, patients referred for examination and treatment were classified as presenting CMDs according to a previous publication (12). Then, with the information from questionnaires for bruxing and headache and clinical examination, patients were diagnosed as suffering or not from bruxism and headaches. Severity of bruxism and headache type were then diagnosed. All patients (N=100) presenting tension type headache were separated to form the “TTH group”. A group of 38 patients presenting CMDs + facial pain without headache was also separated to form the first control group (A). The second control group (Control B), consisted of individuals referred to the same center in the same period of time, presenting neither craniomandibular disorders, nor facial pain. Inclusion and exclusion criteria were established to diagnose individuals as presenting CMDs, mild, moderate, severe and extreme bruxing behavior, and tension type headache.

Exclusion criteria for patients in this study: Presence of neurological and major psychological/psychiatric disorders, use of antipsychotic medication and severe and generalized muscle disorders, for instance, Parkinson Disease. Inclusion criteria for CMDs individuals were those described as follows: Seeking active treatment for a

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muscle/TMJ disorder, presence of pain in the masticatory muscles and temporomandibular joints, failure of previous modes of therapy and difficulties to perform normal jaw movements. Because this study was based on data from retrospective patients´ charts (2003-2009) from UNIRG Department of Orofacial Pain and Craniomandibular disorders, this study offered no risk for the patient. Criteria for Craniomandibular Disorders: two or more of the following: a complaint of pain in the masticatory muscles and/or temporomandibular joints, pain on palpation of the masticatory muscles, tenderness in such muscles to gentle palpation, presence of joint noises reported by patients and confirmed with the use of a stethoscope placed laterally over the lateral area of the TMJ and headache of craniomandibular (CMD) origin. CMD patients were classified as presenting no bruxism (0-2), mild (3-5), moderate (6-10, severe (11-15) and extreme bruxism (16-24) signs and symptoms according to a scale published previously (13). Such scale is very useful clinically as the use of patients’ report and clinical examination allows the examiner to assess a full range of bruxism severities. The diagnosis of Tension-type headache was established as follows: a sensation of ightness, pressure or constriction which varies in intensity, frequency and duration, pain occurring invariably bilaterally in the nuchal, occipital frontal or temporal regions, pain mostly described as mild or moderate, nonpulsatile, without prodrome and lasting hours or days (14). Other characteristics to accept patients as presenting TTHa included bilateral pain not worsening with physical activities, nausea is not usually a symptom, presence of sensitivity to light in some patients and absence of vomiting (15). Because TTHa may be very similar to combination headache (CoHa), on examination of the charts (researcher OFM), enough care was exercised to carefully separate and exclude CoHa patients from those presenting TTHa. The Beck Depression Inventory (BDI) is a robust psychological instrument having 21 self-rating items which measures depression. Each scale in the instrument has phrases ordered by the level of severity (0-3), and the patient is instructed to identify and record the

one that more accurately describes his/her feelings. The Cook-Medley Inventory (HO) is composed of sets of true or false questions (A or B) that the patient is instructed to select according to the one that better describes his/her reaction to a descriptive situation. Such questionnaire measures ability to get along well and to establish rapport with others, and represents the individual’s own description. Reading patients’ responses may provide a better insight into the personality of the individual. The hostile person is one who has little confidence in his/her fellows. Hostility is related to chronic hate or anger. Values in hostility in the Cook-Medley Inventory range from 0 (no hostility at all), to 46 ( the highest severity of hostility). The Visual Analogue Scale (VAS) ranging from 0 (no pain at all ) to 10 (the worst pain ever felt) was used to asses the severity of tension type headache and it allows any examiner to establish correlations between TTHa and bruxism, severity of pain and bruxism, and severity of pain in TTHa and chronicity of the chief complaint. Because this study was based on data from retrospective patients’ charts (2003-2009) belonging to UNIRG Department of Orofacial Pain and Craniomandibular Disorders and offered no risk for the patient it was approved by the Ethics Committee of UNIRG Dental School. Statistical analysis used in the current investigation included basis statistics (mean, standard deviation and range), non parametric ANOVA (Kruskall-Wallis and post hoc test:Dunn), and Correlation analysis (Pearson and Spearman).

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Results4.

Table I: Demographic data in patients presenting TTHa+CMDs (N=100, CMDs+Facial Pain (N=38) and no CMDs-No Facial Pain (N=23)

CMD+TTHa CMDs+Facial Pain No CMDs-No Pain

N:100 N:38 N:23

n % n % n %

Females 92 92 32 84 14 60.8

Males 8 8 6 16 9 39.2

Totals 100 100 38 100 23 100

Mean age 33.9 29.6 30.6

SD 11.7 10.3 10.6

Range 14---75 19---57 13--57

Table II: Means in hostility in the CMD+TTHa, CMD+Facial pain and Non- CMD No Pain Controls.

CMD+TTHa CMDs+Facial Pain No CMDs-No Pain

N=100 N=38 N=23

Mean 19.0 17.7 17.2*

SD 5.1 6.3 6.1

Range 0---32 7-31 5---29

*Kruskal-Wallis test p>0.33: A statistically non significant difference.

The level of hostility is higher in the CMD+TTH but not different stat speaking as in the CMD+TTHa group, hostility be-

comes depression. This is supported by data on depression. The level of depression in the CMD+TTHA is much higher.

Table III: Depression in the CMD+TTHa, CMD+Facial Pain and No CMD-No pain subgroups.

CMD+TTHa CMD+Facial Pain No CMD/No Pain

N=100 N=38 N=23

Mean 12 9.1 5.7*

SD 7.8 7.1 4.2

Range 0---3 0--24 0--13

*Kruskal-Wallis test p<0.0009 considered an extremely significant difference.

The difference in depression scores betwe-en the CMDs+TTHa and the CMDs+Facial Pain group was not significant (p>0.05). The differen-ce in the same scores was statistically significant between the TTHa group and the Non

CMD Non pain Control (p<0.01). The di-fference in depression scores between the CMDs+Facial Pain and the Non CMDs No Pain, was not statistically significant (p>0.05).

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Table IV: Means in bruxism in the CMDs+TTHa, CMD+Facial Pain and in the no CMD-No pain subgroups.

CMDs+TTHa CMD+Facial Pain No CMD/No Pain

N:100 N=38 N=23

Mean 12.9 8.2 6.8***

SD 4.9 .0 4.4

Range 0---21 0---16 0---16

*** Kruskal-Wallis tests p<0.0001 considered an extremely significant difference: Mean difference between the CMDs/TTHa and the CMDs/Facial pain group (p<0.001), between the CMDs/TTHa group and NO CMD/No Pain group

(p<0.001) and between the CMDs/Facial pain and the No CMDs/No pain control groups (p>0.05).

Note: Because bruxism scores are higher in the CMD+TTHa, hostility becomes dissipated, then CMD+TTH individuals do not have to become so hostile and then they are less depressed. Nevertheless, their level of depression is the highest in the three groups. If hostility were not dissipated through bruxism, they would become more hostile and depressed.

Table V: Pearson correlation analysis in the groups CMDs+TTHa, CMDs+Facial Pain and Non CMD-No pain Controls.

CMDs+TTH CMDs+FacialPain No CMDs-

No PainN:100* N:38** N:23***

Bruxism 12.9 8.2 6.8

Depression 12.0 9.1 5.7

*Correlation analysis between bruxism and depression in the CMDs/TTHa. Because Pearson r=0.4 and p<0.0001, it means that higher scores in bruxism correspond to higher scores in depresson in the CMD+TTH group. The correlation was strong.

**Correlation analysis bruxism and depression in the CMDs+Facial pain group. Because Pearson r=0.24 and p>0.15, there was no a positive correlation between scores in bruxism and scores in depression in this subgroup of subjects.

***Correlation analysis bruxism and depression in the Non CMD-Non Pain group. Because Pearson r=0.48 and p<0.02, there was a positive correlation between bruxism and depression in this subgroup.

Table 1 shows that the mean ages in the group of CMD+TTHa, CMDs+Facial Pain and Non CMD Non facial individuals were about 33.9, 29.6 and 30.6 years respectively. Table II demonstrates that mean scores in hostility in the CMD+TTHa, CMDs+Facial Pain and Non CMDs No pain were about 19.0, 17.7 and 17.2, respectively. Non parametric ANOVA analysis (Kruskal-Wallis test p=0.33) demonstrated that such scores were not statistically different. Table III shows that mean scores in depression in the groups presenting CMDS+TTHa, CMDs+Facial Pain and no CMDs No Facial pain were about 12.0, 9.1 and 5.7 respectively. Such values were statistically different and significant (Kruskal-Wallis test p=0.0009). Table IV demonstrates that mean values in bruxism in the CMDs+TTHa, CMDs+Facial Pain and

Non CMDs No pain groups were about 12.9, 8.2 and 6.8, respectively. The difference from the CMDs+TTHa to the CMDs+Facial pain group was statistically significant (Kruskal-Wallis ANOVA p<0.001). Such difference was also significant from the CMDs+TTHa to the Non CMDs Non Pain group (Kruskal-Wallis ANOVA p<0.001). The difference in the severity of bruxism between the CMDs+Facial pain and the Non CMDs No pain was not statistically significant (ANOVA Kruskal-Wallis p>0.05). Table V was used to show scores in correlation between bruxism and depression in the three aforementioned groups. Because the correlation value comparing bruxism-depression in the CMDs+TTHa group was about 0.4 and p<0.0001 as compared to the CMDs+Facial pain (r=0.24, p>0.15)

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and to the Non CMDs No pain (r=0.48 and p<0.002) such value indicates that there is a stronger correlation between bruxism and depression in the CMDs+TTHa group. On speculative grounds we may say that bruxism indicating suppressed hostility which leads to depression is an important element in the pathophysiological process of tension type headache. It may be that a third factor, for example somatization, is an important element common to bruxism, tension type headache and depression. Such assumption will be tested in a future study.

Discussion5.

5.1 Severity of hostility

One of the aims of this study is to assess hostility level in the TTH group as compared to the CMD+Facial Pain and to the Non-CMD no Pain group. The results of this study showed that there was not statistically significant difference in the level of hostility between the three groups (Kruskal-Wallis p>0.33). Such outcome is unexpected as many studies emphasize the role of anger as a psychophysiological component in headache and CMD patients. It may be that most TTHa and CMD patients do present a type of anger which is displaced inward and is disguised as depression as such patients are unable to express such affect externally. Following this line of reasoning, it is noteworthy to mention that most CMD patients present with sign and symptoms of headache and one study (3) defend the notion that bruxism may build up because of the inability of the patient to express rage or hate. This line of reasoning is also supported by one investigation (16) evaluating the relationship between anger and psychophysiological disorders in TTHa individuals and no pain controls which reported that TTHa sufferers were found to have significantly more anger held inward than controls. Additionally, patients presenting chronic tension-type headache usually have physical and emotional dependency, low frustration tolerance, sleep disturbances and depression (2). Additional support for the notion that CMDs and TTHa patients present with higher levels of anger held inward which becomes

depression, comes from one correlationstudy (17) about anxiety, depression and hostility demonstrating that internalized anger predicts depressive symptoms. Individuals with headache are more likely to hold their anger in as compared to persons without headaches (18,19)). Individuals who hold anger in, experience increased pain severity (20), and failure to express anger leads to more disability. One study in headache patients (21) reported that patients with migraine and TTH showed a significantly higher level of angry temperament and angry reactions. The research also indicated that chronic TTHa and combination headache patients reported a high level of depression and that chronic TTHa present a significant impairment of anger control suggesting a connection between anger and the duration of headache experience. Battistutta and colleagues (22) evaluated adolescents presenting with TTHa and reported that the clinical group of adolescents obtained higher scores than the control group in aggressive behavior and greater emotional and behavioral problems when compared with non headache controls. Because we found similar hostility scores in different groups (TTH, Facial pain and controls) but different scores in bruxing behavior and depression, the results of the current investigation are substantiated by another study in 720 college men and women (23), reporting that college men and women did not differ in trait anger, anger-in or anger out, but there was a gender difference only in the way anger was expressed somatically. This line of evidence has additional support in the observation of higher scores in bruxism in TTHa individuals as compared to the facial pain and control no pain groups. Bruxing behavior is a somatic expression of hostility. Venable and colleagues (24) evaluated tension-type headache patients and reported a significant relationship between anger suppression and depression (r=0.40).

5.2 Severity of depression

Because pain, hostility, bruxing behavior and TTHa are interrelated a second aim of this study was to assess the level of depression in TTHa individuals and controls. In this study we report that the level of depression

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increased from the Non CMD/No Pain to the CMD+Facial Pain and to the TTHa group, but the difference was statistically significant only from the TTHa to the Non CMD no Pain group (P=0.0009). The TTHa group also demonstrated a greater chronicity of the pain complaint. Thus, the results of this study are in accordance with one investigation (2) reporting that patients presenting chronic tension-type headache usually have physical and emotional dependency, low frustration tolerance, sleep disturbances and depression. Because more severe bruxism was observed in patients presenting TTHa as compared to the control groups, the results of this study are further substantiated by one investigation (25), which evaluated bruxers and non-bruxers and reported that the level of depression reflected by the BDI increased progressively from the mild to the moderate and severe bruxing behavior groups and the difference was statistically significant when compared to the control group. Additionally, Ware and Rugh (26) evaluated a destructive or severe group of bruxers, and even though the sample was small, they found that patients in that group were more depressed and presented more severe CMD symptoms. In the current investigation we observed that a variety of depression levels were present in the population of CMD and Tension-Type Headache. Mild, moderate and severe levels of depression could be observed. Therefore, the results of our study are in accordance with those of Holroyd and associates (27) who reported a mean BDI score of 15.6, but 20% of the patients presented with a mean BDI of about 19 or more. They also reported a mean BDI score of 15.6 as compared to 12 in our population of Tension Type Headache patients. However such researchers assessed only chronic pain patients which could explain the higher BDI mean reported in their investigation. Because we found higher BDI scores in the population of TTHa patients as compared to the control groups, the results of our investigation are reinforced by one research (28) reporting that the average scores for anxiety and depression were significantly higher in headache sufferers as compared to controls. CMD and bruxing behavior patients and controls usually present similar levels of hostility. However, the level

of depression is usually higher in CMD and bruxing behavior individuals (25). Data from this and other studies suggest that as pain and hostility becomes more severe depression as an expression of hostility becomes a more feasible indicator of such disorders.

5.3 Severity of bruxing behavior

Another goal of this study was to assess the severity of bruxing behavior in the TTHa group and to evaluate correlations between bruxism and hostility, and between bruxism and depression. In this study we report means of bruxing behavior of about 12.9, 8.2, and 6.8 in the groups presenting TTHa, CMDs+Facial Pain and No CMDs No Pain. It seems apparent that severer bruxism is found in patients presenting with tension type headache and CMDs. Because severer bruxism was more common in TTHa patients and bruxism is considered a psychosomatic disorder characterized by hyperactivity of the masticatory and adjacent musculature, TTHa patients are more likely to present pain of muscle origin, trigger points in the neck muscles and hyperactivity of masticatory and pericranial muscles. Supporting this line of evidence, one investigation (29) points out the importance of sustained contraction of neck and scalp muscles, abnormal sleep physiology and parafunctional habits in patients presenting with TTHa. Ribeiro and associates (30) defend the notion that many patients presenting with TTHa exhibit some psychological disorders and increased contraction of the neck, pericranial and jaw muscles. It may be that some psychophysiological disorder, for instance, anxiety and/or somatization is a common phenomena for both, TTHa and bruxing behavior. This point of view is reinforced by the fact severer bruxism was found more frequently among tension-type headache patients.

5.4 Correlation analysis: Bruxism and depression

Previously, we defended the notion that depression and or severer bruxism as a form of suppressed hostility would be a better indicator of hostility. This point of view has support in one

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study (25) evaluating bruxers and nonbruxers and reporting that the severity of hostility was not so different between CMDs patients/Bruxers and controls. However, the level of depression reflected by the BDI increased progressively from the mild to the moderate and severe bruxing behavior groups and the difference was statistically significant when compared to the control group. Additionally, one investigation (26) evaluated a destructive or severe group of bruxers, and even though the sample was small they found that patients in that group were more depressed and presented more severe CMD symptoms. Interesting to note is that only the moderate group of bruxers demonstrated a significantly more severe hostility as compared to the control group. It may be that as the severity of bruxing behavior increases (more hostility inwards), there is a point where such hostility is internalized. It follows that as the severity of bruxing behavior increases from moderate to severe and extreme the level of depression as an expression of hostility inward increases. If this line of reasoning is true, then higher levels of depression should be found in severe and extreme forms of bruxing behavior. Data from this and other studies suggest that as pain and hostility becomes more severe, depression as an expression of hostility, becomes a more feasible indicator of such phenomenon. Because bruxing behavior was more severe in TTHa patients, and sustained muscle hyperactivity can affect the masticatory, pericranial and cervical muscles, the results of this investigation are supported by one study (4) reporting that the best documented abnormality in TTHa patients is the presence of pericranial and cervical tenderness. Hostility inwards in the form of bruxing behavior which leads to increased levels of depression is a strong component in patients presenting with CMD /tension type headache and CMD/Facial pains. This observation has strong support in the correlation analysis between bruxism and depression: CMD+TTHa group (r=0.4, p=0.0001), CMD and Facial Pain (r=0.24 and p=0.15) and Control Non Pain group ( r=0.48, p=0.02).

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Endereço para Correspondência:Omar Franklin [email protected] Pará, 1544Gurupi - TOCEP: 77400-020

Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:MOLINA, Omar Franklin; PEIXOTO, Marcus Sobreira; AQUILINO, Raphael Navarro; RANK, Rise. The modulating effect of bruxism as a form of suppressed hostility on depression in a selected population of tension type headache (ttha) and craniomandibular disorders (cmds) individuals. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano VI, n. 15, abril 2011. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/15/91.pdf>

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Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e a educação física

Attention deficit and hyperactivity disorder and physical education

Maria Auxiliadora Motta Barreto1

Sandro Cezar Moreira2

Resumo

O artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre e a intervenção do pro-fessor de Educação Física com alunos portadores do Transtorno de Défi-cit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), reunindo alguns dos principais autores sobre o assunto. O objetivo é compilar informações relevantes sobre o conceito de TDAH, a influência negativa que o transtorno traz no desempenho de crianças em idade escolar e os benefícios da atuação do professor de Educação Física no processo de aprendizagem desses alunos. O TDAH é uma doença caracterizada por desatenção, hiperatividade e impulsividade e está presente em 5% das crianças no mundo. O diagnós-tico é essencialmente clínico e cerca de 30% a 50% dos casos apresentam comorbidades, o que dificulta a avaliação, assim como o tratamento. É fundamental que profissionais de Educação Física tenham cada vez mais informações sobre o TDAH, pois quanto maior o conhecimento, melhores serão as estratégias utilizadas com essas crianças.

1 Docente do Programa de Mestrado em Ensino em Ciência da Saúde e do Meio Ambiente – UniFOA, psicóloga, doutora em Psicologia como Profissão e Ciência.2Aluno do Programa de Mestrado em Ensino em Ciência da Saúde e do Meio Ambiente – UniFOA, professor de Educação Física do Centro Universitário de Barra Mansa – UBM, Especialista em Treinamento Esportivo em Alto Nível.

Abstract

The article presents a literature review on the intervention of the physical education teacher with students with the Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD), bringing together some of the leading authors on the subject. The goal is to compile relevant information about the concept of ADHD, the negative impact that the disorder brings the performance of school children and the benefits of the performance of physical education teacher in the learning process of students. ADHD is a disorder characterized by inattention, hyperactivity and impulsivity and is present in 5% of children in the world. The diagnosis is essentially clinical, and about 30% to 50% of the patients have comorbidities, which complicates the evaluation and treatment. It is essential that physical education professionals to have more information about ADHD, since the greater the knowledge, the better the strategies used with these children.

Palavras-chave:

Dificuldade de Aprendizagem

Educação Inclusiva

Educação Física

Transtorno de Déficit de Atenção

Hiperatividade

ArtigoOriginal

Original Paper

Key words:

Attention Deficit and Hyperactivity Disorder

Learning Disabilities

Inclusive Education

Physical Education

Recebido em 03/2011

Aprovado em 04/2011

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Introdução1.

Pesquisas apontam haver um grande nú-mero de crianças portadores do TDAH nas es-colas em geral (em torno de 3% a 6% da popu-lação de 7 a 14 anos, de acordo com RODHE, 2008), sendo a prevalência média mundial em torno de 5% (GOMES et al, 2007). Alguns estudos, como os feitos por Fontana (2007), apresentam que no Brasil a prevalência é de 13%. Apenas esses dados já refletem a neces-sidade de se atuar adequadamente com crian-ças portadoras do transtorno e a importância do conhecimento do professor de Educação Física sobre o TDAH, permitindo traçar es-tratégias pedagógicas corretas em suas aulas, promovendo além do desenvolvimento da par-te motora, elevação da autoestima e confiança do aluno (POETA e NETO, 2005). O presente artigo propõe uma revisão bibliográfica sobre a intervenção dos profes-sores de Educação Física com alunos porta-dores do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Assim, foram reu-nidas informações relevantes sobre o tema, como conceito de TDAH, tipos existentes e suas principais características, prevalência, possíveis causas, diagnóstico, principais co-morbidades, a influência negativa que o trans-torno traz no desempenho das crianças em idade escolar e benefícios que a atuação do professor de Educação Física pode trazer no processo de aprendizagem destes alunos.

Desenvolvimento2.

2.1 Educação Física

A Educação Física pode ser compreen-dida como área que aborda e teoriza as ativi-dades corporais em suas dimensões culturais, sociais e biológicas, cujo foco não se restringe ao esporte e à atividade física e se amplia para questões de saúde. (FIGUEIREDO, 2004) Segundo Brooks (apud BETTI, 1991) a Educação Física caracterizou-se como uma disciplina acadêmica ou corpo organizado de conhecimento, composto de fatos e hipó-teses organizados em torno da compreensão do corpo humano praticando exercício, que é tanto multidisciplinar como interdisciplinar.

Multidisciplinar porque está fundamentado em outras disciplinas como Fisiologia e Psicologia, e interdisciplinar porque utiliza de parcelas de informações de outras disciplinas. Dentro do sistema escolar, pode ser definida como um componente curricular que se utiliza das ativi-dades físicas institucionais (dança, ginástica, jogo, esporte) para atingir objetivos amplos e, portanto, como um meio de educação formal. Em continuidade a essas ideias, Freire (2003) considera que conteúdos como a dan-ça, ginástica, jogo e o esporte não contemplam todas as possibilidades da Educação Física, preferindo separar os conteúdos em jogos e exercícios corporais, constituindo conteúdo da Educação Física toda manifestação cultural que corresponda à dimensão lúdica ou à cons-trução de técnicas de desenvolvimento corpo-ral. Nela se desenvolvem, além dos recursos motores e intelectuais, temas como moral, sentido estético, solidariedade, cooperação. Da mesma forma, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN,1997, p.33) determinam que o processo de ensino aprendizagem de Educação Física não se restringe ao simples exercício de certas habilidades e destrezas, mas sim, em capacitar o indivíduo a refletir sobre suas possibilidades corporais e, com au-tonomia, exercê-las de maneira social e cultu-ralmente significativa e adequada.

2.2 Formação do Professor Educação Física

Segundo Figueiredo (2004), o aluno que ingressa no Curso de Educação Física o faz devido à identificação com o esporte de alto nível ou pela própria experiência escolar vol-tada para o esporte, ou seja, pelo vínculo que já possuía com a área esportiva. Muitos che-gam ao final do curso sem perceber que mais importante que fazer é aprender a ensinar os conteúdos da Educação Física, priorizando disciplinas práticas e biológicas em detrimento das disciplinas humanas, como a pedagogia.

Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade... ou seja, o professor tem que levar a sério a sua for-mação, pois de outro modo não sentirá segurança, elemento fundamental para se colocar na posição de professor (FREIRE apud LAVOURA, 2006, p.206).

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Por isso a importância de uma forma-ção profissional equilibrada entre a teoria e a prática, entre o saber fazer e o ensinar a fa-zer. Para que isso aconteça, o professor de Educação Física precisa conhecer as princi-pais tendências em Educação Física Escolar. Segundo Lavoura (2006) apoiando-se em Darido (2003), as principais abordagens após a visão esportivista e mecanicista da década 60 e 70 são: abordagem desenvolvimentista, psicomotricidade, abordagem construtivista, abordagem da saúde renovada, abordagem crítico-superadora, abordagem crítico-eman-cipatória, abordagem sistêmica, abordagem cultural, abordagem dos jogos cooperativos. Para Lavoura (2006) é uma ilusão achar que uma abordagem é perfeita, mas é preciso conhecer diversas aborfagens para poder refle-tir sobre a forma de atuar dentro do princípio escolhida, ou ainda dentro do próprio modo de trabalhar. A Educação Física, como todas as licenciaturas, necessita de uma formação completa e integral, em que teoria e prática ca-minhem juntas em busca de uma educação de qualidade. Os cursos de Pós Graduação Lato Senso (especialização) e Stricto Senso (mes-trado e doutorado) podem ser fundamentais nesse processo, especializando professores.

2.3 Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) se constitui numa pa-tologia reconhecida pela Organização Mundial da Saúde. Segundo Cypel (2007) o conceito de TDAH é bastante genérico, diagnosticado pu-ramente por critério clínico e marcado pela des-crição de um conjunto de sinais e sintomas. Em geral, baseia-se na avaliação de manifestações relacionadas à desatenção, à hiperatividade e à impulsividade, como já apontamos em outro trabalho (MOREIRA e BARRETO, 2009). Alguns autores, como Barkley (apud BENCZIK, 2000) acreditam que os sinto-mas do TDAH podem aparecer em crianças até os 12 anos, sendo definido pelo DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - Fourth Edition) como um proble-ma de saúde mental, considerado como um distúrbio bidimensional que envolve a atenção e a hiperatividade/impulsividade.

Para Rohde (2003), o TDAH é consi-derado um transtorno do desenvolvimento e apesar de já ter sido considerado um distúrbio comportamental de meninos, atualmente, é frequentemente diagnosticado em meninas. O transtorno pode ser subdividido em três tipos, de acordo com a predominância dos sintomas: predominantemente desatento, predominante-mente hiperativo/impulsivo e combinado. Quanto à prevalência, pesquisas (apud ROHDE, 2003) apontam que no mundo a taxa varia da seguinte maneira: 3% a 6% na Nova Zelândia; 2% a 6,7% na Alemanha; 8,7% no Japão; 8,9% na China; 1% na Inglaterra e 4% na Itália. Além disso, há predominância do sexo masculino (BROW,2001; SZATMARI,1989 e BRITO,1995 apud ROHDE, 2003), sem nenhu-ma causa apontada para a diferença de gênero.

Etiologia

Apesar das pesquisas realizadas para se descobrir as possíveis causas do TDAH, elas ainda continuam desconhecidas. Nenhuma hi-pótese isolada obteve aceitação como causa, mas há evidências de alguma anormalidade de funcionamento cerebral, genética ou adquiri-da e até mesmo de socialização (ARNOLD; JENSEN apud BARBOSA; BARBOSA; AMORIM, 2005). Rohde (2003), por exemplo, revela a im-portância de fatores genéticos nas causas do TDAH, quando aponta que crianças com pais portadores do transtorno têm de duas a oito vezes mais chance de adquirir a doença. Também aponta para fatores ambientais como desentendimentos familiares e presença de transtornos mentais dos pais, classe social baixa, família muito numerosa, criminalidade dos pais e colocação em lar adotivo, com asso-ciação positiva com TDAH. (ROHDE, 2003) Benczik (2000) aponta, ainda, outros fatores que poderiam causar o TDAH: lesão cerebral, fatores neuroquímicos, fatores neu-rofisiológicos, chumbo, substâncias ingeri-das durante a gravidez, fatores psicossociais e estressantes, como alto grau de discórdia conjugal, baixa instrução da mãe, família com apenas uns dos pais, famílias com nível socio-econômico mais baixo.

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Avaliação diagnóstica do TDAH

O diagnóstico do TDAH deve ser preci-so, pois não existe nenhum teste físico, neu-rológico ou psicológico que possa provar sua existência. Exames de sangue, urina, ressonân-cia magnética ou tomografia computadorizada não resolverão o problema, nem, tampouco, farão o diagnóstico. A avaliação mais frequen-te e que traz mais resultados é a feita através de entrevista com a criança, com seus pais e através de informações da escola. (PHELAN, 2005) De acordo com Rohde (2003), o diag-nóstico do TDAH deve ter por base critérios claros e bem definidos. Condemarím (2006) recomenda uma avaliação multimodal, com entrevistas com os pais, professores, preenchi-mento de questionários, observação direta do comportamento da criança na escola e infor-mações sobre seu desempenho acadêmico. Esse diagnóstico é estabelecido por cri-térios internacionais de doenças, utilizando o CID-10 e o DSM-IV. E é importante salientar que somente os profissionais especializados para isso podem diagnosticar o TDAH, como psicólogos e os médicos pediatras, neurologis-tas e psiquiatras.

Principais comorbidades

Comorbidade é um termo utilizado para caracterizar a ocorrência de dois ou mais transtornos em um mesmo indivíduo. Segundo Pereira et al (2005), a presença de comorbida-des com o TDAH é comum em 30% a 50% dos casos.

Detectar quadros comórbidos é funda-mental para o diagnóstico, na medida em que o quadro associado afeta a ex-pressão dos sintomas, o prognóstico e a resposta ao tratamento (CONDEMA-RÍM, 2006, p.103)

As principais comorbidades com TDAH, segundo Rohde (2003), são: Transtorno Desafiador de Oposição (TDO), Transtornos de Conduta (TC), Depressão, Transtorno do Humor Bipolar, Transtorno de Ansiedade, Transtorno de Tiques (TT), e o Distúrbio do Desenvolvimento da Coordenação (DDC).

2.4 Desempenho escolar e o TDAH

Quando o TDAH está presente pode causar problemas para a vida da criança em todas as esferas – em casa, em eventos sociais e, principalmente, na escola. Segundo Rohde (2003), acontece um grande impacto no desenvolvimento educa-cional de crianças com TDAH. A desatenção e a falta do autocontrole, características do transtorno, intensificam-se em situações de grupo, dificultando, ainda mais, a percepção dos estímulos relevantes, a estruturação a exe-cução adequada das tarefas. Para Condemarím (2006) o êxito ou o fracasso na escola determina não apenas o bem estar psicossocial da criança, como tam-bém traz efeitos diretos na sua vida adulta. A relação entre o transtorno e o fracasso escolar pode ser situada em um modelo de círculo que tende a se perpetuar: o fracasso gera sentimen-to de frustração, que por sua vez gera expecta-tivas de fracasso, as quais diminuem o esforço da criança, e assim por diante. As crianças com TDAH tentam ter um bom rendimento escolar, entretanto, a dificul-dade de concentração e motivação, aliadas a uma estrutura escolar inadequada para esses alunos, dificultam o seu desempenho, levando-os a conflitos com professores e colegas de tur-ma. Na população em geral, de 10% a 15% das crianças apresentam dificuldades de aprendi-zagem; em portadores de TDAH este número sobe para próximo de 40% (PHELAN, 2005). Segundo Orjales (apud CONDEMARÍM, 2006) um do graves problemas do transtorno é o efeito “bola de neve”, ou seja, crescem as dificuldades no decorrer do tempo, caso não haja uma intervenção adequada. Os problemas na atenção, impulsividade e inquietação moto-ra dificultam o rendimento escolar e a conduta da criança em sala de aula.

Crianças que são atendidas nos primei-ros anos escolares têm maior probabili-dade de solucionar o problema, já que a detecção precoce e a intervenção o quanto antes são fatores que melhoram o prognóstico do transtorno (ORJALES apud CONDEMARÍM, 2006, p.42)

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Com isso Orjales (apud CONDEMARÍM, 2006) considera importante não somente o tra-tamento do transtorno em si, mas a necessida-de de suprir as eventuais lacunas escolares.

2.5 Educação Física e o TDAH

A atuação dos professores, aliada com a família e médicos, junto aos alunos com TDAH é muito importante para o tratamento do trans-torno; sendo esse trabalho conjunto um forte alicerce para essas crianças. O professor de Educação Física é parte primordial nesse pro-cesso, pois tem como “sala de aula” um local diferenciado das demais disciplinas – a quadra, o ginásio ou pátio – que, quando bem utilizado, pode contribuir muito positivamente.

O ambiente escolar continua muito restritivo, submetendo os alunos a re-duzidos espaços físicos de aproximada-mente meio metro quadrado, o equiva-lente aos limites de sua carteira escolar (FREIRE, 2003, p.7)

POETA e NETO (2005) apresentam resultados interessantes, pois comprovam que através da intervenção do professor de Educação Física o aluno apresenta melhoras na motricidade fina, no equilíbrio, esquema corpo-ral e organização temporal, melhorando assim seu desenvolvimento motor, influenciando in-diretamente seu desempenho na sala de aula. Santos (2009) em seus estudos confirma os resultados apresentados por Poeta e Neto (2005), demonstrando que a estimulação psi-comotora em crianças com TDAH é relevante para o desenvolvimento da coordenação mo-tora fina. Outra pesquisa relevante é a de Suzuki (2005) mostrando que crianças com TDAH apresentam alterações importantes no equilí-brio estático. Essas alterações podem influen-ciar negativamente o desenvolvimento motor, assim como o afetivo e cognitivo.

Tais resultados chamam atenção para importância do acompanhamento siste-mático do desenvolvimento da criança com TDAH, não somente em termos de aprendizagem, mas também no desenvol-vimento motor (SUZUKI, 2005, p.52)

Com mais informações o professor de Educação Física torna-se importantíssimo no processo de ensino aprendizagem traçando es-tratégias pedagógicas corretas em suas aulas, promovendo além da melhoria da parte moto-ra, a autoestima e a confiança desse aluno.

Conclusão3.

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma doença reco-nhecida pela OMS, cuja prevalência mundial gira em torno de 5% e ocorre tanto em meni-nos quanto em meninas. Pode ser considerada alta a comorbidade com outros transtornos e ainda não existem certezas sobre as causas do TDAH. O diagnóstico ainda é puramente clí-nico e quanto mais cedo for detectado, melhor será o seu tratamento. Pode ser verificado que é frequente o baixo desempenho escolar nesses alunos, che-gando ao resultado de 40% dos portadores do TDAH apresentarem dificuldades nas ativida-des acadêmicas. Tais dificuldades se agravam, uma vez que o aluno vai sendo cada vez mais marginalizado, gerando lacunas na aprendiza-gem, o que traz diversas consequências. O tratamento desses pacientes engloba uma equipe multidisciplinar, e o envolvimen-to da família é fundamental. Por isso, é im-portante que, além de médicos e psicólogos, os professores e pais tenham mais informa-ções sobre o TDAH. Estudos comprovaram a importância do Professor de Educação Física nesse processo de tratamento, pois apontam que crianças com TDAH têm um perfil motor abaixo do desejável e um equilíbrio estático com alterações, por isso, trabalhando estas características motoras podemos melhorar não somente a parte psicomotora desse aluno como também a sua aprendizagem de uma for-ma global.

Referências4.

BARBOSA, A.G.A.; BARBOSA 1. G.A. ;AMORIM G.G. Hiperatividade conhecendo sua realidade. São Paulo. Casa do Psicólogo, 2005. 124 p.

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SUZUKI, S; 20. et al O equilíbrio estático em crianças em idade escolar com TDAH. Fisioterapia e Movimento, Curitiba, p.49-54 jul/set, 2005.

Endereço para Correspondência:Maria Auxiliadora Motta [email protected] Universitário de Volta Redonda – UniFOAAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325Três Poços, Volta Redonda - RJCEP 27240-560.

Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:BARRETO, Maria Auxiliadora Motta; MOREIRA, Sandro Cezar. Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e a educação física. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano VI, n. 15, abril 2011. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/15/101.pdf>

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Instruções para Autores

Cadernos UniFOA é uma publicação quadrimestral arbitrada. Visa sustentar um espa-ço editorial de natureza inter e multidisciplinar. Publica prioritariamente pesquisas originais e contribuições de caráter descritivo e interpreta-tivo, baseadas na literatura recente, bem como artigos sobre temas atuais ou emergentes e co-municações breves sobre temas relevantes e inéditos desenvolvidos em nível de Graduação, e Pós-graduação Lato e Stricto Sensu. Seleção de artigos: na seleção de ar-tigos para publicação, avaliam-se a originalida-de, a relevância do tema e a qualidade da meto-dologia científica utilizada, além da adequação às normas editoriais adotadas pelo periódico. Revisão por pareceristas: todos os artigos publicados são revisados por parece-ristas resguardado o anonimato dos autores para uma avaliação mais acurada. Ineditismo do material: o conteúdo do material enviado para publicação na Revista Cadernos UniFOA não pode ter sido publicado anteriormente, nem submetido para publicação em outros locais. Para serem publicados em ou-tros locais, ainda que parcialmente, necessitam aprovação por escrito dos Editores. Os concei-tos e declarações contidos nos trabalhos são de total responsabilidade dos autores. Direitos Autorais: ao encaminhar um original à revista, os autores devem estar cientes de que, se aprovado para publicação, os direitos autorais do artigo, incluindo os de reprodução em todas as mídias e formatos, de-verão ser concedidos exclusivamente para a Revista Cadernos UniFOA. Para tanto é soli-citado ao autor principal que assine declaração sobre o Conflito de interesses e Transferência de Direitos Autorais e envie para Editora FOA - Campus Três Poços - Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560. (Conferir anexo).

Serão aceitos trabalhos para as seguintes seções:

(1) Revisão - revisão crítica da literatura sobre temas pertinentes à saúde pública (máximo de 10.000 palavras); (2) Artigos - resultado de pesquisa de natureza empírica, experimental ou conceitual (máximo de 10.000 palavras); (3) Notas - nota prévia, relatando resultados parciais ou preliminares de pesquisa (máximo de 2.000 palavras); (4) Resenhas - resenha crítica de livro relacionado ao campo temático de CSP, publicado nos últimos dois anos (máximo de 1.200 palavras); (5) Cartas - crítica a artigo publicado em fascículo anterior do Cadernos UniFOA – Pós-graduação ou nota curta, relatando observações de campo

ou laboratório (máximo de 1.200 palavras); (6) Artigos especiais – os interessados em contribuir com artigos para estas seções deverão consultar previamente o Editor: (7) Debate - artigo teórico que se faz acompanhar de cartas críticas assinadas por autores de diferentes instituições, convidados pelo Editor, seguidas de resposta do autor do artigo principal (máximo de 6.000 palavras); (8) Fórum - seção destinada à publicação de 2 a 3 artigos coordenados entre si, de diferentes autores, e versando sobre tema de interesse atual (máximo de 12.000 palavras no total). O limite de palavras inclui texto e referências bibliográficas (folha de rosto, resumos e ilustrações serão considerados à parte).

Apresentação do Texto:

Serão aceitas contribuições em português ou inglês. O original deve ser apresentado em espaço duplo e submetido eletronicamente, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12, com margens superiores de 3,0 cm e as demais em 2,5 cm. Entre linhas deve-se respeitar o espaçamento de 2,0 cm. Deve ser enviado com uma página de rosto, onde constará título completo (no idioma original e em inglês) e título corrido, nome(s) do(s) autor(es) e da(s) respectiva(s) instituição(ões) por extenso, com endereço completo apenas do autor responsável pela correspondência. Notas de rodapé não serão aceitas.

Ilustrações: as figuras deverão ser enviadas em alta qualidade, em preto-e-branco e/ou diferentes tons de cinza e/ou hachuras. Os custos adicionais para publicação de figuras em cores serão de total responsabilidade dos autores. É necessário o envio dos gráficos, separadamente, no formato do programa em que foram gerados (SPSS, Excel, Harvard Graphics etc.), acompanhados de seus parâmetros quantitativos, em forma de tabela e com nome de todas as variáveis. Também é necessário o envio de mapas no formato WMF, observando que os custos daqueles em cores serão de responsabilidade dos autores. O número de tabelas e/ou figuras deverá ser mantido ao mínimo (máximo de sete tabelas e/ou figuras).

Resumos: Com exceção das contribuições enviadas às seções Resenha ou Cartas, todos os artigos submetidos em português deverão ter resumo na língua principal e em inglês. Os artigos submetidos em inglês deverão vir acompanhados de resumo em português, além do abstract em inglês. Os resumos não deverão exceder o limite de 500 palavras e deverão ser acompanhados de 3 a 5 palavras-chave.

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Nomenclatura: devem ser observadas rigidamente as regras de nomenclatura zoológica e botânica, assim como abreviaturas e convenções adotadas nas disciplinas especializadas.

Pesquisas envolvendo seres humanos: A publicação de artigos que trazem resultados está condicionada ao cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (1964, reformulada em 1975, 1983, 1989, 1996 e 2000), da World Medical Association (http://www.wma.net/e/policy/b3.htm), além do atendimento a legislações específicas (quando houver) do país no qual a pesquisa foi realizada. Artigos que apresentem resultados de pesquisas envolvendo seres humanos deverão conter uma clara afirmação deste cumprimento (tal afirmação deverá constituir o último parágrafo da seção Metodologia do artigo). Em caso de dúvida e em não havendo Comitê especializado na IES de origem, o(s) autor(res) pode(m) entrar em contato com [email protected] (Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos) para maiores esclarecimentos e possível envio da pesquisa para avaliação neste.

Agradecimentos - Contribuições de pessoas que prestaram colaboração intelectual ao trabalho como assessoria científica, revisão crítica da pesquisa, coleta de dados entre outras, mas que não preencham os requisitos para participar de autoria devem constar dos “Agradecimentos”. Também podem constar desta parte agradecimentos a instituições pelo apoio econômico, material ou outros.

Referências: as referências devem ser identificadas indicando-se autor(es), ano de publicação e número de página, quando for o caso. Todas as referências devem ser apresentadas de modo correto e completo. A veracidade das informações contidas na lista de referências é de responsabilidade do(s) autor(es) e devem seguir o estabelecido pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Exemplos:

1 Livro:

MOREIRA FILHO, A. A. Relação médico paciente: teoria e prática. 2. ed. Belo Horizonte: Coopmed Editora Médica, 2005.

2 Capítulo de Livros:

RIBEIRO, R. A.; CORRÊA, M. S. N. P.; COSTA, L. R. R. S. Tratamento pulpar em dentes decíduos. In:

CORRÊA, M. S. N. P. Odontopediatria na

primeira infância. 2. ed. São Paulo: Santos, 2005. p. 581-605.

3 Dissertação e Tese:

EZEQUIEL, Oscarina da Silva. Avaliação da acarofauna do ecossitema domiciliar no município de Juiz de Fora, estado de Minas Gerais, Brasil. 2000. Dissertação (Mestrado em Biologia Parasitária)___FIOCRUZ, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2000.

CUPOLILO, Sonia Maria Neumann. Reinfecção por Leishmania L amazonensis no modelo murino: um estudo histopatológico e imunohistoquímico. 2002. Tese (Doutorado em Patologia)___FIOCRUZ, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2002.

4 Artigos:

ALVES, M. S.; RILEY, L. W.; MOREIRA, B. M. A case of severe pancreatitis complicated by Raoultella planticola infection. Journal of Medical Microbiology, Edinburgh, v. 56, p. 696-698, 2007.

COOPER, C. W.; FALB, R. D. Surgical adhesives. Annals of the New York Academy of Sciences, New York, v. 146, p. 214-224, 1968.

5 Documentos eletrônicos:

INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (Brasil). Estimativa 2006: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/ >. Acesso em 4 ago. 2007.

Envio de manuscritos:

Os artigos devem ser enviados exclusivamente para o seguinte endereço eletrônico: [email protected].

Documentos adicionais, devem ser enviados para UniFOA - Campus Universitário Olezio Galotti - Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560 – Prédio 15 –EDITORA FOA.

OBS: Se professor do UniFOA, informar em quais cursos leciona.

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Instructions For Authors

UniFOA Reports is a six-monthly journal that publishes original publishes ori-ginal research and contributions of descriptive character, based in recent literature, as well as articles on current or emergent subjects and brief communications on developed excellent and unknown subjects in level of Lato and Stricto Sensu pos graduation programs. The journal accepts articles for the following sections: (1) Literature reviews - critical reviews of the literature on themes pertaining to public health (maximum 10,000 words); (2) Articles - results of empirical, ex-perimental, or conceptual research (maximum 8,000 words); (3) Research notes - short com-munications on partial or preliminary resear-ch results (maximum 2,000 words); (4) Book reviews - critical reviews of books related to the journal’s thematic field, published in the last two years (maximum 1,200 words); (5) Letters - critiques of articles published in previous issues of the journal or short notes reporting on field or laboratory observations (maximum 1,200 words); (6) Special arti-cles - authors interested in contributing arti-cles to this section should consult the Editor in advance; (7) Debate - theoretical articles accompanied by critiques signed by authors from different institutions at the Editor’s invi-tation, followed by a reply by the author of the principal article (maximum 6,000 words); and (8) Forum - section devoted to the publication of 2 or 3 interrelated articles by different au-thors, focusing on a theme of current interest (maximum 12,000 words for the combined ar-ticles). The above-mentioned maximum word limits include the main text and biblio-graphic references (the title page, abstracts, and illustrations are considered separately). Presentations of Papers

Contributions in Portuguese or En-glish are welcome. The original should be dou-ble-spaced and submitted eletronically, using Arial or Times New Roman size 12 font with 2.5cm margins. All manuscripts should be sub-mitted with a title page, including the comple-te title (in the original language and English) and running title, name(s) of the author(s) and institutional affiliation(s) in full and the com-plete address for the corresponding author only. All manuscripts should be submitted with a diskette or CD containing the article’s file and identifying the software program and version used (Windows-compatible programs only). Footnotes will not be accepted. Authors are required to send a letter informing whether the article is being submitted for the first time or re-submitted to our Secretariat.

When sending a second version of the article, one print copy should be sent, to-gether with the diskette or CD. Illustrations: figures should be sent in a high-quality print version in black-and-white and/or different tones of gray and/or ha-chure. Any additional cost for publication of color figures will be covered entirely by the author(s). Graphs should be submitted sepa-rately in the format of the program in which they were generated (SPSS, Excel, Harvard Graphics, etc.), accompanied by their quanti-tative parameters in table form and with the names of all the variables. Maps should also be submitted in WMF format, and the cost of colored maps will be covered by the author(s). Maps that have not been generated electroni-cally must be submitted on white paper (do not use tracing paper). Tables and/or figures should be kept to a minimum (maximum se-ven tables and/or figures). Abstracts: with the exception of contributions submitted to the Book review or Letters sections, all manuscripts submitted in Portuguese should include an abstract in both the principal language and English. Articles submitted in English should include an abs-tract in Portuguese, in addition to the English abstract. The abstracts should not exceed 250 words and should include 3 to 5 key words. Nomenclature: rules for zoological and botanical nomenclature should be strictly followed, as well as abbreviations and con-ventions adopted by specialized disciplines. Research involving Ethical Princi-ples: publication of articles with the results of research involving human beings is conditio-ned on the ethical principles contained in the Helsinki Declaration (1964, revised in 1975, 1983, 1989, 1996, and 2000), of the World Medical Association (http://www.wma.net/e/policy/b3.htm), in addition to complying with the specific legislation (when existing) of the country in which the research was performed. Articles presenting the results of research in-volving human beings must contain a clear statement of such compliance (this statement should be the last paragraph of the article’s Methodology section). After acceptance of the article for publication, all the authors are re-quired to sign a form provided by the Editorial Secretariat of UniFOA Reposts – Pos gradua-tion stating their full compliance with the spe-cific ethical principles and legislation. Acknowledgements: Contributions of people, grants and institutions must consist the section of Acknowledgements. Declaration: the main author must send, by post office, declaration on the Con-flict of Interests and Transference of Copyri-ghts.

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References

References should be numbered con-secutively according to the order in which they appear in the manuscript. They should be identified by superscript Arabic numerals (e.g., Oliveira1). References cited only in ta-bles and figures should be numbered accor-ding to the last reference cited in the body of the text. Cited references should be listed at the end of the article in numerical order. All references should be presented in correct and complete form. The veracity of the informa-tion contained in the list of references is the responsibility of the author(s).

Examples:

a) Periodical articlesHedberg B, Cederborg AC, Johanson M. Care-planning meetings with stroke sur-vivors: nurses as moderators of the com-munication. J Nurs Manag, 15(2):214-21, 2007.b) Institution as authorEuropean Cardiac Arrhythmia Society - 2nd Annual Congress, April 2-4, 2006, Marseille, France.Pacing Clin Electrophysiol. Suppl 1:S1-103, 2006.c) Without author specificationRubitecan: 9-NC, 9-Nitro-20(S)-campto-thecin, 9-nitro-camptothecin, 9-nitrocamp-tothecin, RFS 2000, RFS2000. Drugs R D. 5(5):305-11, 2004.d) Books and other monographsFREIRE P e SHOR I. Medo e ousadia – O cotidiano do professor. 8 ed. Rio de Janei-ro: Ed. Paz e Terra, 2000. · Editor or organizer as authorDuarte LFD, Leal OF, organizers. Doen-ça, sofrimento, perturbação: perspectivas etnográficas. Rio de Janeiro: Editora Fio-cruz; 1998.· Institution as author and publisherInstitute of Medicine recommends new P4P system for Medicare. Healthcare Benchma-rks Qual Improv., 13(12):133-7, 2006.

e) Chapter of bookAggio A. A revolução passiva como hipó-tese interpretativa da história política lati-no- americana. In: Aggio, Alberto (org.). Gramsci: a vitalidade de um pensamento. São Paulo: Unesp, 1998.f) Events (conference proceedings)Vitti GC & Malavolta E. Fosfogesso - Uso Agrícola. In: Malavolta E, Coord., SEMI-NÁRIO SOBRE CORRETIVOS AGRÍ-COLAS. Campinas,SP. Fundação Cargill, p. 161-201, 1985.g) Paper presented at an eventBengtson S, Solheim BG. Enforcement of data protection, privacy and security in me-

dical informatics. In: Lun KC, Degoulet P, Piemme TE, Rienhoff O, editors. MEDIN-FO 92. Proceedings of the 7th World Con-gress on Medical Informatics; 1992 Sep 6-10; Geneva, Switzerland. Amsterdam: North Holland; 1992. p. 1561-5.h) Theses and dissertationsRodriques GL. Poeira e ruído na produção de brita a partir de basalto e gnaisse nas regiões de Londrina e Curitiba, Paraná: Incidência sobre os trabalhadores e Meio Ambiente. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Paraná.Curitiba, 2004.i) Other published work· Journal articleLee G. Hospitalizations tied to ozone pollution: study estimates 50,000 admis-sions annually. The Washington Post 1996 Jun 21; Sect. A:3.· Legal documentsMTE] Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria de Segurança do Trabalho. Por-taria N°. 25 de 29/12/1994. Norma Regu-lamentadora N° 9: Programas de Preven-ção de Riscos Ambientais.

j) Electronic material· CD-ROMSeverino LS, Vale LS, Lima RLS, Silva MIL, Beltrão NEM, Cardoso GDC. Repi-cagem de plântulas de mamoneira visan-do à produção de mudas. In: I Congresso Brasileiro de Mamona - Energia e Susten-tabilidade (CD-ROM). Campina Grande: Embrapa Algodão, 2004· InternetUMI ProQuest Digital Dissertations. Dis-ponível em: <http://wwwlib.umi.com/dis-sertations/>. Acesso em: 20 Nov. 2001.

The articles must be sent for the follo-wing electronic address: [email protected] (declaration, photos, maps), must be sent to UniFOA - Campus Universitário Olezio Galotti - Av. Paulo Erlei Alves Abran-tes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560 – A/C Núcleo de Pesquisa/NUPE.

OBS: If UniFOA professor, inform the courses in which teaches.

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Permutas Institucionais informações sobre [email protected]

ABMES - Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior – Brasília/DF

ANGRAD - Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração - Duque de Caxias/RJ

Centro de Ensino Superior de Jatí - Jataí/GO

Centro Universitário Assunção - São Paulo/SP

Centro Universitário Claretiano - Batatais/SP

Centro Universitário de Barra Mansa - Barra Mansa/RJ

Centro Universitário de Goiás - Goiânia/GO

Centro Universitário Evangélica - Anápolis/GO

Centro Universitário Feevale - Novo Hamburgo/RS

Centro Universitário Leonardo da Vinci - Indaial/SC

Centro Universitário Moura Lacerda - Riberão Preto/SP

Centro Universitário Paulistano - São Paulo/SP

Centro Universitário São Leopoldo Mandic - Campinas/SP

CESUC - Centro Superior Catalão - Catalão/GO

CESUPA - Centro de Ensino Superior do Pará - Belém/PA

EBAPE - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas - Rio de Janeiro/RJ

Escola de Serviço Social da UFRJ - Rio de Janeiro/RJ

FABES - Faculdades Bethencourt da Silva - Rio de Janeiro/RJ

FACESM - Faculdade de Ciencias Sociais Aplicadas do Sul de Minas - Itajubá/MG

FACI- Faculdade Ideal - Belém/PA

Facudade 2 de Julho - Salvador/BA

Facudades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS

Faculdade Arthur Sá - Petrópolis/RJ

Faculdade de Ciências - Bauru/SP

Faculdade de Direito de Olinda - Olinda/PE

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - UFBA - Salvador/BA

Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro - Uberaba/MG

Faculdade de Minas - Muriaé/MG

Faculdade de Pimenta Bueno - Pimenta Bueno/RO

Faculdade de Tecnologia e Ciência - Salvador/BA

Faculdade Internacional de Curitiba - Curitiba/PR

Faculdade Metodista IPA - Porto Alegre/RS

Faculdade SPEI - Curitiba/PR

Faculdades Guarapuava - Guarapuava/PA

Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo - Presidente Prudente/SP

Faculdades Integradas Curitiba - Curitiba/PR

Faculdades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS

Faculdades Integradas do Ceará - Fortaleza/CE

Faculdades Integradas Torricelli - Guarulhos/SP

Faculdades Santa Cruz - Curitiba/PR

FAFICH - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG

FAFIJAN - Faculdade de Jandaia do Sul - Jandaia do Sul/PA

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FAFIL - Filadélfia Centro Educacional - Santa Cruz do Rio Pardo/SP

FAPAM - Faculdade de Pará de Minas - Pará de Minas/MG

FCAP: Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco - Recife/PE

FECAP - Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - São Paulo/SP

FGV - Fundação Getúlio Vargas - Rio de Janeiro/RJ

FOCCA - Faculdade Olindense de Ciências Contábeis e Administrativas - Olinda/PE

FUNADESP - Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular - Brasília/DF

Fundação Educacional de Patos de Minas - Patos de Minas/MG

Fundação Santo André - Santo André/SP

Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Rio Grande/RS

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Centro de Documentação e Disseminação

de Informações - Rio de Janeiro/RJ

Instituição São Judas Tadeu - Porto Alegre/RS

Instituto Catarinense de Pós-Graduação -Blumenau/SC

Instituto de Administração do Rio de Janeiro - IARJ - Tijuca/RJ

Instituto de Estudo Superiores da Amazônia - Belém/PA

Instituto Municipal de Ensino Superior - São Caetano/SP

Mestrado em Integração Latino-Americana - Santa Maria/RS

MPF - Ministério Público Federal - Brasília/DF

MPRJ - Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

Organização Paulista Educacional e Cultural - São Paulo/SP

PUC - Campinas: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP

PUC - SP: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP

TCE - Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG

The U.S. Library Of Congress Office - Washington, DC/USA

TJ - Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

TRF - Tribunal Reginal Federal - RJ - Rio de Janeiro/RJ

Ucam - Universidade Cândido Mendes - Rio de Janeiro/RJ

UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

UFF - Universidade Federal Fluminense - Niterói/RJ

UGB - Faculdades Integradas Geraldo Di Biase - Volta Redonda/RJ

UNB - Universidade de Brasília - Brasília/DF

UNIABEU - Assossiação de Ensino Superior - Belford Roxo/RJ

União das Faculdades de Alta Floresta - Alta Floresta/MT

Unibrasil - Faculdades Integradas do Brasil - Curitiba/PR

Unicapital - Centro Universitário Capital - São Paulo/SP

Unicastelo - Universidade Camilo Castelo Branco - São Paulo/SP

UNIDERP - Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - Campo Grande/MS

UNIFAC - Assossiação de Ensino de Botucatu - Botucatu/SP

Unifeso - Centro Universitário da Serra dos Órgãos - Teresópolis/RJ

UniNilton Lins - Centro Universitário Nilton Lins - Amazonas/AM

Uninove - Universidade Nove de Julho - Vila Maria/SP

Permutas Institucionais informações sobre [email protected]

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Formando para vida.

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