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171 Caderno Multidisciplinar de Pós-Graduação da UCP, Pitanga, v.1, n.2, p. 171– 189, fev. 2010. O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DEFICIENTE VISUAL E SUAS ADAPTAÇÕES EDUCACIONAIS CAVALCANTI, Rodrigo de Sousa 1 AYRES DA SILVA, Jayme 2 RESUMO Para se trabalhar com crianças deficientes faz-se necessário que os educadores tenham conhecimento sobre a sua deficiência, com esse pensamento é que este trabalho visa algumas informações sobre a deficiência visual, tais como: definição de deficiência visual, causas, o desenvolvimento da criança deficiente visual, adaptações educacionais para deficientes visuais, e os recursos existentes para deficientes visuais. Segundo Barraga a visão residual deve ser usada ao máximo de sua capacidade, ou seja, quanto mais a criança usa sua visão, mais eficientemente será capaz de funcionar visualmente. Para que o deficiente visual se sinta incluído é necessária que seja ofertado para o mesmo uma educação de qualidade com adaptações que garante seu desenvolvimento pessoal e social. De acordo com Fraiberg a aquisição da permanência de objetos se dá de forma diferenciada entre crianças videntes e não videntes, pois nenhum outro sentido tem a mesma capacidade de síntese como à visão. O deficiente necessita que a sua volta tenha um ambiente e um profissional capacitado para prepará-lo para enfrentar e se adaptar no mundo que o cerca. Para Masini a cegueira, ao criar uma formação peculiar de personalidade, reanima novas fontes, muda as direções normais do funcionamento e, refaz e forma o psiquismo da pessoa. Segundo Gregory ver objetos envolve muitas fontes de informação além daquelas que se apresentam ao olho quando olhamos para um objeto. Envolve geralmente o conhecimento do objeto derivado de experiências prévias, e tais experiências não se limitam à visão, mas podem incluir os outros sentidos: tato, olfato, audição. Palavras-chave: Deficiência visual. Criança. Adaptação. Educação e desenvolvimento. 1 INTRODUÇÃO A visão é um meio importante de integração entre o indivíduo e o meio ambiente, já que os conhecimentos, em grande parte são adquiridos por seu intermédio. 1 Professor, graduado em Educação Física e pós graduado em Educação Física Escolar atualmente na rede municipal de ensino. 2 Professor orientador, docente das Faculdades Centro do Paraná – UCP e orientador de metodologia do Instituto RHEMA.

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O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DEFICIENTE VISUAL E SU AS

ADAPTAÇÕES EDUCACIONAIS

CAVALCANTI, Rodrigo de Sousa1

AYRES DA SILVA, Jayme2

RESUMO

Para se trabalhar com crianças deficientes faz-se necessário que os educadores tenham conhecimento sobre a sua deficiência, com esse pensamento é que este trabalho visa algumas informações sobre a deficiência visual, tais como: definição de deficiência visual, causas, o desenvolvimento da criança deficiente visual, adaptações educacionais para deficientes visuais, e os recursos existentes para deficientes visuais. Segundo Barraga a visão residual deve ser usada ao máximo de sua capacidade, ou seja, quanto mais a criança usa sua visão, mais eficientemente será capaz de funcionar visualmente. Para que o deficiente visual se sinta incluído é necessária que seja ofertado para o mesmo uma educação de qualidade com adaptações que garante seu desenvolvimento pessoal e social. De acordo com Fraiberg a aquisição da permanência de objetos se dá de forma diferenciada entre crianças videntes e não videntes, pois nenhum outro sentido tem a mesma capacidade de síntese como à visão. O deficiente necessita que a sua volta tenha um ambiente e um profissional capacitado para prepará-lo para enfrentar e se adaptar no mundo que o cerca. Para Masini a cegueira, ao criar uma formação peculiar de personalidade, reanima novas fontes, muda as direções normais do funcionamento e, refaz e forma o psiquismo da pessoa. Segundo Gregory ver objetos envolve muitas fontes de informação além daquelas que se apresentam ao olho quando olhamos para um objeto. Envolve geralmente o conhecimento do objeto derivado de experiências prévias, e tais experiências não se limitam à visão, mas podem incluir os outros sentidos: tato, olfato, audição.

Palavras-chave: Deficiência visual. Criança. Adaptação. Educação e desenvolvimento.

1 INTRODUÇÃO

A visão é um meio importante de integração entre o indivíduo e o meio ambiente, já

que os conhecimentos, em grande parte são adquiridos por seu intermédio.

1 Professor, graduado em Educação Física e pós graduado em Educação Física Escolar atualmente na rede municipal de ensino. 2 Professor orientador, docente das Faculdades Centro do Paraná – UCP e orientador de metodologia do Instituto RHEMA.

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A redução ou a privação da capacidade de ver traz conseqüências para a vida do

indivíduo tanto no nível pessoal como no funcional, colocando-o, na maioria das vezes, à

margem do processo social.

Estudiosos no assunto consideram que a pessoa que perde a visão é grandemente

influenciada pelas atitudes e reações emocionais dos membros da família. Assim, ela terá de

superar não apenas o sentimento de grande perda que sofreu os seus temores e ansiedade, mas

terá de lutar também com sentimentos e preocupações dos outros membros da família que

estão totalmente ignorantes quanto aos efeitos da deficiência. É uma experiência nova e

assustadora para a pessoa envolvida e para seus familiares que não se sentem capazes de

resolver os problemas especiais que virão em decorrência da deficiência.

Há várias classificações para a deficiência visual, que variam conforme as limitações e

os fins que se destinam. Elas surgem para que as desvantagens decorrentes da visão funcional

de cada indivíduo sejam minimizadas, pois apesar das pessoas com deficiência visual

possuírem em comum o comprometimento do órgão da visão, as alterações estruturais e

anatômicas promovem modificações que resultam em níveis diferenciados nas funções

visuais, que interferem de forma diferenciada no desempenho de cada indivíduo.

Para que possa ocorrer um bom entendimento das classificações da deficiência visual

faz-se necessário o entendimento das funções visuais, ocorrendo uma maior compreensão do

funcionamento visual dos alunos, que abrange a acuidade visual (capacidade de distinguir

detalhes, dada pela relação entre o tamanho do objeto e a distância onde está situado), a

binocularidade (é a capacidade de fusão da imagem proveniente de ambos os olhos em

convergência ideal, o que proporciona a noção de profundidade), o campo visual (é avaliado a

partir da fixação do olhar, quando é determinada a área circundante visível ao mesmo tempo),

a visão de cores (capacidade para distinguir diferentes tons e nuances das cores), a

sensibilidade à luz (capacidade de adaptação frente aos diferentes níveis de luminosidade do

ambiente) e a sensibilidade ao contraste (habilidade para discernir pequenas diferenças na

luminosidade de superfícies adjacentes).

Para um pleno desenvolvimento da pessoa com deficiência visual é necessário que ela

tenha uma adaptação que corresponda satisfatoriamente para seu desenvolvimento respeitando

seus limites, como adaptações adequadas para seu pleno desenvolvimento pessoal e social.

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2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS FUNDAMENTADOS

Para a realização do presente trabalho foi realizado em primeiro momento uma

pesquisa sobre autores que escreve-se sobre deficiência auditiva com opiniões diferenciada,

em segunda etapa foi realizada a construção do presente artigo construindo opiniões sobre a

criança com deficiência visual, pois sabemos que nos dias atuais o profissional de educação

está cada vez mais em contato com criança deficientes.

Temos que conhecer as características da deficiência como educar e trabalhar com a

criança deficiente a quem estamos ensinando.

O papel do professor frente a um aluno deficiente é de suma importância, pois a

maneira como é passado um aprendizado para a criança deficiente influenciará no seu

desenvolvimento futuro e sabemos que a escola contribui para que aconteça uma inclusão.

O método utilizado para a construção do presente artigo foi uma pesquisa bibliográfica

e qualitativa.

A pesquisa bibliográfica é um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados com o tema. O estudo da literatura pertinente pode ajudar a planificação do trabalho, evitar publicações e certos erros, e representa uma fonte indispensável de informações, podendo até orientar as indagações. (Marconi e Lakatos, 2006, p. 160).

Podemos dizer também que é uma pesquisa qualitativa, pois:

A pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e atribuição de significados são básicos no processo qualitativo. (Silva & Menezes, 2000, p. 20).

Esses dois métodos foram importantes na construção do trabalho, pois, a interpretação

dos fenômenos e atribuição de significados são básicos no processo qualitativo. O ambiente

natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. O

processo e seu significado são os focos principais de abordagem.

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3 DEFICIÊNCIA VISUAL

3.1 Definições

O termo deficiência visual refere-se a uma situação irreversível de diminuição da

resposta visual, em virtude de causas congênitas ou hereditárias, mesmo após tratamento

clínico e/ ou cirúrgico e uso de óculos convencionais.

A diminuição da resposta visual pode ser leve, moderada, severa, profunda (que

compõem o grupo de visão subnormal ou baixa visão) e ausência total da resposta visual

(cegueira).

Segundo a OMS (Bangkok, 1992), o indivíduo com baixa visão ou visão subnormal é

aquele que apresenta diminuição das suas respostas visuais, mesmo após tratamento e/ ou

correção óptica convencional, e uma acuidade visual menor que 6/ 18 à percepção de luz, ou

um campo visual menor que 10 graus do seu ponto de fixação, mas que usa ou é

potencialmente capaz de usar a visão para o planejamento e/ ou execução de uma tarefa.

A OMS adota a seguinte classificação da perda da visão:

Escala Optométrica Decimal de Snellen

QUADRO 1 – NOÇÕES DE ACUIDADE VISUAL

GRAU DE PERDA DE VISÃO ACUIDADE VISUAL (com ambos os olhos e melhor correção óptica possível)

Máxima menor que Mínima igual ou maior que

1 visão subnormal

6/18 (metros)

3/10 (0,3)

20/70 (pés)

6/60

1/10 (0,1)

20/200

2 visão subnormal

6/60

1/10 (0,1)

20/200

3/60

1/20 (0,05)

20/400

3 cegueira

3/60

1/20 (0,05)

20/400

1/60 (capacidade de contar dedos a um

metro)

1/50 (0,02)

5/300

4 cegueira

1/60 (capacidade de contar dedos a um

metro)

1/50 (0,02)

5/300

Percepção de luz

5 cegueira Não percebe luz

9- Indeterminada ou não especificada

FONTE: Arquivo Brasileiro de Oftalmologia.

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A escala optométrica decimal de Snellen serve para medir a acuidade visual para

longe, ou seja, a percepção de forma e posição a uma distância de 6 metros; as figuras em

negro, em diferentes posições são alinhadas sobre uma carta branca, diminuindo seu tamanho

de cima para baixo, numa proporção direta de distância e tamanho baseados em uma escala

decimal que varia de 0,1 a 1.

Considerando a amplitude do campo visual, os indivíduos com campo maior do que 5

graus e menor do que 10 graus ao redor do ponto central de fixação devem ser colocados na

categoria 3 e aqueles cujo campo visual não ultrapasse os 5 graus ao redor do ponto central

de fixação na categoria 4, quando não está afetada a agudeza visual central.

Os estudos desenvolvidos por BARRAGA (1997), distinguem 3 tipos de deficiência

visual:

CEGOS: têm somente a percepção da luz ou que não têm nenhuma visão e precisam

aprender através do método Braille e de meios de comunicação que não estejam relacionados

com o uso da visão.

Portadores de VISÃO PARCIAL: têm limitações da visão à distância, mas são capazes

de ver objetos e materiais quando estão a poucos centímetros ou no máximo a meio metro de

distância.

Portadores de visão reduzida: são considerados com visão indivíduos que podem ter

seu problema corrigido por cirurgias ou pela utilização de lentes.

3.2 Causas:

As principais causas da cegueira e das outras deficiências visuais têm se relacionado a

amplas categorias:

Doenças infecciosas;

Acidentes;

Ferimentos;

Envenenamentos;

Tumores;

Doenças gerais e influências pré-natais e hereditariedade.

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3.3 Tipos de cegueira

A cegueira classifica-se dependendo de onde se tenha produzido o dano que impede a

visão. Este pode ser:

Nas estruturas transparentes do olho, como as cataratas e a opacidade da córnea.

Na retina, como a degeneração macular e a retinose pigmentária.

No nervo óptico, como o glaucoma ou os diabetes.

No cérebro.

A cegueira pode ser congênita ou adquirida. O dano que impede a visão pode ser

causado no nascimento, em algum evento ao longo da vida do indivíduo ou ainda no útero

materno.

Causas congênitas:

Albinismo: patologa caracterizada pela deficiência na pigmentação da irís, o que

resulta em grande sensibilidade á luz.

Anirídia : ausência ou má formação da irís, resultando na deficiência visual.

Atrofia óptica: deterioração de parte ou de todas as fibras nervosas do nervo óptico.

Catarata: opacidade do cristalino, causando o embaçamento da visão, pode ser

congênita ou adquirida.

Corriorrentinite Macular: inflamação da coróide e retina, atingindo a mácula,

geralmente causada por toxoplasmose.

Estrabismo: os olhos encontram-se desalinhados impedindo a função da imagem.

Glaucoma: aumento anormal da pressão intra-ocular.

Hipermetropia: erro de refração que dificlta a visualização de objetos próximos.

Miopia: dificuldade para enxergar á distância.

Retinose pigmentar: degeneração e atrofia da retina iniciando na região periférica

conduzindo ao afunilamento gradativo da visão.

Rubéola materna: infecção febril e virótica que pode resultar na deficiência visual, na

perda auditiva e em déficits mentais e neurológicos quando a mãe sofre o contágio no

primeiro trimestre da gestação.

Sífilis: é uma doença infeccosa que pode causar a para lisia no nervo óculomotor.

Toxoplasmose: pode causar inflamação na retina, resultando na deficiência visual.

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Causas adquiridas:

Ambliopia ou olho preguiçoso: baixa acuidade visual em decorrência do estrabismo.

Ansiometropia; é a diferença acentuada de grau entre os olhos.

Astigmatismo: são variações na curvatura dos meridianos da córnea que podem causar

distorção e embaçamento da visão.

Catarata: pode ser corrigida através de cirurgia com implante de uma lente artificial na

parte interna da estrutura capsular do cristalino.

Conjuntivite: inflamação na conjuntiva.

Deslocamento da retina: é a separação entre as diferentes camadas da retina decorrente

de inflamações e infecções.

Diabetes: doença metabólica que pode levar a diversas alterações visuais.

Glaucoma: pode ser congênita ou adquirida.

Presbiopia ou vista cansada: perda da capacidade da acomodação da lente decorrente

do processo de envelhecimento, resultando em limitações visuais.

Retinoblastoma: doença manifestada por presença de tumor maligno na retina de um

dos dois olhos aparece geralmente antes dos cinco anos.

Retinopatia da prematuridade: neurovascularização dos vasos retinianos por excesso

de oxigenação em bebês prematuros mantidos em incubadoras, há formação de uma

membrana pós – cristalina e geralmente provoca deslocamento da retina.

Sarampo: doença aguda virótica, com evolução febril que pode levar a cegueira.

Subluxação do cristalino; deslocamento parcial do cristalino afetando os principais

mecanismos de refração e acomodação podendo causar hipermetropia.

Toxoplasmose: pode ser congênita, através da transmissão da mãe ao feto durante a

gestação ou adquirida, através do contato com fezes de animais contaminados ou da ingestão

de carne crua ou mal cozida infectadas pelo protozoário toxoplasma gondi.

Traumatismos diversos: causadas por acidente de automóvel, de trabalho ou com arma

de fogo, quedas, perfurações, queimaduras, entre outros.

O conhecimento sobre os problemas de visão em crianças mostra claramente a

necessidade de cuidados especiais pelo comprometimento do canal sensorial mais importante

de aquisição de informações. Isto tem conseqüências sobre seu desenvolvimento e a

aprendizagem, tornando-se necessário elaborar sistemas de ensino que transmitam, por vias

alternativas, as informações que não podem ser obtidas por meio da visão.

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3.4 O desenvolvimento da criança e a cegueira

A cegueira pode ter efeitos graves sobre o desenvolvimento da criança. Esses efeitos

podem ser diretos, intrínsecos, produzidos pelo impedimento visual que surge de forma

imediata numa relação causa/efeito, havendo uma característica de impedimento ou

incapacidade, impondo algumas limitações e restrições ao desenvolvimento da pessoa, razão

pela qual deve “receber” estímulos compensatórios.

Os efeitos indiretos da cegueira são determinados pela cultura e pelo ambiente, são

extrínsecos e podem ser minimizada por programas de prevenção, orientação aos pais e

esclarecimentos a comunidade.

Segundo WRIGHT (1990), um efeito sobrepõe-se a outro. Vários estudos comprovam

a dificuldade de definição dos efeitos indiretos, que podem, muitas vezes, causar maior

impacto sobre o desenvolvimento da criança. Os efeitos indiretos são forças ambientais e

sociais que não apenas restringem, mas privam a pessoa da oportunidade de adquirir

experiências por falta de conhecimento sobre a natureza do impedimento visual.

O ambiente familiar e a atitude dos pais afetam bastante o desenvolvimento da criança

(FRAIBERG, 1989).

Os pais sofrem conflitos emocionais devido à cegueira congênita do filho, o que pode

interferir na provisão de um ambiente facilitador. Segundo WARREN (1984) as dificuldades

dos pais, talvez, surjam de suas expectativas de ter um filho “perfeito” e a chegada de uma

criança cega não vai corresponder ao seu ideal de “filho”.

Segundo LOWENFELD (1985), na maioria dos casos, os pais experimentam

sentimentos de culpa, pela cegueira do filho, devido a preconceitos morais e religiosos como

pecado e erro.

A criança cega, muitas vezes, chega à escola sem um “passado” de experiências como

seus companheiros videntes, não apresenta as rotinas da vida cotidiana de acordo com a sua

idade, os seus conceitos básicos como esquema corporal, lateralidade, orientação espacial e

temporal são quase inexistentes e sua mobilidade difícil, o que poderá levar à baixa estima

que dificultará o seu ajustamento à situação escolar, estranha e, muitas vezes, aterrorizadora.

Segundo HUERTAS e corroborado por OCHAITÁ (1982), a cegueira impõe como

resultado direto da perda da visão, cinco limitações referentes à:

Alcance e variedade de experiências

Formação de conceitos

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Orientação e mobilidade

Interação com o ambiente

Acesso a informações impressas importantes como: “Perigo”, “Não Fume”, “Não é

permitida a passagem de pedestres”, placas de orientação.

Tais áreas estão ligadas à deficiência como causa/efeito, com interdependência entre

si, afetam a capacidade de O&M.

Os processos de desenvolvimento da criança cega são semelhantes aos da criança

vidente. Porém, os profissionais que atuam na área da cegueira podem encontrar algumas

dificuldades para proporcionar experiências compensatórias à perda da visão.

Um dado importante no trabalho com as crianças cegas é que muitas das habilidades aprendidas, naturalmente pelas videntes, precisam ser deliberadamente ensinadas para as crianças com cegueira. (FRAIBERG, 1989, p. 31)

Os pais dessas crianças devem ser devidamente orientados para que possam servir de

mediadores na aquisição de algumas habilidades básicas de seus filhos durante a fase pré-

escolar.

No ensino formal e nos programas de O&M o professor, especializado nesta área,

deve dar continuidade a tal processo em sua prática pedagógica em cooperação com os pais.

Segundo FRAIBERG:

O processo de crescimento e desenvolvimento da criança cega é semelhante ao das videntes em virtude do crescimento ser seqüencial, com as mesmas etapas. É diferente porque cada criança se desenvolve de acordo com seu ritmo, potencialidades, acrescentando aí a limitação visual. Apesar disso as semelhanças entre todas as crianças são maiores do que as diferenças. (FRAIBERG, 1989, p. 15.)

Pela visão a criança estabelece suas primeiras relações com o meio, e percebe a forma,

tamanho, distância, posição e localização de objetos.

A visão, chamada também de sentido da distância, é a única percepção capaz de

propiciar contato com o ambiente de forma global.

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Segundo GREGORY (l989: 92), a visão é o único sentido capaz de unificar, estruturar

e organizar todas as outras percepções em um todo significativo.

Conseqüentemente, a criança cega precisa ser ajudada em seu contato e interação com

o mundo.

As crianças com cegueira congênita ou que perderam a visão prematuramente, por volta dos 3 anos, não conservam imagens visuais úteis para a aprendizagem, o que exige um atendimento educacional precoce e reorganização perceptiva, isto é, adquirir pelo tato, audição, olfato, sentido sinestésico e outros, o que não consegue pela visão. (LOWENFELD, 1985, p. 35)

A criança cega se relaciona com o ambiente por outros canais sensoriais, tendo uma

imagem diferente das pessoas videntes ou daquelas que perderam a visão após a formação de

conceitos visuais. É impossível a pessoa vidente imaginar o que seja uma imagem apenas

auditiva, tátil, olfativa de um objeto ou situação (OCHAITÁ, 1992).

O controle físico da criança começa com a sustentação da cabeça e, depois, de todo o

corpo que lhe facilita rolar para os lados. Pela primeira vez, consegue se mover

independentemente. O rolar precede o engatinhar.

Quando os bebês começam a sentar-se, adquiriram força para equilibrar o corpo e,

pela primeira vez, estar com as mãos livres para explorar o mundo em posição ereta.

O engatinhar exige planejamento do movimento e coordenação de braços e pernas. Ao

se movimentar, o universo das crianças se amplia rapidamente. Elas aprendem a se adaptar

através de experiências. Segundo CRATTY (l980), tal aprendizagem envolve mais do que a

simples imitação, porque engatinhar é algo que elas não captam dos adultos.

Quando o bebê começa a engatinhar, decide para onde ir e mantém o destino em

mente enquanto tenta alcançá-lo. O bebê circula pela casa adquirindo habilidade de controlar

o ambiente, não desperdiçando nenhuma oportunidade de exploração. Engatinhar marca um

tipo diferente de conhecimento do mundo, pois introduzido em um ambiente novo, logo

começa a investigá-lo. Ele mapeia a sala onde está aventurando-se a ir até os cantos mais

distantes. Usando uma pessoa (geralmente a mãe) como ponto de referência, o bebê estuda a

posição de objetos, de outras pessoas, muda de direção e reposiciona os objetos vistos. O bebê

aprende a reconhecer o seu lugar no mundo, juntando seus mapas fragmentados.

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A criança tem dificuldade para estabelecer a noção de distância entre si e o objeto, o

que somente se desenvolve com o engatinhar.

O andar representa uma evolução como meio de locomoção. Apesar das quedas, ficar

em pé ajuda a explorar melhor o mundo, pois amplia o campo visual. Andar apoiando-se em

móveis ajuda a exercitar o equilíbrio. O encorajamento dos pais a auxilia trocar os passos

incertos por um andar autônomo.

O bebê necessita de tempo para obter um andar mais competente e maduro. A falta de arco nos pés e o seu andar de pato são obstáculos para um andar eficiente, o senso de equilíbrio deve ser aperfeiçoado para enfrentar subidas e descidas. A experiência de andar estimula a região cerebral que controla a coordenação e o equilíbrio. (CRATTY, l975, p.43.)

Aproximadamente aos 7 meses, após os primeiros passos, ele deve ter boas

habilidades de andar. O calcanhar toca o chão antes do resto dos pés. As articulações se

movem com mais flexibilidade, os arcos dos pés já se desenvolveram e os pés começam a se

“fechar”, aproximando-se paralelamente um do outro. Os passos tornam-se mais longos e tem

início o balanceamento dos braços.

Aos dois anos de idade a criança pode correr, dar passos para o lado, parar e mudar de

direção. O andar amadurece e, embora caminhe com facilidade, existem ainda desafios como

descer uma escada. Ela necessita de mais coordenação e equilíbrio para descer do que para

subir. A criança já apresenta todas as habilidades para andar e o refinamento acontecerá

aproximadamente até os sete anos.

3. 5 Adaptações educacionais para os deficientes visuais.

A educação da criança deficiente visual pode se processar por meio de programas

diferentes, desenvolvidos em classes especiais ou na classe comum, recebendo apoio do

professor especializado;

As crianças necessitam de uma boa educação geral, somada a um tipo de educação

compatível com seus requisitos especiais, fazendo ou não, uso de materiais ou equipamentos

de apoio.

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A educação do deficiente visual necessita de professores especializados nesta área,

métodos e técnicas específicas de trabalho, instalações e equipamentos especiais, bem como

algumas adaptações ou adições curriculares;

A tendência atual da educação especial é manter na escola comum o maior número

possível de crianças com necessidades educativas especiais;

Cabe à sociedade a responsabilidade de prover os auxílios necessários para que a

criança se capacite e possa integrar-se no grupo social.

Princípios da educação do deficiente visual:

Individualização;

Concretização;

Ensino Unificado;

Estímulo Adicional;

Auto-Atividade.

Estimulação dos sentidos:

Estimulação visual;

Estimulação do tato;

Estimulação auditiva;

Estimulação do olfato e do paladar.

Estimulação visual:

Motivar a criança a alcançar, tocar, manipular e reconhecer o objeto;

Ensinar a “olhar” para o rosto de quem fala;

Ajustar uma área onde a criança possa brincar em segurança e onde os objetos

estejam ao alcance dos seus braços;

O educador pode usar fita-cola de diferentes cores para contrastarem com os objetos

da criança, de modo a torná-los mais visíveis.

Estimulação do tato:

Descriminar diferentes texturas;

Experimentar materiais com formas e feitios com contornos nítidos e cores vivas;

Distinguir a temperatura dos líquidos e sólidos;

Mostrar como pode manipular o objeto.

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Estimulação auditiva:

Ouvir barulhos ambientais, gravadores, rádios…

Identificar sons simples;

Distinguir timbres e volumes dos sons;

Discriminar a diferença entre duas frases quase iguais;

Desenvolver a memória auditiva seletiva.

Estimulação do olfato e do paladar:

Provar e cheirar diferentes comidas (salgadas, doces e amargas);

Cheirar vinagre, perfumes, detergentes, sabonetes e outros líquidos com cheiros fortes.

A inclusão do deficiente visual acontece através dos dedos das mãos, ouvidos,

bengala, através dos olhos de um ser humano ou de um cão guiam.

Quando se perde um sentido, passa-se a usar mais os outros e por ser necessário,

aguça-se os que restam. O tato é desenvolvido e uma pessoa coma deficiência visual

reconhece formatos, objetos e tudo mais que possa ser tateado.

Através da audição é possível atravessar uma rua, reconhecer pessoas trabalhar sons e

etc.

Adaptação do Espaço:

Serão necessárias adaptações no espaço se a dificuldade de visão for acrescida de

outras;

Conhecer o ambiente escolar;

Na sala de aula é necessário;

Comunicação Oral;

Condições de iluminação;

Organização do espaço e dos materiais;

Estratégias e recursos.

Braille

Louis Braille devia ter pouco mais de quinze anos quando inventou o seu código de

escrita. O jovem francês, nascido em 1809 próximo de Paris, tinha cegado aos três anos de

idade, após um acidente, mas não desistiu de tentar aprender. Uma bolsa de estudo permitiu-

lhe ingressar, em 1819, no Instituto para Jovens Cegos, em Paris, onde se ensinava a ler

através da impressão de textos em papel muito forte, que permitia dar relevo às letras.

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Em 1829, publicou o primeiro manual onde o novo código que haveria de ficar para

sempre com o seu nome aparecia sistematizado, mas existem alguns documentos que provam

que o jovem Louis já utilizava este alfabeto há pelo menos cinco anos. Nesta sua primeira

versão do alfabeto Braille, o sistema estava praticamente definido - seis pontos em duas filas

verticais de três pontos cada, num total de 63 sinais - mas havia algumas combinações com

traços que desapareceram oito anos depois, quando publicou a segunda versão da obra. Este

alfabeto, de 1837, permaneceu praticamente inalterado até hoje.

Louis Braille morreu em 1852, mas deixou um legado imprescindível para a

população cega mundial. A sua vida e a sua obra podem ainda hoje ser descobertos no museu

francês com o seu nome, onde, entre outros documentos, se encontram alguns dos primeiros

textos escritos no novo alfabeto em sua adolescência.

O Sistema Braille é um sistema de leitura e escrita tátil que consta de seis pontos em

relevo, dispostos em duas colunas de três pontos. Os seis pontos formam o que se

convencionou chamar de "cela Braille". Para facilitar a sua identificação, os pontos são

numerados da seguinte forma:

Em duas colunas;

Do alto para baixo, coluna da esquerda: pontos 1-2-3;

Do alto para baixo, coluna da direita: pontos 4-5-6.

A diferente disposição desses seis pontos permite a formação de 63 combinações ou

símbolos Braille. As dez primeiras letras do alfabeto são formadas pelas diversas

combinações possíveis dos quatro pontos superiores (1-2-4-5); as dez letras seguintes são as

combinações das dez primeiras letras, acrescidas do ponto 3, e formam a 2ª linha de sinais. A

terceira linha é formada pelo acréscimo dos pontos 3 e 6 às combinações da 1ª linha.

Os símbolos da 1ª linha são as dez primeiras letras do alfabeto romano (a-j). Esses

mesmos sinais, na mesma ordem, assumem características de valores numéricos 1-0, quando

precedidas do sinal do número, formado pelos pontos 3-4-5-6.

Vinte e seis sinais são utilizados para o alfabeto, dez para os sinais de pontuação de

uso internacional, correspondendo aos 10 sinais de 1ª linha, localizados na parte inferior da

cela Braille: pontos 2-3-5-6. Os vinte e seis sinais restantes são destinados às necessidades

especiais de cada língua (letras acentuadas, por exemplo) e para abreviaturas.

O sistema Braille é empregado por extenso, isto é, escrevendo-se a palavra, letra por

letra, ou de forma abreviada, adotando-se códigos especiais de abreviaturas para cada língua

ou grupo lingüístico. O Braille por extenso é denominado grau 1. O grau 2 é a forma

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abreviada, empregada para representar as conjunções, preposições, pronomes, prefixos,

sufixos, grupos de letras que são comumente encontradas nas palavras de uso corrente. A

principal razão de seu emprego é reduzir o volume dos livros em Braille e permitir o maior

rendimento na leitura e na escrita. Uma série de abreviaturas mais complexas forma o grau 3,

que necessita de um conhecimento profundo da língua, uma boa memória e uma sensibilidade

tátil muito desenvolvida por parte do leitor cego. O tato é também um fator decisivo na

capacidade de utilização do Braille.

O Sistema Braille é de extraordinária universalidade: pode exprimir as diferentes

línguas e escritas da Europa, Ásia e da África. Sua principal vantagem, todavia, reside no fato

das pessoas cegas poderem facilmente escrever por esse sistema, com o auxílio da reglete e do

punção. Permite uma forma de escrita eminentemente prática. A pessoa cega pode satisfazer o

seu desejo de comunicação. Exceto pela fadiga, a escrita Braille pode tornar-se tão automática

para o cego quanto à escrita com lápis para a pessoa de visão normal.

A maioria dos leitores cegos lê de início, com a ponta do dedo indicador de uma das

mãos, esquerda ou direita. Um número determinado de pessoas, entretanto, que não são

ambidestras em outras áreas, podem ler o Braille com as duas mãos. Algumas pessoas, ainda,

utilizam o dedo médio ou anular, ao invés do indicador. Os leitores mais experientes

comumente utilizam o dedo indicador da mão direita, com uma leve pressão sobre os pontos

em relevo, permitindo-lhes uma ótima percepção, identificação e discriminação dos símbolos

Braille.

Este fato acontece somente através da estimulação consecutiva dos dedos pelos pontos

em relevo. Essas estimulações ocorrem muito quando se movimenta a mão (ou mãos) sobre

cada linha escrita num movimento da esquerda para a direita. Alguns leitores são capazes de

ler 125 palavras por minuto com uma só mão. Alguns outros, que lêem com as duas mãos,

conseguem dobrar a sua velocidade de leitura, atingindo 250 palavras por minuto. Em geral a

média atingida pela maioria dos leitores é de 104 palavras por minuto. É a simplicidade do

Braille que permite essa velocidade de leitura. Os pontos em relevo permitem a compreensão

instantânea das letras como um todo, uma função indispensável ao processo de leitura (leitura

sintética).

Há mais de 150 anos que o "Braille" é o meio usado por excelência pelos cegos para a

leitura e escrita. "Ler com os dedos" tornou-se tão vulgar para os cegos que, hoje em dia, não

se pode pensar em qualquer programa de reabilitação que não passe pela aprendizagem do

Braille.

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Para muitos cegos nada substitui o prazer de ler um livro, de tocar os pontos com os

dedos ou sentir a textura do papel.

Ler em braile é muito fácil. Basta que se conheçam os símbolos e pode-se ler

normalmente, seja com o tato ou com a visão. Os caracteres são lidos da esquerda para a

direita e até sinais de pontuação são representados através dos pontinhos em alto relevo.

Para escrever é necessário um pouco mais de técnica. São utilizados dois instrumentos

chamados reglete e o punção. A reglete é uma placa de metal com orifícios em uma de suas

faces. O papel, um pouco mais grosso que o comum, é colocado em cima dessa placa e

pressionado com o punção, um instrumento semelhante a uma agulha, mas com a extremidade

arredondada, para que, ao pressionar o papel contra os orifícios da reglete, este não seja

perfurado, e sim apenas marcado. O papel é marcado da direita para a esquerda, no sentido

contrário ao da escrita. Ao terminar o papel é virado e pode-se ler normalmente.

O Braille é um direito aos deficientes visuais, previsto em leis federais.

Além do Braille existem vários recursos para pessoas com deficiência visual como:

O Sarobã é um aparelho de calculo usado já há muito anos no Japão pelas escolas,

casas comerciais e engenheiros, como máquina de calcular de grande rapidez de maneira

simples. Na escrita de números reside a principal vantagem, que recomenda o sistema sorobã

como método ideal de calculo para pessoa com deficiência visual.

A bengala é um meio de locomoção que dá as pessoas com deficiência visual a

liberdade, a dependência e a autonomia para a vida em sociedade. Nela é depositada toda a

esperança e expectativa de mobilização livre por todos os lugares que a pessoa precise ir.

Cães guias treinados para guiar pessoas com deficiência visual. A escolha do cão deve

ser feita por um profissional habilitado o qual deverá fazer a seleção do animal na ninhada,

levando em consideração, os diferentes temperamentos e assim selecionar somente aqueles

que apresentarem independência, serenidade equilíbrio e pro atividade. Entre outros recursos

existentes para deficiente visual.

4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A visão não é nada mais do que a percepção de fenômenos ópticos e para que tenha

um bom aproveitamento, é necessário que as partes componentes do olho estejam

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funcionando. Quando este possui uma parte deficiente a percepção desses fenômenos é parcial

ou até nula.

Não se pode esquecer que a visão é um sentido unificador, que integra as informações

parciais ou fragmentadas transmitidas através dos outros sentidos. Pode-se tentar compensar a

sua falta, mas não se consegue substituí-la.

Partimos do principio que o desejo de ensinar e de aprender, a postura de observação e

indagação e investigação constante bem como a valorização e a aceitação das diferentes são

fatores importantes que repercutem positivamente na elaboração do conhecimento e

internalização do mundo exterior

Acreditamos que as expectativas e os investimentos dos educadores devem ser os

mesmos em relação a todos os educandos. Os alunos cegos e com baixa visão têm as mesmas

potencialidades que os outros, pois a deficiência visual não limita a capacidade de aprender.

As estratégias de aprendizagem, os procedimentos, os meios de acesso ao

conhecimento e a informação, bem como os instrumentos de avaliação, devem ser adequados

as condições visuais destes educandos.

Proporcionar ao deficiente visual a segurança e a capacidade de ser sujeito de sua

própria história. Assim, é estimulado a valorizar e explorar sua criatividade e potencialidades

através de atividades educacionais, profissionais, esportivas, culturais e de lazer. Com isso

valoriza sua autonomia tanto na vida familiar como na convivência diária na sociedade. Ainda

há um longo caminho a percorrer, más sabemos que podemos integrar a pessoa com

deficiência visual na sociedade. Centrar o enfoque no homem é o caminho mais curto para

reverter à realidade da discriminação. No entanto isto depende da solidariedade de todos nós.

Este é o nosso maior desafio porque a fraternidade é o maior investimento do homem. Porém

sabemos que uma longa caminhada começa sempre com o primeiro passo.

O Brasil possui uma das maiores populações de pessoas com deficiência no mundo, e

ma das menores taxas de participação no mercado de trabalho. Cabe a cada um de nós

contribuirmos para a inclusão dos deficientes na sociedade onde vivem visando o

desenvolvimento local e global contribuindo assim na construção de um mundo mais justo,

acessível e humano para todos.

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ABSTRACT

To work with disabled children it is necessary that educators have knowledge about his disability, with this thinking is that this work seeks some information about visual impairment, such as the definition of visual impairment, causes the development of a disabled child visual, educational adaptations for the visually impaired, and existing resources for the visually impaired. Second dam residual vision should be used to maximum capacity, is the more a child uses his vision, the more efficiently will be able to function visually. For the visually impaired to feel included is required to be offered for the same quality education with adaptations that ensures your personal and social development. According Fraiberg´s acquisition of object permanence is done differently between sighted and non sighted children, for no other sense has the same capacity as the synthetic vision. The disabled person needs that your back has an environment and a skilled professional to prepare you to cope and adapt in the world around him. Masini to blindness, to create a peculiar formation of personality, rekindles new sources, changes directions and normal operation, redo and shape the psyche of the person. According to Gregory see objects involves many sources of information than what is presented to the eye when looking at an object. It usually involves the knowledge of the object derived from previous experiences and these experiences are not limited to vision, but can include other senses: touch, smell, and hearing.

Keywords: Visually impaired. Children. Adjustment. Education and development.

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