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C a p í t u l o 1

Teoria da Constituição

Sumário. 1. Conceito de Constituição – 2. Sentidos ou concepções de Constituição: 2.1. Sentido sociológico; 2.2. Sentido político; 2.3. Sentido jurídico; 2.4. Sentido cultural, culturalista, total ou ideal (uma conexão dos sentidos anteriores) – 3. Classificação das Constituições: 3.1. Quanto ao conteúdo; 3.2. Quanto à forma; 3.3 Quanto à origem; 3.4. Quanto à estabilidade, mutabilidade, consistência ou alterabilidade; 3.5. Quanto à extensão; 3.6. Quanto à elaboração; 3.7. Quanto à ideologia ou dogmática; 3.8. Quanto à essência, ontologia ou correspondência com a realidade; 3.9. Quanto à sistemática, sistematização ou unidade documental; 3.10. Quanto à finalidade; 3.11. Quanto ao sistema; 3.12. Quanto ao local de elaboração ou origem de sua decretação; 3.13. Quanto à função; 3.14. Outras classificações; 3.15. Classificação da Constituição brasileira de 1988 – 4. Estrutura das Constituições: 4.1. Preâmbulo; 4.2. Normas centrais da constituição (parte dogmática); 4.3. Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) – 5. Elementos das Constituições – 6. Informativos do STF relacionados ao tema – 7. Legislação relacionada ao tema.

1. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO

Antes mesmo de partirmos para o enfrentamento do conceito de Constituição, é preciso que se diga que não há uma definição una acerca do seu objeto. De todo modo, malgrado não se possa extrair da doutrina um conceito único, é bem verdade que as definições não são destoantes.

Na lição do Professor Dirley da Cunha Júnior, podemos conceituar Constituição, ob-jetivamente, como “um conjunto de normas jurídicas supremas, que estabelecem os fundamentos de organização do Estado e da sociedade, dispondo e regulando a forma de Estado, a forma e sistema de governo, o seu regime político, seus objetivos fundamentais, o modo de aquisição e exercício do poder, a composição, as competências e o funciona-mento de seus órgãos, os limites de sua atuação e a responsabilidade de seus dirigentes, e fixando uma declaração de direitos e garantias fundamentais e as principais regras de convivência social”.

No mesmo passo, para Marcelo Novelino, “a palavra Constituição pode ser definida, em termos jurídicos, como o conjunto sistematizado de normas originárias e estruturan-tes do Estado que têm por objeto nuclear os direitos fundamentais, a estruturação do Estado e a organização dos poderes”.

De todo modo, tendo como base o novo Direito Constitucional, o que não se pode per-der de vista é que a Constituição é um organismo aberto, vivo e em constante evolução.

Efetivamente, essas características são indispensáveis para que ela possa acompa-nhar as mutações e evoluções sociológicas do mundo circundante, e não cair no limbo do esquecimento, desgastada pelos paradigmas do passado, tornando-se, pois, obsoleta.

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2. SENTIDOS OU CONCEPÇÕES DE CONSTITUIÇÃO

Antes de partir para o enfrentamento dos diferentes sentidos de Constituição, necessário

se faz fixar a premissa segundo a qual, para cada concepção diferente, o leitor deve perquirir:

quem foi o principal expoente daquela acepção, qual foi a obra através da qual o sujeito se

tornou conhecido, e, por fim, qual a mensagem disseminada na obra em comento.

2.1 SENTIDO SOCIOLÓGICO

Seguindo a trilha do raciocínio esposado acima, pode-se afirmar que o principal nome

do sentido sociológico de Constituição foi Ferdinand Lassalle.

Evoluindo, a obra através da qual Lassalle se tornou conhecido por disseminar este

sentido de Constituição foi “Que é uma Constituição”.

E concluindo as três ideias básicas (autor, obra e ideia disseminada), identifica-se

que, com o sentido sociológico, Constituição nada mais era do que “a soma dos fatores

reais de poder que regem uma sociedade”.

Destrinchando a noção do sentido sociológico de Constituição, para Lassalle, o Texto

Supremo de um Estado deveria corresponder à própria realidade social.

De nada adiantaria ter uma Constituição que previsse uma série de garantias, mas

essas garantias não pudessem ser observadas na prática.

Esta Constituição, no seu sentir, seria utópica e não passaria de mero “direito de papel”.

É a partir daí que Lassalle distingue a Constituição real da Constituição jurídica. Esta

(a jurídica), definitivamente, não corresponde àquilo que se pretende de uma Constitui-

ção, pois está pautada na utopia do dever ser.

Aquela (a real), de fato, para ele, representa o que se pode esperar de uma Lei Fun-

damental: que ela realmente corresponda à realidade social, tendo ressonância na vida

das pessoas, e situando-se no plano do ser, jamais no plano do dever ser.

Ilustrando sua tese, num sentido metafórico, Lassalle propõe o seguinte raciocínio: se

eu planto uma figueira no quintal da minha casa e fixo no seu caule uma placa dizendo

esta árvore é uma macieira, só por isso a árvore deixará de ser figueira?

Ele próprio responde que não. Afirma que por mais que os amigos e familiares que

por ali passem, em respeito e consideração, concordem com o quanto escrito e nada di-

gam em sentido contrário, nem por isso a árvore deixará de ser uma figueira.

Isto porque, quando os frutos dessa árvore advierem, estes frutos não poderão mas-

carar e esconder a realidade, pois em vez de maçãs, brotarão figos.

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Já caiu!O concurso de Analista do TJ/SE, em 2011, com o Cespe, trouxe a seguinte assertiva. A concepção sociológica, elaborada por Ferdinand Lassalle, considera Constituição como sendo a somatória dos fatores reais de poder, isto é, o conjunto de forças de índole política, econômi-ca e religiosa que condicionam o ordenamento jurídico de determinada sociedade. De fato, como visto, a assertiva está correta.

2.2 SENTIDO POLÍTICOComo principal expoente do sentido político de Constituição tem-se Carl Schmitt.

A obra através da qual Schmitt se tornou conhecido por disseminar o sentido político de Constituição foi “Teoria da Constituição”.

Para ele, Constituição deveria ser percebida como o “conjunto de normas, escritas ou não escritas, que sintetizam exclusivamente as decisões políticas fundamentais de um povo”.

Para o autor, decisões políticas fundamentais seriam aquelas normas indispensáveis à construção de um modelo de Estado, vale dizer, normas relacionadas à organização do Estado, à organização dos Poderes e aos direitos e garantias fundamentais.

Sem a presença dessas normas, não haveria como se pensar num Estado poli-ticamente organizado.

E foi nesse contexto que Carl Schmitt distinguiu constituição de leis constitucionais.

Constituição seria aquele diploma que efetivamente trouxesse as normas imprescin-díveis à construção de um modelo de Estado.

Do outro lado, leis constitucionais seriam as normas desprovidas de essencia-lidade constitucional.

É dizer, ainda que essas normas (lei constitucionais) estejam aderidas ao Texto Maior, não se pode chamá-las de constituição justamente por versarem sobre matérias sem nenhuma (ou com pouca) relevância constitucional.

Constituição, por sua vez, corresponderia à noção de norma constitucional material. Ou seja, a norma deve ser entendida como Constituição não pelo fato de ter aderido formalmente ao Tex-to Supremo, mas sim por trazer no seu conteúdo, na sua substância, matéria de relevância cons-titucional. Matéria, como já mencionado, indispensável à construção de um modelo de Estado.

E essas matérias, frise-se, são aquelas relacionadas à organização do Estado, à orga-nização dos Poderes e aos direitos e garantias fundamentais.

2.3 SENTIDO JURÍDICOO sentido jurídico de Constituição é marcado pela presença do mestre de Viena, Hans

Kelsen, como principal expoente, como precursor desse sentido.

A principal obra de Kelsen a traduzir essa ideia de Constituição, sem dúvida, é “Teoria Pura do Direito”.

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Nessa obra tem-se que, sob um prisma nitidamente normativista, Kelsen percebia Consti-tuição como norma pura, suprema e positivada.

Enquanto Lassalle, no seu sentido sociológico, entendia que a Constituição estava situada no plano do ser, Kelsen, no seu sentido jurídico, colocou a Constituição no plano do dever ser.

O austríaco, nessa perspectiva altamente normativista, tentava ao máximo se afastar da ética, da moral e da axiologia, sempre com o objetivo de se desvencilhar de possíveis interpretações dúbias.

Isto porque, para ele, ao contrário do que entendia Lassalle, o direito não poderia ser fruto da realidade social, mas sim fruto da vontade racional dos homens.

Kelsen entendia a Constituição como fundamento de validade de todo o ordenamento jurídico.

Numa relação de verticalidade hierárquica, todas as espécies normativas deveriam obede-cer ao quanto disposto na Constituição. Esta ocupava o ápice da pirâmide normativa.

E para explicar onde a Constituição buscava seu fundamento de validade, Kelsen distin-guiu o sentido lógico-jurídico, do sentido jurídico-positivo de Constituição.

Para ele, no sentido lógico-jurídico, Constituição nada mais seria do que a própria norma hipotética fundamental, cuja função é servir de fundamento lógico transcendental de validade da Constituição jurídico-positiva.

Por ser hipotética, não se poderia ver essa norma. Ela situava-se no plano das ideias, no plano do suposto.

Por sua vez, com o sentido jurídico-positivo, a Constituição era percebida como a pró-pria norma positivada. Esta sim, situada não no plano do suposto, mas sim no plano do posto, palpável e visível.

Essa divisão dos sentidos pode ser bem percebida na diagramação da pirâmide abaixo:

Constituição Federal

Constituição Estadual

Lei Estadual

Decreto do Governador

Res. do Secretário de Estado

Norma HipotéticaFundamental

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2.4 SENTIDO CULTURAL, CULTURALISTA, TOTAL OU IDEAL (UMA CONEXÃO DOS SENTIDOS ANTERIORES)

O sentido cultural também é chamado de sentido culturalista, sentido total ou sentido ideal de Constituição.

Toda a doutrina sinaliza que essa concepção parte do pressuposto de que a Cons-tituição é um produto da cultura, afinal, assim como o Direito, a cultura é resultado da atividade criativa humana.

A ratio desse sentido reside na ideia de que todas as concepções anteriores possuem fundamento. O problema de cada uma daquelas visões é que elas foram estanques e se achavam bastante em si mesmas, não ensejando espaço para comunicação.

Atenção:Nesse passo, tem-se que a melhor acepção é aquela que percebe a Constituição como realidade social, como decisão política fundamental e como norma suprema positivada.

Por isso se fala aqui na ideia de uma Constituição total. Pois é um mesmo documento englobando, num único prisma, os mais variados aspectos e os mais diferentes valores, como por exemplo de ordem econômica, moral, sociológica, filosófica, jurídica etc.

Comungando desse sentido é possível citar alguns doutrinadores e suas obras no di-reito alienígena, a exemplo de Konrad Hesse, com “A força normativa da Constituição” e de Peter Häberle, com “Hermenêutica Constitucional. A sociedade aberta dos intérpretes da Constituição: contribuição para a interpretação pluralista e ‘procedimental’ da Cons-tituição”. No Brasil, por todos, Paulo Bonavides.

Em síntese, esse é o sentido segundo o qual a Constituição nada mais é do que produto de um fato cultural oriundo da sociedade e que tem direta influência sobre ela.

3. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

Dentro da temática da classificação das Constituições, vários critérios foram apresen-tados pelos estudiosos do Direito com a finalidade em comento. De fato, inúmeros são os modelos classificatórios. Entretanto, dada a finalidade da obra, aqui serão apresentados os principais, aqueles que vêm sendo cobrados nos concursos públicos para tribunais.

3.1 QUANTO AO CONTEÚDOQuanto ao conteúdo uma Constituição pode ser classificada como: material ou formal.

• Material

Material é a Constituição cujas normas devem versar sobre aquelas matérias indis-pensáveis à construção de um modelo de Estado.

Ou seja, seria o conjunto de normas, escritas ou não escritas, que sintetizam apenas a decisões políticas fundamentais de um povo, é dizer, normas relacionadas à organiza-ção do Estado, à organização dos Poderes e aos direitos e garantias fundamentais.

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• Formal

Já a Constituição formal, por sua vez, pode ser definida como o conjunto de normas necessariamente escritas que para serem consideradas constitucionais bastam aderir formalmente ao texto, independentemente do seu conteúdo.

Aqui, como se percebe, a preocupação é com a forma, pouco importando o substrato material da norma. A Constituição brasileira de 1988 é formal, e um exemplo típico dessa identificação é o art. 242, § 2º, segundo o qual “O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal”.

Como se percebe, tem-se aí uma norma que é considerada constitucional pelo sim-ples fato de ter aderido formalmente ao texto, já que é nítida a ausência de qualquer relevância constitucional em seu conteúdo.

Vale lembrar que como característica desse tipo de Constituição, não há que se falar em hierarquia entre as próprias normas da Lei Fundamental. Isso porque, formalmente falando, todas aderiram ao texto.

Assim, na trilha desse raciocínio, alguns concursos já questionaram se existe hierar-quia entre as normas da própria Constituição.

A resposta é negativa. Apesar das questões, normalmente, não especificarem a hie-rarquia a que se referem (se formal ou material), no silêncio, leia-se hierarquia formal. E formalmente falando, inexiste qualquer subordinação hierárquica.

Nessa esteira, pode-se concluir que o princípio da dignidade da pessoa humana, insculpido no art. 1º, III, da Magna Carta, fundamento da República Federativa do Brasil, possui - do ponto de vista formal - a mesma posição hierárquica da norma do art. 242, § 2º, da CF/88, que, como visto, versando sobre o Colégio Pedro II, é norma desprovida de qualquer relevância constitucional.

Entretanto, como já alertado, caso a questão se refira à hierarquia material, aí não há dúvidas.

De fato, do ponto de vista substancial, valorativo ou axiológico, existe, sim, hierarquia entre as normas da Constituição da República.

Não há como negar que o substrato material das normas consagradoras de direitos e garantias fundamentais, por exemplo, superam (e muito!) a importância de outras nor-mas de mera organização administrativa.

Cabe alertar que essa regra segundo a qual a Constituição brasileira é formal começou a ser mitigada a partir da inserção do § 3º ao art. 5º da Constituição Federal de 1988.

É que, segundo esse dispositivo, os tratados e convenções internacionais, que versem sobre direitos humanos, se forem aprovados em cada casa do Congresso Nacional, através do mesmo procedimento das emendas constitucionais, serão equivalentes às mesmas.

Ou seja, dessa forma, será possível a existência de uma norma que tem status cons-titucional, mesmo estando fora da Constituição, é dizer, mesmo não tendo aderido for-malmente ao texto, seja por obra do poder constituinte originário, seja por obra do poder constituinte derivado reformador.

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AtençãoTodavia, para provas objetivas, continuar com o posicionamento segundo o qual, quanto ao conteúdo, a Constituição brasileira se classifica como formal.

3.2 QUANTO À FORMAQuanto à forma, a Constituição pode ser classificada como: escrita ou não escrita.

Lembrando que as Constituições escritas também podem ser chamadas de instru-mentais, ao passo que as Constituições não escritas também podem ser chamadas de costumeiras ou consuetudinárias.

• Escrita

A Constituição escrita, com o próprio nome sugere, seria o complexo de normas que estão disciplinadas formal e solenemente em um único documento exaustivo de todo o seu conteúdo.

Assim, Constituição escrita é aquela cujas normas estão plasmadas em um docu-mento único que as consolida e sistematiza. São exemplos de Constituições escritas a brasileira, a espanhola, a portuguesa etc.

De mais a mais, do mesmo modo como foi advertido em relação à Constituição for-mal, é preciso perceber que o art. 5º, § 3º, da CF/88, passou a permitir que tratados inter-nacionais sobre direitos humanos, aprovados com o mesmo procedimento das emendas constitucionais, possuam o mesmo status que as normas da própria Constituição Federal, mesmo estando situados fora dela.

Nesse sentido, doutrinadores como Paulo Bonavides já sinalizam a existência de uma Constituição legal, ou seja, uma Constituição escrita e que se apresenta esparsa ou frag-mentada em textos.

Atenção: Porém, para provas objetivas, adotar o posicionamento de que a Constituição brasileira é es-crita, guardando o raciocínio esposado acima para possível questão de prova dissertativa.

Além da brasileira, ainda como exemplos de Constituições escritas no direito com-parado, podem ser citadas as duas primeiras: a Constituição norte-america (de 17 de setembro de 1787) e a Constituição francesa, de 1791.

Lembrando que a norte-americana, à luz do escólio de Paulo Bonavides, voz autoriza-da na matéria, é uma constituição escrita, porém complementada pelos costumes e pela doutrina da revisão judicial (precedentes judiciais).

• Não escrita

De outra banda, Constituição não escrita (costumeira ou consuetudinária), ao con-trário do que o próprio nome pode sugerir, não significa a Constituição que não possui nenhuma passagem escrita.

Chama-se de não escrita a Constituição que esta pautada em textos esparsos, usos, costumes, convenções, e na evolução da própria jurisprudência.

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Assim, não restam dúvidas de que a Constituição não escrita possui, sim, partes escritas.

Ocorre que essas partes escritas não estão dispostas formalmente em um único docu-mento. Ao revés, podem ser encontradas em textos esparsos, dispersos e extravagantes.

O exemplo mais ventilado de Constituição não escrita, no mundo, é a Constituição da Inglaterra, uma Constituição calcada, essencialmente, nos costumes.

Advirta-se, entretanto, que, contemporaneamente, inexistem Constituições totalmen-te costumeiras, pautadas, apenas, na evolução da jurisprudência, nos usos e costumes.

A Constituição inglesa possui, por exemplo, a Magna Carta (1215), o Petition of Rights (1628), o Habeas Corpus Act (1679), o Bill of Rights (1689), dentre outros diplomas norma-tivos esparsos que, junto com os costumes e com a jurisprudência, formam, no conjunto global, a Constituição da Inglaterra.

3.3 QUANTO À ORIGEMQuanto à origem uma Constituição pode ser classificada como: promulgada, outorga-

da, cesarista ou pactuada.

• Promulgada

Promulgada, também chamada de votada, popular, democrática, é aquela Constitui-ção que conta com a participação popular no seu processo político de elaboração.

No Brasil, como exemplos de Constituições promulgadas é possível citar: a Consti-tuição Republicana, de 1891, a Constituição de 1934 (calcada na democracia social), a Constituição de 1946 (instituidora de um processo de redemocratização no Brasil) e a Constituição Cidadã de 1988, também fruto de uma Assembleia Nacional Constituinte.

• Outorgada

Outorgada, também chamada de imposta ou carta política, é aquela Constituição que não conta com a participação popular no seu processo político de elaboração.

São Constituições impostas unilateralmente pelo grupo, governante ou agente revolucionário.

No Brasil, como exemplo de Constituições outorgadas tem-se: a Constituição Imperial, de 1824, a Constituição Polaca, de 1937, e as Constituições do regime militar, de 1967, juntamente com a EC n. 1/69, que formalmente era uma emenda, mas do ponto de vista material era uma constituição escancaradamente outorgada pela junta militar.

Já caiu!O concurso de Técnico Administrativo do TRE/ES, em 2011, com o Cespe, trouxe o seguinte enunciado. Denomina-se constituição outorgada a elaborada e estabelecida com a participação do povo, normalmente por meio de Assembleia Nacional Constituinte.Neste caso a assertiva está equivocada, pois o conceito apresentado na questão corresponde ao de Constituição promulgada.

• Cesarista

Cesarista, por sua vez, seria aquela Constituição imposta por um ditador uma junta

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militar e submetida à posterior aprovação popular.

Neste caso, a participação do povo não é democrática, afinal, visa apenas e tão-so-mente confirmar a vontade do detentor do poder. Os exemplos normalmente apontados pela doutrina são os de Augusto Pinochet, no Chile, e Napoleão Bonaparte, na França.

• Pactuada

Finalmente, Constituição pactuada seria aquela constituição firmada por um pacto, um acordo entre duas forças políticas adversárias. Como exemplos de Constituições pac-tuadas a doutrina aponta as Constituições espanholas de 1845 e 1876.

3.4 QUANTO À ESTABILIDADE, MUTABILIDADE, CONSISTÊNCIA OU ALTERABILIDADE

Quanto à estabilidade, mutabilidade, consistência ou alterabilidade uma Constituição pode ser classificada como: imutável, fixa, rígida, semirrígida (também chamada de se-miflexível) ou flexível.

• Imutável

Imutável, como o próprio nome sugere, é aquela Constituição que não admite altera-ção no seu texto, por isso mesmo também são chamadas de permanentes, graníticas ou intocáveis. São aquelas Constituições que se pretendem eternas.

Como as Constituições devem ser entendidas como organismos vivos, portanto, abertos às evoluções sociológicas, é possível concluir que as Constituições imutáveis estão fadadas ao insucesso.

• Fixa

Fixa, por sua vez, é aquela Constituição cuja alteração depende da convocação do próprio poder constituinte originário.

Também são chamadas de Constituições silenciosas pelo fato de não estabelecerem, de modo expresso, o seu trâmite de reforma.

É uma espécie de Constituição também fadada ao insucesso, já que é inconcebível a ideia de convocação do próprio poder constituinte originário, toda vez que se quiser alterar a Constituição.

• Rígida

Já sobre a Constituição rígida, a primeira coisa a ser dita é que, de fato, ela admite alteração no seu texto.

Assim, rígida é aquela Constituição que pode ser alterada, mas cujo processo legis-lativo de alteração é mais formal, solene, complexo e dificultoso do que o processo de alteração das demais normas não constitucionais.

Sobre essa espécie de Constituição, pode-se concluir que a maioria das Constituições do mundo são rígidas.

Ainda, é correto afirmar que todas as Constituições brasileiras republicanas foram

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rígidas, inclusive a atual Constituição da República de 1988.

A única Constituição do Brasil que não seguiu a mesma trilha foi a Constituição Impe-rial de 1824, considerada semirrígida, como será explicado.

A rigidez da Constituição brasileira de 1988 pode ser percebida à luz do seu art. 60, que traz as regras procedimentais para a apresentação e aprovação de uma PEC (proposta de emenda à Constituição).

Uma dessas regras estabelece, por exemplo, a necessidade de aprovação pelo quó-rum de 3/5 dos membros de cada casa (Câmara dos Deputados e Senado Federal), em dois turnos, com votação separada e desde que não esteja em vigência intervenção federal, estado de defesa ou estado de sítio. Lembrando que este assunto será deta-lhado mais à frente.

Já caiu!O concurso de Juiz do TJ/MS, em 2009, com o Cespe, trouxe o seguinte enunciado. Toda Constituição rígida é escrita.De fato, a assertiva está correta. Isso porque a noção de rigidez pressupõe uma Constituição escrita.

Essa mesma prova trouxe outro enunciado.

Já caiu!Nem toda Constituição escrita é rígida. Aqui o enunciado também está correto. Muito embora exista a regra segundo a qual as Constituições escritas são rígidas, não existe impedimento à existência de uma Constituição escrita e flexível.

A questão da rigidez constitucional também já foi cobrada junto com o tema do con-trole de constitucionalidade.

Já caiu!O Exame da OAB, em 2009, com o Cespe, trouxe o seguinte enunciado. Entre os pressupostos do controle de constitucionalidade, destacam-se a supremacia da CF e a rigidez constitucional.De fato, também aqui, a assertiva está correta. Para haver controle de constitucionalidade é preciso que haja uma Constituição formal, rígida (portanto suprema) e pelo menos um órgão com competência para o exercício do controle.

• Semirrígida ou semiflexível

Semirrígida ou semiflexível é o tipo de Constituição que abarca, num só tempo, carac-terísticas da Constituição rígida, bem como características da Constituição flexível.

Assim, semirrígida é aquela Constituição que possui uma parte que dispensa forma-lidade para alteração, e outra que reclama e exige esse formalismo.

Parte dela pode ser alterada informalmente, do mesmo modo como se altera as de-mais normas não constitucionais, e outra parte só pode ser alterada por um processo mais solene, complexo e dificultoso.

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A doutrina sempre ventila como exemplo de Constituição semirrígida ou semiflexível a Constituição Imperial de 1824, notadamente em face do disposto no seu art. 178.

Através deste dispositivo (substancialmente falando), separou-se a matéria constitu-cional (que exigia formalidade para alteração), da matéria não constitucional, (que, por sua vez, dispensava tal formalismo).

• Flexível

Ainda, se diz flexível aquela Constituição cujas normas podem ser alteradas do mes-mo modo como se alteram as normas infraconstitucionais, vale dizer, sem a necessidade de um processo formal, solene, complexo e dificultoso.

Nesse passo, pelo menos formalmente falando, é possível perceber que não existe hierarquia entre as normas de uma Constituição flexível e as normas infraconstitucionais.

Essa Constituição, portanto, não é dotada de supremacia formal. E essa ausência de supremacia conduz ao raciocínio de que as Constituições flexíveis, a rigor, não podem servir de parâmetro para controle de constitucionalidade.

Por fim, ainda no quesito quanto à estabilidade, cabe alertar que alguns doutrina-dores como Alexandre de Moraes classificam a Constituição brasileira como superrígida.

Isso porque, como se não bastasse possuir um processo legislativo de alteração mais complexo e dificultoso do que o processo de modificação das demais normas infraconsti-tucionais, ainda possui um grupo de normas que se apresentam como imutáveis. São as chamadas cláusulas pétreas, previstas no art. 60, § 4º, CF/88.

Entretanto, necessário registrar que essa posição não vem prevalecendo nas provas e concursos.

O motivo da não adoção pelas bancas é simples: o próprio Supremo Tribunal Federal vem sinalizando no sentido de que as normas que constituem cláusulas pétreas não po-dem é ser abolidas (ou ser objeto de emenda constitucional tendente à abolição).

Ou seja, a CF/88 não disse que tais normas são imutáveis, ou mesmo que não podem ser objeto de restrição.

Assim, a partir desse raciocínio, tem-se que é plenamente legítima a alteração para ampliação do alcance interpretativo das cláusulas, bem como sua eventual restrição, no caso concreto, a partir de uma ponderação de interesses pautada na razoabilidade e na proporcionalidade.

3.5 QUANTO À EXTENSÃOQuanto à extensão uma Constituição pode ser classificada como: sintética (também

chamada de enxuta, concisa, breve, sumária, sucinta, básica), ou analítica (também cha-mada de prolixa, ampla, extensa, larga, longa, volumosa, inchada).

• Sintética

Sintética seria a Constituição que não desce a pormenores nos assuntos, se limitando a tratar dos princípios básicos estruturantes do Estado.