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  • URBANA, V.5, n6, mar.2013 - Dossi: Urbanistas e Urbanismo- CIEC/UNICAMP

    URBANISMO EM MINAS GERAIS: O CONJUNTO BALNEARIO DO

    BARREIRO DO ARAXA EM MINAS GERAIS E O PAPEL DE LINCOLN

    CONTINENTINO.1

    Fabio Jose Martins de Lima

    Resumo

    Em Minas Gerais, a partir dos anos 1930, a discusso dos problemas urbanos no se

    limitava capital do estado, Belo Horizonte. Percebe-se que a busca de uma

    linguagem moderna impe-se Capital Mineira e repercute pelas cidades do interior.

    Em 1933, integrando comisso com o intuito da modernizao das cidades balnerias,

    Lincoln Continentino desenvolveu plano de conjunto para rea de expanso da cidade

    de Arax, compreendida pelo Barreiro do Arax. Este plano atendia, assim aos

    interesses do Governo do Estado na remodelao geral da Estncia Hidromineral

    desta cidade balneria. Pretendemos discorrer sobre esta importante realizaao na

    trajetoria de Lincoln Continentino e tecer consideraoes sobre o papel deste tecnico

    para a difusao do urbanismo em Minas Gerais.

    1 A continuaao da pesquisa envolve incursoes nos acervos em Belo Horizonte e em acervos locais

    distribuidos no ambito estadual. Os trabalhos contam com a participaao de pesquisadores colaboradores

    como Helena T. Creston, Barbara L. Barbosa, Bianca M. Veiga, Ana Paula L. P. Cruz, Antonio C. Boscariol,

    Larissa R. Moura, alem de alunos bolsistas, a saber, Taina de C. Lamoglia, Willian C. A. Mendona, Danilo

    de L. Guimaraes, Aline M. F. Barata, Livea R. Pereira, Itala Karla, Debora V. Almeida, Marcela D.

    Fernandes, Analice V. DAvila, Vitor Lima, Klinton de M. Barbosa Junior, Fernanda Portela, Marine Mattos.

    A partir de 2011 desenvolvemos Estagio Posdoutoral com o apoio da CAPES na Universit IUAV di

    Venezia (IUAV), com o intuito de buscar fundamentos teoricos e metodologicos para a pesquisa sobre a

    historia do urbanismo. A pesquisa vincula-se, ainda, aos trabalhos da rede de pesquisa Urbanismo no

    Brasil 1900-1965. A abordagem aqui delineada foi estruturada a partir de dois textos apresentados

    anteriormente, o primeiro deles, apresentado em 2009, no 8 Seminrio Docomomo Brasil,, intitulado O

    Barreiro do Arax em trs tempos: dilemas para a preservao do complexo balnerio em Arax/MG; e

    o segundo, apresentado inicialmente em 2006, no Seminrio de Pesquisa Por uma cidade s e bela: O

    urbanismo dos engenheiros sanitaristas no Brasil Republicano promovido pelo Grupo de Pesquisa URBIS

    do Depto. de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de So Carlos da Universidade de So

    Paulo, intitulado A Engenharia Sanitria e o Urbanismo Moderno presentes na trajetria do Engenheiro

    Lincoln de Campos Continentino publicado posteriormente, em 2012, como capitulo de

    livro.Agradecemos o apoio da CAPES, do CNPQ, da FAPEMIG, do Ministerio das Cidades e do Ministerio da

    Cultura. Afiliao: Universidade Federal de Juiz de Fora ; [email protected].

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    Palavras-Chave:

    Urbanismo , Historia do Urbanismo , Planejamento Urbano , Minas Gerais

    Abstract

    In the State ofMinas Gerais, Brazil, from 1930, the discussion of urban problems was

    not limited to the state capital, Belo Horizonte. It is noticed that the pursuit of a

    modern language imposes to the planned capital and affects the inner cities. In 1933,

    integrating commission aiming the modernization of resort towns, Lincoln

    Continentino developed overall plan for the expansion area of the city of Arax

    understood by Barreiro Arax. This plan served well the interests of the State

    Government in general refurbishment of this resort town. We intend to discuss this

    important realization in the trajectory of Lincoln Continentino and weave

    considerations about the role of this technician for the diffusion of ideas of urbanism

    in Minas Gerais.

    Key-words

    Urbanism ,History of Urbanism , Urban Planning , Minas Gerais

    Introduao

    Em Minas Gerais, a partir dos anos 1930, a discusso dos problemas urbanos

    no se limitava capital do estado, Belo Horizonte. A busca por uma linguagem

    moderna impe-se Capital Mineira, neste perodo, e repercute pelas cidades do

    interior. A modernidade j anunciada com o Art Dco conhecido como estilo cubista,

    futurista ou simplesmente moderno , inicialmente, em intervenes pontuais alterou

    a fisionomia dos centros urbanos. O contraste entre a tradio e a

    contemporaneidade, esta ltima representada por linguagens cada vez mais

    desatreladas do historicismo, foi marcante para a transformao das cidades. Neste

    sentido, iniciativas como a proposta de um plano de conjunto para o Barreiro em

    Arax, Minas Gerais, foram desencadeadas integrando as aes do governo. 2 A

    2 O governo do Estado estava a cargo de Olegrio Maciel, interventor nomeado por Getlio Vargas, dentre os 94 interventores nomeados para os estados brasileiros, permanecendo de 7 de setembro de 1930 a 5 de setembro de 1933. Em seguida assumiriam Gustavo Capanema e Benedito Valadares, sendo que este ltimo permaneceria at o ano de 1945. Ver: PANDOLFI, Dulce Chaves. Os anos 1930: as incertezas do regime. In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. O Brasil Republicano:

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    modernizao das cidades, incluindo as cidades balnerias do Estado, estava na

    pauta.

    No mbito do estado, vo ser criados rgos de assistncia tcnica para os

    municpios, como o Departamento de Administrao Municipal, cuja organizao j se

    esboava nos termos do Decreto n 5.366, de fevereiro de 1932.3 A Constituio

    Estadual de 30 de julho de 1935, no seu ttulo VI Do Municpio, particularmente no

    artigo 66, referendou a proposio da Constituio Federal ao prescrever que a lei

    estabelecer um rgo tcnico consultivo que, mediante solicitao do Municpio,

    prestar assistncia administrao municipal, inclusive no que concerne

    organizao de suas finanas. Em 1936, por intermdio da Lei 183/1936, foi criado o

    Departamento de Assistncia aos Municpios, como um rgo subordinado

    Secretaria do Interior, em substituio ao Departamento de Administrao Municipal.

    Assim, a partir de sees como a Diviso de Negcios Municipais e a Inspetoria

    de Engenharia Sanitria se encaminhava a composio de equipes multidisciplinares

    para a implementao dos planos, como no caso do Barreiro, que teve a direo geral

    de Lincoln Continentino e a participao de outros profissionais como Andrade Jnior,

    engenheiro do Servio Geolgico Federal. Este ltimo ressaltava a importncia da

    participao do gelogo, do arquiteto e do mdico hidrlogo, para evitar o imprevisto

    e os retrocessos devido a falta de previso.4 Alm de Continentino e Andrade Jnior,

    participaram dos trabalhos no Barreiro os seguintes profissionais, engenheiros David

    Mouro e Carvalho Lopes, do Departamento de Comrcio, Indstria e Estncias

    Hidrominerais do Estado, arquiteto Aurlio Lopes, da Diviso de Negcios Municipais

    do Estado e Fbio Vieira Marques, este, como Continentino, vinculado Inspetoria de

    Engenharia Sanitria da Diretoria de Sade Pblica do Estado.

    A modernidade que se introduzia nas cidades estava vinculada ao apelo das

    vanguardas como a frente que encampou o modernismo, em Minas Gerais,

    inicialmente, constituda por intelectuais, dentre os quais artistas e escritores oriundos

    o tempo do nacional-estatismo, do incio da dcada de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro: Editora Civilizao Brasileira. 3J nos anos de 1910, a Comisso de Melhoramentos Municipais prestava suporte aos municpios. Entre 1911 e 1914, vrias propostas de interveno foram desenvolvidas para pequenas e mdias cidades do Estado. Criada com o intuito de dar suporte tcnico aos administradores pblicos, atravs do estudo das obras de saneamento e melhoramentos dos municpios, a comisso tinha frente o engenheiro Loureno Baeta Neves. O Decreto n 3.195, de 17 de junho de 1911, pelo governo do estado de Minas Gerais instituiu a Comisso Mineira de Melhoramentos Municipais, Ver: NEVES, Loureno Baeta. Hygiene das Cidades. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 1912. 4PORTO, Daniele Rezende. O Barreiro do Arax: Projetos para uma Estncia Hidromineral em Minas Gerais. So Carlos: 2005, Dissertao de Mestrado - EESC/USP.

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    de regies distintas do Estado. J na dcada de 20, constatamos as primeiras

    manifestaes artsticas individuais que, nos anos 30, se desdobraro em exposies

    coletivas e sales. Este ambiente cultural propcio introduo de novas idias foi

    ampliado com a fundao da Escola de Arquitetura, em 1930, por um grupo de

    arquitetos, iniciativa que contou tambm com a colaborao de artistas, advogados,

    engenheiros e mdicos. 5 Progressivamente, os arquitetos dividiriam com os

    engenheiros, que sempre determinaram a tnica das discusses urbansticas, a

    responsabilidade sobre os rumos das cidades.

    Pretendemos explorar neste trabalho, inicialmente, o processo desencadeado

    para a modernizao da Estncia Hidro-Mineral de Arax, com os trabalhos

    coordenados por Lincoln de Campos Continentino e os arquitetos Luiz Signorelli e

    Francisco Bolonha. A seguir, pretendemos explorar sucintamente o papel de Lincoln

    Continentino na difusao do urbanismo em Minas Gerais. Vale ressaltar que esta

    abordagem se traduz como um desdobramento de pesquisas anteriores voltadas para

    a compreenso da histria do urbanismo e do planejamento urbano em Minas Gerais,

    com vistas ao entendimento do processo historico e fundamentaao para o

    enfrentamento dos problemas urbanisticos na atualidade.Por esta via, temos a

    compreenso de processos, na verdade, estes desencadeados sobre os municipios

    enfocados, seja na sua globalidade, seja sobre partes significativas do seu contexto

    urbano/rural como foi o caso em Araxa/MG.6

    5 Inicialmente o curso tinha a denominao de Escola de Belas Artes de Belo Horizonte, logo transformada em Escola de Arquitetura, a 5 de agosto de 1930, vinculada Prefeitura. Apenas em 3 de agosto de 1946 deu-se a incorporao da escola Universidade de Minas Gerais e, em 1949, a sua federalizao. A escola formava engenheiros-arquitetos e tinha como modelo de organizao didtica a seo de arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes, do Rio de Janeiro. O curso contava no seu quadro de professores com engenheiros, arquitetos e artistas. Os engenheiros se incumbiam das cadeiras de cincias aplicadas e tcnicas, incluindo o urbanismo; os arquitetos se encarregava da perspectiva, teoria e filosofia da arquitetura, pequenas e grandes composies arquitetnicas, arquitetura analtica e arte decorativa. Por fim, os artistasse incumbiam do desenho e da modelagem. Dentre os arquitetos que atuavam na cidade, que colaboraram para a criao da escola, destacamos Luiz Signorelli, Rafaello Berti, Raphael Hardy e Angelo Murgel Ver: GOMES, Marco Aurlio A. de Filgueiras & LIMA, Fabio Jose Martins de. Pensamento e prtica urbanstica em Belo Horizonte: 1895-1961. In: LEME, Maria Cristina da Silva (org.). Urbanismo no Brasil: 1895-1965. So Paulo: Studio Nobel; FAUUSP; FUPAM, 1999, p.126. Ver ainda: LIMA, Fabio Jose Martins de. Urbanismo em Minas Gerais: pensamento e prticas urbansticas relacionados ao iderio do Movimento Moderno (1939-1965). Cadernos PPG-AU/FAUFBA. Salvador: v.3, n. Edio Especial, 2005, p.103-120. 6 A preocupaco com a preservaco da memria de trajetrias de urbanistas em Minas Gerais e, particularmente, pela organizaco e controle do material documental, que possibilitou o entendimento destas trajetrias, teve incio no processo de pesquisa desencadeado no a mbito da Rede Urbanismo no Brasil, a partir de 1995 e, posteriormente, em trabalhos de reviso e complementaco de dados no Ncleo de Pesquisa e Extenso Urbanismo em Minas Gerais da Universidade Federal de Juiz de Fora. Tal preocupaco envolveu estudos e levantamentos sobre o passado, alm de leituras empreendidas nos dias atuais - passado e presente com vistas ao futuro.

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    Figura 01Estancia Hidro-Mineral do Barreiro do Araxa parte da area destinada a Cidade Balnearia em

    planta na escala 1:1000, por Lincoln Continentino, em 1933.

    Fonte : Urbanismomg/UFJF.

    Estncia Hidro-Mineral de Arax

    Em 1933, integrando comisso especial designada pelo governo do Estado7,

    com o intuito da modernizao das cidades balnerias, como mencionado

    anteriormente, o engenheiro Lincoln de Campos Continentino8 desenvolveu um plano

    de conjunto para rea de expanso da cidade de Arax, compreendida pelo Barreiro

    do Arax. Este plano atendia aos interesses do Governo do Estado na remodelao

    geral da Estncia Hidromineral desta cidade balneria. O projeto para as instalaes

    de hospedagem e para as termas foi desenvolvido por Luiz Signorelli, um dos

    fundadores da Escola de Arquitetura. 9 Coube a Signorelli, tambm, o

    7 Como mencionado anteriormente, da comisso faziam parte tambm, alm do prprio Continentino, os engenheiros Andrade Junior, do Servio Geolgico Federal, David Mouro e Carvalho Lopes, do Departamento de Comrcio, Indstria e Estncias Hidro-Minerais, e Fbio Vieira Marques vinculado, como Continentino, Inspetoria de Engenharia Sanitria da Diretoria de Sade Pblica. 8Sobre a trajetria de Lincoln Continentino, ver: LIMA, Fabio Jose Martins de. Por uma cidade moderna: Iderios de urbanismo em jogo no concurso para Monlevade e nos projetos destacados da trajetria dos tcnicos concorrentes (1931-1943). So Paulo: 2003, Tese de Doutorado - FAUUSP. 9 O arquiteto Luiz Signorelli nasceu em Cristina/MG em 1896 e faleceu em Belo Horizonte em 1964, tendo se diplomado em 1925 pela Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Desenvolveu inmeros projetos para Minas Gerais, parte deles em planos de conjunto organizados por Lincoln Continentino.

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    acompanhamento da construo do conjunto, cujas obras foram executadas, entre

    1937 e 1945, pela Construtora Carneiro de Rezende de Alfredo Carneiro Santiago.

    Figura 02 Aspecto geral do conjunto do Barreiro do Arax, em Arax/M.G., cerca de 1950. Percebe-se

    o traado urbanstico delineado por Continentino, os blocos edificados de autoria de Luiz Signorelli e ao

    fundo a Fonte Andrade Jnior de Francisco Bolonha e o parque com o paisagismo de Burle-Marx.

    Fonte: Acervo fotogrfico da Fundao Cultural Calmon Barreto. Prefeitura Municipal de Arax.

    O plano para o Barreiro de Arax, envolveu a necessidade da urbanizao de

    uma rea de expanso no entorno da cidade, sendo que j havia um estudo

    desenvolvido para o local. Este fora esboado pelo arquiteto e urbanista Aurlio

    Lopes, que trabalhara com o mesmo Continentino em outros projetos.10 Assim, o

    MINAS GERAIS. Dicionrio biogrfico de construtores e artistas de Belo Horizonte: 1894/1940. Belo Horizonte: Instituto Estadual do Patrimnio Histrico e Artstico de Minas Gerais, 1007, p. 242-244. 10O papel de Aurlio Lopes, no caso do Barreiro do Arax, se resumiu ao esboo inicial do projeto, tendo em vista que coube ao prprio Continentino aprofundar o programa de necessidades para o projeto definitivo, como exposto no seu memorial, bem como estruturar as diretrizes urbansticas para a estncia

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    projeto de Lopes vai ser desenvolvido por Continentino que pouco aproveitou da

    situao existente.

    O pressuposto para o plano, foi que a rea proporcional destinada aos

    logradouros pblicos, parques e jardins, deveria ser naturalmente maior do que as

    cidades tradicionais. O projeto envolveu a diviso da gleba em trs reas, a comear

    pela zona residencial, que abrangeria cerca de mil lotes, com capacidade para abrigar

    seis milhabitantes, a zona comercial disposta em dois quarteires e, por fim, a zona

    de parques e jardins, com destaque para o parque da estncia hidromineral. O parque

    foi situado no centro da estncia, limitado por uma avenida de contorno, sendo que,

    ali foram localizados os principais equipamentos, como o Grande Hotel, o Cassino, as

    Fontes, o Balnerio, a Praa de Esportes com a piscina e o campo de recreio para as

    crianas.

    Figura 03 Aspecto da implantao geral do plano de urbanismo desenvolvido por Lincoln Continentino,

    balneria. Aurlio Lopes, juntamente com Continentino, participou do concurso para o Hospital do Funcionrio Pblico, no Rio de Janeiro, no mesmo ano de 1933.

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    em Arax/M.G, em 1933.

    Fonte : Urbanismomg/UFJF.

    O traado buscava uma adequao ao stio, sendo que

    os perfs dos arruamentos foram organizados de acordo com as condies de trfego mximo previsto. Tratando-se verdadeiramente de uma cidade-jardim, foi previsto o mximo possvel de rea gramada e ajardinada. () Outra norma geral seguida no projeto dos arruamentos foi aproveitar os leitos dos inmeros e abundantes crregos da bacia do Barreiro, para projetar, ao longo deles, avenidas canalizadas. () Adotou-se vrias vezes em condies especiais do terreno, em zona residencial, o sistema de arruamentos cul-de-sac, quando se pde realizar melhor aproveitamento do terreno loteado e facil drenagem de aguas (CONTINENTINO, 1933, pp.3-4).

    As margens das avenidas foram previstas com forrao em grama e

    arborizao, reservando-se diversos trechos para estacionamento. Para a parte

    residencial, foram estabelecidos parmetros urbansticos especficos como uma taxa

    de ocupao de 25 % da rea dos lotes e distncia mnima de cinco metros, tanto

    para o afastamento frontal, quanto para os recuos laterais. Os loteamentos foram

    projetados com dimenses que consideravam as necessidades de maior conforto e a

    adequao s imposies do terreno acidentado. A parte comercial foi projetada em

    dois quarteires, com acesso facilitado para a carga e a descarga de mercadorias,

    sendo que um destes quarteires foi destinado a abrigar as instalaes do mercado.

    Ressaltava-se ainda a insero na rea central, do centro cvico, composto pela

    Prefeitura, os Correios e Telgrafos e a Clnica Crenolgica.

    Fazendo a ligao da Estncia Balneria com a cidade de Arax, previu-se a

    construo da Estao Terminal Rodoviria, sendo que o leito da estrada de acesso

    deveria aproveitar o leito abandonado da Rede Mineira de Viao. A proposta de

    Continentino considerava tambm a necessidade da instalao de um aeroporto

    fazendo esta ligao, tendo em vista que este vir a constituir em futuro no muito

    remoto, um dos principais meios de comunicao da estncia com os grandes centros

    do pas, pelo conforto e rapidez da viagem.11

    No programa estava includa ainda uma reserva florestal, nas proximidades do

    conjunto, h cerca de trs quilmetros. Previu-se tambm a construo de uma vila

    operria, uma escola, uma igreja, um sanatrio e um cemitrio. No seguimento, havia

    a preocupao com uma infra-estrutura necessria para o bom funcionamento da

    11CONTINENTINO, Lincoln op. cit., p.6.

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    estncia hidromineral. Neste sentido, fazia indicaes com relao ao abastecimento

    de gua, ao sistema de esgotos, ao fornecimento de energia eltrica, s instalaes

    sanitrias, ao abastecimento de leite e de carne (matadouro), limpeza pblica e ao

    saneamento rural.

    J em 1942, o urbanista francs Alfred Hubert Donat Agache, foi convidado pelo

    governo do Estado para opinar sobre o projeto do Balnerio do Barreiro do Arax.

    Esta consulta no foi bem recebida pelos profissionais atuantes. Assim, ao se referir

    aos problemas relativos ao pagamento dos servios de Continentino referente ao

    plano de urbanismo para Belo Vale, Teixeira destacava a visita de Agache a Belo

    Horizonte,

    para opinar sobre Arax. Esteve l uma semana recolhendo dados e se ambientando e passou por B. Horizonte. Pela manh o secretrio levou-o ao nosso servio. 20 minutos depois o Odilon pediu licena para se retirar porque tinha de ir a Par de Minas. O Agache porm pediu licena para ficar e ficou 2 horas, colhendo com o mximo interesse informao de tudo e tal foi o seu interesse que pediu photographia dos planos para publicar em Frana. No fim da visita expus ao Agache a planta de Arax. O Otto Jacobs perguntou-lhe quaes as suggestes que elle dava? Elle respondeu que poderia fazer o projecto completo, o ante-projecto e como viu que havia gente competente, poderia vir aqui de 15 em 15 dias para orientar o estudo. Mas de graa no quis adiantar nada. Disse-me o Peres, que no encontro posterior com o Secretrio o Agache pediu 100 contos, s para dar uma ida. No o projecto. Ora veja v. meu caro Lincoln, o homem leva ida de graa e pede 100 contos por uma. Eu acho que elle fez bem. Uma ida boa de facto, uma soluo magistral, pode valer centena de contos. A vinda do Agache foi benfica, pois mostrou aos nossos homens o alcance e o valor dos trabalhos urbansticos. (TEIXEIRA, 1942)

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    Figura 04 Trecho de correspondncia datada de 16 de novembro de 1942, entre Romeu Teixeira

    Duffles e Lincoln Continentino com meno visita do urbanista francs Agache para opinar sobre o

    Barreiro do Arax. Fonte : Urbanismomg/UFJF.

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    Este episdio revelador do prestgio alcanado por tcnicos estrangeiros como

    Agache, junto aos rgos pblicos, convidados para os mais diferentes empenhos. Ao

    mesmo tempo, constatamos a maneira pela qual estes eram vistos pelos tcnicos

    brasileiros. O desdm embutido nestes comentrios, reflete as dificuldades para a

    interlocuo envolvendo trabalhos conjuntos.Sobre a visita de Agache a Belo

    Horizonte, o mesmo Teixeira ressaltava que no aprendera nada com o francs com

    destaque para a opinio do prefeito de Curvelo,

    eu prefiro mil vezes o urbanismo do Lincoln. A minha impresso que o Agache mais paysagista do que urbanista. A sua atteno se fixa demasiadamente em problemas paysagsticos. Assim aconteceu com Cambuquira (plano). Elle continua com aquella ida de ser o maestro. Das competncias que existem no paiz. No aprendi em duas horas de palestra e debates nada de novo. Apenas vi confirmada a excellente orientao que V. nos deixou (CONTINENTINO, 1945).

    Teixeira destacava ainda o papel de Continentino, como pioneiro na difuso das

    idias de urbanismo em Minas Gerais.A contratao de Agache no foi concretizada,

    sendo que, o contrato estipulado em cem contos de ris, conforme Teixeira ressalta,

    ...no sei si o Secretrio combinou os 100 contos pela ida, mas dizem que ele ficou

    desapontado, naturalmente achava que o homem aqui viria pelo prazer do passeio,

    honra do convite e vantagem da propaganda.12 Sobre a proposta desenvolvida por

    Continentino Teixeira ressalta que a mesma no foi completamente aproveitada,

    e no final a gente lamenta, que durante tantos annos de sua desvelada actividade profissional em Minas, os nossos administradores o no tenham aproveitado. Em todo o caso em seu trabalho pioneiro, v. deixou a semente e os primeiros fructos j vo apparecendo. (TEIXEIRA, 1942)

    O conjunto do Barreiro envolveu tambem a implantao de equipamentos

    pblicos anexos ao Grande Hotel e ao Balnerio em um extenso parque. O parque

    teve o paisagismo definido por Roberto Burle-Marx e a fonte teve o projeto elaborado

    por Francisco Bolonha13. Para a fonte a soluo composta por "...une armature de

    bton arm trs libre, une lgre poroi vitre, des revtements polychromes en

    12TEIXEIRA, Romeu Duffles, op. cit.. 13Francisco de Paula Lemos Bolonha nasceu em Belm do Par, em 3 de janeiro de 1922. Diplomou-se em 1945 pela ENBA. Atuou no Rio de Janeiro, com projetos para a Prefeitura do, ento, Distrito Federal. Desenvolveu propostas para cidades do interior de Minas Gerais como Juiz de Fora/M.G. e Cataguazes/M.G., alm de intervenes em Arax/M.G..

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    cramique, un jeu de courbes en plan et dans le trac de la pice deau qui entoure le

    pavillon" 14 . A proposta se inseria em rea de expanso da cidade de Arax,

    compreendida pelo Barreiro do Arax, na qual, como mencionado, houve a insero

    um plano de conjunto pelo engenheiro Lincoln Continentino.

    A proposta para a Fonte Andrade Juniorveio a convite de Burle-Marx que, desde

    1943, desenvolvia ali, a sua primeira grande encomenda de projeto paisagstico: o

    Palcio das guas em Arax.15Neste sentido, a incumbncia, que remonta ao ano de

    1946, envolvia oprojeto de um centro social e desportivo com extensa rea de

    lazer, quadras e sales de festas (no executados) e uma fonte de gua sulfurosa.16A

    linguagem adotada por Bolonha revela uma proximidade conceitual com a Pampulha

    de Niemeyer, particularmente no que se refere Casa do Baile, que remete ao incio

    dos anos 1940. Neste sentido, Bruand ressalta que

    embora no conjunto (da sua trajetria)tenha ficado mais prximo de Lucio Costa do que de Niemeyer, Bolonha no escapou atrao exercida por este, retomando, no pavilho das fontes sulfurosas de Arax (Minas), a forma livre empregada de maneira brilhante no restaurante de Pampulha.17 (BRUAND, 1981, p.169)

    A fonte de Bolonha apresenta certa distino em relao Casa do Baile, com

    esguio pano de vidro que circunda o pavilho na margem costeira ao lago, em

    oposio ao espao que se abre para a integrar-se ao edifcio do hotel. 18 Vale

    mencionar ainda que o conjunto projetado por Bolonha apresenta transparncia total,

    em oposio ao partido de Niemeyer que intercala cheios e vazados. Tambm a escala

    do lago no se compara amplitude da lagoa da Pampulha.

    14ARCHITECTURE DAUJOURDHUI, setembro de 1947, p.76. 15 MACEDO, Oigres Leci Cordeiro de. Francisco Bolonha, modernidade insigne. IV DOCOMOMO BRASIL.Viosa-Cataguases/MG:2001. 16MACEDO, Oigres Leci Cordeiro de, op. cit. 17Bruand ressalta ainda que, neste caso, tratava-se de um projeto executado em 1945, por um jovem recm-sado da Escola de Belas Artes do Rio. A seguir, ele iria distanciar-se um pouco, mas o contato tinha sido proveitoso.. 18MACEDO, Oigres Leci Cordeiro de, op. cit.

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    Figura 05 Vista geral do Barreiro do Araxa, Grande Hotel projetado por Luiz Signorelli, a

    Fonte projetada por Francisco Bolonha e parte do parque ambientado por Burle-Marx.

    Fonte : Urbanismomg/UFJF.

    A soluo definida em concreto armado, com sinuosidades e pilares estruturais

    em forma circular, com cobertura em laje plana, inserida na margem de um lago,

    emoldurada pelos jardins de Burle Marx, disputa a cena com o partido monumental

    elaborado por Signorelli para o hotel. Dois blocos fechados com vidro translcido e

    uma ante-sala tambm em vidro, destinada a exposio de fsseis da fauna pr-

    histrica, com acessos avarandados compe o programa. Para Macedo,

    o contraste entre o hotel e a fonte evidente e surpreende ainda mais por serem contemporneos. Ambos s mantm uma relao de convivncia espacial harmnica graas integrao promovida pelos jardins e lagos de Burle Marx. Tambm so seus os azulejos que revestem as paredes da fonte, de modulao azul e branco os motivos fazem referncia aos fsseis encontrados. Concluda em 1947, a Fonte Andrade Jnior constituiu a primeira interveno de Bolonha de reconhecimento internacional: ainda com 24 anos v sua obra publicada na Architectural Forumem nmero especial sobre o Brasil. No ano seguinte, em 1948, a fonte classificada pela revista Architecture Journal de Londres como uma das dez melhores obras do ano (MACEDO, 2001)

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    Nesta proposta, como em outras oportunidades 19 , Bolonha demonstrava

    preocupaes plsticas no jogo de volumes, acompanhadas com obras de arte

    integradas, alm de um tratamento diferenciado que valorizava os espaos pblicos.20

    O bloco sinuoso definido por Bolonha se integrava de modo pleno ao projeto

    paisagstico definido por Burle-Marx. A Fonte dialogava com o traado do lago e

    contrastava com as diferentes texturas presentes nos jardins. Um calado em pedras

    portuguesas com inscries em tonalidades diferenciadas conduzia ao pilotis composto

    como um grande avarandado em torno dos painis de vedao em vidro e estrutura

    metlica.

    Figura 05 Aspecto do parque projetado por Roberto Burle-Marx com a Fonte Andrade Jnior de

    19 Bolonha projetaria ainda, em Cataguases/M.G., em 1951, uma Maternidade, e, no mesmo perodo, um Conjunto de Habitaes Operrias, que evidenciavam as inovaes possibilitadas pela linguagem moderna no tratamento dos espaos pblicos. Neste conjunto operrio, as casas geminadas foram dispostas com jardim frontal e acesso direto, sem muro ou grades, junto rua arborizada. O espao ampliado do arruamento aliado utilizao de painis de vedao frontais em combog e cobertura em telhas cermicas aparentes, revelava as possibilidades do dilogo entre a tradio e a modernidade. Bolonha havia projetado tambm, em 1953, o Conjunto Residencial da Ilha de Paquet, composto por casas econmicas promovidas pela Prefeitura do Distrito Federal. 20 BRUAND, Yves. Arquitetura Contempornea no Brasil. So Paulo: Editora Perspectiva, 1981,p. 108.

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    Francisco Bolonha, em Arax/M.G. Fonte: MOTTA, Flvio Lichtenfels. Roberto Burle-Marx e a nova viso

    da paisagem. So Paulo: Nobel, 1983, p. 10.

    O papel de Lincoln Continentino para a difusao do urbanismo em Minas

    Gerais

    O projeto para o Barreiro do Arax em Minas Gerais revela-se como um dos

    importantes momentos da carreira de Lincoln de Campos Continentino, para aplicaao

    dos principios do urbanismo, que este professional sempre defendeu, em uma atuaao

    caracterizada por presenas no campo academico e na esfera privada. Antes de Arax

    foram inumeros projetos, alguns deles com repercussao nacional, como as propostas

    urbanisticas para os leprosarios de Ibi e Santa Isabel, ambos em Minas Gerais. O

    Plano de Urbanismo da Colnia Santa Isabel, foi elaborado em 1931 e neste mesmo

    periodo o Plano Geral do Leprosrio de Ibi, fundado em 1943, ambos trabalhos

    vinculados ao Servio de Saneamento e Urbanismo da Secretaria de Viao e Obras

    Pblicas do Estado de Minas Gerais. Logo depois do Barreiro a proposta vencedora

    para Monlevade, em concurso promovido pela Companhia Siderurgica Belgo Mineira

    em 1934. Neste mesmo ano, Continentino apresenta Comissao Tecnica Consultiva

    de Belo Horizonte o Plano de Urbanismo para a capital do Estado, a primeira proposta

    global que discutia questoes nao previstas no plano original de Aarao Reis.

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    Figura 05 Plano Geral do Leprosrio de Ibi (Colnia So Francisco),por Lincoln Continentino,

    desenhado por Jos Cantagalli, com as modificaes sobre o projeto original do arquiteto Aurlio Lopes.

    Fonte: Urbanismomg/UFJF.

    As preocupaes do engenheiro Lincoln Continentino 21 , com relao aos

    problemas das cidades, remontam ao final dos anos 20. Este engenheiro e urbanista

    soube aproveitar muito bem o caminho percorrido por seus antecessores ampliando

    os seus estudos de saneamento para o campo do urbanismo, sempre procurando se

    atualizar em relao s idias urbansticas. Tendo sido aluno de Loureno Baeta

    Neves, e continuador das suas idias, Continentino diplomou-se pela Escola Livre de

    Engenharia de Belo Horizonte em 1923. Em 1927, j atuava como docente,

    permanecendo at meados dos anos 1960. Neste perodo, Continentino teve intensa

    atuao profissional em Minas Gerais, particularmente em Belo Horizonte, onde

    consolidou a sua carreira, mesmo tendo se transferido para o Rio de Janeiro em um

    determinado perodo, como veremos. Em Belo Horizonte, Continentino atuou junto a

    Comisso Tcnica Consultiva, mencionada a pouco,a exemplo de grandes e

    adiantadas cidades, especialmente americanas, criada em 1934, na gesto do 21 Lincoln de Campos Continentino nasceu em Oliveira/MG em 17 de maio de 1900 e faleceu em Belo Horizonte/MG em 19 de agosto de 1976.

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    prefeito Jos Soares de Mattos (1933-35). Esta Comisso, foi instalada sob a

    presidncia de Loureno Baeta Neves e tinha por funo precpua orientar a execuo

    do plano da cidade e zelar pelo seu fiel cumprimento.22

    Para o interior do Estado de Minas Gerais, tambm desenvolveu vrias

    propostas, assim como para cidades do Estado do Rio de Janeiro e outras cidades do

    pas. Na escala nacional, merece destaque o Plano So Francisco-Nordeste:

    aproveitamento integral do Rio So Francisco para o desenvolvimento intenso do

    polgono das secas no Brasil, publicado em 1962. Este trabalho decorreu da sua

    experinciajunto a Comisso do Vale do So Francisco, a partir de 1951, quando

    foram elaborados planos de urbanizao para as cidades de Pirapora/MG,

    Petrolina/PE, Juazeiro/BA, Propri/SE e Penedo/AL.

    Figura 06 Plano Geral de Urbanizaao- Juazeiro/BA, Comisso do Vale do So Francisco, a partir de

    1951. Fonte: Urbanismomg/UFJF.

    22A Comisso era dividida em 5 subcomisses, sendo uma delas a de Arquitetura e Urbanismo. Ver: MINAS GERAIS. Commisso Technica Consultiva da Cidade de Bello Horizonte. Revista Mineira de Engenharia, n 1, jan, 1935, p.36-37.

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    Ainda entre os anos de 1927 e 1929, Continentino cursou a especializao em

    engenharia sanitria da Harvard School nos Estados Unidos, como uma misso do

    governo do Estado de Minas Gerais, com o apoio da Fundao Rockfeller. 23 Esta

    especializao, oferecida pelo curso de engenharia, envolvia questes relacionadas

    com o saneamento urbano, abordando o State and Municipal Sanitation, priorizando

    temas relativos ao abastecimento de gua e ao tratamento de esgotos das cidades. O

    curso constava de aulas com seminrios e provas especficas, bem como trabalhos

    prticos de laboratrio, o que envolvia anlises globais sobre projetos. Estas anlises

    eram desenvolvidas por meio de exemplos prticos de cidades comoCleveland,

    Milwaukee e Buffalo, dentre outras.24 Os tpicos estudados por Continentino foram os

    seguintes, Requisite Qualities of Water Supplies, The U.S. Treasury Standards,

    Natural Purification, Control of Catchment Areas and Reservoirs, Sanitary Control of

    Water Supplies; Sedimentation and Coagulation; Dosing Apparatus, Mixing Devices,

    Sedimentation and Coagulation Basins; Filtration, Analysis of Filtering Materials, Sand

    Handling and Sand Washing, Laboratory Control of Filtration Plants; Design of Slow

    Sand Filters; Design of Rapid Sand Filters; Iron Removal, Water Softening,

    Disinfection, Iodization; Sewage Disposal by Dilution, Screening and Grit Chambers;

    Tank Treatment including Activated Sludge; Design of Settling Tanks and Activated

    Sludge Tanks; Sewage Filters; Quality of Water Supplies, () Planning catchment

    areas and reservoirs, Sanitary control of water supplies, Scoring systems; Aeration,

    Corrosion. Alm destes temas estudados, Continentino destacava tambm outros

    relacionados com o urbanismo como airports, de Hubbard e colaboradores,

    Neighborhoods of Small Homes, por Robert Whitten e Thomas Adams e Urban Land

    Uses, por Harland Bartholomew. Esta especializao constituiu um referencial dos

    mais importantes na trajetria de Lincoln Continentino, cuja estratgia de

    aproximao sobre os problemas urbanos de uma maneira prtica e objetiva sempre

    esteve presente, como apreendido em Harvard.

    De incio, o interesse de Continentino estava centrado nas questes de higiene

    urbana e saneamento, como atestam as suas primeiras publicaes, as quais

    versavam sobre temas como a limpeza pblica e a pasteurizao do leite.

    Posteriormente a temtica amplia-se para o campo do urbanismo. Dos trabalhos 23 Continentino recebeu bolsa da Rockfeller Foundation para estudar engenharia sanitria na Harvard School no perodo de 28 de setembro de 1927 a 27 de setembro de 1929, de acordo com declarao emitida em 2 de dezembro de 1970 por esta referida fundao. 24Os dados referentes ao curso de especializao de Continentino nos Estados Unidos foram conseguidos atravs de correspondncia enviada diretamente para a Universidade de Harvard, alm de consulta ao seu acervo pessoal na Biblioteca da Escola de Engenharia da UFMG - Acervo da Associao de Ex-Alunos e Professores.

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    publicados merece ser ressaltado, de incio, o livro Saneamento e Urbanismo, em

    1937, uma de suas contribuies mais expressivas para a difuso do urbanismo. Em

    1938, o artigo Urbanismo; O plano de Belo Horizonte; Impresses de uma viagem

    recente Argentina, destacava as viagens feitas aos estados do Sul, ao Uruguai e

    Argentina, alm de abordar mais uma vez, o plano para Belo Horizonte, desenvolvido,

    ento, com o apoio do prefeito Jos Oswaldo de Arajo (1938-40). Este artigo foi

    publicado novamente em 1940. Ainda em agosto de 1938 o Intendente Municipal de

    Buenos Aires saudava o prefeito de Belo Horizonte Jos Oswaldo de Araujo pela visita

    de Continentino, al cual se ha puesto en contacto con los funcionarios tecnicos que

    se encontraban a cargo de las reparticiones que deseaba visitar su recomendado,

    quienes recibieron instrucciones de suministrarle cuantos informes recabara en el

    desempeo de la misin que le fuera confiada.25 Neste mesmo ano publicou tambm

    o artigo Urbanismo; Generalidades; Subdiviso de terrenos; Vias pblicas; Sistemas

    de transportes; Trfego urbano, no qual discorria sobre vrios aspectos relacionados

    com o urbanismo, com a indicao de exemplos significativos como o Plano de

    Avenidas, desenvolvido por Prestes Maia, para So Paulo. A responsabilidade pela

    organizao das cidades cabia ao urbanista e o termo organizar sempre foi

    evidenciado por Continentino nos seus planos, em particular nas intervenes

    voltadas para a criao de cidades novas ou mesmo envolvendo reas de expanso

    das existentes. Este termo estava relacionado com a concepo de um plano de

    conjunto que envolvia o zoneamento (zoning), o cdigo de edificaes (housing), o

    trfego, o transporte e o sistema de parques e jardins.26 Com isso, seguia a tradio

    dos engenheiros que atuaram em Minas Gerais, desde Aaro Reis e Francisco Bicalho,

    at Loureno Baeta Neves, com o olhar voltado para os problemas urbansticos. Os

    primeiros eram respeitados pela criao de Belo Horizonte, como mencionado, ainda

    no final do sculo XIX e Baeta Neves atuara como engenheiro-chefe da Comisso de

    Melhoramentos Municipais, instalada em 1911, com vrias propostas para pequenas e

    25 Em telegrama do Intendente Municipal de Buenos Aires ao Prefeito de Belo Horizonte. Buenos Aires, 8 de agosto de 1938. 26 Das publicaes de Continentino temos: CONTINENTINO, L. de C. Saneamento e Urbanismo. Belo Horizonte: Livraria Editora Mdica, 1937, 373 p. Tambm: CONTINENTINO, L. de C. O problema da limpeza Pblica. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 1932, 338 p., Tese para Livre-Docente da Escola de Engenharia da UMG. E ainda: CONTINENTINO, L. de C. Administrao Municipal e Urbanismo. Belo Horizonte: 1939, Monografia EEUFMG. ____. Teoria da filtrao das guas.Filtros lentos, tratamentos preliminares, tipos diversos de filtros lentos.Qualidade da areia, rendimento, rgos acessrios e pormenores de construo. So Paulo: 1940, paginao irregular, Tese para concurso de catedrtico da cadeira n11 Hidrulica, Hidrulica Urbana e Saneamento Escola Politcnica/USP. ____. Tratamento dos esgotos de Belo Horizonte.Belo Horizonte: 1939, paginao irregular, Tese para concurso de catedrtico da cadeira de Higiene, Saneamento e Traado das Cidades Escola de Engenharia/UMG.

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    mdias cidades mineiras e, posteriormente, na Comisso Tcnica Consultiva tambm

    mencionada. Assim, Continentino tambm iria alm das questes de higiene,

    buscando compreender o significado dos planos de urbanismo e os seus componentes.

    A atuao profissional deste engenheiro, como uma extenso ao seu percurso

    acadmico, compreendeu a elaborao de inmeros projetos como mencionado. Esta

    atuao era dividida por trabalhos desenvolvidos pelo Escritrio Lincoln Continentino,

    voltado para a engenharia, o urbanismo e o saneamento, com sede em Belo

    Horizonte 27 , e por encargos junto ao poder pblico, como consultor tcnico, nas

    esferas federal, estadual e municipal, alm da atuao como docente.28 Quando da

    sua transferncia para o Rio de Janeiro, constituiu a Empresa Tcnica Lincoln

    Continentino &Cia. Ltda, com sede nas cidades de Niteri e do Rio de Janeiro,

    respectivamente. 29 A mudana para o Rio de Janeiro nos anos 1940 foi por

    insatisfao com relao ao momento poltico vivido em Belo Horizonte, no qual as

    suas propostas no se materializavam, o que gerou um grande descontentamento

    com a cidade. Este desencanto com Belo Horizonte provocou assim, a sua

    transferncia para o Rio de Janeiro, tendo deixado o Estado (de Minas Gerais) e

    abandonado uma colocao que me garantiria o futuro, cansado de lutar em vo pela

    causa pblica, tive de comear a vida de novo em um grande centro onde tudo

    difcil para os principiantes e at hoje prevalece esta situao.30 Mesmo distante da

    cidade, Continentino continuou a interferir nos rumos do planejamento de Belo

    Horizonte para onde retornaria posteriormente, nos anos 1950.31

    Atravs dos seus escritrios, Continentino elaborou projetos para prefeituras de

    27Na documentao levantada, o escritrio funcionou nos seguintes endereos: Rua Gonalves Dias, n 320; e, nos anos 50, Av. Bias Fortes, n 583. 28 Da atuao de Continentino destacamos trabalhos junto a Prefeitura de Belo Horizonte, entre 1938 e 1940 e entre 1951 e 1959. No governo do Estado esteve vinculado a Secretaria de Viao e Obras Pblicas de 1937 a 1942. Lecionou na Escola de Saude Publica do Estado de 1956 a 1958. No mbito federal, atuou como docente a partir de 1927, como professor do curso de Engenharia da ento UMG (posteriormente UFMG), at 1965, tendo assumido outras incumbncias como na Faculdade de Filosofia de Belo Horizonte (posteriormente FAFICH/UFMG), em 1940, na Escola de Arquitetura da UMG (posteriormente UFMG), em 1941, no curso de Engenharia Sanitria do Departamento Nacional de Sade, de 1940 a 1945. Em 1936 atuou na comisso para o projeto da Universidade do Brasil. Em 1951 integrou a Comisso do Vale do So Francisco. Em 1956 foi designado para a comisso de estudos para a organizao do Instituto Superior de Urbanismo. 29O escritrio se localizava Av. Almirante Barroso, n90 - 6 andar, em Niteri, e rua General Cmara, n 8 - 2 andar, no Rio de Janeiro. 30Em correspondncia endereada Prefeitura de Belo Vale, ver: CONTINENTINO, L. de C. Carta ao Prefeito de Belo Vale. Rio de Janeiro: 7 de fevereiro de 1945. 31 O nome de Continentino foi excludo da folha de pagamento da Prefeitura em maio de 1940, onde consta prestao de servios de 18 de maio de 1938 at 30 de abril de 1940. A exonerao pelo governo do Estado do cargo de chefe de servios tcnicos da Secretaria de Viao e Obras Pblicas foi em 7 de maio de 1942, sendo que a sua posse neste cargo foi em 3 de novembro de 1937. No perodo de 1 de maro de 1942 a 28 de fevereiro de 1947, consta licena do cargo de docente da Escola de Engenharia para tratar de assuntos particulares, esta renovada at 1949.

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    cidades mineiras e do interior do Estado do Rio de Janeiro, as quais ele prprio

    enviava cartas de apresentao, nas quais resumia o seu currculo profissional, com

    propostas para a execuo de servios, nem todas estas tendo sido aceitas. No Rio,

    ressaltava que sempre esteve em contato com ministrios e rgos tcnicos. Em

    Minas Gerais, Continentino enviou cartas de apresentao para as cidades de Alm

    Paraba e Porto Novo, distrito desta, Barbacena, Belo Vale, Curvelo, Diamantina,

    Dores de Boa Esperana, Governador Valadares, Itajub, Poos de Caldas, Prata, So

    Loureno e Vigia.

    Como resultado destas ingerncias, no perodo compreendido entre os anos 30

    e 40, temos a elaborao de inmeras propostas para as cidades, marcadas pelo

    interesse na definio do termo urbanismo, bem como pela divulgao das idias

    relacionadas com o tema. E vrias foram as definies elencadas, as quais serviam

    para introduzir as suas proposies. Dentre os autores brasileiros sobre saneamento e

    urbanismo, listava diversos profissionais, com formaes diferenciadas, como

    engenheiros civis, engenheiros arquitetos e mdicos. O primeiro da lista era Saturnino

    de Brito, cuja obra constituiu um importante referencial para o trabalho de

    Continentino. Outros tcnicos foram tambm listados, por terem escrito sobre o

    assunto ou por terem desenvolvido projetos especficos para as cidades, como

    Loureno Baeta Neves, Washington de Azevedo, Prestes Maia, Anhaia Mello,

    Domingos Cunha, Armando de Godoy, Antnio de Siqueira, Attlio Correia Lima,

    Francisco Baptista de Oliveira, Eduardo de Menezes, Fernando Xavier, etc. Alm dos

    brasileiros, a listagem incluia trabalhos de autores estrangeiros, como J. Stbben,

    Robert Whitten, John Nolen, Hubbard & Hubbard, Nelson P. Lewis, Thomas Adams,

    Raymond Unwin, Olmstead and Kimbal, Ren Danger, Marcel Pote, Alfred Agache,

    Bennoit-Levy, Le Corbusier, Camilo Sitte, Patrick Abercombrie, etc. Como

    percebemos, o leque de referenciais era amplo e no fazia distino entre vertentes

    de urbanismo especficas, sendo que, na aplicao deste iderio, as preferncias de

    Continentino se alinhavam com o pensamento sanitarista, dentre os quais faziam

    parte Saturnino de Brito e Loureno Baeta Neves.32

    Dos componentes defendidos por Brito, Continentino privilegiava o traado das

    cidades, visando a adequao das vias topografia do lugar. Na organizao dos

    planos, esta adequao visava facilitar a execuo dos trabalhos sanitrios, ...de

    maneira a ajustar o esquema do plano a traar e a topografia do terreno, para facilitar

    32As referncias de Continentino foram anotadas no seu livro Saneamento e Urbanismo. Ver: CONTINENTINO, L. de C. Saneamento e Urbanismo, op. cit.

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    consideravelmente os projetos de esgotos e permitir economizar bastante nos

    trabalhos de construo e mesmo na sua explorao.33 Este princpio, aliado a outros

    sistematizados por Saturnino de Brito, foi apropriado por Continentino, nas suas

    propostas voltadas para as cidades, como uma continuidade ao que j fra esboado

    por Baeta Neves, o qual tambm adotara a tcnica sanitria de Brito, nas propostas

    de melhoramentos para as cidades mineiras. frente da Comisso de Melhoramentos,

    Neves ressaltava, que os trabalhos desta comisso

    tiveram nos ultimos tempos um consideravel desenvolvimento s conseguido graas as normas que lhe assegurastes, approvando o criterio technico que para a mesma trouxe o seu engenheiro chefe, inspirado nos trabalhos do grande brasileiro dr. Francisco Saturnino Rodrigues de Brito, eminente especialista a quem o Brasil deve a systematizao dos seus servios de engenharia sanitaria (NEVES, 1914, p.6)

    No tocante administrao municipal, alm das prprias referncias trazidas

    dos Estados Unidos, Continentino seguia os passos de Anhaia Mello, destacando o

    exemplo deste engenheiro ...que, em So Paulo, realizou varias conferencias no

    Instituto de Engenharia e no Rotary Club, tendo-as posteriormente enfeixado em

    varios volumes, impressos sob o ttulo Problemas de Urbanismo. 34 Outras

    preocupaes se colocavam, na sua estratgia para o enfrentamento das questes

    relacionadas com as cidades, como o financiamento dos servios pblicos municipais,

    afinal ...como norma geral, no se deve perder de vista que todo servio publico

    precisa ser self-suporting, isto , que as despesas com projecto, construco,

    installao e custeio dos mesmos, devem ser proporcional e equitativamente

    distribudas por aquelles que auferem directa e indirectamente os benefcios do

    servio.35A autonomia municipal constituia outro tema discutido por Continentino,

    com base na experincia norte-americana, ...nos Estados Unidos a noo de

    autoridade e fora de governo evoluiu consideravelmente nos ultimos tempos, em

    detrimento da liberdade individual, mas visando-se o interesse collectivo. 36

    Ressaltava ainda que o critrio tcnico deveria prevalecer sobre os critrios polticos,

    nas questes relacionadas com a administrao pblica, ...por mais que queiram

    33BRITO, F. S. R. de.Urbanismo: traado sanitrio das cidades, estudos diversos. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1944, Obras completas de Saturnino de Brito, vol. XX, p.29,...de manire mettre daccord le schma du plan tracer et la topographie du terrain, pour faciliter considrablement les projets dgouts et permettre dconomiser beaucoup dans les travaux de construction et mme dans lexploitation. 34CONTINENTINO, L. de C. Saneamento e urbanismo. Belo Horizonte: Livraria Editora Mdica, 1937, p.317. 35CONTINENTINO, L. de C. Saneamento e urbanismo, op. cit., p.326. 36CONTINENTINO, L. de C., op. cit., p.327.

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    apressados e superfluos argumentadores criticar, diminuir o valor dos especialistas,

    certo e infallivel que sobre a civilizao moderna, a technica especializada exerce uma

    influencia marcada, preponderante. 37 Para ele, os municpios deveriam ser

    subordinados ao estado, pois este concentrava os tcnicos mais habilitados e

    familiarizados com os problemas urbanos, atravs de rgos tcnicos, que

    coordenariam as aes na esfera municipal. Esta ingerncia, por parte do estado,

    abrangeria diversas atividades, em particular aquelas relacionadas com o urbanismo.

    Continentino ressaltava ainda que os problemas referentes gesto administrativa

    das cidades se originaram a partir de mltiplos olhares, como a lei de zoneamento

    de New York de 1916 e sua disseminao, o Regional Plan of New Yok and its

    Environs, as solues para insero dos arranha-cus, as solues para o trfego de

    veculos na experincia de Radburn, as Comisses de Planos, os Planning Boards,

    passam a ser referncias largamente abordadas. 38 Outros profissionais, como

    Armando de Godoy, Washington de Azevedo e Prestes Maia, tcnicos experientes,

    esboavam preocupaes semelhantes, sendo que, para Continentino, as realizaes

    destes urbanistas eram consideradas exemplares.

    Continentino tambm ressaltava, o estgio avanado da legislao urbanstica

    em pases como Itlia, Prssia, Holanda e Sucia, com destaque para o Town Plan

    Act, elaborado na Inglaterra em 1919. Considerava, ainda, que nos Estados Unidos, o

    progresso urbano havia atingido a sua mxima perfeio, sendo que, a cidade norte-

    americana, se colocava como um verdadeiro laboratrio de cincia poltica. Sobre as

    realizaes do urbanismo no Brasil, mencionava o Plano Agache no Rio de Janeiro, por

    Alfred Agache, em 1930, a concluso do Plano de Avenidas, por Prestes Maia, em So

    Paulo, tambm em 1930, alm dos planos de Recife e Porto Alegre, estes ltimos

    elaborados em 1932. Continentino ainda destacava o contato com outros urbanistas,

    que proporcionava importantes trocas de experincias, uma prtica que Continentino

    sempre soube cultivar. Como mencionado, as impresses de uma viagem, que fez aos

    estados do sul e Argentina, em 1938, revelam o seu encontro com Carlos Della

    Paolera, diretor tcnico do Plano de Urbanismo de Buenos Aires, cujos smbolos,

    representados pelo ar, sol e vegetao, defendidos por Paolera, haviam sido

    incorporados aos trabalhos de Continentino. Outros componentes adotados por

    Continentino, tambm presentes no plano para Buenos Aires, consistiam na

    implantao de um grande parque, bem como de um sistema completo de parques e

    37CONTINENTINO, L. de C., op. cit., p.328. 38FELDMAN, Sarah. Os anos 30 e a difuso do urbanismo americano. ANAIS DO V SEMINRIO DE HISTRIA DA CIDADE E DO URBANISMO. CAMPINAS: FAU/PUC, 1998, p.2.

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    jardins (park-ways), estendendo-se por toda a cidade.

    Por esta via, Continentino adotou os princpios do iderio garden city

    reinterpretados para a realidade das nossas cidades, com os exemplos ingleses,

    representados por Letchworth e Welwyn, e a matriz norte-americana, ligada ao

    subrbio jardim de Radburn, como modelos urbansticos. Esta reinterpretao

    significava adaptar as solues tcnicas para cada caso, vislumbrando a construo de

    uma cidade moderna, apesar de estar consciente das dificuldades implicadas. O

    distanciamento, entre o real e o ideal, era do seu pleno conhecimento, pois ...a

    concepo moderna de Howard, das cidades jardins, a mais simples e econmica para

    reas residenciais, ainda no obteve no Brasil, a consagrao merecida, isto porque,

    por incrvel que parea, ainda no foi aplicada integralmente entre ns. 39 Estas

    consideraes valiam para as suas proposies urbansticas, tanto aquelas

    materializadas de modo incompleto, quanto aquelas que permaneceram no papel.

    Assim, para Continentino, o urbanismo abrangia um vasto campo de ao,

    tendo como principal objetivo o aperfeioamento dos aglomerados urbanos, com a

    sistematizao e a coordenao de todas as funes municipais, incluindo os servios

    pblicos e todas as atividades urbanas, com vistas ao progresso material e social das

    comunidades e o bem estar dos seus cidados. Ressaltava ainda que o urbanismo

    consistia em um saber especfico como sciencia e arte ao mesmo tempo, estylo

    seculo XX, epocha de collaborao e trabalho de conjuncto, deve-se recorrer aos

    conhecimentos oriundos de todas sciencias e artes, afim de utiliza-los em prol do

    desenvolvimento racional das cidades modernas. 40 E as responsabilidades pela

    elaborao do plano deveriam ser distribudas como um trabalho multidisciplinar,

    desenvolvido por uma equipe tcnica, afinal o plano geral racional de urbanismo,

    (deve ser) estudado conveniente e demoradamente por autoridades medicas,

    engenheiros sanitarios e urbanistas.41A implementao do plano, deveria ser feita

    pela administrao municipal, que mobilizaria os tcnicos, para a elaborao da

    legislao necessria, alm de proporcionar a divulgao dos trabalhos para a

    conquista da opinio pblica. Neste sentido, o plano era considerado como uma

    concepo tcnica altamente especializada que, no entanto, se caracterizava tambm

    como uma obra de arte. Os estudos preliminares incluiam uma planta cadastral

    planimtrica e altimtrica da regio, o que era fundamental para a sua elaborao. O

    39 CONTINENTINO, L. de C. Urbanizao de Belo Horizonte e seu saneamento. ARQUITETURA E ENGENHARIA, ano V, no5-6, maro e abril de 1954, p.69. 40CONTINENTINO, L. de C. Saneamento e urbanismo, op. cit., p.319. 41CONTINENTINO, L. de C., op. cit., p.248.

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    URBANA, V.5, n6, mar.2013 - Dossi: Urbanistas e Urbanismo- CIEC/UNICAMP

    plano deveria assegurar ainda a melhor distribuio das indstrias e da populao,

    como ele se referia, intra, inter e extra-urbana, cuja concepo envolveria o estudo

    adequado das condies sociais e econmicas, bem como das tendncias do

    desenvolvimento urbano. Por esta via, almejava-se o progresso cvico, na perspectiva

    de uma verdadeira economia e na busca de condies de vida salubre.

    Figura 06 Cidade Operria de Monlevade: Plano de Urbanismo, Implantao geral na proposta de

    Lincoln Continentino e Joo Penna Filho, com recorte ampliado. Na parte superior o ttulo CIDADE-

    OPERRIA-MONLEVADE: PLANO DE URBANISMO, escala graphica 1:1000, projecto apresentado por

    Lincoln Continentino e Joo Penna Filho, engenheiros-civis. Na parte inferior, legenda apresentando os

    seguintes equipamentos: 1. Igreja; 2. Armazm; 3. Clube ; 4. Cinema; 5. Escola; 6. Administrao; 7.

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    URBANA, V.5, n6, mar.2013 - Dossi: Urbanistas e Urbanismo- CIEC/UNICAMP

    Delegacia, Correios e Telgrafos; e outros trechos ilegveis. Prancha alterada e colorida por Raquel

    Portes. Fonte: Urbanismomg/UFJF.

    Os problemas de urbanismo, deveriam ser estudados, levando-se em

    considerao as especificidades de cada caso e os fatores relacionados com os

    mesmos, em face da complexidade da vida moderna. Neste sentido, Continentino

    preconizava o esprito cientfico e o critrio tcnico, alm da necessidade do estudo

    dos mtodos de urbanizao do passado, para a soluo dos problemas fsicos e

    econmicos das cidades. Um aspecto importante para atingir estes objetivos era a

    cooperao entre o poder pblico, a iniciativa privada, os tcnicos, os proprietrios e

    os cidados comuns, sendo que as regras do urbanismo moderno deveriam ser

    aplicadas para que as cidades no se desenvolvessem de maneira tumulturia e

    desorientadamente.

    As propostas urbansticas desenvolvidas por Lincoln Continentino, como

    mencionado para o Barreiro do Arax, para os leprosarios, para Belo Horizonte e para

    Monlevade, entre outras, buscavam orientar o desenvolvimento das cidades, por meio

    da organizao de um plano geral, cuja incumbncia caberia a um especialista. Isso

    se aplicava tanto para as intervenes sobre as cidades existentes, quanto para a

    concepo de cidades novas, sendo que os componentes do plano de urbanismo

    estavam diretamente relacionados ampliao das reas verdes das cidades,

    incluindo taxas de ocupao mais reduzidas, com a criao de parques, interligados

    por avenidas arteriais. Tais tcnicas possibilitariam a introduo de novas idias

    urbansticas, representadas pelo zoneamento, pela circulao e pelo trfego urbano,

    pela regulamentao das edificaes e pelo sistema recreativo de parques e jardins.

    Atravs do zoneamento (zoning) se previa a diviso da cidade por setores funcionais,

    estes classificados, de maneira geral, em zonas residencial, comercial e industrial.

    Boulevares e avenidas parques ou park-ways, conjugados com avenidas de contorno,

    integravam o sistema virio. Os parmetros urbansticos deveriam considerar as

    edificaes no seu conjunto, umas em relao s outras e no individualmente.Esta

    regulamentao (housing) proporcionaria maiores benefcios para a coletividade. Os

    sistemas de recreio, compostos por campos de recreio para crianas, campos de

    atletismo, jardins, parques, bosques e reservas florestais na periferia reforavam o

    carter de cidade-jardim do conjunto urbano. Somava-se a estes componentes a

    opo por um traado adequado ao stio de implantao, na medida em que

    os typos rigidos de arruamentos, dispostos segundo um systema

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    URBANA, V.5, n6, mar.2013 - Dossi: Urbanistas e Urbanismo- CIEC/UNICAMP

    quadrangular, triangular, ou em xadrz (gridiron system) no mais se justificam a no serem em condies muito especiaes. A insero de um systema de ruas em xadrz, sem entrar em considerao com as condies topographicas locaes, acarreta varios erros, condemnados pelo urbanismo, principalmente o de rampas excessivas (CONTINENTINO, 1954, p.322)

    Continentino ressaltava tambm que os distritos residenciais deveriam compor

    ...cidades cellulares de vida autnoma neighborhood units ()42com a unidade de

    vizinhana como um componente essencial para o desenvolvimento mais qualificado

    das cidades. O sistema virio destes setores deveria obedecer aos tipos de

    arruamentos das cidades-jardins, evitando-se o emprego de muros confinantes, e,

    quando possvel, deveria ser empregada a soluo do tipo cul-de-sac.

    Outro ponto a considerar, refere-se ao aspecto regional do plano de urbanismo,

    o que antecipava questes que seriam debatidas apenas nos anos 50, no Brasil, na

    medida em que as questes municipaes affectam por vezes a varios municipios em

    conjuncto. So pois inter-municipaes. Outras vezes as grandes cidades tentaculares

    extendem seus servios a cidades vizinhas menores, alargando assim, sua esphera de

    aco. 43 Como soluo para o problema das grandes metrpoles, cuja expanso

    urbana ampliava de maneira ilimitada os seus horizontes preconizava a

    descentralizao, por meio de cidades-jardins satlites, ...afim de tornar mais

    econmicos os servios pblicos, que encarecem extraordinariamente quando as

    cidades se extendem em demasia.44

    Vale dizer ainda que as propostas elaboradas por Continentino eram precedidas

    de estudos minuciosos, nos quais discorria sobre os principais aspectos, que

    interferiam nas solues, e procurava destacar os problemas mais evidentes, no

    quadro de preexistncias, como um diagnstico preliminar. Atravs destes estudos,

    eram introduzidos os princpios bsicos e as idias gerais a serem aplicados, com

    vistas a contemplar a especificidade de cada caso, com a definio dos componentes

    necessrios para a organizao dos planos, com nfase para a necessidade da

    aplicao das regras do urbanismo moderno. Continentino estruturava a sua

    composio urbanstica, em funo destas normas referentes porcentagem de

    reas, ao parcelamento, ao zoneamento, ao sistema virio, aos tipos de habitao e

    equipamentos pblicos e infraestrutura urbana. Mesmo buscando uma adaptao,

    de acordo com os condicionantes locais, vrias destas regras eram reproduzidas em

    42CONTINENTINO, L. de C., idem, p.323. 43CONTINENTINO, L. de C. idem, p.321. 44CONTINENTINO, L. de C. idem, p.325.

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    URBANA, V.5, n6, mar.2013 - Dossi: Urbanistas e Urbanismo- CIEC/UNICAMP

    contextos distintos. Assim, verificamos o mesmo enfoque para situaes diversas,

    como nos casos mencionados, para a organizao de leprosrios; tambm para as

    intervenes em centros urbanos preexistentes, como no Barreiro do Arax/MG ou

    mesmo a criao de uma cidade operria, como no concurso para Monlevade/MG;

    alm do plano para a capital mineira, Belo Horizonte.

    Os principais argumentos, que compem o iderio urbanstico de Lincoln

    Continentino revelam a importncia da contribuio deste tcnico para o pensamento

    e para as prticas sobre as cidades brasileiras. Urbanistas brasileiros e estrangeiros,

    autores que escreveram sobre saneamento e urbanismo, foram citados, como

    referenciais para as intervenes propostas. Diversos exemplos de idealizaes,

    realizaes, e modelos apropriados para a realidade brasileira, foram tambm

    empregados. Neste sentido, os iderios de urbanismo que circulavam pelos fruns de

    conhecimento eram reintroduzidos, com enfoque vinculado linhagem dos

    engenheiros sanitaristas, pioneiros no urbanismo brasileiro, solidrios aos conceitos

    de cidade-jardim de Howard e a sua verso norte-americana representada pelo

    subrbio-jardim de Radburn, desenvolvido por Clarence Stein e Henry Wright. Neste

    sentido, a formao assentada nos princpios da engenharia sanitria, foi marcada por

    uma viso prtica e objetiva dos problemas, no deixando que ele se abatesse pelas

    dificuldades interpostas na aplicao das suas idias. E vrios foram os obstculos

    enfrentados por este urbanista, cujo apelo neutralidade cientfica e crena no

    progresso alicerado pela cincia eram recorrentes. Os inmeros projetos urbansticos

    e textos comprovam o papel deste profissional para a formao do urbanismo no

    Brasil.

    Nos anos 50 e nas dcadas seguintes, Continentino continuou a empregar os

    mesmos argumentos para o desenvolvimento das cidades com uma preocupao, no

    entanto, para questes mais abrangentes, numa escala nacional, como por exemplo a

    transposio das guas do rio So Francisco, mencionada anteriormente, a construo

    de barragens e ligaes regionais, por meio da implementao de vias frreas. Os

    problemas mais especficos, relacionados com a urbanizao de cidades, ou mesmo a

    criao de cidades novas, pelas quais tanto se debateu durante anos, permaneceram,

    neste perodo, em segundo plano. Tanto as questes de carter nacional, quanto

    aquelas relacionadas com a especificidade das cidades, permanecem em aberto, como

    campo de trabalho na atualidade.

    Agradecimentos

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    URBANA, V.5, n6, mar.2013 - Dossi: Urbanistas e Urbanismo- CIEC/UNICAMP

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