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8/18/2019 12_Dezembro_2015 - 16-12 - APP http://slidepdf.com/reader/full/12dezembro2015-16-12-app 1/68 Povos e Línguas • 1 O MUNDO HINDU A fé no Cristo versus a religião Pág. 20 Ariovaldo Ramos O Himalaia e a jornada missionária Ronaldo Lidório Missão entre os vulneráveis Igor Migue Disponível em: ANO 2 • Nº 8 • POVOSELINGUAS POR UM BRASIL MISSIONÁRIO

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Povos e Línguas • 1

O MUNDOHINDU

A fé no Cristoversus a religião

Pág. 20

Ariovaldo Ramos

O Himalaia e a jornada missionária

Ronaldo Lidório

Missão entreos vulneráveis

Igor Migue

Disponível em:

ANO 2 • Nº 8 • POVOSELINGUASPOR UM BRASIL MISSIONÁRIO

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2 • Povos e Línguas Asas de Socorro conta com seu apoio para fazer muito mais!

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Povos e Línguas • 3

246 ultrassons (novidade)

415 cortes de cabelo

1360 consultas médicas 1820 procedimentos de enfermagem

1947 procedimentos odontológicos

429 Bíblias distribuídas431 visitas às casas715

crianças e adolescentes ouviramhistórias bíblicas

2125 pessoas assistiram ao Filme Jesus

Este sorriso tão bonito...é para te dizer

obrigada

Os ribeirinhos agradecem a sua oferta!

Asas de Socorro conta com seu apoio para fazer muito mais. CONTRIBUA!www.asasdesocorro.org.br/tamojunto | (62) 4014-0323

EVANGELIZAÇÃO | SAÚDE | MOBILIZAÇÃO DA IG

O Projeto IDE 2015 aconteceu entre os

dias 14 e 24 de Julho, na pequena cidade

de Prainha, às margens do Rio Amazonas,

Região Oeste do Pará. Mais de 200

pessoas vestiram a camisa em

benefício dos ribeirinhos.

ESTE ANO O PROJETO IDE REALIZO

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4 • Povos e Línguas

“Pede-me e eu te darei as nações por herança e os confns da Terra por tuapossessão.” (Salmos 2:8)

EQUIPEBreno Vieitas | Direção-Geral | [email protected] Pimenta (MTb 19117 MG) | Diretora Executiva | [email protected] Rocha | Assistente de redação | [email protected]

Raicle Ferraz | Relacionamento institucional | [email protected] Cançado | Finanças/Circulação | [email protected] Matos | Diagramação e Arte

REVISÃOVersão Final

CORRESPONDENTES INTERNACIONAISJúnior Damaceno (França) | Lessandra Alves (Índia) | Edna Klein (Nova Zelândia) |Tágory Figueiredo (Alemanha)

COLUNISTAS:Ariovaldo Ramos | Igor Miguel | Luís Fernando Nacif Rocha | Ronaldo Lidório

PARTICIPAM DESTA EDIÇÃOAlisson Medeiros | Ailton C. Alves Júnior | André Massihi | Breno Vieitas | DurvalinaBezerra | Edna Klein | Gustavo de Souza Borges | Júnior Damaceno | João MarcosCardoso de Sousa | Jessé Fogaça | Lessandra Alves | Luis André Bruneto |Marcelo Gualberto | Sara Cunha | Tábata Mori | Tágory Figueiredo | Thales Montes| Wellington Barbosa | Wesley Thiago Reis

CONSULTORESPaulo Bottrel | Jeremias Pereira | Luís Fernando Nacif Rocha | Ariovaldo Ramos |Ronaldo Lidório | Paulo Mazoni | Cassiano Luz

A Revista POVOS E LÍNGUAS é uma publicação do Grupo Povos e Línguas.Todas as matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores.

Editorial

á quem pense que estamos vivendo o apogeu do agnosticis-

mo, mas o avanço do hinduísmo e do islamismo no mundosão indicadores de que vivemos em uma geração, no mínimo,espiritualista. As livrarias estão abarrotadas de títulos sugesti-vos sobre os caminhos que podemos escolher para sermos maisequilibrados e encontrarmos a realização pessoal. Mas a premissade que todos os caminhos levam a Deus expressa indiretamente aideia de que o ser humano está caminhando em busca de respos-tas para as seguintes questões: por que estamos aqui? Para ondeestamos indo? De onde viemos?

Para muitos, o cristianismo não passa de mais uma religião. Toda-via há uma nuance teológica que determina a diferença eterna entreo cristianismo e qualquer manifestação religiosa: a graça e o intentode Deus que colocou o homem de pé outra vez (Ef 2.8-10). Isso só foipossível porque Deus, em sua infinita misericórdia, decidiu, antes dafundação do mundo, que ia nos resgatar da Queda (Ap 13.8).

Portanto, em Cristo vemos Deus em busca do homem, e nas religi-ões, nas filosofias e em doutrinas diversas, o que se vê é o homemtentando alcançar Deus sozinho. É preciso compreender que Jesusmarca a divisão eterna entre os que foram salvos pela graça e os queprosseguiram indiferentes à Verdade. Em Cristo as nossas perguntasforam respondidas antes mesmo da fundação do mundo.

Que ao nos depararmos com os nossos esforços, nós nos lembre-mos de que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filhounigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a

vida eterna.” (Jo 3.16).Certamente esta será uma leitura enriquecedora!

Religião

H

A fé no Cristoversus a religião

Ariovaldo RamosPág. 10

Eu voltei. E agora?

Luís Fernando Nacif RochaPág. 30

O Himalaia ea jornada missionária

Ronaldo LidórioPág. 40

Missão entreos vulneráveis

Igor MiguelPág. 64

Colunistas

Jullyana Pimenta | Diretora Executiva

Fale ConoscoCentral de [email protected](31) 3657-9054

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Uma guerra perdida

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Povos e Línguas • 5

O MUNDOHINDU 20

História dasMissões Cristãs 12Eu cheguei primeiro!

Cuidado Integral 16Eu estou bem!

Povos NãoAlcançados 18Os Malaio Pattani

Escuta Missionária 34São Tomé e Príncipe

Terror em ParisPág. 8Circular

O Verbo entre nósPág. 26Mídia e Reino

Por uma causa maiorPág. 38Missão e Adoração

Cidades menos alcançadas do BrasilPág. 42Missões Urbanas

Alcançando o mundo em famíliaPág. 46Profissionais em Missão

Eu já faço missãoPág. 54Grupo Povos e Línguas

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6 • Povos e Línguas

Quem Somos

Grupo Povos e Línguas é formado por pessoas de diversos ministérios. É um es-paço aberto interdenominacionalmente para refletir sobre o Evangelho no aspectomissionário, tendo Jesus Cristo e Sua Grande Comissão como o centro dos inte-

resses e a condição básica para rmar parcerias entre as igrejas e as agências missioná-rias; entre pessoas que compreendem que, juntos, podemos ir mais longe pelo objetivo delevar o Evangelho de Jesus Cristo aos con ns da Terra.

Investimos esforços na dinâmica de relacionamento entre pastores, igreja local, voca-cionados, agências e campo missionário. Dispomos de diversas estruturas de comuni-cação e, especialmente, de cinco ferramentas utilizadas no processo de mobilização daIgreja Brasileira: Escuta Missionária, Programa de TV, Revista, Treinamentos em Vídeo eWorkshops Estaduais. Por meio desses recursos, o Grupo trabalha para promover a mo-bilização e, de nitivamente, ver o Brasil se posicionando como uma verdadeira plataformade envio missionário, contando com mais de 40 milhões de evangélicos.

Temos a visão de missões tradicionalmente compreendida e a mentalidade da missio-nalidade entre diversos atores. São empresários, pro ssionais liberais e outros que com-preendem que, ocupados ou não com um ministério eclesiástico, temos o único chamado

de fazer com que o nome de Jesus Cristo seja anunciado à toda criatura, bem como deimplantar o seu Reino entre nós.

Da mesma maneira, nossos conselhos de referências teológicas e de agência trazema segurança de sempre avançarmos com a certeza de que todas as etapas estão sendocumpridas. Enquanto isso, trabalhamos dentro do alvo coletivo, respeitando sempre arealidade de cada ministério e sua visão missionária.

Povose Línguas

O

A Revista Povos e Línguas não é produzida como objetivo de obtenção de lucros. Toda a sua

produção é custeada por parceiros que fazemparte do Grupo e acreditam na relevância dessainiciativa. Grande parte dos exemplares produzi-dos é doada para líderes brasileiros e distribuídagratuitamente em eventos relacionados ao universo missioná-rio. Caso deseje ser um patrocinador ou um parceiro, entre emcontato conosco pelo telefone (31) 3657-9054.

Juntos podemos ir mais longe, por um Brasil missionário!

acesse com seu smartphone

Por um Brasil missionário

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8 • Povos e Línguas

Terror em ParisUm desrespeito à humanidade

Circular

o dia 14 de novembro de 2015, aFrança amanheceu nublada e tris-te. As manchetes dos principais

jornais do país, do famoso Libération,passando pela Voix du Nord e o ParisienAujourd’hui en France anunciavam:Car-nificina em Paris; Desta vez estamos emguerra, ouNoite de horror . Com lágrimasnos olhos, a populaçao viu, boquiaberta,as cenas de horror que transformaram aCidade-Luz em zona de guerra.

Os dias que se seguiram foram mar-cados por uma profunda consternaçãode toda a nação e em todo o continen-te europeu. Cristãos se uniram paraorar; associações laicas organizarampasseatas nas principais cidades dopaís, nos estádios e nas casas deespetáculos, as pessoas cantaram La

Marseilleise. Nas redes de comunica-ção vimos oJe suis Charlie dar lugarao Pray for Paris, ou I love Paris.

A busca pelos responsáveis foi intensi-ficada e, na quarta, dia 18 de novembro,uma batalha foi travada no Norte da capi-tal. Adbdelhamid Abaaoud, o mentor dosatentados do dia 13, foi morto em umaação policial realizada em Saint-Denis,

a poucos metros da Basílica onde estãoenterrados os reis da França.

Os atentados do dia 13 vão ficar mar-cados na história da França como osprimeiros ataques terroristas realizadospor homens-bomba, incluindo uma mu-lher. Até então, a maioria dos atentadosocorridos na França visava a comu-nidade judia, porém, naquela ocasião,foram mortas pessoas de aproximada-mente 19 nacionalidades. Eram comose diz em francês,monsieur et madametout-le-monde ou cidadãos comunscomo eu, você e todos nós.

Por outro lado, vozes se levantam paradenunciar o caráter antissemita dos ata-ques, considerando que o Bataclan é fre-quentado por grupos judaicos da capital

francesa. Em 2007 e 2008, o local estevesob a ameaça de atentados por parte degrupos radicais islâmicos. Em dezembrode 2008, ao mesmo tempo em que oexército israelita realizava uma opera-ção em Gaza, as ameaças em torno doBataclan se intensificaram e, cada vezque uma organização judia se reunia noBataclan, inúmeros comentários hostiseram publicados na internet.

Ainda há muitos desdobramentos einvestigações acontecendo, mas, nessecontexto, tanto a Federação das IgrejasProtestantes da França (FPF) quanto arecém-formada Confederação Nacionaldos Evangélicos da França (CNEF) enviram uma mensagem à imprensa comunicando a postura que devemos ter diantedesse evento sem precedentes na histórifrancesa. Assim termina o comunicado:“Neste momento, milhões de cristãos domundo inteiro oram por nosso país. Pelacausa do Evangelho estaremos sempreao lado de todos que querem defender avida e a liberdade, bens preciosos de umhumanidade hoje desrespeitada”.

A Igreja Francesa, mais do que nunca,está se dedicando à oração, clamandotanto pela nação quanto pelas famílias

daqueles que semeiam o caos e a violên-cia. “Porque as armas da nossa milícia nãsão carnais, mas poderosas em Deus paraa destruição das fortalezas” (2 Co 10.4).

N

Júnior DamacenoPastor da Igreja Baptiste Biarritz Cote-Basque, loclizada na Costa Basca, e autor do livro As Crônicasde Dubiá

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Povos e Línguas • 9

R A Z Õ E S

p ar a e

s t u d ar

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B E T E

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10 • Povos e Línguas

A graça incontestável

Coluna

o Senhor pertence a terra e tudoo que nela se contém, o mundoe os que nele habitam.” (Sl 24.1).

Por ser consciente do relacionamento entreDeus e o universo, a fé no Cristo desapontaas religiões. Nas religiões, o el ama o seu

deus; na fé no Cristo, é Deus que ama o el.“Pois o amor de Cristo nos constrange, jul-gando nós isto: um morreu por todos; logo,todos morreram.” (2 Co 5.14).

Nas religiões, o el se sacri ca por seudeus; na fé no Cristo, Deus foi quem se sa-cri cou. “Porque Deus amou o mundo de talmaneira que deu o seu Filho unigênito paraque todo o que nele crê não pereça, mastenha a vida eterna.” (Jo 3.16).

Nas religiões, o el trabalha para o seudeus; na fé no Cristo, o Deus trabalha, e o eldescansa.“Porque desde a antiguidade nãose ouviu, nem com ouvidos se percebeu,nem com os olhos se viu Deus além de ti,que trabalha para aquele que nele espera.”(Is 64.4). “Nós,… que cremos, entramos nodescanso...” (Hb 4.3a).

Nas religiões, a escada é íngreme, commuitos degraus, e se sobe só; na fé no Cristo,vive-se em comunidade, e a escada é rolante.Não é o el que sobe a escada, mas a escadaque sobe o el. “Porque Deus é quem efetuaem vós tanto o querer quanto o realizar, se-gundo a sua boa vontade.” (Fp 2.13).

Nas religiões, o el luta para merecer sal-vação; na fé no Cristo, o el recebeu salva-

ção que sabe que não merece. “Porque pelagraça sois salvos, mediante a fé; e isto nãovem de vós; é dom de Deus; não de obraspara que ninguém se glorie.” (Ef 2.8-9).

Nas religiões, o el se fortalece para

poder servir ao seu deus; na fé no Cristo, oel admite a sua fraqueza para que a forçade Deus se manifeste nele. “Então, eleme disse: A minha graça te basta, porqueo poder se aperfeiçoa na fraqueza. Deboa vontade, pois, mais me gloriarei nasfraquezas para que sobre mim repouse opoder de Cristo.” (2 Co 12.9).

Nas religiões, o el paga para que o deusfaça o que o el precisa; na fé no Cristo, o el

gerencia o que é de Deus e, grato, oferta, emculto ao Senhor, para o bem de todos, o quepropuser no seu coração. “Ao Senhor per-tence a terra e tudo o que nela se contém,o mundo e os que nele habitam.” (Sl 24.1).“Cada um contribua segundo tiver propostono coração, não com tristeza ou por neces-sidade, porque Deus ama a quem dá comalegria. Deus pode fazer-vos abundar emtoda graça a m de que, tendo sempre, emtudo, ampla su ciência, superabundeis emtoda boa obra, como está escrito: Distribuiu,deu aos pobres; a sua justiça permanecepara sempre.” (2 Co 9.7-9).

Nas religiões, o el trabalha pensando emseu sustento; na fé no Cristo, o el trabalhapensando em sustentar o próximo, que delenecessita. “Aquele que furtava não furtemais; antes, trabalhe, fazendo com as pró-

“A

A fé no Cristoversus a religião Nas religiões, o el se sacr-

ca por seu deus; na fé noCristo, Deus foi quem se s-cri cou. ‘Porque Deus amo mundo de tal maneira qudeu o seu Filho unigênitopara que todo o que nele crnão pereça, mas tenha a vieterna.’ (Jo 3.16)

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Povos e Línguas • 11

prias mãos o que é bom para que tenha com queacudir ao necessitado.” (Ef 4.28).

Nas religiões, o sucesso é prova da eficáciade sua fé; na fé no Cristo, a eficácia da féaparece quando o fiel usa o seu sucessopara salvar o próximo do fracasso. “Porquenão é para que os outros tenham alívio e vós,sobrecarga; mas para que haja igualdade,suprindo a vossa abundância, no presente,a falta daqueles, de modo que a abundân-cia daqueles venha a suprir a vossa falta e,assim, haja igualdade, como está escrito: oque muito colheu não teve demais; e o quepouco, não teve falta.” (2 Co 8.13-15).

Nas religiões, o fiel obedece às regras paraagradar ao seu deus; na fé no Cristo, paraagradar a Deus, o fiel crê nEle. “De fato, semfé é impossível agradar a Deus, porquanto énecessário que aquele que se aproxima deDeus creia que ele existe e que se torna galar-doador dos que o buscam.” (Hb 11.6).

Nas religiões, o fiel se esforça para honrar oseu deus; na fé no Cristo, o fiel é transforma-do em alguém parecido com o Deus. “E todos

nós, com o rosto desvendado, contemplando,como por espelho, a glória do Senhor, somostransformados, de glória em glória, na suaprópria imagem, como pelo Senhor, o Espíri-to.” (2 Co 3.18).

Nas religiões, o fiel pratica boas obras parademonstrar o seu mérito; na fé no Cristo nãohá mérito nenhum em fazer boas obras; é sóuma questão de nova vida. “Pois somos fei-tura dele, criados em Cristo Jesus para boasobras, as quais Deus, de antemão, preparoupara que andássemos nelas.” (Ef 2.10).

Nas religiões, o fiel busca bençãos para si;na fé no Cristo, o fiel é chamado para ser umabenção. “Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai datua terra, da tua parentela e da casa de teu paie vai para a terra que te mostrarei; de ti fareiuma grande nação e te abençoarei, e te en-

grandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abe

çoarei os que te abençoarem e amaldiçoareios que te amaldiçoarem; em ti serão benditatodas as famílias da terra.” (Gn 12.1-3).

Nas religiões, o fiel tem desejos; na fé noCristo, o fiel tem missão. “Não fostes vós qume escolhestes a mim; pelo contrário, eu voescolhi a vós outros e vos designei para quevades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai emmeu nome, ele vo-lo conceda.” (Jo 15.16).

Nas religiões, o fiel pede para que possa tena fé no Cristo, o fiel pede para que possa rpartir. “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje(Mt 6.11).

Nas religiões, deus é uma entidade única eegocêntrica; na fé no Cristo, Deus é a Co-munidade única e teocêntrica. “E porque vósois filhos, enviou Deus ao nosso coração oEspírito de seu Filho que clama: Aba, Pai!” 4.6). “Ide, portanto, fazei discípulos de todaas nações, batizando-os em nome do Pai, doFilho e do Espírito Santo;” (Mt 28.19).

Ariovaldo RamosFilósofo, teólogo e escritor. Pastor e membro da dire-toria da Visão Mundial, a maior organização cristã nãogovernamental do mundo

Nas religiões, a escada é íngre-me, com muitos degraus, e sesobe só; na fé no Cristo, vive --se em comunidade, e a esca-da é rolante. Não é o fiel quesobe a escada, mas a escadaque sobe o fiel. ‘Porque Deusé quem efetua em vós tanto oquerer quanto o realizar, segun-do a sua boa vontade.’ (Fp 2.1

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12 • Povos e Línguas

Eu cheguei primeiro!História das Missões Cristãs

uando criança, o domingo era o meu diapreferido. Acordava cedo, olhava pela

janela, conferia a rua e corria para meudestino matinal: o aguardado futebol. Eu sempreera o primeiro a chegar. Porém, na escolha dos

jogadores, ficava apreensivo. Principalmentequando o número era ímpar. Na matemáti-ca futebolística, sobraria um (eu!), que seria ogandula. Não gostava, e dizia sem sucesso: “Ôpessoal: eu cheguei primeiro. Não é justo!”. Masa “injustiça” permanecia. Aprendi algo extrema-mente errado: não importa quem chega primeiro,o mais forte ganha.

Uma reportagem polêmica endossa essaideia. O Grão-Mufti da Arábia Saudita, AbdulAziz bin Abdullah disse: “É necessário destruirtodas as igrejas da região”.1 A região citadapelo clérigo islâmico é a península arábica.Isso ocorreu em março de 2012, em um en-contro na Arábia Saudita e foi em resposta ao

parlamentar kuwaitiano Osama Al-Munawer,que pretendia apresentar um projeto de leiautorizando a construção de igrejas no Kuwa-it. Automaticamente, diante da declaração deAbdullah, o garoto injustiçado no futebol emmim disse: “Ô pessoal: eles chegaram primeiro!Vocês ouviram bem? Eles chegaram primeiro!”.

Um fato comumente esquecido é que antes dosurgimento do Islã (século VII), cristãos residiamna região. Três grupos merecem destaque: aIgreja Copta, a Igreja Assíria e a Igreja Ortodoxade origem bizantina. São igrejas milenares queafirmam ter raízes apostólicas.

OS COPTAS

Os coptas foram destaque no mundo inteiro aoserem martirizados 21 egípcios peloDaesh em

fevereiro de 2015. O nome copta deriva da palavralatinizada “copta” e do gregoaiguptos, que signi ca“egípcio”. Com a invasão árabe de 640-641 d.C, osárabes associaram o nome copta à religião cristã,tornando-se sinônimo de “ser cristão”. É tradicio-nalmente aceito que o início da Igreja Copta ocorreucom Marcos no primeiro século. Não obstante aopouco embasamento histórico, é importante ressal-tar a presença de um cristianismo maduro e inte-lectualmente desenvolvido no Egito já no segundoséculo. Nomes como Panteno, Clemente e Orígenesrepresentam bem os fundamentos teológicos apu-rados da igreja na época.

Atualmente os coptas representam 10% da po-pulação do Egito. Estão divididos entre ortodoxos,católicos e protestantes. Os ortodoxos são os maisnumerosos da região. Estima-se que sejam mais de8 milhões pelo país. Católicos e protestantes nãochegam a 800 mil. A Igreja Presbiteriana do Cairo,Kasr el Dobara Evangelical Church, foi destaque em

2012, quando atendeu no templo da igreja os feridosdos conflitos na Praça Tahrir.

Os coptas ortodoxos não comungam com a IgrejaCatólica Romana nem com os demais ortodo-xos. Seu afastamento aconteceu na controvérsiacristológica tratada no Concílio de Calcedônia, 451d.C., onde o mono sismo foi considerado heresia.Essa doutrina advogava que as naturezas de Jesus,a humana e a divina, formaram uma única (mono) natureza (physis). Essa teoria ainda é presente nateologia dos coptas ortodoxos.

Nos primeiros séculos da era cristã, os mo-nofisistas formaram grande força missionária,estendendo a fé a outros territórios. Antes doavanço islâmico no Oriente Médio, havia umnúmero expressivo na Síria, na Mesopotâmia, naPérsia e no Egito.2 Em 1741 d.C., um grupo da

Q

Um breve relato histórico da Igreja no Oriente Médio

1 http://www.news.va/pt/news/asiaarabia-saudita-grao-mufti-igrejas-fora-da-peni Acesso em 5/MAIO/2015.2 L.GONZALEZ, Justo. História do Movimento Missionário. São Paulo: Hagnos, 2008. p. 110.

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Povos e Línguas • 13

(...) é importante res -saltar a presença de umcristianismo maduro eintelectualmente desen-volvido no Egito já nosegundo século

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14 • Povos e Línguas

Igreja Ortodoxa se submeteu ao papadode Roma, dando início aos coptas cató-licos. Os coptas não sofrem persegui-ção extrema, salvo em casos pontuais.Contudo, sentem o peso de viver emum país majoritariamente islâmico. Na

prática, são considerados cidadãos desegunda classe.

IGREJA ASSÍRIA ORIENTAL

Os cristãos assírios também a rmam terorigem apostólica. Sua tradição declaraque Tomé fundou a Igreja na Mesopotâmia.Com fortes raízes na região, a presençaassíria no Iraque é datada de mais de 6.500anos. Eles são considerados os últimos nomundo de fala aramaica.3

Nos primeiros séculos, adotaram acristologia nestoriana. Nestorianismoderiva de Nestório, bispo de Constanti-nopla. Ele foi excomungado por heresiano Concílio de Éfeso, em 431 d.C. Nes-tório entendia que em Jesus havia duas

pessoas: uma divina e outra humana,confundindo pessoa com natureza. Hojeos assírios não desejam mais o estigmanestoriano. Em 1994 assinaram a “De-claração cristológica comum entre IgrejaCatólica e Igreja Assíria do Oriente”, que

apresenta uma clara mudança cristo-lógica. Nela, os assírios praticamenteabraçam a fórmula de fé calcedoniana.4

Os assírios são distintos da IgrejaOrtodoxa, pois aceitam somente os doisprimeiros concílios ecumênicos (Nicéia eConstantinopla),5 enquanto a Ortodoxa, ossete primeiros.6 Os nestorianos e os mono-

sistas foram expansionistas. Chegaramà Pérsia, Arábia, Índia e China. Sua con-tribuição não se limitou à evangelização,dedicando esforços também na traduçãoda Bíblia para os chineses no século VII epartes do Novo Testamento para os árabesno século IX.7

IGREJA ORTODOXA ORIENTAL

Os movimentos supracitados sedesvincularam no século V da entãoúnica Igreja. Os ortodoxos orientais,no entanto, permaneceram mais cinco

séculos até a separação definitiva daIgreja Ocidental. Fragilizada, essa co-munhão se findou no Grande Cisma de1054.8 A divisão se deu por diferençasteológicas e ritualísticas, por proble-mas raciais e por haver duas lideran-ças na Igreja (o Patriarca de Constan-tinopla e o Papa de Roma).9 No períododo império Bizantino, os cristãos orien-tais foram extremamente hostis comos nestorianos e os monofisistas. Com

o advento do islã, preferiram fugir paterritórios islâmicos, onde se tornavadhimmis (não muçulmanos tributadospara exercer sua fé em lugares controlados por um Califado) e usufruíam dcerta liberdade.

O termoortodoxo vem grego ‘orto’ –verdadeiro – ‘doxa’ - glória ou ensinoou seja, aqueles que praticam a fé e aadoração genuínas. Ao serem chamados de ortodoxos, eles apresentamum traço forte na sua identidade: acrença na fidelidade às doutrinasapostólicas. Com isso, estabelecemseus fundamentos no primeiro sécul

Apesar de espalhados em boa partedo mundo, os ortodoxos continuamfortes na Turquia, na Síria, em Jerusalém e no Egito, locais que são berçosda fé cristã. Sua atividade missionáriaconhecida se deu com Cirilo e Metó-dio evangelizando os povos eslavosno século IX.10 As igrejas dessa regiãoinfelizmente representam hoje umaparcela inexpressiva no que diz respeiao avanço missionário, principalmen-te entre os muçulmanos. O motivo é

desconhecido, mas especula-se queo convívio com seus patrícios tenhagerado uma fobia em muitos cristãosno Oriente Médio.

Esses irmãos perseveram e fazemisso não por vaidade, mas por justiça.Recentemente ouvi de uma refugiadasíria cristã: “Meus pais não vieram pao Brasil, porque preferem morrer a saida sua terra!”. Afinal de contas, eleschegaram primeiro! Firmeza e perse-verança são características que devemser resgatadas pela Igreja de Cristo noBrasil e em grande parte do mundo.

André MassihiTrabalha com a Missão Evangélica Árabe do Brasi(Meab) no treinamento de missionários e na evan-gelização de árabes muçulmanos

Apesar de espalhados emboa parte do mundo, os or -todoxos continuam fortes naTurquia, na Síria, em Jerusaléme no Egito, locais que sãoberços da fé cristã. Sua ati -vidade missionária conhecidase deu com Cirilo e Metódioevangelizando os povos esla-vos no século IX

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http://oglobo.globo.com/mundo/ataques-de-extremistas-expulsam-cristaos-assirios-do-iraque-da-si-ria-15887011 Acesso em 13/MAIO/2015.4 A Declaração de Fé de Calcedônia concluiu: “o Filho e Nosso Senhor Jesus Cristo são um só e o mesmo, que Ele éperfeito na divindade e perfeito na humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, com uma alma racional e umcorpo, consubstancial com o Pai segundo a Sua divindade e consubstancial conosco pela sua humanidade”5 http://www.news.va/pt/news/patriarca-caldeu-escreve-ao-patriarca-assirio-volt Acesso em 14/MAIO/2015.6 CHAMPLIN. Russel N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filoso a. Volume 4. São Paulo: Hagnos, p.632.7 Codex 151. http://www.wycliffe.net/BTT-PT.html Acesso em 13/MAIO/2015.8 O cisma foi iniciado em 867 com a destituição do papa pelo Oriente. NICHOLS. Roberts Hastings. Historia daIgreja Cristã. 11ª Ed. São Paulo: Casa Publicadora Presbiteriana, 2000. p.79.9 Ibidem. p.78.10 http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/igreja_ortodoxa/a_igreja_ortodoxa_historia20.html

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palavra “cuidado” é portado-ra de inúmeras aplicações efundamenta diversos princí-

pios. A partir do contexto no qual

ela é empregada, pode ser aplicadade diversas maneiras. Portanto,para aplicar o conceito de cuidadona prática de missões, é precisorefletir sobre qual é a compreen-são de cuidado na relação que seestabelece com os missionários eperguntar se, de fato, suas neces-sidades emocionais estão sendosatisfeitas e se as demandas pes-soais deles estão sendo assistidas

no seu contexto de vida na missão.

Associada ao conceito de cuida-do, a ideia sobre a saúde emocio-nal do missionário também implicaquestionamentos e requer umentendimento mais detalhado, livredos preconceitos que nascem emseu entorno. Essa atenção deve serredobrada especialmente quando

se trata de instituições missio-nárias, como agências, juntas eigrejas enviadoras que propõemprogramas e ações com princípios

e práticas em comum. Esse é ocaso de uma equipe que se propõea enviar missionários também paroutro país.

Dentre muitos princípios quenorteiam esse processo de envio, questão da saúde tem se levanta-do como a mais desafiadora paraa Igreja e para as agências mis-sionárias, especialmente a saúde

emocional do candidato. Mas doque se trata a saúde emocionalnum contexto missionário? Quaisdiretrizes podem ser traçadas paraproporcionar um cuidado efetivo saúde emocional no âmbito da videm missões? Questões como essasdirecionam e desafiam os enviadores à necessidade de refletir sobrepráticas que darão base a progra-

A Ser ouvido de forma acolhe-dora, ética e sem preconcei-tos é de suma importânciana elaboração e na orien-tação das emoções de umsujeito. A singularidade dasexperiências vividas por umapessoa na vida missionáriasuscita emoções que, emmuitos casos, não são com-preendidas pelos familiares

nem pelas igrejas

Eu estou bem!Cuidado Integral

O cuidado com a saúde emocional do missionário

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mas de assistência à saúde emocio-nal dos missionários.

Ao longo das últimas duas dé cadas,temos trabalhado com a assistênciaaos missionários de diversas denomi-

nações e em várias partes do mundo.Isso em programas de encontros mis-sionários promovidos por agências eigrejas com o intuito de renovação erestauração da perspectiva missio-nária. O atendimento individual, umtempo de escuta exclusivamente domissionário, é um dos mecanismosmais procurados e que está demons-trado ótimos resultados.

Ser ouvido de forma acolhedora,ética e sem preconceitos é de sumaimportância na elaboração e na orien-tação das emoções de um sujeito. Asingularidade das experiências vividaspor uma pessoa na vida missioná-ria suscita emoções que, em muitoscasos, não são compreendidas pelosfamiliares nem pelas igrejas.

Emoções como essas podem to-mar um caráter mais agudo como

acessos de raiva, medo, exaltação,insegurança ou afetos exageradosem relação ao campo ou ao trabalho.Essas emoções podem produzir e,em sua maioria, conduzir a quadrospsíquicos, como ansiedade, depres-são, fobias, delírios de perseguição eabandono. Esses quadros tendem aaparecer devido a inúmeros fatoresque compõem a vida missionária,como choque cultural, sofrimento no

campo, experiências de risco e aban-dono dos mantenedores financeiros.

O desgaste e a fadiga mental sãoalguns dos princípios mais determi-nantes para o surgimento dos qua-dros mentais. Um período prolongadono campo sem assistência pessoalnem troca afetiva com familiares eamigos pode originar os quadros psí-

quicos mencionados acima. Por isso,uma escuta especial e acolhedoraproporciona ao sujeito uma avaliaçãoe uma orientação sobre ele mesmo.A ação provoca na pessoa um olharcrítico sobre seu desgaste e suas

emoções a fim de organizar um sen-so de direção e equilíbrio emocionalem suas experiências.

Para tanto, igrejas e agênciasmissionárias recebem orientação noacompanhamento do missionáriodesde a candidatura e o envio até oretorno de férias ou a troca de cam-po. Com o passar do tempo, essesmissionários apresentam maior reso-

lutividade com suas e moções, maiorresistência às frustrações no campo emelhor compreensão de seus limitesnas tarefas e no tempo de trabalho.

É importante ressaltar que a vida domissionário não pode ser encaradacomo autossuficiente e autônoma.Afinal, ele está sujeito a todas ascondições e a imprevistos naturaispara a vida de um ser humano. Aolongo da história da Igreja, essa per-cepção parece ter sido sobrepujadapor uma forte tendência de encarar omissionário como alguém inatingível,que está espiritualmente blindado eque, por isso, jamais estaria expostoa problemas de pessoas “comuns”.

Ao contrário de uma rivalidade coma soberania ou a ação de Deus com ohomem, o conceito de saúde emocio-nal nos humaniza para compreender

de forma mais clara a profundidadeda soberania e do amor de Deus emrelação a nós.

O apóstolo Paulo expressa aosFilipenses a supremacia do caráter deCristo em suprir todas as necessida-des humanas em suas mais diversasdificuldades. Notoriamente essa epís-tola foi escrita em um dos momentos

mais difíceis, quando Paulo estavapreso em Roma. É j ustamente nessecontexto de extrema adversidade,no qual o sujeito pode vivenciar todaforma de hostilidade e agressividadesocial, que vemos uma das mais belarevelações da Palavra de Deus paranós: “Posso todas as coisas naqueleque me fortalece.” (Fp 4.13).

Categoricamente o verso posterioraponta a necessidade de participa-ção da igreja no cuidado dispensado

àquele momento vivido por Paulo emseu ministério. “Todavia fizeste bemem tomar parte das minhas afli-ções...” (Fp 4.14). Nessa carta, Pautanto enfatiza que Cristo é o únicomeio e desígnio que sustenta a existência humana, quanto como essesustento pode e deve ser demonstrado pelo exercício de cuidado emocinal que a igreja expressa, e faz issoessencialmente por meio do cuidado

que dedica, antes de tudo, aos sereshumanos, pelos quais Cristo deu aprópria vida (1 Jo 3.16).

João Marcos C. de SousaPsicólogo clínico, missionário da Jami e doutoem Linguística. Membro da equipe do CuidadoIntegral do Missionário, um dos departamentoda AMTB

Ao contrário de umarivalidade com a sobe -rania ou a a ção de Deuscom o homem, o con-ceito de saúde emo -cional nos humanizapara compreen der deforma mais clara a pro -fundidade da soberaniae do amor de Deus emrelação a nós

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18 • Povos e Línguas

Os malaio pattaniO sudeste asiático aguarda Isa Al-Masih

Povos Não Alcançados

lantadores de frutas tropicais,seringueiros e pescadores amea-çados por grandes navios pes-

queiros de países vizinhos, os malaiopattani são um povo de origem malaia,que vive no Sul da Tailândia, na frontei-ra com a Malásia.

Pattani tem origem na palavra malaia,petani, que quer dizer agricultor, o quecondiz com seu estilo de vida e suaeconomia, que se baseia na pesca e naagricultura. É um povo que remonta suahistória a um antigo reino malaio, pro-veniente da Malásia e da Sumatra, quese estabeleceu no que é hoje conhecidocomo Tailândia.

São orgulhosos de sua fé islâmicatrazida pelos ancestrais e qu e orienta

o seu modo de vida. Eles fazem ques-tão de preservar a sua língua, o Jawi,com escrita em caracteres árabes esons malaios. Esse povo resiste, deforma perseverante, sendo eles umaminoria em um dos maiores paísesbudistas do mundo.

Ser pattani é ser muçulmano. E ape-sar de terem disponíveis porções do

Antigo e do Novo Testamento traduzi-das, além do Filme Jesus e de mate-riais de evangelismo, apenas 0,01% de1,013 milhão de pattanis conhecemJesus. Isso os torna uma das maioresetnias muçulmanas não alcançadas dosudeste asiático.

Eles vivem em uma região de cons-tantes conflitos com o restante dopaís e, por estarem longe dos centrosadministrativos, têm certa autonomiaque, vez por outra, é fragilizada por in-cursões do governo budista. A situaçãogera desconforto e um clima tenso emregiões islâmicas do Sul da Tailândia.

Assim como no restante d o país, otrabalho missionário é lento, e comoem todo o mundo malaio, os pattanis

que conhecem o Evangelho podemsofrer sanções e perseguições fa-miliares por causa de sua fé, em IsaAl-Masih, (Jesus, como é conhecidoentre povos muçulmanos).

Apesar disso, muitos deles saem daTailândia para estudar em universidadeslocalizadas em países vizinhos. O movi-mento tem sido uma porta aberta para o

contato de alguns pattanis com o Evanglho e com cristãos de origem muçulman

Os pattanis são hospitaleiros e vivemum sistema social de sultanato. Existeuma família real ligada aos primeirosmalaios que chegaram àquela região.Mesmo vivendo em um território ricoem minerais e gás natural, há conflitona região e o desejo de autonomia, poo governo central do país não inves-te na melhoria de vida desse povo. Oisolamento limita os nativos a umacondição de mera sobrevivência, semgrandes avanços sociais.

Não há brasileiros servindo entre eleÉ preciso orar para que Deus levantemissionários e que os pattanis que saempara estudar em outros países possam

ser alcançados pelo Evangelho e voltemcomo sal e luz para as suas famílias.

Wellington BarbosaDesde 2009 está envolvido com o ministério nosudeste asiático, onde serviu como missionáriodurante cinco anos. Hoje trabalha com mobilizaçãtreinamento e é consultor de novas frentes missiogicas na Missão Kairós

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O mundo hinduCapa

m agosto de 2001 nós chegamos à Índia.O primeiro contato com aquela nova reali-dade foi marcante. Os detalhes estão bem

gravados em minha mente: os cheiros, as cores, ossabores desconhecidos, as pessoas e os animaisno meio das ruas, tudo chamava a minha atenção.Logo notei os templos, os altares, as imagens deinúmeros deuses, sinos tocando e o cheiro marcan-te da fumaça de incenso. Foi dessa maneira que aÍndia nos deu as boas-vindas, e a busca pela com-preensão de tamanha diversidade teve início.

Além de ser considerada a religião mais antigado mundo, com mais de 5 mil anos, o hinduísmochama a atenção por não ter um fundador históriconem um profeta (como Jesus é o “fundador histó-rico” do cristianismo e Maomé é o profeta históricodo islamismo). Não existe uma autoridade central(como a Bíblia é para os cristãos) nem mesmo umaestrutura institucional ou um credo estabelecido.

RAÍZES HISTÓRICAS

Para entender como essa religião surgiu, épreciso conhecer um pouco melhor a história daÍndia. Havia poucos registros históricos sobre osdravidianos – primeiro povo a habitar as terrasonde hoje está localizada a Índia. Em 1922, ar-queólogos escavaram as cidades de Harappa, acapital do Punjab pré-histórico e Mohenjo-Daro,nas margens do rio Indus, onde hoje é o Paquis-tão. As escavações revelaram uma sociedade

urbana e altamente desenvolvida, que surgiu hácerca de 2500 anos a.C. Eles adoravam inúme-ros deuses, com destaque para muitas figurasde uma deusa, especificamente, que poderiasignificar tanto a origem da vida (uma estatuetagrávida) quanto a criação e a continuidade davida (formas que enfatizavam os seios). Todasas indicações são de uma sociedade matriarcalque é o pano de fundo para o número de deusasencontradas na Índia atual.

Foram encontradas também guras de um deus dosexo masculino, com chifres e três faces. Ele é mos-trado na posição de um iogue (aquele que praticayoga) em um estado de contemplação. Ele tambémé visto rodeado de animais, o que sugere que eleseja a forma original do deus Shiva. Os símbolos defertilidade, o Lingam e Yoni, representando os órgãossexuais masculino e feminino, ambos ainda presen-tes no hinduísmo popular, também foram encontra-dos. Esses achados provam que a antiga civilizaçãodo vale do rio Indus mostrava traços de que aindasão uma força poderosa na religião indiana.

SINCRETISMO RELIGIOSO

Por volta do ano 1500 a.C., as planícies do Noroesteda Índia foram ocupadas pelos arianos, que vieramdo Norte do Irã. Eles conquistaram os dravidianos,de pele escura, que foram empurrados para o Sul daÍndia. Eles estabeleceram uma forte sociedade rural,que deu à vaca um lugar de destaque por causa dos

benefícios que ela oferecia. Trouxeram sua língua etradições e influenciaram profundamente as anti-gas religiões, ideias e práticas dos povos indianos.A linguagem dos arianos deu origem ao que hojeconhecemos como sânscrito, que mescla o grego, olatim e outras línguas indo-europeias.

A antiga religião do vale do Indus parece ter inclu-ído elementos, como yoga, abnegação e rituais depuri cação, práticas que continuam a caracterizaros “homens santos” da Índia atual. Enquanto isso, as

crenças e as práticas dos arianos eram semelhantesàs de outros povos do Oriente Médio, da Grécia e deRoma. Eles tendiam a refletir sobre a natureza do uni-verso, sua grandeza e abrangência, fazendo os seussacrifícios aos deuses que representavam as forçasda natureza. O sacrifício de animais também guravaentre os rituais. Enquanto os dravidianos se reuniamà beira de rios para adorar, os arianos se reuniam emvolta do fogo e realizavam suas cerimônias, lançandomanteiga, grãos e especiarias nas chamas.

E

A humanidade em busca da paz

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22 • Povos e Línguas

O hinduísmo, portanto, é o resultadoda combinação das muitas crenças e depráticas dos diferentes povos que viviam naÍndia. Um “hindu” (palavra persa para “in-diano”) pode ser de nido como uma pessoaque segue uma ou outra dessas crenças e

práticas que existem nessa religião nadahomogênea. Caracterizado por uma misturade loso a, ritual, costumes e tradições,no hinduísmo a ênfase está na maneira deviver, não na maneira de pensar. Alguns dosdeuses mais conhecidos no hinduísmo são:

Brahman: é considerado um ser su-premo, o deus dos deuses, dos quaisBrahma, Vishnu e Shiva são manifesta-ções. Brahman é chamado pela palavramística Om, que é a palavra usada parainiciar o exercício da yoga.

Vishnu: o “preservador” é adorado nãoapenas sob o nome e forma de Vishnu,mas em suas muitas encarnações. Sempreque qualquer calamidade ocorreu nomundo ou a maldade de qualquer de seushabitantes se tornou um incômodo insu-portável aos deuses, Vishnu teve de deixarde lado sua invisibilidade e vir à Terra,geralmente em forma humana. Quando

o seu trabalho era concluído, ele voltavanovamente para os céus.

Shiva: como Brahma é o criador, Vishnu,o preservador e como todas as coisas es-tão sujeitas à deterioração, um destruidorera necessário, e a destruição é considera-da o trabalho peculiar de Shiva.

Outros deuses muito conhecidos são Ga-nesh – o deus elefante, Hanuman – o deus

macaco, Krishna – o deus do amor, dentreoutros. É difícil ter um número exato, masé possível dizer que o panteão hindu con-templa mais de 33 milhões de deuses. Ohinduísmo está presente em várias naçõese é considerado a terceira maior religiãodo mundo. Vem logo depois do cristianis-mo e do islamismo. Estima-se que seja

quase 1 bilhão de seguidores, ou seja,14% da população mundial. Os dez paísescom maior representação são (em ordemdecrescente): Índia, Nepal, Bangladesh,Indonésia, Paquistão, Sri Lanka, EstadosUnidos, Malásia, Mianmar e Reino Unido.

ALCANCE MUNDIAL

Uma gura-chave para a introdução da -loso a hindu e da prática da yoga no mundoocidental, em 1893, foi Swami Vivekananda.Ele foi o monge responsável por trazer um“avivamento” para essa religião em toda aÍndia. Como resultado de seu trabalho, ohinduísmo foi elevado para o status de umadas principais religiões do mundo. Viveka-nanda fundou a “Missão Ramakrishna”,uma organização missionária hindu queainda trabalha ativamente.“Trabalhadoresheroicos são necessários para ir a outrospaíses e ajudar a disseminar a grande ver-dade do ‘Vedanta’. O mundo quer isso; semisso o mundo é destruído (...). Nós temosque ir; nós temos que conquistar o mundocom a nossa espiritualidade e loso a.Não existe alternativa: nós temos que fazerisso ou morrer. A única condição de vidanacional, de despertamento e vigorosa

vida nacional é a conquista do mundo pelopensamento indiano”. 1

A verdadeira disseminação do hinduísmose deu a partir do m da Segunda GuerraMundial, quando muitos indianos hindusimigraram para países da Europa e paraos Estados Unidos levando consigo suatradição e crença. Outro ponto alto parao avanço da religião hindu ocorreu em1959, quando Maharishi Mahesh Yogi, guru

indiano, criador da técnica da MeditaçãoTranscendental e discípulo de Vivekananda,começou sua turnê mundial e mais tardedeclarou:“Eu tinha uma coisa em mente.Eu sabia sobre algo que era útil para todosos homens - Meditação Transcenden-tal” . Foi durante sua viagem aos EstadosUnidos, em 1959, depois de ensinar sobre

a Meditação em vários estados, que Yogielaborou o seu plano para propagar a técnica para todo o mundo. Em 1960, ele vi

jou para a França, Suécia, Suíça, InglaterraEscócia, Noruega, Alemanha, Holanda,Itália, Cingapura, Austrália, Nova Zelândi

para o continente africano a m de ensi-nar sua “ciência”. Em 1961, 60 pessoasde vários países participaram do primeirotreinamento para se tornarem professoresde Meditação Transcendental na cidade dRishikesh, na Índia. Em 1964, ele concluilivro intitulado“The Science of Being and Aof Living” (A Ciência de Ser e a Arte de Vique vendeu mais de 1 milhão de exemplare foi traduzido para 15 línguas.

Em 1966, Yogi fundou a “Sociedade Etudantil de Meditação Internacional” cujcentros foram estabelecidos em mais demilcampi universitários ao redor do mundo, incluindo universidades como HarvaYale e UCLA nos Estados Unidos. Em1967, ele encontrou os Beatles, que che-garam a viajar até a Índia para se devota

totalmente aos seus ensinamentos. Em1970, só nos Estados Unidos, ele treinou2,7 mil pessoas para se tornarem profes-sores da técnica de meditação. Entre 19e 1973, mais de 10 mil pessoas participaram de seus simpósios de interpretaçãodas escrituras hindus. Seu impacto foi tãforte que, em 1973, o estado de Illinois,

O hinduísmo está presenteem várias nações e é con-siderado a terceira maiorreligião do mundo. Vem logodepois do cristianismo e doislamismo. Estima-se queseja quase 1 bilhão de segui-dores, ou seja, 14% da popu-

lação mundial

1 From Yoga to Kabbalah: Religious Exoticism and the Logics of Bricolage By Véronique Altglas, pg. 33-34.

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nos Estados Unidos, aprovou uma lei quepermitia que os ensinos de Yogi fossemusados nas escolas públicas. Nos anos90, Yogi criou um canal de TV a cabo cha-mado “Visão Veda” que era transmitidoem 22 línguas para 144 países.

O período entre as décadas de 50 e de 90foi marcado pela formação de vários movi-mentos neo-hindus que ganharam muitosadeptos em todo o mundo. Hoje comu-nidades religiosas hindus também estãopresentes em muitos países da América doSul, sendo que Guiana, Suriname e GuianaFrancesa são os países onde essa religiãotem sua maior expressão.

Na intenção de perpetuar práticas hin-dus por todo o mundo, o Primeiro-Ministroda Índia, Narendra Modi, foi bem-sucedidoem seu discurso das Nações Unidas emsetembro de 2014, quando propôs que odia 21 de junho fosse reconhecido como oDia Internacional da Yoga. De acordo coma loso a hindu, nesse dia, o deus Shiva– o primeiro a praticar yoga – começoua ensiná-la para o resto da humanidade,tornando-se assim o primeiro guru. O DiaInternacional da Yoga foi celebrado em

177 países, no dia 21 de junho deste ano.

OS ASHRAMAS

No hinduísmo, a visão de casta,ashra-mas (os quatro estágios da vida) e famí-lia são inseparáveis – cada pessoa nascedentro de uma família que pertence auma casta e passa pelos quatro estágiosda vida devendo praticar seudharma (responsabilidades) em cada estágio.Entre os quatroashramas , o segundoestágio é um ponto-chave. É quando ohomem se casa. Esse estágio dá conti-nuidade e sustentabilidade aos outrostrês ashramas . Quando um homem secasa, ele paga as três dívidas que ele tempara com seus ancestrais, seus deusese seu guru. Aos ancestrais, ele paga suadívida tendo filhos, principalmente umfilho homem para dar continuidade à sua

linhagem. Quando nasce uma filha, elase casa e vai pertencer a outra família.Portanto, dar continuidade à linhagemfamiliar e manter seu sobrenome é cru-cial, porque as memórias e a integridadedos ancestrais são mantidas vivas por

intermédio dos filhos homens.

Como chefe de família, um homem pagasuas dívidas aos seus deuses por meio deorações e sacrifícios oferecidos a eles. Daresmolas aos pobres, aos sábios hindus,alimentarBrahmins (sacerdotes hindus)ou pagá-los por seus serviços também éconsiderado um símbolo de gratidão aosdeuses. Um homem paga suas dívidas aoseu guru quando transmite aos seus lhoso conhecimento e a sabedoria que foramadquiridos com esse guru.

As mulheres passam somente por trêsestágios da vida: primeiro como umacriança protegida por seu pai. Tradicio-nalmente, meninas não recebiam educa-ção formal. O papel da mulher, conside-rado essencial para a preservação dosvalores culturais e sociais, era apren-dido em casa. Segundo, como esposa,protegida por seu marido. Meninas eram

“prometidas” e casavam quando aindaeram adolescentes. Como mulheres ca-sadas, o seu papel estava concentradona casa. Cumprir sua responsabilidadede ser uma esposa agradável e umamãe presente era considerado supremo.O terceiro estágio ocorria na condiçãode viúva, quando era protegida pelo filhomais velho. Alguns valores e algumasresponsabilidades da mulher são servirseu marido e tratar seus amigos eparentes com afeição; ser completa-mente familiarizada com os pr incípiosreligiosos; vestir-se e adornar-se detal maneira que agrade a seu marido,mas evitar vestir-se bem quando seumarido está ausente da casa; controlarsuas paixões e a ganância; falar de umamaneira agradável; cumprir seus votos e

jejuar e, quando mais velha, dedicar seutempo a práticas espirituais.

FAMÍLIA

Já o conceito de “família” para os hinduinclui os avós maternos e paternos, tios,tias e primos. Muitas pessoas nascemnum contexto em que “a grande família”

vive junta na mesma casa. Essa “grandefamília” inclui os avós paternos, os tiospaternos e suas esposas, as tias soltei-ras e todos os netos. Nesse caso, o lhomais velho é “o cabeça” de toda a casa.O respeito por cada membro da famíliabaseia-se na idade de cada pessoa, poisquanto mais velha, mais sábia ela é comrespeito aodharma da família. O homemmais velho toma as decisões nanceiras enormalmente, a mulher mais velha da casé consultada.

A maioria dos casamentos hindus sãoarranjados. Parentes e amigos sugeremnomes e famílias de possíveis candidatosAntes que a família considere uma pessocomo candidata, um sacerdote hindu examina os horóscopos dos dois indivíduospara ver se as duas pessoas combinam.Se há aprovação por parte do sacerdote,a decisão quanto ao casamento então étomada pela família, não pelos candidato

Dentro do tema de salvação oumoksha,há dois fatores importantes:

Reencarnação: o hindu acredita que todvida é uma luta contínua para chegar-seà perfeita união com o deus Brahman. Avida é um ciclo de nascimento, morte erenascimento do qual o indivíduo busca alibertação, ou seja,moksha. Milhares denascimentos são necessários antes que aunião seja alcançada. O comportamentoem uma vida é recompensado ou punidona próxima. Más ações levam o indivídupara mais longe da união e boas ações olevam para mais perto. A vida é como umcírculo, sem começo nem m. O ciclo derenascimentos é chamado desansara .

Karma: a vida é uma luta. Ela é cheia de dosofrimento e injustiças. O mundo é um lugar

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considerado injusto. A pergunta é: Por quê? Aresposta é vista na lei dokarma, que signi caliteralmente “trabalho” ou “ação”. O hindu acre-dita que“ o que você plantou, você colherá” .

Cada novo nascimento do hindu é deter-

minado pelokarma, ou seja, suas açõesvão determinar que tipo de vida o indivíduoterá em sua próxima existência. Se ele forbom, talvez ele renasça em um estadomais elevado na próxima vida. Se ele forruim, ele pode piorar seu estado. Tudodepende das obras. Alguém que tiver sidomau vai retornar ou renascer como umser humano de um nível inferior de vida oucomo um animal de maior ou menor grau.Da mesma forma, alguém que for bom semove para cima, para a possibilidade nalde moksha - libertação dosansara e uniãocom o “ser”. Portanto, salvação para o hin-du é a liberação dosansara para alcançarmoksha. Karma e sansara se tornaram ospilares da crença hindu. Se há algo em quetodos os hindus - ou quase todos - creemsem questionamentos, é nisso.

Para o hindu, existem três maneiras dealcançar moksha. Essas maneiras podemser chamadas de “três formas de salvação”:

O caminho do conhecimento – jnanamarg: o caminho do conhecimento estáligado à meditação. É o controle sobre ocorpo, levando ao controle sobre a menteque, por sua vez, leva ao controle sobre oespírito. O jnana marg envolve a práticado yoga como uma forma abstrata delibertar-se de todos os desejos terrenos,por meio do controle do sistema corporal,de tal forma que a união mental com o

“ser” ou o “in nito” seja alcançada. Yogaliteralmente signi ca “união”. A prática émais bem descrita como uma disciplinamental por meio da qual se pode alcançara união com o “absoluto”.

O caminho da devoção - bhakti marg:essa é a forma mais popular que envolvemuito amor e adoração ao deus Vishnu e asuas encarnações - Krishna e Rama.

O caminho das boas ações -karma marg: o caminho mais simples em quea pessoa se esforça para agir de umaforma que é positiva e útil, fazendo obem e evitando o mal. Mahatma Gandhifoi considerado exemplo ideal dokarma

marg, uma pessoa que segue o cami-nho da ação, chegando mais perto dedeus por meio de boas ações. Na práti-ca, fazer boas obras significa a cons-trução de karma suficiente para obter alibertação dosansara .

O DESAFIO DA IGREJA

Há poucos anos, a InternationalMissions Board dos Estados Unidospublicou o resultado de uma pesquisasobre os povos não alcançados e nãoengajados do mundo, apresentando umnúmero maior que 100 mil pessoas.Um povo é considerado não alcançadoquando menos de 2% de sua populaçãoé evangélica. Não engajado é o termousado para um povo que não tem ne-nhum trabalho missionário acontecendono seu meio. A pesquisa mostra que omaior número de povos não alcançadose não engajados está na Índia. Diantedesse grande desafio, a Igreja precisa

que seus vocacionados sejam treinadosnos seguintes aspectos:

Preparo Teológico: somente o conhe-cimento profundo das verdades bíblicaspode responder a todos os equívocos

religiosos relacionados anteriormente e amuitos outros (2Tm 2.15).

Conhecimento antropológico e cultural:fundamental conhecer a fé praticada peloshindus, bem como sua construção de pen-samento, para que a aplicação do conhe-cimento bíblico adquirido e principalmenvivido pelo missionário seja relevante paraesse contexto. Por exemplo: como expli-car para um hindu que ele é um pecadorque precisa de salvação do castigo eterno,quando no contexto hindu, “pecado” signi-ca não cumprir o seudharma ou ashramas?

Chegar à Índia e simplesmente começara falar para as pessoas que elas têm quereceber Jesus como seu único e su cienteSalvador não é o bastante. A pregação donosso Evangelho precisa ser contextuali-zada para ser compreendida e tida comorelevante dentro da realidade dos povosentre os quais trabalhamos.

A voz de Jesus continua ressoando: “Idpor todo o mundo e pregai o evangelho atoda criatura, batizando-os em nome doPai, do Filho e do Espírito Santo e ensi-nando-os a guardar todas as coisas queeu vos tenho ordenado”. (Mt 28.19-20); “como pregarão, se não forem enviados?”(Rm10.13a). A realidade hindu me leva aentender que a visão que Isaías teve nocapítulo 6 se repete constantemente. Deuainda pergunta ao Seu povo: “A quem enviarei e quem há de ir por nós?” (v.8). Quhoje, está disposto a responder ao Senhordizendo: “Eis-me aqui. Envia-me a mim!Quantas igrejas estão hoje dispostas a daresta resposta: “NÓS ENVIAREMOS!”?

Em 1966, Yogi fundou a“Sociedade Estudantil de Me -

ditação Internacional” cujoscentros foram estabelecidosem mais de milcampi univer -sitários ao redor do mundo,incluindo universidades comoHarvard, Yale e UCLA nosEstados Unidos. Em 1967,ele encontrou os Beatles quechegaram a viajar até a Índia

para se devotar totalmenteaos seus ensinamentos

Lessandra AlvesTrabalha na Índia desde 2001, onde dirige uma esla de inglês, hindi, espanhol e alemão

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Povos e Línguas • 27

DEPASTOR PARAPASTOR

Esperança para as escolasPág. 32 Marcelo Gualberto

CADERNO ESPECIAL Nº 8 | POVOSELINGUAS.COM.BR

BÊNÇÃO PERTO

E BÊNÇÃO LONGEEu voltei. E agora? Pág. 30 Pastoral

Do centro do mundo parao centro da vontade de Deus

Pág. 34 Escuta Missionária

Foto: FECOMERCIO - B

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Bênção perto e bênção longeA proclamação a partir da igreja local

Igreja Missionária

eus está em missão no mundo,realizando Sua obra e, para tanto,convoca a Igreja para se envolver

nessa missão. A missão é de Deus, e a Igrejaé o instrumento para sinalizar o Reino doSenhor. É válido que pastores compartilhemsuas convicções e experiências como líderesde uma comunidade local, especialmente noque diz respeito à Grande Comissão.

O que é Igreja? O conceito etimológico su-gere que Igreja seja uma assembleia pública.A Enciclopédia Histórico-Teológica da IgrejaCristã traz a seguinte de nição: “No NT, ‘Igre-

ja’ traduz a palavra grega ekklēsia. No gregosecular,ekklēsia designava uma assembleiapública, e esse signi cado foi mantido no NT(At 19.32, 39, 41). No AT hebraico, a palavraqahal designa a assembleia do povo de Deus(e.g. Dt 10.4; 23.2-3; 31.30; Sl 22.23), e a LXX,a tradução grega do AT traduz essa palavraporekklēsia e synagōgē, igualmente”. Namaioria das vezes em que a palavra Igreja

aparece no Novo Testamento, ela se refere auma comunidade local. Portanto, conclui-seque Igreja é uma assembleia, uma congre-gação de pessoas regeneradas que, apóspública pro ssão de fé, são batizadas. A partirdessas de nições, gostaria de pensar em pelomenos dois aspectos de uma Igreja missionária.

A pergunta que devemos nos fazer diante

dessas de nições é: somos a igreja, umpovo que se reúne regularmente, paraquê? A resposta mais usual certamenteserá “para adoração a Deus”. Embora essaresposta esteja correta, ela não satisfaz o

nosso questionamento. Essa congregaçãode santos instituída pelo próprio Jesus(Mt 16.13) existe para glori car o nome deDeus e para O servir.

O apóstolo Paulo escreve para os efésiosdefendendo a salvação pela graça, escla-recendo que também fomos salvos para aprática das boas obras. “Porque somos cria-

ção de Deus realizada em Cristo Jesus parafazermos boas obras, as quais Deus prepa-rou antes para nós as praticarmos.” (Ef 2.1A verdade desse texto faz ecoar o ensino dJesus em Mateus 5.16: “Assim brilhe a luz vocês diante dos homens para que vejam assuas boas obras e glori quem o Pai de vocêque está nos céus”. Isso implica dizer que,como comunidade local de discípulos de Jsus, nós temos a responsabilidade de servirao Mestre por meio do serviço às pessoas.

Ao encontrar-se com as pessoas e trans-formá-las, Jesus sempre as enviou como

instrumento de transformação. Aconteceupor exemplo, com o gadareno (Mc 5.19)enviado para proclamar aos seus familiaree com a mulher samaritana (Jo 4.28-29)que, ao deixar seu cântaro, saiu a proclamna sua cidade. Aconteceu também coma mulher do fluxo de sangue (Mc 5.33) aoassumir em meio à multidão que tocou asvestes de Jesus. A conversão é um verda-

D

D i v u l g a ç ã o

Vista da Universidade Federal de Viçosa, em Minas G

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Povos e Línguas • 29

deiro comissionamento missionário. Somosenviados para amar, impactar, surpreender,honrar e servir as pessoas, fazendo resplan-decer a luz de Cristo!

O segundo aspecto é o envio de missioná-rios a outros países. Jesus nos mandou pre-gar enquanto caminhamos e, dessa maneira,ir até os con ns da Terra. Ele pagou o preçopor todas as pessoas, gente de toda tribo,língua, povo e nação (Ap 5.9). Por essa razão,somos também responsáveis pela expansãodo Reino de Deus em toda a Terra. E a Bíbliaevidencia que somos nós, a Igreja, a comuni-

dade local, que devemos assumir e abraçaros vocacionados que o Senhor levanta paraa obra missionária transcultural (At 13.1-4),uma vez que não se deve ir a campo sem serenviado pela igreja.

A Segunda Igreja Batista em Viçosaestá envolvida direta e indiretamente comcampanhas missionárias, com intercessão

e levantamento de ofertas e adoção decampos especí cos. Há também um grandeesforço para superar os desa os da comu-nidade local. Nos últimos meses ocorreua Campanha 40 dias de Comunidade, queimpulsionou cada irmão a expressar o amorde Cristo aos que estão mais próximos.Foram realizadas ações pontuais, como pa-lestras e trabalho com as crianças do bairro.O ponto forte foi a inserção dos PequenosGrupos Multiplicadores que proporciona umresgate no que diz respeito à comunhão, àedi cação e à evangelização. Valorizamoso conceito de comunidade e focamos num

estilo de vida simples em que, por meio degestos intencionais, conseguimos transmitira mensagem do Evangelho.

Temos o privilégio de participar dire-tamente do sustento de missionáriosem Portugal e na Índia e estamos emfase final para o envio de um casal paraa Europa e a Ásia. O sentimento é que

a mesma comunidade local que ama eserve os que estão perto também ama eserve os que estão longe.

A missão é proclamar a mensagem apartir da realidade local aos quatro cantoEssa alegria é compartilhada por Deus coSua Igreja. Todavia, se não nos unimos aoSenhor no avanço de Seu Reino, preci-samos rever a nossa caminhada à luz daBíblia, pois podemos estar deixando delado o comissionamento do nosso Senho“Portanto, ide, fazei discípulos de todas anações, batizando-os em nome do Pai, e

do Filho, e do Espírito Santo.” (Mt 28.19

Vinícius A. VarelaCasado com Aline Varela, pai do João Lucas.Graduado em Teologia pela Faculdade Unida/ES.Foi Secretário-Geral da Juventude Batista Mineiraentre 2007 e 2013. É Membro da Comissão de Pesoal da Interserve Brasil. Pastor da Segunda IgrejaBatista em Viçosa - MG

F o t o s : A r q u i v o P e s s o a l

Pastor Vinícius Varela Realização do Kids Games - Segunda Igreja Batista de Viçosa

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30 • Povos e Línguas

Planejando a segurançaprevidenciária do missionário

Pastoral

urante 35 anos, Pedro e Claraserviram a Deus no campo mis-sionário transcultural, mais espe-

cificamente no Senegal. Agora, felizespelo sentimento de dever cumprido,mas também cansados, pois o vigorda juventude se foi, voltam para casa,ainda que não estejam bem certosde onde fica tal lugar nos seus cora-ções. Ao longo de todos esses anos,eles foram sustentados pelas ofertasde mantenedores – igrejas, amigos eparentes – usando cada recurso parase manter no campo e para viabilizaro ministério, pois a igreja com a qualtrabalhavam no interior da África erarural, pequena e pobre. Os recursos doministério, como material evangelísti-co, remédios, alimentos e combustível,vinham do sustento pessoal da família.Eles atuavam com alegria, pois nãoviam separação nenhuma entre a obramissionária e a vida do casal.

Quando Pedro e Clara passavam perí-odos mais longos no Brasil para des-canso, renovação espiritual, física e parabuscarem novos mantenedores, perce-biam algo que, apesar de incomodá-los,não chegavam a ver como de enormeimportância: alguns mantenedoresdeixavam de enviar sustento, deixandotransparecer nas entrelinhas que “mis-sionário só é missionário quando estáno campo”. Mas, Deus, em sua infinitamisericórdia, sempre supria o necessá-rio para que retornassem ao Senegal eprosseguissem com o trabalho.

Agora, entretanto, a situação secomplicou e tomou ares de dramati-cidade. O casal retornou para um paíscuja cultura eles não reconhecem tãobem como antes; para uma cidade quemudou drasticamente; para uma igrejacujos membros de 35 anos atrás seforam para o Senhor ou para outrasigrejas. E, para complicar, eles nãotêm onde morar, nem quem os sus-tente mais, pois, como eles percebe-ram nos períodos de férias, ao voltarpara a terra natal, eles não são maisconsiderados missionários pelos seu santigos mantenedores.

É natural que, a essa altura, vocêesteja se perguntando se essa his -tória é ou não fictícia. Apesar de ser,sim, fictícia, ela não está nem umpouco longe da real experiência demuitos missionários.

A Igreja Evangélica Brasileira, comcerca de 150 anos, é consideradaainda jovem perto dos 2 mil anos dehistória do cristianismo. Como Igrejaque não só recebe, mas envia mis-sionários, podemos ser consideradoscomo crianças, com poucas décadasde experiência de envio de obreirospara fora do país. A pouca experiên-cia, aliada a uma cultura imediatistaque não vê o planejamento de longoprazo como de valor, fez com que,nas últimas décadas, a Igreja no Bra-sil investisse como nunca no envio demissionários (Glória a Deus!), che-

D

Eu voltei. E agora?

A igreja enviadora preciscompreender que o seumissionário e o seu pastoou qualquer obreiro localtambém precisam colo -car esse assunto no papelantes mesmo de ir para ocampo, pois previdência éuma questão que, quantoantes for discutida, me -

lhor. Não existe uma regrinfalível no que tange aoenvolvimento das partes,mas cabe à igreja alertarseus missionários para quo assunto não seja varridopara debaixo do tapete

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Povos e Línguas • 31

gando a receber de missiólogos de outrasnações o apelido de “celeiro de missio-nários”. Contudo, a sua preocupação seconcentrou basicamente no envio, sem dartanta atenção à manutenção ou ao retor-no dessas primeiras levas de dedicados e

intrépidos pioneiros. Com o passar do tempo, começamos a

presenciar outro fenômeno: o retorno dosmissionários, seja prematuro, por cansaço,doenças ou problemas diversos no campo,seja por envelhecimento, quando o “tempo”do missionário chegou ao fim. Muitas vezesvem acontecendo uma abordagem por de-mais romântica do tema. O missionário saipara o campo transcultural com uma ideia

hiperespiritualizada do “Deus proverá”, pen-sando apenas no sustento como algo decurto prazo e imaginando que viverá parasempre no campo, lá envelhecendo, mor-rendo e sendo enterrado.

A igreja enviadora, por sua vez, embarca nomesmo pensamento, às vezes até aliviadapor não ter que pensar e planejar nada dofuturo mais distante daquele que vai (afinalde contas, não tem um planejamento nem

para o ano seguinte na comunidade local).O resultado lógico não seria outro: missio-nários retornando para casa após anos nocampo sem um plano de aposentadoria, semcasa, às vezes, até sem familiares ou amigospara ajudar. As igrejas locais e agências mis-sionárias acabam se vendo em uma situaçãodelicada, às vezes dramática, pura e simples-mente por falta de planejamento e de noçãode que nossos missionários são de carne eosso, adoecem, envelhecem e, em sua maio-ria esmagadora, voltarão um dia para casa.

A questão da aposentadoria do missioná-rio precisa ser encarada com seriedade, sequisermos continuar crescendo como paísenviador. É preciso que o missionário deixede ver seu futuro com as lentes da hiperes-piritualização, como se planejar o retorno docampo e a aposentadoria fosse um pecado,

uma falta de confiança na provisão de DeuEntendo que a cultura financeira e familiabrasileira ainda não internalizou a impor-tância da previdência, mas mudanças deculturas coletivas começam com mudançade culturas individuais e familiares. Se é

uma aposentadoria pública ou privada, cabao missionário pesquisar a melhor opção.O que não se pode fazer é optar pela lógicdo avestruz, em que se enterra o assunto nesperança de que o problema desapareça.

Por outro lado, a igreja enviadora preciscompreender que o seu missionário e o sepastor ou qualquer obreiro local tambémprecisam colocar esse assunto no papel,antes mesmo de ir para o campo, pois

previdência é uma questão que, quantoantes for discutida, melhor. Não existe umregra infalível no que tange ao envolvimeto das partes, mas cabe à igreja alertarseus missionários para que o assunto nãoseja varrido para debaixo do tapete. Se issacontecer, é quase certo que vai se tornaruma bomba-relógio a estourar no colo detodos - igreja, agência e, principalmente,missionário. Como alguém disse: quemfalha em planejar planeja falhar.

Se todos trabalharmos juntos, com trans-parência e maturidade, casos como os dePedro e Clara podem ser minimizados e setornar história passada nas missões brasi-leiras. Sabemos bem que o sistema previ-denciário brasileiro está longe de ser o ideamas abrir mão de uma previdência por causdisso é abraçar a certeza de problemas futuros. Juntos – igrejas, agências e missioná-rios – podemos tratar o futuro daqueles que

dedicaram suas vidas para a propagação doEvangelho com dignidade, reservando parao tempo de aposentadoria aquele período dalegre sensação de dever cumprido.

Luís Fernando Nacif RochaPastor de missões da Oitava Igreja Presbiteriana deBelo Horizonte - MG

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32 • Povos e Línguas

Esperança para as escolasÉ preciso regar a semente com oração

Artigo

rabalhar como capelão escolar emnossa geração é, acima de tudo,ser um semeador de esperança

para uma escola em crise. Mesmo semtodas as respostas, é preciso continuaranunciando o Evangelho e semeando aboa semente. Muitos jovens estudantesestão presos às drogas, à violência, àlibertinagem. A Igreja precisa orar conti-nuamente por nossa geração.

A caminhada cristã é repleta de pa-radoxos: rejeitar o mundo e fazer partedele; negar o homem natural e saberser um; confessar ser pecador e almejarser santo; conflitar-se individualmentee ajustar-se coletivamente; ter consci-ência de que o mundo vai piorar, mastrabalhar para a sua melhoria. E a ora-ção é mais um paradoxo: por que pedir aDeus que a vontade dEle seja feita assimna terra como no céu, se Ele tem todo o

poder para fazer o que quiser? Por quepedir ao Senhor que envie obreiros paraa seara que é dEle? Por que orar paraque as pessoas sejam salvas se Ele nãoquer que nenhum se perca, mas quetodos cheguem ao arrependimento? Porque as mãos de Moisés tiveram que fi-

car estendidas para que Josué vencessea batalha? Se Deus conhece as minhasnecessidades antes mesmo que eu assuplique, por que preciso suplicar?

Não tenho respostas. Embora o Senhornão me deva satisfação, Ele diz que devoorar sem cessar (I Ts 5.17); vigiar emoração (I Pe 4.7); perseverar na oração(Rm 12.12). Oração não é uma vara decondão, uma fórmula mágica nem uma

forma de impressionar Deus. Ela fazbem para quem ora, pois quando a faço,reconheço minha dependência de Deus,sou quebranto em Sua presença e mecoloco no meu lugar.

Em Atos 12 temos o relato da oraçãoincessante da igreja por Pedro, queestava na prisão. Deus enviou o anjo e,com ele, uma luz que iluminou a escu-ridão (v. 7). Quão grandes são as trevas

nas escolas brasileiras! Professoresassustados e acuados; meninas grávi-das aos 12 anos; violência generaliza-da e tantos outros desafios. Só a boasemente do Evangelho, regada a muitaoração, pode trazer luz e esperançapara as escolas brasileiras.

A igreja orou incessantemente, e ascadeias que prendiam as mãos de Pedrcaíram miraculosamente (v.7). Os ado-lescentes e os jovens estudantes estãopresos. O Evangelho é o poder de Deupara desfazer todo laço e destruir todaas algemas que prendem a juventudebrasileira.

Diante da batalha travada em oração,o portão de ferro se abriu para Pedro

sem nenhuma intervenção humana (v.10). Graças a Deus, as portas das esco-las ainda estão abertas, mas a tendên-cia é que elas rapidamente se fechemcomo aconteceu nos Estados Unidos ena Europa. Nossas orações devem seracompanhadas por um crescente sensode urgência. É preciso trabalhar enquanté dia! Orações e lágrimas precisam regasemeadura feita nas escolas brasileiras.

T

Marcelo GualbertoDiretor Nacional da Mocidade Para Cristo do Brae pastor da Comunidade Presbiteriana Centralde Belo Horizonte – MG. Tenente da Reserva daInfantaria do Exército Brasileiro e soldado na ativda Infantaria do Exército de Cristo

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34 • Povos e Línguas

Do centro do mundo parao centro da vontade de Deus

Escuta Missionária

ão Tomé e Príncipe é compostopor duas ilhas. O país está locali-zado no Golfo da Guiné, no Oceano

Atlântico, e tem uma marca que nenhum

país pode obter: ele está localizado nocentro do mundo: 0º de latitude e 0º delongitude em relação à linha do Equador.Com um território bem pequeno, de apro-ximadamente mil quilômetros quadrados,São Tomé e Príncipe abriga pouco maisde 180 mil habitantes e, apesar de serpequeno, o país necessita urgentementeda atenção da Igreja de Cristo.

Como antiga colônia, o país viveu soba dominação de Portugal, subjugado àexploração e às marcas frias e doloro-sas de uma escravidão que assolou opovo durante longos anos. As marcasdesse domínio ainda estão presentesno dia a dia e na memória de muitos,

já que a conquista da independência érecente: data de 12 de julho de 1975. Opaís vive um momento de relativa esta-bilidade política, o que é uma conquis-

ta importante para um país que viveusob um regime socialista ditatorial.

A língua oficial da nação é o portu-

guês, porém existem quatro dialetosmais falados. O mais popular é ocrioulo forro, falado na televisão, norádio e bem popularizado nas cançõeJá a comunidade descendente de CabVerde fala, além do português, o criolo cabo-verdiano. As comunidadespesqueiras descendentes de angolanofalam o angolar e, na Ilha do Príncipedialeto mais falado é o lunguiê.

O povo são-tomense não enfrenta osproblemas sociais comuns ao continentafricano, como a fome e a miséria, porénão deixa de se deparar com questõesgravíssimas, como a falta de saneamentbásico e os altos índices de alcoolismo.Segundo a agência Lusa*, uma pesquisada Organização Mundial de Saúde most

S

São Tomé e Príncipe

O povo são-tomense nãoenfrenta os problemas so -

ciais comuns ao continenteafricano, como a fome e amiséria, porém não deixa dese deparar com questõesgravíssimas, como a falta desaneamento básico

* Uma agência de notícias de Portugal

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que “com um consumo per capita de 7,1litros de álcool puro por ano, São Tomée Príncipe é o segundo país africano delíngua portuguesa com maior média de

alcoolismo.

De acordo com o censo de 2001 do TheWorld Factbook, a população de São Tomée Príncipe é composta por 77,3% de cristãos

católicos, 3% de evangélicos, 3,1% seguemoutras religiões e 19,4% se declaram nãoreligiosos. Todavia, a religião apresentadaem grá cos de diferentes organizações não

revela o que se vê in loco.

A população é apontada como es-sencialmente católica devido ao fatorhistórico e tradicional, já que, em 1534, osportugueses estabeleceram o bispado doentão Reino do Manicongo em São Tomé.Desde então, espalhou-se massivamen-te a fé católica nas ilhas, mas pelo fatorsociocultural, o catolicismo dá lugar aoanimismo. O sincretismo religioso permi-tiu, mesmo que extrao cialmente, a suaprática em festas, com veneração, criaçãode santos e o envolvimento com práticasde feitiçaria e bruxaria.

Ao chegarmos ao país em 2012, porintermédio da Junta de Missões Mundiais,analisamos o contexto social e religioso edecidimos começar a implantação de igre-

jas trabalhando inicialmente com as crian -

ças. Logo, Luciana, minha esposa, come-çou a acompanhar cerca de 40 crianças.Ela é sioterapeuta. Não demorou muitopara descobrirmos que ela era a única

pro ssional da área no país. A partir dessnecessidade, abrimos no espaço da igrejaum consultório para atendimento popularonde tivemos a oportunidade de ajudar nacura de muitas pessoas e de testemunharo amor de Cristo incontáveis vezes.

O desafio para São Tomé e Príncipe encontrar pessoas motivadas e dispo-níveis. Há muito o que fazer e poucossão os obreiros. Com a Igreja atenta

para a realidade de São Tomé e Prín-cipe, podemos levar essas duas ilhasmaravilhosas do centro do mundo paro centro da vontade de Deus.

Thales MontesMissionário da Junta de Missões Mundiais emSão Tomé e Príncipe. Casado com Luciana epai de Beatriz

(...) o catolicismo dá lugar ao ani -mismo. O sincretismo religiosopermitiu, mesmo que extrao-cialmente, a sua prática em fes -tas, com veneração, criação desantos e o envolvimento com

práticas de feitiçaria e bruxaria.Os cristãos evangélicos têmpouca expressividade diante darealidade católica e do animis -mo. Há muito trabalho a ser feito

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36 • Povos e Línguas

Os não alcançados do BrasilOs desa os da evangelização entre os povos minoritários

Artigo

os últimos anos a IgrejaEvangélica Brasileira temsido encorajada e desper-

tada para responder eficazmente

ao desafio da evangelização dossegmentos tradicionais existentesno país de forma mais intencio-nal. Como parte desse mover, foirealizada recentemente a ConsultaNacional Povos Minoritários doBrasil em que líderes e obreiros dediversos lugares estiveram reuni-dos. Eles refletiram sobre a realida-de da evangelização e propuseramações necessárias para o alcance

de ciganos, indígenas, quilombolas,ribeirinhos e sertanejos.

O uso do termo “povos” paracategorizar esses segmentosnão é o mais adequado, porquealguns desses segmentos nãoconfiguram um povo. Contudo, otermo tem sido empregado parase referir aos segmentos cujas

distinções reclamam um esforçoespecializado na evangelização.

Esses grupos são segmentos socio-

culturalmente distintos, porque elestêm uma forma própria de pensar e vver. É essa distinção que historicamete os mantém menos evangelizados,pois, para evangelizá-los, é precisocruzar fronteiras geográficas, culturareligiosas, linguísticas e sociopolítica

O desafio missionário existente entre esses grupos é imenso. E lamen-tavelmente o que eles têm mais em

comum é a carência do Evangelho.

CIGANOS

A população total de ciganos no Brasilé estimada entre 800 mil e 1 milhão. Eleestão divididos entre os grupos Calom,Rom e Sinti. A maioria deles é carente dEvangelho e o cialmente apenas cerca d50 obreiros estão trabalhando entre eles.

NÉ importante investir nopreparo adequado dosmissionários e desenvolvermodelos e estratégias deevangelização e plantio deigrejas de forma especí ca.Nesse processo, devemospromover um estreito diálo -go entre agências missioná-rias e igrejas locais

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Povos e Línguas • 37

INDÍGENAS

A população indígena chega a 1 mi-lhão, sendo que 50% deles vivem em área

urbana. Essa realidade implica um grandedesa o e exige uma nova estratégia deevangelização. Dos 58 grupos que vivemno Nordeste, entre 31 deles não há presen-ça declarada de crentes.

QUILOMBOLAS

Existem 2,47 mil comunidades quilombo-las o cialmente reconhecidas pelo governofederal. Contudo, o número nal pode chegar

a mais de 5 mil comunidades em todo o país.Em geral, são muito pobres e estima-se quehaja mais de 2 mil comunidades sem igrejas.

RIBEIRINHOS

São 35 mil comunidades ribeiri-nhas na Amazônia, sendo que 10 mildelas ainda não foram alcançadaspelo Evangelho. A maioria das co-

munidades tradicionais num raio de100 quilômetros das cidades foramalcançadas. Esses dados são muitoinsignificantes em vista do grande

desafio que representa.

SERTANEJOS

Cidades com menos de 30 milhabitantes representam um grandedesafio para o Evangelho. Contudo,o maior desafio do Sertão é a ZonaRural. São cerca de 6 mil povoadossertanejos que estão à margem daevangelização.

Esses desafios estão espalhados edifusos por todo o território nacionale evidenciam a urgência de acelerara evangelização dos povos minoritá-rios do Brasil. É necessário reconhe-cer e incluir esses povos nas açõesmissionárias da Igreja. É precisopesquisar e mapear os desafios e asoportunidades existentes, pensando

na transculturalidade envolvida emcada um deles.

É importante investir no preparo

adequado dos missionários e de-senvolver modelos e estratégias deevangelização e plantio de igrejasde forma específica. Nesse proces-so, devemos promover um estreitodiálogo entre agências missionáriasigrejas locais.

A Igreja Evangélica Brasileira éconvocada para amar e unir esforçopara que o Evangelho chegue a esse

povos ainda nesta geração. Façaparte disso.

Alisson MedeirosMobilizador, pesquisador e professor na MissãoJuvep. Teólogo e missiólogo, graduado emProcessos Gerenciais e pós-graduando em Gestãode Negócios. Representante da Aliança Evangélicpró-quilombolas do Brasil e membro do departa-mento de pesquisa da AMTB

F o t o : D i á r i o d o N o r d e s t e

Os sertanejos estão entre os menos alcançados do Brasil

J o n a t h a n D u r l i n g

Criança da etnia Xicrin, localizada no Sul do Pará

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Povos e Línguas • 39

Quando vivemos genuina-mente em adoração, aten-tos aos detalhes da vidacotidiana, tudo é para a Gló-ria de Deus e naturalmente aMissão de Deus será a nossamotivação de vida. Nãohá adoração sem missão evice-versa

A r q u i v o P e s s o a l

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40 • Povos e Línguas

A su ciência de Cristo

Coluna

emanas atrás tive a oportunidadede fazer uma pesquisa em cer-ta região do Himalaia, dentro de

uma proposta missionária. Parte dessapesquisa incluía visitar duas comunidadesque vivem entre algumas montanhas. Emum percurso de 17 quilômetros, que duroucerca de dez horas, percebi que váriasfases daquela escalada poderiam bemexempli car a jornada missionária.

DO ENCANTAMENTO À EXAUSTÃO

O início da escalada é marcado por ummomento de entusiasmo em que tudo énovo, interessante e está para ser desco-berto. A vista era linda, o clima, frio, masagradável, e a montanha projetava-se em

sua linda imensidão. Preparei-me com bo-tas especiais, cantis de água, uma pequenamochila, boné e óculos escuros. Após duashoras de escalada, a respiração tornou--se curta e difícil, levando-me a um fortecansaço naqueles 3 mil metros de altitude.Depois de quatro horas, as pernas doíame tremiam. Em certo momento, penseique elas não mais responderiam. Nessesmomentos, as motivações iniciais parecem

car distantes. O entusiasmo e o encan-tamento perdem lugar para o cansaço e ador.

A jornada missionária segue um percursosemelhante. Após três, cinco ou dez anos noministério, o ar mais rarefeito e o cansaçodo corpo dão sinais de esgotamento. Perde--se o encanto inicial e, escalando devagar, énecessário se lembrar não apenas do rumoda jornada, mas do seu signi cado. É justa-mente no signi cado que novos encantos e

entusiasmo – mais profundos e enraizados– começam a se formar. O que segura ummissionário em um campo difícil não é ocuidado pastoral, o projeto ministerial nemo envio da igreja. Nem mesmo o sustento

nanceiro ou o companheirismo dos cole-gas é su ciente para manter um missionário

nessas adversidades.

Tudo tem o seu lugar e importância, maso que o segura quando chega o dia mau éa sua convicção de chamado. Quando o arnão fornecer mais o oxigênio necessário eas pernas ameaçarem não se mover, lem-bre-se do chamado de Deus. Isso fará vocêse agarrar ao signi cado da caminhada e tersua alma novamente cheia de esperança.Aquele que o chamou é maior que as mon-tanhas. Ele é o criador do ar e é quem podedar força nova para as pernas cansadas. EmDeus faz sentido caminhar um pouco mais,crendo que Ele tem planos para cada dia danossa vida – e todos os Seus planos sãoplanos de amor.

ASPECTOS DE HUMILHAÇÃO

A caminhada missionária, como a esca-lada de uma montanha para a qual vocênão está preparado, pode ser um pro-

cesso de humilhação pessoal. O primeiroaspecto da humilhação é íntimo. Sãopensamentos de desapontamento ao nãoconseguir avançar no ritmo desejado ou éo súbito desejo de desistir.

O segundo aspecto é externo e compa-rativo, quando você olha ao redor e vê queoutras pessoas, naquelas mesmas circuns-tâncias, estão indo bem melhor que você.

S

O Himalaia e ajornada missionária Precisamos ser relembrado

a cada dia de que a jornada

não tem como alvo a com-petição, mas o signi cado.Todas as coisas cooperam– incluindo um monge idoultrapassando você – paraque se perceba que o moti -vo da caminhada é conhecemais o nosso Deus

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Povos e Línguas • 41

Após vários quilômetros, em pleno momentode exaustão, tamanha foi a minha surpresa aover que um monge me seguia. Era um senhor deidade avançada que caminhava encurvado comclaros problemas esqueléticos. Ao lado dele, ummonge mais novo vez por outra o apoiava para

que não caísse. O monge mais velho, de barbalonga, roupão vermelho e olhar cansado, ultra-passou-me! Olhar para ele, que se distanciava àminha frente, era humilhante.

A jornada missionária tem esses aspectos dehumilhação, sejam pessoais e íntimos, sejamem relação a outros que seguem no mesmo ca-minho e parecem ir mais longe e mais rápido. Aimpressão de que o Senhor nos colocou nessacaminhada para nos humilhar é verdadeira. Umdos propósitos de Deus é trabalhar em nossavida, tornando-nos mais conscientes de quemEle é, mais dependentes da Sua bondade e maiscontentes por Sua presença. As humilhaçõesda caminhada ajudam a nos enxergar de formamais realista, sem estereótipos nem maquia-gens. Precisamos ser relembrados a cada dia deque a jornada não tem como alvo a competição,mas o signi cado. Todas as coisas cooperam– incluindo um monge idoso ultrapassandovocê – para que se perceba que o motivo dacaminhada é conhecer mais o nosso Deus. É lá

atrás, puxando fôlego, que nos desencantamosde nós mesmos e passamos a ter os olhos maisabertos para nos encantar com Ele, que é overdadeiro Esplendor.

A EXPERIÊNCIA E O ERRO

No início da jornada, tudo parece perigosoe, de fato, muita coisa é. As pedras soltas,o terreno escorregadio, os despenhadeirosimplacáveis e a própria limitação física sãoprovas disso. Como se não bastasse, o climaestava incerto. Em início de jornada, a aten-ção é dobrada, e cada passo, bem calculado.Mas com o passar das horas, e especialmenteao fim do dia, a experiência obtida tende aprover certo relaxamento. Afinal, caminhou-sede forma segura entre as pedras soltas e oterreno molhado por bastante tempo. É justa-mente esse o momento da queda. A jornadamissionária segue um curso semelhante. Osprimeiros anos são de muito aprendizado e

atenção. Os anos seguintes abrem portaspara o amadurecimento e o ensino. Mas é ju-tamente quando se pensa saber o suficienteque o perigo mostra-se mais presente.

Boa parte dos líderes cai durante as épo-

cas de maior experiência de suas vidas. Asépocas de maior experiência podem reservaas maiores armadilhas. Quando se pensa terconseguido dominar a montanha, surge umapedra solta para a qual não se deu nenhumaimportância, e a queda é certa. Precisamos,ao longo de toda a jornada, manter-nos aten-tos ao essencial, como a vida devocional, ocuidado familiar e a integridade no ministér

ENTRE A NÉVOA E O ESPLENDOR

Vemos de forma por demais limitada enossos olhos não enxergam além do que estáa nossa frente. Essa é a nossa natureza. Emminha breve caminhada, lembro que duas outrês vezes, nos momentos de maior desânimoolhei para cima e, por um ou dois segundos, nuvens se dissiparam deixando escapar, entrea névoa, a visão do vilarejo encravado no altoda montanha – nosso destino. A visão serviade consolo e ânimo, pois sabia que estava nocaminho certo e que, em breve, chegaria lá. D

mesma forma, o Senhor, vez por outra, afastaa névoa e nos faz enxergar um pouco do SeuEsplendor: talvez em meio a um momento delouvor, a Palavra que entra profundamente naalma, o sincero abraço amigo ou a convicçãode que nosso lar não é aqui.

Muitas vezes, a escalada deixa você com arespiração pesada e a musculatura cansada,talvez exausto ou esgotado. Mas é nesse mo-mento que o Senhor o lembra, entre muitas nuvens e alguns raios de sol, que o signi cado dcaminhada é mais importante que o seu rumoE o signi cado é Jesus – o Sol ao meio-dia quarde absoluto sobre as montanhas, mesmo asmais altas e intransponíveis.

Ronaldo LidórioPastor e missionário presbiteriano ligado à APMT eMissão AMEM

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42 • Povos e Línguas

Cidades menos alcançadas do BrasilReconhecimento e estratégia

Missões Urbanas

eja no contexto urbano, seja foradele, o trabalho missionário tema pesquisa como uma aliada.

Por meio dessa ferramenta, é possí-

vel apresentar necessidades pontuaisque podem ser atendidas no campomissionário, evitando muitos entravese o escoamento de preciosos recursos,como tempo e finanças. Lançando mãode informações valiosas, podemosdeterminar quais estratégias seriameficazes no processo de mobilização etreinamento missionário.

No decorrer da história da Igreja, épossível notar que muitas iniciativasmissionárias foram despertadas pormeio de necessidades evidenciadaspor pesquisas específicas, trazendo àtona a urgência da evangelização emdeterminados contextos, consideran-do o avanço do Evangelho por regiõesem que ainda não havia sido iniciadonenhum trabalho missionário.

É necessário pensar no que figuracomo prioridade na agenda da evangelização local e transcultural. O Brasil considerado um país “alcançado”, ma

o que poucos sabem é que há pelomenos 309 cidades brasileiras commenos de 5% de cristãos evangélicosOs números apontam os alvos e asprioridades relacionadas à evange-lização que devem estar no topo daagenda da Igreja, incumbida de umamissão muito clara: de ir por todo omundo e fazer discípulos de todas asnações (Mt 28.19).

CIDADES COM MENOS DE 2%

Há 24 cidades brasileiras com menode 2% de cristãos evangélicos, o quecorresponde a cerca de 84 mil pesso-as, e a porcentagem média de crentesnessas cidades é de 1,4%. Um dadocurioso é a localização desses muni-cípios: um em Santa Catarina, um emMinas Gerais, dois no Piauí, dois em

SHá 24 cidades brasileiras commenos de 2% de cristãosevangélicos, o que corres-ponde a cerca de 84 mil pes-soas, e a porcentagem médiade crentes nessas cidades éde 1,4%

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Povos e Línguas • 43

Alagoas, dois na Paraíba e 15 estãono Rio Grande do Sul. Essas cidadesestão num raio de 300 quilômetros, e13 delas ficam na Serra Gaúcha. Essaspequenas cidades, com uma média de2,2 mil habitantes, são marcadas pelaforte religiosidade católica romanaherdada de imigrantes europeus, espe-cialmente italianos.

Ao cruzar os dados, é possível encon-trar outra particularidade. Nos Censosdos anos 2000 e 2010, entre as 15cidades localizadas no Rio Grande do Sul,11 delas apresentaram um encolhimentourbano, o que se deve principalmenteà busca por uma melhor qualidade devida. As metrópoles estão especialmente

envolvidas nesse processo por serem asmaiores “receptoras” desses migrantes.

Vale lembrar que a questão urbananão é uma singularidade da nossageração. Portanto, há muito o queextrair da atuação do apóstolo Paulo noquesito de plantação de igrejas nessecontexto. Nos registros das viagens doapóstolo fica claro que ele não plantouigrejas por todo canto que passou.

Aparentemente Paulo não queria “per-der tempo” com cidades menores. Elecentralizou suas atividades em impor-tantes centros urbanos, consideradosestratégicos. Por exemplo: a cidade deTessalônica tornou-se a base missio-nária para a província da Macedônia;Corinto, a base para a província daAcaia; e Éfeso, para a Ásia proconsular.

A partir desses centros escolhidos, Paulotinha bases para evangelizar as regiõesque essas cidades compreendiam. Porisso, é de se pensar que ele tinha umolhar apurado sobre a cidade, destacandoelementos importantes para a realizaçãodesse objetivo, sempre visando a evan-gelização do mundo em sua geração. Osprincípios adotados pelo apóstolo aindasão práticos e totalmente aplicáveis.

Ao retomar o tema das cidades me-

nos evangelizadas do país e ao cruzeros dados dos números de habitantescom o número de evangélicos é precisoconsiderar o quesito imigração. Paraformar as bases para a evangelização

das circuvizinhanças, alguns pontospodem ser sugeridos.

PIAUÍ

O Piauí é o estado menos evangelizadoda nação, com 9,7% de evangélicos. Eletem quase 25% dos seus 224 municípioscom menos de 5% de evangélicos. São 52cidades abaixo desse contingente. Nessescasos estão os municípios de José de Frei-tas, Palmeirais e São Miguel do Tapuio. Es-ses municípios estão crescendo e formamum triângulo com várias cidades em voltacom esse percentual de menos de 5%.

RIO GRANDE DO SUL

Embora o Rio Grande do Sul tenha 18,3%da população declaradamente cristã evan-gélica, é daqui que temos o maior

número de municípios com menosde 5% de evangélicos: 55. Desses,48 têm menos de 5 mil habitant es,o que denota uma caraterísticabastante comum nesse contingen-te geral: são cidades pequenas. Osmunicípios que ser iam base aqui sãos de Arvorezinha, Co ronel Pilar eFagundes Varela.

Essas são apenas estratégias paraque possamos levar o Evangelhoàqueles que necessitam. O ideal écomeçarmos por aqueles que nuncaouviram. Se partirmos desse prin-cípio e olharmos para o nosso país,aqui estão boas soluções. Que oSenhor da seara nos guie em tudo!

Luis André BrunetoMissionário e diretor de pesquisas da Servindo a Pastores e Líderes (Sepal). Membro daequipe de pesquisas do One Challe nge Inter-national (OCI) e da Global Pla nting ChurchNetwork (GPCN)

Brasileiras com menos de 2% de cristãosevangélicos, o que corresponde a cerca de 84mil pessoas, e a porcentagem média de crentesnessas cidades é de 1,4%.

C I D A D E S

15 estão no RioGrande do Sul.

3 0 0 K MEssas cidades

estão num raio de e 13 delas seencontram naSerra Gaúcha

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44 • Povos e Línguas

palavra gregaekklēsia, que é geral-mente traduzida por “igreja”, é umacombinação das palavras “chamar”

e “fora”, algo como “chamados para fora”.No grego secular,ekklēsia designava umaassembleia pública (At 19.32, 39, 41).

Ao longo da história, algumas distorçõesacerca da Igreja são notórias. Chamamosde Igreja, o templo – lugar físico e atésacramentamos o edifício. Institucionaliza-mos a Igreja (instituição religiosa) e perde-mos a noção de ela ser a comunidade dossantos. Confundimos Igreja com empresa,realçando o marketing e programas decrescimento. Enfatizamos a organizaçãoem detrimento do organismo – o corpovivo de Cristo.

Distorções di cultam o cumprimento da

missão, porque preferimos chamar paradentro a ir para fora. Jesus nos mandou ir(Mt 28.18-20; Mc 16.15), mas nós dizemosvinde! Uma vez que a Igreja não vai paraconviver na comunidade, ela perde a refe-rência de ser a Casa do Pai.

Criamos normas e estatutos para a adesãodos nossos membros e elegemos essas

normas como doutrina cristã. Substituímosa Escritura como normativa pelas exigênciasde usos e de costumes. Mas a Palavra nosmostra que a Igreja deve perseverar na dou-trina dos apóstolos, na comunhão, no partirdo pão e nas orações (At 2.42).

Limitamos a relação com Deus à liturgia,e muitos vivem como se apenas cumprir anorma cúltica uma vez por semana fosseo bastante. Mas Jesus ensinou: “(...) a vidaeterna é esta: que te conheçam a ti só, porúnico Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquem enviaste.” (Jo 17.3).

O modelo de Jesus para sua Igreja é serluz e sal neste mundo como Ele declara:“Vós sois o sal da terra; e se o sal for insí-pido, com que se há de salgar? Para nadamais presta senão para se lançar fora e

ser pisado pelos homens. Vós sois a luz domundo. Não se pode esconder uma cidadeedi cada sobre um monte.” (Mt 5.13-14).

Portanto, Jesus deixou claro que deve-mos expressar o amor de forma concreta(1 Jo 3.18) e vivendo em unidade (At 2.44,47), pois o sal não salga a si mesmo, nem aluz brilha para si. Nossa chamada é para se

gastar pelos outros, como a rma o Paulo:“Eu, de muito boa vontade, gastarei e medeixarei gastar pelas vossas almas, aindaque, amando-vos cada vez mais, seja me-nos amado.” (2 Co 12.15).

Jesus ensinou que devemos ser “ comoo Filho do homem, que não veio para serservido, mas para servir e dá a sua vidaem resgate por muitos” (Mt 20.28). Paulocumpriu a missão se doando para os ou-tros. “(...) decidimos dar-lhes não somento evangelho de Deus, mas a nossa vida” Ts 2.8). Bonhoeffer declara: “A Igreja só Igreja quando existe para os outros. A Igr-

ja é Cristo existindo como comunidade”.1

A sociedade aguarda que a Igreja cumpsua missão de existir para o outro, indoao encontro dos que necessitam da graça

salvadora e cumprindo sua missão deforma integral.

A

Durvalina B. BezerraCoordenadora-geral de ensino do Seminário BetelBrasileiro. Faz parte do Conselho de referência daAliança Cristã Evangélica Brasileira e atua na assesoria de oração da Aliança

Vinde ou ide?Artigo

1 Dietrich Bonhoeffer – Ética – Ed. Sinodal e EST. 2008

A Igreja do lado de fora

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Povos e Línguas • 45

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46 • Povos e Línguas

Alcançando o mundo em famíliaHospitalidade e proclamação

Profissionais em Missão

urante suas viagens, Paulo plantouigrejas, fez discípulos e abençooudiversas famílias. Uma dessas

famílias ficou registrada nas Escritu-ras como uma família de Fazedores deTendas. Eles viveram o Evangelho de talforma que até hoje são um modelo per-feitamente reproduzível de família cristã.

Atos 18.2-3 traz a história do encontro

de Paulo com essa família: “[Paulo] encon-trou certo judeu chamado Áquila, naturaldo Ponto, recentemente chegado da Itália,com Priscila, sua mulher, em vista de terCláudio decretado que todos os judeus seretirassem de Roma. Paulo aproximou-sedeles. E, posto que eram do mesmo ofício,passou a morar com eles e ali trabalhava,pois a pro ssão deles era fazer tendas”.

Nesses versículos, o autor conta queeles eram judeus exilados provavelmentepor terem se convertido ao cristianismo,

já que há indícios históricos de que a ex-pulsão ocorrida naqueles dias teve comoprincipal causa os judeus cristianizadosque estavam causando tumulto em Roma.

Uma característica relevante dessa famíliaera a sua hospitalidade. Eles não apenas

passaram a trabalhar com Paulo, mas oreceberam na própria casa. Essa estratégiapermite que laços profundos sejam criados.Ao morar e trabalhar com eles, tanto Pauloquanto seus an triões tiveram tempo paraconversar, compartilhar e mutuamentecrescer no conhecimento da Palavra. Essefoi o período no qual Áquila e Priscila adqui-riram um conhecimento ainda mais sólido eprofundo a respeito do Evangelho.

Em Atos 18.24-26, o casal não mora-va em Corinto, mas em Éfeso. Lá elesconheceram Apolo, um engajado pre-gador da Palavra. Curiosamente Apolonão conhecia Cristo. Ele tinha ouvidoa mensagem de João Batista e saiu apregá-la. Porém, nesse meio tempo,Jesus se revelou e viveu todo o seuministério sem que Apolo o soubesse.

O casal de missionários, tendo perce-bido isso, novamente foi hospitaleiroe levou-o consigo para expor-lhe maisprecisamente o Evangelho.

Ao escrever aos romanos, Paulo sereferiu a essa família e mostrou comclareza o modelo de atuação deles.Nas saudações finais da carta, Paulofaz referência ao casal e à igreja que

se reunia em sua casa. É interessantever que, mesmo após ser expulso deRoma, o casal de missionários voltapara lá e estabelece uma igreja emsua casa. Juntos começaram um novogrupo em que os cidadãos podiam teracesso à mensagem da Cruz.

Esse modelo que leva em conta ahospitalidade, a pregação do Evan-gelho e a iniciativa de começar umaigreja na própria casa atualmente é aforma de atuação de inúmeras famíliade missionários. Esse é um modelo dfamília cristã em que Cristo é expostode forma natural e intencional e deveser seguido por cada crente, por cadafamília cristã que tem o desejo de al-cançar o mundo com o Evangelho.

D

Gustavo de Souza BorgesMembro da equipe de coordenação do departa-mento Profissionais em Missão (PEM) da Associção de Missões Transculturais Brasileiras (AMTBBacharel em Ciência da Computação com pós-graduação em Matemática e Estatística. É gerente denovos negócios em uma multinacional de segurose editor do site fazendotendas.org. Participou doTentmaking Business as Mission Course na GlobaOpportunities, EUA

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48 • Povos e Línguas

Missão: um ato de amor,obediência e féEscolhas que valem a pena

Artigo

uando penso em missões, é inevi-tável: não consigo me imaginar foradesse contexto. Faço parte de uma

organização chamada Jovens Com Uma

Missão (Jocum) há 25 anos. Eu sempresoube que Deus tinha me chamado paraalgo diferente. Mesmo convicta, foi precisofé para obedecer e amor para continuar atéaqui.

Aos 18 anos, eu me posicionei diantedo que compreendia ser o meu chamado.Sou lha de pastor, de uma igreja bemconservadora em relação ao exercícioministerial da mulher. Porém, nunca me

deixei abater por isso, pois sempre acredi-tei que o chamado de Deus não se limita auma questão de gênero.

Sendo assim, comecei minha jornadacom meu grande e fiel parceiro, Deus.Sem saber a aventura que me espera-va, mergulhei de cabeça. Hoje, ao re-fletir sobre a minha história, não troconem um segundo vivido em missões

por uma vida considerada “normal”.Essa é a minha resposta para umapergunta recorrente.

Em Hebreus 11 temos um relatosobre irmãos que, como eu e muitosoutros, um dia foram desafiados a cresem ver e a obedecer sem procrasti-nar, estando firmados na promessa deque Jesus estaria presente em todotempo. “Cada uma dessas pessoas defé morreu sem ver o cumprimento dapromessa, mas ainda crendo. Comoconseguiram? Elas o viram e saudarade longe, aceitando o fato de que erapassageiros neste mundo. Quem viveassim sabe que está procurando seuverdadeiro lar. (...) por seus atos de feles venceram reinos, fizeram obras d

justiça, viram promessas cumpridas.Foram protegidos de leões, incêndiose ameaças de morte, transformaram adesvantagem em vantagem, vencerambatalhas, afugentaram exércitos inva-sores.” (Hb 11.13-14; 33 A Mensagem

QTalvez a parte mais com-plicada de toda a jornadaseja entender o verdadeirosigni cado prático do que éamar, servir e doar-se natu -ralmente ao Senhor e a umpovo. Dentro dessa realidadenão há nada tecnicamenteprogramado

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Povos e Línguas • 49

Quando aceitamos o desafio, emmomento nenhum deixamos de serhumanos. “Não estou dizendo que játenha tudo isso, que já o tenha consegui-do. Mas estou a caminho, prosseguindopara Cristo, que me alcançou de uma

forma impressionante. Amigos, não meentendam mal: não me considero umaespecialista no assunto, mas olhandopara o alvo, para onde Deus nos chama— para Jesus. Estou correndo e não vouvoltar atrás.” (Fl 3.12-14 A Mensagem).Não recebemos superpoderes como nosfilmes, mas recebemos a certeza de queestamos no caminho certo e que isso é oque nos impulsiona para o alvo.

Entre muitas outras coisas relacionadasao chamado de Deus para cada um deseus lhos, o que mais me fascina é a for-ma gentil como Ele nos guia. É como numadança suave em que o ritmo e a velocidadesão determinados pelo Senhor.

A vida é um contínuo aprendizado, ealgo que tem se tornado muito clarodiante de mim ao longo dos últimos anosé a máxima de que eu não levo Deus alugar nenhum, mas eu me encontro com

Ele em todos os lugares e escolho fazerparte do que Ele já está fazendo, poisuma vida dedicada ao Senhor só podeser vivida verdadeiramente quando tira-mos os olhos de nós e passamos a olharpara Deus.

Talvez a parte mais complicada detoda a jornada seja entender o ver-dadeiro significado prático do que éamar, servir e doar-se naturalmente

ao Senhor e a um povo. Dentro dessarealidade, não há nada tecnicamenteprogramado, mas a chave de tudo ésimplesmente viver da forma que nos-so grande mestre Jesus nos ensinou.Estamos aprendendo a todo momentoenquanto nos relacionamos com ou-tras pessoas e investimos no tempo deconvivência que temos com cada umdaqueles que estão próximos a nós.

Nosso Jesus foi muito claro quandonos disse para amarmos uns aos outros.Ele nos mostrou isso de forma prática norelacionamento diário que nutriu com osdiscípulos e com a multidão que sempre oseguia. O grande problema é que com-

plicamos muito e acabamos perdendo abeleza das coisas simples. Não tenho umafórmula de certo e errado, pois acredito queestejamos aprendendo com nossos erros eacertos, mas sei que a melhor coisa que zfoi buscar compreender onde Ele me que-ria. E eu sei que amar as pessoas semprevalerá a pena. Acredito no papel essencialde cada um no Reino de Deus.

É verdade que durante nossa jorna-da teremos crises, dúvidas, mas é por

meio de nossas escolhas, especialmentequando escolhemos perseverar, que nos-sa fé vai sendo progressivamente nutridae fortalecida no Senhor. “O fato essencialda existência é que essa confiança emDeus, essa fé, é o alicerce sólido quesustenta qualquer coisa que faça a vidadigna de ser vivida. É pela fé que lidamoscom o que não podemos ver. Foi um atode fé que distinguiu nossos antepassa-dos, elevando-os acima da multidão.” (Hb11.1-2 A Mensagem).

É diante de nossa escolha de obedecerao Pai que a nossa jornada se inicia. E é nocaminho que nosso relacionamento com Elese aprofunda. Nós nos tornamos capazesde ouvir até o seu mais silencioso sussurro,pois, se avançamos, é pelo que acredita-mos, não pelo que temos. E é com o quesomos que agradamos ao nosso Deus.

Hoje moro na Nova Zelândia com meumarido e meus filhos. Nós servimos jun-tos entre os Maori. É um privilégio fazeparte desse povo. Acredito no chamadode Deus para a família e temos vividoesse chamado.

Como mãe, posso dizer que não hásentimento mais gratificante do quever seus filhos entendendo quem são,abraçando e fazendo parte de uma formnatural daquilo que, a princípio, vocêcomeçou com um “sim”.

E se existe um papel que me define emmissões, é o de cooperadora e facili-tadora do que Deus determinou fazer.Portanto, faço questão de ressaltar queessa é uma perspectiva bem particularna jornada que venho trilhando. Nãopretendo afirmar, de maneira nenhuma,que esse deve ser unicamente o papel dmulher na missão, pois eu acredito quecada um, independentemente da identi-dade e de gênero, tem sua jornada, e é oSenhor mesmo quem determina o papelde cada um.

Em Hebreus 11, no decorrer dos versí

culos finais, lemos: “Entretanto, nenhudesses exemplos de vida de fé pôs a mãna recompensa prometida. Deus temum plano melhor para nós: Que nossafé se junte à deles para formarmos umtodo completo como se a vida de fé queeles tiveram não fosse completa sem anossa.” (v. 39-40 A Mensagem).

Juntos veremos diante de nós o cum-primento da visão relatada pelo apóstolJoão em Apocalipse 7.9: “Olhei de novvi uma multidão imensa, grande demaispara ser contada. Gente do mundo todoestava ali.” (A Mensagem).

Não recebemos superpo -deres como nos lmes, masrecebemos a certeza de queestamos no caminho certo eque isso é o que nos impul -siona para o alvo

Edna KleinMissionária da Jovens Com Uma Missão (Jocum)25 anos. Atualmente é missionária entre os MaoriNova Zelândia

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50 • Povos e Línguas

Missão possívelUma obra ainda não concluída

Linguística

uais são os conhecimentosnecessários para trabalhar com atradução das Sagradas Escritu-

ras? É comum pensar que tradução se

trata de uma tarefa a ser realizada porquem tem o domínio de dois idiomas.No entanto, a tarefa é mais do que aconstrução de uma ponte entre duaslínguas para transitar o sentido. Ascompetências necessárias são aindamaiores, quando se trata de um trabalhode tradução para línguas com poucoou nenhum estudo prévio sobre elas. Asituação gera desa os que transcendemos limites da linguagem, como no casodas traduções feitas pelos missionáriospara os povos com que trabalham.

É importante dizer inicialmente quetodo trabalho de tradução, mesmo den-tre os mais bem realizados, pode atingirum alto grau de delidade e precisão,mas nunca esses trabalhos alcançam aperfeição. Cabe lembrar aqui o famosoditado italiano que descreve o tradu-

tor:“traduttore, traditore”ou “tradutor,traidor”. Com isso, é preciso assegurarque não há tradução perfeita. Indepen-dentemente do número de edições,

revisões, membros do comitê editorialou qualquer controle de qualidade, acomunicação do sentido entre diferentuniversos linguísticos e culturais nuncserá exata. Essa é uma tarefa que nãoestá ao alcance das mãos humanas.Mas isso não signi ca que devamosdesistir de traduzir ou diminuir o valordesse trabalho.

Mesmo diante das limitações ressal-tadas, cremos que pessoas possamser alcançadas ao terem contato como Evangelho por meio de uma traduçãomesmo que seja imperfeita. Aliás, foiassim comigo e, provavelmente, comvocê por meio de uma das traduçõesque temos para a nossa língua. Issoacontece porque, mesmo que as tradu-ções disponíveis não tenham capturado

Q“(...) é preciso assegurar quenão há tradução perfeita.Independentemente donúmero de edições, revi -sões, membros do comitêeditorial ou qualquer controlede qualidade, a comunicaçãodo sentido entre diferentesuniversos linguísticos e cul -turais nunca será exata

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Povos e Línguas • 51

as minúcias do signi cado dos primeirostextos bíblicos, ainda assim, a mensagemcentral é comunicada de forma clara esatisfatória para cumprir o seu propósito.A tradução da Bíblia ainda é a palavrade Deus expressando a mensagem dasSagradas Escrituras. O cerne do seuconteúdo está preservado pelo próprioSenhor e ela é o instrumento de Deuspara transformar os corações daque-les que a leem.

Olhando para a história da traduçãoda Bíblia, vemos que ela começoucom a Septuaginta, sendo seguida poruma longa lista de traduções. Hojehá disponível ao menos um versículopara milhares de línguas. Mas tambémé uma história ainda não concluída,aguardando ser escrita para quase 2mil povos etnolinguísticos. A traduçãotem um passado marcado por muitaslutas, perseguições e sangue derrama-do, justamente por causa do debate,das dificuldades e das consequênciasenvolvidas no processo. Por diversosmomentos, a Igreja se deparou com aseguinte pergunta: proteger e pre-

servar o texto sagrado ou traduzir earriscar incorrer em possíveis erros?Aqui cabe uma questão: essa pergunta,ainda hoje, ecoa de forma aguda nopeito de muitos tradutores da Bíblia.

Mas foi em momentos em que a Igrejatentou proteger a Bíblia, evitando que elaestivesse disponível para todos, blin-dando-a para evitar que incorresse emerros de interpretação e resguardando oseu acesso apenas aos líderes da igrejaque Deus levantou homens como JohnWycliffe, William Tyndale, Lutero e muitosoutros. Eles foram tradutores que, paracolocar a palavra de Deus na mão depessoas que não tinham acesso a ela,pagaram com suas vidas. Wycliffe, portraduzir para o inglês, foi condenado comoherege. Depois de morto, ele foi exumado,teve seus ossos queimados e as cinzas

foram lançadas no rio Swift, na Inglaterra.Tyndale viveu uma vida de perseguição efuga até que, ao nal, foi estrangulado e,em seguida, teve o seu corpo queimado.

Retornando à pergunta inicial, o queum tradutor precisa saber para cum-

prir sua missão? Verter a Palavra deDeus para outra língua requer conhe-cimento em tradução, linguística, an-tropologia, tecnologia e outras áreas,sem mencionar uma sólida formaçãoem teologia bíblica e conhecimento degrego e hebraico bíblico.

Como você notou, este texto aborda,desde o início, a natureza da ciênciada tradução propriamente. Como toda

ciência, ela tem teorias e métodos quevêm se desenvolvendo com o avançodos estudos. Historicamente a discus-são girou em torno da busca por umresultado que se aproximasse de umatradução com uma equivalência maisformal, preservasse as estruturas e asformas do texto, resultasse em umatradução mais literal ou a produção deum trabalho em que apresentasse um

texto mais dinâmico, priorizando a comunicação do sentido do texto-fonte.

De maneira geral, toda boa traduçãobíblica tem por alvo a incansável prodção de um texto claro, preciso, natura

e aceitável. A presença desses quatroelementos é essencial. Por se tratar daPalavra do nosso Deus, é condiçãosinequa non que ilimitados esforços sejamaplicados na proteção da fidelidade dosentido do texto. Também é importantuma produção textual que respeite àsregras da língua-alvo, possibilitandouma leitura que possa ser feita comclareza e fluidez. Não há razão para aexistência de um texto artificial e compoucas condições de leitura. Não foipor acaso que o Novo Testamento foiescrito em Grego Koine, que era umgrego mais popular e acessível a todo

A expectativa é de que você tenhacompreendido um pouco dos desa-fios da tradução da Bíblia. Essa é umahistória ainda não concluída, pois hámuito por fazer. Perseguições, lutas esangue a ser derramado precisam sersuperados para que a mensagem do

Evangelho chegue às mãos dos queainda não a conhecem. E Cristo, nossmestre, seja anunciado entre todosos povos. Também a história ensinaque a palavra do nosso Deus perma-nece para sempre. Ela já atravessoumilênios, é o livro mais traduzido, lide distribuído na humanidade e tem seprovado indestrutível na sua vulnerablidade. E não apenas a história ensinaisso, pois o próprio Senhor nos diz:“Para sempre, ó Senhor, está firmadatua palavra no céu.” (Sl 119.89).

Jessé FogaçaPastor presbiteriano, linguista e tradutor da BíbliaMembro da Agência Presbiteriana de MissõesTransculturais (APMT), Associação LinguísticaEvangélica Missionária (Alem), Australian Societfor Indigenous Languages (AuSIL) e do SummerInstitute of Linguistics (SIL Internacional)

Olhando para a história datradução da Bíblia, vemosque ela começou com aSeptuaginta, sendo seguidapor uma longa lista de tra-duções. Hoje há disponívelao menos um versículo paramilhares de línguas. Mastambém é uma história aindanão concluída, aguardando

ser escrita para quase 2 milpovos etnolinguísticos. Atradução tem um passadomarcado por muitas lutas,perseguições e sangue der -ramado (...)

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54 • Povos e Línguas

Eu já faço missãoTenho uma célula na minha casa

Grupo Povos e Línguas

o Brasil estamos presenciandoum movimento extraordináriode aceleração do crescimento

de igrejas por meio dos pequenos

grupos. As pessoas se reúnem emescolas, casas, no local de traba-lho, em universidades e em muitosoutros lugares. Milhares de pesso-as estão se ajuntando para essesencontros e muitos deles vivem con-versões genuínas. Há 30 anos, essecrescimento e alcance eram impen-sáveis no Brasil. É uma das maioresestratégias que o Senhor colocou nocoração dos evangelistas.

Outro movimento surpreendenteestá ocorrendo. Devido à horizonta-lização gerada pelo modo de fun-cionamento dos pequenos gruposevangelísticos, cada pessoa tem aoportunidade de se envolver dire-tamente com a evangelização e odiscipulado de novos crentes. Esseenvolvimento direto com o avanço do

Reino de Deus, por obra do EspíritoSanto, está levando muita gente aorar e a se interessar mais profun-damente pela salvação de almas

também fora do seu contexto local.Muitos têm sentido forte ardor pelaevangelização de outras nações. Já comum encontrar líderes de célulase de grupos pequenos que têm umavisão apaixonada pelos povos nãoalcançados. Há pessoas que oramfervorosamente pela salvação dospovos. A disposição de muitas delasvai além de orar: elas querem ir!

Melhor ainda do que a simplespercepção desses movimentos é oreconhecimento de que eles estãoamadurecendo em prol do mesmoobjetivo: a Grande Comissão. Missi-nários que vivem em outros países,em contextos de maior complexidadcultural e missiológica, consideramcada vez mais o formato dos pe-

NMuitos têm sentido forteardor pela evangelizaçãode outras nações. Já é co -mum encontrar líderes decélulas e de grupos pe -quenos que têm uma visãoapaixonante pelos povosnão alcançados

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56 • Povos e Línguas

MohamedO clamor e a urgência da Igreja Sofredora

Artigo

mundo está de cabeça parabaixo. Guerras e rumores deguerras tomam conta dos noti-

ciários. As estatísticas de refugiadose migrantes são crescentes e atuali-zadas diariamente. Há cristãos sendoexecutados e mortes bárbaras sendomostradas em forma de espetáculo.Quem acompanha o noticiário logo vêque não dá para acompanhar tudo. In-felizmente o anormal torna-se habituale, mais triste ainda, pouco a pouco, aindignação vai dando espaço à indi-ferença. Graças a Deus que, por suamisericórdia, Ele usa seus enviadospara nos lembrar que, por trás de tudoisso, existem pessoas e uma urgênciamissionária que realmente importa.

Quando chegamos à Alemanha,

como missionários bivocacionados daIgreja Batista Central, nem imagináva-mos as experiências que nos espe-ravam. Abrimos uma célula em casa,trabalhando para trazer despertamen-to a tantos cristãos meramente no-minais que há aqui e para alcançar aspessoas com o amor de Jesus. Temosdesafios diários — cultura, adaptação,saudade, etc. Aprender a língua é um

caso à parte. Às vezes, tudo isso juntogera um grande desgaste que nosdeixa cansados, mas Deus envia seussantos para renovar nossa esperança.

Um desses é Mohamed — um refu-giado afegão membro da nossa célula.Ele tem tanta história para contar quedaria para escrever um livro. Conheceu oEvangelho recentemente, creu em Jesuse hoje é um cristão contagiante. Outrodia, sem saber, ele foi meu missionárioparticular. Eu falava da minha ansiedadede aprender o idioma e perguntei comoele tinha feito para estudar. Ele contouque chegou aqui aos 30 anos, analfabe-to, sem nunca ter ido à escola. Antes depoder aprender alemão, teve que apren-der a ler. Foi um testemunho de perseve-rança que renovou a minha fé.

Em uma de minhas visitas, pergun-tei-lhe sobre sua família, se queriam virmorar com ele. Mohamed respirou fun-do, suspirou e disse: “Olha, quando euliguei para a minha mãe e contei, todofeliz, que eu tinha aceitado Jesus, eladisse: ‘Mohamed, você traiu a sua família!Você nos traiu. Você não é mais meufilho. Não sou mais sua mãe.’” Fica-

mos calados, com os olhos marejadosEu só conseguia pensar na passagemde Mc 10.29-30, que pedi a Mohamedque lesse. Ele pegou uma Bíblia empersa, sua língua materna, e leu, aindcom alguma dificuldade. Olhou diretnos meus olhos e chorou.

Esses testemunhos marcaram a minhafé. Primeiro, porque mostram que umavida cristã verdadeiramente comprometidimplica desa os diários, mas eles não sãomaiores que a graça de Deus. Segundo,mostra que, enquanto milhões de cristãosmundo afora, de uma igreja genuinamen-te sofredora, enfrentam severas agruras,como a rejeição da família e até a mortepelo amor de Jesus, outros tantos as-sistem calados, como se nada estivesseacontecendo. Que essa realidade despert

corações para começarmos a agir em vezde tão somente a tudo assistir indiferente

O

Tágory FigueiredoMestre em Direito Internacional. Advogado, membro da Ordem dos Advogados de Portugal e do International Action Team da Law Society of Englaand Wales. Atua na Alemanha como missionáriobivocacionado da Igreja Batista Central de BeloHorizonte - MG. Casado com Ana Carolina Schwpai do Daniel e da Catarina

Refugiados sírios a caminho da Alemanha na estação ferroviária Gyékényes Zakany, Hu

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58 • Povos e Línguas

Agência missionária daIgreja Metodista Wesleyana - Agemiw

Como Irão?

Agemiw foi fundada no ano2000 com o intuito de respon-der ao ardor missionário dos

jovens que estavam sendo convoca -

dos pelo Senhor. Desde então, foramformadas em torno de 15 turmas doCurso de Treinamento Missionário(CTM). Muitos dos que estiveramconosco estão servindo em diferen-tes lugares, tanto em solo brasileiroquanto em outros países.

Atualmente há 52 missionáriosagenciados pela Agemiw servin-do em 20 nações, entre as quaisa Agência desenvolve projetos dedesenvolvimento social. Em Moçam-bique, mais de cem crianças sãoatendidas no “Centro Infantil JohnWesley”, localizado no Norte do paísentre o povo “Macua”. Na Bolíviadesenvolvem trabalhos nas áreasde saúde, educação, discipulado eapoio jurídico. O “AME” assiste anci-

ãos, jovens e outros em situação derisco na Espanha.

Entre os indígenas, o atendimento

é realizado entre os Tikunas, Mauée ribeirinhos na região Norte doBrasil e entre os Pataxós, no Sul daBahia. Entendemos que a Igreja noBrasil precisa amadurecer muito noque diz respeito ao envio missionário. Por isso, um trabalho também éfeito com as igrejas locais em buscade ampliação dessa visão, estimu-lando o maior envolvimento dosmembros em vários aspectos, comofinanceiro, intercessão e no despertamento de obreiros.

A Agemiw também oferece cursde capacitação para membros elíderes de Conselhos Missionáriose nas Igrejas onde não existemConselhos, são realizadas açõespara mobilização.

A Uma igreja madura em suateologia de missões podee deve avançar no que dizrespeito à Grande Comis-são. Portanto, obreiros dediferentes denominações,recomendados pela lideran-ça da igreja local, recebemtreinamento

Momento de louvor com as crinaças do Centro Infantil John Wesley, Moçamb

F o t o s : A G E M I W

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Vale lembrar que é na igreja local queestão os novos missionários e os recursospara o envio. Vemos o registro do envio dePaulo e Barnabé no livro de Atos: “E, servin-

do eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espí -rito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulopara a obra a que os tenho chamado.”

Uma igreja madura em sua teologiade missões pode e deve avançar noque diz respeito à Grande Comis-são. Portanto, obreiros de diferentes

denominações, recomendados pelaliderança da igreja local, recebemtreinamento. A igreja deve conhecerseus vocacionados e devem cami-nhar juntos, pois é fundamental com-preender que a igreja local é quemreconhece e envia.

Com o objetivo de apoiar líderes eigrejas locais, a Agemiw promove cur-sos e eventos ao longo do ano, como“Missões para diáconos”, “Atualizaçãoteológica de Missões: visando a missãointegral”, “Festa das nações” e promoveum encontro de líderes de conselhosmissionários, além de receber igrejasnas dependências da agência paraserem treinadas de acordo com suasperspectivas mais específicas.

Nosso alvo central e a razão de exitir é contribuir para que o nome de Jsus Cristo seja conhecido e adoradoentre todos: povos, línguas e nações

A missão da Agemiw é trabalhar parque toda igreja local tenha um Conse-lho Missionário e que todo Conselhocumpra sua missão de capacitar osvocacionados para servir em campotranscultural, dando suporte a eles eapoio à igreja enviadora.

Mesmo com esforços conjuntos,ainda há muitos desafios. É preci-so perseverar e continuar lutando.Anelamos agradar a Deus, que noschamou, e atender ao seu amor quetanto nos constrange.

www.agemiw.com.br(24) 2246-4672

Nosso alvo central e razão deexistir é contribuir para que onome de Jesus Cristo seja co -nhecido e adorado entre todos

os povos, línguas e nações. Amissão da Agemiw é traba-lhar para que toda igreja localtenha um Conselho Missionárioe que todo Conselho cumprasua missão de capacitar osvocacionados para servir emcampo transcultural

Entre as ações do Centro Infantil está o combate à desnutrição entre as crianças Crianças Moçambicanas

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60 • Povos e Línguas

Nepal: a beleza e o sofrimentode um país apaixonante

Indo

onfesso que, desde o dia em querecebi um e-mail apresentandoo campo missionário no Nepal,

meu coração se inquietou. Era janeiro de

2015. Em meio a um frustrado planeja-mento inicial de viagem a esse país asiá-tico, os terremotos deflagrados em abrilse tornaram notícias em todos os cantos.Com eles, o meu coração, inquieto eagora também abalado, encheu-se maisdo desejo de estar lá. Fiquei como os quesonham, e Deus, exímio organizador dedetalhes, estava cuidando de tudo.

Dia 16 de julho, Dr. José Antônio, Dr. Bian-

co e eu partimos rumo a Katmandu levandona bagagem medicamentos, equipamentosmédicos, recursos nanceiros, algumasexperiências de atuação em situações ca-tastró cas, como no pós-terremoto do Haiti,e uma enorme vontade de servir.

Como médicos, tínhamos algumasexpectativas a respeito do que encontra-ríamos, depois de dois meses da série

de abalos sísmicos que continuavam asacudir o Nepal. A despeito de encontraruma nação ainda bastante destruída etraumatizada, o atendimento humani-

tário emergencial tinha sido executado,embora a informação que tínhamos dosmissionários brasileiros com quem con-versávamos era de que, especialmentenas vilas fora de Katmandu, o sofrimentoestava bastante presente. Com muitasrestrições ao acesso e danos estruturais,o próprio cuidado médico chegava comdificuldades nessas comunidades.

Muito do que imaginávamos se cumpriu.

Especialmente em vilas de difícil acesso,isso é comum na geogra a nepalesa.Enfermos ainda esperavam por cuidado,convivendo com a dor física e emocionaldo abandono e das perdas de entes que-ridos e de bens. Em muitas dessas vilas, amaior parte das casas foi destruída.

Os patrimônios históricos e culturaisda Unesco, no Vale de Katmandu, que

movimentam bastante o turismo nopaís, foram consideravelmente afetadosSímbolos religiosos e culturais secularedaquela nação ruíram. Cerca de 9 mil

vidas foram oficialmente ceifadas e made 20 mil foram feridas na maior série dterremotos do país nos últimos 80 anos

Organizações do terceiro setor trabalhamcom a nco para responder a algumasnecessidades mais urgentes. Missionáriosbrasileiros se uniram para exercer umaimportante força-tarefa ao atuarem de formestratégica na construção de casas provi-sórias para quase 1,5 milhão de nepaleses

desabrigados. A situação é mais agravadadurante as chuvas de monção.

Mesmo antes dos terremotos, o Nepalocupava a posição número 157 dos 187países ranqueados no Índice de Desen-volvimento Humano (IDH). A estimativé de que 54% da sua população viva coaté US$ 1.25 por dia. Após os tremoressegundo a Organização das Nações Uni

CMulher busca seus pertences após os abalos no Distrito de Kavreplanchok, N

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62 • Povos e Línguas

Missão Evangélicada Amazônia - Meva

Como Irão?

m 1941, os missionários NeilHawkins e sua esposa MaryHawkins se mudaram de

Belém (PA) para o território de Rio

Branco, onde iniciaram um trabalhoevangelístico entre os indígenasmacuxi, na região do rio Cotingo,na aldeia de Contão, onde trabalha-ram até outubro de 1946. Depoiseles se mudaram para a região dorio Surumu, onde abriram um inter-nato com a ajuda de uma profes-sora brasileira, Edith Barros. Maistarde, ela foi substituída por LevinaLima. Esse trabalho foi transferi-

do para a “Baptist Mid Missions”em 1948, quando os missionáriosforam à Guiana Inglesa e fizeramcontato com os indígenas uai-uai.

Em 1956, o missionário NeilHawkins e sua esposa, preocupa-dos com a evangelização de outrosgrupos indígenas, viajaram para acidade de Bonfim, onde iniciaram

um Centro de Treinamento e Orietação para Missionários na regiãodo rio Tacutu.

No início da década de 60, a sedda Missão foi mudada de Bonfimpara Boa Vista, capital do territórionde a Asas de Socorro mantinhauma base de operações.

Desde então, a Missão Evangélicda Amazônia (Meva) continua a dedicar esforços para a evangelizaçãdos indígenas. A instituição é umaentidade missionária interdenomi-

nacional especializada que procurservir às igrejas locais. A Meva secoloca como um elo e ntre a igrejae o campo missionário, disponibilizando toda a sua infraestrutur a e aações, como planejamento, estraté-gia, apoio logístico para que o aceso dos obreiros ao campo possase dar de forma rápida e segura. AMissão conta com 34 igrejas indíg

EA Meva se coloca como umelo entre a igreja e o campomissionário, disponibilizandotoda a sua infraestrutura e asações, como planejamento,estratégia, apoio logístico eoutras para que o acesso dosobreiros ao campo possa sedar de forma rápida e segura

F o t o s : M e v a

Índios da tribo yanomami localizada em Roraima, no Norte do

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Povos e Línguas • 63

nas com liderança própria, sendo seisentre os macuxi, 19 e ntre os uai-uai,cinco entre os yanomami e quatroentre os wapixana.

A Missão não tem vínculo empregatíciocom seus missionários nem convênio comórgãos governamentais nem similares. AMeva se mantém por meio de contribuiçõesvoluntárias e regulares feitas por igrejas eindivíduos comprometidos com o Reino.Portanto, os projetos e os programas acon-tecem como fruto dessa visão missionária.

Entre os projetos desenvolvidos pelaMeva destaca-se o Ministério de Capacita-ção de Líderes (Micali), iniciado em 2009,que oferece um curso bíblico com duraçãode seis anos, com módulos ensinadosem diversas comunidades indígenas. Opúblico-alvo são as pessoas que exercemou almejam exercer ministérios dentro desuas igrejas locais. Esses módulos sãoensinados em cinco línguas e têm alcan-çado mais de 1 mil indígenas de quase 50comunidades pertencentes a oito etnias.

Anualmente a Missão promoveencontros com líderes evangélicosindígenas entre os macuxi, wapixanae uai-uai. Nesses eventos, os líderestêm a oportunidade de compartilharsobre o desenvolvimento da igreja lo-cal, buscam soluções e refletem sobrequestões relevantes para o contextono qual estão inseridos.

Na cidade de Boa Vista (RR) estálocalizada a sede administrativa daMeva onde fica o estúdio de rádio daentidade para a produção de progra-mas com mensagens e cânticos nalíngua macuxi. Os programas vão aoar diariamente pelos transmissores daRádio Transmundial. Eric e Dona são osmissionários responsáveis pela coorde-nação desse ministério.

Outra frente de trabalho da Missão éa tradução da Bíblia para a língua-mãede diversas comunidades indígenas:

• Língua uai-uai – Bíblia completa• Língua macuxi – Novo Testamento

completo e seleções do AT• Língua yanomami (dialeto sanuma

– NT completo e seleções do AT• Língua yanomami (dialeto ninam)

55% do NT e seleções do AT• Língua yanomami (dialeto palimi-

theli) – 26% do NT (sendo revisade seleções do AT

• Língua ingaricó – Em fase inicial

A Missão Evangélica da Amazôniaé uma das iniciativas que contribuem

diretamente para o desenvolvimento doministério entre os indígenas. As açõesda Meva geram fortalecimento, tornan-do-se uma ferramenta útil para o avançespiritual da igreja indígena.

www.meva.org.br(11) 4428-3222

Vista aérea de malocas yanomamis Indígenas reunidos para realização de um culto na sede da Meva em Boa Vista, Rora

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Missão entreos vulneráveis

Coluna

enho muita di culdade com a retóricade messianização do pobre (muitopresente em determinadas tendên-

cias missiológicas). Trabalho há quasecinco anos com crianças e adolescentes emcontextos de alta vulnerabilidade. Pela graçade Deus, faço parte de uma equipe e de umaONG¹ profundamente interessadas na ga-rantia do desenvolvimento humano. Porém,

jamais me deixei envenenar por qualquerufanismo triunfalista nem, tampouco, poruma antropologia rousseauniana ingênua.

Não tenho nenhuma pretensão de trans-formação estrutural ou de mudanças revo-lucionárias. Também não acho que o pobreseja privilegiado, em termos morais, emrelação ao rico, simplesmente por causa

de sua condição pobre. Porém, admito quea maioria esmagadora dos eleitos de Deussão pobres materialmente: a história e asEscrituras comprovam. Logo, de forma bí-blica e histórica, Deus favorece misteriosa-mente os mais vulneráveis, mas não achoque seja um critério soteriológico, mas umaforma particular em que Deus opera paraevidenciar Sua glória.

Não acho que eu mereça - nem nenhumcristão - algum tipo de admiração por taltarefa. Essa a rmação não se baseia emuma postura demagógica. Esse é um fatoexperimentado por qualquer missionário/pro ssional realmente interessado nosmais vulneráveis: jamais serviríamos taisindivíduos por nossa competência. Somosarrastados ao serviço e ao amor, pois opróprio Cristo os ama e quer servi-los. Rarasvezes sou reconhecido por meus educandos

ou seus pais por qualquer esforço em vê-losmelhorando em inúmeras competênciassocioemocionais e cognitivas. E, de fato, nãotenho nenhuma expectativa de reconheci-mento. O que faço é ín mo e, depois, não éo reconhecimento que me encoraja. Sendoassim, que Deus nos livre de um farisaísmo

performático. Que Deus nos livre de uma ad-miração desproporcional e desnecessária.

Um cristão se move no sentido dos maisvulneráveis por causa de dois grandesmandatos divinos: a Grande Comissão, ide(Mt 28.19), e o Grande Mandamento, amar(Jo 13.34). Para mim, cristãos precisam amarmais e dar um passo mais consistente nadireção dos mais pobres e vulneráveis. Nossopaís é marcado por profundas desigualdades,violência, fracasso institucional, impuni-dade e empobrecimento moral. Para mim,é simplesmente inquietante que cristãos

quem indiferentes ao sofrimento alheio.Claro que não estou aqui, sustentando atese de “encontrar Deus nos pobres” e longede apresentar uma “abordagem ideológica”em relação à pobreza. Antes simplesmenteevoco o Grande Mandamento: amar!

Cristãos precisam de um choque de realida-de. Eles precisam deixar suas vidas cômodase entrar numa cracolândia, subir o morro, visi-tar presídios, servir em desastres ou ter açõessemelhantes. De fato, não há como continuar-mos sendo cristãos da mesma forma depoisde uma imersão na realidade dos que sofrem.

Sou favorável ao fortalecimento dasociedade civil. Temos que superar essadependência estatal e, por incrível quepareça, nós todos, como comunidade

T

¹ Organização Multidisciplinar de Capacitação e Voluntariado (OMCV) www.omcv.org.br

(...) nosso conceito depobreza também carecede uma de nição maisso sticada. De fato, hámuitos tipos de pobreza ede riqueza. Há os materia-mente pobres, mas ricosem outros aspectos. Há oemocional e socialmentepobres, cativos por entor -pecentes e por doençasgraves, ainda que nance-

ramente ricos

A convocação nal

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cristã, deveríamos nos envolver com a tarefa dedigni car mais brasileiros empobrecidos e vul-neráveis. Deveríamos assumir isso como tarefa.Não falo que a igreja local deva fazê-lo. Não achoque igrejas devam ser ONGs. Mas penso queigrejas devem ensinar sobre o amor, a compaixão

e a generosidade a seus membros. Que eles seenvolvam, que doem e compartilhem seus bens esuas capacidades a serviço dos que precisam.

Timothy Keller chama a atenção para outroponto importante, “Fazer justiça está ligado demodo inseparável à pregação da graça de Deus.Isso é verdade de duas maneiras: o Evangelhoproduz interesse pelo pobre e as obras de justiçadão credibilidade à pregação do Evangelho. Emoutras palavras, justi cação pela fé nos leva afazer justiça, e fazer justiça leva muitos a buscar

a justi cação pela fé.”2

Sustento que uma tensãoentre os dois mandatos mencionados é desne-cessária. Que continuemos anunciando JesusCristo, ensinando sobre sua obra salvadora e

justi cadora. Mas que igualmente amemosde maneira incondicional os mais vulneráveis,servindo-os em suas necessidades concretas.Estamos diante de uma oportunidade singular detestemunharmos um cristianismo robusto pelapregação e pelo serviço sem sobreposição nemconfusão entre evangelizar e servir.

Gostaria ainda de salientar que nosso con-ceito de pobreza também carece de uma defi-nição mais sofisticada. De fato, há muitos tiposde pobreza e de riqueza. Há os materialmentepobres, mas ricos em outros aspectos. Há osemocional e socialmente pobres, cativos porentorpecentes e por doenças graves, ainda quefinanceiramente ricos. Em Apocalipse, a Igrejade Laodiceia, mesmo com sua riqueza mate-rial, foi chamada de pobre pelo próprio Cristo.Precisamos de critérios mais elaborados sobrepobreza – uma abordagem complexa e multi-dimensional para mapearmos a vulnerabilidadehumana. Sem tais critérios, cairemos fatal-

mente em uma espécie de ufanismo ideológirevolucionário ou em uma espécie de quietismo que fica esperando a caridade alheia.

Recentemente o teólogo e pensador cris-tão Guilherme de Carvalho dirigiu sérias ehonestas críticas à chamada Teologia daMissão Integral3 . Uma leitura honesta evi-dencia que precisamos superar a tentaçãode abraçar qualquer ideologia secular comosolução para a transformação do mundo.Devemos renunciar a qualquer pretensão deque podemos instaurar o Reino de Deus ponossas ações. Considere a seguinte afirma-ção de Carvalho: “As obras de fé e de justiçque realizamos no mundo hoje, incluindo otrabalhos de transformação social, econô-mica, política e cultural, só podem ser, porsua natureza, sinais ‘subescatológicos’ do

reino. Eles não são o reino, mas a evidênciada presença do reino. O reino é ‘justiça, paze alegria no Espírito Santo’. O reino está onestá o poder da nova criação, e ele só é presente onde há fé, esperança e amor.”4

Na atual conjuntura política de polaridadesentre esquerda e direita devemos nos concentrar na superação entre teoria e prática, entreortodoxia (doutrina correta) e ortopraxia (prática correta), como sugere o amigo e filósofoPedro Dulci: “Mostra-se urgente no contexto

brasileiro que recuperemos uma teologia doreino de Deus para que nossa missão sejarealmente ortodoxa e profundamente integraPenso que estamos precisamente nesta viradamissiológica: uma missiologia que integra telogia ortodoxa e prática consistente com essefundamento. Do contrário, seremos mais umvez presas fáceis de ídolos seculares.

A convocação nal é que amemos, que Cristo semanifeste em palavras e obras, que corações se convertam. Se não se converterem, que sejam servidos

cuidados e digni cados. E que tais obras sejam comluzeiros em um mundo cínico em relação ao compmisso de cristãos com Cristo e com as pessoas.² KELLER, Timothy. Justiça Generosa: a graça de Deus e a

justiça social. São Paulo: Vida Nova, 2013, p.142.³ Um resumo da repercussão e o debate com links paraacessar a série de texto pode ser lido aqui: http://ultimato.com.br/sites/guilhermedecarvalho/2015/07/19/1041/

4 http://ultimato.com.br/sites/guilhermedecarva-lho/2015/07/16/1026/5 DULCI, Pedro. Ortodoxia Integral: teoria e prática conecta-das na missão cristã. Uberlândia: Sal Editora, 2014.

Igor MiguelCasado com Juliana Miguel e pai de João Miguel.Teólogo, pedagogo e mestre em Letras pela USP. Coor-denador pedagógico da ONG OMCV e pastor na IgrejaEsperança, em Belo Horizonte - MG

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Operação Mobilização Brasil (OM)

Local:São José dos Campos (SP).Campo:Brasil.Projeto/ação: Evangelização por meio do esporte.Público-alvo:Crianças e adolescentes em áreas de risco.Formação:Não é exigida formação especí ca.Idioma:Português.Habilidade:Aptidão para a área esportiva, ser paciente e ternoções de liderança.Tempo de execução:1 ano (mínimo).Contato: [email protected]

Missão para o Interior da África (Miaf)

Local: Uganda.Campo:Karimojong no distrito de Moroto.Projeto/ação: Compor a equipe que trabalha ministrando oEvangelho entre os Karimojong por meio de obras e palavras. trabalho deve ser desenvolvido em diversas áreas, como favelhospitais, faculdades e igrejas.Público-alvo:Crianças, adolescentes, jovens e adultos.Formação: Pedagogia, medicina, agronomia e veterinária.Idioma:Inglês avançado e idioma local que pode ser aprendido no camHabilidade: Aptidão para o desenvolvimento de projetos na áreeducacional, trabalho com crianças e desenvolvimento juvenilmedicina, cultivo agrícola, criação animal, veterinária, treinamto e alfabetização de adultos.Contato: [email protected]

Campos Brancos

WEC Brasil (Missão Amem)

Local: Timor-LesteCampo: Ermera, Bobonaro e Oecussi.Projeto/ação: Plantação de igrejas por meio de evangelismo ediscipulado, utilizando a educação e o ensino de idiomas.Público-alvo:Crianças, jovens, adolescentes e adultos.Formação:Pedagogia ou Letras com ênfase em inglês e portu-guês.Idiomas: TetumHabilidades:Resiliência e flexibilidade.Tempo de execução: 4 anos (mínimo).Contato: admissã[email protected]

Este espaço é destinado às agências missionárias que sãoreferência no desenvolvimento de projetos nacionais e transcul-turais. Nesta seção são publicadas informações relacionadasà abertura de projetos e demandas de campos existentes queprecisam de missionários.

MISSÃO KAIRÓS

Local: EgitoCampo:Periferia do Cairo.Projeto/ação: Desenvolvimento de projetos na área do esporte.Público-alvo:Crianças, adolescentes e jovens.Formação:Educação Física e Técnico em Futebol.Idioma:Inglês.Habilidade:Aptidão para o ensino na área de esportes.Tempo de execução: Indeterminado.Contato: [email protected]

Jovens Com Uma Missão (Jocum - BH)

Local: Brasil.Campo:Comunidades com alto índice de violência e vulnerab

dade social em Belo Horizonte (MG).Projeto/ação: Trabalhar como voluntário na criação de programas confessionais e de desenvolvimento comunitário nas áreade esporte, idiomas, educação e música.Público-alvo:Crianças, jovens e adolescentes.Formação:Pedagogia, Educação Física, Música e áreas de de-senvolvimento escolar.Idioma:Português.Habilidade:Resiliência, pedagogia infantil e per l de liderançaTempo de execução:3 meses (mínimo).Contato: [email protected]

International Nepal Fellowship (INF)Local:Nepal.Campo:Cidades do interior-oeste do país, com incursões porvilarejos diversos (locais de difícil acesso e poucos recursos).Projeto/ação: Realização de mutirões de cirurgia ginecológicaPúblico-alvo:Prioritariamente mulheres vítimas de fístula obstrica e outras demandas na área ginecológica.Formação: Ginecologia e Obstetrícia com experiência em fístobstétrica.Idioma: Inglês, para o trabalho com alguns membros da equipe Nepalês, para se comunicar com os pacientes (o idioma nati

pode ser aprendido na comunidade local).Habilidade:Flexibilidade e capacidade de aprendizagem rápidcapacidade de resolução de problemas, capacidade de trabalhcom poucos recursos e senso de improvisação.Tempo de execução: Indeterminado.Contato: [email protected]

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Com mais de 10 anos de história, o ministério

Nívea Soares tem alcançado pessoas em diversas

nações com uma declaração de amor e exaltação

a Jesus em forma de canções. Sua visão é

anunciar as boas-novas do evangelho de Cristo,

trazendo despertamento à igreja em relação ao

seu lugar em Deus e na sociedade.

Seu chamado é ser facilitador para que mais e

mais pessoas se acheguem ao único Deus e

sejam cheias do Seu Espírito.

Então conheçamos e prossigamos emconhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva,

é certa; e Ele a nós virá como a chuva, comochuva serôdia que rega a terra. Oséias 6:3.

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