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Direito Econômico 11

QUESTÕES

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO ECONÔMICO

CR/88: arts. 24, VIII; 170; 174.

01. (Cespe – Juiz Federal Substituto 5ª região/ 2011)

No que se refere à ordem jurídico-econômica, assinale a opção correta.

a) O modelo político adotado pelo Estado brasileiro, conforme previsto na CF, é imposto pela ordem econômica vigente no mercado.

b) As normas econômicas dispostas na CF são de natu-reza essencialmente estatutária, e não, diretiva.

c) Regime político e ordem econômica equivalem-se do ponto de vista conceitual.

d) Na CF, a ordem jurídico-econômica estabelece limi-tes ao exercício da atividade econômica e define, de maneira exclusiva, a estrutura do sistema econô-mico a ser adotado pelo Estado brasileiro.

e) A mudança dos paradigmas liberais na atividade econômica, com a inclusão da obrigatória obser-vância de princípios como o da dignidade da pes-soa humana, deveu-se à atuação do próprio Estado, que passou a intervir no mercado em busca do bem coletivo.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: a presente questão é extrema-mente interessante ao abordar a um só tempo o aspecto evolutivo do direito econômico e a relação entre ordem econômica e modelo político adotado pelo país. Isso demonstra que para concursos mais complexos como Magistratura Federal ou Ministério Público Federal não basta ao candidato apenas a fixação de conceitos da Constituição. Ainda que seja imprescindível o conheci-mento da norma, é imperioso cotejá-la com a evolução

do Direito Econômico e a sua relação com as ciências políticas e econômicas.

Alternativa correta: letra “e”: a mudança dos paradigmas liberais na atividade econômica, com a inclusão da obrigatória observância de princípios como o da dignidade da pessoa humana, deveu-se à atuação do próprio Estado, que passou a intervir no mercado em busca do bem coletivo. Nestes termos, José Afonso da Silva ensina: “Um regime de justiça social será aquele em que cada um deve poder dispor dos meios materiais para viver confortavelmente segundo as exigências de sua natureza física, espiritual e política. Não aceita as profundas desigualdades, a pobreza absoluta e a misé-ria. O reconhecimento dos direitos sociais, como instru-mentos de tutela dos menos favorecidos, não teve, até aqui, a eficácia necessária para reequilibrar a posição de inferioridade que lhes impede o efetivo exercício das liberdades garantidas. Assim, no sistema anterior, a pro-messa constitucional de realização da justiça social não se efetivara na prática. A Constituição de 1988 é ainda mais incisiva no conceber a ordem econômica sujeita aos ditames da justiça social para o fim de assegurar a todos existência digna. Dá à justiça social um con-teúdo preciso. Preordena alguns princípios da ordem econômica – a defesa do consumidor, a defesa do meio ambiente, a redução das desigualdades regionais e pesso-ais e a busca do pleno emprego – que possibilitam a com-preensão de que o capitalismo concebido há de huma-nizar-se (se é que isso seja possível). Traz, por outro lado, mecanismos na ordem social voltados à sua efetivação” (SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 789-790).

Alternativa “a”: está incorreta, pois mistura o modelo político adotado pelo Estado brasileiro (regime democrático, forma republicana e sistema presidencia-lista) com o conceito de ordem econômica. Ademais, na Constituição o modelo político não é determinado pela ordem econômica vigente, são duas esferas distintas que se inter-relacionam, pois a economia influencia a política e vice-versa, mas não há uma predeterminação de uma sobre a outra na Constituição.

Direito Econômico

Danilo Vieira Vilela

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Alternativa “b”: as normas econômicas dispostas na CF são de natureza essencialmente diretiva. Neste sentido, ensina Eros Grau: “Ora, se tomarmos a Consti-tuição dirigente como aquela oposta à Constituição esta-tutária ou orgânica, teremos que a atual Constituição Brasileira permanece dirigente” (GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 364). Importante lembrar, con-forme esclarece Eros Grau, que Constituição dirigente ou programática é aquela que é mais do que um instru-mento de governo, pois enuncia diretrizes, programas e fins a serem seguidos pelo Estado e sociedade, são mais do que um mero estatuto jurídico (Constituição estatu-tária), a Constituição dirigente é um verdadeiro plano normativo (GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 78).

Alternativa “c”: Regime político e ordem econô-mica são conceito distintos. Regime político é a forma como o governo administra seu poder, ou seja, como ele se relaciona com a sociedade e como lida com a sua sucessão. Já ordem econômica é um conceito muito próximo de Constituição Econômica, como aponta Eros Grau, ordem econômica é uma parcela da ordem jurí-dica, ou seja, “um conjunto de princípios jurídicos de conformação do processo econômico, desde uma visão macrojurídica, conformação que se opera mediante o condicionamento da atividade econômica a determi-nados fins políticos do Estado” (GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 70).

Alternativa “d”: na CF, a ordem jurídico-econô-mica não estabelece limites ao exercício da atividade econômica e nem define, de maneira exclusiva, a estru-tura do sistema econômico a ser adotado pelo Estado brasileiro. Assim, como pode se observar da análise do art. 170 a Constituição não estabelece limites, mas sim parâmetros, isto é, fins a serem alcançados. Neste sentido, José Afonso da Silva ensina que os princípios da ordem econômica “revelam, assim, um compromisso apenas entre as forças políticas liberais e tradicionais e as reivindicações populares de justiça social. Consubs-tanciam os direitos econômicos e sociais, embora nem sempre com eficácia capaz de atender ditas reivindica-ções de maneira satisfatória. A despeito disso, pode-se dizer que, assim como as declarações dos direitos do homem do século XVIII postularam a realização dos valores jurídicos da segurança, da ordem e da certeza, as declarações constitucionais dos direitos econômicos e sociais, reveladas nesses elementos socioideológicos, pretendem a realização do valor-fim do Direito: a justiça social, que é uma aspiração do nosso tempo, em luta aberta contra as injustiças do individualismo capitalista” (SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 788).

02. (Cespe – Juiz Federal Substituto 2ª região/ 2011)

A respeito de institutos de direito econômico, assinale a opção correta.

a) O princípio econômico da defesa do consumidor não é violado por resolução de autoridade estadual que, no livre exercício do poder de polícia, disci-pline horário de funcionamento de estabelecimen-tos comerciais e matérias específicas de consumo do interesse da unidade da Federação.

b) Segundo a jurisprudência do STF, o Estado-mem-bro está autorizado a alterar relações jurídico-con-tratuais entre o poder concedente municipal e as empresas concessionárias, desde que mediante lei específica e existência de substrato fático emba-sado no interesse público coletivo de natureza eco-nômica.

c) No plano econômico, a concepção de Estado liberal é fruto direto das doutrinas de Adam Smith, para quem a harmonia social seria alcançada por meio da liberdade de mercado, aliando-se a persecução do interesse privado dos agentes econômicos a ambiente concorrencialmente equilibrado.

d) A ordem econômica em sentido estrito é a parcela da ordem de fato, inerente ao mundo do ser, ou seja, o tratamento jurídico dispensado para discipli-nar as relações jurídicas decorrentes do exercício de atividades econômicas.

e) O conceito de Estado intervencionista econômico surgiu como reação contrária aos postulados do Estado liberal, com o fito de garantir o exercício racional das liberdades individuais, afastando a doutrina liberalista por completo no âmbito eco-nômico para materializar os princípios da defesa do mercado e da concorrência.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: para aprofundar o estudo sobre as formas de posicionamento econômico do Estado, vale registar o ensinamento de Leonardo Vizeu Figuei-redo: o Estado participa de atividades de cunho eco-nômico, sob as seguintes formas: Estado liberal (Adam Smith), Estado intervencionista econômico (John May-nard Keynes), Estado intervencionista social (Welfare State), Estado intervencionista socialista (economia pla-nificada) e Estado regulador (papel subsidiário do Poder Público) (FIGUEIREDO. Leonardo Vizeu. Lições de direito econômico. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 39-45).

Alternativa correta: letra “c”: no plano econô-mico, a concepção de Estado liberal é fruto direto das doutrinas de Adam Smith, para quem a harmonia social seria alcançada por meio da liberdade de mercado, aliando-se a persecução do interesse privado dos agen-tes econômicos a ambiente concorrencialmente equili-brado. Neste sentido ensina Leonardo Vizeu Figueiredo: “O Estado Liberal igualmente se assenta na liberdade de mercado, na qual o sistema econômico fica sujeito à auto-organização (autorregulação) da economia, não sofrendo qualquer influência ou interferência estatal [...]. Consubstancia-se, no plano jurídico, no princípio da autonomia de vontades privadas, no dirigismo con-tratual e no caráter absoluto dos direitos privados, tais

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Direito Econômico 13

como a propriedade e a liberdade. No plano econô-mico, o Estado Liberal é fruto direto das doutrinas do filosofo escocês Adam Smith, que defendia que a har-monia social seria alcançada por meio da liberdade de mercado, aliando-se a persecução do interesse privado dos agentes econômicos a um ambiente concorrencial-mente equilibrado. Por meio do devido processo com-petitivo, os agentes mais aptos iriam se sobressair sobre os menos eficientes, sendo estes naturalmente elimina-dos”. (FIGUEIREDO. Leonardo Vizeu. Lições de direito eco-nômico. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 40)

Alternativa “a”: a distribuição constitucional de competências é violada por lei (a via correta é a lei e não resolução) de autoridade estadual que, no exercício de sua atividade legislativa (e não poder de polícia) disci-pline horário de funcionamento de estabelecimentos comerciais, tendo em vista que se trata de competência dos Municípios, conforme súmula 646 do STF (“É com-petente o município para fixar o horário de funciona-mento de estabelecimento comercial”). Vale observar que a competência para legislar sobre direito do con-sumidor é concorrente, nos termos do art. 24, VIII da Constituição.

Alternativa “b”: segundo a jurisprudência do STF, o Estado-membro não está autorizado a alterar rela-ções jurídico-contratuais entre o poder concedente municipal e as empresas concessionárias. Neste sen-tido: “Concessão de serviços públicos – Invasão, pelo Estado-membro, da esfera de competência da União e dos Municípios. (...) Os Estados-membros – que não podem interferir na esfera das relações jurídico-contra-tuais estabelecidas entre o poder concedente (quando este for a União Federal ou o Município) e as empresas concessionárias – também não dispõem de competên-cia para modificar ou alterar as condições, que, previs-tas na licitação, acham-se formalmente estipuladas no contrato de concessão celebrado pela União (energia elétrica – CF, art. 21, XII, b) e pelo Município (forneci-mento de água – CF, art. 30, I e V), de um lado, com as concessionárias, de outro, notadamente se essa inge-rência normativa, ao determinar a suspensão tempo-rária do pagamento das tarifas devidas pela prestação dos serviços concedidos (serviços de energia elétrica, sob regime de concessão federal, e serviços de esgoto e abastecimento de água, sob regime de concessão muni-cipal), afetar o equilíbrio financeiro resultante dessa relação jurídico-contratual de direito administrativo” (ADI 2.337-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 20-2-2002, Plenário, DJ de 21-6-2002).

Alternativa “d”: a alternativa mistura os dois senti-dos de ordem econômica propostos por Eros Grau. Vale registrar o didático ensinamento de Leonardo Vizeu: “a ordem econômica, consoante o tratamento que lhe foi dado pelo legislador constituinte de outubro de 1988, assume duas vertentes conceituais, uma ampla e outra estrita: a) ampla: parcela da ordem de fato, inerente ao mundo do ser. Isto é, o tratamento jurídico dispensado para disciplinar as relações jurídicas decorrente do exer-cício de atividades econômicas. É a regulação jurídica da intervenção do Estado na economia. b) estrita: parcela

da ordem de direito, inerente ao mundo do dever-ser. Isto é, o tratamento jurídico dispensado para disciplinar o comportamento dos agentes econômicos no mer-cado. É a regulação jurídica do ciclo econômico (pro-dução, circulação e consumo).” (FIGUEIREDO. Leonardo Vizeu. Lições de direito econômico. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 39).

Alternativa “e”: o conceito de Estado interven-cionista econômico surgiu como reação contrária aos postulados do Estado liberal, com o fito de garantir o exercício racional das liberdades individuais. O Estado intervencionista econômico não se afasta por completo da doutrina liberalista, apenas busca coibir os excessos e distorções do liberalismo. Neste sentido, Leonardo Vizeu ao pontuar o Estado intervencionista econômico destaca que “nesta forma de participação estatal na economia, o Estado atua como o fito de se garantir o exercício racional das liberdades individuais. A política intervencionista não visa ferir os postulados liberais, mas, tão somente, fazer com que o Estado coíba o exer-cício abusivo e pernicioso do liberalismo”. (FIGUEIREDO. Leonardo Vizeu. Lições de direito econômico. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 41).

03. (Cespe – Juiz Federal Substituto 5ª região/ 2011)

No que se refere a liberalismo e intervencionismo, assi-nale a opção correta.

a) A atuação do Estado, seja por meio do condiciona-mento da atividade econômica, seja por meio da exploração direta de determinada atividade econô-mica, anula, por inteiro, a forma econômica capita-lista prevista na CF.

b) O intervencionismo valoriza o indivíduo como agente econômico e ente responsável pela condu-ção das regras de mercado.

c) Com o liberalismo, buscou-se atingir a justiça social por meio da imposição de regras estatais na condu-ção da atividade econômica, sem se considerar o lucro.

d) O objetivo do liberalismo foi o de livrar o indivíduo da usurpação e dos abusos do poder estatal na con-dução da atividade econômica.

e) O intervencionismo visava proteger o Estado dos abusos advindos do liberalismo, como foi o caso da concorrência desleal entre os indivíduos e o Estado.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: a questão versa sobre a evolu-ção histórica da intervenção do Estado na esfera econô-mica, o que evidencia a relação entre Direito e História. Isso demonstra que compreender as causas e consequ-ências de importantes momentos da história, tais como a Revolução Francesa e a II Guerra Mundial, é impres-cindível para uma melhor compreensão do fenômeno jurídico.

Alternativa correta: letra “d”: o objetivo do libe-ralismo foi o de livrar o indivíduo da usurpação e dos

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Direito Econômico 101

a) apesar de constituir um mercado comum, seus tra-tados constitutivos determinam, como seu objetivo último, a conformação de uma união econômica e monetária.

b) seu sucesso político pode ser comprovado pelas recentes adesões do Chile e da Venezuela.

c) foi criado em 1991, pelo Tratado de Assunção. Ape-sar de reestruturado em 1994 pelo Tratado de Ouro Preto, constitui ainda uma união aduaneira.

d) o Protocolo de Olivos estipula os critérios para a harmonização tributária entre seus Estados Mem-bros, inclusive com a harmonização de tributos entre os entes federativos.

e) em razão de dispositivo das constituições dos Esta-dos Membros, os tratados do Mercosul têm força de emenda constitucional e aplicabilidade imediata após ratificação.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: o processo de integração relacio-nado ao Mercosul vem sendo reiteradamente cobrado nas provas da ESAF. Apesar disso, as questões giram, tra-dicionalmente sobre os mesmos assuntos: natureza jurí-dica, principais órgãos, Estados-membros e principais tratados. Assim, é um tema que merece ser estudado com muito cuidado, pois pode aparecer em questões ligadas a Direito Internacional ou a Direito Econômico.

Alternativa correta: letra “c”: o Mercosul foi criado em 1991 pelo Tratado de Assunção e, com o Protocolo de Ouro Preto de 1994, passou a contar com persona-lidade jurídica própria. Também é correto afirmar que ele ainda se encontra no estágio de união aduaneira, cuja principal característica é a presença da TEC (Tarifa Externa Comum), que consiste na alíquota cobrada sobre a importação de produtos originários de fora do bloco a qual, por sua vez, comporta exceções definidas pelos respectivos Estados-membros (VARELA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 382). Diante da existência dessas listas de exce-ções, alguns entendem que o Mercosul deve ser consi-derado uma união aduaneira imperfeita ou incompleta.

Alternativa “a”: o Tratado de Assunção (1991), principal norma do Mercosul estabelece em seu art. 1º que “Os Estados-Partes decidem constituir um Mercado Comum, que deverá estar estabelecido a 31 de dezem-bro de 1994, e que se denominará ’Mercado Comum do Sul’ (MERCOSUL)”. Assim, a constituição desse Mercado Comum implica, conforme o mesmo art. 1º do Tratado de Assunção: a livre circulação de bens, serviços e fato-res produtivos entre os países, através, entre outros, da eliminação dos direitos alfandegários e restrições não tarifárias à circulação de mercadorias e de qualquer outra medida de efeito equivalente; o estabelecimento de uma tarifa externa comum e a adoção de uma polí-tica comercial comum em relação a terceiros Estados ou agrupamentos de Estados e a coordenação de posições em foros econômico-comerciais regionais e internacio-nais; a coordenação das políticas macroeconômicas e

setoriais entre os Estados-Partes e o compromisso dos Estados-Partes de harmonizar suas legislações para lograr o fortalecimento do processo de integração. Ou seja, dentre os objetivos do Mercosul não há nada que sinalize para a conformação de uma união econômica e monetária.

Alternativa “b”: além de seus quatro Estados fun-dadores (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), o Mer-cosul, desde 2012 conta também com a participação da Venezuela. Já o Chile é apenas um Estado associado, desde 1996.

Alternativa “d”: ao contrário do que afirma o enunciado, o Protocolo de Olivos (Argentina), concluído em 18 de fevereiro de 2002, não cuida da harmonização tributária, mas sim de meios para a solução de contro-vérsias no âmbito do Mercosul. Dentre outros aspectos, merece destaque o fato de referido Protocolo ter criado o Tribunal Ad Hoc para o Mercosul, com sede em Assun-ção, no Paraguai.

Alternativa “e”: não existe qualquer disposição no sentido de se conferir aos tratados do Mercosul força de Emenda Constitucional e nem mesmo de conferir-lhes aplicabilidade imediata. Cumpre lembrar que, no Brasil, apenas terão força de Emenda Constitucional os “trata-dos e convenções internacionais sobre direitos huma-nos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros”, conforme disposição expressa do §3º do art. 5º da Constituição.

DICAS

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO ECONÔMICO

A Economia disciplina a relação demandas huma-nas (ilimitadas) x recursos naturais (limitados)

Sistemas Econômicos

Sistema de

Tradição

Padrões imemorialmente estabelecidos e repetidos;

O que produzir? Itens necessários à repro-dução dos padrões anteriores.

Como produzir? Conforme critérios ante-riores, cada um ocupando seu status no processo.

Para quem produzir? Cada um fará jus a uma parte da produção conforme a posi-ção ocupada na sociedade.

Pressuposto psicológico-comportamen-tal: adesão a um conjunto de valores de índole mágico-religiosa.

Controle: repúdio natural da sociedade.

Aceno Histórico: desde as origens da vida humana até a Idade Moderna.

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102 Danilo Vieira Vilela

Sistemas Econômicos

Sistema de

Autoridade

Justaposição dos planos decisórios polí-tico e econômico. Apropriação coletiva dos meios de produção.

O que produzir? Decisão a ser tomada pelo órgão gestor da economia que determi-nará as metas de produção (sistema de planejamento ou planificado).

Como produzir? Também dependerá do planejamento.

Para quem produzir? Hierarquia salarial e níveis de remuneração definidos pelo Estado que também fixa os preços, deter-minando o perfil distributivo da sociedade.

Pressuposto psicológico-comportamen-tal: crença na capacidade de execução dos órgãos centrais de direção da economia (descrença no sistema da autonomia).

Controle: exercido pela hierarquia político--administrativa

Aceno Histórico: de forma bastante variada, o sistema foi adotado em con-textos de rígida planificação da economia como nas ditaduras da América Latina e nos países inspirados pela Revolução russa de 1917.

Sistema de

Autonomia

Separação total entre os planos decisórios político (Estado) e econômico (particula-res).

O que produzir? Decisão dependente das preferências dos consumidores (sistema de autonomia ou descentralizado).

Como produzir? Conforme o mecanismo de atendimento às necessidades dos con-sumidores.

Para quem produzir? Regras determinadas pelo mercado.

Pressuposto psicológico-comportamen-tal: crença na capacidade coordenadora do mercado e o princípio hedonista.

Controle: impessoal e automático, vincu-lado à eficiência do agente econômico.

Aceno Histórico: resultado de eventos his-tóricos de cunho liberal como a Revolução Francesa, a Revolução Industrial e a Inde-pendência dos EUA.

NUSDEO, Fábio. Curso de Economia: introdução ao Direito Econômico. 4.ed. São Paulo: RT, 2005. p. 103-125.

Direito Econômico “disciplina autônoma do Direito, interdisciplinar jurídica e econômica, que se ocupa do tratamento jurídico da política econômica do Estado e da relação entre os indivíduos e os agentes de mercado, para alcançar o bem-estar social e, conse-quentemente, promover o desenvolvimento socioeco-nômico, a partir da utilização do princípio da economi-cidade, traduzindo o conceito de eficiência em justiça” (BAGNOLI, Vicente. Direito Econômico. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 23).

Atuação do Direito Econômico: tanto perante o Poder Público quanto diante de agentes econômicos privados (pelo Estado e ao Estado).

Competência Legislativa: concorrente. Princípio da subsidiariedade. A União cria normas gerais não exaustivas.

Art. 24, da CR/88: “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I. direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico.”

Art. 30, da CR/88: “Compete aos Municípios: I. legis-lar sobre assuntos de interesse local”.

Nesse sentido: “É competente o município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento comercial” (STF, Súmula 646)

* Cuidado: “1. Direito Monetário: competência

legislativa privativa da União: critérios de con-versão em URV dos valores fixados em Cruzeiro Real: aplicação compulsória a Estados e Municí-pios, inclusive aos vencimentos dos respectivos servidores, que impede a incidência de diferente legislação local a respeito. Precedente: RE 291.188, 1ª T, 8.10.2002, Pertence, DJ 14.11.02. 2. Agravo regi-mental: inviabilidade: matéria excluída do acórdão recorrido, por não ter sido objeto do pedido inicial” (STF, RE 506537/RN, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 02.03.2007).

Normas de direção: conteúdo imperativo, deter-minante e coercitivo.

Normas de indução: meios de o Estado estimular o agente econômico privado a aderir a determinada polí-tica econômica.

CR/88, art. 174. Como agente normativo e regu-lador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e pla-

nejamento, sendo este determinante para o setor

público e indicativo para o setor privado.

Princípios do Direito Econômico:

• Princípio da justiça social

• Princípio da soberania nacional

• Princípio da dignidade da pessoa humana

• Princípio da intervenção estatal

• Princípio da subsidiariedade

• Princípio da segurança jurídica e econômica

• Princípio da supremacia do interesse público

• Princípio da vinculação da política econômica

• Princípio da moralidade

• Princípio da economicidade

• Principio da transparência ou da publicidade

• Princípio do risco da atividade econômica

• Princípio da lucratividade

• Princípio da razoabilidade e da proporcionalidade

Sistemas ou modelos econômicos

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Direito Econômico 103

a) Capitalismo: liberdade econômica como regra (livre iniciativa, livre concorrência e livre contratação de mão-de-obra), respeito à propriedade privada e soberania do consumidor. Economia de mercado ou descentralizada modelo adotado no Brasil.

Agentes econômicos (lucro) x consumidor (menor gasto) eficiência na produção

b) Socialismo: propriedade coletiva dos meios de produção e monopólio da autoridade estatal. Eco-nomia centralizada (planificação da economia pelo Estado).

Evolução dos modelos de Estado:

• Feudalismo (séculos XV a XVIII)

- Centralização estatal da economia;

• Estado liberal

- Pós-Revolução Francesa de 1789 limitação ao poder monárquico e feudal;

- Liberdades econômicas e individuais (laissez--faire);

- Individualismo;

- Livre iniciativa = autonomia da vontade + pacta sunt servanda;

- Caráter absoluto da propriedade privada;

- Críticas ao Estado liberal: Encíclica Rerum Nova-rum (Papa Leão XIII) e Manifesto do Partido Comunista (Marx e Engels).

• Estado Democrático de Direito

- Crise do modelo liberal necessidade de inter-venção do Estado para consagrar o sistema capitalista;

- Intervenção caracterizada pela subsidiarie-dade;

- Intervenção direta;

- Livre iniciativa nos padrões estabelecidos pelo Poder Público, sobretudo em respeito ao con-sumidor e ao meio ambiente;

- Dignidade humana;

- Função social da propriedade.

2. ORDEM ECONÔMICA CONSTITUCIONAL

Constituição Econômica: “conjunto de preceitos que institui determinada ordem econômica (mundo do ser) ou conjunto de princípios e regras essenciais orde-nadoras da economia”. (GRAU, Eros. A ordem econômica na Constituição de 1988. 12.ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 81).

a) Formal: “parcela da Constituição que abriga e inter-preta o sistema econômico (material), ou seja, que confere forma ao sistema econômico (no caso brasi-leiro, em sua essência, capitalista) (TAVARES, André Ramos. Direito Constitucional Econômico. 2.ed. São Paulo: Método, 2006. p. 78);

b) Material: todas as normas que versam sobre a eco-nomia, estejam ou não no texto constitucional.

Constituição econômica brasileira: função de organização da atividade econômica e de limitação do poder econômico tendo como pressuposto que o prin-cipal agente econômico é o particular.

Ordem econômica: “é a expressão de um certo arranjo econômico, dentro de um específico sistema econômico, preordenado juridicamente. É a sua estru-tura ordenadora, composta por um conjunto de ele-mentos que conforma um sistema econômico” (TAVA-RES, André Ramos. Direito Constitucional Econômico. 2.ed. São Paulo: Método, 2006. p. 83). Visa garantir a todos uma existência digna conforme os ditames da jus-tiça social (inclusão econômica e social/solidariedade).

a) Valorização do trabalho humano como meio de se garantir o acesso aos meios para a obtenção de uma existência digna;

b) Respeito à livre iniciativa (liberdade pública no plano econômico): liberdade para entrar e sair livre-mente do mercado (regra geral).

Evolução do Direito Econômico nas Constitui-

ções brasileiras

I. Constituição de 1824

• Inspirada na Constituição francesa de 1814;

• Sistema liberal com pequenas intervenções do Estado na economia (tarifas alfandegárias);

• Garantia do direito de propriedade em sua ple-nitude;

• Abolição das corporações de ofícios.

II. Constituição de 1891

• Prevê expressamente a liberdade de associa-ção;

• Garantia do livre exercício de qualquer profis-são moral, intelectual e industrial;

• Caráter nitidamente liberal, mas admitia-se a intervenção do Estado para acautelar o inte-resse coletivo;

• Durante sua vigência o Estado interviu, sobre-tudo, por razão da economia de guerra (I Guerra);

• Revisão constitucional de 1926 incluiu disposi-ções sobre a ordem econômica

III. Constituição de 1934

• Influência da Constituição de Weimar (1919);

• Demanda pela superação do modelo liberal;

• Primeira a instituir expressamente uma ordem econômica;

• Art. 115. “A ordem econômica deve ser orga-nizada conforme os princípios da justiça e as necessidades da vida nacional, de modo que possibilite a todos existência digna. Dentro desses limites, é garantida a liberdade econô-mica”;

• Reconhecimento dos direitos dos trabalhado-res;

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130 Danilo Vieira Vilela

Sistema de solução de controvérsias no Mercosul (Protocolo de Olivos/2002)

2ª Fase –

Procedimento

arbitral ad hoc (para o caso)

Procedimento previsto no Protocolo de Brasília/1991;

Tribunal ad hoc composto por três árbitros;

Cada Estado-Parte envolvido na controvérsia indica um árbitro e os dois Estados escolherão conjuntamente o Presidente do Tribunal;

O Tribunal poderá adotar medidas provisórias, e revogá-las a qualquer momento;

Emissão de laudo arbitral (60 dias prorrogáveis por mais 30 dias)

3ª Fase –

Tribunal

Permanente

de Revisão

(sediado em

Assunção)

Procedimento adotado pelo Protocolo de Olivos/2002;

Qualquer das partes poderá apresentar um recurso de revisão do laudo do Tribunal ad hoc ao Tribunal Per-manente de Revisão no prazo de 15 dias da notificação do mesmo;

Recurso limitado a questões de direito e interpretações jurídicas desenvolvidas no laudo;

Obs: laudos dos Tribunais ad hoc emitidos com base nos princípios ex aequo et bono (equidade) não serão suscetíveis dos recursos de revisão;

Composição do Tribunal: 5 árbitros

Controvérsias envolvendo dois Estados: atuação de 3 árbitros;

Controvérsias envolvendo mais de dois Estados: atuação de todos os árbitros;

Laudos do Tribunal Permanente de revisão: irrecorríveis e com orça de coisa julgada (admite-se apenas o Recurso de esclarecimento);

Acesso direto

ao Tribunal

Permanente de

Revisão

As partes na controvérsia poderão acordar expressamente em submeter-se diretamente e em única instância ao Tribunal Permanente de Revisão, caso em que este terá as mesmas competências do Tribunal ad hoc.

Obs: não cumpridos total ou parcialmente o laudo do Tribunal Arbitral, a outra parte terá a faculdade de aplicar medidas com-

pensatórias temporárias. Nesse caso, o Estado prejudicado poderá manifestar-se perante o Tribunal ad hoc ou o Tribunal Per-manente de Revisão.

Reclamações de particulares: Seções nacionais do GMC dos Estados envolvidos na reclamação Grupo Mercado Comum (con-vocação de grupo de especialistas para elaboração de parecer). Caso não resolvida a reclamação os Estados poderão dar início aos procedimentos das negociações diretas, Tribunal ad hoc e Tribunal Permanente de Revisão.

• Súmula 506, do STJ. “A Anatel não é parte legítima nas demandas entre a concessionária e o usuário de telefonia decorrentes de relação contratual”.

• Súmula 407, do STJ. “É legítima a cobrança da tarifa de água fixada de acordo com as categorias de usuários e as faixas de consumo”.

• Súmula 404, do STJ. “É dispensável o Aviso de Recebimento (AR) na carta de comunicação ao con-sumidor sobre a negativação de seu nome em ban-cos de dados e cadastros”.

• Súmula 385, do STJ. “Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indeniza-ção por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento”.

• Súmula 359, do STJ. “Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a notificação do devedor antes de proceder à inscrição”.

• Súmula 356, do STJ. “É legítima a cobrança da tarifa básica pelo uso dos serviços de telefonia fixa”.

• Súmula 297, do STJ: “O Código de Defesa do Con-sumidor é aplicável às instituições financeiras”.

SÚMULAS APLICÁVEIS

• Súmula 646, do STF. “Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área”.

• Súmula 646, do STF. “É competente o município para fixar o horário de funcionamento de estabele-cimento comercial”

• Súmula 556, do STF. “É competente a justiça comum para julgar as causas em que é parte socie-dade de economia mista”.

• Súmula 517, do STF. “As sociedades de economia mista só tem foro na justiça federal, quando a união intervém como assistente ou opoente”.

• Súmula 541, do STJ. “A previsão no contrato ban-cário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada”.

• Súmula 539, do STJ. “É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em con-tratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/03/2000 (MP 1.963-17/00, reeditada como MP 2.170-36/01), desde que expressamente pactuada”.

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Direito Econômico 131

SÚMULAS DO CADE

• Súmula 1, do CADE: “Na aplicação do critério estabe-lecido no art. 54, §3º, da lei n. 8.884/94, é relevante o faturamento bruto anual registrado exclusivamente no território brasileiro pelas empresas ou grupo de empresas participantes do ato de concentração”.

• Súmula 2, do CADE: “A aquisição de participação minoritária sobre capital votante pelo sócio que já detenha participação majoritária não configura ato de notificação obrigatória (art. 54, da lei n. 8.884/94) se concorrerem as seguintes circunstâncias: (I) o vendedor não detinha poderes decorrentes de lei, estatuto ou contrato de a) indicar administrador; b) determinar política comercial ou c) vetar qualquer matéria social e (II) do(s) ato(s) jurídico(s) não cons-tem cláusulas a) de não concorrência com prazo superior à de efetiva atuação da sociedade objeto e b) de que decorra qualquer tipo de poder de con-trole entre as partes após a operação”.

• Súmula 3, do CADE: “Nos atos de concentração realizados com o propósito específico de partici-pação em determinada licitação pública, o termo inicial do prazo do art. 54, §4º, da lei n. 8.884/94 é a data da celebração do contrato de concessão”.

• Súmula 4, do CADE: “É lícita a estipulação de cláu-sula de não-concorrência na vigência de joint ven-ture, desde que guarde relação com seu objeto e que fique restrita aos mercados de atuação”

• Súmula 5, do CADE: “É lícita a estipulação de cláu-sula de não-concorrência com prazo de até cinco anos da alienação de estabelecimento, desde que vinculada à proteção do fundo de comércio”

• Súmula 6, do CADE: “O fato gerador das taxas pro-cessuais previstas na Lei 9.781/99 é o protocolo do ato de concentração ou da consulta, sendo devi-das ainda que a parte venha desistir do pedido em momento posterior”.

• Súmula 7, do CADE: “Constitui infração contra a ordem econômica a prática, sob qualquer forma mani-festada, de impedir ou criar dificuldades a que médi-cos cooperados prestem serviços fora do âmbito da cooperativa, caso esta detenha posição dominante”.

• Súmula 8, do CADE: “Para fins da contagem do prazo de que trata o § 4º do artigo 54 da Lei 8.884/94, considera-se realizado o ato de concen-tração na data da celebração do negócio jurídico e não da implementação de condição suspensiva.”

• Súmula 9, do CADE: “Para fins da contagem do prazo de que trata o § 4º do artigo 54 da Lei 8.884/94, considera-se realizado o ato de concentração na data de exercício da opção de compra ou de venda e não o do negócio jurídico que a constitui, salvo se dos correspondentes termos negociais decorram direitos e obrigações que, por si sós, sejam capazes de afetar, ainda que apenas potencialmente, a dinâ-mica concorrencial entre as empresas.”

INFORMATIVOS

1. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA OR-

DEM ECONÔMICA

â ADI: lei estadual e regras para empresas de planos de

saúde.

Afronta a regra de competência privativa da União para

legislar sobre direito civil e comercial, e sobre política

de seguros (CF, art. 22, I e VII, respectivamente), a norma

estadual que determina prazos máximos para a autoriza-

ção de exames, que necessitem de análise prévia, a serem

cumpridos por empresas de planos de saúde, de acordo

com a faixa etária do usuário. Com base nessa orientação, o Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei pernambucana 14.464/2011. Preliminarmente, o Tribunal reconheceu a legi-timidade ativa da Unidas – União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde, porque teria como membros pessoas e entidades com um propósito específico. No mérito, asseverou que a lei questionada disporia sobre matéria contratual, por-tanto, de direito civil e, na hipótese, tema assimilável a segu-ros, da competência privativa da União. ADI 4701/PE, rel. Min. Roberto Barroso, 13.8.2014. (ADI-4701) (STF, Informativo 754)

Publicidade de bebidas alcoólicas e omissão legislativa

– 1

O Plenário, por maioria, conheceu de ação direta de inconsti-tucionalidade por omissão, e, no mérito, julgou improcedente pedido formulado em face de alegada omissão legislativa par-cial do Congresso Nacional, tendo em vista ausência de regula-mentação acerca da propaganda de bebidas de teor alcoólico inferior a 13 graus Gay Lussac (13º GL), em desacordo com o comando constitucional previsto no art. 220, § 4º, da CF (“§ 4º – A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotó-xicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso”). O Tribunal, de início, asseverou que estaria assentada na jurisprudência do STF, com fundamento na interpretação dos princípios da harmonia e independência entre os Poderes, a impossibilidade de, em sede jurisdicional, criar-se norma geral e abstrata em substituição ao legislador, reiterado o quanto decidido na ADI 1.755/DF (DJU de 18.5.2001). No entanto, no caso em comento, o primeiro item a ser considerado deveria ser a real existência da alegada omissão inconstitucional em matéria de propaganda de bebidas alcoólicas. O legislador federal, no exercício da atribuição a ele conferida pelo poder constituinte originário, aprovara a Lei 9.294/1996, que dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos fumí-geros, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4° do art. 220 da CF. Da análise do trâmite do projeto que dera origem à referida lei constatar--se-ia que a matéria teria sido amplamente debatida durante sete anos nas casas do Congresso Nacional. A elaboração da lei em análise teria sido, inclusive, seguida de: a) aprovação do Decreto 2.018/1996, que a regulamenta; b) instituição da Polí-tica Nacional sobre o Álcool — que dispõe sobre as medidas para redução do uso indevido de álcool e respectiva associa-ção com a violência e criminalidade —, aprovada pelo Decreto 6.117/2007; e c) regulamentação e fiscalização implementadas pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária – Conar. Não se demonstraria, pois, omissão inconstitucio-

nal na espécie. ADO 22/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 22.4.2015. (ADO-22) (STF, Informativo 782)

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132 Danilo Vieira Vilela

Publicidade de bebidas alcoólicas e omissão legislativa

– 2

A Corte destacou que a análise dos dados constantes da norma vigente e mesmo do elemento histórico — o qual não seria o melhor critério de interpretação, mas fator demonstrativo da ação legislativa, a deitar por terra, no caso, a afirmativa de omissão do legislador —, comprovariam que a questão esta-ria afeita ao exercício de competência legítima e prioritária do Poder Legislativo. Ademais, a irresignação quanto ao critério

fixado no parágrafo único do art. 1º da Lei 9.294/1996 —

bebidas alcoólicas, para efeitos da lei, seriam as bebidas

potáveis com teor alcoólico superior a 13º GL — não seria

suficiente para evidenciar a alegada omissão inconsti-

tucional, dado que, como dito, estaria demonstrado nos

autos ter sido a matéria relativa à propaganda de bebidas

alcoólicas objeto de amplos debates em ambas as Casas do

Poder Legislativo. Ainda que se pudessem considerar relevan-tes as razões sociais motivadoras da ação direta em apreciação, o pedido não poderia prosperar. Isso porque, tão importante

quanto a preservação da saúde daqueles que se excedem

no uso de bebidas alcoólicas, e que poderiam consumi-las

em níveis menores, seria a observância de princípios fun-

damentais do direito constitucional, como o da separação

dos Poderes. Assim, para afirmar a omissão inconstitucional na espécie, o STF teria de analisar a conveniência política de normas legitimamente elaboradas pelos representantes eleitos pelo povo. Portanto, não se estaria diante de uma omissão,

mas diante de uma opção, ou seja, o que teria havido seria

uma opção do legislador na escolha das propagandas que

seriam viáveis, ou não. Outrossim, a Lei 9.294/1996 não con-traditaria a Lei 11.705/2008, pela qual instituída a chamada “Lei Seca”, estabelecendo-se restrições ao uso de álcool por moto-ristas. No caso, estaria em discussão a questão da liberdade de expressão com relação à propaganda. Não se estaria a julgar teor alcoólico de bebida, e, sim, até que limite poderia ir sua publicidade. Vencido, em parte, o Ministro Marco Aurélio, que não conhecia da ação direta, dado que seu autor seria care-cedor de ação. ADO 22/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 22.4.2015. (ADO-22) (STF, Informativo 782)

ADI e venda de produtos de conveniência em farmácias

e drogarias – 3

O Tribunal explicitou que, ao autorizar a venda de arti-

gos de conveniência por farmácias e drogarias, o legis-

lador estadual nada dispusera sobre saúde, e sim acerca

do comércio local. Ponderou que não se trataria de opera-ções de venda interestadual, em relação às quais incumbiria à União a disciplina (CF, art. 22, VIII), e que inexistiria norma constitucional específica a respeito da regulação do comér-cio de artigos de conveniência. Desse modo, remanesceria

a competência dos Estados-membros para legislar sobre

o tema (CF, art. 25, § 1º), permitido aos Municípios dispo-

rem de forma complementar, caso imprescindível diante

de particularidades e interesses locais, em observância

a normas federais e estaduais. Rememorou que, por meio da Lei 5.991/1973, regulamentada pelo Decreto 74.170/1974, a União estabelecera normas gerais sobre o controle sanitário do comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos. Entretanto, nada dispusera acerca da venda de bens de conveniência por farmácias e drogarias. Ao contrário do que afirmado na peça inicial, a disciplina federal não seria abrangente a ponto de ter excluído do legislador estadual mar-gem política para editar atos dessa natureza e com esse con-teúdo. Consignou que, apesar de ser privativo das farmácias e drogarias o comércio de drogas, medicamentos e de insumos farmacêuticos, não existiria proibição de esses estabelecimen-tos comercializarem outros produtos. Afirmou que, por meio da norma federal, procurara-se garantir a segurança da saúde do consumidor e, como diretriz essencial nesse campo, que

esses produtos fossem vendidos apenas por estabelecimentos especializados, nos quais atuaria profissional habilitado — o farmacêutico. Contudo, isso não autorizaria interpretação

no sentido de que a especialização necessária excluiria a

possibilidade de farmácias e drogarias comercializarem

bens diversos. Na realidade, esse entendimento implicaria

situação inversa à alegada na ação direta — a de invasão de

competência dos Estados-membros pela União, haja vista

que norma com esse conteúdo, ao entrar em pormenores,

viria a extrapolar o campo de normas gerais, princípios e

questões fundamentais. (ADI 4954/AC, rel. Min. Marco Aurélio, 20.8.2014. Informativo 755/STF)

ADI e venda de produtos de conveniência em farmácias

e drogarias – 5

A Corte sublinhou que, na espécie, a pretensão formulada na inicial revelaria medida restritiva de direitos inapta a atingir o fim público visado; desnecessária ante a possibilidade de o propósito buscado ser alcançado por meios menos onerosos às liberdades fundamentais envolvidas; e desproporcional por promover desvantagens que superariam, em muito, eventuais vantagens. Enfatizou não haver implicação lógica entre a proi-bição de venda de produtos de conveniência em farmácias e drogarias – o meio – e a prevenção do uso indiscriminado de medicamentos – o fim. Salientou que, ainda que se admitisse

a adequação ínfima da medida, esta seria desnecessária

em razão de haver outros meios menos onerosos e hábeis a

alcançar o propósito almejado, sem representar limitações

ao exercício da livre iniciativa, como, por exemplo, con-

trole de venda de remédios mediante receita médica, bem

assim políticas de informação e campanhas de conscienti-

zação. Asseverou que as desvantagens em cercear as ativida-des econômicas do referido segmento comercial, considerados os efeitos negativos, principalmente, no tocante à disponibi-lidade de empregos e à comodidade oferecida à população, revelar-se-iam superiores às vantagens, relativas ao campo da saúde, cujo alcance sequer se mostraria abstrato ou empirica-mente viável. (ADI 4954/AC, rel. Min. Marco Aurélio, 20.8.2014. Informativo 755/STF)

Responsabilidade Civil do Estado Responsabilidade

civil do Estado por ato lícito: intervenção econômica e

contrato – 6

A União, na qualidade de contratante, possui responsabi-

lidade civil por prejuízos suportados por companhia aérea

em decorrência de planos econômicos existentes no perí-

odo objeto da ação. Essa a conclusão do Plenário ao finalizar o julgamento de três recursos extraordinários nos quais se discutia eventual direito a indenização de companhia aérea em virtude da suposta diminuição do seu patrimônio decor-rente da política de congelamento tarifário vigente, no País, de outubro de 1985 a janeiro de 1992. A empresa, ora recorrida, requerera também o restabelecimento do equilíbrio econômi-co-financeiro do contrato de serviço de transporte aéreo, com o ressarcimento dos prejuízos suportados, acrescidos de danos emergentes, lucros cessantes, correção monetária e juros, em face de cláusula contratual – v. Informativo 705. O Tribunal, por maioria, negou provimento aos recursos extraordinários do Ministério Público Federal, na parte em que conhecido, e da União. Não conheceu, ainda, do outro recurso extraordinário da União, referente à participação do parquet desde o início da demanda. RE 571969/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 12.3.2014. (RE-571969) (STF, Informativo 738, Plenário).

Responsabilidade civil do Estado por ato lícito: intervenção econômica e contrato – 7 O Colegiado acompanhou o voto proferido pela Ministra Cármen Lúcia, relatora, que, inicial-mente, entendeu prequestionados apenas os artigos 37, XXI e § 6º; 127; 129, IX; 175, parágrafo único, III e IV, da atual Consti-tuição, além do art. 167, II, da EC 1/1969. Além disso, a relatora

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Direito Econômico 133

reputou improcedente o pleito da empresa aérea de incidência dos Enunciados 283 (É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um funda-mento suficiente e o recurso não abrange todos eles) e 284 (É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia), ambos da Súmula do STF. Assinalou inexistir pre-juízo dos recursos extraordinários, considerado o julgamento ocorrido no STJ, uma vez que aquela Corte somente teria modi-ficado percentual de honorários advocatícios. No que tange à intervenção do órgão ministerial, asseverou descabida a discus-são sobre nulidade decorrente do momento de sua intimação para integrar a lide, tendo em conta o trânsito em julgado dos fundamentos infraconstitucionais, autônomos para a manu-tenção da decisão proferida. Por outro lado, admitiu o recurso extraordinário do Ministério Público Federal na condição de custos legis (CPC, art. 499, § 2º). Quanto à arguição de pretenso equívoco na fórmula utilizada para fixação do valor indeniza-tório apto a recompor o equilíbrio do contrato, sublinhou que a análise do princípio do equilíbrio econômico-financeiro deli-neada pelos recorrentes encontraria óbice no Enunciado 279 da Súmula do STF, a vedar o reexame de provas. RE 571969/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 12.3.2014. (RE-571969) (STF, Informativo 738, Plenário).

Responsabilidade civil do Estado por ato lícito: intervenção econômica e contrato – 8 A Ministra Cármen Lúcia consignou que a questão a respeito da responsabilidade da União fora suscitada de forma direta e objetiva exclusivamente no recurso do Ministério Público Federal. Mencionou que duas seriam as

abordagens sobre o tema constitucional da responsabili-

dade do Estado: uma fundada na responsabilidade obje-

tiva (CF, art. 37, § 6º) e outra no dever de manutenção das

condições efetivas da proposta (CF, art. 37, XXI), de viés

contratual. Observou que responsabilidade estatal por atos lícitos, incluídos os decorrentes de políticas públicas, não cons-tituiria novidade no direito, inclusive, no brasileiro. Delimitou que a pretensão seria de ver atribuída a responsabilidade ao Estado por prejuízos financeiros suportados pela companhia aérea ante a implantação de planos econômicos. Assinalou haver cláusula contratual que estipularia a correspondência entre as tarifas a serem aplicadas e os fatores de custo da ati-vidade objeto do contrato de concessão. A relatora retratou que se cuidaria de cláusula essencial ou necessária, tendo como fonte mandamento constitucional de manutenção do equilí-brio econômico e financeiro do negócio administrativo, princí-pio previsto expressamente no art. 167, II, da CF/1967, mantido idêntico dispositivo na EC 1/1969, vigente na data da outorga por concessão do serviço aéreo à recorrida. Acentuou que a Constituição atual conteria igual exigência (art. 37, XXI), regra repetida na Lei 8.987/1995 (Lei das Concessões e Permissões) e, também, no Decreto-Lei 2.300/1986 (art. 55, II). Registrou que,

portanto, no período do desequilíbrio apontado, o Brasil

estaria dotado de normas de eficácia plena referentes ao

princípio do equilíbrio econômico e financeiro do contrato. RE 571969/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 12.3.2014. (RE-571969) (STF, Informativo 738, Plenário).

Responsabilidade civil do Estado por ato lícito: intervenção econômica e contrato – 9 Na sequência, a relatora asseverou que o princípio constitucional da estabilidade econômico

financeira seria uma das expressões do princípio da segu-

rança jurídica. Por meio desse princípio, buscar-se-ia conferir maior segurança ao negócio jurídico-administrativo, garan-tindo à empresa contratada, tanto quanto possível, a perma-nência das circunstâncias e das expectativas que a animaram a assumir a execução, por sua conta e risco, no interesse público, de atribuições que competiriam a pessoa jurídica de direito público. Explicitou que o caso demonstraria que os reajustes

efetivados teriam sido insuficientes para cobrir a variação

de custos, consoante afirmado por perito oficial em laudo

técnico. A Ministra Cármen Lúcia reportou-se a precedente da Corte segundo o qual os danos patrimoniais gerados pela inter-venção estatal em determinado setor imporiam a indenização, tendo-se em vista a adoção, no Brasil, da teoria da respon-

sabilidade objetiva do Estado com base no risco adminis-

trativo. Para a aplicação da referida doutrina, suficiente

a configuração do dano e a verificação do nexo de causa-

lidade entre aquele e a ação estatal (RE 422.941/DF, DJU de 24.3.2006). RE 571969/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 12.3.2014. (RE-571969) (STF, Informativo 738, Plenário).

Responsabilidade civil do Estado por ato lícito: intervenção econômica e contrato – 10 A Ministra Cármen Lúcia ponderou que os atos que comporiam o “Plano Cruzado” – conquanto

não tivessem se afastado do princípio da legalidade, por-

que plenamente justificados por imperioso interesse do

Estado e da sociedade brasileira – teriam provocado dire-

tamente danos à recorrida. Esclareceu que a empresa nada poderia providenciar contra o que lhe fora determinado, pois jungida às regras da concessão de serviço público. Repisou que não se estaria a discutir a legalidade da decisão política. Salientou que, no entanto, os atos administrativos, mesmo

os legislativos, submeter-se-iam, em um Estado de Direito,

aos ditames constitucionais. Assim, inconteste que o

Estado deveria ser responsabilizado pela prática de atos

lícitos quando deles decorressem prejuízos específicos,

expressos e demonstrados. Na condição de concessionária, não poderia a companhia esquivar-se dos danos, uma vez que não deteria liberdade para atuar conforme sua conveniência. Destacou que a comprovação dos prejuízos ocorrera nas ins-tâncias próprias de exame do acervo fático-probatório. Por fim, considerou irretocável a decisão recorrida, fundada na teoria

da responsabilidade do Estado por ato lícito. RE 571969/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 12.3.2014. (RE-571969) (STF, Informativo 738, Plenário).

Responsabilidade civil do Estado por ato lícito: intervenção econômica e contrato – 11 Vencidos os Ministros Joaquim Bar-bosa (Presidente), e Gilmar Mendes, que negavam provimento ao segundo recurso extraordinário da União e davam provi-mento à parte conhecida do recurso da União e ao do Minis-tério Público Federal, para julgar improcedente o pedido de indenização formulado pela recorrida. Realçavam que o conge-lamento de preços não afetara de modo exclusivo a recorrida, haja vista que as consequências do ajuste tiveram impacto em vários setores da economia, bem assim em cidadãos economi-camente ativos no País no período. O Presidente rememorava que a responsabilidade do Estado por ato de caráter legisla-tivo seria excepcional. Rejeitava, ainda, o pleiteado reequa-cionamento do contrato administrativo, porquanto a adoção de medidas para a manutenção do equilíbrio econômico-fi-nanceiro da avença exigiria anterior alteração unilateral, pela Administração, das condições de prestação do serviço. Aduzia que, na espécie, a suposta quebra decorreria somente de atos legislativos editados pelo governo federal para combater a hiperinflação. Afastava, outrossim, a incidência da teoria da

imprevisão, porque a recorrida, quando celebrara o contrato, estaria ciente da situação econômica do País, bem como das tentativas governamentais de controle inflacionário. O Ministro Gilmar Mendes, em acréscimo, consignava a inadequação de se acolher, na situação dos autos, a responsabilidade da União por fato do legislador, em se tratando de medida genérica, sob o risco de transformar o ente federativo em um tipo de segura-dora universal. RE 571969/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 12.3.2014. (RE-571969) (STF, Informativo 738, Plenário).

Comercialização de produtos em recipientes reutilizá-

veis e competência

EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 3.874, de 24 de junho de 2002, do Estado do Rio de Janeiro, a qual dis-

Page 12: 1728 leia algumas paginas

140 Danilo Vieira Vilela

Possibilidade de entrega de carnês de IPTU e ISS por

agentes administrativos do município

A entrega de carnês de IPTU e ISS pelos municípios sem a

intermediação de terceiros no seu âmbito territorial não

constitui violação do privilégio da União na manutenção

do serviço público postal. Isso porque a notificação, por fazer parte do processo de constituição do crédito tributário, é ato próprio do sujeito ativo da obrigação, que pode ou não dele-gar tal ato ao serviço público postal. Precedente citado: REsp 1.141.300-MG, Primeira Seção, DJe 5/10/2010 (REPETITIVO). AgRg no AREsp 228.049-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Mar-ques, julgado em 21/3/2013 (STJ, Informativo 519).

Divergência entre a área registrada e a medida pelos

peritos no âmbito de desapropriação para fins de reforma

agrária

No procedimento de desapropriação para fins de reforma

agrária, caso se constate que a área registrada em cartório

é inferior à medida pelos peritos, o expropriado poderá

levantar somente o valor da indenização correspondente

à área registrada, devendo o depósito indenizatório rela-

tivo ao espaço remanescente ficar retido em juízo até que

o expropriado promova a retificação do registro ou até que

seja decidida, em ação própria, a titularidade do domínio. Essa é a interpretação que se extrai do art. 34, caput e parágrafo único, do Decreto-lei 3.365/1941, segundo o qual “O levan-tamento do preço será deferido mediante prova de proprie-dade, de quitação de dívidas fiscais que recaiam sobre o bem expropriado, e publicação de editais, com o prazo de 10 dias, para conhecimento de terceiros.” e “Se o juiz verificar que há dúvida fundada sobre o domínio, o preço ficará em depósito, ressalvada aos interessados a ação própria para disputá-lo”. Precedentes citados: REsp 1.321.842-PE, Segunda Turma, DJe 24/10/2013; REsp 596.300-SP, Segunda Turma, DJe 22/4/2008; e REsp 841.001-BA, Primeira Turma, DJ 12/12/2007. REsp 1.286.886-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 6/5/2014 (STJ, Informativo nº 540).

Consideração de reserva florestal no cálculo da produti-

vidade do imóvel rural para fins de desapropriação.

Não se encontrando averbada no registro imobiliário antes

da vistoria, a reserva florestal não poderá ser excluída da

área total do imóvel desapropriando para efeito de cálculo

da produtividade do imóvel rural. Precedente citado do STJ: AgRg no AREsp 196.566-PA, Segunda Turma, DJe 24/9/2012. Precedente citado do STF: MS 24.924-DF, Tribunal Pleno, DJe 4/11/2011. AgRg no REsp 1.301.751-MT, Min. Rel. Herman Benja-min, julgado em 8/4/2014 (STJ, Informativo nº 539).

Incidência de correção monetária, incluídos expurgos

inflacionários, e juros na complementação de TDA.

Em desapropriação para fins de reforma agrária, é possível

a incidência de juros e de correção monetária, com a inclu-

são dos expurgos inflacionários, no cálculo de complemen-

tação de título da dívida agrária (TDA). Precedente citado: REsp 1.321.842-PE, Segunda Turma, DJe 24/10/2013. AgRg no REsp 1.293.895-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, jul-gado em 11/2/2014 (STJ, Informativo 535).

JULGADOS SELECIONADOS

INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ORDEM

ECONÔMICA

Infração à ordem econômica. Aumento arbitrário de

lucros durante período de desabastecimento.

Posto de revenda de combustível. Transgressão à ordem eco-

nômica não demonstrada. Margem de lucro constatada

equiparável à média verificada no período. Ausente, ade-mais, hipótese que imponha o controle repressivo do Estado na fixação de preços. Princípios constitucionais da livre inicia-tiva e da liberdade empresarial. Ação julgada improcedente. Sentença mantida. Recurso de apelação desprovido. Unânime. (TJRS, Apelação Cível Nº 70062718671, Décima Oitava Câmara Cível, Relator: Pedro Celso Dal Pra, Julgado em 26/02/2015).

Exercício profissional e liberdade de expressão. Exigên-

cia de inscrição em Conselho Profissional. Excepcionali-

dade. Arts. 5º, IX e XIII, da Constituição.

Nem todos os ofícios ou profissões podem ser condiciona-

das ao cumprimento de condições legais para o seu exercí-

cio. A regra é a liberdade. Apenas quando houver potencial

lesivo na atividade é que pode ser exigida inscrição em con-

selho de fiscalização profissional. A atividade de músico

prescinde de controle. Constitui, ademais, manifestação artís-tica protegida pela garantia da liberdade de expressão. (STF, RE 414426/SC, Rel. Min. Ellen Gracie, DJe-194 10.10.2011).

Exercício profissional. Jornalista. Exigência de diploma

de conclusão de curso superior. Impossibilidade.

O entendimento adotado no acórdão recorrido não diverge da jurisprudência firmada no âmbito deste Supremo Tribunal Federal, no sentido da inconstitucionalidade da exigência

de diploma universitário em jornalismo, como condição

para o exercício da profissão de jornalista (RE 511.961-RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, DJe 13.11.2009). As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada. Agravo regimental conhecido e não provido. (STF, AgReg. 667.577/GO, Publ. 1º.06.2011, Rel. Min. Rosa Weber).

Instituição bancária. Atendimento ao público. Fila.

Tempo de espera. Lei Municipal. Norma de interesse local.

Legitimidade.

Lei Municipal n. 4.188/01. Banco. Atendimento ao público e tempo máximo de espera na fila. Matéria que não se confunde com a atinente às atividades-fim das instituições bancárias. Matéria de interesse local e de proteção ao consumidor.

Competência legislativa do Município. Recurso extraordi-nário conhecido e provido. (STF, RE 432.789/SC, Rel. Min. Eros Grau, DJ 07.10.2005).

Horário de funcionamento bancário

Matéria que, por sua abrangência, transcende ao peculiar inte-resse do Município. Competência exclusiva da União para

legislar sobre o assunto. Precedentes do STF. RE conhecido e provido (STF, RE 118.363/PR, Rel. Min. Celio Borja, DJ 14.12.1990).

DIREITO BANCÁRIO E SISTEMA FINAN-

CEIRO NACIONAL

Processual Civil e Administrativo.

Ação judicial em que a empresa autora busca a desconstitui-ção/redução de multas definidas pelo Conselho de Recursos

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Direito Econômico 141

do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN) no âmbito de recurso administrativo. Legitimidade passiva da União. E não do Banco Central do Brasil. Recurso especial do BACEN provido. Recurso Especial do Ministério Público Federal prejudicado.

1. Nada obstante tenha sido o Banco Central a entidade ori-ginariamente responsável pela aplicação das multas contra a empresa recorrente (por irregularidades em contratos de câmbio relacionados a importação e exportação), certo é que houve, por parte desta última, a interposição de recurso admi-nistrativo para o Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN), órgão colegiado integrante da estrutura do Ministério da Fazenda e, portanto, da União, que, em sua deci-são, acolheu parcialmente a pretensão recursal da empresa, cancelando e, também, reduzindo o valor de algumas das mul-tas.

2. Pretendendo a recorrente questionar em juízo os valores

residuais das multas tanto quanto a validade da decisão

a que chegou o CRSFN, por certo que deveria direcionar

a lide contra a União, e não contra o Bacen, mesmo sendo

este o titular dos créditos resultantes das apontadas infra-

ções financeiras. Precedente: REsp 1.149.477/DF, 1ª Turma, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe 02/03/2012. 3. Recurso do Banco Central provido, mediante o reconhecimento de sua ilegitimi-dade passiva ad causam, quedando, em consequência, prejudi-cado o especial apelo do Parquet federal.

(STJ, REsp 1339709/PR, Min. Sérgio Kukina, DJe 19.03.2015)

Crédito Rural. Securitização. Direito do Mutuário. Requisitos legais. Reexame. Súmula n. 7-STJ. Não provimento.

1. É direito do devedor, nos termos da Lei 9.138/95, o alon-

gamento das dívidas originárias de crédito rural quando

preenchidos os requisitos legais, os quais devem ser verifica-dos pelas instâncias ordinárias e cujo reexame encontra o óbice de que trata o enunciado n. 7 da Súmula do STJ. 2. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual se nega provimento. (STJ, EDcl no AgRg no AREsp 172.272/SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, 27.03.14)

DIREITO DA CONCORRÊNCIA

Transportadoras de veículos. “Cegonheiros”. Indícios de

abuso de poder econômico e formação de cartéis.

1. A violação do art. 535 do CPC ocorre quando há omissão, obscuridade ou contrariedade no acórdão recorrido. Inocorre o referido vício in procedendo posto não estar o juiz obrigado a tecer comentários exaustivos sobre todos os pontos alegados pela parte, mas antes, a analisar as questões relevantes para o deslinde da controvérsia.

2. O exame do preenchimento dos pressupostos para a con-cessão da tutela antecipada previstos no artigo 273, deve ser aferido pelo juiz natural, sendo defeso ao STJ o reexame desse pressuposto de admissibilidade, em face do óbice contido na súmula 07/STJ. (Precedentes da Corte: REsp 436.401/PR, 2ª T., Rel. Min. Franciulli Netto, DJ 28/06/2004; AGA 520.452/RJ, 1ª T., Rel. Min. Francisco Falcão, DJ 31/05/2004; REsp 521.814/SE, 5ª T., Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ 08/03/2004; REsp 440.663/SP, 4ª T., Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ 16/02/2004; REsp 515.536/AC, 3ª T., Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 19/12/2003.)

3. Aferição pelas instâncias inferiores de prática econômica

abusiva violando a livre concorrência, posto estratégia

tendente a limitar a participação nesse segmento aos inte-

grantes da associação, influindo sobremodo no preço do

frete.

4. Comprovação dos fatos, quantum satis na instância inferior que gerou a concessão de tutela antecipatória in itinere com a fixação de cotas para os trabalhadores autônomos.

5. Deveras, a atuação paralela das entidades administrati-

vas do setor (CADE e SDE), não inibe a intervenção do Judi-

ciário in casu, por força do princípio da inafastabilidade,

segundo o qual nenhuma ameaça ou lesão a direito deve

escapar à apreciação do Poder Judiciário, posto inexis-

tente em nosso sistema o contencioso administrativo e, a

fortiori, desnecessária a exaustão da via extrajudicial para

invocação da prestação jurisdicional.

6. Decisão atacada que, analisando as condições de mercado, fixou percentuais de participação de trabalhadores autônomos com fulcro no pilar da livre iniciativa, um dos fundamentos da República, posto valorizar o trabalho humano, conspirando em prol de uma sociedade digna, justa e solidária, como promete o novel Estado Principiológico Brasileiro, delineado no ideário da nação, que é a nossa Constituição Federal. Aliás, o art. 170 da CF dispõe: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:” Para esse fim, presta-se a intervenção estatal no domínio econômico, que, dentre outras medidas, consubstancia-se na repressão ao abuso do poder econômico consistente em medidas estatais que positivam impedimentos à formação ilegal de cartéis ou a práticas comer-ciais abusivas.

7. Destarte, as digressões acerca da metodologia da estratégia econômica, cujo entendimento interdisciplinar retrata a antiju-ridicidade apontada pelo Ministério Público, revelam-se pre-matura de análise em sede de recurso especial voltado contra a má apreciação dos requisitos da concessão da tutela anteci-pada, mercê de insindicável por força da súmula 07/STJ.

8. Consectariamente, as decisões ao fixarem índices de partici-pação, o fizeram analisando contratos adrede assinados, com o que, obliquamente, pretende-se que o E. STJ faça o mesmo, em afronta à Súmula 05.

9. Alegação de violação da Lei nº 8.894, que nas sanções ao eventual abuso do poder econômico não estabelece como penalidade a abertura compulsória do mercado, impondo con-tratados indesejados pelos contratantes.

10. Sob esse ângulo, é cediço que a possibilidade jurídica do pedido afere-se não pela previsão do mesmo no ordenamento, mas pela vedação do que se pretende via tutela jurisdicional, por isso que, em tema de direito processual, máxime quanto ao acesso à justiça, vige o princípio da liberdade, sendo lícito plei-tear-se o que não é vedado.

11. Deveras, a efetividade da prestação jurisdicional implica em resultados práticos tangíveis e não meras divagações aca-dêmicas, porquanto, de há muito já afirmava Chiovenda, que o judiciário deve dar a quem tem direito, aquilo e justamente aquilo a que faz jus, posto não poder o processo gerar danos ao autor que tem razão. Ora, é da essência da ação civil pública gerar tutela específica, inibitória ou repressiva, sendo livre o juiz não só quanto às medidas de apoio para fazer valer a sua decisão, como também na prolação da mesma, impondo o que no direito anglo-saxônico se denomina specific performance. In casu, o Tribunal impôs uma prestação específica inde-

pendentemente das multas, por isso que cada uma das

medidas vem prevista em leis federais distintas a saber: a

que veda as práticas abusivas econômicas (lei 8.884/94) e

7.437/85 (lei da ação civil pública).

12. Ademais, o artigo 24, inciso V, 2ª parte da Lei 8.884 prevê tutela inibitória de cessação de atividades infringentes aos princípios da ordem econômica, oportunidade em que, coadju-

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142 Danilo Vieira Vilela

vada pela lei da ação civil, determina o fazer que conjura prática abusiva.

13. A suposta violação de cláusulas constitucionais escapa à cognição do Eg. STJ.

14. O Ministério Público in casu atua na defesa da ordem

econômica, visando evitar os abusos, dentre os quais a

cartelização do transporte de automóveis de ilegalidade

manifesta.

15. “ A Lei nº 8.884, de 11.6.94, transformou o Conselho Admi-nistrativo da Defesa Econômica – CADE em autarquia, dispondo ainda sobre a prevenção e repressão das infrações contra a ordem econômica, revogando grande parte da legislação ante-rior e tendo, por sua vez, sido parcialmente modificada. A men-cionada lei nº 7.347, incluindo no art. 1º da mesma um inciso V, que tem a seguinte redação: ‘Regem-se pelas disposições desta lei... as ações de responsabilidade por danos morais e patrimo-niais causados: I- (...) V – por infração da ordem econômica.’ O art. 5º, II, da mesma Lei n. 7.347, também foi modificado para nele incluir uma referência à ordem econômica e à livre concor-rência. Trata-se de ampliação do âmbito de utilização da ação

civil pública que, como vimos, só pode ser usada nos casos

legalmente previstos, de modo que, a partir de 1994, tam-

bém se torna um instrumento para defesa de direitos indi-

viduais, difusos ou coletivos no plano econômico. Explica-

-se a inovação legislativa pelas modificações sofridas pela

economia brasileira, com a sua recente abertura para o

capital estrangeiro, em virtude da globalização que impera

no mundo inteiro. A fim de evitar situações de dumping ou

outras manobras ilegais, a ação civil pública tem a necessá-

ria dimensão, densidade e velocidade (em virtude da possi-

bilidade de obtenção de medida liminar) para a defesa dos

direitos e interesses das empresas brasileiras, uma contra

as outras ou em relação às multinacionais sediadas no Bra-

sil ou que operam no país.” (in Mandado de Segurança, Hely Lopes Meirelles, 26ª Edição, atualizada por Arnoldo Wald e Gil-mar Ferreira Mendes, pg. 198/199)

16. Inexiste violação ao princípio do ne bis in idem, tendo

em vista a possibilidade de instauração concomitante de

ação civil pública e de processo administrativo, in casu, perante a SDE – Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Ministério da Justiça, para investigação e punição de um mesmo fato, porquanto as esferas de responsabilização civil, penal e administrativa são independentes .

17. O novel art. 129, III, da Constituição Federal habilitou o Ministério Público à promoção de qualquer espécie de ação na defesa do patrimônio público social não se limitando à ação de reparação de danos.

18. Em consequência, legitima-se o Ministério Público a

toda e qualquer demanda que vise à defesa do patrimônio

público (neste inserido o histórico, cultural, urbanístico,

ambiental, etc), sob o ângulo material (perdas e danos)

ou imaterial (lesão à moralidade), bem como à defesa da

ordem econômica, consoante dispõe o parágrafo único do

art. 1º da lei 8.884/94.

19. É cediço no Eg. STJ que “em ação proposta pelo Ministério Público Federal, órgão da União, somente a Justiça Federal está constitucionalmente habilitada a proferir sentença que vin-cule tal órgão” (CC 40.534, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 17/05/04). Ademais, o amicus curiae opina em favor de uma das partes, o que o torna um singular assistente, porque de seu parecer exsurge o êxito de uma das partes, por isso a lei o cog-nomina de assistente. É assistente secundum eventum litis. 20. Recurso especial desprovido. (STJ – REsp 677585 / RS)

Setor Sucroalcooleiro. Fixação de preços abaixo do mer-

cado. Indenização. Cabimento. Precedentes. Consonân-

cia da decisão recorrida com a jurisprudência cristalizada

no STF. Recurso Extraordinário que não merece trânsito.

Reelaboração da moldura fática. Procedimento vedado na

instância extraordinária. Acórdão recorrido publicado em

10.3.2011.

O entendimento adotado pela Corte de origem não diverge da jurisprudência firmada no âmbito deste Supremo Tribunal Federal. Entender de modo diverso demandaria a reelaboração da moldura fática delineada no acórdão de origem, o que torna oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, portanto, de via-bilizar o conhecimento do recurso extraordinário. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os funda-mentos que lastrearam a decisão agravada. Agravo regimental conhecido e não provido. (STF – ARE: 648682 DF , Relator: Min. ROSA WEBER, Data de Julgamento: 03/02/2015, Primeira Turma, Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-035 DIVULG 23-02-2015 PUBLIC 24-02-2015)

Penal. Conflito de competência. Crime do art. 4º da lei nº 8.137/1990. Prática de dumping. Ausência de prejuízo para a União. Competência da justiça estadual.

1. Compete à Justiça estadual processar e julgar ação

penal relacionada a crime contra a ordem econômica (Lei n. 8.137/1990), salvo se praticados “em detrimento de bens, servi-ços ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas” e, “nos casos determinados por lei” (CR, art. 109, IV e VI; STJ, CC 56.193/RS, Rel. Min. Og Fernandes; CC 42.957/PR, Rel. Min. Laurita Vaz; STF, RE 502.915, Rel. Min. Sepúlveda Pertence).

2. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de Campo Mourão/PR, ora suscitante. (STJ – CC 119350 / PR)

Processual civil e econômico. Recurso especial. Alínea “a” do permissivo constitucional. Ausência de indicação do disposi-tivo considerado violado. Fundamentação deficiente.

Aplicação analógica da súmula n. 284 do STF. Intervenção

do ministério. Nulidade relativa. Comprovação de preju-

ízo. Necessidade. Dispositivos considerados violados dos

quais não se extrai a tese sustentada. Fundamentação defi-

ciente. Aplicação analógica da súmula n. 284 do STF. Inci-

dência da súmula n. 283 do STF, por analogia. Propaganda

enganosa. Caracterização. Incidência da súmula n. 7 desta

corte superior.

1. Trata-se de ação civil pública ajuizada por sindicato de empresas pertencentes ao ramo de produtos farmacêuticos com o objetivo de impugnar dito dumping praticado pelas empresas recorridas, consistente na realização de descontos alegadamente predatórios nos preços de medicamentos por elas comercializados.

2. Na instância ordinária, entendeu-se pela (a) validade do jul-gamento antecipado da lide (uma vez que o julgador, mesmo antes do esgotamento de toda a instrução requerida, entendeu pela suficiência do conjunto probatório formado nos autos), (b) inexistência de nulidade processual pela falta de intimação do MP em ação civil pública (especialmente ante à manifestação do Parquet em grau recursal), (c) ausência de norma da CMED que trate de preços mínimos de medicamentos, (d) não-ocor-rência de conduta anticoncorrencial na espécie e (e) não-confi-guração de propaganda abusiva.

3. Nas razões recursais, sustenta a parte recorrente sustenta ter havido violação aos arts. 246 do Código de Processo Civil (CPC), 5º, § 1º, da Lei n. 7.347/85 e 25, incs. IV e V, e 41, inc. IV, da Lei n. 8.625/93 – ao argumento de que o Ministério Público não foi intimado pessoalmente do resultado da instrução probatória, limitando-se o juiz a julgar antecipadamente o feito, mesmo quando o MP requereu produção de provas –, 4º e 6º da Medida

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Direito Financeiro 153

QUESTÕES

1. ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

Art. 163, I; Art. 165, §9º da CF

Lei nº. 4.320/64

01. (ESAF – Procurador da Fazenda Nacional/2012)

Algumas decisões judiciais têm exercido o controle jurisdicional de políticas públicas, dentre as quais as relativas à saúde e à educação. A par da sua natureza jurisdicional, tais decisões, por vezes, acabam por inter-ferir na programação e execução orçamentária em curso, o que exige sua submissão ao Direito Financeiro. Acerca do tema, assinale a opção correta.

a) Descabe a intervenção do judiciário nas políticas públicas, por atentar contra a separação dos Pode-res.

b) A jurisdicionalização da política exige comple-xas avaliações técnicas – de ordem pedagógica, médica, administrativa, orçamentária e financeira –, o que inviabiliza o seu exercício ou a produção dos seus efeitos sem a prévia inclusão das despesas no orçamento do ano subsequente.

c) As decisões judiciais que interfiram na formulação e execução das políticas públicas devem ter caráter excepcional, mas podem ser obstadas pela invoca-ção abstrata do princípio da reserva do possível.

d) É viável o controle judicial das políticas públicas relativas à educação e à saúde, mas não se poderá exigir a imediata efetivação do comando fundado no texto da Carta Política quando com provada, objetivamente, a incapacidade econômico-finan-ceira da pessoa estatal.

e) O direito à saúde e à educação não são absolu-tos, razão pela qual a validade da decisão judicial dependerá das consequências macroeconômicas do pedido, de forma a preservar o regular planeja-mento orçamentário e o não comprometimento de outros programas sociais tão ou mais importantes para a população em geral.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: A judicialização das políticas públicas é tema de suma relevância para o direito finan-ceiro. Isso porque, decisões judiciais podem repercutir na execução orçamentária, demandando alterações para adequar os orçamentos ao quanto decidido nos Tribunais, mormente em áreas da saúde e educação. Os concursos públicos começam a dar relevo ao assunto, na medida em que questionam o aparente conflito exis-tente entre a atuação judicial e a implantação de políti-cas públicas. De um lado, os defensores da impossibi-lidade de o Judiciário implantar política pública, direta ou indiretamente, seja por ferir a separação de poderes, por não ter permissivo constitucional direto para esta atuação ou por não estar dotado de conhecimento téc-nico suficiente para optar pela melhor escolha no aten-dimento aos direitos. De outro, os que propugnam pela intervenção judicial, sob a alegação de que os direitos sociais descritos no art. 6º da CF/88 são exigíveis judi-cialmente e que o Judiciário não pode negar a satisfa-ção desses direitos sob alegações orçamentárias ou de qualquer outra ordem, uma vez que, comparados os direitos fundamentais com outros argumentos, os pri-meiros sempre se sagram vencedores. Muito embora não assista razão a qualquer dos extremos, chegar a um ponto de equilíbrio entre os limites da atuação judicial e os temas orçamentários que subjazem essa atuação tem sido missão ainda inalcançável pela doutrina e jurispru-dência1.

Alternativa correta: letra “d”: A intervenção judicial tornou-se aceitável, desde que alguns crité-rios fossem observados. E o maior desses critérios é o equilíbrio fiscal diante da limitação dos recursos, o que gerou estudo aprofundado em torno da “reserva do possível”.2 No julgamento do REsp. n. 1.185.474-SC, Rel. Min. Humberto Martins, é possível extrair algumas

1 In: Livro de nossa autoria, confira: LEITE, Harrison. Manual de direito financeiro. 2 ed. Salvador: juspodivm, 2014, p. 30

2 Em livro de nossa autoria (Autoridade da Lei Orçamentária, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011), traçamos crité-rios que justificam a atuação judicial com reflexos na alte-ração do orçamento.

Direito Financeiro

Harrison Leite

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154 Harrison Leite

consequências do entendimento do STJ. Primeiro, a de que os direitos sociais são justiciáveis, mormente os direitos à saúde e à educação, pois sua proteção não pode ficar à escolha do governante. Em segundo, é ine-gável que recursos são escassos, mas devem ser corre-tamente aplicados para se evitar a privação resultante de má escolha do Executivo. A escassez real, fruto da insuficiência orçamentária e financeira, deve ser fática e não meramente jurídica. Terceiro, que a reserva do possível pode ser oponível à efetivação dos direitos fun-damentais, desde que seja concreta, e não abstrata. E quarto, que a reserva do possível não pode ser oponível à realização do mínimo existencial. Com esse posiciona-mento, o STJ demonstrou que os direitos sociais podem ser protegidos judicialmente e que argumentos con-trários a essa intervenção, como a ausência de critérios técnicos para a atuação judicial, a violação à separação dos poderes ou ao princípio da maioria, devem ser revi-sitados e não resistem aos comandos constitucionais de proteção desses direitos.

Alternativas “a”, “b”, “c” e “e”: Nos termos do comentário acima, descarta-se o teor dos enunciados trazidos nas assertivas. Como reforço ao tema, con-fira a ementa do REsp. n. 1.185.474-SC, Rel. Min. Hum-berto Martins: ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL – ACESSO À CRECHE AOS MENORES DE ZERO A SEIS ANOS – DIREITO SUBJETIVO – RESERVA DO POSSÍVEL – TEORI-ZAÇÃO E CABIMENTO – IMPOSSIBILIDADE DE ARGUI-ÇÃO COMO TESE ABSTRATA DE DEFESA – ESCASSEZ DE RECURSOS COMO O RESULTADO DE UMA DECISÃO POLÍTICA – PRIORIDADE DOS DIREITOS FUNDAMEN-TAIS – CONTEÚDO DO MÍNIMO EXISTENCIAL – ESSEN-CIALIDADE DO DIREITO À EDUCAÇÃO – PRECEDENTES DO STF E STJ. 1. A tese da reserva do possível assenta--se em ideia que, desde os romanos, está incorporada na tradição ocidental, no sentido de que a obrigação impossível não pode ser exigida (Impossibilium nulla obligatio est – Celso, D. 50, 17, 185). Por tal motivo, a insuficiência de recursos orçamentários não pode ser considerada uma mera falácia. 2. Todavia, observa-se que a dimensão fática da reserva do possível é ques-tão intrinsecamente vinculada ao problema da escas-sez. Esta pode ser compreendida como “sinônimo” de desigualdade. Bens escassos são bens que não podem ser usufruídos por todos e, justamente por isso, devem ser distribuídos segundo regras que pressupõe o direito igual ao bem e a impossibilidade do uso igual e simultâneo. 3. Esse estado de escassez, muitas vezes, é resultado de um processo de escolha, de uma decisão. Quando não há recursos suficientes para prover todas as necessidades, a decisão do administrador de investir em determinada área implica escassez de recursos para outra que não foi contemplada. A título de exemplo, o gasto com festividades ou propagandas governamen-tais pode ser traduzido na ausência de dinheiro para a prestação de uma educação de qualidade. 4. É por esse motivo que, em um primeiro momento, a reserva do possível não pode ser oposta à efetivação dos Direi-tos Fundamentais, já que, quanto a estes, não cabe ao administrador público preterí-los em suas escolhas. Nem mesmo a vontade da maioria pode tratar tais direi-

tos como secundários. Isso, porque a democracia não se restringe na vontade da maioria. O princípio do majo-ritário é apenas um instrumento no processo demo-crático, mas este não se resume àquele. Democracia é, além da vontade da maioria, a realização dos direitos fundamentais. Só haverá democracia real onde houver liberdade de expressão, pluralismo político, acesso à informação, à educação, inviolabilidade da intimidade, o respeito às minorias e às ideias minoritárias etc. Tais valores não podem ser malferidos, ainda que seja a vontade da maioria. Caso contrário, se estará usando da “democracia” para extinguir a Democracia. 5. Com isso, observa-se que a realização dos Direitos Fundamentais não é opção do governante, não é resultado de um juízo discricionário nem pode ser encarada como tema que depende unicamente da vontade política. Aqueles direitos que estão intimamente ligados à dignidade humana não podem ser limitados em razão da escassez quando esta é fruto das escolhas do administrador. Não é por outra razão que se afirma que a reserva do possí-vel não é oponível à realização do mínimo existencial. 6. O mínimo existencial não se resume ao mínimo vital, ou seja, o mínimo para se viver. O conteúdo daquilo que seja o mínimo existencial abrange também as condi-ções socioculturais, que, para além da questão da mera sobrevivência, asseguram ao indivíduo um mínimo de inserção na “vida” social. 7. Sendo assim, não fica difícil perceber que dentre os direitos considerados prioritá-rios encontra-se o direito à educação. O que distingue o homem dos demais seres vivos não é a sua condição de animal social, mas sim de ser um animal político. É a sua capacidade de relacionar-se com os demais e, através da ação e do discurso, programar a vida em sociedade. 8. A consciência de que é da essência do ser humano, inclu-sive sendo o seu traço característico, o relacionamento com os demais em um espaço público – onde todos são, in abstrato, iguais, e cuja diferenciação se dá mais em razão da capacidade para a ação e o discurso do que em virtude de atributos biológicos – é que torna a educa-ção um valor ímpar. No espaço público – onde se travam as relações comerciais, profissionais, trabalhistas, bem como onde se exerce a cidadania – a ausência de edu-cação, de conhecimento, em regra, relega o indivíduo a posições subalternas, o torna dependente das forças físicas para continuar a sobreviver e, ainda assim, em condições precárias. (...) 10. Porém é preciso fazer uma ressalva no sentido de que mesmo com a alocação dos recursos no atendimento do mínimo existencial persista a carência orçamentária para atender a todas as deman-das. Nesse caso, a escassez não seria fruto da escolha de atividades não prioritárias, mas sim da real insuficiência orçamentária. Em situações limítrofes como essa, não há como o Poder Judiciário imiscuir-se nos planos gover-namentais, pois estes, dentro do que é possível, estão de acordo com a Constituição, não havendo omissão injustificável. 11. Todavia, a real insuficiência de recursos deve ser demonstrada pelo Poder Público, não sendo admitido que a tese seja utilizada como uma desculpa genérica para a omissão estatal no campo da efetivação dos direitos fundamentais, principalmente os de cunho social. No caso dos autos, não houve essa demonstra-

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Direito Financeiro 155

ção. Precedente: REsp 764.085/PR, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 1º.12.2009, DJe 10.12.2009. Recurso especial improvido. De mais a mais, o STF também já se posicionou em sentido favorável ao fornecimento de prestações estatais positivas em relação aos direitos sociais, conforme se extrai do julga-mento da STA 175, Relator Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/09/2009. Do teor dessa decisão, observou-se que ficou clara a possibilidade de o Judiciário controlar as políticas públicas, mormente aquelas existentes, porém não cumpridas. No entanto, quando se está diante da impossibilidade fática de cumprimento de direitos, muito embora a sua proteção constitucional, o Judiciá-rio não poderá ordenar a sua realização, pois se trata de medida ilógica determinar o impossível. Mas, relembre--se, a impossibilidade deve ser provada.

02. (TRF 4 – Juiz Federal Substituto 4ª região/ 2010) Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta, em matéria de Finanças Públicas.

I. As disposições legislativas relativas às Finanças Públicas deverão ser feitas mediante lei comple-mentar.

II. A União somente pode emitir moeda pelo Banco Central.

III. É vedada a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, salvo exceções expressas na Constituição.

IV. O orçamento estabelecerá o necessário equilíbrio entre receitas e despesas, havendo, portanto, uma vinculação entre a obtenção das receitas de impos-tos e as despesas previstas.

V. É vedada a utilização de recursos provenientes das contribuições sociais de que trata o art. 195, I, a e II, para realização de despesas distintas do paga-mento de benefícios do Regime Geral de Previdên-cia Social de que trata o art. 201, todos da Constitui-ção Federal.

a) Estão corretas apenas as assertivas II e III.

b) Estão corretas apenas as assertivas I, II e V.

c) Estão corretas apenas as assertivas II, III e V.

d) Estão corretas apenas as assertivas I, II, III e V.

e) Estão corretas todas as assertivas.

|COMENTÁRIOS|.

Alternativa correta: Alternativa “e”: De fato, todas as assertivas estão corretas. O item I trata da necessidade de haver lei complementar dispondo sobre finanças públicas. É a conclusão que se retira do art. 163, I da CF, quando afirma que lei complementar disporá sobre “finanças públicas”. Por outro lado, e em confor-midade com o que prescreve o §9º do artigo 165 da CF, lei complementar disporá sobre o “exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual”, cabendo-lhe, também, “esta-

belecer normas de gestão financeira e patrimonial da administração direta e indireta, bem como condições para a instituição e funcionamento de fundos”. De fato, esta lei ainda não foi editada, razão pela qual a Lei nº. 4.320/64, originalmente uma lei ordinária, é que, após ser recepcionada pela CF/88, tem ocupado este vácuo normativo e é de observância obrigatória por todos os entes da Federação.

Item II: a União, de fato, somente pode emitir moeda através do Banco Central do Brasil. Com efeito, a teor do artigo 164, caput, da CF, “a competência da União para emitir papel-moeda será exercida exclusivamente pelo Banco Central”.

Item III: a questão traz à baila tão-somente o conceito do princípio da não-vinculação das receitas de impostos, previsto na parte inicial do art. 167, IV da CF/88. Apenas exceções constitucionais podem afastar a aplicação do princípio.

Item IV: Trata-se do princípio do equilíbrio orçamentário, que, embora não expresso, é um princípio que norteia toda a Administração, mormente após a LRF, uma vez que se tornou regra elaborar um orçamento equilibrado, ainda que haja necessidade de se contrair empréstimos, desde que acompanhado da concomitante capacidade de pagamento. Por esse princípio, busca-se assegurar que as despesas autorizadas na lei orçamentária não sejam superiores à previsão das receitas. Dúvida poderia haver no final da assertiva, quando trata da vinculação da receita de impostos a despesas previstas. Quer-se acreditar que a vinculação aí mencionada é a que ocorre parcialmente antes da elaboração do orçamento, como os gastos com saúde, educação e pessoal, bem como aqueles que há na própria lei orçamentária, já que não pode haver gasto sem a demonstração da origem da receita que o suporta.

Item V: A questão se refere à vedação prevista no art. 167, XI, da CF/88. De fato, considerada a natureza vinculada das contribuições sociais de que trata o art. 195, I, a, e II, não há fundamento jurídico para a utilização dos citados recursos em outra finalidade que não seja o pagamento das despesas ligadas ao regime geral de previdência social (RGPS). Ressalte-se, porém, que o art. 76 da ADCT, com eficácia prorrogada até o fim de 2015, permite que 20% das receitas de impostos, contribuições sociais e contribuições de intervenção no domínio econômico, já instituídos ou criados até a referida data, seus adicionais e respectivos acréscimos legais, estejam desvinculados a órgão, fundo ou despesa.

03. (Cespe – Procurador do Estado – PI/2014) A res-peito do direito financeiro brasileiro, assinale a opção correta.

a) A CF atribui competência privativa à União para legislar sobre direito financeiro e fixa a competên-cia concorrente da União, dos estados e do DF para legislar sobre orçamento.

b) Ao tratar da competência concorrente para legislar sobre orçamento, a CF não se referiu aos municí-pios, estando a doutrina majoritária posicionada

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156 Harrison Leite

no sentido de que o constituinte silenciou-se, razão pela qual os municípios não podem reivindicar tal competência.

c) Se um tribunal de justiça ou o MP não encaminha-rem as respectivas propostas orçamentárias dentro do prazo estabelecido na LDO, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, a média dos valores aprova-dos nas últimas duas leis orçamentárias, ajustados de acordo com os limites estipulados pela LDO vigente.

d) A Lei n.° 4.320/1964, apesar de ser lei ordinária, foi recepcionada pela CF com status de lei comple-mentar, só podendo, hoje, ser alterada por lei dessa estatura.

e) A LRF dispõe, entre outras matérias, sobre finanças públicas, concessão de garantias pelas entidades públicas, operações de câmbio realizadas pelos entes federados e fiscalização das instituições financeiras estatais.

|COMENTÁRIOS|.

Alternativa correta: letra “d”: Muito embora a Lei n. 4.320/64, que estatui normas gerais de direito finan-ceiro, seja lei ordinária, quanto à forma, ela tem status de lei complementar, já que a sua matéria possui essa reserva dada pela CRFB/88. Nesse sentido foi a ADI n. 1.726-5/DF, que lhe reconheceu a materialidade de lei complementar.

Alternativa “a”: O art. 24, inciso I, da Constitui-ção Federal dispõe que compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre direito financeiro. Ademais, segundo o art. 84, XXIII, c/c o art. 61, §1°, II, ‘b”, ambos da Constituição Federal, verifica-se que as leis orçamentárias serão elaboradas sempre por iniciativa do Poder Executivo. Não se trata de competência concorrente.

Alternativa “b”: Conforme exposto no item ante-rior, a competência para legislar sobre direito financeiro é concorrente entre União, Estados e Distrito Federal, consoante o art. 24, I, da CRFB/88. Mas o CESPE insiste que o Município tem competência concorrente nessa matéria também. Ora, embora haja doutrina ressal-vando a competência concorrente dos Municípios em matéria de direito financeiro, sob o auspício de que o art. 30, II, da CF os autoriza a legislarem de modo suple-mentar à legislação federal e estadual, no que couber, temos que esse não é o posicionamento retirado da leitura do art. 24 da CF. A competência dos Municípios é suplementar e não concorrente. Ressalve-se que, em se tratando da referida Banca Examinadora, não apenas nesse caso, mas em diversas outras questões, os Municí-pios possuem, sim, competência concorrente em maté-ria de direito financeiro.

Alternativa “c”: Se as propostas orçamentárias não forem encaminhadas dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo consi-derará, para fins de consolidação da proposta orçamen-

tária anual, os valores aprovados na lei orçamentária

vigente. (art. 99, § 3º da CRFB/88).

Alternativa “e”: Embora a LRF seja ampla, o seu alcance não contempla operações de câmbio e fiscali-zação as instituições financeiras estatais.

04. (Cespe – Juiz Federal Substituto 5ª região/ 2011) A respeito do que dispõe a CF sobre finanças públicas, assinale a opção correta.

a) O orçamento da seguridade social, que abrange todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, está compreen-dido na lei orçamentária anual.

b) Cabe a lei ordinária federal dispor sobre a fiscali-zação financeira da administração pública direta e indireta, bem como sobre operações de câmbio realizadas por órgãos e entidades da União, dos estados, do DF e dos municípios.

c) São vedadas ao BACEN a compra e a venda de títu-los de emissão do Tesouro Nacional.

d) Relatório resumido da execução orçamentária deve ser publicado pelo Poder Executivo federal no prazo máximo de sessenta dias após o encerra-mento de cada trimestre.

e) O exame e a emissão de parecer sobre projeto de lei relativo às diretrizes orçamentárias competem a uma comissão permanente de senadores da Repú-blica.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do Autor: Trata-se de questão com pouca complexidade, tendo em vista que exige apenas o conhecimento prévio das disposições constitucionais relativas às finanças públicas.

Alternativa correta: letra “a”: A alternativa está inteiramente certa. O orçamento da seguridade social está compreendido na lei orçamentária anual, con-forme dicção do art. 165, §5º, III da CF/88. Com efeito, a despeito da existência do princípio da unidade orça-mentária, a LOA possui algumas subdivisões, a fim de melhor definir a previsão dos recursos e a fixação das despesas. Entre tais subdivisões, encontra-se o orça-mento da seguridade social, ao lado dos orçamentos fiscal e de investimento.

Alternativa “b”: O item está incorreto. De fato, a fiscalização financeira da administração pública direta e indireta, bem como as operações de câmbio reali-zadas por órgãos e entidades da União, dos estados e dos municípios, são matérias afetas à lei complementar, conforme se depreende do art. 163, V e VI da Constitui-ção Federal.

Alternativa “c”: O art. 164, §2º da CF, permite que o Banco Central do Brasil compre e venda títulos de emis-são do Tesouro Nacional, com o objetivo de regular a oferta de moeda ou a taxa de juros.

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224 Harrison Leite

laridades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União”.

Item II – Verdadeiro. O art. 71 da CF contém as atri-buições do TCU. Umas delas é o dever de fiscalizar os recursos repassados pela União, conforme se nota do seu inciso VI: “Art. 71. VI – fiscalizar a aplicação de quais-quer recursos repassados pela União mediante convê-nio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município;”

Item III – Verdadeiro. O TCU possui, dentre outras funções, a sancionadora. Tal se depreende tanto da Constituição Federal quanto da Lei Orgânica do TCU. No ponto, reza o art. 71, VIII que compete ao TCU: “Art. 71. VIII – aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanções previs-tas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário”. De igual

modo, reza a Lei n. 8.443/92: “Art. 60. Sem prejuízo das sanções previstas na seção anterior e das penalidades administrativas, aplicáveis pelas autoridades compe-tentes, por irregularidades constatadas pelo Tribunal de Contas da União, sempre que este, por maioria absoluta de seus membros, considerar grave a infração cometida, o responsável ficará inabilitado, por um período

que variará de cinco a oito anos, para o exercício

de cargo em comissão ou função de confiança no

âmbito da Administração Pública. Art. 61. O Tribunal poderá, por intermédio do Ministério Público, solicitar à Advocacia-Geral da União ou, conforme o caso, aos dirigentes das entidades que lhe sejam jurisdicionadas, as medidas necessárias ao arresto dos bens dos res-

ponsáveis julgados em débito, devendo ser ouvido quanto à liberação dos bens arrestados e sua restitui-ção”.

DICAS PARA ESTUDO

1. ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

• Para a sua satisfação das necessidades públicas é necessário que o Estado obtenha receita pública para pres-tação dos serviços públicos. A satisfação dessas necessidades implica gastos públicos, que devem ser meticu-losamente analisados e geridos através de um orçamento público. Se, porventura, as receitas arrecadadas não forem suficientes para custearem os gastos, o Estado poderá obter empréstimos públicos, também chamados de créditos públicos, com o fim de atingir o equilíbrio entre receitas e despesas.

• O conjunto que envolve esses quatro fenômenos, quais sejam, receitas públicas, despesas públicas, orça-

mento público e crédito público chama-se atividade financeira do Estado.

ATIVIDADE FINANCEIRA D ESTADO

ATENDIMENTO

DAS NECESSIDADES

PÚBLICAS

OBTER

RECEITA

PÚBLICA

CRIAR

CRÉDITO

PÚBLICA

PLANEJAR

ORÇAMENTO

DESPENDER

DESPESA

PÚBLICA

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Direito Financeiro 225

1.1. DIREITO FINANCEIRO

• O direito financeiro consiste no ramo do direito que estuda as finanças do Estado em sua estreita relação com a sua atividade financeira. Ou seja, é o conjunto de normas que estuda a atividade financeira do Estado, compre-endida esta como receita, despesa, orçamento e crédito públicos.

1.1.1. AUTONOMIA DO DIREITO FINANCEIRO

• Embora o direito seja incindível, é sabido que a sua divisão se dá apenas por questões de ordem didática, para facilitar o seu estudo. Assim é que se justifica estudar um ramo em apartado quando o mesmo possua institutos e princípios próprios a ponto de não mais fundamentar o seu estudo como mero apêndice de outro ramo.

• Assim, enquanto o direito financeiro estuda a atividade financeira do Estado, aí incluída as receitas públicas, o direito tributário preocupa-se apenas com uma parte desta receita, qual seja, a receita tributária, a demonstrar maior amplitude do direito financeiro se comparado com o direito tributário.

ATENÇÃO:

Direito Financeiro: Receitas Públicas Tributárias e Não Tributárias

Direito Tributário: Receitas Públicas Tributárias

1.2. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

• O direito financeiro está dentro da competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal, con-forme dicção do art. 24, I, da CF.

Confira:

Competência Legislativa (art. 24, I e §§ 1º, 2º e 3º CF)

a) Art. 165, §9º da CF – Lei Complementar (normas gerais de direito financeiro)

b) Lei n. 4.320/64 – Status de LC – (ADI 1.726-5/DF)

c) DF (art. 32, §1º da CF) e Municípios (art. 30, II da CF)

Quadro comparativo das principais leis de Direito Financeiro

Características Lei 4.320/64 LRF PPA LDO LOA

TipoStatus de Lei

ComplementarComplementar Ordinária Ordinária Ordinária

Iniciativa Exec./Legislat. Exec./Legislat. Executivo Executivo Executivo

Origem Federal Federal Fed. e Local Fed. e Local Fed. e Local

Vigência – Inicio

Vigência-término

45 após a public.

Indeterminada

Data public.

Indeterminada

Data public.

Final 1º ano do man. Pres.

Indeterminada

31/12

Indeterminada

31/12

NaturezaFormal e estru-

turalAdministrativa Política de médio

prazoPolítica de curto

prazoOperacional

Revoga Leis? Sim Sim Não Não Não

Texto pré-deter.Parcialmente (art.

165, § 9º, I e II).Não Parcialmente (art.

165, § 1º).Sim (art. 165, § 2º). Sim, integral (art.

165, § 8º).

1.3. FONTES DO DIREITO FINANCEIRO

• O estudo das fontes do direito determina o local de onde se extrai o comportamento financeiro que deverá ser positivado. Assim, no primeiro caso, tem-se a fonte material, que exprime os fatos financeiros, e que, isolada-mente, pouco significam, e, no segundo, a fonte formal que é a forma de exteriorização desses fatos.

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226 Harrison Leite

1.3.1. FONTES FORMAIS

Fontes

Principais

Constituição Federal (Arts. 162 a 165).

Leis Complementares (LC 101/00).

Leis Ordinárias (PPA, LDO, LOA etc.).

Leis Delegadas.

Medida Provisória

ATENÇÃO: A CF veda a edição de medidas provisórias sobre matéria relativa a “planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º”, que permite a sua admissão para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública.

Fontes

Secundárias

Decretos Não há diferenças quanto ao tratamento dos decretos em matéria orçamentária.

Atos NormativosEm termos de atos normativos em matéria financeira, sobrelevam em importância as resoluções dos Tribunais de Contas.

Fontes

Secundárias

Decisões

Administrativas

Apesar de o Brasil adotar o sistema de jurisdição única, as decisões dos Tribunais de Contas, que, frise-se, não exercem função jurisdicional, têm muita importância na inter-pretação e aplicação das leis orçamentárias.

1.3.2. FONTES MATERIAIS

• O direito financeiro, e principalmente o orçamento público, tem sido objeto de estudo e análise de economistas, financistas, técnicos contábeis, administradores, políticos, dentre diversas categorias de pessoas atentas para os influxos desses fenômenos na elaboração das normas orçamentárias.

• Por esta razão normalmente se afirma que a sua fonte material está mais nas ciências das finanças, se compara-das com o seu nascimento fruto da mera elucubração jurídica ou do simples dever ser desapegado da realidade econômica circundante. Portanto, diferentemente da norma que reduz a maioridade penal ou que aumenta a alíquota de um tributo, a norma de direito financeiro não tem o condão de mudar a realidade pela sua isolada aplicação.

• A simples estimação de receita numa norma orçamentária não significa que a receita será arrecadada. Há todo um sistema tributário e um subsistema de arrecadação que podem mitigar a eficácia da norma financeira. Daí que o direito financeiro persiste atento aos influxos econômicos e sociais, pois são os eventos diários as princi-pais fontes materiais das normas orçamentárias.

• As necessidades públicas são reveladas no dia a dia e nesse contexto é que surgem fatos a suscitar alterações orçamentárias com vistas ao seu atendimento. Sendo assim, duas fontes materiais se destacam no orçamento: a ciência das finanças e a jurisprudência.

a) Ciência das Finanças

• A ciência das finanças consiste na atividade pré-normativa, que auxilia o direito financeiro com dados da eco-nomia, dos indicadores sociais, elementos políticos, dentre outros, tendo em vista a necessidade de o direito financeiro estar vinculado completamente à realidade econômica do país que deseja normatizar.

b) Decisões Judiciais – Judicialização das políticas públicas

• A jurisprudência é fonte importante para todo o direito, mas possui, aqui, algumas peculiaridades dignas de nota.

• É que, vez ou outra, percebe-se um elevado número de decisões judiciais que implicam reflexos claros nas ques-tões orçamentárias, sem serem profundamente analisadas quando da sua prolação. É dizer, aqui e acolá surgem sentenças, na linha dos Tribunais Superiores, que importam em criação de verdadeiras políticas públicas, muitas delas ao arrepio das normas orçamentárias, que demandam, como se verá, prévia adoção de planos e programas para a implantação de políticas desse jaez.

• Com o fenômeno crescente da judicialização das políticas públicas e com a elevada avocação de poder

pelo Judiciário, nota-se nas sentenças judiciais verdadeira fonte do direito financeiro, já que diversas alte-rações orçamentárias são necessárias para adequar os orçamentos ao quanto decidido nos Tribunais, mormente

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SÚMULAS APLICÁVEIS

1. ORÇAMENTO PÚBLICO

• STJ – Súmula nº 164 – O prefeito municipal, após a extinção do mandato, continua sujeito a pro-cesso por crime previsto no Art. 1º do Decreto- Lei nº 201, de 27.02.67.

• STF – Súmula 66 – É legítima a cobrança do tri-buto que houver sido aumentado após o orça-mento, mas antes do início do respectivo exercício financeiro.

• STF – Súmula nº 703 – A extinção do mandato do prefeito não impede a instauração de processo pela prática dos crimes previstos no art. 1º do Decreto-Lei 201/1967.

2. RECEITA PÚBLICA

• STJ – Súmula nº 447 – Os Estados e o Distrito Federal são partes legítimas na ação de restituição de imposto de renda retido na fonte proposta por seus servidores.

• STJ – Súmula nº 452 – A extinção das ações de pequeno valor é faculdade da Administração Federal, vedada a atuação judicial de ofício.

• STF – Súmula nº 545 – Preços de serviços públi-cos e taxas não se confundem, porque estas, dife-rentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização orça-mentária, em relação à lei que as instituiu.

• STF – Súmula 578 – Não podem os Estados, a título de ressarcimento de despesas, reduzir a parcela de 20% do produto da arrecadação do Imposto de Circulação de Mercadorias, atribuída aos Municípios pelo art. 23, § 8º, da Constituição Federal.

3. DESPESA PÚBLICA

• STJ – Súmula nº 144 – Os créditos de natureza ali-mentícia gozam de preferência, desvinculados os precatórios da ordem cronológica dos créditos de natureza diversa.

• STJ – Súmula nº 311- Os atos do presidente do tribunal que disponham sobre processamento e pagamento de precatório não têm caráter jurisdi-cional.

• STJ – Súmula nº 406 – A Fazenda Pública pode recusar a substituição do bem penhorado por pre-catório.

• STJ – Súmula nº 461 – O contribuinte pode optar por receber, por meio de precatório ou por com-pensação, o indébito tributário certificado por sentença declaratória transitada em julgado.

• STF – Súmula Vinculante n. 17. Durante o perí-odo previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos.

• STF – Súmula nº 647. Compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias civil e militar do Distrito Federal.

• STF – Súmula nº 655. A exceção prevista no art. 100, “caput”, da constituição, em favor dos créditos de natureza alimentícia, não dispensa a expedição de precatório, limitando-se a isentá-los da obser-vância da ordem cronológica dos precatórios decorrentes de condenações de outra natureza.

• STF – Súmula Nº 733. Não cabe recurso extraordi-nário contra decisão proferida no processamento de precatórios

4. CONTROLE DO ORÇAMENTO PÚBLICO

• STJ – Súmula nº 150 – Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas.

• STJ – Súmula nº 208 – Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.

• STJ – Súmula nº 209 – Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.

• STF – Súmula vinculante n. 03. – Nos processos perante o Tribunal de Contas da União assegu-ram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pen-são.

• STF – Súmula nº 6 – A revogação ou anulação, pelo poder executivo, de aposentadoria, ou qualquer outro ato aprovado pelo Tribunal de Contas, não produz efeitos antes de aprovada por aquele tribu-nal, ressalvada a competência revisora do Judiciá-rio.

• STF – Súmula nº 42. É legítima a equiparação de juízes do tribunal de contas, em direitos e garantias, aos membros do poder judiciário.

• STF – Súmula nº 248 – E competente, originaria-mente, o Supremo Tribunal Federal, para mandado de segurança contra ato do Tribunal de Contas da União.

• STF – Súmula nº 347 – o Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a cons-titucionalidade das leis e dos atos do poder público.

• STF – Súmula nº 653 – No Tribunal de Contas Estadual, composto por sete conselheiros, quatro devem ser escolhidos pela Assembléia Legislativa e três pelo chefe do Poder Executivo estadual, cabendo a este indicar um dentre auditores e outro dentre membros do Ministério Público, e um ter-ceiro a sua livre escolha.

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Direito Financeiro 245

INFORMATIVOS

1. ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

Entes públicos e acessibilidade

É dever do Estado-membro remover toda e qualquer barreira física, bem como proceder a reformas e adaptações necessá-rias, de modo a permitir o acesso de pessoas com restrição loco-motora à escola pública. Com base nessa orientação, a 1ª Turma deu provimento a recurso extraordinário em que discutido: a) se o ato de se determinar à Administração Pública a realização de obras significaria olvidar o princípio da separação dos Pode-res, porquanto se trataria de ato discricionário; b) se necessário o exame de disponibilidade orçamentária do ente estatal. Con-signou-se que a Constituição (artigos 227, § 2º, e 244), a Conven-ção Internacional sobre Direitos das Pessoas com Deficiência, a Lei 7.853/1989; e as Leis paulistas 5.500/1986 e 9.086/1995 asseguram o direito das pessoas com deficiência ao acesso a prédios públicos. Frisou-se o dever de a Administração adotar providências que viabilizassem essa acessibilidade. Pontuou-se presente o controle jurisdicional de políticas públicas. Asseve-rou-se a existência de todos os requisitos a viabilizar a incur-são judicial nesse campo, a saber: a natureza constitucional da política pública reclamada; a existência de correlação entre ela e os direitos fundamentais; a prova de que haveria omissão ou prestação deficiente pela Administração Pública, inexistindo justificativa razoável para esse comportamento. Destacou-se a promulgação, por meio do Decreto 6.949/2009, da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, incorporado ao cenário normativo brasileiro segundo o procedimento previsto no § 3º do art. 5º da Constituição. Ressalvou-se o disposto no artigo 9º do men-cionado decreto [“1. A fim de possibilitar às pessoas com defici-ência viver de forma independente e participar plenamente de todos os aspectos da vida, os Estados Partes tomarão as medi-das apropriadas para assegurar às pessoas com deficiência o acesso, em igualdade de oportunidades com as demais pes-soas, ao meio físico, ao transporte, à informação e comunica-ção, inclusive aos sistemas e tecnologias da informação e comu-nicação, bem como a outros serviços e instalações abertos ao público ou de uso público, tanto na zona urbana como na rural. Essas medidas, que incluirão a identificação e a eliminação de obstáculos e barreiras à acessibilidade, serão aplicadas, entre outros, a: a) Edifícios, rodovias, meios de transporte e outras instalações internas e externas, inclusive escolas, residências, instalações médicas e local de trabalho”. Sublinhou-se que, ao remeter à lei a disciplina da matéria, a Constituição não obsta-culizou a atuação do Poder Judiciário, em especial quando em debate a dignidade da pessoa humana e a busca de uma socie-dade justa e solidária (CF, artigos 1º, III, e 3º, I). Reputou-se que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais teriam aplicação imediata, sem que fossem excluídos outros direitos decorrentes do regime e dos princípios por ela adota-dos ou dos tratados internacionais de que a República Federa-tiva do Brasil fosse parte (CF, art. 5º, §§ 1º e 2º). Assinalou-se que o acesso ao Judiciário para reclamar contra lesão ou ameaça de lesão a direito seria cláusula pétrea. Observou-se que a acessi-bilidade, quando se tratasse de escola pública, seria primordial ao pleno desenvolvimento da pessoa (CF, art. 205). Lembrou--se que o art. 206, I, da CF asseguraria, ainda, a “igualdade de condições para o acesso e permanência na escola”. Registrou-se que barreiras arquitetônicas que impedissem a locomoção de pessoas acarretariam inobservância à regra constitucional, a colocar cidadãos em desvantagem no tocante à coletividade. Concluiu-se que a imposição quanto à acessibilidade aos pré-dios públicos seria reforçada pelo direito à cidadania, ao qual teriam jus as pessoas com deficiência. Rel. Min. Marco Aurélio,

29.10.2013. RE-440028. (Informativo 726)

Medida Provisória e Abertura de Crédito Extraordinário

Em conclusão, o Tribunal, por maioria, deferiu cautelar pleite-ada em ação direta proposta pelo Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB para suspender a vigência da Medida Provi-sória 405/2007, estendendo a decisão a sua lei de conversão (Lei 11.658/2008), que abre crédito extraordinário, em favor da Justiça Eleitoral e de diversos órgãos do Poder Executivo — v. Informativos 502 e 505. Entendeu-se haver um patente des-virtuamento dos parâmetros constitucionais que permitiriam a edição de medidas provisórias para a abertura de créditos extraordinários. Salientou-se, inicialmente, que a abertura de crédito extraordinário por meio de medida provisória não seria vedada, em princípio, pela Constituição Federal (art. 62, § 1º, I, d). Afirmou-se, entretanto, que a Constituição, além dos requisitos de relevância e urgência (art. 62), imporia que a abertura do crédito extraordinário fosse feita apenas para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, sendo exemplos dessa imprevisibilidade e urgência as despesas decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública (CF, art. 167, § 3º). Considerou-se que, pela leitura da exposição de motivos da Medida Provisória 405/2007, os créditos abertos seriam destina-dos a prover despesas correntes que não estariam qualificadas pela imprevisibilidade ou pela urgência. Asseverou-se que, não obstante fosse possível identificar situações específicas carac-terizadas pela relevância dos temas, como créditos destinados à redução dos riscos de introdução da gripe aviária, às opera-ções de policiamento nas rodovias federais e de investigação, repressão e combate ao crime organizado e para evitar a inva-são de terras indígenas, fatos que necessitariam, impreterivel-mente, de recursos suficientes para evitar o desencadeamento de uma situação de crise, seriam aportes financeiros destinados à adoção de mecanismo de prevenção em relação a situações de risco previsíveis, ou seja, situações de crise ainda não confi-gurada. Vencidos os Ministros Menezes Direito, Ricardo Lewa-ndowski, Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Ellen Gracie que indeferiam a cautelar. O relator reformulou a parte dispositiva do seu voto, tendo em conta a publicação da lei de conversão da medida provisória impugnada em data posterior ao início do julgamento. Salientando não ter havido alteração substancial no texto original da medida provisória em exame, reiterou a orientação da Corte no sentido de que a lei de conversão não convalida os vícios existentes na medida provisória. ADI 4048 MC/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 14.5.2008.

2. ORÇAMENTO PÚBLICO

Creche. Reserva do possível. Tese abstrata.

A tese da reserva do possível (Der Vorbehalt des Möglichen) assenta-se na idéia romana de que a obrigação impossível não pode ser exigida (impossibilium nulla obligatio est). Por tal motivo, não se considera a insuficiência de recursos orçamen-tários como mera falácia. Todavia, observa-se que a reserva do possível está vinculada à escassez, que pode ser compre-endida como desigualdade. Bens escassos não podem ser usufruídos por todos e, justamente por isso, sua distribuição faz-se mediante regras que pressupõem o direito igual ao bem e a impossibilidade do uso igual e simultâneo. Essa escassez, muitas vezes, é resultado de escolha, de decisão: quando não há recursos suficientes, a decisão do administrador de investir em determinada área implica escassez de outra que não foi contemplada. Por esse motivo, em um primeiro momento, a reserva do possível não pode ser oposta à efetivação dos direi-tos fundamentais, já que não cabe ao administrador público preteri-la, visto que não é opção do governante, não é resul-tado de juízo discricionário, nem pode ser encarada como tema que depende unicamente da vontade política. Nem mesmo a vontade da maioria pode tratar tais direitos como secundários. Isso porque a democracia é, além dessa vontade, a realização

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dos direitos fundamentais. Portanto, aqueles direitos que estão intimamente ligados à dignidade humana não podem ser limi-tados em razão da escassez, quando ela é fruto das escolhas do administrador. Não é por outra razão que se afirma não ser a reserva do possível oponível à realização do mínimo existen-cial. Seu conteúdo, que não se resume ao mínimo vital, abrange também as condições socioculturais que assegurem ao indiví-duo um mínimo de inserção na vida social. Sendo assim, não fica difícil perceber que, entre os direitos considerados priori-tários, encontra-se o direito à educação. No espaço público (no qual todos são, in abstrato, iguais e cuja diferenciação dá-se mais em razão da capacidade para a ação e discurso do que em virtude de atributos biológicos), local em que são travadas as relações comerciais, profissionais e trabalhistas, além de exer-cida a cidadania, a ausência de educação, de conhecimento, em regra, relega o indivíduo a posições subalternas, torna-o dependente das forças físicas para continuar a sobreviver, ainda assim, em condições precárias. Eis a razão pela qual os arts. 227 da CF/1988 e 4º da Lei n. 8.069/1990 dispõem que a edu-cação deve ser tratada pelo Estado com absoluta prioridade. No mesmo sentido, o art. 54, IV, do ECA prescreve que é dever do Estado assegurar às crianças de zero a seis anos de idade o atendimento em creche e pré-escola. Portanto, na hipótese, o pleito do MP encontra respaldo legal e jurisprudencial. Porém é preciso ressalvar a hipótese de que, mesmo com a alocação dos recursos no atendimento do mínimo existencial, persista a carência orçamentária para atender a todas as demandas. Nesse caso, a escassez não seria fruto da escolha de atividades não prioritárias, mas sim da real insuficiência orçamentária. Em situações limítrofes como essa, não há como o Poder Judiciá-rio imiscuir-se nos planos governamentais, pois eles, dentro do que é possível, estão de acordo com a CF/1988, não havendo omissão injustificável. Todavia, a real insuficiência de recursos deve ser demonstrada pelo Poder Público, não sendo admitido que a tese seja utilizada como uma desculpa genérica para a omissão estatal no campo da efetivação dos direitos funda-mentais, principalmente os de cunho social. Dessarte, no caso dos autos, em que não há essa demonstração, impõe-se negar provimento ao especial do município. Precedentes citados do STF: AgRg no RE 410.715-SP, DJ 3/2/2006; do STJ: REsp 1.041.197-MS, DJe 16/9/2009; REsp 764.085-PR, DJe 10/12/2009, e REsp

511.645-SP, DJe 27/8/2009. RE sp 1.185.474- SC , Rel. Min. Hum-berto Martins, julgado em 20/4/2010. (informativo 431).

ADI e vinculação de receita

ADI contra o inc. V do § 3º do art. 120 da Constituição de SC, com a redação dada pela EC 14/97. Vinculação, por dotação orça-mentária, de parte da receita corrente do Estado a programas de desenvolvimento da agricultura, pecuária e abastecimento. Inconstitucionalidade. Afronta à iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo em tema de diretrizes orçamentárias. Violação ao art. 167, IV, da CF. ADI 1759, rel. Min. Gilmar Mendes, 14.4.10. Pleno. (Info 584)

STJ, REsp. n. 723494/MG

Improbidade. Majoração ilegal da remuneração e posterior transformação em ajuda de custo sem prestação de contas. Dano ao erário. Obrigação de ressarcir o combalido cofre muni-cipal. Restabelecimento das sanções cominadas na sentença. Diante do quadro fático delineado pela instância ordinária.

STJ. Fornecimento de Medicamento

DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. BLOQUEIO DE VERBAS PÚBLICAS PARA GARANTIR O FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS PELO ESTADO. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).

É possível ao magistrado determinar, de ofício ou a requeri-mento das partes, o bloqueio ou sequestro de verbas públicas

como medida coercitiva para o fornecimento de medicamentos pelo Estado na hipótese em que a demora no cumprimento da obrigação acarrete risco à saúde e à vida do demandante. De acordo com o caput do art. 461 do CPC, na “ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resul-tado prático equivalente ao do adimplemento”. O teor do § 5° do mesmo art. 461, por sua vez, estabelece que, para “a efeti-vação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, deter-minar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial”. Nesse contexto, deve-se observar que não é taxativa a enumeração, no aludido § 5° do art. 461, das medidas necessárias à efetivação da tutela específica ou à obtenção do resultado prático equi-valente, tendo em vista a impossibilidade de previsão legal de todas as hipóteses fáticas relacionadas à norma. Dessa forma, é lícito o magistrado adotar, com o intuito de promover a efeti-vação da tutela, medida judicial que não esteja explicitamente prevista no § 5° do art. 461, mormente na hipótese em que a desídia do ente estatal frente a comando judicial possa impli-car grave lesão à saúde ou risco à vida da parte demandante, uma vez que, nessas hipóteses, o direito fundamental à saúde (arts. 6° e 196 da CF) prevalece sobre os interesses financeiros da Fazenda Nacional. Precedentes citados: EREsp 770.969-RS, Pri-meira Seção, DJ 21/8/2006; REsp. 840.912-RS, Primeira Turma, DJ 23/4/2007; e REsp. 1.058.836/RS, Segunda Turma, DJe1°/9/2008. REsp 1.069.810-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, jul-gado em 23/10/2013.

Lei de Diretrizes Orçamentárias e caráter vinculante

O sistema orçamentário constitucional inaugurado pela CF/88 é teleologicamente voltado ao planejamento da atuação do poder público. O termo “ad quem” da LDO é o final do exercício financeiro subsequente, prazo cujo transcurso exaure a eficácia do diploma normativo e das normas impugnadas, causando a perda superveniente de objeto da ação direta de inconsti-tucionalidade. ADI 4663 Referendo-MC/RO, rel. Min. Luiz Fux, 15.10.14. Pleno. (Info 763)

ADI e limites de despesas com pagamento de pessoal

A lei que fixa, para determinado ano, limites de despesa com a folha de pagamento de pessoal e de encargos sociais no âmbito dos órgãos dos Poderes Executivo, Legislativo e Judici-ário e do Ministério Público estadual viola a autonomia finan-ceira do Poder Judiciário e do Ministério Público. Desde que devidamente fixadas as diretrizes gerais para a elaboração e a execução dos orçamentos do Estado – por meio da LDO (Lei 14.416/09, art. 1º, III), e estimadas a receita e a despesa do Estado para o exercício financeiro de 2010, por meio da LOA (Lei 14.608/10) –, não poderia lei ordinária, de iniciativa exclu-siva do Poder Executivo, fixar limites de execução orçamentária sem nenhuma participação do Poder Judiciário e do Ministé-rio Público, por implicar indevida interferência sobre a gestão orçamentária desses órgãos autônomos (CF, arts. 2º, 99, § 1º e 127, § § 2º e 3º). ADI 4426, ADI 4356, rel. Min. Dias Toffoli, 9.2.11. Pleno. (Info 615)

Portal de finanças públicas e princípio da publicidade

ADI. Lei Federal 9.755/98. Autorização para que o TCU crie sítio eletrônico denominado Contas Públicas para a divulgação de dados tributários e financeiros dos entes federados. Violação do princípio federativo. Não ocorrência. Prestígio do princípio da publicidade. Improcedência da ação. 1. O sítio eletrônico gerenciado pelo TCU tem o escopo de reunir as informações tributárias e financeiras dos diversos entes da federação em um

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único portal, a fim de facilitar o acesso dessas informações pelo público. Os documentos elencados no art. 1º da legislação já são de publicação obrigatória nos veículos oficiais de imprensa dos diversos entes federados. A norma não cria nenhum ônus novo aos entes federativos na seara das finanças públicas, bem como não há em seu texto nenhum tipo de penalidade por descumprimento semelhante àquelas relativas às hipóteses de intervenção federal ou estadual previstas na CF, ou, ainda, às sanções estabelecidas na LRF. 2. Ausência de inconstitucio-nalidade formal por ofensa ao art. 163, I, da CF, o qual exige a edição de lei complementar para a regulação de matéria de finanças públicas. Trata-se de norma geral voltada à publici-dade das contas públicas, inserindo-se na esfera de abrangên-cia do direito financeiro, sobre o qual compete à União legislar concorrentemente, nos termos do art. 24, I, da CF. 3. A norma não representa desrespeito ao princípio federativo, inspiran-do-se no princípio da publicidade, na sua vertente mais espe-cífica, a da transparência dos atos do Poder Público. Enquadra--se, portanto, no contexto do aprimoramento da necessária transparência das atividades administrativas, reafirmando e cumprindo, assim, o princípio constitucional da publicidade da administração pública (art. 37, caput, CF). ADI 2198/PB, rel. Min. Dias Toffoli, 11.4.13. Pleno. (Info 701)

Repasse de duodécimos: reserva do possível e separação

de Poderes

O Plenário iniciou julgamento de mandado de segurança impetrado por presidente de tribunal de justiça local contra ato de governadora, consubstanciado em repasse a menor dos valores de duodécimos relativos às dotações consignadas ao Poder Judiciário estadual pela Lei Orçamentária Anual corres-pondente, relativos a 2012 e 2013. O impetrante alega que os recursos consignados em lei deveriam ser rigorosamente repas-sados em sua integralidade, independentemente de avaliação de conveniência ou oportunidade pelo Poder Executivo. Sus-tenta, também, que o desrespeito a essa regra criaria dificulda-des ao bom funcionamento do Poder Judiciário, e o exporia ao risco de descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000). Requer, dessa forma, o repasse das diferenças faltan-tes, sob pena de imposição de multa diária e bloqueio direto na Conta Única do Estado. O Ministro Ricardo Lewandowski, rela-tor, deferiu parcialmente a ordem, para determinar o repasse mensal dos duodécimos, observados os critérios fixados no art. 9º da LC 101/2000 (“Se verificado, ao final de um bimestre, que a realização da receita poderá não comportar o cumprimento das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os Poderes e o Ministério Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias subseqüentes, limitação de empenho e movimenta-ção financeira, segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias”). Preliminarmente, assentou a competência do Plenário para julgar a questão, nos termos do que já decidido pelo STF. Ademais, não conheceu do pedido quanto às diferen-ças não repassadas dos duodécimos relativos a junho e setem-bro de 2012, porque já vencidas, e não caberia utilizar-se de mandado de segurança como sucedâneo de ação de cobrança. Reputou, também, não haver irregularidade no aspecto rela-tivo à atuação de escritório de advocacia que não pertenceria aos quadros da Procuradoria-Geral do Estado, de acordo com precedentes da Corte, que permitiriam contratações do tipo em situações excepcionais. Analisou que, se eventualmente exis-tente qualquer ilicitude, caberia ao Ministério Público ingressar com ação própria, mas não seria o caso de ilegitimidade pro-cessual. Afastou, ainda, assertiva de perda de objeto do man-damus, haja vista que um dos pedidos principais formulados na inicial seria no sentido de determinar à autoridade impetrada o repasse integral dos duodécimos relativos a outubro, novem-bro e dezembro de 2012, até o dia 20 de cada mês, além dos meses subsequentes. Ressaltou, assim, que a impetração apro-

veitaria período futuro. Concluiu não se poder falar em perda de objeto, pois a ordem mandamental alcançaria não apenas os valores referidos em decisões liminares já concedidas, nos perí-odos de 25.10.2012 a 20.11.2012, mas também os duodécimos devidos no presente ano.

No mérito, o relator ponderou que, no tocante ao período com-preendido entre 20.10.2012 e 20.7.2013, os repasses a menor perpetrados pelo governo estadual teriam gerado quadro de inadmissível interferência na autonomia administrativa e financeira do Poder Judiciário do Estado-membro, assegurada nos artigos 99, caput, e 168, ambos da CF. Afirmou que o auto-governo da magistratura e a autonomia do Judiciário seriam suportes imprescindíveis à independência político-institucio-nal dos juízos e dos tribunais, corolário da separação de Pode-res. Nesse sentido, justificativas alusivas ao desequilíbrio finan-ceiro do Estado-membro não preponderariam sobre esse impe-rativo constitucional. Frisou que as dificuldades verificadas nas finanças estaduais não legitimariam a prática de atos unilate-rais, pelo Executivo, apartados dos comandos constitucionais e dos mecanismos legais previstos para o reajustamento ou reequilíbrio financeiro e orçamentário, notadamente os dispos-tos no art. 9º da LC 101/2000 e na Lei de Diretrizes Orçamentá-rias – LDO estadual. Lembrou jurisprudência da Corte segundo a qual dificuldades de caixa não justificariam a colocação, em segundo plano, do dispositivo constitucional. Entendeu que o Executivo estadual, em violação aos citados artigos da Consti-tuição, promovera, no período em análise, a fixação unilateral de contingenciamento das verbas orçamentárias destinadas ao tribunal local, bem como do tipo de receitas sobre as quais recairia a aludida restrição. Afirmou, entretanto, que o Execu-tivo não seria o gestor dos recursos orçamentários destinados aos tribunais, independentemente da esfera de governo em que se situasse.

No que se refere ao período alusivo às diferenças de duodéci-mos reclamadas após a edição do Decreto estadual 23.624, de 26.7.2013, o Ministro Ricardo Lewandowski registrou que, a par-tir dessa data, o Executivo estadual passara a promover novas reduções nas parcelas duodecimais previstas na Lei Orçamen-tária estadual de 2013, em suposto atendimento aos comandos do art. 9º da LC 101/2000 e do art. 52, I, da LDO estadual de 2013 (“Art. 52. Se verificado, ao final de um bimestre, que a realização da receita encontra-se aquém da prevista, os Poderes Execu-tivo, Legislativo, Judiciário, bem como o Tribunal de Contas do Estado, Ministério Público do Estado e Defensoria Pública do Estado, promoverão, por ato próprio, e nos montantes neces-sários, nos trinta dias subsequentes, limitação do empenho e movimentação financeira, para adequar o cronograma de execução mensal do desembolso ao fluxo da receita realizada e atingir as metas fiscais estabelecidas para o exercício, em con-formidade com o disposto nos arts. 8º e 9º da Lei Complemen-tar Federal n.º 101, de 2000, observados os seguintes procedi-mentos: I – definição, pelo Poder Executivo, do percentual de limitação de empenho e movimentação financeira que caberá a cada Poder Estatal, ao Tribunal de Contas do Estado, ao Ministé-rio Público e à Defensoria Pública do Estado, calculado de forma proporcional à participação de cada um no total das dotações fixadas para outras despesas correntes e despesas de capital na Lei Orçamentária Anual de 2013”). Portanto, teria havido modi-ficação da causa de pedir deduzida na inicial do writ. Asseverou que, em homenagem aos princípios da celeridade e da eco-nomia processual, o Plenário deveria enfrentar a matéria, haja vista ambos os pedidos trazerem a ofensa ao direito líquido e certo previsto nos artigos 99 e 168 da CF como causa de pedir comum. Superada essa questão, afirmou que os orçamentos legalmente destinados aos Poderes e ao Ministério Público poderiam e deveriam se conformar a eventuais frustrações de receitas. Por esse motivo, o art. 9º da LC 101/2000 obrigaria todos os Poderes a promoverem, nessa crítica situação, por ato próprio e nos montantes necessários, limitação de empenho