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PESQUISA EM MARKETING E SEUS PROBLEMAS VERSUS PESQUISA DE MARKETING Gestão.Org, v. 4, n. 2, Mai./Ago. 2006 www.gestaoorg.dca.ufpe.br  213 www.gestaoorg.dca.ufpe.br  ISSN 1679-1827 www.gestaoorg.dca.ufpe.br  www.gestaoorg.dca.ufpe.br  Revista Eletrônica de Gestão O rgan izacional .Org GESTÃO Volume 4, Número 2, mai./ago. 2006 www.gestaoorg.dca.ufpe.br   P ESQUISA EM M ARKETING E S EUS P ROBLEMAS V ERSUS P ESQUISA DE M ARKETING Sumario 1. Introdução; 2. Diferenças entre Pesquisa em Marketing e Pesquisa de Marketing ; 3. Erros em Pesquisa em Marketing; 4. O olhar avesso do pesquisador ; 5. Pesquisa qualitativa; 6. Pesquisa quantitativa; 7. Comentários Finais. PROGRAM A DEPÓS - GR ADU AÇÃOEMADM IN I STR AÇÃ

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w w w . g e s t a o o r g . d c a . u f p e . b r  ISSN 1679-1827 w w w . g e s t a o o r g . d c a . u f p e . b r  w w w . g e s t a o o r g . d c a . u f p e . b r  

R e v i s t a E l e t r ô n i c a d e

G e s t ã o O r g a n i z a c i o n a l.OrgGESTÃO

Volume 4, Número 2, mai./ago. 2006

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ESQUISA EM

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ESQUISA

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M

ARKETING

Sumario 1. Introdução; 2. Diferenças entre Pesquisa em Marketing e Pesquisa de Marketing;3. Erros em Pesquisa em Marketing; 4. O olhar avesso do pesquisador; 5. Pesquisa qualitativa;6. Pesquisa quantitativa; 7. Comentários Finais.

PROGRAMADEPÓS-GRADUAÇÃOEMADMINISTRAÇÃ

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RESUMO

Este ensaio apresenta alguns dos principais problemas encontrados em estudos em Marketing.Inicia distinguindo Pesquisa em Marketing de Pesquisa de Marketing, depois define e procuraapresentar confusões que ocorrem nesta área. O tema é Pesquisa em Marketing e são

discutidas as pesquisas qualitativas e quantitativas por usos principais, tendências, vícios eerros cometidos por pesquisadores. Do lado dos qualitativistas, questiona a preocupação dospesquisadores em trabalharem com números e softwares quando isso é dispensável. Do ladodos quantitativistas, critica o uso da palavra “percepção” em surveys, ou seja, em pesquisascom uso de questionários, que avaliam opiniões, atitudes e crenças. Além do uso deinferências estatísticas em amostragens não probabilísticas, assim como o mau uso de escalasde mensuração. Faz críticas e considerações aos modismos em Pesquisa como “equaçõesestruturais” e medida “alfa de Cronbach”. Finaliza ressaltando o papel do profissional depesquisa que deve primar pela ética e profissionalismo e das novas áreas temáticas deMarketing da ANPAD, que visam derrubar as barreiras entre os quantitativistas equalitativistas.

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1 INTRODUÇÃO

O propósito deste ensaio teórico éapresentar alguns tópicos para discussão,os quais têm crescido de importânciadentro da disciplina Marketing na Academiaou dentro da função Marketing nasorganizações.

No título do artigo procureiidentificar o âmago do problema, que é adiferença entre Pesquisa em Marketing ePesquisa de Marketing. Enfoco,principalmente, os aspectos da Pesquisaem Marketing porque este trabalho éeminentemente acadêmico.

2 DIFERENÇAS ENTRE PESQUISA EM

M

ARKETING E

P

ESQUISA DE

M

ARKETING

Pesquisa em Marketing é apesquisa sobre conceitos, teorias emodelos, que possam representar ouexplicar realidades de forma a que issopossa ser transmitido ou ensinado a outraspessoas. É pesquisa básica, cujo métodocientífico deve ser usado com bastanteprecisão.

Pesquisa de Marketing é umaatividade específica de pesquisa aplicadapara obtenção de informações, sendo umsub-sistema do Sistema de Informações deMarketing (SIM) para tomada de decisõespor administradores de qualquer nível.

De acordo com a definição AMA(American Marketing Association, 2005),Pesquisa de Marketing:

...é a função que liga o consumidor,cliente, e públicos ao profissional de

marketing através da informação– 

informação usada para identificar edefinir oportunidades e problemasde marketing; gerar, refinar, eavaliar as ações de marketing;monitorar o desempenho demarketing; e melhorar oentendimento de marketing como umprocesso. Pesquisa de Marketing

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especifica a informação requeridapara direcionar essas questões,projeta o método para coleta deinformações, gerencia e implementao processo de coleta de dados,analisa os resultados, e comunica osachados e suas implicações.

Dentro da Pesquisa de Marketing,há a Pesquisa de Mercado,  “que é a coletasistemática, e análise de dados comrespeito a um mercado particular, onde “mercado” refere-se a um grupo específicode clientes em uma área geográficadeterminada” (AMA, 2005).

O problema analisado entrePesquisa em Marketing e Pesquisa deMarketing está na confecção de trabalhosacadêmicos como dissertações, teses eartigos, nas quais as duas são confundidas.

Tenho visto vários trabalhos quesão Pesquisas de Marketing (predominandoa pesquisa de mercado), em que alguémcoloca alguns itens complementares àPesquisa, oriundos de uma análise dabibliografia ou simplesmente detalham osaspectos metodológicos da pesquisa decampo e os apresenta como trabalhosacadêmicos.

Se pesquisa acadêmica emMarketing e Pesquisa de Marketing (ou de

mercado) fossem a mesma coisa, ospesquisadores dos institutos de pesquisa(como, por exemplo Ibope e Nielsen)seriam todos doutores.

O problema é que ao se fazer umaPesquisa de Marketing, são feitasconcessões que não devem existir napesquisa acadêmica (pesquisa básica).Cada concessão em pesquisa provoca umarestrição e ambas devem estar expressasem um trabalho acadêmico.

Fico impressionado com o número

de trabalhos acadêmicos em Marketing queusam, na metodologia, livros como os deMalhotra, Churchil, Parassuraman, Mattar,etc. Esses autores escreveram livrosespecíficos de Pesquisa de Marketing.Basta que se leia o título dessas obras paraconfirmar isso.

3 E

RROS EM

P

ESQUISA EM

M

ARKETING

Na Pesquisa em Marketing, muitoserros têm sido cometidos e não sãoprivilégio dos trabalhos brasileiros -também estão em pesquisas estrangeiras

(principalmente americanas). Não é porquealgo está escrito em inglês que deve seraceito sem discussão. A Academia é localde análises críticas, sendo elas obrigatóriaspara alunos de mestrado, doutorado eprofessores. Normalmente, pode-se dizerque os alunos de graduação em Marketingaprendem as técnicas, os de mestradodiscutem as técnicas e dissertam sobreelas, e os de doutorado devem procurartécnicas novas, provocando um avanço noestado da arte, o que encontra seu ápicena contribuição inédita para o avanço doconhecimento expresso em uma tese.

A Pesquisa em Marketing (e deoutras áreas) para avanço doconhecimento desde sempre está atreladaa uma revisão da bibliografia sobre umtema específico. Então, é o tema que deveser pesquisado, com base na revisãobibliográfica e, após isso, é que se podefazer, ou não, uma pesquisa de campo.

A pesquisa de campo em Marketingé útil para se ver se e como, o que existena prática se ajusta à teoria; ou, ainda, sea prática pode dar origem a uma nova

teoria, modelo ou conceito. É pesquisasocial empírica.

Muitas vezes, o pesquisador emMarketing está à procura de modelos e, narealidade, encontra processos, nãoconseguindo ver a diferença.

Modelos têm de ser umarepresentação de uma realidade e não umaseqüência de ações. Pior ainda é quandoum pesquisador diz que testou um modelosem tê-lo feito. Testar o modelo significaimplantá-lo e vê-lo em funcionamento.

Um questionário com perguntassobre o modelo pode, no máximo, permitirque se saiba qual a sua aceitabilidade pelosentrevistados. Isso está muito longe de serum teste de modelo.

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4 O

 OLHAR

A

VESSO DO

P

ESQUISADOR

Tenho notado, muitas vezes, queautores de artigos, de trabalhos, de livros,têm como primeira preocupação a pesquisade campo e depois é que vão procurar a

teoria. Então, surge uma situação do tipo “tenho uma solução, onde está oproblema?”. Isso obviamente não deve serfeito, mas é um erro comumente notadoem pesquisadores da área de Marketing. Oideal é que o tema seja escolhido a partirde uma situação problema –  ou seja, danecessidade de se conhecer mais arespeito de certo assunto ou área. Em cimadisso, se for necessário (e isso éimportante num país como o Brasil), quese faça pesquisa de campo. A pesquisa decampo é necessária se a pesquisabibliográfica e de dados secundários não

forem satisfatórias para atender aosobjetivos do estudo. A pesquisa de campo,quando desenvolvida, poderá ser de duasnaturezas: ou quantitativa ou qualitativa.Dificilmente, consegue-se fugir dessasduas áreas ou linhas. Isso está causandoproblemas muito sérios na apresentação detrabalhos em congressos. A razão é que asseções são montadas conforme a linha, eos pesquisadores em Marketing ficamseparados. De um lado ficam aqueles queestão pesquisando qualitativamente (sociólogos, antropólogos, psicólogos, etc.),de outro agrupam-se aqueles que são mais

quantitativistas (engenheiros, economistas,matemáticos, pesquisadores da área detecnologia de informações, etc.)

Se um indivíduo entrar numa seçãoonde estão os qualitativistas e depoisentrar numa seção onde estão osquantitativistas, vai ter a impressão de terentrado em mundos diferentes. Aterminologia, a estrutura do pensamento, avisão e o processo são totalmentedistintos. No fundo, os dois estãoprocurando apresentar, na maioria dasvezes, os comportamentos dos mercados,

sejam eles mercados consumidor,revendedor, transformador ougovernamental; ou como as organizaçõesfuncionam em relação a esses mercados.Essas duas alternativas: oscomportamentos dos mercados ou comofuncionam as organizações são, em geral,o objeto principal de uma pesquisa decampo.

O grande problema é que, peladiferença de enfoque dos qualitativistas edos quantitativistas, a impressão é quecada um deles está encontrando suaprópria verdade, esquecendo-se daexistência do outro. Se, por um lado, osqualitativistas procuram ver o objeto em

estudo de forma mais individualizada esubjetiva, os quantitativistas procuramestudá-lo em termos mais genéricos eobjetivos.

Nos últimos anos, o que tenhoencontrado é um número muito grande deerros que aparecem em cada uma dassituações e vou procurar apresentá-los.

5 PESQUISA QUALITATIVA

Do lado dos qualitativistas, osmétodos utilizados (ou as técnicasutilizadas), acabam voltados para osaspectos da origem acadêmica dopesquisador, como antropologia,psicologia, sociologia. E as técnicasmodernas mais utilizadas são pesquisa emprofundidade, entrevista de grupo, técnicasde laddering, grounded theory, e estudosde caso. São técnicas que não exigem ouque não devem conter números, pois sãoqualitativas por excelência. Por umaimposição social racionalista que remontaao século passado, há uma tendência de

que, para se acreditar em alguns temas,eles precisavam ser quantificados. Criou-se, a partir disso, todo um pré-conceito emrelação a resultados que não contenhamnúmeros. Dessa forma, tenho vistopesquisas qualitativas que acabamcontendo números absolutamentedesnecessários. Por exemplo: éentrevistado um número reduzido depessoas para se ter uma idéia qualitativado processo e depois se calculaporcentagem em cima de cinco, de dezelementos, o que contraria a estruturamatemática da idéia de porcentagem, já

que porcentagem é quando se tem umaparte de cem.

Essa idéia de se colocar númerosem pesquisas qualitativas acabadeturpando todo o processo, com perda dacredibilidade. A pesquisa qualitativa requerum protocolo muito claro do que foi feito,de tal forma que se possa atingir aquiloque é chamado de método científico, e este

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é de difícil definição. Uma boa forma dedefini-lo é dizer que método científico, éum conjunto de passos, com os quais, umaoutra pessoa seguindo os mesmos passos,deve encontrar o mesmo resultado e issodeve ser aceito por aquela comunidadeonde está inserido o processo de pesquisa.

A escolha dos métodos é a metodologia. Oradical  “logia”, do grego logos, significaestudo. Assim, o estudo dos métodos ou -metodologia - possibilita a escolha de umcaminho que vai ser utilizado em umapesquisa.

Esse processo acaba levando aresultados, que na área qualitativa, pornão estarem precedidos ou seguidos denúmeros, criam um subjetivismo inerente àpesquisa qualitativa, e também a quem aestá analisando. Nesse item, entra asituação de avaliação de percepções.

Percepção é uma palavraextremamente deturpada dentro daPesquisa em Marketing. O termo percepçãodesigna o ato pelo qual tomamosconhecimento de um objeto do meioexterior. A maior parte de nossaspercepções conscientes provém do meioexterno, pois as sensações dos órgãosinternos não são conscientes na maioriadas vezes e desempenham papel limitadona elaboração do conhecimento do mundo.Trata-se, a percepção, da apreensão deuma situação objetiva baseada em

sensações, acompanhada derepresentações e freqüentemente de

 juízos. A percepção, ao contrário dasensação, não é uma fotografia dos objetosdo mundo, determinada exclusivamentepelas qualidades objetivas do estímulo. Napercepção, acrescentamos aos estímuloselementos da memória, do raciocínio, do

 juízo e do afeto. Portanto, acoplamos àsqualidades objetivas dos sentidos outroselementos subjetivos e próprios de cadaindivíduo. Ela é muito difícil de ser obtida emais difícil ainda de ser medida.

A percepção é algo que seconsegue com pesquisa qualitativa. Éprivilégio dos psicólogos, que são aquelesque podem aplicar testes de apercepçãotemática e outras avaliações que permitemconhecer como um objeto de estudo estásendo percebido por alguém. Como jámencionado, ela é de avaliaçãoextremamente difícil.

Não se pode somar percepções,porque elas variam de pessoa para pessoa.Contrariamente, na pesquisa quantitativa,quando se aplica um questionário, solicita-se a opinião das pessoas e o pesquisadorpode contar quantas pessoas têm aquelamesma opinião. Tenho visto, ultimamente,

tanto em português e em inglês quanto emoutras línguas, que uma quantidadeenorme de trabalhos que, ao se referirem àpercepção, ela é tratada de forma errada,porque se faz uma aplicação dequestionário sobre opinião e nãopercepção. Questionários com perguntassobre opiniões, atitudes ou crenças nãopermitem que se tenha conhecimentosobre qual é a percepção de um indivíduoou de um grupo de indivíduos, que seconstituiria num mercado ou segmento demercado.

Os erros que emergem na áreaqualitativa e também na quantitativa têmfeito com que haja posições antagônicasentre os pesquisadores em Marketing.Outra situação na pesquisa qualitativalevada por essa ânsia de se lidar com oquantitativo, é o problema do uso desoftwares. Se alguém faz uma pesquisaqualitativa, está entrevistando pessoas eregistrando opiniões de pessoas. Assim,muito dificilmente o pesquisador poderáutilizar um software que permita estruturarisso. Existem vários softwares no mercadoque surgiram exatamente porque houve

essa tendência de se quantificar e usar osmétodos quantitativos e as técnicas deinformática para facilitar ou dar maiscredibilidade à pesquisa qualitativa.

Pesquisa qualitativa, como opróprio nome diz, é uma pesquisa dequalidade - Não tem números, não éadequada ao uso de softwares e, em geral,não se pode fazer inferências dasinformações obtidas para um grupo maiortoda a teoria da psicanálise Freudiana foifeita baseada em casos, portanto de formaqualitativa e sem números e está aí para

ser discutida até hoje.

Nos métodos de pesquisaqualitativos, existem diversas técnicas eestratégias de coleta, análise e confecçãode relatórios de resultados que se adaptamàs resoluções de problemas de pesquisanas ciências sociais. Alguns designs principais encontrados freqüentemente em

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pesquisas sociais empíricas qualitativas decaráter científico, são:

• Estudo de Caso: tipo depesquisa no qual o pesquisador explorauma simples entidade ou fenômeno (ocaso) delimitado pelo tempo e atividade(programa, evento, processo, instituição,

grupo social). Utiliza-se de grandevariedade de técnicas de coleta de dadosdurante um período de tempodeterminado.

• Estudos fenomenológicos:tipo de pesquisa no qual experiênciashumanas são examinadas por meio dedescrições detalhadas de pessoas queestão sendo estudadas. Por meio desteprocesso, o pesquisador pode associar suaspróprias experiências para entender as dosseus informantes.

• Etnografia: tipo depesquisa no qual o pesquisador estuda um

grupo cultural intacto num local naturaldurante um período de tempo prolongado.Baseia-se principalmente em observaçõese é considerado como um processo flexívele de interação contextual devido ao longoconvívio no campo de estudo.

• Grounded theory : tipo depesquisa no qual o pesquisador tenta obteruma teoria utilizando múltiplos estágios decoleta de dados e o refinamento einterrelacionamento de categoria deinformações. Duas características básicasdeste design são as constantescomparações de dados com as categorias

emergentes e formação de exemplosteóricos de diferentes grupos paramaximizar as similaridades e diferençasdas informações.

• Laddering: pesquisamoderadamente estruturada usandotécnicas de entrevista individual emprofundidade, usadas para compreendercomo os clientes traduzem o atributo deprodutos em associações com significado arespeito de si mesmos, segundo a teoria decadeias meios-fins (entre atributos,conseqüências e valores pessoais).

Esses métodos e respectivastécnicas claramente não permitemavaliações métricas.

6 PESQUISA QUANTITATIVA

Já na pesquisa quantitativa, oserros principais aparecem pelo puro

desconhecimento de uma ferramentafundamental que é a estatística. O normalde uma pesquisa quantitativa é querer-seconhecer algo sobre um universo. Quandonão se consegue atingir esse universo, porproblemas de custo ou prazo, pode-selançar mão da ajuda da estatística. A

estatística permite que com uma amostrapossa inferir-se para o todo. A amostra éuma parte de um universo. Não temsentido falar em amostra em pesquisaqualitativa, porque não há preocupaçãocom o universo então não faz sentidomencionar amostra em pesquisaquantitativa se ele não for conhecido.Amostra só existe se houver um universo.Então em um trabalho, primeiro define-seum universo para depois se estudar aamostra. Essa amostra exigecaracterísticas específicas para se fazer asinferências. No limite de restrição ao

estudo, se uma amostra não for aleatória,não se podem fazer inferências para ouniverso.

Os processos muitas vezesutilizados fazem concessões, mas nãocolocam as restrições existentes no final.Conseqüentemente, um trabalho científicocom esse tipo de atitude não tem validade.O uso da estatística leva à possibilidade denesta inferência se ter à margem de erro eo nível de confiança, tanto na estatísticaparamétrica como na estatística não-paramétrica.

Há testes nos dois tipos deestatística que permitem avaliar aspossibilidades de es estar cometendo umerro tipo 1 ou tipo 2 na aceitação doresultado como válido para o todo. São ostestes de hipótese. Tenho visto, muitasvezes, pessoas confundirem a verificação de uma hipótese com o teste de hipótese.Teste de hipótese só existe quando há umaamostra e uma estatística. Verificação dehipótese é muito mais simples. Porexemplo: se vejo em uma sala que existeuma luz entrando por uma janela, eu posso

criar a hipótese de que o sol estábrilhando. Como verifico se ela éverdadeira? Eu saio da sala e olho para océu. Se o sol estiver brilhando, euverifiquei se minha hipótese era verdadeiraou não. Então, verificação de hipóteses ésimples, já teste de hipótese é algoespecífico de quem está fazendo inferênciaestatística com uma amostra. Essedesconhecimento faz muitas pessoas

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pensarem que ao se encontrar umresultado num teste de hipótese se temuma realidade. O que se encontra numaamostra é sempre a realidade. Se duaspopulações têm amostras retiradasaleatoriamente e a média de uma amostraé diferente da outra, isso é certeza,

absoluto, foi medido. Agora, para saber seaquela diferença das médias vale para osdois universos, é que se faz o teste dehipótese que, com uma certa margem deerro e com um certo nível de confiança,permite que se faça a inferência. O testede hipótese não diz se um resultado éverdadeiro ou não, mas sim se umresultado encontrado em uma amostrapode, ou não, ser inferido para umapopulação. Esse processo muitas vezesusado por quem desconhece a estatísticaleva a erros fundamentais como, porexemplo, fazer teste quando há

comparação entre dois universos.

No desenvolvimento de umapesquisa de campo, é muito importanteque seja definida a população; que aamostra seja aleatória para fazer-se ainferência; que se conheça o erro que sepretende admitir e o nível de confiança quese quer ter. Esses são os determinantespara o tamanho da amostra e a qualidadedas decisões sobre inferência. O tamanhoda amostra, o qual depende muito do erroque se admite, mas primordial mesmo é avariância da população.

Se todos os elementos de umuniverso forem exatamente iguais: aamostra é 1. Se todos foremextremamente diferentes, a amostradeverá ser o próprio universo. Amostranunca pode ser considerada só comoporcentagem de um universo.

Normalmente, em Marketing,aceita-se um erro de 5% e a variância de 2sigma ou 95,5% de confiança. Esses itenssão determinados a priori  pelo pesquisadore entram nas fórmulas de cálculo das

amostras. As fórmulas não contêm otamanho do universo a não ser que eleseja muito bem determinado e não sejamuito grande.

É comum ser usada a fórmula deproporções para a determinação dotamanho da amostra mesmo quando asperguntas não são de proporções. É uma

 “licença poética” que contém um errointrínseco cometido em muitas pesquisas.

De nada adianta, no entanto, quese tomem os cuidados para evitar o erroamostral se os dados coletados nãotiveram qualidade. No processo de coleta,

o pesquisador tem de ser objetivo, criativoe pautar-se pelos melhores princípios deética. Outro problema de Pesquisa emMarketing são os modismos, e elespermeiam tanto.os quantitativistas quantoos qualitativistas.

Anos atrás, os quantitativistas emMarketing consideravam que os problemasde estudo de comportamento de mercadose resolviam usando cadeias de Markov,hoje a moda é usar equações estruturais.

 “Equações estruturais” não é uma

panacéia para se resolver os problemas domundo. Elas são, simplesmente, uma dasformas de modelagem que permitem a

 junção de várias relações de dependênciainterelacionadas em um mesmo modelo. Éuma forma avançada de regressãomúltipla, que pode estimar várias equações

 juntas, de forma interelacionadas, em queuma variável dependente em uma equaçãopode ser independente em outra. Asequações estruturais tratam de juntartécnicas de análise de dados já existentesfazendo interrelações. Não é um fim –  éapenas um meio mais sofisticado de se

analisar dados.

Outro modismo é a medidachamada “alfa de Cronbach”. Trata-sesimplesmente de uma medida deconfiabilidade e que muitos estão usandocomo validação. Validação é mais ampla einclui confiabilidade, sendo ela aimportante e, portanto muito mais difícil dese determinar.

Muitas escalas psicométricas têmsido inventadas e se diz que estão sendovalidadas com o alfa de Cronbach. Validar

uma escala é um trabalho extremamentecomplexo, longo e oneroso.

Os modernos softwares  detratamento de dados permitiram que o usode instrumentos como as escalaspassassem a ser utilizados com facilidade.Com isso novos erros surgiram. As escalasde medidas são de quatro tipos: nominal,ordinal, intervalar e de razão. Cada tipo

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tem características e propriedadespróprias, claras e estanques.

O problema é confundir escalas demedidas com escalas psicométricas porqueas duas são chamadas de “escalas”,embora sejam noções diferentes.

As escalas psicométricas sãoformas de se ordenar em informações.Qualquer um pode criar uma escalapsicométrica. O erro é apoiar-se naspropriedades métricas das escalasintervalares no uso de escalas ordinaispsicométricas como as de Likert ouOsgood. Muita gente o faz porque diz quetodo mundo procede assim, mas isso estáerrado, porque a distância entre os pontosdas escalas psicométricas são diferentes depessoa para pessoa, portanto, não tempropriedades das escalas intervalares, que

devem sempre ter intervalos iguais.

7 COMENTÁRIOS FINAIS

Os acadêmicos de Marketing sãoresponsáveis pela formação de futurasgerações que irão estudar, discutir,analisar e desenvolver pesquisas etrabalhos na área. Dessa forma torna-senecessário fazer uma reflexão da produçãopassada e atual de pesquisas estrangeirase nacionais; parece que ainda há muito a

ser feito. Pesquisas de Marketing(mercado) estão sendo mais valorizadasque pesquisas básicas, acadêmicas(Pesquisas em Marketing), o que é umadistorção. Estão se “construindo castelosde cristal em alicerces de areia movediça”utilizando-se de técnicas sofisticadas sem a

base conceitual e fundamentos necessáriospara efetuar pesquisa séria e científica.

E preferível o uso sofisticado deuma técnica simples ao uso de técnicassofisticadas sem o necessárioconhecimento É necessário incutir oespírito crítico nos pesquisadores emMarketing e principalmente nos mais

 jovens e não simplesmente reproduzir oque vem de fora e “o que os outros estãofazendo”.

Dessa forma, é necessária maior

conscientização de pesquisadores emMarketing nas questões de ética e bom usodas técnicas disponíveis.

As novas áreas da Divisão deMarketig da ANPAD visam derrubar asbarreiras entre os quantitativistas equalitativistas.

Vai se procurar reunir osquantitativistas e qualitativistas em ummesmo grupo, não importando as técnicase métodos utilizados.

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PESQUISA EM MARKETING E SEUS PROBLEMAS VERSUS PESQUISA DE MARKETING

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