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  • TERRA PARA QUE TE QUERO: FORTALECENDO UMA EXPERINCIA COM AGRICULTURA ORGNICA A PARTIR DOS CAMPONESES ASSENTADOS DA

    APASA- PB

    Maria de Ftima Ferreira Rodrigues1 Cludia Simoni Velozo da Silva2

    Luiz Pereira de Sena3 RESUMO

    O presente trabalho refere-se s experincias resultantes do projeto Terra Para Que te Quero, desenvolvido pelo Laboratrio e Oficina de Geografia da Paraba LOGEPA/UFPB com o apoio do CNPq/CT-Agro, da Comisso Pastoral da Terra e da Critas Nordeste. O projeto objetivou fortalecer a experincia da agricultura orgnica e ampliar a comercializao dos produtos que vm sendo cultivados no Assentamento Apasa, localizado no municpio de Pitimbu, tendo como princpio norteador a sustentabilidade scioambiental, nas bases da agroecologia. A utilizao de tcnicas agroecolgicas tem se firmado como uma alternativa capaz de desenvolver sistemas agrcolas sustentveis e proporcionar o desenvolvimento local de comunidades rurais. Os resultados obtidos tiveram cunho prtico e acadmico No campo prtico foram ministrados trs cursos. No campo acadmico foram apresentadas duas monografias de graduao.

    Palavras-Chave: Agroecologia, Assentamento rural, Campons

    INTRODUO

    O Assentamento Apasa tem uma histria semelhante maioria das reas reformadas existentes no Brasil; constituda por trabalhadores que ficaram anos em processo de luta em prol da Reforma Agrria. O incio da luta por essa terra data da dcada de 1980, quando arrendatrios e famlias sem-terras vindos de diversas partes, apoiados pela CPT-PB, ocuparam a fazenda Alhandra, a qual era dividida em quatro fazendas: Alhandra I, II, III e IV, pertencentes s empresas AGROTEC, PRESTEC E Apasa, de propriedade de Mcio Bezerra de Melo Filho (Apasa) e Eduardo Lacene Bandeira de Melo (PRESTEC), ambos herdeiros da famlia Lundgren, segundo a procuradoria do INCRA/PB. A fazenda Alhandra era distribuda espacialmente entre os municpios de Alhandra e Pitimbu, ocupando uma rea de 1.994,3ha. O conflito teve incio em 1986 quando um rendeiro resolveu levantar um barraco de taipa com cobertura de telha na sua gleba, sem o consentimento do dono das terras, seguido posteriormente por outros. D-se, ento, incio a um litgio na rea, denunciado poca ao Ministrio Extraordinrio para o Desenvolvimento e Reforma Agrria - MIRAD, pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alhandra. No perodo de ocupao da fazenda, as famlias foram coagidas pela fora policial e pelos capangas contratados pelos proprietrios da fazenda. No entanto, houve uma resistncia por parte das famlias, que permaneceram na terra at a sua desapropriao. Passados nove anos de luta pela terra, a desapropriao foi obtida pela portaria n 026 em 24 de janeiro de 1995 sendo que, em 31 de julho de 1995, o INCRA-PB homologou as

    1 Profa Adjunta do Depto de Geocincias da UFPB e do Programa de Ps-Graduao em Geografia.

    2 Mestranda PPGG/UFPB - Joo Pessoa/PB.

    3 Tcnico Agrcola CTPT/PB Joo Pessoa/PB.

  • terras, dando origem a dois Assentamentos: o Projeto de Assentamento (P.A.) Apasa, com 1.130,8ha e o Assentamento P.A. Nova Vida, com 894,0ha. Aps a desapropriao, o INCRA/PB demarcou a rea em todo o seu permetro, dividiu as parcelas, construiu 150 casas no sistema agrovila e instalou a rede eltrica que abastece a agrovila. Em 1999 foi construdo um poo com 206m e uma caixa de gua com capacidade para armazenar 50m de gua que abastece a agrovila. Ambos foram construdos atravs de um convnio entre o INCRA e o 1 Batalho de Engenharia de Construo - Batalho Serid, do Exrcito Brasileiro localizado em Caic/RN. A estratgia de resistncia adotada por alguns camponeses do referido Assentamento compreende: a produo orgnica, o respeito aos princpios da agroecologia e a comercializao direta da produo ao consumidor, em uma feira agroecolgica localizada no bairro do Bessa. A utilizao de tcnicas agroecolgicas tem se firmado como uma alternativa capaz de desenvolver sistemas agrcolas sustentveis e proporcionar o desenvolvimento local de comunidades rurais. A Feira Agroecolgica representa essa postura, que objetiva alm da conservao dos recursos naturais, incentivado pela produo de alimentos orgnicos e a adeso a agroecologia, a melhoria na qualidade de vida. Organizada pela Critas Arquidiocesana da Paraba, pela Comisso Pastoral da Terra (CPT) e pelo Deputado Estadual Frei Anastcio, a feira recebe assistncia tcnica dos tcnicos agrcolas Flvio Jnior Brito e Luiz Pereira de Sena, sob a coordenao atual de Luiz Joo da Silva. Para se inserir nesse novo projeto os camponeses que comercializam os produtos agroecolgicos na feira do Bessa, perceberam que a soluo era buscar iniciativas de interao e cooperao em conjunto com diferentes instituies, dentre elas, rgos governamentais, no governamentais e outras possveis combinaes, de forma a promover a melhoria de produtividade e de qualificao dos produtos cultivados e comercializados. Com aes no sentido de gerar conhecimentos, valores e experincias durveis capazes de criar um ambiente favorvel ao desenvolvimento local sustentvel. Quanto organizao, a feira possui um regimento interno institudo em 12 de novembro de 2001, que propugna uma estruturao sistemtica organizacional, estabelecendo uma Comisso de tica e uma Assemblia Geral, dispostas no Estatuto EcoSul. A feira acontece semanalmente, aos sbados, na cidade de Joo Pessoa, no bairro do Bessa. Possui uma infra-estrutura que conta com barracas padronizadas e uniformes. O transporte das mercadorias feito por um caminho F-4000 alugado. As feiras agroecolgicas surgiram como alternativa de resistncia s imposies do modo de produo capitalista de maior produtividade da agricultura, com o cultivo intensivo do solo, monocultura, irrigao por inundao, aplicao de fertilizantes inorgnicos, controle qumico de pragas e manipulao gentica de plantas cultivadas. As conseqncias desse modo de produo so por demais conhecidas: degradao ambiental com eroso dos solos, destruio de paisagens, diminuio e poluio das reservas de gua e assoreamento dos rios, etc. Pela tica social, a industrializao da agricultura desestrutura a diversidade dos sistemas de produo, pois elimina a biodiversidade agrcola; concentra terra; provoca o xodo rural dos que j habitavam historicamente esses territrios, especialmente os camponeses. Na contracorrente desse modelo, existe um campo de foras que inclui movimentos sociais, que tem a finalidade de elevar a agricultura familiar, inspirada nas experincias de aes produtivas, valorizando a funo ecolgica dos servios prestados ao conjunto da sociedade, do ponto de vista ambiental e sociocultural. Um movimento em prol da vida, que defende uma agricultura local sustentvel e os princpios da agroecologia, utilizando-se de prticas agrcolas familiares voltadas para a seguridade alimentar. Ademais se deve

  • considerar tambm, que os agricultores agroecolgicos oferecem sociedade uma produo diferenciada, que conjuga a responsabilidade social com a vida do planeta e das pessoas que aqui habitam. No entanto tais aes, s se sustentam se realizadas e mantidas pelas comunidades conscientes dos benefcios da agroecologia. Nesse sentido se insere a extenso rural, que ao focar e incentivar a produo agroecolgica adquire a expresso de uma extenso ambiental, voltada para a segurana alimentar, tendo como resultado indireto, a melhoria da qualidade de seus produtores e consumidores. Foi com base nesses princpios que foram ministradas as capacitaes acima mencionadas enquanto parte integrante do projeto Terra para que te quero.

    OBJETIVOS

    OBJETIVO GERAL

    - Fortalecer a experincia da agricultura orgnica e ampliar a comercializao dos produtos que vm sendo cultivados no Assentamento Apasa, tendo como princpio a sustentabilidade scioambiental.

    OBJETIVOS ESPECFICOS

    - Ampliar as aes que vm sendo desenvolvidas para fortalecer a produo orgnica, por 20 famlias, para o conjunto dos assentados do Apasa. - Inserir novas experincias de manejo do solo a partir da aplicao de adubos e defensivos naturais alternativos, necessrio ao combate s pragas e doenas. - Promover intercmbios entre os assentados que produzem agricultura orgnica no Estado da Paraba, especialmente entre os que participam das feiras agroecolgicas objetivando alcanar a certificao dos seus produtos. - Implantar cintures de proteo natural nas reas de cultivo vulnerveis do Assentamento Apasa, - Ampliar a produo de composto orgnico para a adubao do solo, a partir da produo coletiva. - Promover o melhoramento das espcies nativas a partir da criao de um banco de sementes. - Criar mecanismos para divulgao das aes que vm sendo desenvolvidas no Assentamento Apasa no mbito da agricultura orgnica. - Dar continuidade s articulaes objetivando a criao de uma associao de carter agroecolgico que congregue o conjunto dos assentados que participam da feira. - Realizar seminrios, oficinas e aulas de campo visando melhoria dos conhecimentos concernentes ao manejo e uso dos recursos naturais. - Promover cursos de capacitao visando melhoria dos mecanismos de comercializao assim como, a agregao de valor e agroindustrializao. - Aumentar a produtividade e melhorar a qualidade dos produtos comercializados na feira agroecolgica; - Melhorar a organizao da produo e comercializao dos produtos oferecidos na feira agroecolgica;

    METODOLOGIA

  • A metodologia adotada em todas as etapas de realizao dos trabalhos de campo, enquanto princpio fundamental das atividades extensionistas, teve como base a troca de saberes entre camponeses, tcnicos, estudantes e professores, atravs da realizao de mini-cursos, da elaborao de boletins informativos, da sistematizao das informaes, dentre outras atividades. Na primeira etapa, daremos nfase a um breve relato dos cursos ministrados pelos professores capacitadores.

    O curso de capacitao de processamento e embalagem de produtos agroecolgicos

    Este curso foi proposto e pensado visando o aproveitamento do excedente de frutas e verduras, com o intuito de oferecer um produto diferenciado e de maior valor agregado, contribuindo dessa forma, para a melhoria da renda dos camponeses que comercializam na Feira do Bessa. Alm disso, propiciou estratgias que minimizassem as perdas de vegetais e frutas durante os perodos de safra. Desde o primeiro contato, quando ocorreu uma aula prtica para a compra do material a ser utilizado durante o curso, os participantes surpreenderam a equipe tcnica, devido empolgao com os contedos sugeridos assim como pela presena de jovens e de adultos. As aulas transcorreram em um clima de camaradagem com trocas de experincias, como uma marca entre alunos e corpo tcnico. Os camponeses mostraram o amor a terra, o orgulho de terem lutado para hoje estarem ali, revelados atravs do brilho nos olhos ao falarem sobre sua terra e sobre o orgulho de verem seus filhos crescendo e aprendendo a cuidar da terra que deles. Mostraram tambm muita dedicao em aprender, se empenhando nas aulas, sempre trazendo dvidas e sugerindo receitas.

    Foi muito interessante o contato com esse grupo, pois nos sentimos muito bem recebidos por eles, ramos tratados no como professores, mas como amigos. No ltimo dia de aula recebemos uma homenagem carinhosa onde os alunos falaram sobre como haviam recebido as aulas e entregaram uma carta, na qual diziam que ramos amigos e seramos sempre recebidos como tal. O mais interessante que a carta no possua data para, como explicou uma jovem, no virar passado. Durante a realizao desse curso deslocamos os 16 participantes do assentamento Apasa at a cidade de Joo Pessoa para que eles conhecessem os locais onde so comercializados as embalagens e os materiais necessrios para dar incio ao mesmo. O projeto doou todo o material obtido para a associao com o intuito de que ao trmino do curso seus participantes pudessem dar continuidade ao aprendizado adquirido e comercializar os produtos fabricados na feira agroecolgica do Bessa, dentre outros espaos de comercializao possveis. O curso objetivou fornecer aos alunos noes bsicas de higiene para manipulao segura de alimentos; conceitos importantes sobre microrganismos e legislao de alimentos; apresentao de receitas para o fabrico de doces e conservas; processamento e embalagem dos vegetais agroecolgicos produzidos no assentamento, visando agregao de valor aos produtos, aumentando seu valor de venda e, assim, melhorando a renda do agricultor assentado.

  • Para alcanar o objetivo do curso utilizamos como ferramentas de aprendizado textos didticos, pensados numa linguagem compatvel com o nvel de escolaridade do grupo. (Relato de experincia registrado por Fabola Caciatore, ministrante do curso de capacitao de processamento e embalagem de produtos agroecolgicos).

    Atravs desse relato registramos alguns ensinamentos sobre o processamento e embalagem de alimentos, mostrando-se uma alternativa vivel para melhorar o desempenho da Feira Agroecolgica do Bessa. Esse curso, de carter essencialmente prtico, contou com uma aula terica sobre noes bsicas de higiene, legislao, manipulao e segurana de alimentos. O curso foi marcado por um espao sempre aberto a colaboraes, troca de informaes e idias entre os instrutores e alunos.

    Curso: Administrao Rural - Gesto de Custos de Produo e Tcnicas de Vendas.

    O objetivo desse curso, que se deu articulado com o curso anterior, foi apresentar de forma simples, conceitos de administrao da produo rural, elementos de composio e ferramentas para elaborao dos custos de produo das diversas atividades existentes no assentamento. Partimos do princpio que a partir desses conhecimentos, a unidade familiar produtiva poder trabalhar no controle e avaliao da viabilidade financeira do seu potencial econmico, bem como administrar melhor a venda da sua produo. Teve tambm, como suporte, textos didticos produzidos a partir da realidade do grupo e abordando os temas relacionados aos mesmos. Marcaram as atividades de sala de aula as dinmicas de grupo e jogos ldicos com o objetivo de fortalecer estratgias e desenvolver o trabalho em equipe, melhorar a comunicao e desenvolver a habilidade de planejar. Os participantes tambm tiveram a oportunidade de promover discusses sobre os temas tratados e trocar experincias entre si de modo cooperativo e participativo.

    Curso: Capacitao de Prticas Conservacionistas na Agricultura Tradicional

    O objetivo do curso foi utilizar o ciclo de aprendizagem com os camponeses, atravs de oficinas e aulas tericas com o uso da metodologia PAM (Processo de Aprendizagem Mtua), abordando a importncia da Conservao do Meio Ambiente, utilizao de tcnicas sustentveis e o papel dos camponeses como agentes multiplicadores. Na realizao da atividade prtica de suporte ao curso foram adquiridos 30 Kg de minhoca do tipo Californiana e estas foram distribudas em 6 minhocrios construdos no assentamento Apasa-PB. Para construo dos minhocrios foram necessrios 300 tijolos, 02 sacos de cimento, e telhas para a construo dos mesmos. Alm disso, o curso propiciou aos seus participantes uma visita tcnica, a uma empresa situada no municpio de Rio Tinto/PB que produz adubo a partir da criao de minhocas, com a finalidade de proporcionar aos participantes do referido curso um contanto direto com as tcnicas da minhocultura e aquisio de saberes necessrios ao manejo dos minhocrios a serem instalados. O curso teve a participao de 19 camponeses, cada um recebeu material didtico versando sobre as tcnicas da minhocultura e participou das aulas prticas. Foram praticadas algumas tcnicas visando melhorar a produo, a exemplo da produo de compostos orgnicos; tcnicas para a implantao de cintures de proteo natural que

  • consistem na utilizao da vegetao nativa como cercas vivas evitando a invaso de pragas (insetos) na plantao. J no que concerne ao propsito de ampliao da produo, foi proposto, com base nos depoimentos da assessoria tcnica da CPT, o aumento da utilizao do adubo (esterco animal) ou composto orgnico a partir da concentrao do gado em um curral em rea coletiva, facilitando a coleta e manuseio deste adubo natural. Considerando que a feira agroecolgica vem alcanando um sucesso relativo devido produo de alimentos ecologicamente saudveis e preos competitivos, inclumos no projeto a implementao de mecanismos de divulgao dirigidos aos consumidores e aos prprios assentados da regio. Para esta divulgao foram elaborados boletins contendo: relato histrico e imagens da experincia da Feira Agroecolgica; descrio das tcnicas alternativas de cultivo; exposio dos dados relativos aos valores da produo; estratgias de comercializao e anlise dos impactos sociais a partir da viso dos produtores e dos consumidores. Na segunda etapa, a metodologia utilizada refere-se aos levantamentos bibliogrficos e cartogrficos. Visando avaliar os benefcios advindos da implementao do projeto no assentamento, produzimos instrumentos de coleta que proporcionaram levantamento e organizao dos dados a partir de leitura de relatrios e documentos oficiais do PRONAF. Tambm realizamos trabalhos de campo onde realizamos entrevistas com os assentados e lideranas locais De acordo com o cronograma da pesquisa e o plano de trabalho, adotamos uma srie de procedimentos metodolgicos para a concretizao desse trabalho, conforme detalhamento a seguir. Leituras e fichamentos: Buscando entender a natureza do Estado brasileiro, as intervenes das polticas desse Estado na questo agrria, o trabalho familiar, o campesinato e suas vrias definies, realizamos uma srie de leituras e discusses indicadas na bibliografia.

    Pesquisa Bibliogrfica e Documental

    Nesta etapa da pesquisa, fizemos um levantamento bibliogrfico de livros, monografias e dissertaes que abordassem temticas que ajudassem a melhorar nosso conhecimento, bem como, uma pesquisa em sites para posterior aquisio e construo da biblioteca na associao do assentamento Apasa-PB. Na terceira e ltima etapa, relativa ao procedimento metodolgico, tratamos do processo de construo dos mapas temticos do assentamento Apasa, a construo do banco de dados em ambiente SIG (Sistema de Informao Geogrfica), compondo as monografias de concluso de curso, bem como dados da Feira Agroecolgica sistematizados pela bolsista do projeto. Essa etapa explica minuciosamente os procedimentos tcnicos adotados e todo instrumental utilizado, a fim de que estudiosos interessados em desenvolver pesquisas anlogas e/ou complementares a esta, possam utilizar seus dados de forma conseqente. Nessa fase, o primeiro passo foi a converso de todo material que estivesse em formato analgico, ou seja, em papel, para formato digital. Para isso, o material cartogrfico foi submetido a um equipamento scanner para digitalizao e posterior vetorizao. Desse processo resultaram quatro (04) arquivos digitais com extenso TIFF. Para o cobrimento total da rea em apreo, foi necessrio utilizar 04 cartas topogrficas em escala 1:10.000, as quais, depois de digitalizadas, foram inseridas em um software de desenho auxiliado por computador Computer Aided Desin (CAD), especfico para trabalho com mapas. Nessa escala, as curvas de nvel apresentam-se com uma eqidistncia de 5 metros. Essa eqidistncia entendida como a diferena

  • altimtrica entre duas curvas de nvel, sucessivas na carta topogrfica, fato que possibilita a execuo de estudos em escala de detalhe. No sistema CAD, as informaes foram georeferenciadas e, ao final dessa operao, obteve-se um mosaico das quatro (04) cartas topogrficas. As informaes bsicas contidas nas cartas topogrficas e utilizadas neste trabalho foram altimetria, rede hidrogrfica e localidades. A partir da vetorizao dessas informaes, foi construdo o mapa base para os estudos desenvolvidos. A vetorizao dos dados pode ser realizada por trs mtodos: automtico, semi-automtico ou manual. Para esse estudo, adotamos o mtodo manual, que consiste em partindo-se de uma imagem inserida no sistema, no caso as cartas topogrficas digitalizadas desenhar linhas recobrindo as informaes que interessam pesquisa. Cada tipo de dado desenhado em camadas diferentes e associadas a um tema relativo informao vetorizada. Portanto, para a rede de drenagem, criou-se o tema hidrografia e, assim, sucessivamente. Elaborado o mapa base, o mesmo foi exportado no formato de arquivo digital Drawing Exchange Format (DXF), pois possibilita sua insero no SPRING para que, nesse software, fossem realizados os demais tratamentos nos dados. No SPRING criou-se um banco de dados para armazenar todas as informaes a serem trabalhadas: dados alfanumricos e cartogrficos. Esse software possibilitou a elaborao dos mapas clinogrfico e hipsomtrico. Para a confeco do mapa clinogrfico ou de declividades, foram utilizadas as curvas de nvel, os pontos cotados e as redes de drenagens do mapa base, gerado atravs das ferramentas existentes no SIG adotado (SPRING).

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Os resultados obtidos no projeto tiveram como um todo base e fundamento a troca de saberes entre o corpo tcnico formado por professores estudantes e tcnicos em agropecuria e os camponeses. Um dos melhores resultados verificados no curso de Capacitao de Prticas Conservacionistas na Agricultura Tradicional foi o incremento do adubo orgnico atravs da produo de hortalias e frutas, tendo como base principal a produo de hmus de minhoca, feita por meio da construo dos seis minhocrios de quintal, cada um produzindo em torno de 140 Kg de hmus em ciclos de quarenta dias, se tornando vivel at mesmo a comercializao do excedente de hmus na feirinha do Bessa. A produo de doces e gelias com prticas agroecolgicas resultou na criao de um grupo de doceiras, que participaram do curso de capacitao de processamento e embalagem de produtos agroecolgicos, e produzem doces e gelias aproveitando as safras de frutas existentes no prprio assentamento, tentando ao mximo diminuir os custos, como foi apreendido no curso de Administrao Rural - Gesto de Custos de Produo e Tcnicas de Vendas. Alm de diminuir os custos, a comercializao direta aos consumidores da feira cria uma relao de parceria e confiana, onde as ferramentas de interlocuo so a marca maior. Os boletins Ecos Sade constituram ferramentas fundamentais divulgao das atividades comerciais, culturais e a prpria histria do grupo. Outra ferramenta de interlocuo entre os apoiadores da Feirinha do Bessa e os camponeses foi a criao de um link dentro da home page (http://www.geociencias.ufpb.br/logepa/arquivos/ct-agro2004.htm) do LOGEPA. A partir de algumas discusses acerca do contedo desse link optou-se por divulgar a experincia da feira, suas origens, seu local de realizao, dia em que ocorre a mesma, principais produtos comercializados, seus apoios, e o valor dos

  • produtos comercializados. Essa ao teve como propsito a divulgao da feira agroecolgica almejando melhorar a comunicao entre os apoiadores dessa experincia. Os mapas temticos resultantes das pesquisas realizadas foram os de: localizao da rea de estudo, dados socioeconmicos, uso e ocupao do solo, esboo geomorfolgico, rede hidrogrfica e localizao das nascentes, seguido da criao e atualizao de um banco de dados, sobre a produo e comercializao dos camponeses participantes da feirinha do Bessa, no perodo de Dezembro de 2002 a Abril de 2006. Constituiu um dos resultados do projeto os dados de comercializao dos produtos no perodo acima citado em forma de tabelas conforme pode ser observado a seguir:

    Tabela 01 - Valores relacionados comercializao dos produtos agroecolgicos na feira do Bessa. Fonte: Relatrio Tcnico da CPT 2006

    De acordo com a tabela podemos observar que o ano de 2003 foi o de mais significativo ndice de comercializao dos produtos; j em 2004 houve um significativo declnio dessa atividade e em 2005 ocorreu um relativo aumento dos produtos e do ganho monetrio. O declnio registrado em 2004 deu-se em decorrncia de vrios fatores, dentre eles destacamos: a mudana de localizao da feira que anteriormente era realizada na Avenida Presidente Nilo Pesanha, e atualmente encontra-se na Avenida Governador Argemiro Figueiredo, e a diminuta oferta de hortalias no local de comercializao ocasionada por fatores climticos relacionados estiagem. Avaliamos que contribuiu, tambm, para uma queda nas vendas a mudana do local da feira que levou a uma reduo no nmero de freqentadores da mesma. A mudana do local da feira foi resultante de um desentendimento entre os produtores, na medida em que houve resistncia por parte de alguns deles em produzir dentro dos princpios da agroecologia. Sobre esse tema os organizadores da feira e os camponeses, adotaram alguns critrios que fundamentam a escolha da agroecologia e que esto dispostos no pargrafo 16 do Regimento Interno da Feira Agroecolgica do Litoral Sul PB, de 22 agosto, de 2003 que propugna: Participam da feira agroecolgica os agricultores organizados que pretendem desenvolver uma prtica voltada ao cultivo agroecolgico e que esto de acordo com a preservao e cuidados com o meio ambiente, num processo de envolvimento de toda a famlia. Esse mesmo regimento, no seu artigo 24, pargrafo nico tambm prev que Ser expulso da feira todo aquele ou aquela agricultor ou agricultora que vier comercializar produtos com uso de agrotxicos. Esses

  • princpios visam dar credibilidade aos produtos comercializados pelos assentados que fazem a feirinha do Bessa, alm de fortalecer a idia de uma certificao participativa. A coluna receita anual do fundo de feira de 5% demonstra os valores recolhidos a cada final de feira onde cada produtor contribui com 5% do lucro bruto do que comercializado. Esse recurso utilizado pelos assentados que participam da feira de vrias formas, dentre essas destacamos: emprstimo sem juros, despesas extras, deslocamento para outras cidades a fim de participarem de reunies e eventos ligados agroecologia e resoluo de eventuais demandas relacionadas ao bom funcionamento da feira. A coluna nmero de feiras demonstra que existe um compromisso dos assentados com a freqncia de realizao das feiras desde sua primeira exposio at os dias atuais, totalizando 175 feiras realizadas entre dezembro de 2002 a abril de 2005.

    CONCLUSO

    A adoo da agroecologia como uma filosofia de vida e uma referncia produo agrcola, assim como a adoo de estratgias de comercializao e de convivncia social pautadas no respeito vida contriburam, no Assentamento Apasa, para uma maior integrao e valorizao da relao campo-cidade. A comercializao direta dos produtos na Feirinha do Bessa eliminou a figura do atravessador e gerou possibilidades de efetivo aumento de renda e, por conseguinte, uma melhor qualidade de vida aos camponeses envolvidos neste processo. Aos citadinos que apiam a feira e compram na mesma cabe a tranqilidade da aquisio de produtos frescos e saudveis. Alm do que, a ida feirinha do Bessa mais que um momento de compras tambm de troca de receitas medicinais, da aquisio de receitas culinrias e das conversas informais de grande aprendizado. Os camponeses tm feito desse espao tambm um lugar para desmistificar a velha imagem construda pela mdia de que assentado preguioso. A continuidade da feira em trs anos consecutivos a mais eloqente prova disso. Cabe dizer que os ganhos econmicos no so os mais importantes. A produo limpa, a preservao da vida enquanto princpio para a manuteno da biodiversidade trouxe novos horizontes que precisam ser apoiados via polticas pblicas conseqentes, onde essas prticas sejam valorizadas e a relao campo-cidade seja cada vez mais estreitada em laos de solidariedade e confiana mtua e na busca de um verdadeiro projeto de reforma agrria que possibilite ao nosso pas um passo a mais em direo verdadeira cidadania. O Projeto Terra Para Que Te Quero tem contribudo atravs da sua equipe para a construo dessa via da Agroecologia proposta pelos camponeses em parceria com a Critas Nordeste e a Comisso Pastoral da Terra CPT. Nosso relato nesse evento visa tambm ampliar interlocuo e as possibilidades da incorporao de novos saberes.

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