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18/10/2011 Primeira Turma
Recurso Ordinrio Em Habeas Corpus 104.751 Minas Gerais
Relator : Min. Luiz FuxRecte.(s) :Yulbrynner Diodeles de OliveiraAdv.(a/s) :Srgio Henrique Salvador e Outro(a/s)Recdo.(a/s) :Ministrio Pblico federalProc.(a/s)(es) :Procurador-geral da Repblica
Ementa: PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSOORDINRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME DE TORTURA. LEI 9.455/97. POLICIAL MILITAR. INPCIA DA DENNCIA. ADITAMENTO. ALEGAO DE ILEGALIDADE. SUPRESSO DE INSTNCIA. LEGITIMIDADE DO ADITAMENTO ANTERIOR AO INTERROGATRIO. TORTURA. DELITO COMUM.INAPLICABILIDADE AO ART. 125, 4, DA CONSTITUIO. PERDA DO CARGO. PENA ACESSRIA. APLICAO AUTOMTICA. ABSOLVIO DO RU. COGNIO FTICO- PROBATRIA. INVIABILIDADE. RECURSO ORDINRIO DESPROVIDO.
1. A supresso de instncia impede que sejam conhecidos, em sede de habeas corpus, argumentos no veiculados nos Tribunais inferiores.
2. In casu: a) A inpcia da denncia e ilegalidade de seu aditamento no restaram suscitadas nas vias de impugnao anteriores, sendo certo que, ainda que superado o referido bice, a exordial reveste-se de legitimidade, bem como o seu aditamento, este lavrado apenas um ms aps o recebimento da exordial acusatria, e anteriormente ao interrogatrio do ru. Precedentes: HC 87.347-ED/MS, Relator Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, Julgamento em 21/11/2006; HC 96.235/SP, Relator Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, Julgamento em 2/2/2010; HC 96.700/PE, Relator Min. Eros Grau, Segunda Turma, Julgamento em 17/3/2009.
b) o recorrente, policial militar, foi condenado s penas do art. P, II, combinado com o 3 da Lei de Tortura (Lei 9.455/97), por ter, em concurso de agentes, submetido a vtima, pessoa sob sua guarda, a
intenso sofrimento fsico, mediante violncia, em atos que culminaram com o resultado morte.
c) a pena definitiva restou fixada em 10 (dez) anos de recluso, em regime inicial fechado, sendo aplicada tambm a sano acessria de perda do cargo, e impedimento de exercer outra funo pblica pelo prazo de 20 (vinte) anos, nos termos do 5 do art. 1 da Lei de Tortura (Art. 1 (...) 5 A condenao acarretar a perda do cargo, funo ou emprego pblico e a interdio para seu exerccio pelo dobro do prazo da pena aplicada.).
3. O crime de tortura delito comum, sendo-lhe inaplicvel o disposto no art. 125, 4 da Constituio (Art 125. 4 Compete Justia Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as aes judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competncia do jri quando a vtima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduao das praas.), que dispe sobre crimes militares. No caso da Lei 9.455/97, a sano de perda do cargo acessria e automtica. Precedente: HC 92.181/MG, Relator Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, Julgamento em 3/6/2008.
4. A cognio ftico-probatria, imprescindvel para o acolhimento do pleito de absolvio, invivel em sede de habeas corpus. Precedentes: AI 821.072-AgR/SP, Relator Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, Julgamento em 1/2/2011; HC 98.681/SP, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, Julgamento em 5/4/2011.
5. Recurso desprovido.ACRDO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidncia da Senhora Ministra Crmen Lcia, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigrficas, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso ordinrio em habeas corpus, nos termos do voto do Relator.
Braslia, 18 de outubro de 2011.Luiz Fux - Relator
18/10/2011 Primeira Turma
Recurso Ordinrio Em Habeas Corpus 104.751 Minas Gerais
Relator : Min. Luiz FuxRecte.(s) :Yulbrynner Diodeles de OliveiraAdv.(a/s) : Srgio Henrique Salvador e Outro(a/s)Recdo.(a/s) : Ministrio Pblico FederalProc.(a/s)(es) :Procurador-geral da Repblica
RELATRIO
O Senhor Ministro Luiz Fux (Relator): Trata-se de recurso ordinrio em habeas corpus ajuizado pela defesa de YULBRYNNER DIODELES DE OLIVEIRA, tendo por objeto acrdo da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justia, que indeferiu o writ l ajuizado visando a absolvio do ora recorrente, bem como a reforma na dosimetria da pena e afastamento da sano de perda do cargo de policial militar.
Consta dos autos que o paciente, policial militar, foi condenado s penas do art. 1, II, combinado com o 3 da Lei de Tortura1 (Lei 9.455/97), pelo seguinte fato: na data de 7/12/2000, no Destacamento da Polcia Militar na cidade de Pedralva/MG, em concurso de agentes, ter submetido a vtima, Jos Divino Marciano, sob sua custdia aps priso em flagrante, a intenso sofrimento fsico, mediante violncia fsica, com diversos atos que culminaram com o resultado morte.
Na primeira instncia, foi-lhe aplicada a pena de 6 (seis) anos de recluso, e a sano acessria de perda do cargo pblico, com supedneo
1 Art. 1 Constitui crime de tortura: (...)
U - submeter algum, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violncia ou grave
ameaa, a intenso sofrimento fsico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de
carter preventivo.(...)
3 Se resulta leso corporal de natureza grave ou gravssima, a pena de recluso de quatro a
dez anos; se resulta morte, a recluso de oito a dezesseis anos.
no 5 do art. 1 da Lei 9.455/972, restando impedido de exercer outra funo pblica pelo prazo de 12 (doze) anos.
A sentena foi reformada pelo Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais, que proveu em parte o recurso da acusao, para aumentar a pena privativa de liberdade para 10 (dez) anos de recluso, em regime inicial fechado, e impedimento de exercer outra funo pblica pelo prazo de 20 (vinte) anos (dobro da pena privativa de liberdade aplicada).
Irresignada, a defesa ajuizou habeas corpus perante o Superior Tribunal de Justia, que decidiu a controvrsia em acrdo assim ementado:
HABEAS CORPUS. TORTURA COM RESULTADO MORTE. ABSOLVIO. PRETENSO QUE NO SE COMPATIBILIZA COM A VIA ELEITA. PENA-BASE FIXADA ACIMA DO PATAMAR MNIMO. PRESENA DE CIRCUNSTNCIAS JUDICIAIS DESFAVORVEIS. REDUO. IMPOSSIBILIDADE. DECRETAO DE PERDA DO CARGO. ALEGAO DE INCOMPETNCIA. DESCABIMENTO. CRIME COMUM.
1. O pedido de absolvio esbarra na necessidade de revolvimento do conjunto ftico-probatrio, providncia de todo incompatvel com a via estreita do habeas corpus.
2. Alm disso, a condenao se baseou em farto conjunto probatrio, o qual indica que o paciente teria sido comandado a sesso de tortura, que culminou na morte da vtima.
3. A presena de circunstncias judiciais desfavorveis autoriza a fixao da pena-base acima do patamar mnimo.
4. Na hiptese, a sano foi fixada um pouco acima do mnimo, em razo de se ter apontado como desfavorveis a culpabilidade e os motivos do crime. Aquela, em razo de o paciente ter sido o mentor e principal responsvel pelas
2 5 A condenao acarretar a perda do cargo, funo ou emprego pblico e a interdio para
seu exerccio pelo dobro do prazo da pena aplicada.
agresses. Estes, sob o fundamento de que o crime foi cometido porque a vtima tinha acusado referido militar da prtica de trfico de drogas. Assim, no se vislumbra a propalada coao ilegal.
5. "O Tribunal de Justia local tem competncia para decretar, como conseqncia da condenao, a perda da patente e do posto de oficial da Polcia Militar, tal como previsto no art. 1, 5, da Lei de Tortura (Lei n 9.45597). No se trata de hiptese de crime militar." (HC 92.181/MG, Relator Ministro Joaquim Barbosa, DJ de 1.8.08).
6. A condenao por delito previsto na Lei de Tortura acarreta, como efeito extrapenal automtico da sentena condenatria, a perda do cargo, funo ou emprego pblico e a interdio para seu exerccio pelo dobro do prazo da pena aplicada. Precedentes do STJ e do STF.
7. No caso, a perda da funo pblica foi decretada na sentena como efeito da condenao e mantida pelo Tribunal de origem, quando do julgamento da apelao.
8. Ordem denegada.(HC 49.128/MG, Relator Ministro Og Fernandes, Sexta
Turma, Julgamento em 03/12/2009)
Contra essa deciso, a defesa ajuizou embargos de declarao, decididos em acrdo com a seguinte ementa:
EMBARGOS DE DECLARAO EM HABEAS CORPUS. TORTURA COM RESULTADO MORTE. PRETENDIDA ABSOLVIO. OMISSO E CONTRADIO. INEXISTNCIA DAS MCULAS APONTADAS. PREQUESTIONAMENTO. INVIABILIDADE.
1. So cabveis embargos declaratrios apenas na hiptese de haver, na deciso embargada, ambiguidade, obscuridade, contradio ou omisso a ser sanada, podendo, ainda, ser admitidos para a correo de eventual erro material.
2. No caso, o embargante busca a rediscusso da matria j apreciada, sob o pretexto de ocorrncia de omisso e
contradio na deciso embargada, alm de pretender o Prequestionamento para fins de interposio de recurso extraordinrio.
3. Os embargos de declarao no so a via adequada para obter o Prequestionamento de matria de ndole constitucional, com vistas a viabilizar a interposio de recurso extraordinrio.
4. Embargos de declarao rejeitados.(EDcl no HC 49.128/MG, Relator Min. Og Fernandes, Sexta
Turma, Julgamento em 06/04/2010).
Concomitantemente, a parte ora recorrente ajuizou recurso extraordinrio, ratificado posteriormente ao julgamento dos embargos. O Ministro Vice-Presidente Ari Pargendler recebeu o apelo como recurso ordinrio "em razo da natureza do habeas corpus" (fls. 288).
Na petio desse apelo extremo, que ora examinada como recurso ordinrio, a defesa alegou o seguinte: i) nulidade do acrdo do habeas corpus julgado pelo STJ, por contradio, ausncia de fundamentao e violao ao devido processo legal; ii) inpcia da denncia; iii) nulidade do aditamento da denncia, devendo ser restabelecida a capitulao inicial do crime - art. 129, 3 do Cdigo Penal (leses corporais seguidas de morte); iv) necessidade de revalorao de provas, dispensado o revolvimento do contexto ftico-probatrio; v) competncia do Tribunal de Justia Militar para decidir sobre a perda do posto do militar, aplicando-se o art. 125, 4, da Constituio Federal3, independente da natureza do delito cometido, seja comum ou militar.
O Ministrio Pblico Federal pugnou pelo desprovimento do recurso, em parecer da lavra do Subprocurador-Geral Mario Jos Gisi assim ementado:
3 Art 125 4 Compete justia Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados,
nos crimes militares definidos em lei e as aes judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada
a competncia do jri quando a vtima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda
do posto e da patente dos oficiais e da graduao das praas (Redao dada pela Emenda
Constitucional n 45, de 2004)
PENAL. HABEAS CORPUS. INTERPOSIO DE RECURSO EXTRAORDINRIO. PROCESSAMENTO COMO RECURSO ORDINRIO EM RAZO DA NATUREZA DO WRIT. CRIME DE TORTURA PRATICADO POR POLICIAL MILITAR. ART. 1, II, C/C O 3, DA LEI N 9.455/97. ALEGAES DE CERCEAMENTO DE DEFESA, INPCIA DA DENNCIA, AUSNCIA DE PROVAS APTAS A EMBASAR A CONDENAO E USO INDEVIDO DE PROVAS EMPRESTADAS. MATRIAS NO APRECIADAS PELO STJ. SUPRESSO DE INSTNCIA. IMPUTAO ACOLHIDA PELA CORTE ESTATAL COMO POSTA NA DENNCIA, COM BASE NAS PROVAS CONSTANTES DOS AUTOS. AUSNCIA DE ILEGALIDADE PASSVEL DE RECONHECIMENTO EX OFFICIO. COMPETNCIA DA JUSTIA COMUM ESTADUAL PARA APLICAR, COMO CONSEQUNCIA DA CONDENAO, A PENA ACESSRIA DE PERDA DA FUNO PBLICA. PRECEDENTES DO STF.
- Parecer pelo conhecimento parcial do recurso ordinrio e, nessa extenso, pelo seu desprovimento.
o relatrio.
18/10/2011 Primeira Turma
Recurso Ordinrio Em Habeas Corpus 104.751 Minas Gerais
VOTO
O Senhor Ministro Luiz Fux (Relator): O recurso no merece prosperar.
No mrito, quanto alegao de inpcia da denncia e a ilegalidade do seu aditamento, no ponto, o writ no merece ser conhecido, porque a matria no foi ventilada no Superior Tribunal de Justia. Assim, o exame do tpico por esta Corte configuraria supresso de instncia. Precedentes: HC 103.835/SP, Relator Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, Julgamento em 14/12/2010, DJE 9/2/2011; HC 100.616/SP, Relator Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, Julgamento em 08/02/2011, DJE de 15/3/2011.
Ainda que superado esse bice, a denncia no revelou ilegalidade, e o seu aditamento mostrou-se hgido, porque ocorrido apenas um ms aps o recebimento da exordial acusatria, e antes do interrogatrio dos rus. Em casos assim, a jurisprudncia desta Corte entende que no h nulidade, como demonstram os precedentes:
PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. EMBARGOS DE DECLARAO. EFEITOS MODIFICATIVOS. RECEBIMENTO DA DENNCIA. OPORTUNIDADE DE APRESENTAO DE DEFESA PRELIMINAR. OFERECIMENTO APS ADITAMENTO DA DENNCIA. INEXISTNCIA DE NULIDADE.
I - No h que se declarar a nulidade do ato de recebimento da denncia, tendo em vista que o juiz concedeu ao acusado a possibilidade de oferecimento de defesa preliminar, nos termos do art. 38 da Lei 10.409/02, aps o oferecimento de aditamento denncia.
II - A decretao da custdia preventiva do paciente encontra-se desprovida de fundamentao idnea.
III - Embargos de declarao acolhidos, com efeitos modificativos, para que seja a presente ordem de habeas corpus deferida parcialmente, apenas para que seja cassado o decreto de priso preventiva, mantido o recebimento da denncia.
(HC 87.347-ED/MS, Relator Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, Julgamento em 21/11/2006, DJ 13/4/2007)
HABEAS CORPUS. REEXAME DE FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. EXCESSO DE PRAZO QUANDO J PROLATADA SENTENA. NO OCORRNCIA. ADITAMENTO VOLUNTRIO DE DENNCIA. INEXISTNCIA DE PRAZO. PACIENTE OUVIDO SOBRE O ADITAMENTO, INCLUSIVE, COM NOVO INTERROGATRIO. OBSERVNCIA DO DIREITO DE DEFESA. CONDIES PESSOAIS FAVORVEIS. IRRELEVNCIA, SE CONSIDERADAS ISOLADAMENTE. CONHECIMENTO PARCIAL E DENEGAO DA PARTE CONHECIDA. A alegao de que as acusaes feitas contra o paciente no seriam verdadeiras envolve o reexame de fatos e provas, o que, como se sabe, invivel no mbito do habeas corpus. Incognoscvel, portanto, o writ nesse ponto. O argumento de excesso de prazo para a concluso do feito, por sua vez, revela-se prejudicado, dado que a instruo processual j se encerrou, com a prolao de sentena condenatria contra o acusado. Precedentes (HC 94.374, rel. min. Menezes Direito, DJe-192 de 10.10.2008; e HC-AgR 92.031, rel. min. Ellen Gracie, DJe-152 de 15.08.2008). A tese de que a denncia teria sido aditada fora do prazo legal (tomando-se por base o art. art. 384 do CPP), assim como a afirmao de que a defesa no teria sido intimada para manifestar-se sobre tal aditamento no se sustentam, uma vez que o aditamento feito pelo Ministrio Pblico foi voluntrio, e no decorrente de mutatio libelli (CPP, art. 384), no estando, por conseguinte, sujeito a prazo. Especificamente sobre a manifestao da defesa acerca desse
aditamento, informou o magistrado prolator da sentena condenatria que "o acusado foi, inclusive, novamente interrogado diante do novo fato imputado". O fato de o paciente ser primrio, ter residncia fixa e bons antecedentes, por si s, no impede a decretao da custdia cautelar, se presentes os seus requisitos, os quais sequer foram apreciados no acrdo atacado, nem tampouco objeto de impugnao no presente habeas corpus. Habeas corpus parcialmente conhecido e, na parte em que conhecido, denegado.
(HC 96.235/SP, Relator Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, Julgamento em 2/2/2010; DJE 05/03/2010)
HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. AO PENAL PBLICA. PRINCPIO DA INDIVISIBILIDADE. INAPLICABILIDADE. PRINCPIO DO PROMOTOR NATURAL. OFENSA. INEXISTNCIA.
1. O princpio da indivisibilidade no se aplica ao penal pblica. Da a possibilidade de aditamento da denncia quando, a partir de novas diligncias, sobrevierem provas suficientes para novas acusaes.
2. Ofensa ao princpio do promotor natural. Inexistncia: ausncia de provas de leso ao exerccio pleno e independente de suas atribuies ou de manipulao casustica e designao seletiva por parte do Procurador-Geral de Justia. Ordem indeferida.
(HC 96.700/PE, Relator Min. Eros Grau, Segunda Turma, Julgamento em 17/3/2009, DJE 14/8/2009)
(grifos adicionados)
Quanto pena de perda do cargo pblico, nos termos do art. 1, 5, da Lei 9.455/97, esta Corte tem precedente no sentido de que, no caso da tortura, sendo delito comum, e no crime militar, no se exige o encaminhamento dos autos ao Tribunal de Justia Militar para a aplicao da pena acessria. L-se do voto condutor do HC 92.181/MG, da relatoria do Ministro Joaquim Barbosa, julgado em 3/6/2008 pela
Segunda Turma:
Por fim, quanto inconstitucionalidade da aplicao da pena de perda da patente e do posto de oficial da Polcia Militar de Minas Gerais, por alegada incompetncia do Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais, no assiste qualquer razo ao impetrante.
Nos termos do art. 125, 4, da Constituio da Repblica, verbis:
4 Compete Justia Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as aes judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competncia do jri quando a vtima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduao das praas.
No caso, contudo, o paciente no foi acusado da prtica de qualquer crime militar, mas sim de crime de tortura, tal como definido na Lei n 9.455/97. A Justia competente, portanto, no era a Justia Militar, mas a Justia Comum.
No que tange alegada ausncia de fundamentao para a perda do cargo, no h qualquer procedncia. Isto porque se trata de efeito necessrio da condenao, como dispe o 5 do art. 1 da Lei n 9.455/97:
5 A condenao acarretar a perda do cargo, funo ou emprego pblico e a interdio para seu exerccio pelo dobro do prazo da pena aplicada.
Da ter constado do voto condutor do acrdo condenatrio, verbis (fls. 214):
"Decreto a perda do cargo e a interdio para seu exerccio pelo dobro do prazo da pena aplicada, em ateno ao comando do 5 do art. 1 da Lei 9.455/97. 'Cuida-se de pena acessria ou efeito secundrio da condenao'. No necessita de especial motivao' (vide LUIZ FLVIO GOMES, Op. cit.)".
Do exposto, senhor Presidente, no reconheo a ocorrncia de qualquer das nulidades apontadas na impetrao, no padecendo o acrdo condenatrio de qualquer vcio de fundamentao nem estando desamparado de base probatria.
Tambm no falece competncia ao Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais para decretar a perda do cargo do paciente, por ser pena acessria e decorrncia legal e necessria da condenao pela prtica do crime de tortura.
Por todos os fundamentos expostos, denego a ordem.
Por fim, quanto s alegaes no sentido de que a condenao no consentnea com a prova dos autos, o respectivo exame demandaria o revolvimento do contexto ftico-probatrio, o que no cabvel na via estreita do writ. Precedentes:
HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL E PENAL. DOSIMETRIA DA PENA. REEXAME DAS CIRCUNSTNCIAS JUDICIAIS E DAS CAUSAS DE DIMINUIO DE PENA EM HABEAS CORPUS. NECESSIDADE DE ANLISE DO CONJUNTO PROBATRIO. IMPOSSIBILIDADE. ILEGALIDADE NO DEMONSTRADA DE PLANO.
1. Pela sua natureza, o habeas corpus no comporta exame detalhado da prova para se constatar a suposta ilegalidade na definio da pena, pois a instruo deve ser pr-constituda, ao contrrio do que se possibilita nos processos comuns. Precedentes.
2. A anlise das circunstncias judiciais questo que exige revolvimento do conjunto probatrio, providncia incabvel na via estreita e clere do habeas corpus. Precedente.
3. A escolha do percentual de reduo da pena para a figura tentada orienta-se pela constatao da maior ou menor proximidade dos desdobramentos fticos da consumao, o que reclama detalhado exame da prova dos autos.
4. Ordem denegada.(HC 107.350/RS, Relatora Min. Crmen Lcia, Primeira
Turma, Julgamento em 3/5/2011, DJE 19/05/2011)
Habeas Corpus. Sentena condenatria transitada em julgado. Impossibilidade de admitir-se o habeas corpus como sucedneo de reviso criminal. Exacerbao da pena. Fundamentao. Ocorrncia. Existncia de circunstncias desfavorveis. Reexame do conjunto ftico-probatrio. Impossibilidade. pacfica a jurisprudncia desta Corte no sentido de que o habeas corpus no pode ser manejado como sucedneo de reviso criminal em face da ausncia de ilegalidade flagrante em condenao com trnsito em julgado. No cabe reexaminar os elementos de convico essenciais ao estabelecimento da sano penal, porque necessria, para tanto, a concreta avaliao das circunstncias de fato subjacentes aos critrios legais que regem a operao de dosimetria da pena. A anlise dos elementos de convico acerca das circunstncias judiciais avaliadas negativamente na sentena condenatria incompatvel com a via estreita do habeas corpus, por demandar minucioso exame ftico e probatrio inerente a meio processual diverso. Precedentes. Ordem denegada.
(HC 98.446/MS, Relator Min. Joaquim Barbosa, Julgamento em 29/3/2011, DJE 3/5/2011)
Ante o exposto, o voto pelo indeferimento do recurso.
primeira turmaEXTRATO DE ATA
RECURSO ORDINRIO EM HABEAS CORPUS 104.751 PROCED. : MINAS GERAIS RELATOR : MIN. LUIZ FUXRECTE. (S) : YULBRYNNER DIODELES DE OLIVEIRAADV.(A/S) : SRGIO HENRIQUE SALVADOR E OUTRO(A/S)RECDO.(A/S) : MINISTRIO PBLICO FEDERALPROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPBLICA
Deciso: A Turma negou provimento ao recurso ordinrio em habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Unnime. Presidncia da Senhora Ministra Crmen Lcia. 1a Turma, 18.10.2011.
Presidncia da Senhora Ministra Crmen Lcia. Presentes Sesso os Senhores Ministros Marco Aurlio, Dias Toffoli e Luiz Fux. Compareceram os Senhores Ministros Ayres Britto e Ricardo Lewandowski para julgar processos a eles vinculados.
Subprocurador-Geral da Repblica, Dr. Edson Oliveira deAlmeida.
Crmen Lilian Coordenadora
RHC 104751Ementa e Acrdo (2)Relatrio (5)Voto - LUIZ FUX (6)Extrato de Ata (1)