19

1596 leia algumas paginas

Embed Size (px)

DESCRIPTION

 

Citation preview

Page 1: 1596 leia algumas paginas
Page 2: 1596 leia algumas paginas

467

28

hipoteca judiciária e proteSto da deciSão judicial no Novo CPC e SeuS impactoS no

ProceSSo do Trabalho

Élisson Miessa1

SUMÁRIO: 1. INTRODUÇÃO; 2. HIPOTECA JUDICIÁRIA; 2.1. QUADRO COMPARATIVO; 2.2. DEFINIÇÃO DO INSTITUTO; 2.3. O QUE MUDOU COM O NOVO CPC; 2.4. APLICAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO; 3. PROTESTO; 3.1. QUADRO COMPARATIVO; 3.2. DEFINIÇÃO DO INSTITUTO; 3.2.1. PROTESTO DE DECISÃO INTERLOCUTÓRIA; 3.3. APLICAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO; 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

1. INTRODUÇÃO

O atual estudo do Processo Civil é marcado pelo enfoque do acesso à justiça. Dessa forma, nas últimas décadas, principalmente a partir de 1965, tornou-se papel de destaque o modo de efetivação dos direitos. Nesse sentido, Mauro Ca-pelletti e Bryant Garth destacam três ondas renovatórias da teoria do acesso efetivo à Justiça2.

A primeira onda consistiu na ampliação da assistência judiciária fornecida aos menos favorecidos financeiramente. Nesse sentido, os autores salientam que diversos países adotaram, como primeiros esforços à concretização do acesso à justiça, programas com o objetivo de proporcionar serviços jurídicos aos hipossuficientes. No Brasil, destaca-se o benefício da justiça gratuita conce-dida às pessoas que não tenham condições de arcar com as despesas processu-ais, em razão de sua miserabilidade.

A segunda onda compreendeu os esforços na solução dos problemas rela-cionados à representação dos interesses difusos, os quais não possuem titula-ridade identificável. Desse modo, foram necessários mecanismos processuais que fossem capazes de tutelar direitos que não correspondessem apenas às controvérsias entre duas partes a respeito de seus interesses individuais, mas

1 Procurador do Trabalho. Professor de Direito Processual do Trabalho do curso CERS on line. Autor e Coordenador de obras relacionadas à seara trabalhista, dentre elas: Súmulas e Orientações Jurispru-denciais comentadas e organizadas por assunto; Recursos Trabalhistas, ambas publicadas pela editora jusPodivm.

2 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet. Porto Ale-gre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1988.

Livro 1.indb 467 23/03/2015 10:44:46

Page 3: 1596 leia algumas paginas

468

élisson miessa

sim que atendessem à coletividade. Essa segunda onda teve influência nas di-versas leis relacionadas ao processo coletivo, como, por exemplo, a Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85).

O terceiro movimento renovatório compreendeu a efetividade e o resulta-do do processo, ou seja, consistiu em uma concepção mais ampla do acesso à justiça. A terceira onda de reforma, de acordo com os autores, incluiria todo o conjunto institucional e procedimental utilizados no processo com o princi-pal objetivo de satisfazer o jurisdicionado. Observa-se que as últimas reformas ocorridas no processo civil tiveram como objetivo a concretização da efetivida-de e do resultado no processo civil, idealizando, portanto, essa terceira onda.

Nesse mesmo sentido, o Novo Código de Processo Civil buscou, por meio da adoção de diversos instrumentos, dar maior efetividade ao processo. Como exem-plo, podemos citar o princípio da cooperação (art. 6º) que representa a necessá-ria cooperação do juiz e das partes para facilitar a obtenção de um processo mais justo e efetivo. Também pode ser destacada a valorização das técnicas de auto-composição na resolução dos conflitos (art. 3º), a tutela provisória, dentre outros.

Ademais, conforme será demonstrado a seguir, os instrumentos da hipoteca judiciária e do protesto da decisão judicial também podem reforçar os objetivos dessa terceira onda renovatória do acesso à justiça, possibilitando maior efeti-vidade do processo judicial.

Cumpre destacar, de plano, que o Novo Código de Processo Civil somente entrará em vigor após o período de vacatio legis de um ano após sua publicação oficial.

2. HIPOTECA JUDICIÁRIA

2.1. QUADRO COMPARATIVO

Lei nº 5.869/73 (CPC) Lei nº 13.105/15 (Novo CPC)Art. 466. A sentença que condenar o réu no pagamento de uma prestação, consistente em dinheiro ou em coisa, valerá como título constitutivo de hipoteca judiciária, cuja ins-crição será ordenada pelo juiz na forma pres-crita na Lei de Registros Públicos.Parágrafo único. A sentença condenatória produz a hipoteca judiciária:I - embora a condenação seja genérica;II - pendente arresto de bens do devedor;III - ainda quando o credor possa promover a execução provisória da sentença.

Art. 495. A decisão que condenar o réu ao paga-mento de prestação consistente em dinheiro e a que determinar a conversão de prestação de fazer, de não fazer ou de dar coisa em pres-tação pecuniária valerão como título constitu-tivo de hipoteca judiciária.§ 1º A decisão produz a hipoteca judiciária:I – embora a condenação seja genérica;II – ainda que o credor possa promover o cum-primento provisório da sentença ou esteja pen-dente arresto sobre bem do devedor;III – mesmo que impugnada por recurso do-tado de efeito suspensivo.

Livro 1.indb 468 23/03/2015 10:44:46

Page 4: 1596 leia algumas paginas

469

hipoteca judiciária e protesto da decisão judicial no novo cpc e seus impactos no processo...

Lei nº 5.869/73 (CPC) Lei nº 13.105/15 (Novo CPC)§ 2º A hipoteca judiciária poderá ser realizada mediante apresentação de cópia da sentença perante o cartório de registro imobiliário, inde-pendentemente de ordem judicial, de decla-ração expressa do juiz ou de demonstração de urgência.§ 3º No prazo de até 15 (quinze) dias da data de realização da hipoteca, a parte informá-la-á ao juízo da causa, que determinará a intimação da outra parte para que tome ciência do ato.§ 4º A hipoteca judiciária, uma vez constituída, implicará, para o credor hipotecário, o direito de preferência, quanto ao pagamento, em re-lação a outros credores, observada a prioridade no registro.§ 5º Sobrevindo a reforma ou a invalidação da decisão que impôs o pagamento de quantia, a parte responderá, independentemente de culpa, pelos danos que a outra parte tiver sofri-do em razão da constituição da garantia, deven-do o valor da indenização ser liquidado e execu-tado nos próprios autos (grifos nossos).

2.2. DEFINIÇÃO DO INSTITUTO

A hipoteca representa um direito real de garantia sobre coisa alheia, permi-tindo que um bem pertencente ao devedor possa assegurar o cumprimento de obrigação pecuniária.

Há no ordenamento jurídico pátrio, quatro espécies de hipoteca: conven-cional, legal, cedular e judiciária. Em todos os tipos de hipoteca, é necessário que ela seja registrada na matrícula do bem hipotecado para que seja oponível contra terceiros (princípio da publicidade). Portanto, “hipoteca não registrada é hipoteca não existente”3.

A hipoteca judiciária, prevista no art. 167, I, 2, da Lei nº 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos) e estabelecida no art. 466 do CPC/73, corresponde a um dos principais efeitos secundários da sentença condenatória. Referido instituto, no atual código, possui como finalidade garantir o êxito da futura execução de sentenças que tenham por objeto o pagamento de quantia ou a entrega de coisa evitando, especialmente, a fraude à execução.

3 Lacerda de Almeida apud TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil volume único. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2011. p. 955.

Livro 1.indb 469 23/03/2015 10:44:46

Page 5: 1596 leia algumas paginas

470

élisson miessa

De acordo com grande parte da doutrina, em razão de corresponder a um dos efeitos anexos da sentença condenatória, a hipoteca judiciária não repre-senta uma faculdade das partes, mas decorre de forma automática. Não é neces-sário, portanto, que a hipoteca judiciária esteja expressa na sentença nem que haja decisão posterior que a defira, não sendo nem mesmo necessário o prévio requerimento da parte interessada. Em razão disso, os autores Marçal Justen Filho, Egon Bockmann Moreira e Eduardo Talamini concluem que “o ‘fato gera-dor’ da hipoteca judiciária não é o pedido da parte ou a decisão do juiz, mas a existência fática de uma sentença condenatória”.4 Nas palavras do doutrinador Cândido Rangel Dinamarco:

Não é incomum a lei instituir certos efeitos externos que acompanharão as sentenças, independentemente de a respeito haverem as partes feito qual-quer pedido e mesmo de ter havido uma explícita manifestação do juiz – ao qual não é sequer lícito negar tais efeitos externos, por acima de seu poder está a lei que os institui. Esses são os efeitos secundários da sentença, em oposição aos efeitos principais, ou primários, que são necessariamente ex-plícitos e dependem de prévio pedido em regular demanda. A sentença é, para os efeitos que a lei lhe agrega, tomada como mero fato jurídico (Enzo Enriques). – grifos no original5

Em outras palavras, é possível dizer que a hipoteca judiciária não depende de prévio requerimento das partes ou até mesmo da discricionariedade do juiz, uma vez que decorre da publicação de sentença condenatória. Desse modo, o ato do juiz que determina a inscrição da hipoteca judiciária manifesta-se apenas por mero despacho, não havendo cunho decisório6.

Ademais, embora no processo do trabalho os recursos tenham efeito mera-mente devolutivo (CLT, art. 899), não há diferenças práticas em razão de a sen-tença estar ou não sujeita a recurso com efeito suspensivo, considerando que a hipoteca judiciária decorre automaticamente da sentença condenatória. Para Justen Filho, Moreira e Talamini, a hipoteca judiciária pode ocorrer mesmo no caso de interposição de recurso com efeito suspensivo7. Nesse mesmo sentido, Fredie Didier acredita que o recurso com efeito suspensivo apenas suspende os efeitos principais da sentença, não atingindo seus efeitos secundários, como é o caso da hipoteca judiciária8.

4 JUSTEN FILHO, Marçal; MOREIRA, Egon Bockmann; TALAMINI, Eduardo. Sobre a Hipoteca Judiciária. Disponível em: http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/197/r133-09.PDF?sequence=4. Acesso em: 19 fev. 2015.

5 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil: vol III. 6ª ed. Malheiros Editores Ltda, 2009, p. 212.

6 DIDIER JR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de Direito Processual Civil: volume 2. 8.ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2013, p. 413.

7 JUSTEN FILHO, Marçal; MOREIRA, Egon Bockmann; TALAMINI, Eduardo. op. cit.8 DIDIER JR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. op cit., p. 414.

Livro 1.indb 470 23/03/2015 10:44:46

Page 6: 1596 leia algumas paginas

471

hipoteca judiciária e protesto da decisão judicial no novo cpc e seus impactos no processo...

Cumpre esclarecer que, como visto, a hipoteca representa um direito real de garantia. Dentre as principais características dos direitos reais, cabe destacar o direito de sequela e o direito de preferência.

O primeiro corresponde à aderência do direito real à coisa, possibilitando que o titular do direito real possa perseguir o bem independentemente de este estar com terceiros e de onde esteja localizado. Exemplificando: Empregado A registra sentença condenatória proferida em face da empresa B, hipotecando o imóvel Y. Caso a empresa B venha a alienar o aludido bem em favor de C, antes de realizar o pagamento da decisão judicial, esta alienação será ineficaz em re-lação ao empregado A, possibilitando a execução do bem.

O direito de preferência, por sua vez, confere àquele que tem garantia real pre-ferência no pagamento em relação aos outros credores, ressaltando que essa pre-ferência é apenas em relação ao produto da venda do bem dado em garantia real9.

Alguns autores, nos dias atuais, sustentam que, na hipoteca judiciária, ape-nas se verifica o direito de sequela, inexistindo o direito de preferência. Nesse sentido, Humberto Theodoro Junior, ao destacar os ensinamentos de Amílcar de Castro, salienta que a hipoteca judiciária possui como objetivos a prevenção de fraudes e não a constituição de preferência ao credor 10. Esse era o entendimen-to expresso no art. 824 do Código Civil de 191611.

Entretanto, considerando que referido dispositivo não foi incluído no Códi-go Civil de 2002, parte da doutrina passou a sustentar que a hipoteca judiciária, além do efeito de sequela também gera o direito de preferência ao credor, apli-cando-se o disposto no art. 1.422 do CC/0212:

Art. 1.422. O credor hipotecário e o pignoratício têm o direito de executar a coisa hipotecada ou empenhada, e preferir, no pagamento, a outros credo-res, observada, quanto à hipoteca, a prioridade no registro.

Cabe ressaltar que, mesmo perante a vigência do Código Civil de 1916, al-guns autores já destacavam o direito de preferência no instituto da hipoteca judiciária, considerando as disposições do Código de Processo Civil de 197313.

Outra discussão doutrinária, no atual código, diz respeito às decisões que permitem a hipoteca judiciária, uma vez que o artigo 466 do CPC apenas pre-

9 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: volume 5 – Reais. 9 ed. Salvador: Editora Jus Podivm, 2013, p. 864.

10 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento – vol. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 564.

11 Art. 824. Compete ao exeqüente o direito de prosseguir na execução da sentença contra os adquirentes dos bens do condenado; mas, para ser oposto a terceiros, conforme valer, e sem importar preferência, depende de inscrição e especialização.

12 DIDIER JR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. op. cit., p. 414.13 JUSTEN FILHO, Marçal; MOREIRA, Egon Bockmann; TALAMINI, Eduardo. op. cit.

Livro 1.indb 471 23/03/2015 10:44:46

Page 7: 1596 leia algumas paginas

472

élisson miessa

via o mencionado instrumento nas sentenças condenatórias ao pagamento de quantia ou para a entrega de coisa. O Código Civil de 1916, entretanto, dispunha que qualquer obrigação poderia ser convertida em pecúnia14, o que permitiu que a interpretação quanto ao cabimento da hipoteca judiciária fosse realizada de forma ampliativa, abrangendo as obrigações de pagar quantia, entregar coisa e fazer e não-fazer.

Em sentido oposto, todavia, considerando o cumprimento específico das obrigações de fazer, não fazer e de dar coisa, Fredie Didier leciona: “parece que a interpretação do art. 466 do CPC deve ser mais restritiva: a hipoteca judiciária é efeito anexo da decisão que certifica um direito ao pagamento de quantia e só.”15 Isto porque, o objetivo da hipoteca judiciária é a constrição sobre o bem para que este, posteriormente, possa ser alienado em hasta pública, satisfazen-do o credor. Como exceção, admite-se a aplicação dos institutos nas obrigações de fazer, não fazer e de dar coisa quando estas forem convertidas em perdas e danos, seja por impossibilidade de seu cumprimento na forma específica, seja por requerimento do credor, nos termos do artigo 461, §1º do CPC.

Para Theodoro Junior, a hipoteca judiciária não depende de uma sentença tipicamente condenatória, podendo ser deferida em sentenças declaratórias ou constitutivas “sempre que nelas se der o acertamento da existência de obrigação cuja prestação seja a entrega de coisa ou o pagamento de soma de dinheiro”16.

Por fim, é válido destacar que o princípio da proporcionalidade estabelece que caso haja diversos bens, deve ser hipotecado aquele cujo valor mais se aproxime do total da condenação ou, caso os valores sejam próximos, deve ser hipotecado o bem oferecido pelo devedor17. Deve-se também levar em consideração que a hi-poteca somente poderá recair sobre bens penhoráveis. Nesse sentido, Theodoro Junior assevera que o STJ já decidiu que a impenhorabilidade do bem de família impede que sobre ele seja constituída a hipoteca judiciária, mesmo porque, em caso contrário, a hipoteca judiciária não alcançaria seu objetivo de garantia ao credor, uma vez que não seria permitida a futura expropriação desse bem18.

2.3. O QUE MUDOU COM O NOVO CPC

O Novo Código de Processo Civil ampliou a disciplina jurídica da hipoteca judiciária e solucionou diversas controvérsias doutrinárias. O instituto passou a ser disciplinado pelo art. 495 do novo diploma legislativo.

14 Art. 1.534. Se o devedor não puder cumprir a prestação na espécie ajustada, substituir-se-á pelo seu valor, em moeda corrente, no lugar onde se execute a obrigação.

15 DIDIER JR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. op cit., p. 412.16 THEODORO JÚNIOR, Humberto. op. cit., p. 565.17 NEVES, Douglas Ribeiro. Hipoteca Judiciária. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito,

Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011, p. 59.18 THEODORO JÚNIOR, Humberto. op. cit., p. 564.

Livro 1.indb 472 23/03/2015 10:44:46

Page 8: 1596 leia algumas paginas

473

hipoteca judiciária e protesto da decisão judicial no novo cpc e seus impactos no processo...

O caput do artigo, com a nova redação, passou a dispor que a hipoteca judi-ciária será constituída pela decisão que condenar o réu ao pagamento de pres-tação consistente em dinheiro e a que determinar a conversão de prestação de fazer, de não fazer ou de dar coisa em prestação pecuniária.

Inicialmente, observa-se a utilização do termo decisão e não mais do ter-mo sentença. Destaca-se ainda que todo o dispositivo referiu-se à decisão, com exceção do §2º que ainda utilizou o termo sentença. Ao realizar essa alteração, nos parece que o legislador teve como objetivo elevar a hipoteca judiciária não somente às sentenças condenatórias, como aos acórdãos, às decisões monocrá-ticas e também às decisões interlocutórias suscetíveis de execução de quantia certa, como é o caso da tutela antecipada. Dessa forma, parece ter ocorrido uma falha técnica no tocante ao §2º do artigo 495 do NCPC.

É certo que a hipoteca judiciária sempre foi vista como um efeito secundário da sentença. Contudo, a criação deste instituto é anterior à existência da tutela antecipada que passou a dar uma nova faceta às decisões interlocutórias, pos-sibilitando, inclusive, sua execução e, no Novo CPC, a formação de coisa julgada em alguns casos, vez que a decisão interlocutória também pode ser uma decisão de mérito.

Com efeito, mesmo que não tenha sido o objetivo do legislador inserir a hipoteca judiciária como efeito das decisões interlocutórias, a leitura do dis-positivo permite que seja feita essa interpretação ampliativa, possibilitando a hipoteca judiciária também das decisões interlocutórias.

A partir do caput, percebe-se ainda que a discussão no tocante às decisões que possibilitam a hipoteca judiciária foi solucionada com o novo dispositivo, seguindo o entendimento que já era majoritário na doutrina de que a hipoteca judiciária é decorrente das decisões condenatórias ao pagamento de quantia e das decisões que convertem as obrigações de fazer, de não fazer ou de dar coisa em prestação pecuniária.

Nos mesmos moldes do parágrafo único do artigo 466 do CPC, o NCPC, no §1º do art. 495, estabelece que a hipoteca judiciária decorre também das sen-tenças condenatórias genéricas (sentenças ilíquidas ou sem a exata individua-lização do objeto), pendentes de arresto do devedor e ainda quando o credor possa promover a execução provisória da sentença. Entretanto, pacificando o entendimento doutrinário já mencionado, determinou que a hipoteca judiciária subsiste mesmo no caso de a decisão ter sido impugnada por recurso dotado de efeito suspensivo.

Com o objetivo de obter maior efetividade na utilização da hipoteca judiciá-ria, o NCPC inovou no §2º do art. 495 ao dispor que a hipoteca judiciária poderá ser realizada mediante a apresentação de cópia da sentença perante o cartório de registro imobiliário, independentemente de ordem judicial, de declaração

Livro 1.indb 473 23/03/2015 10:44:46

Page 9: 1596 leia algumas paginas

474

élisson miessa

expressa do juiz ou de demonstração de urgência. Dessa forma, não há mais a necessidade de despacho ordenado pelo Juiz na forma prescrita na Lei de Regis-tros Públicos, como disposto no caput do art. 466 do CPC.

Observa-se que, diferentemente das demais disposições do artigo 495 do NCPC, o §2º faz referência à cópia da sentença. Entretanto, conforme já expli-cado, a melhor interpretação ao dispositivo possibilita a hipoteca judiciária também das decisões interlocutórias. Assim, a inscrição da hipoteca judiciária poderá ser realizada pela própria parte interessada, bastando a apresentação de cópia da sentença ou da decisão no cartório de registro de imóveis.

Outra inovação trazida pelo NCPC corresponde ao fato de que, após a reali-zação da hipoteca, a parte deverá informá-la ao juízo da causa, no prazo de 15 dias, para que a outra parte tome ciência do ato (art. 495, §3º).

O NCPC inovou ainda na redação do §4º do artigo 495 que solucionou a divergência doutrinária quanto à geração do direito de preferência do credor hipotecário, solucionando, por fim, o impasse causado pelo art. 824 do CC/16. Estabeleceu, assim, que a hipoteca judiciária assegura também o direito de pre-ferência sobre o bem.

O §5º do artigo 495 do NCPC instituiu a responsabilidade objetiva da par-te beneficiada pela hipoteca judiciária no caso de reforma ou invalidação da decisão que impôs o pagamento de quantia. No tocante à referida disposição, devem ser realizadas algumas observações. O §5º abrange apenas as situações de execução provisória, pois versa sobre a reforma ou invalidação da decisão, objetivos primordiais dos recursos. Dessa forma, não nos parece adequado que eventual ação rescisória que altere a sentença condenatória imponha a respon-sabilidade objetiva à parte beneficiada pela hipoteca judiciária, tendo esta ocor-rida durante execução definitiva.

2.4. APLICAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO

A hipoteca judiciária não possui previsão específica na legislação trabalhis-ta. Entretanto, em decorrência do artigo 15 do Novo Código de Processo Civil que estabelece sua aplicação supletiva e subsidiária ao processo do trabalho, re-ferido instrumento passará a ser indiscutivelmente admitido na seara trabalhis-ta. Cabe destacar que a aplicação supletiva corresponde à utilização do Código de Processo Civil quando a legislação trabalhista não abordar de forma comple-ta determinado instituto. Já a aplicação subsidiária relaciona-se à aplicação do CPC quando houver lacunas na legislação processual trabalhista. Dessa forma, em razão de a hipoteca não ser prevista pela legislação trabalhista, a aplicação do NCPC ocorrerá de forma subsidiária.

Livro 1.indb 474 23/03/2015 10:44:47

Page 10: 1596 leia algumas paginas

475

hipoteca judiciária e protesto da decisão judicial no novo cpc e seus impactos no processo...

Entretanto, mesmo antes do Novo Código de Processo Civil, a doutrina já entendia que a hipoteca judiciária era compatível19 e, portanto aplicável ao pro-cesso trabalhista, em consonância com o parágrafo único do artigo 8º e com o artigo 769 da CLT, tendo em vista a omissão da CLT na aplicação do instituto e na compatibilidade com o direito processual do trabalho.

Em razão da importância da hipoteca judiciária na efetivação da tutela juris-dicional, tem-se que o instituto é plenamente compatível com o direito proces-sual do trabalho, uma vez que, em geral, os créditos decorrentes das sentenças condenatórias trabalhistas possuem natureza alimentar, representando, a hipo-teca judiciária uma medida do legislador para garantir a eficácia das decisões judiciais.

Cabe salientar que o TST, mesmo antes do NCPC, já possuía o entendimento de que a hipoteca judiciária é aplicável ao direito processual do trabalho, pois assegura a eficácia de futura execução, garantindo os créditos devidos à parte credora20.

Assim, com a hipoteca judiciária, o credor trabalhista adquire o direito de sequela, possibilitando que persiga os bens hipotecados independentemente de onde estejam localizados e de quem os possua.

Ademais, garante-lhe o direito de preferência na execução do valor fixado na sentença condenatória, destacando que, na execução de crédito com garantia hipotecária, a penhora recairá preferencialmente sobre a coisa dada em garan-tia, conforme determina o §1º do artigo 655 do CPC (§3º do art. 835 do NCPC).

A propósito, previne eventual fraude à execução, pois a hipoteca provoca a presunção absoluta de má-fé do adquirente.

No que tange ao direito de preferência cumpre fazer uma observação. No caso de devedor solvente, tal direito garante a ordem de preferência de

acordo com os registros apresentados, de modo que, havendo mais de um cre-dor com garantia, prefere o que tiver feito primeiramente o registro.

Já no caso de devedor insolvente, a preferência na seara trabalhista perde um pouco a utilidade, embora ainda seja útil.

É que o ordenamento, para além das garantias reais, criou privilégios legais para alguns créditos, como é o caso do crédito trabalhista. Nesse caso, enquanto

19 Nesse sentido: SILVA, Antônio Álvares da. Breves Reflexões sobre a Execução Trabalhista. In: MIESSA, Élisson; CORREIA, Henrique (org.). Estudos Aprofundados: Magistratura do Trabalho. Salvador: Editora JusPodivm, 2013, p. 722-723 e TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. A súmula nº 375 do STJ e a fraude à execução – a visão crítica do Processo do Trabalho. In: MIESSA, Élisson; CORREIA, Henrique (org.). Estu-dos Aprofundados: Magistratura do Trabalho, volume 2. Salvador: Editora JusPodivm, 2014, p. 614-615.

20 Nesse sentido: TST-RR-79000-86.2009.5.03.0111, Relator: Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte, 3.ª Turma, DEJT 24/10/2014, TST-RR-112700-96.2009.5.03.0129, Relator: Ministro José Roberto Freire Pimenta, 2.ª Turma, DEJT 21/11/2014.

Livro 1.indb 475 23/03/2015 10:44:47

Page 11: 1596 leia algumas paginas

476

élisson miessa

a garantia real protege apenas um determinado bem (p.e. hipotecado), o privilégio legal se estende, para todo o patrimônio do devedor. Desse modo, “no chamado concurso universal, seja na falência do comerciante ou na execução por quantia certa por insolvência contra o não-comerciante, sobressaem os privilégios legais”21.

Assim, no caso de falência, o credor trabalhista terá preferência, indepen-dentemente da existência da hipoteca judicial.

No entanto, conforme se verifica pelo art. 83, inciso I da Lei nº 11.101/05, a preferência apenas é observada no limite de 150 salários-mínimos. Dessa for-ma, o valor restante poderá ser analisado em consonância com o inciso II de referido dispositivo que determina que, logo após os créditos trabalhistas até o limite de 150 salários-mínimos, possuem preferência os créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado.

Com efeito, na falência, a hipoteca judiciária produzirá duas preferências ao credor trabalhista. Uma em decorrência de seu crédito, limitada ao mon-tante descrito na lei. E outra em razão da hipoteca, limitada ao valor do bem hipotecado.

Considerando todo o exposto, observa-se que a hipoteca judiciária represen-ta um importante meio de efetividade no cumprimento de decisão condenatória.

Todavia, sua eficácia é limitada, pois atinge, como regra, apenas os bens imó-veis22. Assim, faz-se necessária a utilização de outros instrumentos, como é o caso o protesto, que será analisado a seguir, para que se garanta de forma mais ampla a eficiência das decisões judiciais.

3. PROTESTO

3.1. QUADRO COMPARATIVO

Lei nº 5.869/73 (CPC) Lei nº 13.105/15 (Novo CPC)Sem Correspondência Art. 517. A decisão judicial transitada em jul-

gado poderá ser levada a protesto, nos termos da lei, depois de transcorrido o prazo para pa-gamento voluntário previsto no art. 523.§ 1º Para efetivar o protesto, incumbe ao exequente apresentar certidão de teor da decisão.

21 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: volume 5 – Reais. 9 ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2013. p. 865.

22 Excepicionalmente, bens móveis podem ser hipotecados, como é o caso, por exemplo, de aeronaves, na-vios etc.

Livro 1.indb 476 23/03/2015 10:44:47

Page 12: 1596 leia algumas paginas

477

hipoteca judiciária e protesto da decisão judicial no novo cpc e seus impactos no processo...

Lei nº 5.869/73 (CPC) Lei nº 13.105/15 (Novo CPC)§ 2º A certidão de teor da decisão deverá ser fornecida no prazo de 3 (três) dias e indicará o nome e a qualificação do exequente e do executado, o número do processo, o valor da dívida e a data de decurso do prazo para pagamento voluntário.§ 3º O executado que tiver proposto ação rescisória para impugnar a decisão exequenda pode requerer, a suas expensas e sob sua responsabilidade, a anotação da propositura da ação à margem do título protestado.§ 4º A requerimento do executado, o protesto será cancelado por determinação do juiz, mediante ofício a ser expedido ao cartório, no prazo de 3 (três) dias, contado da data de protocolo do requerimento, desde que comprovada a satisfação integral da obrigação.

3.2. DEFINIÇÃO DO INSTITUTO

O artigo 1º da Lei nº 9.492/97 define o protesto como “o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida”.

Por sua vez, os documentos de dívida são entendidos pela doutrina como “todo e qualquer documento, público ou particular, que se torna protestável desde que represente uma dívida em dinheiro ou comprove ‘a relação de débito de natureza pecuniária contra determinada pessoa’” 23.

Observa-se, dessa forma, que, embora não esteja previsto um rol dos docu-mentos protestáveis, os documentos de dívida podem ser entendidos de forma ampliativa, incluindo-se, desse modo, a sentença transitada em julgado, consi-derada como um título executivo judicial (art. 876 da CLT e art. 475-N do CPC).

Todavia, em razão da ausência de dispositivo legal que permitisse o pro-testo de sentença, havia divergência doutrinária e jurisprudencial no tocante ao seu cabimento. Desse modo, o artigo 517 do NCPC resolveu a controvérsia,

23 OLIVEIRA, Eversio Donizete de. O Protesto Extrajudicial de Sentença Judicial Trabalhista. In: BARBOSA, Magno Luiz; BRITO, Cristiano Gomes de (org.). Temas Contemporâneos de Direito Empresarial do Traba-lho. São Paulo: LTr, 2015, p. 31.

Livro 1.indb 477 23/03/2015 10:44:47

Page 13: 1596 leia algumas paginas

478

élisson miessa

estabelecendo que a decisão judicial transitada em julgado poderá ser levada a protesto.

Apesar de o protesto ser dispensável à execução da sentença, sua utilização pode ampliar de forma expressiva a efetividade e a celeridade do processo judi-cial. Isto porque, há pouca efetividade da execução judicial principalmente em razão da morosidade e da resistência do devedor, dentre outros motivos. Nesse sentido, ao destacar a ampliação da possibilidade do protesto aos documentos de dívidas, Luiz Ricardo da Silva, citado por Themistocles Pinho e Ubirayr Fer-reira Vaz, assevera:

A ‘Nova Ordem’ põe à disposição de todos uma possibilidade mais viável. O credor, através de um procedimento mais rápido, eficiente e a um bai-xo custo, poderia haver o seu direito, não em três ou quatro anos, como ocorria normalmente, mas em uma semana ou um pouco mais de tempo. E ressalte-se que, no processo executório, a possibilidade de se obter êxito no recebimento do valor devido era muito pequena, pois dependeria da existência de patrimônio penhorável do devedor. No caso do procedimen-to extrajudicial, isto não ocorre. Pelo contrário, o temor pelo protesto que impede a obtenção de crédito, principalmente em instituições financeiras, tão necessário nos dias atuais, é muito maior do que um pedido de penhora que pode se protelar por anos24.

A principal função do protesto é, portanto, probatória, pois comprova uma determinada relação jurídica e o seu não pagamento. Entretanto, a finalidade última do protesto corresponde ao pagamento da obrigação. Ademais, confor-me o art. 2º da Lei nº 9.492/97, os serviços relacionados ao protesto são garan-tidores da autenticidade, publicidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos.

A publicidade, apesar de, em regra, também estar presente nos atos judi-ciais, no protesto pode atingir outras dimensões. O tabelião pode, por exemplo, enviar a relação atualizada de títulos e documentos de dívida protestados para inscrição no cadastro dos órgãos de restrição ao crédito, como no SPC, Serasa e CADIN (artigo 29 da Lei nº 9.492/97). Desse modo, pela exposição social gerada ao devedor, bem como pela restrição de diversos tipos de crédito, o protesto tem como objetivo o estímulo ao pagamento, protegendo, dessa forma, os direi-tos dos credores.

Cabe destacar que com a disciplina jurídica trazida pelo NCPC, o protesto de sentença deverá ocorrer após o trânsito em julgado da decisão e após o não pa-gamento voluntário pelo devedor (art. 523 do NCPC). Para efetivar o protesto, o credor deverá apresentar certidão de teor da decisão (§1º do art. 517 do NCPC), contendo qualificação das partes, número do processo, valor da dívida e a data do decurso do pagamento voluntário (§2º do art. 514 do NCPC).

24 COSTA FILHO, José Batista da apud PINHO, Themistocles; VAZ, Ubirayr Ferreira. Protesto de Títulos e Outros Documentos de Dívida: Princípios, Fundamentos e Execução. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2007, p. 8-9.

Livro 1.indb 478 23/03/2015 10:44:47

Page 14: 1596 leia algumas paginas

479

hipoteca judiciária e protesto da decisão judicial no novo cpc e seus impactos no processo...

Ademais, caso tenha sido proposta ação rescisória pelo executado, este po-derá requerer a anotação da propositura da ação à margem do título protestado, nos termos do §3º do art. 517 do NCPC. No caso de cumprimento da obrigação, o próprio executado deverá requerer o cancelamento do protesto ao juiz e, caso seja deferido, este deverá encaminhar ofício ao cartório no prazo de três dias (§4º do art. 517 do NCPC).

Observa-se, portanto, que o NCPC não somente solucionou a controvérsia quanto ao cabimento do protesto de sentença, como também disciplinou o ins-tituto, equilibrando os interesses do executado com os interesses do exequente, possibilitando um meio de execução indireta que compreende um mecanismo adicional para a efetividade do processo e também a possibilidade de pagamen-to pelo devedor.

3.2.1. Protesto de decisão interlocutória

A redação do artigo 517 do NCPC deixa nítido que o protesto somente po-derá ocorrer após o trânsito em julgado da sentença. Parece-nos, todavia que, o objetivo do protesto seria mais bem alcançado se houvesse sua permissão mesmo antes de seu trânsito em julgado.

Entretanto, como essa não foi a solução adotada pelo legislador, acredita-mos que a melhor interpretação ao dispositivo deve possibilitar o protesto das decisões interlocutórias transitadas em julgado.

Isso porque o Novo CPC, condizente com a ideologia atual da decisão inter-locutória, alterou inclusive seu conceito, deixando de considerá-la como aquela decisão que simplesmente resolve questão incidente (art. 162, § 2º, do CPC/73). Passa a conceituá-la de forma residual, determinando que será decisão interlo-cutória o pronunciamento judicial de natureza decisória que não seja sentença (art. 203, § 2º, do NCPC).

Portanto, para se alcançar o conceito de decisão interlocutória, inicialmente, dever-se-á encontrar a definição de sentença, a qual foi definida pelo Novo CPC como “o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução” (art. 203, § 1º, NCPC). Com efeito, no conceito de sentença conjugou--se o conteúdo da decisão (extinção com ou sem resolução do mérito), com o momento em que é proferida (põe fim à fase cognitiva ou extingue à execução).

Dessa forma, a decisão, por exemplo, que extingue o processo com resolução do mérito sem por fim à fase cognitiva é decisão interlocutória, o que significa que, seja a sentença, seja a decisão interlocutória podem ser decisões de mérito.

Com efeito, as decisões interlocutórias, em algumas situações, geram coisa julgada, como é o caso da concessão de tutela antecipada baseada em pedido in-

Livro 1.indb 479 23/03/2015 10:44:47

Page 15: 1596 leia algumas paginas

480

élisson miessa

controverso. Nessa hipótese, ao antecipar a tutela, o magistrado “finaliza aquele assunto discutido durante a lide gerando uma decisão definitiva com caracterís-ticas de coisa julgada sobre o pedido incontroverso, enquanto os demais pros-seguirão na lide com base no procedimento legal” 25.

O NCPC, em seu artigo 502, deixa claro o fato de a decisão interlocutória poder gerar coisa julgada ao dispor que se denomina “coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso” (Grifo Nosso).

Essa interpretação é ainda reforçada pelo fato de o NCPC ter possibilitado, de forma expressa, o trânsito em julgado das decisões interlocutórias, conforme se observa no art. 966 que dispõe que a decisão de mérito pode ser rescindida por meio da ação rescisória.

Dessa forma, o artigo 517 do NCPC deve ser interpretado em consonância com os artigos 502 e 966, possibilitando, assim, o protesto de decisões interlo-cutórias transitadas em julgado.

3.3. APLICAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO.

Da mesma forma que a hipoteca judiciária, o protesto de sentença previsto no Novo Código de Processo Civil pode ser aplicado ao processo do trabalho. Em razão da ausência de previsão do instituto na legislação trabalhista e de sua compatibilidade com o direito processual do trabalho, o NCPC deve ser aplicado de forma subsidiária ao processo trabalhista.

Muitos doutrinadores podem entender que a aplicação do NCPC ocorrerá de forma supletiva (complementar), uma vez que a legislação trabalhista já dis-ciplinava a certidão negativa de débitos trabalhistas, instituto semelhante ao protesto. De todo modo, considerando o teor do art. 15 do NCPC e o artigo 769 da CLT, entendemos que o protesto de sentença corresponde a mais um meca-nismo que amplia a efetividade e a celeridade do processo trabalhista, de modo que não pode ser confundido ou substituído pela CNDT.

A compatibilidade do protesto de sentença judicial previsto no NCPC pre-cisa, todavia de uma análise mais aprofundada, notadamente no que tange à aplicação do procedimento previsto no artigo 523 do NCPC.

A aplicação do disposto no artigo 523 do NCPC previsto, na redação atual, no artigo 475-J do CPC possui grande divergência doutrinária. Para o TST, não há compatibilidade de referido dispositivo com o direito processual do traba-lho, uma vez que este já possui disciplina no tocante à execução, mais especi-

25 MACEDO, Bruno Regis Bandeira. O Projeto do Novo CPC e a Execução Definitiva da Decisão Interlocutória do pedido incontroverso. In: DIDIER JR, Fredie; BASTOS, Antonio Adonias Aguiar (coord.). O Projeto do Novo Código de Processo Civil – Estudos em homenagem ao Professor José Joaquim Calmon de Passos: 2ª série. Salvador: Editora JusPodivm, 2012, p. 213.

Livro 1.indb 480 23/03/2015 10:44:47

Page 16: 1596 leia algumas paginas

481

hipoteca judiciária e protesto da decisão judicial no novo cpc e seus impactos no processo...

ficamente o art. 880 da CLT26. Contudo, entendemos que referido dispositivo é plenamente aplicável ao processo trabalhista27.

Isso porque o sincretismo buscado pelo legislador no CPC já era presente no processo trabalhista, sendo de conhecimento geral que o processo trabalhista na verdade impõe uma fase executiva, como na lei processual civil, tanto que pode ser iniciada ex officio pelo juiz.

Por sua vez, o artigo 523 do NCPC estabelece que, no caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela in-controversa, após intimado ao pagamento do débito, deve o executado efetuar o pagamento no prazo de 15 dias. Em caso de não pagamento voluntário, o débito será acrescido de multa de dez por cento sobre a condenação e de honorários advocatícios de dez por cento.

Vê-se que referido dispositivo incide em momento intermediário, entre a fase de conhecimento e a execução, possibilitando o pagamento voluntário com coerção indireta, de modo que não ocorrendo o pagamento incidirá a multa de 10%. Noutras palavras, a multa incidirá antes de adentrar na fase executiva pro-priamente dita.

No processo do trabalho, a multa também poderá ser aplicada antes de se iniciar a fase executiva, seja no final da fase de conhecimento (quando a senten-ça for líquida), seja na fase de liquidação (quando a sentença for ilíquida).

Assim, observa-se que não há nenhuma incompatibilidade do prazo dessa multa com o art. 880, da CLT, que estabelece o prazo de 48 horas para paga-mento ou garantia da execução, pois ela será aplicada antes da fase executiva trabalhista propriamente dita. Em outras palavras, enquanto o art. 880 da CLT incide na fase executiva, a multa prevista no artigo 523 do NCPC tem aplicação em momento anterior, que possibilita o pagamento voluntário da dívida. Pode-mos esquematizar o procedimento da seguinte forma:

Sentença líquida intimação para pagamento voluntário no prazo de 15 dias não pagamento multa do art. 523 do NCPC início da execução com citação para pagamento, nos termos do art. 880 da CLT

Dessa forma, não somente o protesto mostra-se compatível com o di-reito processual do trabalho, mas também a redação do artigo 523 do NCPC, constituindo-se os dois instrumentos mecanismos de efetividade da tutela jurisdicional.

26 TST-E-RR-201-52.2010.5.24.0000, SBDI-I, rel. Min. Horácio Raymundo de Senna Pires. 22.3.2012 (Infor-mativo nº 3º do TST).

27 MIESSA, Élisson. : A Multa do Artigo 475-J do CPC e sua aplicação no Processo do Trabalho.In: Suplemento Trabalhista. LTr. ano 42. n. 103/06. p. 435-440.

Livro 1.indb 481 23/03/2015 10:44:47

Page 17: 1596 leia algumas paginas

482

élisson miessa

Assim, o protesto poderá ser efetivado após o prazo de 15 dias para cumpri-mento voluntário e antes de se iniciar a fase executiva propriamente dita.

De qualquer modo, considerando que o art. 880 CLT permite que, no prazo de 48 horas, o executado possa realizar o pagamento da execução, parte da dou-trina e da jurisprudência entenderá que somente depois de decorrido tal prazo poderá ser realizado o protesto28. Embora não sejamos adepto a essa posição, vez que entendemos aplicável o art. 523 do NCPC ao processo do trabalho, o que mais interessa é que o protesto judicial seja aplicável na seara trabalhista, buscando o conteúdo da norma, a fim de tornar eficaz a tutela jurisdicional. Queremos dizer, aplicando-se o art. 523 do NCPC ou, isoladamente, o art. 880 da CLT, o importante é se valer do protesto judicial para tornar mais eficaz a decisão judicial.

Especificamente no processo trabalhista, a efetividade do protesto de sen-tença como meio de execução indireta pode ser verificado com a publicidade e inscrição dos devedores nos bancos de dados de proteção ao crédito, estimulan-do o pagamento pelo executado de forma voluntária. Isso ocorre, pois o devedor fica temeroso em associar a imagem de sua empresa ao protesto na área comer-cial e financeira o que dificulta também sua aquisição de créditos29.

Cumpre ressaltar que, no processo do trabalho, o protesto pode ser realiza-do ex officio, “ainda que na sentença não tenha sido ventilada a possibilidade de sua realização”30, como forma de exaltar os princípios da máxima efetividade da tutela jurisdicional e da duração razoável do processo.

O ideal é que os juízes já constem na sentença determinação à secretaria de que, não havendo o pagamento no prazo do art. 523 do NCPC (ou do artigo 880 da CLT, se adotar essa tese), a decisão judicial seja encaminhada para protesto. Esse, sem dúvida, é o meio mais eficiente de se realizar o protesto da decisão judicial, dando, consequentemente, agilidade à prestação jurisdicional.

Antes de finalizar o presente artigo, faz-se necessário tecer alguns comentá-rios acerca da certidão negativa de débitos trabalhistas.

Conforme já mencionado, instrumento semelhante ao protesto de sentença foi instituído pela Lei nº 12.440/11 que incluiu o art. 642-A na CLT e estabele-ceu a certidão negativa de débitos trabalhistas (CNDT) também com o objetivo de ampliar a efetividade das decisões judiciais.

Referida lei impôs que somente poderá se habilitar nas licitações aquele que tiver regularidade trabalhista (Lei nº 8666/93, art. 27, IV). Desse modo, para

28 Cléber Lúcio entende que somente pode ser realizado depois da citação do executado para pagamento ou garantia da execução. ALMEIDA, Cléber Lúcio. Direito processual do trabalho. Belo Horizonte: Editora Del Rey Ltda, 2012. p. 909.

29 OLIVEIRA, Eversio Donizete de. O Protesto Extrajudicial de Sentença Judicial Trabalhista. In: BARBOSA, Magno Luiz; BRITO, Cristiano Gomes de (org.).op. cit., p. 36.

30 ALMEIDA, Cléber Lúcio. op.cit . p. 909.

Livro 1.indb 482 23/03/2015 10:44:47

Page 18: 1596 leia algumas paginas

483

hipoteca judiciária e protesto da decisão judicial no novo cpc e seus impactos no processo...

se habilitar no processo licitatório, deverá apresentar documentação relativa à regularidade trabalhista, a qual será feita por meio de prova de inexistência de débitos inadimplidos perante a Justiça do Trabalho, mediante a apresentação de certidão negativa (Lei nº 8666/93, art. 29, V).

Ademais, além de ser exigida para habilitação nas licitações, o Conselho Na-cional de Justiça, por meio da Recomendação nº 03, orientou os tabeliães de nota para que cientificassem as partes envolvidas em transações imobiliárias e partilhas de bens imóveis sobre a possibilidade de obtenção da Certidão Nega-tiva de Débitos Trabalhistas (CNDT).

Com o advento da CNDT, muitos doutrinadores questionaram a utilidade do protesto da sentença judicial trabalhista, acreditando que a Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas poderia substituir a figura do protesto havendo, inclu-sive, decisões que dispensam o protesto extrajudicial nos casos em que há emis-são da CNDT31.

Destaca-se que há semelhanças entre os dois institutos, como, por exemplo, o fato de os dois ocorrerem apenas após o trânsito em julgado de decisão e o fator da publicidade dos débitos trabalhistas. Entretanto, não há que se falar em substituição do protesto pela CNDT, uma vez que ambos os institutos possuem finalidades diversas. A Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas é muito eficaz para coagir as empresas que pretendem participar de licitações e concorrências públicas, enquanto o protesto extrajudicial pode coagir mesmo os devedores que não possuem esta pretensão. Ademais, assim como a hipoteca judiciária, a Recomendação nº 03 do CNJ passou a atingir apenas os bens imóveis, ao tempo em que o protesto é muito mais amplo assegurando o cumprimento de quais-quer obrigações.

Conclui-se, portanto, que os instrumentos apresentados no presente artigo (hipoteca judiciária, protesto de decisão judicial, CNDT e multa do art. 523 do NCPC) possuem grande importância na efetividade do processo judicial, redu-zindo consideravelmente o tempo da fase executiva que, nos dias atuais, é sem dúvida a fase mais morosa do processo. Ademais, em razão das particularidades próprias de cada um dos institutos, deve-se pensar em aplicação sistemática dos mecanismos para que o objetivo buscado pela terceira onda renovatória de acesso à justiça seja alcançado.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASALMEIDA, Cléber Lúcio. Direito processual do trabalho. Belo Horizonte: Editora Del Rey

Ltda, 2012

CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1988.

31 OLIVEIRA, Eversio Donizete de. O Protesto Extrajudicial de Sentença Judicial Trabalhista. In: BARBOSA, Magno Luiz; BRITO, Cristiano Gomes de (org.), op. cit., p. 33.

Livro 1.indb 483 23/03/2015 10:44:48

Page 19: 1596 leia algumas paginas

484

élisson miessa

COSTA FILHO, José Batista da apud PINHO, Themistocles; VAZ, Ubirayr Ferreira. Protesto de Títulos e Outros Documentos de Dívida: Princípios, Fundamentos e Execução. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2007.

DIDIER JR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de Direito Processual Civil: Teoria da prova, direito probatório, teoria do procedente, decisão judicial, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 8.ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2013.

DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil: vol III. 6ª ed. Malheiros Editores Ltda, 2009.

FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: volume 5 – Reais. 9 ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2013.

JUSTEN FILHO, Marçal; MOREIRA, Egon Bockmann; TALAMINI, Eduardo. Sobre a Hipoteca Judiciária. Disponível em: http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/197/r133-09.PDF?sequence=4 Acesso em: 19 fev. 2015.

MACEDO, Bruno Regis Bandeira. O Projeto do Novo CPC e a Execução Definitiva da Decisão Interlocutória do pedido incontroverso. In: DIDIER JR, Fredie; BASTOS, Antonio Adonias Aguiar (coord.). O Projeto do Novo Código de Processo Civil – Estudos em homenagem ao Professor José Joaquim Calmon de Passos: 2ª série. Salvador: Editora JusPodivm, 2012.

MIESSA, Élisson. A Multa do Artigo 475-J do CPC e sua aplicação no Processo do Trabalho. In: Suplemento Trabalhista. LTr. ano 42. n. 103/06.

NEVES, Douglas Ribeiro. Hipoteca Judiciária. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.

OLIVEIRA, Eversio Donizete de. O Protesto Extrajudicial de Sentença Judicial Trabalhista. In: BARBOSA, Magno Luiz; BRITO, Cristiano Gomes de (org.). Temas Contemporâneos de Direito Empresarial do Trabalho. São Paulo: LTr, 2015.

SILVA, Antônio Álvares da. Breves Reflexões sobre a Execução Trabalhista. In: MIESSA, Élisson; CORREIA, Henrique (org.). Estudos Aprofundados: Magistratura do Trabalho. Salvador: Editora JusPodivm, 2013.

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil volume único. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2011.

TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. A súmula nº 375 do STJ e a fraude à execução – a visão crítica do Processo do Trabalho. In: MIESSA, Élisson; CORREIA, Henrique (org.). Estudos Aprofundados: Magistratura do Trabalho, volume 2. Salvador: Editora JusPodivm, 2014.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento – vol. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2013.

Livro 1.indb 484 23/03/2015 10:44:48