16413427 Violencia e Agressividade Na Juventude Paper Rose

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    por reprimir a agresso que o ser humano a expressa da pior forma. Se ele fosse mais

    livre, dissesse o que pensa, realizasse seus desejos e sublimasse energia em atividades fsicas e

    ldicas, no lidaria to mal com sua prpria agressividade. Ou seja: regras demais acabam tendo

    efeito nocivo, despertando reao torta contra o excesso de restries. Em nossos tempos,

    aparentemente libertrios, h um monte de "no faa isso, no faa aquilo" disfarado. E um montede promessas de desprendimento. Talvez a confuso seja mais problemtica?

    Adolescentes de classe mdia queimam vivos mendigos nas ruas. Alguns bebem em

    excesso. Outros tantos usam drogas pesadas. H os que se armam como se vivessem em um pas em

    guerra o arsenal, variado, compreende desde pistolas at ces ferozes. Os mais cruis so capazes

    de metralhar, a sangue frio, colegas na escola. A sociedade pergunta: por qu?

    A resposta no fcil. Culpar o jovem, estigmatiz-lo como algoz incorrigvel seria tanto

    uma precipitao quanto um equvoco. Afinal, o jovem no s pratica a violncia como tambm

    vtima dela. Parece evidente que a educao, sem amparo de leis e medidas de segurana pblica,

    no poder sozinha, sobretudo em curto prazo, dar cabo dos atos de incompreenso, intolerncia e

    vandalismo com que nos fartamos nos noticirios.

    Porm, mesmo nas aes destinadas a prevenir e corrigir os comportamentos que

    desrespeitam os direitos humanos e a natureza, preciso ter em mente essa perspectiva mais ampla

    da educao. Caso contrrio, manteremos reformatrios que mais alimentam a violncia do que

    reeducam potenciais cidados.

    2 VIOLNCIA E AGRESSIVIDADE NA JUVENTUDE

    A agressividade prpria da natureza animal, includa a espcie humana. Denota o nosso

    esprito de sobrevivncia. Frente a determinadas circunstncias, cada um agressivo a seu modo:

    ironia, humor, astcia desprezo, presuno etc. Violncia quando se rompe a barreira da alteridade

    e a fora fsica se impe sobre o mais frgil ou indefeso e como reao ao agressor.

    Quase nunca entendemos como violenta a ao que atinge o outro, exceto quando ns somos

    as vtimas. Se a polcia cerca, na sada de um cinema, nosso grupo de amigos, e exige que fiquemos

    todos de mos na parede e pernas abertas, enquanto nos revista, consideraremos uma violncia. Se

    do alto da janela do apartamento vemos a mesma cena, com a diferena de que os detidos so

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    jovens de periferia, admitimos que a polcia cumpre o seu dever. Sentimos mesmo certo alvio por

    saber-nos protegidos pelo Estado que, sustentado por nossos impostos, nos oferece segurana.

    Se um dos amigos protesta pelo modo como est sendo apalpado e recebe em resposta um

    empurro, fica patente a violncia. Para o policial em nenhum momento houve violncia. Julgaapenas que cumpre o seu dever. o caso do pai que, ao retornar do trabalho, descobre que o filho

    mais velho bateu no mais novo. Para dar-lhe uma lio de que nunca deve bater em algum mais

    fraco do que ele, o pai d uma surra no mais velho. Sem nenhuma conscincia de que pratica

    exatamente o que recriminou. essa contradio entre o discurso sobre a educao e os mtodos

    aplicados que dissemina o comportamento violento.

    Por que o mesmo ato cometido por um repreensvel e, por outro , legtimo? Esse paijamais se considerar violento. Se questionado, dir apenas que seu dever educar.

    Esta a estrutura em que a violncia se apia: sempre praticada, como se fosse ato de justia,

    legitimada por uma razo superior, seja o Deus dos cruzados ou dos fundamentalistas; a defesa da

    propriedade privada; o liberalismo do Mercado; os deveres de uma boa educao etc.

    A violncia a mais primria forma de manifestao da agresso. Toda a estrutura da

    sociedade, com suas leis e instituies, contm boa dose de agressividade, assim como a disciplina

    que os pais impem boa educao dos filhos. Ela favorece a nossa convivncia social e reprime

    nossas tendncias auto-destrutivas. O melhor exemplo de agressividade sem violncia o esporte.

    E a educao fsica escolar tem contribudo para o desenvolvimento e perpetuao dadesigualdade ao reduzir as chances dos excludos de duas formas: ao privilegiar o esportede alto rendimento voltado para as competies escolares ensinado, ainda hoje, nas prticasde ensino das Faculdades de Educao Fsica, e atravs de professores que simplesmentedeixam uma bola de futebol com os alunos, voltando as costas para a quadra, deixando-osao lassez-faire sob o pretexto de uma suposta pedagogia de autonomia, um mero fazer por

    fazer (ODALIA, 2004, p.25) .

    J a violncia rasteira, cruel, repetitiva, o que permite polcia identificar os criminosos,

    pois ela se propaga sem a menor criatividade, exceto os equipamentos blicos concebidos para

    torn-la mais e mais brutal e massiva. Para saber lidar com a agressividade preciso certo

    refinamento de esprito. J a violncia burra, no exige educao, est ao alcance de qualquer um.

    O mais grave que nos acostumamos prtica da violncia. Covardes, no ousamos usar as

    prprias mos, mas aplaudimos quando a polcia espanca o bandido; a lei retroage a idade penal,

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    sem nos dar conta de que nos deixamos dominar pela parte mais primria de nosso crebro, l onde

    se aloja o rptil que nos precede na escala evolutiva e do qual somos tributrios.

    A violncia no fora, mas fraqueza, nem nunca poder ser criadora de coisa alguma,

    apenas destruidora. (SILVA e SILVA, 2005, p. 382).

    2.1 CONCEITO DE VIOLNCIA

    A discusso sobre possveis formas de violncia importante no que diz respeito sua

    dinmica de funcionamento, uma vez que as formas sob as quais o fenmeno se apresenta

    colaboram na tentativa de sua conceituao.

    A violncia tem duas conotaes primordiais: fsica e moral. Ela pode ser ostensiva ousecreta. Ser praticada fisicamente, atravs da agresso material. Mas tambm evidenciada

    por meio de gestos, atitudes, palavras, orais ou escritas, e at mesmo pelo simples olhar.Numerosas so as formas de que se reveste a violncia como ingrediente de muitas aeshumanas (PEREIRA, 1975, p.61).

    O estudo da violncia se realiza a partir de trs grandes vertentes que se subdividem em

    vrias ramificaes, dando origem a formas cada vez mais especficas do fenmeno. So estas: afsica, a psicolgica e a moral. O desrespeito em alguma dessas esferas parece ser um ingrediente

    indispensvel para se considerar que uma situao possa ser definida como violenta. No momento

    em que ocorre o desrespeito acontece uma desconsiderao seja do corpo, da mente ou dos valores

    de outrem. Portanto um erro conceber a situao da violncia somente em nveis de agresso.

    Tentamos dar uma definio que d conta tanto dos estados quanto dos atos de violncia:H violncia quando, numa situao de interao, um ou vrios atores agem de maneiradireta ou indireta, macia ou esparsa, causando danos a uma ou vrias pessoas em grausvariveis, seja em sua integridade fsica, seja em sua integridade moral, em suas posses, ouem suas participaes simblicas e culturais. (MICHAUD, 1989, p.11).

    Pode-se perceber uma atitude consciente no fenmeno da violncia. Em outras palavras, o

    indivduo violento faz uma escolha por essa conduta, causando danos em alguma esfera da vida de

    algum. Em sua concepo, o fenmeno da violncia eclode mediante a privao do ser humano de

    algo que seria importante para sua existncia. Sendo assim, toda situao em que um elemento

    impede o outro de se realizar enquanto sujeito, sem haverem motivos que justifiquem

    plausivelmente esse impedimento (como, por exemplo, pessoas passando fome em um pas que ano

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    aps ano estabelece novos recordes na produo agrcola), tal circunstncia representa uma situao

    violenta.

    Dessa forma, podemos definir violncia como qualquer relao de fora que um indivduo

    impe a outro. (SILVA e SILVA, 2005, p.412).

    A violncia um fenmeno social presente no cotidiano de todas as sociedades sob vrias

    formas. Em geral, ao nos referirmos violncia, estamos falando da agresso fsica. Mas a violncia

    uma categoria com amplos significados. Hoje, esse termo denota, alm da agresso fsica,

    diversos tipos de imposio sobre a vida civil, como a represso poltica, familiar ou de gnero, e

    do pensamento de determinados indivduos e, ainda, o desgaste causado pelas relaes de trabalho e

    condies econmicas.

    2.2 VIOLNCIA E EDUCAO

    Ao se realizar uma comparao entre o mercado de trabalho atual e a natureza, poder

    verificar-se que, em ambas as instncias, a agressividade condio essencial para que se tenha

    sucesso na empreitada que representa o sobreviver em uma sociedade cada vez mais permeada pela

    competio. A educao est intimamente relacionada ao controle dos nveis de violncia de um

    pas. Na escola, aprendem-se lies que norteiam o comportamento humano para atitudes

    minimamente tolerveis de forma que seja possvel existir vida em sociedade.

    Se os homens se falam, entendem-se. Vale dizer: se os recursos de mediao, se os

    instrumentos de mediao so acionados, o mundo continua seguro e tranqilo. Mas se uma pessoa

    abre mo disto, a realidade se transforma. Assim, o violento o direto, a ao que dispensando

    intermedirios age numa relao direta dos meios com os fins, sem considerao de quaisquer

    outras ordens. Quer dizer, meios e fins aqui no tm nenhuma legitimao, portanto no so

    mediatizados nem pela moralidade nem pelas leis. Deste modo, se quero, tomo; se desejo, estupro;

    se no possuo, roubo; se odeio, assassino; se sou contrariado, espanco. a fora bruta como

    instrumento direto que conta na violncia, no o uso de um elemento intermedirio como o

    costume, a palavras, o amigo ou a lei.

    Estudos contemporneos sobre a violncia no a coloca como sinnimo de pobreza.

    Inclusive, pelo fato de a pobreza j representar uma forma de violncia que se encerra em si mesma.

    Afinal de contas, nem todas as pessoas que so pobres, so violentas; violncia e pobreza seria uma

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    teoria difcil de ser provada. No entanto, no se pode negar que a situao de pobreza colabora

    muito mais para a ecloso de situaes de violncia do que para a sua inibio.

    A escola no Brasil, sobretudo a pblica, tem funo primordial no combate a violncia, pois

    l seria um dos locais adequados para se aprender lies de cidadania. E, geralmente, os estudantesdas instituies de ensino mantidas pelo governo so oriundos de meios sociais nos quais a

    possibilidade de imerso no universo da violncia muito maior, uma vez que o contato com

    formas marginais de viver muito prximo. Mas como proporcionar, atravs das instituies

    pblicas de ensino, algo que simplesmente deixado margem no pas?

    A parte pobre da populao, alm de no ter o mesmo potencial de consumo, no percebe

    esforos consistentes por parte do Estado em relao sua melhoria de vida e ainda por cima vem

    esse mesmo Estado cometendo diariamente o que se poderia denominar de um atentado suacidadania.

    A cidadania no Brasil, sobretudo, no que se refere aos direitos civis e sociais, exercidaapenas por alguns brasileiros, havendo uma relao entre o expressivo aumento daviolncia e a desigualdade no exerccio dos direitos. A reduo do poder do Estado parainvestimentos sociais, a concentrao de renda e a impunidade afetam a cidadania,mostrando que o problema da violncia extremamente complexo. (TAVARES DOSSANTOS, 2002, p.79).

    No possvel estabelecer uma relao direta entre pobreza e violncia. Algumaspopulaes (em regies da ndia e da frica, por exemplo, embora mais pobres que a sociedade

    brasileira) apresentam menores ndices de violncia do que no Brasil. De fato, a desigualdade social

    uma das maiores causas de violncia entre os jovens. Claro que situaes de pobreza tendem a

    aumentar os conflitos nas relaes sociais e parte desse conflito pode se concretizar em solues

    violentas que implicam a submisso das pessoas a formas inadequadas de vida aos direitos civis

    mutilaes, torturas e mortes. Ora, o que est por trs de tudo isso a questo da cidadania.

    No se est tratando aqui de Instituies Universitrias mantidas pelo governo mas sim, de

    escolas pblicas de ensino fundamental e mdio. Claro que no se pode atribuir somente escola

    pblica toda a tarefa de formar cidados em um pas que no colabora nessa empreitada. Talvez

    possa se mostrar til nas orientaes quanto resoluo de conflitos pela via do dilogo ou nos

    ensinamentos acerca de respeito, leis e regras de convvio em sociedade.

    As cenas de imagens que freqentemente so divulgadas na mdia atravs de propagandas e

    telenovelas, que exibem jovens bem abastados financeiramente, desfrutando de bens que despertam

    seu desejo, surge a situao de criminalidade e conseqentemente, violncia.

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    na imagem e pela imagem que as verdades de nosso tempo so feitas e desfeitas e as

    imagens que chegam atravs da mdia apresentam uma verdade preocupante: a marcante presena

    da violncia no dia-a-dia. (ODALIA, 2004, p. 48).

    Portanto, o estudo da violncia, principalmente em relao juventude, mostra-sepertinente na busca de solues para diminuir a escalada das situaes de criminalidade.

    3 CONCLUSO

    Somos bombardeados diariamente pela violncia, nas suas diversas manifestaes. Esse

    tema recorrente, sobretudo na mdia, nos grandes jornais e revistas, bem como nos vrios

    noticirios da TV local ou nacional. A partir disso precisamos questionar: como a mdia nos d a ler

    o que seja violncia? Com que fins ela explora a violncia? preciso perceber que, por tratar-se de

    um tema de apelo emocional significativo, a mdia tende a usar a violncia como carro-chefe para a

    venda e audincia de seus jornais.

    Os vrios meios de comunicao classificam todos os atos de grupos de resistentes,

    manifestantes e questionadores da violncia, mas no problematizam a possvel violncia indireta

    que vivem ou viveram, at partirem para uma ao direta violenta e objetiva, no banal, como

    querem nos fazer crer muitas vezes. As mdias tambm so imperdoveis e intransigentes com

    qualquer tipo de violncia hedionda, praticada por indivduos criados em ambientes extremamente

    corruptos e indignos, que possuem traumas psquicos profundos, mas nunca problematizam a

    barbrie que foram e esto sujeitos, e por elas so chamados de brbaros.

    Mas a mdia, ao abordar a violncia do Estado, tanto junto a grupos opositores, quanto aos

    marginais que trazem histricos de vidas que no lhes sugerem outra opo, seno a bandidagem,usam outras expresses para a violncia institucional, como fora, ou defesa.

    A violncia pode ser chamada de um estado, onde assume mltiplos papis, tem inmeras

    causas e se encontra submergida em vrios domnios. (CARAM, 1978, p. 77).

    A prtica do trote a cada incio de semestre mantm uma tradio secular violenta e

    incompreensvel do ponto de vista do que se espera dos futuros profissionais a serem formados emuma universidade. So vrios os casos de tortura, humilhao e morte ao longo dos ltimos anos.

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    Do ponto de vista do senso comum o trote representa uma comemorao, mas mais que isso, uma

    justificativa social, festividade pblica demarcada por um ritual de iniciao imposto pelos

    veteranos, que, afinal de contas sentem-se no direito de manter uma tradio qual possivelmente

    se submeteram. Um comportamento perverso por conter requintes cruis sadomasoquistas,

    colocando a sua vida em risco e a dos colegas.

    Surge ento o caminho que parece ser a soluo para o problema da violncia que seria a via

    da educao. Seria necessrio tambm o aprimoramento dos aparelhos repressivos como as

    polcias, a colaborao do poder judicirio no sentido de punir com rigor as condutas violentas na

    sociedade, alm do mnimo de infraestrutura, tal como educao, moradia, saneamento, lazer e

    trabalho.

    muito fcil colocar a responsabilidade da formao dos cidados brasileiros nas costas da

    escola, quando a mesma quase invariavelmente tem um mnimo de estrutura para funcionar. Isso

    sem falar na desmotivao do corpo docente, muitas vezes em virtude das condies de trabalho, e

    ainda sem se mencionarem os baixos salrios. Ausncia de formao adequada para os professores

    tambm constatada freqentemente.

    Portanto, a educao seria uma possibilidade, mas no a nica, inclusive porque a soluo da

    situao de criminalidade e violncia no Brasil necessita medidas urgentes visando o combate

    imediato, e atitudes orientadas para o futuro tais como a reviso de todo o sistema educacional.

    4 REFERNCIAS

    CARAM, Dalto. Violncia na Sociedade Contempornea. Petrpolis: Editora Vozes Ltda., 1978.

    MICHAUD, Yves. A Violncia. Srie Fundamentos. So Paulo: tica, 1989. Traduo de L. Garcia.

    ODALIA, Nilo. O Que a Violncia. So Paulo: Brasiliense, 2004.

    PEREIRA, Jos. Violncia: Uma Anlise do Homo Brutalis. ColeoAtualidade. Vol 1. So

    Paulo: Alfa-Omega, 1975.

    SILVA, Maciel Henrique; SILVA, Kalina Vanderlei. Dicinonrio de Conceitos Histricos. So

    Paulo: Editora Contexto, 2005.

    TAVARES DOS SANTOS, Jos Vicente. Violncias, Amrica Latina: a disseminao de

    formasde violncia e os estudos sobre conflitualidades. Sociologias. Porto Alegre. 2002.

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