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    DIREITO ADMINISTRATIVO

    1. AGENTES PBLICOS

    (FGV/TJ/AM/Juiz/2013) Considere a edio de lei que atribua 50% (cinquenta por cento) da pontuao total, nos concursos pblicos de provas e ttulos para provi-mento de cargos efetivos de professor de certo Estado da Federao, em razo de exerc-cio anterior da mesma funo pblica (professor do quadro da rede estadual de ensino), na qualidade de ocupante de cargo em comisso ou contratado temporrio. O Procurador-Geral da Repblica efetuou a impugnao do diploma via ao direta de in-constitucionalidade deflagrada perante o Supremo Tribunal Federal, sendo certo que a medida cautelar para a suspenso da lei foi deferida por ato singular do relator, ainda pendente o referendo do Plenrio. Ato contnuo, o Governador do Estado declarou a nu-lidade da investidura de todos os servidores que ingressaram em cargos pblicos de pro-vimento efetivo aps a vigncia da referida lei. Ante o quadro, responda aos itens a se-guir. (i) constitucional a referida lei estadual? (ii) legtimo o ato do Governador?

    DIRECIONAMENTO DA RESPOSTA

    Nesta questo deve-se abordar a necessidade de respeito aos princpios consti-tucionais da Administrao Pblica e s caractersticas e finalidades do concurso pbli-co, bem como a proposio de que todo ato ilegal nulo.

    SUGESTO DE RESPOSTA

    A lei estadual procurou beneficiar professores ocupantes de cargos em comisso ou contratados temporrios, atribuindo-lhes metade da pontuao total, privilegiando-os em relao aos demais candidatos, o que feriu, frontalmente, os princpios da legalidade, da impessoalidade, da eficincia e da moralidade (art. 37, caput, da CF), burlando o con-curso pblico (art. 37, II, da CF), que exige igual oportunidade a todos os que atendam aos requisitos legais e para escolher os melhores para o aperfeioamento do servio pblico.

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    COLEO PREPARANDO PARA CONCURSOS

    Ilegtima a atribuio inicial de privilgios ou vantagens a determinadas catego-rias de servidores porque isto provoca tratamento desigual entre os concorrentes e des-figura a principal causa matriz do concurso: selecionar os candidatos mais capazes1.

    Agiu corretamente o Governador ao declarar a nulidade da investidura, porque ato ilegal, pois desconforme com a norma que rege o concurso pblico, e ilegtimo, pois contrrio aos princpios bsicos da Administrao Pblica; no gerou direitos e a nuli-dade opera ex tunc. A investidura nasceu afetada de vcio insanvel e no se adquire direitos contra a lei2. Embora no, ainda, objeto de deciso judicial definitiva, a nulida-de podia ser proclamada pela prpria Administrao.

    (TJ/RJ/Juiz/2011) Edital de concurso pblico para o cargo de delegado de polcia de determinado estado, com base em lei local, exige dos candidatos a altura mnima de 1,65m. Candidato reprovado no exame antropomtrico, porque sua altura abaixo da mnima exigida na lei local e no edital, ajuza ao com a pretenso de continuar nas de-mais fases do concurso. Argumenta que essa exigncia afronta o princpio da isonomia e apresenta-se desarrazoada. Resolva a questo.

    DIRECIONAMENTO DA RESPOSTA

    Papel do edital no concurso pblico. Possibilidade de a Administrao apresentar certas exigncias aos candidatos, mas com relao lgica ao futuro desempenho. Impugnao ao edital.

    SUGESTO DE RESPOSTA

    A Constituio Federal ordena que a investidura em cargo ou emprego pblico depende de aprovao prvia em concurso pblico (art. 37, II) e este tem como instru-mento de abertura o edital, que a lei interna do concurso3.

    1. Maral Justen Filho oferece um conceito de concurso pblico, de cujos elementos possvel extrair como andou mal a atribuio de pontos a alguns servidores: O concurso pblico um procedimento conduzido por autoridade especfica, especializada e imparcial, subordinado a um ato administrativo prvio, norteado pelos princpios da objetividade, da isonomia, da impessoalidade, da legalidade, da publicidade e do controle pblico, destinado a selecionar os indivduos mais capacitados para serem providos em cargos pblicos de provimento efetivo ou em emprego pblico (Curso de Direito Administrativo, 8. Ed., Belo Horizonte: Frum, p. 855). A jurisprudncia tambm deblatera a conduta em exame: STF, ADI 186-6/MG, 402-6/DF, 483-2/PR e 507-6/AM (RTJ 143/49).

    2. STF, RDA 51/274; RT 258/591.

    3. O edital relativo ao concurso pblico obriga no s a candidatos como tambm a Administrao Pblica (STF, RE 480.129/DF, Rel. Min. Marco Aurlio, j. 30/06/09).

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    DIREITO ADMINISTRATIVO

    Considerando o princpio da supremacia do interesse pblico e sua proposio correlata, indisponibilidade do interesse pblico, a Administrao pode estabelecer as bases do concurso e os critrios para a participao, mas jamais calcar-se em critrios subjetivos ou deixar de motivar as condies exigidas.

    Aqui, por se tratar de delegado de polcia, exigiu altura mnima. No se sabe se a lei local motivou, para esse cargo, a necessidade de altura4, ou foi apenas uma soluo subjetiva e, portanto, ilegtima e ilegal, pois feriu o princpio da isonomia e criou desi-gualdade entre os concorrentes.

    Pode haver certas discriminaes para participao no concurso, mas que devero manter uma correlao lgica entre a exigncia e a atividade do cargo a ser preenchido5.

    Mas, no caso, ocorreu um fato intransponvel. O candidato apenas se inconformou quando reprovado no exame antropomtrico; no impugnou administrativamente o edi-tal, que j trazia a altura exigida. Incide, por analogia, o art. 41, da Lei 8666/93, que no admite insurgncia de quem aceita participar do certame e quando dele afastado que procura atacar o edital. Deveria ser seu termo impugnado, antes do incio do concurso.

    (TJ/RJ/Juiz/2012) Joo Manoel ingressa no servio pblico, aps aprovao em concurso, para os quadros de professor de nvel mdio do Estado. O Estatuto do Servidor do Estado, ao tempo da posse e exerccio das atividades por Joo Manoel, previa o adi-cional por tempo de servio, no equivalente a 5% dos vencimentos a cada trs anos de exerccio. Passados quatorze anos da posse de Joo Manoel, entra em vigor nova lei, re-gulando o tema, e estabelecendo adicional de 1% dos vencimentos a cada trs anos. O Estado continua aplicando a lei antiga para os servidores que ingressaram ao tempo desta, vindo, seis anos aps, a mudar sua orientao, aplicando a nova legislao para todos, respeitando apenas as incorporaes no tempo em que a lei antiga vigia. Inconformado, Joo Manoel ajuza demanda postulando o direito adquirido lei do tem-po do ingresso, somada legtima expectativa de continuar percebendo o adicional na-quela forma, diante da conduta do Estado. Sendo voc o juiz da causa, como decidiria?

    DIRECIONAMENTO DA RESPOSTA

    A questo exige destaque ao adicional por tempo de servio e considerao do direito adquirido.

    4. Por exemplo, na Itlia, para ser carabinieri, h necessidade, por questo de esttica, de grande altura, devido servirem de guarda de honra para abrilhantarem solenidades.

    5. Celso Antonio Bandeira de Mello, Curso de Direito Administrativo, 24. Ed., SP: Malheiros, p. 273, leciona: Os concursos pblicos devem dispensar tratamento impessoal e igualitria aos interessados. Sem isto ficariam fraudadas suas finalidades (...).

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    COLEO PREPARANDO PARA CONCURSOS

    SUGESTO DE RESPOSTA

    Estava correto o Estado em respeitar o percentual antigo, de 5% dos vencimen-tos, aos que o recebiam no passado, quando a lei alterou para percentual menor, mas praticou ilegalidade ao cort-lo, para reduzi-lo ao percentual de 1%, depois de anos de recolhimento do direito a 5%.

    O adicional por tempo de servio resulta de servio j prestado e se incorpora aos vencimentos (pro labore facto).

    Certo que, ao alterar, por lei, o percentual, jamais a reduo poderia retroagir, mas, pode gerar certa dvida: valeria para o trinio prximo? Porm, pela natureza da vanta-gem ela adere ao vencimento e inclui-se, at, nos clculos dos proventos de aposenta-doria, como lembra Maria Sylvia Zanella Di Pietro6 e, assim, incorporou-se o percentual que vinha desde o incio percebendo direito adquirido e tornou-se irredutvel. A irre-dutibilidade de vencimentos garantia constitucional (art. 37, XV, e art. 39, 2, combi-nado com o art. 7, VI)7.

    2. ATOS ADMINISTRATIVOS

    (TJ/MS/Juiz/2010) Segundo o entendimento jurdico predominante, o controle judicial do ato administrativo (ainda que praticado em nome de alguma discriciona-riedade) permite o exame dos motivos? Justifique.

    DIRECIONAMENTO DA RESPOSTA

    H necessidade de salientar os requisitos do ato administrativo e diferenciar ato vinculado de ato discricionrio.

    SUGESTO DE RESPOSTA

    O ato administrativo possui cinco requisitos: competncia, finalidade, forma, ob-jeto e motivo. Os trs primeiros so sempre vinculados ou regrados, isto , o agente p-blico fica preso aos termos da lei, em todas suas especificaes. O objeto e o motivo po-dero vir definidos em lei, ou deixados a critrio do administrador; neste caso, o ato ser discricionrio e se trata do mrito administrativo, que consubstancia-se na valorao dos

    6. Direito Administrativo, 26. ed., SP: Atlas, p.670.

    7. Digenes Gasparini, Direito Administrativo, 17. Ed., SP: Saraiva, p. 250, assevera que no h motivo capaz de justificar a reduo dos valores percebidos pelos agentes pblicos assim remunerados.

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    DIREITO ADMINISTRATIVO

    motivos e na fixao do objeto do ato, com a Administrao vendo a convenincia, opor-tunidade ou justia dele.

    Mas o Poder Judicirio o ltimo rbitro da legalidade e para verific-la poder controlar todos os atos da Administrao Pblica, vinculados ou discricionrios, pois s assim, saber se estes realmente esto revestidos dessa qualidade e, tambm, para ve-rificar se a discrio no desbordou para o arbtrio. O que no pode fazer substituir a discricionariedade do administrador pela do juiz, o que vale para o cerne da questo: o Poder Judicirio no poder entrar no mrito da valorao dos motivos do ato8, mas tem competncia para verificar e decidir sobre sua ilegitimidade (contrariou princpios da Administrao Pblica) e legalidade (se est dentro dos limites traados pela lei)9.

    3. BENS PBLICOS

    (TJ/RJ/Juiz/2012) A gua um bem comum do povo e um recurso natural limi-tado e mensurado economicamente, mediante retribuio financeira que pode pos-sibilitar, dentre outros, a recuperao dos investimentos necessrios a sua capta-o, conservao, recuperao de suas qualidades bsicas e distribuio. Com base nessas premissas fale sobre a captao de pouca quantidade de gua por particula-res, em reas privadas, em poos artesianos e a possibilidade de cobrana direta-mente pelo poder pblico ou por seus delegatrios.

    DIRECIONAMENTO DA RESPOSTA

    gua, bem comum do povo e bem de domnio pblico. Salientar que tem valor econmico e como utilizada.

    SUGESTO DE RESPOSTA

    A gua bem comum do povo e a Lei 9.433/97 a considera um bem de domnio pblico, recurso natural limitado e dotado de valor econmico, e exige outorga onerosa pelo Poder Pblico (arts. 12 e 19), salvo para aproveitamentos considerados insignifi-cantes. Assim, a captao de pouca quantidade de gua por particulares em reas

    8. Motivo ou causa a situao de direito ou de fato que determina ou autoriza a realizao do ato administrativo (Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo, 30. Ed., SP: Malheiros, p. 153). Motivo o pressuposto de fato que autoriza ou exige a prtica do ato. , pois, a situao do mundo emprico que deve ser tomada em conta para a prtica do ato (Celso Antonio Bandeira de Mello, Curso de Direito Administrativo, 24. Ed., SP: Malheiros, p. 385).

    9. Ao Poder Judicirio permitido perquirir todos os aspectos de legalidade e legitimidade para descobrir e pronunciar a nulidade do ato administrativo onde ela se encontre, e seja qual for o artifcio que a encubra (Hely Lopes Meirelles, ob. cit., p. 689).

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    COLEO PREPARANDO PARA CONCURSOS

    privadas, gratuita. Quanto aos poos artesianos, sabe-se que rgos da Administrao passaram a cobrar considerando sua gua bem de uso especial, mas, s h esse direito de cobrana (que decorre do valor econmico desse recurso natural) quando o poo ar-tesiano para uso comercial, pois a gua que est no subsolo do uso do proprietrio do solo e poder utiliz-la para seu uso pessoal, como tradicionalmente ocorria no pas-sado com os poos abertos nos quintais das residncias, antes da canalizao urbana.

    4. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

    (Cespe/TJ/PA/Juiz/2012) Considere que o poder pblico municipal, aps a realizao de procedimento licitatrio, tenha celebrado, com determinada empresa, contrato para a prestao de servio de transporte e que lei especfica posterior te-nha aumentado a carga tributria que seria suportada pela empresa. Em face dessa situao hipottica, responda, de forma fundamentada, se o particular contratado pelo poder pblico tem direito reviso dos valores do contrato para suprir a despe-sa decorrente do correspondente recolhimento.

    DIRECIONAMENTO DA RESPOSTA

    A marca do contrato administrativo, a existncia de peculiaridades prprias deve ser destacada, especialmente a clusula da equao financeira ou do equilbrio econmico.

    SUGESTO DE RESPOSTA

    O que caracteriza o contrato administrativo, onde de um lado est a Administrao Pblica, agindo nessa qualidade, a existncia de certas peculiaridades inexistentes em ajustes submetidos s regras do Direito Privado so as clusulas exorbitantes, aque-las que ultrapassam as regras do Direito comum para dar uma vantagem ou uma limi-tao a uma das partes10.

    Dentre as clusulas exorbitantes inclui-se a referente ao equilbrio financeiro ou equao econmica, que procura resguardar a relao inicial entre encargo-remunera-o durante a execuo do contrato, evitando reduo nos lucros normais do contrata-do. Busca-se a justa remunerao do objeto contratual, pela manuteno das condies iniciais entre os encargos do contratado e a retribuio da Administrao11.

    10. Andr de Laubadre, Manuel de Droit Adminsitrtif, 14. ed., Paris: Libraire Gnrale de Droit et de Jurisprudence, p. 257, depois de elencar as clusulas exorbitantes como critrio do contrato administrativo, assevera: contrato administrativo todo ajuste que no se encontram normalmente nos contratos particulares.

    11. Caio Tcito, Direito Administrativo, SP: Saraiva, 1975, p. 293, destaca a necessidade de se resguardar os interesses do contratado, pela garantia do direito ao equilbrio

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    DIREITO ADMINISTRATIVO

    A Lei 8.666/93, no art. 58, 2, prev, a alterabilidade de clusulas econmico-fi-nanceiras para que se mantenha o equilbrio contratual.

    Portanto, o particular contratado pelo Poder Pblico tem direito reviso dos va-lores do contrato para suprir a despesa do aumento da carga tributria.

    5. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

    (TJ/RJ/Juiz/2013) O Ministrio Pblico ajuza ao, com base na Lei n. 8.429/92, para ver condenado o Prefeito Chiquinho da Silva a perda do cargo, sus-penso dos direitos polticos, ressarcimento do errio e multa. Como fundamento de sua pretenso, aduz que os familiares do prefeito usavam a cota de combustvel des-te para encher o tanque dos seus respectivos carros, bem como no terem sido publi-cados os atos de nomeao para cargos de confiana e comisso, entre janeiro e ju-lho de 2008. Notificado, o Prefeito aduz que os gastos a ttulo de combustvel, por seus familiares, no chegaram a trs mil reais, e que ocorreram entre janeiro e abril de 2008, e que os atos de nomeao foram publicados em data recente, suprindo a omisso. A ao foi recebida, trazendo apresentao de contestao, onde o prefeito aduziu: preliminarmente, a impossibilidade de aplicao da Lei n. 8.429/92, por ser agente poltico; incompetncia do juzo fazendrio de primeiro grau; incidncia da prescrio quinquenal, na medida em que a ao foi ajuizada em setembro de 2013; impossibilidade de aplicao da lei de improbidade diante da insignificncia do gas-to a ttulo de combustvel, sendo certo no haver m-f de sua parte, pois sempre foi uma praxe que familiares do prefeito pudessem se valer dessa verba; e ausncia de objeto quanto questo de publicao dos atos administrativos no incio do ano de 2013. O processo tem curso normal, onde os fatos mencionados pelo Prefeito, quan-to ao valor e publicao, so comprovados. Sendo voc o juiz da causa, ciente de que o Prefeito foi reeleito em 2012, como decidiria?

    econmico-financeiro: Essa garantia do equilbrio econmico-financeiro do contrato administrativo que tem outras implicaes (. . .) preserva a sua natureza comutativa (equivalncia intrnseca entre as prestaes) e sinalagmtica (reciprocidade das obrigaes). Celso Antonio Bandeira de Mello, Curso de Direito Administrativo, 24. Ed., SP: Malheiros, p. 608, no mesmo sentido: A outra face do problema, contraposta s prerrogativas da Administrao, assiste precisamente no campo das garantias do particular ligado pelo acordo. Cabe-lhe integral proteo quanto s aspiraes econmicas que ditaram seu ingresso no vnculo e se substanciaram, de direito, por ocasio da avena, consoante os termos estipulados. Essa parte absolutamente intangvel e poder algum do contratante pblico, enquanto tal, pode reduzir-lhe a expresso, feri-la de algum modo, macular sua fisionomia ou enodo-la com jaa, por pequena que seja (. . .). uma proteo excepcionalmente grande com o resguardo do objetivo de lucro buscado pelo contratante privado.

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    COLEO PREPARANDO PARA CONCURSOS

    DIRECIONAMENTO DA RESPOSTA

    Deve o candidato destacar os princpios que regem a Administrao Pblica; des-tacar a aplicabilidade da Lei n. 8429/92 aos chefes do Poder Executivo Municipal e co-mentar sobre a prescrio em Ao de Improbidade Administrativa.

    SUGESTO DE RESPOSTA

    A Lei n. 8429/92 aplica-se aos prefeitos, com a preliminar arguida afastada de plano. Tranquila jurisprudncia firmou-se no sentido da aplicabilidade da LIA aos pre-feitos municipais. No h qualquer norma que imunize os agentes pblicos sujeitos a crime de responsabilidade das sanes por ato de improbidade previstas no art. 37, 4, da Constituio12, sendo o juzo fazendrio de primeiro grau o competente.

    Quanto ao mrito, o uso de combustvel, por familiares do prefeito, entre janeiro e abril de 2008, embora de pequeno valor (R$ 3.000,00), afrontou os princpios da morali-dade e da legalidade, causou leso ao errio, pois ensejou perda patrimonial ao Municpio, com desvio de verbas que seriam usadas na consecuo de atividades administrativas.

    O caso da questo est explicitamente tipificado pelo art. 10, II, da Lei 8429/92, e agride o caput, do art. 37, da Constituio. O Prefeito no distinguiu o honesto do desones-to; feriu a proposio alentada pelo Direito e consagrada pelos romanos: honesto vivere.

    Com referncia publicao dos atos de nomeao para cargo de confiana e co-misso entre janeiro e julho de 2008, houve equvocos formais, mas que no demons-tram m-f. O princpio da legalidade foi ferido, mas indispensvel a comprovao da m-f para caracterizao de atos de improbidade.

    Portanto, merece o Prefeito, na condenao prevista no art. 12, da LIA, no seu in-ciso II, a devoluo do dinheiro ilegalmente desviado do patrimnio pblico, de R$ 3.000,00, mais multa civil de R$ 6.000,00, tudo devidamente corrigido, quanto as de-mais sanes, os princpios da razoabilidade e proporcionalidade merecem prevalecer, sendo de bom tamanho as sanes impostas, como tranquila jurisprudncia decide13.

    No houve prescrio, que s ocorre aps cinco anos do trmino do exerccio do mandato (art. 23, I, da LIA).

    (Cespe/TJ/PB/Juiz/2011) Ao de improbidade administrativa aquela em que se pretende o reconhecimento judicial de conduta de improbidade na administrao e a consequente aplicao das sanes legais, com o escopo de preservar o princpio da

    12. STJ, Recl. 2790, Rel. Min. Teori Zavascki, DJe 4.3.10. STJ, AgRg no REsp. 1.189.265/MS, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 14.2.11.

    13. Quando no Tribunal de Justia, sempre adotei esta posio. V.g. meu voto 9453, Ap. 806.271-5/0-00, 11 Cmara do Direito Pblico.

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    DIREITO ADMINISTRATIVO

    moralidade administrativa. Sem dvida, cuida-se de poderoso instrumento de con-trole judicial sobre atos que a lei caracteriza como de improbidade. (Jos dos Santos Carvalho Filho. Manual de direito administrativo. 23. ed., 2010, p. 1.166, com adap-taes). Considerando a informao acima como referncia inicial, redija um texto dissertativo acerca da ao de improbidade administrativa como instrumento de de-fesa da moralidade no exerccio da funo pblica. Ao elaborar seu texto, aborde, ne-cessariamente, os seguintes aspectos: (i) sujeito passivo e sujeito ativo da ao de im-probidade administrativa; (ii) categorias dos atos de improbidade previstas na Lei n. 8.429/1992; (iii) modalidades de sanes aplicveis improbidade administrativa.

    DIRECIONAMENTO DA RESPOSTA

    Dar nfase ao princpio da moralidade; depois, como a prpria questo determina-da, comentar os sujeitos da ao de improbidade; as trs categorias dos atos de improbi-dade (arts. 9, 10 e 11, da LIA), e comentar o art. 12, da referida lei, sobre as sanes.

    SUGESTO DE RESPOSTA

    O princpio da moralidade, consagrado pelo art. 37, da Constituio, um dos pressupostos do sistema democrtico constitucional brasileiro, uma proposio bsi-ca que condiciona toda a estrutura administrativa nacional.

    O princpio foi sistematizado por Hauriou, na Frana, e destaca a obrigao do agente pblico em no s saber distinguir o bem e o mal, o legal e o ilegal, o justo do injusto, o conveniente e o inconveniente, mas tambm entre o honesto e o desonesto. Decorre do honesto vivere, fundamento de todas as relaes humanas, principalmente de quem est investido de atividades pblicas, que lidam com o Bem Comum.

    Os sujeitos passivos dos atos de improbidade administrativa vm previstos no art. 1, da Lei 8.429/92 e consistem nos agentes pblicos e empregados pblicos, mais os que de forma indireta se relacionam com os servios pblicos em resumo, todos os agentes que tem atribuies de gesto de verbas pblicas e que exercem atividades p-blicas ou privadas de interesse pblico.

    O rol enorme, abrangendo desde as entidades estatais (Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios), os rgos de suas administraes direta e indireta; os rgos dos Trs Poderes, do Ministrio Pblico, dos Tribunais de Contas, passando pelas empresas privadas que dependem de controle do Poder Pblico, as empresas incorporadas ao pa-trimnio pblico, as ONGs, os servios sociais autnomos.

    Os sujeitos ativos dos atos de improbidade so os agentes pblicos, todos os que exercem, por eleio, nomeao ou designao, contratao ou qualquer outra forma de investidura ou vnculo, mandato, cargo, emprego ou funo pblica, mesmo se for de for-ma transitria ou sem remunerao (art. 2, da LIA). A lei adotou o mais elstico dos con-ceitos de agente pblico, aquela pessoa fsica incumbida, definitiva ou transitoriamente,

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    COLEO PREPARANDO PARA CONCURSOS

    do exerccio de alguma funo estatal14 , o que atinge a todos os que atuam nos servios pblicos e os particulares em colaborao com o Poder Pblico; e at terceiros, que aufe-riram benefcio ilcito.

    O art. 12, da LIA, cuida das sanes, independentemente das penais, civis e admi-nistrativas, previstas na legislao especfica e, para cada tipo de improbidade (enrique-cimento ilcito; prejuzo ao errio e atentado contra os princpios da Administrao Pblica) previu: perda de bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimnio, ressar-cimento integral do dano, perda da funo pblica, suspenso dos direitos polticos, pa-gamento de multa civil, proibio de contratar com o Poder Pblico, receber benefcios ou incentivos fiscais ou creditcios, direta ou indiretamente, ainda que por intermdio de pessoa jurdica da qual seja scio majoritrio.

    As penas podem ser aplicadas cumulativamente, ou abrandadas pelos princpios da razoabilidade e proporcionalidade15.

    6. INTERVENO DO ESTADO NA PROPRIEDADE

    (TJ/RJ/Juiz/2013) Aps o procedimento legal prprio, o Estado do Rio de Janeiro realiza escritura pblica de desapropriao de determinado imvel perten-cente a Caio Tcio, visando nele construir um hospital. Caio Tcio, seis meses aps, constatando a omisso do Estado em registrar a escritura e tomar posse do bem, o aliena para Mrio da Silva que, de boa-f, inicia a construo de uma casa. Neste instante, o Estado do Rio de Janeiro o notifica informando ser o proprietrio e ter interesse em construir um hospital na rea. Observando a recusa de Mrio da Silva em entregar o imvel, o Estado ajuza ao reivindicatria, que contestada ao ar-gumento da boa-f, advinda da presuno de propriedade que se retira do registro imobilirio, sendo certo que j pagou o valor total ajustado no contrato de compra e venda, que foi, inclusive, j levado a registro. O processo tem trmite normal, deixando o Ministrio Pblico de se manifestar por ausncia de interesse. Sendo voc o juiz da causa, como decidiria, explicitando o motivo, ciente de que todas as alegaes de Mrio da Silva foram comprovadas no curso do processo?

    DIRECIONAMENTO DA RESPOSTA

    Chamar a ateno para as caractersticas de um bem pblico e da desapropriao. Lembrar que quem causar dano a outro, por culpa ou dolo, deve indeniz-lo.

    14. Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Brasileiro, 30. ed., SP: Malheiros, p. 75.

    15. Vide Marino Pazzaglini Filho, Lei de Improbidade Administrativa Comentada, 4. ed., SP: Atlas, p. 143 e seguintes. STJ, REsp 82.576/SP; REsp 1.003.179/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 05/08/08; STJ, REsp 794.155/SP, Rel. Min. Castro Meira, j. 22.08.06.

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    DIREITO ADMINISTRATIVO

    SUGESTO DE RESPOSTA

    O Estado do Rio de Janeiro, amigavelmente, desapropriou imvel particular atra-vs de escritura pblica, mas omitiu-se em matricular a escritura e tomar posse do bem. O antigo proprietrio alienou o mesmo bem a terceiro que, de boa-f inicia a constru-o de casa. notificado pelo Estado informado da utilizao pblica do bem, mas o comprador nega entreg-lo.

    O Estado ajuizou ao reivindicatria e, em contestao, alegou-se boa-f, advin-da da presuno de propriedade que se retira do registro de imveis, que pagou o pre-o e matriculou o imvel no Registro competente.

    Ao adquirir o imvel por escritura pblica, aps declarao de utilidade ou neces-sidade pblica, mesmo no cumprida a importante formalidade da matrcula, o terreno transformou-se em bem pblico, tornando-se imprescritvel, impenhorvel e no sujei-to onerao, pois originalmente inalienvel. Ao escolher aquele imvel para constru-o de hospital, a Administrao utilizou-se da mais drstica forma de manifestao do poder de imprio, da soberania16, que se exerce sobre tudo, pessoas e coisas que se en-contrem no territrio estatal.

    Embora, neste caso, no se adentrou na fase executria da desapropriao, pois resolvida por escritura pblica, teve uma caracterstica bsica: a desapropriao for-ma originria de aquisio da propriedade e, por isso, o bem expropriado torna-se insus-cetvel de reivindicao e liberam-se todos os nus que, precedentemente, sobre ele in-cidiam, com os eventuais credores sub-rogados no preo da indenizao.

    Portanto, o ru da ao no tem direito propriedade do imvel. A reivindicao do bem milita em favor da Administrao, pela interpretao, a contrrio senso, do art. 35, do Decreto Lei 3.365/41, pois bens incorporados, no podem ser objeto de reivindi-cao pelo expropriado.

    Mas, o Poder Pblico omitiu-se em no levar matrcula o bem, o que induziu a erro o ru, que confiou o negcio ausncia de qualquer impedimento e atuou com comprovada boa-f, o que leva obrigatoriedade de indeniz-lo pelos prejuzos causa-dos pela sua inrcia, pois a omisso consiste num abuso de poder17.

    Assim, os gastos com a edificao e danos morais decorrentes da omisso deve-ro ser suportados pela Administrao.

    16. Soberania poder incontestvel de querer coercitivamente e de fixar competncia, como ensinava Ataliba Nogueira, em suas aulas de Teoria Geral do Estado, na USP.

    17. A inrcia provocou uma no administrao, a omisso de atuar quando o exerccio da atividade positiva correspondente era objeto de uma obrigao concreta imposta Administrao (Renato Alessi, Instituciones de Derecho Administrativo, II, trad. da 3 ed. italiana por Buenaventura Pellis, Barcelona: Bosch, p. 600).