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A DEFESA DA DENOMINAÇAO DE ORIGEN 169 A DEFESA DA DENOMINAÇAO DE ORIGEN Constantino Lopes Palma A Regiao Autónoma da Madeira é uma pequena regiao desprovida de recursos, representando o vinho da Madeira um suporte substancial na sua frágil economia e, como tal, nao pode vir a ser prejudicada por um país grande e poderoso como os Estados Unidos da América. Foi nestes termos que o Governo da Regiao Autónoma da Madeira, manifestou o seu repúdio. Em 1984, aos organismos internacionais – Office International da La Vigne et du Vin e CIDEAU/O.I.V., quando teve conhecimiento do Aviso do “Bureau of Alcohol, Tobaco and Firearms”, na California” que anunciou a criacao de uma área vinícola denominada “Madera”, na Califórnia, a partir da 7 de Janeiro de 1985. Pretendia-se que aqueles organismos internacionais, intercedesse junto dos E.U.A. par respeitar a nossa secular denominaçao de origen tendo a questao sido levantada no de curso da reuniao do CIDEAU em Paris, na assembleia Geral de 1985. Os Estados Unidos da América ignoraram a questao. Dois anos depois, em 1987, o Regulamento (CEE) nº 63/87, da Comissao de 9 de Janeiro, altera o Regulamento (CEE nº 977/81, da Comissao de 26 de Março, introduzindo um Considerando e um nº 3 para o artigo 10 nos quais se interditam os vinhos originários dos E.U.A. designados por “Madera” de circularem na Comunidade a partir de 31 de Dezembro de 1998. Em Dezembro de 1998, apenas a um mês da interdiçao dos vinhos americanos circularem na Comunidade, é apreciado no Comité de Gestao do Vinho (Bruxelas) um documento da Comissao onde se propoe alteraçoes várias no Reg. 997/81 a propósito da utilizaçao das garrafas tipo “Bocksbeutel e “Flute d´Alsace”. No meio destas alteraçoes, havia uma outra proposta: substituiçao no artigo 10º, parágrafo 3º, da data de 31.12.88 por 31.7.89, tendo em conta as negociaçoes que entao decorriam com os E.U.A., en variados domínios. Um ano depois, em Outubro de 1989, quando é feita a codificaçao do Regulamento (CEE) 997/81, veja-se, portanto, que já tinha prescrito um ano do prazo dado aos E.U.A., este poderoso país volta a exercer toda a sua influência para qque as alteraçoes anteriormente introduzidas na regulamentaçao ali continuassem a figurar, opondo-se a que, simplesmente, fossem expurgadas dos textos, como sería óbvio. Com que intuito? Renegociar as alteraçoes? Voltar-se á situaçao anterior de livre circulaçao na Comunidade dos vinhos californianos “Madeira Country”? Mas os sobressaltos mao ficam por aquí. Em Outubro de 1991 no prosseguimiento das negociaçoes do Acordo Vinhos CEE/EUA o dossier Madeira volta a ser palco de reapreciaçao e negociaçao. Infelizmente estas negociaçoes, realizadas em Washington sao feitas entre funcionários dos serviços da Comissao CE e Administraçao Bush com ausência de representaçao portuguesa. Como reagir a estas posiçoes de um país rico e poderoso como os E.U.A. contra una regiao pobre e desprovida de recursos como é a Madeira?

169-180 A defesa da denomicao de origen - Tenerife...• Reglamento (CEE) nº 2081/74 da Comissao de 7 de Agosto relativo á lista de vinhos licorosos de qualidade originários de

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A DEFESA DA DENOMINAÇAO DE ORIGEN

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A DEFESA DA DENOMINAÇAO DE ORIGEN

Constantino Lopes Palma

A Regiao Autónoma da Madeira é uma pequena regiao desprovida de recursos,

representando o vinho da Madeira um suporte substancial na sua frágil economia e, como tal, nao pode vir a ser prejudicada por um país grande e poderoso como os Estados Unidos da América.

Foi nestes termos que o Governo da Regiao Autónoma da Madeira, manifestou o

seu repúdio. Em 1984, aos organismos internacionais – Office International da La Vigne et du Vin e CIDEAU/O.I.V., quando teve conhecimiento do Aviso do “Bureau of Alcohol, Tobaco and Firearms”, na California” que anunciou a criacao de uma área vinícola denominada “Madera”, na Califórnia, a partir da 7 de Janeiro de 1985.

Pretendia-se que aqueles organismos internacionais, intercedesse junto dos E.U.A.

par respeitar a nossa secular denominaçao de origen tendo a questao sido levantada no de curso da reuniao do CIDEAU em Paris, na assembleia Geral de 1985.

Os Estados Unidos da América ignoraram a questao. Dois anos depois, em 1987, o Regulamento (CEE) nº 63/87, da Comissao de 9 de

Janeiro, altera o Regulamento (CEE nº 977/81, da Comissao de 26 de Março, introduzindo um Considerando e um nº 3 para o artigo 10 nos quais se interditam os vinhos originários dos E.U.A. designados por “Madera” de circularem na Comunidade a partir de 31 de Dezembro de 1998.

Em Dezembro de 1998, apenas a um mês da interdiçao dos vinhos americanos

circularem na Comunidade, é apreciado no Comité de Gestao do Vinho (Bruxelas) um documento da Comissao onde se propoe alteraçoes várias no Reg. 997/81 a propósito da utilizaçao das garrafas tipo “Bocksbeutel e “Flute d´Alsace”. No meio destas alteraçoes, havia uma outra proposta: substituiçao no artigo 10º, parágrafo 3º, da data de 31.12.88 por 31.7.89, tendo em conta as negociaçoes que entao decorriam com os E.U.A., en variados domínios.

Um ano depois, em Outubro de 1989, quando é feita a codificaçao do Regulamento

(CEE) 997/81, veja-se, portanto, que já tinha prescrito um ano do prazo dado aos E.U.A., este poderoso país volta a exercer toda a sua influência para qque as alteraçoes anteriormente introduzidas na regulamentaçao ali continuassem a figurar, opondo-se a que, simplesmente, fossem expurgadas dos textos, como sería óbvio. Com que intuito? Renegociar as alteraçoes? Voltar-se á situaçao anterior de livre circulaçao na Comunidade dos vinhos californianos “Madeira Country”?

Mas os sobressaltos mao ficam por aquí. Em Outubro de 1991 no prosseguimiento das negociaçoes do Acordo Vinhos

CEE/EUA o dossier Madeira volta a ser palco de reapreciaçao e negociaçao. Infelizmente estas negociaçoes, realizadas em Washington sao feitas entre funcionários dos serviços da Comissao CE e Administraçao Bush com ausência de representaçao portuguesa.

Como reagir a estas posiçoes de um país rico e poderoso como os E.U.A. contra una

regiao pobre e desprovida de recursos como é a Madeira?

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Como fazer prevalecer os direitos á nossa denominaçao de origem? Tomou a Europa Comunitária consciência da importância que esta matéria tinha

para todos, repito, para todos os seus Estados Membros? Julgamos que nao. Temos a certeza que nao tomou consciência pois na altura

haveria tomado posiçoes firmes que, certamente, mais tarde, serviriam de reflexao aos E.U.A. para que nao fosse aprovada a insultuosa lei proposta pelo Senador D´Amato.

• Veja-se o Aviso do Departamento Tesouro, publicado no Federal Register Vol. 47

nº17 de 26 de Janeiro de 1982 dando noticia da proposta da criaçao de una zona vitícola denominada Madera.

• Veja-se o Aviso do Departamento do Tesouro publicado no Federal Register Vol 49 nº 237 de 7 de Dezembro de 1984 dando nota da criaçao da zona vitícola denominada Madera.

• Veja-se Certificado de Registo nº 1423451 de 30 de Dezembro de 1986 do Departamento de Marcas e Patentes dos E.U.A. dando conta do Registo da Marca Madeira.

• Veja-se Reg. /CEE) nº 63/87 que interdita, a partir de 31 de Dezembro de 1998 a entrada de vinhos dos E.U.A. com a designaçao Madera.

Para melhor compreender a situaçao criada recordamos que:

1. O uso da nossa denominaçao de origem por outro país, nao pode ser admitido pela

C.E.E., dado que o Regulamento 649/86 da Comissao, específica estar a denominaçao “Madeira, Madera…” reservada a vinhos licorosos de Portugal.

2. A denominaçao de origem portuguesa já se encontra consagrada no própiros textos comunitários conforme segue:

• Certificado de origem para o vinho da Madeira constante do Reglamento nº

1120/75 da Comissao de 17 de Abril no qual se consagram as expressoes: Vinho da Madeira, Madeira, Madeira Wine, Vin de Madére, Vino de Madera, Madeira Wijn.

• Reglamento (CEE) nº 2081/74 da Comissao de 7 de Agosto relativo á lista de

vinhos licorosos de qualidade originários de países terceiros. • Regulamento (CEE) nº 649/86 da Comissao de 28 de Fevereiro, que adopta a lista

de vinhos produzidos em Portugal equiparados aos vinhos de qualidade em regioes determinadas.

• Regulamento (CEE) nº 63/87, da Comissao, de 9 de Janeiro, que altera o

Regulamento (CEE) nº 977/81, da Comissao, de 26 de Março, que interdita os vinhos originários dos E.U.A. designados por “Madera” de circularem na Comunidade a partir de 31 de Dezembro de 1988.

• Regulamento (CEE) nº 2043/89 do Conselho de 19 de Junho, que disciplina a

produçao de vinhos licorosos na Comunidade e na qual ficaram consafgradas as especifidades do vinho da Madeira.

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• Na Legislaçao portuguesa sao vários os documentos oficiais que regulamentam e

disciplinam o fabrico e comercializaçao de vinho da Madeira e ainda a regiao de origem determinada, dos quais se destacam:

- Decreto-Lei 218 de 13.11.1913 – que consagra as regioes com denominaçao de origem portuguesa.

- Decreto-Lei 41666 de 14.6.57 – que define as obrigaçoes para o fabrico e comércio de vinho da Madeira

- Decreto Regional 7/79/M de 6.4.79 – que cria o Instituto do Vinho da Madeira. - Portaria 40/82 de 2.2.82 – que regulamenta a rotulagem para o vinho da Madeira. - Decreto Regional 20/85/M de 21.10.85 – que cria o Novo Estatuto Vitivinícola da Madeira.

- Decreto-Lei nº 326/88 de 23 de Setembro – que consagra os vinhos licorosos portugueses.

4. A denominaçao de origem Madeira está consagrada entre vários países da Comunidade tais como:

• Em Espanha estao consagradas as denominaçoes de origem portuguesas através de um Tratado subscrito por Portugal – Espanha.

• Foi aceite o registo de Marca “Madeira” nos E.U.A. em Dez. 1986.

• Foi aceite o registo de Marca “Madeira” em Espanha em Março de 1990.

• Em França e Itália ficaram consagradas as denominaçoes “Madeira” pela assinatura do Acordo de Lisboa de 1958, tendo-se feito o registo na Organization Mondialle de La Propieté Intelectuelle, em Geneve.

• Foi aceite o registo de marca “Madeira” no Bureau Des Marques do Benelux.

• Foi aceite o registo de marca “madeira” no Reino Unido em Julho de 1992.

• Foi aceite o registo de marca “Madeira” na Alemanha em Agosto de 1997.

Depois de todo este alinamento de diplomas comunitários e nacionais onde se reconhece e é

Tratada a nossa denominaçao de origem, como reagir á falta de coerência? Afinal nao existem valores a preservar nesta velha Europa assente no respeito do

direito internacional? Depois desta esplanaçao com suporte na legislaçao, vejamos a situaçao actual do

vinho da Madeira nos E.U.A.

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Em 1996, os E.U.A. pelo Estado da Califórnia, pretenderam aprovar a lei nº 2799

de 22 de Fevereiro que pura e simplesmente nao consideeravam os vinhos licorosos na classificaçao de vinho.

Ora com esta pretensao o vinho da Madeira, como vinho fortificado deixaria de

estar em 85% dos restantes daquele Estado que têm autorizaçao apenas para o consumo de vinho e cerveja.

Por último em 1 de Agosto de 1997, o Congresso Norte Americano aprovou uma

proposta de alteraçao de lei que regulamenta a rotulagem dos vinhos. Esta proposta, apresentada pelo Senador D´Amato, passou a permitir que os produtores americanos possam utilizar nos rótulos designaçoes associadas á indiçao da proveniência geográfica dos vinhos, mesmos que estes nao tenham origem naquelas regioes.

E para que fique bem clara a intençao desta usurpaçao, a própira lei indica o none

das mais sobres regioes demarcadas europeais, as quais passam a dar o seu nome a vinho produzidos nos E.U.A. – Chablis, Champagne, Chiante, Málaga, Marsala, Madeira, Moselle, Port, Rhinewine, Southeme, Sherry e Tojay.

• Veja-se Assembly Bill nº 2799 de 22 de Fevereiro de 1996 que nao incluía os

vinhos fortificados na classificaçao de vinhos. • Veja-se Documento S. 949 – relativo á autorizaçao de mensionar nos rótulos

de vinhos nomes de outras regioes vinícolas. E enquanto aguardamos por uma posiçao de força na Uniao Europeia para discutir

com os E.U.A., a Regiao Demarcada da Madeira repudiou mais uma vez, a atitude de um grande e poderoso país como os E.U.A. que usurpa séculos de tradiçao de uma cultura vitivinícola, pertença de uma cultura vitivinícola, pertença de uma regiao pequena e desprovida de recursos, e é uma prova, tanto mais preocupante quando vem de um estado que pretende ser um exemplo vivo da democracia e das libertades.

A terminar refira-se a importância para nós da concorrência desleal nos mercados externos fora da Uniao Europeia, do “Madeira californiano” com o vinho da Madeira em especial no Japao que é o segundo melhor mercado para a exportaçao de vinhos engarrafados.

• Veja-se quadro relativo á comercializaçao do vinho da Madeira, por mercados,

em 1997. • Veja-se catálogo de vinhos comercializados por destribuidor japonês.

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