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SIEBERT, Silvânia. A crônica brasileira tecida pela história, pelo jornalismo e pela literatura. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 14, n. 3, p. 675-685, set./dez. 2014. Página675 http://dx.doi.org/10.1590/1982-4017-140313-4713 A CRÔNICA BRASILEIRA TECIDA PELA HISTÓRIA, PELO JORNALISMO E PELA LITERATURA Silvânia Siebert Universidade do Sul de Santa Catarina Tubarão, Santa Catarina, Brasil Resumo: Neste texto, buscamos analisar como o gênero crônica histórica passa a funcionar como crônica brasileira, a partir do século XIX. Para isso, observamos a cadeia de sentidos que se constrói com o gênero ao longo de seu percurso discursivo, enfocando principalmente a trama discursiva dos discursos da História, do Jornalismo e da Literatura. A perspectiva teórica que embasa esta reflexão parte, principalmente, das leituras de Bakhtin (2003), Grillo (2006) e Machado (2005) sobre gêneros discursivos, e de Alencar (2003), Braga (2011), Coutinho (2003), Candido (1992) Meyer (1992), Santos (2005), entre outros, sobre o gênero crônica e seu funcionamento. Palavras-chave: Crônica. Gênero. Enunciado. História. Jornalismo. Literatura. 1 INTRODUÇÃO Neste artigo, buscamos analisar como se dá a trama discursiva entre as diferentes esferas/campos ligadas à História, ao Jornalismo e à Literatura que, articuladas ou engendradas, permitem a realização do gênero “crônica brasileira”. Para Grillo, “A noção de esfera permeia a caracterização do enunciado e dos seus tipos estáveis, os gêneros, no que diz respeito ao seu tema, à sua relação com elos precedentes (enunciados anteriores) e com os elos subsequentes (a atitude responsiva de seus enunciadores)” (GRILLO, 2006, p. 146). Com este gesto de leitura buscamos delimitar nosso campo de olhar a partir da observação do percurso semântico da crônica, dando ênfase ao funcionamento do gênero crônica brasileira, que se realiza a partir do século XIX. Neste período ocorrem mudanças profundas no campo político, econômico, social e cultural no Brasil, o que, em nosso entendimento, está refletido no gênero crônica brasileira. Segundo Bakhtin (2003), a análise dos gêneros nos permite observar o funcionamento do enunciado como fato histórico/cultural, na busca de compreendermos como o enunciado se realiza na língua e vice-versa. Ao analisarmos o enunciado sob a perspectiva do dialogismo estaremos observando mais o contexto comunicativo e a cultura do que propriamente a Este artigo remete a um tópico de nossa tese de doutorado Crônicas em antologias, suas adaptações audiovisuais e os sentidos: o gênero na formação intercultural discursiva em comunicação social, defendida no IEL/Unicamp, em 2012. Foi apresentado no Primeiro Seminário Nacional Discurso, Cultura e Mídia, realizado na Unisul em 2012. Doutora em Linguística Aplicada pela UNICAMP. Professora do Programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem da Unisul. Email: [email protected].

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  • SIEBERT, Silvnia. A crnica brasileira tecida pela histria, pelo jornalismo e pela literatura. Linguagem em (Dis)curso LemD, Tubaro, SC, v. 14, n. 3, p. 675-685, set./dez. 2014.

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    http://dx.doi.org/10.1590/1982-4017-140313-4713

    A CRNICA BRASILEIRA TECIDA PELA HISTRIA,

    PELO JORNALISMO E PELA LITERATURA

    Silvnia Siebert

    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Tubaro, Santa Catarina, Brasil

    Resumo: Neste texto, buscamos analisar como o gnero crnica histrica passa a

    funcionar como crnica brasileira, a partir do sculo XIX. Para isso, observamos a cadeia

    de sentidos que se constri com o gnero ao longo de seu percurso discursivo, enfocando

    principalmente a trama discursiva dos discursos da Histria, do Jornalismo e da

    Literatura. A perspectiva terica que embasa esta reflexo parte, principalmente, das

    leituras de Bakhtin (2003), Grillo (2006) e Machado (2005) sobre gneros discursivos, e de

    Alencar (2003), Braga (2011), Coutinho (2003), Candido (1992) Meyer (1992), Santos

    (2005), entre outros, sobre o gnero crnica e seu funcionamento.

    Palavras-chave: Crnica. Gnero. Enunciado. Histria. Jornalismo. Literatura.

    1 INTRODUO

    Neste artigo, buscamos analisar como se d a trama discursiva entre as diferentes

    esferas/campos ligadas Histria, ao Jornalismo e Literatura que, articuladas ou

    engendradas, permitem a realizao do gnero crnica brasileira. Para Grillo, A

    noo de esfera permeia a caracterizao do enunciado e dos seus tipos estveis, os

    gneros, no que diz respeito ao seu tema, sua relao com elos precedentes

    (enunciados anteriores) e com os elos subsequentes (a atitude responsiva de seus

    enunciadores) (GRILLO, 2006, p. 146).

    Com este gesto de leitura buscamos delimitar nosso campo de olhar a partir da

    observao do percurso semntico da crnica, dando nfase ao funcionamento do

    gnero crnica brasileira, que se realiza a partir do sculo XIX. Neste perodo ocorrem

    mudanas profundas no campo poltico, econmico, social e cultural no Brasil, o que,

    em nosso entendimento, est refletido no gnero crnica brasileira. Segundo Bakhtin

    (2003), a anlise dos gneros nos permite observar o funcionamento do enunciado como

    fato histrico/cultural, na busca de compreendermos como o enunciado se realiza na

    lngua e vice-versa. Ao analisarmos o enunciado sob a perspectiva do dialogismo

    estaremos observando mais o contexto comunicativo e a cultura do que propriamente a

    Este artigo remete a um tpico de nossa tese de doutorado Crnicas em antologias, suas adaptaes

    audiovisuais e os sentidos: o gnero na formao intercultural discursiva em comunicao

    social, defendida no IEL/Unicamp, em 2012. Foi apresentado no Primeiro Seminrio Nacional Discurso,

    Cultura e Mdia, realizado na Unisul em 2012.

    Doutora em Lingustica Aplicada pela UNICAMP. Professora do Programa de Ps-graduao em

    Cincias da Linguagem da Unisul. Email: [email protected].

  • SIEBERT, Silvnia. A crnica brasileira tecida pela histria, pelo jornalismo e pela literatura. Linguagem em (Dis)curso LemD, Tubaro, SC, v. 14, n. 3, p. 675-685, set./dez. 2014.

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    palavra. De acordo com Machado (2005, p. 159), o gnero, na teoria do dialogismo,

    est inserido na cultura, em relao qual se manifesta como memria criativa onde

    esto depositadas no s as grandes conquistas das civilizaes, como tambm as

    descobertas significativas sobre os homens e suas aes no tempo e no espao. A

    crnica, nesse sentido, um gnero privilegiado, pois nos permite compreender a

    relao entre a histria da sociedade e a histria da linguagem. Para a anlise do gnero

    discursivo, Bakhtin (2003) sugere conhecer a histria do gnero, procedimento que

    realizaremos nas sees intituladas: Crnica histrica e Crnica brasileira; Bakhtin

    tambm prope classificar o gnero como primrio, quando constitudo por

    determinados tipos de dilogos orais, ou como gnero secundrio, quando formado por

    textos literrios, publicsticos, cientficos, etc.; este procedimento ser realizado na

    seo: A crnica suas condies de produo e circulao. Esta classificao ser

    realizada a partir da observao dos enunciados recortados de pesquisadores que

    trabalham no estudo da crnica e de cronistas, que em suas produes buscavam definir

    o gnero.

    2 CRNICA HISTRICA

    O gnero possui uma relao estreita com o tempo, expressa em sua etimologia,

    pois a palavra crnica tem origem em Cronos, o tempo. Na mitologia grega, Cronos

    ocupa o lugar de vilo: ele trai os pais Urano e Gaia e se casa com a irm Reia, a fim de

    ocupar o trono no Olimpo. Urano e Gaia rogam-lhe uma praga, segundo a qual seus

    prprios filhos o derrotariam. Para que o desgnio no se cumpra, Cronos devora um a

    um seus prprios filhos ao nascerem. Reia, porm, consegue enganar Cronos e, ao dar

    luz, d-lhe de comer uma pedra. O filho poupado da morte Zeus, que, tempos depois,

    oferece uma droga ao pai e o faz vomitar todos os filhos devorados, os quais, unidos,

    derrotam o pai aps uma sangrenta guerra (BENDER; LAURITO, 1993). A passagem

    mitolgica de Cronos mostra a relao etimolgica do termo cronos com o tempo, que

    pretende ser imutvel, infalvel, mas, independentemente de qualquer vontade,

    transcorre e muda sem que deuses ou humanos possam ret-lo. O tempo senhor de

    cronos, e a partir dessa relao cunhado o termo grego chroniks, o termo em latim

    chronicus e o portugus crnica (BENDER; LAURITO, 1993). O tempo relatado da

    liturgia, o tempo cronolgico linear e o tempo escatolgico (LE GOFF, 2003) serviram

    de referncia aos cronistas que relatavam os feitos histricos. Essa importncia dada ao

    tempo nos leva at Plato, que se dedicou ao seu estudo e o definia como a imagem

    mvel da eternidade. Tambm Aristteles o conceituava como o nmero de

    movimento segundo o antes e o depois. Ambos os filsofos relacionavam a ideia de

    tempo de movimento, ao que se passa entre um perodo, um intervalo.

    Na crnica, permanece a ideia de registrar o ocorrido em um intervalo de tempo,

    de servir de memria do que j passou, e tal caracterstica marca os textos produzidos ao

    longo da histria. Na Idade Mdia, os espanhis e os portugueses, no perodo das

    circunavegaes, faziam uso do gnero para relatarem os acontecimentos durante as

    viagens; assim, as crnicas serviam de registro para os descobrimentos de outras terras

    no Novo Mundo. A crnica funcionava como um documento que estaria ligado ao

  • SIEBERT, Silvnia. A crnica brasileira tecida pela histria, pelo jornalismo e pela literatura. Linguagem em (Dis)curso LemD, Tubaro, SC, v. 14, n. 3, p. 675-685, set./dez. 2014.

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    relato cronolgico dos fatos e, segundo Coutinho (1964), aos fatos bem-sucedidos em

    qualquer lugar. Desse modo, poderemos tomar como exemplos a referncia dada por

    Coutinho da Crnica Geral de Espanha, publicada em 1344, e o registro de Pero Vaz de

    Caminha sobre o descobrimento do Brasil, marcando a relao do cronista com seu

    interlocutor: Tome Vossa Alteza, porm, minha ignorncia por boa vontade, e creia

    bem por certo que, para aformosear nem afear, no porei aqui mais do que aquilo que vi

    e me pareceu. O registro do achamento da Terra de Vera Cruz assegura carta a

    posio de crnica histrica (CASTRO, 2007, p. 36). Segundo Melo (2002, p. 140): A

    crnica histrica assume, portanto, o carter de relato circunstanciado sobre feitos,

    cenrios e personagens, a partir da observao do prprio narrador ou tomando como

    fonte de referncia as informaes coligidas junto a protagonistas ou testemunhas

    oculares.

    Mas isto no significa dizer que seja uma crnica brasileira, termo que iremos

    adotar para as crnicas publicadas nos folhetins brasileiros. No incio do sculo XVI, o

    funcionamento da crnica tem relao estreita com a narrativa de viagem, com os

    testemunhos das conquistas alm-mar; nesse caso, os registros traziam a descrio

    pormenorizada do cenrio e dos sujeitos encontrados em suas viagens. E o cronista se

    coloca na posio de um observador da cena histrica, conforme atesta S (1997, p. 6):

    a observao direta o ponto de partida para que o narrador possa registrar os fatos de tal

    maneira que mesmo os mais efmeros ganhem uma certa concretude. Essa concretude lhes

    assegura a permanncia, impedindo que caiam no esquecimento, e lembra aos leitores que a

    realidade conforme a conhecemos, ou como criada pela arte feita de pequenos lances. Estabelecendo essa estratgia, Caminha estabeleceu tambm o princpio bsico da

    crnica: registrar o circunstancial.

    Se o circunstancial est presente no relato de Caminha, a sua subservincia

    tambm, marcando uma relao assimtrica entre autor e leitor. Esta posio, por sua

    vez, no adotada pelos cronistas do sculo XIX, que falam diretamente com seu

    interlocutor, e desta forma estabelecem uma relao diferenciada, que constitui um dos

    fatores determinantes para a realizao do gnero crnica brasileira, como veremos na

    prxima seo.

    3 CRNICA BRASILEIRA

    At o incio do sculo XIX, a crnica funcionava como relato histrico, e o

    destaque era dado aos acontecimentos realizados pelos conquistadores, os

    colonizadores. Era uma reconstituio, pela escrita, das conquistas corte1. Porm, ao

    ter contato com as Amricas, ou melhor, com o Brasil, o termo passou a funcionar de

    outra maneira: a palavra foi ganhando roupagem semntica diferente. Crnica e

    cronista passaram a ser usados com o sentido atualmente generalizado na literatura:

    um gnero especfico, estritamente ligado ao jornalismo (COUTINHO, 2003, p. 120-

    121).

    1 Artistas como Debret pintavam as paisagens brasileiras dando carter documental s artes plsticas.

  • SIEBERT, Silvnia. A crnica brasileira tecida pela histria, pelo jornalismo e pela literatura. Linguagem em (Dis)curso LemD, Tubaro, SC, v. 14, n. 3, p. 675-685, set./dez. 2014.

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    A mudana semntica comea a ser percebida pela entrada de outro sujeito nesse

    discurso, o narrador nativo, o brasileiro, a partir da chegada da famlia real ao Brasil em

    1808 e da autorizao para a publicao de jornais em terras brasileiras no mesmo ano.

    At aqui, quem falava, escrevia e publicava pelo brasileiro era o colonizador, o europeu.

    Dessa maneira, a Imprensa Brasileira ganha novos escritores, alm de novas formas de

    produo e circulao (o que no a impede de continuar recebendo influncias das

    publicaes portuguesas, inglesas e principalmente francesas). Segundo Meyer, sob a

    influncia dos folhetins franceses, autores brasileiros redigem a crnica brasileira,

    publicando-a no rodap do folhetim. Tem uma finalidade precisa: um espao vazio

    destinado ao entretenimento. E j se pode dizer tudo o que haver de constituir a matria

    e o modo da crnica brasileira (MEYER, 1992, p. 96).

    Com essas condies de produo (PCHEUX, 1997), a Imprensa Nacional

    comea a funcionar e a circular, permitindo a fabricao de um jornal brasileiro, que

    leva ao leitor as novidades da terra. E nos espaos dedicados ao entretenimento do

    folhetim, jornalistas, literatos e novos escritores expressam suas opinies e as mudanas

    ocorridas em todos os nveis sociais. A crnica, nesse perodo, constitui uma nova

    forma de dizer, em textos que tratavam dos hbitos e costumes dos brasileiros, da a

    denominao crnica brasileira, que significa esse discurso neste momento histrico.

    Segundo Joaquim Ferreira dos Santos (2005, p.16), O jornal Espelho Diamantino

    produziu, a partir de 1828, a pr-histria da crnica ao manter uma seo fixa para

    registrar os usos e costumes do perodo. O mesmo dito pela jornalista Cristiane

    Henriques Costa (2005, p. 247): o jornal Espelho Diamantino lanou no Brasil a ideia

    de que todo jornal deveria contar com um observador de costumes, que registrasse o que

    visse e ouvisse em suas andanas pelas ruas da cidade. O estilo teria continuidade em

    outras publicaes, pois, de acordo com Santos (2005, p.16), O padre Lopes Gama em

    O Carapuceiro, em 1832, e Martins Pena, no Correio da Moda, em 1839, confirmaram

    a necessidade editorial de registrar, comentar com verve, como desse na telha, o que se

    via e ouvia nas ruas.

    No entanto, esse perodo de transio no considerado em muitas publicaes

    sobre o gnero no Brasil. O perodo no lembrado, por exemplo, por Lus Augusto

    Fischer em seu livro Literatura Brasileira modos de usar. Para Fischer, o primeiro

    registro aconteceria dcadas depois do surgimento da Imprensa Nacional: o primeiro

    cronista parece que foi Francisco Otaviano de Almeida Rosa, no Jornal do Commercio

    do Rio de Janeiro, na precisa data de 2 de dezembro de 1852 (FISCHER, 2007, p. 50),

    ponto de vista tambm compartilhado por Coutinho (2003). De acordo com Grillo

    (2006, p.151):

    O conhecimento dos gneros imprescindvel para a insero em um determinado campo

    de produo cultural. Entretanto, o processo social de atualizao varia de campo para

    campo. Nas artes, as rupturas nos gneros e a inverso hierrquica dos mesmos constituem

    uma aposta capaz de marcar poca e fazer nomes de prestgio.

    E quem marcou poca foi Jos de Alencar; todos os autores citados anteriormente

    afirmam que foi Alencar que firmou o gnero nas pginas dos jornais. Segundo Santos,

    foi a partir de 1854, quando Jos de Alencar publicou o primeiro folhetim da srie Ao

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    correr da pena, no Correio Mercantil, que o gnero comeou a ficar com o jeito atual

    (2005, p.16); e Coutinho escreve: foi Jos de Alencar que imprimiu crnica a mais

    alta categoria intelectual (2003, p.124). Segundo Fischer, referindo-se a Alencar, foi

    este o primeiro a alcanar excelncia para seu texto no gnero (2007, p. 51). Costa, por

    sua vez, escreve: Joaquim Manuel de Macedo e Jos Alencar deram incio a uma raa

    de ces vadios, livres farejadores do cotidiano, batizados com outro nome vale-tudo:

    crnica (2005, p. 247).

    A falta de preciso histrica, ou de um consenso entre os pesquisadores, sobre a

    origem do termo em terras brasileiras no nos parece difcil de entender; afinal, a

    crnica, nas primeiras dcadas do sculo XIX, era um gnero discursivo novo, sendo

    constitudo pelos discursos da histria, do jornalismo e da literatura, que se

    entrecruzavam e teciam, aos poucos, o novo gnero: a crnica brasileira. Outro fator que

    dificulta a identificao do gnero pode estar ligada a sua autoria, pois na primeira

    metade do sculo XIX era escrita por jornalistas que no ganharam reconhecimento no

    campo literrio. So os textos de Jos de Alencar, Francisco Otaviano de Almeida Rosa

    e Joaquim Manuel de Macedo que do crnica sentidos da esfera literria. Nesse

    ponto da anlise, acreditamos ser importante retomar a noo de esfera/campo para

    entendermos que as palavras, expresses, proposies, podem mudar de sentido

    segundo as posies sustentadas por aqueles que as empregam; no caso Jos de Alencar,

    Francisco Otaviano Rosa e Joaquim Manuel de Macedo ocupavam lugares de destaque

    na produo dos jornais da poca e eram considerados homens de letras. Esses autores

    entrelaam gneros primrios e secundrios para constituir a crnica brasileira, diferente

    da crnica brasileira, como denomina Meyer. Em nosso entendimento, a pesquisadora,

    ao colocar o acento de crase em crnica brasileira, marca esse perodo de transio,

    entre os anos de 1808 e 1950, quando o folhetim era definido por Meyer como espao

    de vale-tudo:

    suscita todas as formas e modalidades de diverso escrita: nele se contam piadas, se fala de

    crimes e monstros, se propem charadas, se oferecem receitas de cozinha e beleza; aberto

    s novidades, nele se criticam as ltimas peas, os livros recm sados, o esboo do caderno

    B [...] (MEYER, 1992, p. 96).

    J com o termo crnica brasileira, queremos destacar quando o gnero j se

    mostra mais estabilizado, sendo reconhecido como enunciado diferenciado dos outros

    gneros e narrativas, a partir, principalmente, das publicaes de Alencar. No trecho

    recortado da crnica publicada em 24 de setembro de 1854, da srie Ao correr da

    pena, Jos de Alencar (2003, p. 29) explica como a crnica se realiza como discurso e

    gnero:

    De um lado crtico, alis de boa f, de opinio que o folhetinista inventou em vez de

    contar, o que por conseguinte excedeu os limites da crnica. Outro afirma que a plagiou, e

    prova imediatamente que se tal autor, se no disse a mesma coisa, teve inteno de dizer;

    porque enfim nihil sub sole novun. Se se trata de coisa sria, a amvel leitora amarrota o

    jornal, e atira-o de lado com um momozinho displicente a que impossvel resistir. Quando se fala de bailes, de uma mocinha bonita, de uns olhos brejeiros, o velho tira os

    culos de maado e diz entre dentes: Ah! O sujeitinho est namorando minha custa! No fala contra a reforma! Hei de suspender a assinatura.

  • SIEBERT, Silvnia. A crnica brasileira tecida pela histria, pelo jornalismo e pela literatura. Linguagem em (Dis)curso LemD, Tubaro, SC, v. 14, n. 3, p. 675-685, set./dez. 2014.

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    Alencar enuncia como se d a formao do gnero crnica brasileira ao falar do

    ofcio do folhetinista, e ao mesmo tempo marca o enunciado com a articulao dos

    gneros primrios, quando d voz ao pai conservador, e secundrios, quando da

    mobilizao dos discursos histrico, literrio e jornalstico, evidenciando a diferena

    discursiva relativamente crnica brasileira referida por Meyer. Outra diferena

    significativa para a constituio do novo gnero o dilogo direto entre autor e leitor(a).

    Na crnica brasileira, Alencar e o/a leitor(a) estabelecem uma relao de proximidade,

    quase ntima, conversando tanto com as mulheres como com os homens, o que provoca

    um deslocamento ainda maior nas posies dialgicas, tanto de escritura como de

    leitura do gnero. Ao falar da mocinha, do pai e do pretendente, Alencar atrai a ateno

    dos diferentes leitores, colocando-os como protagonistas na cena enunciativa central da

    crnica. O/A leitor(a) consegue se ver nesse lugar criado, lhe familiar. Machado de

    Assis, ao comentar a produo cronstica de Jos de Alencar, escreveu: curto era o

    espao, pouca a matria; mas a imaginao de Alencar supria ou alargava as coisas2. A

    relao de proximidade com os/as leitores/as buscada por Alencar, segundo Nelson

    Werneck Sodr (1964), se dava com a colocao destes figurando nos romances como

    personagens fundamentais. Em nossa anlise, identificamos a mesma estratgia adotada

    para os romances, nos textos cronsticos de Alencar, onde as personagens criadas para

    ilustrar a crnica so as mesmas buscadas para a leitura no folhetim/jornal.

    4 A CRNICA SUAS CONDIES DE PRODUO E SIGNIFICAO

    Mesmo com tantas inovaes enunciativas e sendo escrita por grandes escritores

    da literatura brasileira, crnica no lhe foi garantida posio de grande gnero literrio

    entre os literatos, conforme descreve Candido (1992, p.13):

    A crnica no um gnero maior. No se imagina uma literatura feita de grandes cronistas,

    que lhe dessem o brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem se

    pensaria em atribuir o Prmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece

    que a crnica um gnero menor. Graas a Deus seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica perto de ns.

    A partir do dizer de Candido, podem-se levantar algumas hipteses: o carter de

    produto consumido e renovado a cada dia do papel jornal, por ser um gnero originrio

    do rodap do folhetim, por seu tamanho e relatar coisas do povo contribuam, para essa

    viso, de alguns pesquisadores, de que a crnica era um gnero menor da literatura. Seu

    descarte, sua durabilidade, seu leitor afetavam essa significao. Segundo S (1997, p.

    10):

    2 Publicado como prefcio para uma edio dO Guarani, da qual saram apenas os primeiros fascculos,

    em 1887. Disponvel em:

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    O jornal, portanto, nasce, envelhece e morre a cada 24 horas. Nesse contexto, a crnica

    assume essa transitoriedade, dirigindo-se a leitores apressados, que lem nos pequenos

    intervalos da luta diria, no transporte ou no raro momento de trgua que a televiso lhes

    permite. Sua elaborao se prende a essa urgncia: o cronista dispe de pouco tempo para

    datilografar seu texto, criando-o, muitas vezes, na sala esfumaada de uma redao. Mesmo

    quando trabalha no conforto e no silncio de sua casa, ele premido pela correria com que

    se faz um jornal, o que acontece mesmo com os suplementos semanais, sempre

    diagramados com certa antecedncia.

    Outro fator que pode ter contribudo para que a crnica fosse considerada gnero

    menor, por Candido e S, deve-se ao seu modo de funcionamento no jornal, que est

    ligado ao modo de produo do discurso jornalstico, compreendido aqui como o

    discurso que busca ordenar e organizar cotidianamente os acontecimentos, mostrando as

    diferentes verses dos fatos, mas nunca diferente do que foi relatado (MARIANI, 1998).

    O discurso jornalstico, por sua pressa em produzir e publicar novidades todos os dias,

    para muitos autores torna-se um discurso pouco afeito forma, privilegiando apenas o

    contedo. Sua relevncia (discurso jornalstico) atribuda busca do sentido de

    unidade e de uma pretensa verdade, ligado ao acontecimento histrico e descrio

    dos fatos ou narrao do ocorrido, e no propriamente por sua qualidade esttica; por

    sua vez, no gnero crnica os sentidos ligados ao jornalismo e a seu modo de produo

    no impedem o cruzamento do discurso da literatura, entendido aqui como um discurso

    que, na contramo do discurso do jornalismo, trabalha o texto com toques poticos,

    ficcionais ou dramticos (CANDIDO, 1995), como encontramos nas crnicas de Rubem

    Braga, Nelson Rodrigues e Clarice Lispector, por exemplo. Ou seja, por ser um gnero

    hbrido, fica difcil enquadr-lo, classific-lo, faz-lo pertencer a uma determinada

    esfera ou campo uma vez que entendemos que as esferas dos discursos da histria, do

    jornalismo e da literatura contribuem para sua constituio, conforme expressado na

    crnica de Artur da Tvola:

    A literatura do jornal. O jornalismo da literatura. a pausa da subjetividade, ao lado da

    objetividade da informao do restante do jornal. Um instante de reflexo, diante da opinio

    peremptria do editorial. [...] , pois, a expresso jornalstico-literria da necessidade de

    no desistir de ser e sentir. A crnica o samba da literatura (TVOLA, 2001).

    A articulao discursiva entre as diferentes esferas parece exercer um fascnio nos

    cronistas, porque enquanto de um lado trabalha-se com o tempo, com o cotidiano que

    so marcas prprias dos discursos jornalstico e histrico, por outro lado mobiliza a

    fabulao da criao ficcional e potica do discurso da literatura. Assim, a crnica

    discursiviza o cotidiano e permite a possibilidade do equvoco3 (MEDEIROS, 2004).

    Uma frmula to tentadora que serviu de inspirao para Machado de Assis, escrever

    como se cria a crnica.

    H um meio certo de comear a crnica por sua trivialidade. dizer: Que calor! Que

    desenfreado calor! Diz-se isto agitando as pontas do leno, bufando como um touro, ou

    simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenmenos atmosfricos,

    fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se

    um suspiro a Petrpolis, e La glace est rompue, est comeada a crnica (ASSIS apud

    SANTOS, 2005, p. 27).

    3 Medeiros entende a crnica como um discurso que se constitui a partir de uma falha no ritual de sua

    produo.

  • SIEBERT, Silvnia. A crnica brasileira tecida pela histria, pelo jornalismo e pela literatura. Linguagem em (Dis)curso LemD, Tubaro, SC, v. 14, n. 3, p. 675-685, set./dez. 2014.

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    Machado de Assis mostra ao leitor, em O nascimento da crnica, que o gnero

    privilegia o cotidiano; comea com uma conversa despretensiosa sobre o dia, temperada

    com expresses em francs, em um estilo que atinge o leitor mais exigente. Indo

    frente no tempo, temos Rubem Braga, considerado por Bender como o maior cronista

    brasileiro, sendo reverenciado por ter um texto com fortes marcas poticas. E, por meio

    da poesia, dos versos, repensa o fazer cronstico, na crnica A traio das elegantes - O

    mistrio da poesia:

    No sei o nome desse poeta, acho que boliviano; apenas lhe conheo um poema, ensinado

    por um amigo. E s guardei os primeiros versos; Trabajar era bueno en el Sur... Cortar los

    rboles, hacer canoas de los troncos. E tendo guardado esses dois versos to simples, aqui

    me debruo ainda uma vez sobre o mistrio da poesia. [...] Lembrei-me agora mesmo, no

    instante em que abri a mquina para trabalhar nessa coisa v e cansativa que fazer

    crnica. De onde vem o efeito potico? fcil dizer que vem do sentido dos versos; mas

    no apenas do sentido. [...] Isso me lembra um dos maiores versos de Cames, todo ele

    tambm com as palavras mais corriqueiras de nossa lngua: "A grande dor das coisas que

    passaram." Talvez o que impressione seja mesmo isso: essa faculdade de dar um sentido

    solene e alto s palavras de todo dia. Nesse poema sul-americano a idia da canoa

    tambm um motivo de emoo (BRAGA, 2011, p. 347).

    Braga escreve que a crnica coisa v e cansativa. Mas pensa no efeito potico.

    De onde vem? interroga-se. E, para reconsiderar a sentena, cita Cames. D-lhe gosto

    trabalhar com as palavras, com os sentidos. E a crnica permite este gesto, de estar c e

    l, da incerteza, da reflexo, do potico em coisas que parecem comuns, mas aos olhos

    dos cronistas transformam-se em matria-prima de alta qualidade. Na crnica de Sabino

    o olhar no corriqueiro e a preocupao com a literalidade do texto so constitutivos do

    enunciado (assim eu queria meu ltimo poema), em sua ltima Crnica:

    A caminho de casa, entro num botequim da Gvea para tomar um caf junto ao balco. Na

    realidade, estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de

    estar inspirado, de coroar com xito mais um ano nessa busca do pitoresco ou do irrisrio

    no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diria algo de seu disperso

    contedo humano, fruto da convivncia, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao

    circunstancial, ao episdico. Dessa perseguio do acidental, quer num flagrante de

    esquina, quer nas palavras de uma criana, ou num incidente domstico, torno-me simples

    espectador e perco a noo do essencial. Sem nada mais para contar, curvo a cabea e tomo

    meu caf, enquanto o verso do poeta se repete na lembrana: assim eu queria meu ltimo poema. No sou poeta e estou sem assunto. Lano ento um ltimo olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crnica (SABINO apud SANTOS, 2005, p.

    188).

    O texto marca a preocupao do autor com a composio, com o estilo e com o

    perene, preocupaes mais ligadas ao discurso da literatura. Indo um pouco mais

    frente, chegamos a Luis Fernando Verssimo. O cronista exemplifica a relao entre

    autor e gnero, com a seguinte frase: na verdade, a gente no escreve sobre a rotina,

    escreve sobre uma quebra de rotina, sobre coisas incomuns que acontecem com pessoas

    comuns e mudam suas vidas, alguma epifania ou paixo (2008, p. 32).

  • SIEBERT, Silvnia. A crnica brasileira tecida pela histria, pelo jornalismo e pela literatura. Linguagem em (Dis)curso LemD, Tubaro, SC, v. 14, n. 3, p. 675-685, set./dez. 2014.

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    Machado de Assis, Rubem Braga, Fernando Sabino e Luis Fernando Verssimo,

    mesmo com a distncia do tempo, e de estilos, entre seus dizeres e produes, mantm

    uma mesma compreenso com o gnero: privilegiar o diferente do dia a dia sem perder

    a graa do dizer. Essa relao com o acontecimento menor e o prosaico e, ao mesmo

    tempo, com o inusitado da vida do homem comum, serve de base para os cronistas

    desenvolverem seus textos. E esse seria o n discursivo da crnica brasileira, entre a

    histria, o jornalismo e a literatura, e que, segundo Candido, garantiria candidatura do

    gnero perfeio.

    Por meio dos assuntos, da composio aparentemente solta, do ar de coisa sem necessidade

    que costuma assumir, ela se ajusta sensibilidade de todo dia. Principalmente porque

    elabora uma linguagem que fala de perto ao nosso modo de ser mais natural. Na sua

    despretenso humanizada; e esta humanizao lhe permite, como compensao, sorrateira,

    recuperar com a outra mo uma certa profundidade de significado e um certo acabamento

    de forma, que de repente podem fazer dela uma inesperada embora discreta candidata

    perfeio (CANDIDO, 1992, p.13-14).

    Candido caracteriza a crnica como gnero menor, mas ao mesmo tempo se

    desdobra em elogios para o gnero. Quem escreve crnica sabe desta condio, mas isso

    no impede ou impediu que o lugar do cronista, de observador do social, do homem

    comum que escreve com graa ao longo da histria, fosse ocupado por grandes

    jornalistas/escritores, escritores/jornalistas, ou, como queiram chamar Jos de Alencar,

    Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Joo do Rio, Fernando Sabino,

    Tarsila do Amaral, Rubem Braga, Nelson Rodrigues, Luis Fernando Verissimo, Mario

    Prata, entre tantos outros que escreveram memorveis histrias. Em seus afazeres, esses

    autores marcam a relao da crnica com as esferas discursivas, da histria, do

    jornalismo e da literatura, e este pode ser um dos fatores que a fazem to querida por

    seus leitores.

    A intimidade, a histria do cotidiano e a possibilidade de sentidos outros so

    transpostos s crnicas que atravessam dcadas, sendo lidas e relidas por todas as

    geraes, publicadas em jornais de bairro ou de circulao nacional, em revistas, em

    livros e em antologias, mas que vivem sob o movimento da linguagem e do discurso.

    Assim, no final do sculo XX e incio do sculo XXI as crnicas so adaptadas para os

    meios audiovisuais, publicadas em blogs, dando continuidade ao que lhes constitutivo:

    permanecer em movimento, confrontando a histria, o jornalismo e a literatura. Talvez

    o sentido da crnica brasileira seja este: causar o estranhamento, desestabilizar, fazer do

    incerto seu tempero mais genuno e, em sua errncia, buscando outros discursos para

    participar de sua trama. Agora sem o descarte do papel, na perenidade do mundo digital.

    5 CONSIDERAES FINAIS

    Neste artigo, analisamos como o gnero crnica histrica passa a funcionar como

    crnica brasileira no sculo XIX. Observamos como a cadeia de sentidos tramada pelos

    cronistas articulou os discursos da Histria, do Jornalismo e da Literatura para a

    constituio da crnica brasileira. A anlise discursiva do gnero nos permitiu, ainda,

    observar como a posio do(a) leitor(a) do folhetim/jornal foi determinante para a

    realizao do gnero.

  • SIEBERT, Silvnia. A crnica brasileira tecida pela histria, pelo jornalismo e pela literatura. Linguagem em (Dis)curso LemD, Tubaro, SC, v. 14, n. 3, p. 675-685, set./dez. 2014.

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  • SIEBERT, Silvnia. A crnica brasileira tecida pela histria, pelo jornalismo e pela literatura. Linguagem em (Dis)curso LemD, Tubaro, SC, v. 14, n. 3, p. 675-685, set./dez. 2014.

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    Recebido em: 05/12/13. Aprovado em: 14/10/14.

    Title: The Brazilian chronic woven by history, by the Journalism and Literature.

    Author: Silvnia Siebert

    Abstract: In this text, we analyze how the genre of the historical chronicle begins to

    function in the nineteenth century as a Brazilian chronic. Thus we analyze the chain of

    meanings that is constructed with the genre along its discursive course, focusing primarily

    on the discursive web of discourses of History, Journalism and of Literature. The

    theoretical perspective underlying this reflection is mainly based on readings of Bakhtin

    (2003), Grillo (2006), and Machado (2005) on genres, and Alencar (2003), Braga (2011),

    Coutinho (2003), Candido (1992), Meyer (1992), and Santos (2005), among others, on the

    chronicle and its functioning.

    Keywords: Chronicle. Genre. Statement. History. Journalism. Literature.

    Ttulo: La crnica brasilea tejida por la histria, por el periodismo y por la literatura

    Autor: Silvnia Siebert

    Resumen: En este texto, buscamos analizar como el gnero crnica histrica pasa a

    funcionar como crnica brasilea desde el siglo XIX. Para eso, observamos la cadena de

    sentidos que se construye con el gnero a lo largo de su camino discursivo, con foco

    principalmente en la trama discursiva de los discursos de la Historia, del Periodismo y de

    la Literatura. La perspectiva terica que basa esta reflexin parte, principalmente, de las

    lecturas de Bajtn (2003), Grillo (2006) y Machado (2005) sobre gneros discursivos, y de

    Alencar (2003), Braga (2011), Coutinho (2003), Candido (1992) Meyer (1992), Santos

    (2005), entre otros, sobre el gnero crnica y su funcionamiento.

    Palabras-clave: Crnica. Gnero. Enunciado. Historia. Periodismo. Literatura.