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150195680 Gestao Ambiental Empresarial Jose Carlos Barbieri PDF

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GESTO AMBIENTAL EMPRESARIALConceitos, Modelos e Instrumentos

Jos Carlos Barbieri

Gesto ambiental empresarialConceitos, modelos e instrumentoswww.saraivauni.com.br

Gesto ambiental empresarialConceitos, modelos e instrumentosJos Carlos Barbieri2a Edio Revista e AtualizadaEditoraIIP Saraiva

EditoraSaraivaRua Henrique Schauinann, 270 - CEP: 05413-010Pinheiros Te! PABX (0XX11) 3613-3000Fax: (11) 3611 -3308 Televendas (0XX11 > 3613-3344Tax Vendas (0XX11) 3611-3268 So Paulo - SPEndereo Internet: http://www.editorasaraiva.com.brFiliais:AMAZONAS/RONDNIA/RORAI.WACRERua Costa Azevedo. 56 CentroFone/Fax: (0XX92) 3633-4227 / 3633-4782 ManausBAHIA/SERGIPERua Agripino Orea, 23 BrotasFone: I0XX71) 3381 -5854 / 3381 -5895 / 3381 -0959 SalvadorBAURU/SO PAULO (sata dos professores)Rua Monsenhor Oaro. 2-55/2-57 Centro Fone. (0XX14) 3234-5643 3234-7401 Bauru CAMPINAS/SO PAULO (sala dos professores)Rua Camargo Pimentel. 660 M Guanabara Fone: (0XX19) 3243-8004 / 3243 8259 CampinascearA/piauI/maranhoAv. Filomeno Gomes, 670 JacarecangaFone. (0XX85) 3238-2323 / 3238-1331 FortalezaDISTRITO FEDERALSiAiSUL Trecho 2 Lote 850 71200-020 Setor de Indstria e AbastecimentoFone: (0XX61) 3344-2920 / 3344-2951 / 3344-1709 Brasha GOIS/TOCANTINSAv. independncia, 5330 Setor AeroportoFone: (0XX62) 3225-2882 / 3212-2806 / 3224-3016 GoiniaMATO GROSSO 00 SUL/MATO GROSSORua 14 de Julho. 3148 CentroFone: (0XX6713352-3682 / 3382-0112 Campo GrandeMINAS GERAISRua Alm Paraba. 449 Lagointia Fone (0XX31) 3429-8300 Belo HorizontePAR/AMAPTravessa Apinags. 186 Batista CamposFone: (0XX91) 3222-9034 / 3224-9038 / 3241-0499 BelmPARAN/SANTA CATARINARua Conselheiro Laurindo, 2895 Prado VelhoFone. (OXX41) 3332-4894 CuritibaPERNAMBUCO/ALAGOAS/PARABA/R. G, DO NORTERua Corredor do Bispo, 185 Boa VistaFone: (0XX81) 3421 -4246 f 3421-4510 RecifeRIBEIRO PRETO/SAO PAULOAv. Francisco Junqueira, 1255 CentroFone: (0XX16) 3610-5843 / 3610-8284 Ribeiro PretoRIO DE JANEIRO/ESPIRITO SANTORua Visconde de Santa isabe; 113 a 119 Vila IsabelFone: (0XX21) 2577-9494 / 2577-8867 / 2577-9565 Rio de JaneiroRIO GRANDE DO SULAv. A. J. Renner. 231 FarraposFone/Fax: (OXXSI) 3371 -4001 / 3371 1467 / 3371-1567 Porto AlegreSO JOS 00 RIO PRETO/SO PAULO (sala dos professores)Av Brig, Faria Lima, 6363 Rio Preto Shopping Center V, So Jos Fone. (0XX17) 227 3819 / 227 0982 / 227-5249 So Jos do Rio PretoSO JOS DOS CAMPOS/SO PAULO (sala dos professores)Rua Santa Luria, 106 Jd Santa Madalena Fone: (0XX12) 3921 -0732 So Jos dos Campos SO PAULOAv. Antrtica, 92 - Barra FundaFone: PABX (0XX11) 3613-3000 / 3611 -3308 So Paulo

ISBN 978-85-02-05952-8CIP-Brasil. Catalogao na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.Barbieri. Jos CarlosGesto ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos / Jos Carlos Barbieri. - 2.ed. atual e ampliada. - So Paulo: Saraiva, 2007.AnexosInclui bibliografia ISBN 978-85-02-05952-81. Gesto ambiental. 2. Politica ambiental. 3. Administrao de empresas - Aspectos ambientais. I. Titulo.CDD: 363.707-0325.CDU:504.06Copyright Jos Carlos Barbieri 2007 Editora Saraiva Todos os direitos ReservadosDiretora editorial: Flvia Helena Dante Alves Bravin Gerente editorial: Mareio Coelho Editoras: Gisele Folha MsJuliana Rodrigues de Queiroz Produo editorial: Daniela Nogueira Secondo Rosana Peroni Fazolari Marketing editorial: Nathalia Setrini Aquisies: Rita de Cssia da Silva Arte e produo: Cia. Editorial Capa: Weber Amendla2* edio1-tiragem: 2007 2* tiragem: 2008 3* tiragem: 2008 4* tiragem: 2009 5- tiragem: 2010Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prvia autorizao da Editora Saraiva.A violao dos direitos autorais crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Cdigo Penal.

Marilerta, Natlia, Carolina Luisa, Marta c Francisca, companheiras cias minhas jornadas e memria cie Hugo Barbieri.

Sobre o autorJos Carlos Barbieri professor do Departamento de Administrao da Produo e Operaes da Escola de Administrao de Empresas de So Paulo da Fundao Getulio Vargas (FGV/EAESP-POl) desde 1992. doutor em administrao pela FGV/EAESR Lecionou na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, onde coordenou o curso de Administrao, atuou como membro do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extenso da Universidade, foi Coordenador do Planejamento Administrativo e desenvolveu diversas atividades de extenso universitria. Como Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo (1PT) desenvolveu atividades nas reas de Sistemas de Informaes, Propriedade Industrial e Transferncia de Tecnologia. fundador e atual coordenador do Centro de Estudos de Administrao e do Meio Ambiente na EAESP (Ceama), que tem, entre outras funes, a de realizar pesquisas e desenvolver prticas administrativas e operacionais ambientalmente corretas. membro do Forum de Inovao da EAESP Atua na rea de gesto do meio ambiente no Programa de Ps-Graduao da EAESP. Coordena e atua em diversos projetos de pesquisa nas reas de gesto do meio ambiente e da inovao. Participa de comits cientficos de diversas revistas e congressos cientficos nacionais e internacionais, bem como de vrias agncias de fomento para as reas cientficas e tecnolgicas. Autor de livros, captulos de livros e dezenas de artigos sobre gesto ambiental e inovao publicados no Brasil e em diversos pases.Contato com o autor: [email protected]

SumrioIntroduo1Captulo 1: Meio ambiente e gesto ambiental50 meio ambiente como fonte de recursos8Recursos e nvel de produo160 meio ambiente como recipiente de resduos20Gesto ambiental25Dimenses da gesto ambiental26Termos e conceitos importantes29Questes para reviso29Referncias30Captulo 2: Gesto ambiental global e regional33Aquecimento global37Destruio da camada de oznio45Proteo da biodiversidade48Iniciativas da sociedade civil56Gesto ambiental regional57Unio Europia58Mercosul60Nafta63

XGesto ambiental empresarialGlobais comuns63

Gesto ambiental nacional e local65

Termos e conceitos importantes66

Questes para reviso67

Referncias68

Captulo 3: Polticas pblicas ambientais71

Instrumentos de comando e controle72

Instrumentos fiscais75

Princpio do poluidor pagador77

Instrumentos pblicos de mercado80

Eficcia dos instrumentos83

0 papel das inovaes tecnolgicas86

A educao ambiental88

Acordos voluntrios89

Acordos voluntrios pblicos91

Acordos voluntrios de iniciativas empresariais93

Poltica pblica ambiental brasileira97

A Poltica Nacional do Meio Ambiente100

Constituio Federal de 1988101

Instrumentos de poltica pblica103

Termos e conceitos importantes108

Questes para reviso108

Referncias109

Captulo 4: Gesto ambiental empresarial113

Abordagens para a gesto ambiental empresarial118

Controle da poluio118

Preveno da poluio122

Abordagem estratgica125

Comparao com a gesto da qualidade128

Modelos de gesto ambiental129Atuao responsvel130Administrao da Qualidade Ambiental Total (TQEM)132Produo Mais Limpa134Ecoeficincia137Projeto para o Meio Ambiente139Combinando modelos143Modelos inspirados na natureza143Instrumentos de gesto149Termos e conceitos importantes150Questes para reviso150Referncias151Captulo 5: Sistemas de gesto ambiental153O sistema proposto pela Cmara de Comrcio Internacional1540 Sistema Comunitrio de Ecogesto e Auditoria155Normas voluntrias sobre sistemas de gesto ambiental .158A Famlia de normas ISO 14000..159Avaliao do Ciclo de Vida164Rtulos ambientais165As normas ISO 14000 sobre sistemas de gesto ambiental166Requisitos gerais do sistema de gesto ambiental168Poltica ambiental170Aspectos ambientais172Requisitos legais e outros176Objetivos, metas e programas177Recursos, funes, responsabilidades e autoridades180Competncia, treinamento e conscientizao182Comunicao183Documentao185

XIIGesto ambiental empresarialControle de documentos187Controle operacional188Preparao e resposta a emergncias189Monitoramento e medio191Avaliao do atendimento a requisitos legais e outros192No-conformidade, ao corretiva e ao preventiva193Controle de registros195Auditoria interna195Anlise pela administrao196Relaes com outros sistemas de gesto197Certificao do sistema de gesto ambiental201Organismo de certificao credenciado (OCC)202Termos e conceitos importantes206Questes para reviso206Referncias208Captulo 6: Auditorias ambientais211Tipos de auditorias ambientais212Auditoria do Sistema de Gesto Ambiental216A Contribuio da Cmara de Comrcio Internacional (ICC)218Processo de auditoria conforme a ICC220Auditoria Ambiental Segundo o Emas224Processo de auditoria do sistema de gesto ambiental225Auditoria ambiental conforme as normas ISO 14000226Princpios de auditoria228Programas de auditoria228Auditores e certificao de auditores230Elementos de anlise234Ativos e passivos ambientais238Auditorias obrigatrias240

SumrioDivulgao dos resultados244Termos e conceitos importantes245Questes para reviso245Referncias247Captulo 7: Relatrios ambientais249Para quem divulgar?251Identificao de usurios2550 que divulgar?258Como divulgar?262Balano social263Modelos e diretrizes de relatrios ambientais268As diretrizes da norma ISO 14063274Termos e conceitos importantes277Questes para reviso278Referncias279Captulo 8: Estudo de Impacto Ambiental281Ciclo do projeto284Impacto ambiental289O EIA como instrumento de poltica pblica291Licenciamento ambiental2920 EIA na legislao brasileira296Obrigatoriedade do EIA297Contedo do EIA299Responsvel pela elaborao do EIA301Relatrio de impacto ambiental (Rima)302Publicidade o EIA/Rima303Estudos auxiliares, substitutos e assemelhados305Alguns mtodos de avaliao de impacto308

XIVGesto ambiental empresarialTermos e conceitos importantes319Questes para reviso320Referncias322Captulo 9: guisa de concluso325Referncias328Anexo 1: Glossrio - informaes adicionaissobre algumas palavras, expresses e siglas329Referncias345Anexo 2: Principais acordos multilaterais sobrequestes ambientais e correlatas347Anexo 3: Declarao do Rio de Janeirosobre meio ambiente e desenvolvimento351Anexo 4: Algumas leis federais importantes357Anexo 5: Carta empresarial para 0 desenvolvimentosustentvel da Cmara de Comrcio Internacional (ICC)361Anexo 6: Atividades e empreendimentos sujeitosao licenciamento ambiental365Siglas371Figuras, quadros e tabelas375ndice remissivo379

IntroduoA preocupao com o estado do meio ambiente no recente, mas foi nas ltimas trs dcadas do sculo XX que ela entrou definitivamente na agenda dos governos de muitos pases e de diversos segmentos da sociedade civil organizada. No mbito empresarial, essa preocupao ainda mais recente, embora no faltassem empresas e entidades empresariais que buscassem prticas ambientalmente saudveis, mesmo quando o assunto apenas comeava a despertar interesse fora dos crculos restritos de especialistas e das comunidades afetadas diretamente pelos problemas ambientais. Na atualidade, o meio ambiente um tema que ganhou as ruas, os auditrios, a imprensa e faz parte do vocabulrio de polticos, empresrios, administradores, lderes sindicais, dirigentes de ONGs e cidados de um modo geral. Porm, para a maioria das empresas, essa preocupao ainda no se transformou em prticas administrativas e operacionais efetivas, pois se tal j estivesse ocorrendo o acmulo de problemas ambientais que coloca em risco todos os seres vivos certamente no se verificaria com a intensidade que hoje se observa. A globalizao dos problemas ambientais um fato incontestvel e as empresas esto, desde a sua origem, no centro desse processo.Todos os temas deste livro so desenvolvidos mediante o confronto de opinies, com o objetivo de apresentar alternativas para as aes de gesto e mostrar as dificuldades de tratar assuntos to polmicos como so os decorrentes da relao empresa-meio ambiente. Da diversidade de opinies e propostas concernentes a cada tema tratado, esse texto procura apresentar as mais importantes do ponto de vista da gesto ambiental empresarial. A gravidade dos problemas ambientais requer uma gesto aberta s inmeras influncias e propostas para se chegar s que melhor se aplicam a cada caso concreto.O primeiro captulo discute os problemas ambientais e apresenta o conceito de gesto ambiental e suas diferentes dimenses. Corno se ver, os problemas ambientais, por mais variados que sejam, decorrem do uso do meio ambiente como fonte de recursos para a produo da subsistncia humana e como recipiente de resduos da produo e consumo,

2Gesto ambiental empresarialproblemas que so agravados pelo modo como os humanos concebem a sua relao com a natureza. Qualquer soluo efetiva para os problemas ambientais ter necessariamente que envolver as empresas, pois so elas que produzem e comercializam a maioria dos bens e servios colocados disposio da sociedade em praticamente todos os cantos do Planeta.O Captulo 2 apresenta iniciativas de gesto ambiental global. Trs problemas globais foram selecionados para exemplificar a gesto nesse nvel de abrangncia: aquecimento global, destruio da camada de oznio e proteo biodiversidade. A globalizao dos problemas ambientais tem sido uma das principais foras indutoras das prticas de gesto ambiental nos nveis de abrangncia regional, nacional e local. A maioria dos rgos ambientais governamentais comeou a ser criada aps a Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972, que pode ser considerada como o marco importante na percepo da globalizao dos problemas ambientais. A legislao ambiental comea a crescer vertiginosamente a partir desse evento, cuja maior contribuio foi a de vincular as questes ambientais s do desenvolvimento. A percepo da globalizao desses problemas se deu muito antes que a palavra globalizao se tornasse amplamente conhecida e associada expanso e integrao das economias sob a gide do mercado, um fenmeno econmico, social, poltico e cultural que, embora no seja em essncia novo, se aprofunda nas duas ltimas dcadas do sculo passado. As iniciativas de gesto ambiental no nvel regional esto representadas pelas experincias da Unio Europia, Mercosul e Nafta. A importncia das organizaes da sociedade civil ressaltada neste e nos demais captulos, sendo que vrios modelos e instrumentos de gesto ambiental discutidos neste texto foram propostos por essas organizaes.As presses exercidas pela opinio pblica e pelos setores organizados da sociedade civil em relao aos problemas ambientais tm levado os governos de praticamente todos os pases a incorporarem de modo crescente as dimenses ambientais em suas polticas pblicas. O objetivo do Captulo 3 mostrar os principais instrumentos explcitos de poltica pblica ambiental e as polmicas que giram em torno deles, quer quanto sua eficcia na resoluo dos problemas para os quais foram criados, quer quanto aos seus efeitos sobre a competitividade das empresas. Depois disso, so apresentadas de modo resumido algumas consideraes sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente. Permeia este livro a idia de que as solues para os problemas ambientais, no estado em que eles se encontram na atualidade, exigem novas posturas empresariais, que por sua vez dependem da conduo de polticas pblicas ambientais apropriadas. Longe de propor a reduo da interveno estatal nesse campo, este texto defende a idia de que uma poltica pblica adequada deve contemplar uma cesta equilibrada de instrumentos de gesto ambiental de diferentes tipos.

Introduo3A gesto ambiental empresarial propriamente dita comea no Captulo 4. de pouca valia falar desse assunto sem antes apresentar o contexto dos problemas ambientais, da regulamentao pblica e das iniciativas globais e regionais. Por isso a demora em chegar ao assunto que d ttulo a este livro. Mas o leitor ser recompensado, pois as diferenas de abordagens e de modelos cle ao empresarial esto relacionadas em muitos aspectos com as posturas adotadas pelas empresas diante dos problemas ambientais gerados por elas, com a legislao qual esto sujeitas e com as suas respostas com respeito a essas iniciativas. Nesse momento so discutidas as abordagens aos problemas ambientais e os diversos modelos de gesto propostos, como o da Gesto da Qualidade Ambiental Total, Produo Mais Limpa, Ecoeficincia, Ecologia Industrial, Simbiose Industrial e outros. Esses modelos so aqui considerados espcies de acordos voluntrios estabelecidos entre as empresas e a sociedade, pois eles trazem componentes pr-ativos no tratamento das questes ambientais pertinentes. Ir alm do que a legislao exige uma caracterstica marcante desses modelos e cada um procura cumprir esse objetivo sob diferentes abordagens e enfoques. Na apresentao e discusso dos modelos foram ressaltadas as diferenas e as semelhanas entre eles, com o intuito de facilitar a sua combinao e estimular a criao de outros que atendam melhor s peculiaridades de uma empresa especfica.Os demais captulos so dedicados a alguns instrumentos de gesto ambiental empresarial. Tambm no faz sentido falar de instrumentos de gesto sem falar nas diferentes abordagens aos problemas ambientais, nos modelos de gesto e na regulamentao pblica. Apesar da existncia de um verdadeiro arsenal de instrumentos para solucionar ou minimizar os problemas ambientais existentes, bem como para evitar que novos sejam criados, o fato que eles ainda so pouco compreendidos no prprio ambiente empresarial. Os instrumentos de gesto tambm suscitam polmicas infindveis, sendo que as mais relevantes foram discutidas, como o caso da obrigatoriedade ou no de alguns deles. H inmeros instrumentos disposio das empresas e o texto faz referncias a diversos deles, embora dedique a ateno aos seguintes: sistemas de gesto ambiental, auditorias ambientais, relatrios ambientais externos e estudos de impactos ambientais. Cada instrumento apresentado segundo diferentes propostas em termos de concepo e procedimentos, alm de uma discusso mais ampla sobre o contexto em que eles se aplicam. Seis anexos completam o texto, sendo que o primeiro um glossrio que apresenta informaes adicionais sobre palavras, expresses e organizaes citadas no texto.Os modelos de gesto e instrumentos aqui apresentados devem ser vistos como meios para alcanar o desenvolvimento sustentvel, assunto tratado no Captulo 2. A vinculao entre meio ambiente e desenvolvimento est presente ao longo do texto. Desenvolvimento

4Gesto ambiental empresarialdeve ser entendido como um processo que objetiva a melhoria qualitativa das condies de vida da populao de um pas, de uma regio ou de um local especfico. Assim, onde se l gesto ambiental, entenda-se gesto socioambiental, pois o objetivo ltimo das prticas aqui tratadas melhorar a qualidade de vida para todos, tanto para os atuais quanto para os futuros habitantes do Planeta.O papel das empresas na promoo de um desenvolvimento que respeite o meio ambiente no resulta apenas da necessidade de resolver os problemas ambientais acumulados ao longo dos anos em decorrncia das suas atividades. Resulta tambm da ampliao da sua influncia em todas as esferas da atividade humana. As empresas se tornaram as principais foras condutoras da sociedade em todos os nveis de abrangncia, do global ao interior dos lares, dos acordos multilaterais comerciais s decises corriqueiras do dia-a-dia de bilhes de pessoas em todas as partes do mundo. Da a emergncia de uma nova concepo de responsabilidade social empresarial que rejeite a velha frmula que se satisfazia em produzir bens e servios dentro da lei. A gesto ambiental deve fazer parte dessa nova responsabilidade social e, como tal, deve refletir o poder ampliado das empresas de modo que elas possam de fato se tornar parceiras do desenvolvimento sustentvel.A segunda edio desse livro atualiza dados e informaes sobre os assuntos tratados que sofreram modificaes aps o seu lanamento em 2004, bem como os instrumentos de gesto ambiental que passaram por revises durante este perodo. Em funo da extenso das alteraes, algumas sees foram completamente modificadas, como as que tratam do Sistema de Gesto Ambiental de acordo com os requisitos da norma ISO 14001, cujo processo revisional promoveu mudanas profundas em relao verso anterior. Alm das atualizaes, esta segunda edio amplia ou reelabora as explicaes sobre certos conceitos, modelos e instrumentos com o objetivo de torn-los ainda mais claros. Essas mudanas resultaram do contato direto ou por e-mail com diversos leitores que apresentaram suas dvidas, crticas e sugestes. A estes os meus sinceros agradecimentos e espero poder contar novamente com a sua colaborao.

1Meio ambiente e gesto ambientalMeio ambiente tudo o que envolve ou cerca os seres vivos. A palavra ambiente vem do latim e o prefixo ambi d a idia de ao redor de algo ou de ambos os lados. O verbo latino ambio, ambire significa andar em volta ou em torno de alguma coisa. Cabe notar que as palavras meio e ambiente trazem per se a idia de entorno e envoltrio, de modo que a expresso meio ambiente encerra uma redundncia. Essa a expresso consagrada no Brasil, na Espanha e nos demais pases que falam o castelhano (medio ambiente)', em Portugal utiliza- se apenas a palavra ambiente, da mesma forma que no italiano. No idioma francs e no ingls utilizam-se as palavras environnement e environment, respectivamente, ambas originadas do francs antigo environer que significa circunscrever, cercar e rodear. O que envolve os seres vivos e as coisas ou o que est ao seu redor o Planeta Terra com todos os seus elementos, tantos os naturais, quanto os alterados e constmdos pelos seres humanos. Assim, por meio ambiente se entende o ambiente natural e o artificial, isto , o ambiente fsico e biolgico originais e o que foi alterado, destrudo e construdo pelos humanos, como as reas urbanas, industriais e rurais. Esses elementos condicionam a existncia dos seres vivos, podendo-se dizer, portanto, que o meio ambiente no apenas o espao onde os seres vivos existem ou podem existir, mas a prpria condio para a existncia de vida na Terra.Odum e Sarmiento distinguem trs tipos de ambientes: (1) o fabricado ou desenvolvido pelos humanos, constitudo pelas cidades, parques industriais e corredores de transportes como rodovias, ferrovias e portos; (2) o ambiente domesticado, que envolve reas agrcolas, florestas plantadas, audes, lagos artificiais etc. e; (3) o ambiente natural, por exemplo as matas virgens e outras regies auto-sustentadas, pois so acionadas apenas pela luz solar e outras foras da natureza, como precipitao, ventos, fluxo de gua etc. e no dependem de qualquer fluxo de energia controlado diretamente pelos humanos, como

6Gesto ambiental empresarialocorre nos dos dois outros ambientes. O ambiente de suporte vida , segundo estes autores, aquela parte da Terra que satisfaz as necessidades fisiolgicas vitais, provendo alimentos e outras formas de energia, nutrientes minerais, ar e gua1. A vida ocorre apenas na biosfera, uma estreita faixa do Planeta constituda pela interao de trs ambientes fsicos: o ambiente terrestre ou litosfera, o aqutico ou hidrosfera, e o atmosfrico, que envolve os outros dois ambientes. A parte terrestre da biosfera apenas a camada slida superficial da litosfera; a da atmosfera a camada rente crosta terrestre denominada troposfera e que alcana cerca de llkm de altitude nos plos e 16km no equador. O meio ambiente, como condio de existncia da vida, envolve a biosfera e estende-se muito alm dos limites em que a vida possvel. Por exemplo, os seres vivos esto condicionados a uma certa exposio s radiaes ultravioleta que, por sua vez, dependem da camada de oznio existente na estratosfera, regio da atmosfera que vai at cerca de 35km de altitude e onde no h vida.Organismos da mesma espcie vivendo juntos formam as populaes e as populaes de vrias espcies vivendo numa mesma rea constituem uma comunidade biolgica. Os organismos e os elementos fsicos e qumicos do meio em que vivem formam um ecossistema ou sistema ecolgico. Segundo Odum, ecossistema uma unidade funcional bsica da ecologia (veja Quadro 1.1), pois inclui os organismos e o ambiente abitico, sendo que cada um destes fatores influencia as propriedades do outro e ambos so necessrios para a manuteno da vida na Terra2. Como qualquer sistema, o ecossistema um conjunto de partes ou subsistemas em interaes, que so os organismos ou seres vivos de diversas espcies, inclusive os seres humanos, e os elementos do ambiente fsico ou abitico, tais como ar, gua, solo, relevo, luz, temperatura, presso atmosfrica etc. Os organismos e o ambiente fsico so interdependentes e, portanto, se influenciam mutuamente funcionando como uma totalidade, ou seja, o que ocorre com uma de suas partes acaba influenciando as demais. Um ecossistema pode ser parte de outro; no limite, todos fazem parte da biosfera e o ser humano um de seus componentes. Os ambientes artificiais ou domesticados pelos seres humanos formam ecossistemas especficos, como as regies agrcolas e agroindusiriais e at mesmo as cidades e os distritos industriais, embora estes ltimos casos sejam concesses ao termo ecossistema. Odum e Sarmiento denominam estes ltimos como tecnoecossistemas urbanos-industriais, que se caracterizam por serem parasitas dos ambientes naturais e domesticados, pois no produzem os alimentos de que sua populao necessita, no limpam o ar e reciclam muito1 ODUM, Eugene P.; SARMIENTO, Fausto. Ecologia: el puente enire cincia y sociedad. Mxico: McGraw-Hill Interamericana, 1997. p. 9-15.ODUM, Eugene R Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988. p. 9.

Meio ambiente e gesto ambiental7pouco as guas que utilizam3. Enfim, esses ambientes no possuem capacidade de regenerao, uma caracterstica importante dos ambientes naturais e at mesmo dos domesticados.Os problemas ambientais provocados pelos humanos decorrem do uso do meio ambiente para obter os recursos necessrios para produzir os bens e servios que estes necessitam e dos despejos de materiais e energia no aproveitados no meio ambiente. Mas isso nem sempre gerou degradao ambiental, em razo da escala reduzida de produo e consumo e da maneira pela qual os seres humanos entendiam sua relao com a natureza e interagiam com ela. O aumento da escala de produo tem sido um importante fator que estimula a explorao dos recursos naturais e eleva a quantidade de resduos. H quem sustente que os povos que se sentem parte da natureza apresentam um comportamento mais prudente em relao ao meio ambiente e utilizam seus recursos com parcimnia. A concepo de um ser humano separado dos outros elemenios da natureza talvez tenha sido o fato de maior relevncia para o aumento dos problemas ambientais. A crena de que a natureza existe para servir ao ser humano contribuiu para o estado de degradao ambiental que hoje se observa. Mas certamente foi o aumento da escala de produo e consumo que iria provocar os problemas ambientais que hoje conhecemos. comum apontar a Revoluo Industrial como um marco importante na intensificao dos problemas ambientais. A maior parcela de emisses cidas, de gases de estufa e de substncias txicas resulta das atividades industriais em todo o mundo. O lixo gerado pela populao cada vez mais est composto por restos de embalagens e de produtos industriais. O uso de inseticidas, herbicidas, fertilizantes, implementos e outros produtos industrializados fez com que a agricultura se tornasse uma atividade intensiva em degradao ambiental. O mesmo pode-se dizer da pesca, dos transportes e inclusive das atividades comerciais e de servio. Grande parte dos problemas ambientais produzidos por agncias bancrias, escritrios, consultrios, lojas, escolas, reparties pblicas, hotis, hospitais, aeroportos e outros estabelecimentos de servio se deve aos materiais industrializados que do suporte s suas atividades. No que antes cla Revoluo Industrial no existisse tais problemas - basta lembrar das florestas devastadas em todos os continentes para os mais diversos fins, dos rios assoreados e da perda de fertilidade de muitas reas. Entretanto, a possibilidade de encontrar novas reas para obter recursos escondia a gravidade desses problemas. Se a degradao do ambiente fosse considerada um srio risco pelas sociedades daquele tempo, Dante certamente teria atribudo aos degradadores do meio ambiente um crculo no inferno. A poluio gerada pelas atividades humanas ficava confinada em reas especficas e era3 Id., SARMIENTO, 1988, p. 295.

8Gesto ambiental empresarialabsorvida com mais facilidade, pois era basicamente de origem orgnica. A partir da Revoluo Industrial surge uma diversidade de substncias e materiais que no existiam na natureza. Mais de 10 milhes de substncias foram sintetizadas e esse nmero no pra de crescer. A era industrial alterou a maneira cle produzir degradao ambiental, pois ela trouxe tcnicas produtivas intensivas em material e energia para atender mercados de grandes dimenses, de modo que a escala de explorao de recursos e das descargas de resduos cresceu a tal ponto que passou a ameaar a possibilidade de subsistncia de muitos povos na atualidade e das geraes futuras.A maneira como a produo e o consumo esto sendo realizados desde ento exige recursos e gera resduos, ambos em quantidades vultosas, que j ameaam a capacidade de suporte do prprio Planeta, isto , a quantidade de seres vivos que ela pode suportar sem se degradar. Considerando que a capacidade cle suporte de um ecossistema especfico no algo fcil de estimar, o que no dizer ento da capacidade do Planeta? No entanto, h diversos sinais de que a Terra j se encontra nos limites de sua capacidade para suportar as espcies vivas. Entre esses sinais esto os diversos problemas ambientais provocados pelas atividades humanas que vm se agravando ao longo do tempo, sendo que alguns j adquiriram dimenses globais ou planetrias, como a perda de biodiversidade, a reduo da camada de oznio, a contaminao das guas, as mudanas climticas decorrentes da intensificao do efeito estufa e outros. O resultado desse quadro caracterizado pela escalada dos problemas ambientais de toda ordem o comprometimento do prprio futuro da Terra e de todos os seres vivos e no apenas os humanos.0 meio ambiente como fonte de recursosA produo de bens e servios que atendam s necessidades e aos desejos humanos requer recursos ou fatores de produo, dos quais o trabalho e os recursos naturais sempre estiveram presentes em todas as pocas. O capital, entendido como meio de produo criado pelo trabalho humano para produzir outros bens e servios, aparece tardiamente na histria da humanidade. Os recursos naturais so bens e servios originais ou primrios dos quais todos os demais dependem. Assim, pode-se dizer que produzir converter ou transformar bens e servios naturais para satisfazer as necessidades e desejos humanos. Os recursos naturais, geralmente denominados Terra nos textos de economia, envolvem elementos ou partes do meio ambiente fsico e biolgico, como solo, plantas, animais, minerais e tudo que possa ser til e acessvel produo da subsistncia humana. Esse o conceito tradicional de recurso natural que deriva de uma concepo instrumental do meio ambiente fsico e

Meio ambiente e gesto ambiental9biolgico, pois desse ponto de vista nem tudo o que existe na natureza constitui recurso, mas apenas aquilo que de alguma forma pode ser do interesse humano. Porm, sendo o meio ambiente a condio da existncia de vida, como dito anteriormente, todos os seus elementos devem ser considerados recursos naturais.Os recursos naturais so tradicionalmente classificados em renovveis (energia solar, ar, gua, plantas, animais, beleza cnica etc.) e no renovveis (areia, argila, minrios, carvo mineral, petrleo etc.). Essa classificao, embora bastante utilizada, deve ser vista com reserva, pois ela depende de uma escala temporal humana. A noo de esgotamento ou renovao de recursos envolve a dimenso de tempo, e a perspectiva de tempo dos humanos nem sempre a mesma daquela que seria necessria para a renovao de um certo recurso. Assim, por recurso renovvel se entende aquele que pode ser obtido indefinidamente de uma mesma fonte, enquanto o no renovvel possui uma quantidade finita, que em algum momento ir se esgotar se for continuamente explorado. Na realidade, todos os recursos podem se renovar atravs de ciclos naturais, embora alguns possam levar at milhes de anos, o que impensvel para o padro humano de tempo. A perspectiva de tempo humana e o modo de usar os recursos so as condies que os tornam renovveis ou no, como mostra a Figura 1.1.Figura 1.1 Recursos naturais - Tipos e exemplosRecursos naturaisRenovveisRenovveis/no renovveisNo renovveis

No se alteram com o uso(energia direta solar, ventos, mars)Alteram-se com o uso(ar, gua, espao, beleza cnica, navegabilidade dos rios e lagos, polinizao, assimilao de poluentes, ciclos dos nutrientes, regulao do clima, reteno de sedimentos, filtro solar, biodiversidade, controle natural de pragas e outros servios ambientais)Esgotam-se com o uso(petrleo, carvo mineral, gs natural, energia nuclear)

Alteram-se com o uso:esgotam-se, mantm-se ou aumentam (colheita anual, rebanhos, animais selvagens, cardumes, lenha, madeira, solo)Esgotveis, mas podem ser reutilizados e reciclados(areia, argila, granito, metais)

Fonte: Adaptado de T1VY, J.; O'HARE, G. Human impact on the ecosystem. Edimburgo: Oliver & Boyd, 1991.

10Gesto ambiental empresarialQuadro 1.1 Ecologia e outros termos relacionadosEcologia a cincia que estuda as inter-relaes dos organismos vivos com o seu meio ambiente e dos organismos entre si, inclusive o homem (NBR 9896:1993)4. Para Odum, ecologia significa estudo do ambiente da casa, incluindo todos os organismos que ela contm e os processos funcionais que a tornam habitvel. uma disciplina cientfica que permanece firmemente radicada na biologia, embora lenha se tornado integradora unindo os processos fsicos e biolgicos e servindo de ponte entre as cincias naturais e sociais. Por isso, a ecologia constitui um vasto campo de conhecimentos que inclui tanto as cincias biolgicas e fsicas quanto as humanas e sociais. A ecologia uma cincia que enfoca os nveis de organizao direita do espectro biolgico apresentado na Figura abaixo, ou seja, dos organismos at os ecossistemas, pois os componentes anteriores a estes no possuem vida autnoma5. A ecologia, como outras disciplinas cientficas, tambm apresenta diversos ramos de estudo, entre os quais ecologia de comunidades, ecologia de paisagem, ecologia humana e outros.Espectro dos nveis de organizaoComponentesbiticosComponentesabiticosGenesClulasrgosOrganismosPopulaesComunidadesIIitMatria EnergiaSistemasSistemasSistemasSistemasSistemasEcossistemasBiossistemas genticoscelularesorgnicosorganismicospopulacionaisFonte: ODUM (1988), p. 2.Acot mostra que a palavra ecologia (oekologie) foi inventada por Ernst Haeckel em 1866, aparecendo pela primeira vez em nota de rodap de seu livro, Generelle morphologie der Organismen, substituindo o termo biologia. no segundo volume dessa obra que se encontra a definio mais clebre de ecologia: a totalidade da cincia das relaes do organismo com o meio4 ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS. NBR 9896:1993. Glossrio de poluio da gua. Rio de Janeiro, 1993.5 ODUM, Eugene P. Ecologia, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988. p.l e 2.

Meio ambiente e gesto ambiental11ambiente". A palavra ecologia formada pelos vocbulos gregos oikos e lgos, significando literalmente cincia do habitat. Em geral, nos textos oikos traduzido como casa. Acot ressalta que esse timo grego deriva do radical inclo-europeu weik que indica uma unidade social imediatamente superior casa cio chefe dc famlia e que, portanto, j denota uma dimenso biocenlica contida nas acepes modernas da palavra ecologia6. Para Odum, biocenose significa literalmente vida e terra funcionando juntos. Essa palavra usada tambm para se referir ao ecossistema ou comunidade bitica. Veja mais sobre estes termos no Anexo I - Glossrio.A palavra economia tambm formada pelos timos gregos oikos e nomia, este significando manejo ou gerenciamento. Essa palavra muito mais antiga que ecologia. Aristteles (384 - 322 a.C.), por exemplo, a emprega em sua obra A poltica. No entanto, a partcula eco tornou-se prefixo de palavras associadas ecologia e aos assuntos relacionados com questes ambientais de um modo geral, tais como: ecossistema, ecogesto, ecologismo, ecoturismo, ecodesign, ecoeficincia, ecoindstria, ecotaxa, ecofeminismo, ecocenirismo, ecoutopia, ecoe- nergia e muitas outras. As palavras que levam esse prefixo so em geral portadoras de significados positivos, o que reflete a preocupao com o meio ambiente por grande parte da populao mundial. O ecologismo constitui um importante movimento de expresso mundial voltado para a busca de uma relao harmoniosa do ser humano com o seu meio. Em linguagem corrente comum o uso do termo ecologia como sinnimo de meio ambiente, bem como o adjetivo ecolgico como sinnimo de ambiental.O petrleo no se renova independentemente do uso que se faa dele, seja para produzir combustvel que consumido no ato da sua utilizao ou materiais mais durveis, como o plstico que pode ser reciclado diversas vezes, mas no indefinidamente. O mesmo acontece com os metais e outros produtos obtidos de recursos minerais metlicos e no metlicos, que so considerados reutilizveis e renovveis. Quando se diz que ferro, cobre, alumnio, vidro e outros so 100% reciclveis, estamos diante de uma meia-verdade, e no s porque sempre ocorrem perdas nos processos de reciclagem. Estes produtos se tornaram possveis graas ao fato de que os recursos minerais de onde foram extradas suas matrias- primas encontravam-se acumulados em grandes depsitos, tornando vivel a sua explorao. O uso dos produtos dissipa os seus materiais pelo atrito, oxidao, quebras e outras ACOT, Pascal. Histria da Ecologia. 2. ed Rio de Janeiro: Campus 1990. p. 277 ODUM, 1988, p.l.

12Gesto ambiental empresarialformas de perdas disseminando-os pelo meio ambiente de modo atomizado, o que impede a sua recuperao. Milhes de toneladas de metais dissipados anualmente pela frico e atrito, por exemplo, no so recuperveis para efeito de reciclagem por se encontrarem espalhados em pores muito diminutas por todo Planeta. Assim, com o uso continuado desse material, algum dia esse recurso ir acabar, mesmo que seja s daqui a milhares de anos.Excetuando a energia solar que incide diretamente sobre o Planeta, os demais recursos renovveis podem se exaurir, dependendo de como eles so usados ou de como a natureza afetada pelas transformaes naturais e humanas. As plantas so consideradas recursos renovveis, mas uma rvore que leva mais de 200 anos para fornecer um determinado tipo de madeira na realidade um recurso no renovvel na escala humana. As espcies vivas deixam de ser recursos renovveis se a sua explorao comprometer a sua capacidade de reproduo, o que pressupe que apenas uma certa quantidade anual poderia ser extrada para uso humano. Essa quantidade denomina-se rendimento sustentvel de um dado recurso renovvel numa dada rea e a quantidade mxima de explorao que equilibra a capacidade de regenerao com a quantidade coletada o rendimento mximo sustentvel. A beleza de uma paisagem um recurso renovvel para as atividades de turismo, desde que as suas caractersticas no se degradem pelo excesso de visitantes. O solo agrcola um recurso renovvel, pois os ciclos biogeoqumicos do nitrognio, fsforo, potssio e de outros elementos restabelecem sua fertilidade indefinidamente, mas o uso inadequado pode comprometer a realizao desses ciclos tornando o solo estril, cuja regenerao pode levar sculos. As aes humanas podem, no entanto, produzir alteraes positivas, por exemplo, impedindo um processo natural de eroso, controlando inundaes ou melhorando as espcies para melhor adapt-las ao uso e s condies do ambiente domesticado.Os ciclos biogeoqumicos so exemplos de servios ou funes que o meio ambiente proporciona s atividades de produo e consumo, devendo ser, portanto, considerados recursos para as atividades produtivas. A biosfera depende desses ciclos para fornecer aos seres vivos continuamente elementos qumicos que se encontram em quantidades finitas no meio ambiente. Por exemplo, as plantas absorvem nutrientes minerais do solo, mas aps a morte da planta os minerais retornam ao solo por meio de processos de decomposio e lixiviao, ficando novamente disponveis. Alm desses ciclos, h outros servios que o meio ambiente presta s atividades humanas, tais como a polinizao, a assimilao de poluentes, o controle natural de predadores, a regulao do clima, a diversidade de espcies e outros sem os quais no seria possvel a continuao da vida na Terra. Portanto, sob a denominao genrica de recursos naturais deve-se entender tanto os componentes do

Meio ambiente e gesto ambiental13meio ambiente que j so tradicionalmente considerados como tal (solo, gua, minrios, madeira, animais, espao, paisagem etc.), quanto os servios ou as funes ambientais, como mostra o Quadro 1.2. Certos recursos naturais podem ser apropriados em diferentes quantidades por pessoas, grupos, empresas e pases e transformados em mercadorias, enquanto os servios no so passveis de apropriao, estando, portanto, disponveis para todos indistintamente. O uso de um servio ambiental por uma pessoa ou uma coletividade no impede que outras possam tambm us-lo. A circulao do ar permitindo a disperso dos poluentes beneficia todas as pessoas de uma regio. O mesmo no ocorre com um cardume, uma jazida ou uma parcela do solo, cujo uso ou consumo por parte de uns exclui outros de usarem ou consumirem.Os recursos naturais no podem ser considerados entidades independentes, pois o que ocorre com um, influencia o outro. O uso perdulrio ou inadequado de um recurso natural em larga escala pode comprometer as funes ambientais, que por sua vez acabam afetando sua utilizao nos perodos seguintes. A argila e o hmus arrastados do solo devido a uma prtica agrcola inadequada prejudicam a capacidade de reteno da gua e se esse processo for mantido, o solo, antes um recurso produtivo, transforma-se num deserto. Ao longo do tempo, muitas terras frteis foram se degradando pelo uso intensivo e pelas prticas imprprias s condies do solo, do relevo e do clima. O Conselho Econmico e Social da ONU8 mostra que atualmente cerca de 2 bilhes de hectares de terra esto degradados, pondo em perigo a subsistncia de mais de 1 bilho de pessoas e que cerca de 65% de todas as terras cultivveis j teriam perdido algumas funes fsicas e biolgicas. Embora o ser humano tambm saiba transformar terras estreis em campos frteis, o fato que os processos cle desertificao avanam em praticamente todo o mundo, principalmente nos pases mais pobres.A gua, que tecnicamente um recurso renovvel, tambm d sinais inequvocos de deteriorao em quase todos os cantos do Globo. Os prognsticos sobre a qualidade e quantidade dos recursos hdricos so verdadeiramente alarmantes e j se tornou lugar-comum afirmar que a gua ser o recurso mais escasso do sculo XXI e que provavelmente ser a causa de muitas guerras. Diante disso, a Unesco e a Cruz Verde Internacional concluram em dezembro de 2001 um acordo para atuarem em conflitos blicos que podero ser8 ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS; CONSELHO ECONMICO E SOCIAL. Agricultura, tierras y desertificacin. In: Comisin sobre el Desarrollo Sostenible. Doc.E/CN. 17/2001/PC/13, 2001

14Gesto ambiental empresarialdeflagrados pela posse da gua1-1. De um lado os processos de desflorestamentos e de deser- lificao e, de outro, o uso intenso para os mais variados fins comprometem sua capacidade de renovao. De acordo com a Agenda 21, cada pessoa deveria ter acesso a pelo menos 40 litros de gua potvel por dia para desfrutar de uma vida digna e saudvel10. Considerando que a populao global passa de seis bilhes de pessoas, seriam necessrios mais de 240 bilhes de litros de gua tratada diariamente. Para se ter uma idia do tamanho do problema, some a essa quantidade, cuja magnitude j expressiva, as necessidades de gua para as demais espcies e para outros usos humanos (irrigao, navegao, processos industriais, limpeza pblica, gerao de energia etc.). No incio do sculo XXI, cerca de 1,2 bilho de humanos continuam vivendo na pobreza e sem acesso gua potvel e quase 2,5 bilhes ainda carecem de saneamento adequado11. O acesso gua potvel um problema gravssimo e de difcil soluo. Tanto que, entre os objetivos de desenvolvimento do milnio, assumidos por 191 pases membros da ONU e considerados ambiciosos e at ine- xeqveis, uma das metas a ser alcanada at 2015 reduzir apenas pela metade a populao sem acesso permanente e sustentvel a gua potvel12. Como a oferta desse recurso bastante desigual entre os pases e regies, tem-se a um pomo de discrdia explosivo. A Unesco e a Cruz Verde esto certssimas em se preparar para o pior.Quadro 1.2 Bens e servios ambientais - Entendimentos e classificaesH diversos entendimentos sobre bens e servios ambientais. Um deles refere-se aos produtos resultantes das atividades humanas voltadas para proteger o meio ambiente. O conjunto dos produtores desses bens e servios forma a industria ambiental, composta por diversos segmentos econmicos de acordo com a natureza do produto. Por exemplo, para a Environmental Business International (EB1), uma organizao privada sediada em San Diego, Califrnia, so trs os segmentos dessa indstria: (1) equipamentos, instalaes, instrumentos e outros materiais(continua)^ GREEN CROSS INTERNATIONAL. Water conflict prevent. Disponvel em: E o clusive em relao ao meio ambiente; a necessidade de demonstrar o atendimento aos42 " '__ *S 14063:2006 environmental management - environmental communication - guideline and4ffemples- 2004, clusula 4.4.4.

186Gesto ambiental empresarialrequisitos legais e outros subscritos pela organizao; a necessidade de assegurar que a atividade seja realizada de forma constante e os requisitos da norma. Documentos criados originariamente para outros fins podem ser usados como parte integrante do SGA, desde que sejam referenciados para esse fim.O nvel de detalhamento dos documentos decidido pela organizao, mas deve ser suficiente para descrever os principais elementos do SGA e suas interaes, fornecendo orientao sobre fontes de informaes mais detalhadas de suas partes especficas. A documentao pode ser integrada com a de outros sistemas implantados pela organizao e no precisa estar na forma de um nico manual44. A propsito, essa uma diferena fundamental em relao aos requisitos de um sistema de gesto da qualidade, conforme a ISO 9000:2000, pois para esse sistema o manual da qualidade um requisito essencial, como estabelece a clusula 4.2.1 desta ltima norma. Seguindo o exemplo do sistema de gesto da qualidade, a documentao do SGA pode conter os seguintes elementos: declarao documentada da poltica ambiental da organizao; manual de gesto ambiental; documentos relativos aos procedimentos requeridos pela norma ISO 14001, instrues de trabalho e outros documentos necessrios para tornar efetiva a implantao e manuteno dos procedimentos; e os registros requeridos pela norma.A organizao dos documentos gerados pelo SGA pode seguir a hierarquia ilustrada na Figura 5.5, que tem como base as diretrizes para documentao de um sistema de gesto da qualidade, estabelecidas pela norma ABNT ISO/TR 100 1 3:200245. O manual do SGA constitui o primeiro nvel da hierarquia de documentos. Embora no seja um requisito da norma, um manual facilita a gesto dos documentos fundamentais para operar e auditar o SGA. O manual pode adquirir diferentes formas. A mais simples um ndice cotn referncias sobre esses documentos, indicando sua localizao. O manual pode ser feito na forma de pasta, em papel ou meio eletrnico, contendo, entre outros, a poltica ambiental, os objetivos e metas, as interaes do SGA com outros sistemas e as definies de responsabilidades. Nesse caso, o seu ncleo central se compe de diversos captulos concernentes aos requisitos da norma, com referncias que remetem aos procedimentos correspondentes. No segundo nvel esto os documentos relativos aos procedimentos, envolvendo mtodos, critrios e referncias para aplicar os requisitos do SGA. Os procedimentos especficos, as instrues tcnicas e outros documentos de trabalho detalhados fazem parte do terceiro nvel.44 ld., 2004, Anexo A, item A.4.4.45 ABNT. ABNT ISO/TR 10013: 2002 - Diretrizes para a documentao de sistemas de gesto da qualidade. Rio de Janeiro, 2002.

Sistemas de gesto ambiental 187Figura 5.5 Hierarquia da documentao de um sistema de gesto da qualidade

Contedo dos documentosA: Descreve o SGA de acordo com a poltica, os objetivos e metas estabelecidosB: Descreve os processos inter-relacionados e atividades necessrias para implementar o SGAC: documentos de trabalho detalhadosFonte: adaptado de ABNT 1SO/TR 10013:2002, Anexo A.Uma critica que tem sido feita com certa insistncia a respeito da norma ISO 14001 refere-se ao fato de que o atendimento ao requisito de documentao levaria a organizao a praticar um excesso de formalismo que reduziria a sua mobilidade e capacidade de resposta s mudanas, esses sim, requisitos fundamentais para poder atuar em ambientes de negcio competitivos. Essa crtica no procede, pois a norma exige apenas a documentao dos principais elementos e no de todos. Alm dos elementos mencionados na norma, cabe aos dirigentes da organizao determinar quais outros tambm devem ser documentados. Vale mencionar, no entanto, que a documentao um elemento fundamental para reduzir as variabilidades desnecessrias, bem como para reter e transmitir o aprendizado.Controle de documentosQuanto a esse requisito, diz a norma que a organizao deve controlar todos os documentos requeridos pelo SGA. Os registros so um tipo especial de documento e devem ser controlados conforme os requisitos estabelecidos na clusula 4.5.4, que ser comentada mais adiante. A organizao deve estabelecer, implantar e manter procedimentos para:(a) aprovar documentos quanto sua adequao antes de seu uso;(b) analisar, atualizar e, se for o caso, reaproveitar documentos;(c) assegurar que as alteraes e a situao atual da reviso sejam identificadas;

188Gesto ambiental empresarial(d) assegurar que as verses relevantes de documentos aplicveis estejam disponveis em seu ponto de uso;(e) assegurar que os documentos de origem externa entendidos como necessrios ao planejamento e operao do SGA sejam identificados e que sua distribuio seja controlada;(0 prevenir a utilizao no intencional de documentos obsoletos e utilizar identificao adequada, caso sejam retidos para qualquer finalidade46.Os documentos do SGA devem ser legveis, datados, incluindo datas das revises facilmente identificveis. Se a organizao j mantm um sistema de gesto da qualidade conforme a norma ISO 9001:2000, ela pode manter um sistema de controle da documentao baseado nessa norma, que mais rigorosa que a ISO 14001 quanto a esse requisito. Como alerta o Anexo A dessa norma, o foco principal deve ser a efetiva implementa do SGA e no a criao de um complexo sistema de documentao47. Essa mais uma indicao de que a norma no pretende engessar a organizao com um formalismo desnecessrio.Controle operacionalEste requisito estabelece que a organizao deve identificar e planejar as operaes associadas aos aspectos ambientais significativos identificados de acordo com sua poltica, objetivos e metas, para assegurar que elas sejam realizadas sob condies especificadas por meio:(a) do estabelecimento, implementao e manuteno de procedimentos documentados, para controlar situaes onde sua ausncia possa acarretar desvios em relao poltica ambiental e aos objetivos e metas;(b) da determinao de critrios operacionais nos procedimentos; e(c) do estabelecimento, implementao e manuteno de procedimentos associados aos aspectos ambientais significativos, identificados de produtos e servios utilizados pela organizao e da comunicao de procedimentos e requisitos pertinentes a fornecedores e prestadores de servios48.46 Id., 2004, clusula 4.4.5.47 Id., 1996a, Anexo A, informativo, seo A.4.5.48 ABNT, 2004, clusula 4.4.6.

Sistemas de gesto ambiental189Esse requisito se cumpre mediante um conjunto de procedimentos para assegurar que as operaes do SGA esto sendo controladas e se reporia apenas s operaes concernentes aos aspectos ambientais identificados e avaliados conforme a clusula 4.3.1, comentada anteriormente. Essas operaes devem ser documentadas. A ISO 14004 recomenda que, para a identificao das necessidades de controle operacional, a organizao considere todas as suas operaes, inclusive as relacionadas com as funes gerenciais, como vendas, marketing, atendimento aos clientes, pesquisa e desenvolvimento, engenharia, manuteno, armazenamento e manuseio de materiais, laboratrios, transporte, aquisies, construo ou modificao da propriedade e instalaes49.Os controles operacionais devem se estender tambm aos prestadores de servios e fornecedores. Vale mencionar que os processos de aquisio so requisitos essenciais nos sistemas de gesto de qualidade, conforme a ISO 9000:20005. De modo anlogo ao que estabelece essa norma, no caso do SGA, o tipo e a extenso do controle operacional aplicado aos fornecedores e aos produtos adquiridos devem depender dos efeitos associados a aspectos ambientais significativos identificados. O controle sobre esses agentes externos pode se dar, por exemplo, a partir do estabelecimento de critrios ambientais para selecionar e avaliar produtos e servios, bem como o desempenho ambiental dos fornecedores e prestadores de servio, com respeito aos aspectos significativos identificados.Preparao e resposta a emergnciasSegundo a ISO 14001, a organizao deve estabelecer, implementar e manter procedimentos para identificar potenciais situaes de emergncia e de acidentes que possam ter impactos sobre o meio ambiente, e como ela ir responder a esses eventos. Ela deve reagir s situaes reais de emergncia e aos acidentes, prevenindo ou mitigando os impactos adversos produzidos51. A organizao deve analisar e revisar periodicamente, quando necessrio, seus procedimentos de preparao e atendimento emergncia, em particular aps a ocorrncia de acidentes ou situaes de emergncia. Sempre que possvel estes procedimentos devem ser testados, por exemplo, fazendo simulaes de emergncias e acidentes, que podem ser inclusive considerados como parte dos programas de treinamento.49 ABNT, 2005, clusula 4.4.6.1.50 ABNT, NBR ISO 9001:2000, clusula 7.4.51 ABNT, 2004, clusula 4.4.7.

190 Gesto ambiental empresarialComo dito anteriormente, essa norma adota uma abordagem de preveno da poluio, o que significa, quanto ao requisito em pauta, preparar-se para realizar aes necessrias diante da ocorrncia: (1) de acidentes ambientais (exploses, incndios, emisses e derrames acidentais, desastres durante o transporte de produtos perigosos e outros); ou (2) de situaes de emergncia que podem produzir tais acidentes, por exemplo, panes e incidentes em equipamentos que se no forem consertados a tempo e com procedimentos adequados podem provocar acidentes graves.A norma recomenda que a organizao estabelea procedimentos de preparao e resposta a emergncias que atendam suas necessidades especficas e levem em conta, entre outros, os seguintes elementos: a natureza do perigo e medidas que devem ser tomadas; o tipo e a escala mais provvel de uma situao de emergncia ou acidente; mtodos apropriados para responder a essa situao; planos de comunicao interna e externa; aes para minimizar o impacto e aes de mitigao e resposta a serem tomadas em diferentes tipos de acidentes e emergncias; lista de pessoas-chave e de rgos de atendimento, incluindo informaes para contato; rotas de evacuao e pontos de encontro; treinamento do pessoal de resposta a emergncias; e possibilidades de assistncias mtuas entre organizaes vizinhas 52.Acidentes e emergncias sempre podem acontecer, mesmo quando a organizao se cerca de todos os cuidados. Quando isso ocorre, a organizao deve estar preparada para as aes de mitigao. Mitigar significa abrandar ou aliviar os impactos produzidos por tais acidentes, ou seja, atuar sobre as conseqncias por meio de medidas para corrigir e reparar os danos provocados. importante ressaltar que a extenso da mitigao est relacionada com os requisitos legais e voluntrios subscritos. Relembrando o que foi dito no Captulo 3, a legislao brasileira estabelece que o poluidor obrigado, independentemente de existncia de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados por suas atividades53. Se a organizao subscreveu os Princpios Ceres,52 ABNT, 2004, Anexo A, item A.4.7.53 BRASIL. Lei 9.605, de 12/2/1998 - Dispe sobre sanes penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e d outras providncias (Lei dos Crimes Ambientais), art. 14, 1

Sistemas de gesto ambiental191por exemplo, alm de compensar os atingidos pelos danos causados ao meio ambiente, ela tambm deve se esforar para recuperar inteiramente o meio ambiente afetado (ver Quadro 3.4, no Captulo 3). Veja tambm o que diz a carta empresarial para o desenvolvimento sustentvel da ICC no Anexo V, item 12, com respeito aos planos de emergncia.Monitoramento e medioEsse requisito faz parte do processo de controle, que corresponde ao C (de checar, verificar) de um ciclo PDCA. Monitorar significa acompanhar uma atividade com base em informaes coletadas ou observaes a respeito dessa atividade, para verificar o alcance de objetivos e metas (por exemplo, acompanhar diariamente o consumo de gua para verificar se a meta de reduo de consumo est sendo alcanada). Essa fase encerra um ciclo de atividades do SGA, que se inicia com a identificao dos aspectos ambientais significativos, como ilustra o Quadro 5.9, sendo a base para as atividades de correo e ajustes de acordo com a idia de melhoria contnua.Conforme a norma ISO 14001, a organizao deve estabelecer, implementar e manter procedimentos para monitorar e medir regularmente as caractersticas principais de suas operaes que possam ter impacto significativo sobre o meio ambiente. Caracterstica principal aquela que precisa ser considerada para determinar se a organizao est gerenciando seus aspectos ambientais significativos, atingindo os objetivos e metas e melhorando o seu desempenho ambiental. Esses procedimentos devem ser documentados e incluir na documentao os controles operacionais pertinentes e a conformidade com os objetivos e metas ambientais da organizao. A idia bsica verificar se o SGA est funcionando como planejado e, caso contrrio, quais medidas corretivas e preventivas devero ser tomadas54.A organizao deve assegurar que os equipamentos de monitoramento e medio calibrados ou verificados sejam utilizados e mantidos, devendo-se manter os registros associados a esses processos, segundo procedimentos definidos pela organizao. Para assegurar a validade dos resultados do monitoramento e medio, recomenda-se que a calibragem ou verificao desses instrumentos seja feita em intervalos especificados, ou antes do uso, com base em padres nacionais ou internacionais. A norma ISO 14004 recomenda que a organizao atenda esse requisito por meio de uma abordagem sistemtica, monitorando e medindo regularmente o seu desempenho ambiental.54 ld., 2004, clusula 4.3.1.

192 Gesto ambiental empresarialQuadro 5.9 Encadeamento de requisitos de planejamento, implementao e controle - ExemplosAspectoConsumo de leo de aquecimentoEmisso de xidos de nitrognio (N0X).

ObjetivosReduzir o consumo de um recurso no renovvel.Aumentar o impacto positivo sobre a qualidade do ar, por meio da melhoria da eficincia da manuteno de frota.

MetasReduo do consumo em 20%, dentro de um ano, com base no consumo do ano corrente.Atingir 25% de reduo de emisses de N0X nos prximos trs anos.

ProgramaInstalao de queimadores de combustveis mais eficientes.Identificar parmetros chave de manuteno para a reduo de N0X.Revisar o programa de manuteno para incorporar tarefas-chave para reduo de N0.

IndicadoresMarcos do plano de projeto.Consumo de leo por hora de trabalho da caldeira.% de manuteno dentro do prazo. Emisso de N0X /km.

ControleoperacionalProcedimentos para instalao dos queimadores modificados.Procedimentos para documentao e registro do consumo de leo.Procedimentos de manuteno. Treinamento dos tcnicos de manuteno.

Monitoramento Avaliao trimestral do andamento do e medio plano do projeto.Acompanhamento mensal da taxa de consumo de leo.Acompanhamento da freqncia versus calendrio de manuteno.Monitoramento da eficincia de consumo de combustvel dos veculos.Testes trimestrais das emisses veiculares de N0X.

Fonte: adaptado de ABNT, NBR ISO 14004:2005, Anexo A.A medio, monitoramento e identificao de indicadores de desempenho ambiental devem ser atividades contnuas, assim como a identificao dos aspectos ambientais, conforme j comentado. Os indicadores ambientais devem ser objetivos, verificveis, reproduzveis e coerentes com a poltica da organizao. Devem ser tambm prticos, econmicos e tecnologicamente exeqveis. Vale lembrar que uma das idias centrais das normas ISO sobre SGA equilibrar as questes econmicas com a proteo ambiental.Avaliao do atendimento a requisitos legais e outrosEsta avaliao fazia parte do requisito de monitoramento e medio na verso de 1996 da ISO 14001. Uma das crticas mais freqentes a essa norma durante o seu processo de reviso

Sistemas de gesto ambiental193concludo em 2004 referia-se ao fato de no enfatizar o atendimento legal como um requisito normativo. Para dar nfase a esse atendimento como patamar mnimo de um SGA, a nova verso da ISO 14001 inovou ao destacar a sua avaliao, separando-a da clusula 4.5.1, comentada anteriormente55.Esse requisito estabelece que a organizao deve determinar, implementar e manter procedimentos para avaliar periodicamente o atendimento aos requisitos legais aplicveis e manter os registros dos resultados dessa avaliao, como parte de seu comprometimento com a conformidade legal. O mesmo deve ser feito quanto ao atendimento dos outros requisitos subscritos pela organizao, que pode ser realizado de modo combinado com os requisitos legais ou separadamente56.Vale ressaltar que o atendimento s normas legais aplicveis organizao e aos demais requisitos subscritos por ela constituem o patamar mnimo que se espera em termos de desempenho ambiental. Com a abordagem de preveno da poluio conduzida por meio da prtica da melhoria contnua, dois requisitos do SGA, espera-se um crescente aperfeioamento desse desempenho. Dentre os requisitos subscritos, esto os acordos voluntrios privados, como mostrado no Captulo 3. Se a organizao assume um compromisso com eles, dever atend-los como se fosse uma norma legal, da a importncia em avaliar periodicamente o seu atendimento. importante lembrar que a organizao melhora sua insero na sociedade ao realizar esses acordos voluntrios, pois eles denotam uma postura proativa em termos de cuidado com o meio ambiente. Porm, esse compromisso pode ficar s na inteno e com isso a empresa estar desfrutando uma reputao que no merece e praticando a maquiagem verde. Por isso, faz sentido enfatizar o atendimento desses requisitos subscritos voluntariamente como se fossem normas legais cuja conformidade obrigatria.No-conformidade, ao corretiva e ao preventivaNo-conformidade o no-atendimento de um requisito. Ao corretiva aquela voltada para eliminar a causa de uma no-conformidade identificada e ao preventiva, para eliminar55 CAJAZEIRA, J.H.R; BARBIERI, J.C. A nova verso da norma ISO 14001: as influncias presentes no primeiro ciclo revisional e as mudanas efetuadas. In: Revista Eletrnica de Administrao - REAd Porto Alegre, UFRGS, Edio 48, Vol. 11 No. 6, Nov. - Dez. de 2005. Disponvel em .56 ABNT, 2004, clusula 4.5.2 e suas sub clusulas 4.5.2.1 (requisitos legais) e 4.5.2.2 (outros requisitos subscritos).

194Gesto ambiental empresariala causa de uma potencial no-conformidade57. Uma no-conformidade potencial uma situao que apresenta uma elevada probabilidade de vir a ocorrer. Essas definies constantes na ISO 14001 so as mesmas da ISO 9000:2000, o que mostra mais uma vez a grande interao entre o TC 207 e o TC 176, responsvel pelas normas de gesto da qualidade.A organizao deve estabelecer, implementar e manter procedimentos para tratar as no-conformidades, reais ou potenciais e para executar aes corretivas e preventivas. Esses procedimentos devem definir requisitos para:(a) identificar e corrigir no-conformidades e executar aes para mitigar seus impactos ambientais;(b) investigar as causas das no-conformidades e executar aes para evitar a sua repetio;(c) avaliar a necessidade de aes para preveni-las e implementar aes apropriadas para evitar a sua ocorrncia;(d) registrar os resultados das aes corretivas e preventivas executadas; e(e) analisar a eficcia dessas aes58.Uma no-conformidade qualquer falha ou desvio que prejudique o funcionamento do SGA ou comprometa o desempenho ambiental da organizao. Ou seja, tanto pode referir- se ao prprio SGA, uma situao na qual uma ou mais de suas partes no esto funcionando adequadamente, quanto ao desempenho ambiental da organizao. As falhas na identificao da necessidade de treinamento, na comunicao interna e no controle dos documentos so exemplos de no-conformidade associados ao SGA. No alcanar uma meta ambiental estabelecida ou os limites mximos de emisso estabelecidos em normas legais so no-conformidades do desempenho ambiental da organizao.O atendimento a esse requisito pode ser efetuado rapidamente e com um mnimo de planejamento formal ou exigir um conjunto de atividades complexas e de longo prazo. Independentemente do tipo e da gravidade da no-conformidade, a organizao deve atribuir responsabilidade e autoridade a algum ou a algum departamento para investigar e planejar a realizao clas aes pertinentes, que devem ser adequadas magnitude do problema ou do impacto ambiental. A administrao deve assegurar a execuo das aes corretivas e preventivas, e que elas sejam acompanhadas para avaliar a sua eficcia.57 Ibid., 2004, definies 3.15, 3.3 e 3.17, respectivamente.58 Ibid., clusula 4.5.3.

Sistemas de gesto ambiental195Controle de registrosRegistro um documento que apresenta os resultados obtidos ou fornece as evidncias de atividades realizadas59, uma definio que j constava da norma ISO 9000:2000. H uma diversidade de tipos de registros associados a um SGA, pois toda ao que traga alguma evidncia sobre o cumprimento ou no de um requisito deve gerar algum tipo de registro, por exemplo, registro de no-conformidade, de reclamaes da comunidade, das inspees e testes, da calibrao de instrumentos de medio, dos treinamentos realizados e pessoas treinadas e dos resultados cle auditoria. Como os registros referem-se a fatos observados para efeito de controle, no esto sujeitos a revises como os documentos concernentes s fases de planejamento e implementao, objeto do requisito comentado anteriormente.Conforme a ISO 14001, a organizao deve estabelecer e manter registros, conforme necessrio, para demonstrar conformidade com os requisitos do seu SGA e dessa norma, bem como os resultados obtidos. Deve tambm estabelecer, implementar e manter procedimentos para a identificao, armazenagem, proteo, recuperao, reteno e descarte de registros. Esses registros devem ser legveis e identificveis, permitindo rastrear a atividade, produto ou servio envolvido60. conveniente estabelecer o perodo de reteno de cada tipo de registro.Ao desenvolver cada elemento do SGA que constar como um capitulo do seu manual, deve-se incluir o tipo de registro apropriado para prover a evidncia do cumprimento do que foi a estabelecido. Por isso, comum encontrar os registros fazendo parte de um quarto nvel na hierarquia de documentos, um nvel abaixo das instrues e outros documentos de trabalho, como mostra a Figura 5.5. No demais enfatizar a importncia dos registros, pois so eles que fornecem as evidncias demonstrveis de que o SGA foi implantado e est operando, ou seja, permitem verificar o cumprimento de um ciclo de atividades pelo qual a organizao diz o que pretende fazer, faz o que disse e mostra o que fez.Auditoria internaA auditoria interna a ltima etapa da fase de verificao ou controle. Por esse requisito, a organizao deve assegurar que as auditorias internas do SGA sejam conduzidas em intervalos planejados para:^ Ibid.. definio 3.20.60 Ibid., clusula 4.5.4.

.*. y196 Gesto ambiental empresarial(a) determinar se o SGA: (1) est em conformidade com os arranjos planejados para a gesto ambiental, incluindo os requisitos da norma ISO 14001; e (2) foi adequadamente implementado e mantido; e(b) fornecer administrao informaes sobre os resultados das auditorias61.O programa de auditoria, inclusive o cronograma, deve basear-se na importncia ambiental da atividade envolvida e nos resultados das auditorias anteriores. Dada a importncia das auditorias ambientais como instrumentos de gesto ambiental de um modo geral, e em particular as auditorias dos SGAs, esse instrumento de gesto ambiental ser tratado no prximo capitulo com mais detalhe.Anlise pela administraoComo mostra o Quadro 5.4, a Anlise pela Administrao constitui a ltima etapa do SGA, segundo os requisitos da norma ISO 14001, que por sua vez, a primeira de um novo ciclo do tipo PDCA com vistas a melhorar continuamente o SGA e o desempenho ambiental da empresa. A ISO 14001 estabelece que a alta administrao, em intervalos planejados, deve analisar o SGA, para assegurar sua continuada adequao, pertinncia e eficcia. A anlise deve avaliar as oportunidades de melhoria e as necessidades de alterao do SGA em qualquer dos seus elementos constitutivos. A anlise deve abranger todo o SGA e ser documentada, gerando registros que devem ser controlados conforme j comentado.As entradas do processo de anlise incluem informaes sobre resultados de auditorias internas, comunicaes das partes interessadas, situao das aes corretivas e preventivas, lies aprendidas nas situaes de emergncia e acidentes, avanos cientficos e tecnolgicos, mudanas nos requisitos legais, recomendaes de melhorias, entre outras. As sadas desse processo so decises a respeito da conduo do SGA, por exemplo, mudanas na poltica ambiental, nos objetivos e metas e em qualquer elemento do SGA relativo ao comprometimento com a melhoria contnua62. A anlise deve cobrir o escopo do SGA e no precisa ser feita de uma s vez, podendo se estender por um perodo de tempo.O que se pretende com essa anlise verificar a eficcia do SGA como instrumento para melhorar o desempenho ambiental da organizao num dado perodo, visando o futuro. Para isso, deve-se confirmar se a poltica ambiental e o SGA esto adequados organizao61 Ibid, clusula 4.5.5.62 Ibid, 2004, clusula 4.6.

Sistemas de gesto ambiental197ou se necessrio realizar mudanas para ajust-los s novas circunstncias. O seu objetivo a melhoria do SGA e, por via das conseqncias, a melhoria do desempenho ambiental da organizao. Deve-se ressaltar que a responsabilidade por essa anlise da alta administrao, sendo esta, portanto, quem deve conduzi-la e no os administradores de outros nveis hierrquicos mediante delegao. Esses administradores, no entanto, devem participar da anlise, desde que tenham recebido responsabilidades definidas no SGA, como estabelece um dos seus requisitos, comentado anteriormente.Relaes com outros sistemas de gestoUma organizao pode ter ou vir a ter outros sistemas de gesto estruturados alm do SGA. Por isso, os elementos do SGA devem ser concebidos e revisados de modo que eles sejam efetivamente harmonizados e integrados aos elementos dos outros sistemas de gesto existentes. Para facilitar a integrao com o sistema de gesto da qualidade, o Anexo B da ISO 14001 apresenta uma tabela de correspondncia entre a ISO 9001 e a ISO 14001, com o objetivo de mostrar que esses dois sistemas podem ser utilizados conjuntamente por uma organizao. Esse anexo informa que as ligaes diretas entre as subsees dessas duas normas podem ser estabelecidas apenas quando os requisitos de ambas forem amplamente coincidentes em seus requisitos. Como se v na Tabela 5.1, o sistema de gesto da qualidade, conforme a ISO 9001, muito mais exigente em termos de requisitos do que o SGA, de acordo com a norma ISO 14001.A organizao que j possui um sistema de gesto da qualidade ter mais facilidade para implantar um SGA. Nesse caso, as seguintes alternativas so possveis: uma, manter um SGA totalmente independente, de modo que os dois sistemas funcionem em separado. Nesse caso, pode ocorrer duplicao de esforos e conflitos entre os dois sistemas. No outro extremo est um nico sistema, ou melhor, sistemas de gesto integrados envolvendo a qualidade e o meio ambiente. O meio-termo um SGA independente, capaz de aproveitar os elementos do sistema de qualidade que apresentem uma elevada correspondncia com os elementos ambientais. A integrao dos sistemas de gesto da qualidade e do meio ambiente gera muitas vantagens, como planejamento e coordenao unificados e o uso de procedimentos comuns para certas questes, como os controles operacionais e a gesto da documentao pertinente. Com isso, evita-se a disperso de recursos humanos e materiais, tornando sua utilizao mais eficiente. O resultado esperado a obteno de sinergia no tratamento das questes pertinentes qualidade e ao meio ambiente, conforme definidos pela organizao.

198Gesto ambiental empresarialO mesmo ocorre com os sistemas de gesto da sade ocupacional e segurana do trabalho constitudos a partir de normas voluntrias, como as normas BS 8800 e OHSAS 18000 (de Occupacional Healh and Safety Assessment). A BS 8800, criada pelo British Standard Institute em 1996, um guia para implantar um sistema de gesto da sade ocupacional e segurana do trabalho e, como tal, no apresenta requisitos certificveis. A famlia OHSAS 18000 est constituda pelas seguintes normas: OHSAS 18001, que especifica os requisitos do sistema, e a 18002, que um guia para auxiliar sua concepo e implementao. Apesar da semelhana estrutural com as normas ISO 14001 e 14004, trata-se de uma famlia de normas independentes criadas por diversas entidades, inclusive organismos de certificaes. Essa semelhana foi produzida com o objetivo de facilitar a integrao entre os dois sistemas de gesto. Nelas se encontram tabelas de correspondncia com a ISO 9001 e a ISO 14001.Observa-se uma tendncia para juntar as questes relativas qualidade, ao meio ambiente, segurana e sade, formando sistemas de gesto complexos pelo fato de tratarem de questes diferentes, mas bem menos do que criar e gerir sistemas separados para cada uma dessas questes. O resultado a criao de sistemas de gesto integrados envolvendo qualidade, meio ambiente e sade e segurana do trabalho. Na literatura inglesa, esses sistemas so conhecidos pela sigla SHEQ, de safcty (segurana), health (sade), environment (meio ambiente) e qualily (qualidade). Esses sistemas de gesto integrados so criados a partir de comprometimentos e polticas comuns no nvel estratgico, que se desagregam a partir de requisitos especficos (requisitos legais e outros subscritos, objetivos e metas, programas, controles operacionais, comunicaes e outros), mas sempre mantendo em comum tudo o que tiver alta correspondncia mesmo no nvel operacional, por exemplo, treinamentos documentao, controle de documentos, registros e outros.

Sistemas de gesto ambiental199

Tabela 5.1 NBR ISO 14001:2004 e NBR ISO 9000:2000 - CorrespondnciasNBR ISO 14000:2004Sistema de Gesto Ambiental (SGA)NBR ISO 9001:2000Sistema de Gesto da Qualidade (SGQ)

TtuloSubseoSubseoTtulo

Requisitos do SGA (ttulo somente)44Requisitos do SGQ (ttulo somente)

Requisitos gerais4.14.1Requisitos gerais

Poltica ambiental4.25.1 5.38.5.1Comprometimento da direo Poltica da qualidade Melhoria contnua

Planejamento (ttulo somente)4.35.4Planejamento (ttulo somente)

Aspectos ambientais4.3.15.2Foco no cliente

7.2.1Determinao de requisitos relacionados ao produto

7.2.2Analise critica dos requisitos relacionados ao produto

Requisitos legais e outros4.3.25.2Foco no cliente

7.2.1Determinao de requisitos relacionados ao produto

Objetivos, metas e programas4.3.35.4.1Objetivos da qualidade

5.4.2Planejamento do SGQ

8.5.1Melhoria contnua

Implementao e operao4.47Realizao do produto (ttulo somente)

(ttulo somente)

Recursos, funes,4.4.15.1Comprometimento da direo

responsabilidades e autoridades5.5.1Responsabilidade e autoridade

5.5.2Representante da direo

6.1Proviso de recursos

6.2Recursos humanos

6.3Infra-estrutura

Competncia, treinamento4.4.26.2.1Generalidades

e conscientizao6.2.2Competncia, conscientizao e treinamento

Comunicao4.4.35.5.3Comunicao interna

7.2.3Comunicao com o cliente

Documentao4.4.44.2.1Generalidades

Controle de documento4.4.54.2.3Controle de documentos

Controle operacional4.4.67.1Planejamento da realizao do produto

7.2.1Determinao dos requisitos relacionados ao produtos

7.2.2Anlise crtica dos requisitos relacionados ao produtos

7.3.1Planejamento de projeto e desenvolvimento

7.3.2Entradas de projeto e desenvolvimento

7.3.3Sadas de projeto e desenvolvimento

(contnua)gmm \\a

200Gesto ambiental empresarialTabela 5.1 NBR ISO 14001:2004 e NBR ISO 9000:2000 - Correspondncias (continuao)NBR ISO 14000:2004NBR ISO 9001:2000

Sistema de Gesto Ambiental (SGA)Sistema de Gesto da Qualidade (SGQ)

TtuloSubseoSubseoTtulo

Controle operacional7.3.4Anlise crtica de projeto e desenvolvimento

7.3.5Verificao de projeto e desenvolvimento

7.3.6Validao de projeto e desenvolvimento

7.3.7Controle de alteraes de projeto e desenvolvimento

7.4.1Processo de aquisio

7.4.2Informaes de aquisio

7.4.3Verificao do produto adquirido

7.5Produo e fornecimento de servios

7.5.1Controle de produo e fornecimento de servio

7.5.2Validao dos processos de produo e

fornecimento de servio

7.5.3Identificao e rastreabilidade

7.5.5Preservao do produto

Preparao e resposta4.4.78.3Controle de produto no-conforme

a emergencias

Verificao (somente ttulo)4.58Medio, anlise e melhoria (somente titulo)

Monitoramento e medio4.5.17.6Controles de dispositivos de medio e monitoramento

8.1Generalidades

8.2.3Medio e monitoramento de processos

8.2.4Medio e monitoramento de produto

8.4Anlise de dados

Avaliao do atendimento4.5.28.2.3Medio e monitoramento de processos

a requisitos legais e outros8.2.4Medio e monitoramento de produto

No-conformidade, ao corretiva4.5.38.3Controle de produto no-conforme

e ao preventiva8.4Anlise de dados

8.5.2Ao corretiva

8.5.3Ao preventiva

Controle de registros4.5.44.2.4Controle de registros

Auditoria interna4.5.48.2.2Auditoria interna

Anlise pela administrao4.65.1Comprometimento da direo

5.6Anlise critica pela direo (ttulo somente)

5.6.1Generalidades

5.6.2Entradas para a anlise crtica

5.6.3Sadas da anlise critica

8.5.1Melhoria continua

Fome: ABNT. NBR ISO 14001:2004: Anexo B, Tabela B2.

Sistemas de gesto ambiental201Outros sistemas tm sido criados para gerir a responsabilidade social, como a SA 8000, criada em 1997 pela Social Accountability International, uma norma voluntria que especifica requisitos de responsabilidade social auditveis, de modo que a organizao possa im- plement-los e demonstr-los a terceiros. As questes centrais dessa norma so as relaes de trabalho, como trabalho infantil, liberdade de sindicalizao, remunerao, discriminao e outras. Entre os requisitos dessa norma est o atendimento a diversas convenes da Organizao Internacional do Trabalho. A norma AA 1000, criada em 1999 pelo Institute of Social and Ethical AccounlAbility, com sede em Londres, uma norma de processo que auxilia a organizao a estabelecer melhores prticas de responsabilidade social, tendo como base o dilogo com as partes interessadas (stakcholders), internas e externas. Os exemplos no param por a. Observa-se, a partir de meados da dcada de 1990, o surgimento de diversas normas e cdigos de conduta que tratam de temas relacionados de algum modo com o meio ambiente e que se enquadram na categoria de acordos voluntrios unilaterais promovidos por entidades independentes. Um elemento facilitador que a maioria dessas normas voluntrias estruturada de acordo com o ciclo PDCA. Essas normas e cdigos devem se articular com o SGA, pois qualquer que seja o entendimento de responsabilidade social, a questo ambiental dever ser considerada, ainda que na sua forma mais restrita, que a conformidade legal.Certificao do sistema de gesto ambientalA norma ISO 14001 aplica-se a qualquer organizao que deseje: (a) estabelecer, implementar, manter e aprimorar um SGA; (b) assegurar-se da conformidade com sua poltica ambiental definida; e (c) demonstrar conformidade com esta norma por meio de uma:1. auto-avaliao ou autodeclarao;2. confirmao por partes interessadas na organizao, como os clientes;3. confirmao de sua autodeclarao por meio de uma organizao externa; ou4. certificao ou registro do seu SGA por uma organizao externa63.Em outras palavras, um SGA pode ser criado e implementado para alcanar objetivos internos e externos. A autodeclarao de conformidade se realiza por meio de avaliaesABNT, 2004, seo 1, objetivo.

202 Gesto ambiental empresarialinternas conduzidas pela prpria organizao que a criou. Certificao o procedimento pelo qual uma terceira parle d garantia escrita de que um produto, processo ou servio est em conformidade com os requisitos especificados. Terceira parte uma pessoa ou organismo reconhecido como independente das partes envolvidas, no que se refere a um dado assunto. Registro o procedimento pelo qual um organismo indica as caractersticas pertinentes de um produto, processo ou servio, ou caractersticas particulares de um organismo ou pessoa, em lista apropriada e disponvel ao pblico64.O SGA pode ser certificado por outras organizaes, por exemplo, clientes ou quem os representem. possvel que clientes avaliem o SGA da organizao fornecedora, porm, na prtica, o que se observa a preferncia pelas organizaes externas acreditadas para tal no pas onde o SGA opera, pois isso evita o inconveniente de ter organizaes interessadas realizando visitas, medindo e conferindo dados, entrevistando o pessoal e outros procedimentos para verificar a conformidade do SGA aos requisitos da norma. Com o uso de organizaes externas credenciadas, os custos de transaes entre as empresas interessadas se reduzem, o que explica a grande procura por certificaes realizadas por organizaes independentes, denominadas Organismos de Certificao Credenciados.Organismo de certificao credenciado (OCC)Para ser credenciado pelo rgo governamental competente, um organismo de certificao precisa atender critrios previamente estabelecidos em documentos normativos. Cada pas possui esquemas prprios para acreditar e controlar as atividades dos organismos de certificao, embora haja um amplo esforo internacional para harmonizar critrios e procedimentos, como fazem o International Accreditation Forum (IAF) e certas normas internacionais, caso da norma guia ISO/1EC 66, que estabelece requisitos gerais para os organismos de certificao e registros de SGAs65. No Brasil, esses critrios so definidos pelo Sistema Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial (Sinmetro), estabelecido pela Lei 5.966 de 1973, cuja estrutura pode ser vista no Quadro 5.10. As questes concernentes ao credenciamento cle organismos de certificao so tratadas pelo Comit Brasileiro de Avaliao da Conformidade (CBAC), que tem como atribuio assessorar o Conmetro na estruturao de um sistema de avaliao da conformidade harmonizado internacionalmente e na proposio de princpios e polticas a serem adotadas.64 ABNT, NBR 1SO/1EC. Guia 2. 1998.65 ABNT. ABNT ISO/IEC. Guia 66:2001- requisitos gerais para organismos que atuam na avaliao, certificao e registro de sistemas de gesto ambiental. Rio de Janeiro, 2001.

Sistemas de gesto ambiental203Quadro 5.10 Sinmetro - Objetivo e componentesObjetivoFormular e executar a poltica nacional de metrologia, normalizao industrial e certificao de qualidade de produtos industriais.ComponentesIntegram o Sinmetro todas as entidades pblicas e privadas que exeram atividades relacionadas com os objetivos acinia.Principais rgos rgo normativo: Conselho Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial (Conmetro). rgo executivo central: Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial (Inmetro). Outros organismos (exemplos): Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT); institutos Estaduais de Pesos e Medidas; Redes Metrolgicas Estaduais; Organismos de Certificao Credenciados (OCCs); Organismos de Treinamento Credenciados (OCTs); Organismos de Inspeo Credenciados (OICs); Laboratrios de Calibrao e Ensaios Credenciados.Membros do Conmetro Ministros de Estado dos seguintes Ministrios: Desenvolvimento; Indstria e Comrcio Exterior; Meio Ambiente; Sade; Cincia e Tecnologia; Relaes Exteriores; Justia; Agricultura e Abastecimento. Presidentedo Inmetro. Presidentedas seguintes instituies:ABNT, ConfederaoNacional da Industria (CNI)e Institutode Defesa do Consumidor(Idec).Comits do Conmetro Comit Brasileiro de Avaliao da Conformidade (CBAC). Comit Brasileiro de Normalizao (CBN). Comit Brasileiro de Metrologia (CBM). Comit Brasileiro de Regulamentao (CBR). Comit Codcx Alimentarius do Brasil (CCSB). Comit deCoordenao de BarreirasTcnicas ao Comrcio (CBTC).Fonte: Lei 5.966, de11/12/1973 e outros textoslegais decorrentes.

204Gesto ambiental empresarialA certificao de conformidade, que pode ser compulsria ou voluntria, o ato pelo qual um organismo de certificao atesta que um sistema, processo, produto ou servio atende os requisitos especificados pelas normas pertinentes. No caso do SGA tratado nesse captulo, trata-se de certificao voluntria. No Brasil, um Organismo de Certificao Credenciado (OCC) uma organizao de terceira parte credenciada pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial (Inmetro), rgo executivo central do Sinmetro. Credenciamento o modo pelo qual um rgo autorizado reconhece formalmente que uma entidade, pessoa ou organizao competente para realizar tarefas especficas, segundo os princpios e requisitos estabelecidos pela legislao do pas. Um desses requisitos procura manter a independncia dos organismos de certificao, para impedir que eles sejam contratados para auxiliar a organizao em relao ao funcionamento do seu SGA com vistas a facilitar a certificao.Todos os OCCs devem passar por um processo de credenciamento segundo os critrios estabelecidos pela legislao brasileira, para poderem emitir certificados de conformidade vlidos no Brasil. Isso pode ser insuficiente quando o que est em jogo o comrcio internacional. Por isso, os OCCs tm como prtica se credenciarem em vrios pases para que os certificados emitidos por eles tenham uma aceitao mais ampla. A quantidade de credenciamentos estrangeiros e a credibilidade do sistema de credenciamento atuam como elementos de promoo do OCC, quando da escolha por parte da organizao interessada em certificar seu SGA. Um OCC credenciado apenas pelo Inmetro ter menos apelo promocional que outro que ostente em seu portflio credenciamentos pelo RAB norte-americano, DAR alemo, JAB do Japo e outros rgos credenciadores de importncia reconhecida mundialmente66.Um SGA requer a formulao de diretrizes e o envolvimento de todos os segmentos da empresa para tratar das questes ambientais de modo integrado com as demais atividades da empresa. Segundo a norma ISO 14001, uma organizao que possua um SGA poder equilibrar e integrar interesses econmicos e ambientais e alcanar vantagens competitivas significativas. Um dos objetivos explcitos das normas ISO em geral contribuir para eliminar as barreiras tcnicas injustificadas de acordo com as novas regras de comrcio66 RAB = Registrar Accrditation Board/National Accreditation Program; DAR = Deutscher AkkrediticriingsRat; JAB = Japan Accreditation Board for Conformity Assessment. Outros rgos credenciadores importantes: RvA = Raad Voor Acreditatie (Pases Baixos); Enac = Entidad Nacional de Acreditacin (Espanha); Ukas = United Kingdom Accreditation Service (Reino Unido); Confrac = Comit Franais dAccreditacum; Sincert = Sisiema Nazionale per IlAccreditamento degli Organsimi di Cenificazione (Itlia).

Sistemas de gesto ambiental205internacional ps Rodada Uruguai. Tem sido voz corrente afirmar que a certificao do SGA constitui um pedgio que a empresa deve pagar para poder participar desse mercado.A normalizao de um modo geral desempenha um papel fundamental nos processos de produo e distribuio, podendo facilitar ou criar obstculos ao comrcio internacional. A existncia de vrias normas de mbito nacional sobre uma mesma matria constitui uma barreira ao comrcio, pois aumenta os custos do exportador que pretende atender a mais de um mercado. Uma norma internacional gera economia de recursos para o produtor e maior segurana para o consumidor e torna mais gil o comrcio entre naes, pois permite simplificar e uniformizar procedimentos administrativos e operacionais. Apesar disso, h uma certa desconfiana nos pases no desenvolvidos de que as normas sobre SGA elaboradas pela ISO possam se tornar barreiras tcnicas para proteger empresas dos pases desenvolvidos, que operam com custos mais elevados decorrentes de legislaes mais rigorosas. Essa preocupao no totalmente desprovida de sentido, porquanto se sabe que as questes ambientais tm sido usadas como pretexto para prticas protecionistas e a normalizao ambiental no mbito da ISO est sendo conduzida sob a regncia de rgos de normalizao de pases desenvolvidos (v