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aSPectoS geraiS do miNiStério Público da uNião Sob a PerSPectiva da lei comPlemeNtar

75/1993

Tiago Muniz Cavalcanti1

SUMÁRIO: 1. BREVE RELATO HISTÓRICO. 1.1. CONSTITUIÇÃO DE 1934. 1.2. CONSTITUIÇÃO DE 1937. 1.3. CONSTITUIÇÃO DE 1946. 1.4. CONSTITUIÇÃO DE 1967. 1.5. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 01 DE 1969. 2. O MINISTÉRIO PÚBLICO E OS ANOS 80. 2.1. LEI COMPLEMENTAR 40/1981. 2.2. LEI 7.347/1985 – LEI DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA. 2.3. CARTA DE CURITIBA. 2.4. O ADVENTO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988. 3. A LEI COMPLEMENTAR 75/1993. 3.1. CONCEITO. 3.2. FUNÇÕES INSTITUCIONAIS. 3.3. INSTRUMENTOS DE ATUAÇÃO. 3.4. CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL. 3.5. DEFESA DOS DIREITOS CONSTITUCIONAIS. 3.6. AUTONOMIA FUNCIONAL, ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA. 3.7. ESTRUTURA. 3.8. PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA. 3.9. CONSELHO DE ASSESSORAMENTO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO. 3.10. SERVIÇOS AUXILIARES. 3.11. ÓRGÃOS DOS DIVERSOS RAMOS: COMPOSIÇÃO E PECULIARIDADES. 3.11.1. OS PROCURADORES-GERAIS. 3.11.2. OS CONSELHOS SUPERIORES. 3.11.3. OS COLÉGIOS. 3.11.4. AS CÂMARAS DE COORDENAÇÃO E REVISÃO. 3.11.5. AS CORREGEDORIAS. 3.11.6. AS CARREIRAS.

1. BREVE RELATO HISTÓRICOAntes de abordarmos o Ministério Público sob uma perspectiva atual, inte-

ressante analisarmos o seu perfil nos textos constitucionais recentes, anteriores a 1988, com a finalidade precípua de melhor compreendermos a significativa evolução da Instituição no cenário jurídico e social com o advento da Constitui-ção cidadã.

O estudo que faremos a seguir revelará que o Ministério Público sempre careceu de identidade própria. Talvez em razão da omissão, nos textos constitu-cionais anteriores, de independência e autonomia institucional (ora vinculada ao Poder Executivo, ora ao Judiciário) e, mais importante, das distintas funções que lhe foram outorgadas ao longo das diversas Constituições. Vejamos.

1.1. CONSTITUIÇÃO DE 1934

A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 16 julho de 1934 trouxe uma breve previsão do Ministério Público no capítulo reservado aos órgãos de cooperação nas atividades governamentais. Tratou de sua orga-

1 Procurador do Trabalho; Docente da Escola Superior do Ministério Público da União; Mestrando em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP; Especialista em Direito Material e Processual do Trabalho; Membro da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo; Membro da Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo/SP

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nização em nível nacional e estadual, nomeação do Procurador-Geral da Repú-blica, concurso público e estabilidade para os membros do Ministério Público Federal.

Eis as vetustas disposições:CAPÍTULO VI

Dos Órgãos de Cooperação nas Atividades Governamentais

SEÇÃO I

Do Ministério Público

Art 95 - O Ministério Público será organizado na União, no Distrito Federal e nos Territórios por lei federal, e, nos Estados, pelas leis locais.

§ 1º - O Chefe do Ministério Público Federal nos Juízos comuns é o Procura-dor-Geral da República, de nomeação do Presidente da República, com apro-vação do Senado Federal, dentre cidadãos com os requisitos estabelecidos para os Ministros da Corte Suprema. Terá os mesmos vencimentos desses Mi-nistros, sendo, porém, demissível ad nutum .

2º - Os Chefes do Ministério Público no Distrito Federal e nos Território se-rão de livre nomeação do Presidente da República dentre juristas de notável saber e reputação ilibada, alistados eleitores e maiores de 30 anos, com os vencimentos dos Desembargadores.

§ 3º - Os membros do Ministério Público Federal que sirvam nos Juízos co-muns, serão nomeados mediante concurso e só perderão os cargos, nos ter-mos da lei, por sentença judiciária, ou processo administrativo, no qual lhes será assegurada ampla defesa.

Art 96 - Quando a Corte Suprema declarar inconstitucional qualquer dispo-sitivo de lei ou ato governamental, o Procurado Geral da República comuni-cará a decisão ao Senado Federal para os fins do art. 91, nº IV, e bem assim à autoridade legislativa ou executiva, de que tenha emanado a lei ou o ato.

Art 97 - Os Chefes do Ministério Público na União e nos Estados não podem exercer qualquer outra função pública, salvo o magistério e os casos previs-tos na Constituição. A violação deste preceito importa a perda do cargo.

Art 98 - O Ministério Público, nas Justiças Militar e Eleitoral, será organiza-do por leis especiais, e só terá na segunda, as incompatibilidades que estas prescrevem.

Apesar da superficial e breve previsão, a Constituição de 1934 representou um grande avanço, à época, por trazer a primeira menção constitucional do Mi-nistério Público até então.

1.2. CONSTITUIÇÃO DE 1937

Ao contrário do texto anterior, a Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 10 de novembro de 1937 representou um significativo retrocesso. Isto por-que o texto constitucional não mais tratou o Ministério Público como órgão au-

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tônomo de cooperação, dedicando apenas disposições esparsas sobre a chefia do órgão.

Vejamos as breves disposições sobre a Instituição:DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

(…)

Art 99 - O Ministério Público Federal terá por Chefe o Procurador-Geral da República, que funcionará junto ao Supremo Tribunal Federal, e será de livre nomeação e demissão do Presidente da República, devendo recair a escolha em pessoa que reúna os requisitos exigidos para Ministro do Su-premo Tribunal Federal.

(…)

DA JUSTIÇA DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

(…)

Art 105 - Na composição dos Tribunais superiores, um quinto dos lugares será preenchido por advogados ou membros do Ministério Público, de no-tório merecimento e reputação ilibada, organizando o Tribunal de Apela-ção uma lista tríplice.

(...)

Art 109 - Das sentenças proferidas pelos Juízes de primeira instância nas causas em que a União for interessada como autora ou ré, assistente ou oponente, haverá recurso diretamente para o Supremo Tribunal Federal.

Parágrafo único - A lei regulará a competência e os recursos nas ações para a cobrança da divida ativa da União podendo cometer ao Ministério Públi-co dos Estados a função de representar em Juízo a Fazenda Federal.

Registre-se que o retrocesso se justificava em razão do momento histórico de pouca democracia que resultou na carta política outorgada pelo Presidente Getúlio Vargas, conhecida como Polaca por ter sido baseada na Constituição au-toritária da Polônia, à época.

1.3. CONSTITUIÇÃO DE 1946

Na Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 18 de setembro 1946, promulga-da por uma Assembleia Constituinte e que trouxe um avanço à democracia e às liberdades individuais do cidadão, em contraposição à Constituição de 1937, o Ministério Público recuperou seu status constitucional. Desvinculado de qualquer dos Poderes constituídos, ganhou título próprio no texto constitucional:

TÍTULO III

Do Ministério Público

Art 125 - A lei organizará o Ministério Público da União, junto a Justiça Comum, a Militar, a Eleitoral e a do Trabalho.

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Art 126 - O Ministério Público federal tem por Chefe o Procurador-Geral da República. O Procurador, nomeado pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal, dentre cidadãos com os requisitos indicados no artigo 99, é demissível ad nutum .

Parágrafo único - A União será representada em Juízo pelos Procuradores da República, podendo a lei cometer esse encargo, nas Comarcas do inte-rior, ao Ministério Público local.

Art 127 - Os membros do Ministério Público da União, do Distrito Federal e dos Territórios ingressarão nos cargos iniciais da carreira mediante con-curso. Após dois anos de exercício, não poderão ser demitidos senão por sentença judiciária ou mediante processo administrativo em que se lhes faculte ampla defesa; nem removidos a não ser mediante representação motivada do Chefe do Ministério Público, com fundamento em conveniên-cia do serviço.

Art 128 - Nos Estados, a Ministério Público será também organizado em carreira, observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoção de entrância a entrância.

Atentem os leitores para o fato de que, apesar da aparente autonomia, nos termos do art. 126, parágrafo único, a representação da União em juízo era realizada pelos Procuradores da República e, nas comarcas do interior, pelos Promotores de Justiça, exsurgindo, portanto, contornos de vinculação ao Poder Executivo e inexistência de independência funcional.

1.4. CONSTITUIÇÃO DE 1967

A Constituição da República Federativa do Brasil votada em 24 de janeiro 1967 pelo Congresso Nacional, transformado em Assembleia Nacional Cons-tituinte pelo AI-4 (Ato Institucional nº 4), caracterizou-se por seu caráter se-mi-outorgado, com a finalidade de conferir amparo legal e institucionalizar o regime militar antidemocrático consequente do golpe de 1964.

Em vistas ao contexto histórico de pseudo democracia, a Constituição de 1967, que entrou em vigor somente em 15 de março daquele ano, não poderia prever um Ministério Público forte, independente e autônomo. Com efeito, o Ministério Público passou a integrar o capítulo do Poder Judiciário, permane-cendo com a atribuição de representar a União em juízo.

Vejamos:CAPÍTULO VIII

Do Poder Judiciário

SEÇÃO IX

Do Ministério Público

Art 137 - A lei organizará o Ministério Público da União junto aos Juizes e Tribunais Federais.

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Art 138 - O Ministério Público Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da República, o qual será nomeado pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal, dentre cidadãos com os requisitos Indicados no art. 113, § 1º.

§ 1º - Os membros do Ministério Público da União, do Distrito Federal e dos Territórios ingressarão nos cargos iniciais de carreira, mediante concurso público de provas e títulos. Após dois anos de exercício, não poderão ser demitidos senão por sentença judiciária, ou em virtude de processo admi-nistrativo em que se lhes faculte ampla defesa; nem removidos, a não ser mediante representação do Procurador-Geral, com fundamento em conve-niência do serviço.

§ 2º - A União será representada em Juízo pelos Procuradores da Repú-blica, podendo a lei cometer esse encargo, nas Comarcas do interior, ao Ministério Público local.

Art 139 - O Ministério Público dos Estados será organizado em carreira, por lei estadual, observado o disposto no parágrafo primeiro do artigo anterior.

Parágrafo único - Aplica-se aos membros do Ministério Público o disposto no art. 108, § 1º, e art. 136, § 4º.

1.5. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 01 DE 1969

A Emenda Constitucional nº 1 de 17 de outubro de 1969 deve ser considera-da uma nova Constituição de caráter outorgado, pois trouxe a reedição de todo o texto constitucional da Carta de 1967, institucionalizando-se os atos até então editados pelo regime.

Destarte, por representar um endurecimento jurídico da ditadura, a Consti-tuição de 1969 desvinculou o Ministério Público do Poder Judiciário, inserindo--o na estrutura organizacional do Poder Executivo e afastando, portanto, qual-quer resíduo de autonomia ou independência institucional.

Eis as disposições previstas na Emenda:CAPÍTULO VII

DO PODER EXECUTIVO

Seção VII

Do Ministério Público

Art. 94. A lei organizará o Ministério Público da União junto aos juízes e tri-bunais federais.

Art. 95. O Ministério Público federal tem por chefe o Procurador-Geral da República, nomeado pelo Presidente da República, dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada.

§ 1° Os membros do Ministério Público da União, do Distrito Federal e dos Ter-ritórios ingressarão nos cargos iniciais de carreira, mediante concurso público de provas e títulos; após dois anos de exercício, não poderão ser demitidos se-

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não por sentença judiciária ou em virtude de processo administrativo em que se lhes faculte ampla defesa, nem removidos a não ser mediante representação do Procurador-Geral, com fundamento em conveniência do serviço.

§ 2° Nas comarcas do interior, a União poderá ser representada pelo Minis-tério Público estadual.

Art. 96. O Ministério Público dos Estados será organizado em carreira, por lei estadual. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 7, de 1977)

Parágrafo único. Lei complementar, de iniciativa do Presidente da República, estabelecerá normas gerais a serem adotadas na organização do Ministério Público Estadual, observado o disposto no § 1º do artigo anterior. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 7, de 1977)

2. O MINISTÉRIO PÚBLICO E OS ANOS 80

A década de oitenta ficou marcada na história do Brasil em razão de relevan-tes acontecimentos no contexto político e social do país. O movimento Diretas Já, que reivindicava a volta das eleições diretas para Presidente da República, aliado ao progresso democrático dos países vizinhos, contribuiu significativa-mente para o fim da ditadura militar, o que ocorreu formalmente em 1985.

A época de transição política e transformação social teve reflexos nos mais diversos órgãos e instituições, principalmente no Ministério Público, a quem compete a tutela da democracia, em suas mais diversas facetas. Com efeito, tam-bém no plano legislativo, a década de oitenta foi bastante movimentada para o Ministério Público, dando início a uma Instituição forte, permanente e indispen-sável à manutenção da ordem jurídica e da social democracia.

Passemos à análise de algumas conquistas fundamentais que traçaram a atual estrutura institucional e sedimentaram seu perfil direcionado à efetivação dos direitos sociais.

2.1. LEI COMPLEMENTAR 40/1981

Considerada a primeira Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, a Lei Complementar Federal nº 40, de 14 de dezembro de 1981, trouxe as diretrizes básicas sobre as garantias e vedações, bem como sobre o espectro de atribui-ções ministeriais. Apesar do momento de pouca democracia, a LC 40/1981 é um marco histórico no progresso do Ministério Público, revelando-se docu-mento de importância destacada no crescimento institucional.

2.2. LEI 7.347/1985 – LEI DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Considerada por Hugo Nigro Mazzilli um dos motivos que marcaram o ex-traordinário crescimento do Ministério Público como Instituição, a Lei 7.347, de 24 de julho de 1985, denominada Lei da Ação Civil Pública, conferiu legitimida-

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de ao Parquet para a defesa jurisdicional dos direitos coletivos, outorgando-lhe, ainda, mecanismos de atuação extrajudicial, como o inquérito civil, as requisi-ções e o termo de ajuste de conduta.

2.3. CARTA DE CURITIBA

Em meados da década de oitenta, quando o País vivia momentos de tran-sição da ditadura para a democracia, o Ministério Público promoveu diversos movimentos com o objetivo mais notável de discutir o verdadeiro papel da instituição ministerial na sociedade e subsidiar os trabalhos da Assembleia Constituinte.

O Primeiro Encontro Nacional de Procuradores-Gerais de Justiça e Presi-dentes de Associações de Ministério Público, realizado em junho de 1986, na cidade de Curitiba, ganhou relevância destacada em razão do seu produto: a Carta de Curitiba, considerada o primeiro texto de consenso do Ministério Pú-blico Nacional. Neste importante documento, os Ministérios Públicos Estaduais e o Federal chegam a um denominador comum em relação às garantias, aos instrumentos, às vedações e às atribuições da instituição.

A Carta fez brotar uma consciência nacional do Ministério Publico Brasi-leiro. Nela, a Instituição demonstrava à Constituinte o seu perfil ideal e as atri-buições que deveria exercer. Pode-se afirmar, portanto, que as conquistas e reivindicações atendidas pela Constituinte, que conferiram a nova identidade do Ministério Público Brasileiro, estão fortemente ligadas à Carta de Curitiba, resultado do 1º Encontro Nacional de Procuradores-Gerais de Justiça e Presi-dentes de Associações de Ministério Público, em 1986.

2.4. O ADVENTO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988

A Constituição Federal de 1988 consagrou um novo Ministério Público. Trata-se de um marco histórico, um verdadeiro divisor de águas na existên-cia da Instituição. O motivo? O reconhecimento de um órgão com identidade própria, plena autonomia e independência, absolutamente livre dos Poderes constituídos.

A Constituição Federal alterou profundamente o texto anterior, inauguran-do um sistema político caracterizado pela democracia, através de um aparato jurídico garantidor das liberdades individuais e sociais. A nova ordem constitu-cional outorgou ao Ministério Público a tutela da social democracia, inserindo-o no título IV (Da organização dos Poderes), capítulo IV (Funções essenciais à Justiça) do texto constitucional.

A independência e a autonomia, tanto administrativa como propriamente funcional, foram as principais conquistas trazidas pela Constituição de 1988. A ampla autonomia se estende, inclusive, frente ao Estado no desempenho de

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suas atividades. Neste ponto, ao Ministério Público foi expressamente vedada a representação dos entes públicos em juízo (art. 129, IX), função que passou a ser realizada pela advocacia pública.

Neste momento, o Ministério Público desata os laços que o vinculavam aos interesses dos Administradores, debruçando-se exclusivamente sobre a tutela do interesse público primário, agindo em nome da sociedade.

Sobre o tema, belas as palavras de Rogério Bastos Arantes2: Em menos de vinte anos, a instituição conseguiu passar de mero apêndice do Poder Executivo para a condição de órgão independente e, nesse pro-cesso que alterou sua estrutura, funções e privilégios, o Ministério Público também abandonou seu papel de advogado dos interesses do Estado para arvorar-se em defensor público da sociedade”.

A Constituição Cidadã fez surgir, portanto, um Ministério Público compro-metido com as diretrizes traçadas no art. 3º do texto constitucional, que estabe-lecem os objetivos fundamentais da República, destacando-se a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a erradicação da pobreza e da marginali-zação e, ainda, a diminuição das desigualdades sociais e regionais.

Para tanto, conceituou o Ministério Público como uma instituição perma-nente, deixando evidente ao legislador reformador seu caráter perene; reconhe-ceu-o como essencial à função jurisdicional do Estado, fundamental à concreti-zação do valor justiça, seja como órgão agente ou interveniente; incumbiu-lhe a defesa dos valores mais caros da sociedade ao lhe outorgar a tutela da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponí-veis; constitucionalizou, ademais, sua atuação extrajudicial, aproximando-o da sociedade e fortalecendo a ideia de um Ministério Público resolutivo.

Garantiu-lhe, enfim, o resguardo do interesse público primário, ou seja, das aspirações licitamente almejadas por toda a comunidade ou por uma parte ex-pressiva de seus membros3. Trata-se de uma Instituição comprometida com a transformação da realidade social, através de uma atuação pautada na defesa dos direitos ou interesses massificados.

O Ministério Público passa a figurar como realizador de direitos e prota-gonista dos avanços sociais, alcançando a condição de figura preeminente na defesa dos direitos transindividuais e no combate à corrupção, opondo-se a in-teresses que até então não eram importunados.

3. A LEI COMPLEMENTAR 75/1993Passados quase cinco anos da promulgação da Constituição Federal de 1988,

ainda havia muita resistência em relação à autonomia e independência do Mi-nistério Público da União. A edição da Lei Complementar 75, em maio de 1993,

2 ARANTES, Rogério Bastos. Ministério Público e Política no Brasil. São Paulo, IDESP/EDUC/Sumaré, 2002.3 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo, Malheiros, 2001.

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dispondo sobre a organização, as atribuições e o estatuto do MPU, foi bastante comemorada no seio ministerial, afastando qualquer dúvida que ainda pairava, à época, sobre a autonomia, independência, direitos, prerrogativas e poderes que lhe foram constitucionalmente assegurados.

3.1. CONCEITO

Ao definir o Ministério Público da União como instituição permanente, es-sencial à função jurisdicional do Estado, incumbida da defesa da ordem jurídica, do regime democrático, dos interesses sociais e dos interesses individuais in-disponíveis, o legislador complementar teve o cuidado de reproduzir o conceito constitucional estampado no caput do art. 127 da Carta Magna.

Ou seja, a Lei Complementar relembra as diretrizes do constituinte originá-rio que elevou o Ministério Público a status de cláusula pétrea, sendo vedado ao poder constituinte derivado, portanto, suprimir ou alterar a essência da Insti-tuição, enfraquecendo-a ou esvaziando-a.

A essencialidade à função jurisdicional do Estado diz respeito ao reconheci-mento do Ministério Público como essencial à concretização do valor Justiça. O texto legal ratifica, ademais, a imprescindibilidade da atuação judicial do Minis-tério Público, seja como ocupante do polo ativo de ações judiciais, seja atuando como fiscal da lei.

Dentre os principais objetivos destacados na definição legal, a defesa da ordem ju-rídica deve ser analisada em conjunto com os demais dispositivos que versam sobre o espectro de atribuições do Ministério Público da União. Disso decorre que o Parquet, ao exercer a defesa da ordem jurídica, não deve atuar como fiscal de todas as leis do país, mas apenas daquelas relacionadas às finalidades gerais da instituição, notadamente aquelas que resguardam os direitos e interesses tutelados pelo órgão ministerial.

Sobre o tema, discorre Hugo Nigro Mazzilli4:“É verdade que a Constituição comete ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica, bem como assegura ser ele essencial à função jurisdicional do Estado. Mas não podemos tomar essas expressões no sentido absoluto e isolado do contexto; temos, sim, de entendê-las dentro das finalidades que a própria Constituição destinou à instituição. Embora a Lei Maior diga com todas as letras que o Ministério Público é essencial à função jurisdi-cional e tem o papel de defender a ordem jurídica, a constatação é a de que efetiva- mente ele não atua em todos os casos em que haja violação da ordem jurídica, nem funcio- na em todos os casos submetidos à apreciação do Poder Judiciário. O intérprete não está autorizado a crer que não possa haver prestação jurisdicional sem Ministério Público, ou que toda a viola-ção à ordem jurídica seja questão afeta ao Ministério Público. Isso nem se-

4 MAZZILLI, Hugo Nigro. A Atuação do Ministério Público no Processo Civil. Disponível em http://www.mazzilli.com.br/pages/artigos/mpnopc2.pdf. Acesso em 03/03/2013.

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ria verdade: existe prestação jurisdicional sem intervenção do Ministério Público; existe violação da ordem jurídica sem que, necessariamente, a ela deva corresponder uma reação do Ministério Público. Podemos até dizer que o que ocorre é exatamente o contrário: a regra é a de que o Ministério Público não oficia em todos os processos, nem zela pela obser- vância de todas as normas jurídicas.”

“Assim, por exemplo, se Caio entra com uma ação de perdas e danos con-tra Tício, e se ambos são maiores e capazes, o Ministério Público não es-tará presente nos autos. Poder-se-ia dizer: então, que essencialidade é a sua, para a função jurisdicional? E mais. É certo que o Ministério Público recebeu a atribuição de defender a ordem jurídica. Contudo, em todos os processos há, teoricamente, uma violação da ordem jurídica, ao me- nos se nos basearmos naquilo que alega o autor da ação. Mas nem por isso o Ministério Público intervém em todos os processos...”

“No fundo, a explicação do paradoxo é simples: não podem ser toma- das em seu valor absoluto as expressões defesa da ordem jurídica e essencia-lidade à função jurisdicional, no tocante à atuação do Ministério Público. (...) Está, pois, perfeitamente claro que, quando a Constituição diz que ele defende a ordem jurídica, não quer significar que o Ministério Público seja o guardião de todas as leis da República, mas sim apenas daquelas que te-nham compatibilidade com sua finalidade institucional.”

Ao Ministério Público da União foi atribuída, ademais, a tarefa de guardião da Democracia, em suas mais variadas vertentes – política, jurídica e social. Com efeito, neste ponto, importante salientar que a defesa do regime democrático não se exaure no pleno exercício dos direitos políticos, mas também no respeito aos mais diversos direitos e interesses de natureza fundamental.

A Lei Complementar 75/1993, em exata simetria com o texto constitucio-nal, outorgou ao Ministério Público da União, ainda, a defesa dos interesses so-ciais e individuais indisponíveis, apontando especificamente quais interesses e direitos devem ser tutelados pelo órgão ministerial. Sem querer aprofundar a análise do tema, por fugir ao escopo do presente estudo, entendemos prudente abordar, ainda que sucintamente, a abrangência dos direitos tutelados pela ins-tituição ministerial.

Por interesses sociais deve-se entender o interesse público primário, assim concebido como aquele que tem como destinatários a sociedade ou a coletivida-de, como um todo ou representada por determinados grupos, dentre os quais se inserem os direitos coletivos lato sensu: direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos.

O artigo 81 do Código de Defesa do Consumidor traz uma definição de cada uma das modalidades dos direitos coletivos em sentido amplo:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas pode-rá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

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Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste có-digo, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os de-correntes de origem comum.

Atente-se para o fato de que os direitos individuais homogêneos, embora sejam essencialmente individuais e acidentalmente coletivos, constituem uma moda-lidade dos direitos coletivos lato sensu, razão pela qual o Ministério Público da União tem legitimidade para sua defesa.

Em arremate, o interesse individual indisponível objeto da tutela ministerial refere-se a todo aquele direito que possui, em sua essência, uma importância destacada, de modo a não possibilitar ao seu titular ou a terceiros qualquer ato de despojamento. Podemos citar como exemplos o interesse de pessoas físicas (individuais) que demandam proteção especial, como é o caso dos incapazes, índios e idosos, além da cidadania, dignidade e outros direitos fundamentais não patrimoniais.

3.2. FUNÇÕES INSTITUCIONAIS

As funções institucionais do Ministério Público da União encontram-se exemplificativamente previstas no extenso rol do art. 5º da Lei Complementar 75/1993, tratando-se da defesa do interesse público primário, ou seja, o inte-resse cujo destinatário final é a própria sociedade.

Art. 5º São funções institucionais do Ministério Público da União:

I - a defesa da ordem jurídica, do regime democrático, dos interesses so-ciais e dos interesses individuais indisponíveis, considerados, dentre ou-tros, os seguintes fundamentos e princípios:

a) a soberania e a representatividade popular;

b) os direitos políticos;

c) os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil;

d) a indissolubilidade da União;

e) a independência e a harmonia dos Poderes da União;

f) a autonomia dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

g) as vedações impostas à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios;

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h) a legalidade, a impessoalidade, a moralidade e a publicidade, relativas à administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União;

II - zelar pela observância dos princípios constitucionais relativos:

a) ao sistema tributário, às limitações do poder de tributar, à repartição do poder impositivo e das receitas tributárias e aos direitos do contribuinte;

b) às finanças públicas;

c) à atividade econômica, à política urbana, agrícola, fundiária e de reforma agrária e ao sistema financeiro nacional;

d) à seguridade social, à educação, à cultura e ao desporto, à ciência e à tecnologia, à comunicação social e ao meio ambiente;

e) à segurança pública;

III - a defesa dos seguintes bens e interesses:

a) o patrimônio nacional;

b) o patrimônio público e social;

c) o patrimônio cultural brasileiro;

d) o meio ambiente;

e) os direitos e interesses coletivos, especialmente das comunidades indí-genas, da família, da criança, do adolescente e do idoso;

IV - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos da União, dos serviços de relevância pública e dos meios de comunicação social aos princípios, ga-rantias, condições, direitos, deveres e vedações previstos na Constituição Fe-deral e na lei, relativos à comunicação social;

V - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos da União e dos serviços de relevância pública quanto:

a) aos direitos assegurados na Constituição Federal relativos às ações e aos serviços de saúde e à educação;

b) aos princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade e da publicidade;

VI - exercer outras funções previstas na Constituição Federal e na lei.

§ 1º Os órgãos do Ministério Público da União devem zelar pela observân-cia dos princípios e competências da Instituição, bem como pelo livre exer-cício de suas funções.

§ 2º Somente a lei poderá especificar as funções atribuídas pela Constituição Federal e por esta Lei Complementar ao Ministério Público da União, obser-vados os princípios e normas nelas estabelecidos.

Observe-se que as funções ministeriais expressamente previstas na Lei Com-plementar 75/1993 referem-se, sempre, à tutela da ordem jurídica constitucio-nal (direitos políticos, objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil,

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princípios constitucionais, etc), do regime democrático (representatividade po-pular, independência e harmonia entre os Poderes da União, etc), dos interesses sociais (zelar pelos serviços de relevância pública e defender os patrimônios na-cional, público, social, cultural brasileiro e o meio ambiente, etc) e dos interesses individuais indisponíveis (comunidades indígenas, família, criança, adolescen-te e idoso).

Ou seja, basta que se tenha conhecimento da extensão das definições das incumbências constitucionais (ordem jurídica, regime democrático, interesses sociais e interesses individuais indisponíveis) para saber, por consequência, as funções institucionais do Ministério Público da União previstas na Lei Comple-mentar 75/1993.

3.3. INSTRUMENTOS DE ATUAÇÃO

Ao Ministério Público da União foi outorgado pela Lei Complementar 75/1993 um extenso rol de instrumentos de atuação, muitos deles reproduzi-dos do próprio texto constitucional. Porém, o fez de forma mais didática.

Segundo Hugo Nigro Mazzilli, a Lei Complementar 75/1993 “bem fez em distinguir as funções dos instrumentos, cautela que não teve a Constituição”. Ain-da de acordo com o autor, “tudo aquilo que o Ministério Público faz, como objeto ou finalidade de seu ofício, são suas funções; instrumentos são os mecanismos processuais ou extraprocessuais por meio dos quais o Ministério Público de-sempenha suas funções”.

Os quatro primeiros mecanismos elencados nos incisos I a IV do art. 6º da LC 75/1993, quais sejam, a ação direta de inconstitucionalidade e o respectivo pedido de medida cautelar, a ação direta de inconstitucionalidade por omissão, a arguição de descumprimento de preceito fundamental decorrente da Consti-tuição Federal e a representação interventiva federal nos Estados e no Distrito Federal, são competências exclusivas do chefe do Ministério Público da União, o Procurador-Geral da República, nos termos do art. 103, VI, da Carta Maior.

Somente do inciso V em diante estão previstos os instrumentos utilizados pelos Procuradores e Promotores no seu cotidiano, com destaque para a ação penal pública, o inquérito civil e a ação civil pública.

A primeira, única função privativa do Ministério Público, revela-se o exercí-cio da soberania Estatal através do ius puniendi. Ressalte-se, no entanto, que a privatividade ministerial não é absoluta, pois a Constituição Federal, em seu art. 5º, LIX, admite expressamente a ação penal privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal. A exceção deve ser concebida como uma solução encontrada pelo legislador constitucional para garantir o exercício do ius puniendi quando houver omissão ministerial em fazê-lo.

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Na atividade investigativa, o inquérito civil, de utilização exclusiva do Minis-tério Público, é o principal instrumento voltado para a colheita de elementos que formarão o entendimento do membro e servirão como veículo probatório em eventual demanda judicial. Por se tratar de mero procedimento administra-tivo, de natureza inquisitória, no qual não se acusa nem se aplica sanção, não há que se falar em devido processo legal, que fica postergado ao íntimo judicial.

Em linhas gerais, a Resolução 23 do Conselho Nacional do Ministério Público traça o objetivo do inquérito civil: apurar fato que possa autorizar a tutela dos interesses ou direitos a cargo do Ministério Público nos termos da legislação aplicável, servindo como preparação para o exercício das atribuições inerentes às suas funções institucionais.

A própria Resolução faz ressalva de que o inquérito civil não é condição de procedibilidade para o ajuizamento das ações a cargo do Ministério Público, nem para a realização das demais medidas de sua atribuição própria, tendo, portanto, natureza facultativa.

Ademais, de acordo com o art. 8º, § 1º, da Lei 7.347/1985, o “Ministério Pú-blico poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil” (original sem grifo). Com efeito, a literalidade do referido dispositivo legal deixa claro que o inquéri-to civil não é condição sine qua non para o ajuizamento da ação civil pública, tra-tando-se de instituto facultativo destinado à colheita de elementos de convicção para o convencimento do membro oficiante e, mais adiante, do juiz da causa.

A dispensabilidade se justifica porque nada impede que o Ministério Públi-co tenha, desde logo, elementos suficientes para a propositura da ação – o que tornaria desnecessária a instauração do procedimento administrativo – ou que busque tais subsídios por outros mecanismos investigatórios5. Ora, se os de-mais legitimados da ação civil pública podem ajuizá-la sem prévia instauração de procedimentos investigativos, torna-se evidente que o Ministério Público poderá ajuizar ação civil pública ou quaisquer outras medidas judiciais que já estejam suficientemente maduras.

Imaginar o inquérito civil como procedimento imprescindível seria o mes-mo que procrastinar a propositura da ação pelo Parquet e, portanto, burocrati-zar o acesso à justiça, em flagrante agressão ao princípio insculpido no art. 5º, XXXV, do texto constitucional.

A ação civil pública é o principal instrumento de atuação judicial do Ministé-rio Público para a defesa do interesse público primário. De acordo com Hugo Ni-gro Mazzilli, esta ferramenta serve ao Ministério Público “não só para a defesa de interesses transindividuais (difusos, coletivos ou individuais homogêneos, de larga abrangência ou expressão social), como também para a defesa de inte-resses sociais e individuais indisponíveis”.

5 SOUZA, Motauri Ciocchetti de. Ação Civil Pública e Inquérito Civil. 3ª ed. Saraiva, São Paulo, 2008.

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Atente-se para o fato de que o Ministério Público não é titular exclusivo da ação. São legitimados para o acetamento da ação civil pública e da respectiva ação cautelar, além do MP, a Defensoria Pública; a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; a associação que, concomitantemente, esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil e inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, tu-rístico e paisagístico. (Lei 7.347/85, art. 5º).

Além dos mais conhecidos instrumentos de atuação, a Lei Complementar 75/1993 trouxe expressamente a possibilidade de o Ministério Público da União expedir recomendações, visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública, bem como ao respeito, aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, fixando prazo razoável para a adoção das providên-cias cabíveis.

Apesar de desprovidas de caráter vinculante e sancionatório, as recomen-dações frutificam uma coerção de ordem moral, indicativa do entendimento do órgão ministerial. A despeito da desobrigação jurídica, o destinatário das reco-mendações deverá responder por escrito ao Ministério Público sobre a intenção de acatá-las ou de recusá-las.

Para o pleno exercício de suas atribuições, a Lei Complementar 75/1993 outorga ainda ao Ministério Público da União amplos poderes investigatórios, notificatórios e requisitórios (art. 8º). Registre-se que o verbo requisitar tem conteúdo imperativo, revelando-se uma ordem, não sendo o seu atendimento uma mera discricionariedade do destinatário, de modo que a falta injustificada ou o retardamento indevido no seu cumprimento importará a responsabilidade de quem lhes der causa (§ 3º), podendo caracterizar, conforme o caso, os crimes previstos nos arts. 10 da Lei 7.347/1993, 330 (desobediência) e 319 (prevari-cação) do Código Penal Brasileiro, sempre na modalidade dolosa e desde que os dados requisitados sejam indispensáveis à propositura da ação.

Insta destacar que, em seu poder requisitório documental, o Ministério Pú-blico da União poderá ter acesso a informações sigilosas, sem prejuízo da ma-nutenção do caráter sigiloso da informação (art. 8º, § 2º), responsabilizando-se o membro em caso de uso indevido (art. 8º, § 1º). Ressalva deve ser feita em relação às hipóteses em que a Constituição Federal exige autorização judicial para a quebra do sigilo, como ocorre, à guisa de exemplo, com as comunicações. Nestes casos, deverá o membro do Parquet peticionar em juízo solicitando a quebra do sigilo para fins de instrução dos seus procedimentos investigativos.

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3.4. CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL

De acordo com o art. 129, VII, da Constituição Federal, o Ministério Público exercerá o controle externo da atividade policial, na forma de lei complementar. Enquanto a palavra controle tem significado de vigilância, supervisão, fiscaliza-ção, a designação externo diz respeito à realização por um terceiro, no caso, o Ministério Público.

Essa fiscalização deverá se pautar pelos seguintes objetivos: o respeito aos fundamentos do Estado Democrático de Direito, aos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, aos princípios informadores das relações inter-nacionais, bem como aos direitos assegurados na Constituição Federal e na lei; a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio público; a prevenção e a correção de ilegalidade ou de abuso de poder; a indis-ponibilidade da persecução penal; e a competência dos órgãos incumbidos da segurança pública (art. 3º).

Para tanto, o art. 9º da Lei Complementar 75/1993 outorga ao Ministério Público da União uma série de medidas instrumentais, judiciais e extrajudiciais, com a finalidade de viabilizar o pleno exercício de tal mister institucional. São elas: ter livre ingresso em estabelecimentos policiais ou prisionais; ter acesso a quaisquer documentos relativos à atividade-fim policial; representar à auto-ridade competente pela adoção de providências para sanar a omissão indevida, ou para prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder; requisitar à autori-dade competente para instauração de inquérito policial sobre a omissão ou fato ilícito ocorrido no exercício da atividade policial; promover a ação penal por abuso de poder.

3.5. DEFESA DOS DIREITOS CONSTITUCIONAISJá vimos que uma das incumbências constitucionais do Ministério Público

é a defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis, bem como que é sua função institucional zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na Constituição, promo-vendo as medidas necessárias a sua garantia.

Para a tutela dos direitos constitucionais do cidadão, a Lei Complementar 75/1993 prevê a figura do Procurador dos Direitos do Cidadão, que tem por missão envidar esforços no sentido de garantir o respeito aos direitos funda-mentais, mormente em se tratando de questões como o acesso à justiça, à edu-cação, à saúde, à previdência, à assistência social, à segurança pública e ao sis-tema prisional.

Atente-se para o fato de que o Procurador dos Direitos do Cidadão deve atuar em defesa dos direitos constitucionais difusos ou coletivos, sendo-lhe ex-pressamente vedado, por força do art. 15 da LC 75/1993, promover em juízo a defesa de direitos individuais lesados.

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3.6. AUTONOMIA FUNCIONAL, ADMINISTRATIVA E FINANCEIRADiscorremos alhures que a independência e a autonomia do Ministério

Público, notadamente em face do Estado para desempenhar suas funções em defesa da sociedade, foram as principais inovações trazidas pela nova ordem constitucional.

A autonomia funcional diz respeito à não vinculação da instituição ao Esta-do ou a qualquer órgão administrativo. Atentem os leitores para o fato de que a inteligência do art. 127, § 2ª, da Constituição Federal informa que a autonomia funcional é uma prerrogativa da Instituição e não do membro ocupante do cargo.

A autonomia administrativa, por sua vez, relaciona-se com à capacidade de autogestão da instituição, traduzindo-se numa via de auto-organização de suas atividades, com iniciativa no plano legislativo para criação e extinção de seus car-gos e serviços auxiliares, fixação de política remuneratória, estabelecimento de planos de carreira, organização, funcionamento e elaboração de estatuto próprio.

Quanto à autonomia financeira, observe-se que esta veio expressamente prevista no art. 22 da Lei Complementar 75/1993, suprindo a omissão do texto constitucional. Diz respeito à legitimidade para elaborar a proposta orçamen-tária, respeitados os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, e à gestão dos recursos financeiros próprios. O Ministério Público, no exercício de da autonomia financeira, encaminhará sua proposta ao chefe do Poder Exe-cutivo para que este possa anexá-la à proposta global e encaminhe o projeto de lei orçamentária ao Poder Legislativo. Após a aprovação e publicação da Lei Orçamentária Anual, o Ministério Público terá dotação orçamentária própria, devendo receber mensalmente os recursos previstos na lei.

Muito embora a Carta Magna e a Lei Complementar 75/1993 tenham sido bastante clementes com a instituição ministerial, contemplando-a com a auto-nomia necessária ao livre exercício de suas funções constitucionalmente dele-gadas, deixaram de conceder-lhe o autogoverno, gerando efeitos colaterais ma-léficos. E o fizeram propositalmente.

Como é cediço, o órgão máximo do Ministério Público é livremente esco-lhido pelo chefe do Poder Executivo, dentre os integrantes da Instituição que preencham requisitos específicos. Podemos dizer, portanto, que a ausência de autogoverno é um resquício antidemocrático de influência do Executivo no ínti-mo ministerial. Melhor seria, por óbvio, que o chefe do Ministério Público fosse lançado para tal função por seus próprios pares, num verdadeiro exercício da democracia interna corporis.

3.7. ESTRUTURAO Ministério Público da União compreende o Ministério Público Federal, o

Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Militar e o Ministério Pú-blico do Distrito Federal e Territórios (art. 24, LC 75/1993).

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A divisão temática específica tem por finalidade precípua legitimar cada um dos ramos a atuar nas respectivas Justiças: comum federal, trabalhista, militar e distrital ou territorial. No entanto, de acordo com a inteligência do art. 5º, § 5º, da Lei 7.347/1985, nada impede que, de forma excepcional, determinado ramo do Ministério Público atue em Justiça distinta daquela para a qual encontra-se legitimado, quando em litisconsórcio facultativo com outro Parquet.

3.8. PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

De acordo com o art. 25, caput, da Lei Complementar 75/1993, o Procura-dor-Geral da República é o chefe do Ministério Público da União, nomeado pelo Presidente da República dentre integrantes da carreira, maiores de trinta e cin-co anos, permitida a recondução precedida de nova decisão do Senado Federal. A Lei olvidou-se de registrar a necessidade do quórum qualificado previsto no texto constitucional para a sabatina naquela casa legislativa: a maioria absoluta dos membros (art. 128, § 1º, CF/1988).

À luz do referido dispositivo legal, em cotejo com o texto constitucional, são requisitos para exercer a chefia do MPU:

• ser nomeado pelo Presidente da República;• ser integrante da carreira;• ter idade igual ou superior a 35 anos; e • ter seu nome aprovado pela maioria absoluta do Senado Federal.

Atente-se para o fato de que a norma constitucional menciona que a esco-lha do Procurador-Geral da República deve recair sobre qualquer integrante da carreira, o que possibilita a conclusão no sentido de que a indicação poderia ocorrer dentre os integrantes de qualquer dos ramos da instituição (MPF, MPT, MPM e MPDFT). No entanto, a cumulação da chefia do Ministério Público Fe-deral (art. 45 da LC 75/93) tem norteado as nomeações dentre os integrantes desse ramo específico.

As suas atribuições como Chefe do Ministério Público da União estão elen-cadas no art. 26 da Lei Complementar 75/1993, destacando-se a representação da instituição (todos os seus ramos); nomear e dar posse ao Vice-Procurador--Geral da República, ao Procurador-Geral do Trabalho, ao Procurador-Geral da Justiça Militar, bem como dar posse ao Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e Territórios; encaminhar aos respectivos Presidentes as listas sêxtu-plas para composição dos Tribunais Regionais Federais, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, do Superior Tribunal de Justiça, do Tribunal Superior do Trabalho e dos Tribunais Regionais do Trabalho e dirimir conflitos de atribuição entre integrantes de ramos diferentes do Ministério Público da União.

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3.9. CONSELHO DE ASSESSORAMENTO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO

O Conselho de Assessoramento Superior do MPU é integrado pelo Procura-dor-Geral da República, que o preside, pelo Vice-Procurador-Geral da Repúbli-ca, pelo Procurador-Geral do Trabalho, pelo Procurador-Geral da Justiça Militar e pelo Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Suas reu-niões serão convocadas pelo presidente, podendo ser solicitadas por qualquer integrante do Conselho.

Quanto às atribuições do Conselho de Assessoramento do MPU, estão as ma-térias de interesse geral da Instituição, especialmente sobre os projetos de lei de interesse comum dos diversos ramos do MPU (incluindo-se as alterações das normas gerais da LC 75/1993, a proposta de orçamento e os que proponham a fixação dos vencimentos nas carreiras e nos serviços auxiliares) e sobre a orga-nização e o funcionamento da Diretoria-Geral e dos Serviços da Secretaria do MPU.

3.10. SERVIÇOS AUXILIARES

A Secretaria do MPU é dirigida por um Diretor-Geral livremente nomeado pelo PGR, incumbindo-lhe os serviços auxiliares de apoio técnico e administra-tivo ao Ministério Público da União. Os servidores serão submetidos a regime estatutário, com quadro próprio de carreira.

3.11. ÓRGÃOS DOS DIVERSOS RAMOS: COMPOSIÇÃO E PECULIARIDADES

3.11.1. Os Procuradores-Gerais

Procurador-Geral da República

Chefe do Ministério Público da União e do Ministério Público Federal, é nomeado pelo Presidente da República dentre integrantes da carreira, maiores de trinta e cinco anos, após a aprovação de seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal, para mandato de dois anos, permitida a recondução (art. 128, § 1º, CF, c/c art. 25, LC 75/1993).

Procurador-Geral do Trabalho

Chefe do Ministério Público do Trabalho, é nomeado pelo Procurador-Geral da República dentre integrantes de lista tríplice elaborada pelo Colégio de Procuradores do Trabalho, para mandato de dois anos, permitida uma [única] recondução, precedida de nova lista tríplice, podendo concorrer os membros do Ministério Público do Trabalho com mais de trinta e cinco anos de idade e de cinco anos na carreira (art. 88, LC 75/1993).

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Procurador-Geral da Justiça Militar

Chefe do Ministério Público Militar, é nomeado pelo Procurador-Geral da República dentre integrantes de lista tríplice elaborada pelo Colégio de Procuradores da Justiça Militar, para mandato de dois anos, permitida uma [única] recondução, precedida de nova lista tríplice, podendo concorrer os membros do Ministério Público Militar com mais de trinta e cinco anos de idade e de cinco anos na carreira (art. 121, LC 75/1993).

Procurador-Geral de Justiça do

Distrito Federal e Territórios

Chefe do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, é nomeado pelo Presidente da República dentre integrantes de lista tríplice elaborada pelo Colégio de Procuradores e Promotores de Justiça, para mandato de dois anos, permitida uma [única] recondução, precedida de nova lista tríplice, podendo concorrer os membros do Ministério Público do Distrito Federal com mais de cinco anos de exercício nas funções da carreira e que não tenham sofrido, nos últimos quatro anos, qualquer condenação definitiva ou não estejam respondendo a processo penal ou administrativo (art. 156, LC 75/1993).

3.11.2. Os Conselhos Superiores

O Conselho Superior é órgão colegiado de cúpula de cada um dos ramos do Ministério Público da União, possuindo atribuições normativas e deliberativas previstas na Lei Complementar 75/1993 e no respectivo regimento interno. Destacam-se a elaboração e aprovação das normas e das instruções para o con-curso de ingresso na carreira, dos critérios para a distribuição de procedimen-tos administrativos e dos critérios de promoção por merecimento.

Os Conselhos Superiores reunir-se-ão, ordinariamente, uma vez por mês, em dia previamente fixado e, extraordinariamente, quando convocado pelo Procurador-Geral respectivo ou pela proposta da maioria absoluta dos seus membros.

Salvo disposição em contrário, as deliberações dos Conselhos Superiores se-rão tomadas por maioria de votos, presente a maioria absoluta de seus mem-bros. Em caso de empate, prevalecerá o voto do Presidente, exceto em matéria de sanções, caso em que prevalecerá a solução mais favorável ao acusado. As deliberações do Conselho Superior serão publicadas no Diário da Justiça, exceto quando o Regimento Interno determinar sigilo.

Vejamos, abaixo, a composição de cada um dos Conselhos:

Conselho Superior do Ministério Público

Federal

• o Procurador-Geral da República e o Vice-Procurador-Geral da República, que o integram como membros natos;

• quatro Subprocuradores-Gerais da República eleitos, para mandato de dois anos, na forma do art. 53, III, permitida uma reeleição;

• quatro Subprocuradores-Gerais da República eleitos, para mandato de dois anos, por seus pares, mediante voto plurinominal, facultativo e secreto, permitida uma reeleição.

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Conselho Superior do Ministério Público do

Trabalho

• o Procurador-Geral do Trabalho e o Vice-Procurador-Geral do Trabalho, que o integram como membros natos;

• quatro Subprocuradores-Gerais do Trabalho, eleitos para um mandato de dois anos, pelo Colégio de Procuradores do Trabalho, mediante voto plurinominal, facultativo e secreto, permitida uma reeleição;

• quatro Subprocuradores-Gerais do Trabalho, eleitos para um mandato de dois anos, por seus pares, mediante voto plurinominal, facultativo e secreto, permitida uma reeleição.

Conselho Superior do Ministério Público

Militar

• o Procurador-Geral da Justiça Militar e o Vice-Procurador-Geral da Justiça Militar;

• [todos] os Subprocuradores-Gerais da Justiça Militar.

Conselho Superior do Ministério Público do Distrito Federal e

Territórios

• o Procurador-Geral de Justiça e o Vice-Procurador-Geral de Justiça, que o integram como membros natos;

• quatro Procuradores de Justiça, eleitos, para mandato de dois anos, na forma do inciso IV do artigo anterior, permitida uma reeleição;

• quatro Procuradores de Justiça, eleitos para um mandato de dois anos, por seus pares, mediante voto plurinominal, facultativo e secreto, permitida uma reeleição.

3.11.3. Os Colégios

O Colégio é composto por todos os membros da carreira em atividade no respectivo ramo do Ministério Público da União, funcionando como uma ver-dadeira assembleia na escolha democrática dos dirigentes da instituição e dos seus representantes no quinto constitucional.

De forma excepcional, em caso de relevante interesse, o Colégio reunir-se-á em local designado pelo chefe do respectivo ramo, desde que convocado por ele ou pela maioria de seus membros.

Eis suas atribuições:

Colégio de Procuradores da República

• elaborar, mediante voto plurinominal, facultativo e secreto, a lista sêxtupla para a composição do Superior Tribunal de Justiça, sendo elegíveis os membros do Ministério Público Federal, com mais de dez anos na carreira, tendo mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade;

• elaborar, mediante voto plurinominal, facultativo e secreto, a lista sêxtupla para a composição dos Tribunais Regionais Federais, sendo elegíveis os membros do Ministério Público Federal, com mais de dez anos de carreira, que contém mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos de idade, sempre que possível lotados na respectiva região;

• eleger, dentre os Subprocuradores-Gerais da República e mediante voto plurinominal, facultativo e secreto, quatro membros do Conselho Superior do Ministério Público Federal;

• opinar sobre assuntos gerais de interesse da instituição.

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Colégio de Procuradores do Trabalho

• elaborar, mediante voto plurinominal, facultativo e secreto, a lista tríplice para a escolha do Procurador-Geral do Trabalho;

• elaborar, mediante voto plurinominal, facultativo e secreto, a lista sêxtupla para a composição do Tribunal Superior do Trabalho, sendo elegíveis os membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos na carreira, tendo mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade;

• elaborar, mediante voto plurinominal, facultativo e secreto, a lista sêxtupla para os Tribunais Regionais do Trabalho, dentre os Procuradores com mais de dez anos de carreira;

• eleger, dentre os Subprocuradores-Gerais do Trabalho e mediante voto plurinominal, facultativo e secreto, quatro membros do Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho.

Colégio de Procuradores da Justiça Militar

• elaborar, mediante voto plurinominal, facultativo e secreto, lista tríplice para a escolha do Procurador-Geral da Justiça Militar;

• opinar sobre assuntos gerais de interesse da Instituição.

Colégio de Procuradores e Promotores de Justiça

• elaborar, mediante voto plurinominal, facultativo e secreto, a lista tríplice para o cargo de Procurador-Geral de Justiça;

• opinar sobre assuntos gerais de interesse da Instituição;• elaborar, mediante voto plurinominal, facultativo e secreto,

lista sêxtupla para a composição do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, sendo elegíveis os membros do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios com mais de dez anos de carreira;

• eleger, dentre os Procuradores de Justiça e mediante voto plurinominal, facultativo e secreto, quatro membros do Conselho Superior do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;

• elaborar, mediante voto plurinominal, facultativo e secreto, lista sêxtupla para a composição do Superior Tribunal de Justiça, sendo elegíveis os membros do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade.

3.11.4. As Câmaras de Coordenação e Revisão

As Câmaras de Coordenação e Revisão são órgãos setoriais colegiados de co-ordenação, integração e revisão do exercício funcional e da tramitação de pro-cessos no âmbito de cada ramo do Ministério Público da União. Os órgãos serão organizados por ato normativo, e o Regimento Interno, que disporá sobre seu fun-cionamento, será elaborado pelo Conselho Superior.

A Câmara será composta por três membros, sendo um indicado pelo respec-tivo Procurador-Geral e os outros dois pelo Conselho Superior, juntamente com

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seus suplentes, sempre que possível, escolhidos dentre integrantes do último grau da carreira, para um mandato de dois anos.

Enquanto o Ministério Público do Trabalho e o Ministério Público Militar possuem apenas uma única Câmara de Coordenação e Revisão em sua estrutura organizacional, o Ministério Público Federal e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios possuem mais de uma Câmara, organizadas por função ou por matéria.

São atribuições comuns a todas as Câmaras de Coordenação e Revisão dos diversos ramos do Ministério Público da União:

• promover a integração e a coordenação dos órgãos institucio-nais, observado o princípio da independência funcional;

• manter intercâmbio com órgãos ou entidades que atuem em áreas afins;

• encaminhar informações técnico-jurídicas aos órgãos institucio-nais do respectivo ramo;

• resolver sobre a distribuição especial de inquéritos e quaisquer outros feitos, quando a matéria, por sua natureza ou relevância, assim o exigir;

• decidir os conflitos de atribuição entre os órgãos do respectivo ramo.

3.11.5. As Corregedorias

Órgão de controle interno, a Corregedoria é responsável por fiscalizar as atividades funcionais e a conduta dos membros do respectivo ramo do Minis-tério Público da União. O Corregedor-Geral, ocupante do cargo de último nível da carreira, será nomeado pelo Procurador-Geral, dentre os integrantes de lista tríplice elaborada pelo Conselho Superior, para mandato de dois anos, renová-vel por uma única vez. Os demais integrantes da lista tríplice serão os suplentes do Corregedor-Geral, na ordem que os designar o Procurador-Geral.

O Corregedor-Geral poderá ser destituído, por iniciativa do Procurador-Ge-ral, antes do término de seu mandato, pela deliberação do Conselho Superior, tomada pelo voto de dois terços de seus membros.

São atribuições comuns às Corregedorias dos diversos ramos do MPU:• realizar, de ofício, ou por determinação do Procurador-Geral ou

do Conselho Superior, correições e sindicâncias, apresentando os respectivos relatórios;

• instaurar inquérito contra integrante da carreira e propor ao Conselho a instauração do processo administrativo consequente;

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tiago muniz cavalcanti

• acompanhar o estágio probatório dos membros do respectivo ramo;

• propor ao Conselho Superior a exoneração de membro que não cumprir as condições do estágio probatório.

3.11.6. As carreiras

As carreiras dos diferentes ramos do Ministério Público da União são inde-pendentes entre si, tendo cada uma delas organização própria, o que reforça a tese no sentido de que o princípio institucional da unidade diz respeito a cada um dos seus quatro ramos, dotados de chefia e carreira próprias.

Oportuno registrar que o art. 33 da Lei Complementar 75/1993 deve ser interpretado em cotejo com o art. 129, § 2º, do texto constitucional, de modo que os integrantes da carreira devem residir onde estiverem lotados, salvo au-torização do chefe da instituição.

Ministério Público Federal• Subprocurador-Geral da República (último nível)• Procurador Regional da República• Procurador da República (cargo inicial)

Ministério Público do Trabalho

• Subprocurador-Geral do Trabalho (último nível)• Procurador Regional do Trabalho• Procurador do Trabalho (cargo inicial)

Ministério Público Militar

• Subprocurador-Geral da Justiça Militar (último nível)

• Procurador da Justiça Militar• Promotor da Justiça Militar (cargo inicial)

Ministério Público do Distrito Federal e

Territórios

• Procurador de Justiça (último nível)• Promotor de Justiça• Promotor de Justiça Adjunto (cargo inicial)

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