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Coordenação: Prefácio de Teresa Fragoso, Presidente da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG) Fátima Xarepe Isabel Freitas e Costa Maria do Rosário Oliveira Morgado O RISCO E O PERIGO NA CRIANÇA E NA FAMÍLIA O RISCO E O PERIGO NA CRIANÇA E NA FAMÍLIA

16,7cm x 24cm 6 cm Coordenadoras e Autoras O RISCO E O ... · O que são parafilias? ..... 64 Como podemos avaliar a intensidade de uma parafilia?..... 65 Como definimos a pedofilia

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Page 1: 16,7cm x 24cm 6 cm Coordenadoras e Autoras O RISCO E O ... · O que são parafilias? ..... 64 Como podemos avaliar a intensidade de uma parafilia?..... 65 Como definimos a pedofilia

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ISBN 978-989-693-061-5

9 789896 930615

O RISCO E O PERIGONA CRIANÇA E NA FAMÍLIA

Coordenação:

Prefácio deTeresa Fragoso,Presidente da Comissão para a Cidadaniae a Igualdade de Género (CIG)

Fátima XarepeIsabel Freitas e CostaMaria do Rosário Oliveira Morgado

Ao longo das últimas décadas, as respostas sociais têm vindo a aperfeiçoar-se, de forma a assegurar uma maior proteção e prevenção às vítimas de violência e maus-tratos. Todavia, ainda estão longe de nos poder tranquilizar.

Estamos perante uma problemática transversal que preocupa todos os pro�s-sionais que atuam com crianças e famílias nas mais diversas áreas, como a saúde, a justiça, a educação e a segurança social, procurando diariamente melhores e mais e�cazes estratégias de intervenção.

A presente obra vem assim apresentar a realidade atual dos vários cenários e contextos sociofamiliares e individuais onde surgem a violência familiar e os maus-tratos infantis, bem como os vários tipos de intervenção que se realizam e/ou poderão realizar. Para isso, conta com a participação de vários autores que, dando um cunho multidisciplinar a este notável livro, procuram demonstrar que o problema da violência, dos maus-tratos e da negligência infantil necessita de abordagens técnicas especializadas, em rede e em tempo útil para as vítimas.

O RISCOE O PERIGONA CRIANÇAE NA FAMÍLIA

CONTEÚDOSInfância: uma construção social Gravidez não vigiadaParentalidade comprometidaViolência no contexto familiarO direito de crescer em harmoniaMaus-tratos e negligência nas criançasMutilação genital feminina A intervenção do DIAP em cenários de violência Associação Passo a Passo: uma nova forma de intervir Avaliação psicológica pericial na parentalidade A relação de casal na encruzilhada entre a conjugalidade e a parentalidade Impacto da institucionalização em crianças e jovens

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Coordenadoras e Autoras

FÁTIMA XAREPE Coordenadora do Serviço Social da Maternidade Alfredo da Costa – Centro Hospitalar de Lisboa Central (MAC--CHLC), coordenadora e fundadora do Núcleo Hospitalar de Apoio às Crian-ças e Jovens em Risco (NHACJR) da MAC de 2009 a 2014 e elemento do NHACJR do CHLC desde 2014. Tera-peuta familiar.

ISABEL FREITAS E COSTA Assistente social na Maternidade Alfredo da Costa – Centro Hospitalar de Lisboa Central, onde é responsável pelo Grupo de Risco das Mulheres Grávidas e Mães Toxicodependentes e coordenadora do Núcleo de Toxico-dependência desde janeiro de 2002.

MARIA DO ROSÁRIOOLIVEIRA MORGADO

Juíza Desembargadora do Tribunal da Relação de Lisboa. Foi juíza do Tri-bunal de Família de Lisboa e membro da Comissão de Reforma da Legislação de Proteção de Crianças e Jovens em Risco. Presidente da mesa da assem-bleia-geral da Associação Passo a Passo com a Criança e a Família - Associação de Ajuda Psicossocial.

Autores Ana Campos | Ana Cardoso | Ana Gomes | Ana Paula Relvas | Ana Te-resa Prata | Anabela Pereira Neves | Andreia Pereira da Fonseca | Carlos Gil Escobar | Catarina Marques | Célia Neves | Fernanda Alves | Filipa Mateus | Joana Gonçalves Silva | Joana Graça |João Redondo | Joaquim Manuel da Silva | Lisa Ferreira Vicente | Luciana Sotero | Luís Chincalece | Maria Arman-da Machado | Maria de Jesus Correia | Maria de Lurdes Torre | Noémia Ban-deira | Paula Vilariça | Paulo Guerra | Tânia Martins | Visitação Monteiro

Ver currículos detalhados no interior do livro

Livro no qual se aborda, com as estatísticas mais atuais, as principais questões da Sociologia da Família: casamento, divórcio, violência do-méstica, papéis familiares, etc. Com exercícios práticos.

Livro sobre as teorias e as práti-cas atuais na intervenção com famílias, nomeadamente em media-ção de conflitos, violência domés-tica, contexto hospitalar, pessoas LGBT, escolas, cuidadores, imigran-tes.

Uma obra fundamental que apre-senta as principais práticas de intervenção psicológica, social e judicial para situações de violên-cia e/ou crime. Essencial para profissionais, técnicos e estudantes.

www.pactor.pt

O RISCO E O PERIGO NA CRIANÇA E NA FAMÍLIAFátim

a XarepeIsabel Freitas e Costa

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liveira Morgado

Coord.:

16,7cm x 24cm16,7cm x 24cm 14,2 mm 6 cm6 cm

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EDIÇÃOPACTOR – Edições de Ciências Sociais, Forenses e da EducaçãoAv. Praia da Vitória, 14 A – 1000-247 LISBOATel: +351 213 511 [email protected]

DISTRIBUIÇÃOLidel – Edições Técnicas, Lda.R. D. Estefânia, 183, R/C Dto. – 1049-057 LISBOATel: +351 213 511 448Marketing: [email protected]

LIVRARIAAv. Praia da Vitória, 14 A – 1000-247 LISBOATel: +351 213 511 448 • Fax: +351 213 173 [email protected]

Copyright © 2017, PACTOR – Edições de Ciências Sociais, Forenses e da Educação® Marca registada da FCA – Editora de Informática, Lda.ISBN edição impressa: 978-989-693-061-51.ª edição impressa: julho de 2017

Paginação: Carlos MendesImpressão e acabamento: Realbase – Sistemas Informáticos, Lda.Depósito Legal n.ºCapa: José Manuel Reis

Todos os nossos livros passam por um rigoroso controlo de qualidade, no entanto, aconselhamos a consulta periódica do nosso site (www.pactor.pt) para fazer o download de eventuais correções.

Não nos responsabilizamos por desatualizações das hiperligações presentes nesta obra, que foram verificadas à data de publicação da mesma.

Os nomes comerciais referenciados neste livro têm patente registada.

Reservados todos os direitos. Esta publicação não pode ser reproduzida, nem transmitida, no todo ou em parte, por qualquer processo eletrónico, mecânico, fotocópia, digitalização, gravação, sistema de armazenamento e disponibilização de informação, sítio Web, blogue ou outros, sem prévia autorização escrita da Editora, exceto o permitido pelo CDADC, em termos de cópia privada pela AGECOP – Associação para a Gestão da Cópia Privada, através do pagamento das respetivas taxas.

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Os Autores ................................................................................................................... XI

Prefácio ......................................................................................................................... XVIITeresa Fragoso

Introdução .................................................................................................................... XIX

PARTE I 1

Da Gravidez à Maternidade: Um Caminho a Percorrer

Capítulo 1 3

Infância(s) e DireitosAna Cardoso

Introdução ..................................................................................................................... 3A noção de infância – uma construção social............................................................... 3Infância cidadã .............................................................................................................. 4Pobreza – uma negação dos direitos das crianças ...................................................... 5As crianças e as escalas de equivalência ..................................................................... 9As políticas sociais e o superior interesse das crianças ............................................... 10Infâncias – o significado de viver em instituição ........................................................... 11Referências .................................................................................................................... 15

Capítulo 2 17

A Importância de um Diagnóstico Especializado: Naquela Tarde ChuvosaCélia Neves

Introdução ..................................................................................................................... 17Naquela tarde chuvosa ................................................................................................. 18Considerações finais ..................................................................................................... 20

Capítulo 3 21

Gravidez Não Vigiada: Uma Realidade a Não EsquecerCatarina Marques e Ana Campos

Introdução ..................................................................................................................... 21Material e métodos ........................................................................................................ 22Resultados .................................................................................................................... 22Considerações finais ..................................................................................................... 24

Índice

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O Risco e o Perigo na Criança e na Família

IV

Referências .................................................................................................................... 25

Capítulo 4 27

Parentalidade ComprometidaMaria de Jesus Correia

Introdução ..................................................................................................................... 27A parentalidade comprometida ..................................................................................... 27Considerações finais ..................................................................................................... 33Referências .................................................................................................................... 34

Capítulo 5 35

A Problemática da Gravidez Não VigiadaFátima Xarepe e Isabel Freitas e Costa

Introdução ..................................................................................................................... 35Caso – “Para além de mim…” ....................................................................................... 35

Para refletir .............................................................................................................. 38Considerações finais ..................................................................................................... 39Referências .................................................................................................................... 39

PARTE II 41

O Impacto da Violência

Capítulo 6 43

Quando o Passo está Desacertado: Violência no Contexto Familiar e Ser CriançaJoão Redondo

Introdução ..................................................................................................................... 43Violência: a perspetiva da Organização Mundial de Saúde .......................................... 43

Conceito e classificação da(s) violência(s) .............................................................. 43Violência: um problema de saúde pública ............................................................... 44Modelo ecológico e violência: implicações para a intervenção .............................. 45

Violência familiar/por parceiro íntimo e violência doméstica: falamos da mesma realidade? ...................................................................................................................... 46Violência por parceiro íntimo (VPI)................................................................................. 46

A extensão do problema ......................................................................................... 46Violência por parceiro íntimo: impacto na saúde e qualidade de vida da(s) vítima(s) ........................................................................................................... 47

Sobre a saúde da mulher ................................................................................... 47Violência sobre a criança no contexto familiar: a “via rápida” para adoecer e para a perda de qualidade de vida .................................................................... 49

Os custos económicos e sociais da VPI ................................................................. 52

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Violência familiar/por parceiro íntimo e organização dos cuidados: uma perspetiva multidisciplinar, multissetorial, em rede ........................................................................ 53

Acerca do trabalho em rede .................................................................................... 53Serviços de saúde e prevenção da violência .......................................................... 55Intervenção em rede: unidade de violência familiar (CHUC) ................................... 55

Considerações finais ..................................................................................................... 57Referências .................................................................................................................... 58

Capítulo 7 61

O Direito de Crescer em HarmoniaAnabela Pereira Neves

O abuso sexual de crianças e adolescentes ................................................................. 61Introdução ................................................................................................................ 61Aspetos neurobiológicos ......................................................................................... 62Prevalência do abuso sexual ................................................................................... 63Consequências do abuso sexual............................................................................. 63

Predadores sexuais ....................................................................................................... 64Concetualização (DSM-5, 5th edition; APA, 2013) ................................................... 64

O que são parafilias? ......................................................................................... 64Como podemos avaliar a intensidade de uma parafilia? ................................... 65Como definimos a pedofilia? ............................................................................. 65Que características, além das já comentadas, podem suportar o diagnóstico de pedofilia? ...................................................................................................... 65Qual a prevalência da pedofilia na população? ................................................. 65Quais os fatores de risco e de prognóstico? ..................................................... 66Há marcadores de diagnóstico? ........................................................................ 66Qual o diagnóstico diferencial?.......................................................................... 66

Alguns estudos internacionais ................................................................................. 67Considerações finais ..................................................................................................... 67

Capítulo 8 69

Maus-tratos na Criança e no JovemMaria de Lurdes Torre e Carlos Gil Escobar

Introdução ..................................................................................................................... 69Definição e tipologia ...................................................................................................... 70Epidemiologia ................................................................................................................ 71Diagnóstico ................................................................................................................... 72

Anamnese ................................................................................................................ 72Exame físico ............................................................................................................ 74Exames complementares ........................................................................................ 75Tratamento ............................................................................................................... 75Orientação ............................................................................................................... 76

Considerações finais ..................................................................................................... 77Referências .................................................................................................................... 77

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O Risco e o Perigo na Criança e na Família

VI

Capítulo 9 79

Mutilação Genital Feminina: Trabalhando para a sua EliminaçãoLisa Ferreira Vicente

Introdução ..................................................................................................................... 79Definição ....................................................................................................................... 79Motivos na origem da prática ........................................................................................ 79Classificação ................................................................................................................. 80Distribuição geográfica ................................................................................................. 82Complicações ............................................................................................................... 83

Psicológicas ............................................................................................................. 83Uroginecológicas ..................................................................................................... 83Na resposta sexual .................................................................................................. 83Na saúde reprodutiva da mulher ............................................................................. 84

A situação em Portugal ................................................................................................. 85O que aprendemos? ................................................................................................ 86Intervenção no âmbito da saúde ............................................................................. 87

Enquadramento legal .................................................................................................... 88Considerações finais ..................................................................................................... 89Referências .................................................................................................................... 89

Capítulo 10 93

Violência Doméstica: Um Crime PúblicoFernanda Alves

Introdução ..................................................................................................................... 93A experiência da especialização da 7.ª Secção do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa na investigação do crime de violência doméstica ...................................................................................................................... 93Metodologias de trabalho da Unidade Contra o Crime de Violência Doméstica (UCVD) ........................................................................................................................... 99Caracterização do fenómeno e modelo de investigação específico ............................ 100Considerações finais ..................................................................................................... 105Referências .................................................................................................................... 107

PARTE III 109

Prevenção e Mudança: A Experiência da Associação Passo a Passo

Capítulo 11 111

Passo a Passo: Uma Nova Forma de IntervirJoana Graça, Maria Armanda Machado, Tânia Martins, Andreia Pereira da Fonseca e Fátima Xarepe

Introdução ..................................................................................................................... 111

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VII

Institucionalização – contextualização .......................................................................... 111Efeitos da institucionalização infantil ....................................................................... 112

Modelo de intervenção da Associação Passo a Passo: prática de um modelo pioneiro e inovador ........................................................................................................ 115

Estratégias de intervenção: princípios modeladores............................................... 118Preservação familiar ...................................................................................................... 119

Protocolo de intervenção da Associação Passo a Passo na modalidade de preservação familiar................................................................................................. 119

Sinalização das famílias ..................................................................................... 119Realização de entrevista psicossocial ............................................................... 120Elaboração de um plano de intervenção ........................................................... 120Acompanhamento psicossocial ......................................................................... 120Avaliação da intervenção ................................................................................... 121Autonomização das famílias .............................................................................. 121

Caracterização social das crianças acompanhadas pela Associação Passo a Passo no âmbito da preservação familiar ............................................................... 121

Quem são essas crianças? ................................................................................ 121Idade das crianças ....................................................................................... 121Etnia das crianças ........................................................................................ 122Motivo da sinalização ................................................................................... 123Fatores de risco ............................................................................................ 123Entidades sinalizadoras ................................................................................ 124Organização familiar ..................................................................................... 125Situação laboral ............................................................................................ 125

A reintegração familiar ................................................................................................... 126Protocolo de intervenção da Associação Passo a Passo na modalidade de reunificação familiar ................................................................................................. 127

Síntese do protocolo de intervenção ................................................................. 130Crianças acompanhadas pela Associação Passo a Passo no âmbito da reunificação familiar ................................................................................................. 131

Idade das crianças ............................................................................................. 132Etnia das crianças .............................................................................................. 132Motivo de acolhimento ...................................................................................... 133Centros de acolhimento ..................................................................................... 134Entidades sinalizadoras ..................................................................................... 134Tempo de acolhimento ....................................................................................... 135Fatores de risco nas famílias ............................................................................. 136Tipo de organização familiar .............................................................................. 136

Considerações finais ..................................................................................................... 137Referências .................................................................................................................... 138

Capítulo 12 141

Ponto de Encontro Familiar: Reconstrução de Vínculos ParentaisFilipa Mateus, Visitação Monteiro e Fátima Xarepe

Introdução ..................................................................................................................... 141Divórcio ou separação conjugal .................................................................................... 141

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O Risco e o Perigo na Criança e na Família

VIII

Efeitos do divórcio/separação na vida dos filhos ......................................................... 143O divórcio e a regulação do exercício das responsabilidades parentais ...................... 145PEF – uma nova resposta ............................................................................................. 147

Protocolo de intervenção/atuação da Associação Passo a Passo na modalidade do PEF ..................................................................................................................... 148Caracterização das crianças e pais acompanhados no PEF .................................. 149

Idade das crianças ............................................................................................. 150Etnia das crianças .............................................................................................. 150Frequência em equipamento ............................................................................. 150Escolaridade das mães ...................................................................................... 151Progenitor residente ........................................................................................... 151Ausência de convívios ....................................................................................... 152Atividades realizadas no PEF ............................................................................. 153Projeto de parentalidade .................................................................................... 153Tipo de relação .................................................................................................. 154Duração da relação ............................................................................................ 154

Considerações finais ..................................................................................................... 155Referências .................................................................................................................... 157

PARTE IV 159

Responsabilidades Parentais

Capítulo 13 161

As Responsabilidades Parentais: A Reconstrução da Família das Crianças na Separação dos PaisJoaquim Manuel da Silva

Introdução ..................................................................................................................... 161No princípio era… ......................................................................................................... 161O problema: as crianças mantêm a sua família com a separação dos pais? ............... 162O regime legal das responsabilidades parentais: breves notas .................................... 165O contributo interdisciplinar, designadamente da psicologia: a vinculação ................. 167A intervenção do processo na melhoria da relação parental: a metodologia e alguns casos ............................................................................................................................. 173Considerações finais ..................................................................................................... 175Referências .................................................................................................................... 176

Capítulo 14 179

Avaliação Psicológica Pericial na ParentalidadeLuís Chincalece e Joana Gonçalves Silva

Introdução ..................................................................................................................... 179A psicologia enquanto reforço do direito ...................................................................... 179O trabalho dos peritos em psicologia ........................................................................... 180Os processos no âmbito familiar ................................................................................... 182

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IX

Perturbações da parentalidade ..................................................................................... 183Depressão ................................................................................................................ 183Psicose .................................................................................................................... 183Psicopatia ................................................................................................................ 184Abuso de substâncias ............................................................................................. 185Deficiência mental ................................................................................................... 187

Intervenção – desafios e dificuldades ........................................................................... 188Referências .................................................................................................................... 189

Capítulo 15 191

Tecer a Prevenção – Um Projeto Aberto para a Proteção de Crianças e Jovens: Conceito, Planeamento e Prática IntegradaNoémia Bandeira

Introdução ..................................................................................................................... 191O construtivismo de uma intervenção na prevenção social do risco ........................... 192O capital social necessário para acorrer a uma situação de risco e de perigo ............ 196Deter a responsabilidade e a sustentabilidade (empowerment & ownership) como primeira condição de sucesso ...................................................................................... 198A participação: uma qualidade primordial dentro de um caminho a percorrer............. 199A facilitação como requisito e como processo (estimulante e criativo) ........................ 200O sistema de proteção das crianças e jovens em perigo ............................................. 202Projeto Tecer a Prevenção – dinamização das Comissões de Proteção na modalidade alargada: um acordo para a mobilização .................................................. 205

Enquadramento ....................................................................................................... 206Fases do projeto ...................................................................................................... 207

Fase A – Preparação da implementação do projeto .......................................... 207Fase B – Repensar a prática: autodiagnóstico do funcionamento e organização da Comissão de Proteção na modalidade alargada ..................... 208Fase C – Planeamento participado: diagnóstico dos fatores de risco e de proteção e plano local de promoção e proteção dos direitos da criança ......... 208Fase D – Avaliação do projeto ........................................................................... 209

Resultados esperados ............................................................................................. 210Metodologia ............................................................................................................. 211

Considerações finais ..................................................................................................... 211Referências .................................................................................................................... 213

PARTE V 215

Dinâmicas Relacionais

Capítulo 16 217

A Relação de Casal… na Encruzilhada entre a Conjugalidade e a ParentalidadeAna Gomes

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O Risco e o Perigo na Criança e na Família

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Introdução ..................................................................................................................... 217Organização funcional: quando a conjugalidade e a parentalidade são positivas ....... 220Organização com triangulações: quando a parentalidade é positiva num espaço de conjugalidade desarmónica ..................................................................................... 220Organização com privação: quando a parentalidade é pobre e difícil, mantendo-se uma boa conjugalidade ................................................................................................. 221Organização caótica: quando a parentalidade e a conjugalidade são deficitárias ....... 222Considerações finais ..................................................................................................... 223Referências .................................................................................................................... 224

Capítulo 17 225

Clientes (In)voluntários: Quem são? Quais os Desafios? Como intervir?Luciana Sotero e Ana Paula Relvas

Introdução ..................................................................................................................... 225Quem são os clientes (in)voluntários? ........................................................................... 225Haverá terapeutas “involuntários”? ............................................................................... 230Quais os dilemas éticos da intervenção?...................................................................... 231Como coconstruir a intervenção? ................................................................................. 233Terapia Centrada nas Soluções .................................................................................... 234Terapia Multissistémica ................................................................................................. 235Terapia Familiar Funcional ............................................................................................. 236Terapia da Curiosidade.................................................................................................. 238Considerações finais ..................................................................................................... 240Referências .................................................................................................................... 241

Capítulo 18 245

Impacto da Institucionalização em Crianças e JovensPaula Vilariça e Ana Teresa Prata

Introdução ..................................................................................................................... 245As instituições ............................................................................................................... 246

Desenvolvimento e crescimento da criança/adolescente institucionalizado .......... 247Psicopatologia da criança/adolescente institucionalizado ...................................... 249

Continuidades e descontinuidades ............................................................................... 252Linhas orientadoras para boas-práticas de intervenção ............................................... 254Considerações finais ..................................................................................................... 257Referências .................................................................................................................... 257

Conclusão ..................................................................................................................... 259Paulo Guerra

Cidadão criança – passo a passo, chegamos lá… ....................................................... 259

Índice Remissivo .......................................................................................................... 267

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Coordenadoras e Autoras

Fátima XarepeTem Mestrado em Psicologia da Saúde pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), Pós-graduação em Proteção de Menores no Centro de Direito da Família, na Uni-versidade de Coimbra, e Licenciatura em Serviço Social. Terapeuta familiar e de casal na Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar. É coordenadora do Serviço Social da Mater-nidade Alfredo da Costa – Centro Hospitalar de Lisboa Central (MAC-CHLC), coordena-dora e fundadora do Núcleo Hospitalar de Apoio às Crianças e Jovens em Risco (NHA-CJR) da MAC de 2009 a 2014 e elemento do NHACJR do CHLC desde 2014. É também elemento fundador da unidade de adolescência da MAC. Formadora na área da gravidez e da parentalidade. Tem vários artigos publicados na área da família e da criança.

Isabel Freitas e CostaLicenciada em Serviço Social, é assistente social na Maternidade Alfredo da Costa – Centro Hospitalar de Lisboa Central desde 1985, onde é responsável pelo Grupo de Risco das Mulheres Grávidas e Mães Toxicodependentes e coordenadora do Núcleo de Toxicodependência desde janeiro de 2002. É sócia, fundadora e presidente do Conselho Fiscal da Associação Passo a Passo (2001-2015) e membro da direção da mesma asso-ciação para o quadriénio 2016-2020. Tem diversos trabalhos publicados e apresentados nas diferentes áreas da sua prática profissional.

Maria do Rosário Oliveira MorgadoDesde 2000, exerce funções como Juíza Desembargadora do Tribunal da Relação de Lisboa. Desde 1994 a 1999, exerceu funções no Tribunal de Família de Lisboa. Participou em reformas legislativas, destacando-se a sua nomeação como membro da Comissão de Reforma da Legislação de Proteção de Crianças e Jovens em Risco, que elaborou a proposta de lei que deu origem à Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo. Prestou serviço docente em universidades e no Centro de Estudos Judiciários, no âmbito da jurisdição de família e menores. Ao longo da sua carreira, em Portugal e no estrangei-ro, participou, como docente, oradora, conferencista e/ou dinamizadora, em inúmeros cursos de formação, congressos, colóquios, palestras, seminários e encontros. É mem-bro fundador e presidente da mesa da assembleia-geral da Associação Passo a Passo com a Criança e a Família – Associação de Ajuda Psicossocial.

Autores

Ana CamposLicenciada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa em 1975, mestre em Sexologia e doutorada em Investigação Clínica pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (UNL). Especialista em Obstetrícia e Ginecologia pela Ordem dos Médicos e é chefe de Serviço Hospitalar. Diretora clínica adjunta na Maternidade Alfredo da Costa – Centro Hospitalar de Lisboa Central. Professora auxiliar convidada da Faculdade de Ciências Médicas da UNL.

Os AutOres

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O Risco e o Perigo na Criança e na Família

XII

Ana CardosoSocióloga e investigadora sénior no Centro de Estudos para a Intervenção Social (CESIS). Entre as suas áreas de investigação são de destacar a pobreza e exclusão social; a pobreza infantil; juventudes e fatores de risco; e violência juvenil. Tem também coordenado, acompanhado e avaliado vários projetos de intervenção local. A relação entre investigação e intervenção tem proporcionado ainda uma ampla experiência ao nível da formação e consultoria.

Ana GomesLicenciada em Psicologia Clínica pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa e com Pós-graduação em Toxicodependências pela Faculda-de de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. É terapeuta familiar, formadora e supervisora pela Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar.

Ana Paula RelvasPsicóloga e terapeuta familiar. Doutorada em Psicologia Clínica. É professora catedráti-ca na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar. É autora de vários livros e artigos na sua área de especialidade.

Ana Teresa PrataMédica interna de Pedopsiquiatria no Hospital Dona Estefânia, do Centro Hospitalar de Lisboa Central, em Lisboa. Pós-graduada em Neurodesenvolvimento em Pediatria pela Universidade Católica de Lisboa (2015). Concluiu o seu Mestrado Integrado em Medicina na Faculdade de Medicina de Lisboa em 2010. Atualmente, é presidente da Associação Nacional de Internos de Psiquiatria da Infância e Adolescência e pertence à Comissão Redatorial da Revista Portuguesa de Pedopsiquiatria.

Anabela Pereira NevesMédica licenciada pela Faculdade de Medicina de Lisboa e especialista em Medicina Legal com o grau de Consultora do INMLCF,I.P. É doutorada em Neuropsicologia Clínica pela Universidade de Salamanca. Professora auxiliar da Escola de Ciências da Saúde da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias e regente da unidade curricular de Anatomia Funcional.

Andreia Pereira da FonsecaAssistente social, licenciada em Política Social e com uma Pós-graduação em Mediação Familiar. É assistente social na Associação Passo a Passo de 2004 a 2016. Atualmente, está a desempenhar funções na Casa de Saúde da Idanha, no âmbito da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados.

Carlos Gil EscobarAssistente hospitalar de Pediatria no Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca (HFF). Membro do Núcleo Hospitalar de Apoio à Criança e Jovem em Risco (NHACJR) do HFF desde 2011 e da Secção de Pediatria Social da Sociedade Portuguesa de Pediatria des-de 2013. Assistente na Consulta de Pediatria de Apoio e Risco do NHACJR do HFF. Colaborador como instrutor em cursos de formação na área dos maus-tratos.

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XIII

Catarina MarquesLicenciada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa, realizou na Maternidade Alfredo da Costa – Centro Hospitalar de Lisboa Central o Internato Complementar de Ginecologia e Obstetrícia.

Célia NevesLicenciada em Medicina, especializou-se em Pediatria e é atualmente assistente hospita-lar graduada da Maternidade Alfredo da Costa. Completou o Mestrado em Neurociências da Faculdade de Medicina de Lisboa e é doutorada pela Universidade Católica, tendo na neuroética e na promoção dos direitos humanos os seus principais motivos de interesse.

Fernanda AlvesProcuradora da República, iniciou a carreira na Magistratura do Ministério Público como Delegada do Procurador da República, em 1988. Desde março de 2001 até novembro de 2007, desempenhou funções como Procuradora da República nos Tribunais de Família e Menores do Seixal e de Lisboa e como Magistrada do Ministério Público Interlocu-tora das Comissões de Proteção das Crianças e Jovens em Perigo de Almada, Seixal, Sesimbra e Lisboa Ocidental. Desde 2007 que exerce funções como Procuradora da República no Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa (DIAP). Está desde 2010 como Procuradora da República Coordenadora da Unidade Contra a Violência Do-méstica (UCVD) criada pelo Provimento n.º 2/2010 da Direção do DIAP e a funcionar na 7.ª Secção deste Departamento, e desde 2013, como Vogal da Comissão de Proteção às Vítimas de Crime (Despacho n.º 5065/2013 de Sua Excelência Ministra da Justiça, publicado no Diário da República, 2.ª Série n.º 73 de 15 de abril).

Filipa MateusPsicóloga clínica, mestre em Psicologia Clínica e da Saúde e pós-graduada em Avaliação Psicopatológica de Crianças e Adolescentes. É psicóloga clínica na Associação Passo a Passo.

Joana Gonçalves SilvaPsicóloga, é licenciada em Psicologia, pós-graduada em Profiling Criminal e Criminolo-gia Forense, e mestre em Psicologia Forense e da Exclusão Social. Realizou uma dis-sertação de mestrado acerca da influência das ruturas da parentalidade no desenvol-vimento de perturbações disruptivas do comportamento e de défice de atenção. Entre 2013 e 2015 exerceu funções de estagiária no Serviço de Clínica e Patologia Forense do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, I.P., Delegação do Sul, sendo que atualmente se encontra a trabalhar enquanto psicóloga na área da exclusão social.

Joana GraçaLicenciada em Psicologia, ramo de Psicologia Educacional, no Instituto Superior de Psi-cologia Aplicada (ISPA) desde 2004. Membro efetivo da Ordem dos Psicólogos. É psi-cóloga e diretora técnica da Delegação de Lisboa/Loures da Associação Passo a Passo. É coordenadora também de vários projetos de intervenção comunitária na área da família e da criança.

João RedondoPsiquiatra, coordenador do Centro de Prevenção e Tratamento do Trauma Psicogénico (inclui a Unidade de Violência Familiar) e do Centro de Responsabilidade Integrado de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). É supervisor e terapeuta familiar da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar, e dire-tor de Psicodrama Moreniano, fazendo parte integrante da Sociedade Portuguesa de

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O Risco e o Perigo na Criança e na Família

XIV

Psicodrama. Cofundador do Grupo Violência: Informação, Investigação, Intervenção (www.violencia.online.pt) e da Rede Escola Contra a Violência. É ainda membro do Con-selho Nacional de Saúde Mental.

Joaquim Manuel da SilvaAuditor de justiça no Centro de Estudos Judiciários (1999-2001), é Juiz de Direito em re-gime de estágio no Tribunal Judicial de Torres Vedras (2001-2002); no Tribunal Judicial do Cadaval e do Bombarral (2002-2003); na bolsa de juízes em Lisboa (2003-2004); no Tri-bunal Judicial de Sintra, 1.º juízo criminal (2004-2005); no Tribunal de Família e Menores de Loures (2005-2009); e no juízo de família e menores do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Norte – Sintra (desde abril de 2009).

Lisa Ferreira VicenteLicenciada em Medicina, é especialista graduada em Ginecologia-Obstetrícia. Possui uma Pós-graduação em Medicina Sexual pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia (2003-2004). Com reconhecimento de competência em Sexologia Clínica (pela Ordem dos Médicos em 2015). Foi Chefe da Divisão de Saúde Reprodutiva da Direção-Geral de Saúde – DGS (2009-2011) e Chefe de Divisão de Saúde Sexual, Re-produtiva, Infantil e Juvenil da DGS (2012-2016). É membro do Grupo Intersetorial que elaborou e acompanhou os Programas Nacionais para a Eliminação da Mutilação Genital Feminina (I Programa 2008-2010; II Programa 2011-2013 e PAPEMGF 2014-2017).

Luciana SoteroPsicóloga doutorada em Psicologia Clínica, com especialização em Psicologia da Fa-mília e Intervenção Familiar. É professora auxiliar convidada da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Exerce atividade clínica e é formadora em cursos nacionais e internacionais de especialização em intervenção sistémica.

Luís Chincalece Mestre em Psicologia Clínica pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA). Exer-ce funções de perito em psicologia no Serviço de Clínica e Patologia Forense do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, I.P., Delegação do Sul, e no Gabinete Médico-Legal de Vila Franca de Xira desde 2012.

Maria Armanda MachadoLicenciada em Serviço Social pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnolo-gias em 2007. Exerce funções de assistente social na Associação Passo a Passo desde 2007, estando integrada em equipa multidisciplinar no Núcleo Lisboa-Loures. Elemento cooptado da Associação Passo a Passo na Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Loures de 2011 a 2015.

Maria de Jesus CorreiaPsicóloga clínica e psicoterapeuta, é especialista em Psicologia Clínica e da Saúde pela Ordem dos Psicólogos Portugueses. Mestre em Psicopatologia e Psicologia Clínica, é formadora e docente universitária convidada. Exerce funções de psicóloga clínica na categoria de Assessora de Saúde no Ramo de Psicologia Clínica na Maternidade Dr. Alfredo da Costa (MAC-CHLC) desde 1987, coordenando o Serviço de Psicologia Clínica desde 2007. É responsável pela intervenção psicológica na área de obstetrícia. Pertence à equipa fundadora da Unidade da Adolescência da MAC. Tem publicado diversos traba-lhos científicos na área da psicologia da gravidez e da parentalidade.

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XV

Maria de Lurdes TorreAssistente hospitalar graduada de Pediatria no Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca (HFF). Membro do Núcleo Hospitalar de Apoio à Criança e Jovem em Risco do HFF desde 1996 e presidente da Secção de Pediatria Social da Sociedade Portuguesa de Pediatria desde 2013. Membro da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Risco de Sintra Oriental. Colaboradora na qualidade de formadora em cursos de formação na área dos maus-tratos.

Noémia BandeiraLicenciada em Serviço Social pelo Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa (ISSSL) e em Administração Pública pela Universidade da Ásia Oriental, é assistente so-cial. Técnica superior da administração pública, exerce funções na Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens. Exerceu funções docen-tes no ISSSL (1982 a 2006), na Escola Superior de Educação de Lisboa (ESELx) e no Chapitô.

Paula VilariçaPedopsiquiatra e assistente hospitalar graduada de Psiquiatria da Infância e Adolescên-cia no Hospital Dona Estefânia, do Centro Hospitalar de Lisboa Central, e terapeuta fa-miliar.

Paulo GuerraLicenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FDUC), é Juiz de Direito desde 1988. Atualmente colocado, como Juiz Desembargador, no Tribunal da Relação de Coimbra, embora em comissão de serviço judicial como Diretor Adjunto do Centro de Estudos Judiciários (CEJ). Autor de várias obras jurídicas no âmbi-to do direito de família e das crianças. Docente do CEJ, durante 6 anos, nesta área, tendo sido durante 3 anos coordenador da área. Foi Juiz Secretário do Conselho Superior da Magistratura (de 2004 a 2007). Conferencista em 345 Seminários/Encontros/Congres-sos. Formador em 69 ações de formação, em Portugal, em Espanha, em França e em Moçambique. Representante do Estado Português – indicado pelo Governo – durante a Presidência da União Europeia – de julho a dezembro de 2007. É associado do Centro de Direito da Família (CDF) da FDUC e membro do Observatório Permanente da Adoção (do CDF – Coimbra). Vice-presidente da Crescer Ser – Associação Portuguesa para o Direito dos Menores e da Família.

Tânia MartinsAssistente social, licenciada em Serviço Social pela Universidade Lusófona de Humani-dades e Tecnologias. Possui o Curso de Mediação Familiar, pelo Instituto Português de Mediação Familiar de Lisboa. É assistente social, mediadora familiar e coordenadora de equipa na Associação Passo a Passo – Delegação de Sintra.

Visitação MonteiroEducadora de infância, com Pós-graduação em Proteção de Crianças em Risco e In-tervenção Local na Universidade Técnica de Lisboa. Mediadora familiar e diretora téc-nica da Associação Passo a Passo – Delegação de Sintra. Com participação em vários projetos comunitários na área da criança e da família, bem como em vários colóquios, seminários e ações de formação como preletora e formadora.

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XVII

Teresa Fragoso

Quando pensamos em família, pensamos no espaço por excelência onde se desenvol-vem e se vivem os afetos, onde se estabelecem relações de confiança e se promove o cuidado e o bem-estar de todos os seus membros.

A família é um lugar de socialização, principalmente durante a primeira infância, sendo no seu contexto que se transmitem e constroem os princípios de base de comporta-mentos e atitudes, as quais irão influenciar os percursos de vida e as formas de rela-cionamento interpessoal, dentro e fora deste núcleo. Mas o ambiente familiar pode, por vezes, representar um lugar de perigo. O desenvolvimento equilibrado e saudável das crianças é seriamente posto em causa quando estas são alvo de negligência e maus--tratos ou expostas a comportamentos e a relações de violência física e/ou emocional no seio da família.

Vários estudos indicam que as crianças expostas à violência doméstica apresentam dificuldades na aprendizagem, comportamentos de risco, sintomatologia depressiva e ansiosa, e veem comprometidas as suas competências sociais. As crianças em idades precoces encontram-se especialmente vulneráveis, pelo que a identificação atempada de problemas no seio da família pode possibilitar uma intervenção e um apoio mais eficaz no restabelecimento do bem-estar das crianças e famílias.

Mas, quando falamos de crianças ou mesmo de jovens, é importante lembrar que esta-mos a falar de meninas e meninos, de raparigas e de rapazes que estão inseridos numa sociedade assente em desigualdades de género que são estruturais e onde nascer menina ou menino não é igual…

As práticas educativas de mães e pais, relativamente às suas filhas e filhos, continuam a transmitir valores e comportamentos baseados em estereótipos de género que per-petuam as assimetrias entre meninas e meninos, entre mulheres e homens. Sem cons-ciência desses efeitos, pais e mães criam modelos comportamentais diferenciados para raparigas e para rapazes, por exemplo, ao nível da vivência dos seus afetos ou do sucesso escolar, da partilha das tarefas no seio da família, da sua autonomia ou das suas capacidades de liderança, das relações de poder e subordinação, entre outras, gerando expectativas diversas para elas e para eles, vaticinando (de forma mais ou menos consciente) percursos de vida distintos, desiguais e, por essa razão, injustos e limitadores da liberdade de realização pessoal de umas e de outros.

Mas a socialização e a educação também acontecem e concretizam-se fora da família. Naturalmente, o papel da escola é essencial na educação para a cidadania e para a igualdade de género, já que as práticas educativas formais e as dinâmicas organizacio-nais das instituições educativas podem contribuir para a eliminação gradual dos este-reótipos sociais de género que predefinem o que é suposto ser e fazer um rapaz e uma rapariga. Mas não só, nesta tarefa é preciso convocar toda a sociedade!

PrefáciO

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O Risco e o Perigo na Criança e na Família

XVIII

É assim fundamental promover, não apenas junto de mães e pais, mas também de educadores e educadoras, de profissionais de saúde, de responsáveis das entidades empregadoras, de responsáveis da administração central e local do Estado, de respon-sáveis de organizações não governamentais e outras da sociedade civil, enfim, junto de todos os atores relevantes, uma atitude crítica relativamente ao seu papel.

Este livro vem, assim, dar um contributo precioso à reflexão sobre as responsabilidades da sociedade, enquanto um todo, com um olhar particular sobre determinadas áreas de intervenção da política pública, numa abordagem multidisciplinar, técnica, especiali-zada e integrada, fundamental para o aprofundamento do conhecimento do fenómeno e promotora de uma intervenção mais eficiente ao nível da prevenção e combate à violência em contexto familiar.

A leitura desta obra permite trazer à luz temas muitas vezes invisíveis, impulsionan-do uma tomada de consciência, motivando à mudança de formas estereotipadas de atuação, para que meninas e meninos, raparigas e rapazes, possam construir as suas identidades com base em valores e comportamentos igualitários, com impacto positivo na maneira como se irão relacionar, designadamente na sua intimidade.

Teresa Fragoso

Presidente da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG)

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XIX

Apesar de a família ser o meio ideal para o crescimento e realização afetiva de todos os seus membros, a verdade é que, sendo também um espaço privilegiado de intimidade e de privacidade, é muitas vezes palco de graves e traumáticos conflitos.

A violência exercida no seio da família, nas suas diversas formas, fenómeno transversal a todas as classes sociais e económicas, constitui uma gravíssima violação dos direitos humanos a que urge pôr fim e atinge, em particular, as mulheres, vítimas de maus-tratos exercidos por cônjuge ou companheiro.

São várias as recomendações de organismos europeus e internacionais, no sentido de se intensificarem os esforços por parte do Estado para eliminar todas as formas de violência contra as mulheres.

Em Portugal, o Plano Global para a Igualdade de Oportunidades (Resolução do Con-selho de Ministros n.º 49/97, de 24 de março) viria a configurar-se como a primeira estratégia integrada de políticas públicas na área da igualdade de género em Portugal, definindo como um dos seus objetivos a prevenção da violência e a garantia de prote-ção adequada às vítimas de crimes de violência.

Desde então, os sucessivos Planos Nacionais Contra a Violência Doméstica têm sub-linhado a necessidade de implementar políticas concertadas tendo em vista proteger as vítimas, condenar e ressocializar os(as) agressores(as), qualificar profissionais e criar estruturas de apoio e de atendimento, convocando o poder local e as organizações da sociedade civil para uma união de esforços e estratégias que erradiquem a violência doméstica e a violência de género no nosso país.

Portugal foi também um dos primeiros países da União Europeia a ratificar, em 5 de fevereiro de 2013, a Convenção do Conselho da Europa para a Prevenção e o Combate à Violência contra as Mulheres e a Violência Doméstica (Convenção de Istambul).

Esta Convenção assenta no reconhecimento de que “a violência contra as mulheres é uma manifestação das relações de poder historicamente desiguais entre mulheres e homens que levou à dominação e discriminação das mulheres pelos homens, privando assim as mulheres do seu pleno progresso”. Afirma ainda que “a natureza estrutural da violência contra as mulheres é baseada no género, e que a violência contra as mulheres é um dos mecanismos sociais cruciais através dos quais as mulheres são mantidas numa posição de subordinação em relação aos homens”. Por outro lado, a Convenção alerta para o facto de “mulheres e raparigas” estarem “muitas vezes expostas a formas graves de violência, tais como a violência doméstica, o assédio sexual, a violação, o casamento forçado, os chamados «crimes de honra» e a mutilação genital, que cons-tituem uma violação grave dos direitos humanos das mulheres e raparigas e um obstá-culo grande à realização da igualdade entre as mulheres e os homens”.

Por outro lado, a violência contra as mulheres, concretamente a perpetrada em con-texto familiar, tem inegáveis repercussões no bem-estar e saúde das crianças que a sofrem, direta ou indiretamente, quase sempre em silêncio e sem força para correr em busca de auxílio.

intrOduçãO

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O Risco e o Perigo na Criança e na Família

XX

Os maus-tratos em crianças ou jovens são, por isso, considerados uma preocupação de saúde pública ao nível mundial, cuja eliminação deve assumir-se com uma priorida-de envolvendo todos e cada um de nós.

A violência contra as crianças subsiste em todas as partes do globo e encontra-se tão profundamente enraizada em certas sociedades que, não raras vezes, os seus mem-bros não a reconhecem como tal, ou aceitam-na, sem questionar.

O direito das crianças à proteção contra todas as formas de violência física ou psi-cológica, abandono e exploração, designadamente de natureza sexual, encontra-se consagrado em diferentes instrumentos internacionais adotados no âmbito das Nações Unidas, sendo incontornável chamar aqui à colação a Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos da Criança, que constitui o mais importante instrumento internacional de promoção e defesa dos direitos da criança.

Também o Conselho da Europa tem dedicado uma muito especial atenção à promoção dos direitos fundamentais das crianças, tendo o Comité de Ministros do Conselho da Europa aprovado a 2 de março de 2016 a nova Estratégia do Conselho da Europa sobre os Direitos da Criança (2016-2021).

Este importante documento realça mais uma vez a necessidade de combater a violên-cia, a pobreza e a exclusão em que se encontram tantas e tantas crianças.

O relatório da United Nations Children´s Fund – UNICEF (Hidden in plain sight: A sta-tistical analysis of violence against children), publicado em setembro de 2014, baseado em dados de 190 países, revela que duas em cada três crianças no mundo com idades compreendidas em os 2 e os 14 anos (cerca de mil milhões) estão sujeitas a maus-tra-tos físicos, perpetrados pelos seus cuidadores.

Em Portugal, tanto quanto julgamos saber, a situação é também preocupante.

Nos dias de hoje, somos frequentemente confrontados com crianças abandonadas à sua sorte, fruto da exclusão social e da extrema pobreza das suas famílias, umas vezes vítimas de crimes e, outras, forçadas a sobreviver à custa da sua prática. Muitas há, vítimas de violência no seio da própria família, nas escolas e em instituições que, para-doxalmente, têm como missão protegê-las e não maltratá-las.

Segundo os registos oficiais, a violência familiar aumentou consideravelmente nos últi-mos anos, atingindo em particular os idosos, as mulheres e as crianças e jovens, sendo já significativo o número de homicídios.

As estatísticas oficiais não refletem, contudo, a verdadeira dimensão do problema, pois escapam à notação oficial muitos crimes que, por um sem-número de razões, não che-gam sequer a ser participados às autoridades. Um número incalculável de situações de violência fica, assim, escondido no seio da família, como um segredo bem guardado, já que as vítimas de violência e, em particular, as crianças não têm capacidade ou cora-gem para relatar atos de violência, seja por pudor, seja por terem medo de represálias, seja por receio de não serem credíveis aos olhos das autoridades. Os registos hospita-lares são, por isso, instrumentos privilegiados para seguir a trajetória da agressão que quase sempre começa “de mansinho” e acaba por atingir níveis de extrema violência.

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XXI

A intervenção em favor da proteção das crianças e jovens em risco é, portanto, de grande atualidade como reconhecem todos os que no seu dia a dia contactam com esta triste realidade.

É sabido que violência gera violência: uma criança que sofre abusos é capaz de olhar para a violência como algo normal, e até mesmo a aceitá-la, encontrando-se predispos-ta a perpetuar no futuro atos de violência contra os seus próprios filhos.

Os efeitos da violência contra as crianças podem durar uma vida, da mesma forma que a exposição à violência pode alterar o desenvolvimento do cérebro de uma criança, a sua saúde física e psíquica.

Estas crianças e jovens, cujo direito à integridade física e mental se encontra em risco, são acima de tudo um problema da comunidade, quer dizer são um problema nosso, a que não podemos fechar os olhos, e é, em torno delas, e por causa delas, que se justifica o estabelecimento de compromissos interdisciplinares e de uma verdadeira aliança dos sistemas de justiça, de saúde e social, para garantir a eficácia do modelo de intervenção, seja ele qual for.

Com esse objetivo há que investir em estratégias de sensibilização da sociedade em geral e, em particular, das entidades que, nos diferentes níveis da prestação de cuida-dos, têm competências específicas em sede de promoção dos direitos e proteção da criança e jovem.

Há que investir na educação e na mudança de atitudes, consciencializando as (poten-ciais) vítimas para o perigo, por forma a torná-las mais capazes de o identificar e afastar.

Por outro lado, na abordagem desta complexa problemática, e sem embargo da neces-sidade de reforçar e desenvolver os meios de proteção de crianças e jovens em perigo, já previstos na Lei, é preciso ter presente que nos encontramos perante uma questão de matriz basicamente social, cuja solução não pode deixar de buscar-se no plano da pluridisciplinaridade.

Nesta perspetiva, há que privilegiar uma lógica de prevenção, no respeito e na defesa da dignidade da pessoa humana, contando com a participação responsável de todas as entidades que desenvolvem a sua ação na área da infância e juventude.

Assumindo o desafio de promover um debate alargado sobre o tema da violência fa-miliar, este livro reúne os contributos de profissionais de áreas tão diversas como a medicina, a psicologia, o direito, o serviço social e a mediação familiar, propondo-se partilhar reflexões e guias de boas-práticas que contribuam para a prevenção do perigo na criança e na família.

Pretende-se também chamar a atenção para as “luzes de aviso” que indiciam que o perigo espreita ali ao lado e que, infelizmente, nem sempre conseguimos ver. É o caso da gravidez não vigiada/indesejada, da dificuldade em assumir as responsabilidades parentais, da ausência de suporte familiar e económico, das perturbações de saúde mental, das precárias condições de habitabilidade, de agressões recorrentes no seio da família, de relações pessoais instáveis, de famílias numerosas em contextos desfavo-ráveis, da existência de medidas de proteção aplicadas a membros do mesmo núcleo familiar, da falta de recetividade à intervenção social, etc., etc., etc.

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O Risco e o Perigo na Criança e na Família

XXII

Relativamente à gravidez, vários autores, de reconhecido mérito, têm vindo a alertar para a necessidade de não confundir gravidez e maternidade, por traduzirem vivências bem diferentes.

Para Leal1 o “desejo de estar grávida e o desejo de ter um filho não correspondem muitas vezes (…); se muitas gravidezes correspondem a fases felizes da vida da mulher e do homem, que por essa via ascendem a uma desejada e socialmente valorizada pa-rentalidade, muitas outras, são tocadas por vivências ou acontecimentos de vida que as marcam como períodos complexos e difíceis. Em todos os casos, no entanto, é um período de espera carregado de expectativas e simbolismos esperados que se recorda ao longo da vida”.

Para Badinter2 “o amor maternal é algo intimamente complexo e imperfeito, longe de ser instinto é condicionado por múltiplos factores independentes da «boa natureza» ou «boa vontade» da mãe. Seria preciso um milagre para que este amor fosse como se tem escrito”. Segundo a mesma autora, o amor maternal depende: da história pessoal de cada mulher, da oportunidade da gravidez, do seu desejo pela criança, da relação com o pai, de fatores sociais, culturais e profissionais.

É de tudo isto que se fala nesta publicação que vê agora a luz do dia.

Na primeira parte, subordinada ao título: “Da Gravidez à Maternidade: Um Caminho a Percorrer” o Capítulo 1, da autoria de Ana Cardoso, faz-se uma síntese da infância enquanto construção social. A pobreza é descrita como uma negação dos direitos das crianças. Enunciam-se políticas sociais tendo em vista acautelar o superior interesse da criança.

Ana Cardoso, como experiente investigadora social, termina este capítulo chamando a atenção para os graves inconvenientes da institucionalização prolongada das crianças, já que, como a própria afirma, “viver numa instituição significará que num território que deveria ser de afeto e de proteção, como é o território familiar, as crianças estiveram expostas a práticas que as colocaram em perigo”.

Célia Neves, no Capítulo 2, ilustra a experiência clínica de uma pediatra ao serviço do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e aborda a temática da negligência e dos maus-tratos infligidos às crianças: “lamentar não basta, é preciso permanecer vigilante” é, em síntese breve, a sua mensagem.

No Capítulo 3, Catarina Marques e Ana Campos apresentam um estudo, sobre a gra-videz não vigiada, realizado no ano de 2014, na Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa. As autoras referem que a gravidez não vigiada surge associada a situações de maior pobreza e de menores recursos nas mulheres, as quais devem por isso exigir cuidados acrescidos de vigilância e proteção.

No Capítulo 4, Maria de Jesus Correia debruça-se sobre a parentalidade comprometi-da. Enuncia os indicadores de risco para o filho que, já durante a gravidez, não devem ser descurados. Sublinha a necessidade de não confundir os conceitos de gravidez e parentalidade.

1 Leal, I. (1997). “Transformações sócio-culturais da gravidez e da maternidade: correspondente transformação psi-cológica”, II Congresso Nacional da Psicologia da Saúde, Ata n.º 5, Braga.

2 Badinter, E. (1980). O Amor Incerto. Lisboa:Relógio de Água.

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XXIII

As autoras Fátima Xarepe e Isabel Freitas e Costa, no Capítulo 5, descrevem e analisam um caso clínico/social sobre gravidez não vigiada e os efeitos emergentes para a mãe e os recém-nascidos. É também abordada a matéria atinente à prevenção de situações de risco para mulheres e crianças.

A segunda parte do livro – “O Impacto da Violência” – procura ilustrar o impacto da violência na vida da família e da criança.

No Capítulo 6, João Redondo, médico psiquiatra, a trabalhar há vários anos na área da violência, começa por delimitar o conceito de violência para, de seguida, enumerar metodologias de intervenção e propor modelos de boas-práticas a implementar neste âmbito.

A problemática dos abusos sexuais é tratada no Capítulo 7, por Anabela Pereira Neves, médica forense. No seu artigo, subordinado ao título “O direito de crescer em harmo-nia”, para além de definir o conceito, explica os aspetos neurobiológicos, apresenta números e as consequências dos abusos sexuais na vida das crianças. Anabela Neves trata ainda da agressão praticada por predadores sexuais.

No Capítulo 8, Maria de Lurdes Torre e Carlos Gil Escobar, dois pediatras do Núcleo Hospitalar de Apoio a Crianças e Jovens em Risco (NHACJR) do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca (HFF), descrevem situações de maus-tratos infantis e procedem ao seu enquadramento legal.

Falar-se-á também de um crime que tem aumentado em Portugal devido a fluxos mi-gratórios cada vez mais intensos, e que provoca o sofrimento de muitas crianças, em todo o mundo.

Referimo-nos à mutilação genital feminina, praticada por várias comunidades, em vá-rias latitudes, e também em Portugal.

A mutilação genital feminina não é um ritual religioso, nem uma prática cultural. Constitui uma grave violação dos direitos fundamentais da mulher, comprometendo a sua saúde, em particular a saúde sexual e reprodutiva, e o seu bem-estar físico e psicológico. Esta matéria é abordada no Capítulo 9, pela obstetra e ginecologista Lisa Ferreira Vicente.

A Procuradora da República e Coordenadora da 7.ª Secção do DIAP de Lisboa, Fer-nanda Alves, descreve, no Capítulo 10, a sua experiência em sede de investigação do crime de violência doméstica.

A terceira parte da publicação – “Prevenção e Mudança: A Experiência da Associação Passo a Passo” – é dedicada, essencialmente, à prevenção do risco e à mudança do modelo de intervenção.

Joana Graça, Maria Armanda Machado, Tânia Martins, Andreia Pereira da Fonseca e Fátima Xarepe, apresentam no Capítulo 11, uma nova forma de intervir nomeadamente na prevenção da institucionalização e na desinstitucionalização infantil. Descrevem ain-da o tipo de intervenção implementado pela Associação Passo a Passo com a Família e a Criança, com elevadas taxas de sucesso.

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O Risco e o Perigo na Criança e na Família

XXIV

No Capítulo 12, desta terceira parte, é abordada a problemática das crianças filhas de pais separados – divorciados e em conflito: o direito ao convívio com ambos os pais, o direito ao afeto e a um harmonioso desenvolvimento da sua personalidade. Filipa Mateus, Visitação Monteiro e Fátima Xarepe relatam o modo de intervenção levado a cabo nos denominados “pontos de encontro familiar”, em que filhos, pais e outros fa-miliares convivem, entre si, nos termos determinados pelo tribunal e sob a supervisão de técnicos da área do serviço social, da psicologia, da terapia familiar e da mediação.

No que respeita à regulação do exercício das responsabilidades parentais – a quarta parte “Responsabilidades Parentais –, é analisada a problemática da reconstrução das famílias e da resolução dos conflitos familiares, sem perder de vista as novas leis que sobre a matéria foram recentemente aprovadas, tarefa cada vez mais complexa se ti-vermos em conta que as relações intrafamiliares estão em constante evolução e que há que evitar a todo o custo que uma rutura parental venha a hipotecar o futuro de todos os membros da família. Esta matéria é abordada no Capítulo 13, por Joaquim Manuel da Silva, juiz de direito a exercer funções num tribunal de família.

No Capítulo 14, será salientada, pelos psicólogos forenses, Luís Chincalece e Joana Gonçalves Silva, a importância das avaliações psicológicas, das perícias e de outros meios de obtenção de prova e que, no quadro legal vigente3, se destinam a auxiliar a autoridade judiciária a conhecer a personalidade das crianças e jovens, da sua situação pessoal e do respetivo agregado familiar, as quais exigem o recurso a trabalho pluri-disciplinar que envolva, consoante as especificidades do caso, técnicos de diferentes formações (serviço social, educação, psicólogos, médicos, psiquiatras, etc.).

Noémia Bandeira, assistente social da Comissão Nacional de Proteção de Crianças e Jovens em Risco (CNPCJR), apresenta, no Capítulo 15, o projeto Tecer a Prevenção – um projeto aberto para a proteção de crianças e jovens.

Na quinta e última parte – “Dinâmicas Relacionais” – , tratar-se-á, como o próprio nome indica, de dinâmicas relacionais – a relação de casal na encruzilhada entre a conjugali-dade e a parentalidade, apresentada no Capítulo 16 pela terapeuta familiar e psicóloga clínica, Ana Gomes.

No Capítulo 17, serão ainda definidas as linhas orientadoras no que toca aos utentes in-voluntários. Quem são? Quais os desafios? Como intervir? Artigo realizado por Luciana Sotero e Ana Paula Relvas. Terapeutas familiares e psicólogas da Escola de Coimbra.

Por último, no Capítulo 18, duas psiquiatras da adolescência, Paula Vilariça e Ana Tere-sa Prata explanam o tema da institucionalização infantil e juvenil, ao longo dos tempos, e, em diferentes contextos socioculturais e descrevem o seu impacto no desenvolvi-mento das crianças e adolescentes.

Resta-nos concluir que:

■■ Em Portugal, como no resto do mundo, apesar das boas vontades anunciadas pelas diversas instâncias oficiais, os dados estatísticos continuam a denunciar um número crescente de vítimas de violência;

3 A Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo, Lei n.º 147/99, de 1 de setembro e a Lei Tutelar Educativa (Lei n.º 166/99, de 14 de setembro) realçam a importância de informações, de relatórios sociais, de perícias, de exames de personalidade e de avaliações psicológicas.

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Introdução©

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■■ Mulheres, crianças e jovens não necessitarão, porventura, de mais relatórios, es-tudos, pareceres, ou mesmo de novos quadros normativos que, mais uma vez, afirmem um conjunto de direitos que – hoje – temos por indiscutíveis e inalienáveis;

■■ Exigem que os seus direitos sejam objeto de uma prática universal;

■■ Exigem um esforço de coordenação entre as autoridades, governamentais e não governamentais, judiciárias e não judiciárias;

■■ A viragem do século exige a conceção de um novo paradigma de intervenção, marcado já não pela enunciação dos princípios, mas antes e sobretudo pela sua efetiva aplicação;

■■ Conscientes de que há passos que não se podem dar sozinhos sobretudo quan-do se está perante situações de perigo no seio da família, os Autores deste livro, unidos na luta contra a eliminação de toda e qualquer forma de violência, partiram para este projeto, dizendo com Miguel Torga:

Em qualquer aventura,

O que importa é partir, não é chegar.

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Ana Cardoso

IntroduçãoPartindo da noção de “criança sujeito” de direitos, tal como preconizado na Convenção sobre os Direitos da Criança, o presente capítulo procura identificar e discutir alguns dos constrangimentos à verificação dos direitos das crianças, entendidos como direitos humanos e, como tal, universais, inalienáveis e indivisíveis.

A pobreza em famílias com crianças é, sem dúvida, um dos constrangimentos mais re-levantes, com implicações imediatas no bem-estar das crianças e nas suas condições de desenvolvimento e com possíveis impactos na sua vida futura. O capítulo reflete ainda sobre a relação entre algumas medidas de política social e o superior interesse da criança, interrogando-se sobre a utilização deste princípio na conceção e implemen-tação de políticas públicas.

E porque a infância é uma realidade plural, procurou-se dar voz a um grupo de crianças a viver em instituições, evidenciando-se as suas próprias noções de bem-estar e os sentimentos e as emoções associados à sua situação de institucionalização.

A noção de infância – uma construção socialA infância, enquanto fase da vida, é hoje entendida como muito mais do que uma rea-lidade biológica; ela é, antes, percebida como uma condição social que tem vindo a ser gerada no contexto de mudanças sociais e históricas que altera usos, conceções e perceções acerca das crianças (Tomás, 2002; Ferreira, 2000).

Até finais do século XVII o espaço social da infância (quase) não existia, já que não era reconhecida às crianças, nos primeiros anos de vida, qualquer capacidade de ex-pressão − curiosamente, o termo infância deriva do latim infans que significa “aquele que não pode falar”. A partir do momento em que revelavam alguma independência ao nível dos cuidados, as crianças eram então consideradas como “pessoas adultas em miniatura” e, imediatamente, faziam parte do mundo dos adultos, compartilhando os mesmos lugares e vivências, quer fossem relacionadas com a vida doméstica, com o trabalho ou com os momentos de lazer e de festa (Ariès, 1986).

A noção moderna de infância, no ocidente europeu, surge a par de um conjunto de transformações sociais profundas e do crescimento de uma burguesia urbana que co-meça a delimitar o espaço da sua casa como um lugar privado, longe dos olhares públi-cos. Neste processo, os afetos impõem-se, incluindo os afetos de mães e de pais pelas

Infância(s) e Direitos1

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O Risco e o Perigo na Criança e na Família

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Definição e tipologia

Os maus-tratos constituem um fenómeno complexo e multifacetado que se desenrola de forma dramática ou insidiosa, em particular nas crianças e nos jovens, mas sempre com repercussões negativas no crescimento, desenvolvimento, saúde, bem-estar, se-gurança, autonomia e dignidade dos indivíduos (DGS, 2011).

Existem diferentes definições, mas, de acordo com Magalhães (2002), trata-se de “qual-quer forma de tratamento físico e/ou emocional, não acidental e inadequado, resultante de disfunções e/ou carências nas relações entre crianças/jovens e pessoas mais ve-lhas, num contexto de uma relação de responsabilidade, confiança e/ou poder. Podem manifestar-se através de comportamentos ativos (físicos, emocionais ou sexuais) ou passivos (omissão ou negligência nos cuidados e/ou afetos)”.

Podem classificar-se em quatro grandes tipos:

■■ Maus­tratos físicos:

— Considera-se qualquer tipo de ação não acidental que resulte da utilização da força física ou de objeto contra a criança ou adolescente, e que provoque ou possa provocar dano físico;

— Fazem parte deste tipo de maus-tratos situações de criança abanada, queima-duras, fraturas, traumatismos, sufocação, afogamento, intoxicações provoca-das, castigo corporal, violência entre pares na forma de bullying físico e praxe (com intenção de provocar dor ou desconforto, físico ou psíquico) e a síndrome de Münchausen por procuração;

— A síndrome de Münchausen por procuração é por muitos autores considerada um tipo específico de maus-tratos. Nesta situação, existe por parte do cuidador a indução ou simulação de sinais e sintomas de doença orgânica, na criança ou jovem, levando à necessidade de procedimentos de diagnóstico exaustivos e recurso a técnicas invasivas com hospitalizações frequentes.

■■ Abuso sexual:

— Corresponde ao envolvimento de uma criança ou adolescente em atividades que têm como objetivo a satisfação sexual de um adulto, ou de outra pessoa mais velha e/ou mais forte, e que se encontra numa posição de poder ou auto-ridade sobre a criança ou adolescente (DGS, 2011);

— São considerados abuso sexual a penetração com partes do corpo ou objeto, manipulação dos órgãos sexuais, atos exibicionistas ou exibição de material escrito ou visual de conteúdo sexual, captura de imagens mediante fotografia ou vídeo com caráter sexual, casamento infantil e violência sexual nas relações de intimidade;

— Nestes casos, as lesões físicas são pouco frequentes e estão presentes em apenas 5% dos casos (Huertas, 2013).

■■ Maus­tratos psicológicos ou emocionais:

— Trata-se da incapacidade em proporcionar à criança ou ao adolescente um am-biente de tranquilidade, bem-estar emocional e afetivo, indispensáveis ao seu crescimento, desenvolvimento e comportamentos adequados (Canha, 2000);

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Maria de Lurdes Torre e Carlos Gil Escobar

IntroduçãoOs maus-tratos são, do ponto de vista da saúde, um grave problema que afeta o normal desenvolvimento da criança. Ao longo da história universal, é apenas a partir do século XVIII que a criança começa a despontar como um elemento diferenciado da sociedade, surgindo assim o conceito de “infância”. No entanto, podemos constatar que só em meados do século XX a criança passa a ser vista,de uma forma mais universal, como um ser social e parte integrante da sociedade (Canha, 2000).

Embora existam referências esporádicas a maus-tratos ao longo do século XIX em re-vistas científicas, é Henry Kempe, pediatra norte-americano, que em 1962 publica o artigo The Battered Child Syndrome, no qual define uma situação em que as crianças pequenas receberam agressões físicas graves, geralmente provocadas pelos seus pais ou seus substitutos. Kempe reconhece a necessidade de equipas multidisciplinares para uma orientação correta das crianças e o seu afastamento temporário dos pais para a sua proteção (Canha, 2000). A divulgação deste artigo pela comunidade científica é considerada como o grande detonador para a chamada de atenção sobre a problemá-tica dos maus-tratos infantis.

Em Portugal, foi a partir da década de 80 que a problemática dos maus-tratos infantis passa a ter ampla divulgação, havendo desde o início uma forte colaboração entre pediatras (com destaque para a secção de pediatria social), juristas e magistrados, e técnicos do Instituto de Apoio à Criança (criado em 1983). Também foi nesta década que surgiram, ao nível hospitalar, os primeiros núcleos de apoio à criança maltratada.

Em 1991 foram criadas as Comissões de Proteção de Menores, e em 1999 é aprovada a primeira Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo (Lei n.º 147/99), que foi alterada em 2015.

No âmbito da Saúde, o Despacho n.º 31292/2008 de 5 de dezembro aprova o docu-mento “Maus-Tratos em Crianças e Jovens – Ação da saúde para crianças e jovens em risco”, que serve de orientações técnicas para definir a intervenção da Saúde nesta área, promulgando ainda a criação de Núcleos de Apoio à Criança e Jovens em Risco (N(H)ACJR) em todos os agrupamentos de centros de saúde e hospitais do país com atendimento pediátrico. Em 2011, a Direção-Geral de Saúde (DGS) elabora o “Maus--Tratos em Crianças e Jovens − Guia prático de abordagem, diagnóstico e intervenção”.

A abordagem dos maus-tratos implica conhecimentos clínicos para a prevenção, diag-nóstico e tratamento, bem como a articulação com o sistema social e jurídico.

Maus-tratos na Criança e no Jovem8

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Definição e tipologia

Os maus-tratos constituem um fenómeno complexo e multifacetado que se desenrola de forma dramática ou insidiosa, em particular nas crianças e nos jovens, mas sempre com repercussões negativas no crescimento, desenvolvimento, saúde, bem-estar, se-gurança, autonomia e dignidade dos indivíduos (DGS, 2011).

Existem diferentes definições, mas, de acordo com Magalhães (2002), trata-se de “qual-quer forma de tratamento físico e/ou emocional, não acidental e inadequado, resultante de disfunções e/ou carências nas relações entre crianças/jovens e pessoas mais ve-lhas, num contexto de uma relação de responsabilidade, confiança e/ou poder. Podem manifestar-se através de comportamentos ativos (físicos, emocionais ou sexuais) ou passivos (omissão ou negligência nos cuidados e/ou afetos)”.

Podem classificar-se em quatro grandes tipos:

■■ Maus­tratos físicos:

— Considera-se qualquer tipo de ação não acidental que resulte da utilização da força física ou de objeto contra a criança ou adolescente, e que provoque ou possa provocar dano físico;

— Fazem parte deste tipo de maus-tratos situações de criança abanada, queima-duras, fraturas, traumatismos, sufocação, afogamento, intoxicações provoca-das, castigo corporal, violência entre pares na forma de bullying físico e praxe (com intenção de provocar dor ou desconforto, físico ou psíquico) e a síndrome de Münchausen por procuração;

— A síndrome de Münchausen por procuração é por muitos autores considerada um tipo específico de maus-tratos. Nesta situação, existe por parte do cuidador a indução ou simulação de sinais e sintomas de doença orgânica, na criança ou jovem, levando à necessidade de procedimentos de diagnóstico exaustivos e recurso a técnicas invasivas com hospitalizações frequentes.

■■ Abuso sexual:

— Corresponde ao envolvimento de uma criança ou adolescente em atividades que têm como objetivo a satisfação sexual de um adulto, ou de outra pessoa mais velha e/ou mais forte, e que se encontra numa posição de poder ou auto-ridade sobre a criança ou adolescente (DGS, 2011);

— São considerados abuso sexual a penetração com partes do corpo ou objeto, manipulação dos órgãos sexuais, atos exibicionistas ou exibição de material escrito ou visual de conteúdo sexual, captura de imagens mediante fotografia ou vídeo com caráter sexual, casamento infantil e violência sexual nas relações de intimidade;

— Nestes casos, as lesões físicas são pouco frequentes e estão presentes em apenas 5% dos casos (Huertas, 2013).

■■ Maus­tratos psicológicos ou emocionais:

— Trata-se da incapacidade em proporcionar à criança ou ao adolescente um am-biente de tranquilidade, bem-estar emocional e afetivo, indispensáveis ao seu crescimento, desenvolvimento e comportamentos adequados (Canha, 2000);

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Joana Graça, Maria Armanda Machado, Tânia Martins, Andreia Pereira da Fonseca e Fátima Xarepe

Introdução

No presente capítulo pretende-se dar a conhecer o caráter inovador e potenciador de mudança desenvolvido pela Associação Passo a Passo, nomeadamente na preven-ção da institucionalização e na desinstitucionalização infantis. Assim, será apresenta-da a contextualização macro deste fenómeno, enquadrada enquanto problema social, e depois proceder-se-á à demonstração da construção do modelo de intervenção pre-conizado pela Associação Passo a Passo, apresentando-se o respetivo protocolo de intervenção nas modalidades de preservação familiar e reunificação familiar, e, por fim, a discussão e a apresentação dos seus principais indicadores e resultados.

Institucionalização – contextualização

A institucionalização de crianças e jovens, no âmbito da promoção e proteção dos seus direitos, é uma medida consagrada na Lei de Promoção e Proteção, que, na nova for-mulação de 2015, define como acolhimento residencial:

1. “A medida de acolhimento residencial consiste na colocação da criança ou jo-vem aos cuidados de uma entidade que disponha de instalações, equipamento de acolhimento e recursos humanos permanentes, devidamente dimensiona-dos e habilitados, que lhes garantam os cuidados adequados.

2. O acolhimento residencial tem como finalidade contribuir para a criação de condições que garantam a adequada satisfação de necessidades físicas, psí-quicas, emocionais e sociais das crianças e jovens e o efetivo exercício dos seus direitos, favorecendo a sua integração em contexto sociofamiliar seguro e promovendo a sua educação, bem-estar e desenvolvimento integral” (Lei n.º 142/2015, 2015, art.º 49.º).

O acolhimento residencial (art.º 50.º, n.º 1, 2 e 3) poderá ter lugar em casa de acolhi-mento e obedece a modelos de intervenção socioeducativos adequados às crianças e jovens nela acolhidos. Podem ser organizados da seguinte forma: casas de acolhi-mento para resposta em situações de emergência; casas de acolhimento para resposta a problemáticas específicas e necessidades de intervenção educativa e terapêuticas evidenciadas pelas crianças e jovens a acolher, e apartamentos de autonomização para o apoio e promoção de autonomia dos jovens.

Passo a Passo:Uma Nova Forma de Intervir11

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O Risco e o Perigo na Criança e na Família

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As instituições com respostas residenciais, nomeadamente nas áreas da educação es-pecial e da saúde podem, em situações devidamente fundamentadas e pelo tempo estritamente necessário, executar medidas de acolhimento residencial relativamente a crianças ou jovens com deficiência permanente, doenças crónicas de caráter grave, perturbação psiquiátrica ou comportamentos aditivos, garantindo os cuidados socioe-ducativos e terapêuticos a prestar no âmbito da execução da medida.

Embora esta seja uma medida que visa a proteção, as evidências científicas apontam para riscos decorrentes da quebra de vínculos familiares e sociais que a mesma pro-voca.

De facto, vários estudos comprovam duas dimensões da institucionalização de crian-ças enquanto problema social, aqui definido como uma “[…] situação que afecta um número significativo de pessoas e é julgado por estas ou por um número significativo de pessoas, como uma fonte de dificuldade ou infelicidade e considerada susceptível de melhoria”. (Carmo, 1999:69).

Efeitos da institucionalização infantil

“A institucionalização de crianças constitui-se como uma das respostas da sociedade para as proteger em situações de violação dos seus direitos. A necessidade de compreen-der as crianças institucionalizadas como sujeitos de direitos, competentes, activos e com voz nas decisões que afectam as suas vidas, assume um especial significado para estas crianças se considerarmos que as implicações da institucionalização nas suas vidas não se limitam ao período da sua vivência no contexto da instituição, iniciando-se antes da ins-titucionalização e, muito possivelmente, continuando após a sua desinstitucionalização”.

Paiva (2012)

A proliferação de estudos centrados nesta temática permitiu uma evidência empírica acerca do impacto da institucionalização no desenvolvimento infantil. (Pereira et al., 2010).

Embora o desenvolvimento humano ocorra durante toda a vida e reflita uma combina-ção da influência hereditária e do impacto ambiental sobre o indivíduo, possuindo cada etapa do ciclo vital as suas próprias características e valores, as experiências a que estão sujeitas as crianças nos seus primeiros anos de vida e os relacionamentos for-mados durante a primeira infância são determinantes no desenvolvimento global do ser humano, exercendo inegável influência nas experiências posteriores, nomeadamente no estabelecimento de relações e vínculos afetivos.

As relações recíprocas entre mãe e filho asseguram não só a sobrevivência da criança como contribuem, significativamente, para o desenvolvimento dos setores psíquicos e somáticos da personalidade. Esse intercâmbio de mão dupla, associado a um ambien-te facilitador, fortalece o processo maturacional e assegura uma vida futura saudável. Ao adulto cabe viabilizar um ambiente de facilitação para a maturação cada vez maior da criança, de acordo com as transformações desta ao longo do curso do ciclo vital.

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Joaquim Manuel da Silva

Introdução

Em regra, as crianças com a separação dos pais perdem família, passando os pais a assumir os filhos apenas na sua própria família, paterna ou materna, perpetuando re-lações conflituosas que geram problemas de desenvolvimento profundos e definitivos. A regulação das responsabilidades parentais deve ter como primeiro objetivo trazer os pais para a família da criança, ajudando-os a restabelecer uma relação como casal parental, mantendo assim intacta a família da criança, e estabelecendo as condições “ambientais” adequadas a um pleno desenvolvimento, satisfazendo assim o seu supe-rior interesse.

No princípio era…

“A minha mãe e o meu pai têm discussões às vezes, mas não como os pais da Kira. Ela costumava enfiar-se dentro do guarda-fatos e fechava a porta para não ouvir porque eles estavam aos berros. Agora é melhor, porque eles vivem em duas casas diferentes, por isso têm de telefonar um ao outro quando querem berrar. A mãe da Kira odeia tanto o pai que diz à Kira coisas horríveis acerca dele e quando ele buzina, quando chega o carro para vir buscar a Kira aos domingos, a mãe dela diz: «Oh, raios o partam, porque é que ele usa a maldita buzina?». Depois a Kira sai a correr e diz: «Pai, não uses a maldita buzina!», e ele responde: «Só estou a tocar a maldita buzina porque ela não me deixa entrar na maldita casa, e não uses a palavra maldita».” (Calman, 2007:32).

É esta a família das crianças com pais separados?

Na nossa experiência este é, de facto, o quadro normalizado das relações, tensas, dos pais separados, com mais ou menos tensão, é verdade, mas apresentam-se, invaria-velmente, com um quadro relacional que gera um stress permanente à criança, e foi isto que verdadeiramente nos preocupou desde que ingressámos em contacto com os casos tramitados nos processos de responsabilidades parentais.

Toda a nossa energia se concentrou, pois, desde 2005 (altura em que vimos para a jurisdição de família e menores em exclusivo), em perceber, estudar, avaliar e definir estratégias processuais que favorecessem mudanças comportamentais nos pais, afas-tando a tensão constatada invariavelmente em quase todos os casos tramitados e que se tramita ainda hoje.

As Responsabilidades Paren-tais: A Reconstrução da Família das Crianças na Separação dos Pais

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O Risco e o Perigo na Criança e na Família

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É que a regulação das responsabilidades parentais pode ser resumida em poucas pala-vras, tanto em termos substantivos como processuais; mas, em rigor, o que consagra o superior interesse da criança encontra-se muito para além de uma tramitação proces-sual, que se inicia com uma conferência de pais e ali termina com um acordo, mas que, sem acordo, prossegue com alegações, relatórios e demais instrução, até culminar num julgamento e numa sentença, em que se fixa o regime de responsabilidades parentais (art.º 174.º e seguintes da Organização Tutelar de Menores – OTM).

E se olharmos para o regime substantivo, numa visão puramente civilista, temos o su-primento da incapacidade de exercício por força da idade, e no quadro do regime das responsabilidades parentais, consagra-se um conjunto de conceitos indeterminados (por exemplo, superior interesse da criança, grande proximidade a ambos e ao proge-nitor amigável, principalmente art.º 1906.º do Código Civil1), com enquadramentos que se espelham numa decisão que fixará um regime com exercício das responsabilidades parentais nas questões de particular importância, residência e visitas, e uma pensão de alimentos (art.º 1905.º e 1906.º).

O problema: as crianças mantêm a sua família com a separação dos pais?

A criança mantém a sua família comportamental dos adultos com a decisão na regula-ção das responsabilidades parentais? Em regra, não.

Isto serve? Parece-nos que não.

A ONU, em 1994, definiu o conceito de família nos seguintes termos: “Duas ou mais pessoas que partilham recursos e responsabilidades por decisões, que compartilham valores e finalidades e têm um compromisso umas com as outras de um tipo duradou-ro, independentemente dos laços legais, de sangue, ou de adoção ou de casamento” (Guerra, 2007).

No citado artigo é elencado um conjunto das famílias, em função de vários critérios, mas todos eles suportados pelas qualidades e características dos adultos (heterosse-xuais, homossexuais, monoparentais, raça, etc.) e, em regra, juntos num mesmo lugar, na chamada casa de morada de família. Isto é, as crianças nunca são consideradas como pessoas capazes de formar a sua família, com um olhar sociológico que lhes atribuísse a elas um suporte, critério, para constituição de família.

Isto tem razões profundas, provenientes do império romano, em que existe uma sub-missão de toda a família a um pater, concentrada num núcleo espacial, que conside-rava todos os membros da família como incapazes para a prática da maioria dos atos.

Como sabemos, em Portugal só em 2008 o termo poder paternal foi substituído por responsabilidades parentais e, por exemplo, a mulher casada só perdeu a incapacidade de exercício em alguns dos atos a 1 de janeiro de 1967, data de entrada em vigor do atual Código Civil.

1 Doravante, nada sendo indicado, deverá entender-se que a citação dos artigos refere-se ao Código Civil.

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Paula Vilariça e Ana Teresa Prata

IntroduçãoO acolhimento de crianças e adolescentes é um recurso para prestação de cuidados quando, por alguma circunstância, não é possível que esses mesmos cuidados sejam assegurados pelos pais biológicos ou outros familiares. As razões para acolhimento, institucional ou familiar, são múltiplas e variam ao longo do tempo, de acordo com os indivíduos e as sociedades.

Em Portugal, segundo o relatório de Caracterização Anual da Situação de Acolhimento de Crianças e Jovens (Relatório CASA), de 2014, o principal motivo para a retirada do meio natural de vida de crianças e jovens foi a falta de supervisão e acompanhamento familiar (60%). Seguiu-se a exposição a modelos parentais desviantes, em que “o adul-to potencia na criança padrões de condutas desviantes ou antissociais, bem como per-turbações do desenvolvimento, embora não de uma forma manifestamente intencional” (35%). Em terceiro lugar, surge a negligência dos cuidados de educação e saúde (32% e 30%) (Relatório CASA, 2014).

Neste capítulo não iremos abordar especificamente o impacto do Acolhimento Fami-liar por corresponder a apenas 4,5% dos acolhimentos de crianças e jovens (Relatório CASA, 2014). Por outro lado, trata-se de um modelo específico no qual as crianças e jovens vivem com figuras parentais, que asseguram cuidados e responsabilidades de forma idêntica à dos pais biológicos, de forma temporária, no sentido de que sempre que possível, seja promovida a reintegração familiar da criança.

No caso do acolhimento institucional, em geral não está assegurada a existência de uma figura de tipo parental, ou seja, alguém que tenha com a criança ou jovem uma relação de exclusividade, compromisso e disponibilidade, na qual sejam prestados os cuidados de forma afetuosa e securizante, tal como ocorre com os pais biológicos. Em geral, há uma equipa de prestadores de cuidados, que não criam relações privilegiadas com as crianças e jovens, com elevada rotatividade dos funcionários, que entram e saem das instituições ao longo do tempo.

Na maioria dos casos, o acolhimento institucional é mais uma etapa num percurso de vida marcado por experiências traumáticas (abandonos, perdas, maus-tratos, abuso), carências múltiplas e exposição a fatores de risco para psicopatologia (vinculação in-segura, baixa autoestima, falta de competências sociais, comportamentos de risco, má integração escolar, etc.). Pretende-se promover a proteção e o desenvolvimento psicoafetivo das crianças e jovens, mas o conhecimento acumulado ao longo das úl-timas décadas aponta para cenários nos quais o desenvolvimento físico, cognitivo e

Impacto da Institucionalização em Crianças e Jovens18

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O Risco e o Perigo na Criança e na Família

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emocional das crianças que residem em instituição seja comprometido também pela própria experiência de institucionalização (Little & Thompson, 2005).

Assim, uma questão se coloca, quais são os benefícios e malefícios da institucionaliza-ção de crianças e jovens?

As instituiçõesO acolhimento institucional de crianças e jovens é uma opção amplamente usada como recurso para assegurar a proteção e prestação de cuidados quando os pais biológicos ou familiares não estão disponíveis ou em condições de as garantir. As instituições que prestam cuidados a crianças e jovens variam muito nas suas características podendo ser definidos quatro níveis de qualidade: instituições de baixa qualidade, caracteriza-das por uma privação global ao nível das várias necessidades das crianças e jovens, situação que se pode designar por negligência estrutural/institucional; instituições ade-quadas do ponto de vista da saúde e nutrição, mas que não fornecem um ambiente estimulante e relacional adequado; instituições que cumprem todas as necessidades, exceto a existência de relações estáveis, continuadas e consistentes com os prestado-res de cuidados; e, por último, muito raramente, um ambiente institucional que fornece também relações estáveis e consistentes (van IJzendoorn, citado em Rutter, 2015).

A caracterização das instituições nem sempre é fácil devido à escassez de dados, ge-ralmente incompletos e dispersos. Tipicamente as instituições têm grupos grandes, com rácios de crianças para prestadores de cuidados na ordem dos 8:1 a 31:1 (van IJzendoorn et al., 2011). A continuidade dos cuidados geralmente está comprometida devida à grande rotatividade dos profissionais, ao trabalho por turnos e às férias. Há uma elevada prevalência de mulheres entre os profissionais que contactam com as crianças, o que leva a que estas raramente contactem com elementos do sexo mascu-lino. Para além dos prestadores de cuidados, as crianças contactam com um elevado número de pessoas entre técnicos, profissionais de saúde, candidatos a adoção, vo-luntários, etc.

Na maioria dos casos, os prestadores de cuidados têm pouca formação e interagem com as crianças e adolescentes apenas para realizar o seu trabalho, ou seja, de uma forma funcional, centrada apenas nas tarefas de nutrição, higiene e cuidados de saúde.

Já há muito que se sabe que as características da prestação de cuidados, desde mui-to precocemente e ao longo do desenvolvimento, estão na base da saúde mental e mesmo da saúde física. Os efeitos da carência de cuidados parentais que promovam a vinculação da criança, especialmente se ocorrerem muito cedo na vida, quando ocorre a internalização de modelos de funcionamento relacional, deixam sequelas para toda a vida, muito difíceis de recuperar, tais como relações afetivas superficiais, ausência de concentração intelectual, inacessibilidade ao outro, ausência de reação emocional, entre outras (Guedeney & Guedeney, 2004).

Se a criança receber cuidados de qualidade, que promovam a vinculação segura, ela vai internalizar um modelo de si própria como alguém merecedor de ser amado e um modelo dos outros como estando atentos e sensíveis às suas necessidades na maior parte do tempo. Para que isto ocorra é necessário que a criança tenha as suas necessi-dades básicas de saúde e nutrição asseguradas, mas também que tenha a oportunida-

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Paulo Guerra

Cidadão criança – passo a passo, chegamos lá…

1.

Quando, em tempos, estava a escrever uma destas comunicações, estava a olhar para uma chávena de café que tinha defronte de mim e para a minha sobrinha de então cinco anos como primaveras.

Foi então que, num gesto dolente, terno e molhado, segurei a caneta e sentidamente escrevi numa folha de papel pardo que havia sempre de ser dezembro nos olhos das pessoas e que havia de ser sempre um bibe a nossa farda de trabalho.

Quando crescemos, vemos novas paisagens bordadas na memória das flores e no cin-zento dos edifícios de aço que nos rodeiam, mas, acreditem, ainda somos os mesmos de sempre. A diferença é que não bebemos o leite com palhinha, tal como a Francisca. Bebemos café. Entre uma bebida e outra, aprendemos a ser quase tudo o que nos en-sinam. Quase tudo o que quisermos.

E se alguma vez nos ensinarem a ser máquinas, poderemos sempre querer ser o lado oposto, aquele lado mais azul em que as incúrias de que somos vítimas ou as antisso-cialidades de que vestimos os nossos comportamentos (as tais crianças e jovens em perigo e os jovens que cometem delitos) vão ter uma curta carreira, vão ser episódios e flagrantes sem continuidade, assente a ideia de que um erro na vida não significa uma vida de erros!

Passaram 16 anos sobre a revolução que, em 2001, sem cravos, decidiu colocar em vigor duas novas leis, anunciadas como os veículos privilegiados da alteração dos com-portamentos judiciários, habituados até então a lidarem com estas questões da me-noridade com o olhar de alguma pressa e facilitismo, proporcionais a um Direito tido como de segunda categoria, como se as causas se medissem aos palmos, como se os saneadores, cabos das nossas tormentas de juízes, e os cúmulos jurídicos apareces-sem nos processos antes das petições iniciais e das maiêuticas denúncias criminais...

O papel principal agora é outro, a peça que vai à cena tem outros protagonistas – não os pais que os criam, mas os filhos que são criados e exigem o melhor tratamento pos-sível, pois toda a criança é rei, pois todo o cuidado é pouco para quem tão facilmente se pode ferir ou quebrar mercê de uma fragilidade de que ela se veste desde o dia em que lhe cortam o cordão umbilical até ao dia em que, numa qualquer garagem, entre mais ou menos serpentinas, ela sopra 18 velas num bolo.

É nesta linha de pensamento que surgem as duas leis que vieram trazer um novo fôlego ao Direito das Crianças e Jovens em Portugal, fazendo eco da maioria dos princípios plasmados em instrumentos internacionais como a Convenção dos Direitos da Criança,

ConClusão

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ISBN 978-989-693-061-5

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O RISCO E O PERIGONA CRIANÇA E NA FAMÍLIA

Coordenação:

Prefácio deTeresa Fragoso,Presidente da Comissão para a Cidadaniae a Igualdade de Género (CIG)

Fátima XarepeIsabel Freitas e CostaMaria do Rosário Oliveira Morgado

Ao longo das últimas décadas, as respostas sociais têm vindo a aperfeiçoar-se, de forma a assegurar uma maior proteção e prevenção às vítimas de violência e maus-tratos. Todavia, ainda estão longe de nos poder tranquilizar.

Estamos perante uma problemática transversal que preocupa todos os pro�s-sionais que atuam com crianças e famílias nas mais diversas áreas, como a saúde, a justiça, a educação e a segurança social, procurando diariamente melhores e mais e�cazes estratégias de intervenção.

A presente obra vem assim apresentar a realidade atual dos vários cenários e contextos sociofamiliares e individuais onde surgem a violência familiar e os maus-tratos infantis, bem como os vários tipos de intervenção que se realizam e/ou poderão realizar. Para isso, conta com a participação de vários autores que, dando um cunho multidisciplinar a este notável livro, procuram demonstrar que o problema da violência, dos maus-tratos e da negligência infantil necessita de abordagens técnicas especializadas, em rede e em tempo útil para as vítimas.

O RISCOE O PERIGONA CRIANÇAE NA FAMÍLIA

CONTEÚDOSInfância: uma construção social Gravidez não vigiadaParentalidade comprometidaViolência no contexto familiarO direito de crescer em harmoniaMaus-tratos e negligência nas criançasMutilação genital feminina A intervenção do DIAP em cenários de violência Associação Passo a Passo: uma nova forma de intervir Avaliação psicológica pericial na parentalidade A relação de casal na encruzilhada entre a conjugalidade e a parentalidade Impacto da institucionalização em crianças e jovens

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Coordenadoras e Autoras

FÁTIMA XAREPE Coordenadora do Serviço Social da Maternidade Alfredo da Costa – Centro Hospitalar de Lisboa Central (MAC--CHLC), coordenadora e fundadora do Núcleo Hospitalar de Apoio às Crian-ças e Jovens em Risco (NHACJR) da MAC de 2009 a 2014 e elemento do NHACJR do CHLC desde 2014. Tera-peuta familiar.

ISABEL FREITAS E COSTA Assistente social na Maternidade Alfredo da Costa – Centro Hospitalar de Lisboa Central, onde é responsável pelo Grupo de Risco das Mulheres Grávidas e Mães Toxicodependentes e coordenadora do Núcleo de Toxico-dependência desde janeiro de 2002.

MARIA DO ROSÁRIOOLIVEIRA MORGADO

Juíza Desembargadora do Tribunal da Relação de Lisboa. Foi juíza do Tri-bunal de Família de Lisboa e membro da Comissão de Reforma da Legislação de Proteção de Crianças e Jovens em Risco. Presidente da mesa da assem-bleia-geral da Associação Passo a Passo com a Criança e a Família - Associação de Ajuda Psicossocial.

Autores Ana Campos | Ana Cardoso | Ana Gomes | Ana Paula Relvas | Ana Te-resa Prata | Anabela Pereira Neves | Andreia Pereira da Fonseca | Carlos Gil Escobar | Catarina Marques | Célia Neves | Fernanda Alves | Filipa Mateus | Joana Gonçalves Silva | Joana Graça |João Redondo | Joaquim Manuel da Silva | Lisa Ferreira Vicente | Luciana Sotero | Luís Chincalece | Maria Arman-da Machado | Maria de Jesus Correia | Maria de Lurdes Torre | Noémia Ban-deira | Paula Vilariça | Paulo Guerra | Tânia Martins | Visitação Monteiro

Ver currículos detalhados no interior do livro

Livro no qual se aborda, com as estatísticas mais atuais, as principais questões da Sociologia da Família: casamento, divórcio, violência do-méstica, papéis familiares, etc. Com exercícios práticos.

Livro sobre as teorias e as práti-cas atuais na intervenção com famílias, nomeadamente em media-ção de conflitos, violência domés-tica, contexto hospitalar, pessoas LGBT, escolas, cuidadores, imigran-tes.

Uma obra fundamental que apre-senta as principais práticas de intervenção psicológica, social e judicial para situações de violên-cia e/ou crime. Essencial para profissionais, técnicos e estudantes.

www.pactor.pt

O RISCO E O PERIGO NA CRIANÇA E NA FAMÍLIAFátim

a XarepeIsabel Freitas e Costa

Maria do Rosário O

liveira Morgado

Coord.:

16,7cm x 24cm16,7cm x 24cm 14,2 mm 6 cm6 cm

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