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DIREITO ADMINISTRATIVO

1. AGENTES PÚBLICOS

(FCC/PGE/SP/Procurador/2012) Pode a Administração pública exonerar “ad nutum” servidora gestante ocupante exclusivamente de cargo em comissão? Responda a questão à luz da Constituição Federal e coteje com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.

DIRECIONAMENTO DA RESPOSTA

O primeiro ponto aqui é responder de forma direta que a gestante, mesmo que ocupante de cargo exonerável “ad nutum”, goza de estabilidade provisória. Trazendo os complementos pedidos pela questão, deve-se mencionar que a jurisprudência do STF vem no sentido apontado, podendo ser citado o RE 420.839/DF (DJ 26.4.2012)1. Por fim, mencione o art. 10, II, “b” do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, pois é o dispositivo que garante a estabilidade provisória à gestante.

SUGESTÃO DE RESPOSTA

A Administração pública não pode exonerar servidora gestante, ainda que esta ocupe cargo exonerável “ad nutum”.

Por um lado, o art. 37, II, da Constituição Federal diz que os cargos em comissão são de livre exoneração, mas, por outro lado, o art. 10, II, “b” do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias garante à gestante direito à estabilidade provisória.

Julgando o conflito aparente entre estes dois dispositivos, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a proteção à maternidade e à dignidade do nascituro deveria pre-valecer sobre a liberdade conferida ao administrador. Assim, restou estabelecida a prevalência da estabilidade provisória no caso em pauta, gerando uma limitação à

1. “As servidoras públicas, em estado gestacional, ainda que detentoras apenas de cargo em comissão, têm direto à licença-maternidade e à estabilidade provisória, nos termos do art. 7º, inciso XVIII, c/c o art. 39, § 3º, da Constituição Federal, e art. 10, inciso II, alínea b, do ADCT”.

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discricionariedade administrativa tradicionalmente vista nas nomeações e exonera-ções de cargos em comissão.

Com efeito, tais cargos não perdem a natureza de transitoriedade de sua ocupa-ção, inclusive porque a condição gravídica é também transitória. O que se buscou com tal entendimento foi tão somente proteger a mãe e o nascituro, evitando que pudessem ficar repentinamente desamparados quanto ao aspecto financeiro.

Ademais, a proteção aqui verificada é concedida a todas as gestantes, indiscri-minadamente, não sendo plausível criar uma exceção para as ocupantes de cargo em comissão. Basta lembrar, exemplificando, que uma empregada privada também pode ser demitida livremente, em regra, devendo o empregador tão somente pagar os valo-res legalmente devidos. Ora, se a elas é garantido o direito à estabilidade, onde já não basta o mero pagamento das verbas rescisórias, não faria sentido que outra espécie de trabalhadora não tivesse o mesmo direito.

Por oportuno, vale ressaltar que esta lógica também vale para a ocupante de car-go em comissão que esteja no gozo de licença maternidade, inclusive em razão da inci-dência do art. 7º, XVIII, combinado com o art. 39, § 3º, da Constituição Federal.

(PGE/RJ/Procurador/2012) Procurador do Estado aposentado em 1995 pres-tou novo concurso público e, em 1996, foi aprovado para o cargo de Procurador da República, tomando posse e entrando em exercício no mesmo ano. Passados mais de dez anos e após completar 70 (setenta) anos de idade, apresentou requerimento ad-ministrativo à Procuradoria Geral do Estado, formulando os seguintes pedidos al-ternativos: (1º) percepção simultânea dos proventos dos cargos de Procurador do Estado e de Procurador da República; (2º) emissão de certidão de tempo de contri-buição relativa ao período em que foi Procurador do Estado com o objetivo de aver-bação deste tempo junto ao órgão federal para fins de percepção de aposentadoria mais vantajosa no cargo de Procurador da República. Na condição de Procurador do Estado, analise fundamentadamente os requerimentos formulados.

DIRECIONAMENTO DA RESPOSTA

A questão exige o conhecimento da Emenda à Constituição (EC) n. 20/98, espe-cialmente de seu art. 11, e do instituto da desaposentação.

O primeiro requerimento encontra óbice no citado art. 11, motivo pelo qual não é viável. O segundo pedido pressupõe a figura da desaposentação, exigindo que o re-querente renuncie à aposentadoria como Procurador do Estado, mas permitindo que ele obtenha certidão de tempo de contribuição relativa ao período em que foi Procurador do Estado com o objetivo de averbação deste tempo junto ao órgão federal. Assim, ape-nas o segundo requerimento pode ser atendido.

Sobre o tema desaposentação, é recomendável acompanhar o RE 661256/DF.

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SUGESTÃO DE RESPOSTA

A avaliação dos requerimentos formulados exige a análise da Emenda à Constituição (EC) n. 20/98, especialmente de seu art. 11, e do instituto da desaposentação.

Verifica-se que, num primeiro momento, o Procurador em questão passou a acumu-lar proventos de aposentadoria com remuneração de atividade em cargo público, isto em momento anterior à Emenda supracitada. Embora não fosse pacífica tal possibilidade, a EC 20/98 consolidou as situações preexistentes, tal como ocorre no caso em tela.

Porém, atingida a idade da aposentadoria compulsória, o primeiro requerimento formulado questiona a possibilidade de acumulação de dois proventos derivados de cargos não acumuláveis na atividade. Tal pedido é juridicamente inviável, pois encontra óbice expresso no retro mencionado art. 11 da EC 20/98.

Verificada a impossibilidade de dar atendimento ao primeiro requerimento, cum-pre analisar o segundo.

No segundo pedido, o requerente pretende que seja emitida certidão do tempo de contribuição relativo ao período em que foi Procurador do Estado, isto com o objeti-vo de averbar este tempo junto ao órgão federal e, com isso, obter aposentadoria mais vantajosa no cargo de Procurador da República.

Tal requerimento, constatada a inviabilidade do primeiro pedido, pressupõe a renúncia à aposentadoria como Procurador do Estado, configurando a hipótese de de-saposentação, que pode ser conceituada como a possibilidade do segurado renunciar à aposentadoria com o propósito de obter benefício mais vantajoso, isto mediante a soma de seu tempo de contribuição anterior com seu tempo de contribuição posterior à primeira aposentadoria.

Atualmente, doutrina e jurisprudência majoritárias admitem tal figura. A aposen-tadoria é considerada um direito disponível e, portanto, renunciável. Havendo a renún-cia, revela-se cabível o uso do respectivo tempo de contribuição para a obtenção de nova aposentadoria. Caso contrário, o requerente perderia, para efeito de aposentação, todo o período de contribuição anterior, o que configuraria flagrante injustiça. Assim, o segundo requerimento deve ser atendido, de acordo com os termos acima expostos.

2. ATOS ADMINISTRATIVOS

(PGE/RJ/Procurador/2012) Considerando o disposto no art. 8º da Lei Federal n. 9.074, de 7.7.95, conceitue o instituto de controle administrativo nele contemplado, in-dicando os seus princípios orientadores, os seus campos preferenciais de emprego, bem como o que representa, positiva ou negativamente, para a Administração Pública.

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DIRECIONAMENTO DA RESPOSTA

Este é um tipo de questão comum na PGE/RJ, visto que explora um tema bem es-pecífico. O artigo citado traz uma hipótese de atividade comunicada, que são atividades que devem ser informadas à administração pública.

Tais atividades não se caracterizam como serviço público, mas como atividade privada, por isso seus princípios norteadores são aqueles relativos à ordem econômica, cabendo mencionar o princípio da eficiência quanto ao aspecto da atuação do Estado.

Como tangenciado acima, os campos preferenciais de emprego do instituto são as atividades econômicas de interesse geral.

Por fim, é importante ressaltar que a PGE/RJ tende a ver com bons olhos estes instrumentos que tornam a ação estatal mais subsidiária, motivo pelo qual é interes-sante destacar como aspectos positivos as liberdades e ganhos de eficiência trazidos por tal modelo. Os aspectos negativos, no presente caso, estariam mais ligados ao mau uso do instituto.

SUGESTÃO DE RESPOSTA

O art. 8º da Lei Federal nº 9.074/95 traz uma hipótese de atividade comuni-cada. Enquadram-se neste instituto as atividades que devem ser informadas à admi-nistração pública, possibilitando o registro de dados e a adoção de providências de polícia administrativa.

As atividades comunicadas têm como campo preferencial de emprego o con-junto das atividades que, embora de interesse geral, não se enquadram como serviço público e não estão sujeitas a concessão, permissão ou autorização.

Estão primordialmente no campo de incidência de tal instituto os chamados ser-viços de interesse econômico geral, que estão no âmbito da livre iniciativa, são desen-volvidos em regime privado, mas sujeitam-se a uma fiscalização estatal mais rigorosa.

Considerando a natureza das atividades onde há incidência deste instituto, po-dem ser colocados entre os princípios orientadores das atividades comunicadas aque-les elencados como princípios da ordem econômica, conforme previsto no art. 170 da Constituição Federal. Destaca-se, por certo, o princípio da livre iniciativa, visto que tais atividades não estão sujeitas a delegação ou autorização do Estado.

Outro princípio que pode ser considerado como orientador do uso das ativi-dades comunicadas é o princípio da eficiência. Com efeito, ao manter a liberdade de atuação no mercado ao mesmo tempo em que exige a comunicação ao Poder Público, o instituto em análise representa um incremento à competição com vistas à eficiência na atuação estatal.

Dentro deste contexto de valorização da livre iniciativa e da busca pela eficiên-cia, as atividades comunicadas representam um avanço positivo para as técnicas de

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controle estatal, visto que permitem o início imediato das atividades a ela sujeitas, não dependendo de prévia autorização ou algo similar. No mesmo sentido, os serviços pri-vados englobados por tal instituto não estão sujeito a penalizações específicas, tal como ocorreria em um serviço concedido, mas sim à paralisação da atividade conside-rada irregular, o que traz maior segurança e estímulo ao agente econômico privado.

Assim, as atividades comunicadas trazem, em regra, consequências positivas. Eventuais reflexos negativos, por sua vez, normalmente decorrem do mau uso de deste instrumento, como na hipótese de o Estado usar a exigência de comunicação como forma de limitar indevidamente a liberdade privada.

3. BENS PÚBLICOS

(FCC/PGE/RO/Procurador/2011) A posse de bem público durante 5 anos, em imóvel de 250m², gera algum direito real?

DIRECIONAMENTO DA RESPOSTA

A questão merece atenção redobrada. Perceba que o que se pergunta é se a pos-se de bem público nas condições mencionadas gera algum direito real, não se tal pos-se permite usucapir o bem ou de qualquer outra forma adquirir a propriedade.

Assim, o ponto central para a resposta é conhecer a figura da concessão de di-reito de uso de natureza especial, criada pela Medida Provisória nº 2.220/01 e inse-rida no rol dos direitos reais (art. 1.225 do Código Civil) pela Lei nº 11.481/07.

SUGESTÃO DE RESPOSTA

A situação trazida pela questão pode efetivamente gerar algum direito real. Neste caso, o direito real adquirido seria direito de uso de natureza especial, nos termos pre-vistos pelo art. 1º da Medida Provisória nº 2.220/01, desde que presentes os outros re-quisitos mencionados nesta norma. Tal figura jurídica foi expressamente inserida no rol dos direitos reais (art. 1.225 do Código Civil) pela Lei nº 11.481/07.

Ressalte-se que a ideia de “possuir como seu”, trazida pela mencionada Medida Provisória diz respeito a requisito subjetivo para a aquisição de tal direito. Com efeito, segundo posicionamento do Superior Tribunal de Justiça, o particular não chega a ter posse de um bem público, caracterizando-se a mera detenção.

Porém, no caso do direito real aqui analisado, tal distinção não tem relevância prática, pois o fato da pessoa morar, como se seu fosse, em imóvel público de até 250m² por 5 anos já dá a ele o direito de uso de natureza especial para fins de mora-dia, desde que cumpridos os demais requisitos da Medida Provisória supra citada.

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Tal direito, porém, não pode ser confundido com direito de propriedade, visto que os imóveis públicos não se sujeitam à usucapião, sejam eles localizados em área urbana ou em área rural, conforme, respectivamente, arts. 183, § 3º, e 191, parágrafo único, da Constituição Federal.

No caso em pauta, tendo em vista, de um lado, a impossibilidade de usucapir imóveis público e, de outro lado, o direito à moradia, a solução encontrada pelo legis-lador foi a concessão deste direito de uso para fins de moradia, que é uma forma de “quase usucapião”.

Quanto aos requisitos previstos no artigo 1º da mencionada medida provisória, o caso trazido pela questão apresenta dois deles: posse por cinco anos e imóvel de até 250m² quadrados.

Vale ressaltar que tal posse deve ser ininterrupta e sem oposição, bem como pre-cisa ter completado 5 anos até 30 de julho de 2001. Isto é, o objetivo do legislador é re-conhecer o direito daqueles que já estavam em tal situação, sem, porém, incentivar in-vasão de imóveis públicos. Outro ponto a ser mencionado é que estes requisitos só valem para imóveis em área urbana.

Além dos expostos, são outros requisitos: utilização do imóvel para moradia; não ser proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel rural ou ur-bano e, por fim, a ausência de reconhecimento do mesmo direito anteriormente. Cumpridos tais pressupostos é possível a aquisição de direito real de uso de nature-za especial para fins de moradia.

(FCC/PGE/MT/Procurador/2011) Explique fundamentadamente as caracterís-ticas essenciais do instituto do aforamento de bens públicos e esclareça se um bem pú-blico, aforado a um particular, pode ser objeto de desapropriação do Estado.

DIRECIONAMENTO DA RESPOSTA

Para traçar as características essenciais de tal instituto é preciso ter conheci-mento da Lei nº 9.636/98 e dos Decretos-Lei nº 9760/1946 e nº 2.398/87. Na respos-ta não pode faltar o desdobramento entre o domínio direto (que fica com a União) e o domínio-útil (que fica com terceiro). Também é importante apontar os pagamentos do foro e do laudêmio (este último quando ocorrer transferência onerosa).

Sobre a possibilidade de desapropriação, a questão se resolve com a análise do art. 2º, § 2º, do Decreto-Lei 3.365/1941. Assim, o domínio da União não pode ser desapropriado, mas o domínio-útil pertencente a um particular, por exemplo, está sim sujeito à desapropriação.

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SUGESTÃO DE RESPOSTA

Aforamento é um regime dominial de natureza pública, relacionado ao regime ci-vil da enfiteuse (este já não mencionado no atual Código Civil), aplicando-se a bens imóveis da União, sendo regulado pelas disposições da Lei nº 9.636/98 e pelos Decretos-Lei nº 9760/1946 e nº 2.398/87.

No regime jurídico do aforamento a União aliena o domínio-útil do seu bem e permanece com o domínio direto do imóvel. O foreiro, que é o titular do domínio útil, pode usar, gozar e dispor do imóvel com prerrogativas de proprietário.

A União, na qualidade de senhorio, titular do domínio direto, tem o direito de re-ceber uma importância denominada foro.

Registre-se que, além do foro pago periodicamente, a transferência onerosa do do-mínio útil está sujeita ao pagamento de laudêmio, também recolhido em favor da União.

Quanto à possibilidade de desapropriação, considerando que os bens aforados serão sempre bens da União, não é possível a desapropriação do domínio pleno, isto é, da propriedade do imóvel. Isto ocorre porque o art. 2º, § 2º, do Decreto-Lei 3.365/1941, traz uma espécie de hierarquia entre entes federados, vedando a desa-propriação de bens federais pelos demais entes (bem como a desapropriação de bens estaduais e federais pelos municípios).

Porém, estando o bem aforado a um particular, nada impede que um estado--membro ou um município desapropriem o domínio-útil de tal imóvel, pois, neste exemplo, o domínio útil do bem é um direito real pertencente ao particular, não à União. Aqui ocorre um desdobramento dos poderes dominiais, assim, apesar do do-mínio da União não poder ser desapropriado, o domínio-útil do particular está su-jeito à desapropriação.

(FMP/PGE/AC/Procurador/2014) Examine o instituto da afetação e sua relação com o domínio.

DIRECIONAMENTO DA RESPOSTA

A afetação é um instituto do Direito Administrativo, relacionado ao regime jurídi-co dos bens públicos. Disto é possível extrair que a relação com o domínio pedida na questão diz respeito ao domínio enquanto instrumentalizador dos direitos de proprie-dade, mais especificamente quanto à propriedade pública (tal conclusão tem por base também os critérios de correção utilizados pela banca examinadora).

Assim, tal exame deve partir da análise do regime jurídico dos bens públicos, in-cluindo sua classificação e suas características, especialmente naquilo que se relaciona com a afetação. Não se deve esquecer, ainda, a relação do instituto da afetação com os bens particulares destinados à prestação de um serviço público.

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SUGESTÃO DE RESPOSTA

Para analisar o instituto da afetação, cabe primeiro tratar da figura jurídica do do-mínio. Domínio, conceitualmente, abarca as faculdades de gozar, usar, dispor e reaver coisa. Anote-se que são estas faculdades que instrumentalizam direito de propriedade.

Porém, propriedade e domínio não são sinônimos, visto que o conceito de pro-priedade envolve também a necessidade de fazer com que o bem cumpra sua fun-ção social. Esta é a tônica da Constituição da República, manifestada em seu arts. 5º, XXII e XXIV, e 170, II e III.

É dentro desta concepção funcionalista do exercício do direito de propriedade que se insere a figura da afetação, visto que ela é um fato administrativo por meio do qual se atribui a um bem público uma destinação especial.

Neste sentido, os bens podem ser considerados públicos de acordo com dois cri-térios. Conforme o critério subjetivo, adotado pelo art. 98 do Código Civil, são bens pú-blicos os pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno.

Já nos termos do critério objetivo (concepção funcionalista), são bens públicos aqueles afetados (no sentido de destinados) a uma atividade de competência do Estado. Embora tal critério não seja aceito majoritariamente, ele tem servido para atribuir a bens de concessionárias de serviços públicos características do regime jurí-dico dos bens públicos, ainda que tais bens continuem sendo considerados privados.

Para examinar a afetação é ainda importante ter em conta a classificação dos bens públicos quanto à destinação. Nos termos do art. 99 do Código Civil, os bens públi-cos podem ser de três espécies:

1) Bens de uso comum do povo são os bens destinados à utilização geral. As praças e ruas, por exemplo. Conforme art. 103 do Código Civil, este uso pode ser gra-tuito ou retribuído.

2) Bens de uso especial são aqueles que visam à execução dos serviços adminis-trativos e dos serviços públicos em geral.

3) Bens dominicais são todos aqueles que não têm uma destinação pública de-finida, são os bens não afetados.

O regime jurídico dos bens públicos tem especial relevância para a análise da afetação, visto que a alienabilidade de um bem do Estado está diretamente ligada a sua afetação ou desafetação. Os bens de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis (art. 100 do Código Civil), visto que afetados. Só os bens dominicais podem ser alienados, visto que não sujeitos a afetação (tal alienabilidade é previs-ta no art. 101 da norma retro citada).

São, ainda, outras características dos bens públicos: impenhorabilidade, im-prescritibilidade (não se sujeitam a usucapião, conforme art. 102 do Código Civil) e não onerabilidade (visto que não podem ser usados como garantia).

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Dentro deste quadro, a afetação tem natureza jurídica de fato administrativo e tem por característica essencial constituir a destinação de um bem para uma finalida-de específica.

Cabe apontar, por fim, que a afetação também vai se relacionar com o domínio no âmbito de certas propriedades privadas, isto porque os bens particulares afetados a um serviço público adquirem as características acima nominadas dos bens públicos, como forma de assegurar a continuidade do serviço.

4. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE

(PGE/GO/Procurador/2013) O Estado de Goiás iniciou procedimento de desa-propriação de um terreno urbano pertencente a cidadão goianiense, sob a justifica-tiva de construir um centro de recuperação de menores. Transcorrido certo lapso temporal, deixou de tomar quaisquer providências para a construção da referida obra pública. Nesse caso, o desapropriando tem algum direito? Discorra sobre todas as possibilidades que o caso suscita.

DIRECIONAMENTO DA RESPOSTA

A resposta deve conter breve análise e conceituação sobre desapropriação, tredestinação e retrocessão. Especificamente sobre retrocessão, deve-se mencionar que ela pode ocorrer em caso de manifesto desinteresse do Estado e também no caso de tredestinação ilícita.

Nesta linha, cabe informar que respeitável doutrina considera que deixar o bem sem destinação por mais de cinco anos equivale a uma espécie de tredestinação ilícita, o que poderia ocorrer na situação apresentada pela questão. Mencionada a tredestina-ção ilícita, cumpre conceituá-la (dar ao bem fim diverso daquele que justificou a desa-propriação, sem interesse público que justifique tal medida) e diferenciá-la da tredesti-nação lícita (quando o interesse público justifica destinação diversa da original).

SUGESTÃO DE RESPOSTA

Para analisar o caso apresentado, faz-se necessário discorrer sinteticamente so-bre o instituto da desapropriação e outros com ele correlacionados, tais como a retro-cessão e a tredestinação.

A desapropriação é um procedimento de direito público pelo qual o Estado ad-quiri para si propriedade de terceiro, mediante acordo ou de forma compulsória, por ra-zões de utilidade pública, de necessidade pública ou de interesse social, normalmente mediante o pagamento de justa e prévia indenização.

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COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS

O fundamento constitucional básico da desapropriação é o art. 5º, XXIV, da Constituição Federal. Já a norma base de tal instituto é o Decreto-Lei nº 3.365/1941.

Na situação em pauta, considerando a finalidade da desapropriação, pode-se afirmar que ela ocorreu por utilidade ou necessidade pública (a depender de detalha-mentos do caso concreto que são irrelevantes para a questão posta). Por sinal, o Decreto-Lei nº 3.365/1941 utiliza de forma genérica a expressão “utilidade pública”, tanto para os casos de desapropriação em situações emergenciais quanto para os ca-sos de simples conveniência para o Poder Público. Porém, doutrinariamente, da emer-gência decorre a necessidade pública e da conveniência a utilidade pública.

Ocorre que, como informado, passou-se certo tempo e o Estado deixou de tomar providências para construção da obra que motivou a desapropriação. Assim, cumpre perquirir se o cidadão tem direito à retrocessão.

Retrocessão ocorre quando o Estado tem obrigação de oferecer o bem ao anti-go proprietário, que tem direito de preferência na aquisição do bem expropriado pelo valor atual deste.

Uma das hipóteses em que surge o direito de retrocessão é se o Poder Público não tem mais interesse em permanecer com o bem desapropriado. Mas no caso em pau-ta não há elementos que informem que o Estado não tem mais interesse no imóvel.

Porém, parcela respeitável da doutrina entende que a adestinação – isto é, não dar destinação nenhuma ao bem –, quando perdura por mais de cinco anos (aplicação analógica do art. 10 do Decreto-Lei nº 3.365/1941), configura uma espé-cie de tredestinação ilícita (que seria dar ao bem fim diverso daquele que justificou a desapropriação, sem interesse público que justifique tal medida), o que geraria o direito à retrocessão.

A tredestinação lícita, por sua vez, é plenamente válida. No caso trazido, seria, por exemplo, a hipótese de o Estado usar o imóvel para a construção de uma escola (isto é, quando há interesse público na troca de destinação).

Em qualquer dos casos que dão direito à retrocessão, caso não seja possível o retorno do bem ao domínio do antigo proprietário, a obrigação do Poder Público re-solve-se em perdas e danos.

5. LICITAÇÕES

(FCC/PGE/RO/Procurador/2011) A Administração resolveu abrir licitação para contratar empresa de prestação de serviços para prestação de serviços de limpeza e vi-gilância e no edital de licitação foi escolhido o tipo “técnica e preço”. Fale sobre a viabi-lidade dessa licitação.

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DIRECIONAMENTO DA RESPOSTA

Em questões como esta, é interessante já começar respondendo taxativamente sobre a viabilidade. Neste caso, não é possível a licitação tal como apresentada. A seguir elenque os motivos pelos quais não há viabilidade, neste caso há dois pontos.

O primeiro diz respeito à impossibilidade contratar os serviços citados por meio de licitação do tipo técnica e preço. O segundo motivo é porque a questão coloca os dois serviços de forma conjunta, sem especificar que eles serão julgados como itens dis-tintos (o que é indispensável no caso de processo licitatório para dois serviços de natu-reza bastante diversa, como os apresentados na questão).

SUGESTÃO DE RESPOSTA

O processo licitatório apresentado não é viável em razão de dois aspectos. Primeiro porque tais serviços não podem ser contratados mediante licitação do tipo “técnica e preço”. Segundo porque não é cabível a licitação conjunta de dois servi-ços diferentes. Eles até podem compor um mesmo procedimento licitatório, mas neste caso devem ser considerados itens distintos, com um julgamento específico para cada um deles.

Detalhando o primeiro ponto destacado, o art. 46 da Lei nº 8.666/93 diz expres-samente que o tipo de licitação “técnica e preço”, assim como o tipo “melhor técnica”, se-rão utilizados exclusivamente para serviços de natureza predominante intelectual.

Considerando que, por óbvio, os serviços de limpeza e de vigilância não têm natureza predominantemente intelectual, conclui-se que o tipo de licitação apre-sentação na questão é inviável.

Por oportuno, cabe anotar que a licitação apropriada para os serviços em questão seria a do tipo “menor preço”, nos termos do art. 45, § 1º, l, da Lei 8.666/93.

Quanto ao segundo ponto, a licitação proposta também inviável porque não res-salva que objetos diversos (limpeza e vigilância) deverão ter julgamentos distintos.

Neste caso, ressalte-se que seria possível tanto a realização de procedimentos li-citatórios distintos quanto a inserção dos serviços em uma mesma licitação, desde que, nesta última situação, houvesse julgamentos apartados para cada um dos serviços.

Assim, na circunstância em pauta, o julgamento, a adjudicação e a contratação dos serviços devem ser feitas sempre por item, nunca por preço global O que ocorreria caso houvesse o julgamento conjunto dos dois serviços, com consequente adjudicação e contratação da mesma empresa.

Tal entendimento tem por finalidade observar o princípio da competição e a busca da proposta mais vantajosa para o interesse público.