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115 - Centro Universitário São Camilo - 2008;2(1):115-119 * Psicóloga. Chefe do Setor de Psicologia do Hospital e Maternidade São Camilo Pompéia. E-mail: [email protected]m ** Administradora Hospitalar. Diretora de Apoio Logístico do Hospital e Maternidade São Camilo Pompéia. E-mail: [email protected]m Ações de humanização frente à morte no ambiente hospitalar Actions of humanization before death in the hospital setting Acciones de humanización delante muerte en el ambiente hospitalario Rita de Cássia Calegari* Abgair Xavier Lima** RESUMO: Este estudo tem como objetivo relatar a experiência da implantação de ações de humanização com foco no óbito do paciente. Trata-se de um relato de experiência da Comissão Permanente de Humanização de um hospital privado de São Paulo, realizado no período de maio de 2005 a setembro de 2006. O fluxo do óbito foi analisado pela comissão, que propôs para a diretoria do hospital ações de melhoria em pontos do fluxo considerados não adequados para o processo. A diretoria aprovou as sugestões e a implantação das seguintes ações decorreu no prazo de 16 meses: mudança do local do necrotério, treinamento dos colaboradores para o acolhimento dos familiares enlutados, implantação da sala da família e desen- volvimento de folder de orientações para familiares. A preocupação com o óbito visa oferecer assistência humanizada ao paciente independentemente de qual fase do ciclo vital ele se encontra. PALAVRAS-CHAVE: Humanização. Morte. Hospital. ABSTRACT: This study aims to give an account of the experience of introducing actions of humanization with a focus in the patients’ death. This is a report of experience of the Permanent Commission of Humanization of a private hospital of Sao Paulo, carried out in the period May 2005 - Sep- tember 2006. The flow of death was analyzed by the Commission, which proposed the hospital board the implementation of actions for improving points of the flow considered not appropriate to the process. The board approved the suggestions and the introduction of the following actions, which were implemented in a 16-month period: change of the location of the mortuary, training collaborators to give humane support to mourning relatives, implementation of a family room and the elaboration of a flyer with instructions for relatives. Caring for the death process is something aiming to implant a humanized presence to patients no matter the phase of the vital cycle they are in. KEYWORDS: Humanization. Death. Hospital. RESUMEN: Este estudio pretende dar razón de la experiencia de introducir acciones de humanización con foco en la muerte de los pacientes. Se trata de un informe de experiencia de la Comisión Permanente de Humanización de un hospital privado de São Paulo, realizado en el período de mayo de 2005 a septiembre de 2006. El flujo de la muerte fue analizado por la Comisión, que propuso al hospital implementar acciones para mejorar puntos del flujo considerado no apropiados al proceso. Los gestores aprobaran las sugestiones y la introducción de las acciones siguientes, que fueron puestas en práctica en un período de 16 meses: cambiar el sitio del mortuorio, formar los colaboradores como para dar apoyo humano a parientes que se afligen, ofrecer un cuarto para la familia y elaborar un librillo con instrucciones para parientes. Cuidar del proceso del morir es algo que pretende implantar una presencia humanizada a pacientes no importa la fase del ciclo vital en el cual ellos estén. PALABRAS LLAVE: Humanización. Muerte. Hospital. RELATO DE EXPERIÊNCIA/ REPORT OF AN EXPERIENCE/ RELATO DE EXPERIMENTO INTRODUçãO “A morte é algo que não pode ser descrito, pensado, nomeado, algo frente ao qual não se encontram palavras. Essa impossibilidade de simbolizá-la, de incluí-la na rede de idéias e pensamentos, a torna terrificante. A própria palavra Morte não dá conta do que ela seja: cada um de nós tentará enganchá-la em outras palavras, que expressa, idéias, fantasias, crenças” (1) . A preocupação com o processo de morrer pode ser compreendida como uma questão universal para o ho- mem, independente de sua condição bio-psico-cultural. O homem é considerado o único ser vivo capaz de com- preender sua própria mortalidade, o que gera na maioria das pessoas sentimentos angustiantes. Na tentativa de con- trolar esses sentimentos, a negação é um recurso de defesa comumente utilizado. “Se o medo da morte estivesse cons- tantemente presente, não se conseguiria realizar nada” (2) .

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    * Psicloga. Chefe do Setor de Psicologia do Hospital e Maternidade So Camilo Pompia. E-mail: [email protected]** Administradora Hospitalar. Diretora de Apoio Logstico do Hospital e Maternidade So Camilo Pompia. E-mail: [email protected]

    aes de humanizao frente morte no ambiente hospitalar

    Actions of humanization before death in the hospital settingAcciones de humanizacin delante muerte en el ambiente hospitalario

    Rita de Cssia Calegari*Abgair Xavier Lima**

    REsumO: Este estudo tem como objetivo relatar a experincia da implantao de aes de humanizao com foco no bito do paciente. Trata-se de um relato de experincia da Comisso Permanente de Humanizao de um hospital privado de So Paulo, realizado no perodo de maio de 2005 a setembro de 2006. O fluxo do bito foi analisado pela comisso, que props para a diretoria do hospital aes de melhoria em pontos do fluxo considerados no adequados para o processo. A diretoria aprovou as sugestes e a implantao das seguintes aes decorreu no prazo de 16 meses: mudana do local do necrotrio, treinamento dos colaboradores para o acolhimento dos familiares enlutados, implantao da sala da famlia e desen-volvimento de folder de orientaes para familiares. A preocupao com o bito visa oferecer assistncia humanizada ao paciente independentemente de qual fase do ciclo vital ele se encontra.

    PaLaVRas-chaVE: Humanizao. Morte. Hospital.

    aBsTRacT: This study aims to give an account of the experience of introducing actions of humanization with a focus in the patients death. This is a report of experience of the Permanent Commission of Humanization of a private hospital of Sao Paulo, carried out in the period May 2005 - Sep-tember 2006. The flow of death was analyzed by the Commission, which proposed the hospital board the implementation of actions for improving points of the flow considered not appropriate to the process. The board approved the suggestions and the introduction of the following actions, which were implemented in a 16-month period: change of the location of the mortuary, training collaborators to give humane support to mourning relatives, implementation of a family room and the elaboration of a flyer with instructions for relatives. Caring for the death process is something aiming to implant a humanized presence to patients no matter the phase of the vital cycle they are in.

    KEywORds: Humanization. Death. Hospital.

    REsumEn: Este estudio pretende dar razn de la experiencia de introducir acciones de humanizacin con foco en la muerte de los pacientes. Se trata de un informe de experiencia de la Comisin Permanente de Humanizacin de un hospital privado de So Paulo, realizado en el perodo de mayo de 2005 a septiembre de 2006. El flujo de la muerte fue analizado por la Comisin, que propuso al hospital implementar acciones para mejorar puntos del flujo considerado no apropiados al proceso. Los gestores aprobaran las sugestiones y la introduccin de las acciones siguientes, que fueron puestas en prctica en un perodo de 16 meses: cambiar el sitio del mortuorio, formar los colaboradores como para dar apoyo humano a parientes que se afligen, ofrecer un cuarto para la familia y elaborar un librillo con instrucciones para parientes. Cuidar del proceso del morir es algo que pretende implantar una presencia humanizada a pacientes no importa la fase del ciclo vital en el cual ellos estn.

    PaLaBRas LLaVE: Humanizacin. Muerte. Hospital.

    rElato dE EXpEriNcia/ rEport of aN EXpEriENcE/ rElato dE EXpEriMENto

    InTROduO

    A morte algo que no pode ser descrito, pensado, nomeado, algo frente ao qual no se encontram palavras. Essa impossibilidade de simboliz-la, de inclu-la na rede de idias e pensamentos, a torna terrificante. A prpria palavra Morte no d conta do que ela seja: cada um de ns tentar enganch-la em outras palavras, que expressa, idias, fantasias, crenas(1).

    A preocupao com o processo de morrer pode ser compreendida como uma questo universal para o ho-mem, independente de sua condio bio-psico-cultural. O homem considerado o nico ser vivo capaz de com-preender sua prpria mortalidade, o que gera na maioria das pessoas sentimentos angustiantes. Na tentativa de con-trolar esses sentimentos, a negao um recurso de defesa comumente utilizado. Se o medo da morte estivesse cons-tantemente presente, no se conseguiria realizar nada(2).

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    No falar e no pensar na morte pode ser um recurso para minimizar o sofrimento. Porm e apesar das aparen-tes tentativas da sociedade em negar o morrer, todos os seres humanos, vivenci-la-o direta e indiretamente. Morrer evoca o desamparo, o inesperado, desafio ao co-nhecido. Morrer estabelece novas direes , o ganho de novos poderes, a perda de outros(3).

    Com o avano das tcnicas da medicina o evento da morte passou a ser direcionado para as instituies hospi-talares, longe do contexto social que ocupou no passado, quando era vivenciada em casa pelos familiares do mori-bundo. Na atualidade, morremos cada vez mais nos hos-pitais, longe da famlia e cercados do aparato tecnolgico que a medicina conquistou.

    A diferena bsica entre as pessoas em geral e os pro-fissionais da rea da sade, mdicos, enfermeiros e psic-logos que na vida destes, a morte faz parte do cotidiano e pode se tornar sua companheira de trabalho diria(4).

    Parte dos profissionais que atuam no hospital, inevita-velmente entraro em contato com a morte dos pacientes incluindo aqueles que no esto relacionados assistn-cia. Trabalhadores das reas administrativas, seguranas, copeiras, auxiliares de higiene, ascensoristas entre outros, tambm tem suas funes relacionadas a alguma fase do fluxo do bito do paciente na instituio hospitalar.

    O contato direto com seres humanos coloca o pro-fissional diante de sua prpria vida, sua prpria sade ou doena, seus prprios conflitos e frustraes. Se ele no toma contato com esses fenmenos, corre o risco de desenvolver mecanismos rgidos de defesa, que po-dem prejudic-lo tanto no mbito profissional como no pessoal(5). Ao desenvolver mecanismos que o protejam emocionalmente da dor e do sofrimento, o profissional tambm se distancia do outro ser humano que est sua frente. Quando esse distanciamento intenso, o profis-sional tende a desumanizao, insensibilidade e apatia. Percebemos esse profissional desumanizado como aquele que j se acostumou tudo.

    Humanizar assegurar e garantir o respeito tica nas relaes interpessoais, alm de outras abrangncias.(6).

    A tica envolve a compreenso entre os seres huma-nos, o respeito e o atendimento atencioso pessoa. O profissional humanizado e tico capaz de realizar suas funes profissionais oferecendo o mximo de dignidade ao seu paciente. Observa-se na prtica, que a dignidade nem sempre estendida ao paciente quando este mor-

    re quando ele deixa de ser um cliente e passa a ser um corpo. Esta seria uma outra forma de negar a inevitabi-lidade da morte? Tratando o ex-paciente como um corpo, estaramos nos distanciando do evento morrer j que no nos identificamos mais com aquele que foi e no mais, uma pessoa?

    O impessoal encobre o que h de caracterstico na certeza da morte, ou seja, o fato de ser possvel a cada momento(7).

    Ao apreender a complexidade da natureza humana naquele que deixou de ser, nos aproximamos da nica certeza que une todos os homens: a nossa finitude. Pro-porcionar a reflexo sobre esse tema entre profissionais da rea da sade pode direcionar as atividades pessoais e profissionais para relaes mais saudveis e humanas, coo-perando com as polticas de humanizao propostas pelo planejamento estratgico das entidades hospitalares.

    Neste contexto este estudo tem como objetivo relatar a experincia da implantao de aes de humanizao com foco no bito do paciente.

    mETOdOLOgIa

    Trata-se de um relato de experincia da implantao de aes de humanizao com foco no bito do paciente num Hospital Geral privado de 220 leitos no Municpio de So Paulo, no perodo de maio de 2005 a setembro de 2006.

    RELaTO dE ExPERIncIa

    Desde 2005, oficializada a Comisso Permanente de Humanizao, (composta de profissionais de diferentes reas: mdicos, enfermeiros, psiclogos, assistente social, administradores, vigilante e auxiliar de atendimento, totali-zando 12 pessoas) buscou-se a discusso entre os membros interdisciplinares da comisso em vrias reas do hospital. Com o consenso do grupo a comisso descreveu o fluxo do bito do paciente, analisou os pontos crticos, mensurou o tempo de espera da famlia pela liberao do fretro e ob-servou o comportamento dos colaboradores na conduo das famlias enlutadas . Foi destacado pelo grupo, as con-dies consideradas desumanas pela qual o familiar do pa-ciente falecido era alvo: ausncia de local apropriado para que os familiares aguardassem o fretro (ficando os mesmos expostos ao olhar curioso das outras pessoas); o local do necrotrio (localizado ao lado do depsito de roupas sujas

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    e resduos hospitalares) e o despreparo dos colaboradores para lidar com esta situao, gerando por vezes situaes embaraosas para o familiar e desgastantes para o colabo-rador. Para cada fragilidade foi proposta para a diretoria do hospital, uma ao de melhoria, incluindo a mudana do local do necrotrio, criao de espao prprio para familia-res enlutados e treinamento para colaboradores.

    Implantao das aesAs aes propostas pela comisso foram aprovadas na

    ntegra pela diretoria do hospital e a implantao decor-reu no prazo de 16 meses.

    Treinamento de Colaboradores: o Departamento de Recursos Humanos e Setor de Psicologia desenvol-veram um treinamento para colaboradores das reas de segurana patrimonial, auxiliares de atendimen-to e recepcionistas. O treinamento com durao de uma hora e trinta minutos composto de dinmica de grupo para sensibilizao sobre o tema da morte; apresentao de trecho dos filmes falando de mor-te com os profissionais da sade e pequena miss sunshine; discusso do tema com troca de relatos pessoais e profissionais; entrega de dicas de manejo da famlia enlutada e texto de reflexo (a estria da borboleta). Foram aplicados questionrios antes do treinamento (para anlise do conhecimento prvio do colaborador sobre o tema) e avaliao de reao ao trmino do treinamento. Na 1 fase (2006) fo-ram treinados 70 colaboradores das reas citadas. Em 2007, novo ciclo de treinamento foi desenvol-vido para os novos admitidos destas mesmas reas, incluindo chefias, ascensoristas, escriturarias, plan-tonistas administrativos e de enfermagem (at a finalizao deste relato foram treinados outros 50 colaboradores). Observou-se que os colaboradores (com rarssimas excees) nunca haviam partici-pado de um treinamento com este enfoque e que acharam oportuno o treinamento incluindo as sugestes de manejo na sua prtica profissional, o que os ajudou a lidar com menor angstia e maior tranqilidade nos casos de bito.

    Sala da Famlia: localizada no piso do 4 andar (mesmo piso das UTIs adulto e infantil) foi im-plantada uma sala para acolher os familiares enluta-dos durante a espera para o fretro ( que pode du-rar em mdia 3 horas conforme apontou o estudo realizado durante 3 meses, dependendo de servios

    independentes do hospital, como o cartrio e ser-vio funerrio contratados pela famlia). A sala ofe-rece espao aconchegante, toillete (com chuveiro), mquina de caf/ch/capuccino, gua, TV e tele-fone. O colaborador de origem do bito oferece e encaminha os familiares para a sala da famlia, onde os mesmos sero localizados no momento de liberao do corpo para o servio funerrio.

    Folder de Orientaes ao Familiar: todas as orien-taes das etapas para o funeral so fornecidas pelo auxiliar de internao. Foi desenvolvido um folder explicativo com essas orientaes para que o fami-liar enlutado as leve consigo por escrito (incluindo telefones: do Servio Social, Internao, Setor de Psicologia e o site da instituio).

    Mudana do local do Necrotrio: antes localizado junto a sada de resduos e roupa suja, foi transferi-do para rea adequada (3 subsolo, estacionamento dos veculos da diretoria). O percurso que ante-riormente lembrava um labirinto de corredores, na nova localizao exige apenas a utilizao do eleva-dor (social) adequado. O espao interno do necro-trio foi ampliado, oferecendo maior comodidade para familiares e profissionais.

    REsuLTadOs

    A implantao de aes de humanizao acompa-nhada pela comisso, que monitora as aes, emitindo um relatrio diretoria do hospital bimestralmente. Os indicadores de satisfao dos servios prestados pelo hospital baseados na percepo dos clientes so uma im-portante fonte de informaes sobre seus anseios e neces-sidades, propiciando aos lderes da instituio o direcio-namento das estratgias comerciais. Existem dificuldades na implantao de indicadores que mensurem a satisfao do cliente em relao humanizao, visto que o concei-to humanizao (experincias em pequena escala, o foco no o lucro e sim s pessoas) pode ser confundido com hospitalidade (experincia repetvel, em larga escala, com foco em processos, sustentabilidade financeira e movido pela demanda) pela populao em geral(8).

    Obter feedback das aes relacionadas ao bito tam-bm so um desafio, visto que nestes casos as famlias tendem a no retornar ao hospital e quando o fazem, es-to afetivamente ligados equipe que assistiu o familiar falecido.

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    Aes de humanizao frente morte no ambiente hospitalar

    Em nossa experincia recebemos alguns elogios (via formulrio do SAC) em relao sala da famlia que reforam nosso ideal de oferecer privacidade e conforto para os familiares enlutados.

    A aprovao das aes implantadas com foco no bito do paciente mais significativa veio dos prprios colabo-radores que justamente conheciam o fluxo antigo e o julgavam inapropriado. Tambm observamos que colabo-radores que participaram do treinamento de acolhimento ao familiar enlutado, desenvolveram um senso crtico em relao postura de outros colegas que no participaram do treinamento.

    cOnsIdERaEs FInaIs

    Muito tem se discutido em relao s polticas de hu-manizao nos hospitais pblicos e privados. Aes volta-das ao acolhimento dos pacientes e suas famlias, a mini-mizao do stress da hospitalizao, ao tratamento cordial e personalizado tem sido implantadas com sucesso.

    Percebemos uma busca por excelncia no atendimen-to aos pacientes, vrias pesquisas so realizadas com foco em satisfaz-los inclusive na tentativa de fideliz-los ao servio. Cada vez mais os hospitais privados se apresen-tam com estrutura similar a um hotel: recepes bem decoradas, pisos nobres, uniforme de colaboradores es-pecialmente desenhado por estilistas, msica ambiente, flores, quadros, servios diferenciados e que buscam mi-mar o cliente.

    A preocupao com os mortos - quando existe, passa longe dos critrios de ateno oferecido aos vivos, denun-ciando que o foco, inclusive de programas de humaniza-o, no est naqueles que morrem ou nos enlutados e sim naqueles que consomem e geram recursos.

    Observamos no desenvolver deste trabalho, que a morte no encerra as relaes entre hospital-paciente- famlia. Desejamos nos relacionar com nosso paciente e sua

    famlia, independentemente da fase do desenvolvimento do ciclo vital que eles se encontram. Enquanto estiver ins-titucionalizado, o paciente deve ser o foco das atenes j que ele a razo da existncia do servio hospitalar.

    No se trata de atender melhor este ou aquele tipo de paciente. Trata-se de atender bem e sempre. Trata-se de acolher a morte no ambiente hospitalar no como uma doena que deva ser curada, mas como uma realidade a ser vivenciada.

    A distino entre os animais e os seres humanos no tratamento dos seus mortos um marco no processo de evoluo ao longo da histria da humanidade. Ao con-trrio dos animais selvagens, nos velamos, enterramos e reverenciamos aqueles que amamos e que nos deixam. So-mos animais temporais e desenrolamos a nossa vida entre passado, presente e futuro.

    Quando nos hospitais no conseguimos algum nvel de ateno com os que partem, estamos negando o passa-do deste paciente, desta famlia e de ns mesmos. Negan-do tudo o que ele representou para seus entes queridos e desvalorizando os afetos que essa pessoa (agora um mor-to) estabeleceu inclusive com a nossa prpria instituio. Quando reverenciamos nossos mortos, estamos valori-zando o que passou, o que foi construdo e vivido.

    No decorrer deste trabalho, os membros da comisso diversas vezes se surpreenderam com a receptividade das pessoas sobre o tema, ou da repulsa dele. Falar da morte no ambiente hospitalar parece uma atitude corajosa, que desperta sentimentos intensamente positivos ou negati-vos. Com este trabalho procurou-se despertar no a in-segurana dos profissionais, mas a compreenso de que hoje o seu papel apoiar a famlia, como de certo, um dia desejam ser apoiados quando for a vez deles em se despedir de algum que amam. o aflorar da empatia a base de qualquer relao humana de se colocar no lugar do outro. E no caso da morte, esse lugar com certeza ser ocupado por todos ns, um dia.

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    REFERncIas

    1. Kovcs MJ. Educao para a morte - temas e reflexes. So Paulo: Casa do Psiclogo, 2003.2. Cassorla MS, Kovacs MJ. Da morte, estudos brasileiros. So Paulo: Papirus, 1991.3. Keleman S. Viver o seu morrer. So Paulo: Summus, 1997.4. Kovacs MJ. Morte e desenvolvimento humano. So Paulo: Casa do Psiclogo, 1992.5. Martins MCFN. Humanizao das relaes assistenciais: a formao do profissional de sade. So Paulo: Casa do Psiclogo, 2001.6. Mezzomo AA et al. Fundamentos da humanizao hospitalar: uma verso multiprofissional. Local: editora, 2003.7. Heidegger M. Ser e tempo, parte II. Rio de janeiro: Vozes, 1993.8. Boeger M. Modelo de gesto para servio de atendimento ao cliente em instituies de sade palestra proferida em 08/10/2007,

    Conselho Regional de Administrao de So Paulo, SP.

    Recebido em: 18 de maro de 2008.Verso atualizada em: 24 de abril de 2008.

    Aprovado em: 17 de maio de 2008.