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    Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 48, n. 4, p. 459-466, out./dez. 2013Os contedos deste peridico de acesso aberto esto licenciados sob os termos da LicenaCreative Commons Atribuio-UsoNoComercial-ObrasDerivadasProibidas 3.0 Unported.

    W ou o testemunho da infncia

    W or the testimony of the childhood

    Jacques FuxHarvard University/Universidade Estadual de Campinas Massachusetts/Campinas Estados Unidos da Amrica/Brasil

    Resumo: Este artigo tem como objetivo discutir o testemunho especial de Georges Perec em seu livro W ou a memria da infncia. Perec, ao perder seus pais durante a Shoah, era muito pequeno para ter uma compreenso total dos acontecimentos, mas no era suficientemente jovem para ficar completamente alheio ao que se passava. Assim, diante desse trauma de infncia, Perec compe uma obra repleta de enigmas, restries, jogos e fices que pode ser lida atravs de uma via testemunhal.Palavras-chave: Testemunho; Infncia; Georges Perec

    Abstract: This article discusses a special testimony given by Georges Perec in his book W or the memory of childhood. When he lost his parents in the Shoah, Perec was too small to have a complete understanding of the events, but he wasnt so young as to stay completely alienated while the events were taking place. Thereby, to face his childhood trauma, Perec composed a work with full of enigmas, restrictions, games, puzzles and fiction that could be read in a testimonial way.Keywords: Testimony; Childhood; Georges Perec

    Introduo

    A rica e enigmtica obra do escritor franco-judeu Georges Perec, repleta de restries, jogos e mistrios em sua estrutura e linha narrativas, vem sendo estudada especialmente aps sua morte prematura em 1982. Membro do OULIPO, fascinado pela matemtica e disposto a trabalhar exaustivamente diante de uma estrutura rgida e restritiva proposta por ele ou pelos seus colegas de grupo, a obra de Perec pode ainda ser estudada pelo vis testemunhal. Ao escrever W ou a memria da infncia, Perec mistura fico, memria, infncia e autobiografia e o resultado um livro que permite analisar profundamente as implicaes da Shoah em sua narrativa. Nesse livro, o escritor conta as suas memrias de infncia encadeadas pelo nazismo e por um pas chamado W que seria uma aluso estrutura alem durante a Shoah.

    W ou memria da infncia tem a seguinte epgrafe de Raymond Queneau: essa bruma insensata em que se agitam sombras, como eu poderia clare-la? (QUENEAU apud Perec, 1995a:7). Assim Perec comea mais um de seus projetos: clarear e reviver suas sombras e memrias de infncia. Sua ambio tambm grande:

    minha ambio de escrever seria a de percorrer toda a literatura do meu tempo sem jamais ter o sentimento de voltar nos meus passos ou de caminhar novamente pelos meus prprios traos e de escrever tudo o que possvel a um homem de hoje escrever: livros grandes e curtos, romances, poemas, dramas, livretos de pera, romances policiais, romances de aventura, romances de fico cientfica, folhetos, livros para crianas (PEREC apud BURGELIN, 1988:11). Com o intuito de clarear suas sombras (insensatas), lembranas, recordaes e invenes, Perec escreve. Escreve para se percorrer e tentar entender os acontecimentos mais importantes de sua vida.

    Ler atentamente W ou memria da infncia permet de remonter la source existentielle du vide, du manque, qui est la base des rapports de Perec avec le rel et qui motive les particularits de son projet raliste ainsi que son recours aux contraintes formelles (MONTFRANS, 1999:153). Assim necessrio que o leitor ideal seja capaz de se empenhar ainda mais para descobrir o vazio, a falta e as restries de Perec.

    Perec gosta de ludibriar e brincar constantemente com seus leitores. Prope jogos, cria enigmas, brinca com

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    a lngua e com a linguagem sempre esgotando todas as possibilidades literrias. Ao revelar sua ambio como escritor, no expe um dos seus mais fortes temas: o de escrever/testemunhar a sua relao com a Shoah, evento que justamente resiste representao (SELIGMANN-SILVA, 2003:373). Ao escrever sobre o que o resiste representao, ao trabalhar com a linguagem e com as estruturas restritivas, Perec quer testemunhar esse real inacessvel. Mas como seria esse testemunho de Perec e como continuar a escrever aps tamanha catstrofe? Seria um ato de barbrie, como postulou Adorno1? Em Je suis n, Perec d uma dica do que (e como) est realmente buscando: A questo no nem por que continuo? nem por que no posso continuar ... mas como continuar? (PEREC apud SULEIMAN, 2006:178). A escrita, em Perec, necessria e fundamental para enfrentar seus fantasmas e, assim, compe uma obra distinta e peculiar que trabalha e discute diversos problemas relacionados literatura e tambm ao testemunho. Sua literatura va lencontre de lanamnse, de lvocation volontaire du pass de lautobiographie traditionnelle, base sur la croyance en la permanence dun moi individuel, dont lintriorit est antriorit (MONTFRANS, 1999:153).

    J que Perec no viveu em nenhum dos campos de concentrao, seus escritos no se enquadram no que conhecemos como testemunho primrio. Tambm, como no filho de sobreviventes, seus escritos no so vistos como um testemunho secundrio ou de segunda gerao. Mas, infelizmente, a Shoah est diretamente ligada sua criao, cultura e a seus traumas, como escreve:

    No tenho nenhuma memria da infncia. At os doze anos mais ou menos, minha histria se resume em poucas linhas: perdi meu pai aos quatro anos, minha me aos seis; passei a guerra em diversos pensionatos de Villard-de-Lans. [...] No tenho recordaes da infncia: eu fazia essa afirmao com segurana, quase com uma espcie de desafio. No precisavam me interrogar sobre essa questo. Ela no estava inscrita no meu programa. Estava dispensado dela: uma outra histria, a Grande, a Histria com H maisculo, havia respondido em meu lugar: a guerra, os campos de concentrao (PEREC, 1995a:13).

    A literatura de testemunho vem sendo estudada com o objetivo de registrar e estudar acontecimentos extremos: qualquer fato histrico mais intenso permite e exige! o registro testemunhal tanto no sentido jurdico como tambm no sentido de sobrevivente (SELIGMANN-SILVA, 2003:9). Os escritos e a literatura dos sobreviventes

    1 Escrever um poema aps Auschwitz um ato de barbrie, e isso corri at mesmo o conhecimento de porque hoje se tornou impossvel escrever poemas (ADORNO apud SELIGMANN-SILVA, 2003:31),

    so permeados por diversas caractersticas presentes no testemunho primrio: literalizao, fragmentao, busca pelo real, historicidade e fico. O discurso secundrio, que se refere aos filhos dos sobreviventes que nasceram depois da guerra, mas que foram profundamente marcados por esse acontecimento devido sua criao, possui ainda outras caractersticas: dificuldade de entendimento e relao com o sobrevivente, experimentao do silncio em relao ao passado e carncia afetiva.

    J Perec, por no se enquadrar diretamente em nenhuma dessas duas classes, mas com caractersticas similares, descrito por Susan Suleiman, em seu livro Crises of memory and the Second World War, como testemunho da gerao 1,5, sobretudo ao se estudar o W ou a memria da infncia. Quais seriam, portanto, as propriedades desse testemunho? Como isso reflete em sua literatura? Qual a importncia que a Shoah tem em sua infncia e em sua obra? Como relacionar as memrias da infncia com as memrias de um testemunho? Este artigo, ento, tem como objetivo estudar algumas relaes encontradas nas memrias da infncia de Perec com o seu testemunho especial.

    Testemunho

    Testimony is always of necessity individual; but if it refers to a collective historical trauma, it will, also of necessity, be about more than the experience of a single person. While it represents (in the sense of re-presenting, making visible) the unique perspective of the one who says I, testimony in such a case also represents in the sense of being exemplary, of standing for. The single witness, even while recounting his or her own experiences, represents all those who were in a similar position in the same time and place (SULEIMAN, 2006:134).

    Georges Perec representa uma gerao de crianas, que se tornaram escritores, que perderam seus pais durante a Shoah. Ao escrever anos depois dos fatos, Perec descreve o trauma coletivo do qual foi membro importante. Ao se utilizar de restries para escrever, Perec est discutindo necessariamente os limites da linguagem ao narrar um evento desse porte. Limitao, falhas, lapsos e erros tentam traduzir, atravs das restries, a impossibilidade (e necessidade) do testemunho.

    De acordo com Jacques Derrida e Gilles Deleuze, o Evento o sentido que desperta a escrita, apesar de interpretaes diversas serem possveis para representar o mesmo acontecimento. Marcado pela Shoah e membro da gerao 1.5, Perec cria o seu testemunho recheado de estruturas restritivas e referncias escondidas. Literatura seria o espao da diferena que move e distingue os

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    significados dos momentos, segundo Derrida, e pode ser encontrado na escrita inventiva de Perec.

    Para explicar o conceito de Event, Alan Badiou cita alguns dos axiomas de Deleuze que podem ser incor- porados estrutura restritiva de Perec:

    Axiom 3: The event is of a different regime than the actions and passions of the body, even if it results from them.Axiom 4: A life is composed of a single and same Event, lacking all the variety of what happens to it (BADIOU, 2006).

    Para Badiou, portanto, os efeitos do evento podem variar de acordo com o indivduo. O Evento o diferenciador das aes, memrias e das paixes. Assim, em Perec, o Evento desencadeador da sua literatura restritiva, sobretudo em W ou a memria da infncia a Shoah. Shoah para Perec no o que aconteceu em sua vida, but what is in what happens, or what happens in what happens, such that it can only have a single Event (BADIOU, 2006). A essncia do Evento aparece nos escritos de Perec de forma nica e potencialmente testemunhal.

    Inicialmente temos as seguintes caractersticas atribudas literatura de testemunho, como definiu o professor e pesquisador Mrcio Seligmann-Silva, e que podem ser encontradas em W ou memria da infncia:

    1) O evento: a Shoah aparece como o evento central da teoria do testemunho. Desde os anos de 1980 ele vem sendo cada vez mais caracterizado por sua radicalidade e consequente singularidade. Partindo dessa caracterstica desenvolveu-se um dos topoi nas pesquisas sobre testemunho, a saber, o da singularidade e no possibilidade de comparao entre a Shoah e outras catstrofes, ou seja, afirmou-se a sua radical unicidade. [...] Devido singularidade/unicidade a Shoah estaria para alm de toda compreenso.2) A pessoa que testemunha: ela muitas vezes pensada na chave da noo freudiana de trauma ou dentro de abordagens lacanianas quando se enfatiza a noo do real como algo que no pode ser simbolizado. [...] A noo de testemunha primria normalmente aplicada ao sobrevivente.3) O testemunho: literalizao e fragmentao so duas caractersticas centrais (e apenas primeira vista incompatveis) do discurso testemunhal. Ele ainda marcado por uma tenso entre oralidade e escrita. Esta noo pode ser pensada tambm em termos psicanalticos, se nos recordamos da pessoa traumatizada como algum que porta uma recordao exata do momento do choque e dominada por essas imagens que sempre reaparecem diante dela de modo mecnico, involuntrio.

    4) A cena do testemunho: ela tende a ser pensada antes de mais nada como a cena do tribunal: o testemunho cumpre um papel de justia histrica. [...] A segunda cena caracterstica mais individual e v o testemunho como um momento de perlaborao do passado traumtico.

    5) A literatura de testemunho: a noo de literatura de testemunho mais empregada no mbito anglo-saxo tambm devido ao influxo dos estudos literrios latino-americanos. [...] Na Alemanha, autores tm variado a nfase ao tratar dessa literatura: como parte da teoria da memria [...] e da teoria da representao no mbito literrio artstico (SELIGMANN-SILVA, 2005:84-86).

    Ao criar um pas nico e singular chamado W, Perec est recriando a estrutura alem e nazista que permitiu a Shoah. Seu pano de fundo a extrema crueldade e as implicaes que o nazismo provocou em sua vida, e que est alm de toda sua compreenso. Ao no se lembrar de todos os acontecimentos de sua infncia, ao repetir a todo momento a imagem de sua me se despedindo dele na estao de trem, ao tentar simbolizar essa memria e esse real a partir da escrita, Perec est diante de seu trauma de infncia: o desaparecimento precoce de seus pais.

    W, que comeou a ser escrito em 1969, somente finalizado aps seis anos de trabalho e s foi possvel graas s sesses de psicanlise que Perec teve com J. B. Pontalis. O relato de W, medida que a histria se passa, repleto de lacunas, fragmentos e invenes. Perec quer se lembrar, mas no capaz: por isso reconstri um pas e uma histria tentando encaixar as peas faltantes de seu puzzle memorialstico fadado, infelizmente, ao fracasso. Ao trabalhar com restries, jogos e enigmas, Perec discute a possibilidade de controlar a prpria literatura, de dominar a esttica da recepo, de conduzir o leitor ao caminho restritivo desejado, o que nunca alcanado. Esse tambm o seu prprio fracasso enquanto testemunho: repleto de historicidade, fico e memrias falsas, seus escritos conduzem a uma pea faltante de um enorme quebra-cabea. Mas, mesmo diante da impossibilidade de dizer, h a necessidade de dizer, como faz Perec sua maneira:

    W or the Memory of Childhood did not break with Perecs experimental mode of writing; but in this work, what appeared as purely formal experimentation in earlier works takes on a profound existential significance. Doubling, splitting, discontinuity, and absence become not only signs of the works formal ambition but also signs imbued with personal and historical meaning, related to the nature of childhood memory and of traumatic separation and loss experienced in childhood (SULEIMAN, 2006:186).

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    Assim, a partir de sua escrita experimental e restritiva, Perec aborda temas importantes e pessoais como infncia, trauma, separao e memrias. Escrever, silenciar, expressar o indizvel e buscar constantemente a possibilidade de alcanar o real traumtico so preocupaes dos escritos de testemunho. Mas seria possvel dizer e trabalhar com o indizvel do testemunho, como Perec o faz? Sim, como escreve Suleiman:

    Lejeune is certainly right about the inexhaustibility of the subject, as well as about Perecs oblique approaches to it. However, I think we need a moratorium, or even a downright taboo, on the use of the word unspeakable in connection with the Holocaust. If a thing is spoken about, however obliquely, then it is not unspeakable on the contrary, it may be object about and around which one can never stop speaking. Speaking can take many forms; sometimes, as popular wisdom has it, silence speaks louder than words (SULEIMAN, 2006:188).

    W ou a memria da infncia tem duas partes a primeira onde Perec relembra e recria suas memrias de infncia e a segunda onde descreve um mundo fantstico chamado W, que uma metfora ao regime Nazista. Na primeira parte, Perec lembra da sua separao traumtica de seus pais, sobretudo de sua me, e a partir desse momento tenta recriar o tempo que viveu junto a essas pessoas mais importantes de sua vida. J na segunda parte, apesar de trabalhar com a fantasia de um mundo W, repensa a estrutura ridcula e abominvel do Nazismo. Essas duas partes so recriaes ficcionais de sua prpria memria e de seu conhecimento da Histria Concentracional.

    W ou a memria da infncia alterna a apresentao das partes. importante notar que ambas as narrativas usam o Eu para descrever a montagem desses mundos memoriais, ficcionais e histricos. De acordo com Philippe Lejeune, essa montagem era totalmente desconhecida antes da criao de Perec. Lejeune enfatiza que Perec was not looking for novelty rather, he found it impossible to do otherwise (LEJEUNE, 1991:39). Essa obrigao domina as restries de Perec tentando entender ou criando uma forma testemunhal restritiva para compreender o que se passou com os judeus, e com crianas como ele, durante a Shoah. Vemos, portanto, um escritor inventivo procura de uma forma de expor o Evento e narrar seu trauma particular e coletivo.

    Dessa forma, apesar de tentar esconder o seu testemunho e de falar o indizvel, Perec nunca deixa de se exprimir, seja atravs das restries, seja atravs de seus silncios e eliminaes (como o caso do La disparition).

    Porm, alm das dificuldades inerentes a qualquer pessoa que passa por uma situao traumtica, h em

    Perec a questo da infncia. Os principais acontecimentos de sua vida ocorreram em sua tenra juventude existindo, portanto, limitaes memorialsticas em relao a essa idade. Quando Perec tinha somente quatro anos, seu pai morreu no fronte de Guerra e um ano e meio aps, com cinco anos, sua me despediu-se dele na Gare de Lyon: Perec foi enviado num comboio da Cruz Vermelha aos Alpes, perto de Grenoble, para viver com seus tios e nunca mais viu sua me. Esses acontecimentos so descritos em W, embaados pela bruma insensata das sombras e das lembranas. Assim Perec segue escrevendo, fantasiando e criando essa sua infncia traumtica:

    Minha infncia faz parte daquelas coisas das quais sei que no sei grande coisa. Ela est atrs de mim, no entanto, o solo sobre o qual cresci, ela me pertenceu, seja qual for minha tenacidade em afirmar que no me pertence mais. Por muito tempo procurei afastar ou mascarar essas evidncias, encerrando-me na condio inofensiva do rfo, do no gerado, do filho de ningum. Mas a infncia no nostalgia, nem terror, nem paraso perdido, nem Toso de Ouro, mas talvez horizonte, ponto de partida, coordenadas a partir das quais os eixos de minha vida podero encontrar seu sentido (PEREC, 1995a:20).

    Em seu artigo Robert Antelme ou la vrit de la littrature publicado em 1963, Perec discute as limitaes da literatura testemunhal. Segundo ele, a literatura seria limitada e fraca para se trabalhar com Evento traumtico como a Shoah. necessrio dispor de novas ferramentas para descrever o fenmeno concentrationnaire. Assim escreve: la littrature ne pourra jamais en donner quune expression inauthentique et impuissant, ou si lon pense que lexprience dun dport est incapable, en elle-mme, de donner naissance une uvre dart (PEREC, 1992:174). Testemunhar um ato e um esforo com o intuito de entender, apesar de que les tmoignages taient inefficaces [] il sagissait dexprimer ce qui tait inexprimable (PEREC, 1992:176). Perec, portanto, inventa uma nova forma (e novas ferramentas) para testemunhar e escrever, aumentando as possibilidades literrias, memorialsticas e histricas.

    Em W ou a memria da infncia, Perec diz no ter memrias de infncia. Ao dizer isso j no incio do livro, Perec, a sua maneira inventiva e restritiva, j questiona o status ficcional da autobiografia e da questo memorialstica. Sua recoleo de objetos memorialsticos limitada (e, talvez, envenenada) por eventos histricos e traumticos. Acessar a memria, dar o testemunho , portanto, restritivo. Essa crtica autobiogrfica, de acordo com Lejeune, permite a Perec criticar memria e Histria. A importncia do testemunho em Perec a crtica radical experincia, de acordo com Lejeune. Assim seus escritos

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    so oblique, multiple, shattered and at the same time endlessly turning around the unspeakable (LEJEUNE, 1990:8).

    Apesar da palavra unspeakable ser uma cons- tante nos testemunhos, principalmente primrios, os sobreviventes continuaram a escrever e a contar seus traumas. De acordo com Suleiman o problema de Perec em W ou memria da infncia inventar a sua prpria forma de escrever o que aconteceu. The problem, as Perec well knew, was not whether it could be written, but how it could be written (SULEIMAN, 2006:188).

    A forma autobiogrfica de Perec uma possibilidade literria e criativa.

    Dans lautobiographie traditionnelle, le narrateur adulte est identifi avec lauteur qui domine et organise le texte. Le rcit sy constitue selon un fil vnementiel, repose sur une chronologie extratextuelle, et raconte des contenus de mmoire qui se rattachent des vnements vrifiables. Ces soubassements concrets permettent au rcit autobiographie traditionnel de dissimuler la distinction entre ses composantes vrifiables et inventes. Perec, par contre, met en relief cette distinction, tout comme il maintient dans Un homme qui dort une stricte distinction entre les scnes de la somnolence et celles de ltat de veille. Il juxtapose son rcit denfance un rcit fictionnel et son narrateur autobiographique un second narrateur fictif; il met en scne no pas des contenus de mmoire mais le procs de leur invention ou de leur remmoration (MONTFRANS, 1999:154)

    Perec busca, portanto, reunir as limitaes das memrias infantis com as memrias traumticas da Shoah. Atravs de sua literatura e de suas limitaes, Perec procura incessantemente relacionar seu testemu- nho com sua infncia.

    Infncia

    Definir infncia e a capacidade de lembrar/entender determinados e especficos acontecimentos bastante complicado. Porm de comum acordo entre os psicanalistas e psiclogos cognitivos, que a idade de onze anos2 seria uma primeira fronteira entre o desenvolvimento infantil e sua capacidade de ter memria pessoal. Antes dessa idade, estaramos em um perodo de latncia: uma adolescncia primitiva que no capaz de reter e entender muitas informaes. Logo depois dessa primeira fase, j teramos ento uma capacidade de abstrair e um vocabulrio especfico para nomear a prpria experincia, habilidades que faltam em crianas

    2 O nmero onze um palndromo. Um estudo mais detalhado sobre a fixao de Perec pelo onze pode ser encontrado em Georges Perec, de Bernard Magn (1999).

    mais novas. Alm disso, antes desse limiar de onze anos, a criana no teria conscincia de todas suas memrias e muito pouco vocabulrio para expressar o trauma vivido (SULEIMAN, 2004).

    Em W, Perec trabalha com a infncia, os traumas e os limites da linguagem ao se lembrar de quando era uma criana da Cruz Vermelha. Esses recursos utilizados por Perec podem ser relacionados ao discurso da infncia apresentado por Giorgio Agamben:

    Se a condio prpria de cada pensamento avaliada segundo o seu modo de articular o problema dos limites da linguagem, o conceito de infncia , ento, uma tentativa de pensar estes limites em uma direo que no aquela, trivial, do inefvel. O inefvel, o inconexo [irrelato] so de fato categorias que pertencem unicamente linguagem humana: longe de assinalar um limite da linguagem, estes exprimem seu invencvel poder pressuponente de maneira que o indizvel precisamente aquilo que a linguagem deve pressupor para poder significar. Ao contrrio, o conceito de infncia acessvel somente a um pensamento que tenha efetuado aquela purssima eliminao do indizvel na linguagem que Benjamin menciona em sua carta a Buber. A singularidade que a linguagem deve significar no um inefvel, mas o supremamente dizvel, a coisa da linguagem (AGAMBEN, 2008:10-11).

    Perec se encontra no limite e na singularidade da linguagem: busca na memria da infncia a sua purssima eliminao do indizvel na linguagem e testemunha a inefvel Shoah da mesma forma que os poetas as testemunhas que fundam a lngua como o que resta, o que sobrevive em ato possibilidade ou impossibilidade de falar. [...] No enuncivel, no arquivvel a lngua na qual o autor consegue dar testemunho de sua incapacidade de falar (HEIDEGGER apud GAGNEBIN, 2008b:11). Seja na busca pela infncia no arquivvel ou em seu testemunho no enuncivel, h sempre em Perec a fico, como escreveu Jacques Derrida: o testemunho jura dizer a verdade, promete a sua veracidade ficcional. Mas aqui mesmo onde ela no cede ao perjrio, a atestao no pode no manter uma agitada cumplicidade com a possibilidade, ao menos, da fico (DERRIDA, 1998:1).

    Em relao s crianas sobreviventes da Shoah podemos enumerar trs diferentes grupos: crianas muito novas para se lembrarem (em torno de trs anos); crianas velhas o suficiente para se lembrarem, mas muito novas para entenderem (entre quatro e dez anos) e crianas velhas o suficiente para se lembrarem, mas muito novas para serem responsveis (entre onze e quatorze anos). Entender e ser responsvel so termos relativos e subjetivos, mas que podem ser indcios para uma primeira abordagem da infncia.

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    Ao estudarmos os relatos, escritos e testemunhos dos sobreviventes primrios, quando eram crianas nos Campos de Concentrao, percebemos a tentativa de mostrar como se sentiam desamparados nesses lugares terrveis. O testemunho, portanto, seria a busca de expressar, atravs da linguagem, esse desamparo e carncia. Instabilidade de identidade, silncio, sentimento sempre presente de perda e solido, falta de lembranas, lacunas em relao prpria juventude e questionamento constante no que se concerne ao ser judeu dominam os discursos dos testemunhos primrios (SULEIMAN, 2006). Assim escreve Perec sobre essa busca pela fala ausente e sobre seu sentimento de desamparo e carncia:

    Sempre irei encontrar, em minha prpria repetio, apenas o ltimo reflexo de uma fala ausente na escrita, o escndalo do silncio deles e do meu silncio: no escrevo para dizer que no direi nada, no escrevo para dizer que no tenho nada a dizer. Escrevo: escrevo porque vivemos juntos, porque fui um no meio deles, sombra no meio de suas sombras, corpo junto de seus corpos; escrevo porque eles deixaram em mim sua marca indelvel e o vestgio disso a escrita: a lembrana deles est morta na escrita; a escrita a lembrana de sua morte e a afirmao de minha vida (PEREC, 1995a:13)

    W a busca da infncia, das lacunas e de seus traumas e, por isso, est relacionado tambm aos testemunhos primrios. Assim escreve Suleiman:

    The memory chapters of W or the Memory of Childhood are full of holes and gaps that never filled in indeed, Perec cut out more and more as he progressed, during the six years of writing; and even the W chapters, which promise a story of adventure, suddenly abandon both the narrative and the main character and veer into static (albeit increasingly horrifying) descriptions (SULEIMAN, 2006:190).

    Walter Benjamin, assim como Perec, acreditava na infncia como possibilidade de resgatar uma histria que nos ntima. O seu jogo das letras, como escreve Benjamim, trata da concepo de infncia como sendo um jogo que no significa retorno ao incio da vida, mas retorno ao sentimento e s vivncias de outrora, ao desejo de resgatar os acontecimentos vividos:

    [...] nada desperta em mim mais saudades que o jogo das letras. Continha em pequenas plaquinhas as letras do alfabeto gtico, no qual pareciam mais joviais e femininas que os caracteres grficos. Acomodavam-se elegantes no atril inclinado, cada qual perfeita, e ficavam ligadas umas s outras segundo a regra de sua ordem, ou seja, a palavra da qual faziam parte como irms. Admirava-me como tanta modstia podia existir

    com tanta magnificncia. Era um estado de graa. E minha mo direita que, obedientemente, se esforava por obt-lo, no conseguia. Tinha de permanecer do lado de fora tal como o porteiro que deve deixar passar os eleitos. Portanto, sua relao com as letras era cheia de renncia. A saudade que em mim desperta o jogo das letras prova como foi parte integrante de minha infncia. O que busco nele na verdade, ela mesma: a infncia por inteiro, tal qual a sabia manipular a mo que empurrava as letras no filete, onde se ordenavam como uma palavra. A mo pode ainda sonhar com essa manipulao, mas nunca mais poder despertar para realiz-la de fato. Assim, posso sonhar como no passado aprendi a andar. Mas isso de nada adianta. Hoje sei andar; porm, nunca mais poderei tornar a aprend-lo (BENJAMIN, 1995:105).

    Perec quer resgatar as vivncias que no teve. Seus jogos de letras, suas restries e invenes, so tentativas de rememorar e reviver experincias (inventadas) de outrora. Em W, h um trecho que mostra essa possvel relao entre os jogos e buscas de Benjamin e o esforo de lembrar em Perec:

    Minhas duas primeiras lembranas no so de todo inverossmeis, mesmo se evidente que as numerosas variantes e pseudoprecises que introduzi mais tarde nos relatos falados e escritos que fiz delas as alteraram profundamente, quando no as desnaturaram por completo. A primeira lembrana teria por cenrio o fundo da loja da minha av. Tenho trs anos. Estou sentado no centro da pea, no meio de jornais idiches espalhados. O crculo da famlia me rodeia completamente: essa sensao de ceco no se acompanha para mim de nenhum sentimento de esmagamento ou ameaa; ao contrrio, proteo calorosa, amor: toda a famlia, a totalidade, a integralidade da famlia est ali, reunida em torno da criana que acaba de nascer (mas eu no disse h pouco que tinha trs anos?), como uma muralha intransponvel. Todos se extasiam diante do fato de eu ter desenhado uma letra hebraica, identificando-a: o signo teria a forma de um quadrado aberto em ngulo inferior esquerdo, algo como (3) e seu nome teria sido gammeth, ou gammel. A cena inteira, por seu tema, sua doura, sua luz, assemelha-se para mim a um quadro, talvez de Rembrandt ou talvez inventado, que se chamaria Jesus diante dos doutores (PEREC, 1995a:21-22).

    Nessa passagem, Perec cria uma letra e uma histria. A letra inventada a busca pelo carinho, pelo conforto e pela proteo da famlia perdida. Ele busca, assim como Benjamin, a infncia (perdida) por inteiro, revive reinventado um passado subtrado pela Shoah.

    3 Perec inventa uma letra hebraica que seria uma mistura entre outras duas: o gimmel e men.

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    Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 48, n. 4, p. 459-466, out./dez. 2013

    A infncia e a lembrana so muralhas intransponveis e seu testemunho limitado e repleto de lacunas. Caractersticas desse testemunho podem ser encontradas, tambm, nos filhos dos sobreviventes (segunda gerao). Assim, como escreveu Eli Wiesel sobre a recriao de Auschwitz yes, one can live thousand miles away from the Temple and see it burn. One can die in Auschwitz after Auschwitz (WIESEL, 1985:168), Perec revive constantemente os seus traumas, mesmo estando a muitas milhas de distncia de Auschwitz e de suas lembranas. A constante repetio, como sugere Paul Valry, est relacionada a no compreenso: a nossa memria nos repete o discurso que ns no havamos compreendido. A repetio responde incompreenso (VALERY apud SELIGMANN-SILVA, 2005:78). Mesmo no estando mais na Gare de Lyon, Perec retoma sempre que pode essa despedida para tentar entender e narrar o incompreensvel e o inefvel, o prprio silncio das crianas da segunda gerao:

    Jewish second-generation witnesses to the Holocaust rest on such a fiery pillow. Although they were not in Auschwitz, their lives are lived in the shadow of death camps. These witnesses once removed have a plethora of questions about their identity as Jews and as children survivors. The core question for the second generation remains. What is their connection to the Holocaust? How do they define their relationship to their parents? Their parents suffered, but what have been the effects on the offspring? Where does the second generation fit in the history of the Shoah. For this generation, he Holocaust means the eternal presence of an absence, that is those who were murdered in the Shoah (BERGER, 2001:1).

    Presena e ausncia so constantes no trabalho de Perec. Questionamento acerca do que ser judeu, sobre a dispora, exlio, culpa e estrangeiridade, como caracterstico dos testemunhos primrios e secundrios, tambm encontrado em sua obra.

    Je ne sais pas trs prcisment ce que cest qutre juif ce que a me fait que dtre juif. Cest une vidence, si lon veut, mais une vidence mdiocre, qui ne me rattache rien; ce nest pas un signe dappartenance, ce nest pas li une croyance, une religion, une pratique, un folklore, une langue; ce serait plutt un silence, une absence, une question, une mise en question, un flottement, une inquitude: une certitude inquite, derrire laquelle se profile une autre certitude, abstraite, lourde, insupportable: celle davoir t dsign comme juif, et parce que juif victime, et de ne devoir la vie quau hasard et lexil. [...] Quelque part, je suis tranger par rapport quelque chose de moi-mme; quelque part, je sui diffrent, mais non pas diffrent des autres, diffrent des miens: je ne parle

    pas la langue que mes parents parlrent, je ne partage aucun des souvenirs quils purent avoir, quelque chose qui tait eux, qui faisait quils tait eux, qui faisait quils taient eux, leur histoire, leur culture, leur espoir, ne ma pas t transmis (PEREC, 1995c:58).

    Consideraes finais

    Le rel perecquien a t ravag demble par lincursion violente de lHistoire, le premier tournant dcisif dans la vie de Perec sest produit avant quil natteigne lge de raison, son laboration du lemme de la ralit a t programme davance. Cest ce vide, laiss para la perte des parents et par la rupture avec leur culture, qui constitue le noyau existentiel et la contrainte originelle dans louevre de Perec, cest cette contrainte du vide que les contraintes scripturales vont faire diversion (MONTFRANS, 1999:6).

    Em O que resta de Auschwitz, Agamben escreve: se voltarmos agora ao testemunho, podemos dizer que dar testemunho significa pr-se na prpria lngua na posio dos que a perderam, situar-se em uma lngua viva como se fosse morta, ou em uma lngua morta como se fosse viva em todo caso, tanto fora do arquivo, quanto fora do corpus do j-dito (AGAMBEN, 2008b:160). Assim, ao trabalhar com infncia, memria, inveno e testemunho em W ou memria da infncia, Perec testemunha sua perda, sua falta e funda sua prpria literatura com o que resta, o que sobrevive em ato possibilidade ou impossibilidade de falar (AGAMBEN, 2008b:160).

    Os problemas levantados por Perec em relao a ser diferente, estrangeiro, rfo e analfabeto em relao lngua e cultura dos prprios pais, so questes que martirizam sua infncia e sua memria (falseada). Com caractersticas comuns ao discurso primrio e secundrio, e permeado pela historicidade e pelas lembranas de uma infncia no confivel, Perec constri sua literatura e reinventa suas memrias buscando alcanar o real perdido. Testemunha sua dor, sua impotncia, suas privaes e seus traumas utilizando a sua peculiar e inovadora literatura, que pode ser lida sob diferentes aspectos, como mostrado neste artigo.

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    Recebido: 12 de abril de 2013Aprovado: 18 de abril de 2013Contato: [email protected]